um estudo sobre a inserÇÃo de conceitos matemÁticos …
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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO
EMERSON PATRÍCIO SENA
UM ESTUDO SOBRE A INSERÇÃO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS EM CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO:
LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS
São Paulo 2016
EMERSON PATRÍCIO SENA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA
UM ESTUDO SOBRE A INSERÇÃO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS EM CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO:
LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS
Trabalho apresentado à Banca Examinadora da Universidade Anhanguera de São Paulo como exigência para defesa de trabalho de conclusão do Curso de Mestrado em Educação Matemática, sob a orientação da Profa. Dra. Nielce Meneguelo Lobo da Costa.
São Paulo 2016
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução
total ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
EMERSON PATRÍCIO SENA
UM ESTUDO SOBRE A INSERÇÃO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS EM CURSOS DEADMINISTRAÇÃO:
LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS
Aprovada em: _16__/__12__/__2016__
COMISSÃO EXAMINADORA
São Paulo 2016
DEDICATÓRIA
À Deus pelo fôlego da vida, aos
Mestres que acompanharam esta
minha jornada, à minha esposa e
filhas, por me apoiarem em cada
passo desse caminho e a todos que
me incentivaram a prosseguir.
AGRADECIMENTOS
Este é um momento muito especial e também de muita
responsabilidade, exigindo um agradecimento às pessoas que fizeram
parte desta conquista, esperando não cometer nenhuma injustiça com
aqueles que demonstraram amor e companheirismo durante esta minha
jornada.
Primeiramente ao todo poderoso e eterno Deus, que por sua
infinita graça e misericórdia, concedeu-me forças para vencer mais uma
etapa de minha vida, Há Ele toda honra, glória e louvor para sempre.
Amém!
À minha querida orientadora, incansável Professora Doutora
Aparecida Rodrigues Silva Duarte, pela exigência, pela paciência, pelas
palavras de incentivo, pelo apoio, pelo amor e dedicação ao ensino, pelas
sugestões e correções nos textos e pelo carinho em todos os momentos
do curso.
Aos professores que com carinho e empenho aceitaram fazer parte
da banca examinadora, Doutora Nielce Meneguelo Lobo da Costa e
Doutora Denise Medina França, Doutor Diamantino Augusto Sardinha
Neto pela disposição, leitura, comentários e sugestões no exame de
qualificação. Em especial ao Doutor Ubiratan D’Ambrosio, exemplo de
ser humano que muito contribuiu para o meu aprendizado, motivando-me
ao pensamento crítico, fazendo-me refletir e pensar fora da “gaiola”.
Ao professor Doutor Ruy Cesar Pietropaolo, que me motivou a
fazer parte deste programa de comprovado sucesso e aos professores
do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da
Universidade Anhanguera de São Paulo, pelas valiosas contribuições
no decorrer do curso, destacando as pessoas do Doutor Luiz Gonzaga e
da Doutora Rosana Nogueira de Lima.
Ao querido amigo e professor, Doutor Werner Mertzig, pelo apoio
na consecução deste trabalho.
Aos meus companheiros do Mestrado, pelo carinho, amizade e
troca de experiências, sempre com respeito e muito trabalho, revelando
tal iniciativa sua preocupação institucional com a boa política educacional.
À Universidade Anhanguera de São Paulo, pela concessão de
bolsa de estudos, sem a qual não poderia ter realizado este estudo.
Aos funcionários da secretaria da Anhanguera de São Paulo,
Guilherme Menezes; Anália Silva e Débora Brito, pela presteza em
atender todas as minhas solicitações com educação e bom humor.
Aos funcionários da biblioteca pela colaboração e esforço
sempre oferecendo o que de melhor estivesse ao seu alcance, visando o
enriquecimento da minha pesquisa.
Ao meu querido amigo Doutor Paulo Duarte Lopes Angélico que
carinhosamente realizou as correções ortográficas do meu projeto e que,
em outros momentos, proporcionou conversas descontraídas, mas
sempre sérias quanto ao conteúdo.
Aos meus pais Deusdete Rodrigues Sena e Maria de Lourdes
Patrício Sena, por me educarem, oferecendo todos os meios que podiam
dispor, criando em mim o interesse pelo estudo e o respeito pelo trabalho
sério e honesto.
À minha filha Lorena Araújo Sena pela obediência, amor e
dedicação aos estudos e à minha filha Giulia Araújo Sena que logo após
o início do meu mestrado acabou por ser diagnosticada com tumor
agressivo ósseo na tíbia esquerda, mas que lutou com fé, amor, não se
afastando das atividades escolares e se curou pela misericórdia de Deus.
Também agradeço aos meus irmãos e todos os meus familiares,
por me amarem, incentivarem, não deixando de acreditar no meu
potencial e capacidade para levar a frente este trabalho e acreditarem que
eu seria capaz. Finalizo com muita saudade e amor ao meu querido
irmãozinho Ederson Patrício Sena (in memoriam) que, tenho certeza,
estaria feliz ao meu lado neste momento e a quem amarei para sempre.
Em especial à minha esposa Maria Cristina de Araújo Sena, pelo
exemplo de dedicação aos estudos, pelo amor incondicional de ter
abdicado de si mesma para cuidar com muito amor das nossas filhas, com
destaque ainda mais especial, para o caso da Giulia, durante seu
tratamento do câncer até sua recuperação.
Por fim, meus sinceros agradecimentos a todos, que direta ou
indiretamente concorreram para a elaboração desta dissertação, rogando
a Deus que os abençoe.
RESUMO
SENA, Emerson Patrício. Um estudo sobre a inserção de conceitos matemáticos em cursos de administração: LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS. 2016. 112 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2016. Este trabalho tem como objetivo discutir a inserção de conceitos matemáticos em projetos políticos pedagógicos de cursos de graduação de Administração, a fim de mostrar de que maneira a Matemática se reveste como ferramenta de ensino e de aprendizagem para o desenvolvimento do administrador, uma vez que se considera a necessidade de compreensão de conceitos matemáticos e os conceitos estatísticos nos cursos de Administração. Este estudo foi desenvolvido no âmbito da linha de pesquisa “Tendências Internacionais da História e da Filosofia da Matemática e seus reflexos na Educação Matemática” do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo. Para tanto, nesta pesquisa, discorre-se o que vem a ser a Administração e como pode ser exercida; explana-se sobre as principais teorias e sua importância no desenvolvimento das empresas, indústrias, comércios, hospitais e qualquer lugar possível de exercê-la, destacando o perfil de alguns de seus principais precursores nos Estados Unidos e Europa e sua implantação no Brasil através do IDORT. Destaca- se a importância do Projeto Pedagógico do Curso para nortear as instituições de ensino superior na formação de egressos e suas perspectivas. Realiza-se um estudo comparativo de três Instituições de Ensino Superior com o intuito de verificar o modo como conteúdos matemáticos estão dispostos nas grades curriculares dessas instituições. A análise desses projetos ressalta a relevância da matemática na formação de profissionais especializados em administração.
Palavras-chave: Matemática; Administração de Empresas; Projeto
Pedagógico de Curso; IDORT.
ABSTRACT
SENA, Emerson Patrício. A study on the insertion of mathematical concepts in management courses: LIMITATIONS AND PERSPECTIVES. 2016. 112 f. Dissertation (Master in Mathematics Education). Graduate Program in Mathematics Education Anhanguera University of São Paulo, São Paulo, 2016. This work aims to identify how the mathematical concepts are inserted in some political pedagogical projects of undergraduate courses of Administration, with the purpose of emphasizing the Mathematics as an important teaching and learning tool for the development of the administrator. Thus, it is considered the need to understand mathematical concepts and statistical concepts in the courses of Administration. This study was developed with in the scope of there search line "Tendências Internacionais da História e da Filosofia da Matemática e seus reflexos na Educação Matemática" of the Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo. For this, in this research, it is discussed what is the Administration and how it can be exercised; the main theories and their importance in the development of companies, industries, commerce, hospitals and any possible place to carry it out, highlighting the profile of some of its main theoreticians in the United States and Europe and its implementation in Brazil through IDORT. It is emphasized the importance of the Pedagogical Project of the Course to guide the institutions of higher education in the training of graduates and their perspectives. A comparative study of three higher education institutions is carried out to verify how mathematical contents are organized in the curricula of these institutions. The analysis of these projects highlights the importance of mathematics in the training of professionals specialized in administration.
Key-words: Mathematics; Business Administration; political pedagogical
project; IDORT.
LISTA DE QUADROS
Quadro 01
Cronologia dos principais eventos da Administração.................
25
Quadro 02 Categorias de agentes de função técnica de uma empresa industrial...................................................................................................
39
Quadro 03 Categorias de chefes de uma empresa industrial..................... 40
Quadro 04 Comparação das teorias de Taylor e Fayol.............................. 48
Quadro 05 Principais conclusões de Elton Mayo......................................... 54
Quadro 06 Características das Escolas Clássicas e Relações Humanas.. 55
Quadro 07 Perfil do graduando dos cursos de administração.................... 76
Quadro 08 Habilidades necessárias para o perfil do graduando................. 76
Quadro 09 Missão dos cursos de Administração........................................ 81
Quadro 10 Perfil do aluno egresso.............................................................. 83
Quadro 11 Quadro comparativo da disciplina Matemática Aplicada........... 87
Quadro 12 Quadro comparativo da disciplina Estatística............................ 90
Quadro 13 Quadro comparativo da disciplina Matemática Financeira........ 93
Quadro 14 Quadro comparativo da disciplina Gestão de Custos................ 95
Quadro 15 Quadro comparativo das disciplinas que abordam Gestão de Suprimentos.........................................................................................
97
Quadro 16 Quadro comparativo de disciplinas com conteúdos de Recursos Humanos.................................................................
100
Quadro 17 Quadro comparativo de disciplinas com conteúdos de Gestão da Qualidade.............................................................................
102
Quadro 18 Notas e Conceitos MEC - ENADE............................................. 104
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Frederick W. Taylor (1856-1915)................................................ 27
Figura 02 Cenas do filme “Tempos modernos”........................................... 29
Figura 03 Funcionários de uma fábrica de automóveis............................... 30
Figura 04 Janeiro de 1925 é inaugurada a General Motors do Brasil......... 30
Figura 05 Jules Henri Fayol (1841-1925).................................................... 35
Figura 06 A atividade da Administração...................................................... 41
Figura 07 Fábrica de carros e carroças em 1912........................................ 42
Figura 08 George Elton Mayo (1880-1949)................................................. 51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABE Associação Brasileira de Educação
CFA Conselho Federal de Administração
CIESP Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
DASP Departamento de Administração do Serviço Público
ESAN Escola Superior de Administração de Negócios
EAESP Escola de Administração de Empresas de São Paulo
EBAP Escola Brasileira de Administração Pública
EBAPE Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
ENADE Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
ENADE Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
FE/UnB Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
FEA-USP Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo
FGV Fundação Getúlio Vargas
IDORT Instituto de Organização Racional do Trabalho
IES Instituição de Ensino Superior
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC Ministério da Educação
NDE Núcleo Docente Estruturante
ONU Organizações das Nações Unidas
PDI Projeto Desenvolvimento Institucional
PPC Projeto Pedagógico do Curso
PPP Projeto Político
SERES Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior
UNIBAN Universidade Bandeirante de São Paulo
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………..................................................................................... 15
CAPÍTULO 1 ASPECTOS HISTÓRICOS E TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO..................
21
1.1 História da Administração.....................................................................
22
1.1.1 A Administração Científica de Taylor.............................................. 26 1.1.1.1 A TEORIA CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO SEGUNDO FAYOL.............................................................................................
1.1.2 Comparação das teorias clássicas.................................................. 48 1.1.3 A Teoria das Relações Humanas.................................................... 49
CAPÍTULO 2 O ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS.................................................................................................
56
CAPÍTULO 3 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICODAADMINISTRAÇÃO...................
67
3.1. O projeto político pedagógico e sua importância social................. 69 3.2. O projeto pedagógico de cursos de Administração.......................... 73 CAPÍTULO 4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS LIVROS DIDÁTICOS ...............................
79
4.1 Missão dos cursos de Administração das IES X, Y e Z..................... 79 4.2 Perfil do aluno egresso dos cursos Administração das IES X, Y e Z 83 4.3 Composição da titulação do corpo docente........................................ 86
4.4 Estudo da inserção de conteúdos matemáticos em disciplinas dos Cursos X, Y e Z......................................................................................
86
4.4.1 A disciplina de Matemática Aplicada............................................. 87
4.4.2 A disciplina de Estatística................................................................ 90
4.4.3 A disciplina Matemática Financeira................................................. 93 4.4.4 A disciplina Gestão de Custos........................................................ 95 4.4.5 A disciplina Gestão de Suprimentos............................................... 97 4.4.6 A disciplina Recursos Humanos..................................................... 100 4.4.7 A disciplina Gestão da Qualidade................................................... 102
4.5 Os conceitos MEC e ENADE dos cursos de Administração das IES X, Y e Z....................................................................................................
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 105
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 108
15
INTRODUÇÃO
Iniciei minhas atividades profissionais aos quatorze anos de idade
em um estaleiro na cidade de São Paulo e aos poucos fui aprendendo a
importância da Administração para a gestão de produção e qualidade
baseada na economia e controle dos insumos e mão de obra, sempre
com a utilização de ferramentas que, para ser aplicadas, o profissional
necessita ter conhecimentos de conteúdos matemáticos1.
Logo fui promovido para o setor de suprimentos e em pouco
tempo assumi a gestão do setor. Na qualidade de gestor, era fundamental
conhecer conceitos matemáticos como juros, descontos, porcentagens,
além de discutir preços e projetar volume de negócios.
Para exercer novos cargos e compreender melhor os negócios e os
objetivos organizacionais, matriculei-me no curso de Administração de
Empresas da Faculdade de Administração Oswaldo Cruz. Durante o curso
procurei adequar as informações e atividades apresentadas pelos
professores em relação à minha prática diária de atividades
administrativas. No mesmo ano em que concluí o curso de Administração,
comecei uma nova experiência profissional como consultor de negócios.
Ainda assim, sempre manifestei grande interesse pela docência.
Desde a infância adorava rabiscar folhas de caderno como se fosse um
professor, tanto que durante minha formação acadêmica eu gostava muito
de ir à frente da sala para explicar determinados conceitos de práticas
administrativas para os meus colegas de classe, os quais me motivaram a
entrar para a carreira docente, hoje, estando em sala de aula, ainda tenho
que responder a famosa indagação de vários alunos: “porque eu tenho
que estudar Matemática no Curso de Administração?”
No ano de 1990, aos dezessete anos de idade, comecei a
1 Esta introdução encontra-se escrita na primeira pessoa do singular porquanto discorre sobre a experiência pessoal e profissional do autor.
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frequentar uma igreja evangélica, pois precisava sentir paz em minha
alma, devido aos traumas de ter perdido alguns amigos vítimas do mundo
das drogas. Como sempre gostei de ler, passei a estudar os livros do
Antigo Testamento e a participar das atividades de estudo do grupo de
jovens. Por me destacar na organização e na explicação dos temas, fui
convidado a ser professor da Escola Bíblica Dominical, aos dezenove
anos de idade. Naquele momento, compreendi a importância de preparar
aula e buscar conhecer o público e suas expectativas. Afinal muitos
jovens estariam todos os domingos participando das minhas aulas na
Escola Bíblica.
Este foi o início de minha trajetória como docente, a qual continuou
motivada durante a minha formação acadêmica, devido aos desafios de
ministrar palestras e também atividades de monitoria. Após minha
formação, enfrentei um período de desemprego e, devido às dificuldades
para a recolocação profissional e equiparação salarial na área de gestão,
decidi investir na carreira docente. Após alguns contatos, fui convidado a
fazer um teste para trabalhar como professor do curso de Administração
da Universidade Bandeirantes de São Paulo – UNIBAN, no ano de 2006
no campus Maria Cândida.
Há dez anos atuo como professor universitário e há oito anos
como coordenador de curso de Administração e Pós Graduação Lato
Sensu. Considero que as duas funções se complementam, sendo que a
função de coordenador, além de ser um trabalho de gestão do curso,
envolve a captação de alunos, o processo de acolhida, reuniões de
colegiado e do Núcleo Docente Estruturante (NDE), as quais discutem os
desafios acadêmicos. Também acompanho o cumprimento dos conteúdos
programáticos de acordo com as diretrizes curriculares dos cursos em que
atuo.
Como professor, procuro deixar claro para os alunos a importância
de adquirirem e potencializarem o conhecimento de conteúdos
matemáticos e sua relevância para tomada de decisão, como, em minhas
17
aulas sobre Gestão da Qualidade, em que saber ler e interpretar gráficos
é fundamental. No entanto, sempre ministrei disciplinas que tratam de
conteúdos matemáticos como ferramentas aplicadas na área de
Administração como, administração financeira, gestão da qualidade,
administração de materiais, análise de investimentos e
empreendedorismo.
Na qualidade de professor e coordenador, tive a oportunidade de
observar que muitos alunos reclamam por terem que estudar disciplinas
de Matemática ou que contenham conteúdos matemáticos, alegando
terem muitas dificuldades de compreensão e acabam questionando qual a
importância de se aprender conteúdos de Matemática e Estatística. Certa
vez, um aluno que trabalhava em uma empresa na área administrativa do
departamento de Recursos Humanos questionou-me sobre o uso da
Estatística no curso de Tecnólogo em Recursos Humanos, então,
expliquei para ele que é muito difícil para os analistas do setor de
Recursos Humanos resolverem problemas de absenteísmo2 ou turnover3
sem identificá-los por meio de indicadores, pois saber qual o significado
de absenteísmo ou turnover, é diferente de compreendê-los através de
gráficos e aplicações de conteúdos estatísticos, de modo a responder
com segurança para o dono da empresa qual a média de faltas nos
últimos meses dos funcionários da fábrica e sugerir quais seriam as ações
que deveriam ser tomadas.
Nessa perspectiva, mesmo considerando o desafio de estabelecer
o equilíbrio do nível da turma, uma vez que as inseguranças e indagações
de determinados alunos tomam muito tempo, devido às lacunas na
aprendizagem de conceitos desenvolvidos em séries que antecedem ao
nível superior, logo nas primeiras aulas, durante o processo de revisão e
2 Absenteísmo: é uma palavra com origem no latim, onde absens significa "estar fora, afastado ou ausente". O absenteísmo consiste no ato de se abster de alguma atividade ou função. [Grifos do autor] (DICIONÁRIO DO AURÉLIO ON LINE, 2015, s/p.). 3 Turnover: é um termo da língua inglesa que significa "virada"; "renovação"; "reversão", no contexto de Recursos Humanos, refere-se à relação entre admissões e demissões ou à taxa de substituição de trabalhadores antigos por novos - de uma organização. (DICIONÁRIO DO AURÉLIO ON LINE, 2015, s/p.).
18
nivelamento dos conteúdos matemáticos, utilizei como apoio didático a
obra “Programa de Nivelamento”, 3ª Edição da Anhanguera Publicações.
Observei ainda que a maioria dos alunos ingressantes no curso de
Administração do qual sou professor era originária de escolas públicas, e
independentemente das dificuldades encontradas durante a fase escolar,
quando começavam a ter contato com equações, derivadas, integrais,
enfim, conteúdos de Matemática presentes nos currículos de cursos de
Administração, as dificuldades e rejeições continuavam e, em geral,
prejudicavam a aprendizagem especialmente no que tange à análise
quantitativa e qualitativa de dados e situações propostas nesses
conteúdos.
Dificuldades encontradas pelos professores que ministram
disciplina de Matemática ou disciplinas com conteúdos matemáticos são
apontadas na pesquisa de doutorado de Francisco José Brabo Bezerra
(2009) intitulada “Desafios e Dilemas de Professores de Matemática
Atuando em Cursos de Administração”. Este pesquisador concluiu que os
professores de matemática vivem dilemas tais como:
... os conteúdos matemáticos que se apropriaram e mobilizou na graduação e aqueles que devem ser ensinados e aprendidos pelos alunos de outros cursos, entre eles, a Administração; priorizando a aquisição de conhecimentos fundamentais “em matemática”; promover os alunos sem as condições necessárias para a sua aprovação; e finalmente privilegiar a Matemática Acadêmica necessária à formação dos profissionais da Administração em detrimento a Matemática Básica que dá suporte a essa Matemática Acadêmica. As reflexões apontam preocupações relativas à forma e ao conteúdo da Educação Matemática a ser desenvolvida nestes cursos. (BEZERRA, 2009, p. Xi).
Além das dificuldades de compreensão observadas em minhas
aulas no curso de Administração, entendo que se faz necessário analisar
as situações vivenciadas pelo cidadão no dia a dia das práticas de
gestão, pois:
19
Não basta ao cidadão entender as porcentagens expostas em índices estatísticos como o crescimento populacional, taxas de inflação, desemprego, etc. O cidadão precisa, muitas vezes, realizar análise minuciosa dos dados, o que requer a habilidade de relacionar criticamente os dados apresentados, questionando e ponderando até mesmo sua veracidade (LOPES apud BIFI, 2006, p.10).
