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UM ESTUDO DE CASO DO GRAFFITI E DE SEUS PROCESSOSCOMUNICATIVOS: O “SPRAYSSIONISMO” NA ERA DA INFORMAÇÃO
Vinícius Melato Strapasson (IC) e José Maurício C. M. da Silva (Orientador)
Apoio: PIBIC Mackenzie
Resumo
A leitura desse texto permite ao leitor compreender melhor o Graffiti como um meio de expressãourbano e não-oficial. Em tempos onde se tem falado muito em convergência midiática, é importante
compreender como essa mídia se relaciona com as demais mídias, como o cinema, a pintura e amúsica, o que faz do Graffiti um debate constante onde o suporte são os muros da cidade. Nesteprojeto, também são abordadas as ligações que a Street Art tem com outros campos doconhecimento como a publicidade e o mercado de arte e quais são as suas diferenças em relação àpichação. No entanto, é importante fazer a ressalva de que, em momento algum, o objetivo desse
trabalho é ratificar o Graffiti como arte. Com a finalidade de melhor entender como funciona todo esseprocesso comunicativo, foram feitas breves análises semânticas de algumas obras de artistas quetiveram e têm certa importância no assunto. Elaborou-se também uma pesquisa de campo ondepessoas foram entrevistadas acerca do assunto, para verificar qual é a aceitação do público peranteuma mídia que muitas vezes ultrapassa as barreiras da legalidade. Portanto, fica claro que o objetivodo trabalho é situar e compreender esse tipo de manifestação como uma mídia característica dosgrandes centros urbanos e perceber que, sem a cidade, o Graffiti não seria nada.
Palavras-chave: Graffiti, arte urbana, comunicação
The reading of the text allows the reader to better understand the graffiti as an expressive medium
urban and non-official. In times where there has been much talk in media convergence, it is importantto understand how the media relates to other media such as cinema, painting and music, which makesthe Graffiti a constant debate where the media are the city walls. In this project, also addressed thelinks that the Street Art has with other fields of knowledge such as advertising and the art market and
what are their differences in relation to graffiti. However, it is important to save that, at any time, theobjective of this research is to ratify the Graffiti as art.In order to better understand how all thiscommunication process were made brief semantic analysis of some works by artists who had andhave some importance in the matter. It also produced a field survey where people were interviewed onthe subject, to ascertain what the public acceptance before a media that often exceeds the boundariesof legality. Therefore, it is clear that the objective is to situate and understand this type of event as a
media characteristic of large urban centers and realize that without the city, the graffiti would benothing.
Key-words: street art, communication, Graffiti
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Introdução
No corpo desse trabalho, tentou-se abordar algumas questões que envolvem o graffiti como
meio de expressão. A fim de entender os mecanismos que regem seus processos
comunicativos, foram feitos levantamento de referências bibliográficas, consultas com
pessoas que são ativas dentro do meio do graffiti e uma pesquisa quantitativa.
A fim de deixar o projeto mais objetivo, elaborou-se um problema de pesquisa que tentou
ser melhor respondido através da metodologia utilizada. O problema em questão consiste
em saber mais detalhadamente como funciona essa comunicação entre os graffiteiros e seu
público-alvo, ou seja, pessoas das mais variadas classes sociais e escolaridade e, portanto,
repertórios e estilo de vida tão distintos entre si.
Antes de mais nada, vale ressaltar que o objetivo desta pesquisa não é questionar se o
graffiti pode ou não ser classificado como arte; serão mostradas relações que o graffiti tem
com o campo da arte e como ele foi influenciado por ela, a fim de que se compreenda
melhor os mecanismos de comunicação presentes em ambas. Em outras palavras, tentará
mostrar como a Street Art se utiliza das manifestações artísticas visando comunicar uma
mensagem a um determinado público. Portanto, sumariamente, em nenhum momento,
estará sendo feito um estudo em prol da ratificação do graffiti na esfera da arte.
Fica claro que o objetivo desse projeto consiste em identificar alguns desses mecanismos e,
assim, compreender melhor o processo comunicativo envolvido nessa manifestação que,hoje, está tão em voga.
Desenvolvimento
Paralelas ao mundo da arte oficial – arte essa que foi guardada e preservada em museus e
galerias -, sempre houveram manifestações na história da humanidade que, talvez, por
terem sido desprezadas, muitas vezes, foram perdidas e, hoje, só se pode ter contato com
elas através da sua documentação - que geralmente é escassa.
As primeiras manifestações que se assemelham ao graffiti - embora o termo sejarelativamente recente - se dão no período do paleolítico, no qual eram feitas pinturas murais
que estavam diretamente ligadas com o poder que a imagem continha para aqueles seres
humanos. Em outras palavras, pode-se dizer que existia quase uma mágica por trás dessas
imagens, que fazia com que, quando o homem pintasse, por exemplo, um animal em sua
parede, ele passaria a possuí-lo e conseguiria caçá-lo facilmente. Claro que esse paradigma
já foi quebrado há muito tempo; no entanto, pode-se perceber que a imagem em si sempre
teve uma força muito grande em nossas vidas, o que acontece até os dias de hoje. É como
se o homem moderno, ao invés de entrar na caverna para pintar um bisão e assim possuí-lo, hoje, saísse às ruas para reivindicar seus direitos e assim possuí-los. Um exemplo disso,
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são os graffiti encontrados em Pompéia, que foram preservados devido à conhecida
erupção do vulcão Vesúvio, graças a qual boa parte da cidade ficou intacta. Prova de que os
graffiti da cidade serviam como meio de comunicação das classes menos abastadas é que
eles foram a pedra da Roseta do latim vulgar. Isto é, foi através dessas escritas feitas com
carvão em paredes públicas que o latim vulgar pode ser traduzido. Esse caso, pode-se
dizer, foi uma exceção à regra que já foi exposta anteriormente, já que atravessou séculos e
é conhecido, hoje, pela ciência. Muitas frases que figuravam nas paredes de Pompéia
tinham um cunho político, mas também havia aquelas que falavam de assuntos mais
abrangentes, como essa curiosa inscrição: “Oh parede, admira-me que sustentes tantas
bobagens sem desmoronar.”.
