ufrn - universidade federal do rio grande do norte ccsa - centro de … · 2012-12-27 · técnico...

52
UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CCSA - CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DCC - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS MONOGRAFIA ORIENTADOR PROF. MS. DIOGO HENRIQUE SILVA DE LIMA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA E EFEITO FORMULAÇÃO: ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO E EVIDENCIAÇÃO DOS JUROS E DIVIDENDOS RECEBIDOS E JUROS PAGOS NA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA SOBRE O PROCESSO DECISÓRIO MARIANA CUNHA DE AGUIAR NATAL/RN JULHO 2012

Upload: ngotruc

Post on 17-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CCSA - CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DCC - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

MONOGRAFIA

ORIENTADOR PROF. MS. DIOGO HENRIQUE SILVA DE LIMA

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA E EFEITO FORMULAÇÃO: ANÁLISE

DA INFLUÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO E EVIDENCIAÇÃO DOS JUROS E

DIVIDENDOS RECEBIDOS E JUROS PAGOS NA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO

DE CAIXA SOBRE O PROCESSO DECISÓRIO

MARIANA CUNHA DE AGUIAR

NATAL/RN

JULHO 2012

2

MARIANA CUNHA DE AGUIAR

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA E EFEITO FORMULAÇÃO: ANÁLISE

DA INFLUÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO E EVIDENCIAÇÃO DOS JUROS E

DIVIDENDOS RECEBIDOS E JUROS PAGOS NA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO

DE CAIXA SOBRE O PROCESSO DECISÓRIO

Monografia apresentada ao Departamento

de Ciências Contábeis da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como

requisito para obtenção do título de

Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador: Prof. Ms. Diogo Henrique

Silva de Lima

NATAL/RN

JULHO 2012

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

MARIANA CUNHA DE AGUIAR

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA E EFEITO FORMULAÇÃO: ANÁLISE

DA INFLUÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO E EVIDENCIAÇÃO DOS JUROS E

DIVIDENDOS RECEBIDOS E JUROS PAGOS NA DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO

DE CAIXA SOBRE O PROCESSO DECISÓRIO

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Aprovado em:

________________________________________________

Prof. Msc. Diogo Henrique Silva de Lima

Orientador

________________________________________________

Profª. Msc. Joana Darc Medeiros Martins

Membro

________________________________________________

Profª. Msc. Adriana Isabel Backes Steppan

Membro

4

Dedico à minha família essa conquista, a qual foi a grande

responsável pela minha trajetória de sucessos até aqui. Em

especial aos meus pais, Nazareno Junior e Joyce, que sempre

foram meus maiores incentivadores. Ensinaram-me os

verdadeiros valores da vida e nunca me deixaram faltar nada.

Por tanto amor e dedicação, essa vitória também é de vocês!

5

AGRADECIMENTOS

A Deus

Que é minha força, meu escudo, que olha por mim e ilumina o meu caminho.

Obrigada Senhor!

Ao Meu Orientador Professor e Mestre Diogo Henrique Silva de Lima

Agradeço pelo conhecimento partilhado e pelo tempo investido na minha formação,

colaboração valiosa para esta conquista. Obrigada Mestre!

Aos Meus Colegas

Momentos únicos vivenciamos juntos, agradeço a todos que fizeram parte da minha

história e levarei sempre em meu coração, em especial, a minha amiga Olívia que

sempre esteve comigo, entramos e saímos juntas dessa e a nossa amizade é para

sempre.

A Minha Avó Norma, que nos deixou há poucos dias...

Estou bem pertinho de ser contadora, assim como você foi, sei que está orgulhosa

da minha conquista, mas maior orgulho tenho de ser sua neta.

A Meu Namorado Cássio Henrique

Pelo apoio e compreensão nos momentos dedicados a este trabalho. Sempre com

palavras incentivadoras e torcendo pelo meu sucesso. Obrigada!

6

"Para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir,

mas também sonhar; não apenas planejar, mas também

acreditar".

(Anatole France)

7

RESUMO

Este trabalho tem como principal objetivo verificar se a forma como os demonstrativos do fluxo de caixa são apresentados pode ou não influenciar as decisões dos usuários de informações financeiras, tendo como base as respostas de 94 discentes e 14 docentes do curso de Ciências Contábeis e administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi realizado um experimento, apresentado sob a forma de questionário, estruturado com três perguntas simples e objetivas. O questionário é composto pela apresentação exclusiva da Demonstração do Fluxo de Caixa de duas empresas em dois trimestres, com base nas quais os respondentes devem efetuar a análise para responder os três questionamentos. O objetivo da primeira pergunta foi verificar se as diferentes possibilidades de classificações dos itens: recebimento de juros e dividendos e pagamento de juros, registrados na DFC, influencia, de forma significante, a percepção dos indivíduos quanto à avaliação do desempenho da empresa. A segunda pergunta buscou analisar se essa mesma variação de critério de classificação para elaboração na DFC modifica a avaliação dos interessados sobre o risco de cada organização. E, por fim, a terceira pergunta procura verificar se o critério adotado na elaboração da DFC para segregação das operações realizadas no caixa ou equivalente de caixa altera a percepção e, consequente, decisão dos participantes quanto a decisão de investimento. Os resultados do estudo evidenciam que os participantes da pesquisa foram influenciados pela forma como as demonstrações do fluxo de caixa foram apresentadas no momento de avaliar o desempenho das empresas e na decisão final do investimento. A pesquisa só não confirmou a influencia do critério da classificação dos itens com classificações alternativas na DFC sobre a avaliação do risco das entidades. De maneira geral, os participantes tiveram suas escolhas influenciadas pelo critério de classificação das operações, comprovando a ocorrência do efeito formulação. Isto significa que os gestores da informação, podem utilizar dessa possibilidade de classificação alternativa para conduzir os usuários para uma percepção de desempenho melhor do que na realidade a entidade possui.

Palavras-Chave: Efeito Formulação; Demonstração do Fluxo de Caixa;

Desempenho; Risco; Processo Decisório.

8

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Estatística Descritiva – Análise Geral da Decisão de Investimento ......... 35

Gráfico 2- Estatística Descritiva – Análise do Desempenho Estratificada por Tipo ... 36

Gráfico 3 – Estatística Descritiva - Análise da Decisão de Investimento Estratificada

por Tipo ..................................................................................................................... 38

Gráfico 4 - Estatística Descritiva – Análise da Decisão de Investimento Estratificada

por Gênero ................................................................................................................ 41

Gráfico 5 - Estatística Descritiva – Análise da Decisão de Investimento Estratificada

pela Idade.................................................................................................................. 44

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Perfil dos Respondentes ........................................................................... 30

Tabela 2: Perfil dos Respondentes – Faixa Etária e Gênero .................................... 31

Tabela 3: Estatística Descritiva – Análise Geral do Desempenho ............................. 31

Tabela 4:Nível de Significância – Análise Geral do Desempenho............................. 32

Tabela 5: Estatística Descritiva – Análise Geral do Risco ......................................... 33

Tabela 6: Nível de Significância – Análise Geral do Risco ........................................ 33

Tabela 7: Teste Qui-Quadrado – Análise Geral da Decisão de Investimento ........... 35

Tabela 8: Nível de Significância – Análise Estratificada do Desempenho ................. 37

Tabela 9: Estatística Descritiva – Análise do Risco Estratificada por Tipo ................ 37

Tabela 10: Nível de Significância – Análise do Risco Estratificada por Tipo ............. 38

Tabela 11: Teste Qui-Quadrado – Análise da Decisão de Investimento Estratificada

por Tipo ..................................................................................................................... 39

Tabela 12: Estatística Descritiva–Análise do Desempenho Estratificada por Gênero 40

Tabela 13: Nível de Significância - Análise do Desempenho Estratificada por Gênero40

Tabela 14:Estatística Descritiva – Análise do Risco Estratificada por Gênero .......... 40

Tabela 15: Nível de Significância – Análise do Risco Estratificada por Gênero ........ 41

Tabela 16: Teste Qui-Quadrado – Análise da Decisão de Investimento Estratificada

por Gênero ................................................................................................................ 42

Tabela 17: Estatística Descritiva - Análise do Desempenho Estratificada pela Idade42

Tabela 18: Nível de Significância - Análise do Desempenho Estratificada pela Idade43

Tabela 19: Estatística Descritiva - Análise do Risco Estratificada pela Idade ........... 43

Tabela 20: Nível de Significância - Análise do Risco Estratificada pela Idade .......... 44

Tabela 21: Teste Qui-Quadrado - Análise da Decisão de Investimento Estratificada

pela Idade.................................................................................................................. 45

10

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

1.1 JUSTIFICATIVA E PROBLEMÁTICA ............................................................... 12

1.2 OBJETIVOS ..................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivos Gerais ........................................................................................ 14

1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 14

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................................... 14

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 16

2.1 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS ................................................................. 16

2.2 EFEITO FORMULAÇÃO .................................................................................. 18

2.3 DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRAS ................................................................. 19

2.4 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA ...................................................... 19

2.4.1 Classificação das movimentações de caixa e equivalentes de caixa ........ 22

2.4.2 Classificação dos juros e dividendos recebidos e pagos ........................... 23

3. METODOLOGIA DA PESQUISA .......................................................................... 27

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................ 30

4.1 PERFIL DOS RESPONDENTES ..................................................................... 30

4.2 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA FORMA DE EVIDENCIAÇÃO DE ITENS

POLÊMICOS DA DFC SOBRE AVALIAÇÕES DE DESEMPENHO E RISCO -

ANÁLISE GERAL ................................................................................................... 31

4.3 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA FORMA DE EVIDENCIAÇÃO DE ITENS

POLÊMICOS DA DFC SOBRE AVALIAÇÕES DE DESEMPENHO E RISCO -

ANÁLISE ESTRATIFICADA ................................................................................... 36

4.3.1Tipo do Respondente ................................................................................. 36

4.3.2Gênero ........................................................................................................ 39

4.3.3 Idade .......................................................................................................... 42

11

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 46

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48

APÊNDICES ............................................................................................................. 50

APÊNDICE A – Questionário de Pesquisa ............................................................ 51

12

1. INTRODUÇÃO

A demonstração de fluxo de caixa (DFC) vem se tornando cada vez mais

essencial para analisar a situação financeira de uma empresa. Os resultados da

análise da movimentação de entrada e saída do caixa trazem resultados relevantes

que pode representar, principalmente para empresas novas ou em fase de

expansão, a diferença entre seu sucesso e fracasso.