Talvez seja este o principal motivo pelo qual boa parte dos alunos
apresenta dificuldades e questionamentos sobre o uso da matemática no
curso de Administração, uma vez que, além do entendimento dos
conteúdos matemáticos, é necessário analisá-los e relacioná-los com a
realidade das práticas administrativas inseridas em diversos segmentos
empresariais.
Desse modo, ao longo desta dissertação, procuro identificar quais
as principais disciplinas de cursos de Administração que aplicam
conteúdos matemáticos e como se apresentam em projetos pedagógicos
de cursos de Administração.
Diante dessas considerações, este trabalho pretende responder
aos seguintes questionamentos: de que maneira conteúdos matemáticos
podem ser lidos em alguns projetos políticos pedagógicos de cursos de
graduação de Administração? De que forma essa articulação pode ser
vista nas ementas das disciplinas desses cursos?
Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo identificar como
conteúdos matemáticos estão inseridos em alguns projetos políticos
pedagógicos de cursos de graduação de Administração e como se
apresentam nas ementas das disciplinas desses cursos, a fim de destacar
a importância que a Matemática se reveste como ferramenta de ensino e
de aprendizagem para o desenvolvimento do administrador.
Para tanto, fez-se necessário realizar uma análise documental.
Delimitou-se o estudo a três Instituições de Ensino Superior, cujos nomes
são preservados, objetivando a comparação das grades curriculares e
20
destacando as principais disciplinas que envolvem conteúdos
matemáticos, principalmente as que trabalham especificamente a
Matemática e a Estatística.
Ao escrever sobre a importância da Matemática no curso de
Administração, inicialmente trato dos aspectos teóricos presentes nos
livros de Administração, quando procuro verificar se nesses cursos a
Matemática é ferramenta de tomada de decisão, considerando que por
meio dela é possível estabelecer e criar indicadores de qualquer setor
organizacional.
Assim sendo, este estudo encontra-se organizado em quatro
capítulos. O primeiro, diz respeito aos aspectos históricos referentes a
algumas das principais teorias da Administração, quais sejam as teorias
clássicas, aqui representadas pela Administração Científica defendida por
Frederick W. Taylor; a Teoria Clássica da Administração de Henri Fayol e
a teoria das Relações Humanas, defendida por Elton Mayo.
O segundo capítulo discorre trata da legislação dos cursos
superiores, em especial, dos cursos de Administração.
Já o terceiro capítulo discorre sobre a importância dos Projetos
Político-pedagógicos dos cursos superiores, destacando os projetos
concernentes aos cursos de Administração.
O quarto e último capítulo apresenta os Projetos Político-
pedagógicos dos cursos de Administração de três universidades
brasileiras e as análises efetuadas, levando-se em conta a forma como os
conteúdos matemáticos estão inseridos nas grades curriculares das
Instituições de Ensino Superior pesquisadas.
Finalizando o trabalho, apresentamos nossas conclusões.
21
CAPÍTULO 1
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO
Neste capítulo discorremos sobre aspectos gerais da
Administração. Explanamos sobre as teorias clássicas da Administração e
a Teoria das Relações Humanas, pois entendemos que essas teorias
contribuem fornecendo ao leitor uma visão geral da Administração.
A diversidade de ideias e pontos de vista que perpassaram a
Administração ao longo do tempo não modificaram sua principal finalidade,
qual seja, desenvolver ações direcionadas a alcançar os resultados
esperados. As práticas de gestão podem ser compreendidas em
administrar, planejar, organizar, dirigir e controlar, e nelas, conceitos e
conteúdos matemáticos estão presentes.
Nesse aspecto, o conceito de administrar é realizar a gestão de
uma empresa ou organização de forma que as atividades sejam
administradas com planejamento, organização, direção e controle.
Destaque-se a possibilidade de exercer a Administração em diversos
lugares como o lar; comércio; indústria; prestadoras de serviços; escolas
e universidades; bancos e financeiras (MAXIMIANO, 2000).
A Administração apresenta uma série de características descritas
por Silva (2005) como um circuito de atividades interligadas, que, em
busca de melhores resultados, têm por finalidade alcançar metas,
melhorar os processos, assegurar o uso de recursos físicos e materiais
que estiverem disponíveis, organizar recursos e insumos, integralizar
atividades de planejamento do mercado e estabelecer indicadores de
controle dos resultados obtidos.
Segundo Chiavenato (2014), o administrador deve compreender
que o planejamento consiste em definir objetivos para traçar e estabelecer
22
metas, assim identificando forças, fraquezas, oportunidades e ameaças e
esses dados coletados servirão como base para tomada de decisão. Para
cada novo projeto ou até mesmo ações corretivas, novos dados serão
necessários, pois o planejamento ocorre por meio da realização de
diversos estudos e pesquisas, antes da implantação de, por exemplo, um
novo projeto que poderá durar meses ou até anos e para prever os riscos
é importante que o profissional detenha conhecimentos matemáticos.
Para alcançar o sucesso e realizações profissionais, é
imprescindível para o administrador buscar o conhecimento das principais
ferramentas de gestão e de conceitos matemáticos como embasamento
para tomadas de decisão. Ainda de acordo com Chiavenato (2014), essa
estrutura garante a totalidade de um sistema e permite sua integridade.
Assim, as organizações, os diversos órgãos agrupados hierarquicamente,
os sistemas de responsabilidade, os sistemas de autoridade e os
sistemas de comunicação são componentes estruturais e as práticas de
gestão estão presentes em cada sistema.
1.1 A história da Administração
Segundo Maximiano (2000), a palavra Administração vem do latim,
administratione. Diz respeito a um conjunto de princípios, normas e
funções destinadas a sistematizar os fatores de produção e monitorar sua
produtividade e eficiência por meio de normas e funções estabelecidas.
Administrar é uma atividade que busca realizar e alcançar ações de
modo a alcançar os objetivos propostos pelas organizações, relacionando
as ações dos processos de planejamento, organização, execução e
controle. Assim sendo, o principal motivo para o estudo da Administração
é demonstrar a importância do desenvolvimento e aplicação das teorias a
fim de profissionalizar a formação de gerentes e aperfeiçoar os processos
administrativos para tornar as organizações mais eficientes.
Para Chiavenato (2014), a palavra Administração tem sua origem
23
no latim (ad, direção para, tendência e minister, comparativo de
inferioridade, subordinação ou obediência, isto é, aquele que realiza uma
função abaixo do comando de outrem), para esse pesquisador, a história
da Administração é recente, sendo considerado um produto do século XX,
pois neste período surgiram os primeiros cientistas que escreveram sobre
os principais conceitos que permeavam a pratica de administrar.
Nesse sentido, organizaram departamentos, estabeleceram
funções administrativas divididas em: prever, ou seja, enxergar o futuro
por meio do planejamento e estabelecimento de um programa de ação;
organizar, que é criar o duplo organismo físico e humano da empresa;
comandar, dirigir e orientar as ações dos trabalhadores; coordenar, isto é,
unificar as atividades dos esforços dos trabalhadores coletivamente e
controlar, ou seja, garantir, por meio do monitoramento, que todas as
ações ocorram conforme estabelecido em seu conjunto:
... os elementos da administração constituem o processo administrativo encontrados em qualquer trabalho do administrador, em qualquer nível hierárquico ou em qualquer área de atividade da empresa (CHIAVENATO, 2014, p.15).
Segundo Silva (2005, p.6), a Administração é um conjunto de
atividades dirigidas à utilização inteligente dos recursos organizacionais,
no sentido de obter um ou mais objetivos das metas organizacionais.
Tratando também das etapas das funções administrativas como:
Planejamento que é estabelecer os objetivos e estratégias para alcançá-
los, estudando as alternativas e necessidades de recursos; Organização
da estrutura determinando os cargos e tarefas, definindo as posições de
comando; Direção que tem como objetivo motivar os colaboradores na
realização das tarefas estabelecendo um canal de comunicação entre as
partes envolvidas objetivando a solução de conflitos; Controle que tem
como objetivo analisar os indicadores de desempenho a fim de comparar
desempenhos passados, para se necessário propor ações corretivas.
24
... as funções da administração são aquelas atividades básicas que devem ser desempenhadas por administradores para alcançar os resultados determinados ou esperados pelas organizações (SILVA, 2005, p.9).
Chiavenato (2014) considera que a Administração é considerada
jovem, por ser um produto singular e específico do século XX, pois foi
sendo estabelecida através de resultados dos trabalhos e interações de
diversos pensadores, empresários, filósofos, físicos, economistas que ao
longo do tempo foram estabelecendo e divulgando os novos conceitos.
Por isso, a moderna Administração utiliza conceitos e princípios empregados nas Ciências Matemáticas (inclusive a Estatística), nas Ciências Humanas (como Psicologia, Sociologia, Biologia, Educação etc.), como também no Direito, na Engenharia, na Tecnologia da Informação etc. (CHIAVENATO, 2011, p.28).
Ainda segundo Chiavenato (2011), estes registros históricos da
antiguidade perpetuam gestores que desenvolveram a capacidade de
planejar e organizar o trabalho de milhares de operários na construção de
obras seculares que permanecem até os dias de hoje, mesmo que de
maneira simples e adequada de acordo com a situação de cada época
envolvendo cidades e pessoas, desde tempos passados como exemplo
as pirâmides do Egito e até mesmo a grande muralha da China. A seguir
Chiavenato apresenta uma cronologia dos principais eventos desde os
primórdios da Administração.
25
Quadro 1 – Cronologia dos principais eventos da Administração
ANOS AUTORES EVENTOS
4000 a.C. Egípcios Necessidade de planejar, organizar e controlar.
2600 a.C. Egípcios Descentralização na organização.
2000 a.C. Egípcios Necessidade de ordens escritas. Uso de consultoria.
1800 a.C. Hamurabi (Babilônia) Uso de controle escrito e testemunhal; estabelecimento do salário mínimo.
1491 a.C. Hebreus Conceito de organização; principio escalar.
600 a.C. Nabucodonosor (Babilônia) Controle de Produção e incentivos salariais.
500 a.C. Mencius (China) Necessidade de sistemas e padrões.
400 a.C.
Sócrates (Grécia) Enunciado da universalidade da Administração. Arranjo físico e manuseio de materiais.
Platão (Grécia)
Princípio da especialização.
175 a.C. Cato (Roma) Descrição de funções.
284 Dioclécio (Roma) Delegação de autoridade.
1436 Arsenal de Veneza Contabilidade de custos; balanços contábeis; controle de inventários.
1525 Niccoló Machiavelli (Itália) Princípio do consenso na organização; liderança; táticas políticas.
1767 Sir James Stuart (Inglaterra) Teoria da fonte de autoridade; especialização
1776 Adam Smith (Inglaterra) Princípio de especialização dos operários.
Conceito de controle.
1799 Eli Whitney (EUA) Método científico; contabilidade de custos e controle de qualidade.
1800 Mathew Boulton (Inglaterra) Padronização das operações; métodos de trabalho; gratificações natalinas; auditoria.
1810 Robert Owen (Inglaterra) Práticas de pessoal; treinamento dos operários; planos de casas para os operários.
1832 Charles (Inglaterra)
Babbage Abordagem científica; divisão do trabalho; estudo de tempos e movimentos; contabilidade de custos.
1856 Daniel C. McCallum (EUA) Organograma; administração em ferrovias.
1886 Henry Metcalle (EUA) Arte e ciência da Administração.
1900 Frederick W. Taylor (EUA) Administração científica; estudo de tempos e movimentos; racionalização do trabalho; ênfase no planejamento e no controle.
Fonte: CHIAVENATO, 2006, p.19.
26
Os conceitos da Administração, enquanto ciência, datam da
segunda metade do século XIX, em consequência da Revolução
Industrial, quando a Administração começou a ser estruturada. Época
conhecida como período da Administração Clássica, encontra-se dividida
em duas grandes escolas. A escola da Administração Científica tem como
seu principal representante Frederick W. Taylor e a Teoria Clássica da
Administração idealizada por Henry Fayol. Esses dois teóricos assinalam
os princípios da Administração Clássica. Aos poucos novos estudos sobre
a Administração ganharam importância e outros estudiosos dedicaram-se
a investigar a Administração sob novas perspectivas. Nesse sentido, a
Teoria das Relações Humanas, preocupa-se com as pessoas, destacando
que o desempenho delas é determinado não somente pelos métodos de
trabalho, mas também pelo comportamento (MAXIMIANO, 2000).
1.1.1 A Administração Científica deTaylor
Frederick Winslow Taylor, engenheiro norte-americano considerado
o pai da administração científica, nasceu na Filadélfia, Estados Unidos,
em 1856 e faleceu em 1915, também na Filadélfia. Em seu livro The
Principle of Scientific Management, (Princípios de Administração
Científica), publicado em 19114, concordou com o então presidente dos
Estados Unidos, Theodore Roosevelt, no período de 1901 a 1909, quando
em um discurso na Casa Branca observou que “a conservação de nossos
recursos naturais é apenas uma fase preliminar do problema mais amplo
da eficiência nacional” (ROOSEVELT apud TAYLOR, 1990, p.21).
Taylor (1990) defendia uma maior eficiência para evitar o
desperdício por meio da Administração. Para Taylor (1990), a principal
finalidade da Administração era garantir o máximo de progresso para o
empresário e o sistema de administração deveria garantir a manutenção
4 A obra Princípios de Administração Científica de autoria de F. W. Taylor, publicada pela primeira vez em 1911, alcançou grande sucesso. A edição que utilizamos nesta pesquisa é de 1990.
27
dos lucros para o empresário em todas as atividades da empresa.
Para exemplificar a importância da produção na prosperidade do
patrão e empregados, utilizou o exemplo de dois operários que estavam
muito bem treinados e produziam por dia dois pares de sapatos, enquanto
que o concorrente com dois empregados sem o treinamento ideal
produzia apenas um par de sapatos. Para Taylor, os que produziam mais
podiam receber mais e o lucro do patrão também era maior: “A maior
prosperidade decorre da maior produção possível dos homens e
máquinas do estabelecimento, isto é, quando cada homem e cada
máquina oferecem o melhor rendimento possível” (TAYLOR, 1990, p.25-
26).
Figura 01 – Frederick W. Taylor (1856-1915)
Fonte: http://www.sobreadministracao.com/historia-e-evolucao-da-administracao/
Segundo Silva (2005), os estudos de Taylor se dividem em dois
momentos descritos em duas obras. A primeira obra, intitulada
“Administração de Oficinas”, foi publicada no ano de 1903, e trata
especificamente das técnicas de racionalização da atividade do
trabalhador, através dos estudos dos tempos e movimentos de maneira
analítica e construtiva. Taylor defendia que o objetivo de uma
Administração eficiente era pagar altos salários para os melhores
trabalhadores, padronizar os melhores resultados operacionais e reduzir
28
constantemente os custos de produção.
A segunda obra, de 1911, sob o título de “Princípios da
Administração Científica”, traz aspectos da Administração geral e também
trata da preocupação com relação às tarefas dos operários, uma vez que
Taylor assegurava que naquela época as indústrias sofriam com
problemas de ócio por parte dos operários e de falta de experiência dos
gerentes quanto às rotinas de trabalho e do tempo necessário para
executá-las. As ideias de Taylor contidas nessas obras destacam quatro
princípios básicos da Administração cientifica:
1. Desenvolvimento de um método científico para o trabalho dos operários, o objetivo era rever cada processo e suas atividades interligadas com começo, meio e fim.
2. Estabelecimento de processo científico de seleção e treinamento do operário, com o objetivo de evitar a escolha inadequada do trabalhador.
3. Cooperação entre as gerências e os operários, uma forma de garantir a execução do trabalho de acordo com o método desenvolvido.
4. Divisão do trabalho dos operários em função da sua especialização, melhor adequação das funções de acordo com as especializações específicas do trabalhador buscando a eficiência [Grifos nossos] (SILVA, 2005, p.123).
O filme “Tempos modernos”, produzido em 1936, pelo cineasta
Charles Chaplin, exibe a vida dos operários durante a revolução industrial.
Marcou época e eternizou a teoria do estudo dos tempos e movimentos
estabelecido por Taylor.
29
Figura 02 – Cenas do filme “Tempos modernos”
Fonte: https://www.youtube.com
Nas reflexões de Taylor sobre a Administração Científica, a
organização é semelhante a um sistema de engrenagem em que cada
parte se encaixa para alcançar os objetivos estabelecidos. O salário não
atende à satisfação total dos funcionários embora sendo necessário e
importante, porém, devido à proposta de divisão de tarefas que
estabelecia a especialização por meio da repetição e aperfeiçoamento
das atividades a Administração Científica explora os funcionários para
atender especialmente aos interesses das empresas.
As figuras 3 e 4 a seguir retratam, respectivamente, as ideias de
Taylor no que tange à repetição e especialização do trabalhador em sua
atividade e a entrada da fabricante General Motors no Brasil na cidade de
São Paulo.
30
Figura 3 – Funcionários de uma fábrica de automóveis
Fonte: http://planetcarsz.com/artigo/gm-do-brasil-comecou-suas-atividades-em-1925-
em-um-galpao-no-bairro-paulistano-do-ipiranga.
Figura 4 – Janeiro de 1925 é inaugurada a General Motors do Brasil
Fonte: http://cristianoolira.blogspot.com.br/2010/07/industria-automobilistica-do-
brasil.html
Particularmente, nos primórdios da indústria automobilística, ao
adotar a esteira transportadora na década de 1910, modifica-se a
forma de organizar o trabalho. Os trabalhadores passam a exercer
uma função repetitiva e parcelada, sem necessidade do planejamento
de tarefas, que fica a cargo de um especialista. Ocorre, desse modo, a
separação entre concepção e execução.
31
O que ganha a empresa em termos de eficiência e produtividade com a intervenção da administração da produção, definindo as tarefas e os movimentos físicos dos trabalhadores - em certo sentido a esteira passa a decidir por eles -, perdem os operários em termos de autonomia de decisão e de espaço de manobra no controle do processo de trabalho (SILVA, 1987, s/p.).
Seus estudos voltavam-se para os meios de conseguir a máxima
capacidade de homens e máquinas. Para tanto, Taylor entendia que para
ocorrer o incremento da produção, o trabalho intelectual deveria ser
separado do trabalho intelectual (SILVA, 1987).
Em seu livro, Taylor (1990, p.29) discute a respeito da “ignorância
dos administradores sobre o tempo necessário para execução de
serviços”, ou seja, sobre o controle das atividades a serem realizadas.
Como exemplo, citou a questão cultural do basquete americano e do jogo
de cricket dos ingleses, quando cada atleta se entrega ao máximo nas
partidas, para fazerem pontos e obterem a vitória. Porém, quando
determinado atleta não se dedica durante a partida, sofre discriminação e
é cobrado pelos demais atletas pela falta de empenho.
Nas indústrias, segundo os estudos de Taylor, na maior parte dos
casos, quando um trabalhador não demonstra esforço e não se dedica ao
cumprimento das metas ele produzirá somente um terço ou metade de um
dia de trabalho. Segundo esse autor, esse problema existia nas relações
patrão e empregados em quase todos os sistemas de Administração.
No livro intitulado Shop management (Direção de oficinas),
publicado no ano de 1903, Taylor procura explicar a causa da vadiagem5
no trabalho:
5 Vadiagem: trata-se de uma contravenção relativa aos costumes, sobre alguém se entregar habitualmente à ociosidade estando apto ao trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência (JUSBRASIL, 2016). Segundo McGregor, professor de Administração no Massachusetts Institute of Tecnology, ao comentar sobre a concepção tradicional da administração, observa que o termo vadiagem era utilizado para o trabalhador que se abstinha de exercer as suas atividades, pois pressupunham que nessa concepção “os indivíduos comuns são preguiçosos e indolentes; não gostam de trabalhar” e “os indivíduos não tem o desejo de responsabilidade; a maioria prefere ser orientada por outros indivíduos” (SILVA, 2008, p.232).
32
Esta indolência ou preguiça no trabalho provém de duas causas. Primeiramente, da tendência ou instinto nativo de fazer o menor esforço o que pode ser chamado indolência natural. Em segundo lugar, das ideias e raciocínios mais ou menos confusos, provenientes de intercomunicação humana a que cabe a denominação de indolência sistemática (TAYLOR, 1990, p.30).
Assim, para esse autor, é importante afastar-se do problema da
ociosidade e suas variáveis, o que proporcionará maior aproximação entre
patrão e empregado. Dessa forma, as atividades serão executadas com
maior eficiência e comprometimento com a gestão, resultando em um
aumento considerável da produção de cada trabalhador e também de
cada máquina.
