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UIVERSIDADE CADIDO MEDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SESU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AGROIDÚSTRIA CAAVIEIRA BRASILEIRA: DESEVOLVIMETO E SUSTETABILIDADE Por: Marluce Tavares da Silva Martins Orientador Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço Rio de Janeiro 2010

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U�IVERSIDADE CA�DIDO ME�DES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AGROI�DÚSTRIA CA�AVIEIRA BRASILEIRA:

DESE�VOLVIME�TO E SUSTE�TABILIDADE

Por: Marluce Tavares da Silva Martins

Orientador

Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço

Rio de Janeiro

2010

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U�IVERSIDADE CA�DIDO ME�DES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AGROI�DÚSTRIA CA�AVIEIRA BRASILEIRA:

DESE�VOLVIME�TO E SUSTE�TABILIDADE

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes

como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em

Gestão no Setor de Petróleo e Gás.

Por: Marluce Tavares da Silva Martins

FOLHA DE ROSTO

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AGRADECIME�TOS

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus e aos

meus pais que direta ou indiretamente sempre me

apoiaram para que eu concluísse mais esta

importante etapa na minha vida acadêmica.

As minhas amigas: Marli e Aíla pelo incentivo e

apoio para a realização deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

A Marcello meu esposo e a Thaís minha filha, que

por muitas vezes abdiquei do convívio para que fosse

possível a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

Este trabalho tem como o objetivo avaliar a inserção e a importância do álcool da cana-de-açúcar no Brasil, bem como a necessidade de alternativas de fontes de energia renováveis. Em um cenário no qual há escassez de combustíveis fósseis e os problemas ambientais causados pela emissão de poluentes tem aumentado de forma significativa, os biocombustíveis surgem como alternativa capaz de promover o desenvolvimento e a sustentabilidade. Tendo o Brasil tradição no cultivo da cana-de-açúcar e todo conhecimento para processar e utilizar todos os insumos advindos desta cultura para obtenção de energia, o país se destaca internacionalmente. O recurso que possui maior capacidade de conversão em bioenergia em energia elétrica no país ainda é o bagaço de cana-de-açúcar e com o uso do álcool como aditivo à gasolina, o Brasil foi o primeiro do mundo a eliminar totalmente de sua matriz de combustíveis o chumbo tetraetila - substância tóxica que causa danos ao meio-ambiente. Neste trabalho será mencionada a trajetória da cana-de-açúcar no Brasil, bem como, fatores sociais, econômicos e ambientais que envolvem esse tipo cultivo.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada estará centrada na pesquisa exploratória de ordem teórica

viabilizada, portanto, através de levantamento bibliográfico, utilizando livros, jornais e a web.

Alguns dos autores utilizados são: Reynaldo Barros, João Paulo de Almeida Magalhães e

Jaime Rotstein.

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SUMÁRIO

FOLHA DE ROSTO ................................................................................................................... 2

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ 3

DEDICATÓRIA ......................................................................................................................... 4

RESUMO .................................................................................................................................... 5

METODOLOGIA ....................................................................................................................... 6

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ............................................................................................................................. 10

PRIMEIRA FASE DO CICLO CANA-DE-ACÚCAR NO BRASIL ...................................... 10

CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 13

CAPÍTULO III .......................................................................................................................... 21

ASPECTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS AO ÁLCOOL BRASILEIRO............... 21

CAPÍTULO IV .......................................................................................................................... 25

AVALIAÇÃO GERAL E PERSPECTIVAS............................................................................ 25

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 37

BIBLIOGRAFIAS .................................................................................................................... 38

ÍNDICE ..................................................................................................................................... 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO ...................................................................................................... 41

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I�TRODUÇÃO

O tema deste trabalho é a Agroindústria canavieira brasileira: desenvolvimento e

sustentabilidade.

A questão central que envolve esta pesquisa consiste em avaliar se seria possível

amenizar a escassez de fontes de energia promovendo a expansão canavieira como alternativa

de energia limpa mantendo o desenvolvimento sustentável. O tema sugerido é de fundamental

relevância, pois o petróleo tem sido utilizado em larga escala como a principal fonte de

energia. Atualmente, existem inúmeros produtos que possuem como insumo principal,

derivados de hidrocarbonetos. Desde o nascimento da indústria automobilística a valorização

do barril tem servido para estimular políticas de economia de energia, considerando que esta é

uma fonte esgotável e que a queima de matéria-prima fóssil tem causado danos ao meio-

ambiente, como por exemplo, o aquecimento global provocado pelo gás carbônico e por

outros gases lançados na atmosfera pela combustão de derivados de petróleo, busca-se, então,

novas alternativas fontes de energia.

O conteúdo deste trabalho está dividido em quatro capítulos – o primeiro descreve a

trajetória da cana-de-açúcar no Brasil na época da colonização, bem como sua participação na

economia. O segundo capítulo visa discutir sobre o Programa Nacional do Álcool –

PROÁLCOOL, que foi desenvolvido para amenizar um desequilíbrio externo causado pela

crise do petróleo. De acordo com Magalhães (1991, p. 14), essa fase se estende essencialmente

de 1975 a 1986. No terceiro capítulo serão discutidas as vantagens e desvantagens da cana-de-

açúcar como fonte de energia, neste âmbito serão explanadas as questões econômicas e sociais

decorrentes do seu cultivo e industrialização. No quarto capítulo busca-se identificar as

realizações e perspectivas da agroindústria canavieira brasileira, bem como, as ferramentas

que podem ser utilizadas para favorecer o desenvolvimento sustentável em um cenário no qual

a demanda por energia tem aumentado de maneira desordenada gerando impactos negativos ao

meio-ambiente.

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Portanto, este trabalho discute os novos desafios e novas oportunidades para indústria

canavieira como fonte geradora de desenvolvimento mantendo, ao mesmo, tempo a

preocupação com as causas ambientais.

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CAPÍTULO I

PRIMEIRA FASE DO CICLO CA�A-DE-ACÚCAR �O BRASIL

“A cultura açucareira foi a grande responsável pelo desenvolvimento do Brasil durante os

primeiros anos de colônia. E é coerente afirmar que dessa atividade agrícola criou-se a base do

que hoje é a nação brasileira em termos políticos, sociais e culturais”. (BARROS, 2007, p. 23).

1.1 Início do cultivo da cana-de-açúcar e seus fatores de êxito

Em meados do século XVII, época da colonização do Brasil, o cultivo da cana-de-

açúcar foi a base da economia do nordeste brasileiro. Essa atividade permitiu que Portugal

tornasse viável economicamente a ocupação das terras brasileiras, tornando possível o

atendimento das necessidades mais imediatas da coroa portuguesa que era a colonização e o

povoamento das terras recém descobertas, já que outras nações européias começavam a

demonstrar interesse de conquistá-las. Em 1532, foi fundada a Vila de São Vicente no litoral

paulista, iniciando-se nos seus arredores a plantação da cana-de-açúcar e a construção dos

primeiros engenhos para sua transformação no produto a ser comercializado. Os altos lucros

obtidos com a exploração da cana-de-açúcar permitiram que a atividade se expandisse

rapidamente em direção ao Norte, fixando-se principalmente nas costas nordestinas. A

atividade canavieira se tornou a mais importante do nordeste devido a diversos fatores como: o

clima (temperatura e umidade), a topografia e o tipo de solo favorável, a mata fornecia

madeira para as construções e para combustão, os rios serviam como vias de comunicação e

transporte e como fontes de energia. Além disso, a região Nordeste era a porção da colônia

mais próxima da metrópole, o que favorecia a atividade comercial. O sistema colonial no

Brasil baseou-se na exploração do açúcar, sendo a lucratividade do empreendimento garantida

pelo aproveitamento máximo da terra, com o menor custo de produção possível. A principal

força de trabalho utilizada foi a da mão-de-obra escravizada e os índios foram os primeiros a

trabalharem para os senhores da cana, mas posteriormente os africanos também foram

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submetidos a essa condição. A mão-de-obra escrava era alicerçada em práticas que contrariam

os direitos humanos, com direito de até dezoito horas de jornada de trabalho, severas punições

para os que desobedecessem ao dono do engenho.