Com a promulgação da Lei 11.638/07, que alterou alguns dispositivos da Lei

das Sociedades por Ações, ficou reforçada a importância de elaborar a DFC. A lei

trouxe nova redação à antiga demonstração das origens e aplicações de recursos

(DOAR) passando a exigir a DFC dentre o rol das demonstrações exigidas ao fim de

cada exercício social. Também foi reeditado o parágrafo 6º deste mesmo artigo, que

prevê uma exceção a sua exigibilidade, sendo dispensável para as empresas de

capital fechado que, na data do balanço, apresentem patrimônio líquido inferior à R$

2.000.000,00.

No artigo 188 da Lei 6.404/76 é definido o que a DFC deve conter. É previsto

que nela estejam indicadas as alterações ocorridas durante o exercício no saldo de

caixa e equivalentes de caixa e que estas sejam segregadas em 3 (três) fluxos: das

operações, dos financiamentos e dos investimentos.

Para estabelecer regras de como as entidades devem elaborar e divulgar a

DFC, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu o Pronunciamento

Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa, aprovado pela Comissão de

Valores Mobiliários (CVM), Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Banco Central

e Conselho Monetário Nacional. (IUDÍCIBUS, 2010)

No entanto, essas normas não são suficientes para responder todas as dúvidas

quanto à elaboração da DFC. As normas internacionais apenas sugerem a

classificação de algumas operações, como o recebimento e pagamento de juros e

dividendos, no qual há certa liberdade quanto as suas classificações, devendo haver

o julgamento, por parte do contador, definindo se eles serão apresentados no grupo

de atividade operacional ou de atividade de investimento.

As normas internacionais de contabilidade preocupam-se mais em dar a

filosofia, ou seja, os princípios básicos que devem ser seguidos pelo raciocínio

13

contábil. O uso de princípios, ao invés de regras, obriga a realização de maior

julgamento e maior análise, proporcionando informações contábeis com maior

qualidade e utilidade (FIPECAFI, 2010).

Além de adotar os princípios fundamentais da contabilidade como ponto

norteador, o profissional deve conhecer muito bem a operação a ser realizada e as

circunstancias que a cercam, a fim de aplicar a correta essência sobre a forma. É

mister, ainda, observar os efeitos que essa escolha pode causar na análise das

informações apresentadas.

1.1 Justificativa e Problemática

Para o Financial Accounting Standard Board – FASB, o objetivo das

divulgações financeiras é fornecer informação útil para aqueles que tomam decisões

econômicas a respeito de empresas e sobre investimentos e empréstimos

empresariais. Para atender esse objetivo as informações devem atender às

necessidades daqueles a quem a informação é destinada (FIPECAFI, 2010).

Os usuários da informação contábil estão cada vez mais interessados na

capacidade de geração de caixa das empresas (BRAGA, MARQUES, 2001). Foi a

partir dessa necessidade de informações sobre a vida financeira da empresa,

possível através do conhecimento das movimentações de caixa e equivalentes de

caixa, que levou ao nascimento da obrigatoriedade da DFC.

A DFC visa oferecer, aos usuários, informações sobre a capacidade da

entidade gerar caixa, detalhadas na forma de pagamentos e recebimentos ocorridos

em determinado período. Informações essas, necessárias para sustentar as

decisões econômicas e financeiras tomadas pelos usuários (IUDÍCIBUS, 2010).

No entanto, o Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2), permitiu que os fluxos de

caixa relativos a juros e dividendos pudessem ser divulgados de diferentes

maneiras. E também permitiu que a escolha desse critério fosse gerenciada pelo

usuário da informação contábil. Porém, caso a entidade não divulgue

adequadamente essas informações o usuário pode ser penalizado.

Nesse contexto, os gestores da informação podem empreender ações na

direção de diminuir a percepção de risco da empresa e/ou aumentar a avaliação do

14

desempenho, tornando a entidade mais atrativa (KOONCE, McANALLY, MERCER,

2005 apud LIMA, 2007).

Quanto a esse comportamento, o efeito formulação defende que a forma como

a situação é colocada ou estruturada pode levar a decisões divergentes. Desta

forma, se a classificação de itens alternativos na DFC for capaz de impactar a

avaliação dos indivíduos sobre a posição financeira da empresa, então, seria

possível afirmar que tal discussão está associada ao efeito formulação. Já que a

maneira como a situação é estruturada seria capaz de alterar significativamente a

escolha dos indivíduos.

Assim, esta pesquisa se propõe a responder ao seguinte questionamento: as

diferentes alternativas de classificação de alguns itens da DFC podem (ou não)

influenciar a percepção e as, conseqüentes, decisões dos usuários de

informações financeiras?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Verificar se o critério adotado para classificação e consequente evidenciação

dos juros pagos e recebidos e dos recebimentos de dividendos na

Demonstração do Fluxo de Caixa pode ou não influenciar as decisões dos

usuários de informações contábeis.

1.2.2 Objetivo Específico

Estudar a estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa, demonstrando a

sua utilidade e importância no processo decisório e evidenciando os itens

que podem ser classificados de forma alternativa.

Verificar se o critério adotado na elaboração da DFC para segregação das

operações realizadas no caixa ou equivalente de caixa influencia a

percepção do tomador de decisão sobre o desempenho organizacional;

15

Analisar se a mudança nas classificações atribuídas para operações de

caixa e equivalentes de caixa registradas na DFC alteram a avaliação dos

seus usuários quanto ao risco oferecido pela empresa;

Investigar se as diferentes classificações adotadas para algumas operações

registradas na DFC são capazes de influenciar a percepção do usuário da

informação e, consequente, decisão de investimento desses indivíduos.

1.4 Estrutura do Trabalho

O presente estudo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro capítulo

apresenta os aspectos introdutórios, abordando a justificativa para sua consecução,

o problema de pesquisa, bem como os objetivos a serem alcançados.

O capítulo 2 traz a revisão da literatura, destacando pontos-chaves como as

Finanças Comportamentais, o efeito formulação, a Contabilidade Comportamental, a

demonstração do fluxo de caixa, assim como a relação entre o efeito formulação e a

elaboração da DFC.

No capítulo 3 é descrita a metodologia da pesquisa, evidenciando

detalhadamente os procedimentos aplicados ao estudo, desde a elaboração e

aplicação do questionário, seleção da amostra, coleta de dados até as análises

estatísticas utilizadas para testar as hipóteses de pesquisa.

O Capítulo 4 aborda a análise dos resultados da pesquisa. Finalmente, o

capítulo 5 apresenta as considerações finais, assim como as recomendações para

futuras pesquisas.

16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

Na busca pela compreensão do comportamento do investidor no processo de

tomada de decisão, Kahneman e Tversky publicaram, no final da década de 70,

trabalhos sobre as atitudes dos investidores no mercado financeiro em diversas

situações em que haviam benefícios e riscos envolvidos nessa decisão (HALFELD,

TORRES, 2001).

O Estudo levou ao surgimento das finanças comportamentais (Behavioral

Finance) no meio acadêmico. Porém, ao longo da década de 80, obteve um

desenvolvimento muito pequeno. Somente no final dessa década, com o desgaste

do modelo moderno de finanças, é que o estudo das finanças comportamentais foi

fortalecido, ganhou adeptos e pôde consolidar alguns outros conceitos como a

autoconfiança excessiva, os exageros quanto ao otimismo e ao pessimismo e a

sobre-reação às novidades do mercado (HALFELD, TORRES, 2001).

As finanças comportamentais são um ramo do estudo de finanças que tem

como objetivo a revisão e o aperfeiçoamento do modelo econômico-financeiro atual,

buscando incorporar os aspectos psicológicos dos indivíduos no processo de

avaliação e precificação de ativos financeiros (KIMURA, 2003).

As Finanças Comportamentais defendem que os agentes não são totalmente

racionais, mas decidem influenciados por emoções e erros cognitivos (LIMA, 2007),

fazendo com que um usuário da informação entenda um mesmo problema de

formas diferentes dependendo da maneira como seja analisado.

Neste mesmo sentido Kimura (2003) afirma que:

As finanças comportamentais consideram que os investidores podem agir de maneira não-racional impactando consistentemente o comportamento do mercado. Assim, os defensores das finanças comportamentais advogam a possibilidade de ganhos extraordinários decorrentes de distorções previsíveis nos preços dos ativos financeiros.

A teoria que fundamenta as finanças comportamentais é a Teoria de Prospecto

(Prospect Theory) na qual, segundo KIMURA (2003), as probabilidades são

17

substituídas por pesos de decisão e os valores são atribuídos aos ganhos e às

perdas ao invés de serem relacionados aos resultados finais.

Essa Teoria foi desenvolvida por Kahneman e Tversky a fim de descrever as

preferências das pessoas em condições de risco, já que para estes estudiosos, as

teorias normativas falhavam na representação do comportamento decisório humano

porque, simplesmente, as pessoas não seguem padrões requeridos ou enunciados

como racional (LIMA, 2007).

Assim, a Teoria do Prospecto permite identificar comportamentos diferentes

diante das perdas e dos ganhos, como por exemplo, “a disposição do indivíduo em

aumentar sua exposição a riscos visando recuperar perdas passadas e a tendência

do investidor em reverter posições prematuramente para realizar lucros” (KIMURA,

2003). Ou seja, a teoria do prospecto analisa como as pessoas realmente agem no

processo de tomada de decisão sem levar em consideração as imposições

arbitrárias e irreais do que seria racional pela teoria econômica (LIMA, 2007).

Diferente das outras teorias, a Teoria do Prospecto é uma teoria descritiva que

não procura dizer a forma como os indivíduos “devem decidir”, mas buscam

observar as suas atitudes no processo de escolha sob condições de risco. Desta

forma, a Teoria descreve três tipos de efeitos percebidos no processo de tomada de

decisão dos indivíduos: efeito certeza (certainty effect), efeito reflexão e efeito

isolamento (isolation effect).