Taylor (1990) também escreveu sobre a importância da
substituição dos métodos empíricos por métodos científicos, considerando
o pensamento empírico como sendo a terceira causa da vadiagem no
trabalho. Isto porque a economia percebida de tempo e a adição
decorrente de rendimento possíveis de alcançar pela exclusão de
movimentos dispensáveis e troca de movimentos vagarosos e não
eficientes, por movimentos ágeis em todos os processos, somente seriam
considerados na totalidade após serem totalmente analisadas e
apreciadas as vantagens resultantes do estudo de tempo e movimento,
realizado por pessoa qualificada.
Ora, entre os vários métodos e instrumentos utilizados em cada operação, há sempre método mais rápido e instrumento melhor que os demais. Estes métodos e instrumentos melhores podem ser encontrados, bem como aperfeiçoados na análise científica de todos aqueles em uso, juntamente com acurado e minucioso estudo do tempo. Isto acarreta gradual substituição dos métodos empíricos pelos científicos, em todas as artes mecânicas. (TAYLOR, 1990, p.33)
33
Relativamente ao estudo do tempo e do movimento, para Taylor
(1990), em quase todas as situações estudadas, as leis ou regras que as
orientam eram instintivas e o trabalhador mediano raramente as chamaria
de ciência. Para esse autor, a ciência busca esclarecer as atividades em
sua maioria por uma observação simples, como ocorreu com o estudo do
tempo e movimento, com os dados extraídos por um trabalhador
observando as atividades de outro trabalhador e registrando cada parada
através de um cronometro e anotando em um papel as informações.
Controlar as atividades de qualquer trabalhador e registrá-las,
segundo Taylor, era um fator multiplicador da discussão do pensamento
científico contrapondo ao empirismo como um paradigma. Taylor
estabeleceu as seguintes providências gerais para dedução deste estudo:
Primeira – Encontrar, digamos, 10 ou 15 trabalhadores (preferentemente de várias empresas e de diferentes regiões do país) particularmente hábeis em fazer o trabalho que vai ser analisado. Segunda – Estudar o ciclo exato das operações elementares ou movimentos que cada um destes homens emprega, ao executar o trabalho que está sendo investigado, como também os instrumentos usados. Terceira – Estudar, com o cronômetro de parada automática, o tempo exigido para cada um destes movimentos elementares e então escolher os meios mais rápidos de realizar as fases do trabalho. Quarta – Eliminar todos os movimentos falhos, lentos e inúteis. Quinta - Depois de afastar todos os movimentos desnecessários, reunir em um ciclo os movimentos melhores e mais rápidos, assim como os melhores instrumentos (TAYLOR, 1990, p.86).
Para concluir sobre a contribuição de Taylor nos processos
administrativos, destacamos as vantagens obtidas pelas empresas
daquela época, as quais adotaram o sistema de Administração científica.
Por exemplo, Taylor comprovou que o mesmo trabalhador, com os
esforços direcionados e sistematizados para as atividades e as máquinas
organizadas e preparadas corretamente produziam até quatro vezes
34
mais, comparadas com procedimentos antes empíricos. O sucesso dos
resultados proporcionou às empresas a oportunidade de serem
competitivas e ampliarem o mercado em que atuavam.
Cada operário era rigorosamente treinado para atingir melhores
resultados por meio da eficiência como componente da vantagem para o
sistema produtivo, elevando o seu conhecimento e realizando atividades
superiores antes impossíveis de se fazer pelas limitações apresentadas
do pensamento empírico. Destaca-se também a ideia de que a
Administração científica não encerra a invenção ou descoberta de fatos
novos, porém, demonstra a equidade da atribuição e responsabilidade
das tarefas. (TAYLOR 1990, p.102).
Pela prática adquirida enquanto administrador e pelas leituras
realizadas, inferimos que, nos dias de hoje, as empresas internalizaram
alguns conceitos da Administração científica tais como, observar a
importância de se organizar as tarefas e adequar o trabalhador
corretamente para cada atividade. Ainda, por meio de um planejamento
operacional, é possível diminuir ou eliminar a ociosidade dos
trabalhadores.
1.1.1.1 A Teoria Clássica da Administração segundo Fayol
Considerado o pai da Administração moderna, Henri Fayol nasceu
em Constantinopla em 1841 e faleceu em Paris em 1925, sobrevivendo às
consequências da Revolução Industrial e posteriormente à Primeira
Guerra Mundial. Formado em engenharia de minas, trabalhou em uma
empresa metalúrgica e carbonífera onde desenvolveu sua carreira.
35
Figura 05 – Jules Henri Fayol (1841-1925)
Fonte: http://www.portal-administracao.com/2014/01/fayol-e-processo- administrativo.html
Para Fayol, em seu livro Administration Industrielle et Généralle
(Administração Industrial e Geral), publicado em 1916, a Administração
estabelece condição de considerada relevância no rumo dos negócios em
qualquer segmento. Sua teoria sobre Administração tem por finalidade
simplificar a gestão das empresas, sejam industriais, militares ou de
qualquer natureza e, seus conceitos, regras e procedimentos devem
atender a todas as empresas (FAYOL, 1989).
A Administração deve ser compreendida como processo que se
compõe de outros processos ou funções. Henri Fayol estabeleceu o
enfoque funcional no início do século XX, que tinha como ideia central
separar a tarefa da Administração das tarefas operacionais e técnicas,
como fazer as máquinas funcionar ou prestar serviços aos consumidores
(MAXIMIANO, 2000).
Para Fayol (1989) o conjunto de todas as operações da empresa
deve ser dividido em seis grupos:
1º) Operações técnicas: produção, fabricação, transformação. 2º) Operações comerciais: compras, vendas, permutas. 3º) Operações financeiras: procura e gerência de capitais.
4º) Operações de segurança: proteção de bens e de pessoas.
5º) Operações de contabilidade: inventários, balanços, preços de custo, estatística etc. 6º) Operações administrativas: previsão, organização, direção, coordenação e controle. [Grifos do autor], (p.23).
36
No entender de Maximiano (2000), Fayol considerava:
... a empresa uma entidade abstrata, conduzida por um sistema racional de regras e de autoridade, que justifica sua existência à medida que atende ao objetivo primário de fornecer valor, na forma de bens e serviços, a seus consumidores (p.60).
Segundo Fayol (1989) esse grupo de operações encontra-se em
qualquer organização de porte pequeno, médio ou grande independente
se simples ou complexa, e podem ser compreendidos como:
Função Técnica: o número, variedade e relevância das operações
técnicas, a condição de que os produtos e serviços de qualquer tipo
(materiais, intelectuais, morais), são resultados que saem das mãos do
técnico e isto é resultado da capacitação das escolas profissionais e
oportunidades concedidas.
Função Comercial: o sucesso de uma empresa industrial depende
da qualidade do seu produto e das habilidades da equipe de propagar e
vender.
Função Financeira: o capital é fundamental para garantir as
atividades industriais, bem como pagar os salários, adquirir imóveis,
matéria-prima, pagamento de fornecedores, realização de melhorias e
para isso é fundamental que o profissional técnico desta área possua
habilidades em gestão financeira para o aumento do capital por meio das
aplicações e gastos planejados.
Função de Segurança: o objetivo é garantir a segurança de todo o
patrimônio da empresa e isto envolve pessoas, instalações, contra roubo,
incêndio, inundações, evitar as paralisações trabalhistas, os atentados e
enfim qualquer barreira de ordem social que afete o desenvolvimento e a
saúde da empresa.
Função de Contabilidade: É a visão da empresa, demonstra a
37
situação econômica e financeira por meio de registros com informações
precisas e transparentes, torna-se importante ferramenta de direção e
decisão.
Função Administrativa: destaca-se por sua importância de elaborar
o planejamento estratégico da empresa e de compor o quadro social. Esta
atividade não está ligada a nenhum caráter técnico como as anteriores e
sim à habilidade de administrar que, além da previsão, organização,
coordenação e controle, Fayol incluiu à Administração o ato de
“comandar”, pelos seguintes motivos:
1º) O recrutamento, a formação do pessoal e a constituição do corpo social, que são encargos da administração, têm íntima relação com a função de comando. 2º) A maior parte dos princípios de comando são princípios de administração. Administração e comando têm entre si relação muito estreita. Do ponto de vista da facilidade do estudo, há interesse em agrupar essas duas classes de funções. 3°) Esse agrupamento, ademais, dá origem a uma função muito importante, digna de atrair e reter a atenção do público, tanto quanto a função técnica. (FAYOL, 1989, p.26).
Além disso, Fayol (1989) adotou as seguintes definições:
Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de ação. Organizar é constituir o duplo organismo, material e social, da empresa. Comandar é dirigir o pessoal. Coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e todos os reforços. Controlar é velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. (FAYOL, 1989, p.26).
Desse modo, entendia a Administração como sendo não
prerrogativa exclusiva nem ocupação pessoal do chefe ou dos dirigentes
da empresa, e sim uma atividade que se divide, da mesma maneira como
as demais atividades importantes, entre a cabeça e membro do corpo
38
social que compõe a empresa.
Segundo Fayol (1989) a cada conjunto de atividades ou cargo
fundamental corresponde uma competência exclusiva, sabendo que há
capacidade técnica, capacidade comercial, capacidade financeira,
capacidade administrativa, entre outras e cada uma dessas representa
um grupo de qualidades e conhecimentos assim resumidos:
1º) Qualidades físicas: saúde, vigor, destreza. 2º) Qualidades intelectuais: aptidão para compreender e aprender, discernimento, força e agilidade intelectuais. 3º Qualidades morais: energia, firmeza, coragem de aceitar responsabilidades, iniciativa, decisão, tato, dignidade. 4º) Cultura geral: conhecimentos variados que não são exclusivamente do domínio da função exercida. 5º) Conhecimentos especiais: relativos unicamente à função, seja ela técnica, comercial, financeira, administrativa etc. 6º) Experiência: conhecimento resultante da prática dos negócios. É a lembrança das lições que os fatos proporcionam a todos nós. (p.27).
A relevância para cada parte deste grupo de qualidades e
conhecimentos está em compor e estabelecer a capacidade e a interface
da natureza e importância do cargo.
O Quadro 2 mostra a importância relativa das capacidades
necessárias ao pessoal de função técnica de uma grande empresa
industrial, no entendimento de Fayol (1989):
39
Quadro 2 – Categorias de agentes de função técnica de uma empresa industrial
CATEGORIAS DE
AGENTES
CAPACIDADES VALOR TOTAL
Adm
inis
trativa
Técn
ica
Co
merc
ial
Fin
ance
ira
de S
eg
ura
nça
de C
on
tab
ilidade
Grande estabelecimento:
Operário 5 85 ,, ,, 5 5 100 (a)
Contramestre 15 60 5 ,, 10 10 100 (b)
Chefe de oficina 25 45 5 ,, 10 15 100 (c)
Chefe de divisão 30 30 5 5 10 20 100 (d)
Chefe de serviço técnico 35 30 10 5 10 10 100 (e)
Diretor 40 15 15 10 10 10 100 (f)
Vários estabelecimentos reunidos:
Diretor-geral 50 10 10 10 10 10 100 (g)
Indústria de Estado:
Ministro 50 10 10 10 10 10 100 (h)
Chefe de Estado 60 8 8 8 8 8 100 (i)
Fonte: FAYOL, 1989
Verifica-se que, no Quadro 2, as capacidades dos agentes de
empresas industriais estão dimensionadas por áreas, de acordo com a
amplitude e requisitos da função e representadas em porcentagem até
somarem 100% do valor total. As letras que aparecem na última coluna à
direita indicam as linhas de cada categoria.
Nota-se que, para Fayol, quanto maior a capacidade administrativa,
por exemplo, no caso dos diretores (linhas f e g) que atingem até 50%,
menor é a capacidade técnica, dimensionada em 10%. Em sentido
oposto, para o operário, que inicia a categoria de agentes, sua
capacidade administrativa é mensurada em 5% e a técnica em 85%.
O Quadro 3 demonstra a importância relativa das diferentes
capacidades necessárias aos chefes de empresas industriais.
40
Quadro 3 – Categorias de chefes de uma empresa industrial
CATEGORIAS DE CHEFES
CAPACIDADES VALOR TOTAL
Adm
inis
trativa
Técn
ica
Co
merc
ial
Fin
ance
ira
de S
eg
ura
nça
de C
on
tab
ilidade
Empresa rudimentar 15 40 20 10 5 10 100 (m)
Pequena empresa 25 30 15 10 10 10 100 (n)
Empresa media 30 25 15 10 10 10 100 (o)
Grande empress 40 15 15 10 10 10 100 (p)
Empresa muito grande 50 10 10 10 10 10 100 (q)
Empress do Estado 60 8 8 8 8 8 100 (r)
Fonte: FAYOL, 1989.
No Quadro 3, verifica-se que, as capacidades dos chefes de
empresas industriais estão dimensionadas por áreas, de acordo com o
tamanho das empresas e representadas em porcentagem até somarem
100% do valor total. As letras que aparecem na última coluna à direita
indicam as linhas de cada categoria.
Os diferentes portes de empresas industriais e o dimensionamento
das capacidades técnicas de acordo com a estrutura de cada tipo de
organização. Quanto maior o porte da empresa, maior a capacidade
administrativa do chefe e menor sua capacidade técnica, no entendimento
de Fayol.
Para Fayol (1989), o acontecimento mais relevante colocado em
destaque por esses quadros é o seguinte:
A capacidade técnica é a principal capacidade dos agentes inferiores da grande empresa e dos chefes da pequena empresa industrial; a capacidade administrativa é a principal capacidade dos grandes chefes. A capacidade técnica domina na base da escala hierárquica industrial e a capacidade administrativa, no ápice. (p.32).
Para obter o resultado desejado é preciso que as organizações
41
sejam bem administradas:
... seu impacto sobre o desempenho das organizações. É a forma como são administradas que torna as organizações mais ou menos capazes de utilizar corretamente seus recursos para atingir os objetivos corretos (MAXIMIANO, 2000, p. 25).
Ainda conforme Maximiano (2000), Fayol considerava que as
etapas da Administração eram diferentes das atividades de operações e
produções, pois a empresa necessitaria ser comandada por um conjunto
de regras e procedimentos estabelecidos pela gerência, sendo que a
atividade do gestor seria a de decidir, determinar metas, definir objetivos e
delegar responsabilidades aos colaboradores da organização de maneira
que as operações estivessem em ordem racional.
A figura a seguir retrata a atividade da Administração como distinta
das operações e produção. No entanto, seus conceitos e princípios
facilitam a organização e a gestão de equipes, recursos e insumos.
Figura 06 – A atividade da Administração
Fonte: http://momentodoadm.blogspot.com/2014/02/espaco-do-administrador-taylor-e-
fayol.html
42
A intenção de exibir a figura 06 é mostrar o desenvolvimento da
indústria na concepção clássica, representada por Fayol e Taylor,
personagens exibidas respectivamente nos cantos superiores. Contempla
atividades de Administração como: planejamento e organização, como
mostra a imagem central superior; execução das tarefas, como exibido na
imagem inferior esquerda e controle do tempo e de custos, representados
na imagem inferior direita.
Figura 07 – Fábrica de carros e carroças em 1912
-
Fonte: http://www.saopaulo.sp.gov.br/
A figura 07 exibe a mudança de época das fabricações de carroças
por automóveis, considerando a entrada da indústria automobilística no
Brasil, na cidade de São Paulo, na década de 1910. Destacamos a
contribuição de Fayol ao estabelecer as funções administrativas e o papel
do gerente diante das mudanças de um novo cenário industrial e
produtivo da época.
Organizar a empresa e estabelecer um critério de ordens e
procedimentos sem prejudicar o trabalho e a qualidade dos serviços,
eliminar o excesso de papelada e imposição da burocracia, já que eram
43
atividades dos gerentes. Fayol completa a sua teoria com a criação de
quatorze princípios que deveriam ser implantados para se obter uma
Administração eficaz:
I - Divisão do trabalho, a designação de tarefas específicas para cada indivíduo, resultando na especialização das funções e separação dos poderes.
II - Autoridade e responsabilidade, sendo a primeira o direito de mandar e o poder de se fazer obedecer, e a segunda, a sanção – recompensa ou penalidade – que acompanha o exercício do poder. III - Disciplina, o respeito aos acordos estabelecidos entre a empresa e seus agentes. IV - Unidade de comando, de forma que cada indivíduo tenha apenas um superior. V - Unidade de direção, um só chefe e um só programa para um conjunto de operações que visam ao mesmo objetivo. VI - Subordinação do interesse individual ao interesse geral. VII - Remuneração do pessoal, de forma equitativa e com base tanto em fatores externos quanto internos. VIII - Centralização, o equilíbrio entre a concentração de poderes de decisão no chefe, sua capacidade de enfrentar suas responsabilidades e a iniciativa dos subordinados. IX - Cadeia de comando (linha de autoridade), ou hierarquia, a série dos chefes desde o primeiro ao último escalão, dando-se aos subordinados de chefes diferentes a autonomia para estabelecer relações diretas (a ponte de Fayol). X - Ordem, um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar. XI - Equidade, o tratamento das pessoas com benevolência e justiça, não excluindo a energia e o rigor quando necessários. XII - Estabilidade do pessoal, a manutenção das equipes como forma de promover seu desenvolvimento. XIII - Iniciativa, que faz aumentar o zelo e a atividade dos agentes. XIV - Espírito de equipe (MAXIMIANO, 2000, p.25-26).
Henry Fayol contribuiu efetivamente para o desenvolvimento da
Administração contemporânea, uma vez que categorizou funções, expôs
e listou capacidades necessárias para desempenhar funções,
44
esclarecendo o papel dos executivos dentro das empresas.
Morin (1979)6, considera Fayol como o responsável pela invenção
da Administração com uma ideologia que arrebatou a segunda metade do
século XIX, e suas ideias foram revisitadas pelas business schools
americanas, que desde então passaram a adotar a biografia de Fayol em
seus livros que tratam de Administração.
Morin (1979), destaca que a atualidade do livro o surpreende, pois
os temas estudados por Fayol, como sua visão para explicar a sequência
da Administração: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar o
remete ao pensamento de outras obras americanas de gestão publicadas
em diversos artigos de revistas pelas business schools. Menciona ainda
outro tema discutido por Fayol, qual seja, a formação de administradores,
na época denominados por agentes de indústria, e mesmo não
pertencendo a organizações, tais como o Conselho de Aperfeiçoamento
da École des Mines de Saint-Étienne, ou do Conservatório Nacional de
Artes e Ofícios, sugeriu diversas recomendações para a adaptação do
ensino, destacando a sua relevância na formação da vida profissional.
Fayol defendia uma preparação para a vida profissional, no sentido
de considerar crucial para o desenvolvimento econômico o conhecimento
acompanhado da parte prática. Contudo, no entendimento de Morin
(1979) Fayol não deveria ser visto como um tecnocrata: “comete-se um
grande erro quando se sacrifica, durante quatro ou cinco anos, a cultura
geral necessária em benefício de um excesso de matemática” (p.13).
A Administração é essencial para o desenvolvimento econômico e,
em seu livro, Fayol esboça as instruções para esse conceito, por exemplo:
6 Pierre Morin, Diretor Adjunto do Instituto para o Desenvolvimento dos Recursos Humanos da Empresa, situado em Paris, contribuiu com o livro do próprio Fayol, escrevendo um texto introdutório denominado “Atualidade de Henri Fayol”. Nele, destacou a importância de Fayol como cidadão francês, ao quebrar um paradigma cultural de que “o francês não sabe vender, desenvolver, difundir ou impor o que inventam” (1979, p.17).
45
Importância da previsão: sistemas de previsão – anual, de longo prazo, mensal, especial, fundidos e harmonizados num programa geral; e mesmo aí Fayol mostra seu senso administrativo: “ao fazer este trabalho, o pessoal aumenta seu valor de ano para ano e, no fim de certo tempo, achar-se-á superior ao que era antes”. Preocupação de combater a burocratização: favorecer as relações face a face “sempre que possível, as relações devem ser verbais. Com isto, ganha-se em rapidez, clareza e harmonia”; evitar a multiplicação dos escalões intermediários; lutar contra a irresponsabilidade da hierarquia e dos dirigentes “sem estabilidade do pessoal dirigente não pode haver bom programa em andamento”; e mais: “não se concebe autoridade sem responsabilidade, isto é, sem uma sanção – recompensa ou penalidade – que acompanha o exercício do poder”. Esta luta contra a burocracia e a irresponsabilidade pode exigir o afastamento “de um antigo funcionário muito bem posicionado, “o que não está “ao alcance do primeiro que chega”. É preciso lembrar, a este respeito, que Fayol é também autor de um livro publicado em 1921 – L’incapacité industrielle de I’État: lês P.T.T., em que retorna sua linha de estudo sobre este tipo de administração, cujas principais insuficiências colocam em pauta desde as primeiras páginas: “Na direção, um Subsecretário de Estado instável e incompetente, nenhum programa de ação delongo prazo; nenhum balanço; intervenção abusiva e excessiva dos parlamentares; nenhum estímulo para o zelo; nenhuma recompensa pelos serviços prestados; ausência de responsabilidade.” Pragmatismo: “A divisão do trabalho tem limites que a experiência, acompanhada de espírito propenso a efetuar medições, ensina a não transpor.” Havia também pragmatismo na maneira pela qual elaborou sua doutrina, a partir de 1861, anotando diariamente, durante 50 anos, o ensinamento, a regra geral que podia tirar de todos os incidentes observados em sua atividade profissional. Necessidade de recorrer a controllers de gestão e a fórmulas de controle rápidas, para prevenir “contra surpresas desagradáveis, que poderiam degenerar-se em catástrofes”. [grifos do autor], (MORIN, 1979, p.14-15).
