um breve olhar sobre o parÂmetro curricular … · esta ligado ao caráter interdisciplinar que o...
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UM BREVE OLHAR SOBRE O PARÂMETRO CURRICULAR NACIONAL - PCN
PLURALIDADE CULTURAL: APROXIMAÇÃO COM O DEBATE SOBRE
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS.
Márcia Macêdo Costa¹-PIBID/UFUDulcinéia Gabriela de M. Santos²-PIBID/UFULuciane Ribeiro Dias Gonçalves³ - UNICAMP
Agência Financiadora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar apontamentos feitos, por meio de análisedocumental, do documento Pluralidade Cultural, que compõe o acervo dos Parâmetros CurricularesNacionais-PCNs. Esta foi uma atividade que compôs tarefas reflexivas do PIBID, subprojetoInterdisciplinar, que proporcionou aos estudantes bolsistas ponderarem, no âmbito escolar, sobre osdocumentos da instituição. Partindo das análises do PCN Pluralidade cultural percebemos avançosconceituais com relação à diversidade cultural. Contudo, isso, nos leva a reflexão referente à posturado professor e a instituição escolar. Entendemos que os docentes têm a dificuldade de trabalhar essetema em uma sala de aula. Constatamos que a maioria dos professores, em sua prática docente, apenasreproduz o que lhe é imposto por um currículo eurocêntrico.
Palavras-Chaves: Pluralidade Escolar-PCN, Professor, PIBID-Interdisciplinar.
O presente trabalho traz resultados de atividades de análise documental que
compõe as tarefas do Pibid/Interdisciplinar. Participamos, desde março de 2014, do subprojeto
Interdisciplinar, que compõe o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência-
PIBID. Atualmente as atividades vêm sendo desenvolvidas, em uma escola municipal da
cidade de Ituiutaba-Mg. Este programa é financiado pela CAPES- Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, no qual oferece bolsas para os discentes do
curso de licenciatura, para professores supervisores do ensino básico e aos coordenadores do
subprojeto que são professores do ensino superior.
O subprojeto tem como caráter interdisciplinar, devido os bolsistas serem estudantes
do curso de Pedagogia e História, tendo como objetivo em trabalharem juntos para um
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aperfeiçoamento profissional, e também no que se diz respeito nas questões temáticas pouco
exploradas como classe, discriminação, desigualdade social, raça, gênero entre outros.
Vários são os documentos que compõem o arcabouço jurídico-normativo das
instituições de ensino brasileiro. Tais documentos além de regulamentarem, apontam para
perspectivas teórico-metodológicas que orientam a prática docente. Diante de análise dos
documentos escolares como PPP (Projeto Politico Pedagógico), CBC (Currículo Básico
Comum), Matriz curricular, PDE e outros sugeridos pelo PIBID/ Interdisciplinar sentimos a
necessidade de fazermos análises especificamente do documento PCN- Pluralidade cultural.
Este documento governamental norteia o trabalho pedagógico na perspectiva da
diversidade cultural, tendo como pano de fundo a desigualdade social e a discriminação.
Sendo assim a partir de estudos surgidos no subprojeto PIBID Interdisciplinar, buscou-se
compreender a contribuição deste documento para a compreensão da diversidade existente no
âmbito escolar.
Na perspectiva histórica, o Brasil sofreu diversas influências culturais. A
colonização portuguesa, teve num primeiro momento objetivo explorar as riquezas naturais do
país. Esta postura foi mais exploratória, e isso, teve em decorrência algumas as
transformações na sociedade e ao mesmo tempo este processo provocou diversos problemas
sociais, como classe, etnia e gênero.
Entre estas problemáticas históricas, temos a desigualdade racial e a visão de
superioridade da cultura europeia como entraves que impactam especialmente a Educação. No
ambiente escolar podemos perceber atitudes discriminatórias e preconceituosas de pessoas
que agem de maneira comparativa e hierarquizante das diversas culturas estabelecidas.
Desta forma, os documentos que regem a Educação devem levar em consideração
aspectos relacionados a superar a visão com relação à diferentes grupos raciais, o preconceito
que ainda permanece e que busque incentivar a que todos vivam plenamente a sua cidadania,
cumprindo com seus deveres e conscientes de seus direitos, vivendo de forma digna em toda a
sua totalidade.