O efeito certeza é o fenômeno descrito pela tendência dos indivíduos

atribuírem maior peso às possibilidades que têm maior probabilidade de acontecer

(ALDRIGHI, MILANEZ, 2005). “No domínio dos ganhos, o efeito certeza contribui

para a preferência por um ganho certo a um ganho maior, mas que é meramente

provável” (LIMA, 2007).

O segundo efeito percebido por Kahneman e Tversky é o efeito reflexão ou

aversão à perda, já que quando os prospectos mudam apenas de sinal, há uma

inversão de preferências. O viés psicológico de valorização excessiva da certeza

traduz-se em maior aversão ao risco no domínio dos prospectos positivos e em

maior propensão ao risco no domínio das expectativas de perdas, desta forma, “os

indivíduos preferem uma perda com probabilidade de ocorrência inferior a 100% a

uma perda certa ainda que menor” (ALDRIGHI, MILANEZ, 2005).

18

Por fim, o efeito isolamento evidencia a tendência dos indivíduos tentarem

simplificar o processo de decisão através da desconsideração de grande parte dos

aspectos comuns de cada uma das opções de escolha disponível, levando em

consideração para análise os aspectos que as distinguem (ALDRIGHI, MILANEZ,

2005). Este é o processo conhecido como operação de cancelamento.

O efeito isolamento tem como importante consequência o efeito formulação

(formulation effect) ou Framing Dependence que se refere à forma como um

problema é colocado ao tomador de decisão. Conclui Lima (2007) que “a maneira

como uma situação é estruturada é capaz de alterar significativamente a escolha

dos indivíduos”.

2.2 EFEITO FORMULAÇÃO

O Efeito Formulação (Formulation Effect) ou Framing Dependence é uma

conseqüência do efeito isolamento. Ele se refere à forma como um problema é

colocado ao tomador de decisão, buscando perceber se a maneira como um

resultado é apresentado possui ou não importância para a decisão final do investidor

(LIMA, 2007).

Esse efeito é observado diante de uma situação que pode ser colocada ou

estruturada de diferentes maneiras podendo provocar preferências discrepantes no

momento da escolha. Kahneman e Tversky (1984 apud LIMA, 2007) chamam

atenção para o processo de controlar a formulação dos resultados. O processo

decisório pode ser influenciado sem a distorção ou supressão de informações, mas

simplesmente pela alteração da forma de apresentação (ou contextualização) dos

resultados.

Estes mesmos estudiosos afirmam que o Efeito Formulação “pode ocorrer

fortuitamente, sem a consciência do seu impacto na decisão final, mas também pode

ser explorado deliberadamente para manipular a relativa atratividade de uma opção”

(KAHNEMAN, TVERSKY, 1984 apud LIMA, 2007). Evidenciam, ainda, que, como

era de se esperar, as tentativas de influência da decisão final do investidor,

utilizando-se o framing, são comuns no mercado de capitais.

19

2.3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

As demonstrações financeiras representam a estrutura da situação financeira e

do desempenho financeiro de uma entidade. Sua principal finalidade é fornecer

informações sobre a posição financeira, o desempenho financeiro e o fluxo de caixa

de uma entidade que sejam úteis a uma ampla gama de usuários quando da tomada

de decisão no campo do investimento (IUDÍCIBUS, 2010).

A IAS 1 exige que um conjunto completo de demonstrações financeiras sejam

apresentadas anualmente. Para ser considerada como completa, conforme

exigência do IAS, a demonstração financeira deverá compreender: a demonstração

da posição financeira, a demonstração do resultado abrangente, a demonstração

das mutações no patrimônio líquido, a demonstração do fluxo de caixa, as notas,

abordando um resumo das políticas contábeis importantes e outras informações

explicativas, e nos casos de ajustes reconhecidos retrospectivamente, deverá

apresentar uma coluna adicional com os saldos de abertura da demonstração da

posição financeira.

Os usuários das demonstrações financeiras de uma empresa qualquer estão

interessados em como essa empresa gera e usa os recursos e os seus equivalentes

de caixa durante determinado período. Neste sentido observa-se que o fluxo de

caixa atente a esta expectativa do usuário, pois o IAS 1 descreve que as

informações apresentadas na DFC fornecem ao usuário uma base para avaliar a

capacidade de a entidade gerar caixa e equivalente de caixa, bem como expõe as

necessidades da entidade de utilizar esse fluxo de caixa (FIPECAFI, 2010).

2.4 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA

As empresas estão sempre em busca da otimização de suas atividades e os

investidores em busca das empresas com melhor desempenho. No sentido de

alcançar seus objetivos, as empresas precisam gerenciar e demonstrar seus

recursos financeiros com a maior eficiência e eficácia possível. Já os investidores

devem filtrar as informações disponíveis para obter o maior retorno do investimento.

20

Enquanto que a demonstração de resultado e os balanços são baseados em

métodos de contabilidade de competência, o que significa que as receitas e as

despesas são reconhecidas quando são incorridas, mesmo que nenhum dinheiro

tenha sido trocado, a demonstração do fluxo de caixa reconhece apenas as

transações nas quais o dinheiro muda de mãos. (BODIE, KANE, MARCUS, 2000).

Portanto, a Demonstração do fluxo de caixa é uma demonstração dinâmica,

que oferece informações úteis no processo de tomada de decisão, representando a

previsão, o controle e o registro de entradas e saídas financeiras no caixa e

equivalentes de caixa durante um determinado período, contendo informações sobre

a vida financeira da empresa.

As informações apresentadas na DFC, principalmente quando analisadas com

as demais demonstrações financeiras, são úteis para a compreensão sobre a

capacidade da empresa de gerar fluxos de caixa futuros, a capacidade da empresa

de honrar seus compromissos, pagar dividendos e retornar empréstimos obtidos,

avaliar a liquidez, solvência e flexibilidade financeira, assim como avaliar a taxa de

conversão de lucro em caixa e os efeitos das transações de investimento e

financiamento sobre a posição financeira da empresa (MACEDO et al., 2011). A

DFC também facilita aos usuários desenvolver modelos para determinar e comparar

o valor presente dos fluxos de caixa futuros de diferentes empresas (IUDÍCIBUS,

2010).

Apesar dos benefícios advindos da utilização da DFC, a sua divulgação não

era obrigatória até o ano de 2008, quando passou a ser obrigatória por força da Lei

11.638/07. Antes disso, poucas eram as empresas que se preocupavam com o fluxo

de caixa. Porém desde antes sua exigibilidade mediante lei, Matarazzo (1995)

tratava a DFC como uma das demonstrações financeiras mais úteis. Ele ressalta o

uso imprescindível da DFC, pelo fato de que, quase sempre, os problemas de

insolvência ou iliquidez ocorrem por falta de uma adequada administração do fluxo

de caixa. “Muitas empresas vão à falência por não saberem administrar seu fluxo de

caixa” (MATARAZZO, 1995, p. 370 apud QUINTANA, SERAFIN, AURIN, 2003).

A obrigatoriedade da publicação da DFC está seguindo uma tendência

internacional que foi iniciada no Canadá em 1985. Também é adotada nos Estados

21

Unidos desde 1987, na Inglaterra desde 1991 e em outros países, assim como no

Brasil, vindo a subsistir a DOAR (QUINTANA, SERAFIN, AURIN, 2003).

Essa foi uma das importantes mudanças que ocorreram na área da

contabilidade no Brasil, trazidas, principalmente, pela lei 11.638/07. Essa lei foi

criada em função do novo ambiente financeiro globalizado o qual necessita de

comparabilidade entre o desempenho das companhias globalizadas. Por isso, visam

modernizar a legislação, eliminando barreiras regulatórias existentes e tratando de

alinhar as normas e práticas contábeis brasileiras às internacionais (FIPECAFI,

2010).

A DFC passou a ser obrigatória para as companhias abertas, companhias de

grande porte, e sociedades anônimas de capital fechado com patrimônio líquido

superior a R$ 2.000.000,00. É permitida a elaboração da DFC tanto pelo método

direto como pelo método indireto. O método indireto parte do lucro líquido do

exercício para chegar à conciliação com o caixa gerado pelas operações. E o

método direto destaca as movimentações financeiras explicitando as entradas e

saídas de recursos (IUDÍCIBUS, 2010).

Entretanto, a legislação pertinente não regulava a forma de elaboração da

DFC, vindo, posteriormente, a ser divulgado o Pronunciamento Técnico 03 do

Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) cujo objetivo é auxiliar a forma como

deverá ser elaborada e apresentada a demonstração em análise.

Para fins da elaboração da DFC, o conceito de caixa é ampliado,

contemplando, além de numerário em espécie e depósitos bancários, as aplicações

financeiras de curto prazo de alta liquidez e de insignificante risco de mudança de

valor, o foi denominado de equivalente de caixa (MACEDO et al., 2011).

Sua primeira exigência é a de que a demonstração deverá ter suas

movimentações de caixa classificadas por grupo de atividade, existindo três tipos: as

atividades operacionais, as atividades de investimento e as atividades de

financiamento (ASSAF NETO, 2010). Assim previne o CPC 03 que “a entidade deve

apresentar seus fluxos de caixa advindos das atividades operacionais, de

investimento e de financiamento da forma que seja mais apropriada aos seus

negócios”.

22

O segundo requisito é evidenciar, em Notas Explicativas, as transações de

investimento e financiamento que afetam a posição patrimonial da empresa, mas

não impactam diretamente os fluxos de caixa do período (Debêntures Conversíveis,

Aquisição Financiada de Imobilizado). E por último, é exigida a reconciliação do

resultado líquido com o caixa líquido gerado ou consumido.

2.4.1 Classificação das movimentações de caixa e equivalentes de caixa

Os fluxos financeiros operacionais descrevem basicamente as principais

atividades geradoras de receita da entidade (CPC 03), aquelas que também são

apresentadas na demonstração do resultado (ASSAF NETO, 2010). Esse grupo é

responsável por gerar fluxo de caixa suficiente para pagar os empréstimos, manter a

capacidade operacional da empresa, pagar dividendos e fazer novos investimentos

sem recorrer a fontes externas (FIPECAFI, 2010).