Entretanto, para Morin (1979) não se pode negar que a obra de
Fayol retrata as marcas do final do século XIX: moralismo ultrapassado,
apelo aos costumes tradicionais, trabalho, família, pátria a fim de
regulamentar os problemas da industrialização.
46
Para Fayol (1989), as escolas de engenharia civil da França
ignoravam a importância da qualidade da saúde e vigor físico como
características cruciais aos engenheiros e diretores das indústrias, em
contrapartida, os ingleses davam mais importância para estas questões.
A iniciativa, a energia, a medida, a coragem das responsabilidades, o sentimento do dever etc. são também qualidades morais que dão grande valor aos agentes superiores da indústria. Quanto mais cedo e mais intensamente se procurar chamar a atenção dos futuros chefes sobre a importância dessas qualidades, tanto melhor. (p.107).
Fayol também comentou a respeito do “abuso da Matemática”,
embora não houvesse o que questionar sobre a importância da
matemática no ensino e sua relevância no avanço das ciências físicas e
mecânicas e que o sucesso nestas áreas se devia à amplitude de
conhecimento do estudo da matemática. Para Fayol o abuso da
matemática estava em acreditar que quanto maior fosse o conhecimento
matemático, maior seria a vocação para o governo dos negócios, pois seu
estudo desenvolvia a capacidade de julgar melhor do que qualquer outro
conhecimento. Tanto que os jovens que ingressavam nas classes de
matemática especial, estas não estabeleciam para eles cultura geral, pois
era uma especialização. Fayol, durante um Congresso Internacional de
Minas e Metalurgia ocorrido em 23 de junho de 1900, manifestou-se
publicamente:
Longa experiência pessoal ensinou-me que o emprego de matemática superior é nulo no governo dos negócios e que os engenheiros, mineiros ou metalurgistas, quase nunca recorrem a ela. Deplorava eu que todos os alunos de nossas grandes escolas fossem obrigados a longos e inúteis estudos, agora que há tantas coisas necessárias a aprender e que a indústria tem necessidade de engenheiros jovens e de boa formação física e moral. Desejava, ainda, que se reduzissem os programas de matemática e que se introduzissem no ensino noções de administração. (p.109).
47
Logo após essa manifestação de Fayol, o presidente do
Congresso, Haton de la Goupillière, expressou as seguintes palavras:
Senhores, vossos aplausos indicam bem ao Sr. Fayol a justeza de suas opiniões... Entretanto, permitir-me-á, espero, algumas observações, pois é preciso que a matemática encontre aqui alguma defesa. Comecei a minha carreira pela matemática pura. Durante vinte anos, ensinei na Escola de Minas ou na Sorbonne cálculo diferencial e integral, assim como mecânica. No que concerne à Escola de Minas, convencera-me da ideias que vos expôs o Sr. Fayol; fazia um curso bem- limitado de cálculo diferencial e integral, que reduzira a dez lições, em que condensara cuidadosamente tudo o que me parecia necessário para pôr os alunos em condições de estudar os outros programas do ensino. Mais tarde, passei para o curso de exploração de minas e de máquinas. O curso de análise foi, então, confiado a um homem eminentíssimo (os professores da Escola de Minas bem sabem a quem me refiro), um matemático de primeira ordem, que acreditou dever dar a esse curso um desenvolvimento muito maior. Desde então, respeitou-se essa ampliação adotada por meu sucessor, mas eu creio que o que diz o Sr. Fayol é justo e que conviria reduzir a matemática pura às aplicações reais que a mocidade terá de fazer. Todavia, vai aqui uma reserva à minha aprovação. Com efeito, não é necessário somente que o engenheiro se encontre em condições de executar os cálculos futuros que, segundo Fayol, estariam reduzidos a quase nada; é preciso, antes de mais nada, que o aluno possa cursar a escola e nela seja o ensino ministrado com uma precisão matemática sempre que possível. Mas, sobretudo, penso senhores, que a matemática é um todo-poderoso instrumento de formação para o espírito. Uma vez que o espírito do engenheiro esteja formado, ponde, se quiserdes, a matemática de lado; vosso aluno não ficará menos suscetível de se tornar um grande engenheiro ou um hábil administrador. O mesmo homem, se o houvésseis feito passar por fraca educação, não atingiria jamais o mesmo nível. Tal é a única observação que eu desejaria fazer às excelentes palavras de meu muito eminente e caríssimo contraditor. De outra parte, lembrarei ao Sr. Fayol que ele se encontra em excelente posição para dar às suas idéias toda a influência possível, pois faz parte de um conselho de primeira grandeza, o da Escola de Minas de Saint-Etienne. Esse conselho compreende, além dos professores, número notável de grandes industriais; não se poderia, certamente, encontrar ninguém mais bem-indicado do que ele como industrial e como espírito de
48
largas vistas “(p.109-110).
Contemporâneo a Taylor, do mesmo modo, observa-se que Fayol
trouxe grande contribuição para o avanço da indústria, do comércio e
tantos outros segmentos. Ressaltamos que a internalização, a importância
da gestão administrativa e os conceitos de mudança e desenvolvimento
proposto por Fayol, após longos estudos e debates, são até hoje
eternizados e aprendidos nas universidades do mundo todo e colaboram
para o progresso de toda organização e família.
1.1.2 Comparação das teorias clássicas
Existe uma significativa sobreposição entre as escolas clássicas,
da Administração Científica e da Teoria Clássica da Administração. O
quadro a seguir retrata a essência dessas perspectivas, segundo Silva
(2005, p.178):
Quadro 04 – Comparação das teorias de Taylor e Fayol
Administração Científica TAYLOR
Teoria Clássica da Administração FAYOL
Características
Treinamento em regras e rotinas Motivação financeira Divisão do trabalho Uma melhor maneira de fazer
Definição das funções Divisão do trabalho Hierarquia Autoridade Equidade
Foco Empregado Estrutura da Administração
Benefícios
Produtividade Eficiência Estrutura definida Profissionalização dos papéis gerenciais
Inconvenientes
No consideração das necessidades sociais
Foco interno Superenfatização do comportamento racional dos administradores
Fonte: Adaptado de Silva, 2005, p.178
49
A tabela procura evidenciar que Taylor tinha o foco exclusivo na
melhoria da produtividade, na redução do desperdício e na especialização
do trabalhador em sua atividade, a fim de estabelecer os melhores
tempos de produção. Enfim, enfatizava as operações (observação,
experiência, registro, análise) com ênfase nas tarefas com o objetivo de
eliminar os desperdícios na produção através dos estudos dos tempos e
movimentos.
Fayol, por sua vez, destacava a organização e a criação de
departamentos, nas funções administrativas e nos papéis dos gerentes,
de acordo com hierarquia organizacional, estabelecendo regras no
tratamento de todos os colaboradores. Preocupava-se, portanto, com as
questões administrativas com ênfase na estrutura organizacional,
colaborando com o desenvolvimento do homem e pela busca da máxima
eficiência por meio da satisfação e comprometimento do trabalhador na
organização.
1.1.3 A Teoria das Relações Humanas
Para Silva (2005), a Escola das Relações Humanas surgiu nos
Estados Unidos com base na teoria clássica da Administração,
contrapondo a ênfase abordada na tarefa por Taylor, a preocupação de
Fayol quanto à estrutura e até mesmo aos conceitos de autoridade
desenvolvidos por Weber, surge então Elton Mayo, pelo entendimento do
qual o aumento da produtividade das empresas deve-se especialmente
na satisfação dos empregados e que os conceitos rígidos das teorias
clássicas tendiam a favorecer os interesses dos patrões e à exploração
dos empregados. Elton Mayo e seus colaboradores são os principais
representantes dessa teoria, denominada Teoria das Relações Humanas.
Nascido em Adelaide na Austrália, George Elton Mayo (1880-
1949), Importante psicólogo que trabalhou a maior parte de sua carreira
na Harvard Business School, foi o mais notável fomentador e protagonista
50
da Escola das Relações Humanas. Seu grande marco foi estudar e
descobrir o comportamento humano no trabalho alcançando seu êxito
através da experiência com grupo de funcionários em uma fábrica da
Western Electric Co, no bairro de Hawthorne, em Chicago.
Os estudos realizados na Western Electric Company são
denominados de pesquisas de Hawthorne tornaram-se um marco para a
Administração. Inicialmente, esses estudos tinham como intuito
estabelecer a relação entre a iluminação no ambiente de trabalho e a
eficiência dos trabalhadores industriais (PRADO; ALVES, 2011).
Para o experimento, trabalhadores foram divididos em dois grupos,
de modo que um deles foi submetido às variações de iluminação
enquanto o outro se manteve a iluminação constante. Verificou-se que
não havia relação entre eficiência e iluminação e percebeu-se a
necessidade de novos experimentos. Assim, na sala de testes de
montagem de relés, realizou-se outra experiência, com um grupo de
moças, durante cinco anos. Percebeu-se que, à medida que melhoravam
as condições de trabalho, o clima e a produção também melhoravam. Em
dado momento, os pesquisadores incluíram as participantes nos
experimentos, consultando-as, fazendo-as participar das decisões
(PRADO; ALVES, 2011).
Esses experimentos levaram os pesquisadores a comprovar a
importância de se levar em conta os fatores psicológicos dos empregados
no ambiente de trabalho. Os trabalhadores, quando valorizados pelos
chefes passavam a trabalhar com mais eficiência. Entenderam que “os
instrumentos ‘não humanos’, destinados à mensuração da produção, não
tinham mais utilidade, pois agora desejavam saber o que as pessoas
sentiam, pensavam, se preocupavam, gostavam (ou não) em relação ao
trabalho, ou seja, o que tudo isso significava” (PRADO; ALVES, 2011,
p.4).
Apesar da participação de diversos pesquisadores, Mayo foi quem
elaborou teorias mais abrangentes. As pesquisas realizadas em
51
Hawthorne renderam muitas publicidades que suscitou uma série de
elogios e reconhecimentos, porém, não escapou de duras críticas com
títulos cômicos e apelidos como garotos da felicidade, acreditando ser
exagerado o foco dado às questões sentimentais dos trabalhadores nas
organizações. (SILVA, 2005).
Figura 08 – George Elton Mayo (1880-1949)
Fonte: https://administer33.wordpress.com/2012/05/22/teoria-das-relacoes-humanas
Algumas dessas críticas são amplamente discutidas:
1. validade científica: muitas das conclusões
não são sustentadas por adequada evidência científicas; elas são baseadas em uma compreensão clínica mais do que em experimentos controlados. E vale a questão: “Foram os grupos experimentais projetados para provar a hipótese do experimentador?”
2. miopia dos enfoques: os seguintes pontos confirmam a visão curta das relações humanas:
falta de foco adequado no trabalho, muita ênfase nos relacionamentos interpessoais e nos grupos informais; negligência da dimensão da satisfação do trabalho: excesso de motivação econômica para controlar o comportamento humano; pesquisas das relações humanas concernentes a operários - os níveis gerenciais não podem ser delineados em termos de comportamento, mesmo de forma simples, com base nesses estudos.
3. super preocupação com a felicidade: os estudos de Hawtorne sugeriam que “empregados
52
felizes serão empregados produtivos”. Essa relação entre felicidade e satisfação no trabalho é infeliz porque representa uma visão simplista da natureza do homem.
4. mal-entendido do sentido de participação: alguns dos estudiosos pós-Hawthorne viam a participação como um lubrificante que reduziria a resistência à autoridade formal e levaria os trabalhadores ao alcance das metas organizacionais.
5. a visão da decisão de grupo: mesmo com a evidência de a pesquisa sobre a superioridade da decisão de grupo ser conflitante e inconclusiva, a teoria manteve essa superioridade sobre a decisão individual; o indivíduo não quer perder sua identidade ou não quer ser identificado só pelo grupo.
6. geração de conflitos: a teoria falhou em reconhecer o conflito como uma força criativa na sociedade, os estudiosos acreditavam que o conflito era ruim e devia ser minimizado. A ênfase era no alcance da paz e da cooperação. Estudos atuais mostram que a vida sem conflitos pode ser sem significado e intolerável. O conflito existe e, se adequadamente tratado, pode trazer ajustes e resultados mais eficazes.
7. antiindividualismo: o movimento das relações humanas é antiindividualista. Aqui a disciplina do chefe é simplesmente substituída pela disciplina do grupo, forçando o indivíduo a sacrificar seus valores pessoais e atitudes na sufocante conformidade aos padrões grupais. [Grifos do autor] (SILVA, 2005,p.213).
Para Silva (2005), as críticas apresentadas deveriam ser melhor
desenvolvidas, pois traria melhores resultados quanto a compreensão do
comportamento humano desde os períodos que as teorias administrativas
iniciaram o seu desenvolvimento.
Segundo Maximiano (2000), Mayo afirmou que o desempenho dos
trabalhadores não depende tanto dos métodos de trabalho, como pregam
os princípios da Administração científica, mas mais dos fatores
emocionais e comportamentais, tanto que o novo conceito proposto por
Mayo e seus colaboradores não afetaram a estrutura criada por Ford e
Taylor, no entanto, contribuíram com as mudanças de atitudes dos
administradores em relação aos trabalhadores, praticando mudanças
53
fundamentais em seus papéis.
Nos anos 30, os conceitos de relações humanas passaram a ser
estudados nas escolas de educação formal e informal, escolas,
associações de classe, seminários e programas de treinamento, discutiam
as propostas de Mayo, as bases fundamentais estabelecidas nos estudos
de Hawthorne, foram disseminadas com êxito, afinal, os administradores
reconheceram a importância de observarem o comportamento humano
para o sucesso das atividades organizacionais.
Bertero (1968) adverte que é distorcida a interpretação de atribuir a
Mayo a negação do sistema erigido pelas escolas clássicas ou
tradicionais, notadamente, as ideias de Taylor e Fayol, menosprezando a
organização formal e os incentivos de natureza financeira. Todos eram
teóricos que defendiam a produtividade, o aumento de lucros e a
expansão do sistema industrial.
Além disso, outra distorção observada por Bertero (1968) é a
vulgarização das habilidades das relações humanas, que passou a ser
confundida, por alguns praticantes das relações humanas, com atitudes
suficientemente disfarçadas e utilizadas em momentos adequados por
executivos, de modo a fazer prevalecer os seus pontos de vista, para a
manutenção de privilégios.
54
Quadro 5 – Principais conclusões de Elton Mayo
Lealdade ao grupo
O sistema social formado pelos grupos determina o resultado do indivíduo, que pode ser mais leal ao grupo do que à administração.
Alguns grupos não atingem aos níveis de produção esperados pela administração, porque há entre seus membros uma espécie de acordo que define uma quantidade “correta”, que é menor, a ser produzida.
O efeito Hawthorne não funciona em todos os casos.
Esforço coletivo
Por causa da influência do sistema social sobre o desempenho individual, a administração deve entender o comportamento dos grupos e fortalecer as relações com os grupos, em vez de tratar os indivíduos como seres isolados. A responsabilidade da administração é desenvolver as bases para o trabalho em equipe, o autogoverno e a cooperação.
Conceito de autoridade
O supervisor de primeira linha deve ser não um controlador, mas um intermediário entre a administração superior e os grupos de trabalho.
O conceito de autoridade deve basear-se não na coerção, mas na cooperação e na coordenação.
Fonte: MAXIMIANO, 2012, p.250
Importante destacar que para Mayo a organização é como um
sistema social e que as pessoas formam a base de sua existência. Por
isso, a preocupação de saber compreendê-las e não as tratar como
máquinas ou como pessoas exclusivamente profissionais conforme a
visão de Taylor.
Efeito Hawthorne
A qualidade do tratamento dispensado pela gerência aos trabalhadores influencia fortemente seu desempenho.
Bom tratamento por parte da administração, reforçando o sentido de grupo, produz bom desempenho.
O efeito positivo do tratamento da administração sobre o desempenho humano ficou conhecido como efeito Hawthorne, por causa do nome do experimento.
55
Quadro 06 – Características das Escolas Clássicas e Relações Humanas
Características
Escolas Clássicas
Escola Relações Humanas
Estrutura Mecanicista e impessoal A organização é um sistema social
Comportamento na Organização
Produto de regras e regulamentos
Produto de sentimento e atitudes
Foco No trabalho a nas necessidades econômicas
dos trabalhadores
Nos pequenos grupos e nas qualidades humanas e
emocionais dos empregados
Ênfase Pessoas tentam maximizar recompensas; ênfase na ordem e racionalidade.
Ênfase segurança pessoal e necessidades sociais dos trabalhadores para
alcance das metas organizacionais
Resultados Alienação no trabalho insatisfação
Empregados felizes tentando produzir mais.
Fonte: SILVA, 2005, p.212
Observando o quadro comparativo das Escolas Clássicas e Escola
das Relações Humanas, para os dias de hoje é possível depreender que
os gestores de Administração de todas as áreas e inclusive os de
produção, necessitam buscar o equilíbrio no trato e desenvolvimento dos
trabalhadores.
56
CAPÍTULO 2
O ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL:
ASPECTOS HISTÓRICOS
Segundo o Conselho Federal de Administração (CFA), os cursos
de Administração no Brasil são relativamente recentes, sobretudo se
forem comparados com os dos Estados Unidos da América, onde os
primeiros cursos na área iniciaram-se no final do século XIX, com a
criação da Wharton School, em 1881(BRASIL, 2016).
A Administração no Brasil começou a se desenvolver a partir do
governo de Getúlio Vargas, época em que sofreu mudanças estruturais
significativas, de modo a atender a demanda do setor produtivo e o
crescimento industrial. Havia uma crescente necessidade de profissionais
qualificados para atuarem nas empresas estatais e privadas. Assim, já em
1931, foi criado o primeiro Curso Superior de Administração e Finanças,
com duração de três anos (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012).
No Brasil, na década de 1930, com o avanço das atividades
industriais e de serviços, considerava-se importante elevar o cargo da
função do operário concedendo-lhe a possibilidade de ser promovido para
o nível intermediário, ou seja, assumir o comando de cargos de gestão de
departamentos e equipes. O tradicional sistema de educação aristocrática
não era suficiente para atender as necessidades emergentes, devido à
velocidade do processo de urbanização e o início da industrialização com
o fim da I Guerra Mundial. Concomitantemente a estas dificuldades, a
preocupação estendeu-se à educação do trabalhador. Mesmo que o
desenvolvimento industrial fosse ainda embrionário, havia a necessidade
de trabalhadores com preparação mínima para os novos cargos e funções
a serem ocupados na indústria, comércio e serviços (BATISTA, 2016).
A profissionalização dos trabalhadores era oferecida nos liceus e
57
escolas de ofícios, de maneira insuficiente, tanto que os ofícios oferecidos
eram mais artesanais do que industriais. Nesse contexto, importar mão de
obra especializada era um desafio, forçando a necessidade de estimular a
ampliação do número dessas instituições voltadas para o ensino
profissional (BATISTA, 2016).
Nesse período de mudanças econômicas na maneira de produzir,
como aumentou a demanda social por educação, o Estado ampliou o
quadro escolar. Porém, estabeleceu para as escolas um tipo de formação
focada somente na instrução para o trabalho, embora a demanda se
mostrasse maior do que a instrução profissional.
A organização racional do trabalho esteve presente na Associação
Brasileira de Educação (ABE). De acordo com Batista (2016), este fato se
evidenciou dada a relevância dos métodos de uma pedagogia que
possibilitasse no meio escolar, a realização das atividades e conceitos
exigidos para o trabalho industrial, não se adequando às limitações dos
trabalhadores para determinada função na indústria. Por outro lado,
pensava-se também na proposta de estabelecer trabalhadores no campo,
de maneira a controlar o processo de crescimento urbano por meio de
uma distribuição coerente da população pelos trabalhos rurais e urbanos.
O debate em torno da educação profissional já estava colocado no
país no início do século XX e, no decorrer dos anos, cresceu com a
organização dos industriais no Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo (CIESP) e com a criação do Instituto de Organização Racional do
Trabalho (IDORT), em 1931, constatou Batista (2016). A Lei n°1.184, de 3
de dezembro de 1909, já mostrava preocupação com a educação de
jovens operários ou filhos dos operários. Esse texto legal determinava a
criação de cinquenta escolas noturnas para crianças operárias ou filhos
de operários, nas proximidades das fábricas paulistas, sendo que o
período de trabalho e o horário da escola deveriam ser compatíveis com o
horário de funcionamento da fábrica (SÃO PAULO, 1909a).
