ufes universidade federal do espÍrito santo...

186
UFES UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PPGECO Programa de Pós-Graduação em Economia KARINE DAIANE ZINGLER SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: FORMULAÇÕES DE POLÍTICAS NO ÂMBITO DA OCDE E DO BRASIL Vitória 2012

Upload: trinhkien

Post on 30-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UFES – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PPGECO – Programa de Pós-Graduação em Economia

KARINE DAIANE ZINGLER

SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: FORMULAÇÕES DE POLÍTICAS NO

ÂMBITO DA OCDE E DO BRASIL

Vitória

2012

2

KARINE DAIANE ZINGLER

SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: FORMULAÇÕES DE POLÍTICAS NO

ÂMBITO DA OCDE E DO BRASIL

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Economia da

Universidade Federal do Espírito Santo como

parte dos requisitos para obtenção do Título de

Mestre em Economia.

Orientador: Arlindo Villaschi Filho

Vitória

2012

3

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Zingler, Karine Daiane, 1987- Z77s Sistemas nacionais de inovação : formulações de políticas

no âmbito da OCDE e do Brasil / Karine Daiane Zingler. – 2012. 186 f. : il. Orientador: Arlindo Villaschi Filho. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade

Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas.

1. Inovações tecnológicas - Brasil. 2. Capacidade de

aprendizagem. 3. Aprendizagem. 4. Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. I. Villaschi Filho, Arlindo. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas. III. Título.

CDU: 330

4

AGRADECIMENTOS

Esta dissertação é fruto de muito trabalho e esforço, certas abdicações, mas que resultaram em

um grande desejo realizado. Nesta caminhada não foram poucas as dificuldades, por isso agradeço

imensamente, e deixo aqui registrada, a colaboração, carinho, amizade e incentivo de pessoas muito

especiais e que foram fundamentais para que eu vencesse os obstáculos que se colocaram em meu

caminho.

Inicialmente tenho que agradecer minha família, meus pais e minha irmã Katiele, pelo carinho

que sempre me deram. Vocês são minha base, minha sustentação e meu objetivo é sempre trazer a

felicidade a vocês. E que mesmo na distância que nos separou nestes dois anos nunca perdemos nossa

cumplicidade e amizade.

Também tenho que agradecer do fundo do coração aos amigos e companheiros de caminhada

que tive em Vitória. Vocês foram minha família também, provavelmente não teria chegado ao final

sem a amizade, o carinho e o apoio de vocês. Nesses dois anos em Vitória tive a sorte de conhecer

pessoas muito especiais que tenho certeza farão parte de toda a minha vida. Agradeço o carinho dos

amigos e colegas das turmas que ingressaram no mestrado em 2009 e 2011, mas principalmente aos

grandes amigos e colegas que fizeram parte da mesma caminhada, ingressantes em 2010. Tati,

primeira amizade e com certeza duradoura também daqui em diante; Cleber grande amigo, que sempre

me incentivou em momentos de fraquezas; Gabriel sempre amigo, Rodolfo e as discussões nas

salinhas da UFES sobre os rumos da dissertação e o futuro incerto; Luís Eugênio, Magno, Daciele,

Rafaela, Sandro, Ricardo, Felipes, grandes amigos, desejo muito sucesso na vida de todos vocês.

Agradeço a importância fundamental do professor Arlindo, que com paciência e sabedoria

guiou meus caminhos, para chegar ao resultado desta dissertação. Também agradeço ao professor

Ednilson pelos sábios conselhos e pela leitura do trabalho tanto na fase de qualificação como na

defesa. E ao professor Fábio Scatolin pela disponibilidade em ler o trabalho e participar da banca e

pelas suas importantes considerações.

Agradeço também aos demais professores do mestrado, pelos ensinamentos, e a secretaria pelo

trabalho de apoio. Agradeço à CAPES pelo auxílio durante o curso, através da bolsa.

E finalmente agradeço aos amigos e professores, meus companheiros da graduação em

economia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), pois foi

pelo incentivo de vocês que ingressei no mestrado e hoje me torno mestre em economia. Obrigada às

minhas grandes amigas e com as quais fui ausente nestes dois anos, Juliane, Denise e Débora. E aos

meus mestres da graduação, agradeço a todos, mas de modo especial aos professores Argemiro L.

Brum e Roberto Macagnan pelo estímulo e força.

MUITO OBRIGADA!

5

RESUMO

Esta dissertação tem o objetivo de analisar como o Brasil tem colocado em sua agenda as

políticas de ciência, tecnologia e inovação em uma abordagem sistêmica e interativa. Utiliza-

se da abordagem teórica de sistemas nacionais de inovação, na tradição de Aalborg, a qual

ressalta: políticas sistêmicas conduzidas pelo Estado-Nação, processos de aprendizagem

advindos de interações entre agentes, e é pautado em capacidades de aprendizagem

idiossincráticas às diferentes nações. Esta abordagem encontrou espaço para se desenvolver

teórica e empiricamente na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE), a partir das décadas de 1980/90, que atualmente é referência de pesquisa no tema.

Nesta dissertação, demonstra-se como o Brasil, ao longo de seu processo de desenvolvimento

econômico baseado na industrialização, 1930 a 2000, tem deixado de lado políticas que

priorizam a interação entre agentes em um sistema nacional de ciência, tecnologia, inovação e

aprendizagem, o que foge das orientações fornecidas pela OCDE. Também se avalia os atuais

planos, os quais tentam se engajar com as orientações de tal organismo internacional.

Palavras-chave: Inovações Tecnológicas. Brasil. Capacidade de Aprendizagem.

Aprendizagem. Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

6

ABSTRACT

This thesis aims to analyse how Brazil has placed on its agenda the politics of science,

technology and innovation in a systemic and interactive approach. Here it is used the

theoretical approach of national innovation systems, in Aalborg tradition, which emphasizes:

systemic policies conducted by the Nation-State, learning processes arising from interactions

between agents, and is guided in idiosyncratic capacity learning to the different nations. This

approach has found space to develop theoretically and empirically in the Organization for

Economic Co-operation and Development (OECD), from 1980/90 decades, which is currently

research reference on the subject. In this thesis, it is demonstrated how Brazil, over its process

of economic development based on industrialization, from 1930 to 2000, has excluded

policies that emphasize the interaction among agents in a national system of science,

technology, innovation and learning, what is beyond the guidelines provided by the OECD. It

is also evaluated the current plans, which attempt to engage with the guidelines of this

international organization.

Keywords: Technological Innovation. Brazil. Learning Capabilities. Learning. Organization

for Economic Co-operation and Development.

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Países-membros da OCDE e seu respectivo ano de adesão ..................................... 52

Figura 2 Projetos em Ciência, Tecnologia e Inovação vinculados ao DSTI - OCDE ............. 57

Figura 3 Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia como percentual do total de emprego

em alguns países da OCDE, para os anos de 2004 e 2008. .................................................... 71

Figura 4 Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia como percentual do total de emprego

em alguns países da OCDE, para os anos de 2007 e 2008. .................................................... 73

Figura 5 Despesa interna bruta em P&D como percentual do PIB para todos os países-

membros da OCDE, entre 2005 e 2009 ................................................................................ 74

Figura 6 Despesa Interna Bruta em P&D como percentual do PIB, por país (1998 e 2008) ... 74

Figura 7 Despesa Interna Bruta em P&D por fonte de financiamento, como percentual do total

nacional, para o ano de 2007. ............................................................................................... 75

Figura 8 Firmas envolvidas em atividades relacionadas com treinamento, por tamanho, entre

2004 e 2006, como percentual de todas as firmas inovadoras. .............................................. 76

Figura 9 Empresas que colaboram em atividades inovadoras, entre 2004 e 2006, como

porcentagem do total de firmas............................................................................................. 77

Figura 10 Principais prioridades nacionais em política de pesquisa e inovação, 2010. .......... 81

Figura 11 História dos Programas de P&D governamentais. ................................................. 90

Figura 12 Percentual de Empresas que Inovaram e não Inovaram, segundo as edições da

Pintec. ................................................................................................................................ 126

Figura 13 Total de gasto em P&D mensurado pelas edições da Pintec, conforme tipo de gasto.

.......................................................................................................................................... 127

Figura 14 Empresas, total e as que implementaram inovações e/ou projetos, segundo faixas de

pessoal ocupado, nas diferentes edições da Pintec. ............................................................. 128

Figura 15 PACTI integrado com a Política de Estado ......................................................... 135

Figura 16 Prioridades Estratégicas e Respectivas Principais Linhas de Ação da PACTI. .... 136

Figura 17 Recursos Previstos para o PACTI para cada Prioridade Estratégica (2007 a 2010).

.......................................................................................................................................... 136

Figura 18 Distribuição de INCT por área temática.............................................................. 141

Figura 19 Os programas executados no PACTI para cada uma das linhas de ação (2007 a

2010) ................................................................................................................................. 141

Figura 20 Pesquisadores e pessoal de apoio envolvidos em pesquisa e desenvolvimento, em

número de pessoas, Brasil, de 2000 a 2010. ........................................................................ 146

Figura 21 Dispêndio nacional em ciência e tecnologia, como percentual do PIB, por setor

institucional, Brasil, entre 2000 e 2010. .............................................................................. 147

Figura 22 Metas do Plano Brasil Maior .............................................................................. 148

Figura 23 Mapa Estratégico da ENCTI 2012-2015 ............................................................. 151

8

LISTA DE SIGLAS

ABDI – Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial

APL – Arranjo Produtivo Local

BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

C&T – Ciência e Tecnologia

C,T&I – Ciência, Tecnologia e Inovação

CAMEX – Câmara de Comércio Exterior

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

CCFS – Comitê de Coordenação de Fundos Setoriais

CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe

CERFLOR – Programa Brasileiro de Certificação Florestal

CESP – Companhia Energética do Estado de São Paulo

CGIN – Coordenação Geral de Indicadores

CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico

CIS – Programa Community Innovation Survey

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Confap – Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa

Consecti – Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia

e Inovação

COPAG – Comissão do Plano de Ação do Governo

CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás

CPT – Centro de Pesquisa e Tecnologia

CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

CSN – Companhia Siderúrgica Nacional

CTA – Centro Tecnológico Espacial

9

CT-Petro – Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor do Petróleo e do Gás Natural

CVRD – Companhia Vale do Rio Doce

DISKO – Danish System of Innovation in a Comparative Perspective

DSR – Directorate for Science Research

DSTI – Directorate for Science, Technology and Industry

EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial

ENCTI – Estratégia Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação

EUROSTAT – European Statistics

FAP – Fundação de Amparo à Pesquisa

FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

FNDCT – Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

ICT – Instituto de Ciência e Tecnologia

IED – Investimento Externo Direto

INCT – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia

Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial

INPM – Instituto de Pesos e Medidas

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

IRPJ – Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica

ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica

JK – Juscelino Kubstichek

KIST – Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia

10

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MIC – Ministério da Indústria e Comércio

MiniCom – Ministério das Telecomunicações

MODERMAQ – Modernização do Parque Industrial Nacional

MONIT – Monitoring and Implementing National Innovation Policies

MOST – Ministério da Ciência e Tecnologia

MTE-RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego-Relatório Anual de Informação Sociais

NIS – National Innovation Systems

NPI – Nova Política Industrial

NSTC – Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia

OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development

OECE – Organização Europeia de Cooperação Econômica

OEPAs – Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

P&D&I – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

PAC – Plano de Aceleração do Crescimento

PACST – Comitê de Aconselhamento Presidencial para Ciência Tecnologia

PACTI – Plano de Ação em Ciência Tecnologia e Inovação

PBPQ – Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade

PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo

PED – Plano Estratégico de Desenvolvimento

PEIEX – Projeto de Extensão Industrial Exportadora

PIB – Produto Interno Bruto

11

Pintec – Pesquisa de Inovação Tecnológica

PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

Prime – Primeira empresa Inovadora

RECOF – Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado

s.n.i. – Sistema Nacional de Inovação

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SEPLAN – Secretaria de Planejamento

SESI – Serviço Social da Indústria

SIBRATEC – Sistema Brasileiro de Tecnologia

SITRA - Fundo Nacional Finlandês para a Pesquisa e Desenvolvimento

SNDCT – Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

SNIB – Sistema Nacional de Inovação Brasileiro

SNPA – Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária

SNT – Sistema Nacional de Telecomunicações

STI – Secretaria de Tecnologia Industrial

TEKES – Agência Nacional de Tecnologia

Telebrás – Telecomunicações Brasileiras

TEP- Technology Economy Programme

TIC – Tecnologias da Informação e da Comunicação

UE – União Europeia

12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

1 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: ABORDAGEM TEÓRICA ......................... 19

1.1 – Abordagem Teórica Neo-schumpeteriana de Sistemas Nacionais de Inovação ......... 22

1.1.1 – As diferentes visões e metodologias em sistemas nacionais de inovação .......... 23

1.1.2 – A Abordagem de s.n.i. de Aalborg ................................................................... 25 1.1.3 – A Abordagem de s.n.i. de Aalborg e os Países em Desenvolvimento ............... 32

1.1.4 – Alternativas à Aalborg para análise de s.n.i em países menos desenvolvidos.... 36

1.2 – Teoria Neo-Institucionalista..................................................................................... 40

1.3 – Convergência Teórica em Sistemas Nacionais de Inovação: Escola de Aalborg e

Teoria Neo-Institucionalista ............................................................................................. 44

2 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: O CASO DA OCDE ................................... 49

2.1 – A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico................................ 50

2.2 – Recomendações da OCDE em Políticas de Sistemas Nacionais de Inovação ............ 53

2.2.1 – A primeira geração de pesquisa em inovações na OCDE ................................. 54 2.2.2 – Projeto NIS ...................................................................................................... 58

2.2.3 – Projeto MONIT ................................................................................................ 62

2.3 - Principais orientações e contribuições políticas da OCDE em matéria de s.n.i. ......... 66

2.3.1 – Manual Frascati .............................................................................................. 66

2.3.2 – Manual Oslo .................................................................................................... 68

2.4 –Situação atual da OCDE ........................................................................................... 71

2.4.1 – Alguns dados dos países-membros .................................................................. 71

2.4.2 – Panorama atual das políticas em s.n.i. dos países da OCDE ............................. 78

2.5 – Casos específicos de s.n.i. na OCDE ........................................................................ 82

2.5.1 – O Sistema Nacional de Inovação da Finlândia ................................................. 83

2.5.2 – O Sistema Nacional de Inovação da Coreia ..................................................... 88

3 HISTÓRICO DO SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO BRASILEIRO ..................... 92

3.1 – A Política Científica e Tecnológica de 1930 a 1964 ................................................. 92

3.2 – A Política Científica e Tecnológica do Regime Militar ............................................ 96

3.3 – A Política Científica e Tecnológica da Nova República ......................................... 106

3.4 – A Política Científica e Tecnológica da Década de 1990 ......................................... 110

4 O ATUAL SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO BRASILEIRO ............................. 116

4.1 – A Experiência Acumulada e a Reconstituição do SNIB ......................................... 116

4.2 – O Marco Regulatório ............................................................................................. 118

4.3 – A Mensuração da Inovação no Brasil: a Pintec ...................................................... 121

4.4 – Os Principais Planos .............................................................................................. 129

4.4.1 – PITCE ........................................................................................................... 129 4.4.2 – A PDP e o PACTI ......................................................................................... 134

4.4.3 –Estratégia Nacional de C,T&I e o Plano Brasil Maior ..................................... 145

4.5 – Aprendizagem Institucional e casos de sucesso do SNIB ....................................... 153

4.5.1 – Fundos Setoriais ............................................................................................ 155

4.5.2 - Embraer ......................................................................................................... 158 4.5.3 – Algumas empresas privadas: os casos de Weg, Embraco e Aracruz-Fibria ..... 161

4.5.4 - Embrapa ........................................................................................................ 163

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 167

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 177

13

INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem como objetivo analisar o sistema nacional de inovação (s.n.i.)

brasileiro, a partir das contribuições teóricas da abordagem de s.n.i. na tradição de Aalborg e

suas ligações com a teoria neo-institucionalista (especialmente as contribuição de Hodgson,

Samuels e do velho institucionalismo vebleniano), conjuntamente com as contribuições

teóricas e empíricas desenvolvidas em trabalhos da Organização de Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A abordagem teórica de sistemas nacionais de inovação tem suas bases no processo

que levou a formação da corrente teórica neo-schumpeteriana, da qual faz parte. É a partir de

meados da década de 1980 que este novo corpo teórico da ciência econômica, que vinha se

formando desde finais dos anos 1970, ganha força e coesão.

A principal crítica dos autores deste grupo dizia respeito à negligência que as demais

correntes tinham em relação à mudança técnica em suas análises. O fato é que até a década de

1930 foram as teorias marginalistas neoclássicas que imperavam, as quais desconsideravam o

papel desequilibrador da mudança tecnológica em suas análises. E em seu lugar ganhou força

o keynesianismo, que também não considerava o importante papel das inovações no

desenvolvimento econômico e social.

Mas com a crise, e problemas de endividamento público por quais muitos países

passaram na década de 1970, a agenda keynesiana perde força. Uma vez que seu ―receituário‖

sobre o papel do governo assegurar/manter a demanda agregada perde capacidade de

responder à crise do sistema.1 Então, na visão de muitos teóricos, a ciência econômica não

era capaz de fornecer ao ―mundo real‖ respostas teóricas convincentes.

1 Conforme Elaborado em Dosi et. al. (1988)

14

Nesse período, surgiram novas abordagens que se colocavam como alternativas a essas

teorias que eram prevalecentes na economia, mas que não eram suficientes para explicar os

fatos econômicos reais. Entre estas abordagens, e novas linhas teóricas, surgiram alguns

teóricos que se reportavam às contribuições de Joseph Schumpeter, e a partir delas

formularam novas visões para a evolução das economias centradas na mudança técnica.

Até a década de 1980 tais abordagens que se reportavam à Schumpeter, então relegado

aos estudiosos de estratégias em cursos de gestão, tinham grande dificuldade em se apresentar

como um corpo teórico conciso. Haviam, espalhados pela Europa e em parte dos Estados

Unidos, autores que utilizavam elementos teóricos schumpeterianos, especialmente em

relação à importância das inovações, mas que não conseguiam se engajar em um único tema

de pesquisa. Havia congruência entre os grupos, mas não existia a união e discussão dos

mesmos em torno de seus temas comuns.

Em 1988 esse panorama se modifica, quando, a partir dos esforços coletivos, mas

liderado por Christopher Freeman do SPRU-Sussex surge a obra que condensa todas estas

abordagens. O livro Technical Change and Economic Theory, DOSI et. al. (1988), se torna o

referencial para a teoria neo-schumpeteriana, a qual se forma enquanto corpo teórico conciso

a partir desta obra.

Entre tais abordagens destaca-se nesta dissertação a visão de sistemas nacionais de

inovação da escola de Aalborg, que surge em meados da década de 1980 na Dinamarca no

IKE group-Aalborg, cujo principal autor é Bengt-Åke Lundvall, mas que conta com

importantes contribuições de outros autores, inclusive de Christopher Freeman, especialmente

na obra seminal organizada por Freeman e Lundvall sobre pequenos países (Small Countries

Facing the Technological Revolution, 1988).

No caso, se escolheu esta abordagem em detrimento das demais2, pois se compartilha

do pensamento de que atualmente as economias são cada vez mais guiadas pelo conhecimento

e pela necessidade de promoverem inovações. Estas são vistas como fenômenos que se

formam através da associação entre agentes, os quais têm a necessidade de serem conduzidos

2 Em Dosi et. al. (1988) estão presentes as abordagens teóricas que compõem a teoria neoschumpeteriana, para

além da abordagem de sistemas nacionais de inovação da escola da Aalborg, utilizada como referencial teórico

desta dissertação. Entre elas estão: abordagens como a de Richard Nelson e Sidney Winter que depositam

importância maior à análise das estratégias das firmas em uma perspectiva evolucionária; a análise de

Christopher Freeman e Carlota Perez em relação às mudanças de paradigmas técnicos econômicos; e a

abordagem de Giovanni Dosi que trata das trajetórias tecnológicas.

15

por um ator neutro e ‗superior‘. Este, na figura do Estado-nação, tem a incumbência de formar

um sistema nacional voltado para inovações e aprendizagem, desenvolvendo mecanismos que

afastem instituições que bloqueiam processos interativos e/ou equalizar o poder entre os

agentes.

A abordagem de sistemas nacionais de inovação de Aalborg é essencialmente

sistêmica, interativa, pautada nas capacidades e em processos de aprendizagem. Uma visão

que enfatiza aspectos culturais e institucionais, e que por isso considera fundamental o papel

do Estado-Nação, pois a noção de instituição é eminentemente nacional, regiões e setores não

são autônomos em termos institucionais, ficam subjugados à institucionalidade em nível

nacional.

No caso da análise de políticas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, é

importante que se tenha elementos teóricos que demonstrem a importância do caráter

sistêmico das políticas. Historicamente foi isso que faltou ao Brasil, e o panorama atual de

disparidade tecnológica entre setores e regiões não é mais do que resultado de políticas que

colocaram setores e regiões como prioritários e relegaram os demais.

Na análise específica do caso brasileiro, se coloca a década de 1930 como ponto

inicial, pois é neste período que os esforços para promover a industrialização intensificam-se.

Substituía-se um modelo econômico pautado na produção de commodities voltadas à

exportação, para a produção interna de produtos industrializados anteriormente importados.

Mas essa substituição de modelo econômico encontrou dificuldades de se efetivar,

pois, a burguesia industrial, recém formada, não conseguiu que seus interesses se

sobressaíssem aos da oligarquia agroexportadora. Colocava-se um clima de divergência e

conflito sobre os planos de desenvolvimento, que ainda persiste.

É esta característica de conflito de interesses e de concepções diferenciadas de

desenvolvimento que acabam por bloquear processos de aprendizagem, que se constitui no

principal empecilho para que a concepção de s.n.i. seja aplicável a países em

desenvolvimento. Por isso, nesta dissertação se amplia tal conceito, engaja-se também a teoria

neo-institucionalista, porque se entende que as características que diferenciam países

desenvolvidos de países em desenvolvimento são essencialmente institucionais. Além disso,

se busca aporte de autores que trabalham a economia da inovação para países em

16

desenvolvimento, sobretudo Arocena e Sutz, e Viotti, base teórica da dissertação, formando o

primeiro capítulo.

Mas entendeu-se que este aporte teórico poderia ficar um tanto vago, haja vista a

generalidade do tema. Então, para demonstrar que as políticas de sistemas nacionais de

inovação também se desenvolveram empiricamente, se revisitou a história da pesquisa em

ciência, tecnologia e inovação, e o desenvolvimento do termo ―sistemas nacionais de

inovação‖ no âmbito da OCDE. Isso porque foi nessa organização que tal abordagem se

desenvolveu e ganhou além de aprofundamento teórico maior atenção à sua aplicabilidade em

forma de política pública. Por isso explorou-se os principais estudos e guias dessa instituição,

além de alguns dados estatísticos, e sua agenda atual em matéria de s.n.i. E, por fim, se

explorou as políticas que levaram dois de seus países-membros a tornarem-se destaques e

referências no tema, a Finlândia e a Coreia. Este é o segundo capítulo da dissertação.

Esses dois primeiros capítulos formaram o aporte teórico e indicativo de políticas

sobre os quais a dissertação tem suas bases e sobre os quais foram realizadas as análises dos

dois capítulos seguintes: as políticas de construção e fortalecimento do sistema nacional de

inovação brasileiro entre 1930 e 2000 e o sistema nacional de inovação brasileiro de 2000 até

os dias atuais.

A motivação para a escolha deste tema está relacionada com o fato de que o sistema

nacional de inovação brasileiro passou por diferentes fases desde 1930, quando se inicia o

processo industrializante, mas em todas têm sido privilegiados setores em detrimento de uma

abordagem sistêmica. Por isso se percebe setores e regiões que são tomadas como referência

em termos de desenvolvimento científico e tecnológico, enquanto que na nação como um todo

se observa um grande atraso em relação ao que acontece nos países mais desenvolvidos. Por

isso, se buscou aporte teórico dos sistemas nacionais de inovação de Aalborg, pois mesmo

que tal abordagem tenha dificuldade de aplicabilidade a países em desenvolvimento, é esta

que tem os melhores direcionamentos para a visão sistêmica e porque tem um foco importante

nos processos de aprendizagem.

Para tanto, utilizou-se basicamente de fontes bibliográficas e documentais. Usou-se

livros e artigos dos teóricos de Aalborg, especialmente Lundvall e Johnson, igualmente dos

neo-institucionalistas, principalmente Hodgson e Samuels, e reportes ao velho

17

institucionalismo de Veblen, bem como abordagens complementares, principalmente as de

Arocena e Sutz , e Viotti.

No segundo capítulo se utilizou de artigos e livros de autores que estudam as políticas

da OCDE, tais como Godin, Rip e Meulen. Bem como de muitos documentos da própria

organização, entre eles relatórios de pesquisa, os manuais (Oslo e Frascati), dados estatísticos,

que mostram o panorama histórico e atual das políticas de sistemas nacionais de inovação na

OCDE.

No terceiro capítulo se utilizou de livros e artigos que discutem a economia brasileira

entre as décadas de 1930 e 1990, bem como análises relativas ao sistema nacional de inovação

brasileiro e políticas de inovação no brasileiro, ressaltando as contribuições de Villlaschi,

Cassiolato e Lastres, Jaguaribe, entre outros.

Já no quarto capítulo, se utilizou da leitura para além daqueles autores que já

escreveram sobre o tema, do marco regulatório, os documentos e diretrizes das políticas

implementadas em C,T&I nos anos 2000, bem como de seus resultados. Também se utilizou

de dados da Pintec e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, análise de alguns casos

de sucessos em ciência, tecnologia, inovação e aprendizagem, citam-se: Embraer, Weg,

Embraco, Aracruz-Fibria, e Embrapa. Para análise de tais casos, utilizou-se de informações

em seus respectivos sites, e de artigos de autores que tenham escrito sobre as mesmas.

Por fim, nas considerações finais há a análise final com base nos dados e informações

colhidos na produção deste trabalho.

Dessa forma, entre as contribuições deste trabalho destaca-se seu amplo resgate das

políticas brasileiras de C,T&I e como estas, desde 1930, vêm relegando o enraizamento de

capacidades tecnológicas internas. Alia-se também o extenso resgate realizado nos inúmeros

relatórios de pesquisa e manuais da OCDE em matéria de s.n.i., e a relação destes com a

abordagem teórica de sistemas nacionais de inovação e teoria neo-institucionalista.

Este trabalho deve contribuir tanto para pesquisa daqueles que buscam maior

conhecimento, tanto sobre a abordagem teórica de sistemas nacionais de inovação na escola

de Aalborg e sua relação com a teoria institucionalista, bem como daqueles interessados na

aplicabilidade do termo, que por vezes parece difuso e abstrato.

18

Mas esta dissertação apresenta importantes lacunas, entre elas destaca-se que seu

aporte teórico sugere que informações qualitativas sobre processos inovativos e de

aprendizagem são mais importantes do que números e isso especialmente para países em

desenvolvimento. Mas não se utilizou de aplicação de questionários, entrevistas ou outra

metodologia afim que pudesse captar tais informações.

Inicialmente se pensou em realizar entrevistas com os principais autores brasileiros

que trabalham com a temática de sistemas nacionais de inovação no país, bem como de

pessoas ligadas à condução política da ciência tecnologia e inovação no Brasil, tal como

membros do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Agência Brasileira de

Desenvolvimento Industrial, Finep, entre outros. Ou ainda aprofundar estudos de casos tal

como Embraer, Embrapa, Petrobras ou outras empresas consolidadas pelo mercado como

sendo inovadoras. Ou realizar entrevistas em amostras de empresas para avaliar suas

dificuldades em implementar inovações. Provavelmente se alguma destas metodologias

tivesse sido adotada enriqueceria a contribuição que esta dissertação coloca à ciência

econômica e outras áreas que possam se interessar pelo tema.

Mas o tempo dedicado à dissertação propriamente dita, pouco mais de um ano, é

relativamente curto para realizar um trabalho que se aprofunde tanto teoricamente quanto

empiricamente, o que pode ser uma indicação para outros estudiosos que se interessarem pelo

tema, ou mesmo para ser aprofundado em uma tese de doutorado.

19

1 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: ABORDAGEM TEÓRICA

Freeman (1995) sugere que a abordagem de sistema nacional de inovação (s.n.i.) surge

a partir do conceito de sistema nacional de economia política, desenvolvido por Friedrich List

(1841), cujo foco de estudo estava na possibilidade dos povos germânicos ―ultrapassarem‖ a

Inglaterra em matéria de crescimento econômico.

A partir da leitura da obra de List (1987) realmente percebe-se a importância e a

congruência com a abordagem teórica que muitos anos depois seria formulada por autores

neo-schumpeterianos.

List desenvolveu sua principal obra no ponto da história do pensamento econômico

dominado pelas teorias clássicas, de Adam Smith e Jean-Baptiste Say. E é sobre essas, que

defendiam o livre comércio e a teoria dos valores3, que recaem suas mais duras críticas.

List (1987) defende a concepção da teoria das forças produtivas4 e o conceito base de

nação. São as políticas das nações – governadas por uma força unida e com poderio para tal,

abolidas as restrições internas, apoiadas na liberdade dos indivíduos, amparadas por um

arcabouço institucional e legislativo, consoantes em uma política exterior – que devem

incentivar a manufatura e a agricultura. E a partir destas replicar-se às demais atividades que

tendem a se beneficiar, tais como setores de transporte, construção naval e pesca.

3 Em contraponto à teoria até então dominante, dos Fisiocratas que defendiam que toda riqueza se

originaria da terra, Adam Smith defende que a riqueza e o valor das mercadorias é avaliado pela quantidade de

trabalho humano empregado para produzi-las. É fundamentalmente o trabalho que gera e agrega valor aos

produtos. (SMITH, 1996) 4 List (1987) afirma que a visão de Smith desconsidera elementos fundamentais para o desenvolvimento das nações, em sua teoria dos valores, já que leva em consideração basicamente o trabalho braçal na constituição

do valor das mercadorias e na riqueza das nações. Nessa visão atividades intelectuais, educação, aspectos

culturais, atividades legislativas, administrativas e comerciais não são relevantes para a produção de riqueza. Em

contraponto a esse conceito, List (1841), a partir da teoria das forças produtivas, defende que tais aspectos

negligenciados por Smith são fundamentais à geração de valor. E que é fundamental a ação de um governo

nacional para incentivá-las, sobretudo investindo em educação.

20

Para Freeman (1995), List defendia que os países em desenvolvimento deveriam se

empenhar em formular políticas que se preocupassem com as formas de aprendizagem sobre

novas tecnologias e como aplicá-las. E também que a ciência econômica não deveria ser

meramente interpretativa, mas sim preocupar-se em realizar o desenvolvimento econômico da

nação. Freeman destaca: “It was thanks to the advocacy of List and like-minded economists,

as well as to the long-established Prussian system, that Germany developed one of the best

technical education and training systems in the world.” (FREEMAN, 1995, p. 6).

List (1841) fornece uma interpretação dos sucessos e fracassos na busca da efetivação

de potências econômicas mundiais, ao passo que dentre os casos de insucessos a principal

característica comum entre as nações está a falta de união política e administrativa. E conclui:

Se alguém ainda não estiver convencido de que, por meio da diligência, da

habilidade e da economia, todo e qualquer ramo da indústria pode e deve

tornar-se lucrativo com o correr do tempo – que em qualquer nação já

avançada na agricultura e na civilização, utilizando um protecionismo

moderado, sua manufatura nascente, por mais defeituosos e caros que possam

ser, de início, seus produtos, pode, pela prática, pela experiência e pela

competição interna, prontamente igualar sob todos os aspectos a perfeição dos

produtos mais antigos de seus concorrentes estrangeiros; se alguém ignorar que o êxito de determinado ramo da indústria está em função do êxito de

vários outros setores; ou se alguém ignorar até onde um país pode desenvolver

suas forças produtivas, se cuidar para que cada geração sucessiva continue o

trabalho industrial a partir do ponto em que deixaram suas gerações anteriores

– todas estas pessoas devem primeiramente estudar a história da indústria

inglesa, antes de aventurar-se a elaborar sistemas teóricos, ou a aconselhar

estadistas práticos que têm em suas mãos o poder de promover a prosperidade

ou a infelicidade das nações (LIST, 1987, p. 33).

Claro que aqui há de se fazer grandes ressalvas à evolução dos sistemas de transporte,

comunicação, de comércio, legislações e tudo o mais que se alterou daquela época para os

dias atuais. Mas ainda assim tal passagem é importante, a partir da crítica às teorias que

desconsideram os processos de aprendizagem passados através das gerações, e a contribuição

de que em sua fase inicial é imprescindível a presença de um Estado que promova, fomente

tais capacidades. Já que este, ao contrário das firmas privadas, normalmente não almeja

imediatismo em lucros.

É o Estado-Nação, a partir de uma política nacional, que tem a capacidade de unir

agrupamentos e fornecer subsídios para a implementação de novas capacidades. E para isso

provavelmente uma medida importante deve ser o protecionismo alfandegário. Para List

(1841), essa política tem a função básica de proteger as capacidades nascentes da

21

concorrência das estrangeiras, que já possuem mais experiência e por isso podem fornecer

produtos similares a preços bem inferiores.

List (1987) defende que para estas nações o mais sensato é proteger sua indústria em

relação às estrangeiras, até a fase que se atinge supremacia nas relações de comércio. Quando

atingida essa fase, o mais sensato é retirar tais proteções, visando um comércio mais livre, de

modo que com a concorrência, dado que a indústria local estivesse em situação vantajosa,

aumentaria ainda o raio produtivo e também seu poder sobre as outras nações.

Para Freeman (1995), esse conceito de List (1841) constitui-se em uma das bases

teóricas da atual concepção de sistema nacional de inovação, sobretudo pela antecipação de

algumas características contemporâneas dessa abordagem, como o reconhecimento da

interdependência entre importação de tecnologia estrangeira e desenvolvimento de técnicas

nacionais. Ressaltava-se, e ainda o faz, a instalação de institutos de formação técnica (o caso

ressaltado por List é que a Alemanha deveria importar máquinas e ferramentas britânicas,

reverter a engenharia e, a partir disso, promover o treinamento de engenheiros alemães que

pudessem desenvolver produtos semelhantes aos britânicos) (FREEMAN, 1995).

Essa obra de List é uma crítica à teoria dominante na ciência econômica em sua época.

Crítica tal que de modo similar, em alguns temas, é desenvolvida um século e meio mais

tarde. Época em que surge, também na Europa, um grupo de estudiosos em economia,

descontentes com as respostas teóricas que eram dadas aos problemas do mundo real, e que

procurou alinhar esforços na busca por uma teoria que se apresentasse como alternativa à

teoria marginalista neoclássica, ao keynesianismo e também ao marxismo.

O esforço dessa nova corrente teórica é condensado na obra Technical Change and

Economic Theory (Dosi et. al. 1988), na qual existem diferentes enfoques teóricos. Há autores

que se agrupam em diferentes análises, alguns mais concentrados em nível de firmas, outros

em nível de setores, e outros em nível macroeconômico. E dentre essas abordagens, ressalta-

se a análise sobre sistemas nacionais de inovação de Bengt-Åke Lundvall.

A concepção de sistema nacional de inovação partilha muito das características

descritas acima sobre o sistema nacional de economia política de List. Retoma algumas

características ressaltadas por Schumpeter5 (1939, 1943), por evidenciar a importância central

5 Conforme Lundvall (2007), o principal ponto de discórdia da abordagem de S.n.i. em relação à

contribuição de Schumpeter é que este teórico defende que a procura deve se adequar à oferta, em um sistema de

22

da mudança técnica no desenvolvimento das economias, e tem, em sua essência, a

preocupação com as questões culturais, hábitos e costumes, idiossincrasias das nações,

conceitos que têm sua raiz na teoria de Thorstein Veblen, retomados e explorados atualmente

pelos neo-institucionalistas.

Para tanto, após essa breve seção introdutória, passa-se às contribuições neo-

schumpeterianas nesse tema, com atenção especial às obras de Bengt-Åke Lundvall, que

―lança‖ este conceito em 1985. Após revisita-se as principais contribuições de Thorstein

Veblen e autores neo-institucionalistas, por entender-se que a abordagem de s.n.i. agrega

muitos elementos e uma forma de pensamento consoante com essa corrente teórica. E, por

fim, fornece-se uma visão mais abrangente de sistemas nacionais de inovação, a partir da

síntese das principais contribuições de neo-schumpeterianos e neo-institucionalistas e suas

congruências; se pretende enfatizar tais ligações, que por vezes passam despercebidas.

1.1 – Abordagem Teórica Neo-schumpeteriana de Sistemas Nacionais de Inovação

―Sistemas nacionais de inovação‖ é uma abordagem teórica que evidencia o papel das

nações na formulação de políticas, para o estabelecimento de um ambiente propício à

mudança técnica e ponderando as idiossincrasias locais. Sendo assim, é uma dentre várias

abordagens neo-schumpeterianas.

Nessa dissertação se explora a abordagem de s.n.i. da escola de Aalborg, esta que tem

um conceito mais abstrato e uma relação mais estreita com as questões institucionais, as quais

se demonstra no decorrer da dissertação, o que dificulta sua aplicação. Mas se escolheu esta

abordagem em detrimento às demais, por exemplo, ao conceito de s.n.i. de Richard Nelson

que esteve mais atento à questão das organizações, porque coloca foco em processos de

aprendizagem os quais se pretende enfatizar. Por isso nesta dissertação se usa

fundamentalmente dos autores de Aalborg, especialmente Lundvall.

Existem outras importantes visões neo-schumpeterianas: a teoria evolucionária da

firma de Nelson e Winter (a partir do livro de 1982); os paradigmas tecnológicos de Gionanni

Dosi (a partir da obra de 1984); os paradigmas técnico-econômicos de Freeman e Perez (a

partir do artigo de 1988). Mas nesse trabalho optou-se em explorar apenas a abordagem de

s.n.i por entender que seus conceitos estão mais próximos dos objetivos da dissertação:

inovação. Para Schumpeter, usuários e consumidores, em geral, estariam dispostos a sempre absorver as

inovações levadas ao mercado por empresários e firmas. Mas o que a abordagem de sistema nacional de

inovação propõe é a necessidade de interação entre ambas as partes.

23

avaliar as políticas nacionais em inovação e desenvolvimento tecnológico em nível sistêmico

e interativo.

1.1.1 – As diferentes visões e metodologias em sistemas nacionais de inovação

Conforme Castellacci et. al. (2005), a abordagem de sistemas nacionais de inovação

foi desenvolvida no final da década de 1980, período no qual países asiáticos, sobretudo o

Japão, apareciam no cenário econômico mundial com crescimento acima da média, enquanto

países considerados potências econômicas mundiais, especialmente os Estados Unidos e

países europeus, enfrentavam forte estagnação econômica. Com o objetivo de compreender,

mensurar e comparar essa dinâmica que envolvia a mudança da configuração da economia

mundial, desenvolveram-se vários estudos pautados na mudança técnica.

Conforme Lundvall (2005), a partir da década de 1980 começam a aparecer diferentes

estudos que colocavam um papel central na promoção da inovação como forma de

desenvolver as nações. Tais, trabalhos que foram desenvolvidos em paralelo em diferentes

partes da Europa, dão origem ao conceito de sistema nacional de inovação.

Foram, especialmente, os trabalhos desenvolvidos em SPRU-Sussex e no IKE-group

da escola de Aalborg e da interação entre estes que se formou a noção de sistema nacional de

inovação abordada nesta dissertação. Foram os trabalhos de Freeman, de 1982 (produzido

para a OCDE), e o de Lundvall de 1985 que colocaram tal conceito em discussão no conjunto

de teóricos neo-schumpeterianos que estavam se formando.

Freeman brought deep understanding of innovation processes, historical insight and wisdom to the collaboration. His reference to Friedrich List was

crucial since it linked the concept to the role of the state in catching-up

processes. The IKE-group, inspired by French structuralist Marxists and

development economists, contributed with ideas about „national production

systems‟ and „industrial complexes‟ where vertical interaction was crucial

for performance and outcome and linked this to the analysis of international

specialisation and international competitiveness.(Lundvall, 2005, p. 3).

Após as obras citadas anteriormente se destaca o livro de Christopher Freeman

(Technology Policy and Economic Performance. Lessons from Japan, 1987) e o livro editado

por Freeman e Lundvall sobre países nórdicos (Small Countries Facing the Technological

Revolution, 1988), além da obra editada em 1988 (Dosi et. al. 1988), e do livro de Richard

Nelson (National Innovation Systems: A Comparative Analysis, 1993). Tais obras estão entre

aquelas que promoveram a propulsão da abordagem de s.n.i. (Ibid.).

24

Lundvall et. al. (2001) destaca que durante a década de 1990 surgiram outras

abordagens que enfatizaram o caráter sistêmico da inovação, mas com foco em níveis de

setores e regiões. Entre eles cita-se: Cooke (1996), Maskell e Malmberg (1997), Carlsson e

Jacobsson (1997), Breschi e Malerba (1997).

Cada um destes autores, traz consigo uma tradição diferenciada para o conceito de

s.n.i., apesar de todos estarem entrelaçados. E em função da diversidade que o termo propõe,

optou-se por nesta dissertação colocar ênfase no conceito de s.n.i. na tradição de Aalborg, que

tem como principal autor Bengt-Åke Lundvall.

Para Lundvall et. al. (2003), apesar das diferenças nas abordagens de s.n.i., que muitas

vezes são fruto da própria experiência e origem dos analistas, existe uma base comum entre

elas. A congruência se estabelece em: i) na aceitação de que países, regiões e setores possuem

idiossincrasias, quanto à estabilização da produção, ao comércio e ao conhecimento, as quais

se modificam com o passar do tempo através da aprendizagem; ii) existência de conhecimento

tácito, não facilmente transmitido entre países, regiões e setores; iii) defendem que: “The

relationships may be seen as carriers of knowledge and interaction as processes where new

knowledge is produced and learnt. […] Perhaps the most basic characteristic of the

innovation system approach is that it is 'interactionist'” (LUNDVALL et. al., 2003, p. 5).

Para Balzat e Hanusch (2004), há outras concepções teóricas que usam a denominação

de sistema nacional de inovação, e algumas que tentam contestá-la. O primeiro grupo

concentra as tentativas de formalização matemática, estudos que tentam orientar as políticas

industriais a partir de modelos matemáticos com dados estatísticos oficiais de gastos em P&D,

transferência de tecnologia, capital humano, em percentuais do PIB; algo aplicado aos países

da OCDE e da União Europeia, que possuem boa base de dados para isso.

Já o segundo grupo está relacionado com os autores que analisam as políticas de

inovação em países em desenvolvimento, os quais criticam em parte a escola de Aalborg pela

sua dificuldade de análise nesses países. Mas têm congruências, à medida que consideram

processos de aprendizagem fundamentais, e destacam as idiossincrasias das regiões. São

citados trabalhos como o de Viotti (2002), que analisa casos específicos do Brasil e da Coreia

do Sul, os casos da América Latina por Alcorta e Perez (1998), entre outros (Ibid.).

25

1.1.2 – A Abordagem de s.n.i. de Aalborg

O conceito de sistema nacional de inovação utilizado nesta dissertação tem como

―berço‖ a Universidade de Aalborg, Dinamarca, que a partir do início da década de 1980

centra seus estudos em temas que mais tarde dariam origem ao conceito de sistema nacional

de inovação. A primeira obra de repercussão de tais estudos foi o livro de Bengt-Åke

Lundvall de 1985, Product Innovation and User-Producer Interaction, mas ainda sem o

adjetivo ―nacional‖ incrustado.

Mas é em 1988 que o conceito de sistemas nacionais de inovação recebe visibilidade,

“When Freeman, Nelson and Lundvall got together in the big project on technical change

and economic theory (Dosi et al, eds. 1988) it ended up with a book where there was a four

chapter-section on ‟national systems of innovation‟” (LUNDVALL et. al., 2001, p. 4).6

É a partir dessa obra que a abordagem de s.n.i. ganha notoriedade na academia, e a

interpretação de Aalborg estabelece sua integração com as demais visões neo-

schumpeterianas. Essa ligação acontece com o capítulo 17 da obra “Technical Change and

Economic Theory”, no qual Lundvall condensa a obra de 1985, citada anteriormente. Tal

concepção foi ainda ampliada em 1992 – quando o autor ―lança‖ sua percepção de sistema

nacional de inovação, sob essa denominação. Mas é com a nomeação de Lundvall para diretor

adjunto da Direção da OCDE para Ciência, Tecnologia e Indústria entre 1992 e 1995 que essa

sua visão se expande ainda mais (GODIN, 2009).

As origens dessa abordagem são:

The Aalborg version of the national system of innovation concept may be seen as a combination of four elements: the French structuralist approach to

national production systems, empirical work based on the Home market

theory of international trade, the microeconomic approach to innovation as

an interactive process inspired by research at SPRU and, finally, insights in

the role of institutions in shaping innovative activities. This combination

reflects that the concept was developed to get a better understanding of

economic growth and trade specialization in a small open economy

characterized by high income per capita but with a weak representation of

science based firms. The focus was to start with on macro-economic issues

6 Autores que entendiam que as teorias dominantes na economia não eram suficientes para explicar a

dinâmica econômica real empenharam-se na busca por uma alternativa. Como fruto de tal busca surgiram nas

décadas de 1970 e 1980 vários trabalhos que tratavam da dinâmica econômica pautada na mudança técnica. Mas como esses trabalhos focavam-se em diferentes aspectos da economia e originavam-se de diferentes

nacionalidades, faltava-lhe uma obra que demonstrasse a aliança de tais abordagens. E por isso parecia difícil a

eles apresentarem-se como uma corrente teórica capaz de portar-se como alternativa ao mainstream. Mas é com

a obra de 1988 que esse objetivo torna-se real, à medida que agrega em si os principais trabalhos que vinham

sendo publicados na área. Assim a obra Technical Change and Economic Theory (Dosi et al,1988) é considerada

um marco para a Teoria Neo-Schumpeteriana.

26

but it moved gradually also toward issues related to microeconomic

dynamics (LUNDVALL et. al., 2001, p. 7).

Trata-se de uma abordagem teórica que busca elementos para sua constituição em

outras vertentes da teoria econômica, e a partir de tais, fornece uma nova visão sobre as

políticas de desenvolvimento dos governos nacionais. Existem também as analogias, já

destacadas, com a visão de List (1987). No entanto, Lundvall et. al.(2001) afirma que apesar

de tais similaridades, a escola de Aalborg não deriva diretamente da obra de List. Essa ligação

acontece somente com o artigo de Freeman (1995), a partir do qual a academia volta-se mais

profundamente a List para entender os fenômenos econômicos atuais.

Lundvall (1988) analisa sistemas nacionais de inovação a partir de uma crítica às

teorias dominantes na ciência econômica: a teoria do crescimento e a teoria do comércio

internacional, as quais não comportam evidências observadas no mundo real. Já que,

atualmente existe uma importante especialização em nível de países e regiões que é

negligenciado por elas: “The fact that Denmark is strongly specialized in dairy machinery,

Sweden is metal-working and wood-cutting technology and Norway is fishery technology

cannot be explained by the general factor endowments in those countries.” (Ibid., p. 360).

Na visão de Lundvall (1988), não são regras gerais de dotações de fatores que devem

explicar a especialização de um país em determinada tecnologia, mas sim os fatores históricos

que definem as relações, as especificidades de cada região, e produzem diferentes capacidades

tecnológicas. Além destes, a intervenção do governo nacional nos processos de aprendizagem

e a maneira como isso acontece são elementos básicos na análise sobre as causas da

especialização produtiva dos países em diferentes bens e serviços. Elementos que

frequentemente são negligenciados pela teoria convencional do crescimento econômico ou do

comércio internacional. Ele complementa:

Some parts of knowledge can be embodied in traded commodities, while

other parts are embodied in the labour force. The limited mobility of labour

across national borders can partly explain why technology is not easily

transferred internationally. The structure of the national systems of

production and innovation is a product of a historical process and it cannot

be transferred as easily as 'factors of production'. It might be here that we

find the most fundamental restriction to international learning and

international transfer of technology (LUNDVALL, 1988, p. 360-361).

O autor sustenta o fato de a tecnologia não ser facilmente transferida entre nações, isso

porque as capacidades tecnológicas partem de fatores históricos idiossincráticos a cada região.

27

Mas isso não impede a cooperação entre países, a fim de desenvolver suas próprias

habilidades em projetos já desenvolvidos.

A partir disso, Lundvall (1992) fornece uma definição para sistema de inovação: sua

atividade central é a aprendizagem em uma atividade social, que envolve interação entre

pessoas. Um sistema dinâmico que é caracterizado tanto por retornos positivos e reprodução –

elementos que podem reforçar-se mutuamente promovendo processos de inovação e

aprendizagem – ou contrariamente agrupando-se para bloquear tais processos. Ou seja, em um

sistema de inovação há a interação constante entre agentes, o que pode ser extremamente

positivo para agentes que conseguem aprender coisas positivas a partir de tal intercâmbio, o

que não impede um resultado contrário e, ao invés de melhorar processos inovativos, acabe

por bloqueá-los. Por isso é necessária a condução política de tais relacionamentos.

Lundvall (1988) enfatiza o reconhecimento do processo interativo entre agentes na

análise econômica, em que a principal forma interativa ressaltada é o relacionamento usuário-

produtor e em que o usuário toma um importante papel como avaliador da inovação e tem a

capacidade de indicar ao produtor possíveis melhorias e modificações a fim de torná-la mais

eficiente. Lundvall questiona: ―How can the producer know the needs of potential users, when

markets separate users from producers? And, how can the potential user get information

about the specific characteristics of a new product?” (LUNDVALL, 1992, p. 50).

Além disso, as principais características de um mercado organizado7 são: trocas de

informações de qualidade, cooperação, hierarquia, e confiança mútua. Estas características

que fazem o relacionamento usuário-produtor ser durável e seletivo (Ibid.).

A função básica do relacionamento usuário-produtor é ser um canal de comunicação

entre ambas oportunidades e necessidades tecnológicas. Aos poucos aparecem códigos

comuns de comunicação, os quais são desenvolvidos pela aprendizagem através da interação,

―learning-by-interacting”, e tornam a troca de informações cada vez mais eficiente. Algo que

leva tempo, pois é necessário o desenvolvimento de elementos de hierarquia e confiança

mútua, o que torna tais relações resistentes à mudança (LUNDVALL, 1988, 1992).

7 Em economia da inovação e sobretudo na perspectiva de s.n.i. de Aalborg se adota a noção de mercado

organizado que se constitui a partir de acordos tácitos ou explícitos, com colaboração ao longo do tempo

(CASSIOLATO e SZAPIRO, 2002). Este conceito é diferente tanto da noção de mercados hierarquizados

utilizados na teoria de Organização Industrial e pela teoria dos custos de transação, quanto do mercado anônimo

da teoria neoclássica.

28

Os relacionamentos entre usuários e produtores são favorecidos pela proximidade

geográfica e cultural das organizações envolvidas. Além disso, há um aparato institucional e

organizacional que deve facilitar o estabelecimento, ao longo do tempo, de códigos tácitos,

moldando tais relações conforme o ambiente a qual estão inseridas, diferenciando-se entre

setores, países e regiões (Ibid.).

Usuário-produtor constitui-se em um relacionamento em que a princípio se visualiza

vantagens para ambas as partes, mas normalmente há a tendência dos produtores

apresentarem dominância em relação a usuários, seja por força financeira ou por competência

técnica. Nesse caso uma solução seria:

In such situations coordination among users might develop and resources

might be pooled in order to develop a counter-competence. Such a

coordination will often be more difficult to make efficient when the users are

consumers than when they are professional units. Government regulation or

government support to user organizations might be necessary in order to rectify an unsatisfactory trajectory in consumer technology (LUNDVALL,

1988, p. 356-357).

Ou seja, uma solução para o problema dos processos inovativos, ou talvez sua falta, se

relaciona com a coordenação, para além do relacionamento orientado pelas firmas. É

interessante que esse processo seja direcionado, coordenado e promovido por políticas

governamentais, as quais normalmente têm a capacidade de diagnosticar problemas e

conduzir o processo de forma mais ampla, refutando a trajetórias tecnológicas insatisfatórias,

ou equalizar o poder entre os agentes envolvidos.

Nesse sentido, Lundvall (1988) admite que uma política tecnológica deva considerar

não somente a competência e a capacidade de inovação das unidades situadas no início da

cadeia de inovação, mas ao longo dela, pois a tendência de produtores dominarem o processo

de inovação pode estar relacionada com a falta de competência de usuários.