Uma relação bastante interessante existente entre o graffiti e o campo da arte diz respeito
ao caráter democrático que ambas possuem. Por exemplo, o graffiti , nas ruas, desvendatoda a estratificação social e financeira existente em um grande centro urbano, pois pessoas
de diversas origens - e portanto, valores distintos - lêem a obra cada qual com seu repertório
e práxis social. Por isso, pode-se dizer que existe uma grande ligação ou, talvez, uma
herança cedida pela arte moderna. Esta é uma manifestação que contém um código aberto,
ou seja, talvez possa ser lido por qualquer pessoa, independentemente de seu grau de
escolaridade ou classe social. A fim de constatar e reforçar essa tese, verificou-se na
pesquisa de campo, feita com essa diversidade de pessoas presentes numa cidade como
São Paulo, que a maioria dos entrevistados acha que o entendimento independe de todosesses fatores analisados. No entanto, esse assunto será melhor abordado mais adiante.
O fotógrafo Brassäi, em uma passagem de um artigo seu escrito para a revista surrealista
Minotaure, questiona a estética utilizada nos graffiti da época que, como já foi dito, eram
feitos principalmente por crianças que viviam nas ruas e eram de origem bastante humilde,
diz
Essa arte bastarda das ruas, tão menosprezada que mal é capaz dedespertar a nossa curiosidade, tão incerta que as inclemências do tempo a
podem apagar, transforma-se numa escala de valores. A sua lei évinculativa, põe de pernas para o ar todos aqueles sistemas estéticos quetanto tempo levaram a introduzir. A beleza não é, na verdade, o objectivo dasua criação, mas é a sua recompensa (STAHL, 2009, p.7)
No entanto, é de suma importância ressaltar que essa citação de Brassäi diz respeito aos
graffiti feitos toscamente – geralmente se utilizavam de pedras para raspar as paredes e,
assim, criarem figuras que aparentemente não tinham nexo algum.
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Imagem I
Pelo fato de tentarem atingir um público-alvo bastante diversificado, como já foi dito, os
graffiteiros de uma maneira geral, optam por uma linguagem que seja bastante simples e
utilizam um código bastante aberto para que, assim como na arte moderna, a compreensão
da mensagem não se dê apenas na feitura dos graffiti , mas nos olhos de quem o vê.
Portanto, a célebre frase de Marshall Mcluhan (MCLUHAN, 1996) “o meio é a mensagem”
se faz verdade, já que, por tentarem se expressar em grandes centro urbanos onde a
diversificação do público é grande, é necessário que se utilize uma linguagem tal qual essa
que foi descrita. Muitas vezes, a linguagem utilizada é bastante subjetiva, como é caso dos
dois irmãos graffiteiro “Os Gemeos” que serão abordados de maneira mais aprofundada
mais adiante.
Se uma campanha política pode ser considerada uma comunicação no sentido amplo da
palavra, peguemos o exemplo de um candidato a deputado federal chamado Carlos Adão
que, por falta de verba para fazer sua campanha política, faz tags nas ruas de cidades
brasileiras (principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro) com frases emblemáticascom seu nome. Frases como “Carlos Adão é demais”; “Carlos Adão é bom”; “Volte Carlos
Adão”. Considerar esse tipo de intervenção como graffiti não é o objetivo desse trabalho,
pois, se por um lado a técnica, assunto esse que será abordado futuramente, é precária e
não utiliza a beleza como um estímulo para dialogar com o público; por outro, o candidato
tenta comunicar uma mensagem, o que o distingue da pichação que apenas imprime nos
muros da cidade nomes que mal podem ser lidos pela maioria das pessoas.
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Imagem II
Nos primórdios da história da Street Art brasileira, existe um caso bastante parecido. O
famoso “Cão Fila Km 26” se utilizava de uma publicidade tosca, mas que foi de suma
importância para a evolução da pichação e do graffiti em São Paulo e que está na memória
de muitos brasileiros e interventores urbanos. Mais conhecido como “Tozinho”, Antenor Lara
Campos escrevia em vários muros e pontes “Cão Fila Km 26”, na tentativa de levantar o seu
negócio, que consistia em criar cães da raça e vendê-los. Pela ousadia e criatividade,
Tozinho chegou a ser assunto de uma matéria da revista “Veja” do ano de 1977.
Imagem III
Pode-se dizer que o graffiti tem o caráter de tentar sempre dialogar com as pessoas às
quais ele está exposto. Com a pichação isso já não acontece, visto que, nesse caso, cada
grupo tem seu próprio alfabeto que muitas vezes é ilegível por pessoas que não fazem parte
desse grupo. Portanto, pode-se dizer que a pichação, ao contrário do graffiti , não tem essecomprometimento de querer dialogar com o grande público. Um exemplo bastante
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sintomático dessa questão é o caso de um jovem que é mostrado no documentário dirigido
por João Weiner exibido na 33 ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O jovem, no
filme, dizia ser analfabeto, ou seja, não sabia ler o alfabeto falado e utilizado no Brasil. No
entanto, ele declarou que só sabia ler quando algo estava escrito no alfabeto utilizado em
pichações. Portanto, pode-se afirmar sumariamente que a pichação, diferente do graffiti , não
se compromete em ter um código aberto para que demais pessoas possam compreender o
que está sendo escrito.
Sendo assim, o graffiti parece ter sido influenciado pela arte renascentista. A fim de travar
um diálogo com o transeunte, se utiliza do conceito renascentista de trazer beleza para a
vida. É importante frisar que isso não significa que os graffiteiros se preocupem em usar
formulas preestabelecidas como o uso do equilíbrio e harmonia das cores; eles se utilizam
apenas do conceito englobado pelo renascimento.O graffiti também comunica uma espécie de metalinguagem com a cidade e comunica às
pessoas não apenas a mensagem que está contida dentro da obra; mas comunica através
do lugar onde a obra está inserida. Quando se tem um graffiti em um determinado lugar da
cidade para onde antes ninguém olhava, os transeuntes passam a reparar mais e a
contemplar lugares que, sem a existência de uma intervenção dessas, jamais
contemplariam. Portanto, essa intervenção possivelmente pode estar perguntando ao
público se ele realmente percebe o que acontece à sua volta ou talvez se ele repara como a
cidade se modifica rapidamente. Como disse Nelson Brissac (BRISSAC-PEIXOTO, 2004), é
impossível andar fruindo, ou seja, é impossível que se ande pelas ruas contemplando tudo
que está à sua volta. No entanto, quando se tem um elemento que esteja dentro do nosso
limiar de percepção passa-se a contemplar (GOMBRICH, 2007).