58
Já a Lei n° 1.192, de 22 de dezembro de 1909, criava institutos
profissionais para menores pobres, de ambos os sexos, maiores de
o n z e anos, que se encontrassem abandonados. Se esses menores
fossem encontrados por policiais, estes deveriam informar ao Secretário
da Justiça que se encarregaria de recolhê-los nesses institutos.
Expressava a insistência da ideia do ensino profissional como exclusivo
aos desvalidos de modo que esses institutos ficavam obrigados a:
1.º - a ensinar aos menores pelo menos um officio, ou trabalhos fabris agrícolas ou domesticos compativeis com a sua edade, sexo e saúde; 2.º - a ministrar-lhes instrucção elementar, ou não embaraçar a que fôr ministrada pelo Governo, comprehendendo pelo menos, leitura e calligraphia, lingua portugueza, mathematica elementar, desenho linear, gymnastica e rudimentos de hygiene; 3.º -a dar-lhes alimentação, habitação e vestuario convenientes, educação moral e bom tratamento em geral; 4.º - a pagar o salário que fôr ajustado em favor do menor pelos seus serviços; 5.º - a não exigirem dos menores excessos de trabalhos, além dos maximos seguintes: seis horas de trabalhos manuaes e três horas de estudos intellectuaes, diariamente; 6.º - a conceder-lhes férias de accôrdo com a sua edade e sexo, conforme fôr pelo Governo regulado; 7.º - a communicar ao Governo quanto occorrer a respeito dos menores; 8.º - a cumprir as disposições regulamentares para execução desta lei (SÃO PAULO, 1909b).
Questões relativas à educação profissional foram aos poucos
ganhando importância em diversos setores da sociedade. O ensino
industrial se fazia necessário, na visão dos industriais, pela necessidade
de se ter operários qualificados nas indústrias de ponta (BATISTA, 2016,
p. 4).
Essas e outras preocupações fizeram com que um grupo de
empresários brasileiros, motivados por outros empresários estrangeiros,
cientistas e educadores americanos, fundamentados nas ideias e
conceitos dos princípios da Administração de Taylor, fundassem o
59
Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT). Fundado na
cidade de São Paulo em outubro de 1931, o IDORT surgiu com o objetivo
de expandir o conceito de racionalização, encorajar a eficiência e elevar a
produtividade nas indústrias e em outros setores de atividades civil, sem
fins lucrativos que deveria ser pensada na perspectiva do
desenvolvimento e formação de novos trabalhadores, pois para o IDORT,
estabelecer um novo paradigma para nortear as relações entre as classes
sociais, seria fundamental para o desenvolvimento, ao contrário do
conflito, das lutas de classes tão evidentes na época. Esse Instituto foi
considerado o primeiro órgão de treinamento em Administração da
América Latina, sendo considerado de utilidade pública pelo estado em
1936 (CORREA; ALMEIDA, 2014).
A fundação do IDORT foi estabelecida apoiando os conceitos da
Administração científica, que vinha se consolidando, por meio de
iniciativas surgidas, no decorrer da década de 1920. Dentre estas
iniciativas, destaca-se a implantação dos modelos de Administração
científica empreendidas por Roberto Simonsen em suas empresas e na
construção de quartéis a ele confiados (CORREA; ALMEIDA, 2014).
Entre os fundadores do IDORT constam homens que exerceram
atividades importantes para a vida acadêmica ou empresarial paulista.
Destacam-se industriais (como o engenheiro Aldo Mário de Azevedo,
Henrique Dumont Villares e Luís Tavares Alves Pereira), cientistas (como
os engenheiros Roberto Mange e Monteiro de Camargo, o médico
Geraldo de Paulo Souza e o educador Lourenço Filho) e administradores
de empresas e gestores de entidades empresariais (como o engenheiro
Armando de Salles Oliveira e o jurista Clovis Ribeiro). Esta junção de
esforços e conhecimentos de cientistas e empresários é essencial à
compreensão da trajetória do órgão (FERREIRA, 2008).
De acordo com Batista (2016), o IDORT atingiu as pretensões
relativas à elaboração, sistematização e divulgação de ideias sobre
racionalização do trabalho. No que tange ao aspecto educacional, esse
60
Instituto se configurou como instituição educacional, uma vez que
estimulou o desenvolvimento de projetos pedagógicos no âmbito da
educação profissional, sob a coordenação do engenheiro Roberto Mange.
O IDORT foi o responsável pela introdução no Brasil dos
fundamentos da organização e racionalização do trabalho, voltado para
os valores e bem estar do capital humano7. Ainda atua no campo da
consultoria de organizações. (CORREA; ALMEIDA, 2014).
Enquanto o IDORT organizou e implantou as etapas e processos
da Administração científica do trabalho e da produção no setor industrial,
o Governo, por sua vez, valorizou a Administração pública criando o
Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), em 1938,
sendo constituído um novo modelo de qualidade no serviço público
federal, estabelecendo novos canais de relacionamento para o processo
de recrutamento e seleção de profissionais qualificados para a
Administração pública, a partir de concursos públicos. Vale destacar que
as atribuições do DASP, descritas no Decreto-lei nº 579/38, de 30 de julho
de 1938, foram:
• Realização de estudos detalhados de repartições, departamentos e estabelecimentos públicos para determinar as modificações a serem feitas em vários campos: dotação orçamentária, distribuição, processos de trabalho, relações entre os órgãos e relações com o público. • Fiscalizar a execução do orçamento, juntamente com o presidente da República. • Organizar anualmente a proposta orçamentária a ser enviada à Câmara dos Deputados; cuidar da organização dos concursos públicos para cargos federais do Poder Executivo; aperfeiçoamento dos servidores civis da União; auxílio ao presidente no exame dos projetos de lei submetidos à sanção e fixação de padrões para os materiais usados nos serviços público (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012, p.7-8).
7 Capital Humano se compõe de dois aspectos, quais sejam, talentos e contexto. Os talentos dizem respeito às pessoas dotadas de conhecimentos, habilidades, julgamentos e atitudes. O contexto diz respeito ao ambiente adequado para o desenvolvimento desses talentos (CHIAVENATO, 2004).
61
A Administração tornou-se cada vez mais reconhecida por sua
importância, ampliando o seu espaço de maneira organizada. Tanto as
empresas públicas como as privadas tinham a necessidade de
contratarem profissionais administradores competentes e experientes
para lidarem com organizações complexas. Na década de 1940, o Padre
jesuíta Roberto Sabóia de Medeiros (1905-1955), preocupado com
questões sociais e também com a educação, tornou-se, naquela época,
um pioneiro no ensino da Administração. Visitou a Universidade de
Harvard nos Estados Unidos da América, com o objetivo de trazer um
modelo curricular do curso de Administração para ser estabelecido no
Brasil, intuindo que o país intensificaria seu processo de industrialização
e, portanto, necessitaria de administradores especializados (PINTO;
MOTTER JUNIOR, 2012).
Motivado com a viagem ao exterior, Medeiros criou, em 1941, a
Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN), no Bairro da
Liberdade, em São Paulo. Essa escola tinha como principal meta a
formação de técnicos de nível superior capazes de administrar e suprir as
exigências de crescimento no Brasil. Inicialmente o curso oferecido, tinha
duração de dois anos seguidos de um ano de especialização, sendo que
qualquer aluno que tivesse ou não o concluído o curso secundário poderia
se inscrever. A ESAN foi reconhecida em 1961, por ordem do presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012).
Em 1944, foi criada, no Rio de Janeiro (na época Distrito Federal),
a Fundação Getúlio Vargas (FGV) com a pretensão de desenvolver
pesquisas na área da Administração. Seu patrimônio foi estabelecido a
partir de contribuições de órgãos públicos e de empresas privadas.
Em São Paulo, no ano de 1946, foi criada a Faculdade de
Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Essa instituição não oferecia um curso específico de Administração,
dedicando-se cursos de Ciências Econômicas e Ciências Contábeis, mas
contendo na sua grade curricular disciplinas específicas às questões
62
administrativas. Cursos específicos de Administração somente foram
oferecidos pela FEA-USP no ano de 1964, com os cursos de
Administração de Empresas e de Administração Pública (PINTO;
MOTTER JUNIOR, 2012).
Já em 1948, motivados pela influência dos Estados Unidos no pós-
guerra e como fruto de cooperação técnica com o Brasil e apoio das
Organizações das Nações Unidas (ONU), gestores da FGV visitaram
universidades americanas com o desejo de buscar modelos curriculares
de modo a criar uma escola específica para a formação de jovens
administradores e à divulgação de teorias da Administração. Esse
empreendimento ensejou a criação da Escola Brasileira de Administração
Pública (EBAP), no Rio de Janeiro, como a primeira escola da área de
Administração da América Latina, em 15 de abril de 1952, sendo também
pioneira na publicação dos primeiros livros de Administração no Brasil
(PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012).
Naquela época, a cidade de São Paulo já era considerada uma
potência econômica cujo desenvolvimento carecia de mão de obra
qualificada. Essa situação impulsionou a FGV a criar a Escola de
Administração de Empresas de São Paulo – EAESP. Por um período de
doze anos essa escola recebeu docentes estrangeiros. Os professores
brasileiros traduziam as aulas dadas pelos professores estrangeiros e, ao
mesmo tempo, eram preparados para posteriormente assumirem essas
aulas (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012).
A FGV concedeu muitas bolsas de estudos para profissionais
interessados nos cursos de pós-graduação em universidades americanas,
inclusive para a formação e desenvolvimento dos docentes. Estes
bolsistas eram acolhidos na University of Southern Californiae na
Michigan State University. Somente a partir da década de 1960, foram
criados cursos de Pós-graduação nas áreas de Administração Pública e
de Empresas na FGV (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012).
63
A EBAP teve um papel fundamental na regulamentação da
profissão de administrador, pois após dez anos de existência e
aproximadamente 200 bacharéis, professores e egressos da EBAP
reuniram-se com o propósito de institucionalizar e valorizar a profissão de
administrador, que disputava espaço e vagas em empresas com
profissionais formados nos cursos de Economia e de Direito os quais
exerciam as atividades de administrador. O governo federal reconheceu o
curso da EBAP viabilizando a regulamentação da profissão. Em 2001, a
EBAP passou a denominar-se Escola Brasileira de Administração Pública
e de Empresas (EBAPE). (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012). Em 9 de
setembro de 1965, foi sancionada a Lei nº 4.769 que regulamentou a
profissão de Administrador. O Capítulo II dessa lei descreve as atividades
e atribuições dos profissionais dessa área:
Art. 3º - A atividade profissional do Administrador, como profissão liberal ou não, compreende: a) elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens e laudos, em que se exija a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de organização; b) pesquisas, estudos, análises, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos de administração geral, como administração e seleção de pessoal, organização, análise, métodos e programas de trabalho, orçamento, administração de material e financeira, administração mercadológica, administração de produção, relações industriais, bem como outros campos em que estes se desdobrem ou aos quais sejam conexos; c) exercício de funções e cargos de Administrador do Serviço Público Federal, Estadual, Municipal, Autárquico, Sociedades de Economia Mista, empresas estatais, paraestatais e privadas, em que fique expresso e declarado o título do cargo abrangido. d) o exercício de funções de chefia ou direção, intermediária ou superior assessoramento e consultoria em órgãos, ou seus compartimentos, da Administração pública ou de entidades privadas, cujas atribuições envolvam principalmente, a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de administração; e) magistério em matérias técnicas do campo da administração e organização. Parágrafo Único - A aplicação do disposto nas alíneas
64
"c", "d" e "e" não prejudicará a situação dos atuais ocupantes de cargos, funções e empregos, inclusive de direção, chefia assessoramento e consultoria no Serviço Público e nas entidades privadas, enquanto os exercerem. (BRASIL, 1965, s/p.).
Importante destacar também que foram criados o Conselho Federal
e os Conselhos Regionais de Administração. O artigo 7º da Lei n.º 4.769,
de 9 de setembro de 1965 que trata do exercício da função de
administrador, informa que o Conselho Federal de Administração, com
sede e foro em Brasília, Distrito Federal, tem como finalidade:
a) propugnar por uma adequada compreensão dos problemas administrativos e sua racional solução; b) orientar e disciplinar o exercício da profissão de Administrador; c) elaborar o seu regimento;
d) dirimir dúvidas suscitadas nos Conselhos Regionais; e) examinar, modificar e aprovar os regimentos internos dos Conselhos Regionais; f) julgar, em última instância, os recursos de penalidades impostas pelos Conselhos Regionais de Administração; g) votar e alterar o Código de Deontologia Administrativa, bem como zelar pela sua fiel execução, ouvidos os Conselhos Regionais de Administração; h) aprovar, anualmente, o orçamento e as contas da Autarquia; i) promover estudos e campanhas em prol da racionalização administrativa do País (BRASIL, 1965, s/p.).
Já o artigo 8º, da referida Lei, reza que os Conselhos Regionais de
Administração, com sede nas capitais dos Estados, Distrito Federal e
territórios, têm como objetivo:
a) dar execução às diretrizes formuladas pelo Conselho Federal de Administração; b) fiscalizar, na área da respectiva jurisdição, o exercício da profissão de Administrador; c) organizar e manter o registro dos Administradores; d) julgar as infrações e impor as penalidades referidas
65
na Lei número 4.769, de 09 de setembro de 1965, e neste Regulamento; e) expedir as carteiras profissionais dos Administradores; f) elaborar o seu regimento para exame e aprovação pelo Conselho Federal de Administração; g) colaborar com os governos Federal, Estaduais e Municipais, bem assim, com as empresas de economia mista e privadas no âmbito de suas finalidades e no propósito de manter elevado o prestígio profissional dos Administradores (BRASIL, 1965, s/p.).
Em 2 de fevereiro de 2004, a Resolução nº 1 do Conselho Nacional
de Educação (CNE), instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Administração, para o curso de Bacharelado,
orientando as instituições educacionais para a formação do projeto
acadêmico e pedagógico. Em 13 de julho de 2005, a Resolução
CNE/CES 4/05, em seu artigo nº 12, revogou a Resolução nº 1, e
atualmente encontra-se em vigor a resolução que dispõe sobre
competências e habilidades dos profissionais da Administração:
I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de decisão; II - desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício profissional, inclusive nos processos de negociação e nas comunicações interpessoais ou intergrupais;
III - refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, compreendendo sua posição e função na estrutura produtiva sob seu controle e gerenciamento; IV - desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores e formulações matemáticas presentes nas relações formais e causais entre fenômenos produtivos, administrativos e de controle, bem assim expressando-se de modo crítico e criativo diante dos diferentes contextos organizacionais e sociais; V - ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa, vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das implicações éticas do seu exercício profissional; VI - desenvolver capacidade de transferir
66
conhecimentos da vida e da experiência cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional adaptável; VII - desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em organizações; e VIII - desenvolver capacidade para realizar consultoria em gestão e administração, pareceres e perícias administrativas, gerenciais, organizacionais, estratégicos e operacionais (BRASIL, 2005, s/p.).
As Diretrizes Curriculares Nacionais, relativas aos cursos de
graduação de Administração, deram maior autonomia às instituições de
ensino superior possibilitando a construção de projetos pedagógicos
flexíveis, acordados com as necessidades do mercado e características
locais (PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012). Como se observa, portanto,
essa flexibilidade estabelecida para os projetos pedagógicos possibilita
um aprimoramento na formação dos profissionais do campo da
Administração levando a uma expansão das oportunidades no mercado
de trabalho.
67
CAPÍTULO 3
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DAADMINISTRAÇÃO
Neste capítulo, discorremos sobre o Projeto Político Pedagógico
dos cursos superiores, em especial, nos debruçamos sobre Projetos
Políticos Pedagógicos da Administração. Antes, porém, destacamos
algumas leis que normatizam a Educação, particularmente a Lei de
Diretrizes de Bases (LDB).
Compete à União normatizar a Educação Superior brasileira, que
pode ser oferecida por Estados e Municípios. Cabe à União autorizar e
fiscalizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos e os
estabelecimentos do sistema de ensino. A fiscalização é realizada por
protocolo de pedido de autorização e reconhecimento de curso ao
Ministério da Educação. A Secretaria de Regulação e Supervisão da
Educação Superior (Seres), órgão do Ministério da Educação (MEC), é a
responsável por garantir que a legislação educacional seja cumprida para
assegurar a qualidade dos cursos superiores do País (BRASIL, 2014).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define e regulariza
o sistema educacional brasileiro com base nos princípios presentes na
Constituição. Trata-se de um marco inicial que prevê regulamentação da
legislação educacional. A primeira LDB foi criada em 1961, Lei
4024/1961; seguida por uma versão em 1971, Lei 5692/1971; que vigorou
até a promulgação da mais recente em 1996, Lei 9394/1996, ainda em
vigor.
Na década de 90 a educação brasileira chegou ao seu ápice, após
a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Além de alterações significativas, a LDB 9394/96 é composta por
92 artigos e prevê a criação do Plano Nacional de Educação (SESU) –
Secretaria de Educação Superior.
68
Assim, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, tem por
finalidade estabelecer às diretrizes da Educação Superior as quais são
descritas no artigo 43º do Capítulo IV da LDB:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição (BRASIL, 1996, p.20-21).
Para Brandão (2010, p.110), o artigo 43 da LDB/1996, em seus
incisos, refere-se aos propósitos e metas a serem alcançados pela
educação superior brasileira. Afirma que tais incisos abrangem com
sucesso todas as finalidades que qualquer educação superior deve ter.
A dificuldade reside como em outros temas educacionais, em atingir plenamente ou pelo menos a maioria desses objetivos. Tal dificuldade, porém, não poderia servir como justificativa para que o texto legal não contemplasse
69
todas essas finalidades da educação superior, que devemos sempre lutar para ser alcançadas. Dada a sua grande abrangência, a clareza e a objetividade como estão expressos, entendemos não ser necessário repetir nesse momento os incisos que compõem o art.43 da LDB, lembrando apenas que os principais aspectos que caracterizam a educação superior, ou seja, as funções de realizar pesquisa, ensino e extensão, estão dispostos no conjunto desses incisos, como objetivos da educação superior (BRANDÃO, 2010, p.110).
A nova LDB, Lei nº 9.394/96, prediz, ainda, no seu artigo 12, inciso
I, que os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e
as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar
sua proposta pedagógica (BRASIL, 1996, p.11).
Segundo a pesquisadora da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília (FE/UnB), Ilma Passos Alencastro Veiga (2005),
o projeto pedagógico exige análise detalhada sobre os objetivos da
escola, destacando a sua responsabilidade social e planejamento
estratégico, envolvendo a sua força operacional e também todos os
demais envolvidos com o sistema educacional. Tal sistema ganha
amplitude, pois, envolve as crenças, o contexto social e de capacidade
científica, convicções e ideias da comunidade escolar, sendo possível
condensar e estabelecer o comprometimento político e pedagógico do
grupo.
3.1 O projeto político pedagógico e sua importância social
O Projeto Político Pedagógico representa a liberdade e a soberania
da escola no sentido de elaborar e concretizar a sua proposta de trabalho.
Trata-se de um documento jurídico legitimado e reconhecido, que orienta
as atividades desenvolvidas no ambiente escolar e tem como objetivo
principal apontar e resolver os problemas que interferem nos métodos de
ensino e de aprendizagem.
70
É possível afirmar que o Projeto Político Pedagógico é resultado de
um trabalho desenvolvido em etapas e de concepção social, proveniente
dos esforços da sociedade que há anos lutam pela autonomia escolar,
garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n 9394/69,
antiga LDBEN.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96,
esclarece sobre as obrigações e atividades das instituições escolares. Em
seu artigo 12, manifesta-se sobre as incumbências dos estabelecimentos
de ensino:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. (BRASIL, 1996, p.11-12).
Assim sendo, cabe à escola a responsabilidade de pensar e
mostrar os caminhos para a sua atividade pedagógica e inclusão social.
Por isso a importância do trabalho coletivo, uma vez que, a cooperação
ativa de todas as pessoas comprometidas na gestão escolar (professores,
funcionários, representantes da comunidade, pais e alunos), conforme
dispõe a LDB 9394 em seu artigo14:
71
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, p.12).
Neste sentido, a participação coletiva torna-se elemento
organizador das políticas pedagógicas que a escola deseja executar
destacando a questão da ética, da moral e a importância da família e da
comunidade na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), o que
seria negar o direito que estes têm de estarem presentes e de serem
participativos nas atividades realizadas na escola.
