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Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte Volume 350 Brasília, de 3 a 9 de agosto de 1987 - 10 o pOVO é a tripulação e negociar é preciso! ADIRP - Castro Júmor A Igreja demonstra força: 4 emendas com quase 2 milhões de assinaturas (página 7) Uma mina vital Seis meses contados de trabalhos constituintes e chega-se à conclusão de que negociar é mesmo preciso. O presidente do PMDB, Ulysses Guima- rães e o presidente do PFL, Marco Maciel, tentam selar um acordo de não-agressão, para assegurar a Aliança Democrática; em mesa-redonda promo- vida pelo Jornal da Constituinte, lideranças dos mais variados partidos proclamam a necessidade impe- riosa de negociar os temas mais polêmicos da Cons- tituinte, na busca de um consenso mínimo que ga- ranta o entendimento ao invés do confronto. O rela- tor da Comissão de Sistematização, Bernardo Ca- bral, busca instrumentos que remetam o supérfluo para a lei ordinária, a fim de reduzir as áreas de tensão. Mais do que nunca, percebe-se que é a hora da afirmação da competência do poder civil. (Pági- nas 3 a 6). jli 4 I iA' .'." -. a-""III_II Ii !Jr JUI . SI. Novas sessões . para os temas' , mais polêmicos (Página 13) Taquígrafo, a força oculta do Congresso (Página 15) Constituinte quer o fim do decreto. lei (Página 10) A questão mineral, num país de mais de oito milhões de quilômetros quadrados é, obviamente, estratégica. O país precisa explorar racionalmente os recursos do solo e subsolo para promover o seu desenvolvimento, mas essa exploração não pode ser indiscriminada, sem critérios, lesando o meio ambiente de um lado e a soberania nacional de outro. Nesta edição, fazemos um amplo inventário da questão mineral, um dos grandes temas da Constituinte. (páginas 8 e 9)

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Page 1: :UIIIL~ o pOVO é a tripulação preciso! · so é negociação. Ceder em tudo, menos na essência das idéias e no compromisso com o povo. Essa,com certeza,é a Constituin te da

Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

Volume350

:UIIIL~Brasília, de 3 a 9 de agosto de 1987 - N° 10

o pOVO é a tripulaçãoe negociar é preciso!

ADIRP - Castro Júmor

A Igreja demonstra força: 4 emendas com quase 2 milhões de assinaturas (página 7) Uma mina vital

Seis meses contados de trabalhos constituintese chega-se à conclusão de que negociar é mesmopreciso. O presidente do PMDB, Ulysses Guima­rães e o presidente do PFL, Marco Maciel, tentamselar um acordo de não-agressão, para assegurara Aliança Democrática; em mesa-redonda promo­vida pelo Jornal da Constituinte, lideranças dos maisvariados partidos proclamam a necessidade impe­riosa de negociar os temas mais polêmicos da Cons­tituinte, na busca de um consenso mínimo que ga­ranta o entendimento ao invés do confronto. O rela­tor da Comissão de Sistematização, Bernardo Ca­bral, busca instrumentos que remetam o supérfluopara a lei ordinária, a fim de reduzir as áreas detensão. Mais do que nunca, percebe-se que é a horada afirmação da competência do poder civil. (Pági­nas 3 a 6).

jli

4 I

iA' .'." -.a-""III_IIIi !Jr-~.",.

~"JUI.SI.

Novas sessões .para os temas' ,

mais polêmicos(Página 13)

Taquígrafo, aforça oculta

do Congresso(Página 15)

Constituintequer o fim do

decreto.lei(Página 10)

A questão mineral, num país de mais de oito milhõesde quilômetros quadrados é, obviamente, estratégica. O paísprecisa explorar racionalmente os recursos do solo e subsolopara promover o seu desenvolvimento, mas essa exploraçãonão pode ser indiscriminada, sem critérios, lesando o meioambiente de um lado e a soberania nacional de outro. Nestaedição, fazemos um amplo inventário da questão mineral,um dos grandes temas da Constituinte. (páginas 8 e 9)

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•para a cnseUma saída

Os constituintes, que vêmagindo sob a pressão de peque­nos grupos, ~e m~ltinacionaisou de orgamzaçoes como aCUT, a CGT e outras quais­quer, nos apresentam um tra­balho que não honra nem refle­te o anunciado durante longostempos pelo relator BernardoCabral ou o pensamento de 130milhões de brasileiros.

Os constituintes, ao invés decontinuare:n a desperdiçar otrabalho dos debates constitu­cionais, vivem procurando anotoriedade com apresentaçãode projetos de resolução paraserem votados na Comissão deSistematização, quando tais as­suntos, 'pela nossa própria or­gamzaçao, deveriam ser vota­dos pelo Congresso Nacional,ou em última análise debatidosno seio da Comissão de Siste­matização. Nós, apesar dapreocupaçãç que temos com odestino do PaIS, ainda espera­mos que os constituintes se es­queçam de usar a balela de quea Constituinte "pode tudo e va­le tudo", passem a debater osassuntos de interesse nacionale façam uma Constituição queatenda às nossas tradições, aoprogresso e estágio de desen­volvimento em que se encontrao país e não uma Constituiçãoanarquista, que venha nos criarproblemas a curtoprazo.

Terminando, lembramosMaquiavel, quando diz:

"Quem quiser refor­mar a antigaorganizaçãode um Estado livre, con­serve, pelo menos, asombra das antigas insti­tuições."

Constituinte João MenezesVice-líder do PFL

Falou-se muito no projetoque foi estudado por um grupode juristas sob a batuta do mes­tre Afonso Arinos, que foi tidocomo detalhista pela sua exten­são, e agora, dizendo-se que seia enxugar o texto, o que seviu foi um trabalho sem formae sem consistência jurídica, ul­trapassando a barreira dos qui­nhentos.

Constituição queatenda tradições

Os trabalhos da' Constituintevão nos deixando com enormepreocupação, porque foraminiciados com um Regimento,apesar de elaborado a longoprazo, que não conseguiu aten­der aos interesses gerais de umtrabalho constitucional, umavez que se preocupo~ muito emamarrar nos seus dISpOSItIVOSpensamentos e interesses degrupos. Por outro lado, a orga­nização das comissões temáti­cas em número de oito, subdi­vididas cada uma em grupo detrês, pecou pela base, nao sóporque em várias subscomis­sões os assuntos não foram de­batidos ou porque muitas delasse preocuparam em fazer via­gens para outros estados, comos melhores intuitos de colherdados, junto ao p~vo, como seos constituintes nao represen­tassem, na verdade, o pensa­mento da população brasileira.Pior foi ainda, porque os tra­balhos dessas subcomissões fo­ram entregues ao relator-geralde cada comissão temática,qu~> por sua vez, na grandemaioria, abandaram o trabalhodas subcomissões e defendi­dos pela impropriedade regi­mental, lavraram o parecer deacordo com seu pensamento,com suas idéias ou ideologias,abandonando, quase na totali-dade, o pensamento dos com­ponentes das subcomissões. Eagora? Estamos chagando aopropalado parecer do relatorda Comissão de Sistematiza­ção, que passou durante todoesse tempo, ou melhor, desdea instalação das comíssões,a de­clarar que ia fazer um trabalho"nem progressista" e nem"conservador", tendo comoobjetivo .pr~ncipal apresentarum trabalho despido das incon­gruências e das matérias in­constitucionais constantes nosprojetos das comissões temá­ticas. Usava o termo "enxu­gar" o projeto, mas, ao invésde "enxugar" , o que fez foi jo­gar mais água e sair com umprojeto c..Qn~itucional,conten­do 501 artigos, o 'Lue, na verda­de, é um absurdo, porque sófalta se colocar no projeto a ho­ra de tomar café, a hora de irpara cama ou acordar. En­quanto a Constituição ameri­cana, que dura tantos anos,tem cerca de 7 artigos, a portu­guesa tem 300, a espanhola tem169, a alemã tem 141, a fran­cesa tem 92, a nossa, "enxu­gada", do eminente relator,tem 501 artigos.

Negociarnavegando

Ronaldo PaixãoSecretârto de Redação

Houve um tempo em que o entãoMDB tinha como lema "Navegaré preciso, viver não é preciso". Overso do poeta português FernandoPessoa dava a dimensão da resistên­cia, ou seja, sobreviver é mais im­portante que viver, quando se luta,exatamente, pela vida. Os tempospassaram e o MDB virou PMDB,aliou-se a dissidências da extintaArena, formando com o PFL aAliança Democrática que garantiriaa transição.

Após mais de dois anos de gover­no da Nova República e 180 diasde Constituinte, o PMDB chega àconclusão de que "Negociar é preci­so, viver não é preciso". Transfor­mando-se em poder, assumindo ogoverno, o PMDB percebeu que oavanço da transição não será possí­vel apenas com o partido da resis­tência. Resistir a quê? A si mesmo?O grande mar que é o Brasil exigeleme firme para o barco frágil dademocracia e ela se sustenta, nessemomento, na convicção de que opoder civil é viável e pode ser com­petente, política, econômica e so­cialmente. Se assim não for, volta­remos todos ao tempo em que maisque viver, navegar era preciso.

No caso do PMDB, entretanto,a consciência de que negociar é pre­ciso, viver não é preciso, tem senti­dos vários. O chamamento sem pre­conceitos a todos os partidos paraque assegurem a vitalidade do po­der civil (na demonstração de queentendimento não é conchavo) nãoprecisa, necessariamente, implicara morte dos ideários do partido daresistência. O entendimento deveocorrer onde é possível e onde nãofere a le.gitimidade das idéias pro­gramáticas de cada agremiação. Is­so é negociação. Ceder em tudo,menos na essência das idéias e nocompromisso com o povo.

Essa, com certeza, é a Constituin­te da consolidação democrãtrca,não a Constituinte da ruptura. Ne­gociar é preciso, navegar também.A meta de um país com menos desi­gualdades ainda é uma ilha muitodistante.

~~nia;. privanzação das empresasestatais com exceçao para as queoperam nas áreas energéticase detelecomunicações; apoio aos pe­quenos e médiosmunicípios, obje­tivandofavorecer a imigraçãoe di­ficultar a emigração.

Vivemosum período críticoqueestá a exigir do governo medidasde caráter emergencial. A execu­ção do programa proposto peloPartido Democrata Crístão é per­feitamente factí~ell.pois ~ã? pres­supoe recursos moispomveis nemocasiona mudanças quixotescas:não se trata de animar utopias; tra­ta-se de, frente ao impasse, apro­veitar a chance patrocinada pelasprementes necessidades do mo­mento conjuntural.

Trata-se de proporcionar àsclas­ses de baixa renda a base materialmínimapara organizaçãofamiliar:o teto de uma moradia simples edigna.

Trata-se de reverter o sentido dofluxo migratório interno - docampo e da pequena cidade paraa cidade grande -I com a fixaçãodo homem no intenor e o estímulopara que lá permaneça. Trata-sede desafogaras perifenas numa re­forma urbana que começano cam­po.

Trata-se de mtegrar e preservara Amazônia, região de enorme im­portância geopolítica, que repre­senta quase 60% de nosso terri­tório e onde se localizamdois ter­ços de nossas fronteiras.

Trata-se de emancipareconômi­ca e financeiramente o país pelosúnicos caminhos possíveis: a des­centralizaçãodo poder econômicoe o fortalecimento do mercado in­terno, isto é, a desestatização daeconomia e o robustecirnento dasestruturas de produçãoe da capaci­dade de consumo.-Em síntese: oengrandecimentoda micro, peque­na, media e grande empresas na­cionais {Jara que elas, ao cumprirsuafunçãosocial,tornem consumi­dores todos os brasileiros.

Trata-se de efetivar uma justadistribuição de renda da formamaisrealista e funcionalque se co­nhece: o saláno condigno.

Enquanto a quase totalidade dosgovernistas se entrega ao jogo dopoder para conquisfá-lo ou paranele se manter, o Brasilafunda nu­ma cnse sem precedentes, que co­loca em risco a frágil paz social eas nossas combahdâs instituições.

O pacto político é urgente e ne­cessãno. No entanto, e indispen­sávelque ele se fundamente na éti­ca própria de um sistemaque quer,de fato, se tornar uma autênticademocracia representativa.

E imprescindível e essencialquea classepolítica, ao repelir os pnvi­légios- a causamaior da injustiçasocial- se agregue, coesae plural,na defesa e consecuçãode atitudeslegítimas, as únicas que o eleito­rado referendaria.

Constituinte Siqueira CamposLíder do PDC

A crescentedeterioração da vidanacional em seus aspectos econô­mico,sociale políticose manifesta,presentemente, numa peri~osa de­monstração das conséquências aque conduz o tratamanto epidér­mico dos problemas nacionais.

As atitudes oficiais, acumplicia­das com o descaso pelo interessenacional, asfixiam 'a já desgastadaesperança em dias melhores. Aavalancha de providênciascontra­ditórias, a ineficáciadas ações noscampos econômico e político fe­rem, comprometedoramente, aprimeira e maisóbvia vítimada in­congruência:o povo brasileiro,va­Ie dizer, a própria nação.

Esta Casa, cenário privilegiadodos trabalhos de condução do paísa uma cernocracia representativade fato e à plenitude do Estadode direito, deve redobrar sua aten­ção para tais problemas. Trata-sede evitar que se debilite ainda maisa enfraquecida confiança que de­positamos nas instituições nacio­nais; trata-se de Impedirque se so­mem maisdanos à abalada credibi­lidade popular na classe política.

A descrença, sentimento notó­rio e praticamente unânime nosdias atuais, é experimentada portodos os extratos da populaçãoque, por via disso, elabora fortís­simo ceticismo quanto à possibi­lidadede remédiopelo cammhodanegociação.

A opinião pública, mesmo sa­bendo não serem novas as dificul­dades que engendram a crise, cla­ma, desnorteada, por providênciasimediatas,e, enquanto o povo, nãoconsultado, geme sob o guante dodesemprego,da fome e da inflaçãomal disfarçada, uma profunda re­voltacomeçaa eclodirnas maiorescidades do país, colocando em sé­no nsco nosso mcrpienteprocessode redemocratização.

Diante disso, o Partido Demo­cráticoCristão.l:xige do presidenteSarney e da Aliança DémocráticaÍI\.1ed,iatas, segurase eficazesprovi­dências que favoreçam e estimuleum clima onde a ordem e a pazsocial possam florescer com todaa beleza de sua acalentada pleni­tude.

Em nota recentemente divulga­da, o Partido Democrata Crisfãopropôs um programa mímmo paraa açao governamental: efetivasmedidas de combate à corrupção;fixaçãode baixaremuneração paraos papéisdo Tesouro concomitan­temente à drásticaredução da dívi­da pública; a indexação dos salá­rios (salário mínimo: 15 OTN),bem como a concessão de abonopara repor as recentes perdas sala­riais da classe trabalhadora; cons­trução de 1,5 milhão de moradiaspopulares com prioridade para asfamílias faveladas e as invasorasdeterrenos urbanos; destinação derecursospara as Frentes de Traba­lho do Nordeste, aplicados naconstrução de sistemas de múlti­plas represas, irrigação e moradiapO"p~lar; criação de infra-estruturamnuma para acesso e assentamen­to de 1 milhãode famíliasna Ama-

Jornal da Constituinte- Veículo semanal editado sob a res­ponsabilidadeda Mesa Diretora da AssembléiaNacionalCons-

~S~'DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE:Presidente - Ulysses Guimarães; Primeiro-Vice-Presidente

- Mauro Benevides;Segundo-Vice-Presidente - Jorge Arbage;Primeiro-Secretário - Marcelo Cordeiro; Segundo-Secretário- Mário Maia; Terceiro-Secretário - Arnaldo Faria de Sá.Suplentes: Benedita da Silva, LUIZ Soyer e Sotero CunhaAPOIO ADMINISTRATIVO:

Secretário-Geralda Mesa - Paulo Affonso M. de OliveiraSubsecretário-Geral da Mesa- Nerione Alves CardosoDiretor-Geralda Câmara - Adelmar SilveiraSabinoDiretor-Geral do Senado- José PassosPôrtoProduzido pelo Serviçode Divulgaçãoda AssembléiaNacio­

nal Constituinte.

Diretor Responsável - Constituinte Marcelo CordeiroEditores - Alfredo Obliziner e Manoel V. de MagalhãesCoordenador- Daniel Machado da Costa e SilvaSecretáriode Redação- Ronaldo Paixão RibeiroSecretáriode RedaçãoAdjunto - Paulo DomingosR. NevesChefede Redação- Osvaldo Vaz MorgadoChefede Reportagem- Victor Eduardo Barrie KnappChefede Fotograflll- DaltonBduardo Dalla CostaDiagramação- Leônidas Gonçalvesllustração --: Gaetano RéSecretário Gráfico- Eduardo Augusto Lopes

EQUIPE DE REDAÇÃOMaria Valdira Bezerra, Henry Binder, CarmemVergara, Re­

gina Moreira Suzuki, Juarez Pires da Silva, Mária de FátimaJ. Leite, Ana Maria Moura da- Silva, Vladímir-Meireles de AI-

meida, Maria Aparecida C. Versiani, Marco Antônio Caetano,MariaRomildaViera Bomfim,Eurico Schwinder, Itelvina Alvesda Costa, Luiz Carlos R. Linhares, Humberto Moreira da S.M Pereira, Miguel Caldas Ferreira, Clovis Senna e Paulo Ro­berto Cardoso Miranda.

EQUIPE FOTOGRÁFICAMay Wo1f, João José de Castro Júnior, Reynaldo L. Stavale,

Benedita Rodrigues dos Passos e Guilherme Rangel de JesusBarros.

Composto e impresso pelo Centro Grôfico do Senado Federal-CEGRAF

Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 070160 - Brasília- DF - Fone: 224-1569- Distribuição gratuita

2 Jornal da Constituinte

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se suas limitações, especialmente em questõesprogramáticas.

Nenhum dos debatedores aceita críticas aorelator Bernardo Cabral. Ao contrário, ele teriasido extremamente fiel ao Regimento e o quese produziu foi fruto da própria mecânica defeitura constitucional.

Uma questão específicaexaminada no deba­te provocou críticas unânimes: pouco se alterouno sistema tributário. A União continua centrali­zadora, enquanto se nega aos estados a prerro­gativa de legislar sobre tributos. Influência dostecnocratas, foi a causa.