Antes de dissertar acerca da comunicação envolvida e utlizada pela Street Art é necessário
que se explique melhor as características de um relevante componente comunicacional: o
receptor da mensagem. Segundo Johannes Stahl,
A street art intervém, portanto, num espaço público e numa construção doconsenso, que se elabora constantemente, acerca do tipo de configuraçãoque desejamos ver. Esta discussão desenrola-se sempre de uma formaintensa, quando se reflete sobre as funções da arte no espaço público,(STAHL, 2009, p.120)
Devido a esse foco no receptor da mensagem, podemos concluir que há várias
diferenciações entre o graffiti e a pichação. No entanto, vale a ressalva de que ambas são
manifestações da arte urbana de uma maneira geral. Portanto, é possível que muitas vezes
não se chegue a um consenso sobre algumas obras, isto é, se elas são consideradas graffiti
ou pichação. Pelo fato de muitos interventores terem sido influenciado e, muitas vezes,
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abordarem as duas modalidades, existem aquelas pieces que ficam em um entre-lugar que
consiste em possuir características mescladas do graffiti e da pichação.
Contudo, para a melhor compreensão de toda a explanação que será feita acerca dessas
atividades que estão tão em voga ultimamente, serão feitas algumas considerações. O
graffiti , pode-se afirmar, possui um nível mais elevado de técnica em relação à pichação.
Analogamente, por esse e outros motivos, tem uma relação muito grande com a arte
renascentista, pois, nesse período, artistas como Leonardo DaVinci e Michelangelo tinham
um certo comprometimento em dominar a matéria e acreditavam que apenas assim seriam
reconhecidos como grandes artistas. Como exemplo disso, se têm a obra David de
Michelangelo que, antes de ser executado por esse artista, já havia passado pela mão de
outro escultor que não possuia técnica suficiente para esculpir o enorme bloco de cinco
metros, o que fez com que fosse lembrado como coadjuvante na história da arte.Outro aspecto não menos importante que distingue essas duas modalidades da Street Art é
que, segundo o graffiteiro Jorge Tavares (GITAHY, 1999), o graffiti possui uma qualidade
muito íntima: a grande facilidade na veiculação rápida de informação. Com isso, é ponto
pacífico ver essa prática como meio de expressão que, como todos os outros, possui
características intrínsecas.
De acordo com a conceituação de Jorge Tavares, o graffiti é uma veiculação rápida de
informação e, notadamente, marcada pela efemeridade que é característica do mundo pós-
moderno. Levando isso em conta, os graffiteiros parecem travar uma batalha com a
efemeridade e o tempo que se põem diariamente como um adversário insistente. Por isso,
esses interventores urbanos, para conseguir expressar suas mensagens a um bom número
de pessoas, têm de ser mais rápidos que a efemeridade imposta pelos grandes centros
urbanos, caso contrário suas intervenções serão apagadas e “vencidas” pelas rápidas
mudanças que acontecem em uma cidade como São Paulo. Isto posto, nos primórdios do
graffiti conhecido nos dias de hoje, que data de meados de 1970, ele incorporou uma
técnica muito usada pela Arte Pop e, antropofagicamente, adequou seu processo para serusado com o spray. A técnica da serigrafia consiste em utilizar uma mascara vazada onde a
tinta passa e imprime o formato vazado. Já no campo do graffiti , a técnica utilizada é o
stencil que usa praticamente o mesmo processo em relação à mascara, todavia, nesse
caso, ela borrifada por tinta de spray. Com isso, fica fácil compreender o motivo dessa
prática ser muito utilizada hoje em dia, visto que ela satisfaz e é um bom instrumento para
combater essa efemeridade tão intensa nos grandes centro urbanos, justamente pelo fato
de ser uma técnica que possibilita, através de uma matriz, que se intervenha no espaço
público rapidamente.
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Em síntese, fica claro que o graffiti tanto é um meio de comunicação o qual Johannes Stahl
relaciona com os meios de comunicação modernos.
Desde sempre, os aspectos comunicativos destacam-se com maiúsculasnos graffiti e na street art . Como qualquer sistema de sinais, a street art
muda conteúdos não só sociais, estéticos ou ideológicos. A sua merapresença indica a necessidade de comunicação e as suas diversaspossibilidades. Evidentemente, estas também não se esgotaram à vista dasvariadas ofertas de intercâmbio recíproco que surgem constantemente. Foi justamente a pressão do ramo da comunicação, da televisão, da indústriamusical, da Internet e da publicidade que intensificou o seu fortalecimento?(STAHL, 2009, p.202)
Isto posto, cabe a nós mostrar algumas das relações que o graffiti tem com esses meios de
comunicação modernos e como ele têm se comportado como uma arte situada dentro de
um período histórico.
2. Nesta segunda parte do projeto, cabe a nós começar com outra citação do estudioso dograffiti Johannes Stahl.
A percepção das media e dos Graffiti apresentam uma grande semelhançacom os meios de comunicação clássico como os jornais, a televisão ou ainternet, quanto aos seus efeitos: as mensagens vêm de baixo e alcançam omais alto. A relação dos círculos artísticos com ambos os fenômenosmostra igualmente paralelismos surpreendentes: embora tenham sidotratados em alguma ocasião como opção essencial para o futuro, os seusrespectivos caminhos separam-se várias vezes seguindo os seus própriosimpulsos conjunturais. O fato de se ocupar das diversas formas do público –apesar das diferenças que possam existir – vem criando ao longo das
décadas um importante ponto de contacto comum e permanente. (STAHL,2009, p.234)
Comecemos a falar do graffiti em relação a essas mídias modernas citadas pelo autor.