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As desigualdades sociais econômicas fazem do Brasil, um país complexo, que
apresenta uma pluralidade cultural diversificada. O tema Pluralidade Cultural sugere a
construção de uma identidade nacional, onde se entende que cultura é aquela que nasce com o
povo, sofre influência da ideologia, sendo necessário que a ética venha definir as relações
sociais e pessoais aqui e além dos limites do Brasil. As desigualdades sociais e a
discriminação pressupõem exclusão social, onde percebe-se que os privilégios sobrepõem os
direitos, originando vários tipos de exclusão na sociedade. Portanto atuar sobre os
mecanismos de exclusão é reconhecer e valorizar a diversidade cultural.
O documento mostra que apesar de todo esse aparato o Brasil esta em busca de
convívio entre as etnias, o enriquecimento de conhecimentos proporcionado pela diversidade,
onde as transformações formem uma sociedade mais justa e reconheça a diversa etnia
brasileira, tendo em vista que o Brasil é formado originalmente por três raças que é o negro,
índio e o branco. A diversidade étnica, lingüística, religiosa nos oferece uma pluralidade de
alternativas, e através dela que se amplia a possibilidade de conhecer a outra cultura, isto é,
não elevar o sujeito a desacreditar de sua própria cultura/tradição, mas sim visionar o respeito
pela diversidade e as diferenças existentes.
Durante muito tempo o Brasil viveu de aparências, camuflando os temas que
desvelam que o país é homogêneo, sem diferenças que nos levava a crer em uma democracia
racial, que venha favorecer a classe dominante que tem interesses que seja assim a fim de
perpetuar o seu domínio. Embora saibam que existem leis que protegem as identidades
étnicas.
A proposta aponta que também existem movimentos de lutas que valorizam as
questões raciais. Propõe que se faça uma ligação da escola com a vida do povo brasileiro, a
fim de que se mudem as mentes em busca de superar e combater o preconceito valorizando o
reconhecimento e o respeito mútuo. Mostra o processo histórico do desenvolvimento da
educação brasileira que passa por vários momentos e começa com a vinda dos Padres Jesuítas
para o Brasil a fim de catequizarem os índios, para que os mesmos se tornassem dóceis à
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exploração dos portugueses. Uma educação destinada aos filhos das elites com intuito de
dominação.
Cabe então à escola cumprir com seu papel de mostrar esse processo aos seus
alunos. Por ser um local de convivências diferenciadas e apresentar um conhecimento
sistematizado, a escola oferece condições para debates e discussões em torno de questões
sociais. Não é somente a escola que ira resolver os problemas de discriminação e preconceito,
mas poderá promover condições de conhecimentos e atitudes que levam a mudança da atual
situação. Para isso a escola precisa organizar para oferecer informações e formação ao
docente, para que o mesmo encontra-se em condições de provocar esta demanda.
Percebe-se então que é muito difícil categorizar o povo brasileiro, devido à mesma ser
composta por diversos sujeitos. Muitas vezes a escola ignora tal fato, silencia, omite a relação
com essa pluralidade cultural. Até mesmo no ensino de história, nos livros didáticos
representa uma pseudo homogeneização, inculcando os alunos que foram os portugueses que
descobriu o Brasil, sendo que já existia os índios no país, desde já o conhecimento nos leva
uma marginalização, e não dando crédito aos que já estavam no território, nesse caso os
índios, e isto infelizmente perpetua nos dias atuais.
Os livros didáticos junto com as escolas se encarregavam de mostrar que a raça
brasileira era composta de três raças: o índio, o branco e o negro. O encobertamento é uma
das práticas que discrimina, excluiu, esconde os sofrimentos, o modo de vida das pessoas. A
escola acaba por consolidar essa prática e nada faz para que elas não ocorram, entre alunos,
funcionários, administração etc. Atitudes de discriminação existem até quando o professor
rotula o aluno de incapaz por pertencer à camada menos favorecida, ou serem pertencentes a
grupos étnicos socialmente discriminados. A desigualdade, a pobreza, o migrante são sempre
alvos também de discriminação e houve momentos nas teorias educacionais que se dizia que a
falta de condições dos alunos era o que se explicava o fracasso escolar, o que originava uma
baixa expectativa na escola com certa camada da população.
