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UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS INSTITUTO DE HISTÓRIA BELLE ÉPOQUE, ESCRITORES, JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO: MUDANÇAS TECNOLÓGICAS, POLÍTICAS E URBANAS. 1880 1920 LORRAINE DA SILVA DIONISIO 2019

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Page 1: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

INHIS ndash INSTITUTO DE HISTOacuteRIA

BELLE EacutePOQUE ESCRITORES JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL

BRASILEIRO MUDANCcedilAS TECNOLOacuteGICAS POLIacuteTICAS E URBANAS

1880 ndash 1920

LORRAINE DA SILVA DIONISIO

2019

UFU ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

INHIS ndash INSTITUTO DE HISTOacuteRIA

BELLE EacutePOQUE ESCRITORES JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL

BRASILEIRO MUDANCcedilAS TECNOLOacuteGICAS POLIacuteTICAS E URBANAS

1880 ndash 1920

Monografia apresentada ao Instituto de Histoacuteria da

Universidade Federal de Uberlacircndia como

exigecircncia obrigatoacuteria para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

bacharel em Histoacuteria pela aluna Lorraine da Silva

Dionisio

Orientador Prof Dr Newton Dacircngelo

UBERLAcircNDIA

2019

Dionisio Lorraine da Silva 1995

Belle Eacutepoque Escritores Jornalismo e Mercado Editorial Brasileiro Mudanccedilas

Tecnoloacutegicas Poliacuteticas e Urbanas 1880 ndash 1920 Lorraine da Silva Dionisio ndash Uberlacircndia

2019

Orientador Newton Dacircngelo

Monografia (Bacharelado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Curso de Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria

Inclui Bibliografia

1 Modernismo 2 Impressa 3 Modernizaccedilatildeo

Lorraine da Silva Dionisio

Banca Examinadora

Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)

Dr Diogo De Souza Brito

Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana

AGRADECIMENTOS

Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo

muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor

com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis

A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu

pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho

me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute

tudo o que eu quero ser quando crescer

Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo

viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no

segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este

curso

Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e

durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar

quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo

RESUMO

Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash

1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em

conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas

em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica

para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o

tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo

Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq

Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

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Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

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Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

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Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

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Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

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Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

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Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

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Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

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Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

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Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

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Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

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Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

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Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

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Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

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Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

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Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

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Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

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Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

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Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

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simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

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divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

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clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

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tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

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manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

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mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

VI FONTES

Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em

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63

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Lima Barreto Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo Rio de Janeiro n 1 p 35 - 50 Jul

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HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012

Page 2: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

UFU ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

INHIS ndash INSTITUTO DE HISTOacuteRIA

BELLE EacutePOQUE ESCRITORES JORNALISMO E MERCADO EDITORIAL

BRASILEIRO MUDANCcedilAS TECNOLOacuteGICAS POLIacuteTICAS E URBANAS

1880 ndash 1920

Monografia apresentada ao Instituto de Histoacuteria da

Universidade Federal de Uberlacircndia como

exigecircncia obrigatoacuteria para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

bacharel em Histoacuteria pela aluna Lorraine da Silva

Dionisio

Orientador Prof Dr Newton Dacircngelo

UBERLAcircNDIA

2019

Dionisio Lorraine da Silva 1995

Belle Eacutepoque Escritores Jornalismo e Mercado Editorial Brasileiro Mudanccedilas

Tecnoloacutegicas Poliacuteticas e Urbanas 1880 ndash 1920 Lorraine da Silva Dionisio ndash Uberlacircndia

2019

Orientador Newton Dacircngelo

Monografia (Bacharelado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Curso de Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria

Inclui Bibliografia

1 Modernismo 2 Impressa 3 Modernizaccedilatildeo

Lorraine da Silva Dionisio

Banca Examinadora

Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)

Dr Diogo De Souza Brito

Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana

AGRADECIMENTOS

Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo

muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor

com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis

A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu

pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho

me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute

tudo o que eu quero ser quando crescer

Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo

viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no

segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este

curso

Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e

durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar

quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo

RESUMO

Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash

1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em

conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas

em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica

para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o

tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo

Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq

Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp

Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp

Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13

Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp

Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp

Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp

Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

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Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

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Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

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Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

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Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

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Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

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Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

56

ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

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2019

Orientador Newton Dacircngelo

Monografia (Bacharelado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Curso de Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria

Inclui Bibliografia

1 Modernismo 2 Impressa 3 Modernizaccedilatildeo

Lorraine da Silva Dionisio

Banca Examinadora

Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)

Dr Diogo De Souza Brito

Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana

AGRADECIMENTOS

Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo

muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor

com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis

A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu

pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho

me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute

tudo o que eu quero ser quando crescer

Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo

viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no

segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este

curso

Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e

durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar

quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo

RESUMO

Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash

1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em

conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas

em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica

para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o

tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo

Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

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Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

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Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

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Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

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Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

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Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

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Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

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Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

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Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

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Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

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Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

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Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

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Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

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Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

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Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

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Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

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Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

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Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

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Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

VI FONTES

Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt

Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt

Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt

Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt

Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pasta=ano20189amp pesq=gt

63

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICA

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Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordf Ed 2003

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M ELLO M aria Tereza Chaves de A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 1ordf Ed 2007

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Page 4: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

Lorraine da Silva Dionisio

Banca Examinadora

Prof R Newton Dacircngelo (Orientador)

Dr Diogo De Souza Brito

Profordf Drordf Ana Flaacutevia Santana

AGRADECIMENTOS

Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo

muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor

com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis

A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu

pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho

me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute

tudo o que eu quero ser quando crescer

Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo

viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no

segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este

curso

Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e

durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar

quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo

RESUMO

Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash

1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em

conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas

em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica

para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o

tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo

Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq

Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp

Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp

Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13

Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp

Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

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Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

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Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

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Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

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Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

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Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

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Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

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Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

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Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

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Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

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mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

56

ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

VI FONTES

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HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012

Page 5: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

AGRADECIMENTOS

Este trabalho natildeo seria possiacutevel sem a paciecircncia do meu orientador Newton Dacircngelo

muito obrigada por todos os momentos que eu natildeo soube por qual direccedilatildeo seguir e o senhor

com toda a paciecircncia do mundo me mostrou as opccedilotildees possiacuteveis

A minha matildee Maria Aparecida da Silva que se dedicou de corpo e alma para que eu

pudesse natildeo apenas comeccedilar uma faculdade mas que me apoiou em cada vontade e sonho

me mostrando que o esforccedilo sim eacute o que nos manteacutem em peacute Obrigada mamatildee A senhora eacute

tudo o que eu quero ser quando crescer

Aos meus pais Christopher Dale Poniktera e Luiacutes Carlos Dionisio que infelizmente natildeo

viveram o suficiente para me ver neste momento uacutenico mas que estiveram comigo no

segundo momento mais importante da minha vida A minha aprovaccedilatildeo para comeccedilar este

curso

Aos meus amigos que me ajudaram e apoiaram em cada momento difiacutecil neste curso e

durante meus anos de graduaccedilatildeo com cada semestre sendo uma temporada eacute difiacutecil contar

quem ficou e quem se foi mas com certeza todos deixaram uma marca uacutenica comigo

RESUMO

Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash

1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em

conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas

em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica

para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o

tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo

Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq

Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp

Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp

Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13

Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp

Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp

Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp

Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp

Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp

Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1

Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1

Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1

SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

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manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

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Page 6: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

RESUMO

Analisando a Belle Eacutepoque em seus aspectos culturais poliacuteticos tecnoloacutegicos entre 1890 ndash

1920 a presente monografia intenciona identificar a mudanccedila de editorial tipografias em

conjunto com a modernizaccedilatildeo da cidade e a sua nova influecircncia quanto as pessoas iletradas

em relaccedilatildeo com a nova narrativa poliacutetica Uma construccedilatildeo de um imaginaacuterio de Repuacuteblica

para o iletrado e as perspectivas para o homem de letra trazendo as novas percepccedilotildees sobre o

tempo suas produccedilotildees e a cidade com o modernismo

Palavra-chave Belle Eacutepoque modernizaccedilatildeo perioacutedico

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq

Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp

Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp

Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13

Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp

Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amp

Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp

Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp

Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp

Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1

Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

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Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

VI FONTES

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HALLER Joyce Uemoto Monteiro Lobato Literatura como expressatildeo do contexto (1890-1930) Universidade Estadual de M aringaacute M aringaacute 2012

Page 7: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

LISTA DE IMAGENS

Capitulo III

Figura 1 Fotografia da Rua do Ouvidor 1890 Fonte

httpfotografiaimscombrsites1527248423762_13

Figura 2 Colagem sobre caricaturas e ilustraccedilotildees sobre o governo monaacuterquico Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=2011ampPesq

Figura 3 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528amp

Figura 4 Ilustraccedilatildeo do Marechal Deodoro da Fonseca Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127amp

Figura 5 Chamada principal da Revista Illustrada marccedilo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Figura 6 Ilustraccedilatildeo da realizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1891 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4472amp

Capitulo IV

Figura 7 Capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1892 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01ampPagFis=13

Figura 8 Capa do Jornal do Brasil de 6 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amppasta=ano20190amp

Figura 9 Capa do Jornal do Brasil 1 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 10 Capa do Jornal do Brasil 24 de novembro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amppasta=ano20192amp

Figura 11 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1889 Fonte

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Figura 12 Capa da Gazeta de Notiacutecias 1 de janeiro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amppasta=ano20190amp

Figura 13 Capa da Gazeta de Notiacutecias 2 de janeiro de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp

Figura 14 Capa da Gazeta de Notiacutecias 8 de janeiro de 1921 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amppasta=ano20192amp

Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

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Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

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Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

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Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

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Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

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Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

56

ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

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Figura 15 Capa da Revista Illustrada 1 de Janeiro de 1876 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1

Figura 16 Capa da Revista Illustrada 8 de Junho de 1889

FontehttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 17 Capa da Revista Illustrada Rio de Janeiro Junho 1898 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=

Figura 18 Capa da Revista Kosmos Janeiro 1904 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 19 Capa da Revista Kosmos Novembro de 1908 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420ampPagFis=2675

Figura 20 Capa da Revista Kosmos Fevereiro 1909 Fonte

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Figura 21 Capa da Revista Careta 10 de Julho de 1909 Fonte

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Figura 22 Capa da Revista Careta 10 de Junho de 1920 Fonte

httpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712ampPagFis=1

Figura 23 Capa da Revista Careta 1 de Julho de 1922 Fonte

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SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

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manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

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Page 9: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

SUMAacuteRIO

I INTRODUCcedilAtildeO1

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS4

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO4

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE6

23 REALISMO6

24 NATURALISMO8

25 PARNASIANISMO9

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO11

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA16

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE16

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA21

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA27

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO38

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM38

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA41

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO52

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR53

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA54

46 O DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO55

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS59

VI FONTES62

VII REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFICAS63

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

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simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

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divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

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clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

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tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

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manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

VI FONTES

Gazeta de Notiacutecias (1890 ndash 1909) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03amp PagFis=0gt

Jornal do Brazil (1890 ndash 1920) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_01amp pasta=ano20189=gt

Revista Kosmos (1900 - 1909) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amp pasta=ano20190amp =gt

Revista Careta (1900 ndash 1929) Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=083712amp pasta=ano20190amp pesq=gt

Revista I l lustrada (1890 ndash 1899) Disponiacutevel em

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Page 10: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O cotidiano dos homens e mulheres brasi leiros comeccedilou a se modif icar ao f inal do seacuteculo

X IX 1890 natildeo apenas no visual e no ambiente mas tambeacutem no social A s ruas estavam

comeccedilando a ser asfaltadas e deixando de ter espaccedilos para carroccedilas e ani mais comeccedilavam a

ser tomadas pelos carros automatizados lustres e grandes preacutedios aleacutem das fabricas

O modo de viver se modif icava em conjunto com o seu novo modo de trabalhar e seu

cotidiano A s faacutebricas tomavam conta e ditavam o horaacuterio e assim o homem comum tinha

uma alteraccedilatildeo completa de seu cotidiano e da sua inf luecircncia na sua produccedilatildeo no trabalho O

homem l i teraacuterio tambeacutem sofreu com as mudanccedilas que ocorriam na cidade ao contraacuterio do

pensamento comum

Jornais e revistas estavam mudando seu formato de produccedilatildeo drasticamente aleacutem de suas

periodicidades Se antes algum destes queriam um formato mais especif ico necessitava pedir

a impressatildeo no exterior e entatildeo ela iria ser distribuiacuteda no Brasi l como era o caso da revista

Kosmos Com a mudanccedila industrial era agora possiacutevel a real izaccedilatildeo no proacuteprio escri toacuterio do

perioacutedico aleacutem do mesmo sair em nuacutemeros maiores e com uma frequecircncia mais assiacutedua

fazendo assim ser possiacutevel viver da arte de ser escri tor com mais ef iciecircncia

A maneira da informaccedilatildeo chegar no f inal do X IX tambeacutem estava se modif icando Com o

teleacutegrafo as notiacutecias eram mais dinacircmicas e informantes eram espalhados ao redor do mundo

O Brasi l se inf luenciava de maneira mais constante em suas escri tas com novas maquinas de

escrever e de transcriccedilatildeo com as datas de publicaccedilotildees muito mais proacuteximas com essas

modif icaccedilotildees grandes em seu cotidiano de escri ta principalmente porque com a mudanccedila

agora seria possiacutevel viver apenas de l i teratura graccedilas a demanda

A s transformaccedilotildees tecnoloacutegicas natildeo alteraram apenas a imagem dos jornais e das revistas

mas tambeacutem como dito anteriormente sua participaccedilatildeo nestes A s imagens agora natildeo soacute

eram mero enfeite e raras agora fazendo grande parte dos textos a caricatura fotograf ia e ateacute

mesmo charge ajudavam a formar o pensamento e a estrutura do texto que sempre

acompanhavam e como o nuacutemero de leitores natildeo crescia conforme o nuacutemero de lanccedilamentos

a imagem se era muitas vezes mais efetiva proporcionando assim ldquoo ensaio da comunicaccedilatildeo

de massardquo 1

1 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p83

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

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Page 11: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

2

A alfabetizaccedilatildeo foi um grande foco de investimento para a Nova Repuacuteblica e o

acompanhamento de imagens nestes perioacutedicos era essencial ldquoA evoluccedilatildeo teacutecnica do

impresso o investimento na alfabetizaccedilatildeo os incentivos agrave aquisiccedilatildeo eou fabricaccedilatildeo de papel

rdquo 2 a quantidade de jornais e revistas que eram vendidos tambeacutem era uma forma da Repuacuteblica

que havia acabado de se formar ter uma noccedilatildeo de quantas pessoas eram letradas ou que

estavam a caminho de se tornarem de fato assim

O debate entre os homens de letras da eacutepoca del imitada entre 1890 e 1923 era assiacuteduo

mas natildeo quanto a questotildees poliacuteticas da eacutepoca e sim as mudanccedilas do cotidiano que os estavam

afetando A poliacutetica soacute aparecia quando o assunto eram as mudanccedilas que ocorriam no

ambiente poliacutetico e social Bi lac faz uma anaacutelise que corrobora completamente com as

fotografias que o jornal passava ldquoQue natildeo seraacute quando da velha cidade colonial

estupidamente conservada ateacute agora como um pesadelo do passado apenas restar a

lembranccedila rdquo3

Com o questionamento sobre como se inf luecircncia uma grande maioria i letrada a natildeo

apenas acreditar na Repuacuteblica como tambeacutem mudar toda a perspectiva que se tem quanto ao

entatildeo monarca busco entender qual eacute a participaccedilatildeo deste homem de letras como o moderno

o ajudou natildeo apenas a aumentar sua importacircncia no imaginaacuterio popular como o trouxe como

celebridade

A ssim busco discutir no primeiro capitulo a Belle Eacutepoque e todas as transformaccedilotildees

l i teraacuterias que a mesma trouxe modif icou e ateacute mesmo criou no Brasi l discutindo entre estes

movimentos l i teraacuterios com algumas representaccedilotildees de autores para exemplif icar o movimento

e a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo de um ideal poliacutetico Brasi leiro

No segundo capiacutetulo todo o movimento poliacutetico que a Belle Eacutepoque trouxe em seu

discurso por estes autores e sua necessidade de Repuacuteblica com a democracia da palavra em

conjunto com a vinda da Repuacuteblica por parte dos mil i tares

No uacuteltimo capiacutetulo apresento as mudanccedilas que essa perspectiva modernista trouxe para o

paiacutes e como ela alterou natildeo apenas a imagem do Rio de Janeiro como tambeacutem o cotidiano e a

perspectiva do homem comum e o de letras sobre o moderno4 e sobre as atividades cotidianas

2 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 84 3 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p 93 4 Relativo ou pertencente agrave eacutepoca histoacuterica em que se vive

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

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zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

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O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

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26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

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Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

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O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

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III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

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impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

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Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

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A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

56

ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

VI FONTES

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Page 12: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

3

e suas responsabi l idades assim como tambeacutem os modernismos 5 que trouxe em jornais em

revistas

5 Tendecircncias e gostos ao que se eacute moderno

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

56

ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

60

A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

61

homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

62

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Page 13: UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA INHIS …

4

II A BELLE EPOQUE CARIOCA E A CULTURA DAS LETRAS

21 O MOVIMENTO LITERAacuteRIO

No f inal do seacuteculo X IX por volta de 1880 se tornou comum no imaginaacuterio popular de

que o antigo era ruim Se observando como base a Europa que jaacute havia passado por grandes

transformaccedilotildees f iacutesicas e estruturais em suas cidades e capitais comeccedilou a se estimular o

progresso de todas as formas que se era possiacutevel O Brasi l precisava passar por uma

modernizaccedilatildeo e se espelhar nas grandes civi l izaccedilotildees assim o moderno comeccedilava a se tornar

necessaacuterio e tambeacutem a tomar as grandes capitais do paiacutes

A modernizaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico em conjunto com a nova imagem de civi l izaccedilatildeo a ser

construiacuteda a cada instante no Brasi l principalmente no Rio de Janeiro

A tecnologia trouxe a mudanccedila da cidade a nova perspectiva de futuro e tudo o que

poderia proporcionar trouxe a Belle Eacutepoque em seu auge ao paiacutes entre o f im de do seacuteculo