Os fluxos financeiros de investimento são geralmente determinados por

variações nos ativos não circulantes (ASSAF NETO, 2010). A esse respeito, o CPC

03 (ponto 16) restringe que só são passíveis de classificação, como atividade de

investimento, os desembolsos que resultem em ativo reconhecido nas

demonstrações contábeis. Sua utilidade é a representação da extensão dos

dispêndios realizados comparado aos recursos destinados a gerar rendimentos e

fluxos de caixa futuro. (FIPECAFI, 2010).

Os fluxos financeiros de financiamentos referem-se basicamente às operações

com credores e investidores, indicando a exigência de fluxos futuros de caixa (CPC

03). Na interpretação de Iudícibus (2010), essa classificação dos fluxos evidencia a

capacidade que a empresa tem, oriunda de recursos externos, para financiar as

necessidades de recursos das atividades operacionais e de investimento.

Apesar das normas que regem a classificação das operações de caixa de uma

empresa, para efeito de elaboração da DFC, principalmente o CPC 03, trazerem um

rol de atividades que devem ser apresentadas em cada grupo, existem operações

das quais não se tem um consenso sobre a melhor forma de classificá-las, como

ocorre com os juros e dividendos pagos e recebidos.

23

De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2), os fluxos de caixa

relativos a juros e dividendos podem ser divulgados de diferentes maneiras, e os

requisitos de divulgação desse Pronunciamento fazem com que essas escolhas

possam ser gerenciadas pelo usuário da informação contábil. Porém, caso a

entidade não divulgue adequadamente essas informações, o usuário pode ser

penalizado (GOES, SALOTTI, 2011).

Assim, pode-se entender que o CPC 03 fornece apenas subsídios norteadores

para que as empresas façam o correto julgamento dos juros e dividendos conforme

suas atividades. O pronunciamento explica os conceitos de cada grupo e apresenta

as justificativas para suas possíveis classificações tanto como operacionais, como

de investimentos e também de financiamentos.

No entanto, fica evidente a preferência do CPC pela classificação dos juros,

recebidos e pagos, e os dividendos e juros sobre o capital próprio recebidos como

atividades operacionais, e os dividendos e juros sobre o capital próprio pagos como

atividades de financiamento. No entanto, deixa a opção para classificá-lo de forma

diferente da sugerida, neste caso, sendo obrigado evidenciar a alternativa diferente

em nota explicativa.

2.4.2 Classificação dos juros e dividendos recebidos e pagos

Um dos problemas observados por Macedo et al. (2011) em seu estudo sobre

a DFC consiste na classificação das entradas e saídas de caixa, segundo a natureza

da transação que, por vezes, pode acarretar ambiguidades, a exemplo dos fluxos de

caixa referentes a juros, dividendos e juros sobre o capital próprio.

Nas instituições financeiras, os juros pagos e os juros e dividendos recebidos

são, geralmente, classificados como fluxos de caixa operacionais já que estão

diretamente relacionados com a atividade principal da empresa (FIPECAFI, 2010).

Porém, nas demais empresas, como já comentado, não existe um consenso

quanto a sua classificação já que o CPC 03 não exige uma classificação específica

para os juros e dividendos pagos e recebidos. Eles devem ser classificados de

maneira consistente de período a período como atividade operacional, de

investimento ou de financiamento (GOES, SALOTTI, 2011).

24

Para a classificação dos juros pagos é facultada, pelo IASB (International

Accounting Standards Board), a opção entre o fluxo de caixa de atividades

operacionais ou de financiamento. Isto ocorre pelo fato de o IASB não ver consenso

nas práticas mundiais a esse respeito (IUDÍCIBUS, 2010). Os juros pagos podem ser

classificados como atividade operacional porque entram na determinação do

resultado líquido. Alternativamente, podem ser classificados como financiamento,

quando compuser o custo de obtenção de recursos financeiros (FIPECAFI, 2010).

Aqui no Brasil, o Pronunciamento Técnico CPC 03 apenas incentiva que os juros

pagos sejam considerados como atividade operacional.

A esse respeito, na visão de Macedo et al. (2011), a recomendação do CPC 03

parece pouco coerente, pois os juros pagos estão relacionados a estrutura e ao

custo de capital da empresa. Portanto, deveriam ser classificados no grupo de

financiamento e não no grupo das atividades operacionais.

Crítica parecida faz Braga e Marques (2001), ao afirmar que a classificação de

juros como atividades operacionais “não se coaduna com a literatura de finanças,

uma vez que se referem a decisões de financiamento (juros e encargos de linhas de

crédito)”, explicando que “ainda que os empréstimos sejam utilizados para compra

de mercadorias para revenda, houve uma decisão de financiamento que irá

acarretar desembolsos futuros do principal e encargos: as saídas de caixa

decorrentes daquela decisão”.

A respeito dos juros recebidos, a recomendação do CPC e IASB é igualmente

criticável ao encorajar classificá-los no grupo das atividades operacionais. Isso

porque, para uma empresa não financeira, emprestar dinheiro não faz parte de sua

atividade fim, mas a concessão de empréstimos, nesses casos, são atividades

secundárias. “Logo, esses juros, que representam a remuneração do capital

investido, deveriam de fato ser classificados no grupo das atividades de

investimento” (MACEDO et. al, 2011).

Assim como os juros, os dividendos e juros sobre capital próprio recebidos

correspondem à remuneração do capital investido, por isso, alguns autores

entendem que deveriam integrar o grupo das atividades de investimento, como

facultado pelo IASB. Mas o CPC 03 dá preferência pela classificação dessas

atividades como operacionais porque entram na determinação do resultado líquido.

25

Nesse mesmo sentido dispõe a FASB (The Financial Accounting Standards Board),

obrigando a serem classificados como operacionais todos os itens que transitam

pela demonstração do resultado.

Braga e Marques (2001) exemplificam as hipóteses de recebimento de

dividendos e suas respectivas classificações:

Receber periodicamente dividendos de controladas decorre de uma decisão de investimento, a aquisição de participação acionária nessas empresas; já receber dividendos como forma de negócio (sociedade de participações) envolve uma decisão operacional. De qualquer modo, as duas visões de classificação podem ser articuladas a partir de um conjunto adicional de informações.

Já em relação aos dividendos pagos, o CPC 03 sugere a classificá-los como

atividade de financiamento. Isso porque são custos da obtenção de recursos

financeiros. Por outro lado, eles podem ser classificados como componentes do

fluxo de caixa das atividades operacionais, visando ajudar os usuários a determinar

a capacidade de uma empresa de pagar dividendos a partir dos fluxos de caixa

operacionais.

É mister ressaltar que essas alternativas permitidas pelo CPC 03, e também

pela IAS 7, tem sido alvo de criticas por parte da comunidade acadêmica da área

contábil. Isso porque, além de tecnicamente incoerentes, possibilitam

comportamentos oportunistas. Ou seja, além de prejudicarem a comparabilidade

entre empresas, possibilitam o gerenciamento dos fluxos de caixa pelos

responsáveis pela elaboração e publicação das demonstrações contábeis. Nesse

contexto, tais tratamentos prejudicam a relevância da informação contábil para fins

de tomada de decisão econômica (MACEDO et al, 2011).

A escolha de padrões contábeis e princípios para justificá-los é tanto uma

questão de opção política quanto uma escolha técnica (HENDRIKSEN, VAN

BREDA, 1999) que pode influenciar profundamente o entendimento do usuário da

demonstração a respeito da situação financeira da empresa. Por tanto é necessário

que a escolha de uma alternativa diferente da recomendada pelas normas do Brasil,

as quais estão resumidas no Pronunciamento Técnico CPC 03, devem ser

evidenciadas em notas explicativas.

26

2.4.3 Possibilidades da relação existente entre o efeito formulação e as

diferentes classificações de determinados itens da DFC

A complexidade na elaboração de teorias sobre a divulgação de informações

financeiras e o fato de que a contabilidade produz efeitos econômicos para seus

usuários faz com que, no momento em que um novo padrão contábil é adotado,

alguns ganhem e outros percam (HENDRIKSEN, VAN BREDA, 1999).

Para que as empresas possam obter o real benefício de uma demonstração

financeira, esta deverá informar de forma clara e objetiva a posição patrimonial e os

resultados de suas operações, e também sobre as práticas contábeis adotadas e as

políticas de apresentação escolhida. (FIPECAFI, 2010). Pois a forma como um

resultado é apresentado tem grande importância para a decisão final. Uma situação

pode ser colocada ou estruturada de diferentes maneiras e provocar preferências

discrepantes entre uma ou outra (KAHNEMAN, TVERSKY, 1984 apud LIMA, 2007).

Esse é o comportamento descrito pelo efeito formulação, que entende que a

forma como as demonstrações contábeis são apresentadas é capaz de impactar na

decisão final do investidor.

Existe a possibilidade de associação entre o efeito formulação e a DFC no

momento em que o CPC 03, permitiu que os fluxos de caixa relativos ao

recebimento e pagamento de juros e dividendos pudessem ser divulgados de

diferentes maneiras. A decisão por classificar o recebimento de juros como atividade

de investimento pode gerar um saldo negativo nas atividades operacionais. Se isso

ocorrer, provavelmente, irá conduzir a percepção de baixo desempenho da entidade.

Por existir outra alternativa, mesmo que na sua essência seja preferível classificá-lo

como atividade de investimento, é possível que esta empresa classifique esses juros

como atividade operacional para melhorar a percepção do seu desempenho.

Normalmente, as pessoas levam mais em consideração as informações

apresentadas nas demonstrações do que as provenientes do desenvolvimento

lógico dos demonstrativos. Isto significa que o procedimento empírico que leve a

decisões corretas é melhor do que um procedimento contábil conceitualmente

correto que possa levar a uma decisão ou comportamento inadequado (IUDÍCIBUS,

2000).

27

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Com base na discussão apresentada no referencial teórico sobre o efeito

formulação e estudo da Demonstração do Fluxo de Caixa e suas relações com

decisões de investimento, esse trabalho tem como principal objetivo verificar se a

avaliação do desempenho e risco de empresas pode ser influenciada pelo critério de

classificação das operações adotado por cada organização na divulgação da DFC.