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A escola esta marcada por essas práticas discriminatórias que estão enraizadas no
seu interior, precisando que medidas sejam tomadas a fim de reverter esse processo, aonde os
professores venham ter uma melhor formação, conseqüentemente tornando o currículo escolar
mais suficiente.
O documento fala que uma das contribuições para o estudo da pluralidade na escola
esta ligado ao caráter interdisciplinar que o tema Pluralidade Cultural nos oferece, por se
tratar de um campo amplo, muitas áreas do conhecimento faz esta articulação com a mesma.
(FAZENDA, 1997, p. 34) nos fala que:
A interdisciplinaridade perpassa todos os elementos do conhecimento, pressupondoa integração entre eles. Porém, é errado concluir que ela é só isso. Ainterdisciplinaridade está marcada por um movimento ininterrupto, criando ourecriando outros pontos para a discussão.
Vimos então que falar em interdisciplinaridade não é somente conectar uma
disciplina na outra. É preciso ir além, pois a mesma exige um movimento que não requer
ruptura. A autora ainda nos fala que:A apreensão da atitude interdisciplinar garante para aqueles que a praticam, um grauelevado de maturidade. Isso ocorre devido ao exercício de certa forma de encarar epensar os acontecimentos. Aprende-se com a interdisciplinaridade que um fato ousolução nunca é isolado, mas sim conseqüência da relação entre muitos outros.(FAZENDA, 1997, p. 35)
Para trabalhar os temas transversais de acordo com os problemas que envolvem o
ambiente, é preciso ver que o preconceito tem profundas raízes, onde a ignorância leva a
prática da discriminação. Sabe-se que é grande a dificuldade de abordar esse tema pelos seus
muitos aspectos como à localidade, classe, religião, escola etc., sem contar que muitos
docentes encontram-se marginalizados também. Para que haja transformação é preciso que se
mude primeiramente o interior e as atitudes daqueles que o querem, para depois vir a
colaborar com essa possibilidade de transformação. Que seja dado a oportunidade aos
docentes de sair da visão tradicional onde o professor
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[...] apresenta o conteúdo para seus alunos, como pronto e acabado. Busca repassar etransmitir as informações de maneira que os alunos possam repetir e reproduzir omodelo proposto. Como dono da verdade, apresenta-se autoritário, severo, rigorosoe objetivo. Distante dos alunos, procura discipliná-los na sala de aula em nome daobediência, da organização e do silencio. Apresenta os conteúdos de maneirafragmentada, com uma organização em partes, enfocando o conhecimento comoabsoluto e inquestionável. (BEHRENS, 2005, p. 41).
Nessa, visão tradicional de ensino a contribuição com a diversidade não acontece,
já que se fazem necessários as discussões, que vão nortear o trabalho pedagógico. A
Organização das Nações Unidas (ONU) como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
reconhece que a proposta esta inserida num campo novo, e que os educadores tem dificuldade
com esses temas, dessa forma apresenta a proposta de forma aberta, mostrando um caminho
que vão cooperar com os educadores, estudiosos e sociedade num todo.
A sociedade muda e as mudanças exigem que novas formas de lidar com os problemas
surjam. A LDB nos mostra no artigo 26 que:
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacionalcomum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimentoescolar, por uma parte diversificada exigida pelas características regionais elocais da sociedade, cultura, da economia e da clientela. (LDB, p.22)
O Documento pressupõe que tem que haver uma ligação dos temas escolares com
os movimentos sociais, universidades e imprensa etc, pois a característica do mesmo é
apresentada como uma construção cultural complexa, onde cada região, cada local tem a suas
características próprias, mas que se entrelaçam formando a identidade nacional.
Embora o PCN- Pluralidade Cultural tenha um objetivo pertinente relacionado à
sociedade como um todo, percebe-se que muito pouco mudou referente a discrepância de
ensino para os dominantes e dominados:
O desafio que se impõe é a transposição de um paradigma conservador quecaracterizou as organizações familiares, religiosas e educativas nos últimos séculos,
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em busca de um novo paradigma, que venha proporcionar a renovação das atitudes,valores e crenças exigidas no final do século XX. (BEHRENS, 2005, p. 39)
Em suma, mesmo que os PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais, tenham
promovido contribuição para que a educação avançasse com relação ao reconhecimento da
diversidade, este documento ainda não tem todos pressupostos epistemológicos para tratar a
temática. Além disso, ainda não é suficiente para a concretização de práticas pedagógicas que
sigam , é preciso que os professores tenham uma formação que os levem a acreditar também
que é possível haver mudanças.