A internet, por exemplo, partindo do pressuposto que a maioria dos graffiteiros, como já é
consenso, buscam também reconhecimento através dessas intervenções, é um meio
bastante utilizado por graffiteiros e artistas - por facilitar a exposição de seus trabalhos e
devido ao grande público virtual o qual foi ultimamente aumentado devido a invenção das
tão faladas redes sociais. Uma comunidade denominada “Graffiti Art Brasil” de uma rede
social chega a ter 31.500 de membros. Vale uma ressalva para a descrição da comunidadeque apresenta a citação do Artigo 37.º - (Liberdade de expressão e informação) que diz
que “todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra,
pela imagem, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informado”. A imagem
abaixo demonstra bem essa estreita relação existente com o mundo virtual.
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Imagem IV
Como a internet tem se tornado um grande concorrente dos meios clássicos como a
televisão e o jornal, podem ser encontradas algumas respostas que o graffiti tem dado a
esse fenômeno. Um jornal impresso intitulado “The art street journal ” foi lançado em
dezembro de 2009 e se utilizou da internet como propagadora – já que você pode recebê-lo
em sua casa apenas cadastrando-se no site de forma gratuita - para demonstrar ao mundo
quais são as atuais tendências das intervenções urbanas. Portanto, fica claro que a Street
Art e a internet andam juntas, por estarem em voga e muitas vezes terem público emcomum.
A fotografia é outro meio de expressão que tem grande relação com as intervenções
urbanas. Como já foi dito, dificilmente um graffiti permanece muito tempo nas ruas. Muitas
vezes é apagado ou “atravessado” – termo que na linguagem do meio significa que outra
pessoa fez outro graffiti em cima daquele. Portanto, nesse caso o graffiti se assemelha em
muito a outro tipo de manifestação artística: a performance. Assim como ela, o graffiti tem
um curto período de exposição e é dificilmente algo que se perpetue na memória e, logo,
deve ser documentado através de fotografia ou vídeo. Um exemplo que nos ajuda que a
idéia seja compreendida é o do atual lightgraff . A técnica consiste em utilizar uma câmera
com grande exposição à luz e um bastão de luz. Enfim, o performer pega o bastão e usa-o
como caneta movimentando-o no ar e, assim, borrando a imagem com rastros de luz. Por
ser apenas visto por quem estava no momento da performance, esse tipo de graffiti se
assemelha muito com a arte da performance. No entanto, estudou-se mais
aprofundadamente essa questão durante o período da pesquisa, e percebeu-se que é um
assunto bastante abrangente que poderia ser melhor explicado em uma outra futura
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pesquisa, já que demandaria muito estudo. Por essas e outras razões, a fotografia e o
Graffiti têm uma relação bastante íntima.
A música pode-se dizer também outro meio de comunicação que tem uma relação muito
íntima com essas intervenções urbanas. Em seus primórdios, o graffiti era muito influenciado
e influenciava o rap e hip-hop. Nos dias de hoje, aqui no Brasil, sua relação com o samba,
MPB, rap e a cultura hip-hop é real. Prova disso é que em uma música do rapper brasileiro
Sabotagem, ele diz “Um graffiti na parede ja defende algum direito”, abordando o tema de
maneira mais engajada politicamente. Outro fato que demonstra que graffiti e samba dão
samba é o filme intitulado “Ginga – A alma do futebol brasileiro”, onde várias vezes as obras
dos irmãos “Os Gemeos” é feito ao som de samba. Em uma música de autoria de Zeca
Baleiro e Zé Ramalho chamada “Bienal”, o graffiti mostra suas ligações com a MPB
Com a graça de Deus e Basquiat.Nova Iorque me espere, que eu vou já.
Picharei com dendê de vatapá uma psicodélica baiana.
Afim de compreender melhor a técnica e se ambientar com a prática do stencil , procurou-se
fazer uma mascara que retratasse esse trecho da música.
Já no campo da publicidade, pode-se dizer que a relação é gritante. A publicidade,
atualmente, tem incorporado toda uma parte estética que é influenciada em muito pelo
graffiti , como pode ser visto nessa propaganda da UNICEF.
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Além disso, a Street Art ta
a localização estratégica,
graffiti , estando na rua, se
dialogar com aquelas pe
publicitário utiliza artifício
persuadido acerca daquel
as paredes fossem um gra
reinventa a cada instante,
como mostra a imagem ab
Mostrar como o graffiti secorpo desse projeto. Nota
de museus e galerias. Ex
mural feito na fachada da
mercado da arte. A expos
MASP retrata bem o polê
Art . O título da exposição
museu em si influencia o g
Em uma exposição intitu
curadoria do brasileiro e
foram chamados para a e
exatamente a diferença e
exposta dentro do museus
artista estivesse pergunta
museus e galerias com aq
qualquer censura.
Universidade
bém se utiliza de alguns artifícios criados
já que ambos visam alcançar a maior visi
mpre está tentando, através de um impacto
ssoas às quais ele está exposto. Assim
para que a comunicação seja efetiva
s valores impostos no anúncio. Com o graf
nde suporte para um diálogo com a cidade
seja esse diálogo de maneira cordial ou
aixo.
Imagem VI
comporta no ambiente do museu tambémamente, essa intervenção urbana vem ga
posições como a dos Gêmeos no Museu
Tate Modern , localizada em Londres, est
ição de “De dentro para fora/De fora para
ica relação de influência existente entre a
explica bem esse caso. A curadoria pro
raffiti e como este influencia aquele.
