uff anpuh.s22.047

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ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. USO DOS ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO-FORMAIS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA Ana Maria de Almeida Santiago (UERJ) Helena Maria Marques Araújo (UERJ/PUC/UniverCidade) Introdução Esta comunicação tem por objetivo apresentar uma das linha de pesquisa do Laboratório de Pesquisas e Práticas de Ensino (LPPE) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em desenvolvimento, que relaciona memória, identidade e formação de professor. O Projeto USO DOS ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO-FORMAIS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA, no contexto das atividades do LPPE, articula-se com a nova LDB, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Fundamental e Médio e as novas Diretrizes Curriculares para Formação de Professores; consolida a articulação entre ensino e pesquisa nos cursos de licenciatura; insere a utilização dos espaços educativos alternativos no horizonte universitário e pedagógico e fundamenta, no plano teórico-metodológico, o trabalho de entendimento e preservação da memória sócio-histórica, elemento essencial da constituição da identidade de uma comunidade . Insere-se entre as preocupações do projeto, o estabelecimento de uma contrapartida da Universidade para com a sociedade brasileira. Essa contrapartida será possível através da divulgação em diferentes meios de comunicação da produção do projeto, viabilizando o acesso dos professores de Ensino Básico ao material teórico e metodológico elaborado. Pressupostos teóricos e desenvolvimento O professor de Ensino Básico não aplica, na prática, apenas, uma transposição didática do conhecimento acadêmico para o conhecimento das disciplinas escolares. Entende-se, portanto, que o conhecimento escolar numa perspectiva de educação emancipatória se configura como um texto aberto que passa a se constituir no processo de participação de alunos e professores. A construção de novas metodologias implica numa postura criativa e autônoma construída na formação do profissional, portanto, não pode prescindir da participação ativa do licenciando. Novos modos de trabalhar o ensino de História implicam na clareza conceitual que vai marcar a maneira de se produzir o conhecimento e aplicar metodologias. “O que se ensina (conteúdo) e como se ensina (metodologia de ensino) se encontram articulados e mediados por uma concepção de História que reflete uma certa concepção de mundo.” 1 A metodologia é o caminho a ser seguido para se chegar ao universo da ciência, do conhecimento. O significado do termo associa, portanto, método e conhecimento como se constituíssem um a gênese do outro. No âmbito da educação podemos afirmar que metodologia seria “um conjunto de pressupostos teóricos cuja aplicação mediatiza a atuação educacional de uma perspectiva científica.2 Criar novas metodologias, assim como, novos espaços educativos, implica, conseqüentemente, na capacidade de saber aplicá-los, considerando as concepções teóricas que os gestaram. Nesta medida, acrescenta-se que cursos meteóricos de disciplinas pedagógicas eliminam a concepção licenciando/pesquisador, desconhecendo que a formação docente articula ensino e pesquisa nos cursos de licenciatura. 1

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ANPUH.S22.047Espacos Nao Formais ensino de história

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  • ANPUH XXII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Joo Pessoa, 2003.

    USO DOS ESPAOS EDUCATIVOS NO-FORMAIS E A FORMAO DO PROFESSOR DE HISTRIA Ana Maria de Almeida Santiago

    (UERJ) Helena Maria Marques Arajo (UERJ/PUC/UniverCidade)

    Introduo

    Esta comunicao tem por objetivo apresentar uma das linha de pesquisa do Laboratrio de Pesquisas e

    Prticas de Ensino (LPPE) do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas (IFCH) da Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro em desenvolvimento, que relaciona memria, identidade e formao de professor.

    O Projeto USO DOS ESPAOS EDUCATIVOS NO-FORMAIS E A FORMAO DO PROFESSOR DE

    HISTRIA, no contexto das atividades do LPPE, articula-se com a nova LDB, os Parmetros Curriculares Nacionais de

    Ensino Fundamental e Mdio e as novas Diretrizes Curriculares para Formao de Professores; consolida a articulao

    entre ensino e pesquisa nos cursos de licenciatura; insere a utilizao dos espaos educativos alternativos no horizonte

    universitrio e pedaggico e fundamenta, no plano terico-metodolgico, o trabalho de entendimento e preservao da

    memria scio-histrica, elemento essencial da constituio da identidade de uma comunidade .

    Insere-se entre as preocupaes do projeto, o estabelecimento de uma contrapartida da Universidade para com

    a sociedade brasileira. Essa contrapartida ser possvel atravs da divulgao em diferentes meios de comunicao da

    produo do projeto, viabilizando o acesso dos professores de Ensino Bsico ao material terico e metodolgico

    elaborado.