O PCN, “Pluralidade Cultural” vem tratar desse assunto, informando e formando
novos conhecimentos, a fim de que haja superação nessas atitudes de preconceito e
discriminação que está velado e não é apresentado somente em relação à cor de pele, mas
também no que se refere classe social e gênero.
Na análise documental percebemos que o PCN- Pluralidade cultural é dividido em
duas partes. A primeira mostra os aspectos que justificam e envolvem o tema. Trata do
entendimento sobre a necessidade de se viver e ensinar essa pluralidade. Na segunda parte,
são pontuados os objetivos do tratamento sobre a diversidade e elenca eixos temáticos para
orientarem o desenvolvimento de práticas educativas do professor como metodologia e
critérios de avaliação. Já que o Brasil é um país de diversidade, o documento esclarece a
necessidade de se adaptar e acrescentar conteúdos, segundo os interesses e a realidade de cada
comunidade.
Segundo o PCN-Pluralidade Cultural, atualmente vivem no Brasil cerca de 210 etnias
indígenas, cada qual com sua identidade própria, mostrando uma rica diversidade
sociocultural. O referido documento não problematiza questões relacionadas a disseminação
de várias etnias indígenas, as dificuldades que as poucas aldeias sobreviventes passam, a falta
de estrutura, saúde e educação nas mesmas.
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Mostra também que existe uma imensa população que descende dos povos africanos, e
muitos imigrantes que são oriundos de diferentes continentes. Como também a valorização e a
contribuição cultural de diversos grupos nativos e afrodescendentes. Os movimentos contra a
escravidão dos negros no Brasil, revoltas, rebeliões, fugas, quilombos, enfim a trajetória de
várias outras etnias e a situação atual das mesmas.
Então o PCN, Pluralidade Cultural propõe uma escola fundamentada nos
princípios éticos de liberdade, dignidade e equidade, que tem uma proposta curricular voltada
para cidadania que se encontre meios para superar os preconceitos e discriminação na escola e
trabalhar essa interdisciplinaridade.
Na constituição de 1988 encontram-se as leis que combate a discriminação, que dá
direito a religião, a língua materna, e de ter acesso à educação. A geografia e a história do
Brasil nos revelam muitas regiões marcadas pela desigualdade, e o acesso de poucos na
dominação de uma nação. Por muito tempo, acreditava-se que o Brasil não era um país
racista, pois a tendência de tapar os problemas existentes sempre foi uma das suas
características.
O documento pontua a trajetória das etnias, da presença do indígena e dos seus
direitos como povos nativos. A inclusão dos mesmos nos currículos de conteúdos escolares.
Da forma das sociedades européias e da contribuição deles na história brasileira. O Estudo da
história da África e a valorização do seu povo aqui no Brasil, onde nos mostrar o porquê das
tendências, idéias, crenças, cultura, etc., do povo brasileiro. A sociologia também é uma das
áreas que contribuem para essa temática, levando-nos a reflexão e análise principalmente
dentro das salas de aula. Então a sociologia é capaz de trazer
(...) o aspecto humano sociológico na construção do seu conceito deinterdisciplinaridade, nos dizendo que a integração entre pessoas “enfrenta barreirasde diferentes ordens culturais, sociais, temporais, espaciais e materiais. Perpassandotodas elas, uma outra se coloca: a barreira do olhar” ( FAZENDA, 2001, p.143).
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O professor precisa saber que a barreira do olhar às vezes impede de se fazer um
bom trabalho na sala de aula, porque têm olhar que procura a interação, outros podem ser
superficial que não avança, e tem aquele que mostra cumplicidade e no caso da pluralidade
cultural é preciso ter cumplicidade e interação.