As etapas de construção do projeto político pedagógico são de
responsabilidade da escola, que não se deve apropriar de modelos já
existentes ou padronizados, para não perder a identidade e
características da escola. Por isso, é fundamental a construção coletiva
do PPP pela equipe escolar que somente após realizar uma pesquisa
relativa à realidade da comunidade é que poderá construir e propor a sua
proposta pedagógica. Portanto, é necessário que o grupo esteja
interessado em uma mesma finalidade, para participar do processo de
construção, implantação e avaliação do PPP (SOUZA, 2010).
Todo projeto político pedagógico tem como base e direcionamento
a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da educação nacional Lei nº 9.394/96 e,
segundo Veiga (2005),
...o projeto pedagógico exige profunda reflexão sobre as finalidades da escola, assim como a explicitação de seu papel social e a clara definição de caminhos, formas operacionais e ações a serem empreendidas por todos os envolvidos com o processo educativo (p.9).
Ou seja, um Projeto Político Pedagógico eficaz passa por um
processo de construção, reunindo crenças, ideais e percepção da
72
situação social e acadêmica que compõe a realidade da comunidade
escolar, estabelecendo o comprometimento político e pedagógico do
grupo interessado.
Ainda segundo Veiga (2008), faz-se necessário que a escola tome
conhecimento de sua história e da importância do seu trabalho e que
promova autocríticas que possibilitem a elaboração de um novo modelo
de organização das atividades pedagógicas de modo que: “reduza os
efeitos da divisão do trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico”
(p.22)
Em sua construção, um projeto pedagógico de qualidade deve
conter os seguintes atributos:
a) ser um processo participativo de decisões; b) preocupar-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que desvele os conflitos e as contradições; c) explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade entre seus agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e coletivo; d) conter opções explícitas na direção da superação de problemas, no decorrer do trabalho educativo voltado para uma realidade específica; e) explicitar o compromisso com a formação do cidadão. No que tange à execução, um projeto é de qualidade quando: a) nasce da própria realidade, tendo como suporte a explicitação das causas dos problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem; b) é exequível e prevê as condições necessárias ao desenvolvimento e à avaliação; c) implica a ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da escola; d) é construído continuamente, pois, como produto, é também processo, incorporando ambos numa interação possível. (VEIGA, 2008,p.11)
A partir dessas considerações, passamos a discorrer sobre
projetos pedagógicos de cursos de Administração, posto que, além de
73
procurarem atender às recomendações oficiais e pedagógicas gerais,
também buscam observar especificidades pertinentes a essa área de
conhecimento.
3.2 O projeto pedagógico de cursos de Administração
Todos os dias as pessoas tomam decisões que podem ser simples,
moderadas ou de elevada importância e isto pode ocorrer pela
experiência e conhecimento que adquiriram ao longo do tempo, tanto no
decorrer das atividades profissionais, tanto ao longo de sua formação
acadêmica. As questões administrativas ocorrem da mesma maneira,
porém muitas decisões tomadas reivindicam atenção do profissional
quanto aos aspectos matemáticos inseridos nas questões e situações
reais que exigem o conhecimento matemático acadêmico, diferente da
matemática popular. D’Ambrosio (2007), ao refletir sobre o fazer
matemático no cotidiano, discorre a respeito de algumas características
da matemática popular:
O cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres próprios da cultura. A todo instante, os indivíduos estão comparando, classificando, quantificando, medindo, explicando, generalizando, inferindo e, de algum modo, avaliando, usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua cultura (2007, p.22).
Trata-se de uma matemática apreendida no convívio das relações
sociais, como trabalho, ambiente familiar e entre amigos e não adquirida
nas escolas de maneira formal. O autor traz como exemplo de matemática
popular o desenvolvimento de uma criança quando trabalha nos negócios
da família em uma feira, armazém, ou pequeno comércio, ocasião em que
aprendem a lidar com a relação de compra e venda dinheiro, troco, enfim,
sem causar nenhuma perda nos negócios.
As colocações do professor D’Ambrosio (2007) demonstram que a
74
matemática popular inicia e estabelece diretrizes em conformidade,
características e necessidades do ambiente. Fornece como exemplo a
percepção do tempo, as estações do ano ou a relação climática com o
momento certo de colher ou plantar.
Visto dessa forma, a matemática popular insere-se na
Etnomatemática, conceito cunhado por Ubiratan D’Ambrosio (2007), o
qual possibilita a obtenção de uma visão crítica da realidade, a partir da
utilização de instrumentos de natureza matemática. (D’AMBROSIO, 2007)
Nesse sentido, D’Ambrosio define Etnomatemática como:
Indivíduos e povos têm, ao longo de suas existências e ao longo da história, criado e desenvolvido instrumentos de reflexão, de observação, instrumentos materiais e intelectuais [que chamo ticas] para explicar, entender, conhecer, aprender para saber e fazer [que chamo matema] como resposta a necessidades de sobrevivência e de transcendência em diferentes ambientes naturais, sociais e culturais [que chamo etnos] [Grifos do autor]. (2007, p.60).
Ainda segundo D’Ambrosio (2007), o objetivo da Etnomatemática
não é desprezar a matemática acadêmica que, historicamente, a partir do
século XVI, expandiu-se por todo o planeta. No entanto,
...é óbvio que uma boa matemática acadêmica será conseguida se deixarmos de lado muito do que ainda está nos programas sem outras justificativas que um conservadorismo danoso e um caráter propedêutico8insustentável. (D’AMBROSIO, 2007, p.43).
A Matemática está inserida em conceitos estatísticos que atendem
às várias áreas do conhecimento. É utilizada para o auxílio na tomada de
decisões por meio de indicadores, tais como, produção e operações para
estabelecer média de peças produzidas em determinado período, ou
8 Propedêutico pode significar o ano preliminar de estudos que se fazia entre o último ano escolar e a universidade; aquilo que serve de introdução; preliminar ou a preparação para receber ensino mais completo. (DICIONÁRIO DO AURÉLIO ON LINE, 2015, s/p.).
75
quantidade de insumos que serão necessários para produzir um lote ou
pedido; nos recursos humanos, para acompanhar os indicadores de
absenteísmo, no fechamento de folha salarial, no décimo terceiro e até
mesmo na avaliação de desempenho dos colaboradores; na gestão de
suprimentos, para analisar as variações de estoque, previsão de
demanda.
Nas aulas de cursos de Administração, os conceitos matemáticos
em geral e os conceitos estatísticos se fazem necessários, cabendo ao
administrador incluir esses conhecimentos. Para Lacombe e Heilborn
(2008), a Administração requer bom senso, pois, determinará as ações e
atividades para as pessoas executarem, destacando a importância
primordial para o administrador que é buscar adquirir experiência, ter
convicção dos princípios da Administração e desenvolver habilidades nas
relações interpessoais. Destacam o conhecimento do administrador que
mesmo devendo ser generalista, deverá possuir uma especialidade de
alguma área da Administração como exemplo: produção; finanças;
recursos humanos para atender as expectativas de acordo com o
segmento de cada organização. Os autores ressaltam:
... o currículo de um curso de Administração inclui disciplinas de Psicologia, Informática, Filosofia, História Econômica, Direito, Sociologia, sem falar nas disciplinas de Matemática, Estatística e Língua Portuguesa, que constituem ferramentas indispensáveis ao pensamento e à prática administrativa, e nas de Economia e Contabilidade, que formam um todo com a Administração. (LACOMBE E HEILBORN, 2008, p.4-5).
O quadro abaixo retrata o que poderia ser o perfil ideal do
administrador:
76
Quadro 7 - Perfil do graduando dos cursos de Administração PERFIL DO GRADUANDO DOS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO
1 Internalização de valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional.
2 Formação humanística e visão global que o habilite a compreender o meio social, político. Econômico e cultural no qual está inserido e a tomar decisões em um mundo diversificado e interdependente.
3 Formação técnica e científica para atuar na administração das organizações, além de desenvolver atividades específicas da prática profissional em consonância com as demandas mundiais, nacionais e regionais.
4 Competência para empreender, analisando criticamente as organizações, antecipando e promovendo suas transformações.
5 Capacidade de atuar em equipes multidisciplinares.
6 Capacidade de compreensão da necessidade do contínuo aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento da autoconfiança.
Fonte: LACOMBE; HEILBORN, 2008, p.5.
Os autores Lacombe &Heilbom (2008) exibem ainda um novo
quadro no qual estabelecem as habilidades necessárias para o perfil
desse graduando:
Quadro 8 - Habilidades necessárias para o perfil do graduando AS HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA O PERFIL DO GRADUANDO
1 Comunicação e expressão: estabelecer comunicação interpessoal, expressar-se corretamente nos documentos técnicos específicos e interpretar a realidade das organizações.
2 Raciocínio lógico, crítico e analítico: utilizar raciocínio lógico, crítico e analítico, operando com valores e formulações matemáticas e estabelecendo relações formais e causais entre fenômenos. Ser capaz também de interagir criativamente diante dos diferentes contextos organizacionais e sociais.
3 Visão sistêmica e estratégica: compreender o todo administrativo, de modo
integrado, sistêmico e estratégico, bem como suas relações com o ambiente externo.
4 Criatividade e iniciativa: propor e implementar modelos de gestão, inovar e
demonstrar um espírito empreendedor.
5 Negociação: resolver situações com flexibilidade e adaptabilidade diante de
problemas e desafios organizacionais.
6 Tomada de decisão: ordenar atividades e programas, decidir entre alternativas e
identificar e dimensionar riscos.
7 Liderança: selecionar estratégias adequadas de ação, visando a atender
interesses interpessoais e institucionais.
8 Trabalho em equipe: selecionar procedimentos que privilegiem formas de
atuação em prol de objetivos comuns.
Fonte: LACOMBE; HEILBORN, 2008, p.5-6
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Os autores Lacombe e Heilborn (2008) também observam que tais
habilidades não estão distantes, em sua maioria, daquelas desejadas
pelos empresários na seleção de administradores para as suas
organizações.
O perfil para graduandos de Cursos de Administração destacado
por Lacombe &Heilborn (ibid) está acordado com as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração
instituídas pela Resolução n.4 de 13 de julho de 2005, em, pois seu artigo
3º enfatiza que
O Curso de Graduação em Administração deve ensejar como perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e de seu gerenciamento, observados níveis graduais do processo de tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento qualitativo e adequado, revelando a assimilação de novas informações e apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador [Grifos nossos]. (BRASIL, 2005, p.26).
Ainda de acordo com essas Diretrizes, o Curso de Graduação em
Administração deve ensejar desenvolver habilidades e competências que
proporcionem uma formação profissional adequada ao estudante, dentre
as quais destacamos:
I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de decisão; [...] IV - desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores e formulações matemáticas presentes nas relações formais e causais entre fenômenos produtivos, administrativos e de controle, bem assim expressando-se de modo crítico e criativo diante dos diferentes contextos organizacionais e sociais [...] [Grifos nossos]. (BRASIL, 2005, p.26).
78
Como se observa, os conteúdos matemáticos presentes na
matemática básica e na acadêmica9 estão contemplados na Resolução n.
4 de 2005, o que mostra a importância da inserção de conteúdos
matemáticos na grade curricular de Cursos de Administração. Assim, os
projetos pedagógicos dos cursos devem proporcionar conteúdos de
formação profissional, ou seja, aqueles que envolvem teorias da
Administração e das organizações e da Administração e conteúdos de
estudos quantitativos que incluam modelos matemáticos e estatísticos
pertinentes à Administração, dentre outros (BRASIL, 2005).
Considerando, pois, a necessidade de inclusão de conteúdos
matemáticos nas grades curriculares de cursos de Administração,
interessa-nos verificar de que modo conceitos matemáticos podem ser
lidos em alguns projetos políticos pedagógicos desses cursos.
9 Denominamos por matemática básica, aquela presente nos ensinos Fundamental e Médio e por matemática acadêmica aquela cujos conteúdos matemáticos são explicitados apenas no Ensino Superior. Sobre o tema matemática acadêmica ver D’Ambrosio (2007).
79
CAPÍTULO 4
A INSERÇÃO DA MATEMÁTICA EM PROJETOS POLÍTICOS
PEDAGÓGICOS: ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS
A Instituição de Ensino Superior (IES) ao elaborar o Projeto
Pedagógico do Curso (PPC), declara a sua responsabilidade e
comprometimento com a formação de cada estudante, pois se trata de um
norteador para o professor em suas atividades a respeito do curso a ser
ministrado. Contudo, acreditamos que o PPC não pode limitar o
desenvolvimento dos estudos e discussões entre docentes e discentes
das disciplinas constantes na grade do curso, cabendo ao professor
motivar seus alunos, enfatizando a importância da apreensão dos
conceitos para a formação acadêmica e profissional. Deve-se levar em
conta, igualmente, que o processo de atualização do PPC deve ser uma
atitude constante no cotidiano, planejado com o objetivo de acompanhar
novas tendências de mercado, atualizando as linguagens aplicadas e
tecnológicas.
Os PPC dos cursos de Administração foram extraídos da internet,
disponíveis em domínio público. Mesmo assim, optamos por nomear cada
Instituição de Ensino Superior pelas siglas X, Y e Z, preservando a
veracidade de todas as informações contidas em cada projeto. Esses
documentos exibem o PPC de cada instituição e as ênfases adotadas
para o curso de Administração.
4.1 A Missão dos cursos de Administração das IES X, Y e Z
A declaração da missão organizacional representa a razão de ser
de uma instituição, apresentando os benefícios gerados pelo projeto e,
desse modo, devendo ser destacada para conhecimento de todas as
80
pessoas interessadas no curso.
Assim sendo, apresentamos a missão informada em cada PPC das
instituições escolhidas para a realização deste estudo.
Segundo informa o projeto político pedagógico da IES “X”, a matriz
curricular foi amplamente revisada e discutida com coordenadores de
curso, Diretor de Graduação e Diretoria de Desenvolvimento Pedagógico.
A referida matriz curricular é datada do ano de 2012 e contempla a grade
do curso de Administração.
Como missão, o PPC da Instituição X almeja:
... produzir e tornar acessível o conhecimento. Nesta conceituação sintética o tornar acessível envolve tanto a formação dos alunos como a interação com os diferentes segmentos da sociedade para o compartilhamento e (re) construção do conhecimento. (PPC X, 2012, s/p).
As políticas de ensino da IES “Y” para graduação, aqui
apresentadas, configuram o conjunto de intenções que se materializam na
forma de princípios e ações (metas) norteadores do processo de gestão e
organização didático-pedagógica dos cursos de graduação. Amparam-se
na legislação vigente, no Estatuto e Regimento Geral da Universidade, na
missão patenteada no Projeto Desenvolvimento Institucional (PDI),
constituindo-se nos pressupostos que devem orientar e definir ações com
vistas a uma educação de qualidade.
A IES Y, segundo seu PPC, tem como missão
... promover educação superior de qualidade, com vistas à formação integral do indivíduo, por meio da capacitação profissional, da produção e aplicação do conhecimento, da promoção da cultura, do respeito aos valores ético- morais, repercutindo no desenvolvimento da sociedade (PPC Y, 2012, s/p).
81
Além do cumprimento de sua missão, a IES “Z”, por ser uma
instituição, relativamente nova, em fase de desenvolvimento e
estruturação, seu principal objetivo é alcançar um salto qualitativo
necessário para se firmar como uma instituição solidamente reconhecida
e se posicionar entre as melhores instituições de ensino superior do
Estado de São Paulo.
Nesse sentido, tem como missão:
... alcançar a oferta e prática de uma educação solidária, permitindo o processo de educação para todos e a inserção social por meio da qualidade de ensino e da atuação voltada para o desenvolvimento sustentável, na prática de mensalidades compatíveis com a realidade socioeconômica da região e de incentivo ao apoio estudantil, por meio de parcerias e projetos sociais voltados ao atendimento da comunidade. (PPC Z, 2012, s/p).
Quadro 09 – Missão dos cursos de Administração
QUADRO COMPARATIVO DA MISSÃO ORGANIZACIONAL
IES – X IES – Y IES – Z
“Produzir e tornar acessível o conhecimento. Nesta conceituação sintética o tornar acessível envolve tanto a formação dos alunos como a interação com os diferentes segmentos da sociedade para o compartilhamento e (re) construção do conhecimento”.
“Promover educação
superior de qualidade, com
vistas à formação integral do
indivíduo, por meio da
capacitação profissional, da
produção e aplicação do
conhecimento, da promoção
da cultura, do respeito aos
valores ético- morais,
repercutindo no
desenvolvimento da
sociedade”.
“A sua missão é de alcançar a
oferta e prática de uma
educação solidária, permitindo
o processo de educação para
todos e a inserção social por
meio da qualidade de ensino e
da atuação voltada para o
desenvolvimento sustentável,
na prática de mensalidades
compatíveis com a realidade
socioeconômica da região e de
incentivo ao apoio estudantil,
por meio de parcerias e projetos
sociais voltados ao atendimento
da comunidade”.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
82
Em relação aos cursos de Administração das Instituições de Ensino
Superior X, Y e Z, o que se verifica é que todas têm como ponto em
comum em sua declaração, o desejo de compartilhar o conhecimento
entre seus beneficiários: alunos, pais, equipe e comunidade.
A IES-X demonstra o desejo de integrar o aluno com os diferentes
segmentos da sociedade para o compartilhamento da construção do
conhecimento. A IES-Y, por sua vez, ressalta a promoção da cultura e
respeito aos valores éticos e morais. Já a IES-Z busca promover a
inserção social por meio da qualidade de ensino e da atuação voltada
para o desenvolvimento sustentável.
É possível concluir que as três Instituições de Ensino Superior
mostram-se preocupadas com a formação de seus alunos e com a
interatividade com o meio em que estão inseridas. As pretensões que
norteiam essas instituições possivelmente advêm da necessidade de
adequarem seus projetos pedagógicos com as prescrições legais
estabelecidas, particularmente com a LDB/1996, as diretrizes nacionais
(Resolução nº4 de 2005) e teóricos que se debruçam sobre esse tema.
Mais ainda, a inserção social por meio do compartilhamento do
conhecimento é demanda que emerge da própria sociedade, ou seja,
busca atender de modo satisfatório as exigências da sociedade moderna.
Especificamente, no que tange ao curso de administração de empresas,
objetiva a construção de conhecimentos técnicos e científicos acordados
com as necessidades do mercado de trabalho.
Conforme constata Bezerra, “está na Matemática uma rica fonte
para que os futuros administradores consigam destacar-se no mercado de
trabalho” (2009, p.161). Desse modo, prepara o futuro administrador como
profissional capacitado para atuar na sociedade, que por sua vez, se
encontra em constante transformação.
83
4.2 Perfil do aluno egresso dos cursos Administração das IES X, Y
e Z
Considerando, como Lousada e Martins (2005) que:
... se uma das finalidades da Universidade é inserir na sociedade diplomados aptos para o exercício profissional, deve ter ela retorno quanto à qualidade desses profissionais que vem formando, principalmente no que diz respeito à qualificação para o trabalho. (p.74).
Cabe, portanto, constar nos PPC qual deve ser o perfil esperado
para o aluno egresso do curso. A seguir, apresentamos o quadro 10, no
qual consta o perfil esperado dos egressos nas IES X, Y e Z.
Quadro 10 – Perfil do aluno egresso
Ins.Ens. Sup.
PERFIL
IES – X
O perfil do bacharel em Administração a ser formado é de um profissional adequadamente preparado para compreender, atuar e modificar o ambiente sócio- cultural no qual a prática da Administração se desenvolve. Trata-se de um profissional capaz de:
a) Ampliar e aplicar seu conhecimento de forma a contribuir para o desenvolvimento de país em todos os aspectos: técnico, econômico, social, cultural, educacional e de gestão;
b) Gerir de maneira eficaz, justa e responsável organizações, ou redes de organizações, complexas e diversificadas nos diferentes setores (público, privado e terceiro setor) incorporando as perspectivas econômica, social, ambiental e de respeito à diversidade;
c) Identificar problemas e propor soluções criativas e inovadoras das mais diversas ordens seja de natureza econômica, política, técnica ou organizacional;
d) Ser gestor de seu próprio negócio; e) Ser empreendedor de novos negócios ou do Terceiro Setor;
f) Ser um pensador e difusor do conhecimento engajado no seu tempo e no seu lugar, bem como se constituir em agente de transformação da sociedade;
g) Participar do desenvolvimento da ciência administrativa, por meio da pesquisa e da busca incessante por novas técnicas e teorias.