A fim de verificar a possibilidade do objetivo proposto buscou-se analisar a

decisão de indivíduos diante da apresentação exclusiva da DFC. O problema

hipotético foi apresentado na forma de questionário. O uso deste método tem o

pressuposto de que as pessoas sabem como decidiriam em contextos reais de

escolhas, não tendo razões para distingui-las de suas preferências reais. Se as

pessoas são capazes de predizer suas escolhas, os problemas hipotéticos fornecem

evidências sobre seu comportamento (KAHNEMAN, TVERSKY, 1979 apud LIMA,

2007).

O questionário foi estruturado com questões simples e objetivas de forma que

seu total preenchimento durou, em média, 10 minutos. As questões envolvem um

experimento sobre o efeito formulação no contexto de informações financeiras. As

instruções para o preenchimento do questionário enfatizavam que não era

necessário identificação e, principalmente, que não existia uma resposta “certa”, já

que o estudo não tem como finalidade avaliar o conhecimento dos respondentes,

mas de obter as preferências individuais nos contextos decisórios apresentados.

Aos participantes da pesquisa foi solicitado que avaliassem o desempenho e o

risco de duas empresas: Delta e Omega. Para a avaliação foi disponibilizado apenas

as Demonstrações do Fluxo de caixa das duas empresas em dois trimestres. Deve-

se enfatizar que as demonstrações apresentadas para as duas entidades são

basicamente as mesmas, isto é, a DFC da empresa Delta é praticamente igual a da

empresa Omega. Para não ficar óbvio que as demonstrações são idênticas, os

valores apresentados para a empresa Delta são 0,5% menores do que os

evidenciados para Omega. O que muda entre as duas empresas é o critério de

classificação e apresentação de dois itens específicos da DFC: Recebimento de

Juros e Dividendos e Pagamento de Juros. Na empresa Delta, esses itens são

28

classificados na atividade operacional da organização. Já na Omega, o recebimento

de juros e dividendos foi classificado como entradas das atividades de investimento

e o pagamento de juros como saída de caixa das atividades de financiamento. As

classificações divergentes conduzem a subtotais diferentes nas atividades

operacionais, de investimento e de financiamento, mas há praticamente o mesmo

total do fluxo de caixa gerado nos períodos.

Esta pesquisa teve como base as respostas de estudantes universitários do

curso de Ciências Contábeis e administração e professores da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte. Foram escolhidos os estudantes de contabilidade que já

houvessem cursado a disciplina de análise das demonstrações contábeis. Para os

de administração, a exigência da pesquisa era a de que esses alunos já tivessem

estudado a disciplina de contabilidade aplicada a administração. E os professores

foram escolhidos, pela técnica de acessibilidade, dentro do quadro de professores

dos cursos já citados. A escolha dessa população-alvo se deu, além da

disponibilidade, pela estreita relação desses indivíduos com conhecimentos

contábeis fundamentais para analisar a questão apresentada.

Buscou-se aplicar o maior número de questionários possíveis. Todavia, o fato

de toda a aplicação dos questionário ter sido realizada in locu e em período próximo

ao fim do semestre, momento em que muitas turmas já haviam finalizado suas

atividades acadêmicas, o tempo disponível para aplicação dos questionários tornou-

se uma limitação do estudo. Participaram da pesquisa 108 respondentes, que é uma

amostra próxima das observadas em importantes trabalhos sobre o estudo do

comportamento decisório humano que utilizaram o método de escolhas hipotéticos,

tais como Kahneman e Tversky (1979), que contou com a participação de 100

respondentes; Kahneman e Tversky (1984), com 200 respondentes; e aqui no Brasil,

Kimura, Basso e Krauter (2006), com 189 participantes.

Os dados coletados foram categorizados, em tipo, curso, gênero e idade, a fim

de verificar se esses grupos apresentam resultados divergentes daqueles

encontrados na análise geral. Em um segundo momento, foram realizados os testes

estatísticos com a utilização do software SPSS Statistic 17.0. Para tanto,

determinou-se a média dos valores atribuídos às duas empresas nos quesitos 1 e 2,

utilizando o teste t para amostras emparelhadas. E, para o questionamento 3, a

29

análise estatística foi realizada pelo teste Qui-Quadrado (X2) de Pearson. Também

foi necessário comparar essas médias e verificar se elas são estatisticamente

diferentes (ou não). O nível de significância adotado nas análises foi de 5%.

Por fim, realizou-se uma análise estratificada dos questionamentos a fim de

verificar quais fatores influenciavam o padrão de resposta. A observação dessa

análise focou na diferença de comportamento, primeiramente, entres os docentes e

discentes. Seguida da diferenciação de respostas baseadas no gênero feminino e

masculino. E a última análise, verificou se a idade seria um aspecto significante para

efeito de alterar o padrão de resposta.

30

4 ANALISE DOS RESULTADOS

Esta seção está dividida em três partes. A primeira descreve o perfil dos

respondentes. A segunda traz as análises da influência da forma de classificações

alternativas de itens da DFC, e consequente evidenciação, sobre a avaliação do

desempenho e do risco, além da verificação da decisão de investimento dos

participantes da pesquisa. A última parte destaca os aspectos mais relevantes

identificados capazes de modificar o padrão de respostas.

É importante destacar que o questionário analisa empresas semelhantes, mas

que adotam critérios de classificação de itens da DFC diferente. Na empresa Delta,

tanto o recebimento de juros e dividendos, quanto o pagamento de juros são

classificados na atividade operacional da organização. Já na Omega, o recebimento

de juros e dividendos foi classificado como entradas das atividades de investimento

e o pagamento de juros, como saída de caixa das atividades de financiamento.

4.1 Perfil dos Respondentes

O experimento foi realizado com 108 participantes, cujo perfil pode ser

visualizado na Tabela 1.

Tabela 1: Perfil dos Respondentes

Tipo Curso Frequência %

Discente

Administração 23 24,5

Contábeis 71 75,5

Total 94 100,0

Docente Contábeis 14 100,0

Do total de respondentes 21% são discentes do curso de Administração. A

maior parte, correspondendo a 66%, é discente do curso de Ciências Contábeis e

apenas 13% são docentes do curso de Ciências Contábeis. Complementando a

caracterização dos sujeitos da pesquisa, a tabela 2 evidencia a classificação quanto

a faixa etária e o gênero.

31

Tabela 2: Perfil dos Respondentes – Faixa Etária e Gênero

Faixa Etária Gênero Total

Feminino % Masculino % Missing Freqüência %

18 a 21 anos 22 20% 16 15% - 38 35%

22 a 25 anos 13 12% 18 17% - 31 29%

26 a 29 anos 9 8% 5 5% - 14 13%

A partir de 30 anos

8 7% 8 7%

- 16 15%

Missing 3 3% 6 9 8%

Total 52 48% 50 46% 6 (6%) 108 100%

A tabela mostra que 64% dos participantes estão entre os 18 e 25 anos. Desse

percentual, 50% são do gênero feminino e 50% do gênero masculino. Três homens

não responderam sobre a idade e seis não mencionaram nem gênero nem idade.

4.2 Análise da influência da forma de evidenciação de itens alternativos da

DFC sobre avaliações de desempenho e risco - Análise Geral

A primeira pergunta do questionário pedia para que os participantes avaliassem

o desempenho das duas empresas com base, exclusivamente, na Demonstração do

Fluxo de Caixa de dois trimestres. Para tanto, deveriam considerar a escala em que

0 corresponde a um péssimo desempenho e 10 a um excelente desempenho. A

média atribuída pelos respondentes é demonstrada na tabela a seguir:

Tabela 3: Estatística Descritiva – Análise Geral do Desempenho

Empresa Média Amostra

Total Desvio Padrão

Delta 7,05 108 1,665

Omega 5,69 108 2,182

A Empresa Delta obteve média de desempenho superior a da Empresa

Omega, representando que os participantes na sua maioria atribuíram nota maior

para a empresa Delta. Mesmo havendo diferença numérica entre as médias de

desempenho das empresas, é necessário calcular o nível de significância,

considerando o nível de significância de 5%:

32

Tabela 4: Nível de significância – Análise Geral do Desempenho

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

significância

Média Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da

diferença

Abaixo Acima

Delta Omega 1,361 2,523 ,243 ,880 1,842 5,607 ,000

A tabela 4 evidencia um nível de significância do teste t igual a 0. Sendo 0

inferior a 0,05 (5%), conclui-se que as médias atribuídas às empresas Delta e

Omega possuem diferenças estatísticas relevantes, pois quanto menor for o nível de

significância, é possível afirmar que existe diferença estatística entre as notas

médias. Essa análise estatística permite inferir que a mudança do critério para

classificação, na DFC, dos itens: juros pagos, juros recebidos e dividendos

recebidos, influenciaram a percepção dos respondentes quanto à avaliação do

desempenho das empresas envolvidas na pesquisa.

Uma hipótese para esse comportamento é o fato de que tal diferença provoca

na empresa Omega um saldo negativo nas suas atividades operacionais e nas

atividades de financiamento. No momento em que os recebimentos de juros e

dividendos deixaram de serem classificados como entrada de caixa de atividade

operacional e passaram a compor a entrada do grupo de atividades de investimento,

o grupo de atividades operacionais passou a demonstrar um caixa consumido nos

dois trimestres. O mesmo aconteceu com o caixa das atividades de financiamento,

que de gerado, passou a ser consumido nos dois trimestres devido à reclassificação

dos juros pagos de saída de atividade operacional para atividade de financiamento.

Diante dessa nova realidade, e tendo conhecimento de que a atividade

operacional é atividade essencial da empresa, os respondentes tenderam por

considerar o desempenho da empresa Omega pior e o da empresa Delta melhor.

Assim, a forma como o recebimento de juros e dividendos e o pagamento de juros

foram classificados e evidenciados influenciou a percepção dos participantes e a

consequente decisão quanto ao desempenho da empresa.

No segundo questionamento, o que pretende-se analisar é a influência da

escolha do critério de classificação dos itens da DFC, em discussão, sobre a

percepção dos respondentes quanto ao risco. Neste quesito, a escala adotada

33

considera 0 como o risco baixíssimo e 10 o risco altíssimo. O Gráfico a seguir mostra

a média encontrada pela análise das respostas coletadas.