lada “São Paulo – Mon amour ” realizad
studioso do assunto Sérgio Franco, vários
posição. Sendo Zézão um deles, o graffitei
tre intervir na rua e um museu. A mesm
foi feita bem na frente dele, mas no ambien
ndo se existe, de fato, diferença entre a
elas que eram feitas ao ar livre nas ruas e,
resbiteriana Mackenzie
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ela publicidade, como
bilidade possível. Um
primeiramente visual,
é na propaganda, o
o público-alvo seja
iti é assim. É como se
ue nunca acaba e se
e maneira agressiva,
erece um espaço nohando espaço dentro
a Arte Brasileira e o
o mais presentes no
entro” realizada pelo
arte oficial e a Street
urou mostrar como o
em Paris e com a
graffiteiros brasileiros
o resolveu questionar
a obra que foi feita e
te externo, como se o
obra feita dentro dos
logicamente, livres de
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Falando sobre museus, é inevitável falar sobre o mercado da arte. Para o graffiti , no
momento em que esse projeto está sendo elaborado, os números crescem
expressivamente. Desde sua primeira exposição até a última – Vertigem -, OsGêmeos têm
aumentado o valor de suas obras em torno de dez vezes. O reconhecimento também é
crescente e pode ser confirmado através de um fato ocorrido esse ano na cidade de São
Paulo. A Lei Cidade Limpa, que visa diminuir a poluição visual da cidade, apagou um mural
feito por esses dois artistas que estavam no momento expondo suas obras em um dos
museus mais importantes de São Paulo (MAB-FAAP). Sabendo disso, a prefeitura assumiu
o mal entendido e procurou os graffiteiros para que eles refizessem o mural, com uma ajuda
de custo para a execução do novo painel. Contudo, é interessante dizer que o graffiti não
depende do mercado da arte, ou seja, se ele não estivesse fazendo parte desse mercado,
certamente, ele não deixaria de existir. Prova disso são os seus primórdios, onde não seria
admissível que essa manifestação bárbara e infantil – como era muitas vezes tratada na
época – fosse exposta em um museu e nem por isso a Street Art se abalou e está viva até
hoje. Isto posto, fica clara a analogia com a entrada da arte moderna nos museus no
começo do século XX. O exemplo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922 é
bastante representativo. A exposição de Anita Malfatti foi intensamente criticada pelo
escritor Monteiro Lobato que, em seu texto intitulado “Paranóia ou mistificação?”, classificou
a obra de Anita como antiquada e retrógrada. Assim foi a entrada do graffiti nos museus,
bastante combatida no início, mas que vem sendo absorvida ao longo do tempo e,
provavelmente, será mais ainda nos próximos anos.
Com a finalidade de se entender melhor o cenârio da Street Art , serão abordados de
maneira mais aprofundada o trabalho de alguns graffiteiros que tem grande importância na
atualidade e no passado do graffiti . No entanto, vale relembrar que não o principal objetivo
desse trabalho analisar o trabalhos de artistas urbanos específicos.
Comecemos com o precursor Keith Haring. Chegando em Nova Iorque no ano de 1978, aos
vinte anos, o jovem Keith começou a desenhar com giz nas estações de metrô – prática que
era muito comum na época. A partir da década de oitenta, Keith Haring já expunha sua
obras em galerias como a Club 57. Muitos críticos de arte o classificam como artista da
cultura pop, por ter uma obra bastante questionadora da sociedade moderna e ter uma
estética bastante simples. No entanto, sua obras mais notáveis se dão no campo da Street
Art , como é o exemplo do graffiti denominado “Crack is wack ”. Com essa intervenção,
Haring quis alertar a sociedade e comunicar os perigos que a droga – que tinha um
consumo crescente na época – oferecia não só aos usuários mas à sociedade de uma
maneira geral. Além disso, como pode ser visto na imagem abaixo, Keith retratou um
amontoado de figuras humanas mortas e uma caveira. Deve-se enfatizar a linguagem
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utilizada por ele que é completamente chula e que faz parte do vocabulário de muitas
pessoas que usam a droga ou que passam pelo local de sua intervenção, localizada em um
bairro periférico nova-iorquino. Abrindo um parêntese e traçando um paralelo com o graffiti
paulistano, uma obra de um artista desconhecido foi vista no mês de novembro de 2010 -
no acesso da Avenida Amaral Gurgel para a Rua da Consolação – era sobre o mesmo tema
abordado por Haring. A imagem continha um super-homem – personagem dos quadrinhos
que são publicados pela editora estadunidense DC Comics – com um visual cadavérico. Ao
lado, havia um texto que dizia que seu problema era a pedra, fazendo uma ambiguidade
com a criptonita, pedra que enfraquece o personagem dos quadrinhos. Na realidade, a
poucos metros do local, embaixo da via elevada do “minhocão”, ainda hoje, podem ser
vistas pessoas usando craque.
Como já foi dito, um graffiti feito no centro de uma cidade como São Paulo, que muda muitorapidamente, pode ser apagado em um curto período de tempo. Com isso, é possível que
apenas o artista tenha essa obra e, por isso, infelizmente, não está presente no corpo desse
trabalho.
Imagem VII
Ja não é novidade que Keith Haring era portador do vírus HIV e homossexual. Esses fatos
influenciaram completamente o conteúdo das mensagens que foram expostas por ele.Como exemplo disso, foi posta a próxima imagem que de uma linguagem muito impactante
– mas novamente adequada ao vocabulário do público-alvo -, mas em prol de uma boa
causa.
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Imagem VIII
Outro fator que é muito interessante na obra desse artista precursor é que ele costuma
representar pessoas de maneira bastante simplificada e, na maioria de suas imagens – aimagem acima é uma exceção -, não faz distinção de sexo, o que é completamente
aceitável levando em conta sua opção sexual.
Ainda em território estrangeiro, outro graffiteiro que ficou bastante conhecido mundialmente
e que é um ótimo de como o graffiti pode ser usado como meio de comunicação. O
misterioso Banksy ficou conhecido por sempre abordar assuntos bastante polêmicos e fazer
intervenções urbanas engajadas do ponto de vista político e social. Como muitos, sua
identidade é desconhecida e, embora jornais ingleses já tenham mostrado imagens de
pessoas que poderiam ser ele, há quem diga que todos estão errados. Esse interventor
urbano, usa o Graffiti como instrumento para o questionamento social e, através dele,
espera que a sociedade, assim como a dinâmica dos grandes centros urbanos, reavalie e
reinvente seus valores constantemente. Os Graffiti feitos por ele em áreas de tensão, como
no Oriente Médio, no período de guerras são um ótimo exemplo disso. Além disso, devido a
toda essa evolução tecnológica, o artista urbano retoma o conceito exposto por George
Orwell em “1984”. Com inscrições perto de câmeras de seguranças, Banksy usa da técnica
do stencil com ousadia e escreve “What are you looking at?” que em português significa “Oque você está olhando?”, questionando a relação de todo o aparato de segurança utilizado
nos dias de hoje com a privacidade que é diminuída crescentemente, com o advento dos
meios de comunicação como extensão do homem (MCLUHAN, 1970).