Nasciam então a casas-grandes e as senzalas, dois universos paralelos, porém,

distintos.

As senzalas abrigavam os escravos. Eram quartos pequenos, sem divisórias internas e

sem ventilação e em geral habitadas por um número de pessoas que excedia sua capacidade.

As casas-grandes acolhiam a família do senhor de engenho, porém também era

freqüentada pelos escravos que se ocupavam nos serviços domésticos. A exploração da terra

baseada na grande propriedade, monocultura e escravidão geraram uma sociedade

caracterizada pela desigualdade e concentração de poder econômico nas mãos de uma minoria.

Incentivos foram concedidos àqueles que instalassem engenhos como: isenções de tributos,

honraria e títulos, garantia contra penhora dos instrumentos de produção etc. Como menciona

Furtado (1985, p. 41), a escravidão demonstrou ser, desde o primeiro momento, uma condição

de sobrevivência para o colono europeu na nova terra.

Para Furtado (1985, p. 42), o fato de que desde o começo da colonização algumas

comunidades se hajam especializado na captura de escravos indígenas põe em evidência a

importância da mão-de-obra nativa na etapa inicial de instalação da colônia. A mão-de-obra

africana chegou para a expansão da empresa, que já estava instalada. É quando a rentabilidade

do negócio está assegurada que entram em cena, na escala necessária, os escravos africanos:

base de um sistema de produção mais eficiente e mais densamente capitalizado.

Superadas essas dificuldades da etapa de instalação, a colônia açucareira se desenvolve

rapidamente. Ao terminar o século XVI a produção de açúcar superava os dois milhões de

arrobas, sendo umas vinte vezes maior que a quota de produção que o governo português

havia estabelecido um século antes para as ilhas do Atlântico.

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1.2 Declínio da colonização portuguesa

Segundo Furtado (1985, p. 32), a evolução da Colônia Portuguesa, a partir da segunda

metade do século XVII será profundamente marcada pelo novo rumo que toma Portugal como

potência colonial. Na época em que esteve ligado à Espanha, perdeu esse país o melhor de

seus entrepostos orientais, ao mesmo tempo em que a melhor parte da colônia americana era

ocupada pelos holandeses. Ao recuperar a independência, Portugal encontrou-se em posição

extremamente difícil, pois a ameaça da Espanha – que por mais de um quarto de século não

reconheceu essa independência – pesava permanentemente sobre o território metropolitano.

Por outro lado, o pequeno reino, perdido o comércio oriental e desorganizado o mercado do

açúcar, não dispunha de meios para defender o que lhe sobrara das colônias numa época de

decrescente atividade imperialista.

No fim do século XVII, os níveis de exportação de açúcar decrescem

consideravelmente devido à ocupação de Portugal pela Espanha rompendo o antigo sistema de

parceria comercial e quebrando o monopólio português no setor açucareiro. A Holanda

começou a produzir açúcar na América Central, com preços mais baixos e com maior

qualidade, em função disto a exportação do açúcar brasileiro caiu. A Revolução industrial e

idéias iluministas que divergem com o regime escravista reforçam o declínio da produção

açucareira. A partir de então, vieram outros ciclos econômicos como o do ouro e o plantio da

cana-de-açúcar passou a servir apenas como garantia de posse de terras.

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CAPÍTULO II

PROGRAMA �ACIO�AL DO ÁLCOOL – PROÁLCOOL

2.1 PROÁLCOOL: origem

Segundo Magalhães (1991, p. 14), a partir de 1973 ocorreram sucessivos choques de

petróleo, levando o seu preço de 3 dólares a cerca de 30 dólares o barril, a importação de

combustíveis e lubrificantes passou de 769 milhões de dólares em 1973 para 2.962 milhões de

dólares em 1974. Em 1979 o valor dessas importações sobe para 10.200 milhões de dólares,

com isso a dívida externa líquida cresce rapidamente. Como uma medida para amenizar o

desequilíbrio da balança comercial foi implantado o Programa Nacional do Álcool. Criado

pelo general Ernesto Geisel, por meio do Decreto 76.593, de 14 de novembro de 1975,

visando gerar insumos para a produção de combustível.

O PROÁLCOOL consistiu em uma política de substituição de importações que nos

permitisse, a prazo médio, atender ao serviço da dívida. Com respeito ao petróleo o esforço

substituidor se desenvolveu em duas linhas: substituição direta do insumo, através da

identificação e exploração de jazidas dentro do país e busca de combustíveis alternativos.

A segunda linha manifestou-se na tentativa de encontrar alternativas para os três

derivados mais importantes do petróleo, a saber, óleo diesel, óleo combustível e gasolina.

Foram, assim, lançados três programas que se propunham a substituir esses derivados, o

PROÓLEO (óleo diesel), o PROCARVÃO (óleo combustível) e o PROÁLCOOL (gasolina),

porém o único que teve sucesso foi o PROÁLCOOL.

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2.2 PROÁLCOOL: fatores favoráveis

Alguns fatores favoreceram a implantação do PROÁLCOOL, são eles:

§ a existência de uma enorme estrutura para a fabricação do álcool, pois o Brasil já era

grande produtor de açúcar extraído da cana há 400 anos. A tradição brasileira neste

setor é tão significativa que sua tecnologia foi adotada pelas principais agências de

desenvolvimento do Hemisfério Ocidental, sendo considerada a fonte de dados

técnicos relacionados a essa indústria;

§ o fato de dispormos de importante setor açucareiro capaz de se adaptar rapidamente à

produção de álcool através de destilarias anexas, pois as usinas deveriam apenas ser

ampliadas e adaptadas para nova realidade;

§ os baixos preços do açúcar ligados à crise estrutural generalizada do setor açucareiro

(grandes estoques mundiais, superprodução crônica etc.);

§ segundo Barros (2007, p. 48), na época a ociosidade de 20% da capacidade das usinas

o que isentou os usineiros e o governo de mais gastos;

§ facilidade do Brasil de produzir álcool, face a disponibilidade de solo, água e mão-de-

obra. O Brasil é, provavelmente, o único país na América do Sul que tem o potencial

em terras agricultáveis e clima para produzir, em larga escala, álcool combustível de

biomassa, capaz de atender às suas próprias necessidades internas, conforme a um

modelo energético ajustado à sua utilização intensiva e, ao mesmo tempo, produzir

excedentes significativos para exportação;

§ as terras agricultáveis no Brasil permanecem, em sua maioria, sem ser cultivadas, e a

mão-de-obra agrícola é subutilizada nas vastas extensões do planalto central onde a

cultura de cana-de-açúcar pode desenvolver-se.

