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1 Incentivo à Pesquisa Edital nº 002 - 2010 Instituto Arte na Escola Relatório Final Polo: Uberlândia - UFU Nome do projeto: Afinal , o que os Alunos aprendem em Arte? Nome do Responsável: Eliane de Fátima Vieira Tinoco Data de Início da Pesquisa: Outubro 2010 Data do relatório: dezembro 2011 AFINAL, O QUE OS ALUNOS APRENDEM EM ARTE? Eliane de Fátima Vieira Tinoco Léa Carneiro de Zumpano França Marileusa de Oliveira Reducino Resumo: O presente texto apresenta os resultados da pesquisa “Aprendizagem em Artes Visuais: uma pesquisa na Rede Pública Municipal de Uberlândia” desenvolvida pelo Polo UFU da Rede Arte na Escola entre os meses de outubro de 2010 e setembro de 2011 na cidade de Uberlândia-MG. Financiada pelo Instituto Arte na Escola, a pesquisa objetivou conhecer o que os alunos dos 5º anos das escolas municipais de Uberlândia demonstram saber sobre Artes Visuais, uma vez que nessa rede de ensino os alunos têm aulas com professores com formação nessa linguagem desde o primeiro ano do Ensino Fundamental. Conhecer os saberes acumulados nessa área pelos alunos tornou-se primordial por questões pedagógicas e por questões políticas. PALAVRAS-CHAVE: Artes Visuais. Aprendizagem. Ensino.

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Incentivo à Pesquisa Edital nº 002 - 2010

Instituto Arte na Escola

Relatório Final

Polo: Uberlândia - UFU

Nome do projeto: Afinal , o que os Alunos aprendem em Arte?

Nome do Responsável: Eliane de Fátima Vieira Tinoco

Data de Início da Pesquisa: Outubro 2010

Data do relatório: dezembro 2011

AFINAL, O QUE OS ALUNOS APRENDEM EM ARTE?

Eliane de Fátima Vieira Tinoco Léa Carneiro de Zumpano França

Marileusa de Oliveira Reducino

Resumo: O presente texto apresenta os resultados da pesquisa “Aprendizagem em Artes Visuais: uma pesquisa na Rede Pública Municipal de Uberlândia” desenvolvida pelo Polo UFU da Rede Arte na Escola entre os meses de outubro de 2010 e setembro de 2011 na cidade de Uberlândia-MG. Financiada pelo Instituto Arte na Escola, a pesquisa objetivou conhecer o que os alunos dos 5º anos das escolas municipais de Uberlândia demonstram saber sobre Artes Visuais, uma vez que nessa rede de ensino os alunos têm aulas com professores com formação nessa linguagem desde o primeiro ano do Ensino Fundamental. Conhecer os saberes acumulados nessa área pelos alunos tornou-se primordial por questões pedagógicas e por questões políticas. PALAVRAS-CHAVE: Artes Visuais. Aprendizagem. Ensino.

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1. Introdução: O(s) espaço(s), o(s) saber(es), o(s) fazer(es) e as

pessoas

Em numerosas situações somos surpreendidos por um questionamento: o que os

alunos aprendem em Arte? Tal pergunta esconde, ou às vezes vem acompanhada de

outra: qual a importância de se ter Arte no currículo? As respostas a essa segunda

questão estão em vários livros e sempre nos valemos de uma ou outra para justificarmos

nossa presença na escola. No entanto, as respostas à primeira pergunta são menos

visíveis e aparecem nos livros, na maioria das vezes, inseridas em textos sobre a prática

dos professores.

Os saberes e práticas dos professores de Artes Visuais da Rede Municipal de

Ensino, ou seja, conteúdos, metodologias, procedimentos, foram analisados em várias

pesquisas em nível de mestrado1. No entanto, as aprendizagens dos alunos ainda eram

uma incógnita. Afinal, o que esses alunos, com professores habilitados em Arte que

investem em formação continuada, aprendem? O que demonstram saber do universo de

conteúdos em Artes Visuais que lhes é apresentado?

Foram essas questões que deram origem à pesquisa “Aprendizagem em Artes

Visuais: uma pesquisa na Rede Pública Municipal de Uberlândia” desenvolvida pela

equipe do Polo UFU da Rede Arte na Escola, entre os meses de outubro de 2010 e

setembro de 2011 na cidade de Uberlândia MG, com verba do Instituto Arte na Escola.

No decorrer do texto as identidades dos sujeitos da pesquisa (alunos, escolas e

professores) não serão reveladas. Eles serão considerados como representativos do

grupo ao qual pertencem, sem que sejam identificados. Por esse motivo, os nomes das

escolas foram trocados por nomes de cores e as crianças foram denominadas por letras

do alfabeto.

Os parceiros teóricos e nossas conversas

Na construção e análise dos dados coletados trabalhamos com os conceitos de

aprendizagem, fazer artístico, concepção de desenho e compreensão de metodologias

1 BRAGA (2005), FRANÇA (2006), SOUSA (2006), SILVEIRA (2007), TINOCO (2010).

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para leitura de imagem. Apresentamos, então, os teóricos e os conceitos com os quais

dialogamos durante a execução da pesquisa.

Os processos de aprendizagem humana vêm sendo objeto de estudos há muitos

anos e têm em Vigotsky um dos grandes pesquisadores. Procurando responder a

questões sobre o modo como as pessoas aprendem, ele enfatizou em suas pesquisas as

influências culturais que estão presentes nos processos de aprendizagem. Seus estudos

tinham como fundamento o materialismo histórico-dialético em que o conhecimento

parte da relação do homem com o objeto. Para ele a aprendizagem possui um

significado decisivo para o desenvolvimento dos alunos e só pode ocorrer ao se

constituir como atividade condutora. A atividade condutora é aquela que conduz ao

desenvolvimento e permite novas formações no conhecimento.