Tabela 5: Estatística Descritiva – Análise Geral do Risco

Empresa Média Amostra Desvio Padrão

Média do erro padrão

Delta 5,51 108 2,155 ,207

Omega 6,07 108 2,441 ,235

A tabela revela que os participantes avaliaram o risco da empresa Omega

maior do que o da empresa Delta. Porém, é interessante observar se a diferença

das médias atribuídas para o risco das empresas possui diferença estatisticamente

relevante. Como destaca Field (2000 apud LIMA, 2007), pequenas diferenças nas

frequências podem resultar associações estatísticas significativas entre as variáveis.

Assim, além da análise dos percentuais dentro de cada questionário, é preciso

realizar uma análise da média e desvio padrão da questão 2, da mesma forma que

analisou-se as respostas da questão 1.

Tabela 6: Nível de Significância – Análise Geral do Risco

Diferenças Emparelhadas

t

Nível de Significância

Média

Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da

diferença

Abaixo Acima

Delta Omega -,565 3,154 ,304 -1,166 ,037 -1,861 ,066

A média da diferença das notas obtidas sobre o risco das empresas Delta e

Omega é muito pequena, apresentando uma variação de apenas 0,56. Calculado o

nível de significância, percebe-se que só existe diferença estatística quando

considerado o nível de significância de 10%. Como o nível de significância adotado

para realização da análise estatística desse trabalho foi de 5%, pode ser afirmado

que a forma como a demonstração do fluxo de caixa foi apresentada não influenciou

a percepção dos respondentes quanto ao risco da empresa Delta e Omega.

Diante desse resultado pode-se inferir que as diferentes classificações dadas

ao recebimento de juros e dividendos e pagamento de juros, não foram suficientes

34

para modificar, significativamente, o julgamento dos participantes quanto ao risco.

Mesmo a empresa Omega apresentando caixa operacional negativo e a empresa

Delta saldo positivo nas suas atividades operacionais, as pessoas atribuíram nota de

risco próxima ou similar para as duas empresas.

Provavelmente esse comportamento se deu em decorrência do total das

demonstrações de fluxo de caixa de cada empresa ser praticamente o mesmo. A

diferença da variação líquida nas disponibilidades é de apenas R$ 85,00,

correspondendo aos 0,5% que foram reduzidos nos valores apresentados na

empresa Omega para definir os valores da empresa Delta.

A comprovação de que o critério adotado para classificar os itens polêmicos da

DFC não influenciou a percepção dos usuários da informação financeira quanto ao

risco pode ser uma justificativa para o Comitê de Pronunciamentos Contábeis deixar

essa lacuna na regulamentação de uma demonstração tão importante no processo

decisório. No entanto, seria interessante a ampliação da quantidade de participantes

do estudo para chegar a uma conclusão mais contundente, já que o tamanho da

amostra influencia na determinação do nível de significância.

A terceira e última pergunta busca comprovar se as diferentes classificações

adotadas para o recebimento de juros e dividendos e pagamento de juros na DFC

são capazes de influenciar a percepção do usuário da informação e, consequente,

decisão desses indivíduos no processo decisório. Ou seja, verificar a ocorrência do

efeito formulação na situação criada no questionário.

Dos 108 respondentes, 65 (60%) escolheram a empresa Delta para investir. 32

participantes (30%) optaram por investir na empresa Omega. E os últimos 11 (10%)

foram indiferentes quanto a investir na empresa Delta ou Omega. Como nos mostra

o gráfico 1:

35

Gráfico 1: Estatística Descritiva – Análise Geral da Decisão de Investimento

O gráfico comprova o resultado inferido na questão 1, a qual observa a

avaliação do desempenho. Como a média de desempenho da empresa Delta foi

superior a da empresa Omega, era de se esperar que as pessoas utilizassem o

mesmo raciocínio que as levaram a julgar o desempenho de Delta melhor, e assim,

optassem por investir na empresa Delta.

Para analisar as respostas da questão 3 utilizou-se o teste Qui-Quadrado. Esse

teste tem o objetivo de avaliar a significância das diferenças estatísticas. O resultado

da aplicação desse teste no modelo desenvolvido é demonstrado na Tabela 7:

Tabela 7: Teste Qui-Quadrado – Análise Geral da Decisão de Investimento

Q3

Qui-Quadrado 41,167a

DF 2

Nível de Significância ,000

O valor da estatística Qui-Quadrado calculado foi de 41,167 e seu nível de

significância foi 0,000. Nesse caso, a frequência esperada para todos os itens foi

inferior a 5. Caso não houvesse diferença estatística significativa entre as decisões

de investimento pela empresa Delta ou pela empresa Omega, o nível de

significância do teste qui-quadrado seria alto, o que resultaria num X2 baixo, o que

não ocorre nessa situação.

36

Esse resultado significativo (ρ = 0,000) indica que existe uma associação entre

critério de classificação utilizado para os itens pagamento e recebimento de juros e

dividendos e a decisão de investimento. Ou seja, existe diferença significativa no

padrão de respostas. Esses resultados confirmam que o critério de classificação

utilizado (divergentes entre as empresas) influenciou significativamente as escolhas

dos respondentes.

4.3 Análise da influência da forma de evidenciação de itens polêmicos da DFC

sobre avaliações de desempenho e risco - Análise Estratificada

4.3.1 Tipo do Respondente

Buscando verificar se possíveis diferenças do tipo de respondente poderiam se

contrapor ao resultado geral, foi feita uma análise estratificada por tipo, avaliando

individualmente as respostas dos docentes e discentes e comparando as respostas

dadas pelos discentes do Curso de Administração com os que cursam Ciências

Contábeis. O Gráfico 2 apresenta a estatística descritiva para avaliação do

desempenho das empresas, separando-as por tipo:

Gráfico 2: Estatística Descritiva – Análise do Desempenho Estratificada por Tipo

Os três tipos de respondentes julgaram existir diferença entre o desempenho

da empresa Delta e da empresa Omega. Nos três grupos a empresa Delta foi a

37

melhor avaliada quanto ao desempenho. Os alunos do curso de Ciências Contábeis

foram os que atribuíram melhor desempenho para empresa Delta, determinando

uma média de 7,38. A tabela 8 traz o teste para amostras emparelhadas:

Tabela 8: Nível de Significância – Análise Estratificada do Desempenho

Tipo Empresa

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

Significância Média Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da diferença

Abaixo Acima

Discente de Administração

Delta – Omega ,565 2,591 ,540 -,555 1,685 1,046 ,307

Discente de Contábeis

Delta – Omega 1,620 2,452 ,291 1,039 2,200 5,567 ,000

Docente de Contábeis

Delta – Omega 1,357 2,678 ,716 -,189 2,903 1,896 ,080

Percebe-se que apenas para os discentes do curso de Ciências Contábeis o

nível de significância é inferior a 5%. Isso significa que a forma como a DFC foi

elaborada para cada empresa não influenciou a percepção dos alunos de

Administração e dos professores do curso de Ciências Contábeis quanto à avaliação

do desempenho dessas empresas.

Ainda procurando perceber os efeitos que a variação do tipo de participantes

pode causar no padrão de respostas, avaliamos as respostas da pergunta 2 do

questionário, tendo seu resultado demonstrado na Tabela 9:

Tabela 9: Estatística Descritiva – Análise do Risco Estratificada por Tipo

Tipo Curso Empresa Média Amostra Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

Discente

Administração Delta 5,57 23 1,996 ,416

Omega 5,70 23 2,566 ,535

Contábeis Delta 5,54 71 2,137 ,254

Omega 6,38 71 2,369 ,281

Docente Contábeis Delta 5,29 14 2,614 ,699

Omega 5,14 14 2,445 ,653

Sobre o aspecto do risco, a diferença de média atribuída para as empresas são

muito próximas e o cálculo do nível de significância revela que, mais uma vez, a

38

diferença das médias só foi estatisticamente relevante para os discentes de Ciências

Contábeis. Conforme apresentado na tabela 10:

Tabela 10: Nível de Significância – Análise do Risco Estratificada por Tipo

Curso Empresa

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

Significância Média Desvio Padrao

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da diferença

Abaixo Acima

Discente de Administração

Delta - Omega

-,130 2,817 ,587 -1,349 1,088 -,222 ,826

Discente de Contábeis

Delta - Omega

-,845 3,143 ,373 -1,589 -,101 -2,266 ,027

Docente de Contábeis

Delta - Omega

,143 3,739 ,999 -2,016 2,302 ,143 ,889

O nível de significância atribuído aos discentes do curso de Administração e

aos professores de Ciências Contábeis são superiores aos 5% de significância

admitida neste trabalho. Pode-se considerar a hipótese de que se a amostra

analisada desses tipos de respondentes fosse ampliada, seria possível encontrar

relevância estatística na diferença das médias da avaliação do risco.

O outro ponto estudado foi a verificação da influencia do tipo dos participantes

na decisão de investimento, conforme resume o Gráfico 3:

Gráfico 3: Estatística Descritiva – Análise da Decisão de Investimento Estratificada por Tipo

Os Discentes de Administração optaram mais por investir na empresa Omega,

correspondendo a 47,8% destes. Já os discentes e os docentes do curso de

39

Contábeis decidiram, em sua maioria, investir na empresa Delta, representando

64,8% dos Discentes de Contábeis e 64,3% dos Docentes. No entanto é preciso

complementar a análise com a informação do nível de significância, apresentada na

tabela 11:

Tabela 11: Teste Qui-Quadrado – Análise da Decisão de Investimento Estratificada por Tipo

Tipo Valor Nível de Significância

Discente

Pearson Qui-Quadrado 3,741a ,154

Razão de Verossimilhança 3,627 ,163

Associação de Linearidade 1,901 ,168

Amostras Válidas 94

Docente Pearson Qui-Quadrado

Amostras Válidas 14

O fato de não ter chegado a nenhum nível de significância inferior a 5%,

permite concluir que não teve diferença entre Discente e Docente no padrão de

resposta da decisão de investimento.