Todos esses fatores contribuíram para a implantação do programa, fazendo com que a

produção ocorresse de forma rápida e a custos baixos.

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2.3 Evolução do PROÁLCOOL

2.3.1 1ª Fase

Segundo Barros (2007, p. 49) na primeira fase, que compreende os anos de 1975 a

1979, a produção de álcool anidro para ser misturado à gasolina promoveu a produção

alcooleira tendo um crescimento de mais de 500%.

Em 1978 surgiram os primeiros carros movidos somente a álcool. Os motores tiveram

o material dos tubos substituído; o calibre do percurso de combustível teve de ser aumentado;

por causa do poder calorífico do álcool, foi necessário instalar injeção auxiliar a gasolina para

a partida a frio; e o carburador teve de ser feito com material anticorrosivo, assim como a

bomba de combustível, que passou a ser composta de cádmio. Nesta fase procurou-se atender

a duas finalidades: enfrentar a crise nos preços do açúcar e reduzir o consumo de gasolina.

Conforme cita Magalhães (1991, p. 18), os resultados iniciais, todavia, foram lentos. O

enquadramento de projetos do PROÁLCOOL (ou seja, sua aprovação para se candidatarem a

financiamentos e vantagens oferecidas pelo Governo) já apresentou cifras significativas no

período anterior a 1979, conforme demonstra a tabela II-1. Contudo, o aumento total da

produção entre as safras de 1975/76 e 1978/79 o incremento da produção não chegou a 2.000

milhões de litros-ano, como podemos verificar na tabela II-2.

O esforço principal coube às destilarias anexas. Os resultados do PROÁCOOL

tomavam essencialmente a forma de aumento na mistura de álcool anidro com gasolina.

Conforme cita Magalhães (1991, p. 18), em 1976, a mistura em São Paulo, no Nordeste, Rio e

Norte do Pará ficava entre 10% e 15%.

Neste período, os resultados relativamente limitados se explicam não somente pela

inexperiência do Governo brasileiro em administrar um programa de tamanha amplitude,

como também pelo fato de que o impacto inicial do choque do petróleo, de 1974, começou a

arrefecer.

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TABELA II-1 BRASIL

Evolução do enquadramento de projetos no PROÁLCOOL

ANO Nº de Projetos CAPACIDADE DE PRODUÇÃO

(milhões de litros)

No Ano Acumulado No Ano Acumulado 1975 02 2 54,5 54,5 1976 69 71 1.540,6 1.595,1 1977 39 110 1.059,8 2.654,9 1978 59 169 1.388,8 4.043,7 1979 37 206 855,9 4.899,6 1980 91 297 2.140,6 7.040,2 1981 56 353 1.176,9 8.217,1 1982 39 392 769,5 8.986,6 1983 73 465 1.357,6 10.344,2 1984 80 545 1.381,5 11.725,7 1985 15 560 271,1 11.996,8 1986 08 568 152,7 12.149,5 Fonte: CENAL – (*) até dez/86

TABELA II-2 BRASIL

Evolução da produção de álcool – safras 1970/71 a 1986-1987 (em 106 litros)

SAFRAS ANIDRO HIDRATADO TOTAL 1970/71 252,4 384,8 637,2 1971/72 390,0 223,1 613,1 1972/73 388,9 292,1 681,0 1973/74 306,2 259,8 566,0 1974/75 216,5 408,5 625,0 1975/76 232,6 323,0 555,6 1976/77 300,3 363,7 664,0 1977/78 1.176,9 293,4 1.470,3 1978/79 2.095,9 395,0 2.490,9 1979/80 2.712,4 671,4 3.383,8 1980/81 2.104,0 1.602,1 3.706,1 1981/82 1.413,2 2.750,2 4.163,4 1982/83 3.549,7 2.273,6 5.823,3 1983/84 2.466,7 5.394,0 7.860,7 1984/85 2.103,0 7.149,0 9.252,0 1985/86 3.200,0 8.621,0 11.821,0 1986/87 2.193,0 8.220,0 10.413,0 Fonte: IAA

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2.3.2 2ª Fase

De acordo com Rotstein (1985, p. 37), o PROÁLCOOL entrou numa segunda etapa

diante de um novo choque do petróleo (1979-1980), com um novo aumento drástico de suas

cotações, teve o efeito de alertar para a gravidade do problema, o que sempre se buscou

esquecer logo que possível. De imediato, ele provocou novamente a elevação brutal da

despesa de importação, de 13,7 bilhões de dólares em 1978 para 23 bilhões em 1980.

Consequentemente, o déficit em conta corrente atingiu, neste último ano, 12,9 bilhões de

dólares. Com o preço do barril chegando a US$ 60 a as compras desse produto passando a

representar 46% da pauta de importações brasileiras em 1980, o Governo resolveu, então,

apressar a implementação do PROÁLCOOL. Segundo Magalhães (1991, p. 19), apenas nesse

momento o Governo brasileiro toma plena consciência da gravidade e permanência de crise

petrolífera, adotando medidas destinadas à plena ativação do mesmo. São criados o Conselho

Nacional do Álcool – CNAL, e a Comissão Nacional do Álcool – CENAL, destinadas a

agilizar o programa. Para Barros (2007, p. 49), as ações deram resultado e, em 1986/1987, a

produção alcooleira atingia um pico de 12,3 bilhões de litros.

O balanço da primeira década do PROÁLCOOL, segundo o governo, era positivo.

Além dos recordes da safra, o sistema sucroalcooleiro gerava 800 mil empregos diretos e 250

mil indiretos. Em 1978, o Brasil dava início à exportação de álcool para o Japão e os Estados

Unidos. Junto com o aumento da produção do combustível, crescia a proporção de carros a

álcool no total de automóveis produzidos no país. Em 1979, o índice de carros a álcool era de

0,46%, mas um ano depois já estava em 26,8%, chegando a 76,1% em 1986.

2.3.3 3ª Fase

Segundo Barros (2007, p. 50), em 1986, mudanças no setor petrolífero acarretaram a

queda de preço no valor do barril de óleo bruto, o que impossibilitou o aumento da produção

interna do etanol e a escassez de recursos públicos para subsidiar programas de estímulos aos

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biocombustíveis atingiu ainda mais a indústria do álcool. Entre 1989 a 1990, a gasolina ainda

era mais cara que o álcool, gerando filas nos postos de abastecimento, pois desta forma os

consumidores continuavam sendo estimulados a utilizarem o álcool. Neste período a oferta de

álcool não atendia a demanda, causando falta de credibilidade, logo em 1990 a indústria

automobilística passou a priorizar a produção de modelos de motores nas versões a gasolina.

De acordo com Magalhães (1991, p. 25), o fato de o PROÁLCOOL ter revelado

desempenho excepcionalmente favorável, atingindo todos seus objetivos, não impediu que,

após 1986, ele se tornasse objeto um quase abandono e mesmo de medidas negativas de parte

das autoridades brasileiras. Isso se explica por dois fatores gerais e um específico do setor.