84
IES – Y
h) O administrador formado pela IES-Y deverá ser um profissional competente nas múltiplas habilidades de gestão para projetar, implementar e avaliar em seu ambiente de trabalho, racionalidade, flexibilidade e cooperação visando materializar resultados que atendam à missão e aos objetivos organizacionais, com qualidade de vida e responsabilidade social. Deverá ser um profissional que reconheça:
i) Sua área de saber como tendo fundamentalmente uma área de ciências sociais aplicadas, mas que deverá estudar sistematicamente conhecimentos de outras áreas para entender e gerir com eficácia as organizações;
j) O saber administrativo enquanto um saber vinculado à razão Instrumental e que a racionalidade instrumental, cada vez mais, se torna insuficiente para equacionar com qualidade os problemas da organização, da humanidade e do ecossistema;
k) Que a ação humana é fundada em pressupostos éticos e ideológicos, e que a ética e os pressupostos ideológicos das elites administrativas e empresariais brasileiras foram, e ainda continuam sendo, cúmplices dos gestores públicos e do Estado Cartorial e seu apartheid social; do poder dominante, mas que a heterogestão é uma forma transitória de poder como foram as demais.
d) Que administrar é a arte e a ciência de dar resultados para acoalização
e) Que a solução dos problemas é possível e desejável que a Administração mude seu enfoque de produzir forças produtivas, e das relações sociais para promotor de novas relações produtivas e sociais.
f) Que a organização não é um fenômeno claro e simples de gestão, composta por um conjunto de informações, capital, mão de obra, procedimentos padronizados e amarrados organicamente, mas um campo de forças para se buscar eficácia e ao mesmo tempo um campo de ambiguidades, paradoxos e conflitos;
g) Que os objetivos e metas organizacionais não são imanentes à natureza da organização. Nem simplesmente dados, mas necessitam ser construídos e negociados dentro de um contexto contraditórios de interesses, tanto a nível interno como externo, ou do meio ambiente.
IES – Z
O Bacharel no Curso de Administração, ao final do processo de formação, deverá apresentar “capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e econômicos da produção e de seu gerenciamento observados os níveis graduais do processo de tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento qualitativo e adequado, revelando a assimilação de novas informações e apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador”.
Neste contexto, o futuro administrador deve no exercício de sua função: a) Ser possuidor de valores de responsabilidade social e ética profissional; b) Ter uma formação humanística que o habilite a compreender o meio social,
político, econômico e cultural no qual está inserido, bem como a tomar decisões eficazes num mundo diversificado e em constante evolução;
c) Visão global para entender de maneira ampla e plena o contexto no qual a organização está inserida;
d) Prever, Planejar, Organizar, Comandar e Controlar o funcionamento da máquina administrativa, seja ela pública ou privada, visando aumentar a produtividade, competitividade, rentabilidade, maximizando recursos e minimizando prejuízos;
e) Determinar os métodos gerais de organização e planejar a utilização eficaz de seus recursos financeiros, humanos, físicos e tecnológicos para garantir a sobrevivência da empresa em um mercado altamente competitivo;
f) Elaborar laudos, projetos, pareceres, relatórios, em situações que requeiram conhecimentos de técnica em Administração, nas áreas de Produção, Finanças, Marketing e Recursos Humanos;
g) Efetuar comparações entre as metas programadas e os resultados atingidos, atividades de controle a fim de corrigir distorções, avaliando o desempenho e replanejando o sistema administrativo de acordo com essas informações;
h) Elaborar rotinas de trabalho tendo em vista a implantação de sistemas, que conduzirão a melhores resultados com menores custos, demandando a utilização de organogramas, fluxogramas e outros instrumentos de trabalho;
i) Acompanhar a evolução da legislação social e tributária, que se relacionam diretamente com as atividades empresariais.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
85
As Instituições de Ensino Superior X, Y e Z descrevem
características peculiares e comuns quanto ao perfil dos alunos egressos
nos cursos de Administração, por exemplo, a importância da ética e da
responsabilidade social.
Como perfil do egresso da instituição X, podemos destacar que “o
perfil do bacharel em Administração a ser formado é de um profissional
adequadamente preparado para compreender, atuar e modificar o
ambiente sociocultural no qual a prática da Administração se desenvolve”
(PPC X, 2012, s/p).
Quanto ao perfil do egresso desejado pela IES Y, o PPC informa que:
... o administrador formado pela IES-Y deverá ser um profissional competente nas múltiplas habilidades de gestão para projetar, implementar e avaliar em seu ambiente de trabalho, racionalidade, flexibilidade e cooperação visando materializar resultados que atendam à missão e aos objetivos organizacionais, com qualidade de vida e responsabilidade social (PPC Y, 2012, s/p).
Como perfil do egresso do Curso de Administração da IES-Z,
podemos destacar que, ao final do processo de formação, o estudante
deverá apresentar:
... capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e econômicos da produção e de seu gerenciamento observados os níveis graduais do processo de tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento qualitativo e adequado, revelando a assimilação de novas informações e apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador (PPC Z, 2012, s/p).
Chama a atenção a IES-X, que assume o compromisso de
incentivar o aluno egresso a “ser um pensador e difusor do conhecimento
86
engajado no seu tempo e no seu lugar, bem como se constituir em agente
de transformação da sociedade” (PPC X, 2012, s/p).
Nota-se que a IES-Y preocupa-se com a amplitude do
conhecimento e a interdisciplinaridade com outras áreas do
conhecimento: “deverá estudar sistematicamente conhecimentos de
outras áreas para entender e gerir com eficácia as organizações” (PPC Y,
2012, s/p).
Quanto à IES-Z, destaque-se a importância dada ao aluno egresso
no sentido de possuir habilidades técnicas e gerenciais como: “elaborar
laudos, projetos, pareceres, relatórios, em situações que requeiram
conhecimentos de técnica em Administração, nas áreas de Produção,
Finanças, Marketing e Recursos Humanos” (PPC Z, 2012, s/p).
4.3 Composição da titulação do corpo docente
Apesar de que o PPC-Y não informar o número de docentes que
atuam em seu curso de Administração, enfatiza que seu corpo docente
integra doutores, mestres e especialistas da área.
O PPC-Z não tece nenhum comentário sobre o corpo docente que
atua no curso de Administração.
Consta no PPC-X que o corpo docente é composto por 75
professores, todos doutores, distribuídos em sete áreas: Administração
Geral, Recursos Humanos, Finanças, Marketing, Métodos Quantitativos e
Informática, Produção e Economia das Organizações.
4.4 Estudo da inserção de conteúdos matemáticos em disciplinas
dos cursos X, Y e Z
Neste tópico, apresentamos um estudo de como conteúdos
matemáticos estão referidos em disciplinas dos cursos de Administração,
em conformidade com seus PPC. Para tanto, elaboramos quadros para
cada uma das disciplinas elencadas, para as IES X, Y e Z, em que
87
descrevemos o semestre, a carga horária, a ementa e a bibliografia
básica dessas disciplinas.
Procuramos, por meio desses quadros, identificar quais conteúdos
matemáticos foram inseridos e quais diferenças e semelhanças existentes
nos PPC de Administração dessas instituições, verificados a partir da
carga horária dispensada para a disciplina, da ementa e da bibliografia
básica adotada.
4.4.1 A disciplina de Matemática Aplicada
Relativamente à Matemática Aplicada, elaboramos um quadro
comparativo contendo os semestres, os nomes das disciplinas, as
ementas e bibliografias utilizadas em cada uma das Instituições de Ensino
(Quadro 11).
Quadro 11 – Quadro comparativo da disciplina Matemática Aplicada
IES Semestre Disciplina Ementa Bibliografia Básica
IES – X
1º Sem. (60h)
Matemática Aplicada
Administração
Noções de limite, Derivada, Regras de derivação, Derivação da função composta, Derivadas sucessivas, Noções de integração indefinida, Técnicas de Integração, Integração definida, Modelos de otimização com aplicação de limites, Derivadas e integrais, Método dos mínimos quadrados, Álgebra matricial, Sistemas de equações lineares, Matrizes inversas e determinantes, Aplicações de álgebra matricial em modelos de mercado, Cadeias de Markov.
LEITHOLD, L. Matemática aplicada à economia e administração. São Paulo: Harbra, 2001. WEBER, Jean E. Matemática para economia e administração. 3ª ed. São Paulo: Harbra, 1986. TAN, S.T. Matemática Aplicada à administração e economia. 2ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
88
IES – Y
3º Sem. (80h)
(60h Teórica + 20h
Outras atividades)
Matemática Aplicada
Função de primeiro grau, Função de segundo grau, Função exponencial, Logarítmos, Propriedades dos logaritmos, Derivadas.
HARIKI, Seiji. Matemática aplicada: administração, economia e contabilidade. 2ª ed. São Paulo: Saraiva 2006, v.1.
GOLDSTEIN, Larry J.; SCHNEIDER, David I.; LAY, David C.. Matemática aplicada: economia, administração e contabilidade. 10ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
IES – Z
1º Sem. (40h)
Matemática I
Em termos de conteúdo de matemática, são incluídos estudos de cálculos, conjuntos, conjuntos numéricos e funções.
SILVA, Sebastião M. Matemática para os cursos de Administração, Ciências Contábeis e Economia. São Paulo: Atlas, 1997.
VIEIRA, José D. Matemática Financeira. São Paulo: Atlas, 1996.
FLEMMING, Diva M. Cálculo A: funções, limite, derivação, integração. São Paulo: Makron Books, 1992.
IES – Z
2º Sem. (40h)
Matemática
II
O objetivo essencial do curso é desenvolver os conceitos e métodos da matemática que servirão de embasamento no aprendizado e aplicações da Administração. Em termos de conteúdo de matemática, são incluídos estudos de limites, derivadas, integrais e matemática financeira.
SILVA, Sebastião M. Matemática: para os cursos Administração Ciências Contábeis e Economia. São Paulo: Atlas, 1997.
VIEIRA SOBRINHO, José D. Matemática Financeira. São Paulo: Atlas, 1996. WEBER, J. E. Matemática para economia e administração. São Paulo: Habra, 2001.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
Observando o quadro 11, podemos notar que a IES-X, no que
tange aos conteúdos matemáticos relativos à disciplina Matemática
Aplicada, arrola aqueles destinados ao Ensino Superior, enquanto a
maioria dos conteúdos matemáticos arrolados na ementa das IES-Y e
89
IES-Z são apresentados no Ensino Médio.
Nota-se ainda que a IES-Y começa a trabalhar com conteúdos
matemáticos somente no terceiro semestre enquanto que nas outras
instituições esses conteúdos já são ministrados no primeiro semestre.
Observa-se também que a IES-Z dividiu a carga curricular de
conteúdos matemáticos em dois semestres, sendo 40h no primeiro
semestre com conteúdos ministrados do Ensino Médio, conforme já
mencionado, e 40h no segundo semestre, destacando os conteúdos de
matemática financeira.
As referências bibliográficas identificadas nas ementas nessas
Instituições de Ensino Superior contemplam autores variados e com
títulos voltados para o curso de Administração. Todas elas adotaram
obras que trazem como tema a Matemática aplicada à Administração, o
que nos leva ao entendimento de que o ensino dos conteúdos
matemáticos recomendados nos PPCs volta-se para o desenvolvimento
da prática do administrador.
90
4.4.2 A disciplina Estatística
Quadro 12 – Quadro comparativo da disciplina Estatística
QUADRO COMPARATIVO DA DISCIPLINA ESTATÍSTICA
IES – X
3º
Sem. (60h)
Estatística Aplicada
Regressão linear, Regressão linear múltipla, Introdução à análise multivariada, Análise fatorial, Análise de Conglomerados, Análise Discriminante e Classificatória.
HAIR Jr, J. F.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R.L.; BLACK, W. C. Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Bookman, 2006.
ANDERSON, David R.; SWEENEY, Dennis J.; WILLIAMS, Thomas A. Estatística aplicada à administração e economia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
LEVINE, D. M.; STEPHAN, D.F.; BERENSON, M.L. Estatística: Teoria e aplicações usando o Microsoft Excel em Português. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC,2008.
IES – Y
4º Sem. (80h) (60h
Teórica + 20h Outras atividad
es)
Estatística
Introdução à Estatística; Estatística Descritiva; Probabilidade; Distribuições Discretas de Probabilidade; Distribuição Normal de Probabilidade; Intervalos de Confiança; Testando a Hipótese com uma amostra; Teste de Hipótese com duas amostras; Correlação e Regressão; Testes Qui- quadrado e Distribuição F. Análise de Dados.
LARSON, Ron.; FARBER, Betsy. Estatística aplicada. 4º ed. São Paulo: Pearson – Prentice Hall,2010
CRESPO, Antonio Arnot. Estatística fácil. 3ª ed. São Paulo: Saraiva 2012.
NAZARETH, Helenalda. Curso básico de estatística. 12ª ed. São Paulo: Ática, 2010
91
IES – Z
3º
Sem. (40h)
Estatística
I
Arredondamento de acordo com a precisão desejada. Gráficos. Séries estatísticas. Preparação de dados para análise estatística. Medidas estatísticas. Probabilidades Distribuição de probabilidades. Aplicações dos softwares estatísticos com uso do computador. Testes de hipóteses sobre as provas paramétricas e não paramétricas aplicáveis à pesquisa no campo da Administração.
BUSSAB, W. O. Estatística básica. São Paulo: Atual, 2004.
SILVA, E. M. et al. Estatística: para os cursos de economia, administração e ciências contábeis. São Paulo: Atlas, 1995.
CRESPO, A. A. Estatística fácil. São Paulo: Saraiva 2002.
4º
Sem. (40h)
Estatística
II
Conceito e aplicação da ciência estatística descritiva: Classificação de variáveis e técnicas de descrição gráfica. Inferência estatística: conceito de probabilidade, população, amostra e freqüência. Modelos de distribuição.
BUSSAB, W. O. Estatística Básica. São Paulo: Atual, 2004. SILVA, E. M. et al. Estatística: para os cursos de economia, administração e ciências contábeis. São Paulo: Atlas, 1995. CRESPO, A. A. Estatística Fácil. São Paulo: Saraiva, 2002.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
As Instituições de Ensino Superior apresentam pequenas
diferenças na composição da carga horária da disciplina de Estatística,
por exemplo, a IES-X totaliza 60h e a disciplina é oferecida no terceiro
semestre, enquanto que as IES-Y oferece o total de 80h, que é dividida
entre 60h com aulas teóricas e 20h com atividades práticas
supervisionadas e ocorre no quarto semestre. Nota-se que a IES-Z
oferece a disciplina subdividindo no terceiro e quarto semestre com 40h
cada, totalizando80h.
A Instituição X trabalha com a Estatística Aplicada, destacando-se
92
aquela aplicada à Administração e à Economia. Trata-se, ao que tudo
indica, de um curso avançado, devendo o aluno já trazer como pré-
requisito, noções de Estatística básica e conhecimento de edição de
planilhas proporcionadas pelo Microsoft Excel.
A Instituição Z inicia o curso, pelo que se pode notar, pela
bibliografia adotada, tratando-se de um curso de Estatística básica;
destaca a utilização de softwares estatísticos para uso em computador.
Em seguida, no semestre subsequente, desenvolve conteúdos de
Estatística como “Classificação de variáveis e técnicas de descrição
gráfica”, mais avançado, que se assemelha ao curso oferecido pela
Instituição X.
Observa-se também que a obra “Estatística fácil” do autor Antonio
Arnon Crespo (2012), de abordagem introdutória e destinado tanto a
estudantes de cursos técnicos como para iniciantes em cursos superiores,
está inserida nas bibliografias das instituições Y e Z.
Quanto à instituição Y, depreende-se pela ementa e bibliografia
oferecidas, que se trata de um curso de Estatística básica, trazendo
alguns conteúdos trabalhados no Ensino Médio.
93
4.4.3 A disciplina Matemática Financeira
Quadro 13 – Quadro comparativo da disciplina Matemática Financeira
QUADRO COMPARATIVO DA DISCIPLINA MATEMÁTICA FINANCEIRA
IES –
X
4º
Sem. (60H)
Matemática Financeira
Juros e Regimes de Capitalização Simples e Composta. Equivalência de Capitais e Equivalência de Taxas. Operações de Desconto. Séries de Pagamento Uniformes. Fluxos de Caixa. Métodos de Avaliação de Fluxos de Caixa. Sistemas de Amortização.
ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações, 10 ed. São Paulo: Atlas, 2008 BRUNI, A.L.; FAMÁ, R. Matemática financeira com HP12C e Excel. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
TOSI, A.J. Matemática financeira com ênfase em produtos bancários. 3 ed. São Paulo: Atlas,2009.
IES –
Y
3º Sem.
(80h) (60h
Teórica + 20h Outras
atividades)
Matemática Financeira
Fundamentos da matemática financeira; A calculadora financeira HP12c; Noções básicas sobre o Excel; Valor presente e valor futuro; Sequencia de pagamentos; Taxa a juros compostos; Amortização de empréstimos; Equivalência de capitais a juros compostos; Noções sobre inflação; Conceitos e aplicações mais utilizadas em juros simples.
GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática Financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. 1ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006.
HOJI, Masakazu. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. ASSAF NETO, Alexandre. Matemática Financeira e Suas Aplicações. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
94
IES – Z
5º
Sem. (40h)
Matemática Financeira I
Matemática Financeira, Conceitos de Fundamentos. Juros e alguns comentários históricos. Componentes da Taxa de Juros. Classificação das Taxas de Juros. Capitalização Simples. Capitalização Composta. Taxas Equivalentes. Taxa Nominal. Taxa Efetiva. Taxa Real. Séries de Pagamentos. Noções de Fluxo de Caixa.
CRESPO, A. A. Matemática comercial e financeira. São Paulo: Saraiva 2001. ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. São Paulo: Atlas, 2001. FARO, C. Matemática financeira. São Paulo: Atlas, 1984.
Matemática Financeira II
Matemática Financeira II – Série de Pagamentos, Capitalização Composta, Noções de Fluxo de Caixa, Programação com a HP 12c, Sistema de Amortizações – Sistema Americano - AS, Sistema Constante – SAC, Sistema Francês de Amortização (Tabela Price) e Sistema Price com Inflação.
CRESPO, A. A. Matemática comercial e financeira. São Paulo: Saraiva, 2001. VIEIRA Sobrinho, J. D. Matemática financeira. São Paulo: Atlas, 1996.
ARAÚJO, C. R. V. Matemática financeira. São Paulo: Atlas, 1993.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
As Instituições de Ensino Superior X, Y e Z apresentam diferenças
relevantes na composição da carga horária da disciplina de Matemática
Financeira, por exemplo, a IES-X totaliza 60h e a disciplina é oferecida no
quarto semestre, enquanto que as IES-Y oferece o total de 80h, que é
dividida entre 60h com aula teórica e 20h com atividades práticas
supervisionadas e ocorre no terceiro semestre. Nota-se que a IES-Z
oferece a disciplina subdividindo em Matemática Financeira I e
Matemática Financeira II no quinto semestre com 40h cada, totalizando
80h.
A Instituição X trabalha a disciplina Matemática Financeira,
desenvolvendo os conteúdos semelhantes às demais analisadas neste
estudo, sem, no entanto, destacar ferramenta como o Excel ou uso de
calculadora HP12c. Observa-se a utilização do livro de autoria de Assaf
95
Neto, “Matemática financeira e suas aplicações”, em sua 10ª edição em
2008, em comum com a IES-Z.
A Instituição Y traz em comum com a IES-Z, a utilização da
calculadora HP12c e também de noções de Excel para uso em
computador seguindo a bibliografia básica tratando-se de um curso de
Matemática Financeira. Em comum com as IES-X e Z estão os conteúdos
de Valor presente e Valor futuro; Sequência de pagamentos; Taxa a juros
compostos; Amortização de empréstimos; Equivalência de capitais a juros
compostos; conceitos e aplicações mais utilizadas em juros simples.
A Instituição Z inicia o curso pela bibliografia adotada e destaca no
segundo período da disciplina a utilização da calculadora HP12c. Em
seguida, na última parte da disciplina se destaca das demais IES-X e Y
pela aplicação dos conteúdos Sistema de Amortizações – Sistema
Americano - AS, Sistema Constante – SAC, Sistema Francês de
Amortização (Tabela Price) e Sistema Price com Inflação.
4.4.4 A disciplina Gestão de Custos
Quadro 14 – Quadro comparativo da disciplina
QUADRO COMPARATIVO DA DISCIPLINA DE CUSTOS
IES – X
3º Sem. (60H)
Gestão de
Custos
Avaliação de estoque. Sistemas de Custeio. Custo Padrão. Ponto de Equilíbrio. Alavancagem Operacional. Formação de Preço de Venda. Gestão Estratégica de Custos.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9 ed. São Paulo: Atlas,2003. GARRISON, R.H.; NOREEN, E.W. Contabilidade gerencial, 11. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007.
BRUNI, A.L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP-12C e Excel. São Paulo: Atlas,2004.
96
IES – Y
5º Sem.