Segundo Simons:

A educação constitui um processo social complexo e histórico concreto no que tem lugar a transmissão e apropriação da herança cultural acumulada pelo ser humano. Nesse contexto, a aprendizagem representa o mecanismo através do qual o sujeito se apropria dos conteúdos e das formas da cultura que são transmitidas na interação com outras pessoas. O papel da educação tem que ser o de criar desenvolvimento, a partir da aquisição de aprendizagens específicas por parte dos educandos. Mas a educação se converte em promotora do desenvolvimento somente quando é capaz de conduzir as pessoas além dos níveis atingidos num momento determinado de sua vida e propiciar a realização de aprendizagens que superem as metas já conseguidas. (SIMONS, 2001, p. 01).

Desse modo, as responsabilidades dos sistemas de educação com aquilo que os

educandos aprendem e da forma como aprendem são imensas e continuam sendo alvo

de pesquisas. É aí que aparecem outras questões: Em que medida estamos contribuindo

para o desenvolvimento de nossos alunos? As aprendizagens em Arte colaboram e/ou

propiciam desenvolvimento?

É necessário compreender que existe uma interdependência entre fatores

internos e externos ao educando, ao professor e ao sistema educacional, para que as

aprendizagens sejam efetivas e contribuam para a formação de indivíduos com

capacidade de investigar, questionar, observar, analisar, teorizar, tirar conclusões e traçar ações, no intuito de desenvolver o pensamento investigador, crítico, criativo e transformador tão necessários para o processo de mudanças sociais, visando a construção de um novo mundo, mais crítico e mais humano. (UBERLÂNDIA, 2003, p.29).

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A arte é uma linguagem da qual o homem sempre fez uso; é dinâmica, mutável e

propicia transformações na sociedade, bem como registra, denuncia e questiona valores.

Nesse movimento ininterrupto revela caminhos, inovações e inquietações vividas por

nós. A escola enquanto instituição social participa, produz e reflete esse contexto.

Assim, a presença da Arte no espaço escolar possibilita ao aluno espaço de

discussão, expressão e construção em uma ampla dimensão na formação humana.

Para a efetivação das capacidades criadoras destacamos o fazer artístico do aluno

na dimensão da expressão e da construção do conhecimento em arte por meio de

vivências e experimentações diversas: matéricas, visuais e técnicas.

No universo do fazer artístico o desenho é referência para várias outras

linguagens. O traço, a linha, o gesto, muitas vezes, são o início do processo de criação,

na perspectiva de desejo, projeto, materialização de uma ideia, construção; um desenho

que requer investimento, pensamento, que pode se concretizar por meio de diferentes

materiais e suportes, que é registro e representação.

O desenho é linguagem artística, forma de expressão, conhecimento. Desenhar

objetos, pessoas, situações e animais, coloca o sujeito em postura de observá-los e

percebê-los para ser capaz de representá-los e, portanto, possibilita conhecer e

apropriar-se do que se está desenhando, sendo que nessas ações interagem o sentir –

perceber – pensar.

Em um dos momentos da pesquisa abordamos o desenho com temática livre, no

entanto em outra perspectiva, visto que no espaço escolar e no cotidiano do aluno é

comum a proposta de desenvolver ou elaborar um desenho com temática livre. Essa

proposta em sala de aula, que já foi confundida com um laissez faire, pode ser utilizada

com diferentes objetivos, lembrando sempre o desafio que se torna uma folha em branco

para a construção de desenhos. Nessa pesquisa tal proposta foi abordada como desenho

de criação, entendendo que “[...] a criatividade se faz ver através de uma manifestação

singular de um sujeito competente em seu discurso autoral e contextualizado num

tempo e num espaço”. (FRANGE, 2001, p. 229). Esse desenho pode ser motivado pelo

professor, com o intuito de trazer as lembranças à mente do aluno favorecendo um fazer

peculiar impregnado de suas vivências e conhecimentos, mas dependerá das

experiências e do repertório da criança a sua produção plástica visual: a singularidade

de cada um estará ali impressa.

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A linguagem do desenho por sua característica de sintetizar formas resultantes

de gestos rápidos e simples também sustenta a forma elaborada e a cor. Segundo o

crítico de arte Frederico Morais, “o desenho permite viajar entre mitos e arquétipos,

percorrer paraísos antes intocados pelo homem, serve para reencontrar a infância e tudo

o que ela significa [...] permite todas as virtualidades – puras e impuras” (MORAIS,

1995. N.1) e, acompanhando esse pensar, dizemos que, o desenho permite a viagem do

aluno em seu próprio tempo, e que na leitura dos seus traços e gestos percebemos a

criação de lugares imaginados, lúdicos e emocionais.

Nos diálogos com os autores que respaldaram nosso pensar dizemos da

instrumentalização do aluno para a compreensão e verbalização da produção plástica e

visual da História da Arte, nesta pesquisa particularmente, a contemporânea e a dos

discentes. Vale ressaltar que uma grande parte dos professores trabalha com a leitura de

imagens, proposta no Brasil por Ana Mae Barbosa, ainda na década de 1980.

No entanto, nossas ações partiram da compreensão de que as leituras das

imagens necessitam extrapolar o universo formal e considerar que o espectador, no

nosso caso o aluno, segundo Hernandez (2000, p.15), ao ler uma imagem, retira de sua

intimidade experiências vividas que exterioriza oralmente, contribuindo com sua

interpretação na organização de sentido da imagem lida.

A leitura de imagem é favorecedora do conhecimento do mundo em que

vivemos à medida que instrumentaliza o aluno para conhecer e entender as imagens

com as quais convive no dia-a-dia. Sejam imagens da televisão, do computador, da

produção em massa, da produção artesanal ou da comunidade em que vive, o que se

procura é que o aluno seja ativo no processo de compreender as imagens que o cercam.