O primeiro fator, de caráter geral, foi a volta da recessão que marcara os primeiros

anos da década de oitenta, com seus colários de corte de investimentos, queda de produção e

abandono de programas considerados não prioritários.

O segundo fator de caráter geral tomou a forma da aceleração do surto inflacionário

que do ritmo anual (IGP-DI) de 142,3% em 1986, passa nos anos seguintes, para 224,8% 1m

1987, 676,9% em 1998, 1.782,95% em 1989 e 1.476,6% em 1990.

Como fator específico tivemos a queda do preço do petróleo. O barril do óleo cru

(árabe-leve) declina de 26,81 dólares em 1985 para 17,49 dólares em 1987, 15,10 dólares em

1988, 18,20 dólares em 1989 com uma pequena recuperação para 23,07 dólares em 1990.

Dentre os danos causados ao setor, o mais grave foi a contenção de preços justificada,

em última análise, como forma de evitar evolução desfavorável da espiral inflacionária. O

preço do álcool anidro, barril, declinou após 1985, conforme Magalhães (1991, p. 26):

§ 1985 US$ 53 § 1986 US$ 42 § 1987 US$ 45 § 1988 US$ 38 § 1989 US$ 32 § 1990 US$ 29

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2.3.4 4ª Fase

Para Barros (2007, p. 51), nesta etapa, há uma redefinição de prioridades. Com o álcool

em baixa e os usineiros com prejuízo chegando a US$ 5 bilhões, as fases de produção são

liberadas, passando a dar prioridade ao açúcar que na época tinha alta de cotação no mercado

internacional. De cerca, de 1,1 milhões de toneladas de açúcar que o país exportava em 1990,

passa-se à exportação de até 10 milhões de toneladas por ano. Dessa forma, o Brasil passa a

dominar o mercado internacional e barateia o preço do produto.

O álcool teve uma sobrevida nos postos de gasolina. Os consumidores optaram pelo

carro a álcool devido aos preços adotados, que se encontravam mais baratos em relação aos da

gasolina. Entretanto, a retirada dos incentivos propostos pelo PROÁLCOOL voltou a provocar

uma série de dificuldades aos produtores. Muitas usinas fecharam as portas, provavelmente

despreparadas para funcionar sem subsídio do Governo.

2.3.5 5ª Fase

Neste início de século a crescente necessidade de preservação o meio ambiente, leva a

busca da substituição dos combustíveis fósseis pelos biocombustíveis, neste cenário surgem os

automóveis com motor flex-fuel, movido a álcool ou a gasolina simultaneamente. O país volta

então a oferecer em grande escala o combustível alternativo, que também é utilizado na

mistura à gasolina comercializada.

A primeira produção em série de carros com motor a álcool saiu da linha de montagem

da Fiat 147.

Como menciona Barros (2007, p. 52), beneficiados pelo PROÁLCOOL, usineiros da

Coopersucar, o maior conglomerado de usinas do país, investiram na criação do Centro de

Tecnologia da Cana (CTC), que chegou a contar com US$ 20 milhões anuais para pesquisas.

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O CTC reunia especialistas brasileiros, norte-americanos e sul africanos e possuía estações de

pesquisa em sete cidades, com 1.800 pessoas envolvidas.

O álcool combustível começou um novo renascimento neste início de século com a

fabricação dos automóveis com motor flex-fuel, movidos tanto a álcool quanto a gasolina.

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CAPÍTULO III

ASPECTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS AO ÁLCOOL

BRASILEIRO

Com mais investimentos, o álcool deve voltar a ser o principal combustível do Brasil, trazendo benefícios ambientais a todo o planeta. Todo o Know-how já adquirido na produção desta fonte renovável de energia pode ser potencializado e ampliado, com pesquisas e estudos técnicos. Além de baratear o custo da manutenção de um automóvel, a energia limpa renderá ao Brasil dividendos...” (BARROS, 2007, p. 59).

3.1 Vantagens

O Brasil possui como vantagem grande área plantada, fazendo com que a produção

canavieira supra as demandas interna e externa. Segundo Barros (2007, p. 29), o Centro-Sul

concentra 85% do total produzido, enquanto o Nordeste atende 13%. A vantagem confere ao

país a possibilidade de produzir e abastecer o mercado durante todo o ano, devido às safras

complementares.

O país é o único do mundo que domina todos os estágios da produção, fazendo com

que sua qualidade seja superior e gere cadeia produtiva de enorme potencial de expansão.

O baixo custo de sua produção, garantido pelas máquinas utilizadas, que são movidas a

energia elétrica produzida com a queima do bagaço da cana, e pelo nível de solaridade e pela

regularidade pluviométrica do país. Além disso, o álcool garante menor dependência de

combustíveis fósseis importados e da variação de preço destes, menor emissão de poluentes e

maior geração de empregos, sobretudo no campo. O combustível permite, ainda, o

reaproveitamento dos subprodutos da cana, utilizados no próprio ciclo produtor do álcool.

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Do agronegócio da cana várias oportunidades são criadas: produção da cana-de-açúcar

em si, processamento de todos os seus derivados, serviços de pesquisa, capacitação,

assistência técnica, logística de transporte, armazenamento, comercialização e exportação.

Outro fator que podemos destacar é o interesse do setor privado em buscar

urgentemente soluções energéticas que preservem o meio ambiente.

Fatores como a grande biodiversidade, existência de contingente de mão-de-obra,

condições climáticas favoráveis, qualidade e a diversidade do solo fazem do Brasil um forte

candidato para desenvolvimento de políticas voltadas para o álcool produzido da cana-de-

açúcar emite 25% dos poluentes em relação à gasolina. E ainda, ao crescer, a cana reabsorve

grande parte do CO2 emitido na queima do álcool.

Com a utilização do álcool como fonte de energia torna-se possível reduzir o consumo

do petróleo em 200 mil barris/dia.

A grande vantagem do álcool (ou etanol) em relação a seu principal concorrente, a

gasolina, está na forma como o combustível é obtido. No caso do álcool, trata-se de uma fonte

renovável, isto é, que pode ser produzida indefinidamente desde que haja condições mínimas,

como a disposição de sol, chuvas e terra para a plantação.

Já a gasolina é derivada do petróleo, um recurso mineral finito, que, segundo alguns

especialistas menos otimistas, pode se esgotar em cerca de 50 anos.

3.2 Desvantagens

O baixo custo na comercialização de energia elétrica produzida por meio da indústria

sucroalcooleira é motivo para o fraco interesse dos usineiros nesse setor.

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A co-geração de energia ainda é ínfima no país (geração simultânea de energia térmica

e mecânica), a partir de um mesmo combustível (gás natural, resíduos de madeira, bagaço da

cana etc).

A sazonalidade da produção canavieira limita o uso da co-geração durante todo o ano.

Os efluentes das destilarias, o principal risco refere-se ao subproduto líquido conhecido

como vinhoto ou vinhaça, causam impactos negativos ao meio-ambiente, por isso medidas de

prevenção devem ser adotadas para evitar contaminação.

As emissões produzidas pelos motores a álcool, também poluem o meio-ambiente,

sendo que é necessário confrontar a emissão produzida por alternativas, que podem ser bem

mais nocivas.

As queimadas realizadas para o plantio da cana afetam o ambiente, por isso a

conscientização dos produtores torna-se primordial neste tipo de cultivo.