X IX e comeccedilo do seacuteculo X X

ldquoNo aluir das paredes no ruir das pedras no esfarelar do barro havia

um logo gemido Era o gemido soturno e lamentoso do Passado do

A trazo do Opprobio A cidade colonial immunda retroacutegada

emperrada nas suas velhas tradicccedilotildees estava soluccedilando no soluccedilar

daqueles apodrecidos materiaes que desabavam M as o hymno claro

das picaretas abafava esse protesto impotente

Com que alegria cantavam el las - as picaretas regeneradoras Eacute como

as almas dos que al i estavam comprehendidam bem o que el las

diziam no seu clamor incessante e rythmico celebrando a victoria da

hygiene do bom gosto e da arterdquo 6

O moderno estava cada vez mais perto e quase que indispensaacutevel Proveniente da Europa

que estava passando por uma segunda revoluccedilatildeo industrial e por um forte ecircxodo rural que

favoreceu um desenvolvimento urbano que trouxe por consequecircncia avanccedilos nos meios de

comunicaccedilatildeo e de transporte

6 Hemeroteca Digital Kosmos に Revista Artistica Scientifica e Literaria (1904-1909) Marccedilo de 1904 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppasta=ano20190gt

5

Expandiu-se a perspectiva altamente positivista7 e otimista com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico estimulando assim a ciecircncia e todo um novo mundo poliacutetico assim como a

educaccedilatildeo em conjunto com a boecircmia E o Brasi l sempre vendo a Europa como um objetivo

principalmente a Franccedila logo se seguiu por este rumo embora aqui tenha se dado de uma

forma diferente jaacute que na Europa jaacute havia induacutestrias e o tempo de trabalho estava sendo

remanejado sobrando assim mais tempo para o cidadatildeo no caso de exemplo francecircs ter

tempo para o entretenimento O brasi leiro estava comeccedilando a entrar e conhecer a induacutestria e

seus malefiacutecios quanto a noccedilatildeo e o valor do tempo

Considerando que a Belle Eacutepoque abrangeu um grande periacuteodo de tempo no Brasi l 1870

ndash 1931 sendo tratado neste trabalho de 1880 ndash 1920 a mesma criou uma grande

transformaccedilatildeo l i teraacuteria no paiacutes Trazendo para o cotidiano do homem de letra brasi leiro a

crocircnica como uma das suas principais atividades aleacutem do trabalho aacuterduo em perioacutedicos como

jornal istas

Os movimentos l i teraacuterios natildeo iam de fato contra a Belle Eacutepoque mas a construiacuteam e

faziam com que seus autores se identi f icassem em alguma parte de seu processo ou ateacute

mesmo os criassem

A imagem que algumas vezes poderia acompanhar e complementar a crocircnica serve tanto

para mostrar o lado mais tecnicista que comeccedilava a acompanhar os jornais como tambeacutem para

mostrar a nova af l iccedilatildeo do homem de letra quanto ao tempo e a sua nova construccedilatildeo

A crocircnica eacute a primeira parte de contato e idealizaccedilatildeo Eacute por ela que os homens de letra vatildeo

tentar alavancar o dito progresso e eacute por ela que vatildeo difundir o pensamento do moderno Eacute

por ela que tambeacutem vatildeo falar da necessidade da Repuacuteblica e toda a sua construccedilatildeo

ideoloacutegica

A crocircnica faz o leitor ter no presente a perspectiva de um futuro ao mesmo tempo e

quando se vem as novas tipograf ias e se incrementa fotograf ias charges caricaturas ao seu

lado

A crocircnica passa a informar os ares de mudanccedila no Brasi l

V aacuterios autores a uti l izam de uma forma diferente como por exemplo Bilac que tenta ser

efetivo sobre seus pensares e sobre o que tem que ocorrer Jaacute M achado de A ssis tenta trazer

ao leitor uma perspectiva distante para que o mesmo forme uma ideia criacutetica sobre o assunto e

assim ter seu proacuteprio pensar Eucl ides da Cunha e L ima Barreto tentam repensar o que estaacute

acontecendo com este novo mundo moderno sua poliacutetica e sua populaccedilatildeo

7 Ideia de que o conhecimento cientiacutefico devia ser reconhecido como o uacutenico conhecimento verdadeiro

6

22 ROMANTISMO NO COMECcedilO DA BELLE EacutePOQUE

Pela del imitaccedilatildeo de tempo uti l izada neste trabalho da Belle Eacutepoque (1880 ndash 1920) a sua

l i teratura estaacute somente proposta a segunda parte do movimento l i teraacuterio dito como

Romantismo onde o mesmo nas publicaccedilotildees de folhetins jornais e revistas comeccedilavam a

escolher este tipo de l i teratura para mulheres e para jovens estudantes

Tratando das prosas que iriam se tornar a base da crocircnica devido ao seu esti lo de escrita

eram publicadas em folhetins sendo o primeiro meio l i teraacuterio da Belle Eacutepoque foi por ele que

a ideia de Repuacuteblica e o sentimento de democracia foi espalhado pelo paiacutes Passando por

vaacuterios lugares e perspectivas o romance em prosa foi o que chamou a atenccedilatildeo a primeiro

momento trazendo conteuacutedos de assuntos variados de um romance indianista a um romance

urbano De algo nacionalista a um rigor l i teraacuterio Busca-se quase sempre a mesma coisa A

valorizaccedilatildeo do nacional por todas as perspectivas que se eacute possiacutevel desenvolver

Estas conf iguraccedilotildees l i teraacuterias e o seu contexto de produccedilotildees comeccedilam a ser transformadas

ao f inal do X IX e no comeccedilo do X X quando o romantismo passa a ser transformado e dele

surgir outros movimentos l i teraacuterios que vatildeo ajudar estes l i teratos a ter uma perspectiva sobre

a real idade uma vez que os homens de letra tentam ao f inal transformar a l i teratura como

uma missatildeo de educar trazer o progresso e uma mudanccedila poliacutetica Uma nova l i teratura surgia

da que se era visualizada para educar as mulheres e uma nova estrutura para os jovens

23 REALISMO

O Realismo trazia uma ideia de positivismo muito marcada tambeacutem pelos mil itares

Torna o homem uma criatura formada nele mesmo com seus proacuteprios conhecimentos onde a

real idade e os fatos apresentados satildeo o suf iciente para se obter a criacutetica sobre o assunto De

uma l inguagem direta e objetiva muitas vezes uti l izada para o cenaacuterio poliacutetico

O Realismo era um destes movimentos l i teraacuterios que surgiram do romantismo e eacute muito

representado por M achado de A ssis que aleacutem de escrever sobre temas nacionalistas tambeacutem

tinha o foco de escrever para o homem comum fortalecendo assim muito da sua narrativa

7

Semelhante a fotograf ia nele ao contrario de palavras natildeo existe mentira8 pois o real ismo

tende a trazer e a discutir o que se estaacute marginal izado discutindo a pobreza e a exploraccedilatildeo eacute

um movimento l i teraacuterio que vem em completo contraponto ao romantismo e eacute de faacuteci l

demonstraccedilatildeo pelos textos de M achado de A ssis na Gazeta de Notiacutecias principalmente na

seacuterie ldquoBons diasrdquo9

M achado busca na seacuterie narrada por Policarpo ser um narrador indiferente que se busca

natildeo tomar partido de causa alguma nem trazer uma opiniatildeo clara sob o assunto mas sim fazer

o leitor construir uma opiniatildeo sobre o assunto tratado na seacuterie e ateacute mesmo repensar seus

acontecimentos

Inserido no comeccedilo da modernizaccedilatildeo no paiacutes e sob uma ideologia positivista os

narradores de M achado de A ssis tecircm uma qualidade de objetividade uacutenica acompanhados de

uma prepotecircncia tidos como porta-vozes da verdade claramente trazendo uma verdade um

pouco turva em determinadas perspectivas devido ao autor jaacute ter uma ideia e perspectiva do

que se ocorria mas sempre deixando bem claro o que al i passa10

ldquoE diria entatildeo que ser conservador era ser essencialmente l iberal e

que no uso da l iberdade no seu desenvolvimento nas suas mais

amplas reformas estava a melhor conservaccedilatildeo ()

O mais di f iacuteci l parece que era a uniatildeo dos princiacutepios monaacuterquicos e dos

princiacutepios republicanos puro engano Eu diria () que considerava

tatildeo necessaacuteria uma como outra natildeo dependendo tudo senatildeo dos

termos assim podiacuteamos ter na monarquia a repuacuteblica coroada

enquanto que a repuacuteblica podia ser a l iberdade no trono etc etcrdquo 11

Como um narrador que natildeo tem opiniatildeo pois busca trazer a criacutetica para que o proacuteprio

leitor a julgue Policarpo frequentemente zomba do momento poliacutetico do paiacutes M as em sua

8 NUNES Radameacutes Vieira CROcircNICAS E CRONISTAS NO RITMO DAS MAacuteQUINAS Emblemas Revista do Departamento de Histoacuteria e Ciecircncias Sociais に UFG Goiaacutes V 9 N 1 Semestral 2012 Disponiacutevel em lthttpswwwrevistasufgbremblemasgt 9 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias (1890 に 1909) Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspx-103730_03ampPagFis=0gt 10 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 11 Assis Machado de Apud SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013

8

zombaria tambeacutem traacutes uma real idade sob a perspectiva por exemplo a citaccedilatildeo acima que satildeo

ideais que pouco se distanciam mas que tem uma grande diferenccedila no nome que carregam

Personagens como o de Policarpo satildeo um tipo de narrador muito presente em toda a sua

l i teratura como por exemplo Bentinho em Dom Casmurro ou Braacutes Cubas de Memoacuterias

Poacutestumas de Braacutes Cubas

A s crocircnicas escritas por que M achado escreve satildeo retratos de uma perspectiva da poliacuteti ca

brasi leira mostrando os conf l i tos de uma maneira objetiva mas trazendo um questionamento

ao seu leitor uma forma de dizer as coisas sem de fato jogaacute-las na cara do leitor e fazendo

exercitar o seu pensamento natildeo apenas sobre a poliacutetica do paiacutes mas tambeacutem sobre como o

homem vive e o que ele eacute

A o natildeo se posicionar em suas crocircnicas trazendo uma escrita de isenccedilatildeo poliacutetica ele acaba

cri ticando natildeo apenas a nova crocircnica mas o que ela deveria representar para o povo ldquoEle

conserva o caraacuteter criacutetico-opinativo e documental da crocircnica contudo o faz associado a um

alto grau de elaboraccedilatildeo literaacuteria que camufla a criacutetica socialrdquo 12

24 NATURALISMO

O Natural ismo eacute uma conjunccedilatildeo de vaacuterias coisas que se discutiam durante a Belle Eacutepoque

principalmente em Escolas sua l i teratura sendo basicamente formada em tentar expl icar que o

homem eacute modif icado pelo ambiente ao seu redor e que a natureza inf lui na razatildeo sua

ideologia eacute de encontro direto com o darwinismo 13

Com o paiacutes indo em busca da modernizaccedilatildeo em todos os seus setores homens

comeccedilavam a ver a modif icaccedilatildeo tanto em grandes metroacutepoles quanto tambeacutem no interior

sendo este mais voltado para a produccedilatildeo A s maquinas agriacutecolas comeccedilavam a fazer parte do

cotidiano do homem do interior a mudanccedila visual em estrutura f iacutesica natildeo era de faacuteci l

percepccedilatildeo no interior

O indiviacuteduo para o Natural ista eacute de um produto de hereditariedade e seu comportamento

eacute fruto da educaccedilatildeo e do meio em que se vive focando assim menos nas classes sociais altas

e mais nos indiviacuteduos marginal izados e no seu comportamento ou estranhamento com o

moderno que estava surgindo ou ateacute mesmo com o novo ri tmo que a metroacutepole estava

tomando e em menor proporccedilatildeo no o interior

12 SANTANA Joatildeo Rodrigo Arauacutejo A MODERNIZACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO NAS CROcircNICAS DE OLAVO BILAC (1890- 1908) Universidade Federal da Bahia Salvador 2013 13 Teoria evolucionista

9

O Natural ismo carregado de todas as perspectivas do real ismo leva ao maacuteximo suas

ideologias positivistas e darwinistas com um discurso de fazer o indiviacuteduo ter uma percepccedilatildeo

sobre si mesmo somente por meio do conhecimento das letras e das teacutecnicas cienti f icistas

Buscando assim incentivar o conhecimento e a criacutetica social do ambiente por meio de sua

l i teratura trazendo o tempo todo ao questionamento ao leitor

25 PARNASIANISMO

O parnasianismo eacute uma versatildeo do real ismo em forma de poesia em suas ideologias e

conf iguraccedilotildees participam da mesma estrutura soacute sendo produzida em uma estrutura diferente

Representado principalmente por Olavo Bilac o parnasianismo assim como o real ismo e

o natural ismo tem em suas bases a necessidade de ser objetivo e positivista A ssim podemos

ter uma perspectiva sobre as escritas de Olavo Bilac e tambeacutem suas preocupaccedilotildees ao longo do

tecnicismo sobre como seria para o homem de letra viver neste novo Brasi l onde produzir

tinha se tornado algo f reneacutetico

O parnasianismo foca muito na forma da rima e de sua produccedilatildeo a arte pela arte a

necessidade de ser descritivo uti l izando ateacute mesmo f iguras de l inguagem usando sempre

palavras que pudessem ao maacuteximo trazer riqueza as rimas

Compreende que os objetivos pessoais de um autor mesmo dentro de um tipo l i teraacuterio

interferem muito na maneira do mesmo escrever e para quem escrever M esmo que o

parnasianismo seja uma versatildeo em poemas do real ismo Olavo Bilac ao contraacuterio de

M achado de A ssis queria jaacute trazer pronto ao leitor uma ideia do que se esperar e desejar para

o futuro pois para Bilac a l i teratura era uma forma de trazer o homem a consciecircncia e assi m o

mesmo poderia de fato ver e fazer o que era melhor para si e para o futuro do paiacutes

Para Bilac a instruccedilatildeo era essencial para a construccedilatildeo de um futuro de progresso social

para o Brasi l progresso que era positivista e tecnicista Sua visatildeo vinha de um ideal Europeu

e seu espelhamento para a construccedilatildeo do ideal de naccedilatildeo tambeacutem

Bilac puacuteblica na Gazeta de Notiacutecias em 1905 quando a Repuacuteblica jaacute eacute instaurada falando

da necessidade de se estimular a instruccedilatildeo a grandes massas

ldquoQue o leitor saiba escolher com independecircncia e criteacuterio o seu

candidato ou que pref ira dar ou vender um voto a um incapaz -

pouco importa O que importa eacute que todo homem vaacutelido sabendo ler

10

e escrever queira deste modo af irmar a sua vontade de ser eleitor de

ser algueacutemrdquo 14

Para a Repuacuteblica se manter para o Brasi l ser de fato um paiacutes ldquorevolucionaacuteriordquo se era

necessaacuterio que o homem conhecesse o valor da Repuacuteblica e da democracia em todos os

acircmbitos e soacute atraveacutes do letramento ele o homem i letrado iria conhecer a importacircncia e iria

se reconhecer em meio aquela sociedade que estava se formando

A aceitaccedilatildeo da Republ ica para estes homens de letra soacute seria completa se as classes mais

baixas a aceitassem e uti l izassem do advento de novas tecnologias para a sua construccedilatildeo por

meio de jornais crocircnicas e folhetins A ssim aleacutem de uti l izarem imagens tambeacutem havia um

estimulo por meio das imagens a incentivar o leigo a buscar instruccedilatildeo

A Repuacuteblica tambeacutem soacute seria e alcanccedilaria seu auge como na Franccedila se ela tambeacutem

investisse na educaccedilatildeo e no letramento dos homens

ldquoNatildeo sei se o regime republicano pode f lorescer e fruti f icar bem num

paiacutes que conta no seu seio mais de dez milhotildees de analfabetos O

melhor meio de honrar o regime e honrar quem o fundou eacute associar a

memoacuteria do fundador agrave obra santa da instruccedilatildeo primaacuteria

Cada crianccedila das que daquela casa continuarem a sair sabendo ler e

escrever seraacute mais uma criatura l ivre capaz de defender transformar

esta Repuacuteblica - que desgraccediladamente ainda parece pensar que pode

merecer o nome de homem um animal incapaz de decifrar os

caracteres do alfabetordquo 15

Deixando sempre bem claro seus pensamentos e ideologias e uti l izando deles para

construir um ideal republicano em conjunto Olavo Bi lac foi aleacutem de um dos maiores

entusiastas da Repuacuteblica um criacutetico do modernismo que comeccedilava a circular em seu ramo de

trabalho

Olavo Bi lac buscava tambeacutem por meio de suas palavras em crocircnicas e poemas levar a

instruccedilatildeo para assim o paiacutes se desenvolver de fato e poder ser comparado as grandes naccedilotildees

14 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015 15 BILAC Olavo Apud Montilha Thiago Roza Ialdo OLAVO BILAC E A QUESTAtildeO DA INSTRUCcedilAtildeO NO BRASIL (1897 に 1908) Revista Intellegravectus Ano XIV Nordm 1 Rio de Janeiro 2015

11

26 O SIGNIFICADO DO PREacute-MODERNISMO

Como muito discutido na nova l i teratura o preacute-moderno natildeo se trata diretamente de um

movimento l i teraacuterio mas de uma transiccedilatildeo O preacute-modernismo pode ser encaixado em todos

os autores que neste trabalho eacute discutido principalmente focando em L ima Barreto Eucl ides

da Cunha e M onteiro Lobato

Suas principais caracteriacutesticas antes do triunfo do moderno estatildeo na af irmaccedilatildeo da

l inguagem informal produccedilatildeo l i teraacuteria crocircnicas poemas etc produccedilatildeo no geral pois sua

maior preocupaccedilatildeo era chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico comum