    Pressupostos tericos e desenvolvimento

    O professor de Ensino Bsico no aplica, na prtica, apenas, uma transposio didtica do conhecimento

    acadmico para o conhecimento das disciplinas escolares. Entende-se, portanto, que o conhecimento escolar numa

    perspectiva de educao emancipatria se configura como um texto aberto que passa a se constituir no processo de

    participao de alunos e professores.

    A construo de novas metodologias implica numa postura criativa e autnoma construda na formao do

    profissional, portanto, no pode prescindir da participao ativa do licenciando.

    Novos modos de trabalhar o ensino de Histria implicam na clareza conceitual que vai marcar a maneira de se

    produzir o conhecimento e aplicar metodologias.

    O que se ensina (contedo) e como se ensina (metodologia de ensino) se encontram articulados e mediados por uma concepo de Histria que reflete uma certa concepo de mundo.1

    A metodologia o caminho a ser seguido para se chegar ao universo da cincia, do conhecimento. O

    significado do termo associa, portanto, mtodo e conhecimento como se constitussem um a gnese do outro. No mbito

    da educao podemos afirmar que metodologia seria um conjunto de pressupostos tericos cuja aplicao mediatiza a

    atuao educacional de uma perspectiva cientfica.2

    Criar novas metodologias, assim como, novos espaos educativos, implica, conseqentemente, na capacidade

    de saber aplic-los, considerando as concepes tericas que os gestaram. Nesta medida, acrescenta-se que cursos

    metericos de disciplinas pedaggicas eliminam a concepo licenciando/pesquisador, desconhecendo que a formao

    docente articula ensino e pesquisa nos cursos de licenciatura.

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  • ANPUH XXII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Joo Pessoa, 2003.

    nesse contexto que se inserem, dentre as linhas de investigao do Laboratrio de Pesquisa e Prticas de

    Ensino do IFCH, aquelas inerentes s metodologias utilizadas no Ensino Bsico e Superior, a qual esse projeto se filia.

    Na perspectiva dos Estudos Culturais, segundo Tomaz Tadeu da Silva, a cultura pedaggica e a pedagogia

    cultural. Diversos programas de televiso, mesmo que no tenham o objetivo explcito de ensinar, educam. Por outro

    lado, toda a pedagogia est inserida num contexto histrico e cultural. Todo conhecimento se constri, portanto, num

    sistema de significados.

    Tal como a educao, as outras instncias culturais tambm so pedaggicas, tambm tm uma pedagogia, tambm ensinam alguma coisa. Tanto a educao quanto a cultura em geral esto envolvidas em processos de transformao da identidade e da subjetividade.3

    A escola no o nico lugar de conhecimento e, portanto, de transformao de subjetividades, como nos afirma

    o autor. Existem outros espaos de saber espaos no-formais de educao que tambm educam, como museus,

    arquivos, programas de televiso e/ou rdio (educativos ou apenas de lazer), filmes, peas de teatro, msicas, espaos

    de exposies.

    Os museus, arquivos, locais de exposies e outros lugares de memria4 possuem cultura prpria, ritos e cdigos

    especficos. Por outro lado, as escolas apresentam universos particulares com lgica prpria. Faz-se necessrio a busca

    de caminhos para a construo de uma pedagogia de museus como nos afirma Marandino.5

    Vrios motivos levam os professores a buscar os espaos educativos no-formais como lugares alternativos de

    aprendizagem. Dentre tais objetivos estariam a apresentao interdisciplinar dos temas, a interao com o cotidiano dos

    estudantes e, por fim, a possibilidade de ampliao cultural proporcionada pela visita. Assim, as visitas teriam o

    objetivo de fazer uma alfabetizao cientfica do cidado. Para isso trabalha-se com elementos de relevncia social que

    informam os indivduos e os conscientizam de problemas poltico-sociais.

    Nas ltimas dcadas, a questo educacional passa a ser um dos alicerces dessa nova museologia. Crescem

    pesquisas que analisam o processo de ensino ou divulgam o conhecimento nesses espaos, na perspectiva dos estudos

    sobre transposio didtica ou museogrfica.

    A participatividade e a interatividade dos museus de cincia e tcnica estenderam seus tentculos a museus

    como os de histria, de arqueologia, de etnografia e de cincias naturais, atravs, sobretudo, do advento de novas

    tecnologias. A base filosfica dessas mudanas reside na democratizao do acesso ao saber que esto depositados

    nos museus.