O cultivo da cana-de-açúcar exige uso de poluentes na produção, como fertilizantes e

pesticidas provocam a degradação do meio-ambiente.

Esse tipo de cultivo emprega mão-de-obra pouco qualificada.

Segundo Barros (2007, p. 53), é temor de que, a para produzir o etanol, grandes

extensões de terra sejam convertidas em canaviais, em detrimento da agricultura de

subsistência e alimentos, afetando o preço dos gêneros alimentícios e as relações de trabalho

no campo.

A crítica é reforçada pelo argumento de que, assim como o efeito estufa, o uso

indiscriminado da monocultura pode trazer sérios danos ao meio ambiente. A expansão da

monocultura em muitos casos foi acompanhada pelo aumento do desmatamento, da violência

no campo e do desperdício de água.

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A oferta insuficiente de alimentos também é questionada, porém o aumento das áreas

destinadas à cana-de-açúcar dificilmente, pode ser apontado como causa deste problema. As

áreas plantadas com cana são bastante inferiores às ocupadas por outras culturas (milho e

soja).

Há ainda aqueles que defendem que, ao comparar a energia gasta na produção e no

transporte do biocombustível com a energia obtida no final, obtém-se resultado negativo. Por

não serem regulados pelo Governo Federal, o preço e, a disponibilidade de álcool variam de

acordo com o interesse dos usineiros, pois eles decidem se vão produzir álcool ou açúcar de

acordo com o preço internacional de cada produto. Os usineiros também são atacados por

proporcionarem más condições de trabalho aos cortadores de cana; fazerem uso de queimadas;

e avançarem sobre as áreas de mata nativa, podendo provocar danos irreparáveis à

biodiversidade e aos biossistemas brasileiros.

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CAPÍTULO IV

AVALIAÇÃO GERAL E PERSPECTIVAS

De acordo com Barros (2007, p. 58), o PROÁLCOOL foi o primeiro passo para a

mudança da matriz energética brasileira. De acordo com os dados do BEN de 2005, a

participação do combustível fóssil e seus derivados na oferta interna de energia caiu de 50,5%,

em 1978, para 39,1%,em 2004. Nesse mesmo período, o consumo de etanol passou de 1,9

bilhões de litros para 13,3 bilhões, um crescimento de 7,8% ao ano.

Essa mudança na matriz energética já proporciona ao Brasil indicadores de emissão

bem inferiores à média dos países desenvolvidos.

Analisando as emissões de CO2 do Brasil, pode-se verificar que elas se elevam a partir

do início dos anos 90, quando o álcool entra em declínio. A tendência se inverte a partir do

ano de 2000, quando o país volta a utilizar mais o biocombustível. No entanto, ainda não se

retornou aos patamares anteriores.

TABELA IV-1 Estrutura da oferta de energia Brasil 2005/2006

Energético 2005 2006 Energia �ão-Renovável 55,5 55,5 Petróleo e Derivados 38,7 37,8 Gás Natural 9,4 9,6 Carvão Mineral e Derivados 6,3 6,0 Urânio U3 O8 e Derivados 1,2 1,6 Energia Renovável 44,5 45,0 Energia Hidráulica e Eletricidade 14,8 14,8 Lenha e carvão Vegetal 13,0 12,7 Produtos da Cana-de-Açúcar 13,8 14,5 Outros Renováveis 2,9 2,9 Fonte: BEN 2007

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4.1 Impacto sobre o meio ambiente

No que se refere ao impacto ecológico resultante dos efluentes das destilarias, o

principal risco alegado refere-se ao subproduto líquido conhecido como vinhoto ou vinhaça.

Ele é produzido à razão de 10 a 14 litros por litro de álcool. O alto índice de demanda

bioquímica de oxigênio (DBO) do vinhoto e também a elevada temperatura em que é

descarregado faz com que, quando lançado em cursos d’água de vazão insuficiente, provoque

a rápida exaustão do oxigênio dissolvido, com sérios prejuízos para a fauna e a flora. Deve-se

observar, de início, que os gravíssimos impactos ambientais supra referidos só ocorreriam se

o produto fosse lançado aos rios, sem qualquer tratamento. Na prática, três fatores impedem

esse acontecimento:

§ existe hoje tecnologia capaz de reduzir a relação de álcool-vinhoto produzidos;

§ o vinhoto pode ser tratado para reduzir o seu DBO de 40% a 50% , ser concentrado em

lagoas anaeróbicas, o que reduz o DBO de 50% a 70% ou armazenado em condições

especiais que dispensem seu lançamento em cursos d’água;

§ o vinhoto pode ter importantes aplicações econômicas, pois pode ser utilizado para a

produção de fertilizantes, gás em biodigestores (substituindo o óleo diesel em

caminhões canavieiros) e ração animal.

Para Magalhães (1991, p. 96), com apenas 27% do gás gerado dessa forma seria

suficiente para o atendimento de toda a frota canavieira. O gás sobrante poderia ser utilizado

para a geração de energia elétrica ou para uso direto na indústria.

Impactos ambientais negativos são meramente acidentais (vazamento em lagoas de

acumulação) e tendem a se tornar cada vez mais raros diante das exigências colocadas por

órgãos públicos que aprovam os projetos do setor.

Outro efluente líquido com potencialidades poluidoras são as águas de lavagem da

cana. O impacto desse fator é, contudo insignificante em relação ao vinhoto e de correção

relativamente fácil mediante sistemas de peneiramento.

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Como impacto indireto do PROÁLCOOL temos as emissões produzidas pelos motores

a álcool. Evidentemente a avaliação do impacto negativo dessas emissões vai depender do

confronto com os resultados obtidos com motores alternativos. Os motores à álcool produzem

monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC),óxidos de nitrogênio (NOx) e aldeídos,

produtos todos com potenciais efeitos negativos sobre a saúde.

Com respeito a CO, HC e NOx as emissões dos motores a álcool são menores ou,

quando muito, iguais às dos motores à gasolina. O problema se acha, portanto nos aldeídos,

cujas emissões superam de três vezes as observadas nos motores à gasolina.

Pesquisas realizadas sobre o tema tendem a provar que o impacto ambiental da

mudança de motores à gasolina para o álcool puro, ou para a mistura álcool-gasolina,

apresenta importante impacto ambiental positivo. Ou seja, a generalização do álcool

carburante proporciona ganho líquido em termos de menor agressão ao meio ambiente.

A preocupação dos órgãos públicos, no que se refere a veículos motorizados, se

concentra essencialmente com as emissões de chumbo tetraetila, que causam danos ao meio

ambiente. Estudos realizados nos Estados Unidos e Europa demonstram que 95% da

contaminação por chumbo resulta de emissões de veículo à gasolina.

Segundo Barros (2007, p. 52), graças ao uso do álcool como aditivo à gasolina, o

Brasil foi o primeiro do mundo a eliminar totalmente o chumbo tetraetila de sua matriz de

combustíveis. Isso ocorreu em 1992, mas, desde 1989, cerca de 99% do petróleo refinado já

não usava mais o aditivo. Ao substituir o chumbo tetraetila, o álcool possibilita a preservação

do meio ambiente.