A coordenação da mesa-redonda foi feitapelo Primeiro-Secretário da ANC, Marcelo Cor­deiro (PMDB - BA). Participaram: o líder doPMDB na Câmara dos Deputados, Luiz Henri­que da Silveira (Se), o líder do PFL no Senado,Carlos Chiarelli (RS), o Líder do PDT na Câma­ra e na Constituinte, Brandão Monteiro (RJ)e os constituintes Bonifácio de Andrada (PDS- MG), Irma Passoni (PT - SP) e José CarlosCoutinho (PL - RJ).

sFaltam poucos dias para a decisão final em

plenário. Por enquanto há um clima de impasse,mas, ao mesmo, uma forte disposição para oentendimento. O que se busca é consagrar notexto da Constituição a média do pensamentonacional. Daí a imposição de se negociar já.

Também, o envolvimento da sociedade foianalisado pela mesa-redonda organizada peloJornal da Constituinte, reunindo parlamentaresde tendências e partidos distintos para uma ava­liação geral dos resultados de mais de seis mesesde trabalho e do próprio projeto de Constituição.

Na opinião gene ·alizada dos debatedores,quando se aproxima a fase decisiva de plenárioé fundamental a atua ção dos partidos políticosno processo de entendimento. Mas, alertam quese as negociaçõesnão se iniciarem já, as posiçõesideológicas podem prevalecer, o que levaria ine­xoravelmente ao impasse.

Os grupos pluripartidários que surgiramem busca do entendimento foram qualificadoscomo nm dado positivo, embora reconhecendo-

A cada reunião -confirma-se a tend€izcia de se trocar o confronto pelo entendimento

A.

TENDENCIA8 ::: mn

Em nome do povo, negociação jáMarcelo Cordeiro - Aqui estão

representantes de correntes políti­cas diversas, dispostasa discutiremprincípios básicos que vão organi­zar a vida do país. Por outro la­do, há também a preocupação dediscutirmos o nosso próprio traba­lho - e criarmos uma transparên­cia para que a opinião pública oacompanhe e, conseqüentemente,podermos avançar em pontos que,muitas vezes não transparecempor falta de oportunidade de umdiálogo como este. Temos vistoque nos debates já realizados, osresultados têm sido muito positi­vos para o aprofundamento dasidéias, permitindo que até a pró­pria imprensa formal, empresarialpossa se valer dessa contribuição.Além do fato de que este jornalestá alcançando quase cem milexemplares semanais, com a dis­tribuição, por mala direta, para di­versas entidades, sindicatos, em­presas, igrejas, universidades, en­fim, setores formadores de opi­nião pública. É importante que ca­da um faça uma rápida avaliaçãosobre o que até agora tem sidoo trabalho dos constituintes. E, deum modo livre, cada qual poderáabordar os aspectos que lhe pare­cerem mais convenientes no mo­mento.

Bonifáciode Andrada - É inte­ressante verificar, de início, quea metodologia que se seguiu, dese criar várias comissões, parecia,

à primeira vista, uma metodologiamuito negativa. Hoje, entretanto,estou convencido que essa meto­dologia foi frutífera, porque elapermitiu que se colocasse em de­bate uma série de contribuiçõesque, dificilmente, viriamse seguís­semos a tradicional metolodogiade se criar uma comissão só, paraelaborar o rrojeto da Constitui­ção. O atua projeto a nosso ver,tem aspectos positivos. Por exem­pio, acho que nessa parte do regi­me de governo - sou parlamen­tarista -, ele não avançou muito,mas realizou alguma coisa. Toda­via, notamos gue a aspiração geralda Assembléia Nacional Consti­tuinte é a democratização do po­der no país. O poder, no Brasil,está muito concentrado em Brasí­lia. É um poder indiscutivelmenteeivado de autoritarismo e precisaser desconcentrado. Nesse aspec­to é que o projeto não nos pareceestar, assim, respondendo, a essaexpectativa. Em diversas áreas, émuito centralista. No caso da Fe­deração, o projeto fortaleceu mui­to a União e os estados pratica­mente não têm competência legis­lativa.

Quanto ao sistema tributáriopropõe um sistema com muita in­fluência tecnocrática. E casuísticoe dá muita força aos técnicos doMinistério da Fazenda. Na parteda saúde, previdência social e se­guridade social, ele também é pro-

Irma Passoni:Ignorar a

questão daconcentração

urbana é negarum fatopolítico

essencial daHistória domomento. Acidade temde ser vista

como o lugar queimplica o bem

comum.

fundamente centralizador. E umtal de sistema único de saúde, sis­tema de seguridade única. Essapalavra "única" está muito pre­sente nesse texto do projeto, tam­bém fortalece muito o poder cen­tral, enfraquece os estados, enfra­quece os municípios e enfraquece,enfim, a democracia, que tem co­mo uma das suas essências o plura­lismo.

No que se refere à ordem eco­nômica e também à ordem socialo projeto apresenta algumas ambi­güidades. Na ordem econômicaele pende mais para um liberalis­mo que às vezes é excessivo, e naparte da ordem social ele tendepara soluções estatizantes e mes­mo para soluções, assim, socialis­tas, que chegam, digamos assim,a um conteúdo de um populismoum pouco inconseqüente.

No problema, por exemplo, daliberdade sindical o projeto procu­ra uma solução de meio-termo en­tre a unidade e a pluraridade sindi­cal. Já é um passo, porque vive­mos hoje sob uma estatização sin­dicalista.

Irma Passoni - A primeira per­gunta que eu faria seria a seguinte:nós estamos construindo umaConstituição transitória, para atransição, ou nós estamos cons­truindo uma Constituição para ademocracia? Para mim, esta ques­tãoé muito importante, porquese for para instaurar a democracia,

quando pensamos a questão degoverno, de mandato, de tempo,é preciso que nos centralizemosmuito mais num sistema de gover­no do que num mandato. Isso ain­da não fizemos. Temos, ainda,uma mistura de parlamentarismo,de presidencialismo. Não. chega­mos a nenhum acordo. E a issoque se precisa chegar. Quanto aoprocesso da Constituinte, creioque está correto. Jamais as idéias,as posições, se teriam colocado senão tivéssemos vindo de uma sub-comissão. .

Na subcomissão foi possível ou­vir propostas, posições de parla­mentares, foi a etapa riquíssimade receber proposta da populaçãode ouvir as audiências públicas, oque considero essencial. Recebe­mos nessa etapa cerca de 60 milpropostas da população, 4 mil etantas propostas de entidades. To­do mundo pôde ter acesso à Casae trazer as suas propostas. Tam­bém prevaleceram os interessespessoais de entidades, de catego­rias empresariais etc. E perdeu-sea visão do conjunto. Acho que foinormal esse processo. O duro échegarmos num calhamaço e de­pois voltar para trás. Não podería­mos esperar um projeto melhordo que esse que saiu. Agora seabre a etapa das emendas e se vol­ta outra vez às emendas indivi­duais e às emendas populares.Nessas emendas de iniciativa po-

Jornal da Constituinte 3

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à elaboração da nova Carta.Lembro-me da grande discus­

são que tivemos para a elaboraçãodo Regimento Interno. A socie­dade civil certamente não enten­deu porque nos engalfinhávamosaqui pela manutenção de um arti­go, de um parágrafo, de um con­ceito. No entanto, aquela discus­são do Regimento Interno foi fun­damental para que nós embasás­semos o processo de elaboraçãoconstitucional em direção a umaampla abertura à participação po­pular. Acho que nunca houve, emtempo algum, um processo de ela­boração constitucional com tantaparticipação da sociedade organi­zada - as audiências públicas, asemendas populares, a possibilida­de de uma associação de bairronão registrada apresentar suas su­gestões à Constituinte. Uma possi­bilidade que se assentou na elabo­ração do Regimento Interno' - ade se fazer, ao final, uma consultaplebiscitária sobre a Carta a seraprovada - representa, inequivo­camente, a característica demo­crática desse processo de elabo­ração constitucional.

Estamos na fase que eu chama­ria de decantação, a fase de enxu­gamento, de separação entre oque é conjuntural e O que é perma­nente. Um dos grandes perigosque sofre o processo de elabora­ção constitucional, hoje é a eleva­ção à categoria de texto constituo.cional de matérias absolutamenteconjunturais. Aí ganha importân­cia o processo do entendimento.

Não podemos fazer a Constitui­ção do PMDB nem a do PFL nema do PT nem a do PDT. Temosde fazer a Constituição que a so­ciedade brasileira quer, rumo àsmudanças na ordem econômica esocial, rumo à construção de umasociedade moderna, eficiente, ca­paz de eliminar a dicotomia entreum Brasil oitava economia ociden­tal e sexagésima oitava nação domundo em distribuição de rendaa nível de bem-estar social. AConstituição tem de ser um instru­mento para essas transformações.Ela tem de ser uma síntese do quea sociedade brasileira deseja. Porisso é fundamental o entendimen­to.

Minha perspectiva para os pró­.ximos meses é essa: vamos nos en­tender sobre um texto que repre­senta a vontade nacional e vamoster oportunidade de garimpar,nesse rico material que foi trazidopara o processo de elaboraçãoconstitucional. Material necessá­rio à elaboração de uma Consti­tuição que não seja tão enxuta,que represente uma generalizaçãosobre as coisas, nem tão extensa,que tenha que ser modificada den­tro de seis meses a um ano.

Carlos Chiarelli - Gostaria deme somar à manifestação de apre­ço pelas gestões feitas, permanen­temente, pela Primeira-Secretariano sentido de oferecer a maior ea mais equilibrada e generalizadadivulgação sobre a atividade daConstituinte, que talvez seja o pri­meiro dos deveres da própriaConstituinte. Acho que a Consti­tuinte não apenas precisa saber fa­zer uma Constituição, mas precisasaber como se faz uma Constitui­.ção e o que se está fazendo. AConstituinte não teve no decursoda sua fase de gestação, que é nahora da escolha de seus integran­tes, o destaque que merecia, pelacoincidência do pleito. Destaquecomo o evento histórico politica­mente mais valioso da nossa gera­ção. Acabou um pouco oprimida,

tentação a esse Governo e que têmuma influência fundamental e vãodecisivos na votação da nova Car­ta, vão responder historicamentepor isso. Eles têm uma maioriamuito folgada, demais para o nos­so gosto, em função das eleiçõesde 1986. Temos visto ai, diuturna­mente, as declarações e as açõesdo governo federal e dos líderesdesses dois partidos, contrariandotodos os interesses do país. Nãopodemos amanhã, na votação daConstituição, termos esse mesmoquadro. Tem que prevalecer umsentimento patriótico, de brasili­dade, aqui dentro. E o único meiode o país vir realmente a se tornarindependente dos interesses maio­res desses pequenos grupos alicer­çados no governo e nesses doispartidos é termos uma Constitui­ção que atenda realmente aos an­seios do nosso povo. Constituiçãoque, contrariamente ao que diz orelator Bernardo Cabral, entende­mos deve ser a mais prolixa possí­vel. Não podemos ter uma Consti­tuição pequena, sintética. Ao con­trário, devemos ter na nova Carta,e alicerçado nos tribunais constitu­cionais, a maior quantidade possí­vel de garantias do direito indivi­dual, do direito coletivo e o orde­namento social e econômico.

Luiz Henrique - Poderíamos

Bonifácio deAndrada:

Em diversasáreas, oprojeto é

centralista.No caso daFederação,fortaleceu

muito a Uniãoe os Estadospraticamente

não têmcompetêncialegislativa.

caracterizar a metodologia utiliza­da para a elaboração da futuraCarta como a metodologia daabertura. Diferentemente de umaprática tradicional, nas assem­bléias constituintes de todo o mun­do, não partimos de um projeto.Lembro-me de que em Portugal,recentemente, a Constituição foifeita a partir de um anteprojetoelaborado por sete parlamentares,revisto por trinta parlamentares e,a partir daí, foi decidido pelo con­junto das integrantes da Assém­bléia Nacional Portuguesa.

No Brasil, fez-se a abertura atodos os parlamentares. O proces­so de divisão em subcomissões ecomissões temáticas, que se apre­sentava como um grande desafio,teve como resultado a participa­ção de todos e, assim, a garimpa­gem de um material muito densoe muito rico, que servirá de base

vemos com profunda tristeza eporque não dizer até - não voudizer com revolta - com profun­da interrogação a posição que têmassumido os ministros militares nopaís. Não temos tido a capacidadede discutir abertamente nesta Ca­sa, não s6no Congresso ordinário,como neste momento, na Consti­tuinte, qual o papel dos militaresna vida política do Brasil. Temosnos recusado a isto por força detodo um processo autoritário quese estabelece no país há muitosanos. E aí vemos que os militaresestão, também, interferindo naConstituinte, inclusive em proble­mas que não são específicos dosmilitares. A questão da anistia nãoé uma questão de quartel, é umaquestão da sociedade brasileira.Estamos num período de transiçãodo regime autoritário para' o regi­me democrãtico. E necessário queneste processo constituinte se façao grande pacto social. Não adiantapensar-se em pactos, em partidos,em organizações empresariais eorganizações de trabalhadores. Opacto dar-se-á na Constituinte.Este é o grande pacto que é possí­vel fazer no país.

José Carlos Coutinho - Enten­demos que o processo que deu iní­cio à feitura da nova Constituiçãocomeçou distorcido. Nas eleiçõesde 1986, o que menos foi levadoa debate foi a importância das elei­ções, considerando g,ue os depu­tados federais, que ali seriam elei­tos, viriam a fazer a nova Consti­tuição. Foi dada importância exa­gerada e absurda aos governos es­taduais dentro daquele momentopolítico em que o país J?assava,que posteriormente foi Julgado,inclusive, pelo ministro AurelianoChaves como um "estelionatoeleitoral". Isso veio a se confir­mar, não digo na fase de formaçãodas subcomissões, das próprias co­missões, mas na Comissão de Sis­tematização. A sociedade brasilei­ra teve praticamente como umprêmio o trabalho de algumas des­sas comissões.

Eu destacaria a Comissão dosDireitos Individuais. Entendemosque a sociedade brasileira, muitojovem, cresceu nos últimos 20anos como uma Inglaterra, umaFrança, uma Alemanha. Então, éum país que não tem a sua socie­dade organizada ainda, e, tambémpor conseqüência dos anos de au­toritarismo que passamos, essa so­ciedade tem que resguardar osseus direitos a nível constitucio­nal. Um dos avanços fundamen­tais: a criação dos tribunais consti­tucionais. Fundamental a criaçãodesses tribunais em função de con­seguirmos resguardar aquele di­reito do nosso povo, o direito decidadania, o direito individual docidadão, aquele direito até natu­ral.

O governo federal não está alia­do ao povo brasileiro e sim aliadoa esses grandes grupos que fazemdo Brasil o que bem entendem.Vendo algumas decisões do Con­selho Monetário Nacional, a genteobserva que é um pequeno grupode pessoas que gerem as normasda economia. Muitas vezes geremao sabor dos interesses do governoe de grupos particulares. Absur­dos são cometidos. Daí a impor­tância do fortalecimento do PoderLegislativo neste país, de repre­sentantes do povo descendo da Fe­deração para os estados e até anível de municípios. Gostaria deressaltar bastante um fato que éa aliança do PMt>B com o PFL.Esses dois partidos, que dão sus-

BrandãoMonteiro: Pensoque ruptura nãose dá só quando

há golpe deEstado, sangueou revolução. Eevidente que o

modelo anteriorse esgotou.

Houve ruptura.Tanto é que

estamos numaAssembléia

Constituinte.

jeto. Todos os constituintes traba­lharam objetivamente em, relaçãoao processo constitucional. E ino­vador, é rico. Dizer-se que o pro­jeto é um monstrengo, que é oanteprojeto Bernardo Cabral, re­presenta duas injustiças. Primei­ro, foram debates que se deramdurante esses 4 ou 5 meses, ondeos partidos e os parlamentaresparticiparam objetivamente dessadiscussão. Também não é um an­teprojeto do relator Bernardo Ca­bral. E, na verdade, uma sínteseque ele fez, não chegou nem a sis­tematizar, se fôssemos buscar apalavra ao eé da letra, pratica­mente compilando o que as comis­sões produziram. Ele tem é claro,um conjunto de defeitos, contra­dições e emendas de comissões di­versas. Se tivemos 8 comissões, ti­vemos visões diferenciadas em ca­da uma delas. No capítulo refe­rente aos direitos coletivos, consi­deramos que há um avanço muito'grande em relação à democrati­zação no país.

Por outro lado, se examinarmosa Ordem Econômica, eu diria CJ.ueestá olhando para' o lado direitoe a Ordem Social olhando parao lado esquerdo. Na questão daorganização dos estados, acho quetambém avançamos.

Buscamos democratizar esse

problema grave, que é a questãoterritorial no Brasil. Temos nopaís algumas visões preconcebidase sobretudo posições em que osinteresses eleitorais, os interessesdos estados e dos governadores secontrapõem à democratização.Existe uma tradição autoritária navida brasileira, que é preciso quefaçamos uma correção neste pe­ríodo constituinte. Na questão tri­butária, continuamos com a pers­pectiva de um fortalecimento mui­to grande da União, em detrimen­to dos estados e dos municípios,e não avançamos nada em relação.ao sistema financeiro.

Na organização dos poderes, háuma grande pressão do Execu­tivo sobre a Constituinte nuncavista na História brasileira. E nãoé só o presidente da República emrelação ao seu mandato, em rela­ção ao sistema de governo, mas

pular, a meu ver, há uma questãomuito importante, saber como éque essa Constituição instaura ounão a democracia, como é que ficao poder no Brasil. Ele é um podercentralizador ou ele é um poderque se dirige a uma visão de real­mente constituir o poder tambémdemocraticamente na populaçãodiretamente na participação dopoder, no Executivo, no Legisla­tivo, no Judiciário?

Na ordem econômica, tratamosde problemas essenciais, como aquestão do poder econômico, enão ficou equilibrada a questão dainiciativa privada e o bem social.Como é que ficam as posições do'capital? Até foi dito que isso seriaum avanço, de salto do capitalis­mo para o socialismo. Não é isso.Sei das limitações que enfrenta­mos. Mas, ao mesmo tempo, co­mo é que ficam o capital concen­trado, a democracia, o bem co­mum e a questão social? Parece­me que quando se definiram osprincípios gerais econômicos - aquestão .do nacionalismo, da re­serva de .mercado e da aberturado caprtal estrangeiro - resultoualgo muito perigoso.