Buscando ter em foco o que acontece no Brasi l o jornal e a revista seriam como lugares

de informes para o que se ocorria no paiacutes os problemas sociais eram amplamente discutidos

Conf l i tos miseacuteria a condiccedilatildeo da vida em si destas pessoas entatildeo marginal izadas e como

uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para elas em todos os aspectos possiacuteveis (sociais e

poliacuteticos) para assim ter como uma forma de mudar ou ateacute mesmo de fazer o moderno chegar

ateacute eles

A descriccedilatildeo do ambiente tambeacutem era importante para a formalizaccedilatildeo e demonstrar o que

de fato estaacute se passando com as novas tipograf ias as fotograf ias charges desenhos e

caricaturas muitas vezes vindo em conjunto com o escrito para demonstrar ou reforccedilar a

imagem do que era discutido e narrado

M as o Brasi l Repuacuteblica natildeo se formou exatamente da maneira que os homens de letra

haviam idealizado ao longo de sua formaccedilatildeo Conf l i tos sociais reprovaccedilotildees e contestaccedilotildees de

algumas novas leis tudo isso fazia o homem de letras se questionar em sua escrita o que

estava sendo vivido ou consideravam mudar como missatildeo

ldquoldquoDaiacute caracterizar os seus textos ldquoessa concepccedilatildeo de um mundo

brumoso quase mergulhado nas trevas sendo unicamente perceptiacutevel

o sofrimento a dor a miseacuteria e a tristeza a envolver tudo tristeza que

nada pode espantar ou reduzirrdquo Haacute nos seus l ivros um roteiro de

busca natildeo soacute da sol idariedade perdida mas de uma nova que o futuro

prometiardquo 16

16 SEVCENKO Nicolau In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 144

12

Fazer o homem compreender o outro poderia trazer ao Brasi l aquilo o que a Repuacuteblica

estava de certa forma ignorando A consciecircncia do homem sobre o outro homem poderi a

sim fazer o paiacutes um lugar melhor tanto ideologicamente quanto socialmente

A Repuacuteblica de alguma forma parecia ter causado uma degeneraccedilatildeo cultural sobretudo no

jornal ismo com a velocidade de circulaccedilatildeo da escrita e com isso buscando questionamentos

por meio do puacutebl ico i letrado entatildeo marginal izado

Estes autores buscavam entatildeo ao maacuteximo para fazer com que as suas histoacuterias fossem f ies

e retratando o que de fato ocorria distinguindo-se assim em duas possiacuteveis vertentes uma de

renovaccedilatildeo e a de resistecircncia ao que al i estava proposto

Eucl ides da Cunha era um destes autores que natildeo soacute retratou o homem marginal izado

como uti l izou das aacutereas marginal izadas como cenaacuterio de seus romances explorando

momentos reais como a Guerra de Canudos quando o mesmo escreve Os Sertotildees

Eucl ides tambeacutem passou por uma grande decepccedilatildeo com a Repuacuteblica e seus ideais uma

vez que ia contra o que o mesmo aprendeu e vivenciou na A cademia M il i tar e passou por

dentro dela por vaacuterios cargos ldquoduas idades que se opunham pela proacutepria raiz da sua

identidade o seacuteculo X IX l i teraacuterio romacircntico e idealista e o seacuteculo X X cientiacutef ico natural ista

e materialistardquo 17

Trouxe cri ticas a Republica por meio de suas obras considerando uma obra que poderia se

relacionar com vaacuterias coisas geograacutef icas histoacutericas Suas criacuteticas nesta obra trazem

questionamentos sobre suas crenccedilas cienti f icas e f i losoacutef icas que circularam durante o

movimento Republicano

ldquoEacute uma seleccedilatildeo natural invertida a sobrevivecircncia dos menos aptos a

evoluccedilatildeo retroacutegada dos alei jotildees a extinccedilatildeo em toda a l inha das belas

qualidades de caraacuteter transmutadas numa incompatibi l idade agrave vida e

a vitoacuteria estrepitosa dos fracos sobre os fortes incompreendidos

Imaginai o darwinismo pelo avesso aplicado agrave histoacuteriardquo 18

L ima Barreto tambeacutem busca em suas crocircnicas um personagem que eacute marginal izado pela

modernizaccedilatildeo o homem do interior que vai a capital em busca de uma nova vida que natildeo

17 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 18 CUNHA Euclides da Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

13

entende o que estaacute acontecendo ao seu redor O homem que natildeo tem onde morar ou ateacute

mesmo que se vecirc sem perspectiva poliacutetica sobre tudo o que se estaacute sendo formado diante dele

ldquoNatildeo sou contra a inovaccedilatildeo mas quero que natildeo rompa de todo com os processos do

passado senatildeo o inovador arrisca-se a natildeo ser compreendidordquo19 Toda a sua ideia de

modernismo o fez buscar soluccedilotildees originais para as suas crocircnicas e as tornarem mais

suscetiacuteveis a todas as novas formas de se produzir Produzindo assim crocircnicas cheias de

ironias e as justificando logo depois ldquoA ironia vem da dorrdquo20

E essa dor eacute constante em seus romances como forma de mal-estar ou ateacute mesmo como

dor pelo o que seus protagonistas vivem como Isaias que sofre por sua cor sofre pela

si tuaccedilatildeo que eacute submetido e causa dor ao autor

ldquoDespertei hoje cheio de um mal-estar que natildeo sei de donde me veio

Nada ocorreu que o determinasse [ ] Penso ndash natildeo sei por que ndash que eacute

este meu livro que me estaacute fazendo mal []rdquo21

ldquoSentia-me sempre desgostoso por natildeo ter ti rado de mim nada grande

de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um

outro qualquer [ ] Por que o tinha sido Um pouco devido aos outros

e um pouco devido a mim

[ ]

A nossa humanidade jaacute natildeo sabe ler nos astros os destinos e os

acontecimentosrdquo 22

Em suas obras L ima Barreto deixa claro que a real revoluccedilatildeo do Brasi l ou ateacute mesmo a

formaccedilatildeo de uma verdadeira repuacutebl ica soacute seria possiacutevel se prestar atenccedilatildeo nesta pessoa

marginal izada olhar mesmo para o proacuteximo um conjunto de leis natildeo faziam de fato um

governo ser para todos Um conjunto de leis para pessoas que viviam sob ceacuteus tatildeo diferentes

natildeo resolviam seus problemas potencialmente poderia aumenta-los 23

19 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 20 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 21 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 22 BARRETO Lima Apud FIQUEIREDO Carmem Luacutecia Negreiros O MAL-ESTAR DE ISAIacuteAS A CRISE DO ROMANCE EM LIMA BARRETO Pensares em Revista Satildeo Gonccedilalo に Rio de Janeiro Nordm 1 Semestral 2012 23 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

14

Jaacute M onteiro Lobato natildeo era de fato contra a modernizaccedilatildeo e muito menos aos benefiacutecios

que a mesma poderia trazer em todos os sentidos para a popul accedilatildeo O mesmo escreve

ldquoOswaldo Gaspar V iana Chagas Neiva Lutz A strogi ldo Chaves

V i lela e Belisaacuterio Pena f izeram num lustro o que a legiatildeo de

chernovizantes anteriores natildeo fez num seacuteculo Natildeo que natildeo sejam

criaturas de exceccedilatildeo gecircnios incendiados de fagulhas divinas mas

simplesmente porque aparelhados com os meacutetodos modernos

trabalharam norteados pelo seguro criteacuterio pasteurianordquo 24

M onteiro Lobato mesmo apoiando a modernizaccedilatildeo divulga em suas obras o interior e o

trabalho no mesmo usando de descriccedilatildeo do meio rural do homem caipira que trabalha na

terra em sua obra como Jeca Tatu

Seguindo o que L ima Barreto e Eucl ides da Cunha jaacute tinham escrito M onteiro Lobato

tambeacutem rompe com o passado apresentando inovaccedilotildees sobre regionalismo e tambeacutem a

real idade rural brasi leira expondo a miseacuteria do homem de campo de forma real ista

M onteiro Lobato tentava criar com o seu leitor um sentimento de nacionalismo quanto a

terra e ao paiacutes demostrando assim uma espeacutecie de denuncias contra ao homem rural a falta

de educaccedilatildeo sua marginal izaccedilatildeo em um contexto geral

Em seu discurso o paiacutes apenas natildeo se desenvolvia porque o conhecimento natildeo chegava

neste homem rural sendo assim ele se tornava mais suscetiacutevel a todo dano possiacutevel causando

assim o estrago e atraso a naccedilatildeo

Este homem do campo retratado por M onteiro Lobato natildeo conhecia as alegrias de ser um

ser poliacutetico e nem se preocupava com isto ldquoO fato mais importante de sua vida eacute sem duacutevida

votar no governordquo25 Diante destas af irmaccedilotildees e o que o paiacutes passava eacute que M onteiro af irmava

que faltava civismo neste homem do interior Trazendo o exemplo para o seu proacuteprio

personagem Jeca Tatu

Jeca que para o autor eacute tudo de peacutessimo que o homem pode ser eacute a comprovaccedilatildeo disto

uma vez que o mesmo diz que ele cuida de suas doenccedilas por meio de misticismo

M onteiro Lobato defendia o progresso do paiacutes e qualquer benef icio que o mesmo

trouxesse para a naccedilatildeo principalmente na sauacutede do povo

24 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010 25 LOBATO Monteiro Problema Vital Jeca Tatu e outros textos Ed 1ordm Satildeo Paulo Editora Globo 2010

15

O M odernismo e o Progresso eram tatildeo raacutepidos e velozes que L ima Barreto mesmo iria

cri ticar que natildeo se tinha tempo nem ao mesmo para classif icar os tipos l i teraacuterios e como eles

ocorriam ou quais suas separaccedilotildees

ldquoNoacutes natildeo temos mais tempo nem o peacutessimo criteacuterio de fixar

riacutegidos gecircneros l i teraacuterios agrave moda dos retoacutericos claacutessicos com

produccedilotildees do seu tempo e anteriores Os gecircneros que herdamos e que

criamos estatildeo a toda hora a se entrelaccedilar e se enxertar para variar e

atrairrdquo 26

A l i teratura e a sua formaccedilatildeo andam em conjunto com os ideais que todo o movimento

cultural e poliacutetico da Bel le Eacutepoque construiu e desenvolveu com autores participando para o

seu desenvolvimento ao longo de sua formaccedilatildeo conseguindo compreender os problemas

sociais e poliacuteticos aleacutem de todos os questionamentos que este moderno traacutes tanto para o

homem comum quanto para esses escri tores e tambeacutem suas angustias e esperanccedilas

26 BARRETO Lima Apud SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 194

16

III MODERNIZACcedilAtildeO CIDADE E POLIacuteTICA

31 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESTRUTURA DA CIDADE

O Brasi l ao f inal do seacuteculo X IX passava por uma grande reforma urbana que

modernizaria a entatildeo capital A modernizaccedilatildeo passa em todos os acircmbitos possiacuteveis sanitaacuteria

social e econocircmica A grande reformulaccedilatildeo econocircmica era a que a primeiro momento

possibi l i taria a restauraccedilatildeo econocircmica e assim possibi l i taria de fato a entrada da

modernizaccedilatildeo afastando as pessoas de baixa renda para as margens e mudaria toda a estrutura

da cidade

O Rio de Janeiro aproveitava de todo o seu novo espaccedilo poliacutetico e econocircmico mundial

(com cafezais) para a suas modif icaccedilotildees a construccedilatildeo de ferrovias e ampliaccedilatildeo das mesmas

junto com a maior faci l idade para a comunicaccedilatildeo com outros estados do paiacutes e regiotildees em

conjunto com novos grupos sociais principalmente os burgueses se expandindo O Rio de

Janeiro abria espaccedilo cada vez mais para a instalaccedilatildeo de induacutestrias e outros mercados que

consomem matildeos de obra

Para se comparar com outras grandes capitais do mundo o Rio de Janeiro precisava

tambeacutem cuidar de sua imagem fiacutesica Com a grande migraccedilatildeo por todo o paiacutes para a cidade

que era muito maior do que a cidade suportava trouxe entatildeo um lado negativo para a imagem

do Rio com a criaccedilatildeo de favelas e com vaacuterios moradores de rua O resto do mundo precisava

acreditar que o paiacutes era de fato prospero e a imagem que a capital passava era apenas de

ldquodesconforto imundiacutecie e promiscuidaderdquo27

Os homens de letra novamente se demonstravam de vaacuterias formas contra e a favor dessa

nova movimentaccedilatildeo para a higienizaccedilatildeo da cidade do Rio de Janeiro na seguinte citaccedilatildeo de

Olavo Bi lac (1881 ndash 1922) podemos ver

ldquoO Brasil entrou ndash e jaacute era tempo ndash em fase de restauraccedilatildeo do

trabalho A higiene a beleza a arte o ldquoconfortordquo jaacute encontraram

quem lhes abrisse as portas desta terra () O Rio de Janeiro

27 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41

17

principalmente vai passar e jaacute estaacute passando por uma transformaccedilatildeo

radical A velha cidade feia e suja tem os seus dias contatosrdquo 28

Os cronistas consideravam isso uma regeneraccedilatildeo da proacutepria cidade pois afetava tudo que

nela coexistia desde os moradores que os que natildeo tinham renda subiam os morros e assim se

estruturava de fato as favelas do Rio quanto aos que tinham de fato a renda e modif icava as

estruturas antes colocircnias para agora modernas natildeo aceitando mais a lembranccedila f iacutesica da

Repuacuteblica De fato tudo se modif icava inclusive as lembranccedilas culturais se chegava a

condenar ateacute haacutebitos l igado a cultura tradicional

Durante muito tempo o paiacutes esteve l imitado a escolhas da metroacutepole Portugal sendo

assim por muitos anos a imprensa perioacutedica se vecirc limitada e ldquosob vigilacircncia e repressatildeo das

autoridadesrdquo29 A imprensa comeccedilou a ser mais dispersa apenas com a chegada da Corte

A s mudanccedilas natildeo eram apenas na ideologia do povo grandes mudanccedilas eram percebidas

nas ruas de maneira estrutural e de haacutebitos A s faacutebricas a Rua do Ouvidor as modif icaccedilotildees

do cotidiano comeccedilavam al i e toda a mudanccedila pol iacutetica tambeacutem quem quisesse saber o que de

fato estava ocorrendo i ria naquele beco e entatildeo descobriria os novos haacutebitos gostos

prof issotildees poliacutetica tudo o que o homem moderno achava que precisava30 O novo cultural do

paiacutes

ldquoPor esse beco sujo que resumia a vida nacional transitavam

capital istas poliacuteticos jornal istas l i teratos damas da sociedade

funcionaacuterios puacuteblicos mas tambeacutem cocottes moccedilas do subuacuterbio

moleques vendedores de jornais comerciantes caixeiros empregados

operaacuterios e os famosos boecircmiosrdquo (MELLO 2007) 31

28 Olavo Bilac Revista Kosmos 1 janeiro de 1904 Apud SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 43 29 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 23 30 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58 31 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 58

18

Figura 1 Fotograf ia da Rua do Ouvidor em 1890

Imagem 1 Fotografia de M arc Ferrez 1890 Publicaccedilatildeo eacute uma co-ediccedilatildeo SteidIM S Disponiacutevel em lt

httpfotografiaimscombrsi tes1527248423762_13gt

A diversidade de frequentadores era niacutetida A Rua do Ouvidor aumentou a sua

visibi l idade natildeo apenas para quem ali existia Seu dia era completamente f luiacutedo contendo a

todo o momento em todos os horaacuterios movimentaccedilatildeo do mais variaacutevel grupo possiacutevel No

primeiro horaacuterio do dia era abastecida pelos al imentos leiteiros e verdureiros logo apoacutes as

donas de casa simples as oito os funcionaacuterios puacuteblicos e em seguida os estudantes As 10

horas a Rua do Ouvidor atingia o seu puacuteblico maacuteximo Patrotildees e capital istas O mundo

burguecircs comeccedilava a se apossar da Rua

19

A Rua do Ouvidor havia se transformado na alma do Rio de Janeiro sendo al imentada por

todos que al i viviam e passavam de boecircmios a donas de casas que queriam gastar o dinheiro

de seus maridos capital istas de empregados de faacutebrica apoacutes o expediente a artistas de teatro

O que al i acontecia todo o paiacutes f icava sabendo os jornais que al i residiam eram vendidos em

todo o paiacutes a Rua do Ouvidor em si era notiacutecia

A Revista I l lustrada32 em seu nuacutemero 434 de 19 de junho de 1896 tem uma crocircnica sobre

a Rua do Ouvidor

ldquoA Rua do Ouvidor pois sem ter os elementos para ser o

melhor ponto de reuniatildeo da populaccedilatildeo aacute falta de melhor com esse

monopoacutel io

A pouco e pouco as suas lojas e estabelecimentos foram-se

reformando com certa elegacircncia ostentando vistosas vitrines aonde

aparecem as novidades

()

Tudo isso que se vae vendo de passagem junto ao encontro a

cada passo de um amigo que nos diz uma bocirca palavra de um

conhecido que nos aperta a matildeo de outra pessocirca a quem presisavamos

perguntar qualquer coisa faz com que a Rua do Ouvidor se imponha

quer queiram quer natildeo

()

A ssim todos os habitos de elegancia e exibiccedilatildeo estatildeo

transtornadosrdquo 33 34

A Rua do Ouvidor crescia conforme o Rio de Janeiro se desenvolvia como uma simbiose