As fábricas de automóvel Ford e Volkswagen testaram emissões nos seus carros de

gasolina e álcool. Tomando as emissões do veículo à gasolina com igual a 100 os resultados

foram os seguintes:

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TABELA IV-2 Emissões de carros à álcool como porcentagem das emissões correspondentes dos carros à gasolina

Poluente Carro Volkswagen à Álcool Carro Ford à Álcool

CO 43% 57% HC 36% 76% NOx 87% 79% Chumbo zero zero Fonte:Magalhães (1991, p. 99)

O uso do álcool como combustível para veículos automotores gera economia para o

país uma vez que em veículos movidos à gasolina necessitam de dispositivos para

equipamentos antipoluição e para que a gasolina tivesse níveis de poluição iguais ao do álcool

ficando isenta de chumbo tetraetila nas refinarias de petróleo, também seria necessário alto

investimento gerando maiores gastos.

4.2 Impacto Social

O PROÁLCOOL pode ser mencionado como o maior exemplo de impacto positivo na

área social relacionado ao cultivo da cana-de-açúcar e foi justificado em sua dimensão social

pela geração de empregos na área rural.

Na determinação do emprego gerado pelo programa, temos as seguintes fontes de

emprego:

§ empregos diretos na operação de destilarias e lavouras de cana-de-açúcar;

§ empregos diretos e indiretos gerados pela aquisição de insumos destinados a atender

aos investimentos industriais, à operação industrial e operação agrícola.

De acordo com Magalhães (1991, p. 165), foram gerados 625.000 mil diretos, nas

atividades agrícolas e industrial de produção do combustível e mais 202.804 empregos diretos

e indiretos decorrentes dos insumos demandados, seja pela operação, seja pela instalação das

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unidades produtivas. Esse total seria maior se levasse em conta o emprego gerado pelo setor

automobilístico de veículos à álcool e sua demanda de insumos. Nesse caso, o emprego subiria

do total de 828.000 em 1985 para 1.325.0000.

Outras culturas, possivelmente não teriam ocupado as terras utilizadas pelo

PROÁLCOOL em toda a sua extensão, mormente nas regiões norte e nordeste, o que teria

engrossado a corrente migratória do campo para as cidades, ampliando consideravelmente os

problemas existentes na maioria dos grandes centros urbanos.

Uma indústria como a agroindústria alcooleira tem importante papel a desempenhar

pelo fato de que tende a dispersar geograficamente, isto possibilita a diminuição das

disparidades regionais em relação à distribuição de renda.

4.3 Realizações e perspectivas para o álcool brasileiro

O recurso que tem maior capacidade de conversão de bioenergia em energia elétrica no

país ainda é o bagaço de cana-de-açúcar. A alta produtividade da lavoura canavieira, somada

aos ganhos sucessivos nos processos de transformação da biomassa sucroalcooleira, tem

gerado grande quantidade de matéria orgânica sob a forma de bagaço nas usinas e destilarias

de cana, interligadas aos principais sistemas elétricos, que atendem a grandes centros de

consumo dos Estados das Regiões Sul e Sudeste. Além disso, o período da colheita coincide

com o de estiagem das principais bacias hidrográficas do parque hidrelétrico brasileiro,

tornando-se a opção mais vantajosa.

De acordo com Barros (2007, p. 80), na região Sudeste, São Paulo se destaca com uma

produção de biomassa energética a partir de cana, comparável à produção de energia

hidráulica. De acordo com o Banco de Informações de Geração da Aneel, das 275 usinas à

base de biomassa em atividade no Brasil, 231 são movidas a bagaço de cana, das quais 60%

estão em São Paulo.

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O setor sucroalcooleiro gera uma grande quantidade de resíduos, como o bagaço, palha

e vinhoto, que podem ser aproveitados na geração de eletricidade, principalmente na co-

geração. Para produção de etanol, cerca de 28% da cana é transformada em bagaço, que

equivale a 49,5% da energia gerada. O etanol corresponde por 43,2% e o vinhoto por 7,3%.

Assim mesmo, o bagaço ainda é subaproveitado nas usinas ao ser incinerado na produção de

vapor de baixa pressão, de cujo total apenas 37% destinam-se à geração de eletricidade. Não

obstante, a energia elétrica necessária para o processamento de cada tonelada de cana pode ser

gerada pelos próprios resíduos, de modo que os custos de geração já são competitivos com os

do sistema convencional de suprimento, possibilitando a auto-suficiência do setor em termos

de suprimento energético, por meio da co-geração.

Para Barros (2007, p. 54), o álcool combustível começou um novo renascimento neste

início de século com a fabricação dos automóveis com motor flex-fuel. Atualmente, a maioria

das montadoras instaladas no Brasil produz carros biocombustíveis, que em 2007 já

correspondiam a 85% das vendas de automóveis zero-quilômetro. Em 2006, a indústria

brasileira produziu 1,3 milhões de carros leves com motor flex, 977.134 à gasolina e apenas

775 à álcool. Estima-se que em 2010,os veículos flex representem 80% das vendas internas.

Diante do nível elevado das cotações de petróleo no mercado internacional, que encarece o

preço da gasolina, é provável que, cada vez mais, os consumidores dêem preferência ao álcool.

Para atender a essa demanda doméstica e às exportações, o Brasil deve estar pronto para

produzir cerca de 100 bilhões de litros de etanol combustível em 20 anos.

Além dos veículos flex, o álcool é utilizado na mistura à gasolina comercializada. Em

2007, o Governo Federal determinou que o percentual de álcool anidro adicionado à gasolina

subisse de 24% para 26%, o que representa um aumento no consumo anual do produto no país

de aproximadamente 300 milhões de litros. Esse é mais um fator de impulsão à produção de

álcool.

O entusiasmo com as possibilidades do álcool combustível já chegou também à

aviação. O CTA retomou, em 2005, pesquisas para um novo sistema de motor a álcool, desta

vez para aviões. A intenção é desenvolver um sistema de motor flex-fluel, para operar com

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gasolina de aviação e álcool. Inicialmente, os estudos, em parceria com a empresa Magneti

Marelli (especializada em sistema flex para automóveis), são para aviões a pistão de quatro

cilindros, com capacidade para até quatro passageiros.

Em outubro de 2005, um modelo T-25 usou o álcool como combustível e o vôo foi um

sucesso. A inovação seria importante em razão do preço do litro da gasolina de aviação.

Enquanto o preço médio do litro do álcool é de R$ 1,55, o da gasolina de aviação beira os R$

4,00. Em 2004, a Neiva, subsidiária da Embraer, desenvolveu o motor a álcool para avião

agrícola Ipanema. No entanto, o modelo só é produzido sob encomenda.

Mais do que a preocupação com o aquecimento global, a dificuldade em controlar o

Oriente Médio e a Ásia Central, áreas de maior produção de combustíveis fósseis, tem

incentivado os Estados Unidos a procurar uma outra matriz energética. Para os norte-

americanos há duas alternativas: a energia nuclear, cuja tecnologia é dominada pela nação, e o

biocombustível. Em relação ao Brasil o que mais interessa aos Estados Unidos é o Know-how

conquistado e utilizado há mais de três décadas pelo país.