A outra questão em que me de­tenho mais é a urbana, que desa­pareceu no projeto final do relatorBernardo Cabral. Ninguém negaque a concentração foi violentanos últimos anos e não há nenhu­ma perspectiva da desconcentra­ção. Ignorar a questão da concen­tração urbana é realmente ignorarum fato político essencial da His­tória do momento. Essa questãotem que ser tratada como um con­junto dé serviços sociais, não sóuma casa para morar, mas um ser­viço em torno disso como de saú­de, de educação, de transporte ede saneamento básico. A questãoda concentração imobiliária é mui­to séria. Não podemos viver numacidade para enriquecer apenas asempresas imobiliárias. A cidadeimplica o bem comum. Devemosintroduzir na Constituição um ca­pítulo específico sobre a questãourbana, pela importância e serie­dade da situação em que nos en­contramos. E a última questão re­fere-se à Reforma Agrária. Sintoque já há um consenso de entendi­mento nessa questão. Alguns pon­tos essenciais são quanto à funçãosocial da propriedade, desapro­priação, emissão imediata por par­te do Estado e o limite mínimo,que não poderia ser desapropria­do. Acho que são questões quepodemos entrar num acordo enum processo de entendimento.

Brandão Monteiro - Penso di­ferente. Este processo constitucio­nal foi extremamente, proveitoso,inovador, porque, sobretudo, elenão acompanhou a tradição do di­reito constitucional brasileiro, noque se refere à formulação do pro­cesso constituinte. Estávamosacostumados em uma grande co­missão, em que praticamente seextraía da Assembléia NacionalConstituinte o número de consti­tuintes que preparavam o antepro-

~~~.~PAR.TID08&! TEIIDÊNCIAS ::: PARTIDOS 8e TENDÊNCIAS :::Pi\~TIDOS & TENDÊNCIAS ::: f~,"•

4 Jornal da Constituinte

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~NCIAS :::PAR:J1IDOS &:. TENDÊNCÍtW ::: PAo presidencialismo e a Constitui­ção estabelecer o parlamentaris­mo, haverá uma ruptura em rela­ção ao regime de governo, porexemplo. No momento em que es­sas rupturas necessárias se estabe­lecem o entendimento se impõe,que método de entendimento de­vemos utilizar? O Carlos Chiarelliacaba de falar que os partidos co­meçam a ter um peso específicomaior. Hoje, estamos vendo gru­pos interpartidários reunindo-se,para definir uma série de inicia­tivas, com vistas a atar diferençase a encontrar pontos de identifi­cação que possam resolver os pro­plemas postos até o presente mo­mento.

Luiz Henrique - Penso que oentendimento não tem parâme­tros metodológicos fixos. Achoque tem de haver a vontade depactuar inerente a todos os parti­dos. Concordo com o Chiarelli emque o partido não pode ser um"regra três" do processo de elabo­ração constitucional, mas que,agora, terá de afirmar, mais inten­samente, a sua presença, não nosentido de impor suas decisõesprogramáticas, mas no sentido detrazê-las ao debate. Na Espanha,a metodologia adotada foi esta: se­parou-se a parte consensual, oumenos polêmica, da parte mais po­lêmica, e a esta foram reservadaslongas, demoradas rodadas de ne­gociação, chegando-se, em cadacaso, a um texto.

Irma Passoni - Esse posiciona­mento oferece a seguinte dificul-:dade: faríamos uma Constituiçãosegundo os pontos programáticosou haveria necessidade de cadapartido haver apresentado umaproposta de Constituição? O PT,por exemplo, tem a sua propostade Constituição, que foi apresen­tada, mas não foi discutida. Sim­plesmente não foi abordada. Umacoisa é o programa, outra é adap­tá-lo à realidade de uma Consti­tuição. O equilíbrio entre o pro­grama e as suas propostas pare­ce-me ser essencial.

Luiz Henrique - Com relaçãoa esse aspecto, quanto à metodo­logia gue adotamos no PMDB,identificamos os pontos críticosque nos dividiam internamente,na primeira fase das comissõessubtemáticas e temáticas, e fize­mos uma votação, em convenção,onde definimos a diretriz do par­tido sobre aqueles pontos. OPMDB tem, hoje, uma propostade convenção, que será levada pe­las lideranças à negociação. O PTtem o seu projeto, não sei se o~DT tam?ém tem. Os outros par­tidos, aSSIm como o PMDB, nãotêm um projeto. Mas o PMDB,embora não se tenha reunido eelaborado um projeto, tem pro­postas e vai procurar negociar emCIma dessas propostas. O que éfundamental é que ninguém sesente à mesa com idéias pré-con­cebidas de que a sua proposta éa verdadeira e tem de ser o resul­tado da negociação.

Bonifácio de Andrada - Mashá um detalhe, acho que os nossospartidos políticos não estão assimtão fortes para apresentarem umapostura capaz de influir, enquantopartidos, na Assembléia NacionalConstituinte. As tendências ideo­lógicas é que vão predominar, eas lideranças dos diversos parti­dos, com autoridade institucional,na medida em que souberam lidarcom essas tendências, é que pode­rão fazer presentes os partidos po­líticos. O partido, como partido,dificilmente consegue se impor.

José CarlosCoutinho:

Por não serainda

organizada e,também em

conseqüênciados anos de

autoritarismo,a sociedade temque resguardar

os seusdireitosa nível

constitucional.nham, cada qual dand~ tambéma sua ênfase, para a necessidadedo entendimento, que seja produ­to de um diálogo aberto, transpa­rente, claro e expressivo dos inte­resses da sociedade como um to­do. Em face do que ouvimos aquipoderíamos então colocar a seguin­te questão. O nosso processo detransição - em relação ao quala Constituinte é um momento cul­minante, central, fundamental eindispensável - não se deu poruma ruptura no processo político­institucional. Tanto isso é verdadeque está em vigor uma Constitui­ção vinda do regime anterior epassamos para a fase de transiçãoinclusive através de instrumentosinstitucionais daquele regime, co­mo o Colégio Eleitoral. Todavia,há a questão de que a Constitui­ção, finalmente promulgada, ge­rará rupturas. Se abandonarmos

realmente um processo de transa­ção, de transigência, afinal não vi­mos aqui para declarar guerra,mas para celebrar um armistício.Se for, como já se disse aqui, oresultado transitório de maioriasescassas, sejam elas do meu par­tido ou de outros, teremos tam­bém, junto com essas vit6rias tran­sit6rias de maiorias escassas, umaescassa duração dessa Constitui­ção. As maiorias escassas são mi­grat6rias e conjunturais. Logo va­mos ter as emendas, os remendos.A minha posição é que ela deveser genérica, abrangente, que eladeve ser produto dessa negociaçãoe que essa negociação deve ser já.Essa negociação, sobretudo, temde ter - volto a dizer - não adisciplina férrea de imposição dopartido, mas jamais aceitar a figu­ra do partido como um coadju­vante, praticamente despercebidodesse processo, sob pena de queele, se demitindo da sua tarefafundamental e precípua, que é asua ação na Constitumte, de certaforma se está demitindo do seupróprio projeto de sobrevida noperíodo pós-constituinte, no pe­ríodo democrático sedimentandoque haveremos de ter.

Marcelo Cordeiro - Depois deouvi-los, observo que todos cami-

pectiva de duração e longevidade- ela deve nascer para durar omáximo possível- na medida emque ela for conceitual, especifica­mente detentora de princípios eque fizer os balizamentos e os ali­cerces da organização da nova so­ciedade brasileira, sem descer àminudência e ao detalhe, ela real­mente responderá muito melhorà sua finalidade histórica. Do con­trário corre o risco de começar aconfundir-se - o que é um defeitode certas Constituições brasileiras- com a lei ordinária, com decre­tos e até, como acontece com algu­mas normas na Constituição vi­gente, com portarias, circulares eordem de serviços. Isso acontecede tal maneira que a Constituiçãovai tentando regrar situação queestão bem abaixo de sua hierar­quia.

Um outro aspecto é o problemado processo de agora em diante.Foi valioso o trabalho? Foi. Secontinuar essa mecânica, se a to­marmos como diretriz, caminha­remos no sentido até mesmo deuma aberração. Se recolhermostudo o que fizemos como quemlevou um material indispensável,e até todo o material além do in­dispensável para o canteiro deobras e agora se dispõe a fazero prédio dentro de um novo proje­to, é excelente. Tudo o que se fe~

é indispensável e até saudável. Enesse momento que as presençasdos partidos políticos tem de sercobradas de maneira mais ampla.Não me estou referindo a esse ouàquele partido. Chegamos aquicom as marcas de siglas e pelo ca­nal partidário. Isso é indiscutível.Por isso mesmo os partidos pos­suem uma responsabilidade histó­rica nesta Constituinte. Neste mo­mento eles precisam ter uma açãomuito mais expressiva e efetiva doque tiveram até aqui, quando elesficaram um pouco à margem doprocesso.

Irma Passoni - No caso, seriacada partido apresentar um substi­tutivo global? Gostaria de enten­der isso.

Carlos Chiarelli - Não. A mi­nha idéia não é essa. Eu defen­deira, antes disso, a conveniênciae a necessidade de os partidoscoordenarem, organizareme definirem o seu posicionamento,até porque, no meu modo de en­tender, terminada a Constituintee sedimentado o processo demo­crático, só haverão de se firmare sobreviver os partidos que, naverdade, definirem uma posiçãoprográmatica e doutrinária. Ospartidos tenderão a ser, crescente­mente, num novo modelo de so­ciedade p6s-constituinte com atransição democrática finda e a de­mocracia consolidada, aquelesque, figorosamente, possuem umcompromisso, uma linha progra­mãtica e doutrinária. Não achoque seja nenhuma invasão do di­reito de o constituinte se posicio­nar o fato de o partido tratar deorganizar-se, de estabelecer umadiretriz básica; que não será umaimposição, mas que deve ser umacomposição à luz do programapartidário. Do contrário, nega-seo próprio sentido da origem de es­colha via partido, os partidos nãodirão para que vieram. Agora, seisso vai levar ao direito de se for­mular um substitutivo ou não,acho que até pode. As vezes, ve­mos certas críticas à idéia de nego­ciar, mas política sem negociaçãonão existe, democracia sem nego­ciação não existe.

A nova Constituição só pode ser

emendar, aprovar, reprovar, re­jeitar. Preferimos essa forma cen­trípeta e não centrífuga, das sub­comissões para a Sistematização e,ao final, para o plenário. Creioque isso, menos por causa das pes­soas e mais por causa do método,menos por causa das idéias e maispor causa do processo, nos levouao atual anteprojeto. Não pode­mos fazer nenhum tipo de críticaao relator Bernardo Cabral. Seriauma hedionada hipocnsia e umaacusação de uma injustiça flagran­te. Na verdade, o que ele fez foiuma colagem do que recebeu, atéporque era s6 o que podia fazere nada mais do que isso. Foi vir­tuoso na sua obediência ao Regi­mento. Essa mecânica valeu comouma perspectiva e uma possibili­dade de prospecção, como umaprofundamento que não haveriano outro sistema. Cada subcomis­são teve chance de descer ao sub­solo do assunto e fazer um debateaberto. E ela valeu também porser uma questão imediata, quer di­zer, os constituintes estavam che­gando aqui do palanque, tinhamfeito todo o seu discurso pré-elei­toral.

No meu modo de ver, o traba­lho das subcomissões foi muitomais individual, muito mais dis­cursivo, e isso marcou um texto

Luiz Henrique:Nunca houve um

processo defeitura

constitucionalcom tanta

participação dasociedade.

Das audiênciaspúblicas até as

emendas deiniciativa

popular, todospuderam

participar.de uma amplitude quase inexce­dível, enciclopédica. Aquele pri­meiro texto, que seria o somatóriodo trabalho das subcomissões, nãochega a ser um anteprojeto deConstituição; ele é, praticamente,uma coletânea generalizada de le­gislação ou de comandos norma­tivos sobre toda a problemática dasociedade brasileira, dispõe sobretudo de maneira muito minuciosa.Aí entra uma questão de pontode vista, pois o José Carlos Couti­nho defende o princípio da conve­niência da prolixidade do texto,da generosidade vocabular do tex­to. Penso diferente. Não devemospreestabelecer um limite, ou seja,fazer a moldura para, depois, pin­tar o quadro. A Constituição novanão tem de ter um número fixode artigos. Ela tem de ter tantosartigos quantos forem necessários.Como recomendação de sua pers-

sufocada, por uma eleição simul­tânea de cargos executivos, em umpaís com a tradicional prevalênciado Executivo.

Também criou-se ao lado dessaminimização do processo de esco­lha uma idéia que é muito peculíarà nossa sociedade, a n6s todos,como brasileiros, uma caracterís­tica de expectativa de milagre.Sempre esperamos coisas milagro­sas, sempre estamos na expecta­tiva de uma panacéia, sempre es­tamos desejosos e, talvez, contri­buindo com as nossas opiniões pa­ra que, de repente possa surgiraquilo que, magicamente, nos vairesolver as questões e os proble­mas que nos perturbam, que nospreocupam ou que nos imobili­zam.

Mesmo que tivéssemos essa ce­leridade, essa capacidade de en­tendimento e mesmo esse dom di­vino de justiça, ainda assim a apli­cação disso tudo não seria umacoisa de tal maneira pronta, e arealidade não estaria tão {lredis­posta para que tudo isso VIesse aredundar em êxito imediato ouquase imediato.

Isso contribuiu um pouco paraaquele sentimento de frustraçãoque começou a se disseminar napopulação, na época do debate so­bre o Regimento e que começa­mos a ouvir aquele ruído de desa­grado, desencanto, cobrança. Es­perava-se que, como em um passede mágicas, dez dias depois tudoestaria resolvido, decidido, apro­vado, posto em vigência, e asquestões e os problemas iriam en­contrando a sua solução. A Cons­tituinte tem tido e ainda haveráde ter um trabalho continuado, di­fícil, quase penoso, para chegar adeterminadas definições, em pra­zo hábil. Tomara que cheguemosdentro do cronograma. Não soudaqueles que têm o cronogramacomo dogma, acho que se puder­mos concluir até o dia previsto,6timo, talvez se mostre com issoeficácia operacional. Fazer Cons­tituição não é linha de montagemde produção de bem material. Oimportante é que ela saia comoresultado consciente de um traba­lho coletivo e que exprima, o maisaproximadamente possível, a von­tade da sociedade brasileira.

Com relação ao processo, achoque todos somos responsáveis pelamecânica adotada. Foi adotadacomo resultado de um Regimentoaprovado quase por unanimidade.A responsabilidade é solidária ecomum. Acho que ela teria sidomais produtiva se tivéssemos ado­tado a sistemática usual, a sistemá­tica comum, a sistemática não ape­nas da tradição histórica, não sódos antecedentes brasileiros, masdos antecedentes contemporâneosem outros países, como Portuguale Espanha. Seria mais produtiva,já que não se excluiria o direitode participação, apenas inverteriao momento de ação de todos. Ofato de termos um pré-projeto eabrir sobre ele debates não excluininguém de debater, alterar,

Jornal daConstituinte 5

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tras questões da listinha que vãoapaixonar, como o problema dareforma agrária. Podemos correro risco de ver aprovadas disposi­ções absolutamente contraditóriascom os tempos que estamos viven­do, com os desejos de ruptura dopovo brasileiro. Discordo doBrandão. A ruptura não se fez,ela está em processo. Se a rupturativesse sido feita, não teríamos aío estado de emergência na Consti­tuição e uma série de entulhos doautoritarismo.

Marcelo Cordeiro - O queocorreu foi uma descontinuidade,não uma ruptura.

Luiz Henrique - Não há umprocesso de ruptura; o que há éum processo de transição. A rup­tura só ocorrerá, efetivamente,quando limparmos da geografiajurídico-política deste país todosesses dispositivos que são uma he­rança dos 21 anos de autoritaris­mo.

José Carlos Coutinho - Foi co­locado aqui hoje que as forças dogoverno central e dos militares es­tão influindo em demasia no pro­cesso de feitura da Constituição.Foi dito também que a Constitui­ção seria o coroamento do pro­cesso de transição, Então, ocorreo seguinte: cria-se uma crise insti­tucional em função simplesmentedo desejo do presidente e daque­les que o cercam de verem defi­nido o seu mandato. Quando oPMDB e o PFL, se chegassem a

, um consenso - falo pelo número,são 440-, teríamos imediatamen­te numa resolução de plenário adefinição do parlamentarismo oudo presidencialismo. Vamos su­por, passa o parlamentarismo,conforme é o seu desejo e o desejode muitos dentro desta Casá, omandato do Presidente deixa deser tão importante quanto é hoje.O relator Bernardo Cabral temque "colocar na rua" um substi­tutivo dentro de 60 dias. Que subs­titutivo ele vai colocar, o parla­mentarismo misto por quê? Co­mo?

Digo isso porque aqui o Sena­dor Chiarelli e o Deputado LuizHenrique, q,ue, pela responsabi­lidade que tem, devem, realmen­te, colocar isso em discussão ago­ra. Esse é o ponto fundamentalpara chegarmos a discutir a ques­tão da Federação, a questão dosolo urbano, da reforma agrária.Não há mais tempo para postergara questão do sistema de governo.

Bonifácio de Andrada - Essasdiscussões têm suas imprecisões.São discussões de bastidores.

Luiz Henrique - Não houveuma postergação da parte doPMDB sobre a definição desse as­sunto. Tem que ser uma decisãosábia, porque a decisão conven­cional sobre a matéria não progra­mada - e havia uma série de ou­tras moções, como a pena de mor­t~, sobre matéria ~ão progra.m_á­nca - tena o carater de decisãoinócua. Os defensores de uma ede outra posição não se sentiriamobrigados à decisão convencionale que seria desmoralizados. Masisso não representa que não quere­mos definir. Vamos negociar nadefinição, não apenas dessas ma­térias, mas de todas as outras quesão polêmicas. Evidentemente,temos aí um prazo de 90 a 120dias para definir isso tudo e paranos dedicarmos à construção, noano que vem, de todo o arcabouçoconjuntural damatéria de lei ordi­nária e de lei complementar.

. l; "~ "~~""--

CarlosChiarelli: O

problemapolítico

decisivo ésaber se nossas

assembléiasestaduais serão

tambémlegislativas.Hoje essa

capacidade delegislar é

apenas retóricae formal.

de administração política externa,é o chefe supremo das Forças Ar­madas, tem o poder de iniciativalegal, tem o poder de veto, temo poder de sanção, tem o poderde nomeação, ad referendum doCongresso, do primeiro-ministro,mas onde temos também uma ou­tra chefia do governo, e a adminis­tração passa ao gabinete chefiadopor esse primeiro-ministro.

Irma Passoni - Essas questõesapaixonam. Ainda mais quandotemos uma intervenção do Execu­tivo, que quer ter seu mandato de­finido acima de uma definição desistema de governo. Misturam-seas coisas atuais com a perspectivade uma Constituição.

Luiz Henrique .....:.. Eu não melimitaria ao mandato. Acho quemandato é uma das paixões, talveza maior, mas há uma série de ou-

lativas também.

Carlos Chiarelli - O PMDB fezuma reunião da bancada, lembro­me bem disso, e a tese parlamen­tarista foi vitoriosa e de uma ma­neira ampla.

Luiz Henrique - Não tenho dú­vida de que, depois de décadas deregime presidencialista e de crisesinstrtucionaís seguidas, é até lem­brado o fato de que o único presi­dente civil, eleito pelo povo, naeleição por características absolu­tamente civis, foi Juscelino Ku­bitschek, que conseguiu concluiro seu mandato. Para mim estámuito claro que esse modelo presi­dencialista, que não existe nemnos Estados Unidos mais - o mo­delo que adotamos não existe nemnos Estados Unidos, está histori­camente esgotado. Não podemosperder a oportunidade histórica deimplantar no país o regime parla­mentarista, aproveitando inclusi­ve os avanços desse modelo. NoBrasil não podemos ter um regimeparlamentarista puro, ortodoxo,porque o brasileiro quer votar nopresidente da República. Então,deveremos ter um sistema parla­mentarista onde o _presidente daRepública é uma figura forte, éo chefe do Estado, tem poderes

o risco de um acordo meramenteformal. Acerta-se entre os parti­dos e os mesmos internamente es­tão dissociados e não represen­tam, na sua expressão real, aquiloque foi o ajuste formal. Claro queessa idéia da presença dos partidospara compor e não para impor éjustamente uma conseqüência di­reta do ajuste interno dos parti­dos. Cada um tem a sua formade ação ou na convenção ou noprojeto prévio. O PFL tem um tra­balho que é o anteprojeto deConstituição do Instituto Tancre­do Neves, que também deve sertornado como elemento referen­cial. E um ponto de partida daagremiação para a discussão. Setodos sentarem à mesa com a idéiade que o seu programa deve sertransformado em Constituição,então não precisamos nem deve­mos tentar discutir.

Bonifácio de Andrada - Ospontos polêmicos estão aflorandode tal maneira e a preocupaçãocom os mesmos são de tal ordemque outros pontos fundamentaisestão sendo esquecidos. Cito umcaso concreto. Se se verificar noprojeto que aí está a questão dafederação, veremos que estamoscriando uma ordem federativamuito mais centralizada do que aanterior dos governos militares.Pelo projeto, o que se dá de com­petência aos estados em matérialegislativa é zero. Aumentou-se acompetência legislativa da Uniãopara a letra "Z", antigamente eraletra "V", pela Constituição de1967/1969. Aos estados não se fi­xou nada. Caberá a eles legislarapenas sobre assuntos de seu inte­resse. Só isso.

Carlos Chiarelli - Acho que naalistagem dos assuntos cruciais eprioritários a questão da Federa­ção ficou absolutamente minimi­zada, porque, talvez, o verbo sejaum pouco forte, mas se comprou,de certa maneira, com uma mecâ­nica indutora de benefícios apa­rentes, de distribuição de alíquo­tas, o sentido muito maior da afir­mação federativa, porque o prin­cípio federativo não é rigorosa­mente apenas uma melhor repar­tição de recursos públicos. Essa éuma parcela decorrente, o pontofundamental é a capacidade cria­tiva da autonomia legislativa. Oproblema central político, decisi­vo, é saber até que ponto as nossasassembléias estaduais vão ser le­gislativas, ou não, porque comoestão não são assembléias legisla­tivas, são assembléias apenas, asua capacidade de legislar é mera­mente formal, retórica... Na horade fazer Constituição, não somosmuitos brasis, somos menos brasisdo que éramos e o que somos naConstituição atual, o que é umacoisa realmente fantástica, por­que, se fizermos uma votação, to­dos diremos a mesma coisa: somosrealidades diversas. Quer dizer, seacertar o aspecto tributário, tran­sitório, quase que o varejo, estátudo bem, mas não é isso. A gran­de essência é saber se o estadotem direito ou não de legislar so­bre matéria civil, sobre matériaprocessual.

José Carlos Coutinho - Temosaqui a liderança dos dois maiorespartidos e o fundamental no mo­mento é saber qual o regime quevamos ter, por que essa é a primei­ra questão, presidencialismo ouparlamentarismo. Porque, se ti­vermos uma Constituição parla­mentarista, teremos, aí sim, o for­talecimento das assembléias legis-

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MarceloCordeiro:

Nosso processode transição ­

do qual aConstituinteé o momento

fundamental eindispensável ­

não se deupor uma

ruptura doprocesso

político-ins-titucional.

debate aberto com os partidos mi­noritários, realmente ficamos en­golidos. O grave erro seria, a meuver, a força e o poder que hojese concretizam no País, tanto opoder político, como o poder eco­nômico, eles se sobreporiam aosinteresses de uma proposta deConstituição democrática. Quan­do se diz democrática é porqueela tem que ressalvar o processoda participação dos trabalhadores,porque se não garantir o direitodos trabalhadores e a participaçãoda sociedade civil, ela não vai che­gar a nada.

Carlos Chiarelli - Enfatizariaum detalhe que o Luiz Henriquesalientou, no sentido de que nãoé possível fazer negociação inter­partidária se não for antecedidade uma negociação intrapartidã­ria, sob pena de que haja uma des­conexão absoluta. Isto é, corre-se

Esta é uma posição programática.Defendemos, o monopólio dos se­tores estratégicos da economiabrasileira.

Achamos que é fundamentalpara o próprio desenvolvimentoda democracia a questão da demo­cratização das comunicações. Sãopontos extremamentes polêmicos,além da questão do sistema de go­verno. Neste caso, o Planalto coma sua posição de pressão, os parti­dos majoritários com posições, al­guns parlamentaristas, outros de­fensores de 5 anos, outros de 4e outros presidencialistas, acho quedeveríamos devolver ao povo emplebiscito a possibilidade de deci­dir o sistema de governo e o man­dato do presidente da República.

Irma Passoni - Vou repetir al­gumas questões já colocadas. Oua Constituinte tem uma autono­mia ou nós declaramos liberdadee autonomia no nosso processo denegociação final, porque a tutelado Executivo e a tutela militar pre­cisam ser amenizadas ou até sepa­radas, efetivamente. Se mantiver­mos essas duas questões acima denossas cabeças não conseguiremosrealmente decidir. E também seos partidos majoritários, em nú­mero de votos, não souberemtambém respeitar as minorias e o

Mostra a experiência que todos ospartidos têm tendências diferen­ciadas, mesmo os menores, e dissodá exemplo o PT. A medida queo partido vai crescendo, os confli­tos internos vão aumentando. Opapel das lideranças é fundamen­tal no sentido operacional.

Luiz Henrique - Penso que oentendimento tem duas direções:intrapartidária e interpartidária.Nós, do PMDB, por exemplo, es­tamos tentando promover um pro­cesso de negociação interna, para,a partir daí, termos condições delevar a cabo umgrocesso de nego­ciação externa. papel dos parti­dos, como condutores ou discipli­nadores desse debate e desse en­tendimento, é fundamental.

Brandão Monteiro - Sobre es­sa questão conceitual que colocouo Marcelo Cordeiro, o que é Cons­tituinte, que não houve rupturadas instituições, penso que ruptu-,ra não se dá sempre quando háum golpe de Estado, sangue ourevolução. E evidente que o mo­delo anterior se esgotou e houveuma ruptura, tanto é que estamosnuma Constituinte. Quanto ospartidos, penso que sofrem como processo de transição, vão sofreruma transição. Aqueles que têmuma proposta constitucional estãonuma situação de mais confortodo que os partidos que não a têm.Parece-me que poucos aqui queconheço têm, o PDT, o PC do Be o PT, uma situação de confortono que diz respeito ao seu entendi­mento intrapartidário. Todos sãoe~ressos ainda no regime autori­tario, essa que é a realidade. Elesconstituem, muito menos do quepartidos, frentes de agrupamentospolíticos e, na verdade, isso criadificuldades para os partidos por­que as divergências aí culminam.

Vários partidos em reuniões di­versas buscam uma tentativa deencontrar formas de entendimen­to. Penso que o método melhorseria, na verdade, começarmos adiscutir nossas divergências ondeé possível se conceituar um acordoque represente não o pensamentodo PDT, do PMDB, do PFL, doPC do B, mas que possa repre­sentar o atual estágio do avançodemocrático do país e, necessaria­mente, não será uma Constituiçãosocialista. Não estamos fazendo atransição do regime capitalista pa­ra um regime socialista, mas tam­bém não será obviamente, umaConstituição atrasada e que consa­gre, por exemplo, o capitalismocorno regime definitivo do País.E preciso muita clareza e não abri­mos mão sobre conceitos de em­presa nacional, relação com o ca­pital estrangeiro. Este país não vaicrescer se não se modificar essarealidade fundiária. Como fazê­lo? Temos que tentar estabelecernormas que sejam possíveis den­tro da pluralidade que existe naCasa. Defendemos - e já estamosem divergência com o PT - alémda liberdade sindical e da autono­mia sindical, a unicidade sindical.