O governo também deve intervir de forma direta ou indireta no estabelecimento e

reestruturação de padrões de relacionamentos usuário-produtor. Deve, em períodos de grandes

mudanças, sustentar as ligações; intermediar grupos, criar organizações específicas de suporte

a tais relações, partilhar informações; estimulando a produção e difusão da inovação. E quanto

mais conturbada estiver a conjuntura econômica e social, quando a economia e a sociedade

passarem por mudanças mais radicais, a tarefa do governo se torna mais complexa. Há uma

exigência de modificação nos relacionamentos usuário-produtor, estimulando a renovação e

estabelecimento de novas relações deste tipo (Ibid.).

29

O Estado tem um papel fundamental na efetivação de um sistema de inovação, uma

função que não pode ser negligenciada, pois muitos aspectos institucionais que necessitam ser

ordenados para a efetivação de um s.n.i. são função do Estado-Nação, tais como leis e regras

que são determinantes da inovação.

Innovation policy is public action that influences technical change and other

kinds of innovations. It includes elements of research and development

(R&D) policy, technology policy, infrastructure policy, regional policy and

education policy. This means that innovation policy goes beyond science and

technology (S&T) policy, which mainly focuses on stimulating basic science

as a public good from the supply side. Innovation policy also includes public action influencing innovations from the demand side (EDQUIST, 2001, p.

18).

Argumenta-se, também, que em períodos de mudanças tecnológicas radicais há a

necessidade de mudanças nos padrões institucionais e organizacionais: ―Institutional change,

strengthning the competence and the power of the final users, might be one of the social

innovations which can give national systems of innovation a stronger position in the world

economy.” (LUNDVALL, 1988, p. 366).

Sobre as características desse processo interativo intrínseco na abordagem de s.n.i.,

Villaschi (2005) identifica duas. A primeira é o seu caráter desequilibrador; inovações geram

por sua própria natureza desequilíbrios econômicos e como, nesta visão, s.n.i. se conectam

com inovações revolucionárias, suas consequências desequilibradoras tendem a ser intensas.

Uma segunda característica seria que existem forças ordenadas dentro deste sistema em

desequilíbrio; se não fosse assim, seria difícil traçar objetivos e metas para políticas de

incentivo a estas inovações e a constituição de s.n.i. não seria coerente.

É principalmente nesses momentos de alteração de paradigmas técnico-econômico,

que também as mudanças institucionais são necessárias, as quais são evidenciadas na terceira

seção desse capítulo.

Edquist (2001) defende que as políticas de desenvolvimento econômico baseadas na

mudança técnica devem considerar, de maneira mais geral, a produção, a difusão e o uso das

inovações. E de maneira mais específica estudar os fatores que influenciam o

desenvolvimento, a difusão e a utilização das inovações, ou seja, os determinantes das

inovações. E nesse caso a aprendizagem, a interação entre agentes e a imitação desempenham

papel fundamental, além de aspectos organizacionais, institucionais, políticos e sociais.

30

Na abordagem de Aalborg de s.n.i. os determinantes da inovação estão ligados à

aprendizagem a partir do relacionamento usuário-produtor. Usa-se profundamente do

argumento de interação usuário-produtor como a base de um sistema de inovação eficiente, o

qual estimula inovações posteriores e a continuidade do processo interativo, e por isso

configura um processo não estacionário no tempo.

Para Lundvall et. al. (2003) a perspectiva de sistemas nacionais de inovação é:

holística, interdisciplinar, histórica, evolutiva, enfatiza a interdependência e a não-linearidade.

É uma visão ampla que tenta englobar todos os determinantes da inovação, incluindo fatores

não econômicos (sociais e políticos) usando-se de perspectivas oriundas de outras disciplinas,

tais como as ciências sociais. É histórica e evolutiva, porque os processos de inovações se

desenvolvem e modificam-se ao longo do tempo, e influenciam suas trajetórias, e é

interdependente e não-linear pois as firmas não inovam isoladamente, elas interagem com

outras firmas, com instituições de fomento, com universidades, com políticas governamentais.

Assim como outros autores neo-schumpeterianos, Lundvall (1992) traz suas mais

pesadas críticas às teorias dominantes na ciência econômica, as quais encaram a inovação

como um componente exógeno, extraordinário, e que aparece apenas para desestabilizar a

economia. Este pressuposto é totalmente incoerente com as modernas economias capitalistas e

industriais, nas quais: “[...] innovation is a fundamental and inherent phenomenon [...]”

(Ibid. p. 8).

Villaschi (1996) afirma, em relação à abordagem de s.n.i. de Lundvall e o

relacionamento usuário-produtor, que a mesma acrescenta uma nova dimensão à análise

econômica, especialmente de espaço, algo que com frequência é ―ignorado ou subestimado‖

(Ibid., p. 117); além de existir uma ênfase maior na ―dimensão cultural do espaço‖, em

relação às demais abordagens comuns à ciência econômica.

Lundvall (1992) propõe que a relação usuário-produtor leve em consideração quatro

dimensões espaciais, que interferem no seu desenvolvimento. São elas: o espaço econômico

(como diferentes atividades econômicas estão localizadas no sistema de produção, medida por

coeficientes de insumo-produto); espaço organizacional (integrações verticais e horizontais

entre empresas); espaço geográfico (medido em termos de custos e/ou tempo); e espaço

cultural (diferenças entre nações que influenciam na maneira como códigos de comunicação

31

são estabelecidos). Tais dimensões devem se interconectar e por isso uma análise que

considera apenas a dimensão do ―espaço econômico‖ não pode ser eficiente ou completa.

A perspectiva de s.n.i. baseia-se em dois pressupostos: 1) o recurso mais importante na

moderna economia é o conhecimento, e o mais importante processo é a aprendizagem; 2) o

processo de aprendizagem é predominantemente interativo e assim não pode ser

compreendido sem considerar seu ambiente cultural e institucional. Esse último engloba

principalmente aspectos legais, conduta das firmas e ação pública, que: “Institutions make it

possible for economic systems to survive and act in an uncertain world” (LUNDVALL, 1992,

p. 10), e mantêm-se relativamente estabilizados ao longo do tempo.

Outra discussão importante contida em Lundvall (1988) é sua ênfase no importante

papel que, no processo de inovação, é dado à oferta8. O fato é que a teoria econômica teve em

seus primórdios a análise mais concentrada na análise do lado da oferta. E com a chamada

―Revolução Keynesiana‖ acontece uma modificação importante da teoria econômica que viu

grande parte de seus estudiosos voltarem-se à refutação de micro fundamentos e cuja análise

passa a ser macroeconômica e voltada para a demanda como principal fator a ser estudado.

Mas na economia da inovação posturas que enfatizam o lado da demanda são usadas para

argumentar o laissez-faire da política tecnológica, pois “If demand is provoking the

innovations called for, there is no need for state intervation” (LUNDVALL, 1988, p. 358).

Ou seja, se o surgimento de inovações estivesse ligado basicamente à demanda e não à

oferta, não seriam necessárias políticas públicas de estímulo à inovação, pois demandantes

teriam suas necessidades satisfeitas pelo mercado. Então, visões mais heterodoxas ou

intervencionistas em economia da inovação tendem a depositar maior importância nas suas

análises para o lado da oferta. “Those arguing that the supply side plays the dominating role

will often recommend government support to R&D activities and education, combined with an

active manpower policy.” (Ibid., p. 358).

Mas a visão de interação usuário-produtor é ainda mais complexa, pois abrange tanto o

lado da demanda quanto o da oferta e a importância da interação entre si, demonstrando as

lacunas e potencialidades tanto do lado da oferta como do lado da demanda.

8 Conforme Dosi (2006) no estudo da dinâmica das inovações existem duas abordagens básicas

diferenciadas: i) as forças de mercado, a demanda, como determinante principal da mudança técnica – demand-

pull; ii) a oferta determinando a mudança técnica, a tecnologia como fator autônomo – technology-push.

32

Reis (2010) reafirma tal pensamento ao enfatizar que a literatura de economia da

inovação mostra que não se pode afirmar que a tecnologia é totalmente exógena, tampouco

endógena à firma. Mas sim que o processo de inovação requer fontes de tecnologia e

aprendizado tanto endógenas quanto exógenas.

Segundo Lundvall (1988), sistemas de inovação envolvem fluxos de informações

complexas, de difícil mensuração. Assim como os estoques nos sistemas de inovação

envolvem formas de conhecimento, tanto científico como tácito, know-how, além da

―inventividade‖ e da criatividade também muito difíceis de quantificar. O autor conclui:

In standard economics there is a strong tendency to define scientific analysis

as synonymous with the establishment of quantitative and mathematical models. If we accepted this dictum, important aspects of the national system

of innovation would be regarded as being outside the realm of economic

science. [...]Further, there have been different attempts to develop a

quantitative analysis of the flows within national systems of innovation.

(Lundvall, 1988, p. 363)

A partir disso, Lundvall (2007) propõe um método para o estudo de sistemas nacionais

de inovação, que envolve: i) firmas que têm o mais importante papel em um sistema de

inovação, e firmas inovam a partir da interação com outras firmas e com uma infraestrutura de

conhecimento; ii) o modo das firmas inovarem e aprenderem refletem sistemas nacionais de

educação, mercados de trabalho, etc; iii) firmas pertencentes a diferentes setores contribuem

diferentemente para o processo de inovação.

Sistemas nacionais de inovação é uma abordagem teórica que deve contribuir para o

desenvolvimento das nações de forma alternativa. Ressalta a cooperação entre agentes,

incerteza, cumulatividade, importância de aspectos institucionais e culturais, path

dependence, e a importância central das inovações; aspectos normalmente negligenciados

pelo mainstream. Defende que existem idiossincrasias nacionais quanto a: organização interna

das firmas, relacionamentos inter-firmas, papel do setor público, conjunto institucional do

setor financeiro, e intensidade e organização do P&D. Características estas que devem ser

consideradas relevantes na formulação das políticas nacionais.

1.1.3 – A Abordagem de s.n.i. de Aalborg e os Países em Desenvolvimento

Lundvall et. al. (2001, 2003) cita que uma das principais ―ineficiências‖ da abordagem

de s.n.i. está relacionada à sua dificuldade de aplicação aos países menos desenvolvidos.

33

Em um sistema nacional de inovação é fundamental a existência de duas dimensões do

Estado-Nação: como componente cultural e como formulador de políticas públicas. Um

sistema ideal9 seria quando esses dois componentes coincidem. As características desse ideal:

“[...] where all individuals belonging to a nation – defined by cultural, ethnical and linguistic

characteristics – are gathered in one single geographical space controlled by one central

state authority (without foreign nationalities)”(LUNDVALL, 1992, p. 2).

Mas claro que agrupar tais características no mundo real é praticamente impossível.

Lundvall (1992) admite que em função disso as principais contribuições sobre sistemas

nacionais de inovação se referem a uma minoria de pequenos países culturalmente

homogêneos e com ―sistemas socioeconômicos coerentes‖. Os principais países pesquisados

são Suécia, Dinamarca e Noruega, que por suas características sociais, econômicas e

geográficas ficam mais próximos desse ideal. Mas a crítica recai nessa análise pelo fato da

maioria dos países do mundo não apresentarem tais características.

Lundvall (1992) percebe sua fraqueza teórica e a explicita já nessa sua obra seminal,

mas defende que mesmo que esse ―s.n.i. ideal‖ esteja distante do observável na maioria dos

países, é mais útil se usar de tais padrões ao invés das médias tão usadas pela teoria

tradicional. É mais útil trazer primeiramente casos nos quais a teoria é mais facilmente

aplicável para depois tentar expandi-la para economias mais ―complexas‖.

Conforme Lundvall et. al.(2001), a abordagem de s.n.i. tem em sua metodologia e

tradição os maiores entraves para ser estendida aos países menos desenvolvidos. Pois, trata-se

de uma análise ex-post, que analisa, compara, descreve, sobretudo sistemas situados em

pequenos países desenvolvidos. E que ainda não tem a capacidade de indicar políticas para

elaboração de sistemas nacionais de inovação em países em desenvolvimento, os quais

possuem estrutura econômica e social bem diversa dos países desenvolvidos.

A escola de Aalborg ainda subestima relações de poder e conflitos relacionados à

distribuição de renda e não consegue verificar a influência que o poder político e financeiro

exerce no processo de inovação, que tendem a serem superiores nos países menos

desenvolvidos. Além de não dimensionar o quanto e como tais conflitos podem bloquear

9 Conforme Arocena e Sutz (1999), na abordagem de s.n.i., não existe um sistema ideal a ser seguido,

mas existe uma espécie de ―boas práticas‖ e aproximações do que seria um ―s.n.i. bom‖ e um s.n.i. ―não tão bom

assim‖. Fazendo com que tal abordagem teórica carregue um forte peso normativo.

34

aprendizagens interativas, não conseguem avaliar como competências inovadoras existentes

podem ser destruídas por questões políticas e de distribuição de poder (Ibid.).

A abordagem de Aalborg têm dificuldade de relacionar questões culturais e

institucionais com as políticas tecnológicas e interativas que permeiam o s.n.i. de países

econômico e politicamente fragmentados e heterogêneos. Também há poucos estudos sobre as

consequências da globalização, talvez ligações com os sistemas nacionais de economia

política de List e com as teorias institucionalistas poderiam preencher esta lacuna.

Lundvall et. al. (2003) afirma que ainda existem outros empecilhos para a utilização

da abordagem de s.n.i. em países menos desenvolvidos, principalmente porque nesses países

existem muitos problemas fundamentais relacionados à saúde, violência, fome. Por isso traçar

metas e planos de desenvolvimento que privilegiem a inovação pode ser um tanto fantasioso,

haja vista tantos problemas a serem amenizados, o que poderia ser considerado um desleixo

com aquelas questões mais ―fundamentais‖.

Então sugere que se inicie a implementação de políticas de inovação a partir da

solução dos problemas ―fundamentais‖, da construção de instituições que levem ordem e

melhores condições de vida diretamente à população. O que pode ser uma precondição para

depois se avançar nas políticas diretamente ligadas à inovação, incentivo e oportunidade para

as pessoas desenvolverem competências inovadoras. Estas que exigem a existência de

instituições que melhorem a confiança, a ordem e a previsibilidade na vida dos indivíduos e

das firmas. É necessário que tais competências se estabeleçam e continuem se renovando para

fazer frente à competição internacional, é necessário criar a cultura de constantes processos de

aprendizagem ao longo da vida das pessoas (Ibid.).

Nos países menos desenvolvidos a metodologia citada acima é importante para o

direcionamento ao incentivo do uso das competências e habilidades próprias para produzir

bens atraentes ao mercado mundial, nos quais em geral são muito ricos. Necessita-se mapear,

desenvolver e utilizar competências de modo a utilizar o conhecimento local, e a partir disso

erradicar a pobreza, e envolver a população no processo de desenvolvimento econômico e

social baseado na mudança técnica.

The combination of reverse engineering, licensing, sending scholars abroad, inviting foreign firms and experts and engaging in international scientific

collaboration may be difficult to achieve but all these elements need to be

considered in building the national innovation system. It is a major challenge

when building national systems of innovation to develop national strategies

35

that make it possible to select technology and institutions from abroad that

support innovation and competence building (LUNDVALL et. al., 2003, p.

15).

Lundvall et. al. (2001, 2003) coloca grande relevância à questão cultural e das

instituições e ressalta que o investimento em educação formal, em universidades, laboratórios

de P&D, centros de pesquisa e inovação. Mas estes não têm a capacidade de desenvolver a

nação se não houver uma cultura de aprendizagem enraizada no povo. E nisso há um forte

apelo institucional, uma congruência com a teoria institucionalista a qual se explora adiante.

The view point taken here is that improving learning and innovation capabilities is

not only a question of more resources for education and research (more and better schools and universities, etc.) but also of shaping and reshaping a broad set of

institutions in order to support interactive learning and innovation broadly in many

parts of society including the individual families, communities, firms and

organizations (LUNDVALL et. al., 2003, p. 13).

Dessa forma há o destaque de que análises de sistemas nacionais para países do Sul

devem ser diferentes em relação às proposições para os países do Norte que já possuem

instituições mais desenvolvidas, uma história tecnológica mais longa, capacidades

tecnológicas definidas, e uma cultura de aprendizagem intrínseca na sociedade. Por isso: ―A

narrow innovation system concept focusing on the research and development system and on

high tech and science-based innovations may be quite adequate for some purposes in the

North but it does not make much sense in the South” (LUNDVALL et. al., 2003, p. 13).

Felipe (2006) salienta que quando a abordagem de s.n.i. se estende a processos

inovativos em países menos desenvolvidos observam-se a existência de ―lacunas

institucionais‖. O foco da análise deve mudar de algo mais restrito às mudanças institucionais

necessárias para favorecer novas tecnologias e interações entre sistemas existentes (em países

desenvolvidos), para uma análise que favoreça a construção e promoção de novos arranjos

institucionais e sua interação. E de tal modo preencher tais lacunas.

Além disso, países menos desenvolvidos normalmente têm setores desiguais, com

capacidades diferenciadas de aprendizagem e conhecimento. E possuem capacidade restrita de

gerar trajetórias tecnológicas próprias, pois se defrontam com paradigmas tecnológicos já

estabelecidos, ―[...] o que lhes impõem a construção de políticas de cunho mais ‗adaptativas‘

do que ‗criativas‘ propriamente ditas‖ (Ibid., p. 51-52).

36

1.1.4 – Alternativas à Aalborg para análise de s.n.i em países menos desenvolvidos

A partir das leituras acima se percebe que a abordagem de sistemas nacionais de

inovação de Aalborg apresenta importantes limitações, especialmente quanto à sua análise de

países menos desenvolvidos. Por isso, nesta subseção se explora obras de autores que têm

convergência com tal abordagem, mas voltadas para economias mais complexas, os quais

colocam um papel fundamental na aprendizagem. Destacam-se as abordagens de Viotti e de

Arocena e Sutz.

A abordagem de s.n.i. de Aalborg coloca um papel fundamental na inovação no

processo de mudança técnica. Quando na realidade a inovação é um processo estranho,

praticamente incompatível, às economias de industrialização tardia, as quais, em sua maioria,

têm a mudança técnica baseada em processos de aprendizagem (VIOTTI, 2002):

Learning, we propose, is the process of technical change achieved by

diffusion (in the perspective of technology absorption) and incremental

innovation. In other words, learning is the absorption of already-existing

techniques, i.e., the absorption of innovations produced elsewhere, and the

generation of improvements in the vicinity of acquired techniques (Ibid.

p.658).

E é por isso, na visão de Viotti (2002), que países em desenvolvimento devem ser

avaliados em termos de Sistemas Nacionais de Aprendizagem. ―The dynamic engine of late

industrialization is, then, technological learning, rather than innovation.” (Ibid., p. 658). Na

análise que o autor propõe para os países em desenvolvimento, é a difusão/absorção da

inovação que toma um papel central, ao invés da inovação propriamente dita. ―The processes

of technical change of industrializing economies are usually limited to the absorption and

improvement of innovations produced in the industrialized countries.”(Ibid., p. 657).

A abordagem de Viotti (2002) apresenta semelhanças com a Escola de Aalborg, isso

porque coloca na aprendizagem o papel fundamental para o desenvolvimento e mudança

técnica nos países em desenvolvimento/de industrialização tardia. Mas ressalta que para

países em desenvolvimento as políticas não deveriam centralizar tanto inovação em si, mas

sim na sua difusão. E na manutenção da independência dos conceitos de inovações,

invenções, mudança técnica, que são tratados como sinônimos, mas são coisas bem diferentes.

O autor acima citado considera que a capacidade de aprendizagem é algo fundamental

para levar uma nação ao desenvolvimento sustentado no tempo. O que na visão de Lundvall

et. al. (2003) tem sido negligenciado pelos países mais pobres, os quais têm desconsiderado

37

as políticas de aprendizagem e inovação, e o pouco que é realizado é incentivado apenas pelo

setor público.

Então uma causa para o subdesenvolvimento poderia ser os baixos valores investidos

em aprendizagem, em P&D, e isso para além do setor público. Em países desenvolvidos

normalmente existem altos investimentos em tecnologia por parte das firmas, algo que nos

países menos desenvolvidos é raro. O que ocorre pela falta de previsibilidade em tais nações,

mais sujeitas a conflitos sociais e políticos na busca de poder e riqueza.

Outros autores com importantes contribuições a respeito de políticas que convergem

com s.n.i. são os uruguaios Judith Sutz e Rodrigo Arocena. Tais autores concentram esforços

na aplicação da abordagem de s.n.i., e alternativas para tal, em países em desenvolvimento e

na análise específica para a América Latina, em uma abordagem que coloca papel

fundamental na difusão da inovação. E, por isso, usam da expressão de circuitos inovativos,

que engloba essencialmente a interação entre dois tipos de agentes em que um deles teria um

problema e o outro a capacidade potencial de resolvê-lo, em uma visão inspirada no

relacionamento usuário-produtor da abordagem de s.n.i.

Para Arocena e Sutz (2004), na visão de circuitos inovativos capacidade dá lugar à

inovação, ―[..] en la medida en que el diálogo entre ambos actores permita que sus diferentes

conocimientos puedan ser puestos al servicio de la búsqueda de una solución realmente

adaptada a la necesidad de partida. La noción se inspira directamente en el estudio de las

relaciones usuario-productor (Lundvall 1985)[...]” (AROCENA e SUTZ, p. 53).

Circuitos inovativos são mais frequentes em países desenvolvidos, nos quais conflitos

de interesses pessoais e políticos tendem a agir de forma menos intensa sobre a cooperação

entre conjuntos de agentes. Neste caso, esses circuitos normalmente alcançam êxito, e as

soluções advindas na interação entre os agentes se difundem e acabam incluindo e abrangendo

outros atores. Assim formam-se espaços interativos de aprendizagem (Ibid.).

Já nos países menos desenvolvidos normalmente os circuitos que se estabelecem

permanecem isolados, o que faz a inovação fracassar em sua difusão e que não se formem os

tais espaços interativos de aprendizagem. Ao contrário, países desenvolvidos são, em sua

maioria, ricos nestes tipos de espaços, o que produz divisões de aprendizagem e que está

relacionado tanto com capacidades como com oportunidades (Ibid.).

38

Para Arocena e Sutz (2000), a aprendizagem é o termo mais conveniente a ser usado

para o estudo das atividades inovativas, pois, consegue transmitir com maior precisão a ideia

de aquisição de conhecimento, seja ele formal ou tácito, e para encontrar soluções para

diferentes problemas. Com o termo ―sociedade de aprendizagem‖ substituindo ―sociedade

industrial‖. Em que: ―Learning societies, that is, societies where interactive learning spaces

are easily created, are bound to have well-articulated relationships between universities,

industry and government [...]‖(AROCENA e SUTZ, 2000. pg. 13). A partir da qual se pode

perceber a divisão entre países subdesenvolvidos (Sul) e desenvolvidos (Norte). Pois, os

países do Sul, em sua maioria, não evoluem para sociedades da aprendizagem, e são afetadas

pelo processo de globalização.

Por isso é preciso avaliar as políticas de C,T&I dos países a serem analisados:

However, also less explicit situations help understanding why some societies are “interactive learning spaces rich”. The first of these situations is the

coherence between the “science, technology and innovation” discourse and

the concrete policies implemented in the country or region. The specific

spending levels, the systematic information gathering about key factors, the

policy design based on this information, the academic background and the

experience of the people in charge of policy making, are all clues to evaluate

the coherence between discourse and practice. Another “tacit” situation of

the sort is the national common sense about the quality of the products and

services delivered in the country. If this common sense is favourable, the

possibility of good relations between universities and firms are higher, because the local search for solutions can be easier perceived as worthy. In a

similar vein, is it also important to have firms that recognise the importance

of knowledge and innovation for its economic performance: when the part of

the R&D spending that comes from firms is over 50%, as in almost any

OECD country, this recognition can be granted (Ibid. p. 13-14).

Além disso, uma das consequências das divisões de aprendizagem são as lacunas

inovativas, entre países e regiões. Tal lacuna se refere ao fato de que alguns países e regiões

conseguem avançar consideravelmente na resolução de algum problema e outros não

conseguem os acompanhar, ficando para trás. ―Innovation gaps reflect not so much

differences in access but differences in capabilities and in learning, something even more

difficult to bridge, as recent trends seem to show‖ (AROCENA e SUTZ, 2000, p. 6).

Innovation is hardly any more the outcome of isolated entrepreneurial

genius: it is a systemic and complex social process involving people in

different roles, including economic roles but also social, cultural and political

roles. Innovation is nowadays deeply rooted in "knowledge demanding" activities, both on the producers side and on the users side (Ibid., p. 4).

Arocena e Sutz (2002) salientam ainda que o aporte teórico de sistemas nacionais de

inovação tem subestimado tanto o papel da produção de conhecimento, quanto da sua

39

transferência, e dá pouca atenção às transformações que vêm ocorrendo nas universidades,

assim como a geração endógena de conhecimento em países subdesenvolvidos.

Para Hounie et.al. (1999) a CEPAL, a partir da década de 1990 também começou a

enfatizar a importância da inovação e aprendizagem em seus estudos, orientando que

economias do sul poderiam desenvolver-se através da aproximação ao conhecimento e

aprendizagem. Esta nova geração de estudos, chamada pelos autores de Nova Cepal, orientam

para políticas em sintonia com a abordagem de sistemas nacionais de inovação, que enfatizam

a interdependência dos agentes, capacidades e experiências que fluem através do intercâmbio

entre firmas e pessoas, a inovação criada através de processos de aprendizagem oriundos de

associações; mas isso sem perder o foco de que existem idiossincrasias entre países.

As may be gathered from this, the new ECLAC holds that the expansion of the economies of Latin America depends on the attainment of genuine

competitiveness, based on the ongoing generation and incorporation of

technical progress, which are likewise necessary for sustaining an outward-

looking growth pattern. In order to achieve this sustainability, production and

technology policies of various types and scopes are needed, among which

special mention may be made of those designed to consolidate and expand the

national innovation system. (Hounie et. al., 1999, pag. 22)

The ECLAC of the 1990s basically has a systemic conception of technical progress. Indeed, the development of a national innovation system forms one

of the central proposals of ECLAC neostructuralism and represents the hub of

technological and production policies because of its influence on the

development of local learning capability This base of a markedly evolutionary

nature is accompanied by arguments deriving from endogenous growth

theories: the technology market has flaws due to the fact that technical

knowledge and information is a non-pure public good, and these flaws lead to

under-investment in technological matters and justify direct State intervention

through mesoeconomic or “horizontal” policies. (Hounie et.al., 1999, pag.

24)

Os autores complementam que na visão tradicional da Cepal, que inclusive orientou as

políticas brasileiras, havia uma preocupação grande com setores prioritários em uma

definição setorial. Essas indicações se concentravam em políticas verticalizadas, algo

totalmente em desacordo com as orientações atuais da OCDE que assim como a nova

concepção da Cepal adotam perspectiva de políticas transversais. Segundo os autores está

cada vez mais difícil eleger, ex ante, setores prioritários, já que atualmente as mudanças

tecnológicas e de mercado são cada vez intensos. Assim uma política que priorize a ciência e

a tecnologia em seu âmbito sistêmico não elege qual setor deve ou não expandir-se.

As orientações que a OCDE fornece a seus países-membros deve ter influenciado a

Cepal, que passou a enfatizar políticas mais em sintonia com o que vem se adotando nos

40

países mais ricos. Essa mudança de percepção deve também, cedo ou tarde, modificar a

condução de políticas dos países em desenvolvimento tal qual se percebe recentemente no

Brasil, como se verá nos próximos capítulos.

Haja vista essa constatação de que questões institucionais e culturais são

imprescindíveis na avaliação de sistemas nacionais de inovação e, sobretudo para países

menos desenvolvidos, faz-se necessário o resgate dessa abordagem teórica que será realizada

na próxima seção.

1.2 – Teoria Neo-Institucionalista

Instituições e sua influência no desenvolvimento das nações não são recentes, em seu

sentido teórico. A análise da questão da propriedade e as influências dos costumes, regras,

hábitos, na dinâmica econômica tem sua origem com Thorstein Veblen, em sua principal obra,

A Teoria da Classe Ociosa (1899). Esse teórico agrega juntamente com John Commons e

Wesley Mitchel e Clarence Ayres o chamado velho institucionalismo.

As principais discussões dos velhos institucionalistas datam do início do século XX e

concentraram-se principalmente nos Estados Unidos e Europa. Após esse período tal corrente

teórica perdeu seu lugar no centro das discussões econômicas. Ressurgiu apenas na década de

1960, quando autores inspirados especialmente nos escritos de Thorstein Veblen (1898, 1899,

1909), tentam buscar uma alternativa teórica ao mainstream, sendo que os principais autores

dessa nova teoria, que se tornaria conhecida como neo-institucionalista, são: Galbraith,

Gruchy, seguidos de Hodgson, Ramstad, Rutherford, Samuels, Mark Tool, Stanfield, entre

outros (CONCEIÇÃO, 2002).

Conforme Samuels (1995) existem ainda outras importantes correntes

institucionalistas, para além dos neo-institucionalistas. Há pensamentos mais próximos da

abordagem marxista, outros mais próximos das ciências sociais, e a nova economia

institucional (NEI).

Nesse trabalho apenas se cita a existência de tais abordagens, mas não se irá

desenvolvê-las, pois se partilha do pensamento desenvolvido por Veblen e pelos neo-

institucionalistas, conceito mais amplo, em que instituições permeiam as ações dos indivíduos

que vivem em sociedade, e fazem parte de um processo de aprendizagem.

Para Veblen (1899) diferentes instituições – hábitos, leis, costumes, normas e

41

convenções da sociedade – influenciam diretamente nas mudanças econômicas. Já que as

alterações estruturais na economia originam-se de modificações nas instituições, ou seja, no

pensamento da sociedade que molda as estruturas econômicas.

São, nessa visão, as mudanças na sociedade que modificam as relações econômicas

que não caminham necessariamente para o equilíbrio. A partir disso se ressalta a importância

das reformas sociais a fim de corrigir determinadas falhas, e promover o desenvolvimento

econômico e social.

Conforme Veblen (1898), a ciência econômica tradicional é incapaz de lidar com seu

objeto, com questões evolutivas e assim causa descrédito por parte das outras ciências sociais,

e dos próprios economistas que, mesmo verificando tais deficiências, veem-se incapazes de

romper com a metodologia tradicional. O foco da ciência econômica deve recair sobre o

material humano, que são as forças propulsoras do desenvolvimento econômico, para de

alguma forma esta ciência tornar-se evolutiva.

Para Samuels (1995), institucionalistas enfatizam que a economia está sempre se

transformando, pois instituições são inerentes à economia e à sociedade e por isso estão em

constante evolução, através da interação com tecnologias, leis e política.

Neste sentido, Veblen (1987) afirma que a principal falha da economia neoclássica seja

sua concepção hedonista, o fato de classificar ―o homem como uma máquina de calcular

relâmpago de prazeres e dores‖ (Ibid., p. 389). A busca pelo equilíbrio estático e a falta de

uma análise mais completa no sentido de resgatar elementos históricos antecessores e

sucessores também estão entre as principais críticas do autor. Pois: ―Toda mudança econômica

é uma mudança na comunidade econômica – uma mudança nos métodos da comunidade de

transformar as coisas por sua própria conta. A mudança é sempre em última instância, uma

mudança nos hábitos de pensamento‖ (Ibid., p. 391).

A obra de Veblen revoluciona o pensamento econômico de sua época por defender

uma nova metodologia em economia. Esse autor defende que se deve depositar maior

importância à mudança econômica e ao fato dessa ser moldada pelas ações do próprio ser

humano e pelo ambiente aos quais estão inseridos. E propõe uma transformação na maneira

como o indivíduo é encarado, refutando todo e qualquer equilibrismo atemporal, pois na visão

vebleniana o indivíduo tem limitações tanto de informações quanto de ações. Ou seja, uma

concepção não estranha aos sistemas nacionais de inovação e de aprendizagem.

42

Além disso, conforme Hodgson (1998), Veblen rejeita o indivíduo e a sociedade como

unidades últimas de explicação. Ou seja, Veblen abandona tanto o individualismo

metodológico quanto o coletivismo, e em seu lugar adota um processo evolutivo, baseado na

explicação darwiniana. Ou seja, os hábitos dos agentes seriam resultado de um processo

evolutivo, das interações entre diferentes ambientes culturais/institucionais que acontecem de

maneiras diferenciadas ao longo do processo histórico.

Conforme Hodgson (1992), Veblen acredita que essa metodologia é mais apropriada.

Primeiro pela ideia de ―causação cumulativa‖10

e oposição à descrição de progresso

econômico como consumo em equilíbrio; e segundo pela analogia com genes e os processos

de seleção natural no mundo social, evolucionismo darwiniano.

Veblen se utiliza de tais conceitos para organizar sua teoria das instituições. Com base

nessa proposta, instituições: ―São hábitos estabelecidos de pensamento comum à generalidade

dos homens‖ (VEBLEN, 1909, p. 6).

Assim se diz que o processo de mudança institucional age de cima para baixo, em que

as instituições moldam as ações humanas, mas os hábitos humanos ao se modificarem, por

mutações no meio ambiente, acabam modificando também as instituições. Trata-se de um

processo cumulativo, das instituições para os indivíduos, mas estes também têm a capacidade

de modificar as primeiras, ao longo do processo histórico (HODGSON, 2003).

Conforme Cavalieri (2009), Veblen considera que o evolucionismo darwiniano é o

elemento base mais adequado para tratar de fenômenos físicos, químicos, econômicos,

políticos ou biológicos. Sendo que para esse autor a passagem de Veblen que melhor

especifica a ideia do teórico sobre a dinâmica social e sua analogia com a biologia é:

A vida do homem em sociedade, bem como a vida de outras espécies, é uma

luta pela existência, e, portanto, um processo de adaptação seletiva. A

evolução da estrutura social foi um processo de seleção natural das

instituições. O progresso que se fez e que vai se fazendo nas instituições humanas e no caráter humano pode ser considerado, de modo geral, uma

seleção natural dos hábitos mentais mais aptos e um processo de adaptação

forçada dos indivíduos a um ambiente que vem mudando progressivamente

mediante o desenvolvimento da comunidade e a mudança das instituições sob

as quais o homem vive. As instituições são elas próprias o resultado de um

10 Veblen (1909) ressalta: ―(...) cada novo movimento cria uma nova situação que induz a mais uma

variação na maneira habitual de resposta; de forma cumulativa, porque cada nova situação é uma variação do

que aconteceu antes dela e incorpora como fatores causais tudo o que foi afetado pelo que aconteceu antes; e de

forma consistente, pois os traços subjacentes da natureza humana (propensões, aptidões e coisas desse tipo) por

força dos quais ocorre a resposta, e com base nos quais a habituação é efetuada, permanecem substancialmente

inalterados‖ (p. 7).

43

processo seletivo e adaptativo que modela os tipos prevalecentes, ou

dominantes, de atitudes e aptidões espirituais; são, ao mesmo tempo, métodos

especiais de vida e de relações humanas, e constituem, por sua vez, fatores

eficientes de seleção. De modo que as instituições em mudança levam por seu

turno a uma ulterior seleção de indivíduos dotados de temperamento mais

apto e uma ulterior adaptação do temperamento individual e seus hábitos ao

ambiente mutável, mediante a formação de novas instituições (VEBLEN

1987, p. 87).

O ambiente econômico e social é seletivo para as instituições. E apenas aquelas que

têm a capacidade, ou argumento, de se difundir e criar ―raízes‖ na sociedade perduram por

mais tempo. Mas não infinitamente, pois em algum momento deve surgir outra instituição que

a substituirá, ou ela mesma se modificará ao longo do tempo.

É a partir de tais conceitos que a teoria neo-institucionalista fundamenta-se, cujas

principais características são enunciadas por Samuels (1995):

Ênfase na evolução social e econômica, instituições são mutáveis, mas isso ocorre de

forma gradual e lenta, rejeitam-se os mecanismos de ajuste automático neoclássico;

Ênfase no papel do controle social, diferentemente dos neoclássicos, rejeita-se que o

mercado por si só possa ser encarado como um sistema autorregulador, pois se acredita

que os mercados são guiados pelas instituições que operam através deles;

Crença de que a tecnologia é uma importante força de transformação econômica, pois

pode promover efeitos profundos na organização social, econômica e política;

Defende-se que o determinante final da alocação de recursos não é o mecanismo de

mercado, mas sim as instituições, estruturas sociais, estruturas de poder;

Evidencia de que o valor não se refere apenas aos preços relativos das mercadorias, mas

sim a como estas são abrigadas pelas instituições e estruturas sociais e econômicas;

Ênfase no papel da cultura na formação da estrutura social e das identidades individuais,

como preferência por certos produtos e diferentes estilos de vida, que têm impacto na

vida econômica e no ajuste institucional, é ressaltada a interdependência já que a cultura

modifica os indivíduos mas estes também a alteram;

Visão plural, de economia não determinística e não mecanicista;

Multidisciplinaridade.

44

Com base nessas características, têm-se os elementos para relacionar a teoria

institucionalista com os conceitos evidenciados pela abordagem de sistemas nacionais de

inovação, considerando-se o conceito de Hodgson para instituições:

Institutions are durable systems of established and embedded social rules that

structure social interactions. In short, institutions are social rule-systems.

They both constrain and enable behaviour. Generally, the existence of rules

at least implies constrains. However, such a constraint can also open up possible for action or interaction: it may give rise to structures and enable

choices that otherwise would not exist. Systems of language, money, law,

weights and measures, traffic conventions, table manners, firms (and all

other organizations) are all institutions (HODGSON, 2004, p. 424-425).

Esse conceito de instituições deve nortear as proposições da seção que segue, o qual

se optou, em detrimento aos demais existentes na teoria institucionalista, pela sua

profundidade e relação possível com as políticas de nacionais de inovação.

1.3 – Convergência Teórica em Sistemas Nacionais de Inovação: Escola de Aalborg e

Teoria Neo-Institucionalista

Esta seção é complementar à visão tradicional de sistemas nacionais de inovação, pois,

como se pôde perceber, pela descrição tanto da escola da Aalborg quanto da corrente neo-

institucionalista, as mesmas possuem similaridades, as quais às vezes passam despercebidas.

Mas nesta seção pretende-se pontuá-las e dessa forma tornar a abordagem de s.n.i também

mais consistente com análises relativas a países em desenvolvimento nos quais a

institucionalidade tende a ser bem diferente daquela encontrada em países desenvolvidos.

Como já foi ressaltado, a abordagem de s.n.i. tem sua maior dificuldade de aplicação

relacionada aos países em desenvolvimento. Mas entende-se que caso se considere mais

profundamente os pressupostos institucionalistas, pode-se torná-la mais robusta para análises

deste tipo. Entender o ambiente histórico, cultural e os hábitos e como estes contribuem para

diferentes noções de s.n.i. é imprescindível, sobretudo para países em desenvolvimento.

Para Hodgson (1994), o que difere essencialmente teorias evolucionistas e

institucionalistas, do mainstream – e as aproxima – é a endogeneidade da tecnologia. Há

várias correntes de pensamento econômico críticos à teoria neoclássica, mas poucos

conseguiram romper com o neoclassicismo nesse ponto, pois continuam a considerar a

tecnologia como um processo exógeno – tais como keynesianos, escola austríaca e muitos

economistas comportamentais.

45

Teorias institucionalistas e neo-schumpeterianas/evolucionistas, por sua vez, colocam

a mudança técnica no centro de suas análises. Talvez institucionalistas deixem isso menos

claro, mas ao considerarem a dinâmica das alterações dos gostos, dos hábitos ao longo do

tempo, intrinsecamente consideram que as técnicas também necessitam se modificar para dar

suporte às demais alterações institucionais. Pressupor a tecnologia endógena ou exógena

constitui-se na fronteira entre realmente criticar a teoria ortodoxa ou não (Ibid.).

Já as dimensões institucionais que têm maior impacto e fazem a diferença entre as

nações são: o horizonte de tempo dos agentes, o papel da confiança e o mix de

―racionalidade‖. Estes são elementos que dizem respeito a uma cultura incrustada nas

sociedades e que devem influenciar na conduta e no desempenho em nível nacional, de

investimentos e inovações técnicas, ―Certain technologies will only be developed by agents

who operate with a long term perspective while others might be easier to exploit with a short

term horizon.‖ (LUNDVALL et. al., 2001, p. 10).

São os hábitos, os aspectos culturais que determinam a confiança entre agentes,

estrutura política e legislativa, que diminuem ou aprofundam a incerteza. E estas em última

instância definem o horizonte de tempo no qual os agentes podem projetar investimentos,

tanto em capital humano quanto em bens de capital e incorporação de tecnologia. E estes

motivam a capacidade tecnológica da nação, mais próximas ou mais distantes produtos e

processos complexos, que tendem a agregar valor maior, e assim realimentar esse processo.

Seguindo tal linha de pensamento, pode-se afirmar que em última instância são as

instituições que ditam o desenvolvimento tecnológico da nação. As políticas de incentivo à

inovação podem produzir um resultado pífio em relação às suas expectativas, se não

considerarem a institucionalidade idiossincrática à nação à qual se aplica, e que deve diferir

profundamente entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Para tanto, neste último grupo

provavelmente as políticas básicas devem ser direcionadas aos aspectos institucionais, a uma

reordenação da institucionalidade11

em torno da mudança tecnológica e da aceitação e

incorporação de aspectos inovadores no cotidiano das organizações e sociedade.

11 Nessa percepção não se pretende que as nações percam sua identidade cultural, ou assimilem e

incorporem a organização social e econômica de países desenvolvidos. Ao contrário, as nações devem buscar

suas potencialidades tecnológicas, incorporando e respeitando sua organização cultural. O que se pretende, nessa

visão, é incentivar, por exemplo, políticas de educação e cultura, aspectos legislatórios que favoreçam a

inovação. Incrustar na sociedade culturas inovadoras, que favoreçam a confiança entre agentes, diminuindo a

incerteza, e os males sociais, tais como a corrupção, a marginalização da sociedade, a violência, questões que

46

Também, são as instituições que agem sobre as três dimensões citadas por Lundvall et.

al. (2001), ampliando o horizonte de tempo dos agentes, que ao traçar suas metas em longo

prazo tendem a perpetuar o desenvolvimento tecnológico. Com isso alargar a confiança, o que

deve beneficiar a interação entre agentes, e tornar possíveis que relacionamentos do tipo

usuário-produtor se perpetuem e assim favoreçam processos inovativos. E ―melhorar‖ a

racionalidade dos agentes na medida em que, com horizonte de tempo e confiança mútua

maiores, tendem a ter capacidade de melhor avaliar seus projetos e suas consequências.

Johnson (1992) ressalta as interações teóricas entre economia da inovação e economia

institucional:

Innovation is then, too, regarded as a process rather than as discrete events

uniquely localised in space and time. It follows, it will be argued, that

innovation is shaped by institutions and institutional change. It will be

suggested that this process can be analysed in terms of national systems of

innovation, reflecting that nations differ in term of institutional set-ups (JOHNSON, 1992, p. 23).

Destaca-se ainda que instituições tenham forte impacto sobre a mudança tecnológica,

em que a última normalmente pode pressionar alterações na primeira. Mas instituições

normalmente são mais rígidas. Por isso é preciso que as nações desenvolvam a capacidade de

lidar com questões institucionais, alterando-as em favor do desenvolvimento tecnológico.

Propõe-se uma ―aprendizagem institucional‖, que pode ser fundamental para o

desenvolvimento da competitividade internacional das nações (Ibid., p. 23).

Nesse sentido, a principal característica da abordagem de s.n.i. da versão de Aalborg, o

learning-by-interaction é o aspecto que também mais se entrelaça com a teoria

institucionalista. Em que: ―Basically institutions influence change through their impacts on

learning, […] The point is that institutions by governing the cognitive process in a

fundamental way influence all learning processes in society‖ (Ibid., p. 27-8).

Para Hodgson (2000), um ponto básico para os institucionalistas, baseados, sobretudo

em Veblen, é a aceitação da aprendizagem nos processos econômicos, a qual é vista como um

fenômeno cumulativo, histórico e que decorre da interação entre agentes, entre indivíduos. As

pessoas aprendem e inserem no seu cotidiano novos hábitos a partir da interação com culturas

e hábitos diferentes. Trata-se de um processo de aprendizagem social que é capaz de

modificar as estruturas econômicas e promover ou não o desenvolvimento econômico.

não são o objeto de estudo desse trabalho, mas que compõe a institucionalidade da maioria dos países em

desenvolvimento e que precisam ser considerados na formulação de políticas em sistemas nacionais de inovação.

47

Para Johnson (1992) é através das instituições que o conhecimento e a aprendizagem

têm a capacidade de serem cumulativos, são as instituições que passam o conhecimento entre

as gerações. Mas também sustenta que as instituições modificam-se lentamente ao longo do

tempo e, por isso, aos poucos, certos conhecimentos são descartados em favor de outros, e os

primeiros a desaparecer são aqueles que estão menos enraizados institucionalmente. E é nesse

momento que seu conceito de ―aprendizagem institucional‖ entra em cena.

As nações devem desenvolver a capacidade de refutar hábitos e regras que impeçam a

inovação. Através da interação ao longo do tempo podem-se perceber culturas que estimulam

a mudança técnica, essas devem ser incentivadas pela nação, ao passo que as contrárias

devem ser enfraquecidas. Enlaça-se então a aprendizagem intrínseca em processos inovativos,

com o contexto institucional, em favor da abordagem de s.n.i., que passa a ser caracterizada

por: “[...] a „national system of innovation‟ simply means all interrelated, institutional and

structural factors in a nation, which generate, select, and diffuse innovation.” (Ibid., p. 39).

As instituições se modificam, bem como as necessidades tecnológicas. Isso faz com

que culturas e regras que em certo momento incentivaram a mudança técnica em outro podem

contê-la. Assim se nota uma diferença e conflito entre duas diferentes institucionalidades:

entre aquelas que estabilizam padrões de comportamento e aquelas que incitam

continuamente a mudança. Uma economia inovadora é aquela que consegue balancear esses

dois tipos de institucionalidades (Ibid.).

Inovações requerem conhecimento e acumulação do mesmo. Mas se o contexto

institucional for muito estabilizador, provavelmente vai desencorajar e até travar mudanças

tecnológicas. Ao contrário, se o contexto institucional for extremamente dinâmico, à medida

que incita sucessivamente a mudança, haverá uma dificuldade em acumular conhecimento,

em deixar que novas tecnologias tenham um tempo hábil para seu desenvolvimento completo.

São as inovações institucionais que influenciam mais diretamente o sucesso ou não do

estabelecimento de um s.n.i., estas que juntamente com as inovações organizacionais são

complementares a inovações em processos e produtos. A falta de inovações deste tipo, em

nível mundial que provavelmente produz as disparidades entre países pobres e ricos, não

explicadas pela tradicional teoria econômica, já que:

In so far as specific technological capabilities are rooted in national

networks of user-producer relationships, “technology transfer” can only

solve part of the problem, however. There is a need for strengthening the

48

whole national system of innovation, including science, industry and final

user (LUNDVALL, 1988, p. 366).

Para Villaschi (2002), uma característica básica das instituições é que elas se

constituem em mecanismos de informação que pretendem diminuir a incerteza, isso porque

trabalham sob o elemento central das mudanças, o conhecimento. E em períodos de mudança

econômica e tecnológica é fundamental que as instituições se modifiquem, que acompanhem

e promovam as alterações estruturais na economia e na sociedade.

Felipe (2006) evidencia que a implementação/funcionamento de um sistema nacional

de inovação necessita de um ambiente institucional que o favoreça. As interações propostas

por Lundvall (1988) para serem efetivadas precisam ser incentivadas por instituições,

facilitadas ou dificultadas conforme as características históricas e culturais da sociedade.

Instituições envolvem o conhecimento tácito, e agem sobre ele também, e por isso são

intrínsecas aos processos inovativos e à elaboração de políticas em sistemas nacionais de

inovação. E é por isso que essa abordagem não nos revela um ―receituário‖ das políticas a

serem desenvolvidas, ou setores contemplados, ou resultados exatos.

Sistemas nacionais de inovação exigem a percepção de que há idiossincrasias entre

países e regiões, e a partir de tal formular suas políticas. Especificidades essas que se referem

sobretudo às instituições no conceito adotado por Veblen e neo-institucionalistas, as quais,

apesar de terem um forte apelo local, são majoritariamente nacionais.

Através deste aporte teórico que compreende tanto a abordagem de s.n.i. de Aalborg

quanto abordagens que surgiram com o intuito de torná-la mais robusta também para análises

de países em desenvolvimento, e teorias institucionalistas que devem agregar neste sentido,

têm-se elementos para analisar o sistema nacional de inovação brasileiro. Mas para torná-la

mais robusta aliam-se as contribuições teóricas e de cunho empírico desenvolvidas na OCDE

em torno do termo de ―sistemas nacionais de inovação‖, pois foi no âmbito desta organização

que o mesmo se desenvolveu.

49

2 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: O CASO DA OCDE

A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é considerada

referencial e modelo prático de análise em sistemas nacionais de inovação, já que desde a

década de 1980 tem se preocupado em aprofundar teórica e empiricamente o tema. Para tanto

neste capítulo se resgata historicamente suas principais pesquisas e atividades em s.n.i.,

recomendações, contribuição teórica e alguns dados fornecendo um panorama geral e atual.

Dessa forma, o capítulo é composto de cinco seções, com suas respectivas subseções.

A primeira seção fornece uma apresentação sobre a OCDE, suas bases históricas,

objetivos e atual organização, tanto administrativa quanto política.

Posteriormente se avalia as principais recomendações desse organismo multilateral em

políticas de sistemas nacionais de inovação. Isso é realizado através da leitura de seus

principais relatórios de pesquisa, que giram em torno das três gerações de pesquisa em s.n.i.

Na terceira seção se faz o resgate das principais orientações e contribuições da OCDE

para a abordagem teórica de sistemas nacionais de inovação, através da leitura dos dois

manuais, base para a pesquisa em s.n.i., o Manual Oslo e o Manual Frascati. Apesar de nesta

dissertação se usar a abordagem de s.n.i. de Aalborg que tem uma visão um pouco distante do

exposto nestes manuais, que tratam de ilustrações de distribuição de P&D por parte de firmas

e nações, seu uso é importante pois estes tornaram-se referenciais. E isto inclusive para outras

pesquisas, como a Pintec no Brasil, demonstrando a evolução, em importância, do tema.

Posteriormente se avalia alguns dados estatísticos dos países-membros da OCDE em

matéria de P&D e outras formas de estímulo às inovações, bem como um panorama e agenda

atual de tais políticas.

50

E, por fim, se descreve de forma sucinta as políticas implementadas em casos

específicos, Finlândia e Coreia do Sul. O primeiro por ser o único país a implementar as

políticas de s.n.i. de forma efetiva e completa, conforme as orientações da OCDE. E o

segundo por ser um país de industrialização retardatária e que através do investimento em

ciência e tecnologia conseguiu modificar drasticamente sua estrutura econômica.

Este capítulo se engaja com o anterior por ser uma extensão de tais conceitos teóricos.

E com o terceiro e quarto capítulos, pois demonstra a abordagem de sistemas nacionais de

inovação como conduta de política aplicável à diferentes países.

2.1 – A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

Após o término dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, a Europa via-se em um

clima de devastação. Tanto por perceber que uma parte significativa de sua população havia

sido exterminada (cerca de 36,5 milhões de europeus), como por notar territórios totalmente

destruídos, linhas de comércio desarticuladas e enormes déficits públicos (JUDT, 2008).

Nessa conjuntura a reconstrução da Europa tornou-se uma necessidade e a ajuda

externa pode ter sido determinante no relativo sucesso dessa tarefa, já que na tentativa de

promover a recuperação da Europa, sobretudo dos territórios devastados pelos conflitos, os

Estados Unidos promovem um programa de ajuda internacional, o plano Marshall (entre 1948

e 1951). E para canalizar tais recursos, e executar o Plano, foi criada a OECE (Organização

Europeia de Cooperação Econômica) (OECD, 2008).

A OECE foi criada com o intuito de incitar a cooperação econômica de forma

permanente, inclusive uma de suas ações era a organização de ―missões de produtividade‖,

em que gerentes, técnicos e sindicalistas europeus interagiam com as novas técnicas de gestão

e produção adotadas nos Estados Unidos. Os princípios da OECE eram: i) promover a

cooperação entre os países participantes de seus programas; ii) reduzir o protecionismo ao

comércio intra-europeu; iii) estudar a viabilidade de criação de uma união aduaneira ou uma

zona de livre comércio; iv) estudar formas de pagamentos multilaterais; v) melhorar o

desempenho e aproveitamento do trabalho. As nações signatárias do acordo que instituiu a

OECE são: Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália,

Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Suíça, Suécia, Turquia, Reino Unido e Alemanha

Ocidental (OECD, 2011).