Os Estados Unidos produzem álcool por um custo 25% mais alto que o Brasil. A

matéria-prima utilizada é o milho e a energia é derivada do carvão ou do gás natural – um

processo duas vezes mais caro do que o brasileiro, que utiliza o bagaço da cana. Além disso, a

produtividade da cana na produção de álcool (7 mil litros por hectare de terra) é o dobro da

que vem do milho, na mesma unidade de área.

4.4 Álcool Brasileiro no cenário internacional

Como menciona Barros (2007, p. 56), os números e as previsões de especialistas

mostram um cenário promissor para o Brasil no mercado internacional de etanol, onde já é o

maior produtor. Projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam uma safra de

cana-de-açúcar de 570 milhões de toneladas em 2010 e 715 milhões de toneladas em 2015, um

correspondente de aumento de 5% ao ano em relação a 2006. A produção de álcool deverá

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somar 25,4 milhões de m ³ em 2010, crescendo 10% ao ano entre 2006 e 2010. Para 2015, são

projetados 36,9 milhões de m ³ de álcool produzidos no país, correspondendo a um incremento

de 8% ao ano a partir de 2010.

O movimento global em torno do etanol brasileiro já se reflete nas exportações. Em

2006, a venda de etanol para outros países chegou a 3,43 bilhões de litros, um aumento de

50% frente ao ano anterior. Segundo estimativas da EPE, as exportações aumentarão sua

participação na produção de álcool de 20,5% em 2010, para 23,1%, em 2015. Pra atender a

essas expectativas, há projetos para a implantação de 89 novas unidades produtoras de açúcar

e álcool até 2013.

O grupo Odebrecht, líder na América latina nos negócios de engenharia e construção e

de química e petroquímica, anunciou em 2007 a sua atuação com no setor de açúcar e álcool,

com investimentos que chegariam a R$ 5 bilhões ou mais até 2015. A intenção é estar entre as

líderes do setor.

Somente no primeiro bimestre de 2007, os desembolsos do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor sucroalcooleiro cresceram 277%,

somando R$461,4 milhões. Em igual período de 2006, o banco havia emprestado R$ 122,4

milhões. Os resultados foram puxados pelo aumento dos empréstimos para a produção do

álcool. Os investimentos totais desses projetos somam R$ 12,2 bilhões.

A retomada do álcool também tem atraído investidores privados estrangeiros. Diante a

crescente demanda mundial por biocombustíveis, principalmente por parte do Japão, os

alcooldutos brasileiros são ampliados chegando a ter capacidade de 4 milhões a 6 milhões de

metros cúbicos cada.

Em São Paulo, o município de Sertãozinho é considerado o maior produtor de açúcar e

álcool do país e um dos maiores da América Latina. A cidade reúne um grupo de cinco usinas,

que fatura R$ 2,5 bilhões. As exportações do município para mais de 70 países saltaram de

US$ 69 milhões em 2003 para US$ 157 milhões em 2006.

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Em março de 2007, os governos de Lula e do então presidente americano George W.

Bush assinaram um memorando de entendimentos para fortalecer ou criar os mercados de

biocombustíveis na América Central e no Caribe, a fim de encorajar a produção local e o

consumo. A outra idéia é encontrar maneiras técnicas de desenvolver padrões uniformes e

normas para biocombustíveis, uma das primeiras necessidades para iniciar a largada para o

desenvolvimento de um mercado internacional de negociações de commodities em bolsas no

Brasil ou em outros países do mundo.

4.4.1 Demanda crescente por etanol

Segundo o Jornal Brasil Econômico (12/02/2010), será necessário o investimento de

US$ 50 bilhões neste setor para atender a demanda, pois o governo americano decidiu exigir o

uso de biocombustível na frota de automóveis no país, garantindo um espaço praticamente

exclusivo para o álcool da cana. A medida abre caminho para o aumento do comércio mundial

e das exportações brasileiras. Mas o próprio crescimento da frota de carros flex no Brasil já

exigiria investimentos pesados. Estima-se que a demanda por etanol duplique para 50 bilhões

de litros anuais em 2015. Para fazer frente à necessidade de novas usinas, seria necessário

investir US$ 50 bilhões, dos quais US$ 32 bilhões somente para atender o mercado interno. O

aumento da produção não virá somente de área plantada maior. Avançam as pesquisas para

melhorar a produtividade do etanol.

A participação dos carros flex estará crescendo rápido nas ruas do Brasil. Esse

crescimento somado ao etanol da cana que os Estados Unidos poderão ter que importar

anualmente, chegando a 15 bilhões de litros em 2022 justifica a necessidade de investimentos

no setor.

“Essa medida da Agência Ambiental dos EUA é um passo muito importante para transformar

o etanol em commodity, inclusive ajudando a diminuir as oscilações de preço no mercado

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internacional”, afirma o diretor-executivo da associação Internacional para o Comércio de

Etanl (Ietha), Joseph Sherman.

A expectativa é de uma nova onda de investimentos na produção do produto n país.

Desde 2005, 120 novas usinas entraram em operação, mais a crise financeira secou o crédito

para os grupos cresceram. “O país precisaria investir US$ 32 bilhões em novas usinas só para

atender a demanda interna daqui a cinco anos”, diz o diretor técnico da União das Indústrias

de cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues.

Para Arnaldo Correa, da Archer Consulting, o boom de investimentos em 2005 mostra

que o país tem a capacidade de ampliar a oferta rapidamente. Nos últimos cinco anos, o país

expandiu a produção de 250 milhões de toneladas para 600 milhões.

Supondo que o Brasil atenda praticamente sozinho a demanda obrigatória dos Estados

Unidos por etanol de cana até 2022, seriam precisos mais de US$ 18 bilhões. A cota de 15

bilhões de litros é destinada a uma categoria chamada de ‘outros biocombustíveis renováveis’,

que segundo a Única vêm ser apenas o etanol de cana, neste momento. “O único país capaz de

atender essa demanda firme é o Brasil, e isso vai exigir investimentos”, afirma o representante

chefe da Unica em Washington D.C., Joel Velasco.

A entrada de grandes grupos na produção de etanol no Brasil deve garantir um

aumento dos investimentos na capacidade produtiva. Só nos últimos seis meses, diversos

negócios de grande porte envolvendo grupos internacionais movimentaram o setor. Shell,

Bunge e Louis Dreyfus fizeram aquisições de usinas no Brasil. A Odebrecht deve fechar união

entre ETH e Brenco em breve, e Petrobrás e Bristish Petroleum também planejam investir.

Segundo Míraim Bacchi, pesquisadora da área de etanol do Cepea/USP, os preços do

álcool aumentaram em 2009 devido a uma conjunção de fatores climáticos adversos, melhores

preços de açúcar e a crise econômica, que fez as usinas venderem o etanol muito rápido no

começo do ano, na safra. Os preços caíram muito, por isso subiram na entressafra. O ano de

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2010 tende a ter um equilíbrio. Ela afirma, ainda, que em 2010 devemos ter uma safra recorde

de cana.