Jornais clamavam por reformas governamentais comeccedilava a se formar uma intensa e enorme

atividade poliacutetica e cultural dando assim espaccedilo para a propaganda republicana

E toda a importacircncia que se dava a Rua do Ouvidor era o faacuteci l acesso que a modernizaccedilatildeo

trouxe O bonde se tornou comum para ir e voltar da cidade e a rua como uma grande amostra

do que o moderno poderia oferecer acabava se tornando o destino f inal de muitos

principalmente da famiacutel ia em busca de compras diversatildeo ou apenas das fofocas do dia 32 Revista Abolicionista e Republicana que teve sua origem no Rio de Janeiro circulada entre 1876 に 1898 33 Todas as palavras foram mantidas iguais a do artigo 34 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

20

A faacuteci l circulaccedilatildeo fazia os assuntos serem mais faacuteceis de serem espalhados e tambeacutem

trazia importacircncia a quem os produzia no caso os homens de letra ganhando assim a

popularidade e tambeacutem a relevacircncia que eles necessitavam para divulgar as suas ideias se

tornavam faacuteci l celebridades onde qualquer um que tivesse acesso a um jornal ou revista

queria a atenccedilatildeo na Rua do Ouvidor eram verdadeiros astros

Logo a Rua do Ouvidor era claramente o coraccedilatildeo do paiacutes onde se entrava de certa forma

leigo ou sem participar de fato da vida tanto do paiacutes em questotildees gerais quanto do proacuteprio Rio

de Janeiro e se saia completamente cheio de informaccedilatildeo e de vaacuterios caraacuteteres diferentes de

conhecimento poliacutetico a de l i teratura do uacuteltimo pronunciamento do M onarca quanto a

proacutexima cor da estaccedilatildeo de uma pessoa completamente sem viacutecios a uma que conhecia todos

eles pois a rua era isso A presentadora da vida

ldquoTodos sentem em sua existecircncia um grande vaacutecuo Eacute a falta da Rua

do Ouvidorrdquo35

Uma vez que se participava de tal cenaacuterio que a Rua oferecia com seus cafeacutes hoteacuteis

l ivrarias lojas teatros e principalmente das pessoas que al i circulavam jaacute se fazia de certa

forma parte de aleacutem de todo um novo mundo da formaccedilatildeo de um novo lugar A Rua sempre

se modif icava e modif icava a todos principalmente devido ao grande f luxo de pessoas que se

migravam para a cidade aumentando ainda mais a diversidade cultural

A s grandes lojas de renome em todos os aspectos em conjunto com aquela rua apertada

com pouca luz faziam as histoacuterias e as fofocas circularem al i naquele meio que apesar dos

pesares era o coraccedilatildeo da cidade e dos homens todo este conjunto trazia assim l i teralmente

todos os tipos de puacuteblico para aquele lugar especif ico do Rio de Janeiro

Cercada de atividade econocircmica ela se f luiacutea tambeacutem a nova demanda da Europa por

mateacuterias primas aproximava o Rio de Janeiro cada vez mais a modernizaccedilatildeo o que em

conjunto com os pedidos dos jornais pela democracia se tornou um problema para o Regime

Imperial Brasi leiro que comeccedilava a sofrer pressotildees de todos os lados possiacuteveis mostrando sua

35 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1898 Nordm 434 Anno 11 Rio de Janeiro 19 de Junho de 1886 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3093ampPesq=gt

21

impotecircncia em mais dos diversos assuntos logo se viu incapaz de se adaptar e de responder agraves

exigecircncias do progresso36

32 A CONSTRUCcedilAtildeO DO IMAGINAacuteRIO AO FIM DA MONARQUIA

A construccedilatildeo de todo um imaginaacuterio por meio das novas tecnologias que chegavam ao

paiacutes contribuiu para a queda da monarquia e para que a Republica fosse aceita pelo cidadatildeo

comum mesmo que o imperador D Pedro I I tenha tido de fato uma boa imagem o que

circulava sobre ele de fato natildeo era tatildeo positivo assim

Com um grande nuacutemero de pessoas que migravam para o Rio de Janeiro em conjunto com

as novas divulgaccedilotildees sobre o que acontecia ou deixava de acontecer com a coroa e a sua falta

de capacidade contribuiacuteram para essa ideia do governo monaacuterquico natildeo ser o ideal para o paiacutes

que estava se formando e muito menos para o seu povo

Uma narrativa estava sendo criada ao longo dos anos uti l izando charges crocircnicas

notiacutecias e piadas e cada vez mais essa narrativa entrava no imaginaacuterio do povo e se fazia

presente no espaccedilo puacutebl ico que tambeacutem como jaacute citado estava aumentando

36 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO E SPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 63 76

22

Figura 2 Charges caccediloando do M onarca e de suas decisotildees

Imagem 2 Colagem Fonte Hemeroteca Digi tal Revista I l lustrada Rio de Janeiro 21 de janeiro de 1882 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=2011amp Pesq=gt

Se criava uma estrutura para se difundir a falha da M onarquia jornais e escri tores se

esforccedilavam para aleacutem de l igar a monarquia a algo atrasado mas para forccedilar a incompetecircncia a

imagem do Imperador - natildeo soacute por palavras como jaacute dito mas como em charges e natildeo soacute

l igado a imagem dele individual mas em toda sua estrutura governamental e seus apoiadores

A imagem busca um desenvolvimento de uma falta de capacidade do Impeacuterio como a

rapidez e desenvoltura sobre tudo que estava ocorrendo em conjunto com um pouco da falta

de crenccedila do poder das publicaccedilotildees quanto ao povo

A s imagens acima tentam construir exatamente esse sentimento de desaprovaccedilatildeo quanto

ao M onarca uma vez que elas natildeo soacute caccediloam de sua aparecircncia como tambeacutem de suas

escolhas poliacuteticas Como dito anteriormente as charges serviam para auxi l iar a parte do povo

analfabeta e a conduzir um determinado tipo de pensamento e criacutetica ao mesmo natildeo

necessariamente precisando de legenda mas contendo-as mesmo assim com uma mensagem

tatildeo expl ici ta quanto a proacutepria caricatura

A s legendas em ordem satildeo

23

2 ldquoAs fallas do throno fabricadas pelos nossos governos parecem natildeo ter outro f im

senatildeo abalar o proacuteprio throno e colocar a monarchia em tristiacutessima posiccedilatildeordquo

3 ldquoSe a protecccedilatildeo imperial eacute soacute para inglecircs ver e se a corocirca estaacute circumscripta por

um grande zero constitucionalrdquo

4 ldquoNoacutes que temos pela monarchia todo o respeito e devido acatamento natildeo podemos

sem rir (o que eacute muito feio) ver o nosso Imperial Senhor metido em papos de

tucano37 ou antes em papos de aranha obrigado aacute dizer o que natildeo pensa etc e talrdquo

5 ldquoTodos os cidadatildeos grandes e pequenos ricos e pobres foram de opiniatildeo que a tal

fala natildeo val ia quatro costados38 e merecia que se lhe atirasse com um gato mortordquo

M esmo que a legenda traga em complemento a interpretaccedilatildeo da imagem por si soacute jaacute se

expl ica o suf iciente e geralmente satildeo feitas seguindo a ordem das notiacutecias ou do que foi o

mais importante retratado no volume daquele lanccedilamento podendo ser assim de variados

assuntos ou de um principal que no caso desta foi a tristeza das falas de sua Excelecircncia o

Imperador sobre a composiccedilatildeo da nova cacircmara em vaacuterios aspectos

Histoacuterias falsas sobre a M onarquia eram espalhadas o tempo todo e ateacute mesmo as reais

eram constantemente aumentadas ou extremamente divulgadas dando uma importacircncia natildeo

tatildeo positiva A f igura imperial de D Pedro era constantemente caccediloada e consequentemente

perdia sua sacral idade

Histoacuterias sobre sua carruagem constantemente quebrar e despencar histoacuterias sobre o

monarca ser roubado e a falta de respeito que o povo tinha com esse roubo histoacuteria esta que

rendeu ateacute mesmo um ldquodrama satiacuterico-burlesco de A rthur A zevedordquo39 e peccedilas de teatro

histoacuterias sobre a vida sexual do monarca dizendo que o mesmo poderia ou era um pedoacutef i lo

rendiam paacuteginas inteiras e em vaacuterios segmentos em jornais de grande circulaccedilatildeo na eacutepoca

como Gazeta de Notiacutecias e a Revista I l lustrada

O jornal ismo da eacutepoca se esforccedilava para retirar o respeito do monarca quanto ao povo e

demonstrar a falta de capacidade que o mesmo tinha ou mesmo comeccedilava a ter se havia um

esforccedilo para criar um novo sentimento negativo quanto a monarquia sentimento que a

republica iria al iviar e natildeo apenas mas tambeacutem melhorar

37 Expressatildeo muito utilizada que significa estar em situaccedilatildeo complicada difiacutecil emergencial Mais conhecida Iラマラ さヮヮラ SW ヴミエざが ノラ go pode ser encontrada de forma variada 38 Expressatildeo que significa natildeo valer de onde veio tanto vale para terra ou para grupo familiar 39 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 47

24

Qualquer miacutenimo erro do monarca ou algo que pudesse ser considerado como podia se

tornar manchete de jornal e satirizado por charges como tambeacutem poderia virar peccedila de teatro

no seguinte caso na abertura de uma bibl ioteca a Revista I l lustrada publica

ldquoAbertas com as mesmas formalidades da fala do throno e todas as

maiuacutesculas do alfabeto SM natildeo esqueceu nem os papos de tucano

nem o ldquocongratulo-Merdquo com M de grande de cada ano

()

SM parece atirar ao l ixo como umpuras i l legaes e viciadas todas as

camaras que ateacute hoje tem legislado para o paiz que el le jurou ser a

menina de seus olhos no seu puf aacute cacircmara actual pouco se lhe daacute de

deixar ver claramente que todos os augustos e digniacutessimos que foram

natildeo passaram de falsos eleitos ()

Foi naturalmente ofuscado pelo bri lho dos novos soacutees do subsidio que

SM tatildeo pouco enxergou nas necessidades do paiz e nos deu uma fala

do throno magra e ocircca como uma chronica sem assumpto

Eu nunca vi corocirca mais geneacuterica mais l igeira jamais se vio uma fala

do throno menos loquaz Parece que o Sr D Pedro segundo nada

tinha drsquoesta vezrdquo40

A s decisotildees poliacuteticas-sociais tambeacutem natildeo estavam chegando a agradar a grande maioria

da populaccedilatildeo algumas medidas criadas pelo entatildeo governo faci l i tavam na verdade esse

sentimento de desgosto e contribuiacutea para a imagem que alguns jornais republicanos se

empenhavam em passar como por exemplo formar o corpo eleitoral por menos de 1 da

populaccedilatildeo de todo o paiacutes

Como jaacute citado as imagens eram o foco principal para esses homens de letra pois sabiam

por ela a informaccedilatildeo circulava formando-se assim o principal meio de divulgaccedilatildeo do que

ocorria e da mensagem que deveria ser passada A inda mais com o conhecimento de que a

maior parte da populaccedilatildeo natildeo ser letrada com o povo absorvendo as informaccedilotildees que elas al i

passavam se tornavam mais faacuteci l a disseminaccedilatildeo do discurso como a aceitaccedilatildeo delas em um

futuro para a criaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo

40 Revista Illustrada 21 de janeiro de 1882 nordm 283 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=1997ampPesq=gt

25

A s charges claramente se baseavam em fatos que ocorriam com a monarquia ti rando

sarro de suas accedilotildees e decisotildees A ssim a monarquia passava por uma seacuterie de criacuteticas variadas

que partiam do popular com a falta de capacidade que o ex-monarca parecia ter tanto do paiacutes

quanto de si mesmo Na Revista I l lustrada de 1ordm de marccedilo de 1890

ldquoTanto mais que natildeo pretendo deitar abaixo bibliotecas para discutir

por exemplo o caso da situaccedilatildeo precaacuteria do Sr D Pedro de

A lcantara () Uma vez que o telefrapho nos deu a noticia que o ex-

imperador luctava com dif iculdades para ocorrer para ocorrer aacutes suas

despesas ndash e que essa noticia confrageu o coraccedilatildeo dos brasi leiros ndash

mandava o senso commum que se aguardasse o procedimento do

governo provisoacuterio que podia fazer ndash como realmente fez ndash um

adiantamento por conta do bens daquele que aleacutem de outras virtudes

teve a de ser sempre como monarca um exemplo de probidade e

houradezrdquo Barbadinho41

A Repuacuteblica que era algo de extrema necessidade para esses jornal i stas e homens de letra

Natildeo qualquer forma de Repuacuteblica mas aquela que trazia a decisatildeo para o seu povo aquela

que levava a l iberdade poliacutetica ao homem comum de decisotildees e questionamentos decisotildees

para um liacuteder para o Brasi l que necessitava disto para42 segundo esses homens se tornar uma

grande potecircncia como as suas transformaccedilotildees estavam pedindo O futuro do Brasi l estava em

seu grupo soacute que em um governo Republicano

A Repuacuteblica ser sinocircnimo de l iberdade com a disseminaccedilatildeo dessa ideia de um sentimento

de mudanccedila e que ele soacute podia ser completado ou real izado pela mudanccedila governamental

A ssim apenas a Repuacuteblica tinha essa capacidade

A l iberdade era algo essencial para esses homens de letra e reforccedilavam para a populaccedilatildeo o

tempo todo que ela era a essecircncia de cada um em seu espaccedilo Um homem soacute era l ivre de fato

se o seu paiacutes fosse l ivre e um paiacutes soacute eacute l ivre se a sua imprensa for l ivre

M esmo com a l iberdade de imprensa assegurada demorou-se alguns anos para de fato ser

efetiva A umentou sim o movimento de imprensa mas se acrescentava vaacuterias outras

41 Hemeroteca Digital Revista Illustrada (RJ) 1876 ʹ 1894 Nuacutemero 580 Anno 15 Rio de Janeiro 1ordm de marccedilo de 1890 p 6 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4221gt 42 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhias das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordm p 17

26

preocupaccedilotildees nessa nova imprensa l ivre que variavam nos movimentos poliacuteticos mas a

l iberdade adquirida se era valorizada e reforccedilada sempre que possiacutevel Cipriano Barata (1762

ndash 1838) entusiasta da Republica e a Independecircncia do Brasi l puacutebl ica em Sentinela da

L iberdade (1823) 43

ldquoToda e qualquer Sociedade onde houver imprensa livre estaacute em

l iberdade que esse Povo vive fel iz e deve ter aumento alegria

seguranccedila e fortuna se pelo contraacuterio aquela Sociedade ou Povo que

tiver imprensa cortada pela censura preacutevia presa e sem l iberdade seja

debaixo de que pretexto for eacute povo escravo que pouco a pouco haacute de

ser desgraccedilado ateacute se reduzir ao mais brutal cativeirordquo 44

A l iberdade era essencial para o povo natildeo viver em estupidez e para isso se era necessaacuterio

a primeiro momento criar algo em comum com os homens para entatildeo passar a ideia do que de

fato era a Repuacuteblica e a essecircncia da l iberdade para depois formar a ideia de naccedilatildeo para estes

possiacuteveis e futuros Republicanos e as Charges e Imagens eram o principal meio de passar a

ideia no imaginaacuterio de que o governo natildeo era capaz de governar e nem de oferecer este

objetivo

Com essa ideia sendo reforccedilada tantas vezes e com formas diferentes deixa de ser apenas

um sentimento abstrato ou algo sem formato agora para esses autores jornais e futuros

poliacuteticos a ideia tinha um corpo e uma forma e apenas uma forma de existi r A L iberdade era

o sentimento menos abstrato que o homem de letra sentia a necessidade e a ideia mais bem

formada

A Republica era o sinal de que a palavra seria como o governo Democraacutetico e l ivre Sem

censura e sem l imites para qualquer um que pudesse ou quisesse usa-la bastava conhecer a

palavra assim como o direito de ser l ivre e poder exercer seu poder poliacutetico

Em conjunto a opiniatildeo poliacutetica soacute se era ouvida de fato se o eleitor fosse homem

possuidor de terras pleno conhecimento de leitura e ortograf ia assim a grande maioria da

populaccedilatildeo se tornava abstraiacuteda das decisotildees poliacuteticas principalmente homens negros45

43 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 44 BARATA Cipriano Apud MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 35 45 CARVALHO Joseacute Murilo UTOPIAS REPUBLICANAS In A Formaccedilatildeo das Almas O Imaginaacuterio da Repuacuteblica no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 1939 Ed 7ordmp 24

27

O simboacutelico com essas ideologias que os jornais levavam em conjunto com as peacutessimas

decisotildees poliacuteticas e uma falta de zelo que se aparentava ser da M onarquia quanto ao Brasi l

transformava a necessidade de reforma ainda maior com mais pessoas querendo direitos e

igualdade a Repuacuteblica vinha com uma nova ideia do que seria o povo brasi leiro46

Com uma maior aceitaccedilatildeo do grande puacuteblico a cada criacutetica que a monarquia recebia por

essas diversas publicaccedilotildees se criava uma nova ideologia e um novo ideal de que o novo

governo deveria ser um novo progresso civi l izatoacuterio com apoio da grande massa da

sociedade47

ldquoEstamparam-se agrave exaustatildeo as ideias e imagens do progresso

pretendidas pela nova ordem A o lado da poliacutetica a urbanizaccedilatildeo foi

um de seus grandes temas veiculado pela festejada modernizaccedilatildeo do

aparelhamento jornaliacutestico com novas oportunidades tecnoloacutegicas

para a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do texto e da imagemrdquo 48

O modernismo junto com a Repuacuteblica era o futuro e a salvaccedilatildeo do Brasi l a vontade de se

criar uma proacutepria cultura brasi leira fazia com que a portuguesa comeccedilasse a ser um pouco

desvalorizada e a l i teratura aparecia com este objetivo Criar algo essencialmente brasi leiro