O aluno deverá ser incentivado em uma leitura pessoal, com base em seu contexto

cultural, sendo mediado pelo professor.

Nesse sentido, a compreensão de metodologias para leitura de imagem2 é parte

integrante das aulas de Arte em todos os níveis de ensino, sendo inserida

gradativamente desde a Educação Infantil.

Nessa linha de pensamento, as Diretrizes Curriculares Básicas do Ensino de Arte

propõem

2 Alguns autores como Feldman, Ott, Saunders e Parsons propõem metodologias especificas para a análise e leitura de obras de arte; ver mais em BARBOSA (1991); MARTINS et al. (1998); PILLAR (2002); RIZZI (2002); SOUSA (2006).

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uma leitura de imagem que envolva questionamentos, que busque a construção da capacidade crítica do aluno, pressupondo conhecimento e reflexão de valores estéticos para a leitura das diversas imagens: de obra de arte, do cotidiano, das diferentes mídias, das distintas culturas, bem como da própria produção do aluno (UBERLÂNDIA, 2010, p. 36).

Compreender como os alunos realizam as leituras de imagens foi um dos

objetivos específicos traçados para a pesquisa sobre a aprendizagem em Artes Visuais.

Nesse sentido, para a análise das leituras de imagens produzidas pelos alunos,

examinamos as teorias de Abigail Housen, Michael Parsons e Maria Helena Wagner

Rossi. Escolhemos trabalhar com a classificação feita por Abigail Housen, por trazer

informações mais próximas às que foram construídas durante a pesquisa de campo.

Housen identifica a existência de cinco estágios do desenvolvimento do processo de

leitura de imagem (desenvolvimento estético) que estão articulados ao grau de convívio

com a arte. Desse modo, pessoas nas diferentes faixas etárias podem estar no mesmo

estágio de desenvolvimento estético por terem pouca ou muita convivência com a

produção em Artes Visuais. Os cinco estágios são: Descritivo, Construtivo,

Classificativo, Interpretativo, e Re-criativo.

Na análise das leituras realizadas pelos alunos dos quintos anos das escolas da

Rede Pública Municipal de Uberlândia foram apresentadas características de mais de

um estágio pelos mesmos alunos, fato também averiguado nas pesquisas de Housen.

Após apresentarmos os conceitos que fundamentaram as análises dos dados

construídos na pesquisa de campo, passamos a relatar a metodologia e os caminhos

percorridos, para chegarmos às conclusões a respeito do que demonstram saber sobre

Artes Visuais os alunos dos 5ºs anos das escolas da Rede Pública Municipal.

2. Os caminhos da pesquisa

A pesquisa teve seu início com a contratação de dois estagiários do curso de

Artes Visuais da UFU: Júlio César da Silva3 e Arissandra Cristina de Medeiros4 que

acompanharam e desenvolveram todo o processo teórico/prático da pesquisa. Para o

desenvolvimento da pesquisa esses estagiários receberam orientações quanto à

bibliografia necessária para embasamento de suas ações teórico/práticas e também no

3 Graduando do curso de Artes Visuais – IARTE/UFU - Bacharelado 4 Graduanda do curso de Artes Visuais – IARTE/UFU - Licenciatura

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que diz respeito às formas de convívio com as crianças, com a direção das escolas e

com o material da pesquisa.

O projeto foi apresentado aos professores de Arte em reunião no CEMEPE,

momento em que foram escolhidas as escolas municipais, organizadas de acordo com a

localização geográfica e com a disponibilidade dos professores para contribuírem com a

proposição desta pesquisa. Posteriormente foram confeccionadas as cartas de

apresentação sobre o projeto de pesquisa, a serem entregues aos diretores das escolas

selecionadas. Para isso procuramos na Secretaria Municipal de Educação o respaldo

oficial.

Optamos por trabalhar com os alunos no extra-turno tendo como orientação o

conhecimento da realidade escolar que, com muitos conteúdos a serem trabalhados, não

dispõe de um turno completo para desviar-se da ação pedagógica planejada.

Em nossa primeira visita, conversamos com os alunos explicando a pesquisa e

escolhemos entre 13 e 15 alunos que pudessem comparecer no extra-turno para a

construção dos dados. Aos alunos que se disponibilizavam em participar foram

entregues os “Termos de consentimento livre e esclarecido5” para serem assinados pelos

responsáveis e entregues à equipe proponente da pesquisa no dia combinado. Os

gestores permitiram que utilizássemos um espaço, por eles organizados, em cada uma

das escolas.

Desse modo, para a construção dos dados na pesquisa de campo, trabalhamos

durante um turno, manhã ou tarde, em acordo com a disponibilidade da escola, com os

alunos do 5º ano das escolas municipais escolhidas, nas seguintes ações:

1. Resposta ao questionário com três perguntas;

2. Criação de um desenho livre;

3. Escolha livre de uma imagem da pasta arte br (2003) e resposta às perguntas

que orientaram a leitura de imagem, em seguida leitura oral registrada por meio

de filmagens;

4. Criação de um desenho com o tema: quando estou em casa eu...;

5. Leitura dos desenhos produzidos, registrada por meio de filmagens.

Durante a realização desta pesquisa todo o material foi organizado em pastas

individuais, etiquetadas com o nome da escola e a data da execução das atividades.

5 Trata-se de um documento disponibilizado pela Comissão de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal de Uberlândia que trata de esclarecer os indivíduos ou, no caso de crianças, seus responsáveis, quanto à pesquisa que está sendo realizada e ao que será feito com os dados coletados. Assegura que as identidades dos sujeitos não serão divulgadas.