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Imagem IX
É interessante frisar que parece existir um inconsciente coletivo que faz com que diversas
intervenções urbanas abordem o mesmo tema, como é o caso do graffiteiro Obey e de um
graffiti feito na cidade de Bona em 1984. Ambos fazem o mesmo que Banksy quando fazem
as intervenções como a retratada na fotografia abaixo.
Imagem X
Já em território brasileiro, existem alguns artistas urbanos que merecem atenção, fato que é
comprovado pela maioria dos livros que tratam do assunto que geralmente reservam um
capítulo apenas para o graffiti brasileiro.
A nível do cenário mundial, os graffiteiros brasileiros mais conhecidos e badalados do
momento são os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como “OsGemeos”.
Com suas imagens características e que já fazem parte do repertório de quem vive nasgrandes cidades, eles falam através de uma linguagem um pouco mais subjetiva - por
exemplo em relação a Banksy - sobre temas como a marginalização do povo nordestino em
cidades como São Paulo, criminalidade e pobreza de uma maneira geral. A fim de retratar
todo esse subjetivismo que pode muitas vezes influenciar a obras da Street Art , apresenta-
se o seguinte fato: perguntados o porquê de sempre usarem tons amarelados em suas
obras, OsGêmeos responderam que isso se deve ao simples fato de sonharem em amarelo.
Em 2009, fizeram uma parceria com um grupo de artistas franceses chamados “Plasticiens
Volants ” especializados em bonecos infláveis. OsGêmeos ficaram com o trabalho de pintarseus personagens nos bonecos. Feito isso, foi elaborado um teatro de rua com os infláveis e
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foi apresentado dois dias no Vale do Anhangabaú, localizado na região central da cidade de
São Paulo. Isto posto, não fica difícil achar relação com a arte da performance, já que tem
um período curto de exposição e só pode ser fielmente compreendido estando presente no
local e na hora do evento.
Imagem XI
Outro graffiteiro digno de aprofundamento é o brasileiro que usa o apelido de Nunca. Nunca
começou na Street Art fazendo pichações e graffiti na cidade de São Paulo aos vinte anos.
Seu trabalho é completamente pictórico, embora a pichação, que é notadamente literal,
tenha feito parte de sua formação. Nunca sempre, em suas intervenções, se utiliza de
signos indígenas, por acreditar que o povo brasileiro deve reconhecer sua importância nacultural do país. Em uma entrevista, o graffiteiro explica: “Eu gosto de olhar mais para a arte
indígena, porque para mim, os brasileiros ainda têm algo dos índios, na cultura, no sangue”.
Esse artista geralmente retrata nos muros de São Paulo rostos e signos que estão ligados à
cultura indígena, como na imagem abaixo.
Imagem XII
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Resumindo, fica claro que o graffiti mantém relações com diversos meios de expressão –
sejam eles artísticos ou não – e com o mundo no qual ele está inserido. Portanto, vale
ressaltar que a Street Art mais uma vez anda lado a lado com a arte da performance – que
nasceu na mesma época do graffiti que conhecemos hoje, como resposta à faceta
mercadológica e comercial que sempre esteve ligada à arte. Em seu livro intitulado
“Performance como linguagem, Renato Cohen (COHEN, 2009) conceitua essa manifestação
artística como um Carrefour das artes. Ou seja, o autor quer dizer que a performance está e
sempre esteve ligadas a outras manifestações artísticas como a música, cinema e teatro.
Como já foi mostrado, o graffiti possui essa mesma relação com outras manifestações
artísticas, fato que comprova a proximidade existente entre ambas.
3. Pesquisa e análise de dados
A fim de verificar algumas características do graffiti como meio de expressão, foi feita umapesquisa de campo constituída por onze questões que foram perguntadas de maneira e
imparcial.
A amostra utilizada foi probabilística, ou seja, as pessoas foram entrevistadas
aleatoriamente nas ruas, sem restrições de idade, classe social ou gênero, tentando-se
retratar o público que está nas ruas e está exposto ás intervenções urbanas.
Para o local de coleta de dados, escolheu-se áreas de grande circulação de pessoas e,
preferencialmente, onde tivessem graffiti para que o entrevistador exemplificasse, casohouvesse dúvida por parte do entrevistado. As pesquisas foram feitas na rua da Consolação
e no Vale do Anhangabaú e foram entrevistadas cinquenta pessoas dispostas a responder e
que foram sempre lembradas pelo entrevistador das diferenças entre o graffiti e a pichação.
Para melhor compreensão da pesquisa elaborada, segue abaixo uma cópia do que foi
perguntado aos entrevistados.
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Pesquisa aplicada
1. Você acredita que o graffiti é uma arte marginal?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) TALVEZ
2. Você acha saudável para a sociedade esse tipo de intervenção urbana?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) TALVEZ
3. Você acredita que o graffiti pode servir como um estímulo para questionamentos
sociais?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) TALVEZ
4. Você acha que graffiteiros devem ser punidos por infringirem o patrimônio público e
privado?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) TALVEZ
5. Você acredita que esses artistas têm o comprometimento em passar alguma
mensagem à comunidade?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) TALVEZ
6. Se a resposta for sim, você compreende as mensagens que tentam ser
transmitidas?
( ) SIM ( ) NÃO7. Você acha que o graffiti nos faz prestar atenção em lugares em que antes nunca
olhávamos?
( ) SIM ( ) NÃO
8. Você considera o graffiti como um meio de expressão artística?
( ) SIM ( ) NÃO
9. Quando transita pelas ruas, você costuma reparar em graffiti feitas no espaço
público?