A necessidade da cultura proacutepria era o primeiro passo para se ter uma cultura brasi leir a a

nova l i teratura era distante da portuguesa e com novos personagens e caracteriacutesticas como

demonstrado no grande claacutessico da l i teratura brasi leira O Triste fim de Policarpo Quaresma

de Lima Barreto

33 A CONQUISTA E A VISAtildeO DA REPUacuteBLICA

A importacircncia do popular como dito era de extrema importacircncia para a aceitaccedilatildeo da

repuacuteblica e os mil i tares tinham a simpatia da populaccedilatildeo em questotildees gerais

ldquoO fato eacute que os republicanos perceberam desde logo a boa

oportunidade de aproveitar a irri taccedilatildeo dos mil i tares com o governo ndash 46 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 47 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 48 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 p 79

28

tanto por ser um grupo de condiccedilotildees de derrubar o regime quanto

pelo prestiacutegio que gozavamrdquo 49

O desgosto jaacute estava presente a tempos desde a Guerra do Paraguai onde se demonstrou

uma fragi l idade do exercito e acima disto um sentimento de identidade conf l i tante devido a

homens escravos lutarem ao lado de homens l ivres e a situaccedilatildeo poliacutetica de outros paiacuteses os

fazendo sentir como um grupo social e tambeacutem o gasto excessivo que trouxe severas

consequecircncias nos anos de 1870 e 1880

Nestas consequecircncias e situaccedilotildees os mil i tares acabaram assimilando a ideia de atraso a

toda Monarquia e a quem dela ldquosugavardquo como bachareacuteis Os militares buscavam uma forma

de valorizar seu trabalho e trazer dignidade e respeito ao of icio querendo assim um lugar de

respeito uma vez que lutavam pelo paiacutes e suas conquistas

A A cademia M il i tar era uma boa forma de se ter ascensatildeo intelectual e social e por conta

disto uma grande quantidade de jovens de variada origem famil iar acabava ingressando na

academia aleacutem de que os proacuteprios mil i tares colocavam seus f i lhos nestas Nestas mesmas

academias se discutia cientiacutessimo e suas atrelaccedilotildees matemaacutetica ciecircncias f iacutesica

Sendo assim eacute de se imaginar que o imaginaacuterio deles de certa forma fosse de encontro

com estes homens de letra que se viam tambeacutem como soldados-cidadatildeos mas com uma outra

perspectiva de combate A f i losof ia que se era discutida nas academias mil i tares estava de fato

l igada ao positivismo e todo seu aspecto cienti f ico e metodoloacutegico considerando assim ainda

mais a necessidade de se ocupar um lugar de proeminecircncia

Dentro da A cademia M i l i tar se passava o mesmo sentimento dos que lutaram na Guerra

do Paraguai A maioria dos que al i se formaram acabavam por entatildeo ter uma l igaccedilatildeo com

engajamento em lutas pol i ticas e tambeacutem com uma relaccedilatildeo de pertencimento a uma classe

totalmente desvalorizada sendo ela a primeiro momento a mil i tar e posteriormente a de

intelectual

Deste modo eacute crescente o nuacutemero de pessoas que veem uma sociedade onde natildeo se eacute

possiacutevel crescer nem se desenvolver com uma falta de pertencimento a classe e uma ref lexatildeo

sobre a cultura que a democracia traacutes atrelada ao pensamento cienti f ico eacute tudo o que o Brasi l

precisa para mudar esta situaccedilatildeo tanto para os jovens que estatildeo saindo da A cademia M il i tar

quanto os homens de letra e os mil i tares jaacute em exerciacutecio

49 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013

29

Os homens de letra e esta ldquomocidade militarrdquo investiram sua energia na proclamaccedilatildeo da

Repuacuteblica e eles se viam

ldquoespecialmente iluminada para levar o paiacutes ao estaacutegio superior da

civi l izaccedilatildeo no qual estava inclusa a instalaccedilatildeo desse novo regime

poliacutetico M ais patriota mais consciente da cidadania mais preparada

que a el i te civi l tinha no entanto em desvantagem a essa uma

profissatildeo desprestigiadardquo50

O que seria modif icado com os perioacutedicos e com o novo imaginaacuterio que estavam formando

ldquoArsquo hora de entrar a nossa folha no preacutelo os actos do gabinete 7 de

junho e a indiferenccedila da corocirca a tantos abusos deram os seus legiacutetimos

fructos foi proclamada a Republica Federal Brazi leira uacutenico regimen

que convem aacute nossa patria e que havia ded ser um facto mais hoje

mais amanhatilde

O gabinete demissionaacuterio precipitou poreacutem os acontecimentos e

hoje em plena paz no meio regozijo popular sauda-se de todos os

lados o novo e fecundo regimen da democracia do direito e do futuro

da America

()

Realisaram-se nossos vaticiacutenios e sentimo-nos fel izes porque

isso tenha acontecido em meio do regozijo e da confraternizaccedilatildeo mais

admiraacutevel que se tem visto entre Povo Exercito e a A rmada Nacional

Honra ao civismo dos Brazileirosrdquo 51

Ao longo do tempo a Repuacuteblica natildeo se deu conforme foi imaginada e ideal izada pelos

homens de letra sendo dado a primeiro momento como provisoacuterio pelos mil i tares e ateacute

50 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA EM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In Martins Ana Luiza Luca Tania Regina de Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2ordf ed 2013 51 Hemeroteca Digital Revista Illustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=3823ampgt

30

mesmo pelos jornais e revistas52 embora tenha partido do mesmo imaginaacuterio que a dos

mil i tares A Repuacuteblica Francesa

Declarada em 15 de novembro de 1889 e sendo considerada um golpe poliacutetico-mil i tar

muitos ainda tinham a perspectiva positiva sobre a sua declaraccedilatildeo principalmente porque

partiam da mesma base ideoloacutegica A Franccedila que conseguiu sua dita l iberdade pelas matildeos de

Danton como na escrita da Gazeta de Notiacutecias

ldquoPROCLAMACcedilAtildeO

O governo provisoacuterio publica a seguinte proclamaccedilatildeo

ldquoConcidadatildeos ndash O povo o exercito e a armada nacional em

perfeita communnhatildeo de sentimentos com os nossos concidadatildeos

residentes nas proviacutencias acabam de decretar a a deposiccedilatildeo da

dysnastia imperial e consequentemente a extinccedilatildeo do systema

monarchico ndash representativo

Como resultado imediato drsquoesta revoluccedilatildeo nacional de caracter

essencialmente patrioacutetico acaba de ser inssti tuido um governo

provisoacuterio cuja principal missatildeo eacute garantir com a ordem publica a

l iberdade e os direitos dos cidadatildeos

()

Concidadatildeos - O governo privsoacuterio simples agente temporaacuterio da

soberania nacional eacute o governo da paz da l iberdade da fraternidade e

da ordemrdquo 53

Revoluccedilatildeo Francesa que tinha caracteriacutesticas especif icas e que o intelectual desejava e que

era o seu lema ldquoLiberdade Igualdade e Fraternidaderdquo E o mais importante eram os discursos

que os homens de letra repetiam A L iberdade para se escrever sobre o que quiser a l iberdade

para o que quiser

52 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 15 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=9ampgt 53 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

31

Figura 3 Imagens do M arechal Deodoro da Fonseca

Imagem 3 e 4 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02amp PagFis=16528amp gt

Hemeroteca Digital Revista I l lustrada 16 de novembro de 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4127amp gt

A representaccedilatildeo para com o homem tambeacutem se era essencial um governo do povo para

com o povo A Repuacuteblica estava f inalmente instaurada e o que importava era o futuro que o

povo brasileiro poderia ter pela frente

A Republica foi representada de forma provisoacuteria nos jornais e revistas que falaram

sobre o assunto no dia seguinte 16 de novembro de 1889 passando mateacuterias e fotografias ou

charges sobre quem estava no comando

Nas chamadas de 16 de novembro na primeira paacutegina da Gazeta de Noticias se tem as

seguintes informaccedilotildees

ldquoMinisterio do Governo Provisorio

Chefe do governo ndash M arechal Deodoro da Fonseca

M inistro do Interior ndash Dr A ristides Lobo

M inistro da agricultura Dr Demetrio Ribeiro e interinamente o

Sr Quintino Bocayuva

M inistro da justiccedila Dr Campos Salles interinamente Dr Ruy

Barbosa

M inistro da guerra Dr Benjamin Constant

M inistro dos estrangeiros Sr Quintino Bocayuva

M inistro da Fazenda Dr Ruy Barbosa

32

M inistro da marinha chefe de divisatildeo Eduardo Wandenkolkrdquo 54

Os primeiros anos cercados de boas perspectivas e comemoraccedilotildees ainda sob a perspectiva

de ser algo temporaacuterio aquele governo al i instaurado quase todos os volumes da Revista

I l lustrada e da Gazeta de Notiacutecias se tem alguma mateacuteria ou crocircnica com os dizeres ldquoA

republica que se prepara para a conquista de todas as glorias Salve a Liberdaderdquo ou entatildeo

ldquoVivam os Estados Unidos do Brazilrdquo

Com um novo tipo de Governo o Brasi l precisava de novas leis que combinassem e

entrassem em conjunto com esta nova perspectiva positivista da Repuacuteblica sendo assim em

no inicio de 1890 comeccedilava a discussatildeo da Consti tuiccedilatildeo

A s discussotildees que ocorriam estavam constantemente em todas as paacuteginas dos jornais e

revistas da eacutepoca reclamando de alguns que participavam do congresso e de outros que eram

expulsos ou coisas do gecircnero a Gazeta de Noticias chega mesmo a af irmar que naquele

momento a Republica que tanto se pensava que trazia l iberdade para o povo estava sendo

mais repressora que todo o Impeacuterio quando alguns mil i tares chegam a entrar no congresso

A Revista I l lustrada tambeacutem comenta o desgosto que o governo republicano anda sendo

com uma falta de capacidade administrativa e de orientaccedilatildeo poliacutetica sendo um ldquomorde e

assoprardquo constante Ao mesmo tempo que estatildeo fel izes pela separaccedilatildeo of icial da Igreja e do

Estado estatildeo irri tados com decretos como o de continecircncias mil i tares

Em 1891 ainda se acreditava que o governo era provisoacuterio com as discussotildees sobre a

nova consti tuiccedilatildeo e o que o congresso nacional e seus congressistas fariam ou natildeo sempre

que satildeo citados se vem com ldquoo governo provisoacuteriordquo e alguma relaccedilatildeo sobre a constituiccedilatildeo que

estava sendo discutida em jornais e revistas desde 1890

M as a declaraccedilatildeo da Consti tuiccedilatildeo no f inal de fevereiro de 1891 trouxe de volta todo o

animo que a proclamaccedilatildeo causou em seu volume de marccedilo de 1891 da Revista I l lustrada

mostra

54 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 16 de novembro 1889 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_02ampPagFis=16528ampgt

33

Figura 4 Chamada da Revista I l lustrada sobre a Constituiccedilatildeo

Imagem 5 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

Seguindo do texto aqui resumido

ldquoApoacutes trecircs mezes e dez dias de aacuterduo trabalho o Congresso Nacional

dotou a Republica Brazi leira com uma Constituiccedilatildeo que eacute um modelo

de previdecircncia e de arrojo patrioacutetico

M ais adiantada e mais l ivre do que todas as consti tuiccedilotildees ateacute hoje

outhorgadas ou decretadas a nova lei fundamental de nossa patria

recomenda-se pelo seu espiri to altamente democraacutetico pela sua foacuterma

concisa e pela magnitude das concepccedilotildees que de principio a f im

garantindo pleno uso da l iberdade equil ibram os interesses geraes

com os individuaes assegurando o bri lhantismo de um futuro de paz e

de prosperidade

()

O Congresso bem mereceu da patria e a posteridade haacute de honral-o

como a uma gloria nacional

Trabalho tatildeo bem encetado aureolando-se com os fulgores immortaes

do 15 de novembro havia necessariamente de ser coroado com os

nobres actos que lhe consti tuiacuteram o deslumbrante epilogo

()

34

Hoje o paiz de posse de todos os seus direitos descanccedila aacute sombra de

leis protectoras tendo aacute sua testa dois homens que foram factores de

primeira ordem do glorioso movimento de 15 de novembro que

l ibertou a naccedilatildeo que desterrou o impeacuterio e que integrou a A merica

na sua unidade republicana

A os ardentes votos que fazemos pela fel icidade do Brazi l e pela

gloriosa dos nossos concidadatildeos mais ilustres que elevamos drsquoestas

paacuteginas onde sempre se prestou culto aacute l iberdade e aacute justiccedila um

estridente viva ao futuro da patria

Viva a Republicardquo 55

Os jornais incentivavam o sentimento de renovaccedilatildeo que com a Consti tuiccedilatildeo de 1891

voltava ao seu maacuteximo fazendo com que todas as reclamaccedilotildees fossem deixadas de lado por

algum tempo e soacute se falava do quanto o Brasi l estava avanccedilado e tinha em seu futuro coisas

boas

Com uma participaccedilatildeo mais ampla do eleitorado que antes eram homens com mais de 25

anos em conjunto com uma comprovaccedilatildeo de renda miacutenima anual agora eram homens com

mais de 21 anos e letrados

No mesmo nuacutemero citado a Revista I l lustrada dedica toda uma paacutegina para a

representaccedilatildeo positiva da Consti tuiccedilatildeo

55 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4127ampgt

35

Figura 5 O Congresso a consti tuiccedilatildeo e os Estados do Brasi l

Imagem 6 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=4472amp gt

A imagem que traz os seguintes dizeres

ldquoO Brazil gloria-se de haver discutido e promulgado uma

consti tuiccedilatildeo adiantada com o concurso dos seus f i lhos mais di lectos

terminando essa grande obra pela eleiccedilatildeo dos principaes factores do

dia 15 de novembro para as supremas magistraturas da patria l ivre

HONRA Aacute AMERICA VIVA A REPUBLICArdquo 56

A Gazeta um pouco mais adiante em seu nuacutemero de 24 de fevereiro jaacute diz que espera

ansiosa as eleiccedilotildees e que uma vez jaacute aprovada a consti tuiccedilatildeo logo se tem as eleiccedilotildees

presidenciais e que o congresso nunca teve antes uma seccedilatildeo tatildeo importante

Com a Consti tuiccedilatildeo Deodoro da Fonseca fora eleito pela A ssembleia Nacional

Constituinte logo no dia seguinte 25 de fevereiro teve um governo cheio de crises

56 Hemeroteca Digital Revista Illustrada Marccedilo de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4493gt

36

econocircmicas principalmente porque passou um decreto sobre permissatildeo de emissatildeo de

dinheiro sem qualquer exigecircncia de ouro a inf laccedilatildeo foi tamanha e isso gerou um golpe de

estado no mesmo ano

Com um golpe em 3 de novembro do mesmo ano o marechal Floriano Peixoto assumiu o

lugar de Deodoro tendo as repercussotildees muito similares na Revista I l lustrada Gazeta de

Notiacutecias

A Gazeta de Noticias publica em 24 de novembro

ldquoO marechal Floriano Peixoto actual chefe do executivo inspira ao

paiz a mais plena conf ianccedila

Natildeo disputou o poder foi naturalmente chamado a ele Em taes

circumstancias tendo muitas vezes recusado fatervir em actos que

poderiam revelar ambiccedilatildeo de predomiacutenio ou desejo de se impor aos

seus cidadatildeos natildeo temos senatildeo razotildees para supor que seraacute de ordem e

de respeito aacute lei o seu governo

Pelo 2ordm do art 1ordm das disposiccedilotildees transitoacuterias e pelo 4ordm do art 43 da

Consti tuiccedilatildeo o S Ex governaraacute ateacute 15 de novembro de 1894rdquo 57

A Revista I l lustrada publica em sua ediccedilatildeo de novembro ldquoApezar da disposiccedilatildeo do

general Deodoro ex-presidente da Republica a ordem tem sido mantida com maacuteximo

rigorrdquo58 M as ao contraacuterio da Gazeta conta com a esperanccedila de novas eleiccedilotildees ldquoAs eleiccedilotildees

geraes deveratildeo ser brevemente anunciadasrdquo59 M esmo que neste volume tenha uma

reproduccedilatildeo de todos os novos integrantes da nova republica de Floriano

A inda natildeo acreditando ao que se formava a Revista I l lustrada pede em marccedilo de 1892 as

eleiccedilotildees ldquo- Eleiccedilatildeo para um Tal deve ser o motte de todos os patriotas na quadra anamola

que atravessamosrdquo 60 Uma nova eleiccedilatildeo soacute iria acontecer em 1894 elegendo assim Prudente

de M oraes

57 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias 24 de novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=103730_03ampPagFis=2813ampgt 58 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 59 Hemeroteca Digital Revista Illustrada novembro de 1891 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt 60 Hemeroteca Digital Revista Illustrada marccedilo de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747ampPagFis=4615gt

37

A ssim esses escri tores em conjunto com a imprensa natildeo soacute discutiam e tramavam em

suas imagens a grande importacircncia da Repuacuteblica como tambeacutem uti l izavam desta nova

narrativa para a construccedilatildeo essencial do que se estava vivendo ateacute o momento

A narrativa era formada em conjunto com as grandes imagens que enal tecem a Repuacutebli ca

como a f igura 5 e a sua imagem homens de uma aparecircncia ref inada com o acompanhamento

de mulheres que representam a naccedilatildeo em todos os seus estados com seus nomes escri tos com

a imagem da proacutepria imagem da Repuacuteblica francesa a nossa proacutepria Ef igie 61 que para aleacutem

de representar a naccedilatildeo eacute por estado em estado

61 Uma imagem da Repuacuteblica eacute a personificaccedilatildeo do regime republicano e de seus Estados Representada por uma figura feminina