~~~PARTIDOS &: TENDÊ1JCIAS ::: PARTIDOS &TENDÊNCIAS :::PARTIDOS & TENDÊJ!JCIAS ::: PA•

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Quase 2 milhões apóiam Igrejagratuitamente, a educação escolarfundamental.

§ 1° Tanto nas escolas do Estadocomo nas das instituições da sociedadeexige-se o atendimento aos padrões dequalidade no serviço da educação des­critos no art (inicial).

§ 2° O Estado garantirá a realiza­ção desses direitos através de outrosprogramas tais como, transporte, ali­mentação, material escolar e assistên­cia à saúde, cujos recursos não prove­nham da porcentagem destinada àeducação em geral.

Art. 4°. Todas as escolas, sejamda rede estatal ou outras, devem ofe­recer uma educação democrática:

a) - pelo seu conteúdo, nos ter­mos do art. (inicial).

b) - pela participação responsá­vel, cada um no seu nível de funções,na realização das atividades escolares.

Parágrafo Umco. E livre às insti­tuições educacionais a opção por umaorientação religiosa da educação ofe­recida, dentro da característica demo­crática acima indicada.

Art 5°. Respeitadas a opção e aconfissão dos pais ou alunos, o ensinoreligioso constituirá componente cur­ricular na educação escolar de 10 e 2°graus das escolas estatais.

LIBERDADE RELIGIOSA

Art. A Constituição da Repú-blica Federativa do Brasil é promul­gada sob a invocação do nome deDeus.

Art. A todos é garantido o di-reito à livre opção de concepções reli­giosas, filosóficas ou políticas, poden­do difundi-Ias publicamente, desdeque respeitem o direito e a liberdadedos demais.

Art O Estado manterá assis-tência religiosa às Forças Armadas enos estabelecimentos de mtemaçãocoletiva, garantida a liberdade de op­ção de cada um.

ORDEM ECONÔMICAArt. Toda a organização da Or-

dem Econômica deve fundamentar-seno reconhecimento da primazia do tra­balho sobre o capital. A lei asseguraráa prioridade da remuneração do traba­lho sobre a remuneração do capital,especificada aquela pelo atendimentodas necessidades básicas do trabalha­dor e dos seus encargos familiares.

Art. Ao direito de propriedadede imóvel rural corresponde uma obri­gação social. ,

Parágrafo Umco. O imóvel ruralque não corresponder à obrigação so­cial será arrecadado mediante a aplica­ção dos institutos da perda sumáriae da desapropnação por interesse so­cial para fms de reforma agrána.

FAMÍLIAArt. A lei deve garantir a pre-

servação da vida de cada pessoa, desdea concepção e em todas as fases dasua existência, não se admitindo a prá­tica do aborto deliberado, da eutaná­sia e da tortura.

Art. A família, constituída pelomatnmônio indissolúvel, tem o direitoàs garantias do Estado para a sua esta­bilidade e condições para o desempe­nho de suas funções, especialmente noque se refere à gestação, nascimento,saúde, alimentação, habitação e edu­cação dos filhos.

Art. O Estado deve ofereceramparo SOCial e previdenciário aos ca­sais mesmo que vivam em união está­vel não regularizada legalmente, bemcomo proteção aos seus filhos.

Art. A criança gozará de prote-ção especial e ser-lhe-ão proporciona­das oportunidades e facilidades, porlei, a fim de lhe facultar o desenvol­vimento físico, mental, moral, espiri­tual e social, de forma sadia e em con­dições de liberdade e dignidade.

Art. A todos os menores se re-conhece o direito a uma educação fun­damentai e a uma iniciação profissio­nal, para auferirem os benefícios daatividade econômica, fundada no tra­balho digno e livre.

a serviço da sociedade, apta a criaruma convivência solidária comprome­tida com a realização da justiça e dapaz.

Parágrafo Único. Todos têm igualdireito, sem discriminação de qual­quer ordem, a uma educação escolarfundamental que preencha a qualida­de indicada neste artigo.

Art. 2°. Ê livre a criação de esco­las de qualquer nível, uma vez satis­feitas as exigências legais quanto àqualidade do ensino, à habilitaçãoprofissional dos educadores e adminis­tradores e garantida a idoneidade eregularidade da administração esco­lar.

Parágrafo Unico. O amparo técni­co e financeiro dos Poderes Públicossomente poderá ser concedido a enti­dades educacionais de natureza não­lucrativa, desde que estas comprovema reaplicação dos excedentes do rendi­mento na melhoria da qualidade doensino e prestem contas da gestão con­tábil à comunidade e aos órgãos públi­cos competentes.

Art. 3°. O Estado, em suas esco­las, tem obrigação de oferecer gratui­tamente a todos as condições neces­sárias de acesso e permanência na edu­cação escolar fundamental, e de ga­rantir os recursos necessários àq.uelesgrupos que se dispuserem a ministrar,

sobre a remuneração do capital,especificada aquela pelo atendi­mento das necessidades básicas dotrabalhador e de seus encargos fa­miliares. Fixa ainda que ao direitode propriedade de imóvel ruralcorresponde uma obrigação so­cial.

Finalmente, a CNBB dispõe, naquarta emenda, que a Constitui­ção da República Federativa doBrasil é promulgada sob a inova­ção do nome de Deus. Estabelecetambém que a todos é garantidoo direito à livre opção de concep­ções religiosas, filosóficas ou polí­ticas, podendo difundi-las publica­mente, desde que respeitem o di­reito e a liberdade dos demais.

A seguir, a íntegra das quatroemendas apresentadas pelaCNBB:

EDUCAÇÃ('Art. 1°. A educação nacional, ba

seada nos ideais de uma democraciaparticipativa, tem por finalidade o ple­no e permanente desenvolvimento in­dividual e social da pessoa humana,para o exercício consciente e livre dacidadania, mediante uma reflexão crí­tica da realidade, para a capacitaçãoao trabalho e para a ação responsável

LFoiprecisomuita gentepara conduzir as emendasaté a Sistematização

Na questão da família, a CNBBfixa em sua proposta que a lei devegarantir a preservação da vida decada pessoa, desde a concepçãoe em todas as fases da sua existên­cia, não se admitindo a prática doaborto deliberado, da eutanásia eda tortura. A família, constituídapelo matrimônio indissolúvel, temo direito às garantias do Estadopara sua estabilidade e condiçõespara o desempenho de suas fun­ções, especialmente no que se re­fere à gestação, nascimento, saú­de, alimentação, habitação e edu­cação dos filhos. A criança gozaráde proteção especial e ser-lhe-ãoproporcionadas oportunidades efacilidades, por lei, a fim de lhefacultar o desenvolvimento físico,mental, moral, espiritual e social,de forma sadia e em condições deliberdade e dignidade.

A proposta que regulamenta aOrdem Econômica está baseadano princípio de que toda a organi­zação da Ordem Econômica devefundamentar-se no reconhecimen­to da primazia do trabalho sobreo capital. A lei assegurará a priori­dade de remuneração do trabalho

Com o respaldo de 1.761.519 as­sinaturas, o secretário-geral daConferência Nacional dos Bisposdo Brasil, Dom Luciano Mendesde Almeida, entregou ao J?resi­dente da Assembléia NacionalConstituinte, Deputado UlyssesGuimarães, quatro propostas deemendas populares à Constitui­ção, tratando respectivamente daEducação, da Ordem Econômica,da Liberdade Religiosa e da Fa­mília.

Dom Luciano disse que as pro­postas de emenda à Constituiçãopatrocinadas pela CNBB têm umaimportância que transcende ao as­pecto puramente constitucional.Elas implicam na parncípação deum número muito expressivo depessoas que as assinaram e, maisque isso, significam uma disposi­ção de participar que não se encer­ra com sua entrega à Constituinte.Pelo contrário, iniciam um proces­so que deverá permanecer apóspromulgada a Constituição, comuma participação popular cons­tante na administração do futurodo País.

O deputado Ulysses Guimarãesagradeceu a visita do secretário­geral da CNBB e disse que enten­dia a entrega das emendas comouma forma efetiva de participa­ção. Lembrou ainda que, paraconsagrar no texto do regimentointerno da Constituinte a partici­pação popular direta, através daapresentação de emendas própriasde cada segmento da sociedade,foram contornadas muitas dificul­dades e resistências. Todavia, pre­valeceu a decisão de se garantiruma efetiva democracia, que nãoexiste sem a participação do povo.

As 1.761.519 assinaturas se dis­tribuíram da seguinte forma, entrequatro emendas. A emenda quetrata da educação recebeu um to­tal de 749.856 apOIos; em segundolugar posicionou-se a questão dafamília, com um total de 515.820assinaturas; em terceiro, a questãoda Ordem Econômica, assinadapor um total de 283.381 eleitorese, finalmente, a questão da liber­dade religiosa, com um total de212.462 assmaturas.

A emenda patrocinada pelaCNBB que trata da educação esta­belece liberdade de criação de es­colas de qualquer nível, uma vezsatisfeitas as exigências legaisquanto à qualidade do ensino eà habilitação profissional dos edu­cadores e administradores. Res­salva, porém, que o amparo técni­co e financeiro dos Poderes Públi­cos somente poderá ser concedidoa entidades educacionais de natu­reza não-lucrativa. Garante aindaque, respeitadas a opção e a con­fissão de pais e alunos, o ensinoreligioso constituirá componentecurricular na educação escolar de10 e 20graus das escolas estatais.

