Ultra Trail dos Abutres Ultra Trail dos Abutres é uma prova de 45 km (na realidade foram 49 km) disputada em Mirando do Corvo e classificada pela ATRP (Associação Trail Running Portugal) como UT/MD (ultra muito difícil).

Para esta prova inscreveram-se 11 atletas do Clube tendo terminado 10 deles, com tempos de prova compreendidos entre as 07h58 e as 10h49. A organização avisou previamente que esta prova seria disputada em condições especialmente difíceis devido ao temporal que assolou o País no fim de semana anterior, com quedas de árvores e chuvas intensas, deixando o terreno especialmente escorregadio e perigoso, o que à partida eram os ingredientes perfeitos para uma prova mais de aventura do que trail rolante. Esta situação confirmou-se, o terreno era de facto de difícil progressão com escorregadelas permanentes ao longo de praticamente todo o percurso, à exceção das zonas em quotas superiores. O facto de se tratar de uma prova com desnível positivo de mais de 2300 metros para uma distância de 45 km implica que se esteja permanentemente a subir e a descer pela serra o que coloca os atletas em permanente mudança de cenário. Nas quotas elevadas temos dois pontos mais altos da prova, são 900 metros aos km 19 e km 33, com paisagens deslumbrantes; nas quotas mais baixas temos de tudo um pouco: rios, riachos, cascatas naturais, descidas e subidas com lama permanente, passagens apoiadas por correntes e cabos e muita pedra à mistura. A travessia de riachos com correntes fortes foi uma permanente, o que tornou a prova especialmente divertida e também algo perigosa: era preciso ter precisão na forma de abordar estas passagens e na colocação dos pés, para não entrar em falso nos riachos, com os participantes sujeitos a quedas complicadas. Mas tudo isto torna esta prova especial e classificada por muitos com uma das mais emblemáticas em Portugal, representando muito bem o espírito do trail e também como se deve organizar provas deste género. Tenho que felicitar a organização dos Abutres que esteve muito bem na sinalização, abastecimentos, pronto socorros e simpatia. As restantes organizações só têm que aprender com os bons exemplos. A prova

Em relação ao desenrolar da prova propriamente dita, esta começou à 08h30 com partida do pavilhão desportivo de Miranda do Corvo, direitos ao Cristo Rei, onde se acumula uma grande quantidade de atletas para descer as escadas do calvário. De seguida passamos um conjunto de pontes de madeira em direção ao parque biológico – quinta da paiva e depois entramos em floresta cerrada, para alguns km depois começar a primeira verdadeira subida - são 530 metros desde o km 10 ao km 15!

Nesta fase já deu para perceber o que nos esperava, já tínhamos passado por ribeiras, trilhos técnicos, parque biológico com animais raros, o parque florestal das mestrinhas, locais de grande beleza, uma grande variedade de situações, até à chegada do primeiro pico da prova - o parque eólico ao km 19 chegando aos 900 metros de altitude. Antes, parámos no 2º posto de abastecimento com direito a chá de limão bem quente, que a mim soube maravilhosamente: tinha tudo o que era preciso para aquecer o corpo e açúcar quanto baste!

A seguir tivemos a oportunidade de apreciar o Sol, que afinal deu a sua graça, tornando assim mais fácil a visibilidade e aligeirando a situação de dificuldade, já que a chuva até ameaçou em aparecer no arranque da prova, mas tal não se confirmando mais tarde. Após a chegada ao parque eólico deslumbramo-nos com uma paisagem para norte: Coimbra, Vale do Mondego até à Figueira da Foz, e no horizonte as Serras da Boa Viagem, Buçaco, e Caramulo! A seguir temos uma descida em corta-fogo que faz aquecer as pernas pelo seu desnível negativo, mas era o que nos esperava lá em baixo, percursos muito técnicos até chegar à pista de downhill ao km 25. Esta descida é em single-track com a inclinação a ultrapassar os 30% até chegar ao Santuário da Sra. da Piedade de Tábuas, o local do 3º abastecimento: aqui tivemos direito a sopa quente caseira; mais uma vez a organização teve cuidado em tratar bem os atletas, até nos sentíamos em casa com a permanente simpatia e simplicidade das pessoas!