    A escola deve permitir a influncia desses espaos educativos alternativos, atravs das visitas pedaggicas e das

    aes de parcerias. A preservao da memria torna-se fundamental na ampliao de vivncias pedaggicas

    diferenciadas para nossos alunos e alunas.

    Faz-se necessrio desvelar o horizonte universitrio e pedaggico para a utilizao dos espaos educativos

    alternativos. Assim sendo, entendemos ser necessrio uma ateno especial formao inicial dos professores.

    , nesse sentido, que entendemos que se deva aproveitar o preconizado pelas novas Diretrizes Curriculares

    para Formao de Professores, particularmente a partir da ampliao da carga horria das prticas de ensino e estgio,

    assim como, da diversificao dos campos de estgio curricular para os espaos educativos no-formais.

    claro que a escola continua sendo o cerne do estgio, unindo teoria-prtica na formao docente; porm, o

    aprendizado sobre como utilizar outros espaos educativos, alm da escola, na sociedade contempornea,

    fundamental. Desta forma, em tais visitas pedaggicas seriam oferecidas aos nossos alunos e alunas diferentes leituras

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  • ANPUH XXII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Joo Pessoa, 2003.

    da cincia e do mundo. essencial, cada vez mais, a parceria dos museus com as universidades, secretarias municipais

    e estaduais para a realizao de cursos de formao de professores em todos os nveis.

    Consideramos que muito importante implantao de pesquisas sobre a relao museus/espaos culturais e

    escola, pois esses estudos daro subsdios maiores aos programas educativos e culturais desenvolvidos nessas

    instituies. Atravs desse projeto, procuramos inserir a reflexo sobre essa relao j no incio do processo de

    formao do docente, durante a graduao.

    Educar-se , essencialmente, um ato poltico. Nesse sentido, o papel da escola fundamental na medida em

    que o processo de organizao do saber escolar no seja apenas baseado na extenso do conhecimento, mas numa

    proposta poltica consciente. Como diz Paulo Freire, a Histria precisa ser vivida como possibilidade tal entendimento

    determinar a priorizao tambm consciente de valores e de contedos a serem ensinados, assim como, da

    metodologia a ser aplicada.6

    Precisamos de um ensino-aprendizagem cujo foco esteja na tica dos indivduos para uma sociedade

    efetivamente democrtica, para a incorporao da condio de cidado e para a atuao no social, o que exige,

    necessariamente, que trabalhemos com a questo da identidade.

    Para trabalhar a constituio da cidadania, se faz necessrio orientar a nossa ao para o entendimento e

    preservao da memria scio-histrica. A identidade de uma comunidade e a legitimidade em relao a determinados

    aspectos que nela podem vigorar esto alicerados na recordao histrica, na memria. Somos o que construmos

    atravs de nossas relaes pessoais, nossas escolhas, nossos atos ... nossa histria! Somos tambm o que projetamos

    destas vivncias a cada etapa de nossas vidas, e, medida que o tempo passa, revisitamos o passado e reorganizamos

    nossa memria.

    Em conseqncia disso, as sociedades e, em especial, o poder pblico sempre se preocupou em criar lugares de

    memria.7 A memria, especialmente a coletiva, instrumento e objeto de poder. O esquecimento, tanto quanto a

    lembrana, constitutivo da memria, pois o que se lembra e o que se esquece scio-historicamente determinado.

    Assim como a Histria continuamente reescrita atravs do tempo, nossa memria , ininterruptamente, reinventada.

    preciso revitalizar o nosso passado com o objetivo de construir uma identidade libertadora. Como nos fala Le Goff :

    A memria, onde cresce a histria, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memria coletiva sirva para a libertao e no para a servido dos homens.8

    A preocupao central do Ensino Bsico , portanto, contribuir para o indivduo se formar enquanto cidado,

    para alm da cidadania do direito. A incluso dos espaos educativos no-formais na prtica pedaggica dos docentes

    pode contribuir significativamente para esse objetivo central, pois permite o desenvolvimento de uma abordagem

    conceitual, identifica e explora os lugares de memria da sociedade, estimula a construo da identidade pelo aluno. O

    projeto insere essas questes na agenda de formao docente atravs da pesquisa acadmica e do pensar metodolgico

    voltado para o ensino.

    So, portanto, objetivos do Projeto:

    1. Promover uma articulao entre o ensino e a pesquisa oferecendo ao licenciando e aos docentes das redes

    pblicas e privadas do Estado capacitao terico-metodolgica para o desempenho do seu ofcio;

    2. Estreitar laos entre as prticas curriculares nos cursos de formao de professores e os lugares de

    preservao da memria;

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  • ANPUH XXII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Joo Pessoa, 2003.