Já a Antropologia reconhece o valor de cada cultura e nela que encontraremos
subsidio para entender algumas questões difíceis de ser entendidas como as etnias. Conceitua
raça como um conteúdo biológico que foi usado para inferiorizar uns dos outros, e a etnia
seria um grupo se diferenciando pela especificidade cultural, a etnicidade é a condição que o
individuo tem de pertencer a um grupo étnico, já o etnocentrismo é a tendência que se tem de
tomar a cultura como centro de tudo, e quando penso nas pessoas pelos seus valores e
categorias. É errôneo afirmar que as raças ou etnia são responsáveis pelas desigualdades
sociais e econômicas, pois, durante muito tempo a história do Brasil justificou a
discriminação e exclusão que a nação sofreu e sofre até hoje por ser um país plural-étnico.
Os PCNS mostram que os usos de outras linguagens nos permitiram usar da
transversalidade a fim de crianças e adolescentes conhecer essa diversidade brasileira. Para
serem estudados os aspectos populacionais a escolha dos conteúdos e suas abordagens podem
ser mostrados através da relação de renda, cultura, posição, composição populacional e o
papel da educação. Fazendo uma ligação da população e a sua qualidade de vida.
O tema pluralidade cultural oferece muitas oportunidades de conhecimento amplia a
compreensão e a valorização das culturas que estão presentes no nosso dia a dia. Apura o
nosso senso de justiça, faz de nós pessoas contrárias à discriminação e ao preconceito nos leva
a entender que somos sujeitos de direitos mais também de deveres.
A escola que tem sua concepção de educação que quer fazer dos seus alunos
sujeitos críticos, que tenha compromisso com a cidadania, necessita dos temas voltados à
pluralidade cultural no exercício da democracia, pois a escola não pode omitir ser cúmplice da
discriminação. Preciso que se criem espaços de relação social através do trabalho educativo se
posicionando de modo crítico e responsável perante este problema. Cada pessoa é único, e em
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sua totalidade forma-se a diversidade de culturas, que através do relacionamento num clima
de paz e respeito vão se interagindo. Sabe-se que no Brasil existe o “mito da democracia
racial” o que mostra que o acobertamento é muito comum e faz-se de conta que o problema
não existe. É preciso que o professor assuma a prática de desvelar, o que exige dele
informação, discernimento, sensibilidade e intencionalidade. E isso se pode buscar de maneira
intencional nas lendas, contos, dança: informações de certo grupo que estão à sombra das
diferenças preconceituosas trazendo a tona as questões da discriminação, sendo assim vão
aprendendo e crescendo juntos como um todo. Pluralidade cultural se vive, aprende, ensina,
vai se construindo no coletivo, aonde uns vão ensinando para os outros.
ANÁLISE DO DOCUMENTO
Neste campo, serão apresentados de forma sintética, partes do documento PCN-
Pluralidade Cultural que foi estudado objetivando apreender do documento aspectos como o
objetivo, as etapas e os ciclos de aprendizagens.
De acordo com o documento, o objetivo geral do tema pluralidade cultural é buscar
contribuir para o conhecimento da
diversidade do patrimônio etno-cultural brasileiro, tendo atitude de respeito paracom pessoas e grupos que a compõem, reconhecendo a diversidade cultural comoum direito dos povos e dos indivíduos e elemento de fortalecimento da democracia;valorizar as diversas culturas presentes na constituição do Brasil como nação,reconhecendo sua contribuição no processo de constituição da identidade brasileira;reconhecer as qualidades da própria cultura, valorando-as criticamente,enriquecendo a vivência de cidadania; desenvolver uma atitude de empatia esolidariedade para com aqueles que sofrem discriminação; repudiar todadiscriminação baseada em diferenças de raça/etnia, classe social, crença religiosa,sexo e outras características individuais ou sociais; exigir respeito para si,denunciando qualquer atitude de discriminação que sofra, ou qualquer violação dosdireitos de criança e cidadão; valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentescomponentes da diversidade cultural; compreender a desigualdade social como umproblema de todos e como uma realidade passível de mudanças. (PCN - PluralidadeCultural, 1997, p. 43)
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Os conteúdos da pluralidade cultural para o primeiro e segundo ciclo adotaram os
seguintes critérios; relevância sócia cultural e política, a possibilidade de desenvolvimento de
valores básicos para o exercício da cidadania, a possibilidade de capacitar o aluno a
compreender respeitar e valorizar a diversidade, sociocultural. Sendo que os blocos de
conteúdos devem ser priorizados pelo professor, á partir das características locais do Brasil.