Partimos para a segunda parte da prova, pensando eu que o pior já tinha passado; enganei-me, dos km 25 ao 29 o percurso é altamente técnico, com momentos de quase escalada; aqui os bastões de nada servem, temos que nos agarrar bem às rochas; após esta etapa somos agraciados por inúmeras cascatas naturais com muita água, o barulho que elas fazem é impressionante, por momentos até me apeteceu tomar banho para limpar a lama, mas não valia a pena, pois lama era o que não faltava mais à frente.

Quando chegamos ao km 27, começámos a nossa subida para o segundo pico da prova, novamente o parque eólico, mas agora a subida é feita pelo lado oposto e chegamos aos 900 metros de altitude: aqui já começa a fazer frio. Tal como o Edu me ensinou, nunca parar lá em cima, é descer rapidamente para o corpo não perder temperatura; nesta fase a capacidade de gerar temperatura já é menor, por isso não arrisquei, desci rapidamente até ao trilho que corta a encosta para depois entrarmos numa das recentes criadas pistas de downhill. Perto do km 35 iniciamos uma subida intensa ao Penedo dos Corvos para chegarmos à Aldeia de Gondramaz - muito tradicional e única, tem apenas quatro habitantes permanentes e as restantes habitações para férias; aqui sou surpreendido pelo meu colega de treino, o Miguel Cruz e o “maluco” do Hélder; eu, que tinha feito a prova sempre sozinho, ia ter finalmente companhia! Assim torna-se tudo mais fácil para a derradeira descida até à meta. Mas até lá ainda tínhamos mais uma subida, mais uns riachos e muitos trilhos técnicos e foi aqui que, por momentos, pensei que tinha comprometido a minha prestação com uma pedra que num riacho lembrou-se de bater com toda a força no meu tornozelo; mais à frente a cena repete-se, no mesmo tornozelo! Parei por uns segundos para recuperar, mas retomei – “isto não me podia afetar”: na verdade ainda nos esperavam muitos trilhos técnicos, mas nada me fazia parar, a prova continuava divertida, eu era capaz de continuar por muitas mais horas! No km 40, lá chegámos ao último abastecimento, onde o Hélder é presenteado por uma grande ovação de padrinhos, amigos e enteados, etc., não fosse ele uma figura muito especial, e de repente dou por mim em amena cavaqueira com o pessoal da organização a beber uma jola fresquinha, em pleno convívio; por momentos esqueci-me que estava em prova! Bom, vamos a isto, os derradeiros 5 km para entrar na vila; aqui foi sempre a fundo, eu e o Miguel a puxar pelo Hélder que estava a aguentar-se, que lá ia dizendo “estou a ir”. Deixámo-nos de brincadeiras para terminar antes de escurecer e evitar ter de ligar o frontal: assim foi, terminámos com grande conforto físico e sem quedas de maior, com 09h20 de prova. Eu terminei com um dos meus parceiros de treino, nada mais perfeito; o Hélder veio logo a seguir, e assim foi a minha primeira experiência na Serra da Lousã que me deixou com água na boca pela próxima!

Saudações trilhisticas J. Farinha

Classificações dos atletas do MBCP: 132º NUNO DIAS 07:58:50 133º MANUEL RODRIGUES 07:58:51 145º VITOR GOMES 08:13:54 166º CARLOS SERRANO 08:29:06 170º EDUARDO FERREIRA 08:30:02 214º HUGO LUZ 08:57:14 264º MIGUEL CRUZ 09:20:00 265º JOSE FARINHA 09:20:00 267º HELDER BAPTISTA 09:22:18 345º PAULO CAETANO 10:49:38 Fotos da prova: https://plus.google.com/photos/107679397117543364175/albums/5838622141035491761?authkey=CJLQwK6a962BV1 Video da prova http://www.youtube.com/watch?v=f83vxGcRu04 Track GPS http://connect.garmin.com/activity/266702677#.UQb6CpsVl_w.email