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Também foram criadas tabelas para melhor visualização, compreensão e análise dos

dados.

Após o período de pesquisa de campo demos início às análises dos questionários

respondidos, com três perguntas: 1 - Algumas pessoas dizem que arte é criação, outras

dizem que arte é emoção e outras dizem que é conhecimento. Um autor disse que a arte

é um fazer que enquanto está sendo feito, inventa o que está por fazer. E você? O que é

arte para você? 2 - Desde quando você tem aulas de arte? Há muito tempo, não é? O

que você costuma fazer nas aulas de arte? 3 - Nesses anos todos você deve ter tido

vários professores de arte. Ou talvez tenha um (a) professor (a) que te acompanhou por

todas as séries. O que você aprendeu com esses professores nas aulas de arte? Para a

análise das respostas obtidas construiu-se uma tabela onde as perguntas foram colocadas

do lado esquerdo e as palavras-chave das respostas do lado direito. Cada vez que a

palavra se repetia em outros questionários era marcada nessa tabela.

Com a tabulação dos dados dos questionários concluída realizamos a leitura dos

desenhos dos alunos. Esse trabalho foi considerado pelos estagiários como o mais

difícil, pois era preciso eleger alguns critérios de análises. Por esse motivo definimos

quais seriam os dados a serem observados nos desenhos com base nos livros de Edith

Derdik (1989, 1990), Maria Letícia Rauen Vianna (2010) e Ana Angélica Albano

Moreira (2002). Colocamos uma série de desenhos espalhados sobre a mesa e

começamos uma seleção visual, visando apontar as características comuns entre eles.

Ao fim, chegamos aos seguintes itens: esquema corporal, estereótipo, ocupação

espacial, rebatimento, representação de planos, proporção, tratamento da figura e fundo.

Também foi organizada uma tabela a partir das respostas registradas no

instrumental que orientou a leitura de imagens da pasta arte br (2003) que continha

quatro perguntas: Qual o nome do artista e da obra que você escolheu? Por que você

escolheu essa obra? O que essa imagem desperta em você? Quais os elementos

artísticos que você reconhece nessa imagem? Sabemos que não se configuram como

leitura de imagem apenas as questões que foram colocadas, mas, por conta do tempo

escasso que tínhamos, não havia condições de ampliar o número de questões.

Por último analisamos os vídeos produzidos durante as pesquisas de campo.

Essa ação soma-se às outras no sentido do registro das conversas individuais com os

alunos em um tempo sobre seus desenhos e sobre as imagens da pasta arte br (2003)

apresentadas ao grupo de alunos no início de cada atividade. Na análise desses vídeos os

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estagiários foram orientados a buscarem na fala dos alunos as palavras ou as expressões

que identificassem seu aprendizado em Arte.

3. Revelando e analisando os dados construídos

a- Quanto aos conceitos

Os conceitos trabalhados foram apresentados primordialmente nas respostas ao

primeiro questionário6. Assim, analisando as respostas dadas à questão um, que

perguntava sobre o conceito de arte, como especificado acima no texto, as crianças se

manifestaram da seguinte forma7:

Pra mim arte é pintar, desenhar, criar uma forma, uma textura, formar um desenho, uma pintura, é ter um grande conhecimento necessário e preciso sobre a arte, a arte é uma criação, a arte é fazer linhas retas, diagonais, horizontais, é criar sua própria invenção. (Aluna A, Escola Vermelha). A arte para mim é o desabafo, expressa o que estamos sentindo, a arte também é o conhecimento e criação, você descobre as artes que você tem, e descobre vários desenhos como: mula sem cabeça, saci pererê, curupira entre outros. A arte também pode ser uma leitura onde você descobre o que o pintor está sentindo, como o rosa, o rosa é a alegria, você está sentindo a alegria dentro de você, o azul é quando o autor está triste, sentindo saudade de alguém ou alguém se foi alguém importante. A arte também expressa as formas geométricas que você vê quando está pintando ou desenhando. (Aluno K, Escola Marrom). Arte para mim é um trabalho que desenvolve o nosso conhecimento, nossa emoção, nossa criatividade, nossa sabedoria e também nós podemos conhecer autores, desenhistas e também os artistas. (Aluno L, Escola Rosa).

Observa-se nas três respostas escolhidas que os alunos estão construindo um

saber pertinente em arte, pois é de grande relevância para o ensino de arte, bem como

para nós – pesquisadores – constatar que as crianças estão compreendendo que arte é

conhecimento, que para se fazer arte é preciso saber sobre arte, que ela os ajuda em seu

desenvolvimento. Nesse sentido vem ao encontro do que entendemos como a função da

arte na escola que se refere à formação do aluno e sua aprendizagem por meio da

6 Escolhemos apenas as que consideramos mais representativas, mas nosso banco de dados tem uma série de respostas que ainda precisarão ser publicizadas, devido à riqueza de informações presentes. 7 As respostas foram transcritas literalmente.

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educação do sensível, do intuitivo e do cognitivo. Ressaltamos que nenhuma criança

repetiu o enunciado ao responder à questão, e quando colocavam as ideias lá presentes,

explicavam seu contexto.

Os alunos elencam entre os fazeres a leitura de imagem que consideramos um

exercício primordial para desenvolver a capacidade de observação, de interpretação, de

análise, para se compreender o que se vê.

O aluno K da Escola Marrom cita ainda a questão das cores azul e rosa no

sentido de exprimirem tristeza e alegria. Em outras respostas dessa mesma escola

concluímos que o aluno compreendeu tais relações a partir do estudo das fases rosa e

azul de Picasso.