(80h) (60h Teórica + 20h Outras
Atividades)
Contabilid
ade de Custos
Fundamentos da Contabilidade de Custos; Sistemas de Acumulação dos Custos; Tipos de Custos; Classificação dos Custos; Apuração dos Custos de Materiais Diretos; O Custeio dos Materiais aos Produtos; Apuração dos Custos de Conversão; Custos de Fabricação Indiretos (CIF); Apropriação dos Custos de Conversão Indiretos na Produção em Série; Apropriação dos Custos Indiretos na Produção Sob Encomenda; Mão-de-Obra Direta (MOD); Avaliação dos Estoques de Produtos em Elaboração; Contabilização dos Custos; Custeio Variável ou Direto; Margem de Contribuição e suas Derivações no Processo Decisório; Relação Custo/Volume/Lucro; Aplicação dos Conceitos de Custos em um Modelo de Análise de Investimento.
CARIOCA, Vicente Antonio. Contabilidade de Custos. 1ª ed. São Paulo: Alínea, 2010. LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: planejamento, implantação e controle. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de Contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
IES –
Z
4º Sem.
(40h)
Gestão de Custos e Formação de Preços
Analise dos Custeios por Absorção e Variáveis - Rateio dos Custos Indiretos de Fabricação - Aplicação dos Custos Indiretos de Fabricação - Lucro e Margem de Contribuição - Fixação do Preço de Venda – Ponto de Equilíbrio.
MARTINS, E. Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 2003. MOURA, R. O. Contabilidade de Custos Fácil. São Paulo: Saraiva, 2004. PEREZ, Jr., H.; OLIVEIRA, L. M.; COSTA, R. G. Gestão Estratégica de Custos. São Paulo: Atlas, 1999.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
As Instituições de Ensino Superior apresentam diferenças
relevantes na composição da carga horária, nomenclatura e conteúdo da
disciplina de Custos, por exemplo, a IES-X totaliza 60h e a disciplina é
oferecida no terceiro semestre e recebe o nome de Gestão de Custos,
97
enquanto que a IES-Y oferece o total de 80h, que é dividida entre 60h
com aula teórica e 20h com atividades práticas supervisionadas e ocorre
no quinto semestre e recebe o nome de Contabilidade de Custos. Nota-se
que a IES-Z oferece a disciplina no quarto semestre com carga horária de
40horas e recebe o nome de Gestão de Custos e Formação de Preço.
Quanto aos conteúdos apresentados pelas IES, é importante
destacar, dentre elas, a IES-Y, pois desenvolve os conteúdos comuns da
disciplina de custos e destaca-se das demais por trabalhar os seguintes
conteúdos: o Custeio dos Materiais aos Produtos; Apuração dos Custos
de Conversão; Custos de Fabricação Indiretos (CIF); Apropriação dos
Custos de Conversão Indiretos na Produção em Série.
4.4.5 A disciplina Gestão de Suprimentos
Quadro 15 – Quadro comparativo das disciplinas que abordam Gestão de
Suprimentos
QUADRO COMPARATIVO DE DISCIPLINAS QUE ABORDAM A GESTÃO DE SUPRIMENTOS
IES – X
8º Sem. (60h)
Logística e Cadeia
de Suprimentos
Logística e canais de marketing. Logística: conceitos, atividades, atividades primárias e atividades apoio. Logística e criação de valor. Nível de serviço logístico; Sistemas de Informação e troca eletrônica de dados para Controle; Decisões de Transporte; Planejamento de Rede logística; Logística Internacional; Visão sistêmica. Projeto de redes de operações produtivas e de serviços. Gestão da cadeia de suprimento: fornecimento e demanda. Fluxos de informações e de produtos. Mecanismos para coordenação. Tipos de relacionamento na cadeia de suprimento. Estrutura para integração. Logística reversa. Projeto de cadeia de suprimentos.
BOWERSOX, D.J.; CLOSS,D.J.; COOPER, M.B. Gestão logística de cadeias de suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2007. BALLOU, R.H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos / logística empresarial. 5 ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. PIRES, S.R.I. Gestão da cadeia de suprimentos (supply chain management): conceitos, estratégias, práticas e casos. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009 FIGUEIREDO, K.F.; FLEURY, P.F.; WANKE, P. (Org.) Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Atlas,2003.
98
IES – Y
8º Sem. (80h) (60h
Teórica + 20h
Outras atividades)
Administração de
Materiais e
Logística
Recursos materiais e patrimoniais; Aquisição de recursos materiais e patrimoniais; Gestão de Estoques e Compras; Administração. Patrimonial: instalações; Gestão da distribuição logística.
VIANA, João José. Administração de Materiais: Um Enfoque Prático. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. DIAS, Marco Aurélio P.. Administração de Materiais: Princípios Conceitos e Gestão. 9ª ed. Valinhos: Anhanguera Publicações, 2012.
MARTINS, Petrônio Garcia; ALT., Paulo R. C.. Administração de Materiais e Logística. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
IES – Z
6º Sem. (40h)
Administração de
Recursos Materiais
e Patrimoniais
I
Aquisição de recursos materiais e patrimoniais: gestão compras. A função compras. Novas formas de comprar. Estratégias de aquisição: fabricar ou comprar. Ética em compras. Administração de materiais: estoques. O papel de estoques na empresa. Tipos de estoques. A importância de estoques. A análise de estoques.
BALLOU, Ronald. H. Logística Empresarial transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1993. DIAS, Marcos Aurélio P. Administração de Materiais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995. CARRETONI, E. Administração de Materiais: uma abordagem estrutural. São Paulo: Alínea, 2000.
7º Sem. (40h)
Administraç
ão de Recursos Materiais
e Patrimoniais
II
Análise de Estoques – Gestão da Distribuição, a Abordagem Logística - Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management)
DIAS, M. A. P. Administração de materiais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995. CARRETONI, E. Administração de materiais: uma abordagem estrutural. São Paulo: Alínea, 2000.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
As Instituições de Ensino Superior apresentam diferenças
relevantes na composição da carga horária, nomenclatura e conteúdo da
disciplina de Gestão de Suprimentos, por exemplo, a IES-X totaliza 60h e
a disciplina é oferecida no oitavo semestre e recebe o nome de Logística
e Cadeia de Suprimentos, enquanto que a IES-Y oferece o total de 80h,
que é dividida entre 60h com aula teórica e 20h com atividades práticas
99
supervisionadas e ocorre no oitavo semestre e recebe o nome de
Administração de Materiais e Logística. Nota-se que a IES-Z oferece a
disciplina no sexto e sétimo semestre com carga horária de 40horascadae
recebe o nome de Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais I e
Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais II respectivamente.
Quanto aos conteúdos apresentados pelas IES, é importante
destacar dentre elas a IES-X, pois desenvolve os conteúdos comuns da
disciplina de Gestão de Suprimentos e destaca-se das demais por
trabalhar os seguintes conteúdos: Logística e criação de valor. Nível de
serviço logístico; Sistemas de Informação e troca eletrônica de dados para
Controle; Decisões de Transporte; Planejamento de Rede logística;
Logística Internacional; Visão sistêmica. Projeto de redes de operações
produtivas e de serviços.
100
4.4.6 A disciplina Recursos Humanos
Quadro 16 – Quadro comparativo de disciplinas com conteúdos de Recursos
Humanos
QUADRO COMPARATIVO DE DISCIPLINAS COM CONTEÚDOS DE RECURSOS HUMANOS
IES – X
6º Sem. (40h)
Gestão de Cargos,
Remuneração e
Carreira
Sistema de Compensação. Impacto no desempenho da organização. Componentes e um sistema de compensação. Remuneração Funcional. Curva de maturidade. Remuneração por habilidade. Remuneração Variável. Pesquisa Salarial. Elaboração de um Plano Salarial. Participação nos Benefícios. Planejamento de Carreira. Formulação de políticas e estratégias de Gestão de Pessoas.
SOUZA, M. Z. A.; BITTENCOURT, F.R.; PEREIRA FILHO, J.L.; BISPO, M.M. Cargos, Carreiras e Remuneração. São Paulo: FGV, 2005. PONTES, B.R. Administração de cargos e salários, 12. Ed. São Paulo: LTR, 2006. DUTRA, J.S. Administração de Carreiras: uma proposta para repensar a gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 1996.
IES – Y
6º Sem. (80h) (60h
Teórica + 20h
Outras atividades
Administração Recursos Humanos
Introdução à Gestão de Pessoas. Recrutamento e Seleção de Pessoas. Avaliação do Desempenho. Programas de Incentivo e Recompensa. Treinamento e Desenvolvimento. Relações com empregados. Sistemas de Informação de RH.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: O Novo Papel dos Recursos Humanos nas Organizações. 1ª ed. Rio de Janeiro: Campus - Elsevier, 2010.
DUTRA, joel Souza. Gestão de Pessoas: Modelo, Processos, Tendências e Perspectivas. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
CARVALHO, Antonio C. V.. Administração de Recursos Humanos. 2ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
101
IES – Z
4º Sem. (80h)
Administração de
Recursos Humanos I
Evolução Histórica. Planejamento de Recursos humanos. Modelo de gestão de Recursos humanos. Decisões de nível estratégico, tático e operacional em recursos humanos. Recrutamento e Seleção em Recursos Humanos.
CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. CHIAVENATO, I. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. São Paulo: Atlas, 2004. LUCENA, M. D. S. Planejamento de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 1999.
5º Sem. (80h)
Administração de
Recursos Humanos II
Planejamento de Recursos humanos. Modelo de Gestão de recursos humanos. Processo decisório em recursos humanos. Decisões de nível estratégico, tático e operacional em recursos humanos. Políticas em Recursos humanos.
CHIAVENATO, I. Recursos humanos: o capital humano das organizações. São Paulo: Atlas, 2004. CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: fundamentos básicos. São Paulo: Atlas, 1999. MARRAS, J. P. Administração de Recursos Humanos: do operacional ao estratégico. São Paulo: Futura, 2003.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
A Instituição de Ensino Superior IES-X é oferecida no sexto
semestre e apresenta a menor carga horária com 40h e é denominada por
Gestão de Cargos, Remuneração e Carreira. Já a IES-Y que apresenta
80h que é dividida entre 60h com aula teórica e 20h com atividades
práticas supervisionadas ocorrendo no sexto semestre e recebe o nome
de Administração Recursos Humanos. Observa-se que a IES-Z totaliza
160h divididas em dois semestres quarto e quinto, respectivamente, com
carga horária de 80horas cada e recebe o nome de Administração de
Recursos Humanos I e Administração de Recursos Humanos II.
Quanto aos conteúdos apresentados pelas IES, é importante
destacar dentre elas a IES-X, pois, além dos conteúdos comuns às
demais IES apresentadas, também desenvolve os conteúdos: Sistema de
Compensação; Curva de maturidade. Remuneração Variável. Pesquisa
102
Salarial. Elaboração de um Plano Salarial. Participação nos Benefícios.
4.4.7 A disciplina Gestão da Qualidade
Quadro 17 – Quadro comparativo de disciplinas com conteúdos de gestão da
Qualidade
QUADRO COMPARATIVO DE DISCIPLINAS COM CONTEÚDOS DE GESTÃO DA QUALIDADE
IES – X
7º Sem. (30h)
Gestão da
Qualidade
Apresentação de conceitos de qualidade e seus enfoques, modelos de implantação, formação e composição de grupos de implantação, gestão de controle da qualidade. Princípios de gestão da qualidade. Fundamentos de sistemas de gestão da qualidade e suas implicações às organizações. Noções de custos da não qualidade. Fatores que influenciam na gestão da qualidade. Coordenação da qualidade em cadeias de produção. Elaboração de programas de melhoria da qualidade e da produtividade. Certificações e normas da qualidade. Análise dos critérios de prêmios da qualidade.
JURAN, J.M. A Qualidade desde o Projeto: os novos passos para o planejamento da qualidade em produtos e serviços. São Paulo: Cengage Learning, 2009. OAKLAND, J.S. Gerenciamento da Qualidade Total: TQM: TQM. São Paulo: Nobel, 1994 MIGUEL, P.A.C. Qualidade: enfoques e ferramentas. São Paulo: ArtLiber, 2001.
IES – Y
8º Sem. (80h) (60h
Teórica + 20h Outras
Atividades)
Gestão da
Qualida de
Gestão da qualidade definição e conceitos; qualidade por setores; TQM; Controle de qualidade on e off line; melhoria contínua.
CARVALHO, Mary M. et al. Gestão da qualidade: teoria e casos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Campus - Elsevier, 2006. MARSHALLJUNIOR, Isnard; CIERCO, Agliberto A. (orgs.); ROCHA, Alexandre V. (orgs.) et al. Gestão da Qualidade. 9ª ed. São Paulo: FGV, 2008. CAMPOS, Vicente Falconi. Controle da Qualidade Total: No Estilo Japonês. 8ª ed. São Paulo: INDG, 2009,v.1.
IES – Z
Não Oferta
Não Oferta
Não Oferta Não Oferta
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, utilizando dados contidos nos PPC
103
A Instituição de Ensino Superior IES-X é oferecida no sétimo
semestre e apresenta a menor carga horária com 30h e é denominada por
Gestão da Qualidade. Já a IES-Y que apresenta 80h que é dividida entre
60h com aula teórica e 20h com atividades práticas supervisionadas
ocorre no oitavo semestre e também recebe o nome de Gestão da
Qualidade. Nota-se que a IES-Z não oferece a disciplina no curso de
Administração.
Chama a atenção a IES-X que mesmo tendo a menor carga horária
comparada com a IES-Y, apresenta em sua ementa maior quantidade de
conteúdos a serem abordados, destacando: Noções de custos da não
qualidade. Fatores que influenciam na gestão da qualidade. Coordenação
da qualidade em cadeias de produção. Elaboração de programas de
melhoria da qualidade e da produtividade. Certificações e normas da
qualidade.
4.5 Os conceitos MEC e ENADE dos cursos de Administração das IES X, Y e Z
O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) busca
avaliar o desempenho dos estudantes concluintes dos cursos de
graduação, em relação aos conteúdos programáticos, habilidades e
competências adquiridas em sua formação e necessárias ao
aprofundamento da formação geral e profissional desses estudantes. O
Enade é obrigatório e a situação de regularidade do estudante no Exame
deve constar em seu histórico escolar. De periodicidade trienal, a primeira
aplicação do Enade ocorreu em 2004 (INEP, 2016).
O Quadro 18 apresenta as notas e conceitos do Enade das IES X,
Y e Z do ano de 2015, quando ocorreu a última avaliação para cursos de
Administração.
104
Quadro 18 – Notas e Conceitos MEC - ENADE
QUADRO COMPARATIVO DAS NOTAS DOS CONCEITOS MEC E ENADE
I.E.S NOTA CONCEITO MEC NOTA CONCEITO ENADE
IES – X 4 (QUATRO) 5 (CINCO)
IES – Y 4 (QUATRO) 3 (TRÊS)
IES – Z 4 (QUATRO) 4 (QUATRO)
Fonte: Quadro elaborado pelo autor
Ao observamos o quadro comparativo das notas dos conceitos
MEC e ENADE do ano de 2015 das IES X, Y e Z, podemos considerar os
destaques já mencionados da IES-X que demonstra agregar e trabalhar
mais conteúdos matemáticos nas disciplinas citadas o que provavelmente
fortaleceu a realização de ações internas que possibilitaram destacar-se
das demais no conceito ENADE.
O resultado da IES-Y provavelmente demonstra alguma
insatisfação interna de alunos ou docentes, ou até mesmo a ausência de
ações para envolvê-los quanto à importância da realização da prova do
ENADE.
Importante destacar que pode ocorrer o desinteresse dos alunos ao
ter que participar do ENADE e realizar a prova de qualquer maneira,
visando prejudicar a instituição de ensino devido algumas insatisfações no
decorrer do curso.
A IES-Z, em seu projeto pedagógico aponta que, apesar do curso
ter obtido uma média bem acima da média geral brasileira, a qualidade do
curso pode ser melhorada. Algumas disciplinas apresentaram conteúdo
insuficiente, particularmente aqueles referentes às de Matemática e
Administração.
Vale ressaltar que as instituições superiores passaram a valorizar e
a motivar o “grêmio estudantil” composto por representantes de classe de
diversos cursos e áreas do conhecimento, a fim de discutir a qualidade da
infraestrutura e também os recursos aplicados para o desenvolvimento do
ensino e aprendizagem.
.
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação teve por objetivo analisar e comparar disciplinas
de Matemática e disciplinas com conteúdos matemáticos contidos nas
grades curriculares de três instituições de ensino superior de cursos de
Administração, denominadas pelas siglas X, Y e Z.
Para melhor compreensão deste estudo, voltamo-nos para a
história da administração, destacando alguns de seus principais teóricos,
inclusive sobre suas ideias a respeito do ensino de conteúdos
matemáticos nos cursos de Administração.
Ao tratarmos dos principais teóricos destacamos a Escola Clássica
de Administração e sua importância, desde Frederick Taylor, que
contribuiu, entre outras ideias, com o estudo dos tempos e movimentos;
Henri Fayol que estabeleceu as categorias de trabalho através do
conhecimento matemático e capacitação dos futuros administradores e
engenheiros da época e também a Escola das Relações Humanas, nesta
pesquisa representada por Elton Mayo, o qual abordou a importância do
relacionamento humano entre a liderança e colaboradores.
Destacamos também as LDB (Leis de diretrizes e bases) que
orientaram a construção dos Projetos Pedagógicos dos Cursos, bem
como o IDORT (Instituto de Organização Racional do Trabalho), que se
constituiu como relevante formador de técnicos em organização científica
do trabalho.
As grades curriculares foram tabeladas e analisadas levando em
conta as principais disciplinas da área da Matemática e também das
aquelas que se utilizam de modo inconteste de conteúdos matemáticos,
além de fazermos uma tabela contendo os últimos resultados alcançados
pelas instituições de ensino superior estudadas no MEC e também no
ENADE.
Observamos que nas disciplinas que tratam diretamente de
106
conteúdos matemáticos, como Matemática aplicada, Estatística e
Matemática financeira, somente a IES X enuncia, em sua ementa,
conteúdos de matemática próprios do Ensino Superior. Em geral, as
ementas arrolam conteúdos matemáticos presentes nos currículos do
Ensino Fundamental e Médio. É possível que este seja um dos motivos
do curso da IES X tenha obtido melhor desempenho no Enade.
Destaque-se também que as IES Y e Z mencionam a utilização da
calculadora financeira HP12, nas disciplinas Estatística e Matemática
Financeira. Há que se lembrar que essa calculadora pode realizar
cálculos estatísticos para uma ou duas variáveis e está capacitada para
efetuar cálculos provenientes da área financeira. Há também menção da
utilização de noções do Excel.
Cursos de Administração, em geral, voltam-se para o mundo
financeiro empresarial, para a economia de mercado e também para o
desenvolvimento de pessoas. Esse direcionamento implica na utilização
de conteúdos matemáticos e estatísticos inerentes à Administração, como
por exemplo, para a obtenção do custo e do lucro de determinado
produto, bem como nas análises dos indicadores direcionados ao
desenvolvimento do trabalhador pelas áreas de Recursos Humanos.
Esses conteúdos matemáticos dão suporte às disciplinas da área
administrativa, são ferramentas básicas para a construção de saberes da
Administração.
Outro ponto que podemos destacar é a relação escola com o
alunado, pois como já observado, as insatisfações decorrentes das
decisões acadêmicas que por algum motivo não foram aceitas pelos
alunos, podem prejudicar o desenvolvimento e interesse em determinadas
disciplinas, principalmente, no que tange ao ENADE, o aluno pode
realizar essa avaliação de maneira despretensiosa e sem compromisso, o
que pode vir a prejudicar a instituição no conceito final do curso.
Como o PDI (Plano Desenvolvimento Institucional), tem como
107
finalidade estabelecer por meio de um documento o que foi definido como
missão da instituição de ensino superior e as estratégias para atingir suas
metas e objetivos, podemos considerá-lo de suma importância como base
moral e ética na implantação e realização das atividades propostas no
PPC (Projeto Pedagógico do Curso).
Neste trabalho, não tivemos acesso ao PDI de nenhuma instituição
citada o que possivelmente nos mostraria suas principais características e
enriqueceria a análise dos PPC, dada a possibilidade de comparar esses
documentos com os resultados do conceito Mec e Enade dos cursos de
Administração.
Não foi possível, igualmente, considerar as características da
região brasileira em que os referidos cursos de Administração são
ofertados, quando poderíamos examinar exemplos do cotidiano utilizados
para ilustrar situações do dia a dia da população daquela área. Nesse
sentido, entendemos que, a inserção e análise dessas informações, em
trabalhos vindouros, favoreceriam maior aprofundamento tema em
estudo.
Pretende-se que este trabalho sirva como subsídio para a
realização de futuras pesquisas, tais como o aprofundamento da proposta
aqui apresentada, investigações sobre a qualidade e ferramentas de
avaliação de desempenho de disciplinas de matemática e estudos de
conteúdos matemáticos aplicados em outros cursos de ensino superior.
108
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BRASIL. MEC. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 1, de 2 de fevereiro de 2004. Institui as Diretrizes
109
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração, Bacharelado, e dá outras providências. Brasília, DF., 2004. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces01_04.pdf>. Acesso em 08 dez. 2016.
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