A proposta da CNBB entendeque a educação nacional, baseadanos ideais de uma democracia par­ticipativa, tem por finalidade opleno e permanente desenvolvi­mento individual e social da pes­soa humana, para o exercícioconsciente e livre da cidadania,mediante uma reflexão crítica darealidade, para a capacitação aotrabalho e para a ação responsávela serviço da sociedade, apta a criar

\uma convivência solidária com­prometida com a realização da jus­tiça e da paz.

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Ademir Andrade, doPMDB do Pará, édefensor dasatividades dosgarimpeiros eaponta váriasaberrações nalegislação atualque trata dasatividadesmineradoras noPaís. Defendemaior incentivoao garimpeiro.

A revista "Brasil Mineral", em sua edição de abril último,publicou pesquisa realizada no setor sobre a origem do capitaldas empresas produtoras, de autoria do pesquisador do CNJ?q,Francisco Rego Chaves Fernandes. Pelos dados publicados na revis­ta, o capital de origem estrangeira participa com 37% da produçãomineral brasileira, ficando o capital nacional estatal com 27% eo capital nacional privado com 36%.

O capital estrangeiro é preponderante em vários segmentosdo setor mineral, destacando-se sua participação amplamente majo- .ritária nos minerais metálicos e nos minerais industriais não metá­licos.

Bauxita - o capital estrangeiro detém 67%, e 25% dos empreendimentos são controlados integralmente pelo grupo norte-a­mericano Aleoa e pela empresa canadense Alcan. Além disso,.80% das concessões de lavra pertencem a estrangeiros.

Amianto - o capital estrangeiro domina 94% do setor. As~I -

Jornal

Quem domina

O deputado Gabriel Guerreirodefende a exploração do subsolobrasileiro apenas por empresas na­cionais. Por esse motivo o parla­mentar considera da maior impor­tância uma definição clara da em­presa nacional na nova Carta, on­de se ressaltem que o controle docapital e o poder de decisão dentrode uma empresa nacional têm queestar nas mãos de brasileiros. Apartir desta retirada do capital es­trangeiro via Constituição, GabrielGuerreiro acredita que a novarealidade de mmeração deve, m­clusive, se refletir no atual quadroda divisão de jazidas, hoje sob do­mínio de grandes conglomeradosestrangeiros.

Por outro lado, o parlamentarnão defende uma monopolização"estatal no setor mineral. Pelo con­trário, Gabriel Guerreiro acredita

.que o monopólio deve ser estabe­le~o em todos os níveis de pro­dução e comercialização apenasno caso do petr61eo e dos mineraisradioativos. Ele, inclusive, defen­de uma proposta nova através daqual não seria propriedade daUnião o subsolo brasileiro. Essapropriedade estaria, sim, nasmãos da nação. Ele prega, portan­to, um modelo nacionalizante enão um modelo estatizante.

Com o domínio da nação sobreo subsolo e a atividade mineradorarestrita ao Estado e a empresasdefinidas como nacionais, estariafechado um esquema protetor so­bre as riquezas do País nesse setor.Gabriel Guerreiro lembra quemuito se tem dito que o setor mi­nerador não tem que ser objetode uma preocupação maior, pois,afinal, representa apenas 1,5% doProduto Interno Bruto. GabrielGuerreiro contra-argumenta queessa participação real no PIB émuito maior e é escamoteada apartir da contagem apenas do va­lor do produto em seu estado bru­to. No cálculo do PIB, os econo­mistas ignoram o efeito multipli­cador do minério que vai penetrarigualmente em outros setores eco­nômicos como a metalurgia e a si­derugia, sendo essencial para o su­primento de matérias-pnmas. Le­vando-se em conta esse efeito mul­tiplicador , Gabriel Guerreiroacredita que o percentual real dosetor mineral no PIB brasileiro se­ja de 20%.

E sobre a participação dos ga­rimpeiros na economia? SegundoGabriel Guerreiro, a ~arimpagemnão permite fazer projeções sobreo suprimento de um produto. Ogarimpo, lembra o parlamentar,flutua muito tendo alterações emseu contingente populacional e es­tando sempre sujeito a intempé­ries. Essa desordem não permiteum controle efetivo da produçãoe ele acredita que, juntamentecom o contrabando registradoatravés das empresas mineradorasque atuam no País, apenas um ter­ço da produção aurífera brasileiraé registrada. _

Outro fato importante de serlembrado, afirma Gabriel Guer­reiro, é que, ao contrário do quemuitos dizem, o garimpo não éuma forma democrática de enri­quecimento. Ele cita uma pesqui­sa realizada por ele em cinco anosde atividade em Serra Pelada.Nesse período, apenas mil pessoasdividiram 22 toneladas de ouro,enquanto, do outro lado, 49 mil

Nacionalização dobásicos como "a revisão de todosos alvarás de concessões de lavrae pesquisa; descentralização da ca­pacidade de fiscalizar e legislar so­bre bens minerais; a substituiçãoda figura da concessão pela docontrato mineral, mais modernae já adotada em vários Países."

BENEDITA DA SILVA

Dos pontos propostos por Ra­quel Candido alguns têm o apoiointegral da deputada Benedita daSilva. Segundo esta, deve haveruma substituição da concessão ad­ministrativa de hoje pelo contratocom prazo determinado, "à seme­lhança do que faz a maioria dos paí­ses desenvolvidos, de sorteque, através da negociação casoa caso, possam ser fixadas as obri­gações e definidos os deveres dominerador, e estabelecida, de for­ma clara, a contrapartida para aUnião em termos econômicos, fi­nanceiros e sociais".

Mas a própria Constituinte re­conhece que a definição de umaempresa nacional ou estrangeirapassa por muitas dificuldades."Embora organizadas no Brasil,a maioria dessas empresas não sãode fato nacionais. Pelo sistema"holding", qualquer grupo estran­geiro pode controlar um númeroilimitado de "empresas brasilei­ras" por intermédio de mecanismode comando acionário que apenasconfere a fachada de "brasileiras"a tais empresas, extremamenteatuantes e operativas."

Essa definição de empresa na­cional ainda é mais vulnerávelquando observada a atual Consti­tuição brasileira. Segundo Bene­dita da Silva, "a Carta Magna emvigor, quando se trata de pessoafísica, exige nacionalidade brasi­leira para a exploração e o apro­veitamento do patrimônio mineralnacional; quando se trata, ao con­trário, de pessoa jurídica, não háqualquer restrição à presença deempresas estrangeiras como s6­cios ou acionistas, majoritários ouminoritários nessas sociedades".

Espaços como esses abertos nalegislação brasileira permitem, deacordo com dados do CNPq, cita­dos por Benedita da Silva, que ocapital estrangeiro participe daprodução mineral brasileira em42%, excluído o petróleo.

"O Brasil comete o sério errode permitir a desnacionalização deseu incomensurável patrimôniomineral, que, em última análise,pertence a coletividade nacional.A Assembléia Nacional Consti­tuinte terá a oportunidade excep­cional para promover mudançasde fundo nas regras constitucio­nais sobre a mineração", concluia deputada Benedita da Silva.

EMPRESA NACIONALAntes de ingressar, em 1982, na

carreira política, o atual deputadoGabriel Guerreiro viveu de perto,durante doze anos, a profissão degeólogo, na área de pesquisa decampo. Com esta ampla experiên­cia, ele discute hoje, na Assem­bléia Nacional Constituinte, a par­ticipação do capital estrangeiro namineração brasileira, o problemagerado a partir de descobertas deJazidas em reservas indígenas,bem como faz uma análise maisprofunda da real participação daatividade garimpeira dentro daeconomia nacional.

D uas mulheres estão na linhade frente na luta pela nacio­

nalização das reservas minerais doPaís: a deputada Raquel Cândido,do Partido da Frente Liberal deRondônia, e a deputada Beneditada Silva, do Partido dos Trabalha­dores do Rio de Janeiro. As duastêm-se destacado apontando nãoapenas o volume da participaçãoestrangeira nos recursos mineraisbrasileiros, mas também apresen­tando sugestões para que a atualpolítica de minerais seja modifi­cada através da nova Constitui­ção.

Segundo Raquel Cândido, "cabe nacionalizar todo o setor de mi­nerais estratégicos, pois, a conti­nuar como está, permaneceremossendo presa fácil do capital e dosinteresses estrangeiros". A depu­tada tem sua preocupação voltadapara o caso do ouro, que, segundodados do geólogo Moisés Bentes,em 1990, "75% dos investimentospara a extração do ouro estarãosob o domínio das mineradorasestrangeiras. Isso acontecerá ape­nas com o ouro, cujas reservas sãoestimadas em 50 mil toneladas".

Para o representante pefelistas,dois organismos federais estão co­mandando o "descaso e a desaten­ção com o setor mineral". "Assis­timos, estarrecidos, a entréga denossas nquezas para as empresastransnacionais, através de uma po­lítica nociva e antipátria de con­cessões, alvarás de pesquisa, sobo comando impune do Departa­mento Nacional de Produção Mi­neral que, juntamente com o Insti­tuto Brasileiro de Mineração, fazo jogo das multinacionais."

"As multinacionais, lembra aparlamentar, dominam uma áreade 917.305 quilômetros quadra­dos, o que equivale a cerca de 12%do nosso Território. Elas estão emcima das nossas jazidas, mas ex­ploram apenas 5%, quardando co­mo reserva o restante. Enquantoisso, nosso povo empobrece e sesubmete a uma verdadeira escravi­dão; enquanto isso aviltam-se ospreços dos nossos produtos e dasnossas matérias-pnmas."

A ação das empresas estrangei­ras, na opinião de Raquel Cân­dido, recebe ainda a cooperaçãodas missões religiosas para agiremem reservas indígenas. "Estranhacoincidência: exatamente onde seencontram as reservas indígenas eas missões religiosas é que estãoas maiores reservas de minérios."

Para a deputada, a exploraçãomineral do País pelas empresas es­trangeiras estaria também articu­lada com interesse dos própriosPaíses desenvolvidos no sentidode manterem intactas as jazidasnos países credores.

Raquel Cândido denuncia, in­clusive, que as empresas estran­geiras além de não utilizarem asriquezas do subsolo em suas áreas,não permitem o aproveitamentodo solo para a produção agrope­cuária. "No meu estado, Rondô­nia, onde as empresas alienígenaspossuem alvarás de pesquisas nosubsolo, elas agem arbitrariamen­te até para impedir a produção nosolo. E muito comum os agricul­tores receberem os títulos de terrado Incra e não poderem plantar,por causa das milícias paralelasdas multinacionais que infestam aregião e o estado."

Como sugestão, aponta pontos

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subsolo em debate

-

RaquelCândido, do PFL

de Rondônia, mostraos prejuízos aos

interesses nacionaisprovocados pela

ação das empresasde mineraçãoestrangeiras.

Defendemedidas, como a

revisão dos alvarásde concessão de

lavra.

~ setor mineral?jazidas estão sob o controle da empresa Sarna, uma multinacionalcom capital francês e belga. As reservas brasileiras são de 80 milhõesde toneladas. A expectativa de exaustão das reservas é de 25 anos.I Diamantes - capital estrangeiro detém 63% do mineral extraí-

do por mecanização.I Estanho - 30% das jazidas brasileiras estão sob o domínio

da Brascan e 24% sob o da British Petroleum.Nióbio, chumbo e tungstênio - os três minerais têm o capital

estrangeiro participando em 100% do empreendimento.lOuro - Do ouro mecanizado, o capital estrangeiro detém

80%. A Mineração Morro Velho, responsável por grande partedesse percentual, pertence à empresa Anglo American, de origemsul-africana., Além desses, o capital estrangeiro participa ainda em 86% do

alumínio, 58% do níquel, 65% da prata, 34% do ferro, 58% dosal-gema, 36% dos fertilizantes e 44% do titânio. Ao todo, 21países estão representados na mineração nacional.

, ..onstltulnte

dividiram oito toneladas, ou cercade 160 gramas do mineral.

Gabriel Guerreiro, entretanto,não é contra as áreas de garimpa­gem. Ele apenas denuncia umarealidade. Para o parlamentar, omelhor modelo para os garimposseriam garimpos cooperativadoscom um menor número de pes­soas, em que houvesse organiza­ção e legislação, além de meca­nismos de controle.

Quanto à questão indígena, Ga­briel Guerreiro alerta que um con­flito se avizinha, pois a calha cen­tral da Bacia Amazônica, que éde solos dos períodos Terciário eQuaternário, eram os habitats pri­mitivos dos índios. Com a entradado homem branco na região, osíndios foram expulsos para asáreas das eras pré-cambrianas, on­de estão as jazidas.

Por defender uma política na­cionalista para o setor mineral,Gabriel Guerreiro não escondeque "as multinacionais queremver a minha caveira e tenho sofri­do pressões de alguns setores, masnão abandono a luta pelos pontosde vista em que acredito".

O GARIMPEIROO constituinte Ademir Andra­

de mostrou um outro ângulo daproblemática mineral no País. Oparlamentar tem uma longa vivên­cia das dificuldades dos garimpei­ros na Região Amazônica, princi­palmente na exploração do ouro,cassisterita e pedras preciosas. Ogarimpeiro, segundo o constituin­te, é um agente econômico extre­mamente Importante para a re­gião, onde 90% das descobertasde novas jazidas são feitas poreles. A atividade, aliás, é respon­sável pelo desenvolvimento de vá­rias CIdades no sul do Pará, comoItaituba e Marabá. Nessa últimaatividade econômica propiciou umaumento de três vezes na popu­lação da cidade em poucos anos.

A trajetória da maioria dos ga­rimpeiros pode ser reduzida a umesquema bem conhecido na re­gião. De acordo com Ademir An­drade, o garimpeiro após a desco­berta não tem nenhum instrumen­to legal que lhe assegure a possedefinitiva da jazida. Entra entãoem cena, a empresa mineradora,que faz um mapeamento da áreae apresenta um projeto ao Depar­tamento Nacional de ProduçãoMineral, que então concede o al­vará de pesquisa. De posse dessealvará, a empresa entra na justiçae, através da ação da polícia, ex­pulsa os garimpeiros da jazida.

Esse processo, para o parla­mentar paraense, encontra doispontos de apoio. O primeiro é oCódigo de Mineração que foi edi­tado em 1967e que protege as em­presas mineradoras. O segundoponto, de acordo com o consti­tuinte, é o fato da maioria dos diri­gentes do DNPM ser contra a ati­vidade do garimpeiro. Esses doisfatores produzem também aberra­ções como a concessão de 1.300alvarás de pesquisa para a AngloAmerican, empresa de origem sul­africana, enquanto o próprio Có­digo permite apenas cinco áreaspara uma mesma empresa.

As aberrações, na opinião deAdemir Andrade, não param poraí. O garimpeiro, lembra o parla­mentar, não recebe qualquer for­ma de ajuda do governo. "A ativi-

dade do garimpeiro não onera oscofres públicos, pois o que o go­verno arrecada em imposto coma exploração mineral não reverte­em benefício do trabalhador nemmesmo da região. Enquanto isso,a empresa que paga o mesmo umpor cento pelo metal extraído ­imposto que considero muito re­duzido - além disso recebe todaa forma de incentivos, como aisenção do ISS, que é uma impor­tante fonte de receita local, istosem contar os subsídios dadosatravés da redução ou isenção nopagamento do consumo de eletri­cidade".

Esse estímulo à grande empresamineradora, para Ademir Andra­de, por parte do governo, é exata­mente o estímulo ao contrabando,pois somente a grande empresatem condições financeiras de arcarcom a criação de pequenos cam­pos de pouso, aquisição de aviõese sua manutenção. O parlamentarcita as cifras oficiais, que afirmamque o Brasil produz atualmentecerca de 50 toneladas de ouro. Se­gundo Ademir Andrade, o Paísproduz pelo menos três vezes essevalor.

O conflito entre os garimpeirose as grandes empresas de mine­ração tem provocado muitas mor­tes na região amazônica. O pior,acredita o deputado, é que o ga­rimpeiro é muito mais importanteem termos econômicos para a re­gião, pois a riqueza que ele geraele introduz no sistema produtivolocal. "Enquanto a empresa mine­radora extrai o minério da regiãoe desloca o lucro dessa operaçãopara o sul do País, ou mesmo parafora dele, o garimpeiro gasta o queganha na sua sobrevivência, ou ad­quirindo bens nas indústrias locaise se fixa na região". A prova dessaafirmação Ademir Andrade rece­beu recentemente. O prefeito deAltamira, no Pará, pediu provi­dências urgentes dos parlamenta­res do Estado na Assembléia Na­cional Constituinte, com o obje­tivo de impedir que se concretizeo fechamento do garimpo de Vol­ta Grande, no Xingu, cuja conces­são foi dada à empresa Oca. Oprefeito afirma em seu pedido quea manutenção do padrão de vidana cidade depende fundamental­mente dos garimpeiros e da circu­lação do ouro, como gerador deriqueza.

CONTROLE DO SUBSOLO

A questão dos recursos mine­rais brasileiros e a sua forma deexploração por empresas, sejamnacionais ou estrangeiras, prome-.te ser um dos temas polêmicos doanteprojeto apresentado pela Co­missão de Sistematização. Pelomenos é este o pensamento doconstituinte Percival Muniz, queapresentou uma série de emendasque, segundo ele, têm como obje­tívo principal assegurar o controledo subsolo do País pelo Estado.

"Ao estudarmos os dados refe­rente à questão do controle dasjazidas minerais do País, excetono caso do petróleo, verificamosuma triste realidade: há uma gran­de entrega das riquezas do Paísao grande capital estrangeiro."Por esse motivo, o parlamentarpretende apresentar um pedido dedestaque para as suas iniciativasdurante as discussões em plenário.

"O País precisa ter um maior

controle sobre as jazidas de qual­quer tipo de mineral." Um passoimportante neste sentido, para

-Percival Muniz é uma modificaçãoradical no regime de concessõesprevisto no Código de MineraçãoBrasileiro. As concessões, segun­do as propostas do parlamentarmato-grossense, seriam transfor­madas em contrato de exploração.Essa mudança de sistema permiti­riam, primeiramente, que no con­trato ficasse estipulado o períodode tempo em que a empresa mine­radora poderia explorar a jazida.Atualmente, pelo regime de con­cessões esse prazo não é fixado.

Um segundo ponto que justifi­ca, no entender de Percival Mu­niz, a introdução do sistema decontrato de exploração é permitiruma maior ingerência do Estado,no sentido de disciplinar a própriaexploração, não apenas permitin­do um maior controle acionáriodas empresas exploradoras, masobrigando o Governo a analisar,caso a caso, as obrigações impos­tas à empresa exploradora da Jazi­da. Essa avaliação individual sejustificaria pela variedade de mi­nerais e permitiria, inclusive, umaprevisão sobre o impacto ambien­tal da exploração, determinandoobrigações da empresa com res­peito ao equilíbrio do meio am­biente. Atualmente, de acordocom Percival Muniz, o Estado nãotem controle nenhum após a con­cessão.