Destacamos ainda as respostas:

Arte para mim é parar e imaginar e depois passar tudo o que você imaginou para o papel, arte é a cultura, pensar, arte é a criação. (Aluno L, Escola Rosa). Arte pra mim é inspiração de algo, expressão, conhecimento criação, invenção obra prima, as cores misturadas, os tons das cores, a forma que desenha o formato. Arte pra mim é uma coisa criativa que a gente cria e inventa e lembra das coisas que já existe no nosso dia a dia, porque arte é desenho, arte é pintura, arte é dobradura. A arte pra mim é um conhecimento de cores, pinturas, coloridos diferentes, misturas de tintas e tudo mais. A arte para mim também é um conhecimento que te ensina do começo da vida até o fim. (Alunos da Escola Vermelha).

Como vimos acima, alguns alunos apontam para o entendimento de arte como

imaginação, criação, inspiração, expressão, projeto (colocar uma ideia no papel),

realmente arte é expressão, requer imaginação, criatividade, é a arte produzida para o

prazer estético, para o convívio com o fazer e experienciar o belo, para a fruição.

No que diz respeito ao que fazem ou aprenderam nas aulas de arte, respostas às

questões dois e três, os alunos escreveram:

Desde quando eu era criança, sim, nas aulas de arte eu sou acostumada a fazer desenho, a pintar, trabalhar com massa e papel que a professora ensinou a fazer, trabalhar com linhas diagonais, verticais, horizontais, a trabalhar também com colagem de papel crepom. (Aluno A, Escola Vermelha).

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Desde a primeira serie em 2005, sim há muito tempo, desenhar, pintar, escrever texto sobre artes, usamos pintura natural (tinta natural) colagens, recortagens, dobraduras, projetos com garrafas, leitura de imagens, entre outros. (Aluno B, Escola Marrom). Eu aprendi sobre folia de reis, simetria central, fase azul e rosa, festas, cores primarias e secundárias, cores quentes e frias, simetria, formas geométricas, dobraduras, desenho, reciclagem, etc. (Aluno E, Escola Marrom).

Eu aprendi sobre a artista Tarsila do Amaral, sobre leitura de imagem, figura geométrica, simetria, dobradura, culturas indígenas, trançados indígenas, auto-retrato, carimbos que você mesmo faz, pinturas, sobreposição da figura. (Aluno B, Escola Azul). Eu aprendi o que é artes, como se faz artes, como se entende e sente artes e também aprendi como se desenha, como se faz sombreados e se esboça artes, eu também aprendi a pintar, modelar varias formas com massinha. (Aluno B, Escola Cinza).

Eu aprendi arte barroca, imaginaria, abstrata, de observação, arte verossímil, etc. Arte barroca é arte de movimento, emoção, contraste claro e escuro a arte que você desenha o que você quer, que você pode esbanjar fazer tudo. (Aluno A, Escola Rosa).

Buscando o referencial de conteúdos proposto no material pedagógico da

DVDteca Arte na Escola podemos dizer que nessas respostas estão presentes os

conceitos ligados ao conhecimento de Forma e Conteúdo (linhas, textura, cores),

Linguagens Artísticas, Patrimônio Cultural, Materialidade, Processos de Criação e

Saberes Estéticos e Culturais.

Destacamos a resposta da aluna B da escola Azul que nos conta dos conteúdos

estudados e menciona a cultura indígena enfatizando os trabalhos com os trançados. De

igual modo o aluno F da escola Laranja que acrescenta à cultura indígena a cultura

africana. Ainda sobre cultura(s) o aluno E da escola Marrom relata o que aprendeu

sobre a Folia de Reis. Na fala desses alunos pontuamos que o trabalho dos professores

de Arte na perspectiva da diversidade de culturas consta das Diretrizes Curriculares para

o ensino de Arte8 desde 1996 (na forma de Proposta Curricular), portanto antes de se

tornar uma exigência por meio das leis 10.639/03 e 11.645/08.

Na análise das tabelas a frequência de respostas sobre a modelagem, a

dobradura, o desenho, a pintura, atividades que propiciam experiências enriquecedoras

nessa fase de desenvolvimento, nos dão a dimensão de aulas com diferentes técnicas.

8 Ver em UBERLÂNDIA (2003 e 2010).

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b- Quanto à produção dos desenhos

Durante a construção dos dados da pesquisa os alunos foram convidados a

realizarem dois desenhos: um com tema livre e outro com o tema direcionado pelos

pesquisadores: quando eu estou em casa eu... Nosso objetivo em requisitar o desenho

com temática livre era o diagnóstico sobre o repertório de imagens que esses alunos

poderiam apresentar. Nossa surpresa foi de percebermos que os alunos se sentiam

acuados frente à folha de papel em branco. Podemos pensar que a falta de intimidade

com os pesquisadores pode ter contribuído para esse impacto.

Na Escola Verde, em que a construção dos dados foi realizada no laboratório de

informática, os alunos estavam sentados de frente para as paredes, durante a realização

do desenho livre, o que possibilitou que três dos oito alunos presentes copiassem

desenhos que estavam nelas fixados. Nas demais escolas um ou outro aluno copiou

formas dos colegas. Já no desenho com tema a cópia não existiu.

Nosso objetivo com o desenho a partir de um tema era perceber as relações dele

com o desenho livre, e os modos como os alunos apresentariam o ambiente interno.

Para a análise dos desenhos foram realizadas algumas tabelas onde os

estagiários, em uma análise quantitativa, anotavam quantas vezes cada um dos

elementos escolhidos por nós como representativos apareciam em cada desenho. Ao

final eles tabularam os dados de todas as tabelas em uma só. Esclarecemos que a barra

entre os números separa os obtidos nas leituras dos desenhos livres (DL) e Desenhos

com tema (DT).