[...] os Parâmetros Curriculares Nacionais representam um primeiro nível deconcretização curricular, é importante salientar que cabe às equipes técnicas e aoseducadores, ao elaborarem seus currículos e projetos educativos, adaptar, priorizar eacrescentar conteúdos, segundo sua realidade particular tanto no que se refere àsconjunturas sociais especificas quanto ao nível de desenvolvimento dos alunos.(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, Vol. 10, p.95).
A organização dos conteúdos é refletida, conforme o Estado, mais é preciso se
adequar á realidade da escola. A Pluralidade cultural vivida pela criança no Brasil apresenta
uma população de origem diversificada valorizando aquilo que é próprio de cada um. Os
temas recomendados são destinados ás necessidades da criança, e o cuidado com idosos, esses
ao nosso ponto de vista deveriam ser priorizados principalmente pelas políticas públicas.
Este bloco enfatiza também como os diferentes grupos humanos se relaciona em
diferentes espaços, exploração da riqueza dos povos indígenas com o meio ambiente
possibilitando transversalizar esses conteúdos com a geografia. Aponta as culturas que
marcam fatos e festas, transversalizando com a história e geografia facilitando a compreensão
da abordagem histórica. Ainda enfoca a educação em diferentes grupos humanos e apresentam
sugestões de conteúdos a serem trabalhados como: Espaço e Pluralidade; Tempo e
Pluralidade, vida sócio-familiar e comunitária; Pluralidade e Educação. Segundo (GALLO,
2001, p. 176) transversalidade “seria cortes transversais, que articulem vários campos, várias
aéreas. Nenhuma relação, portanto, com a noção de temas transversais dos PCN, que são
apenas cortes temáticos por entre as disciplinas”. Os cortes transversais se articulam num
movimento em espiral onde não existe começo e nem fim e não são lineares, já os cortes
temáticos apresentam um começo e um fim. 561
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A situação atual da constituição da pluralidade cultural no Brasil, menciona que para
conhecer a situação dos diferentes povos que vivem aqui é necessária trabalhar aspectos
ligados á suas origens continentais dos conquistadores e imigrantes. Todos os grupos sociais e
étnicos têm histórias é preciso rever como foi em outros momentos da história da
humanidade. A pluralidade cultural propõe uma visão ampla sobre a trajetória dessas culturas
e etnias no Brasil, acreditando ser uma forma de resgatar a dignidade desses povos.
Os conteúdos a serem trabalhados são: Continentes e terras de origem dos povos do
Brasil, trajetórias das etnias, e situação atual da população. Também propõe trabalhar o ser
humano como agente social e produtor de cultura, trabalhar o respeito, a linguagem,
oferecendo a transversalidade com artes: cerâmica artesanal, músicas e danças de certos
grupos étnicos. Deverá estabelecer relações do ser humano como produtor de determinado
utensílio ou objeto de grande valor cultural.
Ainda abordar os regionalismos, os acentos da língua oral, perceber diferentes
sotaques, podendo esse tema transversalizar com a língua portuguesa e geografia e assim
trabalhar expressões típicas regionais, abordagem lingüística com expressões típicas de
grupos étnicos. Assim desenvolverá o respeito e evitará o deboche. Tratar de bilingüismos e
multilínguismos como fator de identidade de diferentes grupos étnicos e criação oral literária
de diferentes culturas tradicionais. Os conteúdos a serem trabalhados por estes temas são
linguagens da pluralidade, nos diferentes grupos étnicos e culturais do Brasil, línguas,
produção do conhecimento de diferentes culturas, valorização do patrimônio lingüístico.