4.3.2 Gênero

Outra inferência feita nesse estudo foi a possibilidade de que o gênero dos

respondentes poderia influenciar os resultados. Os dados obtidos referentes a

avaliação do desempenho foram resumidos na Tabela 12:

Tabela 12: Estatística Descritiva – Análise do Desempenho Estratificado por Gênero

Gênero Empresa Média Amostra Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

Feminino Delta 7,27 52 1,374 ,190

Omega 5,94 52 2,118 ,294

Masculino Delta 6,88 50 1,965 ,278

Omega 5,32 50 2,290 ,324

Percebe-se que tanto os indivíduos do gênero Feminino quanto do Masculino

atribuíram média de desempenho mais alta para a empresa Delta. No entanto, é

preciso conhecer a relevância dessa diferença das médias de desempenho.

40

Tabela 13: Nível de Significância – Análise do Desempenho Estratificada por Gênero

Gênero Empresa

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

Significância Média Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da

diferença

Abaixo Acima

Feminino Delta - Omega 1,327 2,647 ,367 ,590 2,064 3,614 ,001

Masculino Delta - Omega 1,560 2,484 ,351 ,854 2,266 4,441 ,000

A tabela 13 evidencia o nível de significância das diferenças emparelhadas

estratificadas pelo gênero. Observando o nível de significância de 5%, é possível

afirmar que tanto o gênero feminino quanto para o masculino foram influenciados

pela forma como as demonstrações do fluxo de caixa foram apresentadas.

A mesma análise foi realizada sobre a avaliação do risco, tendo sua estatística

descritiva demonstrada na tabela 14 a seguir:

Tabela 14: Estatística Descritiva – Análise do Risco Estratificado por Gênero

Gênero Empresa Média Amostra Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

Feminino Delta 5,73 52 1,962 ,272

Omega 6,13 52 2,450 ,340

Masculino Delta 5,24 50 2,387 ,338

Omega 6,10 50 2,460 ,348

Mesmo havendo diferença entre as médias de risco para empresa Delta e

Omega, a média da diferença emparelhada é muito baixa. Portanto, é importante

investigar se há diferença significativa, como irá comprovar a demonstração do nível

de significância da tabela 15:

41

Tabela 15: Nível de Significância – Análise do Risco Estratificada por Gênero

Gênero Empresa

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

Significância Média Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da diferença

Abaixo Acima

Feminino Delta - Omega

-,404 3,256 ,451 -1,310 ,502 -,895 ,375

Masculino Delta - Omega

-,860 3,136 ,444 -1,751 ,031 -1,939 ,058

O nível de significância dos homens é inferior ao das mulheres, ficando dentro

dos 5% esperados nesse estudo. Ou seja, é possível inferir que os homens foram

impactados quanto ao risco em função da reclassificação do recebimento de juros e

dividendos e pagamento de juros.

A última análise pertinente ainda com relação a estratificação por gênero é a

análise da decisão de investimento, questionada na pergunta 3 do questionário. As

respostas coletadas sobre esse quesito podem ser resumidas no seguinte gráfico:

Gráfico 4: Estatística Descritiva – Análise da Decisão de Investimento Estratificada por Gênero

Onde fica demonstrado que 61,5% das mulheres escolheram a empresa Delta.

Assim como também a maioria dos homens optaram pela empresa, correspondendo

a 58%. Essas proporções conduziram para um resultado final de 59,8%, dos 102

respondentes que identificaram seus gêneros, investirem na empresa Delta.

42

Tabela 16: Teste Qui-Quadrado – Análise da Decisão de Investimento Estratificada por Gênero

Valor Nível de

Significância

Pearson Qui-Quadrado ,541a ,763

Razão de Verossimilhança ,543 ,762

Associação de Linearidade ,348 ,555

Amostras Válidas 102

A tabela 16 mostra um X2 muito baixo, indicando que não existe diferença

estatística significativa entre as decisões de investimento pela empresa Delta ou

pela empresa Omega. Nesse caso, as frequências observadas são iguais ou muito

próximas das frequências esperadas.

4.3.3 Idade

Por fim, buscou-se verificar se as diferenças de idade dos respondentes

poderiam gerar resultados divergentes do padrão geral. Começamos por identificar a

estatística descritiva, apresentada na tabela 17:

Tabela 17: Estatística Descritiva – Análise do Desempenho Estratificada pela Idade

Idade Empresa Média Amostra Desvio Padrão

Média do erro Padrão

18 a 21 anos Delta 6,89 38 1,657 ,269

Omega 5,79 38 2,002 ,325

22 a 25 anos Delta 7,55 31 1,091 ,196

Omega 5,55 31 2,249 ,404

26 a 29 anos Delta 6,64 14 2,134 ,570

Omega 5,43 14 2,311 ,618

A partir de 30 anos Delta 6,88 16 2,306 ,576

Omega 5,75 16 2,696 ,674

É perceptível que existe diferença numérica entres as médias de desempenho

em todas as classes de idade. E mais que isso, todas as faixa etárias avaliaram o

desempenho da empresa Delta melhor. No entanto, para afirmar que existe

diferença entre as médias é preciso comprová-la estatisticamente, como realizado a

seguir na tabela 18:

43

Tabela 18: Nível de Significância – Análise do Desempenho Estratificada pela Idade

Idade

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

Significância Média Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da

diferença

Abaixo Acima

18 a 21 anos 1,105 2,855 ,463 ,167 2,044 2,386 ,022

22 a 25 anos 2,000 2,394 ,430 1,122 2,878 4,651 ,000

26 a 29 anos 1,214 2,517 ,673 -,239 2,668 1,805 ,094

A partir de 30 anos

1,125 2,125 ,531 -,007 2,257 2,117 ,051

O estudo do teste de amostras emparelhadas permite inferir que o efeito

formulação ocorreu nas faixas de idade: 18 a 21 anos, 22 a 25 anos e a partir dos

30, haja vista apresentarem nível de significância inferior aos 5% admitidos no

presente estudo.

A análise das respostas coletadas na segunda questão, sobre a avaliação do

risco das empresas em foco, resultou na percepção diferente entre as classes de

idade:

Tabela 19: Estatística Descritiva – Análise do Risco Estratificada pela Idade

Idade Empresa Média Amostra Desvio Padrão

Média do Erro

Padrão

18 a 21 anos Delta 5,47 38 1,856 ,301

Omega 6,03 38 2,541 ,412

22 a 25 anos Delta 5,00 31 2,176 ,391

Omega 7,06 31 1,806 ,324

26 a 29 anos Delta 5,71 14 2,463 ,658

Omega 6,07 14 2,495 ,667

A partir de 30 anos Delta 6,56 16 2,394 ,598

Omega 4,44 16 2,449 ,612

A tabela 19 mostra que os participantes das faixas de idade dos 18 a 21 anos,

dos 22 a 25 anos e dos 26 a 29 anos atribuíram menor risco para empresa Delta.

Enquanto que os participantes com idade igual ou superior aos 30 anos, atribuíram

menor risco para empresa Omega. A tabela 20, avalia a relevância dos resultados

encontrados na tabela 19.

44

Tabela 20: Nível de Significância – Análise do Risco Estratificada pela Idade

Idade

Diferenças Emparelhadas

t Nível de

Significância Média Desvio Padrão

Média do Erro Padrão

95% Intervalo de Confiança da diferença

Abaixo Acima

18 a 21 anos -,553 3,185 ,517 -1,600 ,494 -1,070 ,292

22 a 25 anos -2,065 2,366 ,425 -2,932 -1,197 -4,859 ,000

26 a 29 anos -,357 2,790 ,746 -1,968 1,254 -,479 ,640

A partir de 30 anos 2,125 3,423 ,856 ,301 3,949 2,483 ,025

De acordo com a análise estatística, só foram impactados pela mudança do

critério de classificação das operações de recebimento de juros e dividendos e

pagamento de juros na DFC, os respondentes da faixa de idade dos 22 a 25 anos e

a partir dos 30 anos.

A última análise envolve os dados coletados através das respostas da questão

três, que estão demonstrados no gráfico 5, a seguir apresentado:

Gráfico 5: Estatística Descritiva – Análise da Decisão de Investimento Estratificada pela idade

Dos 38 participantes com idade entre 18 e 21 anos, 60,5% investiriam na

empresa Delta. 71% dos respondentes que tem de 22 a 25 anos optaram, também,

pela empresa Delta. Já as pessoas dos 26 a 29 anos apresentaram mesmo

proporção (42,8%) de votos na empresa Delta e Omega. E os indivíduos com 30 ou

mais anos, em sua maioria (50%), optaram pela empresa Delta.

45

Tabela 21: Teste Qui-Quadrado – Análise da Decisão de Investimento Estratificada pela Idade

Valor Nível de

Significância

Pearson Qui-Quadrado 10,086a ,121

Razão de Verossimilhança 10,032 ,123

Associação de Linearidade 3,700 ,054

Amostras Válidas 99

O teste Qui-Quadrado de Pearson mostra que mesmo diante de resultados

diferentes, já que mesmo havendo preferência pelo investimento na empresa Delta,

tiveram pessoas que optaram pela empresa Omega ou foram indiferentes, essa

diferença não é relevante estatisticamente. Isso porque, o nível de significância a

que o teste Qui-Quadrade chegou é superior ao nível de 5% adotado em todo o

estudo.

46

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das evidências da intervenção de aspectos psicológicos no processo

decisório e da estreita relação da Contabilidade com o efeito formulação este

trabalho tem como objetivo principal verificar se o critério adotado para classificação

e consequente evidenciação dos juros pagos e recebidos e dos recebimentos de

dividendos na Demonstração do Fluxo de Caixa pode ou não influenciar as decisões

dos usuários de informações contábeis.

O efeito formulação em contextos contábeis pôde ser verificado através das

respostas dos discentes dos cursos de Administração e Ciências Contábeis e dos

Docentes de Ciência Contábeis atribuídas aos quesitos presentes no questionário. O

questionário apresentava a Demonstração do Fluxo de Caixa de duas Empresas,

Delta e Omega, em dois trimestres. As únicas diferenças entre as DFCs era a forma

como o recebimento de juros e dividendos e o pagamento de juros foram

classificados e os valores apresentados para a empresa Delta são 0,5% menores do

que os evidenciados para Omega.