Tabela 1 - Dados quantitativos dos desenhos realizados

Escolas Municipais. 08 escolas

Total de desenhos avaliados

Categorias de analise

Frequência de resultado Temática Desenho livre

Total = 139 D.T = 70 D.L = 69 A representação de esquemas corporais apareceu em 83 desenhos, sendo 21 d.l e 62 d.t

Presença de estereótipos.

22/23 = 45 32% Paisagem 18 Estereotipia total.

8/0 = 8 6% Flor 09 Carro 05

Representação de planos.

32/46 = 78 56% Paisagem fig. 05

Tentativa de perspectiva.

2/10 = 12 8% Futebol 04 Arvore 03

Tratamento figura e fundo.

40/29 = 69 49% Borboleta 03 Herói/ninja 03

Rebatimento. 3/26 = 29 21% Animal 03 Esquema

Palito. 2/19 = 21 25% Juras de amor 02 Fig. Humana 02

Geométrico. 5/24 = 29 35% Retrato 02

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Obs. A barra separa os números obtidos nas leituras dos desenhos Livres e/ Desenhos com tema.

corporal. Balão 01 Orgânico. 18/45 = 63 76% Estereótipo 01

Personagem TV 01 Problemas de proporção.

9/18 = 27 19% Bandeira 01 Casamento 01

Ocupação espacial.

Total. 51/36 = 87 62% Castelo 01 Localizada.

Central.

5/5= 10 0,7%

Beijo 01 Fogo 01

Margens.

4/11=15 1%

Abstração 01 Índio 01

Centro – margem.

9/18 = 27 2%

Religião 01

Videogame 01 Luta/cinema 01 Natureza 01 Cotidiano 01

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Para o entendimento da tabela acima é necessário especificar que em um mesmo

desenho apareciam formas diferenciadas de representação de um mesmo assunto.

A presença de estereótipos foi considerada por nós como pequena,

principalmente porque a maioria dos alunos, no momento da leitura das imagens,

explicava que havia colocado o estereótipo pela falta de tempo para fazer uma imagem

mais elaborada. Somente 6% dos desenhos foram considerados como estereotipia total

por apresentarem estereótipos em todas as formas desenhadas.

Na representação dos planos fizemos uma distinção para os alunos que já

começam a realizar a tentativa de representação em perspectiva. Nessa lógica também

se inserem os desenhos com rebatimento das figuras. As crianças, ao tentarem

representar os ambientes internos, primordialmente nos desenhos com o tema quando

estou em casa eu... usavam as três formas de representação para dar a ideia de

profundidade. No caso abaixo a cozinha que a partir da sala é vista através de uma

porta, apresenta a distinção dos planos. No móvel da sala de jantar há uma tentativa de

perspectiva e nos aparelhos de jogar está presente o rebatimento: “aqui sou eu, ah eu fiz

a porta, a sala de jantar e a cozinha, a cozinha não dá pra ver, tá em longa distância”.

(Aluno A, Escola Verde).

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Figura 1 - Desenho do aluno A da Escola Verde

O tratamento da figura e fundo em 49% dos desenhos e a ocupação espacial total

em 62% são os maiores testemunhos do trabalho do professor de Artes Visuais até essa

faixa etária, conforme fica explícito nas falas de vários alunos. Dentre elas, escolhemos

a seguinte: “quando sobra espaço o professor pede para desenhar mais”. (Aluno B,

Escola Verde).

No que diz respeito ao esquema corporal, os denominados ‘palitos’ foram

contados também como estereótipos. Visualiza-se então no gráfico a grande

porcentagem de desenhos orgânicos, onde a figura humana era representada com formas

arredondadas, curvas e em movimento.

Os problemas de proporção da imagem apareceram nas comparações de

tamanho dos objetos, ou na relação com a imagem real. Como exemplo, podemos citar

o alongamento de corpos para caberem em móveis, a relação entre os tamanhos de casas

e árvores, ou ainda entre pessoas e carros.

Assim, percebemos que as crianças se encontram em diferentes níveis de

aprendizagem quanto ao desenho, o que também pode significar que os professores

respeitam tais individualidades.

c- Quanto à leitura das imagens

Foram realizados dois momentos de leituras de imagens. O primeiro com as

imagens da pasta arte br (2003), acompanhada de um instrumental, em que os alunos

escreviam o que viam. O segundo, uma leitura comparativa entre o primeiro desenho

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que eles realizaram e o segundo. Essa segunda foi feita oralmente e os registros foram

filmados.

Percebemos por meio da análise dos documentos resultantes que tanto no

momento de leitura das imagens do arte br (2003) quanto nas leituras dos próprios

desenhos, a maioria dos alunos se limitou a descrever as imagens.

Nas questões da folha que mediava a leitura das imagens do arte br (2003), os

alunos sentiram dificuldades em compreender o enunciado da quarta questão: Quais os

elementos artísticos que você reconhece nessa imagem? Diante dessa dificuldade os

pesquisadores explicavam ou pediam que outros alunos dissessem o que haviam

compreendido. Para esse questionamento tivemos as seguintes respostas: “Os elementos

artísticos são as cores.” (Aluno D, Escola Violeta); “São as coisas que estão na

imagem.” (Aluna A, Escola Violeta); “É o jeito que o artista se expressou. O jeito de

desenhar as pessoas.” (Aluno B, Escola Azul).

Apesar de termos utilizado nessa questão um vocabulário próximo ao que está

presente nas Diretrizes Curriculares da Rede Municipal de Ensino (2003) - elementos de

linguagem e elementos de composição -, os alunos ainda não estão familiarizados com

ele.

Durante a análise das leituras das imagens atentamos para a singularidade com

que cada aluno tratou a questão referente aos elementos artísticos que reconhece na

obra. Um deles escreve sobre a obra Retirantes de Raimundo Cela9 “Um homem, uma

mulher um barco e um galho e todas as figuras são desenhos e tem linhas e não tem cor

e o artista usa mais linhas para fazer objetos poucas linhas para fazer os detalhes e

nenhuma linha para fazer o fundo da obra”. (Aluno G, Escola Cinza).