( ) SIM ( ) NÃO
10. O graffiti , para você, embeleza a cidade?
( ) SIM ( ) NÃO
11. Você acredita que o graffiti como meio de expressão pode ser entendido por
qualquer um, independente do grau de escolaridade de quem olha a obra?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) TALVEZ
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Gráficos
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Analisando o resultado dos gráficos, referente às primeira e segunda questões feitas na
pesquisa de campo, pode-se perceber que o graffiti teve uma aceitação maior perante opúblico. Como já foi dito anteriormente, nos seus primórdios, esse tipo de intervenção era
julgada “arte bastarda das ruas de má fama”, como Brassäi o disse. Em outras palavras, a
Street Art sempre foi tratada com desdém e não era levada nenhum pouco a sério pela
sociedade, de maneira geral. No entanto, fica perceptível, com esta pesquisa, que o graffiti
vem sendo aceito – através dos mecanismos já expostos anteriormente - pela população
das grandes cidades e pelo público em geral. A grande maioria das pessoas disse que
acredita que o graffiti seja uma manifestação válida e que não o considera como uma
manifestação artística que está a margem dos valores da sociedade. Além disso, suaaceitação pode ser percebida também pela sua crescente presença nas mídias, como na
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TV, jornais, internet e na publicidade e com as publicações e estudos sobre o assunto. É
importante ressaltar que alguns entrevistados tinham idade superior aos 40 anos e, ao
contrário do que se pensava, muitos se mostravam abertos a esse tipo de intervenção
urbana e, muitas vezes apoiavam.
A arte e o engajamento nas questões sociais sempre andaram juntos. Nesta questão, tenta-
se verificar se o público acredita que o graffiti tem o poder de questionar os valores da
sociedade e talvez modificá-los. Um exemplo disso pode ser as frases que podem ser
encontradas pela cidade de São Paulo que, em meio ao caos urbano e a correria do
cotidiano, traz um pouco de serenidade e uma mensagem com um conteúdo que podeinfluenciar a vida dos transeuntes e fazer com que ele reveja seus valores. Não se sabe
bem a identidade do autor; no entanto, há quem diga que essa frase faz parte de um
movimento chamado Vineyard que prega que é necessário ter mais amor na vida. Para
retratar melhor isso, escolheu-se a foto abaixo que mostra bem a relação que o graffiti tem
com o espaço que o cerca. A foto mostra bem como a Street Art pode questionar um status
quo vivido pela sociedade.
Imagem XIII
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O resultado dessa questão é bastante interessante, pois confronta um aspecto
constitucional, ou seja, bate de frente com a barreira do ilegal. Vale ressaltar que se deixou
claro, durante as entrevistas, que a faceta do graffiti em questão é a ilegal. No entanto,
embora as respostas tenham sido mais divididas, a maioria do público entrevistado acredita
que o graffiti ilegal não deve ser punido, mesmo correndo o risco de terem suas casa – que
é considerado um patrimônio privado – pichadas ou graffitadas. Portanto, esse dado
demonstra também que está havendo uma grande aceitação de boa parte das pessoas em
relação à prática da intervenção urbana.
Afim de saber se o público acredita que os artistas tem a intenção de dialogar com quem
passa pelas ruas, elaborou-se esta questão. Muitas vezes pode ocorrer que uma pessoa
compreenda uma mensagem que não tinha a intenção de dizer algo. Quando perguntados
se acreditavam que os graffiteiros tinham o comprometimento de dizer algo a quem quer
que visse a obra, a maioria dos entrevistados respondeu “Sim”. Por exemplo, quando Keith
Haring fazia graffiti falando sobre drogas, sexo e AIDS, ao contrário do que acontece com a
atual pichação, sabia seu objetivo: passar uma mensagem a quem quer que visse sua obra.
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Com a finalidade de eliminar a possibilidade desses graffiteiros tentarem se comunicar e não
o conseguirem, esta pergunta foi feita aos entrevistados. A maioria das pessoas que
responderam o questionário disse que entendiam algo do que geralmente está graffitado
pelas paredes da cidade. Este fato demonstra que existe um diálogo constante do graffiti
com a cidade. O feedback do público pode ser dos mais variados, desde concordar ou
discordar da mensagem que está exposta no ambiente público até uma resposta mais ativa
por parte do público, como é o caso de um stencil feito por Banksy onde ele escreve que
aquele muro estava aberto para que qualquer um expusesse suas idéias. Com certeza, é
possível afirmar que alguém, ao passar e ver, de alguma forma – não necessariamente
utilizando um spray – intervém, escrevendo, desenhando ou graffitando algo.
Segundo Nelson Brissac, a arte pública – como estátuas e monumentos - permite que
reparemos em lugares que, provavelmente, nunca olharíamos. Sobre o assunto, o autor diz
“O interessante é a multiplicidade de novas experiências que umaintervenção desse tipo pode trazer, iluminando, jogando luz ou várias luzessobre lugares que estávamos acostumados a ver muito estereotipadamente.Considero que isso é um enriquecimento da experiência e, portanto, davisão sobre a cidade.”(BRISSAC-PEIXOTO, 2004, p.163)
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Nesse caso, para verificar se com o graffiti o mesmo ocorre, foi feita uma questão, pensando
em verificar o assunto. Quase todos os entrevistados ratificaram essa relação que foi
exposta por Nelson Brissac. Ou seja, o graffiti nos ajuda a olhar e perceber melhor o
ambiente em que estamos inseridos, já que, pela ação do tempo, ficamos acostumados a
determinados locais e nos quais passamos a não reparar tanto. É como se um dia um
sujeito chegasse em sua casa e alguém tivesse mudado completamente os móveis de lugar;
certamente, o sujeito relacionaria o como ficou com como estava. Portanto, nesse aspecto,
a efemeridade dos graffiti ligada com a rapidez com que são feitos novos ajuda a perceber
como esse fenômeno ocorre.
Já muito se disse a respeito da entrada dos graffiti em museus. Como isso depende, muitas
vezes, mais dos curadores e da posição dos museus perante o assunto, julga-se importante
investigar se o público de uma forma geral considera o graffiti um meio de expressão
artística. O resultado desta questão nos mostra que quase todos os entrevistados tinham
uma opinião bastante consolidada. Noventa e três por cento das pessoas que responderam
a entrevistas afirmaram que consideram o graffiti um meio de expressão artística. Portanto,
pode-se concluir que tal intervenção urbana é passível de exposição em museus ou galerias
de arte. No entanto, existe uma outra questão que é bastante debatida nos dias de hoje –
vale a ressalva de que não era objetivo desse trabalho tentar respondê-la: uma intervenção
urbana levada para dentro de um museu ou uma galeria de arte, continua fazendo sentidocomo graffiti do mesmo jeito do que quando estava nas ruas?