38

IV A MODERNIZACcedilAtildeO E O POVO

41 TEMPO NA PERCEPCcedilAtildeO DO HOMEM

O Brasi l segundo os intelectuais e a el i te precisava acompanhar o resto do mundo se

espelhando em grandes paiacuteses da Europa como a Franccedila e uti l izando do dinheiro da renda de

cafezais estava se modif icando para se l ivrar da imagem insalubre e inseguro O Brasi l

uti l izava de toda a sua modernidade e modernizaccedilatildeo para mostrar uma imagem de fartura

conforto e progresso

A cidade com a modernizaccedilatildeo aleacutem de ter uma aparecircncia e uma necessidade diferente

comeccedilou a ter um tempo de vivencia diferente O ri tmo natildeo se era o mesmo e estava longe de

ser qualquer coisa antes jaacute vivenciada por qualquer um neste novo momento do Rio de

Janeiro

Deixava-se de se ter carroccedilas e comeccedilava os automoacuteveis A s ruas antes estreitas e sujas

comeccedilavam a natildeo apenas se alargar como tambeacutem a serem asfaltadas Comeacutercios estreavam

placas para chamar atenccedilatildeo e neste cotidiano tudo se modif icava e comeccedilava a se tornar

f reneacutetico

O grande exemplar Europeu estava para aleacutem de aparecircncia f iacutesica onde se apresentava

letreiros induacutestria carros e barulhos o tempo todo tambeacutem estava nos ideais como por

exemplo a l iberdade que deveria ser adquirida em todos os acircmbitos possiacuteveis sendo os mais

discutidos o de expressatildeo e o poliacutetico

A mudanccedila de todo o ambiente alterava a forma de viver e de se pensar a vida o tempo

neste novo paiacutes principalmente no Rio de Janeiro se passava de uma forma completamente

diferente do que antes

A leacutem de toda a modernizaccedilatildeo ao meio comum a injeccedilatildeo de dinheiro e o que jaacute circulava

em perioacutedicos na eacutepoca de 188062 pessoas iam para o Rio de Janeiro com a perspectiva de

crescer ou ateacute mesmo de adquirir um lugar nesta nova cidade moderna que estava sendo

formada e por que natildeo reformulada uma vez que seus principais pontos continuavam os

mesmos

O Rio de Janeiro era o berccedilo de toda a modernizaccedilatildeo e o que ela poderia trazer em seus

mais completos sentidos planos e consequecircncias tanto para a cidade em si quanto para quem

62 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do Final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

39

vivia nela De coisas baacutesicas do cotidiano quanto a locomoccedilatildeo onde como jaacute ci tado se para

de ver animais e carroccedilas e comeccedila a se ver carros e bondes fabricas e lamparinas quanto a

mudanccedilas que apenas a percepccedilatildeo mais dedicada era capaz de perceber O Tempo

Em todas as perspectivas possiacuteveis se altera de forma brusca o cotidiano do homem

brasi leiro e seu espaccedilo de convivecircncia e vivecircncia

O freneacutetico com a modernizaccedilatildeo agora fazia parte da essecircncia e do signif icado do que era

e o que tornava o Rio de Janeiro e seus habitantes as mudanccedilas sociais econocircmicas e

poliacuteticas todas estavam se estabi l izando em um ri tmo fora do comum acelerado

ldquoCumpria acompanhar o progresso que segue raacutepido que segue e

natildeo espera por ningueacutem deixar-se de estatelado como um frade de

pedra a ver passar a mais bri lhante das procissotildees ndash ouro a rolarrdquo 63

O novo Rio de Janeiro pedia mais de seus moradores o que antes se fazia em horas dias

agora com a modernizaccedilatildeo se tinha minutos A vida moderna natildeo parava e muito menos

deixava seus moradores e vivenciados pararem sempre cobrando mais e necessitando de mais

velocidade O tempo era o seu motor e quanto mais se gastava fazendo mais coisas mais

energia a mesma gerava O freneacutetico era a sua nova essecircncia

Por consequecircncia natildeo apenas o viver se torna freneacutetico como tudo quanto ao seu

referente A proacutepria l i teratura se torna f reneacutetica ao tentar acompanhar este novo ri tmo e nova

vivecircncia um novo habitar se eacute formado para esta junto com uma nova forma uma leitura

raacutepida e distraiacuteda apressada ldquouma prosa mais perto da notiacutecia do que da invenccedilatildeordquo64

ldquoFalta-te o Tempo ndash o vago o rel igioso aroma

Que respira no ar de Luteacutecia e de Roma

Sempre moccedilo perfume anciatildeo de idades mortasrdquo 65

O Tempo se era essencial para a absorccedilatildeo da l i teratura para a produccedilatildeo para ateacute mesmo

se obter o conhecimento e saber o que se passa no seu cotidiano ldquoAprender sem estudar 63 SEVCENKO Nicolau A INSERCcedilAtildeO COMPULSOacuteRIA DO BRASIL NA BELLE EacutePOQUE In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 41 64 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 96 65 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 99

40

enriquecer sem trabalhar valer sem ter meacuterito ostentar sem conta sem peso e sem medida

eis os modernos ideaisrdquo66

ldquoO puacuteblico tem pressa A vida de hoje vertiginosa e febril natildeo admite

lei turas demoradas nem ref lexotildees profundas A onda humana galopa

numa espumada bravia sem descanso Quem natildeo se apressa com ela

seraacute arrebatado esmagado exterminado () Natildeo tem tempo a

perderrdquo67

O moderno estimula uma vida atropelada de ideias e intensa tatildeo raacutepido se vem tatildeo raacutepido

se vai di f icultando sua transmissatildeo e ateacute mesmo desejando resultados que natildeo passam por

todas as etapas necessaacuterias tornando muitas vezes o conteuacutedo vazio ou sem um sentido real

ou ateacute mesmo a falta de capacidade de absorccedilatildeo uma vez que no f inal fal ta o essencial o

tempo para a sua assimilaccedilatildeo

ldquoVede o espectador teatral Logo o uacuteltimo ato chega ao meio

ei-lo nervoso danado por sair Para quecirc Para tomar chocolate

depressa E por que depressa Para tomar o bond onde o vemos febri l

ao primeiro estorvo Por quecirc Porque tem pressa de ir dormir para

acordar cedo acabar depressa de dormir e continuar com pressa as

breves funccedilotildees da vida breverdquo 68

A falta do tempo se torna ambiacutegua sentem mais pensam mais amam mais se trabalha

mais e ao mesmo tempo se faz tudo por menos por fal ta de tempo por fal ta de assimilaccedilatildeo do

que ocorre ldquoldquoDar tempo ao tempordquo eacute uma frase feita cujo sentido a sociedade perdeu

integralmente Jaacute nada se faz com o tempo A gora faz-se tudo por fal ta de tempordquo 69

Tudo se di luiacutea neste novo tempo de viver nos movimentos das pessoas com pressa para

viver nos veiacuteculos que nunca paravam na faacutebrica que sempre produzia no homem que de

66 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p103 67 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 13 de janeiro de 1901 Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amppasta=ano20188amppesq= 68 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268 69 RIO Joatildeo do CINEMATOacuteGRAFO CROcircNICAS CARIOCAS Ed ABL (Coleccedilatildeo Afracircnio Peixoto) Rio de Janeiro 2009 p 268

41

fato natildeo existia por si soacute uma vez que ele comeccedilava a se resumir no que fazia e natildeo na sua

essecircncia

Este novo tempo de viver tambeacutem alterava a forma de se ver a arte l i teratura e seus

conjuntos o instantacircneo era quase que uma maacutegica a maacutequina de escrever era uma

faci l i tadora mesmo com o seu barulho freneacutetico O tecnicismo era completamente implacaacutevel

e irredutiacutevel70

42 A MODERNIZACcedilAtildeO NA ESCRITA E NA IMPRENSA

A atividade humana havia aumentado em todos os paracircmetros possiacuteveis neste novo Rio de

Janeiro por consequecircncia a de autores escri tores e jornal istas tambeacutem O Rio de Janeiro era

moderno e por consequecircncia o que existia no Rio de Janeiro tambeacutem era

A modernizaccedilatildeo ocupando todos os espaccedilos possiacuteveis tambeacutem atingiu a l i teratura como

um todo e a sua produccedilatildeo novos aparelhos se eram uti l izados tanto para a sua produccedilatildeo

quanto para a divulgaccedilatildeo

A imprensa no Brasi l comeccedilou tardia sendo seu primeiro jornal na verdade tendo sido

criado e publ icado em Londres Inglaterra um jornal que discutia tudo o que ocorria na

Colocircnia Portuguesa no periacuteodo de 1808 o jornal cruzava todo o oceano para chegar aqui e ser

divulgado apenas quando a corte veio para o Brasil eacute que essa realidade muda ldquoas aberturas

dos portos e a fundaccedilatildeo do Banco do Brasi l somou-se a menos propalada criaccedilatildeo da Imprensa

Reacutegia responsaacutevel a meacutedio prazo pela impressatildeo de vaacuterios perioacutedicos em terras

brasileirasrdquo71 A ssim aos poucos estes jornais vatildeo natildeo apenas ganhando a atenccedilatildeo do povo

letrado como com o tempo melhorando aperfeiccediloando e se criando novos tipos para

diferentes puacutebl icos

A imprensa que demorara para se criar e estabelecer no paiacutes buscava se acelerar e se

recuperar objetivos se eram traccedilados para natildeo apenas se manter como tambeacutem ser mais que

um meio de informaccedilatildeo formar uma cultura era essencial

ldquoEstavam em pleno curso disputa e desenvolvimento as visotildees

que mais adiante se tornariam predominantes de uma imprensa

moderna e contemporacircnea dos avanccedilos tecnoloacutegicos de sua eacutepoca

70 SUumlSSEKIND Flora A TEacuteCNICA LITERAacuteRIA In Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 71 MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013

42

capaz de incorporar diversidades de discursos e atender interesses e

demandas cada vez mais presentes e diversificados na sociedaderdquo 72

A ssim se cria todo um novo tipo de jornal ismo que eacute intensamente i lustrado e que busca

em suas crocircnicas atuar como modernizadora e tambeacutem ditar novos costumes valores haacutebitos

uma nova mental idade e graccedilas as novas tecnologias chama a atenccedilatildeo da populaccedilatildeo

mundana A s novas condiccedilotildees e osci laccedilotildees do social obrigavam a l i teratura a se reformular e a

se reapresentar 73

A modernizaccedilatildeo ocupava todo o espaccedilo de criaccedilatildeo e apresentava coisas uacutenicas ao

jornal ismo Brasi leiro e a l i teratura sua inovaccedilatildeo tecnoloacutegica mudaria toda a estrutura de

apresentaccedilatildeo de informaccedilatildeo agrave poesia

O desejo do moderno natildeo tinha l imites e ultrapassava qualquer coisa impulsiona

reformas e estimula o aparelhamento teacutecnico em todos os setores possiacuteveis V ai para o

cenaacuterio vai para os cartazes vai para a divulgaccedilatildeo para todos os ambientes possiacuteveis e

imaginaacuteveis independentemente da sua capacidade ou natildeo para o mesmo

A I lustraccedilatildeo agora tinha a possibi l idade de ser totalmente diversa e com apresentaccedilatildeo de

vaacuterios tipos de outras imagens charges caricaturas fotograf ias aleacutem de naturalmente o

aumento de ti ragens e um custo inferior ao anterior com uma qual idade superior tornando

assim de fato um meio de comunicaccedilatildeo da massa 74

ldquoUma sociedade torna-se ldquomodernardquo quando uma de suas

principais atividades passa a ser a produccedilatildeo e o consumo de imagens

quando as imagens que possuem poderes extraordinaacuterios para

determinar nossas exigecircncias a respeito da real idade e satildeo elas

mesmas substi tuiacutedas cobiccediladas da experiencia autentica tornam-se

indispensaacuteveisrdquo75

72 GOMES Nilo Seacutergio EM BUSCA DA NOTIacuteCIA MEMOacuteRIAS DO JORNAL DO BRASIL DE 1901 In RIBEIRO Ana Paula Gulart FERREIRA Lucia Maria Alves MIacuteDIA E MEMOacuteRIA A produccedilatildeo de sentidos nos meios de comunicaccedilatildeo Ed MAUAD Rio de Janeiro 1ordm Ed 2007 p 177 に 196 73 SEVCENKO Nicolau O EXERCIacuteCIO INTELECTUAL COMO ATITUDE POLIacuteTICA OS ESCRITORES-CIDADAtildeOS In Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003 p 123 74 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 83 75 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006

43

A ssim a Imagem de qualquer tipo e forma comeccedila a fazer parte do cotidiano do povo e

principalmente se torna o signif icado de moderno mais do que a maacutequina de escrever ou

qualquer outro produto advindo da modernidade

A imagem possibi l i ta natildeo apenas o homem letrado a viver o moderno como estimula o

homem comum e das margens da sociedade e ter o moderno no cotidiano para aleacutem do novo

visual da cidade A partir da imagem e pelas novas tipograf ias o jornal era uma forma

simpli f icada de ter o moderno em suas matildeos e pode-lo expor para qualquer um de qualquer

lugar

Com uma maioria analfabeta ou sem de fato o costume de praticar a leitura o exemplar

de jornal ou de revista precisava de algumas nuances ou caracteriacutesticas para chamar a atenccedilatildeo

do leitor ou mesmo para o aproximar da leitura

Com a modernizaccedilatildeo e as novas possibi l idades de tipograf ias trazia toda uma nova forma

de apresentar o leitor se apresenta natildeo apenas com novo haacutebito como tambeacutem uma forma de

se conhecer a modernidade para aleacutem das construccedilotildees e vigas de metais

ldquoO caraacuteter de leitura ligeira e amena acrescido do resumo da

i lustraccedilatildeo adequavam-na ao consumo de uma populaccedilatildeo sem tradiccedilatildeo

de leitura permitindo a assimilaccedilatildeo imediata da mensagemrdquo76

Uma populaccedilatildeo que tambeacutem era de maioria i letrada fazia homens como Olavo Bilac

questionarem para quem ele de fato escrevia quando era chamado por algum jornal chegando

a af irmar ldquoNatildeo nos faltam jornalistas faltam-nos leitoresrdquo e de certa forma banalizava o

escritor

A propaganda tambeacutem fazia o autor se questionar mesmo que como o citado os jornais e

revistas eram uma forma de viver e ter em matildeos a modernizaccedilatildeo e a sua nova aparecia

tambeacutem eram por folhetagens destes que podia se ver outra coisa que a modernizaccedilatildeo podia

proporcionar Produtos de cosmeacuteticos a faci l i tadores do cotidiano do trabalho para

literalmente qualquer setor da populaccedilatildeo meacutedia que estavam ldquoaacutevidas por novos produtos

trazidos pela industrial izaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeordquo77

76 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 63 77 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 94

44

M as a nova l inguagem que surgia e se estabelecia vinha de encontro com essa

modernidade e tambeacutem com a nova imprensa agitada e intensa entatildeo mesmos as

efemeridades se estabeleciam e entravam em um ri tmo seja este pelos impressos diaacuterios

semanais quinzenais ou mensais

Figura 6 Capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 7 e 8 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1892 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=030015_01amp PagFis=13gt

Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 6 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_02amp pasta=ano20190amp pesq=gt

O Jornal do Brasi l comeccedilava um novo tipo de modelo para chamar a atenccedilatildeo do puacuteblico e

obter um novo puacuteblico tambeacutem jaacute que o jornal tinha como um objetivo ldquoa defesa da

legalidade constitucional e dos interesses gerais do paiacutesrdquo em uma sutil defesa da monarquia e

com a sua queda era necessaacuteria uma nova adaptaccedilatildeo

A tipograf ia no Rio de Janeiro foi crescente ao longo das deacutecadas de modernizaccedilatildeo

contando com uma em 1808 ldquomeia duacutezia em 1822 vinte e cinco em 1850 trinta em 1862 um

sem-nuacutemero delas em 1889 quase que uma a cada esquina em 1908rdquo 78

78 MARTINS Ana Luiza IMPRENSA TEM TEMPOS DE IMPEacuteRIO In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 57

45

A mudanccedila de tipograf ia possibi l i ta natildeo apenas novas estruturas para jornais e revistas

como tambeacutem novas maneiras de apresentar o seu conteuacutedo e de chamar a atenccedilatildeo do leitor

logo pela capa ou quando mesmo natildeo se apresenta nada grandioso a nova forma de se separar

as seccedilotildees jaacute eacute algo que a modernizaccedilatildeo jaacute apresenta ao leitor

Figura 7 Comparaccedilatildeo de capas do jornal ldquoJornal do Brasilrdquo

Imagem 9 e 10 Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 1 de janeiro de 1920 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Jornal do Brasi l 24 de novembro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=030015_04amp pasta=ano20192amp pesq=gt

A nova teacutecnica de compor e imprimir com diversos tipos de imagem e forma natildeo soacute

possibi l i tou as novas tiragens e aumento-as como tambeacutem possibi l itou formas de mostrar e

vivenciar momentos uacutenicos pelos jornais mesmo que segundo vaacuterios autores e escritores de

forma mundana

O ldquoJornal do Brasilrdquo comeccedilava a uti l izar charges em sua primeira paacutegina para chamar a

atenccedilatildeo do leitor comum para a opiniatildeo sobre a manchete do dia uti l izando de novas formas

de publicaccedilatildeo com a modernidade tecnoloacutegica um novo puacuteblico com charges em suas