Outro aluno sobre a mesma imagem “Uma árvore, duas pessoas e um bebê, um

rio, navio e um desenho ele rabiscou a roupa a pintura e para ser parecido com uma

sombra”. (Aluno A, Escola Verde).

Percebemos que esses alunos começaram suas leituras descrevendo as imagens e

depois inseriram dados sobre as características formais e o modo de fazer, de construí-

las, o que pode ser classificado como estágio construtivo.

9 Raimundo Cela, Retirantes, s/d, Água Forte sobre papel, 28,2 x 40,5 cm - Disponível em: <http://www.artena escola.org.br/midiateca/imagens2/Raim undo_Cela_Retirantes.jpg> Acesso em: 22 mar. 2012.

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E, sobre a xilogravura Malabarismo de Rubem Grilo10 “Os elementos artísticos

que eu reconheço nessa imagem são a linha e cor que se forma o desenho”. (Aluno G,

Escola Vermelha). Tal aluno priorizou as questões formais presentes na imagem, o que

caracteriza o estágio construtivo.

Vejamos a gravura “Rio” de Lívio Abramo11. O aluno afirma que escolheu esse

trabalho porque gostou do desenho e “por causa do contraste, a linha e do desenho

abstrato” continua respondendo que a imagem lhe desperta “novos tipo de pensamento e

várias ideias para fazer um desenho” e ainda, que reconhece como elementos artísticos

na gravura “Elementos de contraste, desenhos arquitetônico, muitas linhas, formatos. A

intensidade de certas linhas e a finura de outras”. (Aluno C, Escola Rosa). Esse aluno já

percebe que a imagem pode trazer informações para a sua poética pessoal, e traz a

escolha pelo gosto pessoal, o que caracteriza um leitor do estágio classificativo.

Portanto, mais uma vez se confirma a importância para o aluno de ter contato com

reproduções de trabalhos plásticos na aula de Arte, fazer leitura de algumas imagens

para enriquecer seu repertório e estimular para novas ideias.

As três imagens acima, escolhidas como exemplo, são gravuras: a de Raimundo

Cela uma água-forte, as de Rubem Grilo e Livio Abramo – xilogravuras. Ressaltamos

que nenhum aluno apontou para a linguagem da gravura. Para todos as reproduções se

tratavam de desenhos, ou desenho e pintura, fato que provavelmente se justifique pela

faixa etária dos estudantes e por ser a gravura pouco trabalhada na escola devido às suas

especificidades técnicas associadas à falta de um laboratório (sala equipada para as

aulas de Arte) para a produção dos alunos.

Em outras situações a escolha é feita pelos objetos e materiais presentes na

imagem. O aluno escolhe “A-doração” de Nelson Leirner12 “Porque as duas fotos são

iguais, mas uma tem roleta e a cortina também é bem interessante” A fotografia lhe

desperta “O interesse pela arte e que cada parte dessa obra é feito com elementos

diferentes". Por fim aponta como elemento artístico “A pintura parece que eles tiraram

10 GRILO, Rubem. Xilogravura, 1984, 23x33 cm, 31/100. Museu da Gravura Brasileira, Bagé, RS, doada pelo projeto arte br. Foto: Romulo Fialdini. - Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/midiateca/imagens2 /Rubem_Grilo_Malabarismo.jpg> Acesso em: 22 mar. 2012. 11 ABRAMO, Lívio. Xilogravura, 1951, 25x13 cm. Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, doada pelo artista. Foto: Romulo Fialdini. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/midiateca/imagens2 /Livio_Abramo_Rio.jpg> Acesso em: 22 mar. 2012. 12 LEIRNER, Nelson. Painel com oleografias, pintura e néon em ambiente cortinado circular, com roleta em frente, 1966, 201x160x260 cm. Museu de Arte de São Paulo-Masp, SP, doação do artista. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/midiateca/arquivos/06B_Imaginario.jpg> Acesso em: 22 mar. 2012.

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uma foto de uma roleta e colaram”. (Aluno E, Escola Laranja). Esse aluno percebe a

diversidade de materiais presentes e sabe que está diante de fotos do trabalho. Por conta

da tridimensionalidade, ele não consegue compreender como a roleta se insere na

imagem. Ao se preocupar com o modo com que a imagem foi construída, demonstra

característica do estágio construtivo.

Constatamos lendo e analisando as respostas às leituras de imagens que as

escolhas não foram feitas aleatoriamente, mas que os alunos observaram a imagem que

pretendiam escolher, debruçaram sobre a mesma, perceberam aspectos relevantes como:

tema, material, objetos, desenhos, entre outros, que lhes despertassem o interesse

facilitando a seleção.

Diferentemente da pesquisa de Rossi (2003) nenhum aluno verbalizou que uma

imagem fosse ruim devido ao seu conteúdo temático. Pelo contrário, dois alunos

escolheram a imagem “Salvai nossas almas”13 por saber se tratar de ‘alguma coisa ruim

que aconteceu. Parece que foi uma epidemia”. O desconforto maior foi causado por

Ceia Eucarística, pela presença de formas humanas geometrizadas.

É preciso salientar que os adjetivos belo, feio, ruim, mau dentre outros, são

desaconselhados pelo professor de Arte no cotidiano das aulas na Rede Municipal.

Nesse sentido, tais palavras não apareceram no decorrer da pesquisa. As leituras dos

alunos partiram do pressuposto de que todas as imagens, sejam as realizadas por eles ou

por artistas, são expressões artísticas, carregadas de sentido.