Vimos que então há necessidade da integração do conhecimento humano através das
linguagens e:
O principio de recontextualização que constitui discurso pedagógico seletivamenterefocaliza e relaciona outros discursos, retirando-os de suas práticas reais, por retirá-los da base social de sua prática e das relações de poder associadas a essa basesocial. Tal processo de recontextualização é efetivamente um processo dereposicionamento e refocalização dos textos. Anteriormente produzidos. Ou seja, otexto já não é mais o mesmo: é selecionado de forma diferente, é simplificado,condensado e reelaborado. (LOPES apud BERNSTEIN, 2001, p. 154)
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A autora valoriza as relações e as transformações sociais, principalmente a
recontextualização do conhecimento científico, pois essa linguagem também tem que ser
acessível a todos, de maneira tal que todos tenham acesso ao conhecimento científico de
acordo com sua realidade. O documento fala que “Todas as culturas estão em constante
processo de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando valores” (PCN-
Pluralidade Cultural, p.43). Em suma o principio de recontextualização permite a
reelaboração das culturas.
Segundo o PCN, tema pluralidade cultural é uma proposta voltada para a cidadania
porque permite que a criança estabeleça relações entre o equilíbrio democrático, consolida o
cumprimento de direitos. Introduz a noção de que diferentes grupos étnicos e culturais têm
organizações políticas internas próprias. Esse conteúdo poderá ser transversalizado com a
história trabalhando a organização do estado, mostrando as instituições sociopolíticas
constituídas por representantes de diferentes grupos e comunidades. O professor pode
transversalizar com a língua portuguesa através de atividades de correspondência e
entrevistas. Assim poderá exercitar a capacidade de definição coletiva do uso de espaços e
tempos comuns, definição de regras de conduta. Essa vivência oferecerá subsídios para que a
criança compreenda os processos pelos quais se passa em sociedade-local-estadual-regional-
nacional.
Nunca deixar de oferecer meios para a criança compreender que tem direitos de
cidadania e estes englobam diversas dimensões. É preciso dar oportunidade para a criança
conhecer a ECA, Constituição Brasileira, Declaração Universal dos Direitos Humanos, com
isso ela conhecerá não só seus direitos como também seus deveres. Os conteúdos a serem
trabalhados são: Organização Política e pluralidade, Pluralidade de direitos, situações urgentes
no Brasil em relação aos direitos da criança e o fortalecimento a cidadania.
O documento mostra os critérios de avaliação e espera-se que o aluno saiba
conhecer a existência de outros grupos culturais além do seu, reconhecer seu direito a
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existência e respeitar seus modos de vida e suas expressões culturais. Identificar na história do
Brasil, histórias que são vividas de formas diferentes. Os grupos presentes no seu meio seja
no estado, cidade, bairro, na escola ou na classe. Espera-se compreender que a pluralidade é
essencial na garantia da liberdade que o Brasil possui documentos que garante os deveres e o
combate a descriminação.
A avaliação na prática pedagógica tradicional busca respostas prontas e nãopossibilita a formulação de perguntas. Esse fator impede os alunos de seremcriativos, reflexivos e questionadores. A avaliação, de maneira geral, única ebimestral, contempla questões que envolvem a reprodução dos conteúdos propostos,enfatizando e valorizando a memorização, a repetição e a exatidão. (BEHRENS,2005. p. 43).
Vimos que a avaliação segundo o documento não é essa que se pauta na avaliação
tradicional é uma avaliação que vai acontecer no processo, na mudança de comportamento, se
diferenciando da avaliação tradicional que visa respostas exatas. Enfim o documento ressalva
que “[...] pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É trabalho de construção, no qual o
envolvimento de todos se dá pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o outro,
nada se sabe sobre ele” (PCN – Pluralidade Cultural, p.57), Então entendemos que a avaliação
vai acontecendo durante o processo, no relacionamento uns com o outro, através da
observação.
Ainda são apresentadas no documento orientações didáticas para ajudar no trabalho
do professor, onde o mesmo orienta a escola a criar um ambiente de diálogo cultural,
percebendo a cultura na sua totalidade e o uso de materiais como: fontes vivas, livros,
revistas, jornais, fotos, etc. Embora esses conteúdos das diferentes culturas estejam ligados à
história e a geografia, eles referem-se também a ciências naturais (etnoconhecimentos), língua
portuguesa (expressões regionais), arte e educação física (Expressões culturais).
A organização por ciclo nos permite organizar os conteúdos que serão trabalhados
no 1° e no 2° ciclo. No 1° ciclo a criança aprenderá mais pelo convívio e pelo intercâmbio,
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percepção das linguagens, intermédio por meio de programas de televisão, reportagens na
imprensa escrita, etc. Propor atividades apresentando situações vividas por personagens
fictícios.