46

primeiras paacuteginas o jornal via os resultados af inal a sociedade em geral buscava uma

modernidade em seu cotidiano

A s capas passam ainda notiacutecias comuns do cotidiano mas que vem em conjunto cada

vez mais para divulgar o principal no caso da capa de 6 de Janeiro de 1908 podemos ver uma

criacutetica sobre quem sobrevive mais tempo ao poder com um escondendo a coroa e recebendo

outra e a de 24 de novembro de 1921 podemos observar que aleacutem da notiacutecia ou reclame

podemos ver a uti l izaccedilatildeo de imagens desenhadas para a divulgaccedilatildeo de um concurso de tema

especif ico Que se eram comuns no jornal mas agora uti l izando das novas teacutecnicas para

chamar a atenccedilatildeo do cidadatildeo

Podemos analisar esta mudanccedila tambeacutem em momentos ldquoespeciaisrdquo como por exemplo A

f igura 7 ldquoO A no Novordquo na capa de 1892 natildeo se tem nenhuma imagem ou algo do gecircnero que

chame a atenccedilatildeo do leitor comum ou do cidadatildeo despreocupado ao contraacuterio da capa de

1920 que para aleacutem de ter uma f igura que ocupa grande parte de sua capa tambeacutem tem os

dizeres ldquoAnno Bomrdquo com anjos e crianccedilas forccedilando uma perspectiva positiva sobre o futuro

Figura 8 Comparaccedilatildeo das capas do jornal ldquoGazeta de Notiacuteciasrdquo

47

Imagens 11 12 13 e 14 Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de janeiro de 1889

Disponiacutevel em lt httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_02amp pasta=ano20188amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1908 Disponiacutevel em lt

httpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_04amp pasta=ano20190amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 2 de Janeiro de 1920 Disponiacutevel

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt Hemeroteca Digital Gazeta de Notiacutecias Rio de Janeiro 8 de janeiro de 1921 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=103730_05amp pasta=ano20192amp pesq=gt

Esta mudanccedila tambeacutem eacute visiacutevel em outros jornais como por exemplo o Gazeta de

Notiacutecias 1875 ndash 1942 que pegou toda a mudanccedila de teacutecnica e modernizaccedilatildeo e ainda as

implementou caricaturas entrevistas tambeacutem cedeu espaccedilo a l i teratura por meios de

folhetins sendo um dos principais jornais de sua eacutepoca

ldquoO desdobramento do setor traduziu-se tambeacutem na diferenciaccedilatildeo

entre jornais e revistas ao primeiro normalmente diaacuterio e vespertino

caberia a divulgaccedilatildeo da notiacutecia o retrato instantacircneo do momento

abrangendo desde as disputas poliacuteticas ateacute o descarri lamento do trem

de subuacuterbio Agrave revista reservava-se a especif icidade de temas a

intenccedilatildeo de aprofundamento e a oferta de lazer tendo em vista os

diferentes segmentos sociais rel igiosas esportivas agriacutecolas

femininas infantis ou acadecircmicas natildeo apenas como mercadorias

48

mas ainda como veiacuteculos de divulgaccedilatildeo de valores ideias e

interessesrdquo79

M esmo que a maior parte do jornal seja escrita e natildeo faccedila apelos tatildeo signif icativos como

Revistas uma vez que eles tambeacutem tecircm objetivos e tiragens diferentes o jornal sabia dessa

necessidade de se utilizar desta modernidade para o ldquochamar a atenccedilatildeordquo sem estas pequenas

mudanccedilas podiam cair no vazio e com o tempo adquiriram algumas chamadas como

esportivas e femininas

Figura 9 Comparaccedilotildees de capas da Revista ldquoRevista Illustradardquo

Imagens 15 16 e 17 Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 1 de janeiro de 1876 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=332747amp PagFis=1gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro 8 de junho de 1889 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt Hemeroteca Digital Revista I l lustrada Rio de Janeiro junho de 1898 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amp pesq=gt

79 COHEN Ilka Stern DIVERSIFICACcedilAtildeO E SEGMENTACcedilAtildeO DOS IMPRESSOS In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Satildeo Paulo Ed Contexto p 103 に 130

49

Figura 10 Comparaccedilotildees das capas da Revista ldquoKosmosrdquo

Imagens 18 19 e 20 Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro janeiro de 1904 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro novembro de 1908 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt Hemeroteca Digital Revista K osmos Rio de Janeiro fevereiro de 1909 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=146420amp PagFis=2675gt

Figura 11 Capas da Revista ldquoCaretardquo

Imagens 21 22 e 23 Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de julho de 1909 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 10 de junho 1920 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

Hemeroteca Digital Revista Careta Rio de Janeiro 1 de julho de 1922 Disponiacutevel em

lthttpmemoriabnbrDocReaderDocReaderaspxbib=083712amp PagFis=1gt

50

Com alguns puacutebl icos preacute-def inidos natildeo apenas pela sua capa como tambeacutem pelo seu

nuacutemero inicial uma vez que se era comum enunciar para o que veio a revista se era

necessaacuterio chamar a atenccedilatildeo do seu puacutebl ico alvo e com as mudanccedilas de tipograf ia ao longo

dos anos podemos notar que de fato a qual idade delas mudaram durante seu periacuteodo de

existecircncia mas que a essecircncia da revista natildeo

Na ldquoRevista Illustradardquo por exemplo que tinha o objetivo de

ldquoO meu programma eacute dos mais simples e poacutede ser resumido nestas

poupas palavras Fal lar a verdade sempre a verdade ainda que por

isso me caacuteia algum denterdquo Quem se zangar commigo fique certo que

perde o seu latim Estatildeo previnidosrdquo 8081

Demonstrando claramente o seu caraacuteter e objetivo poliacutetico logo em suas capas podemos ver

tanto na de seu nuacutemero de estreia quanto aos outros dois que satildeo sempre imagens

relacionadas a poliacutetica e a sua saacutetira chamando assim a atenccedilatildeo do lei tor que quer saber o que

ocorre em acircmbito poliacutetico da naccedilatildeo

Notamos tambeacutem a grande mudanccedila na tipograf ia principalmente nos tiacutetulos da Revista

entre a de 1876 e a de 1898 assim como tambeacutem vemos um maior nuacutemero de detalhes nas

capas de 1898 com comparaccedilatildeo com a de 89 Se eacute possiacutevel observar a mudanccedila onde em

primeiro momento se eacute preciso escolher onde vai a prioridade de detalhes e depois a l ivre

escolha de ter ambos detalhados tiacutetulos e capas

A ldquoKosmosrdquo por outro lado traacutes algo di ferente em sua capa assim como seu objetivo

tambeacutem eacute atingir um outro tipo de puacuteblico uma vez que se considerada uma revista ldquoartiacutestica

scientifica e litterariardquo82 e que vai registrar os acontecimentos ldquosem comtudo ultrapassar os

l imites da chronicardquo83 Seu objetivo eacute claramente atingir e se propagar entre um puacutebl ico culto

Suas capas lembram em muito estrutura de roteiro em peccedila de teatro o que eacute mais do que

vaacutel ido uma vez que seu objetivo eacute passar tudo e qualquer informaccedilatildeo por meio de crocircnicas

escri tas pelos seus colaboradores assim podemos notar que sua capa eacute deveras simples

mostrando quem escreve o que no volume apresentado mas com o passar dos anos sua 80 Todas as palavras foram mantidas como no nuacutemero lanccedilado 81Hemeroteca Digital Revista Illustrada nordm1 Rio de Janeiro 1876 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=332747amppesq=gt 82Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 83Hemeroteca Digital Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt

51

simplicidade ganhou elegacircncia a elegacircncia que apenas o moderno pode proporcionar uma

vez que se tem letra sobreposta a desenhos da capa e ateacute mesmo estruturas em sua borda com

o objetivo de se comparar com revistas similares produzidas na Europa e no resto da A meacuterica

Kosmos jaacute tem um objeto a quem se espelhar e o que se considerar como objetivo A

modernizaccedilatildeo pela l i teratura e o seu incentivo84

Jaacute com a ideia de atingir um puacuteblico diferente que a Kosmos e a Revista I l lustrada a

Careta tem o objetivo de ser popular e a atingir o puacuteblico comum85 notamos que em um dos

seus primeiros volumes de 1909 ela uti l iza uma teacutecnica que jaacute podemos observar nos uacuteltimos

volumes da Kosmos tiacutetulo sobreposto a imagem aleacutem de cores vividas e chamativas com

personagens com feiccedilotildees engraccediladas

M uitas revistas tinham um conteuacutedo variado e um puacutebl ico incluindo a claacutessica i lustraccedilatildeo

que com a modernizaccedilatildeo melhorou uti l izava destas para melhorar a passagem de informaccedilatildeo

ou ateacute mesmo para se classif icar de forma superior a jornais Se considerava ateacute mesmo algo

frequente uma revista comeccedilar como um simples jornal de ti ragem de duas a trecircs paacuteginas com

baixo custo e com o tempo e popularidade alcanccedilava o formato jaacute conhecido das mesmas86

embora ocasionalmente tivesse dif iculdade de se manter em circulaccedilatildeo

Embora neste novo formato de jornalismo os l i teratos ainda tinham uma predileccedilatildeo sobre

o que escrever e o que publicar ldquomais do que registrar e conhecer este mundo eles queriam

transforma-lo e para eles seria justamente essa a missatildeo da l i teraturardquo87 claramente a maior

vontade deles era de ldquoformarrdquo um caraacuteter e um cultural quanto uma nova naccedilatildeo logo notiacutecias

de ldquoinformarrdquo eram prontamente rejeitadas e vistas como algo de fato sem tanto valor uma

vez que natildeo podiam uti l izar de sua criatividade para tal ato se l imitando ao simples registro

de informaccedilatildeo do que se acontecia no mundo e nas proacuteprias ruas 88

O dialogo agora entre imagem e l i teratura era o novo processo de impressatildeo e era para ser

def initivo pois aleacutem de atrair mais puacuteblico e um puacuteblico mais diversif icado

84 Revista Kosmos nordm 1 Rio de Janeiro 15 de Janeiro de 1904 Disponiacutevel em lthttpmemoriabnbrDocReaderdocreaderaspxbib=146420amppesq=gt 85 NOGUEIRA Clara Asperti Revista Careta (1908 - 1922) Siacutembolo da Modernizaccedilatildeo da Imprensa no Seacuteculo XX Miscelacircnea Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Assis n 8 p62-80 dez 2010 Semestral 86 MARTINS Ana Luiza NO CIRCUITO DAS REPRESENTACcedilOtildeES In Revistas em Revista Imprensa e Praacuteticas Culturais em tempos de Repuacuteblica Satildeo Paulo (1890 に 1922) Ed Universidade Federal de Satildeo Paulo Fapesp Satildeo Paulo 2008 p 72 に 73 87 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 23 88 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

52

A imagem vinha para complementar o trabalho do escri tor e fazer seu trabalho atingir

diferentes puacuteblicos quando natildeo se eram uti l izadas fotograf ias outros recursos eram chamados

como charges caricaturas i lustraccedilotildees qualquer coisa que fosse satisfazer o homem pelo seu

desejo de imagem

43 MUDANCcedilA NA CIRCULACcedilAtildeO

Importante ressaltar que no comeccedilo da Imprensa no Brasi l aleacutem das mudanccedilas que foram

adquiridas na formaccedilatildeo da mesma como a l iberdade de expressatildeo e a falta de separaccedilatildeo do

nacional e internacional a Imprensa era estabelecida de uma forma diferente Se era comum

folhetins e panf letos sempre com anuacutencios escassos e poupas paacuteginas sendo assim qualquer

um com pouco dinheiro poderia tanto comprar um quanto produzir e com um alcance

l imitado mas comparado aos mesmos que eram a favor da M onarquia

Os pontos de venda tambeacutem eram sempre os mesmos e frequentados pelo mesmo tipo de

pessoa redatores e leitores nem sempre para real izar a compra de fato mas para conv ersar

sobre as publicaccedilotildees e ao f im faci l i tava para o jornal entrar em contato com ldquoo comumrdquo da

populaccedilatildeo e de certa forma se popularizar e assim suas informaccedilotildees tambeacutem

Estes pontos de venda comeccedilaram tambeacutem para atrair o puacutebl ico a vender diversos tipos

de produto ldquoroupas lingerie louccedilas bijuterias perfumes papelaria maacutermores remeacutediosrdquo89

levar jornais e revistas a diversos ambientes aumentava natildeo soacute o puacuteblico como a nova

aparecircncia deles chamava a atenccedilatildeo

Farmaacutecias papelarias bazares estaccedilotildees ferroviaacuterias charutarias quiosques por todo o

Brasi l vendiam jornais e revistas aleacutem de possiacuteveis entregas pelos correios aleacutem de que mais

propagandas rendia mais dinheiro para a distribuiccedilatildeo e investimento na mesma assim o Brasi l

inteiro se tinha ideia do que se passa no grande e moderno Rio de Janeiro

A possibi l idade de se assinar um tipo de jornal em especif ico ou revista tambeacutem se foi

essencial para natildeo apenas a f idel izaccedilatildeo do leitor como tambeacutem para a apresentaccedilatildeo de mais

pessoas ao material produzido pelos jornal istas e escri tores

A nova vida urbana que o Rio de janeiro possibi l i tava junto com o crescimento da

populaccedilatildeo e uma expansatildeo de uma classe meacutedia inteira junto com os meios de transporte e

ambientes de social izaccedilatildeo que agora diversif icavam faci l i tou para as publicaccedilotildees de jornais

que neste momento se tornaram mais frequentes e a possibi l idade de comprar volumes uacutenicos 89 MOREL Marco OS PRIMEIROS PASSOS DA PALAVRA IMPRESSA In MARTINS Ana Luiza DE LUCA Tacircnia Regina Histoacuteria da Imprensa no Brasil Ed Contexto Satildeo Paulo 2013 p 38

53

divulgava ainda mais natildeo apenas os trabalhos mas tambeacutem as ideias destes autores embora

isso f izesse o tipo de trabalho e a forma mais exaustiva

44 O PUacuteBLICO RECEPTOR

A atividade de escrever natildeo era faacuteci l de ser praticada e nem de ser divul gada mas com a

mudanccedila do jornal ismo que acontecia aos poucos e a nova perspectiva de se levar a vida

com a mudanccedila do governo poliacutetico a sua nova estrutura faci l i tava a disseminaccedilatildeo desta nova

ideia assim atingiam de uma nova forma todo um novo puacuteblico e ldquoespalhando a massificaccedilatildeo

cultural da sociedade cariocardquo 90

O puacutebl ico era importante ser def inido e estabelecido pelas empresas porque a maioria dos

jornais e revistas tinham um uacutenico objetivo neste caso apoiar a modernizaccedilatildeo e o

espelhamento na Europa principalmente na Franccedila logo era por meio destes que se

estabelecia o que queriam que o povo conhecesse af inal havia a necessidade do popular para

que qualquer coisa ocorresse

A migraccedilatildeo deu um espaccedilo para uma cultura ampla onde a maioria das pessoas natildeo se

importavam de fato com a monarquia ou com o sistema governamental dando espaccedilo assim

para uma grande ausecircncia da mesma assim acabava associando que a monarquia em si

provava a sua proacutepria ausecircncia dentro de seu espaccedilo

Os novos migrantes natildeo se importavam tanto com a poliacutetica do paiacutes mas sabiam que a

atual natildeo eram a que necessitavam em grande parte devido ao que jornais e revistas

divulgavam e assim como a sua estrutura mudava a cotidiano do homem que al i viviam

tambeacutem

ldquoO que ocorreu em 1880 foi a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico atraveacutes de

associaccedilotildees conferecircncias imprensa l ivrarias confeitarias clubes

mobi l izaccedilotildees populares etc Com isso a rua foi ressignif icada

M eetings imagens efeitos de retoacuterica formaccedilotildees discursivas

i lustraccedilotildees e ateacute mesmo a repressatildeo pol icial foram elementos oacutetimos

para afetar os olhos os ouvidos e a emoccedilatildeo sendo por isso fatores

ef icazes na desintegraccedilatildeo do regime graccedilas agrave instauraccedilatildeo de um novo

90 PEREIRA Leonardo Affonso de Miranda O Carnaval das Letras Os literatos e as histoacuterias da folia carioca nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX Campinas 10 marccedilo de 1994 p 19

54

clima que impregnou as mentes de um simbolismo renovadordquo

(M ELLO 2007)91

O objetivo se era niacutetido Obter apoio das classes mais populares pelas publicaccedilotildees para o

crescimento do pensamento republicano pois a Republica soacute se era possiacutevel se as classes mais

populares a aceitassem de fato

A ssim se formava todo o puacuteblico que os jornais e revistas visavam algumas como as jaacute

citadas buscavam de fato atingir grupos que jaacute participavam da vida poliacutetica outros queriam

introduzir grupos a esta vida uti l izando de charges simples para uma primeira impressatildeo

outros uti l izando imagens em conjunto com poemas para faci l i tar a interpretaccedilatildeo do que al i

estava escrito devido a um grande nuacutemero de analfabetos92

45 O COMECcedilAR DO ldquoVIVERrdquo DA ESCRITA

Todo o novo mercado de impressatildeo e modernizaccedilatildeo de perioacutedicos e revistas trouxe a

oportunidade de realmente ser possiacutevel viver apenas da sua produccedilatildeo em escrita a

modernizaccedilatildeo trouxe vaacuterios novos ambientes de trabalhos e oportunidades a mais discutida

sendo a de produccedilatildeo l i teraacuteria

A visibi l idade destes autores aumentara em niacuteveis de conseguirem manter viagens para o

exterior apenas com a sua produccedilatildeo e ateacute mesmo ajudar no tratamento de algumas doenccedilas

M as como todo o conjunto de novas coisas que o modernismo trouxe e com a nova

velocidade exigida em todos os ambientes a produccedilatildeo l i teraacuteria tambeacutem se modif icou ldquoBilac e

Coelho Neto produziam mais de uma crocircnica diaacuteria Raul Pompeacuteia colaborava em jornais do

Rio Satildeo Paulo e de M inas Gerais A rthur A zevedo esse entatildeo escrevia para a imprensa e o

teatro em abundacircnciardquo93

O trabalho de produccedilatildeo era aacuterduo e intenso tatildeo freneacutetico quanto o tempo em que se vive