A fixação do prazo para que aempresa comece a explorar a jazi­da, bem como a forma como ofará, segundo o constituinte, teriacomo mérito também a agilizaçãodo processo minerador, evitandouma prática que se tem tomadocomum na mineração brasileira,que é o fato de uma empresa rece­ber o direito de exploração, masmanter a jazida intocada, não per­mitindo muitas vezes o aproveita­mento do próprio solo.

Outra preocupação de PercivalMuniz, é o impacto econômico daexploração na região onde ela seefetua. Pela sua proposta, partedos lucros das empresas minera­doras seria retida na região e seriaaplicada em outras atividades lo­cais, tais como a agricultura ou apecuária, por exemplo. Essa preo­cupação, reconhece o parlamen­tar ,_é para evi~a~que após a exp!o­raçao o mumcipio, ou a regtao,fique repentinamente sem meiosde assegurar a sua sobrevivênciae ocorra um rápido processo deempobrecimento.

Um ponto polêmico que o par­lamentar vai defender é o que es­tabelece o monopólio não apenassobre o petróleo, mas igualmentesobre mínerais radioativos, e prin­cipalmente sobre o nióbio, do qualo Brasil é o País que detém cercade 95% das reservas mundiais. "Omonopólio sobre esses minériosnão é apenas importante do pontode vista estratégico, mas tambémpara aumentar o poder de barga­nha do governo brasileiro na pró­pria negociação da dívida externa.A União Soviética e os EstadosUnidos, por exemplo, mantêmsuas jazidas como reservas estraté­gicas se beneficiando da explora­ção dos recursos minerais de paí­ses como o Brasil.

Humberto Martins

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Elite vacila:modernidadeou privilégio

A nova Constituição estásendo produzida pela elite epara beneficiar a elite, afirmoua constituinte Irma Passoni, doPartido dos Trabalhadores,acrescentando que essas elitesvacilam entre admitir um certonível de modernidade e a ma­nutenção dos privilégios. Elaacredita, porém, que a pressãopopular, através das emendasde iniciativa da sociedade, aoProjeto de Constituição, con­siga reverter em parte esse pro­cesso.

Irma Passoni entende que asmais de 60 mil sugestões e asquatro mil propostas de emen­das oferecidas por entidades detodo o país sejam capazes deindicar aos constituintes o ca­minho que o povo deseja verconsolidado na futura Consti­tuição. Conhecemos os limitese contradições de um processoConstituinte - acrescentou ­e esse processo é regido por umpacto de elites que pretendemanter os privilégios.

Existem questões sociais,porém, às quais a Constituintenão poderá se furtar, segundoa parlamentar, e uma dessasquestões é a da moradia, den­tro do quadro maior do pro­cesso de urbanização do País.No entendimento de Irma Pas­soni, a moradia não é apenasuma casa; deve incluir direitosbásicos.

Embora muitos parlamenta­res argumentem que essa nãoé uma matéria constitucional- explicou - nós lutaremospara que ela seja inserida nanova Carta, como um direitofundamental do cidadão. Nãose pode esquecer o fato de que70% da população vivem nomeio urbano e padecem decondições de moradia e trans­portes insuportáveis, e quealém disso convive com a ga­nância ensandecida dos espe­culadores imobiliários.

DEFESA DA ECOLOGIATemos que ,pela primeira

vez em nossa Históna, fazerconstar na Constituição um ca­pítulo de defesa da fauna e daflora nacional, afirmou o cons­tituinte Wilson Martins(PMDB - MS), ao criticar adestruição de praticamente to­da a mata da Região Sul de seuEstado, inclusiveas matas cilia­res, que protegem os rios. Oproblema é nacional e a Consti­tuição não pode omitir a ques­tão, acrescentou. O constituin­te ressalva que não é possívelviabilizar a produção. agrope­cuária sem derrubar uma partedas matas. Isto não justifica,porém a destruição de reservasque deveriam ser obrigatoria­mente preservadas, até paraevitar o assoreamento dos riose o desaparecimento da fauna.Infelizmente, porém - disse-, isso não foi feito e temosregiões inteiras ameaçadas dedesertificação pelo desmata­mento predatóno.

O constituinte Paulo Maca­rini (PMDB - Se) acentuouque é dever do Poder Públicoe de todo cidadão zelar pelapreservação do meio ambientee que esta preservação se iniciacom a obngatoriedade de con­vênios entre União, Estados eMunicípios.

Paulo Macarini

l- Nilson Gibson

do consciência com a distribuiçãode cargos."

Para Airton Cordeiro, há umagrande frustração nacional quepode levar todos os constituintesao calvário do julgamento popu­lar, por não poderem decidir livre­mente.

- A Constituinte vive hoje en­tre a impotência e a inutilidade,devido às pressões do Poder Exe­cutivo.

Conforme o representante pa­ranaense, legítima é apenas a pres­são popular, por representar a ma­nifestação de um povo que sempreteve seus direitos negados por to­dos os Poderes, inclusive o Judi­ciário, que lhe tem faltado em seusanseios de justiça.

PARLAMENTARISMO

Regime parlamentarista de go­verno, mas depois da eleição dopróximo Presidente da República-:- é o que preconiza o constituinteAureo Mello, do PMDB do Ama­zonas.

Tal regime - diz Áureo Mello- poderá servir como um extintorde incêndio: apagará as chamasque seguramente advírão com arealização do novo pleito, além deatender anseios democráticos dopovo brasileiro.

DILEMA

Quanto ao sistema de Governo,o constituinte Oswaldo Almeida,do PL do Rio de Janeiro, declaraque se sente embaraçado dianteda escolha entre o presidencialis­mo e o parlamentarismo. "Mas,para qualquer um, é necessárioque tenhamos partidos fortes."

Pedindo grandeza e humildadeaos constituintes, Oswaldo Almei­da prega uma alteração profundano atual Projeto de Constituição,mesmo que, para isso, tenha deser alterado o Regimento.

Chegou a hora de enfrentarmosa realidade - diz Almeida -, pe­dindo bom senso aos constituintespara que se possa compatibilizartodos os temas de natureza consti­-tucional, E é hora de maior aten­ção para o trabalhador rural. Évital para este País estimular a ati­vidade rural, concluiu o consti­tuinte.

Feres Nader

Oswaldo Almeida

Adylson Mottaé contra a

figura do decreto­lei na futuraConstituição,

Defende tambémo decurso deprazo comalterações.

lo, dá o quadro de seu Partido:a maioria dos deputados do PTBestá com as diretas já-88. E SólonBorges dos Reis, também PTB,explica não ser verdade que o par­tido em causa esteja numa frentepelo Governo. Entende-se comqualquer um a nível de Consti­tuinte.

INEGOCIÁVEL

- A duração do atual mandatopresidencial é inegociável.

Esta afirmação é do constituinteparanaense Airton Cordeiro, doPDT, que a declarou ao participardo debate sobre o Projeto daConstituição, quando pregou umaampla negociação partidária emtorno das questões polêmicas, efez a ressalva: "apenas a duraçãodo atual mandato presidencial éinegociável." E explica:

- O Presidente Sarney não sóasfixia o povo, mas o próprio po­der soberano da Constituinte. "Ig­norando este poder soberano, opresidente invade o plenário, atra­vés dos seus prepostos, compran-

votar neste plenário. Votei deacordo com o líder do meu partidonaquela ocasião, o deputado Nel­son Marchezan, para mostrar aopovo brasileiro que eu não tinhanenhum compromisso com a can­didatura do meu partido. Assim,examinando este documento, po­demos afirmar tranqüilamenteque o Presidente Sarney não fal­tou ao compromisso assumidocom o seu partido.

Também a língua ganhou de­fensores. Como é o caso do consti­tuinte Feres Nader, do PDT doRio de Janeiro.

Os constituintes precisam seunir em defesa dos valores de nos­sa língua e de nossa gramática, an­tes que o modismo a polua ou aextermine - diz Feres Nader.

MUDANÇAS- A Assembléia Nacional

Constituinte está confusa - decla­ra o constituinte Juarez Antunes,do PDT do Rio de Janeiro, o qualcritica o PMDB de não estar preo­cupado com o estabelecimento demudanças no País.

Para Juarez Antunes, essas mu­danças só poderão acontecer sehouver pressão do povo sobre osseus representantes na Constituin­te. Para o representante do PDT,está havendo a prevalência de in­teresses particulares na elabora­ção da nova Constituição.

O constituinte criticou declara­ções dos ministros do Exército, so­bre a Constituinte e do Ministroda Justiça, que aplicou a Lei deSegurança Nacional para punir osque vaiaram o Presidente da Re­pública.

SERIEDADEJá o constituinte Valter Pereira,

do PMDB do Mato Grosso do Sul,exigiu dos seus companheiros dopartido "maior seriedade" nos tra­balhos a serem desenvolvidos deagora em diante.

Valter Pereira reiterou a neces­sidade de um esforço concentradodestinado a propiciar uma Consti­tuição capaz de devolver ao povoa confiança nos destinos do País.

DIRETAS

Farabulini Júnior, de São Pau-

Um apelo foi dirigido da tribunado plenário, pelo constituinteAdylson Motta, do PDS do RioGrande do Sul - ao relator Ber­nardo Cabral (PMDB - AM), nosentido de que não deixe constardo texto da nova Constituição afigura do decreto-lei.

E anunciou que nesse sentidovem de apresentar duas emendas,abolindo o decreto-lei.

Também peço ao eminente re­lator - disse ainda Adylson Motta- que considere - parece quefoi acolhida no anteprojeto - afigura do decurso de prazo. Queseja seguido o modelo italiano: oinverso do que se adota hoje noBrasil: decorrido determinadoprazo, a matéria que não for apre­ciada será dada como rejeitada,e não aprovada, conforme a legis­lação atual.

O constituinte gaúcho adverteque estão se criando cargos atra­vés de decretos-leis, em vez deconcurso público. "Isto enquantoa Previdência Social compra apar­tamentos sem licitação."

Carta nãodeve conterDecreto-lei

DESCALABRO

O fato foi objeto de respostapor parte do vice-líder do PMDB,Paulo Macarini, de Santa Catari­na.

- Lembraria ao nobre deputa­do Adylson Motta que a Previdên­cia Social entrou em fase de desca­labro na administração de seu con­terrâneo e companheiro de parti­do, o ex-ministro Jair Soares.

- Ex-companheiro - aparteiaAdylson.

- Em segundo lugar, querolembrar que o PDS, durante 20anos, apoiou o regime totalitário,que expediu neste País cerca dedois mil decretos-leis. E ressalvo:sou partidário da realização de li­citação para qualquer aquisiçãofeita pelo Governo Federal. Tam­bém advogo a tese de que o ingres­so no serviço público deve ser fei­to, única e exclusivamente, atra­vés de concurso, para que todosos brasileiros tenham as mesmasoportunidades.

COMPROMISSO

Já o constituinte Nilson Gibson,do PMDB de Pernambuco, evocao pacto firmado para a eleição deTancredo Neves: convocação daConstituinte livre e soberana em1986, medida adotada e cumpridapelo Presidente José Sarney. Ediz:

- O Presidente Sarney não fa­lou ao PMDB, S. Ex' assumiu ecumpriu todos os itens do compro­misso firmado entre o meu parti­do, o PMDB, e a Frente Liberal.Por isso, tenho autoridade paraocupar a tribuna e debater o as­sunto, pois não pertencia eu,àquela época, ao agregamento dasforças políticas comandado peloex-governador de Minas Gerais,Tancredo Neves. Não votei emTancredo Neves, abstive-me de

10 Jornal da Constituinte

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Daso Coimbra

Arnaldo renova as"diretas já"

Por querer as diretas,o constituintepaulistaArnaldoFariade Sá, do PTB,foi aos fatos: com200assinaturas, en­tregou ao presidenteda Constituinteprojeto de decisão propondo eleiçõesdirétas para novembro do próximoano. "Poder legitimado pelo voto po­pular", disse Arnaldo.

Por sua vez,o constituinte RonaldoCarvalho, do PMDB- MG, disse es­tar interessado na participação popu­lar em defesa de seus interesses naConstituição.

Apenas os segmentos mais atrasa­dos e oselitistas, dizRonaldo,podemquestionar a validade deste tipo departicipação, fundamental para o en­caminl:lamento da proposta democrá­tica no País.

Ronaldo expressa confiança no po­der político do Brasile, principalmen­te, na sua capacidade de erigir umalei maior para atender aos interessesdo povo.

segundo a qual quanto mais pertoestiver o poder, mais possibilidadetem esse poder de ser democrá­tico.

Mansueto lembra a existênciados diversos governadores biôni­cos durante a ditadura militar, queforam uma mostra da falta de con­sideração do poder central paracom as unidades federativas.

- Não se deve questionar ape­nas o sistema presidencialista degoverno do País na AssembléiaNacional Constituinte, mas igual­mente o federalismo, pois este re­presenta a escassez de recursos pa­ra que o Estado e o municípiopos­sam atin~ir seus objetivos. Essereconhecimento do poder políticodas regiões representa a vontadereal dos governos locais de aten­der e defender os interesses doshabitantes da região. Além disso,é uma forma de os Estados negli­genciados se fortalecerem diantedos Estados mais poderosos, quedividem o País e enfraquecem ofederalismo, em nome de seus in­teresses.

povo eleger os seus governantes,desde os municípios, passando pe­los Estados e chegando à Presi­dência da República. O gigantis­mo social, territorial, político eeconômico que nos envolve, desa­conselha o parlamentarismo e re­comenda o presidencialismo.

FEDERALISMO

Já o constituinte pernambucanosenador Mansueto de Lavor, doPMDB, defende o estabelecimen­to de bases, através da nova Cartaconstitucional, do poder políticoregional, pois para ele o Governofederal parece pouco se importarcom a definição da autonomia deEstados e municípios, que conti­nuam, ainda segundo o orador,mais no domínio da ficção jurí­dica.

- O federalismo - diz Man­sueto - é o suporte do Estadodemocrático, sendo a descentra­lização fundamental para o exer­cício da democracia. Essa descen­tralização é responsável por umanova concepção de federalismo,

~_di.

Àdylson Motta

nardo Cabral fez o que lhe com­petia fazer: sem poderes paraomitir ou acrescentar, ele apenascosturou tudo quanto recebeu.Rebatendo críticas de que o tex­to é prolixo, extenso, Sólon Bor­ges dos Reis disse que, na reali­dade, o trabalho é um inventáriodas reivindicações e de sugestõesrecolhidas no Brasil inteiro e depropostas oferecidas pelos 559parlamentares, numa metodolo­gia inédita, pois é a primeira vez,na História brasileira, que seprocura fazer um projeto partin­do-se das bases. Ao mesmo tem­po em que se condena esse traba­lho, que as Constituintes de1891, 1934 e 1946 não tiveram,porque trabalharam em cima deum texto pronto, aponta-se aconstituição estrangeira como fi­gurino a ser copiado pelo Brasil."Nós não temos que seguir aConstituição de nenhum outropaís", observou, acrescentandoque a Constituição americana foifeita para um povo de origemcompletamente diferente e nãochega a três dezenas de artigos.Mas é bom lembrar que só o arti­go 10 da Constituição dos Esta­dos Unidos possui 2.101 pala­vras, o que corresponde a 15 ou16 artigos do nosso projeto cons­.titucíonal, arrematou.

qual o meio?I

tico.Já para José Moura, a prática

do presidencialismo constitui, naRepública brasileira, uma posturanatural. Esse sistema representao quadro institucional abrangentee adequado não só para o aprimo­ramento do diálogo político, comotambém para a transformação di­nâmica e prudente, como garantiade tranqüilidade necessária parao enfrentamento de sérios proble­mas como os atuais.

- O plebiscito de 1963 - lem­bra Moura-, tanto quanto a cam­panha pelas diretas já, demons­trou a predileção do povo pelopresidencialismo, forma sUl?eriore racional de política, instituídacom o regime federalista em finsdo século passado.

Pelo presidencialismo, tam­bém, se manifestou o constituinteDaso Coimbra, do PMDB do Riode Janeiro. E diz como:

- Pelo sistema presidencialistade governo, com o fortalecimentodo Poder Legislativo e do PoderJudiciário. Afinal, é da índole do

Mansueto de Lavor

MAL COMPREENDIDONa opinião do constituinte Só­

lon Borges dos Reis (PTB ­SP), o projeto de Constituiçãoencaminhado pela Comissão deSistematização tem sido malcompreendido em áreas da opi­nião pública, e "por desinfor­mação e, muitas vezes, por deli­beração, acusa-se esse trabalhoe o relator que o preparou".

Observou que o Relator Ber-

te, e sim por força de leis auton­tárias.

IDEOLOGIAO constituinte José Maria Ey­

mael (SP) reafirmou a disposiçãodo Partido Democrata Cristãode desenvolver o máximo de es­forços, visando dar ao País umaConstituição que proporcione aopovo as condições mínimas deuma vida digna, seja no setor dasáude, da educação ou da jus­tiça.

Nesse sentido, o PDC propôsuma emenda de caráter ideoló­gico, enquadrando o tipo de so­ciedade desejado por toda a so­ciedade nacional, que se baseiaem princípios de justiça, capazesde assegurar ao cidadão comumcondições de auto-realização so­cial.

Governar:

Maçonaria quer totalrenovação de mandatos

A extinção dos mandatos ele­tivos em todos os níveis, convo­cando-se eleições gerais no Paíspara o surgimento de uma verda­deira Nova República, represen­tativa dos ideais democráticos dopovo brasileiro, logo após a pro­mulgação da Constituição, éuma das teses defendidas pelaMaçonaria Simbólica do Brasil.O documento, intitulado "Cartade São Paulo", foi transmitidoà Assembléia Constituinte porAdhemar de Barros Filho (PDT- SP) e traduz a posição da As­sembléia da Confederação daMaçonaria, abrangendo 23 Esta­dos brasileiros e congregando1.800 lojas, reunida há dias emSão Paulo.