51

A OECE cumpriu sua principal função de canalizar recursos do Plano Marshall, até o

término deste em 1951, e também incitou a integração econômica, que era um dos principais

objetivos do plano. Mas ao longo do tempo parte importante das negociações deslocou-se do

âmbito da OECE para a integração econômica que se formava desde 1951 (Comunidade

Europeia do Carvão e do Aço entre: Bélgica, Noruega, Luxemburgo, Alemanha, Itália e

França), que em 1957 deu origem à Comunidade Econômica Europeia, base da atual União

Europeia.

Então a Organização Europeia de Cooperação Econômica apresenta uma importante

mudança institucional no ano de 1961, período em que passa a se denominar Organização de

Cooperação e Desenvolvimento Econômico, e modifica-se estruturalmente passando a admitir

também países não europeus como membros, inicialmente Canadá e Estados Unidos.

Conforme OECD (1960. Art. 1), os objetivos da nova organização eram promover

políticas para:

Alcançar elevado e sustentado crescimento econômico, emprego e crescente nível de

vida nos países-membros, mantendo a estabilidade financeira, e assim contribuir para

o desenvolvimento da economia mundial;

Contribuir para a expansão econômica dos Estados, bem como de países terceiros no

processo de desenvolvimento econômico;

Contribuir para a expansão do comércio mundial em uma base multilateral e não

discriminatória, em conformidade com a legislação internacional.

Para tanto a OCDE conta com uma estrutura administrativa formada pelo Conselho,

Secretariado e Comitês, que estão engajados e trabalham de forma interdependente. O

primeiro tem poder de decisão, o segundo função executiva, e os comitês são fóruns de

interação das nações.

Destaca-se a função do secretariado: realizar os trabalhos, pesquisas, relatórios

encomendados pelo conselho – cuja sede é em Paris, ponto geográfico de referência da

OCDE. E dos comitês, formados por representantes dos países-membros, que se reúnem em

comissões especializadas para avaliar progressos em domínios políticos específicos

(economia, educação, comércio, emprego, finanças, etc.). Há cerca de 250 comitês, grupos de

trabalho e grupos de peritos, constituindo-se em um espaço de discussão, tanto em reuniões

52

presenciais quanto virtuais, um espaço de troca de experiências e aproximação dos países

(OECD, 2011).

A OCDE apresenta-se atualmente constituída de 34 países-membros que aderiram a

organizações em diferentes períodos, conforme mostra a figura 1:

Figura 1 Países-membros da OCDE e seu respectivo ano de adesão

País membro Ano de Adesão País membro Ano de Adesão

Alemanha 1961 Suíça 1961

Áustria 1961 Turquia 1961

Bégica 1961 Itália 1962

Canadá 1961 Japão 1964

Dinamarca 1961 Finlândia 1969

Espanha 1961 Austrália 1971

Estados Unidos 1961 Nova Zelândia 1973

França 1961 México 1994

Grécia 1961 República Checa 1995

Holanda 1961 Coréia 1996

Irlanda 1961 Hungria 1996

Islândia 1961 Polônia 1996

Luxembrugo 1961 Eslováquia 2000

Noruega 1961 Chile 2010

Portugal 1961 Eslovenia 2010

Reino Unido 1961 Estônia 2010

Suécia 1961 Israel 2010

Países-membros da OCDE e sua respectiva data de adesão

Fonte: OECD (2011).

Além destes, há o caso da Rússia que está em processo de negociação para integrar-se,

a qual deve demonstrar sua capacidade de adequação às políticas da OCDE em um vasto

número de setores e áreas, processo que tende a ser longo. E também há o grupo formado por

África do Sul, Brasil, China, Índia e Indonésia, os quais se integram com a OCDE através do

programa especial de ―engajamento ampliado‖ baseado no mútuo interesse. Além disso,

colabora e possui acordos de parceria com outras 100 economias (OECD, 2011).

A OCDE é um centro de discussões, troca de experiências e de produção de pesquisas

e relatórios sobre assuntos que dizem respeito ao desenvolvimento econômico dessas nações.

É conhecido popularmente como o fórum de discussões das nações mais ricas do mundo.

Em relação aos estudos centrados na abordagem de sistemas nacionais de inovação,

foi na década de 1990 que tais discussões enraízam-se ainda mais na organização, como se

verá adiante. E também é nesse período que a OCDE se modifica, admitindo também países

menos desenvolvidos em seu conjunto, com a adesão do México em 199412

.

12 Países podem tornar-se nação membro à OCDE através do convite oficial realizado pelo Conselho

dessa organização aos Chefes de Estado. Mas esse não é um processo automático, as nações antes de efetivarem

53

E são essas novas adesões, majoritariamente de países menos desenvolvidos, que

propiciam o enriquecimento nas discussões, pois favorecem questionamentos em temas não

convencionais para grupos de países mais homogêneos economicamente. “This new chapter

in the history of the Organisation confirms our global vocation as the group of countries that

search for answers to the global challenges, and establish standards in many policy fields

such as environment, trade, innovation or social issues.”13

(OECD, 2011).

Então adiante se explora quais são as principais recomendações dessa organização,

que vem se modificando estruturalmente em sua história para congregar cada vez mais países

em fóruns de discussões em prol do desenvolvimento econômico e social pautado

principalmente na ciência e tecnologia.

2.2 – Recomendações da OCDE em Políticas de Sistemas Nacionais de Inovação

Conforme Godin (2009) é no período em que Lundvall é nomeado como diretor de

Ciência, Tecnologia e Indústria (DSTI), entre 1992 e 1995, que o conceito de sistema nacional

de inovação se difunde no âmbito da OCDE. Mas é apenas a partir de 1995 que organização

passa a instituir grupos de estudos e trabalhos nesse tema, e a implementar tais políticas.

Porém, observa-se que muito antes dessa época uma forma de pensamento em sintonia

com a abordagem de s.n.i. já estava presente nas discussões e relatórios da organização. Já na

época da OECE, em 1958, o Conselho Europeu sente a necessidade de instalação de um grupo

especial de pesquisa em termos de produtividade, a fim de avaliar a ampliação da capacidade

tecnológica europeia através da interação entre agentes (GODIN, 2009).

Há de se lembrar que um dos objetivos da OECE era integrar os agentes em favor da

retomada da produção industrial em uma Europa parcialmente destruída pela Segunda Guerra

Mundial. Essa interação não deveria se restringir às fronteiras nacionais, tentando superar os

resquícios dos conflitos, e possibilitar que um clima de maior confiança se instalasse.

Conforme Godin (2004), a OCDE se configura como um think tank em inovação e

s.n.i., especialmente para seus países-membros, desde sua criação. Orientada pela pesquisa

sua entrada devem por um período demonstrar sua capacidade de interagir e seguir as linhas de políticas

propostas pela OCDE. Nos últimos 16 anos efetivaram-se 10 adesões nestes moldes (OECD, 2011). 13

Este trecho faz parte do pronunciamento do secretário-geral da OCDE sobre a adesão de Israel, Estônia

e Eslovênia em 2010.

54

esta organização tem a missão de promover um melhor entendimento das questões

econômicas entre policy makers nacionais, através de seus seminários, workshops e estudos.

Então a preocupação e estudo em ciência e tecnologia favorecidas por interações entre

agentes em um ambiente institucional favorável no âmbito da OCDE passa por três gerações

de pesquisa. Conforme OECD (2005b), suas características são:

1ª geração, anterior a 1995 – destacava a linearidade entre pesquisa básica e aplicada e

introdução de novos produtos e tecnologias no mercado;

2ª geração, entre 1995 e 2001 – baseada na pesquisa em s.n.i., projeto NIS (National

Innovation Systems), ia além da primeira por entender que a política de inovação tinha

uma perspectiva mais ampla que o mercado, no qual as mudanças estruturais e a

adaptação em relação a tais políticas desempenham um papel central;

3ª geração, desde 2002 – amplia o conceito de política de inovação para além da visão

tecnológica, evidenciando políticas coordenadas e ações estratégicas para promover a

mudança estrutural, relacionada com o desenvolvimento econômico e social.

2.2.1 – A primeira geração de pesquisa em inovações na OCDE

Conforme Godin (2009), na Europa, do final da década de 1950, havia uma grande

dificuldade de integrar pesquisas em laboratórios, universidades e a implementação de tais

conhecimentos no cotidiano e ambiente empresarial. A pesquisa científica era isolada nas

universidades e não conseguia se relacionar com a sociedade. Isso porque havia uma cultura

de que a academia deveria desenvolver conceitos mais abstratos, vista por um prisma mais

cultural. E às firmas era comum uma mentalidade muito imediatista em lucros, destacando

apenas investimentos de curto prazo, faltando-lhes ampliação de investimentos tecnológicos.

A falta de integração dos conhecimentos acadêmicos e científicos com o cotidiano

empresarial era visto como importante limitador do desenvolvimento tecnológico europeu do

final da década de 1950. Além disso, faltava à comunidade empresarial visão de longo prazo

em investimentos. Algo justificável, haja vista que a região ainda estava envolvida em um

ambiente institucional de incerteza, resquícios de um longo período de conflitos.

Mas é no âmbito da OCDE, em 1961, que se avançou em pesquisas que destacavam os

aspectos institucionais e contextuais, engajados em um sistema apoiado por uma nação que

55

incentivava o desenvolvimento tecnológico. Tais pesquisas gravitavam em torno de um

sistema composto de quatro setores (governo, universidade, indústria e organizações sem fins

lucrativos), circunstanciados em um ambiente econômico e internacional (GODIN, 2009).

Em 1962, o Comitê de Pesquisa Científica (DSR) da OCDE decidiu enfatizar em suas

pesquisas o futuro dos aspectos econômicos da pesquisa científica e tecnológica. E passaram a

sugerir que governos ligassem ciência e tecnologia a crescimento econômico e produtividade.

Mais tarde, em 1976, o segundo ad hoc review group em estatísticas de ciência e tecnologia

sugeriu que tais estudos, de ligações entre P&D e produtividade fossem estabelecidas pelo

DSTI (Directorate for Science, Technology and Industry), mas que só começaram a surgir,

enquanto resultados e relatórios a partir da década de 1990, época que Lundvall passou a ser

seu responsável (Id., 2004).

Alguns resultados começaram a aparecer na década de 1970. Destaca-se o trabalho

The Research System, publicado em três volumes entre 1972 e 1974, a partir do qual alguns

estudiosos da OCDE reconhecem a inovação como algo contínuo, não estático, formado em

sistemas que apresentam dependência mútua. Estes se diferenciam entre campos científicos e

entre setores da sociedade, assim como entre países (RIP e MEULEN, 1996).

Nas décadas de 1960 e 1970 surgiram outros estudos que de maneira geral ressaltam

que um sistema de inovação precisa considerar cinco relacionamentos essenciais: i) entre os

setores econômicos (governo, universidade, indústria e organizações sem fins lucrativos); ii)

entre a pesquisa básica e a pesquisa aplicada; iii) da política em si (as políticas de inovações

devem se integrar com outras políticas nacionais); iv) o relacionamento entre o ambiente

econômico (fundamental o diálogo entre formuladores de política econômica e formuladores

de política de ciência e tecnologia); v) e a cooperação internacional (GODIN, 2009).

Dentre tais formulações destaca-se o indicador criado pela OCDE em 1963 que

combinou ciência/tecnologia e produção econômica (gastos em P&D/PIB). A grande maioria

dos estudos da organização, em matéria de inovações, realizados nas décadas de 1970 e 1980

utilizava tal indicador comparando os países-membros. Também se utilizavam indicadores de

balança de pagamentos tecnológicos e comércio em alta tecnologia, enfatizando as ligações

internacionais em ciência e tecnologia. (Ibid, 2004)

Mas tais resultados ainda não colocavam a inovação no centro das discussões da

OCDE, as quais tinham como foco o crescimento econômico centrado na produtividade e no

56

comércio internacional. Uma consequência da relutância de economistas de linha ortodoxa em

incorporar tecnologia e inovação em seus modelos e teorias (Ibid.).

Segundo Godin (2004), em 1988 foram lançados novos projetos que pretendiam: i)

estabelecer uma base de dados compreensível, desagregável e internacionalmente comparável

ligando P&D, insumos e produtos, e dados de importação/exportação no nível da indústria

individual; ii) estabelecer indicadores de indústrias e de nível agregado da evolução

tecnológica e do desempenho econômico; iii) realizar estudos empíricos sobre o papel da

tecnologia na globalização, competitividade internacional, crescimento da produtividade e

mudanças estruturais.

Um dos principais resultados desses projetos foi a criação do STAN, um novo banco de

dados que enfatiza a análise estrutural, implementado em 1992. E a partir de tais números

começou-se a publicar o Science, Technology and Industry Outlook – uma revisão bienal que

combina elementos do Industrial Review – o S&T Policy Outlook e o S&T Indicators, a partir

de 1996 (Ibid.).

Pode-se perceber que ainda nessa época havia uma preocupação na mensuração da

inovação, e essa era a principal dificuldade que fazia o tema não se integrar totalmente nas

discussões, pois mensurar seus efeitos é algo altamente complexo.

Mas o programa que realmente produz resultados foi o TEP (Technology Economy

Programme), em 1988, quando passa a se questionar porque muitos estudos demonstravam a

importância do investimento em P&D como alavanca do desenvolvimento econômico, mas as

evidências empíricas não corroboravam estes resultados. A partir de tais questionamentos

delinearam-se estudos que enfocaram mais a relação entre ciência e tecnologia e a geração de

empregos. Nesse contexto se passou da primeira para a segunda geração de estudos em

economia da inovação na OCDE (GODIN, 2004).

É apenas em meados da década de 1990 que o conceito de s.n.i se expandiu no âmbito

da OCDE. Até porque é nesta época que o conceito de s.n.i. se delineou teoricamente,

principalmente com a obra de Lundvall (1992), conforme constatado no capítulo anterior.

Godin (2004) comenta sobre a expansão dos estudos em inovação na OCDE:

The real work began, however, in the 1990s. The fact that the OECD and its

member countries entered the field of science, technology and economic

growth followed the reorientation of its program on science and technology

statistics towards more economic issues. Certainly, the economic impact

57

(output!) of science and technology has always been a priority for the DSA

and for the DSTI‟s statistical unit, and evolutionary economists as

consultants, among them R. Nelson and C. Freeman, pushed for integrating

science and technology into economic policy for several years. Beginning in

the 1990s, however, OECD classical economists finally began developing an

interest in science and technology. Policy has shifted from a focus on macro-

economic policies to a focus on micro-economic such as firm-level

innovation. New growth theories were then in vogue, and succeeded in

focusing OECD mainstream economists on science and technology as a

source of economic growth (Grossman and Helpman, 1991; Aghion and

Howitt, 1992; Romer, 1990). […]With the diverging rates of economic growth across countries in the 1970s and 1980s, the impact of technology on

growth and productivity became a cause of concern. The DSTI developed

projects on structural adjustment and technology (OECD, 1978), science and

technology in the new economic context (OECD,1980), and science,

technology and competitiveness (OECD, 1984). But it was during the

Technology and Economy Program (TEP) and after that work on

productivity expanded (OECD, 1992b). The Economic and Statistical

Analysis Division (EASD) of the DSTI came to be associated with several

OECD projects devoted specifically to productivity: analyses were conducted

on productivity and job creation for the OECD job study project (OECD,

1996d,e), and on the contribution of R&D, innovation and technologies to economic growth for the OECD horizontal Growth Project (OECD, 2001c)

(GODIN, 2004, p. 682).

É a partir do final da década de 1980 que a tecnologia e a ciência realmente se

engajaram nas pesquisas econômicas da OCDE. E suas evidências empíricas passaram a ser

examinadas especialmente pelo emprego gerado nas novas áreas do conhecimento,

promovendo a adesão de mais países na implementação de tais políticas.

Na figura 2 se visualiza a relação dos estudos da OCDE na primeira geração de

pesquisas em economia da inovação, sendo que os dois últimos já se integram mais com a

segunda geração, com evidência ao TEP que abre caminho para as discussões do projeto NIS.

Figura 2 Projetos em Ciência, Tecnologia e Inovação vinculados ao DSTI - OCDE

Fonte: GODIN, 2004, p. 682.

Na primeira geração ainda havia o conceito limitado da inovação, puramente ligada à

tecnologia e produtos. A tentativa das pesquisas era basicamente vinculada às estatísticas

ligadas à produtividade e gastos brutos com P&D. Começava a se esboçar a importância da

58

interação entre agentes, mas ainda não havia a real dimensão e importância do tema para o

desenvolvimento das nações. Questões que passam a ser aprofundadas nas gerações seguintes.

2.2.2 – Projeto NIS

Por toda a década de 1990, através da pesquisa acadêmica e análise de políticas, a

abordagem de sistemas nacionais de inovação se desenvolveu tanto estruturalmente quanto

em informações quantitativas. E a OCDE, através do Comitê de Política Científica e

Tecnológica e do Grupo de Trabalho em Tecnologia e Política de Inovação, alcançou

importantes contribuições teóricas e empíricas, realizadas em duas fases, ambas integradas ao

projeto NIS (OECD, 2002a).

A primeira fase envolveu estudos de casos de países, indicadores comparáveis

internacionalmente e análises temáticas em grupos específicos de análise – em seis áreas, cada

uma com países líderes: firmas inovadoras (Canadá e França); redes de empresas inovadoras

(Dinamarca); Clusters (Holanda); mobilidade e recursos humanos (Noruega, Suécia e

Finlândia); mapeamento organizacional (Bélgica); economias de catching-up (Coreia). Os

resultados foram publicados em ―Managing National Innovation System” e em “Boosting

Innovation: The Cluster Approach”, ambos publicados em 1999 (FEINSON, 2003; OECD,

2002a; OECD, 1999a).

Já a segunda fase aprofundou-se em três temas: clusters; firmas inovadoras e redes de

relacionamento; e mobilidade de recursos humanos. Seus resultados foram publicados em:

―Innovative Clusters: Drivers of National Innovation Systems”; “Innovatives Networks: Co-

operation in National Innovation Systems”; e ―Innovative People: Mobility of Skilled

Personnel in National Innovation Systems”, todos de 2001 (OECD, 2002a).

Na primeira fase a OCDE reconhece que o conhecimento é a força motriz do

crescimento econômico, desenvolvimento social e geração de empregos. E a partir disso seu

desafio é lançar bases e indicação de práticas para que seus países-membros realizem a

transição de economias baseadas em recursos para a base no conhecimento, na qual a

abordagem de s.n.i. fornece estrutura de análise coerente (OECD, 1999a).

A inovação é vista como fator essencial às políticas das nações: “Innovation is a key

driver of long-term economic growth, the primary basis for competitiveness in world markets

and part of the response to many societal challenges” (Ibid. p. 9-10). O desempenho depende

59

de como atores específicos interagem com outros elementos de um sistema de inovação, em

nível local, nacional e internacional. E que na maioria das vezes apenas produz o resultado

esperado de mudança tecnológica, se for acompanhado de mudanças institucionais e

organizacionais, treinamento e aperfeiçoamento das competências.

Dessa forma, a prioridade dos governos deve ser a interação entre agentes, que pode

ser incentivada através de: formas de financiamento mais flexíveis, fortalecimento da

cooperação entre indústria e universidades em diferentes modalidades, programas de

incentivo à interação entre firmas: ―Interfirm collaboration is by far the most important

channel of knowledge sharing and exchange. Creating appropriate conditions for such

collaboration thus poses a key policy challenge‖ (OECD, 1999a, p. 53). Dentre as formas de

colaboração entre firmas aquela que deve produzir melhores resultados é a mobilidade de

trabalho entre organizações, que pode ser uma fonte importante de estímulo à inovação e

decodificação do conhecimento tácito.

OCDE (1999a) sugere ainda que políticas de apoio à tecnologia e inovação devem ser

complementares a outras reformas estruturais, concentrando-se em: i) construir uma cultura

inovadora – agir sobre fatores que restringem a capacidade inovadora nos agentes; ii) reforçar

a difusão da tecnologia; iii) promover redes e clusters; iv) alavancar a pesquisa e

desenvolvimento – maior utilização de parceria público/privada nas pesquisas e fomentar a

comercialização da pesquisa através de leis de patentes; v) dar resposta à globalização –

captar benefícios das alianças tecnológicas globais.

O NIS propõe que as economias, especialmente as desenvolvidas, estão sendo guiadas

cada vez mais pelo conhecimento e menos pela produção de forma isolada. Mas ainda não

deixa clara a necessidade de integração entre as diferentes esferas do governo, o estímulo à

interação e inovação ainda são concentradas na esfera da ciência e tecnologia.

Apesar de estar mais preocupado com inovações em produtos, o relatório (OECD,

1999a) manifesta a importância de canalização maior em pesquisa e estímulo a soluções

inovadoras e gestão da inovação também no setor de serviços. Propõe-se que isso deve ser

feito de três formas: desenvolvimento de uma infraestrutura que corrija ou minimize

imperfeições na informação; ferramentas públicas de gestão da inovação, desenvolvimento de

―boas práticas‖; promoção do desenvolvimento, difusão e promoção da gestão de know-how.

60

Outro aspecto evidenciado é que as políticas de inovação tendem a produzir um

resultado superior se direcionadas às pequenas e médias empresas, pois firmas menores

tendem a ser mais limitadas em recursos financeiros e humanos, têm menos acesso imediato à

informação, possuem horizonte de tempo menor, são mais avessas ao risco e relutantes em

aceitar ajuda externa – exceto em situações específicas de curto prazo (Ibid.).

As maiores barreiras para não utilização de novas tecnologias no âmbito das firmas,

algo identificado em estudos anteriores, são: a falta de informação, a falta de financiamento e

a falta da perícia técnica, assim como deficiências organizacionais e gerenciais. E

normalmente as firmas mais inovadoras são aquelas que têm a capacidade de acessar

conhecimento externo e ligar-se com redes de conhecimento (OECD, 1997).

Já na segunda fase do projeto NIS, uma das conclusões importantes do relatório sobre

firmas inovadoras e redes de relacionamento diz, justamente, respeito ao tamanho das firmas e

sua tendência à colaboração.

Afirma-se, embasadas em estatísticas realizadas através de entrevistas a cerca de 1.600

empresas inglesas (Programa Community Innovation Survey – CIS2)14

, que empresas maiores

são mais propensas a colaborar. Mas no resultado final observa-se que a colaboração pode ser

mais ―eficiente‖ para firmas menores, já que para estas a interação tanto com usuários como

fornecedores e universidades tende a incrementar em muito a intensidade e o desempenho da

inovação (OECD, 2001).

Mas firmas menores que cooperam tendem a investir menos em P&D e outras formas

de estímulo interno à inovação, sendo a cooperação encarada como substituta aos

investimentos em inovação. Já as firmas maiores que cooperam tendem a investir mais em

inovação, sendo a cooperação complementar à inovação. Estas também tendem a maior

colaboração com institutos de pesquisa e universidades, pois normalmente estão mais

familiarizadas com seus códigos e culturas, pois tendem a empregar pessoal mais qualificado

e possuir laboratórios internos de P&D (Ibid.).

Essa fase do NIS se preocupou com a avaliação empírica, aplicação de questionários

em empresas de diferentes países, verificando os conceitos teóricos; e também aprofundando

metodologias, condensadas em manuais explorados adiante. Desses trabalhos destaca-se o

14 Sobre considerações metodológicas do Programa Community Innovation Survey, ver em Manual Oslo,

OECD, 2005, também explorado mais adiante, neste capítulo.

61

projeto DISKO que foi desenvolvido durante a década de 1990 em vários países da área da

OCDE – União Europeia, Espaço Econômico Europeu, Canadá e Austrália.

O projeto DISKO analisou a importância da colaboração interfirmas como forma de

incentivar processos inovativos. Foi realizado através da aplicação de um questionário via

entrevista telefônica em uma amostra da população de empresas de cada país, respeitando-se a

proporcionalidade do tamanho das firmas e distribuição setorial. Empresas foram

questionadas se elas colaboravam ou não com parceiros externos e quais os tipos de parceiros

que estiveram presentes (OECD, 2001).

Dentre seus resultados gerais destacam-se: i) a atividade de inovação é amplamente

difundida entre os setores econômicos, não é isolada em determinados segmentos; ii)

empresas inovadoras, em geral, possuem colaboração tecnológica com outras empresas; iii)

relações de colaboração normalmente persistem por um longo período; iv) colaboração com

partes estrangeiras tem se mostrado importante; v) instituições de infraestrutura em ciência e

tecnologia, universidades e institutos de pesquisa têm papel significativo no processo de

colaboração; vi) as estruturas de relacionamentos colaborativos são bastante semelhantes entre

países, sugerindo que existem semelhanças entre tais sistemas nacionais de inovação (Ibid.).

E a partir dessas constatações sugere-se políticas a serem implementadas: 1) conceder

crédito público não somente para firmas isoladas, mas sim para o fortalecimento de redes de

colaboração; 2) incentivar a colaboração com universidades e institutos de pesquisa

melhorando a infraestrutura para tal e assim também melhorar o capital social; 3) formas de

colaboração diferem entre os setores, isso requer políticas diferenciadas; 4) incentivo à

colaboração internacional, especialmente através de regulamentos claros (Ibid.).

Deve-se ponderar que existem diferenças entre países, que exigem aplicação de

diferenciadas políticas de s.n.i. Nações diferem especialmente em: tamanho do país, padrão de

vida e especialização industrial. Esta última normalmente é fruto da acumulação de

capacidades tecnológicas ao longo do tempo, já que normalmente se observa uma forte

correlação entre padrões passados e atuais de competência tecnológica (OECD, 1998).

Os resultados do projeto NIS nos sugerem que o estímulo à inovação deve priorizar a

interação entre firmas, tanto para a elaboração conjunta de novos e processos, diferentes tipos

de associação, mas principalmente a mobilidade de trabalhadores entre esses parceiros.

62

Coloca-se atenção especial às pequenas e médias empresas e integração entre empresas e

universidades/laboratórios de pesquisa.

2.2.3 – Projeto MONIT

No projeto NIS se reconheceu que os países desenvolvidos, membros da OCDE,

tenderiam a se aproximar de economias orientadas pelo conhecimento e pela inovação. Mas

ao mesmo tempo não se vislumbrava igual mudança nas políticas de inovação dos governos.

E é isso justamente que o projeto posterior ao NIS explora.

A nova fase de pesquisas em s.n.i. na OCDE, que se inicia em 2002, fica a cargo do

grupo de trabalho sobre políticas de inovação e tecnologia, que cria nesse mesmo ano um

novo estudo colaborativo, o MONIT (monitoring and implementing national innovation

policies). Este, assim como o projeto NIS, foi desenvolvido por pesquisadores voluntários de

países dispostos a participar.

O relatório Governance of Innovation Systems (OECD, 2005b) discute esse projeto,

cuja preocupação central é sobre os arranjos institucionais como forma de efetivação de um

s.n.i., examinando as ações dos países membros da OCDE nesse esforço.

O projeto MONIT foi coordenado pela Noruega, e com destaque de participação para

Finlândia, Áustria e Holanda que foram considerados co-líderes. Na totalidade do projeto

participaram 13 países (Austrália, Áustria, Bélgica, Coreia, Finlândia, Grécia, Irlanda, Japão,

Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Suíça). Todos pequenos (exceção feita à

Austrália) e desenvolvidos. Muitos deles na época promoviam ações de mudança estrutural e

por isso vincularam-se, sua participação era vista como possibilidade de aprendizagem

política (OECD, 2005b).

O projeto aconteceu em duas fases: primeiro foram desenvolvidos vários estudos sobre

governança e inovação, base para a análise posterior. Depois foram realizados estudos de caso

em áreas políticas relevantes, tais como desenvolvimento sustentável, sociedade da

informação, transportes e assuntos regionais (Ibid.).

Mais precisamente é a partir da terceira geração que se assume a importância

fundamental das instituições na formulação e aplicação de políticas de inovações. O projeto

MONIT pressupõe que tanto as economias nacionais como a global tornam-se cada vez mais

dinâmicas, mais complexas e guiadas pela inovação e pelo conhecimento. Os governos

63

precisam responder a tais fatos, mas de uma maneira diferente da habitual, já que se trata de

um processo de profunda transformação econômica e social.

Na pesquisa em economia da inovação da OCDE anteriormente a 2002 se reconhecia e

mesmo se destacava que a inovação deveria ser o centro das políticas governamentais e ações

das empresas e que os agentes tenderiam a ter resultados mais satisfatórios se houvesse

integração entre eles. Mas efetivamente não se desvinculava o conceito exclusivamente ligado

à ciência e tecnologia, e as esferas específicas de governança. E é somente na terceira geração

que há essa ampliação.

Segundo a OECD (2005b), existem diferentes tipos de tensões que têm atrapalhado a

implementação de políticas eficientes em s.n.i.. Cita-se:

i) domínios políticos concorrentes, divergências entre ministérios ligados à economia e

comércio que normalmente operam sob ótica neoclássica e ministérios ligados à

indústria cujo pensamento converge com a economia evolucionária;

ii) visão de curto prazo para alocação de recursos, que comprometem investimentos de

longo prazo necessários às políticas de inovação;

iii) questões estratégicas em gestão pública, prioridade à eficiência nos gastos públicos,

que acabam em longo prazo negligenciando certas questões estratégicas, tal como

s.n.i.;

iv) diferentes visões sobre políticas de inovação, esferas do governo podem divergir sobre

sua concepção de investimentos em inovação causando fragmentação danosa ao s.n.i.;

v) diferentes imperativos para diferentes domínios de intervenção, o melhor exemplo é a

tensão entre política de inovação e política ambiental, normalmente enquanto uma cria

certos incentivos a outra tentar barrá-los;

vi) políticas em inovação normalmente abrangem várias áreas políticas que carregam

diferentes visões, o que tende a aumentar conflitos por interesses divergentes;

vii) tendência à fragmentação e segmentação, enquanto que a exigência é de políticas

cada vez mais coordenadas, aumentando sua complexidade;

64

viii) concorrência e ambição pessoal, para além de fatores estruturais questões individuais

de ambição de gestores públicos e competição por status e recursos escassos, levando

à rivalidade, disputa de território e perda de coerência e tensões em s.n.i.;

ix) resistência à coordenação externa, ministérios ligados à ciência e educação têm um

papel fundamental na política de P&D, mas normalmente resistem à coordenação

externa, o que distancia a política de P&D e a política de inovação;

x) incentivos a determinadas áreas ou setores normalmente causam tensão e desgaste

político com outras áreas e setores que também desejam tais incentivos;

xi) alterações em paradigmas de políticas, países que adotam postura coerente em

determinada época podem não ser eficientes no período posterior, pela sua não

evolução, por manter práticas coerentes com o paradigma anterior e não com o atual;

xii) pressões externas, governos podem receber pressões externas e podem não estar

preparados para lidar com essas questões e por isso desarticular o s.n.i.

Estas são as tensões usuais encontradas nos países participantes do MONIT e que

podem desarticular e desestabilizar sistemas nacionais de inovação. Os governantes precisam

aprender sobre interações entre políticas para criar ambientes propícios para a inovação.

A característica que gera profundos conflitos e tensões em políticas de inovação é a

sua abrangência. A partir do projeto MONIT tem-se um conceito ampliado de inovação, que

abrange várias esferas da sociedade e que por isso precisa ser compartilhada por toda a

estrutura governamental. Inovação interessa à educação, ciência e tecnologia, saúde,

agricultura, indústria, serviços, relações internacionais e meio ambiente. Por isso precisa

haver diálogo entre estes ministérios, e isso tanto a nível local, nacional e internacional, como

entre entidades públicas e privadas. E nesse amplo meio provavelmente haverá tensões.

E é esse diálogo a principal recomendação que o relatório (OECD, 2005b) faz, ou seja,

que as políticas em s.n.i. sejam horizontais e que ao longo do tempo se promova uma

aprendizagem política, uma evolução na percepção de como a ação, sobretudo governamental,

pode incentivar processos inovadores e de interação entre agentes com essa finalidade.

É nessa terceira fase que as pesquisas de inovação da OCDE ficam mais próximas do

conceito adotado por Lundvall e outros autores da escola de Aalborg em s.n.i., sobretudo ao

65

conceito de Johnson (1992) de aprendizagem institucional (conforme mostrado no capítulo 1).

É a partir do projeto MONIT que aspectos institucionais e culturais recebem maior

importância, também se ressalta a aprendizagem advinda da interação no processo inovativo.

Mas o fato que o relatório traz é que os países da OCDE debruçam-se quase que

exclusivamente em políticas verticalizadas, algo, a seu ver, totalmente ultrapassado porque é

relacionado com um paradigma anterior, economias mais voltadas para a produção em massa

de produtos tangíveis. No atual paradigma técnico-econômico as economias estão mais

voltadas para a informação e a geração de conhecimento, uma estrutura transversal é mais

compatível com esse modelo.

Maior aprendizagem política seria obtida por meio de uma estrutura governamental

mais transversal, que entre outras ações sugere, conforme a OECD (2005b):

maior preocupação com mecanismos de avaliação ex ante e não ex post;

forças-tarefa e trabalhos em equipes devem ser institucionalizados para dar suporte

a um estilo de governança mais intensivo em conhecimento;

integrar-se a organizações que promovem intercâmbio de experiências, como a

OCDE;

avaliações sistêmicas das políticas de inovação analisando suas interações e

impactos;

agências nacionais bem equipadas em estratégias e inteligência coordenando os

níveis de governança;

aos governos é importante prestar mais atenção à compreensão mútua das questões

relacionadas à inovação, através da integração entre ministérios;

instituições de produção de conhecimento e de análise de políticas normalmente são

ligadas a ministérios e domínios específicos, e isso reforça uma cultura fragmentada e

segmentada e torna mais difícil de ter políticas de conhecimento integradas, por isso é

preciso mais diálogo entre essas esferas;

sistemas de monitoramento e relatórios podem melhorar uma base conjunta de

conhecimento para a inovação, aumentando a inteligência e a aprendizagem política;

66

transformação estrutural para economia da inovação como projeto de longo prazo.

Outra sugestão, para além das já ressaltadas, é a política de inovação ambiental. Esse é

um tema que normalmente traz muitas tensões, mas que pode promover simultaneamente

desenvolvimento sócio-econômico e objetivos ambientais. Pode reduzir o custo de medidas

ambientais e obter melhores resultados ambientais com o mesmo nível de custos; pode trazer

oportunidades de ganho para ambos os lados. Indústria ambiental e produtos ecologicamente

corretos é um mercado potencialmente em crescimento (OECD, 2005b).

2.3 - Principais orientações e contribuições políticas da OCDE em matéria de s.n.i.

Exploram-se adiante manuais que definem metodologias para a produção de trabalhos

empíricos em economia da inovação. Trata-se de orientações para elaboração de entrevistas e

questionários, tanto no nível das empresas, no caso do Manual Oslo, quanto em termos de

distribuição nacional de recursos em P&D, Manual Frascati.

Embora não seja objetivo dessa dissertação análise de dados específicos ou aplicação

de questionários, esses manuais são importantes enquanto base teórica, pois demonstram os

métodos que são utilizados nas pesquisas sobre inovação no âmbito da OCDE.

2.3.1 – Manual Frascati 15

O Manual Frascati fornece padrões de pesquisa em termos da distribuição nacional de

recursos em P&D, de modo a contribuir com discussões intergovernamentais sobre ―boas

práticas‖ em política científica e tecnológica. A primeira edição data de 196316

, passando por

diferentes reformulações, até sua 6ª e última edição, de 2002, aqui explorada.

Este manual destaca que comparações internacionais em investimento em inovação

normalmente são realizadas através de valores brutos gastos no território nacional em P&D.

Só que esse indicador é considerado fraco, já que essa é cada vez mais uma variável mundial.

15 O exposto neste item se refere às percepções da autora dessa dissertação a partir do Manual Frascati,

(OECD, 2002b, 6ª edição). Mesmo este documento sendo um guia para mensuração em P&D, algo a não ser

realizado neste trabalho, entende-se a importância de citá-lo. . A partir do momento que este juntamente com o Manual Oslo exerce importante influencia sobre o entendimento das atividades inovativas em nível de países e

firmas. 16 Este documento é resultado de um projeto encomendado pela Comissão de Assuntos Científicos da

OECD, em 1962, ao então consultor C. Freeman. O resultado de tal projeto foi discutido durante todo o ano de

1962 entre os países da organização, e seus peritos, sendo novamente discutido, revisto e aceito na conferência

realizada em Frascati, Itália, em junho de 1963, dando origem ao Manual Frascati.

67

Para entender a atividade de P&D é preciso examiná-la de duas maneiras (OECD,

2002b):

1. Distribuição institucional (das organizações de desempenho e financiamento em

P&D). Classificação por setores – firmas, governo, setor privado, sem fins lucrativos,

ensino superior e estrangeiros – e suas subdivisões.

2. Distribuição funcional (natureza dos próprios programas de P&D), que analisa as

atividades de P&D realizadas pela unidade, de modo a distingui-las em: pesquisa

básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental17

.

Para o Manual Frascati, os esforços em P&D, na distribuição funcional, são dessa

forma conceituados:

Basic research is experimental or theoretical work undertaken primarily to acquire new knowledge of the underlying foundation of phenomena and

observable facts, without any particular application or use in view. Applied

research is also original investigation undertaken in order to acquire new

knowledge. It is, however, directed primarily towards a specific practical aim

or objective. Experimental development is systematic work, drawing on

existing knowledge gained from research and/or practical experience, which

is directed to producing new materials, products or devices, to installing new

processes, systems and services, or to improving substantially those already

produced or installed. R&D covers both formal R&D in R&D units and

informal or occasional R&D in other unit (OECD, 2002b, p. 30).

A pesquisa básica se relaciona com questões teóricas, não sendo necessariamente

aplicáveis a uma situação real, seus resultados normalmente não são colocados à venda no

mercado, mas são publicados em revistas e jornais especializados. E pesquisadores tendem a

possuir maior liberdade para definir objetivos, é subdividida em: pesquisa básica pura –

essencialmente para o avanço do conhecimento sem almejar benefícios sociais ou econômicos

de longo prazo – e a pesquisa orientada, realizada sob a expectativa de se produzir base de

conhecimentos para soluções de problemas atuais ou sobre possíveis problemas futuros.

Já a pesquisa aplicada tem justamente intrínseca essa busca de soluções a problemas

reais a partir de pressupostos teóricos, e seu resultado normalmente se destina ao mercado,

sendo usualmente protegido por leis de patentes. E o desenvolvimento experimental constitui-

se no processo de transformação dos conhecimentos adquiridos através da pesquisa em

17 ―Research and experimental development (R&D) comprise creative work undertaken on a systematic

basis in order to increase the stock of knowledge, including knowledge of man, culture and society, and the use

of this stock of knowledge to devise new applications.‖ (OECD, 2002b, p. 30).

68

funcionamento de novos programas, incluindo projetos de demonstração e testes de avaliação,

usados principalmente nas ciências sociais.18

O Manual Frascati propõe que a maneira mais eficiente de se avaliar a importância das

atividades que envolvem P&D para as economias é verificar a quantidade de pessoal

integrado nessas atividades, ao invés dos valores brutos investidos. Na pesquisa sobre P&D,

na distribuição institucional é importante reparar que cada setor possui particularidades.

Orienta-se, quanto aos questionários, que as perguntas sejam as mais simples e curtas

possíveis, e com definições e instruções claras. E sobre o governo, é importante analisar o

quanto da verba ou orçamento nacional é destinado a atividades de P&D, a fim de verificar

sua relativa importância. Também é importante se verificar a finalidade com que os agentes

fazem determinados investimentos em ciência e tecnologia, sobretudo quando se tratando do

governo, pois diz respeito às prioridades nacionais.

2.3.2 – Manual Oslo19

Durante as décadas de 1980 e 1990 surgiram várias pesquisas que buscavam

desenvolver modelos e indicadores de estudo em inovação, no âmbito da OCDE. Mas faltava-

lhe um guia de pesquisa específico ao estudo das firmas e como elas inovam, desta lacuna

deixada pelo Manual Frascati, surge o Manual Oslo. A primeira edição deste manual é de

1992, com foco em produtos e processos tecnológicos de inovação em manufatura, a segunda

edição data de 1997, expandindo sua aplicação ao setor de serviços. E em 2005 lança-se a

terceira edição, que também inclui inovações de marketing e organizacional.

A inovação é vista como um processo dinâmico e não estático no tempo, tornando sua

mensuração mais complexa. Para tanto, o Manual Oslo tem o objetivo de apresentar diretrizes

sobre coleta de dados no processo de inovação e fatores que influenciam seus resultados.

Estes não são necessariamente sobre técnicas estatísticas, mas sobre procedimentos padrão

para aplicação de questionários em grupos de empresas.

A aplicação desse manual abrange a inovação apenas no nível da firma, o qual não é o

objeto central de estudo desta dissertação. Mas entende-se que uma visão das metodologias

18 Para exemplos da distinção entre pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental,

ver OECD, 2002b, p. 81. 19 O exposto neste item se refere às percepções da autora dessa dissertação a partir do Manual Oslo,

(OECD, 2005a, 3ª edição).

69

padrão da OCDE para mensuração e análise da inovação no nível das firmas é importante,

pois no último capítulo se usa de análises de casos de empresas e setores específicos, bem

como da pesquisa de inovação tecnológica brasileira.

Em relação às orientações do manual destaca-se que as pesquisas devem ser aplicadas

em empresas com mais de 10 funcionários. Em questionários que considerem primeiramente

o tipo de inovação a qual a empresa se insere (produto, processo, organizacional ou

marketing), a necessidade ou não de parceiros para sua efetivação. E se esse resultado se

aplica em uma inovação em nível de empresa, de mercado ou de mundo.20

Classificando as

empresas em diferentes grupos, conforme o setor ao qual se inserem e o número de

empregados. Além disso, ―The questionnaire should be as simple and short as possible,

logically structured, and have clear definitions and instructions.‖ (OECD, 2005a, p. 124).

Tais pesquisas devem obter informações sobre a existência e a importância de

diferentes tipos de interação e sobre fatores que influenciam o uso de interações específicas.

Foram identificados três tipos de ligações externas às firmas: i) fontes de informações abertas

(participação de seminários, conferências, exposições, associações comerciais, assinatura de

revistas); ii) aquisição de conhecimento e tecnologia através da compra de conhecimento

externo e de bens de capitais e serviços incorporados no novo conhecimento ou tecnologia

que não envolvem interação com a fonte; iii) inovação cooperativa, cooperação ativa com

outras empresas ou instituições públicas de pesquisa em atividades tecnológicas e

desenvolvimento de produtos (Ibid.).

É importante, então, nas entrevistas às firmas, incluir questionamentos sobre qual

desses tipos de ligações externas a firma em questão recorre.

Normalmente, ligações com tempo maior tendem a ter maior dificuldade de ser

rompidas e tem intrínseca confiança maior, por isso questões sobre a duração das ligações e

relacionamentos com agentes externos devem ser fundamentais para a avaliação de sua

robustez. Também perguntas sobre o grau de formalização dos relacionamentos e a maneira

como o relacionamento iniciou-se – conhecimento prévio, indicação, ―boa fama‖, ou meios de

publicidade – podem indicar elementos de confiança mútua das ligações (OECD, 2005a).

20 Uma inovação em nível de empresa é quando a novidade aplica-se somente internamente; a inovação

em nível de mercado é quando a novidade se difunde para concorrentes do mesmo setor ou área geográfica; e a

inovação em nível de mundo é quando a empresa em questão é a primeira a lançar determinado produto ou

processo dentre todas as indústrias em todo o mundo (OECD, 2005a).

70

Avaliar se o mercado consumidor da firma é somente doméstico ou se também

abrange o exterior e da mesma forma para fornecedores é algo importante para identificar a

estrutura de procura para as inovações da empresa (Ibid.).

Segundo o Manual Oslo, podem existir diferentes graus de relações entre agentes no

processo inovativo, existem ligações mais interativas e outras menos interativas, as quais

podem ser menos eficientes pela impossibilidade de decodificação de conhecimento tácito.

As recomendações do Manual de Oslo21

são direcionadas a economias desenvolvidas.

Mas o próprio documento salienta a importância de aplicação de pesquisas desse tipo em

países em desenvolvimento, no entanto é importante reconhecer as diferenças existentes.

Para os países em desenvolvimento a pesquisa em inovação deve se tornar instrumento

útil para a tomada de decisão de formuladores de políticas públicas e de empresários, números

sobre inovação não são tão importantes como as informações colhidas nas pesquisas. Por isso

coloca pouca importância à comparação entre países, em seu lugar avaliar fatores que

impedem ou facilitam a inovação são vistos como indicadores-chave. O conhecimento sobre a

capacidade de inovação, conhecimento acumulado pela empresa no processo de aprendizagem

e os esforços para aumentá-los devem estar no centro das pesquisas (OECD, 2005a).

Os questionários em países em desenvolvimento devem se diferenciar daqueles

utilizados nos países desenvolvidos em três questões: inserção das TICs, ligações entre

agentes e processo inovador. Deve-se verificar se a empresa se engaja na mudança para a

economia da informação e da comunicação, se possui ferramentas das TICs. Em caso

positivo, deve-se verificar a infraestrutura disponível, modo de utilização das TICs e como

estão disponíveis, se existem sistemas internos de gestão e desenvolvimento das capacidades

em TICs, gastos em TICs e sua relação com a inovação organizacional (OECD, 2005a).

Sobre a metodologia, o ideal são entrevistas realizadas pessoalmente por estudantes de

graduação ou pós-graduação. Questionários podem ser utilizados, com diferentes seções que

podem ser respondidas por diferentes pessoas dentro da mesma firma; isso é importante

porque cada setor tem informações mais precisas sobre seu funcionamento. Além disso: ―The

wording needs to be adapted to meet the knowledge and experience of an “average”

respondent.‖ (Ibid., p. 146).

21 É importante mencionar os casos do Manual Bogotá e da Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica) que de

certa forma derivam do Manual Oslo.

71

2.4 –Situação atual da OCDE

Nesta seção se exploram alguns dados, tanto em série histórica, quando de valores

atuais, e a agenda da OCDE em matéria de incentivo às inovações.

2.4.1 – Alguns dados dos países-membros

Após verificar a história, a organização, as principais pesquisas em s.n.i. e suas

orientações, observam-se alguns dados referentes à inovação na OCDE, que são resultados

das pesquisas citadas anteriormente, conforme orientações dos Manuais Frascati e Oslo.

Esta seção é importante para o trabalho porque ilustra comparações entre países,

demonstra que a OCDE é um fórum de países que ainda se apresenta muito heterogêneo, pois

existem nações que utilizam com intensidades diferenciadas as orientações do organismo.

Além disso, fornecem um panorama que situa o leitor sob qual realidade os trabalhos citados

anteriormente se de defrontaram, bem como resultados de pesquisas citadas.

Uma das orientações é que comparações internacionais em P&D sejam realizadas a

partir da quantidade de pessoal empregado, o que pode ser visualizado através da figura 3.

Figura 3 Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia como percentual do total de

emprego em alguns países da OCDE, para os anos de 2004 e 2008.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Suécia

Luxem

burg

o

Suíç

a

Ho

land

a

Din

am

arc

a

Austr

ália

No

rueg

a

Ale

manha

Fin

lând

ia

Esta

do

s U

nid

os

Islâ

nd

ia

Bélg

ica

Rep

úb

lica C

heca

Áustr

ia

Fra

nça

Itália

Canad

á

Eslo

váq

uia

Hung

ria

No

va Z

elâ

nd

ia

Rein

o U

nid

o

Po

lônia

Esp

anha

Irla

nd

a

Gré

cia

Po

rtug

al

Co

reia

Jap

ão

Turq

uia

2004

2008

Fonte: Elaboração própria com base em: OECD Science, Technology and Industry Scoreboard. OECD: Paris.

Edições de 2005 e 2009.

72

Observa-se que entre 2004 e 2008 os países pesquisados mantêm uma pequena

tendência de aumento do pessoal empregado em atividades de C&T. O maior aumento

observado é no Canadá que passou de 29% em 2004, para 35,5% em 2008. Já Áustria, Japão e

Estados Unidos reduziram esse percentual em 2008 em relação a 200422

. E à exceção da

Turquia, que inclusive tem dados disponíveis apenas para 2008, todos os outros países

alcançam 15% ou mais de pessoal empregado em atividades de C&T. A média para o

conjunto de países é de 29,37% em 2004 e 29,79% em 2008. E o país com maior percentual é

Luxemburgo (41,6%), seguido de Suécia (39,6%), Dinamarca (39,1%), Noruega (38%),

Alemanha (36%), Holanda (37,5%), Austrália (35,8%).

A figura 4, parte integrante do OECD Science, Technology and Industry Scoreboard

(OECD, 2009), demonstra os mesmos dados só que para o período de 2007 e 2008, sem

grandes diferenças das constatações do gráfico anterior. Apenas nesta figura se observa a

diferença dos valores em referência ao pessoal empregado como técnico e como profissional

(2008), e pessoal empregado em serviços e em manufatura (2007).

22 Esse gráfico não contém a totalidade de países-membros da OCDE, mas haja vista que este parece ser

um importante indicador da atividade de P&D, e não existindo informação semelhante que compreendesse essa

totalidade optou-se por essa base de dados presente nas edições de 2005 e 2009 do ―OECD Science, Technology

and Industry Scoreboard.‖ Também há o problema de que alguns dos países possuem dados em somente um dos

anos, mas assim mesmo essa confrontação de dados é importante.

73

Figura 4 Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia como percentual do total de

emprego em alguns países da OCDE, para os anos de 2007 e 2008.

Fonte: OECD Science, Technology and Industry Scoreboard. OECD: Paris. 2009 (p. 137).

Dentre os países que têm maior percentual dos recursos humanos inseridos em

atividades de C&T não se verifica regra quanto à distribuição entre técnicos e profissionais. Já

em relação à diferenciação entre pessoal empregado em C&T para a manufatura ou serviços,

percebe-se que todos os países pesquisados têm maiores percentuais para serviços.

Na figura 5 se visualiza as despesas brutas em P&D percentualmente ao PIB, de modo

a avaliar a relativa importância que é dada pelos países a esse tipo de investimento.

Observa-se, pelos dados disponíveis, que a nação, percentualmente ao PIB, que mais

investe em P&D é Israel ultrapassando os 4,5%, e a Finlândia que alcança os 4% em 2009,

próximos a 3,5% estão Japão e Suécia, além da Coreia que tem aumentado tais despesas. E

entre os menores se encontram: Chile, México e Eslováquia, que têm valores em praticamente

toda a série abaixo do 0,5%, e Polônia e Grécia próximas desse percentual. A média da OCDE

fica entre 2 e 2,50%, com pequena tendência de crescimento até o ano de 2008, último ano

para o qual se tem esse dado disponível.

74

Figura 5 Despesa interna bruta em P&D como percentual do PIB para todos os países-

membros da OCDE, entre 2005 e 2009

Fonte: Elaboração própria com base em: OECD iLibrary. Main Science and Technology Indicators.

A figura 6 fornece informações semelhantes à figura acima, porém há a comparação

entre os valores de 2008 com os de 1998. E agregam-se alguns países não membros.

Figura 6 Despesa Interna Bruta em P&D como percentual do PIB, por país (1998 e

2008)

In: OECD Science, Technology and Industry Outlook 2010, p. 25.

75

Há tendência de aumento desses gastos na maioria dos países, com exceção da

Eslováquia, Polônia, Noruega, Holanda, Reino Unido, Bélgica e França. Já os maiores

incrementos são realizados por Israel, Portugal, China (não-membro), Coreia, Áustria,

Islândia. A OCDE como todo não apresenta elevação significativa.

Já a origem das fontes de financiamento de P&D pode ser observada na figura 7.

Figura 7 Despesa Interna Bruta em P&D por fonte de financiamento, como percentual

do total nacional, para o ano de 2007.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Austr

ália

Áustr

ia

Bélg

ica

Can

ad

á

Ch

ile

Rep

.Ch

eca

Din

am

arc

a

Estô

nia

Fin

lân

dia

Fra

nça

Ale

man

ha

Gré

cia

Hun

gri

a

Islâ

nd

ia

Irla

nd

a

Isra

el

Itália

Jap

ão

Co

rea

Luxem

burg

o

Méxic

o

Ho

lan

da

No

va Z

elâ

nd

ia

No

rueg

a

Po

lôn

ia

Po

rtug

al

Eslo

váq

uia

Eslo

vên

ia

Esp

an

ha

Suécia

Suíç

a

Turq

uia

Rein

o U

nid

o

Esta

do

s …

OE

CD

To

tal

Estrangeiros

Outras fontes nacionais

Governo

Indústria

Fonte: Elaboração própria com base em: OECD iLibrary. Main Science and Technology Indicators.