O 2° ciclo vai trabalhar a constituição da pluralidade cultural no Brasil, o estudo das
regiões, localização de diferentes grupos étnicos, os professores aproveitam as informações a
cerca da cultura do país, valoriza o repertório e a integração entre o vivido e o aprendido, traz
para a sala de aula o repertório lingüístico e cultural e os repertórios construídos nas relações
familiares e comunitárias. Já as expressões culturais precisam ser criadas em classe com os
alunos.
Foi constatado que os materiais didáticos apresentam alguns erros, isso é preciso ser
revisto como, por exemplo: As informações que traziam sobre a existência de uma
organização social única e comum a todos os índios. O intercâmbio com instituições,
organizações governamentais e não governamentais segundo o documento propicia os alunos
contato direto com grupos humanos distintos do seu ou daqueles com os quais convive. A
abordagem didática da pluralidade cultural deve encaminhar-se para facilitar a compreensão
da criança de que normas e regulamentos, leis são estabelecidas pelas pessoas como formas de
organização da vida coletiva. Os documentos jurídicos serão trabalhados adequados á série.
Marilda Aparecida Behrens fala que
A metodologia na abordagem tradicional caracteriza-se enfaticamente pelas aulasexpositivas e pelas demonstrações que o professor realiza perante a classe. Naabordagem tradicional, a ênfase no ensinar não abriga necessariamente a aprender.Referendada por uma visão cartesiana, a metodologia fundamenta-se em quatropilares: escute, leia, decore e repita. A exposição oral dos conteúdos feita peloprofessor visa ao produto da aprendizagem. (BEHRENS, 2005. p. 43).
Percebe-se que então que o PCN – “Pluralidade Cultural” apresenta avanços nas
questões metodológica do ensino, em comparação a metodologia na abordagem tradicional.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que o PCN Pluralidade cultural apresenta-se não como um
procedimento mas como um currículo prescritivo. No qual foram percebidas por meio da
observação, que alguns professores não demonstraram interesse de se trabalhar essas
temáticas plurais na sala de aula, sendo possível constatar que o ensino se restringe as
proficiências do ensino de português e matemática. Embora o PCN Pluralidade cultural
apresente um padrão curricular comum que não vão contribuir para diminuir as diferenças, o
PCN Pluralidade Cultural, foi uma conquista em favor da educação. Entendemos que
parâmetro deva é algo flexível e não obrigatório. No entanto, as reflexões sobre o PCN
Pluralidade cultural apresentam um grau de diretividade, ligados diretamente aos currículos
escolares, onde são especificados objetivos, conteúdos, avaliação e até mesmo metodologia.
Embora o PCN “Pluralidade Cultural” seja apresentado como cortes temáticos e não cortes
transversais apresentam certa relevância diante da transversalidade, porque pelo menos
percebemos uma tentativa de se articular um tema com as demais disciplinas. Quanto o
processo de avaliação o documento não menciona uma direção, mas um processo que se
restringe na observação, o que aparenta ser uma forma democrática de se avaliar. Em suma,
entendemos que na verdade o conceito de transversalidade e disciplinaridade ainda não foram
compreendidos. Vimos também que a implementação de todos os PCNs, foi desde o início
comprometido por terem sido elaborados por especialistas isolados, sem englobar os
principais interessados como: professores, pesquisadores, alunos, pais e todos os setores e
grupos envolvidos na educação. Se os professores não participaram da sua elaboração,
consequentemente não terão interesses em refletir e agir sobre o mesmo. Sabemos que o curso
de formação não proporciona ao mesmo conhecimento suficiente para analisar e criticar se um
documento nacional faz sentido. Para a implantação de uma proposta é preciso que os
professores tenham tempo e um grupo de estudo, e sabemos que esta não é a nossa realidade.
A conclusão final que chegamos é que um currículo nacional não garante a qualidade da
educação, é preciso um currículo local elaborado e implantado no seio de cada
estabelecimento escolar, visando uma articulação entre os demais. Que as políticas públicas
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entendam que se faz necessário a valorização do professor, escolas bem equipadas com
materiais adequados aos temas transversais como a pluralidade cultural.
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