Propõe a Maçonaria à Consti­tuinte que se adote a preservaçãodos recursos naturais do País ese estabeleça a subordinação dolucro à idéia do bem comum; quese subordine o uso do solo e suaocupação ao sentido social dapropriedade, visando a torná-loprodutivo e a propiciar ao ho­mem do campo vida condigna;e que sejam extintos os atuaispartidos políticos, propiciando osurgimento de agremiações legí­timas de representação popular,tendo em vista que os existentesnão foram instituídas livremen-

O presidencialismo é a essênciado regime republicano, assim co­mo o parlamentarismo é a essênciados regimes monárquicos - sus­tenta, perante o Plenário da Cons­tituinte, o representante pernam­bucano José Moura, do PFL -,enquanto o constituinte AdylsonMotta, do PDS do Rio Grande doSul, defende o ('arlamentarismoclássico e autêntico, e não "essadescaracterização", que seria oparlamentarismo proposto pelaComissão de Sistema de Governo.

Adylson Motta se manifestacontrário à proposta de se estabe­lecer no País um regime de gover­no que seja uma superposição depresidencialismo e parlamentaris­mo, afirmando que, dentro desseprincípio, perdeu completamentea convicção de que alguma coisade sério seja feita no País pelaConstituinte.

- A vigorar tal idéia, o Brasilviveria em permanente conflito deatribuições, descaracterizando oque talvez fosse a experiência maisoportuna e válida para o País: oparlamentarismo clássico e autên-

José Moura

JUSTIÇA

o constituinte Victor Fonta­na (PFL - Se) advertiu queé necessário que as normas ins­critas na' futura Constituiçãovenham a ser cumpndas tantona letra como no espírito, a fimde que não sejam frustradas asesperanças do povo brasileiro.

O representante catarinensedisse que isso é de importânciadecisiva no processo de elabo­ração da nova Carta e lembrou,a propósito, as palavras deRaul Pila, quando dizia que noBrasil faltava uma lei que pri­meiramente obrigasse o cum­primento de todas as outras leise, num segundo dispositivo, re­vogasse todas as disposiçõesem contrário.

A seu ver, sem a solução dosproblemas econômicos e so­ciais, é impossível encontrar ocaminho certo para a eficáciada ordem política.

Dentro desta ordem deidéias, Victor Fontana decla­rou ser necessário rejeitar aspropostas que visam sufocar oPaís por controles governa­mentais, ('or um intervencio­nismo sabidamente prejudicialao processo sócio-econômico eà própria estabilidade demo­crática. Na sua opinião, os dis­cursos que defendem tal teoriasão contraditórios e cultivamretóricas quanto ao livre mer­cado, mas, na prática e na reali­dade, buscam reforçar os me­canismos de controle.

O constituinte Nelson Seixas(PDT - SP), ex-presidente na­cional das Associações de Paise Amigos dos Excepcionais,defendeu a destinação, pela fu­tura Constituição, de uma par­cela dos recursos educacionaispara serem aplicados no desen­volvimento do ensino especialdestinado aos excepcionais.

Justificou a medida, paraque não se repita o que ocorreuem Minas Gerais, quando fo­ram afastados quatrocentosprofessores do Estado queprestavam serviços especializa­dos em uma centena de institui­ções mantidas pelas APAE.

EXCEPCIONAIS

Fontana querConstituição

respeitada

O constituinte Ivo Mainardi,do PMDB gaúcho, declarouconfiar em que os problemasdo Judiciário, do MinistérioPúblico e da Defensoria Públi­ca terão, afinal, através do no­vo texto constitucional, a solu­ção desejada: a agilização danossa Justiça, com reflexos po­sitivos nos setores ligados à se­gurança pública e aos interes­ses do cidadão comum.

Referiu-se o parlamentar àsituação praticamente inviávelem que se acha a polícia do RioGrande do Sul, onde, somenteno ano passado, foram entre­gues ao Poder Judiciário nadamenos de vinte mil inquéritosde trânsito. E preciso, a seuver, que a Constituição possadevolver ao Judiciário condi­ções pelo menos razoáveis paraservir à comunidade.

Jornal da Constituinte 11

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Louremberg Nunes Rocha,do PMDB, entende que o sis­tema tributário proposto noanteprojeto de Constituição"é pior do que o atualmenteem vigor e não atende aos in­teresses dos estados e municí­pios, como pode parecer".

Para ele, a distribuição darenda aos estados e municí­pios, baseada no territóriona receita tributária e no fatu:ramento de manufaturados,conforme estabelece o substi­tutivo da Comissão de Siste­matização, aumentará a desi­gualdade existente entre osestados ricos e pobres.

O representante mato­grossense considera que hámuitos pontos conflitantes nosubstitutivo, citando, comoexemplo, a transferência daobrigatoriedade de prestaçãopel<;>s estados e mumcípios doensmo do I e 11 graus, poissegundo afirmou, "esses en:tes administrativos não terãocondições de arcar com asdespesas decorrentes desseônus constitucional".

Já Virgílio Távora (PDS ­CE) prevê o aumento exces­sivo nas alíquotas dos impos­tos do governo federal se aspropostas da Comissão doSistema Tributário foremaprovadas pela Constituinte.Ele observou que se fosseaplicado, hoje, o sistema pro­posto pela comissão, o déficitp~bl!co seria superior em 158bilhões de cruzados ao regis­trado na atual administração.

O parlamentar pedessistadefendeu o retorno à compe­tência da União dos impostosreferentes aos transportes, àcomunicação e ao territorialurbano e rural, bem como osimpostos únicos sobre oscombustíveis, energia elétricae mineração, que foramtransferidos aos estados emunicípios no texto do ante­projeto constitucional.

Mendes Thame

Para Thame,a permanênciado empréstimo

compulsóriosobre

combustíveisconstitui

dificuldadeà população

Louremberg Nunes Rocha

Criticadocompulsório de

combustíveis

TRIBUTAÇÃOPor sua vez, o constituinte

Na- futura Constituição opapel e as funções do estadodevem ficar bem definidas,em particular a sua capacida­de para impor tributos à po­pulação, disse o deputado.Antoniocarlos Mendes Tha­~~ .(P~L - SP), ao criticaríniciativas como a criação doempréstimo compulsório so­bre os combustíveis. Essa éa maneira, segundo ele, deevitar que no país se instaleum verdadeiro inferno fiscal.

No caso do empréstimocompulsório sobre combustí­veis - prosseguiu - talvezse justificasse a sua implan­tação, em pleno cruzado, emrazão da onda de consumis­mo. Hoje, porém, não há jus­titicativa para a sua perma­nência, que, em verdade, secontitui numa dificuldade in­transponível para a popula­ção. Não existe excesso dedemanda que exija uma "ab­sorção .tempo~ária" de poderaquisitivo, pOIS o que se com­prova é o contrário, uma evi­dente queda de renda da po­pulação.

Juridicamente não existebase para a implantação doempréstimo compulsório,pOIS a Constituição proíbeque dois tributos recatam so­bre um mesmo fator de inci­dência. E a lei disciplina queaos empréstimos compulsó­rios se aplicarão as disposi­ções constitucionais aos tribu­tos e às normas gerais do Di­reito Tributário, lembrou odeputado AntoniocarlosMendes Thame. Segundoele, esse fato torna o emprés­timo compulsório claramenteinconstitucional.

O constituinte defendeuque a nova Constituição tragaem seu bojo exigência doprincípio da anualidade paracriação de impostos, princí­pio que não foi respeitadoquando da criação do em­préstimo compulsório. UmImposto só poderá vigir noano seguinte à sua aplicação.Se essa norma não for respei­tada estará criado um verda­deiro inferno fiscal, com umnível de imprevisibilidade ja­mais visto na sociedade brasi­leira e a total incerteza paratodos os cidadãos e agenteseconômicos.

GREVEPreocupados com o grande nú­

mero de greves que, a seu vertem ocorrido no país, o constituin:te João Menezes (PFL - PA) ob­servou que ela vem se registrandocom muita freqüência e em todosos setores da economia brasileira.

Para o representante paraensea Constituinte precisa discutir co~muito interesse e ponderação aquestão da liberdade sindical nanova Constituição. Se assim nãoo fizer, o Brasil poderá ter a eco­nomia prejudicada ou mesmocomprometida, acentuou.

PT, tem esta colocação:-:- Os maus políti~os, que no­

metam parentes e amigos em lugarde candidatos aprovados em con­curso, são os artífices de umacons­piração no Brasil contra os inte­resses populares.

Delgado entende que não háuma "classe política" no Brasilconforme os clichês a partir da di~tadura: há a classe banqueira, aclasse rural, a industrial, a dos pro­fessores, a dos comerciários asquais se fazem representar no par­lamento. Não classe política.

JORNADA

Edmilson Valentim (PC do B- RJ) defendeu a redução da jor­nada semanal de trabalho para 40horas, a estabilidade no empregoe o direito de greve. Citou levanta­ment? da SOCIóloga Mônica Mag­na Vitta mostrando que, dentrode uma lista de 14 países váriosdos quais em processo de' desen­volvimento como o nosso, apenasa Espanha e o Brasil têm jornadade trabalho de 48 horas semanais.

Conforme afirmou o parlamen­tar, a má distribuição de renda nopaís é gritante, pois mais de 76%da população ganham até 5 salá­rios ~ínimos. E frisou que a Ar­gentína e a Colômbia têm saláriosmínimo superiores ao brasileiroembora a jornada de trabalho sej~de 40 horas semanais.

Também defendendo tais rei­vindicações na ordem social, o lí­der do PT, Luiz Inácio Lula daSilva (S"!') disse que o mínimo quea Constituinte pode garantir é al­guns avanços como a estabilidadee as 40 horas semanais. O PT ­acrescentou - está aberto para odiálogo sobre os mais variados te­mas nacionais.

Favorável àreforma

agrária, DalPrá defende

infra-estruturanecessária

para que seproduza

estradas", o parlamentar susten­tou que a reforma agrária deve se­guir um modelo realista, que te­nha por objetivo valorizar o pro­dutor, incentivar a livre iniciativae propiciar a criação de um sistemaonde os pequenos proprietáriosnão tenham de ficar eternamentedependentes do auxílio governa­mental.

O constituinte José Carlos Cou­tinho, do PL do Rio de Janeiroacusa os partidos de sustentaçã~política do governo federal de co­meterem crime de prevaricaçãoao trocar apoio às mais discutívei~medidas adotadas pelo Executivopor empregos e outros benefícios.

- O governo Sarney - diz JoséCarlos Coutinho - não conseguere!llizar nenhuma política econô­nuca capaz de responder às aspira­ções d? povo brasileiro, por estarescravizado aos. gra!1des.gruposeconômicos naCIOnaIS e Interna­cionais.

Conforme Coutinho, apesar detodas as pressões dos grupos eco­nômicos e do governo federal aConstituinte conseguirá supe~artais dificuldades e oferecer ao paísuma Constituição ajustada à reali­dade e às exigências do povo brasi­leiro.

Já o mineiro Paulo Delgado, do

DISCUSSÃO ESTÉRILLamentou o constituinte Costa

Ferreira (PFL-MA) que a refor­ma agrária em nosso país tenhase transformado em discussão es­téril, esforço inútil, a exemplo doesquecido estatuto da terra.

Lembrando que o Brasil hojeestá em situação lastimável, "commilhões de miseráveis à beira das

Edmilson Valentim "

Pedida atençãopara os colonos~

o constituinte Dionísio Dal Prá(PI:L - PR) quer um tratamentomais acurado da futura Constitui­ção !los pr~ble1p.!ls do campo, emparticular as dificuldades vividaspelos colonos, aqueles homensque muitas vezes filhos ou netosde imigrantes, ajudaram a desbra­var o Interior do país. Ele quermelhores condições de trabalhopara os colonos que não têm terrao.u que são pequenos propríetã­nos.

Sou inteiramente favorável à re­forma agrária - afirmou - desdeque a reforma dê a esses cidadãostrabalhadores da terra a condiçãode infrl;l-estrut~ra necessária paraproduzir. Essa e uma forma de evi­tar que os colonos venham a en­grossar a fileira daqueles que estãoàs mar~ens das grandes cidadesnas penferias marginalizadas. '

O relator da Comissão de Siste­matização, Bernardo Cabral, emaparte a Dionísio Dal Prá, afirmouque, embora de forma oblíqua, eleestava tratando de dois importan­tes temas constitucionais. Ao citaros migrantes - esclareceu - foiabordado o tema da nacionalida­de. Quando tratou da reformaagrária discutiu o problema daposse da terra. Embora com sim­plicidade, concluiu Bernardo Ca­bral, o constituinte Dionísio DalPrá tratou de temas constitucio­nais.

A nossa preocupação - disseDionísio Dal Prá - é contribuir,embora de forma modesta, paraa solução desse grave problema dasociedade brasileira, que é o dotrabalhador rural sem terra ou l?e­queno proprietário que I?recIsadas condições para produzir e ali­mentar o país. É preciso impedirque ele seja escorraçado para aperiferia das grandes cidades on­de"nem sempre, é bem acolhido.

E também - concluiu - umamodesta homenagem de quem éneto e filho de colonos e que temuma experiência administrativacomo prefeito de uma pequena ci­dade do Interior do Paraná.

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Os temas mais polêmicos daAssembléia Constituinte serãodebatidos, agora, em sessões ex­traordinárias previamente mar­cadas pela Mesa, que fixou umcronograma para sua realização,a partir de um entendimento dapresidência da ANC com as lide­ranças partidárias e o presidenteda Comissão de Sistematização,senador Afonso Arinos e o seurelator, deputado Bernardo Ca­bral.

O presidente Ulysses Gúima­rães, ouvindo as lideraças parti­dárias, definiu que as sessões ex­traordinárias terão a duração decinco horas com 15 oradores porsessão. Cada orador poderá falarpor 20 minutos, sendo que aoPMDB serão concedidos três es­paços por sessão, ao PFL doisespaços e aos demais partidospolíticos um espaço, uma vezque, pelo critério da proporcio­nalidade,. adotado anteriormen­te pelo Regimento, alguns parti­dos minoritários não teriamoportunidade de se manifestarem todas as sessões.

A distribuição dos temas a se­rem discutidos ficou assim defi­nida: dia 4 de agosto, terça-feirapróxima: Regime de Governo-e­Presidencialismo ou Parlamen­tarismo; dia 5 de agosto, quarta­feira: Estados, União e Municí­pios; dia 6 de agosto, quinta-fei­ra: Reforma Agrária; dia 11 deagosto, terça-feira: Economia,Propriedade e Estatuto de Em­presa Nacional e Estrangeira;dia 12 de agosto, quarta-feira:Direitos Trabalhistas e Liberda­de Sindical; dia 13 de agosto,quinta-feira: Educação: dia 18de agosto, terça-feira: SistemaEleitoral e Voto Distrital; dia 19de agosto, quarta-feira: Refor­ma Urbana; e dia 20 de agosto,C).uinta-feira: Saúde e Previdên­era Social.

Ulysses Guimarães anunciouainda que, em atendimento a pe­didos de vários líderes, a Mesaadotou medidas no sentido deque sejam apresentados pela Co­missão de Sistematização, semprejuízo aos prazos finais dostrabalhos da Constituinte, doissubstitutivos à apreciação dosparlamentares. O primeiro, a serelaborado em dez dias pelo rela­tor, poderia receber de todos osconstituintes novas emendas,com a prorrogação do prazo deapresentação de dois para seisdias. Após o recebimento dasemendas e a sua apreciação pelaComissão de Sistematização, ca­beria ao relator apresentar umsegundo substitutivo.

Pelo cronogrameapresentadopelo presidente da ANC para atramitação do projeto de Consti­tuição, termina dia 13 de agostoo prazo para a apresentação deemenda popular; de 14 a 23 deagosto é o prazo para o relatorapresentar o seu primeiro substi­tutivo; dia 24 de agosto serão pu­blicados e distribuídos os avul­sos; de 25 a 30 de agosto é oprazo para emendas ao primeirosubstitutivo; de 31 de agosto a7 de setembro é o prazo parao relator dar parecer ao segundosubstitutivo; de 10a 17 de setem­bro, prazo para publicação e dis­tribuição do novo substitutivo.Dia 20 de setembro o novo subs­titutivo chegará a plenário paraa apreciação dos constituintes.

o trabalhador", não tem respal­do para opinar em defesa da clas­se trabalhadora, e as autoridadesmilitares fogem, com esse tipode pronunciamento, de suas atri­buíções específicas e entram noterreno político.

O constituinte Virgílio Gui­marães, do PT de Minas Gerais,analisou correspondência rece­bida da Associação Comercialde Minas Gerais, com críticas àestabilidade no emprego e as 40horas semanais de trabalho. Dis­se o parlamentar que o texto di­vulgado pela entidade é equivo­cado e procura confundir os tra­balhadores.

Virgílio Guimarães reafirmou9ue a proposta de estabilidade, visa apenas acabar com a de­missão imotivada, que tantosprejuízos tem provocado aos tra­balhadores brasileiros".

oferta de emprego por parte dosempresários.

40 HORAS

Após condenar a resistênciade certos grupos empresariais edeclarações de chefes militarescontra a aprovação das propos­tas que trata da estabilidade após90 dias de trabalho e as 40 horassemanais de trabalho, o consti­tuinte Augusto Carvalho, doPCB do Distrito Federal, protes­tou contra declarações do Presi­dente do Tribunal Superior doTrabalho, Marcelo Pimentel,que chamou de irresponsáveis osconstituintes que defendem es­sas propostas.

Segundo Augusto Carvalho, aJustiça do Trabalho, que foi, nasua opinião, "uma farsa monta­da pela ditadura de Getúlio Var­gas, com a finalidade de enganar

Bender quer normaspara a estabilidade

A Mesa da Constituinte fixou um calendário para debate de temas polêmicos.

- Não somos contra a estabi­lidade do trabalhador no empre­go, mas queremos normas pré­vias que possam nortear os con­tratos entre empregadores e tra­balhadores - afirmou o consti­tuinte Osvaldo Bender, do PDSdo Rio Grande do Sul, ao anali­sar críticas feitas pela imprensaao dispositivo que trata da esta­bilidade no projeto de Consti­tuição.

O parlamentar gaúcho defen­deu a instituição da estabilidadeno emprego e a manutenção doFundo de Garantia por Tempode Serviço como pnncípios ge­rais, cabendo à lei complementardefinir critérios particulares deaplicação. Segundo crê, os dis­positivos do projeto de Consti­tuição representariam severa pe­nalidade ao empresário que de­mitisse trabalhadores, gerandocomo conseqüência pequena

Territóriospodem virar

novos EstadosA elevação dos atuais territórios

federais de Roraima e Amapá àcategoria de estado foi defendidapelo constituinte Chagas Duarte(PFL - RR). Ele ressaltou as am­plas condições econômico­financeiras de que dispõe hoje oterritório de Roraima, através desuas jazidas de ouro, diamante,cassiterita, urânio e outros mine­rais importantes e raros, para geriro seu próprio destino.