Assim, a hipótese geral de pesquisa que norteou esse estudo foi que as notas

atribuídas ao desempenho e ao risco das duas empresas seriam estatisticamente

diferentes, confirmando o efeito formulação. Também foi foco do trabalho analisar se

variáveis como Tipo do respondente, Gênero e Idade poderiam exercer algum

impacto sobre as respostas. De acordo com os objetivos pretendidos pelo

Questionário, a análise dos resultados foi compartimentada em três momentos:

Estudo do perfil dos respondentes, Análise Geral e Análise Estratificada.

A partir da análise dos resultados constatou-se que o critério de classificação

adotado na Demonstração do Fluxo de Caixa para as operações de recebimento de

juros e dividendos e de pagamento de juros impactam a percepção dos indivíduos

quanto ao desempenho. No entanto, não é possível afirmar isso, com o mesmo rigor

estatístico, quanto à percepção dos indivíduos sobre o risco.

Quanto às variáveis analisadas, o tipo de respondente impactou a avaliação do

desempenho e do risco apenas para os Discentes do Curso de Ciências Contábeis;

a estratificação por gênero demonstrou que tanto os homens quanto as mulheres

foram influenciados para avaliação do desempenho e que apenas os homens foram

47

impactados sobre o risco; e idade influenciou a percepção do desempenho e do

risco dos respondentes na faixa dos 22 a 25 anos e dos que tem mais de 30 anos e

impactou apenas quanto ao desempenho os de 18 a 21 anos. Além dessas

contribuições para o estudo, as análises estratificadas corroboraram com os

resultados da análise geral.

É importante destacar que a idéia que norteou todo esse estudo é a de que a

contabilidade deve fornecer informações úteis e relevantes para os mais diversos

tipos de usuários, sejam aqueles com razoável conhecimento dos critérios de

classificação dos itens da DFC, como também para usuários menos sofisticados ou

com pouca experiência em tomar decisões e que têm na DFC e demais

Demonstrações Contábeis os únicos norteadores para tomar suas decisões.

Assim, como perspectiva para trabalhos futuros recomenda-se a ampliação da

quantidade de questionários aplicados, além de ser interessante avaliar outras

varáveis como instituições particulares e públicas, outros cursos e até mesmo outras

cidades, com o objetivo de verificar se o efeito formulação é constatado nas demais

faculdades, em outras cidades, assim como entre os estudantes de outros cursos.

48

REFERÊNCIAS

ALDRIGHI, Dantes Mendes; MILANEZ, Daniel Yabe. Finança Comportamental e a Hipótese do Mercado Eficiente. Revista de Economia Contemporânea, v. 9, n. 1, Jan./Abr. 2005. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços: Um enfoque Econômico-financeiro. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BODIE, Zvi; KANE, Alex; MARCUS, Alan J. Fundamentos de Investimentos. Trad. Robert Brian Taylor. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2000. BRAGA, Roberto; MARQUES, José Augusto Veiga da Costa. Avaliação da Liquidez das Empresas Através da Análise da Demonstração de Fluxos de Caixa. Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI - FEA - USP, São Paulo, FIPECAFI, v.14, n. 25, p. 6 - 23, janeiro/abril 2001. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Eficiência, previsibilidade dos preços e anomalias em mercados de capitais: teoria e evidência. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v.1, n.7, p.71-85, abril/junho 1998. COMITÊ DE PROCUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Demonstrações do Fluxo de Caixa: Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IAS 7 (IASB – BV2010). Pronunciamento Técnico CPC 03 (RS 2), 2010. FIPECAFI. Manual de Contabilidade Societária. Sergio Iudícibus (Organizador). São Paulo: Atlas, 2010. FIPECAFI. Manual de Normas Internacionais de Contabilidade: IFRS versus Normas Brasileiras. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GOES, Silvanete Magalhães Lopes de Avila; SALOTTI, Bruno Meirelles. Divulgação dos recebimentos e pagamentos de juros e dividendos na Demonstração dos Fluxos de Caixa de instituições financeiras no Brasil. 8º Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. São Paulo, 2011.

49

HALFELD, Mauro; TORRES, Fábio de F. L. Finanças Comportamentais: Aplicações no Contexto Brasileiro. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 41, n. 2, p. 64-71, Abr./Jun. 2001. HENDRIKSEN, Eldon S. & VAN BREDA, Michael F. Teoria da Contabilidade. Trad. Antonio Zoratto Sanvicente. São Paulo: Atlas, 1999. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. KIMURA H. Aspectos comportamentais associados às reações do mercado de capitais. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 2, n. 1, feriado/junho 2003. ERNESTO GEISEL. Lei 6.404 – Lei das Sociedades Anônimas. Brasília: Presidência da República, 15 de dezembro de 1976. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA. Lei 11.638. Brasília: Presidência da República, 28 de dezembro de 2007. LIMA, Diogo Henrique Silva de. Efeito Formulação e Contabilidade: Uma Análise da Influência da Forma de Apresentação de Demonstrativos e Relatórios Contábeis sobre o Processo Decisório de Usuários de Informações Contábeis. Dissertação de Mestrado, Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UnB, UFPB, UFPE e UFRN. Ano 2007, 143f. MACEDO, Marcelo Alvaro da Silva; MACHADO, Márcio André Veras; MURCIA, Fernando Dal Ri; MACHADO, Márcia Reis. Análise do impacto da substituição da DOAR pela DFC: um estudo sob a perspectiva do value-relevance. Revista de Contabilidade Financeira – USP, São Paulo, v. 22, n. 57, p. 299-318, set./out./nov./dez. 2011. QUINTANA, Alexandre Costa; SERAFIN, Annelise da Cruz; SAURIN, Valter. Demonstração de Fluxo de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado como instrumentos efetivos de gestão financeira: um estudo de caso da eletrosul. Revista de Ciências da Administração – v.5, n.10, jul/dez 2003.

APÊNDICE A – Questionário de Pesquisa

Questionário de Pesquisa

Imagine que você está avaliando duas entidades que atuam no mesmo setor de atividade: Empresa Delta e Empresa Omega. Para essa tarefa você dispõe unicamente das Demonstrações do Fluxo de Caixa (DFC) das duas empresas nos últimos dois trimestres (tabela anexada na próxima página). Com base unicamente nas informações disponibilizadas na próxima página, responda as seguintes questões:

1. Considerando uma escala de 0 (desempenho péssimo) a 10 (desempenho excelente), atribua uma nota ao desempenho das duas empresas:

Empresas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Delta □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ Omega □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □

2. Considerando uma escala de 0 (risco baixíssimo) a 10 (risco altíssimo), atribua uma nota ao risco das duas empresas:

Empresas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Delta □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ Omega □ □ □ □ □ □ □ □ □ □ □

3. Se você tivesse algum capital disponível para investir em uma empresa, e somente houvesse essas duas alternativas (Delta e Omega), em qual das duas empresas você investiria?

□Delta □Omega □Qualquer uma das duas, isto é, seria indiferente.

Curso: □Administração □Contábeis Período/Semestre:____ Universidade: □Particular □Pública Gênero: □Masculino □Feminino Idade: _____ anos.

51

Demonstração do Fluxo de Caixa - Empresa Delta Demonstração do Fluxo de Caixa - Empresa Omega

1/7/20X1 a 30/9/20X1

1/4/20X1 a 30/6/20X1

1/7/20X1 a 30/9/20X1

1/4/20X1 a 30/6/20X1

Atividade Operacional

Atividade Operacional

Entradas 303.475 282.232

Entradas 220.000 204.600

Recebimento de Clientes 218.900 203.577

Recebimento de Clientes 220.000 204.600

Recebimento de Juros e Dividendos 84.575 78.655

Saídas - 230.000 - 213.900

Saídas - 266.660 - 247.994

Pagamento de Salários - 50.000 - 46.500

Pagamento de Salários - 49.750 - 46.268

Pagamento a Fornecedores - 120.000 - 111.600

Pagamento a Fornecedores - 119.400 - 111.042

Pagamento de Tributos - 60.000 - 55.800

Pagamento de Juros - 37.810 - 35.163 Caixa consumido nas atividades operacionais - 10.000 - 9.300

Pagamento de Tributos - 59.700 - 55.521

Caixa gerado nas atividades operacionais 36.815 34.238 Atividade de Investimento

Entrada 115.000 106.950

Atividade de Investimento

Venda de Imobilizado 30.000 27.900

Entrada 29.850 27.761

Recebimento de Juros e Dividendos 85.000 79.050

Venda de Imobilizado 29.850 27.761

Saída - 70.000 - 65.100

Saída - 69.650 - 64.775

Aquisição de Imobilizado - 70.000 - 65.100

Aquisição de Imobilizado - 69.650 - 64.775 Caixa gerado nas atividades de investimento 45.000 41.850

Caixa consumido nas atividades de investimento - 39.800 - 37.014

Atividade de Financiamento

Atividade de Financiamento

Entrada 138.000 128.340

Entrada 137.310 127.698

Integralização de Capital 48.000 44.640

Integralização de Capital 47.760 44.417

Empréstimo Obtido 90.000 83.700

Empréstimo Obtido 89.550 83.282

Saída - 156.000 - 145.080

Saída - 117.410 - 109.191

Amortização de Empréstimo - 63.000 - 58.590

Amortização de Empréstimo - 62.685 - 58.297

Pagamento de Dividendos - 55.000 - 51.150

Pagamento de Dividendos - 54.725 - 50.894

Pagamento de Juros - 38.000 - 35.340

Caixa gerado nas atividades de financiamento 19.900 18.507 Caixa gerado nas atividades de financiamento - 18.000 - 16.740

Variação Líquida nas Disponibilidades 16.915 15.731 Variação Líquida nas Disponibilidades 17.000 15.810

Saldo Inicial de Caixa + Equivalente de Caixa 100.000 93.000 Saldo Inicial de Caixa + Equivalente de Caixa 100.000 93.000 Saldo Final de Caixa + Equivalente de Caixa 116.915 108.731 Saldo Final de Caixa + Equivalente de Caixa 117.000 108.810