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Já se sabe que os entrevistados, na maioria das vezes, compreende as mensagens que
tentam ser passadas pelos graffiteiros e que consideram o graffiti um meio de expressão
artística; todavia, resta saber se o público se interessa por esse tipo de assunto enquanto
transita pelas ruas e costuma olhar quando vê uma intervenção, porque como diz Nelson
Brissac é impossível andar fruindo, ou seja, contemplando o ambiente e todas as coisas que
estão nele inseridas. Segundo os resultados da pesquisa, grande parte das pessoas
entrevistadas dizem que costumam olhar e pensar no que vêem pelas ruas.
A fim de verificar se um dos mecanismos esclarecidos nesse trabalho pode, de fato, estar
certo, elaborou-se a décima questão. Como já foi dito, o graffiti , como forma de diferenciar-
se da pichação – que geralmente não tenta travar um diálogo com o transeunte -, talvez,
tenha emprestado a beleza da arte renascentista, a fim de que sua mensagem sejacompreendida com um apelo visual maior que o da pichação. Portanto, elaborou-se a
questão acerca da possibilidade do graffiti contribuir para a beleza de uma metrópole como
São Paulo. Noventa e quatro por cento dos entrevistados disseram que, na maioria das
vezes, o graffiti deixa a cidade mais bonita, colocando cor em um muro que antes era mal
cuidado. Portanto, fica clara a possibilidade desse apelo visual que tem por finalidade travar
um diálogo mais próximo com o transeunte.
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Em entrevista cedida para o pesquisador via e-mail, “OsGêmeos” disseram acreditar que o
Graffiti feito por eles, por exemplo, poderia ser compreendido por qualquer um que estivesse
passando, desde um sujeito com vida acadêmica ativa até um analfabeto. Vale ressaltar que
o público a que o graffiti se destina é do mais variado, atingindo qualquer pessoa que estejatransitando pelas ruas. Como diz o estudioso do assunto Sérgio Franco (procurar
referência), o graffiti separa a sociedade em camadas sociais. Portanto, foi elaborada uma
questão que englobasse o assunto. Quando perguntados se o graffiti , de maneira geral,
poderia ser entendido por qualquer pessoa, independente do seu grau de escolaridade e
classe social, cinquenta e dois por cento dos entrevistado responderam positivamente. Ou
seja, segundo a maioria, o graffiti pode ser entendido por qualquer pessoa.
Conclusão
Primeiramente, antes da conclusão, é necessário ressaltar que há a intenção de que ocorra
uma possível continuação deste projeto ou de que ele sirva como estímulo a fomentar novas
descobertas nessa área do conhecimento. Prova disso é existem algumas questões que
surgiram no decorrer da pesquisa, mas que seriam mais adequadas se fossem matéria-
prima para outro trabalho.
Conclui-se que o processo comunicativo entre o transeunte e os graffiteiros, através de seus
graffiti , é crescente. Isso ocorre devido à grande aceitação que esse tipo de manifestação
urbana vêm recebendo por boa parte da sociedade, fato que foi comprovado através daspesquisas elaboradas no corpo desse projeto de iniciação científica, pois, como já se sabe,
ao longo do tempo, a sociedade democrática acaba incorporando valores ao senso comum
que antes desconhecia ou até repugnava.
Isto posto, com base nos resultados obtidos nas pesquisa, é possível inferir que as pessoas
têm, de fato, olhado com menos preconceito – e até mais simpatia, já que várias disseram
achar que esse tipo de arte embeleza a cidade muitas vezes - para essa arte que outrora
era chamada de “arte bastarda das ruas de má fama”. Certamente, é uma hipótese bastante
razoável que essa quebra de paradigma vêm acontecendo paulatinamente esteja ligada a
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essa convergência pós-moderna de mídias e áreas diferentes do conhecimento. Agregado a
isso, estamos em uma era onde as informações correm na velocidade da luz e qualquer
nova tendência já está fadada a nascer obsoleta e antiquada. Por isso, fica claro que o
graffiti, no papel de uma arte que deve sobreviver a cada dia, necessita de se reinventar
constantemente. Assim como nas inscrições feitas nas paredes de Pompéia, essa
manifestação artística deve continuar tendo um caráter de questionamento de assuntos que
refletem o descontentamento de pelo menos uma pequena parcela da sociedade. Assim
como isso vem acontecendo freqüentemente com as redes sociais, para ser mais
específico.
Exemplo disso é que verificou-se que o graffiti sofre influência de várias modalidades de
arte, como fotografia, música, cinema, performance e pintura. Por isso, podemos utilizar o
conceito de Renato (COHEN, 2009) de Carrefour das artes para classificar umamanifestação expressiva que bebe de várias fontes do campo da arte. Portanto, mais do que
nunca, o graffiti conversa com valores que são inerentes à pós-modernidade. Esse fato
reforça os vínculos que o graffiti mantém com a arte da performance, relação essa que
poderia ser estudado de maneira mais aprofundada futuramente e que ainda é uma parede
em branco.
Esperemos que, assim como um muro recém pintado no centro de São Paulo, não continue
assim por muito tempo.
Referências
- Arte pública : trabalhos apresentados nos Seminários de Arte Pública realizados peloSESC e pelo USIS. São Paulo : Sesc, 1998;
- BEDOIAN,Graziela & MENEZES, Kátia. Por Trás dos Muros: Horizontes Sociais doGraffiti. São Paulo: Peirópolis, 2008;
- BRISSAC-PEIXOTO, Nelson. Paisagens urbanas. São Paulo: Ed. SENAC SãoPaulo, 2004;
- BLIKSTEIN, Izidoro. Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade. São Paulo: Cultrix, 1985.
- COHEN, Renato. Performance como linguagem. 2 Ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.
- GITAHY, Celso. O que é graffiti . São Paulo: Brasiliense, 1999;
- Keith Haring. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003;
- MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação : como extensões do homem. 14. ed. São
Paulo: Cultura, 2005. 408 p.
- MILES, Malcom. Art, space and the city: public art and urban.
London: Routledge, 1997;
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Universidade Presbiteriana Mackenzie
- STAHL, Johannes. Street Art. 1. Ed. Colônia: H.F. Ullmann, 2009. 288 p.
Contato: [email protected] e [email protected]