*Para Austrália e Suíça os dados estão disponíveis apenas para o ano de 2008, aos quais o gráfico se refere.

**Para Grécia o único ano que possui tal dado é 2005, ao qual o gráfico se refere.

*** Estados Unidos não possui a classificação ―estrangeiros‖, por isso tal valor se encontra agregado aos demais.

****Com o dado ―estrangeiro‖ não disponível para um país, também não há disponibilidade para ―OCDE total‖.

Chama a atenção que Israel, o país que mais investiu em P&D, percentual do PIB, o

faz em grande maioria pelo financiamento das indústrias, 79,65%, seguido de Luxemburgo

(76%), Japão (77,71%), Coreia (73,65%) que também tem valores bem mais elevados

originários da indústria. Já Polônia (58,61%), Eslováquia (53,92%) e Grécia (46,82%) têm os

maiores percentuais originários do governo. E o setor externo é mais importante para Grécia

(19%), Áustria (17,9%), Reino Unido (17,28%), Irlanda (15,89%).

E no caso do Chile há a maior participação de outras fontes nacionais, categoria que

agrega fontes nacionais não pertencentes nem ao governo e nem à indústria, que é de 21,35%,

sendo que o valor originário da indústria (38,9%) e do governo (35,6%) ficam próximos.

76

O que esses dados demonstram é que países cuja indústria não tem participação tão

relevante na origem dos recursos (Chile, Grécia, Polônia e Eslováquia) são aqueles que,

notadamente, possuem um grau de desenvolvimento menor. E nesse caso sua participação nos

fóruns da OCDE deve ser uma importante fonte de aprendizagem. São estes países que

também possuem os menores percentuais de investimento em P&D em relação ao PIB,

próximos ou abaixo de 0,5% entre 2005 e 2009, cujos valores são em maioria financiados

pelo governo; dados em sintonia com a visão evidenciada pelos relatórios da OCDE.

Em geral o que se percebe é que a indústria é a principal origem de recursos brutos de

P&D da OCDE (64,23% em 2008). Mas se destaca que o total do investimento bruto em P&D

em relação ao PIB entre 2005 e 2008 não se modificou muito (de 2,21% para 2,33%), figura

5. Só que tais dados também se referem a um período de crise econômica, e assim é

importante perceber que houve a tendência de manutenção dos valores. Mas para uma análise

mais aprofundada sobre as consequências da crise econômica sobre os sistemas nacionais de

inovação seria necessário incluir dados mais recentes, que ainda não estão disponíveis. Pois

conforme a OECD (2009), sendo o P&D em maior percentual financiado pela indústria –

setor privado – há uma tendência mais acentuada de vulnerabilidade diante de crises.

Outra questão também bastante evidenciada nos relatórios de pesquisa é sobre o

tamanho das firmas e treinamento. Sobre isso verifica-se a figura 8.

Figura 8 Firmas envolvidas em atividades relacionadas com treinamento, por tamanho,

entre 2004 e 2006, como percentual de todas as firmas inovadoras.

In: OECD Science, Technology and Industry Outlook 2010, p. 46

77

O mapeamento das firmas inovadoras é realizado pela OCDE através do projeto CIS,

o qual também investiga a importância da colaboração e treinamento para tais firmas. Uma

das conclusões do CIS2 foi que firmas maiores têm maior tendência à colaboração, mas que

no resultado final tais práticas podem render melhores resultados em firmas menores.

A figura 8 demonstra algumas das características de tais afirmativas. Em todos os

países apontados no gráfico, firmas maiores têm percentuais maiores de treinamento, um tipo

importante de colaboração. Luxemburgo apresenta o maior percentual para firmas menores,

neste país entre 2004 e 2006 80% do total das pequenas e médias empresas que inovaram

estiveram engajadas em atividades de treinamento. Para as grandes empresas esse percentual é

de mais de 90%, o maior entre os países destacados.

Algo complementar pode ser visualizado na figura 9, que apresenta, para diferentes

países-membros da OCDE, o percentual de firmas sobre o total, conforme seu tamanho, que

se envolve com atividades de inovação em colaboração; seja esta com outras firmas, institutos

de pesquisa ou universidades, para o período entre 2004 e 2006.

Figura 9 Empresas que colaboram em atividades inovadoras, entre 2004 e 2006, como

porcentagem do total de firmas.

Fonte: OECD Science, Technology and Industry Scoreboard. OECD: Paris. 2009.

No período exposto na figura 9, percebe-se a grande importância que as firmas da

Finlândia têm depositado à colaboração, mas isso majoritariamente para grandes firmas. Entre

2004 e 2006 aproximadamente 70% das grandes empresas finlandesas estiveram integradas

com agentes externos em atividades de inovação, e 27,5% das pequenas e médias empresas –

o maior entre os países pesquisados.

78

A Finlândia é um dos países que mais tem investido em atividades de P&D,

percentualmente ao PIB conforme a figura 5, oscilando entre 3,5% e 3,9%, entre 2005 e 2009.

E pelo que se percebe vem fazendo isso em grande parte também ao estímulo de colaboração

entre firmas, seguindo as orientações do s.n.i.

Os dados, contidos nessa seção, demonstram que os países da OCDE direcionam uma

importância significativa de suas ações em atividades e estímulo à inovação e à interação.

Mas como se trata de um grande grupo de países, e que vem se heterogeneizando pela adesão

de países com grau menor de desenvolvimento, os números relativos à inovação não

apresentam homogeneidade. Também os dados obtidos ainda não conseguem captar os efeitos

da atual crise econômica que provavelmente deve ter suas repercussões sobre a inovação.

Conforme a OECD (2010), a crise econômica que avança desde meados de 2007

provavelmente tem sido o maior desafio enfrentado conjuntamente pelos seus países-

membros em várias décadas. E para tentar se recuperar de forma sustentada a maior aposta da

organização tem sido a ciência, tecnologia e inovação. Porém, o desajuste estrutural nos

orçamentos, o elevado déficit público e o envelhecimento da população têm feito com que

muitos governos diminuíssem seus gastos, e muitas vezes os recursos de P&D são afetados,

bem como as empresas, haja vista a conjuntura de incerteza.

2.4.2 – Panorama atual das políticas em s.n.i. dos países da OCDE

Conforme Cassiolato e Lastres (1998), é a partir da década de 1990, quando as

políticas industriais dos países da OCDE se tornam mais integradas, que os recursos

destinados pelo setor público à política industrial sob a forma de investimento começam a

decrescer. Mas por outro lado programas de estímulo às exportações e desenvolvimento

regional e tecnológico passaram a receber maior atenção.

A partir da década de 1990 o estímulo estatal às atividades de P&D é cada vez mais

integrado às demais políticas industriais. E os estudos da OCDE colocam maior destaque nas

políticas de s.n.i., estimulando a indústria a também alavancar seus investimentos em P&D.

Kaiser e Prange (2003) sugerem que ao longo dos anos, sobretudo a partir de meados

da década de 1990, há uma reconfiguração do sistema nacional de inovação na OCDE. A

primeira característica para justificá-la é de que nos últimos anos os países da OCDE, apesar

de adotarem os pressupostos de s.n.i., têm cada vez mais apostado em políticas regionais de

79

apoio à inovação e a tecnologia. E o segundo ponto é o crescimento em importância das redes

internacionais de ciência não só entre universidades, mas acordos de cooperação em ciência e

transferência de tecnologia entre organizações públicas e privadas de diferentes países.

No relatório de ciência, tecnologia e indústria de 2010 (OECD, 2010), há as principais

tendências em políticas de s.n.i. da OCDE, examinadas de maneira sucinta nesta subseção.

Em geral os principais pontos da agenda dos países da OCDE entre 2008 e 2010, são

(OECD, 2010):

Estratégias de inovação voltadas para produtos e processos ecologicamente corretos,

em nível de políticas regionais;

Estudo e estímulo às inovações que atendem as necessidades de países emergentes –

infraestrutura e necessidades sociais, água, saúde, educação, transporte e energia;

Governança da ciência, tecnologia e indústria para enfrentar desafios globais, alguns

países têm reorganizado funções ministeriais e departamentais para reforçar laços de

P&D e universidades, ou entre indústria e pesquisa. Outros têm reforçado a

participação da sociedade, e a Alemanha e países nórdicos têm focado em estratégias

de internacionalização da pesquisa no setor público, a fim de facilitar e construir a

capacidade de colaboração multilateral em C,T&I;

Investir e restabelecer a importância da base científica, especialmente para tecnologia

em sustentabilidade ambiental, Hungria, Japão, Noruega e Suécia são bons exemplos;

Forte apoio em novas áreas – biotecnologia, nanotecnologia, TICs, novos materiais e

manufatura avançada – com reforço dos diferentes estágios da cadeia de inovação –

créditos fiscais, subsídios, promovendo clusters de tecnologia ou com fundos de risco

– para aumentar a capacidade das empresas capitalizarem-se, frente aos investimentos

públicos e privados, e especializarem-se nessas tecnologias e indústrias emergentes;

Reforma nos mecanismos de financiamento de institutos de pesquisa a fim de ligar

desempenho das dotações orçamentárias e reforçar a excelência em inovações;

Recuperação total de custos econômicos de fundos públicos de pesquisa;

80

Apoio direto e indireto em estímulo às atividades de P&D e inovações, com acesso

facilitado a pequenas e médias empresas;

Revisão dos gastos em P&D, aumentando o impacto e a eficiência dos investimentos;

Inovações de fácil acesso;

Eficiência na prestação de bens e serviços públicos também criam potencialidades em

economia das inovações;

Reforma nas universidades a fim de incentivar mais parcerias público-privada, e

indústria-universidade, promoção do empreendedorismo acadêmico;

Apoio a redes de conhecimento e mercados que estão surgindo, alguns instrumentos

são: melhorar infraestrutura em TIC, melhorar o acesso aos dados de pesquisa pública

e treinar e dar suporte a diretos de propriedade intelectual na academia;

Aumentar investimentos em inovações não tecnológicas, incrementando a

concorrência no setor de serviços, países que têm aumentado seus investimentos na

área: Chile, Dinamarca, Finlândia e Reino Unido;

Capacitação de recursos humanos para a ciência e tecnologia, programas para

aumentar a conscientização da ciência entre jovens, reduzir diferença entre gêneros em

educação de ciência e tecnologia e melhorar o financiamento para oportunidades para

PhD e formação de pós-doutorado;

Mobilidade internacional de estudantes e jovens pesquisadores e pessoal altamente

qualificado em C&T, competição para atrair talentos estrangeiros;

Interesse crescente em avaliações qualitativas em formulação de políticas públicas.

Essas são algumas tendências de modo geral, e as diferentes prioridades de cada país

podem ser visualizadas pela figura 10.

81

Figura 10 Principais prioridades nacionais em política de pesquisa e inovação, 2010.

In: OECD Science, Technology and Industry Outlook 2010, p. 82.

Na análise da figura acima se percebe que há alguns tipos de inovações para as quais a

grande maioria dos países apresenta estratégias, entre elas: saúde e cuidados com a vida, meio

ambiente e mudanças climáticas, recursos naturais e energia, TIC, novos materiais e novas

tecnologias, e segurança alimentar. Mas há prioridades para cada país, que são diferenciadas.

Ressalta-se que todas as nações, umas mais outras menos, em diferentes estratégias,

colocam as inovações no centro de sua agenda política. A inovação, ciência, conhecimento e

tecnologia como a base para a manutenção do desenvolvimento econômico das nações

avançadas, e como estratégia de desenvolvimento daquelas que ainda não o atingiram.

A OCDE é um fórum de discussões que agrega 34 países-membros, países associados

e outros países engajados em suas pesquisas e nos quais suas recomendações devem repercutir

nas decisões dos governos. Mas ainda assim é um fórum, que através de seus estudos

recomenda políticas, mas não tem nenhuma autoridade executiva, não tem a capacidade de

implementar políticas ou ―obrigar‖ seus países-membros a segui-las. O essencial da OCDE é

indicar boas práticas, pesquisar e avaliar políticas. Por isso, esse foi o centro das discussões

82

desse capítulo: mapear os principais relatórios e manuais da OCDE e estudar suas orientações,

para que seja possível mais à frente avaliar o s.n.i. de um país em específico, o Brasil.

Assim, ao avaliar a OCDE primeiramente quanto a sua história e estrutura

organizacional, depois suas recomendações de políticas em s.n.i, posteriormente suas

principais contribuições teóricas e por fim analisando alguns números, percebe-se esta uma

organização eminentemente europeia. Ou seja, mesmo admitindo países-membros de outras

regiões ainda nos parece que a institucionalidade presente é notavelmente europeia. Até

porque a grande maioria dos países-membros é europeia, a organização formou-se com o

objetivo de promover a reestruturação econômica daquele continente após a Segunda Guerra

Mundial e existe uma integração relativamente forte com as pesquisas da União Europeia.

Ou seja, a maioria dos estudos e estatísticas se refere à realidade europeia, mesmo que

existam muitos documentos específicos a países não europeus, a padronização e grande

quantidade de estudos e estatísticas fornecidas pela UE, na figura da EUROSTAT 23

, devem

contribuir em muito para tal panorama.

Mas isso de maneira alguma deve ser considerado como algo danoso aos países não

europeus. Ao contrário, é uma possibilidade de integrá-los a uma estrutura de trabalho que de

certa maneira vem obtendo bons resultados. Ao integrarem-se a esse fórum de discussões os

países, sobretudo menos desenvolvidos, têm a possibilidade de obter orientações mais

específicas tornando suas economias mais próximas do conhecimento e da inovação.

2.5 – Casos específicos de s.n.i. na OCDE

Optou-se nessa seção final em discutir dois casos específicos de sistema nacional de

inovação entre os países da OCDE que têm demonstrado relativo sucesso, Finlândia e

Coreia.24

. Esse recorte é importante para se verificar a efetividade das políticas e das

recomendações da organização.

23 Organismo da União Europeia responsável pelas estatísticas oficiais. 24 Inserir a Coreia nesse item pode parecer uma contradição com o que foi afirmado no final da seção anterior,

acontece que em geral a OCDE tem uma institucionalidade que volta-se ao continente europeu. Mas talvez a

melhor exceção seja feita ao Japão que Coreia que apresentam economias voltadas para a inovação. E a Coreia

merece destaque é um país de industrialização retardatária que conseguiu se desenvolver tecnologicamente,

sendo referência inclusive para o Brasil.

83

Verifica-se primeiramente a Finlândia por ser um dos países que normalmente é

citado como exemplo de s.n.i., em coerência com os estudos que deram origem ao conceito

explorado nessa dissertação.

E o estudo da Coreia se justifica por ser um exemplo de nação emergente que tem seu

desenvolvimento fortemente baseado na economia das inovações. E conforme se constatou

nos gráficos anteriores têm aumentado em muito a participação de atividades de P&D em sua

economia e vem incrementando a destinação de recursos nessa área também.

2.5.1 – O Sistema Nacional de Inovação da Finlândia

Para Tarkiainen (2009), o ethos da política científica finlandesa está ligado por um

lado com o Estado de bem-estar-social e por outro com os interesses das indústrias de

exportação. E destaca:

[…] Finland was the first country in the world to apply the NIS- framework

in its science and technology policies. [...] Finland‟s performance in

implementing the NIS has in many international studies been evaluated as

excellent. Finland is often seen as a model country that has successfully linked the demands of global market with the Nordic welfare state tradition.

[…] Finland as an actor has been very determined and serious in its

ambition to fulfil all the principles of the NIS very carefully (Ibid. p. 29).

A Finlândia é referência em políticas de s.n.i., tanto por ser o primeiro país a

implementá-las, como por ser o único a continuar com tais políticas no centro da sua

plataforma de governança. Mas para chegar nesse nível de referência o país passou por um

longo período de ajustes estruturais, econômicos e institucionais.

Mais precisamente é no decorrer das décadas de 1960 e 1970 que o país começa a

institucionalizar políticas científicas e tecnológicas, ainda de maneira muito lenta em relação

aos outros países da OCDE, já que a sua estrutura produtiva era muito estreita e dependente

da indústria florestal e seu nível de tecnologia era muito baixo em relação a seus países

concorrentes (TARKIAINEN, 2009).

Välimaa (2004, apud Tarkiainen, 2009) salienta duas questões básicas em relação ao

ensino superior na Finlândia nas décadas de 1960/70: 1) a universidade foi um componente

culturalmente e politicamente importante para a construção de uma identidade nacional

finlandesa; 2) no século XX seguiu uma lógica de expansão; 3) a criação das universidades

como algo simbolicamente, culturalmente e economicamente importante para o

84

desenvolvimento da região em que era instalada. Isso fazia parte de uma agenda de bem-estar

social, de igualdade de acesso ao ensino superior.

Na realidade foi nas décadas de 1960 e 1970 que ocorreu a transição para o atual

modelo da economia finlandesa, sendo que três aspectos devem ser evidenciados (LEMOLA,

2001, apud Tarkiainen, 2009):

renovação das universidades entre 1950 e 1970 – pela crescente conscientização da

importância do ensino superior e da pesquisa básica para o desenvolvimento econômico

e industrial, houve pressão para expansão para universidades em todo o país

desconcentrando-as e tornando-se uma estratégia de desenvolvimento regional;

1963, estabeleceu-se o Conselho de Política Científica – iniciando programas de política

científica e tecnológica, com a criação de seis conselhos de pesquisa e novos

mecanismos de planejamento, coordenação e financiamento de P&D.

1967, criou-se o Fundo Nacional Finlandês para a Pesquisa e Desenvolvimento

(SITRA).

Essas reformas orientavam o desenvolvimento de pesquisa básica realizada nas

universidades, e objetivava melhorar as condições do P&D industrial. Mas o problema é que

elas eram contraditórias, criaram uma estrutura dualista, com um domínio específico para a

ciência e um domínio específico para a intervenção na tecnologia. E que acabou falhando

porque grupos privados com fortes interesses à P&D técnica e industrial conseguiram intervir

e introduzir seu próprio modelo (TARKIAINEN, 2009).

Conforme Salermo e Kubota (2008), a Finlândia orientou sua economia para o estado

bem-estar-social a partir da década de 1960, quando fez uma série de reformas nos sistemas

educacionais, sociais, de saúde e cuidados infantis, que passaram a ser gratuitos e custeados

pelo Estado.

Mas no final da década de 1970, devido à crise econômica, houve pressões para um

novo caminho nas políticas de ciência e tecnologia. E a partir disso começou-se a investir

mais em tecnologia da informação e fortalecimento da política científica e tecnológica,

aumentado recursos e enfatizando áreas de alta tecnologia. Uma importante mudança foi a

criação, em 1983, da Agência Nacional de Tecnologia (TEKES) que se tornou a planejadora-

85

chave e executora da nova política tecnológica orientada, e do Conselho de Desenvolvimento

técnico (TARKIAINEN, 2009).

Então nos anos 1980 o que distinguia a política finlandesa das demais era a promoção

das intervenções governamentais focadas na inovação industrial. Assim, destaca-se que: ―[..]

the new thematic core of the technology policy was the competitiveness of industry. Its focus

was on the development and application of new technologies, and its motivation, as

mentioned earlier, was based on the Japanese economic and technological success.” (Ibid., p.

90).

Além disso, os programas nacionais de tecnologia foram influenciados pelo aumento

da cooperação entre companhias, institutos de pesquisa e universidades, cujo responsável e

promotor foi o TEKES, especialmente em nível de cooperação internacional, a partir de 1985.

The late 1980s also saw the creation of new programs and organizations

associated with technology transfer, diffusion and commercialization. The

nation-wide networks of technology parks and centres of expertise were set

up in Finland simultaneously. The technology parks have introduced many

new instruments for commercializing products and initiated spin-off projects

and incubators. The venture capital market has been less developed in

Finland. As a symbol of the technology orientation of the 1980s the name of the Science Policy Council was changed in 1987 into the Science and

Technology Policy Council (TARKIAINEN, 2009, p. 91).

Mas as políticas que tinham a regulação e o planejamento central pelo governo

perduram até a década de 1980. E a partir da década de 1990 houve a ascensão de uma visão

mais liberal, com uma série de privatizações e orientação à competição via mercado, e

preocupação na competitividade nos mercados internacionais. ―O governo iniciou uma onda

de privatizações e utilizou o capital para fazer que, na Europa, a Finlândia se tornasse a

economia mais orientada em conhecimento.‖ (SALERMO e KUBOTA, 2008, p. 54).

Se na década de 1970 o avanço tecnológico finlandês foi retardado em função da crise

financeira e baixos níveis de crescimento econômico do país, no final da década de 1980 foi o

contrário, o rápido desenvolvimento econômico tomava conta do país e a parcela da produção

baseada no crescimento aumentou muito. O desenvolvimento técnico foi rápido e o

crescimento da produtividade foi mais alto que a média dos outros países da OCDE; a

Finlândia chegou a ser considerada como o ―Japão do Norte‖ (TARKIAINEN, 2009, p. 90).

No início da década de 1990 com outra crise, esta especificamente na Finlândia, o PIB

caiu 20% entre 1991 e 1993. Mas de forma surpreendentemente rápida o país se recuperou e

86

um dos fatores decisivos para isso foi o crescimento das exportações, as quais atingiram um

percentual do PIB que até então não tinham chegado e o cluster das TICs teve crescimento

excepcional. ―The share of the ICT cluster is nowadays the largest export industry, and the

traditional paper industry less than one quarter.‖ (Ibid. p. 92).

Mas para surpresa em 2001 houve outra crise, associada com bolha das TICs, que

gerou recessão e desemprego no setor. Só que a história demonstrava aos finlandeses uma fé

de que as TICs eram a sua vocação e oportunidade, e novamente a economia se recuperou,

sendo nesse caso atribuída uma importância fundamental na maior empresa daquele país, a

NOKIA. E também o Conselho de Política Científica e Tecnológica que desde a década de

1990 tornou-se a pedra angular do sistema nacional de inovação finlandês (Ibid.).

The Finnish application of the concept “national innovation system” has

stressed that a national innovation system is a whole set of factors

influencing the development and utilization of new knowledge and know-how.

The advantage of the concept is that it allows us combine all these factors

and examine it as a system. It follows that the prevailing atmosphere in

society influences the production and application of new knowledge as well

as interaction and cooperation between different actors play an important

role in NIS. As the internationalization process influences the activities of an innovation system and it means that there is a need to improve conditions

creating innovations nationally. In this period the ethos hidden in the idea of

the national innovation system was strongly linked with the idea of linking the

idea of science and technology policies with the idea of public policy. The

introduction of NIS in Finland has been a long process comprising a series of

interventions in which the scopes, goals and measures seeking to construct a

new culture of innovation have been specified and focused. […] This new

strategy following carefully the recommendation of the OECD puts emphasis

on the significance of learning and knowledge, instead of information, and

allowed to link employment with STI policies (TARKIAINEN, 2009, p. 92-3).

Assim Tarkiainen (2009) divide o s.n.i. finlandês em cinco ciclos:

i. introdução do conceito de s.n.i. na década de 1990, como a principal estratégia

econômica da nação e ponto de partida para a introdução da política industrial;

ii. a partir de 1993 as políticas estruturais, conhecimento e know-how como pedras angulares

do sucesso internacional, e a adesão à União Europeia em 1995 que fez se instalar um

novo clima de incentivo em P&D;

iii. a partir de 1996, o país colocou foco na interação entre os diferentes atores no contexto

da inovação, na perspectiva usuário-produtor;

87

iv. a partir de 2000, houve fortalecimento nos modos e modelos de interação entre agentes,

C,T&I como estratégias de longo prazo, ressaltou-se o desenvolvimento regional, parques

científicos e centros de expertise regional como elementos centrais;

v. a partir de 2003 focou-se os aspectos sociais das políticas de C&T, e a ideia de que o

termo ―sistemas de inovação‖ deveria ser aos poucos substituído pelo termo ―ambientes

inovadores‖. A ciência e tecnologia mais perto das políticas públicas do que das políticas

específicas, e muito mais perto de rotinas, hábitos e instituições.

Segundo Tarkiainen (2009), a Finlândia é o país que tem conseguido seguir as

orientações da OCDE em inovação, ciência e tecnologia, e mais que isso, tem acompanhado

praticamente ao mesmo ritmo as mudanças de pensamento e orientações políticas dessa

organização. Por isso, pode ser considerado como o caso prático da teoria de s.n.i. do âmbito

da OCDE, sendo sua política baseada em: clusters, com destaque para o do bem-estar, que

trouxe as oportunidades no setor de saúde, além do cluster das TICs.

Villaschi (2002) analisa o s.n.i. finlandês conforme os domínios da inovação (DOSI,

1984), cuja ênfase das políticas são:

domínio econômico: cooperação entre empresas e diferentes domínios, ênfase em clusters

(bem-estar e TIC), em pequenas e médias empresas e em programas de incubação,

características regionais, financiamento da inovação e desenvolvimento tecnológico;

domínio tecnológico: ênfase das políticas sobre universidade e centros politécnicos

(ensino, pesquisa básica e P&D), centros de excelência (inovação regional e capacidades

tecnológicas), institutos setoriais de pesquisa, acordos de cooperação com o exterior,

mudanças estruturais históricas e atuais, importantes centros privados (laboratórios da

Nokia e plataforma HP), programas em sociedade da informação, financiamento da

inovação tanto público como privado e externa;

domínio institucional: foco na construção de uma institucionalidade para o fortalecimento

de capacidades sociais e da competitividade econômica com ênfase em: características

históricas e organizacionais das políticas de P&D, pessoas em movimento (universidades,

governo e indústria), confiança e igualdade, perspectivas de trabalho, sociedade da

informação e economia do aprendizado, recomendações de políticas da OCDE e UE.

88

2.5.2 – O Sistema Nacional de Inovação da Coreia

A Coreia do Sul é um país de industrialização tardia, o processo de substituição de

importações e dinamizando exportação orientada para indústria leve inicia-se no começo da

década de 1960; o que aconteceu majoritariamente via importação de tecnologia, já que o país

tinha mão de obra barata e qualificada, mas não possuía poupança interna suficiente e nem

capacidade tecnológica (HONG, 2005).

Lee (2005, apud Salermo e Kubota 2008) destaca que o caso da Coreia é importante

de se analisar porque em aproximadamente 30 anos esse país passa de subdesenvolvido com

baixa renda para industrializado e de renda média. E o principal responsável por essa

mudança foi o forte compromisso governamental com políticas de P&D.

Mas para assimilar a tecnologia importada e produzi-la internamente era necessário

capacidade em P&D. Para construir essa estrutura foram estabelecidos o Ministério da

Ciência e Tecnologia (MOST) e o Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia (KIST) (HONG,

2005).

Estabelecido em 1967, o MOST tinha caráter de uma agência de ciência e tecnologia e

a função de formular uma política básica e abrangente em tal tema. O MOST desempenhou

também função de coordenação até 1973, quando foi criado o Comitê de Revisão

Tecnológica. Mas este órgão começou a desempenhar suas funções apenas na década de 1990,

antes disso teve papel meramente burocrático, assim como alguns ministérios (Ibid.).

Na década de 1970, a estratégia industrial modificou-se para o desenvolvimento das

indústrias química e pesada, melhorando o processo de assimilação de novas tecnologias e o

fomento à pesquisa para atender às necessidades industriais. Essas indústrias eram incapazes

de desenvolver seu próprio P&D, e por isso a ação governamental era necessária. Foram

criados grupos de pesquisa e inovação: em desenvolvimento e disseminação de tecnologia

industrial para máquinas, eletrônicos, química, construção naval, entre outros (Ibid.).

Na década de 1980, iniciou-se o ajuste estrutural e o desenvolvimento da indústria

intensiva em tecnologia, houve rápido aumento nos salários reais e disputa no mercado de

trabalho, forçando as empresas a investir em inovação tecnológica. Houve abertura maior do

mercado e aumento de investimento via investimento externo direto (IED), que foi apoiado

pelo Programa Nacional de P&D iniciado em 1982. A política de ciência e tecnologia coreana

89

no período enfatizou tecnologias estratégicas, desenvolvimento de recursos tecnológicos

altamente qualificados e promoção das capacidades de P&D do setor privado (HONG, 2005).

No final da década de 1990 promulgou-se a Lei Especial para Ciência, Tecnologia e

Inovação, em 1999, que criou o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (NSTC), em

substituição ao Conselho de Ciência e Tecnologia. Mas havia ainda uma grande dificuldade

de coordenação, existiam muitos órgãos públicos envolvidos, além do NSTC havia também o

Comitê de Aconselhamento Presidencial para Ciência Tecnologia (PACST), criado em 1991,

além do Ministério do Planejamento e Orçamento. ―Vê-se, portanto, que as instituições eram

criadas e extintas conforme colaboravam ou não para o atendimento de objetivos nacionais.‖

(SALERMO e KUBOTA, 2008, p. 50).

Mas essa confusão organizacional foi solucionada com uma profunda reestruturação e

reforma do s.n.i. coreano em 2004.

Em 2004, o Sistema Nacional de Inovação Sul-Coreano passou por mudanças

profundas, com o intuito de assegurar a transição para uma economia baseada

em inovação. O presidente estabeleceu duas diretrizes. A primeira era o

estabelecimento, por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia (Most), de

um plano para reorganizar o SNI, bem como o próprio ministério e suas

funções. A segunda era a promoção do ministro da Ciência e Tecnologia a

vice-primeiro ministro, com a responsabilidade não só de planejar, de

supervisionar e de coordenar as políticas de C&T, mas também de coordenar

e de alocar o orçamento governamental de P&D. Nesse mesmo ano, o

governo revisou importantes leis e regulamentos, e criou o Escritório de Ciência, Tecnologia e Inovação (Osti) sob o Most. Esse escritório contava o

trabalho de funcionários graduados dos ministérios, assim como com o de

especialistas do setor privado. O papel do NSTC foi fortalecido, e o Most

ganhou o poder de coordenar outros ministérios. Os principais mecanismos

de coordenação foram o Plano de Enquadramento da Ciência e Tecnologia

(STFP), o Programa de Estabelecimento de Metas do SNI, e o Relatório de

Grandes Negócios do Most (SALERMO e KUBOTA, 2008, p. 50).

Dessa forma, o ano de 2004 é citado normalmente como o ano da transição do s.n.i. da

Coreia do Sul, que já vinha se destacando em investimentos em P&D e guiando sua economia

para a inovação, mas ainda tinha uma dificuldade de coordenação de ações governamentais.

Porém, nem todos os problemas foram solucionados, em primeiro lugar porque essa

reforma foi governamental, e ainda falta normatizar e reformar o investimento privado. E

segundo porque há gargalos para pequenas e médias empresas e universidades que ainda não

conseguem contribuir efetivamente para esse sistema nacional de inovação. E em terceiro

porque, sendo tal reforma recente, ainda não há uma efetiva integração entre políticas de

inovação e outras políticas governamentais (SALERMO e KUBOTA, 2008).

90

Como complementação das afirmativas dessa subseção observa-se a figura 11, na qual

Hong (2005) distingue o s.n.i. coreano em três estágios.

Figura 11 História dos Programas de P&D governamentais.

In: Hong (2005, p. 69).

Percebe-se como a ciência e a tecnologia incorporaram-se entre as principais políticas

do governo sul-coreano, em 1960 o percentual de investimento público em P&D em relação

ao PIB era de 0,3%, e em 2000 passa a 3%. Como já se tinha observado, entre os países da

OCDE a Coreia é dos que mais tem aumentado esse tipo de investimento nos últimos anos.

A Coreia passa de economia em início de industrialização na década de 1960 para um

dos mais importantes centros inovadores, investindo em alta tecnologia e nas TICs. A base foi

uma política de imitação e de engenharia reversa, inicialmente centrada no exemplo japonês,

mas que atualmente já consegue ultrapassá-lo em termos de agregação de tecnologia.

Enfim, Finlândia e Coreia do Sul são importantes exemplos de nações que se

transformaram, cada uma a sua maneira, em economias cujas políticas governamentais têm a

inovação no centro das atenções. E isso com base em recomendações e aparato institucional

da OCDE, e sua base teórica de s.n.i., em uma abordagem de inovação centralizada em seu

aspecto sistêmico, interativo e de aprendizagem.

Entre as principais contribuições deste capítulo estão as indicações de políticas e

aplicabilidade da abordagem de sistemas nacionais de inovação. Principalmente com o projeto

MONIT se trás importantes elementos que engajam a pesquisa da OCDE em uma orientação

mais próxima do que a escola de Aalborg vêm estudando desde a década de 1980. É,

sobretudo, com a indicação de políticas transversais e mais abrangentes, e a proposição de

91

ações que podem levar à aprendizagem institucional, evidenciada no capítulo 1, que se

influencia em um olhar mais crítico sobre o caso brasileiro. Além disso, ressalta-se a

importância do Manual Oslo, e seu precursor Frascati, para a produção da Pintec. E a maneira

como os países, principalmente Finlândia e Coreia, conduziram suas economias à uma maior

orientação para o conhecimento, aprendizagem e inovação, devem incitar análise similar no

caso brasileiro.

92

3 HISTÓRICO DO SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO BRASILEIRO

Através dos capítulos anteriores se percebe que a abordagem de sistemas nacionais de

inovação tem sua maior dificuldade de aplicabilidade nos países em desenvolvimento, mas as

complementaridades teóricas realizadas no primeiro capítulo permitem que se explore o

histórico das políticas de ciência e tecnologia brasileira nesta perspectiva; assim como o

confronto com as ações desenvolvidas no Brasil em relação ao que estava sendo orientado e

realizado na OCDE.

Então este capítulo trata da trajetória histórico-econômica do sistema nacional de

inovação brasileiro25

, no período compreendido entre as décadas de 1930 e 2000, época em

que se formaram as bases institucionais para as políticas atuais.

3.1 – A Política Científica e Tecnológica de 1930 a 1964

Verifica-se nesta subseção fatos políticos e econômicos, bem como planos de governo,

que beneficiaram ou inibiram o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro pautado

em capacidades internas e processos de aprendizagem por interação. É explorado o período

desde a década de 1930, porque este é o ano que inaugura uma ―nova era‖ no Brasil com o

fim da República Velha, até 1964, porque este é o ano em que há uma mudança importante na

conduta política brasileira com o início do governo militar.

Não se explora profundamente nem fatos políticos nem econômicos. Apenas se

fornece uma breve análise dos principais acontecimentos relacionados com a condução da

ciência e da tecnologia no país na época. Isso se faz necessário porque é nessa época que

esforços políticos e econômicos se deslocam parcialmente de uma economia agroexportadora

para a industrialização que trouxe consigo a necessidade do progresso técnico.

25 As políticas adotadas neste período não estiveram em consonância com a abordagem teórica explorada no

primeiro capítulo desta dissertação, mas ainda assim adota-se tal nomenclatura por entender-se que se trata de

um processo contínuo.

93

Apesar de algumas tentativas anteriores, é somente a partir da década de 1930 que se

constitui no Brasil um processo de industrialização. É nesse período que se estabelece uma

conjunção de forças internas para substituir a base da economia brasileira de exportação de

produtos agrícolas para a industrialização voltada para o mercado interno (VILLASCHI,

1996).

Como ressaltam os autores acima explorados, 1930 é um ―ano- chave‖ a partir do qual

a política econômica brasileira volta seus esforços à tentativa de industrialização.

Tal mudança de postura política decorre principalmente da crise no mercado cafeeiro,

1920/30. Houve a percepção de que a economia nacional era excessivamente dependente de

produtos importados, o que comprometia o abastecimento interno em períodos de guerra, de

crise em outros países, e de oscilações cambiais (LIMA, 1976; VILLASCHI, 1996;

SCHWARTZMAN, 1996).

É devido ao descompasso entre oferta e demanda no mercado do café, políticas

econômicas equivocadas – que tinha em sua base a defesa da produção cafeeira – e a crise de

1929, que fazem do final da década de 1920 e início dos anos 1930 um período marcado por

uma profunda crise econômica no Brasil. Tanto pelas condições econômicas internas quanto

mundiais, observa-se uma redução expressiva nas importações e no investimento estrangeiro

no país26

, o que praticamente obrigou o governo brasileiro a tomar uma atitude de incentivo

de produção interna de bens antes importados (LIMA, 1976).

Nessa conjuntura percebiam-se equívocos estruturais na organização econômica do

país que precisavam ser modificados. Para tanto, inicia-se o processo de substituições de

importações no Brasil.

Conforme Souza (2008) é em 1937 que o então presidente Getúlio Vargas anuncia o

comprometimento da nação na instalação das indústrias de base. Já em meados de 1939 foi

lançado o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional, cujo

destaque era para a siderurgia. E em 1942 foi iniciada a construção da primeira usina da

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), também foi criada a Companhia Vale do Rio Doce

(CVRD).

26 Entre 1912 e 1929 haviam se instalado no Brasil algumas empresas, sobretudo estadunidenses, nos

setores de montagem de veículos, cinematografia, perfumaria e farmacêutica (LIMA, 1976).

94

[...] mas é só nos anos cinquenta que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a Petrobrás, as companhias hidrelétricas (que depois se

subordinam ou transformam-se em Eletrobrás e Companhia Energética do

Estado de São Paulo (CESP)), e as demais siderúrgicas começam a ser

instaladas. Através de grandes investimentos nas áreas da siderurgia e de

outras matérias-primas básicas, do petróleo e da energia elétrica, e do

desenvolvimento de um sistema bancário, estatal, o Estado Brasileiro, ainda

na última fase do período populista (anos cinquenta), estabelece bases mais

sólidas para a acumulação privada de capital e, portanto, para a

industrialização brasileira (PEREIRA, 1994, p. 54-55).

Neste caso, há de se destacar que foi um fator externo, a Segunda Guerra Mundial, que

contribui de forma decisiva para o desenvolvimento industrial interno.

Durante a Segunda Guerra Mundial se adotaram algumas medidas a fim de fomentar

internamente a produção de alguns produtos os quais se tinha dificuldade de conseguir no

mercado internacional, só que tais políticas se enraizaram e geraram resultados positivos. E

por isso mesmo depois de acabados os conflitos o governo brasileiro continuou a investir e a

proteger a indústria local (PEREIRA, 1994).

Para este estímulo à produção interna se usou majoritariamente de taxas múltiplas de

câmbio, tanto em exportações quanto em importações. De modo a valorizar o câmbio para

exportadores de café, torna-o menos atrativo. Desvalorizando-o para importação de bens de

consumo, ou bens que a indústria já produzisse localmente, de modo a tornar sua aquisição

mais cara, incentivando o consumo do substituto nacional (Ibid.).

Havia um conjunto de políticas essencialmente nacionalistas, modelo de substituição

de importações, que nas primeiras fases priorizou bens de consumo mais simples e aos poucos

se ampliou para bens de consumo duráveis e bens de capital.

Conforme Souza (2008), em 1947, no governo de Eurico de Gaspar Dutra, se

intensificou tais políticas industrializantes, a partir da introdução de controles seletivos de

importações, a fim de contê-las, e corrigir o desequilíbrio externo que se agravava.

Reduziram-se importações de bens de consumo e incrementou-se a importação de bens de

capital e de matérias-primas, incentivando a industrialização nacional.

A busca pela industrialização nesse caso não foi uma política isolada do Estado,

tratou-se de novos grupos internos que pressupunham que o desenvolvimento industrial

brasileiro era condição básica para o fortalecimento e a independência econômica. Esse grupo

era constituído por uma burguesia industrial recém-instalada, mas que não teve a capacidade

95

de assumir o aparelho do Estado politicamente, caracterizando um processo de

industrialização que não foi completo27

(VILLASCHI, 1996).

Esse processo de industrialização que priorizou o investimento e a proteção às firmas

nacionais de menor porte para produção de bens mais simples via a associação entre o

empresariado nacional nascente e o Estado modificou-se em meados da década de 1950, a

partir do Plano de Metas quando passou-se a incentivar a entrada de grandes empresas

multinacionais para a produção de bens mais ―elaborados‖. Foi nessa época que se instalaram

indústrias: automobilística, naval, de máquinas e equipamentos elétricos, bens de capital; e

expandiu-se a produção de aço, químicos, petróleo, papel e celulose (Ibid.; SOUZA, 2008).

A partir de meados da década de 1950 o perfil da indústria brasileira, ainda em fase

nascente, modificou o foco de produção de bens de consumo básicos para bens duráveis

produzidos por empresas multinacionais, exceção à indústria de base, que não interessava ao

capital estrangeiro, e por isso foi realizado por estatais: siderurgia (CSN), minérios (CVRD),

petróleo (PETROBRÁS), entre outras (SOUZA, 2008).

Para Villaschi (1996), nessa época formou-se uma tríplice aliança entre o Estado, o

capital nacional e o estrangeiro, que deu forças para a promoção da diversidade industrial

brasileira. Estabeleceu-se diálogo entre: oligarquias rurais, exportadores agrícolas, burguesia

industrial nascente, representantes da sociedade civil, militar e dos trabalhadores urbanos.

Mas: ―Apesar da importância da inovação nessas indústrias, a preocupação principal nessa

fase de implantação residia em suas capacidades de produção. Essa falta de preocupação com

a capacitação tecnológica produziu efeitos negativos no SNIB [...]‖ (Ibid. p. 53).

A abertura à entrada do capital estrangeiro parece ter sido importante para

dinamização ao mercado interno e também porque trouxe novas técnicas. Mas há de se

destacar que os esforços se concentravam na instalação de capacidade produtiva, mão de obra,

bens de capital, recursos financeiros, construção das plantas. E deixava-se de lado a questão

mais importante para a efetivação de um sistema nacional de inovação, o enraizamento das

capacidades tecnológicas e de aprendizagem, ou tentativa de engenharia reversa como a

Coreia do Sul realizou com sucesso, anos mais tarde.

27

Conforme Villaschi (1996), para que tal processo de industrialização fosse completo ou que fizesse o Brasil

tornar-se uma nação industrialmente forte perante os demais países, era necessário que se tivesse rompido com a

visão oligárquica agroexportadora. A burguesia industrial não conseguiu que seus interesses se sobressaíssem

aos dos agroexportadores, fazendo com que até os dias atuais coexistem e disputem poder político e econômico.

96

Também há de se destacar que existiam alguns problemas nesta política, como o fato

de o incentivo às indústrias estrangeiras não ter ocorrido de modo complementar ao incentivo

à indústria local, mas sim de modo alternativo, comprometendo relações de aprendizagem. E

também pela industrialização ser realizada por meio de máquinas e equipamentos obsoletos,

restringindo o acesso a inovações em nível mundial, deixando a indústria local sempre atrás

do que era realizado nos países desenvolvidos.

Dadas contradições do modelo, e relativa concentração, surgiram discussões sobre as

reformas de base, reivindicadas por movimentos sociais e que defendiam o retorno do Estado

nacional-desenvolvimentista de Getúlio Vargas (SOUZA, 2008).

O fruto dessa conjuntura foi o Plano Trienal, que continha uma série de medidas de

curto prazo que implicavam na contenção do investimento público e do salário real. ―O plano

desagradou a todos os lados: aos setores conservadores e favoráveis ao capital estrangeiro,

porque prometia as Reformas de Base; e aos setores nacionalistas, porque implicava no

agravamento em curto prazo das condições de vida da população.‖ (Ibid., p. 53), o que fez

com que o programa não se concretizasse. E em meio a turbulências políticas e econômicas

houve o golpe militar.

3.2 – A Política Científica e Tecnológica do Regime Militar

Com o advento do regime militar expectativas de participação popular e especialmente

das universidades no processo de geração de ciência e tecnologia se dissiparam e a estrutura

econômica e social se modifica consideravelmente.

O golpe de 1964 e os eventos que se lhe seguiram, particularmente até a

anistia, introduziram um novo complicador no processo: uma radicalização que separou setores da comunidade acadêmica, largamente marginalizada

pelo ―sistema‖, dos agentes do processo econômico. Com isso, a separação

entre o saber e o fazer aprofundou-se. Houve, entretanto, algumas exceções,

em que uma convergência dos interesses aproximou militares, empresários e

pesquisadores/professores universitários, como foi o caso da indústria da

informática (KRIEGER e GALEMBECK, 1996, p. 4).

Somente da década de 1970, especialmente no governo Geisel, que os investimentos

governamentais na pesquisa em ciência e tecnologia ganharam espaço, sobretudo para a então

criada política de informática, na pesquisa nuclear, e outros projetos de grande porte,

principalmente militares (SCHWARTZMAN, 1996).

Nesse contexto, Jaguaribe (1987) destaca que foi somente com o Plano Estratégico de

Desenvolvimento (PED), 1968/70, que se instituiu um planejamento com estratégia específica

97

para o desenvolvimento da ciência e tecnologia nacional. Este foi um programa de

capacitação científica e tecnológica, associado a uma estratégia industrial e institucional que

ressaltava que o processo de substituição de importações de produtos industriais não era

suficiente para assegurar o desenvolvimento. Era necessário também promover um programa

de substituição de tecnologia, de modo a adaptar a tecnologia importada e gradualmente

desenvolver a capacidade tecnológica interna (JAGUARIBE, 1987).

Para Villaschi (1996), o PED foi o primeiro ciclo de confronto entre o planejamento

industrial, econômico e tecnológico. Mas ainda o desenvolvimento tecnológico era colocado

como uma área de planejamento como outra qualquer, o PED não considerava o planejamento

tecnológico como a base sobre a qual as demais áreas deveriam se desenvolver.

As recomendações da OCDE enfatizam que as políticas de ciência e tecnologia devem

congregar diferentes esferas de governos, que sejam horizontais. Mas o que se percebe na

análise do PED é que apesar deste ter uma concepção ampla, reduz sua aplicação, pois não

coloca a substituição de tecnologias como a área central do planejamento.

Já o segundo ciclo desse confronto iniciou-se com o primeiro Plano Nacional de

Desenvolvimento (I PND), que vigorou entre 1968 e 1973. Em que: ―A intensificação das

importações de tecnologia, sua adaptação às necessidades internas e o investimento em

capacitação tecnológica foram entendidos mais uma vez como passíveis de resultar em

inovação.‖ (VILLASCHI, 1996, p. 71-2).

Ou seja, com o I PND houve novos elementos de continuidade à PED, em matéria de

geração, capacitação e adaptação de tecnologia. Para tanto, elegeu-se áreas prioritárias:

energia nuclear, pesquisa espacial, oceanografia, indústrias intensivas em tecnologia,

tecnologia de infraestrutura e pesquisa agrícola, nas quais empresas, tanto públicas quanto

privadas, que eram as agentes centrais do plano incorporavam inovações através da

transferência de tecnologia estrangeira para adaptação nacional (JAGUARIBE, 1987).

Havia no I PND uma ênfase na importação de tecnologia para adaptação local e a

principal fonte de recursos para isso eram as linhas de crédito oferecidas pelo BNDE,

benefício que se estendia igualmente às empresas nacionais e estrangeiras. Além disso, as

inovações normalmente eram trazidas pelas grandes empresas multinacionais, que

dominavam setores mais dinâmicos. As inovações eram trazidas por tais empresas que já as

98

utilizavam no mercado internacional, não havia geração interna de tecnologias, o que

dificultava o enraizamento de tal cultura nos agentes (Ibid.).

Dessa forma, as empresas multinacionais eram incentivadas pelo poder público e

passaram a dominar os setores mais dinâmicos. Até porque tinham acesso facilitado às

tecnologias vigentes no mercado internacional, já adotada na matriz da empresa por exemplo.

Assim incorporavam inovações ao mercado brasileiro, mas estas não eram geradas

internamente e não contribuíam para que tal cultura se enraizasse no empresariado local.

Em relação à estrutura organizacional da ciência e da tecnologia houve uma

modificação importante no início da década de 1970, com a criação de esferas específicas

para o seu desenvolvimento, com o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (FNDCT), o qual teve a partir de 1971 a FINEP como gestora. E em 1972, pelo

decreto nº 70.553, foi criado o Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (SNDCT), subordinado à SEPLAN (Secretaria de Planejamento), e coordenado a

partir de 1975 pelo CNPq, do qual participavam além do FNDCT a CAPES e a Secretaria de

Tecnologia Industrial (STI) do Ministério da Indústria e Comércio (MIC). Tinha como

principais agentes correlacionados: o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI-STI),

que era responsável pela análise, aprovação e legalização de patentes e importação de

tecnologias; o BNDES; o Instituto de Pesos e Medidas (INPM-STI) (COSTA, 1994).

Havia dois agrupamentos hierárquicos no SNDCT: i) concentrado em torno do

FNDCT, núcleo do sistema, com funções financeiras (FINEP/FNDCT), de coordenação e de

programação (CNPq), e representação de interesses (CCT); ii) a estrutura governamental, os

diferentes ministérios. ―A autonomia relativa desse outro agrupamento depende naturalmente

das fontes de recursos que virá a controlar, do grau e tipo de atividades que se propõe e da

relação entre estas atividades e o mercado de tecnologia.‖ (JAGUARIBE, 1987, p. 50)28

É interessante observar que durante o início da década de 1970 quando o Brasil

tentava formar um sistema para alavancar o avanço tecnológico, na Finlândia, por exemplo, já

eram desenvolvidas políticas do tipo desde a década de 1950 em programas que focavam o

28 É interessante observar que durante o início da década de 1970 quando o Brasil tentava formar um sistema

para alavancar o avanço tecnológico, na Finlândia, por exemplo, já eram desenvolvidas políticas do tipo desde a

década de 1950 em programas que focavam o estímulo à interação entre os agentes, conforme visto no capítulo

anterior. Políticas tais que o Brasil estava longe de efetivar, fatos históricos que colocam atualmente estas duas

nações em panoramas tão diferenciados.

99

estímulo à interação entre os agentes. Políticas tais que o Brasil estava longe de efetivar, fatos

históricos que colocam atualmente estas duas nações em panoramas tão diferenciados.

Ainda se destaca que a inter-relação entre os dois agrupamentos hierárquicos acontecia

somente pelo fluxo de financiamento e da elaboração de planos por parte do CNPq. Mas

efetivamente nem CNPq nem a FINEP tinham controle específico sobre a aplicação dos

recursos em ciência e tecnologia, o que era incumbência das esferas específicas, ministérios,

não sendo controladas pelo SNDCT (JAGUARIBE, 1987).

Ou seja, a forma de interação que havia no Sistema Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico acontecia majoritariamente a partir do fluxo financeiro. Mas a

aplicação desses recursos não era controlada pelo sistema, era realizada pelas secretarias

vinculadas aos ministérios, não existia vínculo direto entre elas e o núcleo do SNDCT. Parece

que a figura atribuída a este agrupamento hierárquico era meramente política, pois seus planos

eram vistos como indicações, não havia compromisso ou controle que fossem cumpridos.

Uma questão que parece permear a institucionalidade brasileira, pela presença de uma

idiossincrasia burocrática e política sobre a falta de efetividade das políticas; já que os fluxos

financeiros nem sempre correspondiam às elaborações de políticas.

Essa falta de preocupação com a avaliação de resultados também se apresenta como

contrária ao indicado pela OCDE, que através do projeto MONIT, (OECD, 2005b)

demonstra-se que melhores níveis de aprendizagem política podem ser alcançados através de,

entre outros mecanismos, avaliação de políticas. E estas não somente no final da execução dos

planos, mas em seu decorrer, promovido em uma estrutura governamental transversal, que

integrem diferentes ministérios e esferas de governança.

Apesar disso, para Guimarães (1995) a política científica e tecnológica brasileira entre

1968 e 1979 foi marcada por uma continuidade, algo não possível de ser verificado na fase

seguinte (1979-1989), quando houve uma redução significativa dos recursos governamentais

destinados a atividades de ciência e tecnologia.

Já para Jaguaribe (1987), este período foi marcado não somente por uma contradição

da política econômica com a política tecnológica e industrial, mas sim da própria política

econômica. Havia concentração de renda, baixa absorção da mão de obra industrial e

incentivo público tanto para empresas nacionais como para multinacionais, a burocracia

100

aumentava no nível do governo federal que ao mesmo tempo criava agências estatais. Não

existia diálogo entre tais esferas de governo, e muito menos entre governo e sociedade.

Nesse ponto da história da ciência e da tecnologia no Brasil houve avanços em relação

às etapas anteriores, pois se cria a estrutura hierárquica com um fundo com dotação própria de

recursos financeiros, além de uma reaproximação com a pesquisa acadêmica em alguns

setores. Mas essa estrutura era vinculada à secretaria de planejamento, e por isso era encarada

como uma área de planejamento como outra qualquer.

Já o terceiro confronto entre a política industrial, tecnológica e econômica aconteceu

no II PND, (1975-79), no qual a adoção de políticas industriais e tecnológicas era considerada

fundamental para a competitividade da economia brasileira e para a construção de uma

moderna sociedade industrial. Em sua execução destacam-se mecanismos de reserva de

mercado, fortalecimento da capacidade de P&D em telecomunicações, apoio institucional e

financeiro para atividades de P&D, criação de laboratórios de pesquisa em empresas e de

institutos de P&D e fomento da pesquisa nas universidades (VILLASCHI, 1996).

No II PND ampliaram-se esforços em ciência e tecnologia, mas de forma muito

concentrada, sobretudo em áreas estratégicas, destacando os setores de informática e de

telecomunicações.

A política de informática que vigorou do início da década de 1970 até início dos anos

1990 foi pautada na reserva de mercado e na intensa participação governamental. Havia

incentivo à criação e desenvolvimento de empresas nacionais no setor, até medidas

organizacionais e políticas que garantiam e controlavam o acesso das empresas nacionais à

tecnologia estrangeira, e motivando-as a desenvolver capacidades internas, além da

intensificação da cooperação entre empresas, universidades e centros de pesquisa, a fim de

romper com a dependência à tecnologia estrangeira (VILLASCHI, 1996).

Tal política atingiu relativo sucesso e diminuiu o hiato tecnológico, na comparação da

década de 1980 com outros países de industrialização tardia. Mas com o passar do tempo se

percebeu que as maiores empresas nacionais do setor eram muito pequenas em relação às

multinacionais, e que não se conseguiria desenvolver economia de escala e de escopo

necessárias para alcançar o desenvolvimento e relevância mundial. Apesar de internamente a

política de informática ter sido relevante para desenvolver a capacidade tecnológica frente ao

paradigma técnico-econômico das TICs, expandido novas tecnologias, e fortalecido interações

101

entre usuários e produtores, não conseguiu se manter, nem se sobressair de forma efetiva em

nível mundial (Ibid.).

O problema, conforme Guimarães (1995), é que os esforços da política de informática

se concentraram em universidades e institutos públicos de pesquisa. Houve o fortalecimento e

ampliação de cursos de pós-graduação e investimento em pesquisa em nível acadêmico, mas

faltou a interação com a esfera produtiva. Por isso, o objetivo que era diminuir a dependência

à tecnologia externa não gerou resultados compatíveis com as expectativas formadas.

Ou seja, essa falta de sintonia e interação entre a esfera produtiva e acadêmica gerava

dificuldades na transferência dos avanços tecnológicos alcançados pela pesquisa para as

firmas. E apesar dos avanços serem significativos internamente, não conseguiram fazer frente

aos grandes grupos que vinham se formando internacionalmente. A constatação desta

dificuldade corrobora as abordagens de autores como Viotti (2002) e Arocena e Sutz (2004)

utilizados no primeiro capítulo, que afirmam que o foco das políticas e estudos em economia

da inovação para países em desenvolvimento deve recair sobre processos de aprendizagem e

sobre a transferência de tecnologia.

Já a política relacionada às telecomunicações, que data de 1962 quando foi criado o

Ministério das Telecomunicações (Minicom), também passou a ser priorizada em 1974 na

forma de três objetivos básicos do II PND para o setor, sendo eles: i) acelerar a expansão de

uma infraestrutura que fosse confiável, eficiente e abrangente; ii) incentivar a produção

nacional de equipamentos de telecomunicações; e iii) prover, a partir da ação governamental,

um centro de P&D para o setor, de modo a reduzir a dependência à tecnologia estrangeira

(VILLASCHI, 1996; SZAPIRO, 1999).

O governo adotou duas estratégias para fortalecer a produção local. Em primeiro lugar assumiu o ônus dos investimentos de alto risco em P&D e na

formação de recursos humanos. Em segundo lugar, promoveu a capacitação

industrial local dando preferência à aquisição de produtos das empresas

brasileiras. Como resultado dessas estratégias que se complementam uma às

outras, na metade dos anos 80 o setor apresentava configuração

completamente diferente daquela do final dos anos 60 e início da década de

70. A estrutura de mercado alterou-se, favorecendo uma maior produção

local, uma menor concentração e o aumento da autonomia tecnológica

(VILLASCHI, 1996, p. 205).

Para Szapiro (1999) o processo de consolidação do Sistema Nacional de

Telecomunicações (SNT), iniciado em 1962, deu um importante passo em 1972 com a criação

das Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás). Esta empresa de capital misto controlada

102

pelo Minicom tinha a função de planejar, coordenar e expandir o SNT, e que a partir de 1974

passou a ser a concessionária geral para a exploração de serviços em telecomunicações no

território nacional, tornando o Estado responsável pela exploração monopolista no setor.

A partir da expansão do SNT e da Telebrás passou-se a sentir com maior intensidade a

dependência tecnológica do setor, uma vez que a grande maioria dos equipamentos tinha

tecnologia importada por subsidiárias de multinacionais e havia carência na qualificação dos

recursos humanos na área. A partir disso começam a se esboçar projetos de P&D no setor das

telecomunicações, especialmente parcerias com universidades (SZAPIRO, 1999).

Para tanto, em 1976 foi criado o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da

Telebrás), um laboratório de P&D voltado para a capacitação de recursos humanos e

desenvolvimento de tecnologias específicas para a produção de equipamentos.

Adicionalmente também foi criada uma central de comutação digital (CPA-T), fabricação

local de centrais analógicas (CPA-E) com aquisição de direitos e patentes das multinacionais,

detentoras da tecnologia, e ênfase na constituição de empresas privadas nacionais (Ibid.).

[...] a opção pelo desenvolvimento da tecnologia da CPA implicava na

necessidade de altos gastos de P&D, já que se tratava de uma tecnologia de

ponta, e era a Telebrás o órgão responsável pelos investimentos. Ao mesmo

tempo, esta tecnologia estava ainda em fase de desenvolvimento pelas

grandes multinacionais e o objetivo do governo era de aproveitar a ―janela de

oportunidade‖ aberta pela introdução da microeletrônica no setor das telecomunicações.

A introdução das CPAs no SNT provocaria uma profunda transformação na

configuração do setor das telecomunicações e, consequentemente, na

indústria de equipamentos (SZAPIRO, 1999, p. 49).

Entre as décadas de 1970 e 80 foram desenvolvidos vários programas de

desenvolvimento tecnológico, tanto no âmbito do CPqD e das universidades projetos muitas

vezes encomendados por empresas particulares, outros projetos em parcerias entre alguns

destes três tipos de atores. E fruto de tais pesquisas, se originaram produtos inovadores e

adaptados às necessidades específicas brasileiras, como clima e condições de tráfego

telefônico nas regiões a custos mais reduzidos. Entre os segmentos das telecomunicações que

tiveram resultados significativos destaca-se: rádio e multiplexadores digitais, comutação de

pacotes de dados e telex, estações terrestres de baixo custo para comunicação por satélite,

centrais Trópico, a fibra óptica e o telefone público a cartão indutivo (Ibid.).

Dentro dessa perspectiva de sucesso setorial, mas com caráter também regionalizado,

das telecomunicações brasileiras Scatolin et. al. (1998) avalia o caso da Siemens no Paraná.

Esta empresa de telecomunicações se instalou neste estado do sul em 1973 e atingiu

103

importantes investimentos, inclusive em outras regiões brasileiras, especialmente durante o II

PND, e durante a política das telecomunicações e a política de informática. Mas,

especificamente em Curitiba os resultados em termos de capacitação tecnológicas ampliaram-

se na década de 1990 quando a empresa passou a se concentrar em atividades de treinamento

e de desenvolvimento em telecomunicações. Os autores ressaltam:

A subsidiária paranaense tornou-se centro de competência (CC) mundial em

diversas áreas: (i) CC para o desenvolvimento de sistemas de supervisão e

controle de redes de assinantes (TMN) (junho de 1994);(ii) CC para o

treinamento em centrais de comutação digital (EWSD) e em equipamentos de

transmissão radiodigital (RADI) (fevereiro de 1995); (iii) CC para o

desenvolvimento de pequenas centrais telefônicas operadas através de teclas

(KS/PBX) (agosto de 1996); (iv) CC para o desenvolvimento, produção e

vendas de telefones analógicos (outubro de 1996); (v) CC para o

desenvolvimento de documentos de shelters (outubro de 1996); (vi) CC para o desenvolvimento de placas de circuito de uma linha de assinantes de uma

central telefônica pública (SLMA), com. chipset da fábrica ADM13 (janeiro

de 1997); (vii) CC para desenvolvimento de software customizados para uma

região (Application Software Programme) (abril de 1997); (viii) CC para o

desenvolvimento de sistemas multiplex não sincronizados (PDH) (junho de

1997); (ix) CC para elaboração de documentos e manuais para shelters (junho

de 1998). Em julho de 1998, Curitiba tornou-se sede do mais novo centro

mundial de competência da Siemens. (SCATOLIN, et. al. 1998, pag. 20-21)

Dessa forma, pode-se afirmar que a política de incentivo à ciência e tecnologia no

Brasil passa por diferentes fases, ocupando em alguns momentos papel central e outros sendo

marginalizada e esquecida pelo poder público. Mas o que se percebe é que mesmo quando

houve incentivo, esse aconteceu de forma muito segmentada, e direcionada, sobretudo para a

universidade, sem a preocupação da interação com outros agentes.

Jaguaribe (1987) aponta que o planejamento brasileiro, especialmente no que tange às

políticas científicas e tecnológicas, é puramente setorial. Ponto em desacordo com o que a

OCDE tem indicado sobre políticas transversais, principalmente em períodos de mudança de

paradigma técnico-econômico. As exceções são o I PND e o Plano Trienal, o qual nunca teve

suas diretrizes implementadas.

Mas mesmo tais planos sendo setoriais, isso não significa que eram específicos, ao

contrário o planejamento brasileiro caracterizou-se por elevada generalidade, pautado

normalmente em acordos e negociações com grupos de interesses e marcados por conflitos no

seu processo de implantação. Os melhores exemplos são: a política siderúrgica, do petróleo e

da energia elétrica, durante as décadas de 1930, 1940 e 1950; e repetindo-se com a política de

bens de capital do II PND nos anos 1970 (JAGUARIBE, 1987).

104

Costa (1994) afirma que um dos grandes problemas para o desenvolvimento da ciência

e tecnologia de forma efetiva no Brasil, principalmente na década de 1970, quando houve

maiores incentivos na área, é a sua dificuldade de integrar-se com a política industrial. Na

opinião do autor, política científica e tecnológica deveria estar integrada à política industrial a

fim de baratear a produção, melhorar a distribuição de renda, aumentar a competitividade

internacional e o crescimento econômico.

No Brasil não houve um agente catalisador da ciência e tecnologia que a fizesse

vigorar e se enraizar na cultura dos agentes. Na realidade, na década de 1970 houve incentivo

público à prática de P&D nas empresas, mas sem a exigência de contrapartidas, por exemplo,

em forma de novos produtos destinados ao mercado internacional. A exceção pode ser feita à

indústria militar que na época conseguiu se sobressair, mas que também não colocou o devido

retorno para a sociedade. Cita-se, como exemplo, os elevados valores investidos em pesquisa

nuclear e na usina de Angra dos Reis, mas que não teve o retorno que poderia para a

sociedade civil, como para usos em medicina, biotecnologia, entre outros (COSTA, 1994).

Mas, conforme Costa (1994), já no final da década de 1970/início da década de 1980

se observa uma redução drástica nos gastos do SNDCT, motivada especialmente pela

tentativa de equilíbrio orçamentário, o que acabou interrompendo muitas pesquisas e projetos

fazendo-se desperdiçar boa parte dos esforços do passado e possíveis resultados futuros.

Além disso, a crise que vinha se abatendo no Brasil atingiu mais diretamente

justamente setores que investiam em P&D: bens de capital seriados e sob encomenda,

petroquímica, empresas estatais e firmas de consultoria de projetos de engenharia. De modo a

colocar o Brasil alguns passos para trás, pois enquanto aqui se reduzia o pouquíssimo que se

fazia de P&D, outros países, especialmente asiáticos, as nações desenvolvidas e empresas

multinacionais aumentavam investimentos, já expressivos, em P&D (VILLASCHI, 1996).

Conforme Villaschi (1996) o ano de 1979 marca a última mudança de governo sob

regime militar, bem como a alteração na agenda e debates econômicos no país. A partir de

1979 o debate econômico deixou de se relacionar com a industrialização e passou a focar em

temas em torno do controle da inflação, dívida externa e crise fiscal do Estado.

No início da década de 1980 já havia indicativos da grave crise que se instalou no final

do período, época em que o Estado inicia seu enfrentamento em uma das mais graves crises

em suas contas públicas, fazendo com que gastos em C&T se reduzissem ao mínimo possível.

105

Apesar disso, algumas ações foram realizadas no incentivo à ciência e tecnologia na

década de 1980. Costa (1994) destaca o programa ―Ação Programada: Desenvolvimento

Industrial‖, um programa da SEPLAN/CNPq criado em 1982. Este programa tinha o objetivo

de integrar institutos de pesquisa, universidades e empresas para o desenvolvimento

tecnológico dos setores de: bens de capital, bens de consumo, metal-mecânico, químico-

petroquímico e farmacêutico, material de transporte, siderurgia e não ferrosos, produtos não-

metálicos em geral – especialmente papel e celulose, instrumentação, informática e

microeletrônica. Em 1984, o ―Ação Programada‖ teve mais uma fase que contemplou os

setores da comunicação, eletrônica e informática.

A concepção do programa ―Ação Programada‖ foi interessante e poderia contribuir

efetivamente para a construção de um sistema nacional de inovação brasileiro, caso tivesse

saído efetivamente do papel (COSTA, 1994).

Destaca-se que ―as ‗Ações Programadas‘ não representam, no entanto, um programa

de trabalho de órgãos ou ministérios específicos, mas situam-se a um nível mais vago como:

sugestões para ação. Tais sugestões, por sua vez, não são acompanhadas de orçamentos‖

(JAGURARIBE, 1987, p. 46).

A OCDE, (em OECD, 2005b), indica que para a efetivação de sistemas nacionais de

inovação é necessário o diálogo entre as diferentes esferas governamentais em planos de

governos preocupados com a avaliação de mecanismos ex ante, bem como avaliação durante

o processo de execução de ações. Mas, o planejamento dessa época era isolado nas esferas

específicas que não dialogavam, e não avaliam seus planos e ações, isso causava uma falta de

compromisso com as metas estabelecidas.

Então, afirma-se que: ―Os planos, como vimos, são mais normativos do que

operativos, suas estratégias funcionam mais como metas do que como desenho político [...]‖

(Ibid., 1987, p. 60), característica que provavelmente contribuiu para sua falta de

credibilidade, a qual se soma à falta de propostas para a redefinição da estrutura industrial e

dos modelos de transferência de tecnologia. E em desacordo com o que a OCDE tem

indicado.

Além disso, o incentivo público era custeado por empréstimos externos, endividando a

nação e contribuindo para a crise fiscal do Estado. Também, o incentivo que existiu se

concentrou em tecnologias da fronteira política (relacionados às áreas militares e de segurança

106

nacional), em detrimento à industrial, de modo a contribuir para a falta de legitimidade dos

planos perante a sociedade e dificultando seu enraizamento enquanto cultura (COSTA, 1994).

Conforme Villaschi (1996), outra questão problemática para o SNIB é o arcabouço

legal, já que durante o regime militar há restrita participação popular, deixando várias lacunas

na área, algo que teve de ser resolvido na década de 1980. Assim, enquanto os países da

OCDE se preocupavam com a institucionalidade de sistemas nacionais de inovação

contemporâneos do Paradigma técnico-econômico das TICs, no Brasil a preocupação ainda

era com as bases constitucionais para uma sociedade democrática. E na economia, deixava-se

de lado a preocupação com a competitividade empresarial, e centralizavam-se discussões no

combate à inflação.

É a partir do final da década de 1970 que a aliança entre a burguesia mercantil e

industrial com a estrutura burocrática pública e privada, civil e militar, e com as empresas

multinacionais entra em colapso. Essa união que em 1964 substituiu a aliança populista

substitutiva de importações, por um modelo de industrialização dependente do capital externo,

especialmente das multinacionais, entra em declínio a partir de final da década de 1970. Pois,

―[...] a sociedade, em face da crise econômica, começa a libertar-se da tutela

tecnoburocrático-militar. A própria grande burguesia, que fora a grande beneficiária dessa

tutela, começa a pô-la em questão, iniciando então o processo de abertura política [...]‖

(PEREIRA, 1994, p. 63).

Em meio a tal conjuntura houve a redemocratização brasileira, estabeleceu-se um novo

governo com muitos desafios tanto na área política e social como econômica.

3.3 – A Política Científica e Tecnológica da Nova República

Considera-se como ―Nova República‖ o período que se inicia com a redemocratização

e a instauração do primeiro governo eleito por eleições diretas, desde o golpe de 1964.

Perdura então de 1985 a 1989.

Para Castro (2005), o curto período da ―Nova República‖ foi extremamente instável

economicamente, pois guarda três planos mal sucedidos na tentativa de controle do processo

hiperinflacionário (Plano Cruzado em 1986, Plano Bresser em 1987, e Plano Verão em 1989),

mas também houve rápidos períodos de crescimento econômico. Mas a principal constante do

período foi a deterioração das contas públicas

107

Há de se ressaltar ainda a maneira conturbada como acontece esse processo de

redemocratização, que por si só tenderia a não ser fácil e acabou se agravando pela conjuntura

econômica e política.

Acontece que o primeiro presidente eleito, após o período da ditadura militar, não

pôde assumir seu cargo. Tancredo Neves, eleito Presidente da República em 15 de janeiro de

1985, acabou falecendo em 21 de abril de 1985, antes de tomar posse; assumiu em seu lugar,

o vice José Sarney. Este que teve problemas para a condução política do país, já que sua

chapa era composta por grupos com pensamentos muito diferentes para o futuro do país,

reunião estabelecida durante o processo eleitoral na tentativa de ter a representatividade de

todos os setores da sociedade (CASTRO, 2005).

Havia no Brasil grandes desafios econômicos e políticos. Controlar a inflação era o

maior deles no plano econômico. E reconduzir a nação para a democracia, promulgar uma

nova constituição e reorganizar o plano político era o outro grande conjunto de desafios. Só

que o meio que naturalmente já seria conturbado agravou-se ainda mais pelas disputas e

heterogeneidade de pensamentos no núcleo do governo.

Institucionalmente, porém, há uma mudança importante com a criação do Ministério

da Ciência e Tecnologia, em 1985. E, dessa forma, as instituições ligadas a este tema antes

subordinadas à Secretaria de Planejamento passaram a concentrar-se nesse novo ministério.

Conforme Costa (1994), no período após a redemocratização existe vontade política de

retomar o investimento público industrial, sobretudo em matéria de P&D. Mas que não se

concretizou em função de incidentes políticos, e pela crise econômica que se agrava.

Tancredo Neves organizava desde a época da campanha eleitoral, 1984, a Comissão do Plano

de Ação do Governo (COPAG), a qual pretendia implementar reformas no sistema financeiro,

nas finanças públicas, na política industrial, e na política científica e tecnológica, mas que

acabou abandonada.

Outro fato que dificultou a execução de planos de desenvolvimento científico e

tecnológico em meados da década de 1980 diz respeito à disputa pela condução da política

industrial e tecnológica entre a SEPLAN e o MIC. Ambos elaboraram planos nesse tema, que

ficaram apenas no papel (Ibid.).

Destaca-se:

108

O Brasil que emerge de 20 anos de regime militar é um país com graves desequilíbrios econômicos, sociais e institucionais, que precisam ser

administrados em um ambiente de intensa competição político-partidária, e

neste quadro o setor de ciência e tecnologia não consegue ser mais do que

um entre tantos na disputa por recursos públicos cada vez mais escassos.

O curto período, de menos de 10 anos, em que o setor de ciência e

tecnologia no Brasil pôde contar com recursos relativamente abundantes não

foi o suficiente para que cientistas e tecnólogos demonstrassem os eventuais

benefícios que seus trabalhos poderiam trazer ao país, mas bastou para criar

um conjunto muito significativo de instituições e grupos especializados [...]

(SCHWARTZMAN, 1996, apresentação, p. VIII).

Ou seja, nesse momento da história brasileira percebe-se que a ciência e tecnologia

nunca foram assumidas como prioridades para o governo nacional. Apenas na década de 1970

houve uma ascensão de políticas na área, mas que nem foram suficientes para enraizar a

cultura, nem para mostrar os benefícios de uma economia pautada no conhecimento. E essa

estrutura se deprecia ainda mais na década de 1980.

Conforme Costa (1994), a crise econômica que se instalou no Brasil do final da década

de 1980 aos primeiros anos da década seguinte já dava suas sinalizações desde meados da

década de 1970, quando os investimentos privados tornaram-se mais voláteis. E os problemas

econômicos do país, especialmente com o endividamento e definhamento do quadro interno e

externo da economia nacional, levaram o governo a partir de 1980 a reduzir gastos, com

significativa retração dos investimentos. ―A FBCF29

em relação ao PIB que tinha alcançado

23,1% em 1980 caiu para 16,9% e 16,1% em 1983 e 1984, respectivamente. Em média,

diminuiu 11,6% a.a.‖ (COSTA, 1994, p. 110).

E além da queda do investimento público a estratégia empresarial modificou-se

comprometendo seus investimentos. Costa explica:

O programa governamental de ajustamento, através do enxugamento da

moeda e do crédito, com a emissão de títulos públicos com alta rentabilidade,

segurança e liquidez, permitiu às empresas privadas, particularmente aquelas com baixo endividamento e uma administração ágil e eficaz, grandes lucros

em operações financeiras. Para isso concorreu a estratégia empresarial de

fuga dos investimentos produtivos e elevação das margens de lucro, com o

fim de gerar liquidez. No primeiro momento, pagando dívidas passadas e,

posteriormente, alcançando uma posição credora líquida no mercado

financeiro (COSTA, 1994, p. 110).

Neste período o pouco investimento que se teve foi em alguns setores específicos,

como informática, papel e celulose, equipamentos para exploração do petróleo e mineração.

29 FBCF: Formação Bruta de Capital Fixo.

109

―Os investimentos mais pesados, mesmo para o aumento da produtividade e/ou qualidade,

foram descartados pela maioria das empresas‖ (COSTA, 1994, p. 111).

A instabilidade econômica fez com que tanto governo quanto empresas descartassem o

investimento em P&D de suas agendas, sendo que as firmas ainda tinham um substituto ao

investimento produtivo, a especulação financeira, que lhe rendia melhores resultados.

A partir da década de 1980 se observa um corte contínuo e expressivo dos recursos e

fomento às empresas estatais devido ao controle financeiro mais rígido, o que gerava

problemas para a continuidade do processo de fomento a atividades de P&D, já que havia

empresas estatais que exerciam posições importantes em alguns setores, especialmente

energia e telecomunicações. Esses cortes de recursos também eram prejudiciais porque

geravam efeitos às outras empresas, e outros setores, pelos encadeamentos para frente e para

trás, principalmente com programas de P&D de institutos especializados e universidades,

comprometendo o sistema nacional de inovação brasileiro (VILLASCHI, 1996).

A instabilidade econômica do país trouxe muitos efeitos prejudiciais sobre o SNIB,

sobretudo quando se analisa que tal crise ocorreu mais ou menos concomitantemente com a

mudança de paradigma técnico-econômico, de modo a afetar diretamente a capacidade dos

agentes de reagir frente aos desafios dessa mudança. ―As políticas de curto prazo destinadas a

'combater' a inflação e as crises da dívida e do fisco não só agravaram cada um desses

problemas, mas também corroeram a confiança dos agentes nas perspectivas econômicas do

país‖ (Ibid., p. 208).

Percebe-se que o investimento em ciência e tecnologia que se definhava desde o final

da década de 1970 se reduziu ainda mais no período da Nova República. Em 1988 ainda se

lançou a NPI (Nova Política Industrial), mas poucos meses mais tarde seus estímulos às

atividades de P&D foram cancelados. Dada sua curta duração, em função da austeridade

fiscal, a NPI não alcançou resultados relevantes (COSTA, 1994).

E no período posterior, com os sucessivos planos de tentativa de estabilização

monetária, instaurou-se um clima de incerteza e dúvidas sobre o futuro econômico na nação.

E sendo assim, as empresas que conseguiram se manter no mercado optaram por não fazer

investimentos, sobretudo de grande valor (Ibid.).

110

Tanto o ambiente econômico quanto político-institucional era hostil à

operacionalização de um sistema nacional de inovação. Além disso, o fato de tal crise

econômica e política ter se agravado justamente no momento de instalação de um novo

paradigma técnico-econômico foi fatal para a construção de um SNIB nas décadas de

1980/90, contemporâneo do que vinha ocorrendo tanto em países desenvolvidos quanto

naqueles em nível de industrialização semelhante ao do Brasil à época (como, por exemplo a

Coreia do Sul). Enquanto países desenvolvidos e asiáticos aproveitavam tal oportunidade, o

Brasil estava empenhado em conter a inflação à custa de cortes drásticos de gastos inclusive

em P&D e em reorganizar-se politicamente.

São em períodos de troca de paradigma técnico-econômico que se abrem janelas de

oportunidades que devem ser aproveitadas. E foi justamente nas décadas de 1980/90 que

ocorre a transição do paradigma fordista para o paradigma das tecnologias da informação e da

comunicação (TICs) (VILLASCHI, 1996).

3.4 – A Política Científica e Tecnológica da Década de 1990

O início da década de 1990 traz consigo a continuidade do processo inflacionário e

suas sucessivas tentativas de estabilização econômica, que finalmente é alcançada em 1994

com o Plano Real. Então essa subseção explora a política científica e tecnológica brasileira,

bem como fatos econômicos e políticos relevantes na década de 1990.

Conforme Alcorta e Peres (1998), a crise do setor público no final da década de 1980

comprometeu importantes projetos tecnológicos que vinham sendo desenvolvidos nos países

da América Latina. Em função da crise o setor público se retirou ou reduziu muito sua

participação e passou a focar em programas de qualidade e produtividade como ferramentas

para promover o desenvolvimento tecnológico das firmas.

No Brasil entre o pouco que foi feito na época se destaca o PBPQ (Programa

Brasileiro de Produtividade e Qualidade), que se iniciou em 1990 com o objetivo de

incentivar a industrialização com base em subprogramas horizontais e setoriais. O PBPQ

incluía o desenvolvimento e difusão de novos métodos gerenciais, novas formas de

organização dos recursos humanos e melhoria de articulação entre indústria, governo e

universidade. Além deste cita-se o Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da

Indústria e o Programa de Apoio ao Comércio Exterior (Ibid.).

111

Ou seja, a crise fiscal do Estado, entre outras repercussões, traz a queda significativa

do setor público enquanto agente integrado diretamente no processo de produção de ciência e

tecnologia para um papel coadjuvante, mais ligado com assessoria. Apesar desses programas

de inovações serem fortemente concentrados em processos e de pouca aspiração tecnológica,

ainda assim houve bons resultados em termos de produtividade, que não deixou as firmas

brasileiras totalmente desassistidas no período de crise econômica e abertura da economia.

Por isso, Souza (2008) sugere que ao analisar a década de 1990 o primeiro fato a que

se deve prestar atenção é no ―Consenso de Washington‖ e suas consequências para a

economia brasileira. O Brasil a partir de sua adesão a tal receituário, no governo Collor,

aprofundou o processo de abertura da economia iniciado no governo de José Sarney. Foi a

partir da isenção de tarifas de importação para cerca de mil produtos; eliminação de reservas

de mercado; redução das tarifas de importação da média de 37,4% na década de 1980 para

32,1% em 1990 até atingir 14,2% em 1994, entre outras medidas, que se pretendia incentivar

o ingresso de produtos estrangeiros como meio de reduzir a inflação. (Ibid.)

Adicionalmente o Plano Collor bloqueou ativos financeiros, tanto a poupança da

população, assim como o sequestro do capital de giro das empresas, comprometendo a

produção. E com o corte do salário real dos trabalhadores, o drástico enxugamento da liquidez

e o aperto fiscal, que também fazia parte do plano, expandiu-se no Brasil uma recessão

econômica aliada a um processo hiperinflacionário (Ibid.).

Para Bonelli e Veiga (2004), em meio a essa conjuntura de crise econômica e política

observa-se o quase que total abandono das políticas de ciência e tecnologia, as quais têm no

governo Collor seu ponto mais baixo. Mas, especialmente a partir de 1995, voltam a ser

retomadas, especialmente nos setores automobilístico, têxtil, calçadista e aeronáutico

(EMBRAER), eletrônica e informática.

No início da década de 1990, o Ministério da Ciência e Tecnologia tomou algumas

iniciativas a fim de incentivar as capacidades tecnológicas do paradigma das TICs. Entre elas

estão: i) o Projeto Rede Nacional, que visava a implementação de pontos de internet com fins

educacionais e de pesquisa em todo o país; ii) o Projeto Temático Multi-institucional em

Ciência da Computação, a fim de estruturar e apoiar pesquisas que envolvessem entidades

acadêmicas e setor privado; iii) o Programa Nacional de Software para a Exportação,

objetivando estruturar e coordenar a exportação de softwares produzidos no Brasil; iv)

112

Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho, estabelecer centros de prestação de

serviços de informática. ―Essas iniciativas, entretanto, não tiveram a flexibilidade e a

estabilidade necessárias para promover a mudança, sobretudo em tempos de troca de PTE30

(VILLASCHI, 2005, p. 15).

E em meio à crise econômica que se agravava em função de políticas equivocadas, o

governo de Collor perdia cada vez mais prestígio e era desaprovado pela população e por

antigos aliados. Tanto que em maio de 1992 vieram à tona graves denúncias de corrupção no

governo, que levaram ao impeachment do então presidente da República, em 29 de setembro

de 1992 (SOUZA, 2008).

Em 3 de outubro de 1992 assumiu a Presidência da República Itamar Franco, cuja

medida de início de governo foi a queda significativa da taxa de juros, o que, dada a

capacidade ociosa do período anterior, permitiu o aumento expressivo da produção interna. E

parecia denunciar uma tentativa de reverter o foco da política econômica, do lado monetário

para o lado real da economia, mas que não se alongou mais do que alguns meses (Ibid.).

Em 1993 se inicia o planejamento e implementação do Plano Real, e o foco da política

econômica retorna para o controle inflacionário. Aperto fiscal, privatizações, abertura

comercial, elevações das taxas de juros, aliado a um câmbio sobrevalorizado artificialmente

através de uma política de bandas cambiais, permeavam a conjuntura econômica brasileira

entre 1993 e 1999 (Ibid.).

Para Villaschi (2005), até a década de 1990 o Brasil vinha se inserindo bem no

paradigma técnico-econômico que surgia, o das TICs, haja vista que os setores da informática

e das telecomunicações exibiam relativo sucesso e através da redemocratização se esperava

uma inserção positiva do Brasil no novo paradigma. Mas isso efetivamente não aconteceu, em

função do pífio desempenho do investimento em ciência e tecnologia, bem como do processo

de liberalização econômica que não trouxe consigo o investimento externo produtivo

suficiente nas áreas em que se fazia necessário. ―Ademais, no domínio institucional, uma forte

crença nas forças do mercado por parte das autoridades governamentais levou o país à adoção

de ―não políticas‖ industriais e tecnológicas na década como sua política de desenvolvimento

econômico.‖ (VILLASCHI, 2005, p. 4).

30 Paradigma Técnico-Econômico.

113

No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) a economia nacional abriu-

se ao mercado como ainda não havia feito. Quebrou-se o domínio público sobre o petróleo,

telecomunicações e energia, houve abertura do capital estrangeiro à navegação de cabotagem

e na exploração do subsolo e concedeu-se à empresa estrangeira o mesmo status da empresa

nacional (SOUZA, 2008).

Nessa época foram privatizadas importantes empresas nacionais (CSN, CVRD,

Telebrás, entre outras), marcando uma nova fase da economia, notadamente antagônica ao

desenvolvimentismo getulista, de JK e de Geisel que deu origem e acrescentou musculatura

ao processo de industrialização brasileira.

Nas discussões sobre o processo de privatizações, principalmente no início da década

de 1990, surgiu a ideia de criação dos fundos setoriais de desenvolvimento tecnológico, em

que boa parte dos recursos oriundos da privatização das empresas públicas seria utilizada em

fundos para o financiamento de atividades de C&T nos respectivos setores em que houvesse

privatizações. Algo que não se efetivou, haja vista o elevado déficit público que fez com que

se deslocasse recursos desta função para o equilíbrio fiscal das contas públicas. (PACHECO,

2007).

Entre as tentativas Cavalcante (2009) destaca a Lei nº 8.661 de 1993 que estabeleceu

as condições para a concessão de incentivos fiscais à capacitação tecnológica da indústria e da

agropecuária. E nessa mesma época as agências de fomento à pesquisa e à formação de

recursos humanos passaram a se dedicar mais em projetos que envolvessem conjuntamente

instituições de ensino, centros de pesquisa e setor produtivo. Mas havia um aparato

burocrático tão complexo que impedia os programas de avançarem, bem como as restrições

orçamentárias.

Além disso, no Brasil da década de 1990 observou-se um regime macroeconômico

maligno31

ao desenvolvimento científico e tecnológico, por combinar altas taxas de juros com

moeda sobrevalorizada, fragilizando indústria brasileira (COUTINHO, 2003).

31

Conforme Coutinho (2003) regimes macroeconômicos que combinam altas taxas de juros com taxas de

câmbio sobrevalorizadas são considerados malignos. Isso porque prejudicam tanto a produção interna, pelo

encarecimento do crédito, como da competitividade internacional, desestimulando exportações e estimulando as

importações de similares estrangeiros. Por outro lado regimes macroeconômicos benignos seriam aqueles que

combinavam baixas taxas de juros com moeda desvalorizada, comum entre países com forte posição competitiva

internacional, caso do Japão em boa parte da década de 1980.

114

Mas tal fator desfavorável à indústria nacional foi suavizado no final da década de

1990, quando se modificou a política econômica. Esta que era pautada em um regime de

bandas cambiais que mantinha a moeda sobrevalorizada passou para um regime de câmbio

flutuante e metas inflacionárias. Assim, a moeda passou a se desvalorizar conforme ―o jogo

de mercado‖, mas com intervenções do governo no mercado financeiro sempre que

entendesse necessário, especialmente por meio da fixação da taxa básica de juros, que se

elevou significativamente no período (SOUZA, 2008).

Tal mudança na condução da política econômica foi fundamental para a retomada do

crescimento industrial interno. Mas não foi suficiente para que a economia brasileira fosse

menos dependente dos fluxos de capital estrangeiro (COUTINHO, 2003).

As taxas de juros foram elevadas para atrair os capitais estrangeiros e para frear a

demanda e assim conter a inflação, o que acabou penalizando profundamente as empresas

brasileiras. Aliás, no sistema de metas de inflação é a taxa de juros básica, estabelecida nas

reuniões pelo Comitê de Política Monetária, o elo principal da política monetária, que sustenta

o índice de preços na meta estabelecida (SOUZA, 2008).

Então é somente a partir dos anos 2000, quando as políticas monetárias surtem maior

efeito em relação à estabilização da moeda, que o incentivo ao setor produtivo pode ser

retomado. Mas as altas taxas de juros ainda penalizavam o investimento produtivo e em

pesquisa e desenvolvimento.

Para Bonelli e Veiga (2004), na década de 1990 se observa uma mudança importante

na condução da política industrial, assim como da política comercial. Ambas eram, até o final

da década de 1980, eminentemente setoriais e a partir nos anos 1990 focaram no aumento da

competitividade e das exportações. As políticas industriais passaram a ser mais transversais

reorientando a metodologia de liberação de incentivos e subsídios orçamentários. Estes

anteriormente eram destinados a indústrias específicas e passaram a ter caráter mais

generalizado, principalmente por meio de desoneração de tributos indiretos, contribuições

sobre o comércio exterior e incentivo às exportações. Essa transversalização é boa para o

equilíbrio geral neoclássico, mas reflete dissociação entre a política de comércio exterior e

uma política de desenvolvimento econômico como o preconizado pela abordagem de s.n.i.

que busca priorizar segmentos/setores para os quais almeja construir vantagens comparativas

115

dinâmicas baseada em inovações e desenvolvimento tecnológico, como foi feito, por exemplo

pela Coreia (ver capítulo anterior).

Mas foi somente no final da década de 1990 que as políticas econômicas colocaram

maior atenção para a ciência, tecnologia e inovação, com a criação dos fundos setoriais, em

que ―a generalização dos Fundos Setoriais se inspirava na criação do CT-Petro, o Fundo

Setorial criado em 1997, após a aprovação da Lei do Petróleo, e que iniciou sua operação em

1999. Entre 2000 e 2001 foram criados outros 12 Fundos Setoriais‖ (PACHECO, 2007, p.

191-2).

O CT-Petro – Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor do Petróleo e do Gás

Natural, criado pela Lei nº 9478 de 6 de agosto de 1997, estabeleceu que parte dos royalties

da produção de petróleo e gás teriam de ser destinados ao MCT. Este, que, deveria aplicar tais

recursos em universidades/centros de pesquisas e setor privado, para: formação e qualificação

de recursos humanos, fomento à pesquisa e indução da inovação na indústria do petróleo e do

gás. E incentivar a complementaridade de ações entre agências, órgãos públicos e setor

privado, pelo menos 40% de tais recursos deveriam ser aplicados no Norte e Nordeste (Ibid.).

Então é a partir dos anos 2000 que a conjuntura e a estrutura econômica e política do

país deixaram de ser tão hostis ao estabelecimento de um sistema nacional de inovação

brasileiro. Para tanto, neste capítulo se demonstrou um pouco do histórico da política de

ciência e tecnologia no Brasil, desde a década de 1930 até o final da década de 1990. No

próximo capítulo se dá continuidade a tal resgate, que deixa de ter cunho histórico para ser

uma análise do que efetivamente vem sendo realizado em matéria de incentivo à ciência e

tecnologia no Brasil nos últimos dez anos.

116

4 O ATUAL SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO BRASILEIRO

Nos anos 2000 a ciência e tecnologia no Brasil já contam com a estrutura

organizacional suficientemente capaz de efetivar políticas na área de ciência e tecnologia, e

estabelecer um sistema nacional de inovação. Então, neste capítulo se explora as políticas

econômicas, e o contexto institucional, e avalia-se se estes estão em sintonia com o

estabelecimento de um efetivo s.n.i.

4.1 – A Experiência Acumulada e a Reconstituição do SNIB

Para Diniz (2003), o Brasil acumulou nas últimas décadas experiência e estrutura

organizacional para o desenvolvimento de políticas científicas e tecnológicas mais coerentes.

Para este autor:

With the establishment of a Ministry for Science and Technology (MCT) in 1985, conditions were created for a boost to scientific and technological

policies, improving the articulation of the several agencies and institutions

and attempting to establish a whole set of global and sectoral policies while

at the same time coordinating the creation of several founds and other

mechanisms of action (DINIZ, 2003, p. 216).

Porém, como se pôde perceber pelo capítulo anterior, as décadas de 1980/90 foram

conturbadas econômica e politicamente. E as políticas econômicas concentraram-se em um

plano totalmente desfavorável ao desenvolvimento de práticas que pudessem enraizar a

capacitação tecnológica.

Mas o panorama econômico começou a se modificar nos anos 2000. Pois, a partir do

final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, os planos econômicos começaram

a considerar ciência, tecnologia e inovação como um componente relevante, e no decorrer dos

dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, tal tema entra nas prioridades de governo.

117

Especialmente a partir de 1999 foram promovidas reformas a fim de incentivar o

desenvolvimento da ciência e tecnologia no país. E com o Plano Plurianual de 2000

estabeleceu-se um conjunto de objetivos para o MCT: expandir a base nacional de ciência e

tecnologia, construir um efetivo Sistema Nacional de Inovação, preparar o país para a

sociedade da informação, capacitar-se em setores estratégicos e inserir a C&T nas estratégias

de desenvolvimento social. Em quatro principais programas: Inovação e Competitividade;

Sociedade da Informação & Internet II; Biotecnologia – Genoma; Meteorologia e Clima.

Totalizaram em 2003 31,8% do total do orçamento do MCT ante 15,5% em 2000

(PACHECO, 2007).

As políticas voltaram-se para reforçar uma estrutura organizacional já existente e

construir uma nova governança sobre elas. Inicia-se também uma política de reforço de

capacidades locais e setoriais para a inserção tecnológica do Brasil no mundo globalizado,

demonstrando que um processo de aprendizagem política instalava-se.

Mas é importante perceber que a visão ressaltada pelos autores acima citados

diferencia-se da abordagem ressaltada no primeiro e segundo capítulos. Isso porque eles

centram suas análises em concepções que entendem que o fato de ter organizações (como o

MCT e suas reformas) por si já caracterizaria um sistema. Diferentemente da abordagem de

s.n.i. que está centrada em processos interativos voltados para a inovação (que gera

competitividade empresarial e capacitação social) e a aprendizagem, o que se dá através de

instituições que buscam facilitar fluxos interativos e superar .

Apesar desta diferença de concepções buscou-se tanto das contribuições de Pacheco

(2007) como Diniz (2003), pois estas estão em coerência com a condução política da ciência e

tecnologia do início dos anos 2000. Uma percepção que enfatiza mais a introdução de um

aparato organizacional e menos preocupação com instituições que facilitassem a interação

entre agentes a fim de promover processos de aprendizagem e enraizamento de capacidades.

No que diz respeito à condução da política econômica, Souza (2008) destaca que com

a mudança de governo em 2003, governo Lula, há algumas modificações estruturais, entre

elas: i) suspensão do processo de privatizações; ii) o BNDES deixou de financiar empresas

estrangeiras que antes tinham crédito para adquirir empresas estatais; iii) o Ministério das

Minas e Energia recuperou parte do poder de comando sobre o setor energético, antes

concentrado nas agências reguladoras; iv) a Petrobrás passou a comprar navios e plataformas

118

construídos no país, que antes eram importados, a fim de estimular este segmento da indústria

nacional.

Mudanças estas que devem ter contribuído para aperfeiçoar as capacidades internas,

pois se passou a integrar as empresas estatais, que deixaram de ser privatizadas, ao processo

de criação de tecnologias, e linhas de créditos, BNDES, passaram a focar empresas nacionais.

Porém, no plano da política monetária, continuou-se com as metas de inflação, com

juros elevados, que apenas no final da década alcançaram patamar menor. Política tal que

vem de desencontro ao incentivo do desenvolvimento científico nas firmas locais. O que

acaba se modificando, ainda no primeiro mandato de Lula, 2003-2006.

No segundo mandado do Presidente Lula ainda foi lançado o PAC (Plano de

Aceleração do Crescimento), pautado em: i) investimentos em infraestrutura; ii) estímulo ao

crédito e financiamento; iii) desonerações e aperfeiçoamento do sistema tributário; iv)

medidas fiscais de longo prazo. O qual conta com fontes de recursos e coordenação públicas

(União, empresas estatais, BNDES, Caixa Econômica Federal), é coordenado pelo Ministério

da Casa Civil e auxiliado pelo Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento (SOUZA,

2008).

Há de se ressaltar que o PAC retomava a prática do planejamento nacional e incentivo

à indústria, mas que acabou negligenciando a importância da capacitação tecnológica e

inovativa. O PAC assim como os planos anteriores não levou em consideração a

aprendizagem, a interação e o enraizamento de capacidades a fim de promover um efetivo

sistema nacional de inovação.

Então é a partir do PAC e outros planos que tratam especificamente do enraizamento

da cultura científica e tecnológica que parte-se para a construção de políticas que parecem

mais coerentes com a visão sistêmica, tal qual abordada no capítulo 1 desta dissertação.

4.2 – O Marco Regulatório

A legislação orienta a ação dos agentes de determinada nação em suas ações. Assim,

constitui-se em um traço institucional importante, pois transmite os objetivos da sociedade.

119

Por isso nas duas subseções a seguir se resgata as instruções das duas principais leis

que norteiam as ações em ciência, tecnologia e inovação no Brasil, sendo que o conceito de

inovação nesse caso se baseia na definição fornecida pela Lei do Bem:

Considera-se inovação tecnológica a concepção de novo produto ou processo

de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou

características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e

efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado (BRASIL, 2005, Cap. III, art. 17, §1º)32

Para Morais (2008) a Lei nº 10.973 de 02 dez. de 2004, Lei da Inovação, trouxe novo

padrão em termos de apoio governamental a atividades de ciência, tecnologia e inovação.

Entre os avanços alcançados com esta lei o autor destaca:

a) criou as condições legais para a formação de parcerias entre universidades,

instituições privadas de C&T sem fins lucrativos e empresas; b) concedeu

flexibilidade às instituições de ciência e tecnologia (ICT) públicas para

participar de processos de inovação, ao permitir-lhes a transferência de

tecnologias e o licenciamento de invenções para a produção de produtos e

serviços, pelo setor empresarial, sem a necessidade de licitação pública; c)

estabeleceu condições de trabalho mais flexíveis para os pesquisadores de ICT públicas, que, a partir de então, podem afastar-se do trabalho para

colaborar com outras ICT, ou mesmo para desenvolver atividade empresarial

inovadora própria; e d) criou modalidade de apoio financeiro por meio de

subvenção econômica direta para as empresas, com vistas ao

desenvolvimento de produtos ou de processos inovadores, entre outros

mecanismos para a modernização tecnológica dos agentes públicos e

privados (MORAIS, 2008, p. 71-2).

A Lei da Inovação, então, estabelece os critérios para interação de institutos de

pesquisa/universidades públicas com institutos/empresas privadas, a fim de promover o

desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica e as orientações para pesquisadores

públicos que desejarem se afastar, para colaborar em outro instituto de ciência e tecnologia, e

afastamentos (licença sem remuneração) para constituir empresa com fins inovativos.

Além disso, institui a obrigatoriedade dos ICTs disporem de um núcleo de inovação

tecnológico, próprio ou em associação com outras ICTs. E dispõe sobre a divisão de direitos

32 Cabe ressaltar que essa visão de inovação ainda está longe do que vem sendo adotado na OCDE, bem

como o conceito de inovação para a abordagem de Aalborg. Por exemplo, a OCDE, em OECD (1999a,

pg. 9-10, tradução própria), considera a inovação: ―como o elemento chave para o crescimento em longo

prazo, a base para a competitividade nos mercados mundiais e parte da resposta a muitos dos desafios sociais‖. Em uma concepção que derivou, em partes, da abordagem de sistemas nacionais de Aalborg que

considera ―inovações como fundamentais e fenômenos inerentes às atuais economias capitalistas e

industriais‖, vistas em uma perspectiva sistemas e interativa. Lundvall (1992 pg. 8, tradução própria).

120

de propriedade intelectual de bens inovadores oriundos da associação entre entidades públicas

e privadas (BRASIL, 2004).

É a partir da Lei da Inovação que se prevê juridicamente a possibilidade da União, dos

ICT e das agências estatais de fomento incentivarem produtos e processos inovativos em

empresas nacionais e nas entidades de direito privado sem fins lucrativos voltadas para

pesquisa, o qual se realiza pela concessão de recursos financeiros, humanos, materiais ou de

infraestrutura, para atender às prioridades da política industrial e tecnológica nacional

(BRASIL, 2004, art. 19).

A partir da Lei da Inovação se abre caminho para a implantação de políticas de âmbito

mais sistêmico, e dá as orientações gerais para a execução de políticas de ciência, tecnologia e

inovação que contemplem maior interação entre os diferentes agentes envolvidos. Prazos,

valores, percentuais de recursos destinados são, todavia, expressos pelos planos de política

industrial e de ciência e tecnologia e pelos seus executores na figura principal do Fundo

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a Finep.

Mas com a Lei da Inovação o marco regulatório não estava completo, faltavam

disposições sobre algum tratamento prioritário às empresas que praticam atividades que

incitem fenômenos inovativos. Lacuna preenchida pela Lei do Bem (Lei nº 11.196 de 21 de

novembro de 2005), através da qual os incentivos fiscais para a prática de P&D em empresas

privadas são regulamentados.

O Capítulo III desta Lei trata dos incentivos à inovação tecnológica, e em seu artigo 17

destaca os incentivos fiscais que a pessoa jurídica poderá usufruir (BRASIL, 2005, Art. 17):

I. dedução do valor correspondente à soma dos dispêndios, no período apurado, com

pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica do Imposto de

Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ), em relação ao lucro líquido;

II. redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de equipamentos,

máquinas e assemelhados, destinados à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico;

III. depreciação integral, no próprio ano de aquisição, de máquinas e equipamentos novos

destinados à atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação

tecnológica, para efeito de apuração do IRPJ e da CSLL;

121

IV. amortização acelerada, mediante dedução como custo ou despesa operacional, dos

dispêndios de aquisição de bens intangíveis, vinculados exclusivamente à pesquisa

tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica, para apuração do IRPJ;

V. redução a zero da alíquota do imposto de renda retido na fonte nas remessas para o

exterior destinadas ao registro e manutenção de marcas, patentes e cultivares.

Conforme Sennes (2008) a Lei do Bem vêm para reforçar a Lei da Inovação. E com

disposição legal sobre a utilização automática de benefícios fiscais para empresas que

investem em P&D, sem necessidade de pedido formal, o que agiliza e amplia o estímulo aos

investimentos em atividades inovadoras. Em que:

O regime especial de tributação e incentivos fiscais às empresas estabelecido pela Lei prevê entre outros: dedução do imposto de renda e da contribuição

sobre lucro líquido de dispêndios com P&D (60%–100%), redução do

imposto sobre produtos industriais na compra de máquina e equipamentos

para P&D (50%), subvenção econômica através de bolsas para pesquisadores

nas empresas e isenção da Contribuição de Intervenção de Domínio

Econômico (CIDE) para pagamento de depósito de patentes (SENNES, 2008,

p. 17).

Existem outras formas legislativas que abordam o incentivo às atividades de ciência e

tecnologia no Brasil. Porém, nesta dissertação optou-se por abordar especificamente a Lei da

Inovação e a Lei do Bem, porque estas são as principais, sobre as quais as demais se baseiam.

O que se percebe é que esse marco regulatório, de meados dos anos 2000, inaugura

uma nova fase da política científica e tecnológica brasileira propriamente dita. Representa

uma mudança organizacional importante para o futuro enraizamento de uma cultura mais

voltada para atividades que contemplem processos inovadores. Mas esse é um processo de

longo, e para tanto também é preciso ver a efetividade de tais programas e planos.

4.3 – A Mensuração da Inovação no Brasil: a Pintec

Dentro desse panorama de mudança, para uma visão que destaca a ciência, tecnologia

e inovação como uma das bases do desenvolvimento da nação, institucionaliza-se a Pesquisa

de Inovação Tecnológica (Pintec). Esta, para o Brasil, atualmente, representa o instrumento

de mensuração das atividades inovadoras, a qual é realizada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatísticas (IBGE) com o apoio da FINEP.

A Pintec constitui-se em um esforço de elaboração de um banco de dados sobre a

inovação tecnológica no nível das firmas brasileiras. ―O foco da pesquisa é sobre os fatores

122

que influenciam o comportamento inovador das empresas, sobre as estratégias adotadas, os

esforços empreendidos, os incentivos, os obstáculos e os resultados da inovação.‖ (PINTEC,

2012)

A Pintec segue as normas internacionais de mensuração da inovação,

definidas no Manual de Oslo, antes mencionado, e constitui uma inovação

radical em termos de mensuração da inovação no Brasil. As informações

solicitadas referem-se às características da empresa; às inovações de produto e processo implementadas, incompletas ou abandonadas; às atividades

inovadoras desenvolvidas, aos gastos com essas atividades e ao

financiamento desses gastos; ao caráter das atividades internas de P&D e

número, qualificação e dedicação das pessoas envolvidas; aos impactos da

inovação no valor das vendas e exportações; às fontes de informação

utilizadas; aos arranjos cooperativos estabelecidos com outra organização; ao

apoio do governo; às patentes e outros métodos de proteção; aos problemas

encontrados; e às mudanças organizacionais empreendidas no período da

pesquisa (ERBER, 2010, p. 19).

A elaboração do questionário da Pintec se baseia então no Manual Oslo, que foi

explorado no capítulo 2, e sua constituição metodológica tem como referência as várias

edições do CIS (Community Innovation Survey), também citado naquele capítulo. Percebe-se

que a preocupação em avaliar a inovação, principalmente de maneira qualitativa, no país vai

tomando papel cada vez mais importante, seguindo de certo modo as orientações da OCDE.

A Pintec constitui-se, a partir de sua primeira edição em 2000, na principal fonte de

dados sobre inovação no Brasil, permitindo a comparação internacional principalmente com

países-membros da OCDE participantes dos CIS. A sua periodicidade é bianual, e encontra-se

assim subdividida: 1) a Pintec de 2000 apresenta dados sobre o triênio 1998-2000; 2) a Pintec

2003, traz dados de 2001 a 2003; 3) a Pintec 2005 explora o período de 2003-2005; 4) e a

Pintec 2008 apresenta os dados de 2006 a 2008 (IBGE, 2010).

Sendo que a metodologia da Pintec se baseia em entrevistas telefônicas de aplicação

de questionário. À exceção feita às empresas com mais de 500 funcionários que possuam sede

nos estados de Amazonas, Pará, Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Minas

Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal, onde

as entrevistas são realizadas presencialmente pelo técnico do IBGE que vai visitar a empresa

(IBGE, 2012).

O questionário da Pintec 2008 apresentou-se distribuído em 14 capítulos, sendo um

inicial para identificação da empresa e outros 13 capítulos que indagam sobre atividades

inovadoras no âmbito da empresa pesquisada, sendo eles: características da empresa;

existência de produtos e processos novos ou substancialmente aperfeiçoados (inovações de

123

produto, inovações de processo, e sobre a existência de projetos abandonados ou

incompletos); atividades inovadoras; fontes de financiamento das atividades inovadoras;

atividades internas de P&D; impactos das inovações; fontes de informação; cooperação para a

inovação; apoio do governo; patentes e métodos de proteção; problemas e obstáculos à

inovação; existência de inovações organizacionais e de marketing; e sobre o uso da

biotecnologia e da nanotecnologia (IBGE, 2009).

Mas apesar de ter se tornado referência a Pesquisa de Inovação Tecnológica também

apresenta limitações. E talvez a principal é o fato de que empresas menores, com menos de

500 funcionários, têm seus questionários aplicados via telefônica. O próprio Manual Oslo

orienta que a aplicação de questionários se realize pessoalmente por pessoal qualificado, tal

como estudantes de graduação e pós-graduação. E isso, sobretudo, como ressalva para países

menos desenvolvidos, nos quais informações quantitativas são menos importantes do que as

qualitativas. É com o contato do pesquisador com os diferentes setores da firma, através da

sua percepção pessoal, que se pode angariar uma gama maior de informações sobre sucesso

ou precariedade de atividades inovadoras no âmbito das firmas.

Além disso, um dos importantes resultados do CIS2, realizado na área da OCDE e

referência para a Pintec, foi que firmas maiores têm maior tendência à colaboração em

processos inovativos, mas que no resultado final tais práticas podem render melhores

resultados em firmas menores. A aplicação dos questionários da Pintec pode não estar

captando com profundidade a existência de colaboração em processos inovativos, já que os

mesmos não são aplicados pessoalmente.

Outra crítica em relação à pesquisa é que:

A Pintec apresenta estimativas das empresas de quanto gastaram em inovação para um ano apenas e informações qualitativas sobre o processo de inovação

para o triênio de referência. Infelizmente, não há informações sobre a

antecedência com que são tomadas as decisões referentes a esses gastos, o

que dificulta qualquer avaliação sobre o efeito do contexto macro sobre os

gastos em inovação (ERBER, 2010, p. 44).

Destaca-se que inovações de produto e processo podem ser criadas pela firma ou

adquiridas no mercado. ―As inovações de produto e processo são diferenciadas de acordo com

o grau de novidade: inovação para a empresa, mas já existente no mercado/setor; inovação

para a empresa e para o mercado/setor; inovação para o mundo.‖ (IBGE, 2009, p. 11).

124

Ou seja, a compra de máquinas e equipamentos novos, que introduzam novos

processos e/ou possibilite a firma produzir bens ainda não desenvolvidos pela mesma, é

considerada como inovação. Mesmo que tais máquinas e equipamentos já estejam há muito

tempo disponíveis no mercado, e/ou que os produtos oriundos da introdução dos mesmos já

estejam sendo ofertados por empresas concorrentes, ainda assim tal aquisição é considerada

inovação, uma inovação para a empresa. É claro que novos equipamentos que induzem a

novos processos são uma evolução para as firmas, mas é necessário que se pondere para que

isso não leve a uma superestimação da inovação.

Além disso, a pesquisa possui uma defasagem temporal, de dois anos. Por exemplo, os

dados qualitativos das firmas na Pintec 2008 se referem ao período de 2006-2008, mas seus

resultados foram divulgados e publicados apenas em 2010. Essa defasagem provavelmente

compromete a implementação de políticas públicas mais eficientes, e mesmo a tomada de

decisões empresariais, pois a implementação de políticas que amenizem problemas e

obstáculos citados por empresários pode chegar tardiamente.

Mas apesar de a Pintec possuir importantes limitações, dentre as quais algumas foram

citadas e que devem ser ponderadas, representa um importante avanço para o progresso do

sistema nacional de inovação brasileiro. Pois permite aos formuladores de políticas públicas e

pesquisadores terem uma visão mais abrangente da inserção das firmas brasileiras em

processos inovadores. E é por isso que tal base de dados será utilizada adiante para fornecer

ao leitor uma visão quantitativa/qualitativa do sistema nacional de inovação brasileiro33

.

Nesta subseção destacam-se alguns dos resultados da Pintec 2008, entre eles o

percentual do faturamento total que é gasto pelas firmas em atividades inovadoras, que foi de

2,5% para a indústria, 4,2% para as empresas de serviços e 71,1% para as empresas de P&D.

Um resultado, especialmente no caso da indústria, muito baixo.

A Pintec 2008 ainda demonstra que para os anos de 2006 a 2008 as empresas

industriais e de serviços tiveram como principal fonte de informação para a inovação as redes

de informações informatizadas (68,8% e 78,7% respectivamente). Para a indústria seguem-se

clientes (68,2%) e os fornecedores (65,7%) como principais fontes de informação para a

inovação. Já para as empresas de serviços as outras fontes de informações mais importantes

são: outras áreas da empresa (73,5%) e os clientes (69,3%). As empresas de P&D, por sua

33 Não se utilizará de comparativos com o que foi desenvolvido no capítulo 2 desta dissertação, para o

caso da OCDE.

125

vez, usaram, em sua totalidade, os departamentos de P&D (100%), seguido de conferências,

encontros e publicações especializadas (92,3%) e universidades e outros centros de ensino

superior (87,2%).

Nestes resultados pode-se perceber que firmas industriais e de serviços,

diferentemente das de P&D, se utilizam mais da interação usuário-produtor como fonte de

informação para a inovação. São, em sua maioria, clientes e fornecedores as principais fontes

e inovação para tais firmas, pois tais empresas normalmente não têm laboratório e pessoal

próprio de P&D e têm dificuldade de se integrar com universidades e institutos de pesquisa.

Os resultados da pesquisa de 2008 revelam ainda que na indústria e nos serviços os

principais parceiros nas relações de cooperação são os fornecedores (65,3% e 55,2%

respectivamente). Já para as empresas de P&D os principais parceiros são universidades ou

institutos de pesquisa (97,2%), que para indústria é de apenas 29,5% e para o setor de serviços

de 42,9%. Dado este que demonstra a dificuldade que as empresas industriais ainda têm de

abrirem-se a parcerias com universidades e institutos de pesquisa, uma questão institucional

importante que deve ser considerada pelos formuladores de políticas públicas.

Outro dado importante é que das empresas que responderam ao questionário da Pintec

2008, apenas 22,8% das indústrias utilizaram recursos governamentais para incentivo para

inovação, para os serviços esse percentual é ainda menor, 15,3%. A exceção é feita às

empresas de P&D, destas 94,9% utilizaram recursos do governo, principalmente projetos de

inovação em parceria com universidades e institutos de pesquisa (71,8%).

Em relação aos principais obstáculos à inovação, a maioria das empresas citou os

elevados custos da inovação (73,2% das indústrias, 72,1% das empresas de serviços e 73,3%

das empresas de P&D). Em segundo lugar para as indústrias vêm os riscos econômicos

excessivos (65,9%), para os serviços a falta de pessoal qualificado (70,4%), e para as

empresas de P&D a escassez de fontes de financiamento (70%). Entre os fatores para não

inovar a grande maioria das empresas apontou as condições de mercado, 56% das indústrias e

60% dos serviços.

Ou seja, mais que liberar recursos, para as empresas, o grande incentivo seria

diminuição da carga tributária que onera de maneira expressa a firma e o aperfeiçoamento do

marco regulatório.

126

As empresas que inovaram em produto e/ou processo foram também questionadas se

promoveram inovações organizacionais ou de marketing. Para todas as empresas a resposta

mais apontada foi a introdução de novas técnicas de gestão, 47,1% das empresas industriais,

60,9% das empresas de serviços e 79,5% das empresas de P&D. E o segundo tipo de inovação

mais citada, também para todas as empresas, foi a introdução de novos métodos de

organização de trabalho, 45,2%, 54,3% e 71,8%, respectivamente.

As publicações da Pintec trazem os dados separados por edições da pesquisa, nos

relatórios oficiais inexistem gráficos e tabelas que demonstrem comparativos da evolução dos

valores. Por isso, adiante seguem alguns quadros e gráficos, de elaboração própria com base

nos dados oficiais, que permitem uma análise mais ampla da evolução do sistema nacional de

inovação brasileiro.

Destacando-se que estes dados são utilizados como Proxy para a evolução do sistema

brasileiro de inovação, mas esta é apenas uma aproximação já que a abrangência da pesquisa

ainda é muito limitada setorialmente, bem como pelo porte de empresas.

Figura 12 Percentual de Empresas que Inovaram e não Inovaram, segundo as edições da

Pintec. Edição da Pesquisa Empresas que inovaram

Pintec 2000 (% do total) 64,14 35,86

inovações prévias 7,45

condições de mercado 35,69

outros fatores impeditivos 21,00

Empresas que inovaram

Pintec 2003 (% do total) 63,98 36,02

inovações prévias 7,10

condições de mercado 41,84

outros fatores impeditivos 15,04

Empresas que inovaram

Pintec 2005 (% do total) 63,28 36,72

inovações prévias 7,21

condições de mercado 44,10

outros fatores impeditivos 11,97

Empresas que inovaram

Pintec 2008 (% do total) 58,82 41,18

inovações prévias 9,31

condições de mercado 32,82

outros fatores impeditivos 16,69

Empresas que não implementaram inovações e sem projetos

Empresas que não implementaram inovações e sem projetos

Empresas que não implementaram inovações e sem projetos

Empresas que não implementaram inovações e sem projetos

Fonte: Elaboração própria com base em: IBGE, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2000, 2003, 2005 e 2008.

Através da análise dos dados da figura acima que se percebe que no Brasil a maioria as

empresas não implementa inovações. Apesar de ter se observado um crescimento contínuo no

percentual de empresas que inovaram (de 35,86% entre 1998 a 2000, para 41,18% entre 2006

e 2008), este valor ainda é baixo, o que demonstra a dificuldade de expansão da cultura

127

inovadora, fruto da evolução histórica do sistema nacional de inovação brasileiro, explorado

ao longo do capítulo anterior.

Adicionalmente, nas quatro edições da Pintec, as condições de mercado são apontadas

pelas empresas como o maior motivo para as empresas não inovarem, e inovações prévias é o

motivo menos apontado. Ou seja, empresas inovam pouco, e isso se deve em grande razão

pelo fato de que historicamente não receberam incentivos para que tal cultura se enraizasse, e

de outro lado, condições de mercado não favorecem uma mudança nesse sentido. Tal cenário

parece começar a se modificar, pelos dados que se têm disponível da Pintec 2008, que

contempla mais ou menos o período em que a inovação começa a criar mais força entre as

prioridades governamentais. Mas para compreender melhor essa situação seriam necessários

dados mais atuais.

Figura 13 Total de gasto em P&D mensurado pelas edições da Pintec, conforme tipo de

gasto.

5 000 000

10 000 000

15 000 000

20 000 000

25 000 000

30 000 000

35 000 000

40 000 000

45 000 000

50 000 000

55 000 000

2000 2003 2005 2008

Va

lor

(R$

10

00

)

Edição da Pintec

Atividades Internas de P&D Aquisição externa de P&D

Aquisição de outros conhecimentos externos Aquisição de software

Aquisição de máquinas e equipamentos Treinamento

Introdução de Inovações Tecnológicas no mercado Projeto Industrial e outras preparações técnicas

Fonte: Elaboração própria com base em: IBGE, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2000, 2003, 2005 e 2008.

Através dos dados da figura acima se percebe um importante aumento dos gastos de

P&D das empresas brasileiras. Há de se ponderar que o número de empresas entrevistadas

também aumentou ao longo das edições da Pintec. Mas o que se observa é que houve um

aumento de 49,44% no número de empresas entrevistadas, no período, já o aumento nos

dispêndios com P&D das empresas entrevistadas foi de 141,82% entre 2000 e 2008.

Ou seja, os valores investidos em P&D aumentaram consideravelmente de 2000 a

2008, apesar das diferenças amostrais que existem entre as pesquisas, sendo a aquisição de

máquinas e equipamentos o item mais citado, o qual aumentou cerca de 100% no período. O

128

segundo item mais citado entre os gastos de P&D são as atividades internas de P&D, que

tiveram um incremento de mais de 300% entre 2000 e 2008. Percebe-se que ainda a

percepção de investimento em P&D é muito incorporado em máquinas, equipamentos e

insumos e o aumento em atividades internas de P&D deve-se a uma base inicial muito pobre.

Sobre os gastos com atividades de inovação nas firmas, também é importante se

verificar como essa variável se comporta conforme o porte da empresa. Através do quadro

abaixo pode se visualizar a relação entre o total de empresas e destas quantas inovaram, para

diferentes faixas de tamanho (segundo número de funcionários).

Figura 14 Empresas, total e as que implementaram inovações e/ou projetos, segundo

faixas de pessoal ocupado, nas diferentes edições da Pintec.

5 00010 00015 00020 00025 00030 00035 00040 00045 00050 000

10 a 29 30 a 49 50 a 99 100 a 249 250 a 499 mais de 500

Em

pre

sas

Número de funcionários

Pintec 2000

Total de empresas Empresas que inovaram

05000

100001500020000250003000035000400004500050000

10 a 29 30 a 49 50 a 99 100 a 249 250 a 499 mais de 500

Em

pre

sas

Número de funcionários

Pintec 2003

Total de empresas Empresas que inovaram

05000

100001500020000250003000035000400004500050000

10 a 29 30 a 49 50 a 99 100 a 249 250 a 499 mais de 500

Em

pre

sas

Número de funcionários

Pintec 2005

Total de empresas Empresas que inovaram

05000

10000150002000025000300003500040000450005000055000600006500070000

10 a 29 30 a 49 50 a 99 100 a 249 250 a 499 mais de 500

Em

pre

sas

número de funcionários

Pintec 2008

Total de empresas Empresas que inovaram

Fonte: Elaboração própria com base em: IBGE, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2000, 2003, 2005 e 2008.

Percebe-se visualmente que para todas as edições da Pintec a proporção de empresas

que inovam aumenta conforme cresce o porte da empresa. Na pesquisa de 2000 apenas 25%

das empresas na faixa de 10 a 29 funcionários inovaram, em 2003 esse valor foi de 30%,

igualmente em 2005, e em 2008 atingiu 37%. Já para as empresas com mais de 500

funcionários essa relação chegou a mais de 75% em 2000, 72% em 2003, 80% em 2005, e em

2008 caiu novamente para 72%.

Nos últimos anos, especialmente a partir de meados de 2000, alguns programas vêm

sendo implementados, já citados neste capítulo, a fim de incentivar as empresas a inovar. Mas

129

tais programas ainda enfatizam demasiadamente benefícios financeiros, quando na realidade

este é apenas um eixo de um s.n.i, e que para ser eficiente precisa de acompanhamento e

continuidade, para que tal cultura se enraíze no âmbito das firmas. Ou seja, uma política de

longo prazo, haja vista a necessidade de uma mudança cultural/institucional, tal como o

exemplo fornecido no segundo capítulo pela Finlândia e Coreia.

Além disso, os dados acima demonstram que as políticas de inovação precisam ter um

foco específico para as pequenas e médias empresas. Os resultados da OCDE já anteciparam

que políticas de incentivo à interação e a processos inovativos tendem a surtir efeitos mais

eficientes se forem voltados para empresas menores, e os dados acima corroboram isso.

É por isso que há a necessidade do Estado agir, fornecendo não apenas recursos

financeiros, mas também pessoal qualificado, assessoria, e divulgando suas fontes de

financiamento e subvenção que por vezes são desconhecidas do empresariado. Através dos

dados colocados acima, se percebe que empresas menores ainda inovam pouco, apenas cerca

de 1/3 das empresas que têm entre 10 e 29 funcionários inova. Para a construção de um

efetivo sistema nacional de inovação essa relação precisa aumentar.

4.4 – Os Principais Planos

Nesta seção explora-se os principais planos e alguns resultados, implementados nos

anos 2000, com destaque para a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

(PITCE), o Plano de Ação em Ciência Tecnologia e Inovação (PACTI) e a Estratégia

Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação (ENCTI).

4.4.1 – PITCE

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) é a política

industrial oficial do governo federal, que vigorou entre 2004 e 2008 e que teve como função

romper com duas décadas de não-política industrial e de desenvolvimento tecnológico, e

como desafio promover uma mudança institucional em favor de uma cultura inovadora.

A PITCE esteve diretamente ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior (MDIC), e congregou objetivos sobre a estruturação de um sistema

nacional de inovação brasileiro. Porém, nesta época ainda não existia um plano específico do

Ministério da Ciência e Tecnologia, que conversasse com as demais esferas governamentais,

algo que aconteceu apenas em 2007 com o Plano de Ação em C,T&I.

130

O Plano de Diretrizes da PITCE (BRASIL, 2003) expõe que a mesma esteve

alicerçada, em um tratamento diferenciado para setores e regiões conforme a sua estrutura

econômico/institucional. Tais diretrizes foram lançadas em 26 de novembro de 2003, e a

política traçada ao longo do ano seguinte. E para sua execução foi criada no final de 2004 a

Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial (ABDI), ligada ao MDIC34

.

Conforme Alvarez (2006), a estratégia de implantação da ABDI tem a função de

promover uma mudança na inserção internacional da indústria brasileira, a qual se via

ameaçada tanto ―por baixo‖ pela concorrência de produtores que se apoiavam em baixos

salários, quanto ―por cima‖ por produtores que tinham alto potencial de inovação. E a ABDI,

inicialmente através da PITCE, teve a missão de modificar essa estrutura, de modo a tornar a

indústria brasileira mais inovadora.

Mas, conforme Suzigan e Furtado (2006), essa instância criada em 2004 tem grandes

dificuldades de adequação aos seus propósitos, pois a ABDI é uma instituição privada, um

serviço social autônomo, e isso traz grande dificuldade à sua missão de coordenar políticas

públicas, uma vez que foi instituída sem poder convocatório. Tal dificuldade ficou evidente

logo no início de seu funcionamento, pois teve dificuldade de empossar sua diretoria, cujos

membros são representantes do Ministério da Fazenda, do Planejamento e do MCTI.

Tais informações são importantes, pois demonstram que o renascimento da política

industrial, científica e tecnológica brasileira foi relativamente confuso. E apesar de ter

objetivos claros faltava certa experiência na condução da mesma. Mas tal experiência pode vir

a contar a favor do SNIB se concebida como uma aprendizagem institucional.

Então, apesar das dificuldades iniciais, traçou-se a PITCE, que se articulou em três

planos: i) Linhas de Ações Horizontais – inovação e desenvolvimento tecnológico, aumento

da competitividade das empresas, inserção externa, incentivo às exportações de maior valor

agregado, modernização industrial e no ambiente institucional/capacidade e escala produtiva,

dinamização das cadeias produtivas e dos APLs; ii) Opções Estratégicas – semicondutores,

software, bens de capital, fármacos e medicamentos; iii) Atividades Portadoras de Futuro –

biotecnologia, nanotecnologia, biomassa e energias renováveis. Ela é caracterizada de

34

Criada pela Lei nº 11.080 de 30 de Dezembro de 2004, a ABDI tem o objetivo de articular, coordenar e

promover a execução da PITCE, através da interação com diversos órgãos públicos e com a iniciativa privada

(Alvarez, 2006).

131

maneira diferenciada das ações até então desenvolvidas por não apresentar o protecionismo

dos anos 1960/70/80 e sem a fragmentação da década de 1990 (ALVAREZ, 2006; MORAIS,

2008).

Observa-se como ponto positivo da PITCE o fato da mesma eleger áreas estratégicas

que têm caráter transversal, ou seja, que podem vir a beneficiar vários outros setores da

economia. Pois o investimento em bens de capital, semicondutores e software deve beneficiar

vários outros setores, de modo a diminuir a dependência externa e também nas áreas

portadoras de futuro, nas quais países da OCDE vêm investindo pesadamente como se

observou no capítulo 2 desta dissertação.

Depois de traçada a PITCE ainda enfrentou algumas dificuldades de efetivação, por

isso Suzigan e Furtado (2006) ressaltam pontos positivos e negativos da mesma:

Ao lado de alguns pontos fortes, a PITCE tem muitas fraquezas que

dificultam seu funcionamento como política de desenvolvimento. Os pontos

fortes são: as metas, o foco na inovação e, em certa medida, o

reconhecimento da necessidade de uma nova organização institucional para

executar a coordenação da política. As fraquezas resultam de:

incompatibilidade entre a PITCE e a política macroeconômica

(particularmente juros e estrutura tributária), falta de articulação dos instrumentos e destes com as demandas das empresas, precariedade da

infraestrutura, insuficiências do sistema de C,T&I, e fragilidade de comando

e coordenação do processo da Política Industrial (SUZIGAN e FURTADO,

2006, p. 174).

Essa percepção indicada por Suzigan e Furtado (2006), especialmente no que diz

respeito às fraquezas da PITCE, é fundamental para entender a ainda débil institucionalidade

do sistema brasileiro de inovação. De outro lado, em uma perspectiva um pouco diferenciada

Villaschi e Felipe (2008) demonstram a importância da PITCE enquanto política que inaugura

uma nova era para o sistema brasileiro de inovação.

Conforme Villaschi e Felipe (2008) a PITCE representa o amadurecimento da

institucionalidade brasileira sobre a formulação de políticas em s.n.i., pois rompe com a

tradição de ―não política‖ de ciência e tecnologia que predominou no Brasil desde a década de

1980. ―[...] the PITCE indicates a development strategy centered on innovation and that is

profoundly geared by the impacts of technological transformations, which makes it converge

with the neo-schumpeterian principles.‖ (VILLASCHI e FELIPE, 2008, p. 16).

Pela primeira vez em sua história, o Brasil tem linhas estratégicas definidas,

com ações integradas, focadas e com vistas ao futuro, capazes de promover

mudança do patamar da indústria nacional. Pela via da inovação e da diferenciação de produtos e serviços, a PITCE busca inserir o País nos

132

principais mercados do mundo. [...] A PITCE provocou uma reengenharia

institucional, restabelecendo os instrumentos necessários para alavancar o

desenvolvimento da indústria de maneira eficiente e sustentada. O tema

entrou na pauta de discussão dos conselhos estratégicos e administrativos das

entidades ligadas à indústria e conquistou fóruns qualificados de discussão,

como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (ABDI, 2005, p.

3).

Isso porque depois de duas décadas de ausência de implementação de planos de

desenvolvimento científico e tecnológico, a retomada dessa prática se tornou complexa. Há de

se destacar também que tais ações somente passam a ser possíveis através da mudança

institucional, no sentido de alteração do marco regulatório, abordado anteriormente.

É a partir da PICTE que se estrutura o modelo de sistema nacional de inovação vigente

no Brasil atualmente. É com esta política que se inicia o processo de articulação para

participação das diferentes esferas do governo para a implementação de políticas conjuntas

com vistas a ampliar a capacidade competitiva brasileira.

Entre as iniciativas da PITCE estão: redução do imposto de importação para máquinas

e equipamentos sem produção nacional; regime aduaneiro de entreposto industrial sob

controle informatizado (RECOF)35

; Projeto de Extensão Industrial Exportadora (PEIEX)36

;

estruturação de APLs; Programa Brasileiro de Certificação Florestal (CERFLOR), vinculado

ao Inmentro); e a Modernização do Parque Industrial Nacional (MODERMAQ), um

programa do BNDES (ABDI, 2005).

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, à época de implementação da

PITCE, articulava suas ações em dois Macroprogramas Mobilizadores: 1) Indústria Forte; e

2) Inova Brasil. Organizava e viabilizava suas ações, para coordenação da PITCE através da

sua articulação com as demais esferas dos governos, congregando objetivos para a inovação,

desenvolvimento industrial e promoção da inserção do Brasil do comércio internacional.

Nesse sentido, ressalta-se o macroprograma mobilizador Inova Brasil, como

importante iniciativa, desde 2004, quando foi implementado, o qual se trata de um programa

35 ―O programa permite importar todos os insumos com suspensão de II, IPI e PIS/Cofins; compras

nacionais com a suspensão do IPI; admite a transferência de beneficiários ou a co-habilitação de fornecedores;

oferece um ano e suspensão tributária, podendo ser solicitada prorrogação por mais um ano; entre outros.‖

(ABDI, 2004, p. 11). 36 Projeto de capacitação para empresas com potencial de exportação tem o objetivo de incrementar a

competitividade e promover a cultura exportadora nas empresas de micro, pequeno e médio porte, qualificando e

ampliando os mercados das indústrias iniciantes em comércio exterior (APEXBRASIL, 2011).

133

de financiamento para a realização de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação nas

empresas brasileiras, com taxas de juros fixas anuais que variam entre 4% e 5%.

Porém, Villaschi e Felipe (2008) destacam a dificuldade de efetivação da PITCE:

However, the PICTE is facing difficulties in transforming the policy‟s

guidelines into concrete results. The main difficulties are comprised in two pillars. The first refers to the already old problem of lack of coordination

among the governmental institution that define the guidelines and finance the

innovation programs and the private companies that implement and incur in

the risks of the innovation process. The second is the absence of

coordination between the objectives and results of the macroeconomic policy

adopted and the objective of the policies that involve industry, commerce,

technology and the SNIB (VILLASCHI e FELIPE, 2008, p. 17).

Já FIESP (2005) destaca que as prioridades e objetivos da PITCE careceram de maior

objetividade e concretização, além de uma carência de ações que agissem diretamente sobre

os aspectos institucionais que travam o desenvolvimento do SNIB, tal como assimetria de

informações e baixa cooperação e associação entre pequenas e médias empresas.

Suzigan e Furtado (2006) ressaltam as maiores dificuldades da PITCE:

Na verdade, o maior empecilho a uma efetiva implementação da PITCE

como política de desenvolvimento decorre da dificuldade de cumprir o papel

por excelência de uma política desse tipo — a coordenação ex-ante de ações

concertadas de atores públicos e privados. O comando político é difuso:

embora o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

presida o novo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, vinculado

à Presidência da República, sua liderança política fica obscurecida no amplo

organograma de instâncias deliberativas superiores ou de mesmo nível: Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Conselho de Governo,

Câmara de Política Econômica (presidida pelo Ministro da Fazenda), Câmara

de Política de Desenvolvimento Econômico (presidida pelo Ministro-Chefe

da Casa Civil), Conselho Gestor das PPP, Conselho Interministerial de

Arranjos Produtivos Locais. Seu braço executivo — a ABDI — como se viu,

tem poderes limitados, e seu domínio dos mecanismos e instrumentos de

política depende de complexa rede de relações com outros ministérios, alguns

dos quais mais poderosos, e com instituições que têm relativa autonomia

como o BNDES e a Finep. Essa superestrutura deliberativa e a divisão de

poderes dificultam a legitimação da liderança, por mais que ela tente se

impor, retardam o processo decisório da política industrial, e dificultam a

articulação de instrumentos e a coordenação das ações com as demandas das empresas (SUZIGAN e FURTADO, 2006, p. 183).

Ademais, observa-se que desde a criação dos fundos setoriais, que são avaliados mais

adiante, uma parte considerável dos recursos do MCT têm se concentrado na liberação de

recursos via editais da Finep nos fundos setoriais. E uma consequência importante disto é que

recursos ordinários do Ministério que deveriam ser revertidos para pesquisas científicas

acabaram diminuindo consideravelmente ao longo do tempo. Por exemplo, em 2004 os

recursos do MCT sem o valor destinado aos fundos setoriais diminuíram em 13% em relação

134

a 2001. Com isso a comunidade acadêmica acaba disputando com o setor empresarial os

recursos dos fundos, e diminuindo assim a verba destinada às empresas para que estas

invistam em inovações (FIESP, 2005).

Sobre seus resultados, nos relatórios da ABDI e MCT sobre a PITCE destaca-se a

implementação do marco jurídico (Lei da Inovação e Lei do Bem) e o aumento de recursos.

A PITCE teve uma missão importante, de inaugurar uma nova era da política pública

em favor do desenvolvimento tecnológico, e trouxe importantes avanços para tal,

especialmente no que diz respeito ao ambiente institucional/regulatório. Mas ao mesmo

tempo deixou importantes lacunas e deficiências, entre elas uma estrutura ineficiente de

condução da política, que ainda parece bastante ampla e confusa, falta de centralização de

recursos em favor das políticas de C,T&I, e a dificuldade de colocar estas no centro de um

planejamento de longo prazo em favor do desenvolvimento econômico e tecnológico do país.

4.4.2 – A PDP e o PACTI

Na busca pela maior interação entre as diferentes esferas de governo, e na tentativa de

esboçar um plano de ação com metas e objetivos específicos para a consolidação de um

sistema nacional e inovação no Brasil, foi lançado em 2007 o Plano de Ação em Ciência

Tecnologia e Inovação (PACTI).

O PACTI, que vigorou entre 2007 e 2010, teve como prioridades o aprofundamento da

interação entre as esferas de governo para ações de C,T&I. É ligado diretamente ao Ministério

da Ciência e Tecnologia, mas interage com outras esferas do governo, trata-se de um plano de

gestão compartilhada, é uma política integrante do PAC. (MCT, 2010a)

E nesse novo modelo de gestão, a PITCE foi substituída em 2008 pela PDP (Política

de Desenvolvimento Produtivo), a qual pretendia dar continuidade à primeira, entre 2008 e

2010. Foi alicerçada em quatro macro-metas: acelerar o investimento fixo, ampliar a inserção

internacional, aumentar o número de micro e pequenas empresas exportadoras e estimular a

inovação (ABDI, 2011). E principalmente, sobre o estimulo à inovação, integra-se

diretamente com o PACTI para o alcance de seus objetivos, conforme figura 15.

135

Figura 15 PACTI integrado com a Política de Estado

3

Política de EstadoGestão Compartilhada

MCT/MDIC/MEC/MS/

MAPA/MF/MPPolítica Econômica

Plano de Desenvolvimento

da EducaçãoPDE

Plano de Desenvolvimento

da Saúde

Plano de Desenvolvimento da

Agropecuária

Plano de Aceleração do Crescimento

InfraestruturaPAC

PolíticaNacional de

Defesa

Política de Desenvolvimento

ProdutivoPDP

Plano de Ação em Ciência, Tecnologia

e InovaçãoPlano CTI

Plano de Ação 2007-2010

Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional

Foco dos investimentos:

• modernização

• P,D&I

• ampliação da capacidade

Políticas em 2 níveis com

atenção à dimensão regional:

estrutural

sistêmica

FONTE: MCT (2010a, p. 41).

Por este relatório do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação37

pode se perceber

que as políticas de incentivo à inovação passaram a receber, perante a política econômica, um

destaque maior. E que parece estar entre as políticas prioritárias, e que deve se integrar com as

demais, tal como o desenvolvimento industrial, agrícola e da saúde pública.

O PACTI é constituído em quatro prioridades estratégicas, em 21 linhas de ação,

conforme figura 16.

37 Essa mudança ocorreu recentemente, e também vem para corroborar o pensamento de que as políticas

governamentais vêm colocando a inovação em um patamar importante. O MCT (Ministério da Ciência e

Tecnologia), criado em 1985, a partir de 2011 passa a denominar-se Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação (MCTI).

136

Figura 16 Prioridades Estratégicas e Respectivas Principais Linhas de Ação da PACTI. Prioridade Estratégica Principais Linhas de Ação

1. Consolidação Institucional do Sistema Nacional de C,T&I

2. Formação de Recursos Humanos para C,T&I

3. Infra-Estrutura e Fomento da Pesquisa Científica e Tecnológica

4. Apoio à Inovação Tecnológica nas Empresas

5. Tecnologia para Inovação nas Empresas

6. Incentivo à Criação e à Consolidação de Empresas Intensivas em Tecnologia

7. Áreas Portadoras de Futuro: Biotecnologia e Nanotecnologia

8. Tecnologias da Informação e Comunicação

9. Insumos para Saúde

10. Biocombustíveis

11. Energia Elétrica, Hidrogênio e Energia Renováveis

12. Petróleo, Gás e Carvão Mineral

13. Agronegócio

14. Biodiversidade e Recursos Naturais

15. Amazônia e Semi-árido

16. Meteorologia e Mudanças Climáticas

17. Programa Espacial

18. Programa Nuclear

19. Defesa Nacional e Segurança Pública

20. Popularização da C,T&I e Melhoria do Ensino de Ciências

21. Tecnologias para o Desenvolvimento Social

I - Expansão e Consolidação

do Sistema Nacional de

C,T&I

II - Promoção da Inovação

Tecnológica nas Empresas

III - Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação

em Áreas Estratégicas

IV - C,T&I para o

Desenvolvimento Social FONTE: Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional – Plano de Ação 2007-2010, p. 13.

O plano tentou integrar a grande maioria das esferas de governo para a intensificação

tecnológica em áreas estratégicas. E para isso também conta com recursos dessas várias

esferas as quais se relaciona. A maior fonte de recursos ainda advém do MCTI (19%

MCT/PPA, 26% MCT/FNDCT), mas também tem outras fontes que são expressivas, tais

como o BNDES (18%) e o Ministério das Minas e Energia (16%) (MCT, 2010a).

Figura 17 Recursos Previstos para o PACTI para cada Prioridade Estratégica (2007 a

2010).

23%

45%

29%

3%

Prioridade 1

Prioridade 2

Prioridade 3

Prioridade 4

FONTE: Elaboração Própria a partir dos dados existentes no documento MCT, 2007a.

A partir da figura 17 visualiza-se a distribuição de recursos planejada pelo PACTI, em

uma total de quase R$ 50 bilhões nos quatro anos de vigência do plano. Percebe-se que a

137

segunda prioridade estratégica recebe sozinha quase metade dos recursos previstos, e em um

olhar mais minucioso dos dados percebe-se que linha de ação 4 (apoio à inovação tecnológica

nas empresas) recebe a grande maioria dos recursos (34%). Outras ações vistas como

prioritárias são: incentivo à criação e consolidação de empresas intensivas em tecnologia

(16%); formação de recursos humanos para C,T&I (12%); infraestrutura e fomento da

pesquisa científica e tecnológica (9%); petróleo, gás e carvão mineral (8%); programa

espacial (7%); e TICs (4%).

Os recursos do PACTI deveriam assim se distribuir entre as diferentes prioridades

estratégicas: 1) expansão e consolidação do SNCTI, 22,7% dos recursos; 2) promoção da

inovação tecnológica nas empresas, 45,4%; 3) P&D&I em áreas estratégicas, 29,3%; e 4)

C,T&I para o desenvolvimento social, 2,6% do total dos recursos. Ou seja, a promoção da

inovação tecnológica das firmas foi encarada como a prioridade do PACTI, recebendo

sozinha praticamente metade dos recursos destinados pelo plano. E é justamente nesta

prioridade de ação que a PACTI tem sua maior interação com a PDP, cujos pontos centrais de

atuação, conforme MCT (2010b), são a elevação da capacidade de inovação do setor

produtivo e o fortalecimento das micro e pequenas empresas.

Para tanto, um dos principais instrumentos é o SIBRATEC (Sistema Brasileiro de

Tecnologia), que foi instituído em 20 de novembro de 2007 pelo Decreto nº 6.259 e que tem

como missão a criação de um ambiente favorável à inovação tecnológica nas empresas, que é

realizada por meio de centros de inovação, serviços tecnológicos e extensão tecnológica, nos

diversos setores e regiões brasileiras (MCT, 2010c).

Quanto aos programas se destaca o Prime (Primeira empresa Inovadora), que entrou

em operação no início de 2009 e que apoia o processo de criação e desenvolvimento de

empresas inovadoras através de recursos não-reembolsáveis a serem contratados diretamente

por incubadoras credenciadas pela FINEP para as empresas selecionadas para o programa.

O objetivo do Prime é criar condições para o desenvolvimento de empresas intensivas

em tecnologias, consolidando-as em sua fase inicial. ―O Prime, portanto, apoia a empresa

nesta fase crítica de nascimento, possibilitando aos empreendedores dedicar-se integralmente

ao desenvolvimento dos produtos e processos inovadores originais e à construção de uma

estratégia vencedora de inserção no mercado.‖ (MCT, 2010b, p. 65). Em 2010 havia 17

incubadoras com 1.381 empresas contratadas que receberam cada uma R$ 120 mil, e aquelas

138

que atingiram as metas estabelecidas dos planos de negócios puderam se candidatar a

empréstimos do Programa Juro Zero.

Os principais programas de crédito subsidiado, em vigor pelo PACTI, são o Inova

Brasil, que entre 2007 e 2010 apoiou 213 projetos em um montante de R$ 4,2 bilhões e o Juro

Zero, ambos gerenciados pela FINEP, que financia entre R$ 100 mil e R$ 900 mil, em valor

no máximo de 30% da receita operacional bruta das micro e pequenas empresas inovadoras,

em um prazo de amortização de 100 meses, com uma taxa de atualização monetária mensal

igual à variação de IPCA mais 10% a.a. de taxa de spread, o qual não será cobrado para as

empresas que pagarem em dia suas parcelas. Entre 2007 e 2010 o ―Juro Zero‖ atendeu 60

projetos, em um total de R$ 33,1 milhões (MCT, 2009, 2010b).

O Inova Brasil apresenta três linhas de financiamento, contando com recursos do

BNDES, conforme FINEP (2011):

Inovação Tecnológica: apoia projetos de inovação tecnológica que envolvam risco

tecnológico e oportunidades de mercado e que busquem desenvolvimento de novos

produtos e processos, ou produtos e processos significativamente aprimorados – para

o mercado nacional. Essa linha apresenta taxa de juros de 4% a.a., e prazo de

pagamento de até 120 meses com até 36 meses de carência;

Capital Inovador: apoia projetos em capitais tangíveis, incluindo infraestrutura. Tem

taxa de juros de 5% a.a. e prazo de 96 meses com até 24 meses de carência;

Pré-investimento: apoia projetos de pré-investimento e de engenharia consultiva,

intensivos em conhecimento, enquadrados nas políticas governamentais prioritárias,

com taxa de juros de 8% a.a., com 96 para pagamento com 24 meses de carência.

Além disso, o BNDES possui três linhas de apoio à inovação: capital inovador,

inovação tecnológica e inovação produção. E programas de apoio à inovação: Profarma-

inovação; Prosoft-empresa; Proengenharia; Pró-aeronáutica; PROTVD fornecedor. Essas

linhas e programas mais o crédito para aquisição de bens de capital para pequenas e médias

empresas, entre janeiro de 2007 e outubro de 2010, totalizou R$ 6,6 bilhões, além da

disponibilização de R$ 750 milhões para a FINEP, a fim de ampliar o crédito para empresas

(MCT, 2010b).

139

Em relação ao incentivo às empresas inovadoras, existem também recursos da FINEP

em parceria com o SENAI, SESI e SEBRAE, que envolve projetos de capacitação em APLs,

a fim de atender demandas de qualificação de recursos humanos, assessoria e projetos de

inovação de produtos e processos e de tecnologias sociais (MCT, 2010b).

Outro programa importante é o Pró-Inova:

Com o objetivo central de aumentar a capacidade de inovação das empresas

no Brasil, o Pró-Inova busca sensibilizar, conscientizar e mobilizar os

empresários e a sociedade para a importância da inovação como instrumento

de crescimento sustentável e competitividade. O Programa é estruturado em

rede, de forma a envolver as principais entidades públicas e privadas comprometidas com o tema, [...] o programa articulou e acompanhou os

eventos sobre inovação realizados pelos seus parceiros. Entre esses eventos,

destacam-se as operações de serviços de inovação do Cartão BNDES, os

lançamentos da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) e da nova

versão do Portal da Inovação, a execução do Programa Agentes Locais de

Inovação (ALI), do SEBRAE, e a realização dos Programas de Educação

Executiva e Capacitação Empresarial, no âmbito do IEL. Além disso, foram

realizados 16 eventos, para 1.152 pessoas, sobre utilização da Lei do Bem,

gestão de projetos e planejamento para a inovação, no âmbito da ANPEI, e 25

cursos para empresas em parceria com ABDI sobre Projetos de Inovação

Tecnológica, 2 eventos nacionais sobre Inovação, com 720 participantes em

todo o país, e 2 eventos temáticos, com 396 participantes, no âmbito da PROTEC. Enfatiza-se também o apoio a cerca de 300 eventos e cursos

apoiados, pelo Edital de Eventos (MCT, 2010b, p. 72).

Ou seja, empresas inovadoras é uma prioridade importante de governo, mas cujos

efeitos devem ser vistos a longo prazo, já que necessita de uma mudança

cultural/institucional. E que deve ir além do desembolso financeiro, abrangendo também

consultorias e acompanhamento para o enraizamento da cultura inovativa, e a criação de um

aparato jurídico/legal que permita e incentive as firmas a promover inovações. Além disso, é

importante que tais benefícios alcancem mais firmas e também firmas menores, pois, como se

visualizou nos dados da Pintec, maior parte dos recursos ainda é utilizada por firmas de P&D

e as empresas que mais têm inovado são as maiores.

Mas, entre outros elementos, há de se destacar que um dos objetivos básicos do

PACTI é a interação entre as diferentes esferas e ministérios dentre o governo federal, assim

como a complementaridade de ações com outros níveis de governo (estaduais e municipais) e

com o setor privado. E, para tanto, uma importante ação criada foi a instalação do Comitê-

Executivo de Cooperação entre o MCT, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais para

Assuntos de C,T&I (Consecti) e o Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa

(Confap), o que permite ampliar a ação e interação entre o ministério e as instituições a ele

ligadas em todo o território nacional (MCT, 2010b).

140

Além disso, o governo incentivou aos estados a também adotarem leis próprias de

incentivo à inovação. Conforme o relatório do MCT (2010b), em outubro de 2010 quatorze

estados tinham leis estaduais de inovação sancionadas (RS, SC, SP, RJ, MG, ES, GO, MT,

AM, CE, PE, AL, SE e BA), dois possuíam projetos de lei em tramitação (MS, DF), e três

estados elaboravam minutas de lei de inovação, em fase de análise pelos seus respectivos

poderes legislativos (PA, MA e PR).

Já no que diz respeito aos resultados da primeira prioridade estratégica do PACTI,

destaca-se a implementação de programas como: i) Programa Primeiros Projetos, realizado

em parceria com as FAPs, que entre 2007 e 2008 aprovou 604 projetos e R$ 20 milhões para

instalação de infraestrutura e desenvolvimento de projetos de pesquisa científica, tecnológica

e de inovação executados por jovens pesquisadores (doutores recém-formados); ii) Programa

Casadinho, que entre 2006 e 2008 aprovou 185 projetos com montante global de R$ 50

milhões para fortalecer a pesquisa científica em programas de pós-graduação; iii) Edital

Universal, de 2006 a 2010 concedeu R$ 591 milhões em 15.607 projetos de atividade

científica, tecnológica e de inovação; iv) e o PRONEX (Programa de Apoio a Núcleos de

Excelência), executado em parceria com os Estados, que entre 2008 e 2010 destinou R$ 259

milhões (destes R$ 67 milhões de origem do CNPq, R$ 94 milhões dos Estados, e R$ 98

milhões do FNDCT) para apoiar núcleos de pesquisa de reconhecida excelência sediados em

Estados parceiros do programa (MCT, 2010b).

Mas o programa exaltado pelo MCT como o mais importante no que tange ao fomento

da pesquisa, decorrente do PACTI, são os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

(INCTs), os quais foram lançados em 2008 pelo CNPq como uma evolução dos Institutos do

Milênio38

e que têm como ponto forte a organização de grupos de P&D em rede, coordenados

por instituições de excelência em pesquisa e na formação de recursos humanos. Participam

deste programa, como fontes de recursos, o MCTI, as FAPs, o BNDES, a Petrobrás, o

Ministério da Saúde e a CAPES. Houve aumento significativo de recursos e de abrangência,

38

Os Institutos do Milênio foram criados em 2001, com o intuito de ―promover a formação de redes de

pesquisa em todo território nacional e a excelência científica e tecnológica e o fortalecimento de grupos de pesquisa em qualquer área do conhecimento, assim como em áreas definidas como estratégicas.‖ (MCT, 2010b,

p. 45). Na verdade o programa Institutos do Milênio foi uma iniciativa do MCT que foi executada pelo CNPQ,

constituindo-se em uma fonte alternativa de financiamento de projetos científicos e tecnológicos, e visava formar

redes de pesquisa em todo território nacional, em temas de interesse do MCT, a partir de projetos selecionados

pelo MCT. O Programa Institutos do Milênio aconteceu em duas fases, uma chamada em 2001 que aprovou 17

projetos, e outra em 2005 que concedeu recursos a 34 projetos (CNPq, 2012).

141

de 2001 a 2008 haviam 51 Institutos do Milênio com R$ 180 milhões destinados, e a partir de

2009 já são 122 INCT com R$ 607 milhões disponibilizados (MCT, 2010b).

Figura 18 Distribuição de INCT por área temática

FONTE: MCT/CNPQ. In: MCT (2010b, p. 46).

Além disso, durante a vigência do PACTI, foram reestruturados e expandidos os

Institutos de Pesquisa Científica e Tecnológica do MCT, os quais se envolvem em pesquisa

científica e tecnológica de caráter regionalizado e setorial. Em 2004 eram investidos

aproximadamente R$ 7,36 milhões na recuperação e expansão da infraestrutura física destes

institutos, em 2010 esse montante foi de mais de R$ 28,5 milhões, enquanto sua execução

orçamentária passou de R$ 334 milhões para R$ 1.009 milhões na comparação 2004-2010.

Além destes programas citados, de forma sucinta, o PACTI implementou uma série de

outros programas para melhorar o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro,

conforme havia sido traçado. Na figura 19 são citados todos os programas implementados no

período 2007-2010 e as respectivas prioridades estratégicas e linhas de ação do PACTI aos

quais se referem, conforme consta no relatório do PACTI elaborado pelo MCT.

Figura 19 Os programas executados no PACTI para cada uma das linhas de ação (2007

a 2010) Programas Executados em cada Linha de Ação das Prioridades Estratégicas

Prioridade Estratégica

Linha de Ação

Programa

I 1 Consolidação institucional do SNCT&I

Ampliação e consolidação da cooperação internacional

2 Formação , qualificação e fixação de recursos humanos para C,T&I

3 Apoio à infraestrutura das ICTs e dos IPTs

Fomento ao desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação

Programa nova RNP - internet avançada para educação e pesquisa

Unidades de Pesquisa Científica e Tecnológica do MCT

142

II 4 Apoio financeiro à PD&I e à inserção de pesquisadores nas empresas

Apoio à cooperação entre empresas e ICTs

Iniciativa nacional para a inovação

Capacitação de recursos humanos para a inovação

Implementação de Centros de PD&I Empresariais

5 Sistema Brasileiro de Tecnologia - SIBRATEC

6 Apoio às Incubadoras e aos Parques Tecnológicos

Inovar - Fomento à criação e à ampliação da indústria de capital empreendedor no Brasil

Poder de compra para estimular o desenv. tecnológico nas empresas

III 7 Competitividade em biotecnologia

Programa de C,T&I para a nanotecnologia

8 desenv. tecnológico das indústrias de eletrônica e de semicondutores

Programa de estímulo ao setor de software e serviços

Tecnologias digitais de comunicação, mídias e redes

9 Fármacos e Medicamentos

Produtos médicos e biomateriais

Kits diagnósticos

Hemoderivados

Vacinas

10 Programa de desenvolvimento tecnológico para o biodiesel

Programa de C,T&I para o etanol

11 Implemt. de infraestrutura nas inst. de ensino e pesquisa nacionais, em geração, transmissão e distribuição (G,T&D) e uso final de energia elétrica

Expansão, mod. e manutenção da infraestrutura para pesquisa e desenvolvimento tecnológico em G,T&D e uso final da energia elétrica

C,T&I para transmissão de energia elétrica, ênfase em longa distância

C,T&I para otimização dos ativos do sistema elétrico

C,T&I em modelos de planej. e operação do sistema eletro-energético

C,T&I para aumento da qualidade de energia e da eficiência energética

C,T&I para economia do hidrogênio

C,T&I para energias renováveis

12 Ampliação da infraestrutura das inst. de ensino e pesquisa nacionais em petróleo, gás natural, energia e meio ambiente

Expansão, modernização, manutenção e infraestrutura para pesquisa e desenv. tecnológico em petróleo, gás natural e biocombustíveis

Pesquisa e desenvolvimento tecnológico para atividades de refino

Pesquisa e desenvolvimento tecnológico para atividades de exploração

Programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para atividades de produção de petróleo e gás natural

Programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para atividades de transporte de petróleo e gás

natural

Pesquisa e desenvolvimento tecnológico em atividades de gás natural

Programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para atividades de desenvolvimento sustentável para petróleo e gás

143

C,T&I para produção e uso limpo do carvão mineral – ProCarvão

13 Pesquisa, desenvolvimento e inovação em alimentos

Automação agropecuária com foco em empreendimentos de pequeno porte

P,D&I em sistemas inovadores de produção agropecuária

Articulação internacional para avanço da C,T&I voltada para o agronegócio

Recuperação das Org. Estaduais de Pesquisa Agropecuárias (OEPAs)

14 C,T&I aplicadas à biodiversidade e aos recursos naturais

C,T&I para exploração dos recursos do mar

P,D&I em aquicultura e pesca

C,T&I na Antártica

C,T&I para recursos hídricos

Desenvolvimento tecnológico e inovação em recursos mineirais – ProMineral

15 C,T&I integrado para conservação e o desenvolvimento sustentável da região amazônica

C,T&I para o desenvolvimento sustentável do semi-árido

16 Programa nacional de mudanças climáticas

Previsão de tempo e clima

17 Programa CEA - Centro Espacial de Alcântara

Programa VLS - Veículo Lançador de Satélites

Programa PMM - Satélites de observação da Terra baseados na Plataforma Multi-Missão

Programa CBERS - Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres

Programa ACS - Empresa bi-nacional Alcântara Cyclone Space

Capacitação tecnológica e formação de RH para o setor aeroespacial

18 Consolidação do arcabouço legal da área nuclear

Ampliação do ciclo do combustível nuclear na INB

Conclusão da planta piloto de produção de UF6 (conversão) em Aramar

Capacitação e adequação da NUCLEP para a fab. de componentes de novas usinas nucleares

Implem. de uma nova política brasileira de gerenciamento de rejeitos radioativos

Empresa Brasileira de Radiofármacos – EBR

Ações de P,D&I e capacitação voltadas para a retomada do PNB

19 C,T&I para a defesa nacional

C,T&I para a segurança pública

IV 20 Apoio a projetos e eventos de divulgação e de ed. científica, tecnológica e de inovação

Apoio à criação e ao desenv. de centros e museus de ciência e de tecnologia

Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas – OBMEP

Conteúdos digitais multimídia para educação científica e popularização da C,T&I na internet

21 Implementação e modernização de Centros Vocacionais Tecnológicos

Programa Nacional de Inclusão Digital

Apoio à pesquisa, inovação e extensão tecnológica para o desenvolvimento social

Programa comunitário de tecnologia e cidadania

C&T para o desenv. regional com enfoque em desenvolvimento local – APLs

Apoio à pesquisa e ao desenv. aplicados à segurança alimentar e nutricional

Pesquisa e desenvolvimento agropecuário e agroindustrial para inserção social

Capacitação em C,T&I para o desenvolvimento social

Fonte: MCT (2010b).

144

A análise do quadro acima é importante, e mais ainda é a sua relação com a figura 2.8,

do segundo capítulo desta dissertação, na qual são destacadas as prioridades dos países da

OCDE em matéria de política de pesquisa e inovação no ano de 2010. E confrontando tais

prioridades que elas convergem na maioria dos pontos.

Na figura 10 se percebe que a grande maioria dos países da OCDE elegeu como

prioridades: 1) meio ambiente, mudanças climáticas e oceanos; 2) saúde e ciências

relacionadas com a vida (inclusive biotecnologia); 3) recursos naturais e energia; 4) novos

materiais e tecnologias (incluindo a nanotecnologia); 5) TIC; 6) mudanças sociais (incluindo

aposentadorias, transportes, urbanização e habitação); e com menos intensidade segurança

alimentar, e outros que parecem menos relevantes.

Já o quadro 19 nos fornece uma gama muito maior de prioridades, entre elas uma

ênfase maior na consolidação do sistema nacional de inovação brasileiro e da expansão e

enraizamento de uma cultura inovadora. Algo que parece relativamente óbvio, uma vez que

existe um distanciamento muito grande, em termos econômicos e tecnológicos, entre as

principais potências da OCDE e o Brasil. Aqueles países que já possuem s.n.i. consolidados e

o Brasil que vem implementando programas e planejando tal objetivo há menos de 10 anos.

Mas na análise minuciosa das prioridades de C,T&I de ambos se percebe uma

convergência muito grande. O Brasil, a exemplo da OCDE, vem colocando biotecnologia,

nanotecnologia, mudanças climáticas, saúde, entre as suas prioridades, além da agropecuária

que vem ocupando destaque nas pesquisas científicas brasileiras.

Mas apesar de apresentar importantes resultados, os planos de C,T&I brasileiros ainda

apresentam importantes carências.

Viotti (2008) destaca que uma das dificuldades da política de C,T&I brasileira que,

segundo o autor, ainda tem um forte viés acadêmico, é integrá-la à empresa. Percebe-se que

ainda há uma falta de sinergia que dificulta o alcance dos objetivos estabelecidos.

As políticas tradicionais de C&T envolvem basicamente universidades e instituições

de pesquisa públicas, enquanto que no centro das políticas de inovação se encontram as

empresas. Diferentemente de instituições de ensino e pesquisa, que têm por objetivo essencial

a produção de artigos científicos e a formação de recursos humanos, as empresas produzem e

comercializam bens e serviços e têm por objetivo o lucro. Seja pelas diferenças de natureza,

145

seja pela longa tradição da prática institucionalizada, as agências públicas têm facilidade para

lidar, apoiar e estimular instituições de ensino e pesquisa, mas muita dificuldade em fazer

algo similar envolvendo diretamente empresas. Tal dificuldade tem aparecido de maneira

marcante nos esforços para a implementação dos novos instrumentos da política que são

especificamente voltados para a promoção da inovação, como é o caso, por exemplo, da

subvenção econômica e da utilização da encomenda direta de produtos ou processos

inovadores (VIOTTI, 2008, p. 161).

E mesmo com os avanços na matéria legislativa, há carência de políticas públicas que

garantam e incentivem o acesso dos produtos inovadores no mercado. ―O sucesso de muitos

tipos de inovação depende de maneira crucial de medidas ou decisões referentes a compras

públicas, tributos, financiamentos, tarifas, vigilância sanitária, segurança biológica, controle

ambiental etc., que não são temas da alçada da área de C&T.‖ (VIOTTI, 2008, p. 163).

Especificamente sobre o PACTI, uma crítica importante é que recaiu sobre ela uma

expectativa grande para o incremento dos níveis de desenvolvimento científico e tecnológico

brasileiro, mas não se modificou os métodos para que isso ocorresse. O fato é que se

convencionou no Brasil que as políticas de C&T priorizassem a liberação de recursos

financeiros e o PACTI deu continuidade a essa tradição. (GRYNZPAN, 2008).

É por tais motivos que se necessita de uma política de C,T&I que alcance e integre as

várias esferas governamentais. A PACTI é concebida como uma política que segue tal linha,

mas em sua efetividade ainda se percebe ações relativamente segmentadas, apesar de ter

melhorado em relações às suas antecessoras.

4.4.3 –Estratégia Nacional de C,T&I e o Plano Brasil Maior

Assim como PDP e PACTI entrelaçaram-se, convergindo objetivos, especialmente do

Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e do Ministério da Ciência

Tecnologia e Inovação, também os planos que os sucedem o fazem. São eles: o plano Brasil

Maior que é vinculado diretamente ao MDIC, e a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia

e Inovação (ENCTI) vinculado ao MCTI.

Tais planos são avaliados nesta subseção, na qual primeiramente se traz alguns dados,

complementares aos já apresentados, de modo a demonstrar um pouco da atual situação do

146

sistema brasileiro de inovação. O que se torna importante, uma vez que demonstra o

panorama ao qual o Brasil Maior e a ENCTI se deparam e os principais desafios destes.

Um dado importante sobre o s.n.i. brasileiro, e que ainda não foi explorado, diz

respeito ao trabalho gerado em ciência e tecnologia no país, cujos dados podem ser

verificados abaixo através da figura 20.

Figura 20 Pesquisadores e pessoal de apoio envolvidos em pesquisa e desenvolvimento,

em número de pessoas, Brasil, de 2000 a 2010.

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

Governo Ensino superior Empresarial Privado sem fins lucrativos

Fonte: Elaboração Própria com base nos dados do MCTI – Coordenação Geral de Indicadores (CGIN).

Como se pode perceber pelo gráfico acima, a maior parte do pessoal empregado em

P&D no Brasil ainda está concentrado no ensino superior, sendo que nos 10 anos pesquisados

o total de pessoal empregado nesse tipo de atividade aumentou em aproximadamente 100%,

passando dos 230.000 em 2000 para os 460.000 em 2010. E o aumento mais expressivo é

observado justamente no ensino superior, onde esse aumento foi de 180% no período. Já o

setor empresarial diminui o número de funcionários em P&D no período, de 86.185 em 2000

para 66.213 em 2010. E o governo aumentou em 60% o pessoal empregado em P&D.

Complementando tais informações, tem-se, conforme dados do MCTI – CGIN e do

MTE – RAIS, que o percentual de pessoal empregado em atividades de P&D em relação ao

total de empregos no país ficou entre 0,88 (em 2000) e 1,06 (em 2010).

Esses valores são extremamente baixos, especialmente se relacionados com os da

OCDE, explorados no capítulo 2. Há de se lembrar que na estatística oficial daquele grupo de

países se considera o pessoal envolvido com atividades de ciência e tecnologia, envolvendo

todo o pessoal que trabalha na área das engenharias, por exemplo. Já a mensuração feita pelo

147

MCTI contempla apenas o pessoal que trabalha especificamente com pesquisa e

desenvolvimento. Mas mesmo assim, tal valor é muito baixo, não trata de se comparar o

percentual brasileiro de pessoal envolvido em atividades de ciência e tecnologia que fica em

torno de 1% do total de pessoal empregado, com o percentual de pessoal envolvido em

atividades de ciência e tecnologia nos países da OCDE que na média fica em torno dos 30%.

Já a figura 21 demonstra essa distribuição entre dispêndios públicos e empresariais.

Figura 21 Dispêndio nacional em ciência e tecnologia, como percentual do PIB, por setor

institucional, Brasil, entre 2000 e 2010.

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

% d

o P

IB a

plic

ado

em

C&

T

Anos

Dispêndios Públicos Dispêndios Empresariais

Fonte: Elaboração Própria com base nos dados do MCTI – Coordenação Geral de Indicadores (CGIN).

Os dispêndios com ciência tecnologia e inovação, no Brasil, percentualmente em

relação ao PIB não oscilaram muito, no período para o qual se têm dados. E ficaram entre

1,30% em 2000, caindo até 1,24% em 2004, e desde lá continuamente crescente até alcançar

1,66% em 2010, último ano para o qual se tem o dado.

Apesar deste não ser um indicador tão eficiente para se avaliar um sistema nacional de

inovação, conforme o aporte teórico utilizado nesta dissertação, se usa para situar o leitor. Até

porque, pelos planos de C,T&I pode-se perceber que um dos principais meios de estímulo à

inovação é através dos recursos financeiros, o que pelo gráfico acima se percebe não ser tão

expressivo em relação ao PIB brasileiro no período.

O que é interessante observar, na figura 21, é que dispêndios públicos e privados têm

ficado muito próximos, alavancado provavelmente pelas grandes empresas que têm seus

gastos mais expressivos, como os dados da Pintec já demonstraram. Mas tais dados ainda se

apresentam bem aquém daqueles observados na maioria dos países da OCDE, nos quais os

dispêndios empresariais superam em grande medida os dispêndios públicos, em inovação.

148

Então, por mais que os planos demonstrem que a inovação esteja cada vez mais

incrustada na pauta de ação do governo, e no estímulo deste para as empresas, os números

ainda demonstram que isso vem sendo realizado de maneira muito tímida. Para transformar os

planos em realidade é preciso que os números também passem a demonstrar isso, e este

provavelmente é um dos maiores desafios do Brasil Maior e da ENCTI.

O Plano Brasil Maior constitui-se na política industrial, tecnológica, de serviços e de

comércio exterior do Brasil para o período de 2011 a 2014. O mesmo está dividido em duas

dimensões: diretrizes setoriais (dimensão estruturante) e temas transversais (dimensão

sistêmica). A primeira tem preocupação com: fortalecimento de cadeias produtivas; ampliação

e criação de competências tecnológicas e de negócios, incentivando empresas potenciais a

ingressar em mercados dinâmicos e de elevadas oportunidades tecnológicas; desenvolvimento

de cadeias produtivas e de suprimento em diferentes formas de energia; diversificação da

exportação, enraizamento de empresas estrangeiras e estímulo à instalação de centros de P&D

no país; estímulo à economia do conhecimento nos setores intensivos em recursos naturais. Já

a dimensão sistêmica pretende reduzir custos e aumentar a produtividade, consolidar o SNIB

através da maior inserção das políticas de C&T nas empresas (MDIC, 2011).

O Brasil Maior está pautado em um conjunto de metas, conforme figura 22:

Figura 22 Metas do Plano Brasil Maior Metas do Plano Posição Base Meta (2014)

Aumentar o investimento fixo em % ao PIB 18,4% (2010) 22,4%

Elevar o dispêndio empresarial em P&D em % do PIB 0,56% (2010) 0,90%

Aumentar a qualificação de RH: % de trabalhadores da indústria com pelo menos nível médio

53,7% (2010) 65%

Ampliar o valor agregado nacional: aumentar o Valor da

Transformação Industrial/ Valor Bruto da Produção (VTI/VBP)

44,3% (2009) 45,3%

Elevar % da indústria intensiva em conhecimento: VTI da indústria de alta e média- alta tecnologia/ VTI total da indústria

30,1% (2009) 31,5%

Fortalecer as MPMEs: aumentar em 50% o nº de MPMEs

inovadoras

37,1 mil

(2008)

58 mil

Produzir de forma mais limpa: diminuir o consumo de energia por unidade de PIB industrial (consumo de energia em tonelada

equivalente de petróleo- tep por unidade de PIB industrial)

150,7 tep/ R$milhão

(2010)

137 tep/ milhão

Diversificar as exportações brasileiras, ampliando a participação do país no comércio internacional

1,36% (2010) 1,6%

Elevar a participação nacional nos mercados de tecnologias,

bens e serviços para a energia: aumentar a relação VTI/VBP dos

setores ligados à energia

64% (2009) 66%

Ampliar o acesso a bens e serviços para qualidade de vida:

ampliar o nº de domicílios urbanos com acesso à banda larga

13,8 milhões

(2010)

40 milhões

Fonte: MDIC (2011, p. 21-22).

149

Já existem algumas medidas implementadas, conforme MDIC (2012):

1. Redução do IPI sobre bens de capital, materiais de construção, caminhões e veículos

até dezembro de 2012, regulamentada através dos Decretos 7.541, 7.542 e 7.543/2011,

02/02/2011;

2. Redução gradual do prazo de devolução de créditos do PIS-Pasep/Cofins sobre bens

de capital: de 12 meses para apropriação imediata, Lei nº 12.546 de 14/12/2011;

3. Ressarcimento do crédito aos exportadores;

4. Suspensão ex-tarifário máquinas e equipamentos usados, implantado pela CAMEX

55/2011;

5. Encomendas Tecnológicas, permitir cláusulas de risco tecnológico previstas na Lei da

Inovação, regulamentada pelo Decreto 7.539 de 02/08/2011;

6. Permissão de Fundações de Apoio a atenderem a mais de uma ICT, regulamentada

pelo Decreto 7.544 de 02/08/2011;

7. Desoneração da folha de pagamento (confecções, calçados. móveis e software), Lei nº

12.546 de 14/12/2011;

8. Instituição Reintegra: devolução de créditos residuais na cadeia produtiva para

exportações realizada até 31/12/2012, Lei nº 12.546 de 14/12/2011 e regulamentada

pelo Decreto 7.633 de 01/12/2011;

9. Ampliação do Simples Nacional e ampliação do Microempreendedor Individual, Lei

Complementar 139 de 10/11/2011;

10. Ampliação do capital de giro para MPMEs- BNDES PROGEREN (novos setores e

condições de crédito/prazo), implantada pela Resolução BNDES 2.131 de 02/08/2011;

11. BNDES: ampliação dos programas Pro-P&G, Profarma, Prosoft; Pró-Aeronáutica e

Próplástico na renovação;

12. Extensão do PSI até dezembro de 2012, inclusão de novos setores/programas,

implantada pela resolução BNDES 2.165 de 11/10/2011;

150

13. Relançamento do Programa Revitaliza, novas condições de financiamento, implantada

pela resolução BNDES 2.161 de 11/10/2011;

14. Crédito Pré-aprovado para planos de inovação: inclusão de planos plurianuais de

inovação de empresas no BNDES Limite de Crédito Inovação, implantada pela

resolução BNDES 2.143 de 06/09/2011;

15. Criação do Programa BNDES Qualificação: apoio a expansão da capacidade de

instituições privadas de ensino técnico e profissionalizante, implantada pela resolução

BNDES 2.160 de 11/10/2011;

16. Novos recursos para a inovação: aumento de crédito de R$ 2 bilhões do BNDES para

ampliar a carteira FINEP 2011, Autorizada pela Resolução CMN 4.009/2011 e

aprovada pelo Dec. Dir. BNDES 1.172, 22/11/11;

17. Criação de Programa para Fundo Clima (MMA): recursos para projetos que reduzem

emissões de GEE, Autorizada pela Resolução CMN 4.008, (14/09/11) e

regulamentada pela Resolução BNDES 2.180 (01/11/11), Programa lançado em

13/02/12.

Já a ENCTI lançada em 2011 é o atual plano de ação do Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação até o ano de 2015. E que elege como área prioritária a formação de

recursos humanos, através, principalmente, do Programa ―Ciências sem Fronteiras‖, o qual é

realizado em parceria com o Ministério da Educação com o setor privado. O mesmo concede

bolsas de estudos no exterior (deve oferecer mais de 100 mil bolsas ao total), constituindo-se

em uma forma de intercâmbio de estudantes brasileiros nas melhores instituições de ensino

mundiais e trazendo consigo novos conhecimentos importantes para o desenvolvimento

tecnológico brasileiro. Além disso, prevê o aumento de recursos por parte do BNDES para a

inovação, fortalecimento da FINEP (transformando-a em um ―banco nacional de inovação‖ e

reforçando seu orçamento) e do SIBRATEC, e a criação da EMBRAPII (Empresa Brasileira

de Pesquisa e Inovação Industrial) que deve se constituir nos moldes da atuação da

EMBRAPA (MCTI, 2012).

A ENCTI possui quatro eixos de sustentação, que norteiam as políticas e proposições

do plano. São eles: o desenvolvimento sustentável, enfrentamento de desafios, o

fortalecimento da base de sustentação da política de C,T&I e o aperfeiçoamento dos

151

instrumentos da política de C,T&I. E para cada um destes eixos existe um conjunto de linhas

de ação definidas, conforme se observa na figura 23.

Figura 23 Mapa Estratégico da ENCTI 2012-2015

Fonte: MCTI (2012, p. 40).

A principal forma de entrelaçamento do Brasil Maior e da ENCTI é através da meta de

aumentar o dispêndio das empresas em P&D em relação ao PIB, chegando à meta de 0,9% em

2014. Com isso o percentual do PIB aplicado em P&D que em 2010, conforme dados do

MCTI, foi de 1,19% deve chegar a 1,9% em 2014, o percentual aplicado pelas empresas deve

passar de 0,56% para 0,90% e o governamental de 0,63% para 0,90%. Ou seja, o maior

incremento no investimento em P&D deve ser realizado por parte das empresas, para o qual a

EMBRAPII deve desempenhar um papel fundamental.

A Embrapii visa contribuir para uma maior articulação institucional entre os

setores público e privado de modo a complementar a atuação das agências de

fomento existentes e as ações em curso. Seu objetivo principal é a ampliação

da articulação entre universidades, centros de pesquisa e empresas no

desenvolvimento de tecnologias inovadoras, com ênfase na fase final do

desenvolvimento de produtos, em atividades como escalonamento, prova de

conceito e planta demonstração. Embora iniciativa conjunta com o MCTI, a

Embrapii deverá ter forte participação do setor privado, tanto em seu financiamento como em sua gestão, garantindo que ela seja moderna, enxuta,

ágil e compartilhada entre muitos atores, sendo transparente e flexível, como

demandado por ações no campo da inovação. A exemplo da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a nova empresa terá como

característica principal o balizamento de seus programas pelo atendimento as

demandas dos setores associados, desde as empresas tradicionais que inovam

até as pequenas empresas nascentes baseadas em conhecimento intensivo ou

de forte conteúdo tecnológico. Entretanto, diferentemente da Embrapa, a

Embrapii não se constituirá a partir da construção de laboratórios próprios,

mas fará uso intensivo das redes de institutos e centros de pesquisa já

152

existentes, com capilaridade e competência comprovada em projetos com

empresas (MCTI, 2012, p. 101).

Além disso, a ENCTI prevê um aprofundamento da relação entre universidades,

institutos de pesquisa e empresas; mudanças legais para que as compras governamentais

passem a priorizar empresas nacionais inovadoras; fomentar na atuação do SEBRAE o

estímulo para que empresas implementem ações de P&D; estímulo ao ingresso de centros de

P&D das grandes multinacionais para o Brasil e sua associação com empresas locais. E o

estímulo à formação de mestres e doutores com foco na inovação e sua inserção nas empresas

e valorização da inovação e da extensão tecnológica nas avaliações acadêmicas; e estímulo à

proteção da propriedade intelectual e transferência de tecnologia com fortalecimento do INPI.

Além disso, há a preocupação de melhora dos indicadores internacionalmente comparáveis,

tal como o investimento em P&D em relação ao PIB (Idem).

Tais planos demonstram que os governantes brasileiros não têm ficado totalmente

omissos para a questão da ciência, tecnologia e inovação, ao contrário, os planos parecem

estar bem fundamentados. Além disso, ao prestar um pouco mais de atenção nas discussões

em pauta tanto no Congresso Nacional como no âmbito da agenda do governo percebe-se que

este tem sido um tema recorrente. Mas provavelmente isso ainda é pouco para o que o Brasil

consiga alcançar uma posição de maior destaque internacional, e fazer frente a países que

possuem sistemas de inovação de referência.

É importante perceber que os planos contemplam duas políticas que podem ser

decisivas para um futuro sucesso do SNIB e que são consideradas ―carros chefes‖ tanto da

ENCTI quanto do Plano Brasil Maior, o Programa Ciência sem Fronteiras e a EMBRAPII. O

que traz de um lado qualificação para os recursos humanos e estímulos para que pós-

graduados se insiram no mercado para além do Ensino Superior, e passem a integrar também

equipes de trabalho das empresas, assim como já acontece nos países mais desenvolvidos. E

de outro lado, institui uma agência de fomento à ciência e tecnologia e pesquisa e

desenvolvimento especificamente para a indústria, a exemplo do que a EMBRAPA vem

fazendo para a agropecuária e é considerada referência.

As metas, no entanto, são um pouco mais tímidas se comparadas internacionalmente.

Por exemplo, incrementar o percentual do PIB investido em P&D de 1,19% para 1,9% pode

ser considerada uma boa meta, inclusive considerando que o país tem uma tendência de

incremento no produto interno bruto. E mesmo se confrontada com a média da OCDE que

153

entre 2005 e 2008 ficou entre 2 e 2,5%, também parece razoável, até porque uma parcela

importante destes países vêm sofrendo problemas econômicos e isso deve influenciar

negativamente tanto no PIB quanto no investimento em P&D. Mas se tal comparação for

realizada com países que vêm se destacando mundialmente como s.n.i. eficientes e pela sua

inserção em mercados com elevado nível tecnológico, o resultado é bem diferente.

Finlândia e Coreia, ambas destacadas no segundo capítulo desta dissertação, têm seus

percentuais do PIB investidos em P&D entre 3,5 e 4% e 2,75 e 3,25 entre 2005 e 2009,

respectivamente. E considerando-se que tais nações tendem a pelo menos manter ou aumentar

seus investimentos, pois são economias potenciais e que não estão sendo tão severamente

afetadas pela crise econômica europeia/mundial, o Brasil com seu tímido 1,9% ainda estará

muito distante de alcançar desenvolvimento tecnológico e científico semelhante. Pensar em

um sistema nacional de inovação é uma política de longo prazo, mas para atingir resultados

relevantes em nível mundial é necessário que seja tomado como prioridade de governo.

4.5 – Aprendizagem Institucional e casos de sucesso do SNIB

Nesta seção exploram-se alguns casos de sucesso encontrados no sistema nacional de

inovação brasileiro, em suas perspectivas setorial e local/regional, bem como inovações

políticas fruto de um processo de aprendizagem.

Bonelli e Veiga (2004), como citados no capítulo anterior, indicam que historicamente

as políticas de inovação no Brasil têm priorizado setores. Mas que a partir da década de 1990

têm adotado uma maior generalidade, pois as formas de fomento à inovação que antes se

concentravam em setores específicos têm se estendido a toda economia.

Porém, nesta dissertação entende-se que mesmo que tais políticas tenham alcançado

maior abrangência, ainda assim há setores prioritários, não se tem adotado políticas

transversais. E, além disso, por si só o resultado de sete décadas de políticas, e não-políticas,

setoriais produziram resultados, em termos de disparidade tecnológica entre os setores, que

não podem ser desprezados.

Além disso, o Brasil constitui-se em uma nação de proporções continentais em termos

de extensão territorial, diversidade étnica e cultural, diversidade ecológica e climática, e

disparidade econômica. Por isso, ao se considerar o aporte teórico de s.n.i., utilizado nesta

154

dissertação, poderia se falar que o Brasil abriga vários sistemas setoriais de inovação39

. Já que

as regiões são tão diferentes, cada uma possui idiossincrasias que devem ser ponderadas nas

políticas de C,T&I.

Nesta seção se faz a opção de trazer casos isolados de sucesso, o que é importante à

medida que demonstra que no Brasil as políticas de desenvolvimento tecnológico e inovação

não são totalmente negligenciadas, apenas não conseguem formar um sistema dinâmico que

alcance todos os setores e regiões.

Pela extensão do trabalho há de se restringir os casos a ser estudados, então se optou

por verificar o caso da Embraer, pois se trata de uma empresa nacional que conseguiu

alcançar sucesso internacional em um setor que exige elevado desenvolvimento tecnológico, e

irradia tal cultura inovadora para empresas locais, que ficam em seu entorno. E a Embrapa

que trabalha tanto a perspectiva setorial, porque é uma aposta de desenvolvimento científico e

tecnológico aplicado à agropecuária, e também com a perspectiva regional, pois considera as

idiossincrasias das regiões na instalação das unidades de pesquisa.

Para além dos casos da Embraer e da Embrapa, se cita algumas empresas privadas que

alcançaram elevado nível tecnológico e inovador, sendo referência nos seus setores – WEG,

Embraco e Aracruz Celulose (Fibria). Deste modo que no Brasil existem casos isolados de

sucesso em diferentes grupos, que falta uma sinergia maior entre eles. Adicionalmente se cita

elementos que demonstram a capacidade de aprendizagem nas políticas de C,T&I brasileiras,

entre as quais se destacam os fundos setoriais.

39 Segundo Malerba (2004), um sistema setorial de inovação (e produção) é composto por um conjunto

de agentes que realizam interações em ambientes de mercado, ou de não-mercado para a criação, produção e venda de um produto setorial. Além disso, tem sua base no conhecimento, tecnologias, insumos e demanda (já

existente ou potencial). Assim, o sistema setorial tem três blocos básicos em sua construção: conhecimento e

tecnologia, atores e redes, e instituições. Sendo que essa abordagem é considerada pelo autor como

complementar aos sistemas nacionais de inovação de Lundvall (1988, 1992).

A abordagem de sistemas setoriais de inovação diferencia-se, pois, coloca papel central na dinâmica das

firmas, em suas relações competitivas, considerando o papel seletivo do ambiente. E desconsidera a

fundamental importância dadas pelas abordagens de s.n.i. e de APLs aos limites geográficos das atividades

inovadoras. (BRESCHI e MALERBA, 2000) Além disso, cada setor possui diferentes capacidades, formas de

acessibilidade e cumulatividade do conhecimento. As quais definem regimes tecnológicos e de aprendizagem

próprios para cada setor. (MALERBA, 1999)

155

4.5.1 – Fundos Setoriais

A perspectiva de que setores possuem capacidades diferenciadas, e que merecem

tratamentos diferenciados está historicamente presente na política científica e tecnológica

brasileira. E em sua fase atual, apesar das políticas terem se expandido e abrangido

praticamente todos os setores, ainda existem áreas prioritárias. Tanto que nas diretrizes para a

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior isso já fica visível:

É importante a criação e fortalecimento de instituições públicas e privadas de

pesquisa e serviços tecnológicos, inclusive visando a difusão de tecnologias e

a extensão tecnológica. Para tal é preciso organizar sistemas setoriais de

inovação e difusão tecnológica, isto é, redes de instituições especializadas em

temas, setores, cadeias produtivas (BRASIL, 2003, p. 12).

Entre os principais instrumentos que demonstram a perspectiva setorial do sistema

nacional de inovação brasileiro estão os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia. Existem

outros instrumentos, inclusive jurídicos, mas optou-se por se explorar os fundos setoriais pelo

destaque enquanto instrumentos de financiamento.

A perspectiva de fundos setoriais tenta recuperar a função do FNDCT, que novamente

é vinculado como mecanismo de financiamento geral da infraestrutura instalada. Ou seja, o

FNDCT como responsável pela alocação dos recursos para projetos de infraestrutura para

atividades de ciência e tecnologia, a fim de garantir o acesso mais democrático deste por parte

do maior número possível de agentes (PACHECO, 2007).

Os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia foram criados em 1999 como

instrumentos para financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no

país. Atualmente existem 16 fundos, sendo 14 em setores específicos e 2 transversais (que

abrangem várias áreas). Seus recursos provêm de royalties de exploração de recursos naturais

pertencentes à União, parcelas do IPI de certos setores e da CIDE (Contribuição de

Intervenção no Domínio Econômico) incidente sobre valores que remuneram o uso ou

aquisição de conhecimentos tecnológicos e/ou transferência de tecnologia do exterior, os

quais são alocados no FNDCT e administrados pela FINEP40

(FINEP, 2011).

Cada fundo setorial tem um comitê gestor, que é presidido por um representante do

MCT e integrado por representantes dos ministérios afins, das agências reguladoras, setores

acadêmicos e empresariais, FINEP e CNPq, os quais devem definir as diretrizes para

40 Com exceção do FUNTTEL (Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações) que

é gerido pelo Ministério das Comunicações.

156

aplicação dos recursos. Em 2004, foi criado o Comitê de Coordenação de Fundos Setoriais

(CCFS), a fim de coordenar tais ações e as ―ações transversais‖ – programas estratégicos do

MCT que se utilizam de recursos dos outros fundos (FINEP, 2011).

Os Fundos Setoriais são um instrumento de aplicação de recursos governamentais para

o desenvolvimento científico e tecnológico de setores específicos, realizados através de

chamadas públicas em editais da Finep. Surgiram em 1999, no setor do petróleo e do gás, mas

que se ampliaram rapidamente, os quais, em 2004, ganham uma nova configuração, quando

se criam as ―ações transversais‖, cuja proposta é a atuação em áreas que podem vir a

favorecer aos demais fundos específicos, utilizando recursos destes.

Essa mudança ocorreu porque foi diagnosticado que as ações eram muito segmentadas

e dispersas, que precisavam de prazos e procedimentos uniformes, e de coordenação entre si,

realizado a partir de então pelo CCFS, além de problemas de eficiência na aplicação de

recursos, e carência na integração dos fundos setoriais como instrumentos para as políticas de

desenvolvimento nacional. ―Com essas modificações, um piso de 50% das receitas não

contingenciadas de cada fundo passou a ser destinado a editais cujas temáticas não precisam

necessariamente estar relacionadas ao setor do fundo que originariamente aplicaria os

recursos.‖ (NASCIMENTO e OLIVEIRA, 2011, p. 16).

Então os fundos transversais, CT-infra e CT-Verde-Amarelo, são definidos no âmbito

do CCFS que tem caráter superior aos comitês gestores de cada um dos fundos setoriais

específicos. Mas tais ações transversais instituídas em 2004 são formalizadas apenas em 2007

com a promulgação da Lei 11.540, que regulamenta o FNDCT (Id.).

Conforme Morais (2008), a receita dos fundos setoriais é alocada no orçamento do

FNDCT e aplicada pela Finep (que atua como a secretaria executiva dos fundos) e pelo

CNPq, atendendo demandas eminentemente setoriais. Com exceção feita às ―ações

transversais‖, o CT-Infra que deve implementar e recuperar a infraestrutura de instituições de

ciência e tecnologia públicas. E o Fundo Verde-Amarelo que apoia a inovação nas micro e

pequenas empresas, e à integração entre universidades e empresas.

Em 2008, do total dos recursos dos fundos setoriais realocados via ―ações

transversais‖, quase metade foi distribuído entre agronegócio (15,7%), energia (15,3%) e

biotecnologia (15,1%). E entre os domínios científicos, os maiores percentuais se destinaram

às engenharias (35,2%) e às ciências agrárias (28,5%) (NASCIMENTO e OLIVEIRA, 2011).

157

As ações transversais têm se constituído em uma forma de redirecionar recursos dos

fundos setoriais para áreas que o governo elegeu como prioritárias. E que têm beneficiado as

engenharias indicando uma inclinação para o apoio ao desenvolvimento experimental.

Atualmente os fundos setoriais são o principal instrumento do governo federal para

alavancar o sistema nacional de ciência tecnologia e inovação, através de recursos financeiros

aplicados em projetos selecionados através de chamadas públicas, efetuadas pela Finep e pelo

CNPq. Destes, pelos menos 30% devem, obrigatoriamente, ser alocados nas regiões norte,

nordeste e centro-oeste, em uma tentativa de desconcentração (FINEP, 2011).

Os fundos setoriais existentes atualmente, conforme MCT (2010a), são: 1) Fundo

Setorial Aeronáutico; 2) Fundo para o Setor de Agronegócios; 3) Fundo Setorial da

Amazônia; 4) Fundo para o Setor de Transporte Aquaviário e Construção Naval; 5) Fundo

Setorial de Biotecnologia; 6) Fundo Setorial de Energia; 7) Fundo Setorial Espacial; 8) Fundo

Setorial de Recursos Hídricos; 9) Fundo Setorial para Tecnologia da Informação; 10) Fundo

de Infraestrutura; 11) Fundo Setorial Mineral; 12) Fundo Setorial do Petróleo e Gás Natural;

13) Fundo Setorial de Saúde; 14) Fundo Setorial de Transportes Terrestres; 15) Fundo para o

Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações; 16) CT-Verde-Amarelo.

Há de se destacar que as ações transversais parecem ter criado uma situação ambígua

para o desenvolvimento científico e tecnológico, pois de um lado contribuem para a maior

integração e articulação entre as ações desenvolvidas em cada área, mas também podem ser

uma forma de redirecionar de recursos para setores priorizados pelo governo.

Mas a criação dos fundos setoriais parece ter sido importante para a consolidação de

um sistema nacional de inovação brasileiro. ―[…] considers the creation of these funds as a

positive result of institutional learning by people and organizations that had already

incorporated the idea that investment in innovation is a critical factor in the building of the

necessary conditions for the country‟s development.‖ (VILLASCHI e FELIPE, 2008, p. 15).

Essa questão dos fundos setoriais nos demonstra como ainda no Brasil a política de

inovação tende a ser fragmentada. Por isso, também se avalia um dos setores ao qual o país

tem se destacado, fruto da política que historicamente vem priorizando o setor aeronáutico,

por exemplo, explorado a seguir.

158

4.5.2 - Embraer

Dentre estes setores que esboçam relativo sucesso em termos científicos e

tecnológicos destaca-se o setor aeronáutico brasileiro, na figura da Embraer.

Há de se recordar, conforme capítulo anterior, que durante o período militar houve um

importante distanciamento tecnológico por parte de alguns setores. Algumas áreas, sobretudo

de interesse militar, foram priorizadas pelo governo e por isso apresentaram um desempenho

em ciência e tecnologia e incorporação da inovação muito além dos demais setores nacionais.

E para além das políticas de informática e das telecomunicações, já ressaltadas, houve uma

aposta importante no setor aeronáutico, que será brevemente resgatado a seguir.

Para Lima et. al. (2005), o setor aeronáutico teve como marco o ano de 1945 com a

implementação do Centro Tecnológico Espacial (CTA). E logo após, em 1947, com a criação

do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a escola de engenharia do CTA, já em 1954

foi criado o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, reforçando a pesquisa e enraizamento

de conhecimento no setor. Para finalizar tal esforço nacional foi criado em 1969 a Embraer,

que vem se consolidando como uma das maiores empresas integradoras de aeronaves civis,

ocupando a quarta posição em nível mundial, atrás da Boeing, Airbus e da Bombardier.

Historicamente se destaca a importante ação de criar uma estrutura de ensino e

pesquisa na área aeronáutica, integrada à estrutura produtiva, que deve ter sido fundamental

para o atual nível de desenvolvimento tecnológico do setor, que se destaca mundialmente.

A criação do CTA/ITA, um centro de pesquisa integrado com uma escola de

nível superior, permitiu a formação de recursos humanos qualificados, além

de fornecer a eles a infra- estrutura científica e tecnológica necessárias para o

desenvolvimento da tecnologia aeronáutica no país. Desde então, os

engenheiros estrangeiros vieram ao Brasil não apenas para projetar

aeronaves, mas, principalmente, para ensinar e auxiliar os engenheiros

brasileiros no desenvolvimento de suas próprias aeronaves. Em 1954, dentro

da estrutura do CTA, foi criado o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento

(IPD) com o objetivo de estudar os problemas técnicos, econômicos e

operacionais relacionados com a aeronáutica, cooperar com a indústria e

buscar soluções adequadas às atividades da aviação nacional. Na prática, o

IPD priorizava o projeto e desenvolvimento de novas aeronaves (FERREIRA, 2009, p. 124-125).

As ações de criar o CTA e o ITA foram importantes, mas sozinhos dificilmente seriam

capazes de promover uma mudança expressiva no desempenho do setor aeronáutico. Por isso,

diz-se que foi a criação da Embraer que deu o impulso inicial para o atual destaque

tecnológico e econômico do setor. Em que:

159

O principal fator que levou à criação da Embraer foi a deficiência da estrutura produtiva da indústria aeronáutica nacional. As duas empresas privadas

existentes, Neiva e Aerotec, estavam concentradas na produção de aeronaves

simples, não possuindo as capacitações tecnológica, produtiva e financeira

necessárias para um projeto de maior porte e complexidade como o do

Bandeirante. Além disso, era do interesse do Ministério da Aeronáutica a

fabricação local, sob licença, de um jato de treinamento militar. Dessa

maneira, a centralização das duas iniciativas em uma nova e moderna

empresa se impôs como a alternativa mais adequada. Outro fator que

contribuiu para a criação da Embraer foi o contexto político e econômico do

final dos anos 60. Nesse período, a economia brasileira apresentava um crescimento excepcional (...). Este contexto permitiu que o governo

disponibilizasse elevados recursos orçamentários, a fundo perdido, para

viabilizar a constituição da nova empresa fabricante de aviões (FERREIRA,

2009, p. 125-126).

Ferreira (2009) destaca ainda que a Embraer, constituída como uma empresa de capital

misto, tinha a missão de implementar a indústria aeronáutica no Brasil, uma vez que no final

da década de 1960 tal setor era praticamente inexistente no Brasil. O que havia eram apenas

algumas poucas empresas isoladas que produziam aeronaves mais simples e com baixa

sofisticação tecnológica. Então a indústria aeronáutica no Brasil já nasceu consolidada em

uma única empresa.

Além disso, é importante observar que a Embraer é criada de maneira integrada a um

ser centro de ensino de engenharia para a aeronáutica e a um centro tecnológico do setor, o

que, apesar de possuírem esferas de governança diferenciadas, deve beneficiar a maior

incorporação de tecnologias. O ITA fornece mão de obra especializada, preenchendo a lacuna

que normalmente atrasa o desenvolvimento tecnológico de firmas de outros setores.

Desta forma, criou-se um ambiente em que o desenvolvimento de

capacitação está estruturado desde a formação do ―capital intelectual‖ (ITA)

até a utilização deste capital, através da produção de aeronaves (Embraer). Este tipo de política possibilitou o desenvolvimento de um tecido econômico

altamente capacitado e bastante integrado, em que não é só observado um

viés de pesquisa, mas também uma forte presença da ―firma‖ disposta a

aprofundar e produzir produtos de elevado conteúdo tecnológico

(OLIVEIRA, 2005, p. 71).

Sobre a importância do CTA, chamado pelo autor de ―Centro‖, o autor destaca:

A proximidade na relação entre o Centro e a Embraer viabilizou uma

eficiência na troca de informações e posterior desenvolvimento do foco estratégico seguido pelos dois agentes. Ao mesmo tempo em que permitiu um

acesso e redução de custos no desenvolvimento de P&D por parte de

empresas (principalmente a Embraer), permitiu também uma noção clara dos

segmentos e processos tecnológicos que deviam ser levados adiante (dentro

do Centro); a praticidade e viabilidade dos projetos tornou-se um fator

decisivo na trajetória do modelo aeronáutico brasileiro (OLIVEIRA, 2005, p.

72).

160

O setor aeronáutico brasileiro se beneficia de uma ampla integração entre centro de

pesquisa, formação de recursos humanos, uma grande empresa que integra tais

conhecimentos na montagem de suas aeronaves, e que ainda conta com uma rede de

integração com suas empresas fornecedoras que estão localizadas em seu entorno.

Perhaps of greater significance is the fact that the growing importance of

Embraer and the way its strategy has been designed are attracting several

firms to locations near Embraer‟s manufacturing plants. Embraer already

buys several important services (e.g. engineering, software, management,

thermal treatment), avionics and other industrial inputs from its local

suppliers. Inter-firm relationships established in this region present different levels of integration and commercial and technological transaction flows, but

with a high degree of vertical integration and coordination. Today, the local

aircraft industrial cluster comprises approximately 40 SMEs organized

around Embraer (CASSIOLATO; BERNARDES e LASTRES, 2002, p. 42).

Cassiolato, Villaschi e Campos (2003), em seu trabalho que destaca alguns

importantes arranjos produtivos locais41

brasileiros, enfatizam o APL aeroespacial. Este na

visão dos autores trabalha em hierarquia, possui uma elevada territorialização – enraizamento

local, e destina-se ao mercado internacional.

O grau de territorialização é importante, pois demonstra o quanto o APL está integrado

localmente. Essa questão é ainda mais pertinente quando a análise recai sobre arranjos que

trabalham em forma de hierarquia, em que normalmente existe uma grande empresa, que

organiza em torno de si uma série de outras atividades. E nesse caso é importante verificar se

essas empresas, normalmente menores, são locais ou estrangeiras (Id.).

A partir disso, se percebe a importância da indústria aeroespacial para o enraizamento

de uma cultura inovadora no país, já que neste setor existe uma grande empresa que organiza

a produção, a Embraer, e que conseguiu manter em seu entorno empresas fornecedoras e

parceiras, eminentemente locais.

A política do governo militar colocou a aeronáutica, entre outros setores, nas suas

prioridades para incorporação de ciência e tecnologia, e o fez de maneira diferenciada das

demais, criando estruturas integradas. Além disso, a elevada territorialização tende a

41 Villaschi e Campos (2002, pg. 14) estabelecem um conceito para arranjos produtivos locais como aqueles:

[...] caracterizados por atores (não necessariamente e exclusivamente empresariais e/ou concentrados em espaços contíguos) que, mesmo

obedecendo a lógicas distintas e não necessariamente convergentes

(pública/privada; empresarial/governamental/terceiro setor), estabelecem (ou

estão em condições de estabelecer) relações de cooperação no aprendizado

voltado para inovações que resultam em maior competitividade empresarial e

capacitação social.

161

incentivar a capacitação local, e por isso este setor serve de referência para os demais. Até

porque consegue a façanha de colocar um país periférico entre os maiores produtores

mundiais de aeronaves, em um dos setores que demanda aperfeiçoamento constante e

esforços inovativos ilimitados.

4.5.3 – Algumas empresas privadas: os casos de Weg, Embraco e Aracruz-Fibria

Mas além do exemplo da Embraer existem outros casos importantes de empresas que

alcançaram elevado nível de desenvolvimento tecnológico em setores priorizados, tanto por

políticas nacionais como locais. Por isso também se destaca os exemplos do setor metal-

mecânico catarinense, Weg e Embraco, e da celulose no Espírito Santo, Aracruz Celulose.

Conforme Macedo e Campos (2002) o setor metal-mecânico de Santa Catarina

começa a expandir-se na década de 1970, e especialmente na década seguinte quando em

nível nacional o setor apresentava-se estagnado, em Santa Catarina percebia-se uma grande

ampliação do mesmo. Tal crescimento foi fruto de um conjunto de investimentos realizado

nas décadas de 1970/80 e que priorizaram o setor, pois a maior parte dos recursos do BRDE

(Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul) e do BADESC (Banco de

Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina) foi revertido para o desenvolvimento

industrial deste setor. E apesar de no início da década de 1990 apresentarem uma pequena

retração, o processo de abertura dos anos posteriores fez com que tal complexo industrial

alcançasse ainda maiores níveis de desenvolvimento.

Dentre as empresas do complexo metal-mecânico catarinense destaca-se a Embraco

(compressores herméticos e unidades condensadoras) e a Weg (motores elétricos), estas que

no período da pesquisa realizada por Macedo e Campos (2002) investiam em 3% e 4% do seu

faturamento em atividades de P&D, além de enfatizarem a interação com seus clientes,

produzindo resultados eficientes através do learning-by-interaction.

Na aprendizagem pela interação há destaque para a Embraco que possui proximidade

geográfica com a maioria dos clientes, tem importantes programas de pré e pós-venda, e

buscam conjuntamente a solução de possíveis falhas de produtos. Já a Weg possui várias

revendas e assistências técnicas com atendimento 24 horas (quase 500 na época), e um centro

de treinamento de clientes para utilização de seus produtos, em sua sede em Jaraguá do Sul-

SC. Ambas possuem rígido controle para seleção dos fornecedores, que normalmente

162

instalam-se em suas proximidades, melhorando sua capacidade de interação e de negociação,

por isso em geral possuem um fornecedor para cada insumo (MACEDO e CAMPOS, 2002).

Embraco e Weg colocam extrema importância a parcerias com institutos de pesquisas

e com universidades, tanto brasileiras quanto estrangeiras, a partir das quais promove

qualificação da mão de obra, através de treinamentos, cursos de reciclagem, concessão de

bolsas de estudos para aperfeiçoamento. A Weg ainda possui um centro próprio de

treinamento de recursos humanos (Ibid.).

Em 2002 a Embraco foi a maior fabricante mundial de compressores herméticos para

refrigeração com 23% do mercado mundial, e atualmente possui 1.030 cartas-patentes e uma

equipe de 450 engenheiros e técnicos trabalhando de forma integrada (EMBRACO, 2012).

Já a Aracruz Celulose (atual Fibria) constitui-se na líder mundial na produção de

celulose branqueada de eucalipto (que dá origem a papéis para escritório, papéis sanitários,

lenços, guardanapos, fraldas absorventes e papéis especiais). Uma empresa que aposta em

pesquisa, desenvolvimento e inovação e esforço tecnológico, a qual conta com um centro de

pesquisa e tecnologia (CPT), com 80 funcionários (entre mestres ou doutores) que se dedicam

integralmente a atividades de pesquisa e desenvolvimento (CAMPOS, 2010).

A infraestrutura do CPT conta com um centro de mil metros quadrados para a

realização de experimentos, dois laboratórios de pesquisa – um no Espírito

Santo e um no Rio Grande do Sul – e um laboratório ao ar livre (Microbacia)

com aproximadamente 300 hectares, direcionado ao monitoramento de flora,

fauna, solos e ecossistemas formados pelo eucalipto e florestas nativas. [...] O foco das pesquisas segue duas linhas principais: tecnologia de melhoramento

de florestas e desenvolvimento de novos produtos e processos. Atualmente,

estão relacionadas a seis áreas do conhecimento, a saber: melhoramento

genético tradicional, biotecnologia, propagação de plantas, solos e nutrição

vegetal, proteção florestal, biodiversidade e ecofisiologia vegetal (CAMPOS,

2010, p. 46-47).

Deste modo a Aracruz Celulose (Fibria) alcançou importantes resultados que a

colocaram na posição de líder mundial no seu segmento, pois desenvolveu novas técnicas

para propagação dos clones de eucalipto; modos inovadores de controle de pragas e doenças;

e pesquisas para nutrição do solo, eco-fisiologia, preservação ambiental e biodiversidade,

além de outras inovações de processo, que envolvem a comunicação e integração dos

diferentes setores da empresa. Campos (2010) destaca que desde os anos 1970 a empresa vem

desenvolvendo sua capacidade de aprendizagem, seja pelo learning-by-using (nas instalações

produtivas); learning-by-doing (atividades florestais); ou learning-by-interaction (parcerias

163

com institutos de pesquisas e universidades nacionais e internacionais, e financiamento de

teses de mestrado e doutorado).

4.5.4 - Embrapa

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), criada em 1973, em meio

a políticas consideradas prioritárias pelo governo militar na sua fase de maiores investimentos

em ciência e tecnologia, vem se demonstrando como importante instrumento de política

setorial e regional/local em inovação. Instituição esta que tem a missão de desenvolver

pesquisa e desenvolvimento tecnológico na agropecuária, aplicado às necessidades regionais,

em uma estrutura de governança baseada em diferentes unidades de pesquisa, autônomas,

adequadas às idiossincrasias locais.

A Embrapa foi criada com objetivo principal de institucionalizar a ciência e a

tecnologia voltada para a agropecuária. A partir de sua coordenação no Sistema Nacional de

Pesquisa Agropecuária (SNPA); do qual também participam as Organizações Estaduais de

Pesquisa Agropecuária (OEPAs), universidades e outras instituições. Estrutura esta que

perdura desde sua criação até os dias atuais, cuja função é incrementar a qualidade e

produtividade no setor. A partir da pesquisa e criação de tecnologias adequadas à geografia e

clima das diferentes regiões brasileiras, pretendia-se incrementar a disponibilidade interna de

alimentos e diversificar a pauta exportadora do país (CAMPOS, 2011).

A Embrapa é um sistema formado por unidades administrativas/centrais que estão

localizadas na sede, em Brasília, e unidades de pesquisas e serviços/ descentralizadas que

estão distribuídas nas diferentes regiões do país. As unidades descentralizadas são

classificadas em (EMBRAPA, 2011):

Unidades de Serviço: Embrapa Café, Embrapa Informação Tecnológica e Embrapa

Transferência de Tecnologia, ambas situadas em Brasília;

Unidades de Pesquisa de produtos: Embrapa Algodão (Campina Grande-PB),

Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO), Embrapa Caprinos e Ovinos

(Sobral-CE), Embrapa Florestas (Colombo-PR), Embrapa Gado de Corte (Campo

Grande-MS), Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora-MG), Embrapa Hortaliças

(Brasília-DF), Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas-BA), Embrapa

Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP),

164

Embrapa Pecuária Sul (Bagé-RS), Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO),

Embrapa Soja (Londrina-PR), Embrapa Suínos e Aves (Concórdia-SC), Embrapa

Trigo (Passo Fundo-RS), Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves-RS);

Unidades de Pesquisa de Temas Básicos: Embrapa Agrobiologia (Itaguaí-RJ),

Embrapa Agroenergia (Brasília-DF), Embrapa Agroindústria de Alimentos

(Guaratiba-RJ), Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza-CE), Embrapa Estudos e

Capacitação (Brasília-DF), Embrapa Informática e Agropecuária (Campinas-SP),

Embrapa Instrumentação (São Carlos-SP), Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna-SP),

Embrapa Monitoramento por Satélite (Campinas-SP), Embrapa Recursos Genéticos e

Biotecnologia (Brasília-DF), Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ);

Unidades de Pesquisa Ecorregionais: Embrapa Acre (Rio Branco-AC), Embrapa

Agropecuária Oeste (Dourados-MS), Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop-MT),

Embrapa Amapá (Macapá-AP), Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus-AM),

Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), Embrapa Cerrados (Brasília-DF), Embrapa

Clima Temperado (Pelotas-RS), Embrapa Cocais (São Luís-MA), Embrapa Meio-

Norte (Teresina-PI), Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Embrapa Rondônia (Porto

Velho-RO), Embrapa Roraima (Boa Vista-RR), Embrapa Semiárido (Petrolina-PE),

Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju-SE).

A Embrapa vem produzindo importantes avanços para a agropecuária brasileira,

colocando o Brasil como uma das potências na geração e fornecimento de alimentos em nível

mundial. E com sua estrutura integrada a outras instituições afins e focada nas especificidades

locais tem conseguido disponibilizar ao mercado importantes inovações que garantem o

aumento da produtividade e da qualidade de muitos produtos. Tem sido assim no

melhoramento genético e introdução de novas variedades mais adaptadas ao clima e geografia

brasileiros, além de orientação para controle de pragas e doenças das plantas e animais.

Conforme relatório da Embrapa (2008), em 2006 de cada R$1,00 aplicado na pesquisa

agropecuária houve um retorno para a sociedade de R$13,20. Entre resultados importantes

desta organização é colocado, por exemplo, uma nova variedade de feijão ―feijão-caupi BRS

Novaera‖, o qual foi desenvolvido para ser plantado pelas populações ribeirinhas de Rondônia

e chega a obter produtividade cinco vezes maior que as variedades que se obtinha até então.

165

A Embrapa tem produzido importantes resultados para a prática e pesquisa em

biotecnologia no Brasil, o que é promovido pela Embrapa Recursos Genéticos e

Biotecnologia em parceria com algumas unidades de pesquisa em produtos. Cuja principal

linha de atuação é o desenvolvimento de plantas transgênicas com resistência a certos vírus

que comprometem seu desenvolvimento. Como exemplo, se cita o feijão resistente ao ―vírus

do mosaico dourado do feijoeiro‖, maior empecilho para o desenvolvimento da planta na

América do Sul, este que foi o primeiro produto geneticamente modificado totalmente

desenvolvido por instituições públicas brasileiras. (MAPA, 2010)

Além destes estão sendo desenvolvidas importantes pesquisas em transgenia, para:

resistência à seca em produtos como: soja, cana e café; resistência à viroses em: variedades de

batata, mamão e tomate; plantas e animais que serão utilizados como biofábricas para

produção de medicamentos; manipulação de teias de aranha encontrados na mata atlântica,

Amazônia e cerrado para produzir fios mais resistentes e flexíveis para serem utilizados pela

indústria. Também há pesquisas em melhoramento genético para reduzir doenças, ampliar

componentes nutricionais e sabor para: banana, café, arroz. Também o melhoramento

genético aplicados ao eucalipto, e ao gado de corte e produção leiteira tem produzido

importantes resultados em termos de produtividade e qualidade. (Ibid.)

Para de Paula, Porcile e Scatolin (2003) a Embrapa Soja, localizada em Londrina, tem

se constituído no mais importante componente deste sistema de inovação, tais autores se

utilizam da abordagem de sistema local de inovação para o estado do Paraná.

Neste estudo a Embrapa é vista como instrumento de política pública para o

enraizamento da cultura inovativa no setor da soja42

. Tal organismo que tem o objetivo de

desenvolver novas tecnologias, serviços e produtos relacionados à soja. Pois: ―Embrapa is on

the technological frontier in the production of new soybeans cultivars ([...] are responsible

for about 60 per cent of grain production in Brazil), with a long research tradition and a

highly qualified group of researchers [...]‖ (Ibid., pg. 431)

42 Há de se fazer a ressalva de que a partir de 2005 com a Lei de Biossegurança houve uma modificação

importante neste segmento, a partir da entrada no mercado das sementes de soja modificadas geneticamente pela

empresa Monsanto. Mas salienta-se que a Embrapa também vem desenvolvendo pesquisa no tema, atualmente

estão sendo realizadas várias pesquisas em biotecnologia da soja a fim de produzir sementes com maior

resistência a seca, mais resistente a pragas, entre as mais comuns, a lagarta-da-soja. E de doenças da planta, um

dos maiores problemas atuais é a ferrugem asiática. (EMBRAPA SOJA, 2011)

166

Inúmeros casos de sucesso são demonstrados a cada ano pela Embrapa, por isso não se

optou por aprofundar muito nesta questão, apenas se cita o caso da Embrapa como uma

instituição que tem trabalhado de forma integrada com outras instituições e que colocou o

Brasil como referência em um determinado setor da economia.

Então as principais conclusões que se pode tirar deste amplo capítulo é que nos anos

2000 a política econômica se modifica e se torna um pouco mais favorável à instalação de

ambientes inovadores. A partir desta década teve-se como grande desafio reorientar uma

institucionalidade de não-política em ciência, tecnologia e inovação que vigorou pelas duas

décadas anteriores. A estrutura organizacional estava dada e o ambiente político/econômico se

tornava mais propício a instalação de políticas de longo prazo, haja vista a estabilidade

econômica finalmente consolidada.

Mas é principalmente a partir de 2007 que a preocupação de traçar objetivos em

ciência, tecnologia e inovação torna-se mais claro, a partir do lançamento do primeiro plano

de ação em C,T&I formulado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Este plano, assim

como seu sucessor (ENCTI) mostram uma preocupação maior no estímulo para empresas

investirem em P&D, a fim de que se alcance, assim como na maioria dos países da OCDE,

percentuais maiores de gastos em P&D pelo setor privado em relação ao setor público. Mas

seus resultados ainda se apresentam tímidos em relação aos países mais ricos. Bem como não

colocam a importância, orientada pela OCDE, para ações integradas, principalmente no que

diz respeito à mobilidade de trabalhadores e difusão de conhecimentos.

Destaca-se que no Brasil existem importantes setores e firmas que apresentam elevado

desenvolvimento científico e tecnológico, e que tem conseguido trabalhar em uma perspectiva

mais interativa. Em parte estes casos de sucesso são fruto das políticas realizadas na década

de 1970 e que produziram importantes resultados em longo prazo, mas como tais esforços

foram concentrados em alguns setores, os sucessos são isolados e não se espalham à nação

como todo.

167

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação teve o intuito de demonstrar como o Brasil tem historicamente

relegado políticas sistêmicas de inovação, ao contrário do que tem se adotado e indicado pela

OCDE. Para tanto, se utilizou da abordagem de sistemas nacionais de inovação e da teoria

neo-institucionalista, pois se acredita que são as instituições que moldam o comportamento

das sociedades e assim interferem na condução das prioridades políticas.

A abordagem teórica de sistemas nacionais de inovação surgiu em meados da década

de 1980, período que a teoria neo-schumpeteriana organiza-se como tal e como alternativa às

teorias econômicas dominantes, que tinham dificuldade de fornecer respostas convincentes

aos fatos do ―mundo real‖. Esta abordagem é pautada na aprendizagem via interação entre

agentes e ressalta relacionamentos entre usuários e produtores como forma de incitar

inovações. Mas entende que este processo precisa ser conduzido de forma neutra, na figura do

Estado-Nação, a fim de refutar trajetórias indesejáveis e equalizar o poder entre os agentes.

Em sua complementaridade surgiram, principalmente nos anos 2000, abordagens

preocupadas com a construção de sistemas nacionais de inovação em países em

desenvolvimento. Trata-se de abordagens que se embasam teoricamente em ―sistemas

nacionais de inovação‖, mas colocam foco diferenciado à medida que depositam peso maior

aos processos de aprendizagens e menos aos resultados inovadores propriamente ditos. Por

exemplo, Viotti (2002) coloca importância maior na análise de como inovações se difundem e

são absorvidas do que como são geradas. E Arocena e Sutz (2000, 2002, 2004) enfatizam a

interação entre universidades e empresas e a forma como conhecimentos são transferidos.

A inovação é vista como um fenômeno interativo, através da associação entre agentes

que novos conhecimentos são formados, seja em processos de aprendizagem que se

desencadeiam ao longo do tempo ou através da transmissão de conhecimentos pré-existentes.

É justamente sobre a transferência de conhecimento que associações entre agentes produzem

168

resultados mais relevantes, pois quanto mais interativas elas forem maior a capacidade de

decodificação e difusão de conhecimentos tácitos, não encontrados no mercado.

Nos países menos desenvolvidos essa interação tende a ser mais complexa, pois estes

com maior frequência encontram instabilidade econômica, dificuldade de previsão e provisão

de recursos, conflitos de interesses, problemas sociais tais como violência, corrupção, baixas

taxas de escolaridade, entre outros. Países em desenvolvimento em geral possuem uma

institucionalidade diferenciada de países desenvolvidos, em uma estrutura que historicamente

não priorizou associações para transmissão de conhecimentos, de incerteza e falta de

confiança. E é justamente nestes países que se recomenda que políticas sejam direcionadas

para a difusão de conhecimentos e para reverter tais componentes que bloqueiam inovações.

Sistemas nacionais de inovação colocam papel fundamental nos aspectos institucionais

e culturais como fatores que explicam cenários que incitam ou bloqueiam a sua efetividade.

Por isso exibe grande afinidade com as teorias institucionalistas, especialmente com o velho

institucionalismo vebleniano e com neo-institucionalistas, os quais consideram como

instituições: hábitos de pensamento, aspectos culturais, leis, regras implícitas ou explicitas,

aspectos históricos. As instituições são fatores que explicam a maneira como a sociedade está

organizada, como se organizou e por isso pode fornecer indicações futuras.

A abordagem de sistemas nacionais de inovação surgiu e se desenvolveu inicialmente

no meio acadêmico. Mas dado seu caráter abstrato e dificuldade de se colocar empiricamente

como forma de condução política de nações e de firmas, encontrou no âmbito da Organização

de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o local para preencher tal lacuna.

O estudo de sistemas nacionais de inovação na OCDE passou por três gerações de

pesquisa, desde concepções que destacavam a linearidade no processo inovador e tinham

grande dificuldade em demonstrar como investimentos em P&D deveriam gerar incrementos

de produtividade até o reconhecimento da inovação como força motriz do desenvolvimento

econômico em uma perspectiva sistêmica e interativa, mas ainda concentrada à questão

científica e tecnológica. E chegando à fase atual, desde 2002 com o projeto MONIT, que se

centraliza nas questões institucionais e conflitos que têm bloqueado ou atrapalhado a

efetivação de s.n.i. na OCDE, destacando a importância das nações desenvolverem

mecanismos de aprendizagens institucionais e políticas transversais.

169

Atualmente as políticas de s.n.i. dos países da OCDE têm colocado como áreas

prioritárias: saúde, meio ambiente e mudanças climáticas, recursos naturais e energia,

tecnologias da informação e da comunicação, novos materiais e novas tecnologias, e

segurança alimentar. Tais estratégias são nacionais, mas é o setor privado que em geral é

responsável pelos maiores investimentos. Mas a OCDE é um fórum muito heterogêneo e falar

em seus resultados em termos médios pode causar distorções, pois atualmente abriga 34

países-membros e nos últimos anos tem alargado a participação de países menos

desenvolvidos, a partir da adesão do México em 1994.

Já na análise do caso brasileiro se encontram alguns elementos que denunciam a

evolução das políticas de inovação e algum processo de aprendizagem institucional em seu

favor, mas pelo que se observa atualmente não se efetivou, pois o Brasil tem imensa

dificuldade de conduzir a inovação em seu sentido sistêmico e interativo.

No Brasil, à exceção feita a alguns setores e segmentos, a institucionalidade não tem

sido favorável à associação. Primeiro porque políticas estiveram mais preocupadas no

processo produtivo do que inovador. E também porque durante um período considerável tal

concepção foi cortada do plano político, e o clima de incerteza gerado no processo

hiperinflacionário contribuiu ainda mais para tal panorama.

A análise desta dissertação, em relação ao caso brasileiro, inicia-se entre 1930 e 1964

quando se formaram os esforços para o desenvolvimento industrial no país. Nesse período

foram organizadas empresas estatais em setores estratégicos e formaram e ampliaram-se

importantes indústrias nos setores: automobilístico, naval máquinas e equipamentos elétricos,

bens de capital, produção de aço, químicos, petróleo, papel e celulose. Mas que, conforme

Villaschi (1996), não conseguiu se desenvolver enquanto sistema de inovação, pois se

preocupava com a capacidade de produção e não com a inovação. Além disso, a partir da

década de 1950, houve incentivo à entrada de multinacionais que se concentravam em setores

mais dinâmicos e as empresas estatais em setores de base, sem que houvesse associação entre

elas, opção contrária à visão interativa de sistemas nacionais de inovação. Não se observou

integração nem entre os setores nem entre os diferentes atores dentro de cada setor.

Depois do clima de conflito e instabilidade política gerada pelo golpe militar de 1964 e

pela instauração do regime militar deu-se início à fase de desenvolvimento científico e

tecnológico brasileiro. A partir da década de 1970 se formaram esforços em áreas prioritárias,

170

casos em que houve importantes interações entre centros de ensino e pesquisa com empresas;

como exemplo cita-se a associação da recém criada Embraer com o Centro Tecnológico

Espacial (CTA) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Mas estes casos de sucesso

foram isolados em alguns setores, não se adotou uma concepção interativa em nível sistêmico.

Dentre os planos, destaca-se o PED (Plano Estratégico de Desenvolvimento), 1968-

1972, primeiro planejamento do tipo no país, o qual ressaltava que era preciso promover

substituição de tecnologias e não só de importações. Em seguida, 1969-1974, o I PND (Plano

Nacional de Desenvolvimento) traz continuidade ao planejamento em ciência e tecnologia,

principalmente em áreas como: energia nuclear, pesquisa agrícola, pesquisa espacial,

oceanografia, indústrias intensivas em tecnologia e tecnologia para infraestrutura.

Mas havia importantes contradições da condução de tais planos, como a falta de

incentivo para a interação de multinacionais com empresas locais. E a falta de integração

entre as instâncias do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, entre

as quais eram ligadas apenas pelo fluxo financeiro. Na época não havia mecanismos que

exigissem o cumprimento das estratégias estabelecidas e nem avaliação de resultados.

Já no II PND (1975-1979) houve os mais pesados investimentos em áreas estratégicas

ao governo militar, a política de informática e a política das telecomunicações. Houve relativo

sucesso das mesmas e principalmente no sistema nacional de telecomunicações que produziu

tecnologias internamente e adequadas às necessidades brasileiras. Estes resultados foram

importantes para o desenvolvimento brasileiro na área da tecnologia da informação e da

comunicação, novo paradigma que à época se instalava. Mas que não foi suficiente para

colocar/manter o Brasil em posição de destaque em nível internacional, e isso porque após

este período o Brasil viveu uma de suas mais profundas crises econômicas.

As décadas de 1980/90 são consideradas como perdidas para o sistema nacional de

inovação brasileiro, pois os esforços da política econômica se concentraram em conter o

processo inflacionário, que se tornou hiperinflacionário, e no controle das contas públicas.

Além disso, da falta de recursos, a inflação e o clima de incerteza – em função dos diversos

planos econômicos sem sucesso – bloqueavam associações produtivas e investimentos em

favor da aprendizagem e outras formas de estímulo à inovação. Neste cenário o planejamento

em ciência e tecnologia, que já não era prioridade, foi abandonado aos poucos.

171

Então enquanto nas décadas de 1980/90 os países da OCDE consolidavam seus

sistemas nacionais de inovação, o Brasil diminuía consideravelmente seus investimentos. A

pesquisa sobre o termo se aprofundava no âmbito da organização, que tinha novas orientações

que faziam seus países modificar o rumo de suas políticas em favor do conhecimento e da

inovação em âmbito sistêmico. E o Brasil colocava não só o incentivo à inovação e geração de

conhecimento, mas a própria capacidade produtiva, em níveis cada vez mais marginalizados.

Em meados da década de 1990 se alcançou a pretendida estabilidade monetária, com o

Plano Real. Mas para o sistema nacional de inovação brasileiro não houve modificações

favoráveis, a não ser pela estabilidade econômica que permitia o alargamento do horizonte de

tempo dos agentes. Isso principalmente porque a institucionalidade de incerteza ainda estava

presente, e porque o plano se apoiava em altas taxas de juros e moeda local sobrevalorizada, o

que danificava duplamente a produção interna. Também nesta época foi realizada a maior

parte das privatizações, principalmente nos setores de base criados no início da

industrialização, de modo a diminuir a ação do Estado na economia como agente produtivo.

Somente nos anos 2000 as políticas econômicas passaram a ser mais favoráveis à

industrialização e inovação, haja vista a estabilidade econômica consolidada. É a partir do

Plano Plurianual de 2000 que ações que estimulam a promoção de um sistema nacional de

inovação são colocadas entre as prioridades de governo. E entre as primeiras medidas que

demonstram uma nova preocupação com questões científicas e tecnológicas, em setores

prioritários, há a criação dos fundos setoriais de ciência e tecnologia.

Mas a estrutura de organizações que estimula a ciência e a tecnologia no Brasil não se

modificou muito, basicamente são as instituições criadas desde 1930 as responsáveis pela

execução das estratégias fixadas pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT) criado em

1985, que em 2011 modificou sua nomenclatura para Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação (MCTI).

Mudanças importantes acontecem ao longo dos anos 2000: suspensão do processo de

privatizações, foco na indústria nacional produtora de insumos e bens de capital – por

exemplo, a Petrobras passou a priorizar navios e plataformas construídos no Brasil, antes

majoritariamente importados, e o BNDES que passou a priorizar suas linhas de crédito para

empresas nacionais. Além disso, outra importante modificação é a elaboração e prática do

172

marco regulatório do sistema nacional de inovação brasileiro, com a Lei da Inovação (Lei nº

10. 973/2004) e a Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005).

Também se destaca a elaboração e execução da Pesquisa de Inovação Tecnológica

(Pintec), que desde 2000 vem demonstrando como os esforços de construção de um sistema

nacional de inovação no Brasil vêm surtindo efeitos; e que apesar de suas falhas e lacunas –

tais como: defasagem temporal; metodologia da aplicação dos questionários que tende a

priorizar firmas maiores; entre outros – apresenta importantes avanços para a percepção do

panorama da distribuição e formação das atividades que contemplem a inovação no país.

Desde 2000 foram implementados importantes programas, destaca-se a Política

Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), 2004-2008, ligada ao MDIC

(Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior) e que contemplava o

incentivo a atividades que priorizassem a inovação. Mas ainda não havia plano específico

formulado pelo MCT, o que aconteceu apenas em 2007 com o lançamento do Plano de Ação

em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), até 2010, e que se integrou com a Política de

Desenvolvimento Produtivo (PDP) que foi sucessora da PITCE.

O PACTI tinha entre suas principais metas ações de âmbito mais sistêmico e por isso

se integrou em vários outros ministérios com as políticas de cada um deles, sendo considerado

um plano de gestão compartilhada. O plano se integrou com o Plano de Aceleração do

Crescimento, com a Política Nacional de Saúde, a Política Nacional de Defesa, com o Plano

de Desenvolvimento da Agropecuária, com a PDP, e com a Política de Desenvolvimento da

Educação. E agiu em quatro prioridades estratégicas: i) expansão e consolidação do SNDCTI,

ii) promoção da inovação tecnológica nas firmas, iii) áreas estratégicas, e iv) C,T&I para

desenvolvimento social. Destas, aquela que contempla o estímulo à inovação no nível das

firmas foi a que recebeu maior parte dos recursos (45,4%).

Atualmente o plano do MCTI é a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação (ENCTI), que se entrelaça com o Plano Brasil Maior ligado ao MDIC. A ENCTI

elegeu nas suas prioridades o estímulo à formação de mão de obra qualificada e o incentivo

para que empresas incrementem seus investimentos em P&D. Assim pretende-se chegar a

percentuais mais elevados de dispêndio em P&D e com maior participação do setor privado,

tal qual acontece nos países-membros da OCDE. Para tanto, pretende-se criar a Embrapii

(Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) nos moldes da Embrapa.

173

Na verdade, o que se percebe é que desde 2000 a implementação e consolidação de um

sistema nacional de inovação brasileiro entrou nas prioridades de governo. Mas somente nos

últimos cinco ou seis foram tomadas ações mais efetivas para alcançar tais objetivos e

elaborados planos neste sentido, especialmente com o PACTI, de 2007. Mas ainda assim os

resultados estão muito aquém dos objetivos e parece que o discurso ainda está um tanto

quanto descolado da realidade.

Os planos caminham para a visão em caráter sistêmico, mas o discurso ainda é mais

setorial, haja vista o exemplo dos fundos setoriais e da maneira como os recursos são

liberados. Apesar dos planos enfatizarem associações entre as diferentes esferas de governo,

não existem mecanismos efetivos que exijam tal associação, ou que promovam associação

entre empresas, para que estas promovam mobilidade entre trabalhadores, por exemplo. As

políticas se concentram demasiadamente em liberação de recursos e compensações para

empresas que implementam algum tipo de investimento em P&D, que nem são tão elevados e

nem supre a demanda das empresas, e menos em treinamentos estímulo à associação entre

firmas e outras formas de estímulo a enraizar capacidades.

Mas existem importantes exceções, a Embraer, por exemplo, a partir de sua associação

com o CTA/ITA tem produzido resultados que a coloca entre as primeiras empresas mundiais

na construção de aeronaves, um segmento que exige elevado conteúdo tecnológico. Também,

a Embrapa produz importantes resultados em novos cultivares, técnicas e produtos, que têm

colocado o agronegócio brasileiro como destaque em nível mundial, isso porque se preocupa

em realizar pesquisas e projetos que originem produtos adaptados às diferentes regiões,

aumentando a produtividade e qualidade dos produtos agropecuários, assim como o setor de

telecomunicações que, sobretudo nas décadas de 1970/80, produziu importantes tecnologias

adaptadas à realidade e geografia brasileira. Outros resultados relevantes são encontrados na

Petrobras, algumas firmas e setores e APLs que exibem sucesso tecnológico, bem como

projetos e universidades e centros de pesquisas.

Mas a nação como todo não se desenvolveu tecnologicamente e nem enraizou

capacidades que incitem a aprendizagem e a inovação. Não é comum a toda a sociedade

brasileira priorizar associações a fim de produzir novos bens e serviços adequados às

diferentes realidades. As políticas públicas historicamente não têm colocado esse tema como

prioridade. Por isso, se pode afirmar que o Brasil apresenta importantes sistemas setoriais de

inovações, bem como regionais, mas um sistema nacional de inovação ainda não foi formado.

174

Nos últimos cinco ou seis anos as políticas parecem estar mais coerentes com tais metas, mas

como esta é uma política de longo prazo ainda deve levar algum tempo para surtir efeitos.

Como se percebe no Brasil há exemplos importantes de empresas, e de setores, mais

avançados tecnologicamente e que conseguiram enraizar uma cultura inovadora. Mas tal

diferença também ocorre no que diz respeito às regiões que, conforme constatado no aporte

teórico e orientações da OCDE, possuem idiossincrasias que não devem ser negligenciadas.

O Brasil é um país extenso territorialmente, e que possui grande diversidade cultural e

geográfica. Por isso, suas diferentes regiões possuem especificidades que lhe garantiriam a

promoção de um sistema de inovação próprio, que dê vazão às suas próprias idiossincrasias.

Mas isso não é possível, pois estas regiões não se constituem em nações independentes, não

possuem autonomia jurídica, e são afetados por uma institucionalidade superior, não formam

um ―s.n.i. completo‖ (CASSIOLATO, VILLASCHI e CAMPOS, 2003).

Ou seja, as regiões brasileiras diferem, fruto de diferentes formas de povoamento, por

diferenciadas etnias que trouxeram consigo traços culturais próprios, e por trajetórias

históricas e econômicas específicas. Isso seria capaz de incitar à possibilidade de construção

de vários sistemas nacionais de inovação no Brasil. Porém, essa possibilidade não é real,

porque as regiões e estados não se constituem em nações, não têm a capacidade de promover

uma institucionalidade completa, são regidos por uma legislação em nível nacional e têm

partes significativas de seus orçamentos subjugados a instâncias superiores em nível federal.

Então é preciso articular internamente, nesta nação, políticas que possam captar tais

idiossincrasias regionais, e atender suas diferenciadas demandas de modo a incitar

capacidades inovadoras. De modo que:

Para atingir um conjunto amplo de empresas dispersas geograficamente, é importante a articulação do governo federal com as instâncias locais de poder e com

outras instituições com elevada capilaridade, tais como institutos tecnológicos

estaduais e municipais, Sebrae e Senai, que implementam programas de extensão

gerencial e produtiva (BRASIL, 2003, p. 15).

É por isso que muitos autores de economia da inovação preferem distinguir o Brasil

em diferentes sistemas locais de inovação, ou arranjos produtivos locais.

Atualmente existem vários APLs em todo o Brasil, alguns contam com recursos do

MDIC, outros do MCT/FINEP, outras se auto-organizam, outros contam com o apoio do

SEBRAE, e acesso às ações integradas com universidades. Por isso nesta dissertação não se

175

discorreu uma análise mais minuciosa sobre esse tipo de organização de caráter regional, pois

grande parte dos planos explorados anteriormente compreende tal assunto.

O que se pretende demonstrar é que dentre os principais desafios que a política

científica e tecnológica brasileira tem a enfrentar está o desenvolvimento mais

homogeneizado. Enquanto estados das regiões sul e sudeste têm incrementado sua

capacitação tecnológica, o mesmo não se observa nas regiões norte, nordeste e centro-oeste

de modo a intensificar em longo prazo a disparidade econômica já existente (DINIZ, 2003).

Por isso o governo tem implementado uma série de incentivos fiscais mais intensos

nessas regiões. Um exemplo é a perspectiva dos fundos setoriais que preveem um percentual

mínimo de recursos aplicados no norte e nordeste.

E isso tem entrado nas prioridades de governo especialmente a partir de meados dos

anos 2000. No documento de diretrizes para a PITCE isso fica visível:

Três aspectos relativos às necessidades de modernização produtiva merecem

destaque. [...] O segundo é a dimensão regional, na qual devem ser

privilegiados os arranjos produtivos locais. Ou seja, os programas de

modernização devem atuar prioritariamente nos arranjos produtivos,

aproveitando-se da proximidade das empresas e da facilidade de cooperação

entre elas e com instituições tecnológicas e financeiras para a difusão de técnicas de produção e de gestão e ampliação dos negócios. A partir dessas

condições, os programas de modernização podem se tornar mais ambiciosos,

indo em direção à inovação tecnológica, ao adensamento do tecido produtivo

e à fabricação de produtos de maior valor agregado (BRASIL, 2003, p. 14-

15).

Para Diniz (2003) a maior atenção dada pelo governo federal à questão da ciência e da

tecnologia estimulou muitos estados a seguir tal exemplo. Foram criadas secretarias locais,

fundações de suporte para atividades de pesquisa em C&T, institutos de pesquisa,

universidades estaduais, a fim de aumentar a aprendizagem e a inovação em nível local.

Porém, a intensidade de tais políticas depende do grau de desenvolvimento e dos recursos

disponíveis, o que é muito díspar no Brasil.

Além disso, há de se citar o importante papel realizado pelas universidades e

laboratório/institutos de pesquisa públicos na geração de ciência, tecnologia e inovação no

Brasil. Tanto que Rapini et. al. (2006) afirma que em sistemas nacionais de inovação

imaturos, caso do Brasil, universidades podem, através de interações com firmas, tanto

complementar como substituir as atividades de P&D das firmas.

176

O fato é que muitos dos casos de sucesso que o SNIB exibe, dos quais alguns foram

ressaltados nesta dissertação, têm uma ligação estreita com institutos de pesquisa e

universidade. Na verdade a tradição de investimento em C,T&I e inovação tem historicamente

privilegiado a pesquisa nas universidades, como se constatou ao longo da dissertação. E por

isso não se explorou profundamente tais casos43

. Entende-se que o papel fundamental que a

universidade vem desempenhando para o SNIB está enlaçado com os demais casos.

Então no sistema de inovação brasileiro os principais instrumentos de indução do

enraizamento da capacidade inovadora são realizados por duas frentes: setorial e regional,

considerando suas idiossincrasias, o que parece estar em coerência com parte das ponderações

dos teóricos que se preocupam com sistemas de inovações em países em desenvolvimento,

bem como com as orientações da OCDE. Mas de outro lado existe uma fraqueza fundamental

à não efetivação de um sistema nacional de inovação, a falta de interação entre as esferas.

No Brasil políticas transversais, como aquelas que a OCDE orienta, estão muito longe

de sua efetividade, além de terem sido negligenciadas em praticamente todo processo de

desenvolvimento industrial brasileiro.

Percebe-se, portanto, que o Brasil ainda não possui um sistema nacional de inovação

definido. Existem casos de sucesso, frutos de políticas que, historicamente, privilegiaram

regiões e setores. Atualmente a estrutura e a gama de planos têm melhorado, mas as políticas

ainda são restritas e de certa medida descoladas do discurso de universalidade de acesso a

projetos e recursos. A construção de um sistema nacional de inovação deve ser encarada como

uma política de longo prazo, que se irradie por toda a sociedade. E os planos atuais, apesar de

terem avançado, se concentram muito na ótica da oferta (redução de impostos, incentivos

financeiros) e menos na ótica de interação entre agentes como ―manda‖ a abordagem de s.n.i.

43 Rapini (2007) faz referência a alguns casos:

A investigação de estudos de casos revela conexões parciais,

construídas historicamente, como é o caso da Petrobrás, com seis Centros de

Excelência atualmente, da EMBRAPA e do IPT. Por parte das universidades,

relatos de interação e de relativo sucesso na UNICAMP (Brisolla et al.,

1997), UFSCAR e USP (Gregolin, 1999) fazem também referência às

articulações construídas ao longo do tempo, muitas vezes estando estas

dentre as missões iniciais da instituição. Além destes casos, o crescente comprometimento de universidades no desenvolvimento local e regional

observado recentemente é atribuído muito mais à subordinação a políticas

estaduais específicas de C&T do que a iniciativas partidas de instituições ou

de empresas, como bem ilustra o Programa Regional de Cooperação

Científica e Tecnológica (PRCT) do noroeste do Rio Grande/RS. (Schneider,

1999) (RAPINI, 2007, p. 218).

177

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDI. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial: política industrial. Disponível

em: <http://www.abdi.com.br/paginas/politica_industrial.aspx>. Acesso em: 08 de novembro

de 2011.

ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Balanço PITCE- 2005. Brasília:

2005.

ALCORTA, Ludovico; PERES, Wilson. Innovation Systems and Technological

Specialization in Latin America and the Caribbean. Research Policy. Vol. 26, 1998 (pgs.

857- 881)

ALVAREZ, Roberto dos Reis. A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

(PITCE) e a Atuação da ABDI. São Paulo: Workshop PCI, 2006. Disponível em:

<http://www.abraci.org.br/arquivos/ABDI.pdf>, acesso em 08 de novembro de 2011.

APEX BRASIL. PEIEX – Programa de Extensão Industrial Exportadora. Site oficial:

<http://www.apexbrasil.com.br/portal/publicacao/engine.wsp?tmp.area=701> acesso em 08

de novembro de 2011.

AROCENA, Rodrigo; SUTZ, Judith. Interactive Learning Spaces and Development

Policies in Latin America. Denmark: DRUID Working Paper nº 13. 2000

AROCENA, Rodrigo; SUTZ, Judith. Desigualdad, Subdesarrollo y Procesos de

Aprendizaje. Nueva Sociedad. Vol. 193. 2004 (pgs. 46-61)

BALZAT, Markus; HANUSCH, Horst. Recent Trends in the Research on National

Innovation Systems. Journal of Evolutionay Economics. Vol. 14. 2004 (pgs. 197-210)

BONELLI, Regis; VEIGA, Pedro da M. A Dinâmica das Políticas Setoriais no Brasil na

década de 1990: Continuidade e Mudança. Santiago: Congresso da CEPAL-GTZ, julho de

2004.

BRASIL. Lei nº 9.472 de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização de serviços de

telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos

institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº8 de 1995. Presidência da República

Federativa do Brasil, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, 16 jul. 1997.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9472.htm>. Acesso em: de 22

out. 2011.

BRASIL. Diretrizes de Política, Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Brasília:

178

Casa Civil da Presidência da República, 26 de novembro de 2003.

BRASIL. Lei nº 10.973 de 02 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à

pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Casa Civil,

Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, 02 dez. 2004. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm>. Acesso em:

09 nov. 2011.

BRASIL. Lei nº 11.196 de 21 de novembro de 2005. Capítulo III – Dos Incentivos à

Inovação Tecnológica. Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, 21 nov. 2005.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11196.htm>.

Acesso em: 09 nov. 2011.

BRESCHI, Stephano.; MALERBA, Franco. Sectoral Innovation Systems: technological

regimes, Schumpeterian dynamics, and spatial boundaries. In: Systems of Innovation:

Growth, Competitiveness and Employment (Ed. EDQUIST, C.; McKELVEY.). Vol. 2.

Edward Elgar Publishing. 2000.

CAMPOS, Margarida. O Projeto Nacional Desenvolvimentista, a Dinâmica da

Agricultura e as configurações espaciais – 1964 a 1979. Rio de Janeiro: Espaço Aberto,

PPGG – UFRJ, Vol. 1 nº1. 2011 (pgs. 45-62)

CAMPOS, Sérgio Antonio Riberio. O Sistema de Inovação do Setor de Papel e Celulose

Brasileiro: o caso da Aracruz Celulose e o projeto GENOLYPTOS. Dissertação de Mestrado

– Programa de Pós-Graduação em Economia Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória:

2010

CASSIOLATTO, José E.; LASTRES, Helena M. M. Inovação, Globalização e Novas

Políticas de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico. Rio de Janeiro: Globalização e

Inovação Localizada – IE/UFRJ. Nota Técnica 21/98. 1998

CASSIOLATO, J.E; BERNARDES, R.; LASTRES, H. Transfer of Technology for

Successful Integration into the Global Economy: A case study of Embraer in Brazil. In:

UNCTAD, NY and Geneva, www.unctad.org., 2002.

CASSIOLATO, J.E.; SZAPIRO, M. Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

no Brasil. Série, Redesist-UFRJ: Proposição de Políticas para a Promoção de Sistemas

Produtivos Locais de Micro, Pequenas e Médias Empresas. Setembro de 2002.

CASSIOLATO, José E.; VILLASCHI, Arlindo F.; CAMPOS, Renato R. Local Productive

and Innovative Systems in Brazil: a Policy. Cap. 23. In: CASSIOLATTO, José E.;

LASTRES, Helena M.M.; MACIEL, Maria L. (Ed.) Systems of Innovation and Development

– evidence from Brazil. Cheltenham: Edward Elgar, 2003.

CASSIOLATTO, José E.; LASTES, Helena M.M.; MACIEL, Maria L. (Ed.) Systems of

Innovation and Development – evidence from Brazil. Cheltenham: Edward Elgar, 2003.

CASTELLACCI, Fulvio; GRODAL, Stine; MENDONÇA, Sandro; WIBE, Mona. Advances

and Challenges in Innovation Studies. Journal of Economic Issues. Vol. 39, nº 1. 2005 (pgs.

91-121)

179

CASTRO, Lavínia Barros de. Esperança, Frustração e Aprendizado: a história da Nova

República. In: GIAMBIAGI, Fábio. (et. al.) Economia Brasileira Contemporânea. Rio de

Janeiro: Elsevier. 2005 (2ª reimpressão)

CAVALCANTE, Luiz R. Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil: uma

análise com base nos indicadores agregados. Texto para Discussão nº 1458. Rio de Janeiro:

IPEA. 2009

CAVALIERI, Marco A. R. O Surgimento do Institucionalismo Norte-Americano: Um

Ensaio Sobre o Pensamento e o Tempo de Thorstein Veblen. Tese de Doutorado –

Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo

Horizonte: 2009.

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Institutos do

Milênio. Disponível em: <http://www.cnpq.br/programas/milenio/index.htm> Acesso em: 27

de fevereiro de 2012.

CONCEIÇÃO, Octavio A. C. O Conceito de Instituição nas Modernas Abordagens

Institucionalistas. Rio de Janeiro: Revista Econômica Contemporânea. Volume 6, 2002.

COSTA, Carlos A. N. Política Industrial no Brasil: 1974 – 1989. Tese de Doutorado –

Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Campinas: 1994.

COUTINHO, Luciano G. Macroeconomic Regimes and Business Strategies: an alternative

industrial policy for Brazil in the wake of the 21st century. Cap. 12 In: CASSIOLATTO, José

E.; LASTES, Helena M.M.; MACIEL, Maria L. (Ed.) Systems of Innovation and

Development – evidence from Brazil. Cheltenham: Edward Elgar, 2003.

DE PAULA, Nilson; PORCILE, Gabriel; SCATOLIN, Fábio. Strengthening and

weakening local capabilities: the case of the local innovation system in the Paraná soybean

agroindustrial sector. Cap. 17 (pgs. 426-440) In: CASSIOLATTO, José E.; LASTES, Helena

M.M.; MACIEL, Maria L. (Ed.) Systems of Innovation and Development – evidence from

Brazil. Cheltenham: Edward Elgar, 2003.

DINIZ, Clélio C. Globalization, Territorial Scales, and Regionalized Policy in Brazil. Cap.

7. In: CASSIOLATTO, José E.; LASTES, Helena M.M.; MACIEL, Maria L. (Ed.) Systems of

Innovation and Development – evidence from Brazil. Cheltenham: Edward Elgar, 2003.

DOSI, Giovanni; FREENAN, Christopher; NELSON, Richard; SILVERBERG, Gerald;

SOETE, Luc. Technical Change and Economic Theory. UK: Pinter Publishers, 1988.

DOSI, Giovanni. (1984) Mudança Técnica e Transformação Industrial: A teoria e uma

aplicação à indústria de semicondutores. Traduzido por: SZLAK, Carlos D. Campinas:

Editora da Unicamp. 2006

EDQUIST, Charles. The Systems of Innovation Approach and Innovation Policy: An

Account of the State of the Art. Aalborg: Nelson and Winter DRUID Summer Conference,

2001.

EMBRACO. Pesquisa e Desenvolvimento. Disponível em:

<http://www.embraco.com/Default.aspx?tabid=84> Acesso em 15 de março de 2012.

180

EMBRAPA. Ciência, Gestão e Inovação: dimensões da agricultura tropical. Brasília:

Embrapa – Assessoria de Comunicação Social. 2008

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária:Unidades de pesquisas e

serviços. Disponível em: <http://www.embrapa.br/a_embrapa/unidades-de-pesquisa-e-de-

servicos> acesso em 05 de novembro de 2011.

EMBRAPA SOJA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em:

<http://www.cnpso.embrapa.br/index.php?op_page=25&cod_pai=29>, acesso em 02 set. 2011

ERBER, Fabio Stefano. Inovação Tecnológica na Indústria Brasileira no Passado

Recente: uma resenha da literatura econômica. Texto para discussão CEPAL-IPEA nº 17.

Brasília: CEPAL/ Escritório do Brasil, 2010.

FEINSON, Sthepen. National Innovation Systems Overview and Country Cases.

Knowledge Flows and Knowledge Collectives: Understanding the Role of Science and

Technology Policies in Development. Center for Science, Policy and Outcomes, Columbia

University. Vol. 1. Sec.1. 2003

FELIPE, Ednilson Silva. Instituições e Mudanças Institucionais numa Ótica

Evolucionária: uma abordagem a partir dos conceitos e da metodologia neo-schumpeteriana.

Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Economia Universidade Federal

do Espírito Santo. Vitória: 2006

FERREIRA, Marcos J. B. Dinâmica da Inovação e Mudanças Estruturais: Um estudo de

caso da Indústria Aeronáutica Mundial e a Inserção Brasileira. Tese de Doutorado. Instituto

de Economia – Doutorado em Teoria Econômica da Universidade Estadual de Campinas.

Campinas: 2009.

FIESP. A Competitividade e o Desenvolvimento Econômico: algumas questões para

reflexão. São Paulo: FIESP – Departamento de Competitividade e Tecnologia. 2005

FINEP. O que são os Fundos de C&T. Disponível em:

<http://www.finep.gov.br/fundos_setoriais/fundos_setoriais_ini.asp >, acesso em 30 de

outubro de 2011.

FREEMAN, Christhopher. The 'National System of Innovation' in historial perspective.

Cambridge Journal of Economics. Vol. 19. 1995 (pgs. 5-24)

GIAMBIAGI, Fábio; VILLELA, André; CASTRO, Lavínia Barros de; HERMANN, Jennifer.

(org.) Economia Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro: Elsevier. 2005 (2ª reimpressão)

GUIMARÃES, Eduardo A. Síntese Setorial: a pesquisa científica e tecnológica e as

necessidades do setor produtivo. In: SCHWARTZMAN, Simon. (coord.) Ciência e

Tecnologia no Brasil: política industrial, mercado de trabalho e instituições de apoio. Rio de

Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1995.

GODIN, Benoît. National Innovation System: The System Approach in Historical

Perspective. Science, Technology, & Human Values. Vol. 34, nº 4. 2009 (pgs. 476-501)

GODIN, Benoît. The New Economy: what the concept owes to the OECD. Research Policy.

Vol. 33, 2004 (pgs. 679-690)

181

GRYNZPAN, Flavio. O Investimento Privado em P&D pela Indústria de Transformação

no Brasil. In: Avaliação de Políticas de Ciência , Tecnologia e Inovação: diálogo entre

experiências internacionais e brasileiras. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos,

2008. (pgs. 99-136)

HODGSON, Geoffrey M. Thorstein Veblen and Post-Darwinian Economics. Cambridge

Journal of Economics. Vol. 16. 1992 (pgs. 285-301)

HODGSON, Geoffrey. (1988) Economia e Instituições – Manifesto por uma Economia

Institucionalista Moderna. Traduzido por: BARRADAS, Ana. Oeiras: Celta, 1994.

HODGSON, Geoffrey M. On the Evolution of Thorstein Veblen's Evolutionary

Economics. Cambridge Journal of Economics. Vol. 22. 1998 (pgs. 415-431)

HODGSON, Geoffrey. What is the Essenceof Institutional Economics? Journal of

Economics Issues. Vol. 34, nº 2. 2000 (pgs. 317- 330)

HODGSON, Geoffrey.The Hidden Persuaders: Institutions and Individuals in Economic

Theory.Cambridge Journal of Economics. Vol. 27, nº2. 2003 (pags.159-175)

HODGSON, Geoffrey The Evolutions of Institutional Economics: Agency, Structure and

Darwinism in American Institutionalism. London: Routledge, 2004.

HONG, Y. S. Evolution of the Korean National Innovation System: towards an integrated

model. In: OECD. Governance of innovation systems, v. 2, Paris: OECD, 2005.

HOUNIE, Adela; PITTALUGA, Lucía; PORCILE, Gabriel; SCATOLIN, Fábio. ECLAC

and the new growth theories. Cepal Review 68, 1999. (pags. 7-34)

IBGE. Pesquisa de Inovação Tecnológica, PINTEC- 2008: instruções para o preenchimento

do questionário. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

IBGE. Pesquisa de Inovação Tecnológica: 2008. IBGE- Coordenação de Indústria. Rio de

Janeiro: IBGE, 2010.

IBGE. Pintec – Pesquisa de Inovação Tecnológica. Disponível em:

<http://www.pintec.ibge.gov.br>, acesso em 22 de janeiro de 2012.

JAGUARIBE, Anna Maria. A Política Tecnológica e sua Articulação com a Política

Econômica: elementos para a análise da ação do Estado. Texto para Discussão nº 115. Rio de

Janeiro: UFRJ/Instituto de Economia Industrial, 1987.

JOHNSON, Björn. Institutional Learning. In: LUNDALL, Bengt-Åke. National Systems of

Innovation Towards a Theory of Innovation and Interactive Learning. London: Pinter, 1992.

Capítulo 2 (pgs. 23-44)

JUDT, Tony. Pós Guerra: uma História da Europa desde 1945. Traduzido por: O‘SHEA José

Roberto. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

KAISER, Robert; PRANGE, Heiko. The Reconfiguration of National Innovation Systems

in OECD Countries. International Conference ―Innovation in Europe: Dynamics, Institutions

and Values‖. Denamark, 2003.

182

KRIEGER, Eduardo M; GALEMBECK, Fernando. A Capacitação Brasileira para a

Pesquisa. In: SCHWARTZMAN, Simon (coord.). Ciência e Tecnologia no Brasil: a

capacitação brasileira para a pesquisa científica e tecnológica. Volume: 3. Rio de Janeiro:

Fundação Getúlio Vargas, 1996. (pgs. 1-18)

LIMA, Heitor Ferreira. História Político-Econômica e Industrial do Brasil. 2ª Ed. São

Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.

LIMA, Jorge C. C. de O.; PINTO, Marco A. C.; MIGON, Márcio N.; MONTORO,

Guilherme C. F.; ALVES, Marcelo de F. A Cadeia Aeronáutica Brasileira e o Desafio da

Inovação. BNDES Setorial. Rio de Janeiro: n. 21, 2005.

LIMA, Paulo Gomes. Política Científica e Tecnológica: países desenvolvidos, América

Latina e Brasil. Dourados, MS: Editora da UFGD, 2009.

LIST, Georg Friedrich. (1841) Sistema Nacional de Economia Política. Traduzido por:

BARAÚNA, Luiz João. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

LUNDALL, Bengt-Åke. Innovations as an Interactive Process: from user-producer

interaction to the national system of innovation. In: Technical Change and Economic

Theory (Dosi et. al) 1988. Capítulo 17.

LUNDALL, Bengt-Åke. National Systems of Innovation Towards a Theory of Innovation

and Interactive Learning. London: Pinter, 1992.

LUNDALL, Bengt-Åke; JOHNSON, Björn; ANDERSEN, Esben S.; DALUM, Bent.

National Systems of Production, Innovation and Competence-building. Aalborg: Nelson

and Winter DRUID Summer Conference, 2001

LUNDVALL, Bengt-Åke; JOHNSON, Björn; EDQUIST, Charles. Economic Development

and the National System of Innovation Approach. Rio de Janeiro: First Globelics

Conference, november, 2003.

LUNDVALL, Bengt-Åke. National Innovation Systems – Analytical Concept and

Development Tool. Copenhagen: DRUID Conference, june, 2005.

LUNDVALL, Bengt-Åke. Innovation System Research Where it came from and where it

might go. Saratov: Fifth Globelics Conference, september, 2007

MACEDO, André L. O.; CAMPOS, Renato R. Esforço Tecnológico das Empresas Líderes

do Complexo Metal-Mecânico em Santa Catarina na Década de 90: os casos da Embraco,

Weg, Tupy e Busscar. Textos de Economia vol.7, nº1. Florianópolis: Universidade Federal de

Santa Catarina. 2002 (pgs. 35-58)

MALERBA, Franco. Sectoral Systems of Innovation and Production. Rebild: DRUID

Conference on NIS, Industrial Dynamics and Innovation Policy, june, 1999.

MALERBA, Franco. Sectorial Systems of Innovation: concepts, issues and analyses of six

major sectors in Europe. UK: Cambridge University Press, 2004.

MAPA. Biotecnologia Agropecuária. Boletim Técnico. Brasília: Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento. 2010.

183

MCT. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional – Plano de Ação

2007-2010. Brasília, 2007a.

MCT. Guia Prático de Apoio à Inovação Para Empresas. Brasília, 2009

MCT. Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico: Fundos Setoriais –

Relatório de Gestão 2007-2009. Brasília, 2010a.

MCT. Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação: principais resultados e avanços

2007-2010. Brasília, 2010b.

MCT. SIBRATEC – Sistema Brasileiro de Tecnologia: Ciência e Tecnologia a Serviço da

Empresa Brasileira. Brasília, 10/12/2010c.

MCTI. Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2012-2015: Balanço das

Medidas Estruturantes 2011. Brasília: MCTI, 2012.

MDIC. Brasil Maior: Inovar para Competir, Competir para Crescer – Plano 2011/2014.

Brasília: 2011. Disponível em: <http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/wp-

content/uploads/2011/11/plano_brasil_maior_texto_de_referencia_rev_out11.pdf> Acesso em

20 de fevereiro de 2012.

MDIC. Plano Brasil Maior: Agenda e Situação das Medidas de Lançamento. Brasília:

13/02/2012. Disponível em: <http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/wp-

content/uploads/2012/02/agenda-e-medidas-atualizadas-13-fevereiro-2012.pdf> Acesso em

20 de fevereiro de 2012.

MORAIS, José Mauro de. Uma Avaliação dos Programas de Apoio Financeiro à Inovação

Tecnológica com Base nos Fundos Setoriais e na Lei da Inovação. In: NEGRI, J. A. &

KUBOTA, L. C. (orgs.). Políticas de incentivo à inovação tecnológica no Brasil. Rio de

Janeiro: IPEA / Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2008, pg.

67-105

NASCIMENTO, Paulo A. M. M.; OLIVEIRA, João M. de. Redirecionamento,

Redistribuição, Indução ou Nenhuma das Alternativas? Exame do Papel das Ações

Transversais no FNDCT entre 2004 e 2008. Texto para Discussão nº 1664. Brasília: IPEA,

2011.

OECD. Convention on the Organisation for Economic Co-operation and Development.

Paris: OECD, 1960. Disponível em

<http://www.oecd.org/document/7/0,3343,en_2649_201185_1915847_1_1_1_1,00.html>.

Acesso em 02 de junho de 2011.

OECD. National Innovation Systems. Paris: OECD, 1997.

OECD. Technology, Productivity and Job Creation: Best Policy Practices. Paris: OECD,

1998.

OECD. Managing National Innovation System. Paris: OECD, 1999a.

OECD. Innovative Networks: Co-operation in National Innovation Systems. Paris: OECD,

2001.

OECD. Dynamising National Innovation System. Paris: OECD, 2002a.

184

OECD. Fracasti Manual: proposed standard practice for surveys on research and

experimental development. Paris: OECD, 2002b, 6ª ed.

OECD. Oslo Manual: guidelines for collecting and interpreting innovation data. Paris:

OECD, 2005a, 3ª ed.

OECD. Governance of Innovation Systems. Paris: OECD. Vol. 1 (Synthesis Report). 2005b

OECD. OECD Science, Technology and Industry Scoreboard. Paris: OECD. 2005c

OECD. The Marshall Plan: Lessons Learned for the 21st Century. Paris: OECD, 2008.

OECD. OECD Science, Technology and Industry Scoreboard. Paris: OECD, 2009.

OECD. OECD Science, Technology and Industry Outlook 2010. Paris: OECD, 2010.

OECD. Secretary- General’s Report to Ministers 2011. Paris: OECD, 2011.

OECD. Organisation for European Economic Co-operation. Disponível em

<http://www.oecd.org/document/48/0,3746,en_2649_201185_1876912_1_1_1_1,00.html>.

Acesso em 02 de junho de 2011.

OECD. Acession: Estonia, Israel and Slovenia invited to join OECD. Disponível em

<http://www.oecd.org/document/57/0,3343,en_2649_201185_45159737_1_1_1_1,00.html>.

Acesso em 17 de agosto de 2011.

OLIVEIRA, Luiz Guilherme de. A Cadeia de Produção Aeronáutica no Brasil: Uma

Análise sobre os Fornecedores da Embraer. Tese de Doutorado. Instituto de Geociências –

Doutorado em Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas.

Campinas: 2005.

PACHECO, Carlos A. A Criação dos “Fundos Setoriais” de Ciência e Tecnologia. Revista

Brasileira de Inovação. Vol. 6, nº 1. 2007

PEREIRA, Luiz Bresser. Economia Brasileira: Uma Introdução à Crítica. 11ª Ed. São Paulo:

Brasiliense, 1994.

PINTEC. Pesquisa de Inovação Tecnológica. Disponível em:

<http://www.pintec.ibge.gov.br>, acesso em 15 de abril de 2012.

REIS, Raquel Vilarino. Avaliação ex-post de Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento: o

Caso do Telecárdio. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Economia

Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória: 2010

RAPINI, M.S.; ALBUQUERQUE, E. M.; SILVA, L. A.; SOUZA, S. G. A.; RIGHI, H. M.; e

CRUZ, W. M. S. Spots of interaction: an investigation on the relationship between firms

and universities in Minas Gerais, Brazil. Texto para discussão nº 286. Belo Horizonte:

Cedeplar/UFMG. 2006

RAPINI, Márcia Siqueira. Interação Universidade-Empresa no Brasil: evidências do

Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. São Paulo: Estudos Econômicos, Vol 37, nº1.

2007 (pgs. 211-233)

185

RIP, Arie; MEULEN, Barend J.R. Von der. The Post Modern Research System. Science

and Public Policy. Vol. 23, nº 6. 1996 (pg. 343- 352)

SALERNO, M. S. & KUBOTA, L. C. ―Estado e inovação‖. In: NEGRI, J. A. & KUBOTA, L.

C. (orgs.). Políticas de incentivo à inovação tecnológica no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA /

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2008, pg. 13-64.

SCATOLIN, Fábio D.; PORCILE, Gabriel; SBICCA, Adriana; DRUMMOND, Carlos

Manuel. Sistemas Regionais de Inovação: estudos de caso no estado do Paraná. Rio de

Janeiro: Globalização e Inovação Localizada – IE/UFRJ. Nota técnica 28/98. 1998

SCHWARTZMAN, Simon (coord.). Ciência e Tecnologia no Brasil: a capacitação brasileira

para a pesquisa científica e tecnológica. Volume: 3. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,

1996.

SAMUELS, Warren J. The Present State of Institutional Economics. Cambridge Journal of

Economics, Vol. 19. 1995 (pgs. 569-590)

SENNES, Ricardo. Inovação no Brasil: políticas públicas e estratégias empresariais. São

Paulo: Wilson Center Brazil Institute, 2008. Disponível em:

<http://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/Innovation%20Public%20Private%20Strategi

es%20Portuguese.pdf>. Acesso em 09 de novembro de 2011.

SMITH, Adam. (1776) A Riqueza das Nações: Investigação Sobre sua Natureza e suas

Causas. Traduzido por: BARAÚNA, Luiz João. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

SOUZA, Nilson Araújo de. Economia Brasileira Contemporânea: De Getúlio a Lula. 2ª Ed.

São Paulo: Atlas, 2008.

SZAPIRO, Marina. Capacitação Tecnológica em Telecomunicações no Brasil:

Desenvolvimento e Impactos de Reestruturação do Setor. Dissertação de Mestrado – Instituto

de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1999.

SUZIGAN, Wilson; FURTADO, João. Política Industrial e Desenvolvimento. Revista de

Economia Política. Vol. 26 nº2 (102). 2006 (pgs. 163-185)

TARKIAINEN, Ari. From welfare to innovation: STI policies under the spotlight.

Väitöskirja: Joensuun yliopisto, 2009. Disonível em:

<http://epublications.uef.fi/pub/urn_isbn_978-952-219-228-8/urn_isbn_978-952-219-228-

8.pdf> Acesso em: 19 de agosto de 2011.

VEBLEN, Thorstein. Why is Economics not an Evolutionary Science. The Quaterly

Journal of Economics. Vol. 12, nº 4. 1898 (pgs. 373- 397)

VEBLEN, Thorstein. (1899) A Teoria da Classe Ociosa: um Estudo Econômico das

Instituições. Traduzido por: KRÄHENBÜHL, Olívia. 2ª Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

VEBLEN, Thorstein. As Limitações das Utilidade Marginal. Journal of Political Economy.

Vol. 17, nº 9. 1909 (pgs. 620-636)

VILLASCHI, Arlindo. Paradigmas e Desenvolvimento. Vitória: EDUFES. 1996

186

VILLASCHI, Arlindo. An Analytical Framework for Understanding the Finnish National

System of Innovation. Finland: ETLA (The Research Institute of the Finnish Economy)-

Discussion Paper, 2002.

VILLASCHI, Arlindo; CAMPOS, Renato R. Sistemas/Arranjos Produtivos Localizados:

conceitos históricos para novas abordagens. In: CASTILHOS, Clarisse C. (coord) Programa

de Apoio aos Sistemas Locais de Produção: a construção de uma política pública no RS.

Porto Alegre: Secretaria de Coordenação de Planejamento, 2002 (pags. 11-48)

VILLASCHI, Arlindo. ANOS 90, uma década perdida para o sistema nacional de

inovação brasileiro? São Paulo em Perspectiva, Vol. 19, nº2. 2005 (pgs. 3-20)

VILLASCHI, Arlindo; FELIPE, Ednílson S. Recent Change in the Brazilian National

System of Innovations: a case institutional learning. In: 5th

International Conference

Developments in Economic Theory and Policy, 2008.

VIOTTI, Eduardo B. National Learning Systems A new approach on technological change

in late industrializing economies and evidence from the cases of Brazil and South Korea.

Technological Forecasting & Social Change. Vol. 69. 2002 (pgs. 653-680)

VIOTTI, Eduardo B. Brasil: de política de C&T para política e inovação? Evolução e

Desafios das Políticas Brasileiras de Ciência, Tecnologia e Inovação. In: Avaliação de

Políticas de Ciência , Tecnologia e Inovação: diálogo entre experiências internacionais e

brasileiras. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2008. (pgs. 137-175).