A s propagandas que ajudavam o jornal a de fato obter lucro faziam cada vez mais

propagandas de maquinas de escrever para natildeo apenas agi l izar o trabalho como faci l i tar a

91 MELLO Maria Tereza Chaves INTRODUCcedilAtildeO In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e Cientifica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 11 92 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 93 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA VALORIZACcedilAtildeO E AMPLIACcedilAtildeO DO ESPACcedilO PUacuteBLICO NO RIO DE JANEIRO NA DEacuteCADA DE 1880 In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007 p 75

55

tipograf ia e os barulhos das mesmas eram uacutenicos e reconheciacuteveis em qualquer tipo de

ambiente

ldquoldquoPagar a casa com artigos que maravilha heinrdquo indagava Lobato em 1909 quando

depois de uma serie de artigos recebera mil -reacuteis () ldquoAo tempo em que escrevo estas linhas

jaacute aiacute estaacute a urgecircncia suarenta do tipoacutegrafo a espiaacute-lasrdquordquo 94 comentava outro escritor em 1913 a

produccedilatildeo podia parar se de fato desejasse viver dela mas como toda a arte de produccedilatildeo a

pressa para produzir signif icava uma mudanccedila ou ateacute mesmo um distanciamento com o que se

produzia

A vida que antes era dividir apartamento com outros colegas de letras comeccedilava a se

tornar confortaacutevel e possiacutevel de viver em boemia e a certa popularidade poderia levar a

pagarem jantares ou ida a bares

A expansatildeo da imprensa possibi l i tava a vivencia real das letras e da possibi l idade de viver

por elas e se entregar totalmente ao trabalho de escrever para a sociedade que no caso era a

luta poliacutetica pelos seus ideais mesmo que estes costumes boecircmios natildeo fossem bem quistos

para a sociedade da eacutepoca o lugar que ocupavam e o que faziam era o suf iciente para uma

parcela ser respeitada e mais do que ouvida

Todos estes intelectuais uti l izaram da sua nova possibi l idade de vida e sobrevivecircncia para

a disseminaccedilatildeo de suas ideias poliacuteticas posi tivistas sociais cri ticismo material ismo

republicanismo e abolicionismo trazendo para o puacuteblico por meio de suas publicaccedilotildees mais

do que a possibi l idade de discussatildeo mas sim A instrumental izaccedilatildeo delas com um objetivo

progresso e democracia95

46 DISTANCIAMENTO DA ESCRITA COM A MODERNIZACcedilAtildeO

O f inal do seacuteculo X IX e iniacutecio do X X eacute formado pela ideologia da modernizaccedilatildeo e com

ela vinha em conjunto com uma mudanccedila de vida em todos os acircmbitos e espaccedilos possiacuteveis

cultural poliacutetico profissional famil iar e constantemente era apoiado por jornais e revistas

pois a modernizaccedilatildeo era essencial para o Brasi l

94 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 71 95 MELLO Maria Tereza Chaves NO OLHO DA RUA In A Repuacuteblica Consentida Cultura democraacutetica e cientiacutefica do final do Impeacuterio Ed FGV Rio de Janeiro 2007

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ldquo- Falemos entatildeo do jornal ismo jaacute que eacute preciso O jornal ismo foi

sempre no Brasi l poliacutetico () O jornal deixou de ser urna para ser

- Para ser

- Uma of icina Tem sido para nossa l i teratura um grande bem

relativamente Como nunca teve a audaacutecia para educar aceita um

trabalho natildeo pelo gecircnio do autor mas sempre de acordo com o agrado

do puacuteblico Agraves vezes eacute perversordquo 96

A modernizaccedilatildeo por mais que tenha trago todo um novo ideal com a discussatildeo do debate

poliacutetico e a sua mudanccedila do poliacutetico para o popular aleacutem de levar todo o Brasi l para a

comparaccedilatildeo as grandes cidades e paiacuteses da Europa trouxe a grande perda da A urea com a

automatizaccedilatildeo

A produccedilatildeo da arte natildeo chega a esta alegria mesmo que a uti l izaccedilatildeo da maacutequina de

escrever para alguns a primeiro momento carregue um certo prazer indescri tiacutevel e ateacute mesmo

uma praacutetica majestosa esta produccedilatildeo em massa em conjunto com a falta de sensibi l idade que

o periacuteodo traacutes e o distanciamento com a obra uma vez que a maior parte da populaccedilatildeo ainda

natildeo eacute letrada e absorve o conteuacutedo mais pelas imagens que o acompanham do que pelo o

escri to causa uma perca e uma falta de sentido

M esmo que a produccedilatildeo em massa da eacutepoca possibi l i te o homem viver do que ele escreve

como jaacute citado a ausecircncia do processo mais importante o traacutes importantes questionamentos

intelectuais e se as suas habi l idades eram necessaacuterias e se transformavam a escri ta

questionando assim o proacuteprio jornal ismo Joatildeo do Rio diz ldquoO jornalismo especialmente no

Brasi l eacute um fator bom ou mal para a arte literaacuteriardquo 97

Embora estes homens de letra estivessem positivos com a modernizaccedilatildeo e com tudo o que

ela representava o questionamento sobre o que era o pensamento e a importacircncia da escri ta se

era persistente em suas crocircnicas mesmo que acompanhadas de f iguras para sua melhor

exempli f icaccedilatildeo o que fazia persistir o sentimento de perda quanto ao que se foi produzido

O autor se transformava em prisioneiro de seu proacuteprio trabalho principalmente quando se

tornou possiacutevel viver dele se antes ele via prazer em escrever uma crocircnica por seccedilatildeo ou

apenas uma folha agora se era necessaacuterio por sobrevivecircncia escrever constantemente para 96 SUumlSSEKIND Flora Cinematoacutegrafo de Letras Literatura Teacutecnica e Modernizaccedilatildeo no Brasil Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2006 p 76 97 ELEUTEacuteRIO Maria de Lourdes IMPRENSA A SERVICcedilO DO PROGRESSO In Histoacuteria da Imprensa no Brasil

Martins Ana Luza LUCA Tania Regina de Parte II Tempos Eufoacutericos da Imprensa Republicana Editora Contexto SP Ed 2 p97

57

manter seu lugar em determinado perioacutedico e nem sempre a escrever crocircnicas Olavo B ilac jaacute

chegou a escrever poemas sobre recomendaccedilotildees para determinados tipos de remeacutedio e se

transformar em um cativo daquilo que se produz sem de fato a vontade de se l ibertar

Estes trabalhos comeccedilavam a natildeo representar mais ningueacutem jaacute que nem o proacuteprio escritor

se reconhecia A s citaccedilotildees de Bilac demonstravam um homem completamente dinacircmico no

universo que vivia e produzia ldquoescrever por escrever eacute platonismo que como todos os

platonismos eacute inepto e ridiacuteculordquo 98

Houve movimentos contra essa modernizaccedilatildeo raacutepida e constante no meio de produccedilotildees de

jornais e revistas

L ima Barreto por conta proacutepria lanccedilou seu proacuteprio jornal que apesar de natildeo durar muito

tempo cerca de nove ediccedilotildees tinha o objetivo de natildeo apenas questionar a nova estrutura dos

perioacutedicos como tambeacutem questionar a l i teratura da eacutepoca Floral era o nome e o jornal foi

lanccedilado em setembro de 1907 e sua publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo foi de seu proacuteprio dinheiro e

sem nenhum f inanciamento em sua primeira paacutegina tem os seguintes dizeres

ldquoSei tambeacutem o quanto lhe eacute desfavoraacutevel o puacuteblico o nosso puacuteblico

saacutebio ou natildeo letrado ou ignorante Faltam-lhes noves grandes nomes

desses que enchem o ceacuteu e a terra vibram no eacuteter imponderaacutevel

infel izmente natildeo chegando a todos os cantos do Brasi l faltam-lhe

desenhos fotogravuras retumbantes paacuteginas a cores com chapadas em

vermelhordquo 99

Nota-se que comeccedila a existir uma oposiccedilatildeo entre o artesanal e o teacutecnico entre o criar e o

produzir em sua mais l imitada forma de existir e muitos autores se perderiam nisto mas

chegariam a uma uacutenica conclusatildeo demorando mais ou menos tempo para tais lamentos

M uitos fugiam para o interior ou tendiam a escrever sobre o interior para conseguir

recuperar um pouco do que se havia perdido Ou ateacute mesmo tentavam retratar este novo

homem que comeccedilava a existir e que o tempo era mera superf icial idade contornado sempre

pela ldquofaltardquo Joatildeo do Rio escreveu ldquoVida ociosardquo trabalhando a mudanccedila do homem do campo

para a cidade e como ele via esta mudanccedila L ima Barreto produziu seu proacuteprio jornal para

98 BILAC Olavo Chronica A Bruxa nordm 90 Rio de Janeiro janeiro de 1897 In DIMAS Antocircnio Bilac O Jornalista crocircnicas v2 op Cit p47 Apudぎ ldquoCHERERが Mヴデ Eく Dく さUマ Jラヴミノキゲマラ BWノノW EacuteヮラケWざく 99 Primeira ediccedilatildeo de Floral de Lima Barreto Rio de Janeiro 25 de outubro de 1907 OBS As palavras foram mudadas para o portuguecircs atual

58

mostrar o quatildeo increacutedulo estava com a aceitaccedilatildeo dos homens com esse novo cotidiano onde

nada se permitia sentir Olavo Bi lac traacutes criacuteticas sobre o lugar deste novo jornal e a quem

atinge e deixa de atingir com estes grandes nuacutemeros e poucos leitores

M onteiro Lobato eacute um entusiasta de toda essa modernizaccedilatildeo se propocircs a f icar na

primeira parte do que toda a modernizaccedilatildeo permite a estes homens de letra a possibi l idade de

criar um novo movimento poliacutetico e trazer o avanccedilo poliacutetico ao Brasi l

ldquoO poeta [] eacute o ref letor de todas as pulsaccedilotildees da vida universal a

condensaccedilatildeo de todas as grandezas reais ou imaginaacuterias a harmonia

arrancada da orquestraccedilatildeo esparsa de todas as vozes do mundo a

intuiccedilatildeo de todas as forccedilas secretas que nos dirigem Eacute ele quem nos

aponta sobre a evocaccedilatildeo de tudo que jaacute de grande e belo no passado e

as tempestades do futurordquo 100

A maacutequina de escrever como jaacute citado se torna o principal sinal de modernismo para

escri tores sempre vistas em propagandas em jornais e revistas se torna com o tempo um dos

principais sinais que a produccedilatildeo se torna cada vez mais freneacutetica sendo um objeto de faacuteci l

aquisiccedilatildeo ela se torna a ldquoimagem de um paradigmardquo o misto de atraccedilatildeo e temor a

industrial izaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural e a tecnizaccedilatildeo da criaccedilatildeo

Enquanto Lima Barreto escrevia ldquoEsta minha letrardquo e outros reclamavam que agora a

paixatildeo raiva ironia se perdia pois tudo era igual ou ateacute mesmo a ideia incabiacutevel de se

escrever duas vezes a mesma coisa segundo L ima Barreto pois se escrever direto a maacutequina

podia acarretar a ldquoperder o contato com a ideiardquo jaacute M onteiro Lobato tinha uma outra

perspectiva passaria todas suas cartas a l impo e agora tudo o que lhe fosse produzido seria

direto a maacutequina o grande sinal da modernizaccedilatildeo em seu cotidiano

100 SEVCENKO Nicolau Literatura como Missatildeo Tensotildees Sociais e Criaccedilatildeo Cultural na Primeira Repuacuteblica Ed Companhia das Letras Satildeo Paulo 2ordm Ed 2003

59

V CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A s mudanccedilas tecnoloacutegicas que ocorreram durante os anos de 1880 ndash 1920 contribuiacuteram

para mudar todo um pensar sobre o Brasi l e o que ele deveria ou natildeo ser Os homens letrados

uti l izaram de toda a sua inf luecircncia diante a modernizaccedilatildeo da miacutedia para passar ao homem

i letrado o que o paiacutes poderia ser no futuro deixando para traacutes um Brasi l colocircnia

A essecircncia do paiacutes estava se modif icando e o homem i letrado queria natildeo apenas conhecer

mas tambeacutem viver este moderno que estava se formando diante do mesmo um grande ecircxodo

rural ocorria e as capitais se viam transbordadas de pessoas

Folhetins jornais e revistas contribuiacuteram de forma assiacutedua para que homens e mulheres no

Brasi l natildeo apenas vivessem o que o mundo inteiro poderia oferecer como tambeacutem por meio

do que os homens de letra escreviam que desejassem ser como

O homem comum era a peccedila essencial para toda e qualquer mudanccedila que para o

intelectual pudesse ocorrer sua aceitaccedilatildeo era o primeiro passo para a grande mudanccedila poliacuteti ca

que se era desejada af inal com esta mudanccedila poliacutetica eacute que de fato a l iberdade poderia

chegar a todos

Uti l izando da nova tecnologia para inf luenciar o homem i letrado a natildeo apenas entrar no

mundo poliacutetico mas tambeacutem para estabelecer o pensar sobre as perspectivas positivistas

quanto ao futuro conseguindo assim a sua aceitaccedilatildeo para o novo e seguir a narraccedilatildeo do uacutenico

movimento poliacutetico possiacutevel A Democracia

A Belle Eacutepoque eacute exatamente este movimento do intelectual de letras uti l izando de toda a

tecnologia possiacutevel que absorvia a cidade e o seu meio de produccedilatildeo para trazer ao homem

i letrado a vontade de aleacutem de conhecer o mundo moderno fazer parte e se tornar conhecedor

de si mesmo

A diversif icaccedilatildeo de seus movimentos l i teraacuterios que diferenciam entre si mas que conteacutem

a mesma essecircncia o positivismo e o darwinismo em conjunto com as produccedilotildees de cada um

desses intelectuais e as novas tipograf ias que apareciam na imprensa mostra o quatildeo amplo ela

eacute ao mesmo tempo que se eacute possiacutevel anal isar a criacutetica pelo moderno em si soacute

Construir o ideal de moderno ao seu iniacutecio ser a coisa mais val iosa para a populaccedilatildeo

brasi leira e sua ldquohiperrdquo valorizaccedilatildeo eacute o que a primeiro momento em conjunto com a

fotograf ia e ateacute mesmo ao cinema faz o povo natildeo se questionar e acreditar que de fato era

aquilo que se precisava para uma condiccedilatildeo de vida melhor O moderno era a signif icaccedilatildeo de

que o paiacutes estava crescendo e tendo fartura

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A s circulaccedilotildees dos jornais e a sua nova estrutura graccedilas as diversas tipograf ias faci l i tava

para o homem de letra natildeo apenas fazer criacuteticas ao governo como tambeacutem para mostrar uma

representaccedilatildeo sobre o que ocorria no paiacutes em diversas instancias e em lugares

O movimento l i teraacuterio ajuda a compreender um pouco da ordem e do sentimento que

envolveu esses homens de letras aleacutem de que o acompanhamento da cidade em conjunto com

o desenvolvimento das fotograf ias que supre a primeiro momento os seus objetivos e a

segundo causa a agonia do distanciamento do que se produz fazendo com que o intelectual do

meio da escri ta se questione se satildeo de fato satildeo homens ou se satildeo maacutequinas de pensar escrever

e falar

A distacircncia do se produz faz com que esses escri tores se tornem com o tempo vazios de

suas produccedilotildees e os fazem questionar a quem e como estatildeo produzindo uti l izando de criacutetica a

mesma imagem que antes faci l i tava a alcanccedilarem a maior parte da populaccedilatildeo i letrada ter a

aceitaccedilatildeo do seu entatildeo ideal poliacutetico

O modernismo entrando em conjunto com esta nova perspectiva poliacutetica e sendo

difundido pelos intelectuais acaba fazendo o cidadatildeo comum assimilar ele a coisas positivas

af inal a mudanccedila na visual izaccedilatildeo da cidade era algo que soacute se era imaginado na Europa e o

novo jornal a nova revista era uma forma de se ter ele viacutevido natildeo apenas nas novas fachadas

de lojas ou nos asfaltos das ruas mas tambeacutem de carrega-lo em qualquer lugar do paiacutes

Chegando ateacute mesmo a uti l izarem este homem marginal izado para a produccedilatildeo de suas

obras l i teraacuterias ou ateacute mesmo para os conscientizar de que a Repuacuteblica era o ambiente que

eles poderiam natildeo apenas serem ouvidos pelas eleiccedilotildees como tambeacutem participarem de forma

efetiva

O lugar onde eles ocupam o que eles vivem ou suas percepccedilotildees sobre o Brasi l eram

discutidos e anal isados por esses intelectuais que tinham o cuidado de olhar o ambiente ao seu

redor e a percepccedilatildeo de sua vivecircncia para saber o que eles precisavam em suas obras eles

deixavam de ser um simples personagem e comeccedilavam a se tornar um tipo de estudo Eram o

que a populaccedilatildeo brasi leira representava

Os l i teratos uti l izaram muito bem desta perspectiva positivista e darwinista para fazer com

que o homem i letrado acreditasse que a Repuacuteblica natildeo soacute iria comeccedilar a visual iza-los como

uma parte essencial da populaccedilatildeo deixando assim de ser marginal izado como tambeacutem iria

dar a oportunidade de adquirir um espaccedilo possibi l i tando ascensatildeo social

O ri tmo da nova cidade do Rio de Janeiro acompanhava o tipo de l i teratura que se era

produzida que acompanhava o movimento poliacutetico que por f im estava entrelaccedilado ao que o

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homem i letrado fazia ou deixava de fazer neste novo mundo que estava diante de si e natildeo era

nada do que havia sido prometido eles estavam sendo expulsos para as margens da cidade

em uma poliacutetica higienistas e sendo ignorados pelo governo

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