Chagas Duarte lembrou tam­bém as enormes reservas de ma­deiras de lei, matas e campos apro­priados para o cultivo agrícola ea pecuária. Tudo isso - disse ­se soma à força de trabalho dispo­nível hoje no território, que anual­mente recebe cerca de 50 mil mi­grantes.

Na situação de territórios - ex­plicou - os problemas de Rorai­ma e Amapá jamais encontrarãosolução e se tomará muito difícilavançar em direção ao futuro pre­tendido pelas respectivas popula­ções. O tempo de desacertos e doretrocesso foi longo demais - dis­se -, e consideramos que está nahora de dar um basta à tutela eao autoritarismo.

MUNICÍPIOSAutonomia é um problema que

se coloca também para os mumcí­pios. O constituinte Mauro Miran­da (PMDB - GO) afirmou queum ponto importante para ser dis­cutido no momento de elaboraçãoda nova Carta Magna do País éa autonomia política, financeira eadministrativa dos municípios.Lembra que a experiência mun­dial vincula a verdadeira democra­cia à descentralização e à valori­zação do município como institui­ção política autônoma e prestado­ra de serviços públicos de primeiranecessidade, dos quais depende obem-estar dos cidadãos.

A autonomia política implica­afirmou - o tratamento de prefei­tos e vereadores como agentes po­líticos, estendendo-lhes prerroga­tivas e tratamento compatíveis.No que diz respeito à definiçãodos serviços públicos Iocais, de­vem ser incluídos os chamados ser­viços sociais, como o ensino de pri­meiro grau, a atenção primária àsaúde, a habitação e o saneamentobásico, entre outros, inclusive amanutenção da guarda municipale justiça de pequenas causas.

Sessões para os temas polêmicos~

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Certo de que serei atendido, SUbscrevo-me,

Pedaça'J do

:~rnal da Constltulnteamara dos O

70160 eputadoS_ADIPP.Brasllfa, DF".

Acompanho~spmDre quecal" a minha cDlab ~osso o conteüdo d

oraçao e- que esse Jorna 1efetivamente f E' OQstarla de Cal _

asse reahzado o1- acabar Com li

dlscrlmlnaçãoe da cor. da mulher, da t de de ,

2- QUe o en s Ino tenhaou COm taxas ba cobertura total

• t xe s Para 1 ~el0 governoSlno seJa com R horas d,- a. c asse medla. (lue e sno nas eScolas anas,mantendo -

.Dcuoando t c d todo a 1,!!estuda, prO f 'lSSl ona l _ o seu temoD,com 1Com 1550 teri lzaçao, etc. aZe!",- am seus pa,s t _

çoes de trabalho,tendo s ' ambem, melhores condlescolar DOr t d eus fllhos sob -

3- limite de _ o o o dla; orlentaçàonumero de filho _

xa , Colocar Uma forma de s, a claSse media e bai-a cue evftarã es s Controlar a natalldadese v- a comerciall -derã:

e::manchetes. Admltlr a:;ç;o de crlanças Queou a perda dos p esmo mu1tas Cons i

4- COm falte cie caSêl,alimen ar s pela cnança q ­

eVltar a mend _ to,escola etc' ua viver1nqanel a nas "

tados,tenhal1' me10S d ruas.que todos os neperambular IJel e sObrevivêncla sem cesslrestos as ruas.dorm1ndo ao' neceSSltar

5- de comlda pelos l' relento,pegandofaCl1iar a ad _ lXas; ,

oçao de c r rseJarem e d1flCultar ençe s 001" famf11as qUe o de

pais a procura delas' que uma Vez doado,não venham -6- melhor a .... •7- S51Stenc,a ao IDDSO

acabar Com a cobran a .PREVIOENCIA SOCIAL ~ de anestes1a,pelo medldo. A

:lrurQ1aS necessãna:veN:ustear todos os custos de

a PreVldênCla. a vlda' ao se concebe que se pa u

momento de uma emerqê tOda.compulsorlamente, e ~o e

C1rUrgl as, aque les q~e n~,'ea, -desembol Se va lares8- que eXista, sempre rem necOSSHar;

INAMPS ' nas farmãclas d. os med1camentos . os Das tos do

d1cos, receltados pelos seusH 9- melhor crit- m~averia muitas outras erio de remuneração n

rep~esentantes no ple ~ugestões a serem dadas ,d~v a aposentadona.paçao. Tomara nar10 da Constltuint eremos ter nossos- que cessem e que tenha

veem noticlados d. os atrltos e disco d- m essa preocu_1al"1amente d r anelas pe s s

Devemos acredit e nossos COnstltulnte Das que Sed ar que ele s ,

er os d1reitos e na s , os consbtuintes est- _crença, esperamos rantlas do povo e não os ao la para de'fen_

1 que noss C seus próp ,va oroza para todo a onSt1tuição saia i 1"'105. Nessa

o povo brasllelro. lesa e realmente

A~tenc./ente.

e;: . J.....'-.o:::::...~'\-.)...C.::,Nati Pereira ZR anoni

U DrfanatrõflO,920Alto Teresôoo),s ap 202 bJ.SO

90640 POA,RS.

o Jornal da Constituinte está, gradativamente, obtendo a penetraçãodesejada em todo o País, príncípalmente junto a entidades represen­tativas de classe, órgãos públicos e associações diversas. E cada diamaior o volume da correspondência dirigida ao Presidente da Assem­bléia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães; ao Primeiro-Secre­tário, Marcelo Cordeiro e à editoria do jornal, o que evidencia o cres­cente interesse da sociedade em acompanhar, mais de perto, o trabalhoda Constituinte. Algumas dessas cartas são publicadas nesta página,não só para testemunhar a repercussão do Jornal da Constituinte comopara incentivar uma aproximação maior com a opimão pública. Escrevavocê também.

01 de julho de 1.987

"JORNAL DA CONSTITUINTE"

Jornal da Constituinte

Borda da Mata,

EX!'IO. SR.MARCELO CORDEIROD.D. DIRETOR DOBRASILIA -DF -

GAUDAÇOES:

RESPEITOSAMENTE:

~~/OTELO FERREIRA DE FREITAS

(OAB/l1G. 25.377)

Comunico-lhe respei~amente, atr~vés desta 1que por. intermédio da Prefeitura de Borda da Mata -MG:,co~segUl. um exempla~ do "JORNAL DA CONSTITUINTE", ou 1seJa, o de nQ 4. L1 com interesse todos os assuntos feca1izados. Entretanto, o que me dtspertou maior interes_se, foi "PRESIDENCIALISMO OU PARLAMENTARISMO"f . • porque

01 um dos assunto~ solicitados na prova oral do meu "Vertibular de Direito", no de 1.%7.

~ssim, desejo continuar recebendo os demaislnÚmeros e, se posslvel gostaria também de receber 08 1anteA.l(ri-.: 1

: ,2, e 3, a fim de completar minha co-Ileçá••

;,

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Arte e ciência

+

Leonice Horta Barbosadefine como uma "loucuramaravilhosa" tudo o que ataquigrafia parlamentar jáexecutou na Consutuinte

Yvette Vieira Pinto dIZque o taquígrafo parlamentartem dado o melhor de SI, num

trabalho "digno de respeitoe de deixar saudade"

os mais antigos, os que possuem­longa experiência em taquigrafiaparlamentar. Essa fase é efetuadacom cautela para assegurar a ho­mogeneidade dos discursos e de­bates. Os textos, depois da revisãofinal, não passam pelo crivo dequalquer chefia, a não ser do au­tor, quando então pode ser retira­do para modificações.

No dizer geral dos taquígrafos,o profissional de taquigrafia é in­dispensável. Eliane Abranchesafirmou que chega a vibrar como clima das sessões da Constituin­te. Mas, apesar disso, o taquígrafodeve manter-se impassível e con­centrado no seu trabalho, mesmoque haja algum tumulto. Por isso,talvez, que os problemas mais co­muns de saúde sejam relacionadoscom o ouvido e os olhos, além dafagida. Estudos médicos indicamque "o taquígrafo absorve um des­file de imagens e idéias que se as­sociam ou se repetem, no vaivémdos apartes, fixando ou apagandoconceitos, incessantemente sob ofluxo das emoções, quando nãodas paixões que dominam o recin­to dos debates". Mas o resultadofinal, dizem os profissionais, re­compensa quando se sabe que vaificar registrado para a História.

evidente que um taquígrafo nemsempre consegue traduzir o traba­lho ao outro.

A sistemática de trabalho daTaquigrafia do Congresso brasilei­ro, que chega a surpreender os es­trangeiros que visitam o Legisla­tivo, pelo dinamismo e rapidez,é semelhante à confecção de umacolcha de retalhos - a partir depequenos pedaços de pano até aformação do todo. Cada taquígra­fo faz o "al?anhamento" no plená­rio por dOIS minutos, enquanto orevisor acompanha a sessão pordez minutos, também taquigrafan­do, para depois confrontar suasanotações e fazer a revisão do tex­to apresentado pelos cinco taquí­grafos do seu horário. Os registrossão concatenados dentro do enca­deamento das idéias, evitando-se,assim, eventuais incorreções.

Pelo fato de os taquígrafos-re­visores não terem contato com odiscurso na sua totalidade, pois sópodem ouvi-lo e registrá-lo em ro­dízios de dez minutos, o matenalé trabalhado pelos taquígrafos su­pervisores, Estes de posse da ínte­gra dos discursos, fazem a redaçãofinal, padronizando a revisão daredação do início ao fim da sessão.Os que trabalham nessa área são

PARLAMENTAR

A diversidade também acompa­nha a profissão em outro sentido.Na taquigrafia parlamentar sãousados métodos e sistemas dife­rentes. Segundo a explicação deFernando Marques, professor demúsica e taquigrafia, taquígrafopervisores. Estes, de posse da ínte­são uma variante dos métodos,uma espécie de complemento paraas deficiências destes. Isso faz quegrande variedade de sinais seja tão

preparação ainda mais aprimora­da. Mas ainda há outra definiçãoinusitada, a da taquígrafa-revisoraEliane Abranches Abelheira:"Um especialista em generalida­des". Isso porque, pela sua opi­nião, o taquígrafo ouve muitos as­suntos diferentes, nas mais diver­sas áreas de conhecimento. E esseecletismo parece ficar claro numaanálise das formações culturaisdesses profissionais. A predomi­nância é de advogados, mas exis­tem aqueles formados nas mais di­versas áreas de instrução, comomatemática, história, I?sicologia,arquitetura, artes, música, portu­guês, línguas, desenho, bibliote­conomia, turismo, entre outras.

registros taquigráficos da Câmara.Talvez a Constituinte de 1987

passe para a História como umadas que mais realizaram debates,que mais se reuniram, justo por­que o projeto constitucional foielaborado a partir de discussõese audiências. Essa intensa ativida­de pode ser avaliada a partir dosdados da Taquigrafia que dizemrespeito às transcrições das reu­niões levadas a efeito pelas subco­missões e comissões temáticas noperíodo de 10 de abril até 20 deJunho de 1987. O número total dereuniões foi de 628, o que repre­sentou 1.602 horas, ou mais de 66dias de trabalhos taquigráficos.

Taquígrafo - Por definição, ta­quígrafo é aquele que escreve rá­pido. Não há um registro históricoclaro e definido sobre origem oudatas, mas existem indícios deabreviaturas, sob o título de "Mile Cem Notas Vulgares", do poetaromano Quintuns Ennius, 200 aC.Estudiosos consideram a taquígra­fia mais valiosa como meio de cul­tura mental do que propriamentecomo profissão. Como culturamental, deve ser considerada ciên­cia; como profissão, deve ser tidapor arte, definem.

Os taquígrafos, especialmenteos que trabalham no Legislativo,são selecionados através de requi­sitos que envolvem boa visão, me­mória, audição, pulso ágil e preci­so, autoconfiança e resistência físi­ca para suportar grandes esforços.O ritmo de assimilação de palavrasé em torno de 150 por minuto.Na Câmara e Senado os profis­sionais se revezam em turnos dedois minutos e os revisores a cadadez minutos, de tal forma que, fin­da a sessão, em meia hora todaela estará transcrita, inclusive re­visada, à disposição da imprensa,gráfica, secretarias, assessorias le­gislativas, "A Voz do Brasil" e de­mais interessados. O jargão maiscaracterístico usado no meio é o"apanhamento", termo que nãoexiste no dicionário, mas significaregistrar e traduzir um período dedois minutos de um discurso, oqual é chamado de "quarto", se­gundo a tradição legislativa, já queos profissionais trabalhavam emturnos de quinze minutos., Mas o que define o taquígrafo?

E um político em potencial, arris­cou Paulo Xavier, argumentandoque o constante contato com a ati­vidade do pensamento dota o pro­fissional de opiniões definidas dotraquejo da oratória parlamentar.Maravilhosamente loucos, tentoua taquígrafa Liége de Souza Salga­do, para quem a profissão é docee aumenta o biorritmo da pessoa,tornando-a aguçada em perceberdetalhes. A seu ver, contudo, épreciso que o Legislativo, comoum todo, invista mais ainda noaprimoramento dessa mão-de-o­bra. Afinal, argumentou, senta­mos bem em frente ao Plenário,ouvimos as mais ilustres persona­lidades nacionais e internacionaise, por isso, precisamos de uma

Os taquígrafos legislativos bra­sileiros exerceram a profissão pelaprimeira vez na instalação daConstituinte Nacional, em 3 demaio de 1823. Desde então, aolongo desses 164 anos, a Taqui­grafia mantém com o Congressoum estreito relacionamento a pon­to de ambos se integrarem harmo­nicamente num conjunto indivísi­vel. O introdutor dessa atividadeno Legislativo, ex-deputado Boni­fácio de Andrada e SIlva, chegavaa classificá-la de "espinha dorsaldo parlamento", naturalmentedevido ao grande volume de traba­lho a cargo do setor, à rapidezobrigatória do serviço, à prepara­ção dos profissionais e, principal­mente, porque senadores, depu­tados e taquígrafos trabalham coma mesma matéria-prima: a palavrae o pensamento.

Em decorrência da caracterís­tica do parlamento brasileiro cujo Iplenário possui uma grande im­portância e movimento, com dis­cussões de matérias e longas vota­ções polêmicas, o taquígrafo aca­ba absorvendo um expressivo nú­mero de informações, transfor­mando-se numa pessoa de opi­niões e posições políticas defini­das. O taquígrafo vive o dramado plenário, compreende os pro­blemas da Nação, vibra com osdebates. A profissão é eminente­mente nervosa e o taquígrafo sofreum desgaste em decorrência da gi­nástica mental a que está sujeitocontinuamente, do nervosismodas discussões, do seu esforço re­novado a todos os instantes paracontrolar a situação, constante in­citamento às reações motoras e daextrema concentração.

Na Assembléia Nacional cons­tituinte, então, o ritmo foi redo­brado, exigindo do setor um gran­de esforço. Somente o registro dassessões das subcomissões e comis­sões temáticas corresponde ao vo­lume de trabalho que se faria emtrês anos de funcionamento ordi­nário da Câmara e do Senado jun­tos. Nesse período, a atividade naTaquigrafia foi ininterrupta, indomadrugada adentro. Segundo orelato de Leonice Oliveira HortaBarbosa, diretora da Taquigrafiado Senado, seu órgão recebeu cer­ca de quinhentas fitas magnéticaspor dia, acumulando trabalho dassessões ordinárias e plenárias.Eram fitas espalhadas pela sessãointeira, armários abarrotados,pessoal se desdobrando, sem ho­rário, inclusive sábados e domin­gos. Os revisores foram autoriza­dos a levar material para trabalharem casa. "Tem sido uma loucuramaravilhosa", definiu. No início,tínhamos medo de não ter pessoalsuficiente, revelou Yvette VieiraPinto de Almeida, diretora da Ta­quigrafia da Câmara. Mas ressal­tou que a fibra do pessoal foi fabu­losa, digna do maior respeito, por­que não poupou o melhor de si."Um trabalho que vai deixar sau­dades", completou Paulo VolneiBernardi Xavier, coordenador dos

para registraros debates

Jornal da Constituinte 15

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Prefeitos querem parentes elegíveisPrefeitos de 36 municípios que integram No documento, os prefeitos pedem que a

a Grande Região Metropolitana de São Pau- alínea "d" do inciso II do art. 28 da Consti­lo entregaram ao presidente da Assembléia tuição tenha a seguinte redação: "Para con­Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, correr a cargos eletivos, o presidente e o vice­documento pedindo mudanças na Constitui- presidente da República, os governadores eção, nos artigos que regulam o direito político vice-governadores e os prefeitos e vice-pre­de cidadão investido de mandato eletivo, ten- feitos devem renunciar 6 (seis) meses antesdo em vista a inelegibilidade de parentes e do pleito". Dessa forma, afirmam, seus pa­afins. Os prefeitos, que representam municí- rentes poderão disputar car~os eletivos sempios com 60% do eleitorado do Estado de incorrer em casos de inelegibilidade ou preju­São Paulo, querem ~ue a nova Carta não dicar outros candidatos. Na foto, Ulyssesprive dos direitos políticos os seus parentes. Guimarães quando recebia os prefeitos.

ADIRPlReynaldoStavak:

UDES entrega sugestões

"A UBES somos nós. Nossa força, nossa voz." Cantando em coroesse refrão, centenas de estudantes secundaristas fizeram manifestação

perante o Congresso, pedindo a atenção dos constituintes para os problemasque afligem a Juventude estudantil do País. A União Brasileira dos

Estudantes Secundários encaminhou à Assembléia Nacional Constituinte. longo manifesto listando as reivindicações dos secundaristas, de acordo

com propostas aprovadas em congressos estudantis. Depois damanifestação, uma comissão de diretores da UBES percorreu os gabinetes

dos líderes de partidos na Constituinte a fim de entregar o documentode sugestões dos estudantes.

ADIRPlRos. Sarlci&

Pleito dos MicroDirigentes da ASSOCiação de Microempresários do

Distrito Federal tiveram um encontro com o presidenteda Assembléia Nacional Constituinte, Ulysses Guima­rães, a fim de entregar documento contendo as reivindi­cações do setor. Os microempresários de Brasília dese­jam que a futura Constituição permita o surgimentodesse florescente setor e garanta a sobrevivência "dosque acreditam na livre iniciativa". Na foto, a Sr- RosaSarkis, dirigente da Associação, quando passava àsmãos do presidente Ulysses Guimarães o manifesto dosrmcroempresãnos.

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