Tabela 2 - análise das leituras de imagens dos desenhos das crianças

Desenhos

Comentários

Aluno A

Escola Verde

Eu gosto muito de desenhar imagens, eu fiz esse desenho, assim, imagens naturais, daí eu desenhei essa árvore, assim, não quis fazer contorno, acho que não existe árvore com contorno, coloquei bastante criatividade nele,

13FRANCO, Siron. Técnica mista: lona com roupas coladas e radiografias, 1999, 200x300 cm. Museu de Arte de Joinville, SC, doada pelo artista. Foto: Romulo Fialdini. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/midi ateca/arquivos/09B_Natureza.jpg> Acesso em: 22 mar. 2012.

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D. L

aqui eu coloquei várias cores misturados, depois amarelo, vermelho (...) a nuvem não é azul é branca, porque é o céu que é azul...

Aluna B

Escola Azul

O primeiro desenho que fiz foi um auto-retrato com algumas cores misturadas tentando representar mais o jeito do corpo humano. O auto retrato fala sobre agente, este desenho fala sobre performance, o jeito de se construir.

D. T

Aluno G

Escola Rosa

Aqui eu fiz um homem e um pássaro e aqui eu coloquei um Sol para destacar a sombra e essas flores, essa montanha para destacar.

D. L

Aluno J

Escola Marrom

Eu desenhei um desenho de formas geométricas, comecei pelo triangulo da casa, a cerca, a casa...

D. L

Fonte: Elaborada pelas autoras

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Assim, constatamos que os alunos em sua maioria fazem a leitura descritiva das

imagens e percebem também como se deu a construção dos desenhos, suas escolhas e

histórias a contar, e que conseguiram relacionar alguns dos conceitos estudados em sala

de aula. A aluna B da Escola Azul apresenta o conceito de performance mas não usa de

forma correta. Já ao falar sobre autorretrato, consegue explicar do que se trata. Os

demais alunos utilizam conceitos referentes à Forma e Conteúdo: linhas, cores, sombra,

luz, harmonia, equilíbrio, formas geométricas. Nesses exemplos é possível perceber

características dos estágios descritivo e construtivo.

Arrematando

Após o término do período de análise de todos os dados construídos na pesquisa

foi possível perceber que os alunos dos 5º anos das Escolas Públicas Municipais

possuem conhecimentos sobre Artes Visuais que vão além do simples fazer. Como os

professores trabalham na perspectiva de que Arte é conhecimento e de conjugar o fazer,

a leitura de imagens e a contextualização, os alunos demonstram compreender esse

universo.

Nossa hipótese, ao propormos a pesquisa, era de que os alunos dos 5º anos, com

histórico de aulas de Arte nos anos escolares anteriores, apreendessem melhor as

questões do fazer arte do que as questões conceituais. No entanto tal hipótese não se

confirmou. Os estudantes demonstraram conhecer conceitos como linha, forma, textura,

materialidade, arte barroca, arte contemporânea que foram citados em diferentes escolas

em vários dos documentos construídos. Desse modo, eles aprenderam o fazer e os

conceitos a ele relacionados, evidenciando um efetivo aprendizado nas Artes Visuais.

No que diz respeito aos níveis de aprofundamento desses conceitos percebemos

que alguns alunos conseguiam explicar verbalmente do que se tratavam. Outros

utilizavam exemplos nas imagens para suas explicações e outros conseguiam verbalizar

os conceitos em assuntos diferenciados. Poucos utilizaram conceitos que não

conseguiram esclarecer.

Esse fato evidencia um conhecimento ao nível mental, interiorizado pelo aluno a

partir das ações do professor em sala de aula.

Nos desenhos, a maioria já consegue a representação de planos conscientemente,

e alguns já começam a identificar as formas em perspectiva. O desenho do homem-

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palito como de outros estereótipos, foram realizados em grande parte em virtude da falta

de tempo, fato verbalizado pelos alunos durante as leituras de imagens.

Quanto à leitura de imagens, a maioria dos alunos apresentou características do

estágio descritivo (leitura baseada no tema com a descrição do que é visto), sendo que

alguns as do construtivo (relaciona partes com a totalidade e interesse pelas

propriedades formais e técnicas) e somente quatro crianças apresentaram característica

do estágio classificativo (busca informações na obra e seu contexto). No entanto, todos

os alunos percebem que podem existir interpretações diferentes, característica do

estágio interpretativo detectada nas leituras.

Os estudantes reconheceram as imagens da pasta arte br (2003) e alguns

confirmaram que seus (suas) professores (as) já trabalharam com elas em sala de aula.

Nas leituras dessas imagens alguns demonstraram reconhecer as diferenças entre o

original e sua reprodução, a imagem que é pintura e a que é fotografia e as que são

fotografias de pinturas. Desse modo, acreditamos que a leitura de imagem é o item que

precisa ser aprimorado pelos professores nas aulas de Arte da Rede Pública Municipal.

Como as aprendizagens são individuais, identificamos diferentes

aprofundamentos na construção dos conhecimentos. No entanto, acreditamos que o

ensino de Arte nas escolas de Ensino Fundamental em todos os anos escolares, neste

caso de 1º ao 5º ano, contribuem de forma significativa para ampliar o repertório do

aluno, fato que repercute em seu aprendizado, nas suas leituras de mundo, nas leituras

das imagens fixas e em movimento do seu entorno.

Nesse sentido, cumprimos o objetivo da pesquisa que era o de conhecer o que

demonstram saber sobre Artes Visuais os alunos dos 5º anos das Escolas Públicas

Municipais de Uberlândia com uma grata surpresa: eles demonstram saber mais do que

imaginávamos. Isso só é possível pelo trabalho árduo dos professores, o investimento na

formação continuada e a troca de saberes entre eles.

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