    3. Utilizar os espaos educativos no-formais como campos de pesquisa, de estgio curricular na formao

    inicial e de prtica pedaggica dos professores de Histria;

    4. Articular o saber no mbito da rea de humanidades com o saber escolar;

    5. Possibilitar a compreenso da importncia da preservao da memria, do sentido do patrimnio histrico,

    da ligao do conhecimento com a cidadania e da aliana do pensamento com a expanso da criatividade;

    6. Desenvolver o debate em torno da interdisciplinaridade, seus aspectos didticos e formas de aplicao

    crtica do dilogo entre as cincias humanas, a tica e a filosofia;

    7. Divulgar para sociedade os resultados obtidos nessa linha de pesquisa, oferecendo mltiplas formas de

    acesso ao material terico-metodolgico produzido.

    A implementao do projeto se far atravs de seis etapas:

    1. Estabelecimento de critrios para a seleo dos espaos educativos no-formais no municpio do Rio de

    Janeiro que sero trabalhados;

    2. Seleo dos espaos educativos no-formais no municpio do Rio de Janeiro que sero trabalhados na

    primeira etapa do projeto;

    3. Anlise bibliogrfica e terica sobre espaos educativos no-formais, memria e identidade;

    4. Elaborao do quadro terico-metodolgico para a construo de roteiros e oficinas pedaggicas;

    5. Construo de roteiros e oficinas pedaggicas para a utilizao dos espaos educativos no-formais

    selecionados;

    6. Divulgao do material terico e pedaggico construdo para os professores da Educao Bsica.

    Concluso

    Para a construo da cidadania necessrio acionar no indivduo um olhar crtico sobre a sociedade em que

    vive. Tal atitude exige, constantemente, uma viso integrada, capaz de investigar as relaes interpessoais, as idias

    decorrentes dessas relaes, o percurso histrico do grupo social e a maneira como todo este universo , continuamente,

    reconstrudo. necessrio resgatar a memria que se fez decorrente das interaes de todos os sujeitos histricos.

    Somente na interao, na ao, os sujeitos vo constituindo a identidade coletiva.

    Para a concretizao dessa prtica pedaggica, o docente precisa se despojar de medos, fragilidades e mitos.

    essencial que atuemos como co-participantes e no como somente produtores do conhecimento. primordial que nos

    espaos educativos formais ou no formais redefinamos o papel do docente e desenvolvamos aes de aprendizado

    mais significativas, possibilitando o resgate da escola enquanto lugar de aquisio de saberes interdisciplinares e

    contextualizados para o aluno/cidado.

    Sendo assim, atravs dessa linha de pesquisa pretendemos estreitar laos entre o Ensino Bsico e a Formao

    do Professor de Histria, a partir da reflexo e pesquisa sobre o uso dos espaos de educao no-formais nos currculos

    escolares e prticas pedaggicas.

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  • ANPUH XXII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Joo Pessoa, 2003.

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    Professora Assistente do CAp e do IFCH/UERJ. Professora Assistente do CAp e do IFCH/UERJ, Professora do Departamento de Educao da PUC/RJ e Professora Assistente da Escola de Educao da UniverCidade. 1 BASSO, Itacy Salgado. As concepes de Histria como mediadoras da prtica pedaggica do professor de Histria.

    In: DAVIES, Nicholas (org.). Para alm dos contedos no ensino de Histria. Niteri, EdUFF, 2000. p. 45. 2 MENANDRO, Heloisa F.. Vises sobre um velho tema: o ensino de histria. In: DAVIES, Nicholas (org.). Para alm

    dos contedos no ensino de Histria. Niteri, EdUFF, 2000. p. 62. 3 SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introduo as teorias do currculo. Belo Horizonte:

    Autntica, 1999, p.139 4 LE GOFF, Jacques. Histria e memria. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1992. p. 477. 5 MARANDINO, Martha. Museu e escola: parceiros na educao cientfica do cidado. In: CANDAU, Vera (org.).

    Reinventar a escola. Petrpolis: Vozes, 2000. p. 189-220. 6 FREIRE, Paulo.Pedagogia da indignao: cartas pedaggicas e outros escritos. So Paulo: Ed. da UNESP, 2000. p. 57. 7 Lugar de memria: onde se pode por associaes dispor os objetos da memria. Cf definio em LE GOFF,

    Jacques. Histria e .... p. 440-1. 8 LE GOFF, Jacques. Histria e .... p. 477.