Demanda prevista para 2013/2014: 900 milhões de toneladas

Produção de Cana-de-Açúcar no Brasil por Safra, em milhões de Toneladas

2004/2005 386,1 2005/2006 387,4 2006/2007 425,5 2007/2008 495,7 2008/2009 569,1

Demanda prevista para 2013/2014: 54 bilhões de litros

Produção Total de Etanol no Brasil em Bilhões de Litros 2004/2005 15,4 2005/2006 15,9 2006/2007 17,7 2007/2008 22,5 2008/2009 27,5 Fontes: Anfavea e Unica *Potencialmente apenas o etanol de cana

4.4.2 Etanol de segunda geração

Segundo matéria divulgada pelo Jornal Econômico (12/02/2010), há uma corrida de

empresas e instituições de pesquisa em prol do desenvolvimento da tecnologia para a

comercialização em larga escala de etanol de segunda geração, extraído a partir da celulose. O

Brasil será o centro de produção dessa nova tecnologia. É o que acredita Alfred Szwarc,

consultor de emissões e tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). A

afirmação é baseada no movimento de empresas estrangeiras interessadas em fazer parcerias e

instalar negócios no país e também em uma simples constatação: o bagaço de cana é nosso.

Apesar das iniciativas para a produção de combustível a partir de outras matérias-

primas, é na pesquisa do bagaço e palha de cana-de-açúcar que estão os maiores avanços na

área da biomassa. “O Brasil oferece condições ideais se comparado a outros países, não só de

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custo de produção, mas de oferta da matéria-prima. O bagaço está disponível no pátio das

usinas, pronto para ser usado”, diz.

A aposta no etanol de segunda geração tem um apelo sustentável que anima o mercado,

os mais entusiastas acreditam que será possível dobrar a produção de etanol com a mesma

quantidade de cana, o que é precioso com um estoque de terras limitado e cada vez mais

disputado, afirma Swarc.

Nem todo o aumento na produção de etanol terá de vir do crescimento de área plantada

com cana. Grandes saltos de tecnologia são esperados para os próximos anos.

Na Cana Vialis, empresa que em Monsanto adquiriu da Votorantim Novos Negócios,

pesquisadores desenvolvem tipos de cana transgênica que podem ampliar o teor de açúcar da

planta, resultando em maior produtividade de açúcar e álcool.

Além da transgenia e do etanol de celulose, o melhoramento genético tradicional

aumenta a produtividade da cana a um ritmo médio de 1,5% a 2% por ano.

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CO�CLUSÃO

O trabalho teve como objetivo principal demonstrar que se torna necessária uma nova

matriz energética em substituição ao petróleo como matéria-prima, em seu uso como

combustível ou como insumo para a indústria química e que o Brasil tem se destacado como

uma das grandes potências agrícolas do planeta. São diversos fatores como extensão territorial

e a grande biodiversidade que o colocam no centro das atenções em um momento que a busca

por alternativa de energia renovável se intensifica.

A pesquisa constatou que a tradição e o potencial que o país possui no cultivo da cana-

de-açúcar o posicionam como mais capaz de desenvolver tecnologias para o aproveitamento

dessa biomassa energética.

A crescente preocupação com as mudanças climáticas resultam em políticas globais de

redução de poluição, portanto o reconhecimento da importância da energia de biomassa

tornasse fundamental. Também, crescem o número de investidores internacionais interessados

em contratos de longo prazo para o fornecimento de biocombustíveis como o álcool. Da

mesma forma, acredita-se que a energia passará a ser um componente importante do custo de

produção agropecuário e da agroindústria, tornando progressivamente atraente a geração de

energia dentro da propriedade.

A pesquisa conclui que a mudança da matriz energética, aumentando a participação de

fontes de agroenergia em sua composição, permitiria também a interiorização e a

regionalização do desenvolvimento a partir da agricultura de energia e da agregação de valor

na cadeia produtiva. Consequentemente ocorreria a ampliação de oportunidades de emprego

no agronegócio e de geração de renda, com distribuição mais equitativa. A opção pela

bioenergia contribuiria, ainda, para a redução das emissões de gases de efeito estufa e das

importações de petróleo, bem como para o aumento das exportações de biocombustíveis.

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BIBLIOGRAFIAS

Livros BARROS, Reynaldo. Energia para um novo mundo. Rio de Janeiro: Monte Castelo Idéias, 2007. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 20ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. PROÁLCOOL – uma avaliação global. Rio de Janeiro: Xenon Editora, 1991. PIMENTEL, Rosalinda Chedian. A energia no desenvolvimento sustentável. Ribeirão Preto, 2007. ROTSTEIN, Jaime. Conspiração contra o álcool. Rio de Janeiro: APEC, 1985. Web Etanol: saiba mais sobre suas vantagens e desvantagens na produção do biodiesel. Disponível em <http://www.revistabiodiesel.com.br> Acesso em 10/12/2009. Jornais Oliveira, Regiane. Acirra-se a competição pelo etanol de 2º geração. Jornal Econômico. Rio de janeiro, p. 6, 12 fev. 2010. Silveira, Luiz. Brasil precisa investir US$ 50 bi em usinas de cana. Jornal Econômico. Rio de Janeiro, p. 4, 12 fev. 2010.

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�DICE

FOLHA DE ROSTO ................................................................................................................... 2

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ 3

DEDICATÓRIA ......................................................................................................................... 4

RESUMO .................................................................................................................................... 5

METODOLOGIA ....................................................................................................................... 6

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8

CAPÍTULO I ............................................................................................................................. 10

PRIMEIRA FASE DO CICLO CANA-DE-ACÚCAR NO BRASIL ...................................... 10

1.1 Início do cultivo da cana-de-açúcar e seus fatores de êxito ................................. 10

1.2 Declínio da colonização portuguesa ....................................................................... 12

CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 13

2.1 PROÁLCOOL: origem ........................................................................................... 13

2.2 PROÁLCOOL: fatores favoráveis ........................................................................ 14

2.3 Evolução do PROÁLCOOL ................................................................................... 15

2.3.1 1ª Fase ............................................................................................................... 15

2.3.2 2ª Fase ............................................................................................................... 17

2.3.3 3ª Fase ............................................................................................................... 17

2.3.4 4ª Fase ............................................................................................................... 19

2.3.5 5ª Fase ............................................................................................................... 19

CAPÍTULO III .......................................................................................................................... 21

ASPECTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS AO ÁLCOOL BRASILEIRO............... 21

3.1 Vantagens ................................................................................................................. 21

3.2 Desvantagens ........................................................................................................... 22

CAPÍTULO IV .......................................................................................................................... 25

AVALIAÇÃO GERAL E PERSPECTIVAS............................................................................ 25

4.1 Impacto sobre o meio ambiente ............................................................................. 26

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4.2 Impacto Social ......................................................................................................... 28

4.3 Realizações e perspectivas para o álcool brasileiro .............................................. 29

4.4 Álcool Brasileiro no cenário internacional ........................................................... 31

4.4.1 Demanda crescente por etanol ....................................................................... 33

4.4.2 Etanol de segunda geração ............................................................................. 35

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 37

BIBLIOGRAFIAS .................................................................................................................... 38

ÍNDICE ..................................................................................................................................... 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO ...................................................................................................... 41

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

�ome da Instituição: Universidade Candido Mendes – Pós-Graduação “Lato Sensu” Projeto

A Vez do Mestre

Título da Monografia: Agroindústria Canavieira Brasileira: Desenvolvimento e

Sustentabilidade

Autora: Marluce Tavares da Silva Martins

Data da entrega: 24/02/2010

Avaliado por: Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço Conceito: