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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZANDO AS REDES SOCIAIS VIRTUAIS Robson Santos de Oliveira (UFRPE) i Este artigo traz abordagem de experiências pedagógicas realizadas em ambientes eletrônicos, como as Redes Sociais Virtuais (RSV). O objetivo é apontar as propriedades que emergem dos usos que se pode fazer das RSV, como o Orkut e Facebook, dentro de um framework pedagógico, visando a facilitar a aprendizagem, ampliar espaços e tempos educacionais, motivar alunos para as atividades de formação acadêmica e apropriar-se do letramento digital já construído por eles. Para isso, selecionamos o Orkut e o Facebook pelas ferramentas que disponibilizam num caráter de convergência de várias mídias e aplicativos em suas interfaces de navegação e usabilidade, tais como disponibilização de vídeos, fóruns e álbuns de fotos. As experiências didático pedagógicas permitiram observar limites e possibilidades de utilizar o Orkut e o Facebook como ambiente virtual de aprendizagem, dando expansibilidade à aula presencial através de atividades e interações que são realizadas neste espaço tecnológico em outro tempo que não aquele apenas da sala de aula. Nesse sentido evidencia-se uma nova configuração de espaço tempo pedagógico permitida por estas RSVs, exigindo um novo olhar e um novo caminhar na práxis pedagógica contemporânea. Os ambientes online, como as RSV fazem parte do letramento digital cotidiano de crianças e adolescentes, da nova geração, exigindo que educadores e profissionais da educação possam estar atentos para as novas práticas pedagógicas e os novos cenários do século XXI. Estes ambientes e ferramentas disponibilizadas pelas tecnologias constituem o substrato da cultura digital, a cibercultura, caracterizada pelo uso das mídias no cotidiano, pela convergência dessas mídias em suportes compactos, favorecendo conectividade e mobilidade de comunicação. Palavras-chaves: Práxis pedagógica virtual; Orkut; Facebook. Introdução Vivenciamos novos tempos em que o uso das tecnologias como dispositivos culturais predominantes forçam as pessoas a se tornarem cada vez mais dependentes delas. É o tempo da cibercultura proclamada por Lévy (1996; 2000), Kerckhove (1997) e que Santaella (2003) sobrepõe com uma pergunta inquietadora e investigativa: “uma era pós-midiática?”. Neste horizonte de contemporaneidade as tecnologias constituem ferramentas culturais que se enraizaram de tal modo no chão das sociedades, de seu cotidiano que seria assustador se as retirássemos abruptamente. No campo educacional os alunos e alunas que chegam à sala de aula estão todos e todas, de alguma forma, com algum tipo de letramento digital, principalmente as crianças que nasceram sob o uso generalizado das novas tecnologias, como afirmam Venn e Vrakking (2006) ao denominarem-nas geração homo zappiens. Tais crianças e Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola EdUECE- Livro 1 03802

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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZANDO AS REDES SOCIAIS VIRTUAIS

Robson Santos de Oliveira (UFRPE)i

Este artigo traz abordagem de experiências pedagógicas realizadas em ambientes

eletrônicos, como as Redes Sociais Virtuais (RSV). O objetivo é apontar as

propriedades que emergem dos usos que se pode fazer das RSV, como o Orkut e

Facebook, dentro de um framework pedagógico, visando a facilitar a aprendizagem,

ampliar espaços e tempos educacionais, motivar alunos para as atividades de formação

acadêmica e apropriar-se do letramento digital já construído por eles. Para isso,

selecionamos o Orkut e o Facebook pelas ferramentas que disponibilizam num caráter

de convergência de várias mídias e aplicativos em suas interfaces de navegação e

usabilidade, tais como disponibilização de vídeos, fóruns e álbuns de fotos. As

experiências didático pedagógicas permitiram observar limites e possibilidades de

utilizar o Orkut e o Facebook como ambiente virtual de aprendizagem, dando

expansibilidade à aula presencial através de atividades e interações que são realizadas

neste espaço tecnológico em outro tempo que não aquele apenas da sala de aula. Nesse

sentido evidencia-se uma nova configuração de espaço tempo pedagógico permitida por

estas RSVs, exigindo um novo olhar e um novo caminhar na práxis pedagógica

contemporânea. Os ambientes online, como as RSV fazem parte do letramento digital

cotidiano de crianças e adolescentes, da nova geração, exigindo que educadores e

profissionais da educação possam estar atentos para as novas práticas pedagógicas e os

novos cenários do século XXI. Estes ambientes e ferramentas disponibilizadas pelas

tecnologias constituem o substrato da cultura digital, a cibercultura, caracterizada pelo

uso das mídias no cotidiano, pela convergência dessas mídias em suportes compactos,

favorecendo conectividade e mobilidade de comunicação.

Palavras-chaves: Práxis pedagógica virtual; Orkut; Facebook.

Introdução

Vivenciamos novos tempos em que o uso das tecnologias como dispositivos

culturais predominantes forçam as pessoas a se tornarem cada vez mais dependentes

delas. É o tempo da cibercultura proclamada por Lévy (1996; 2000), Kerckhove (1997)

e que Santaella (2003) sobrepõe com uma pergunta inquietadora e investigativa: “uma

era pós-midiática?”. Neste horizonte de contemporaneidade as tecnologias constituem

ferramentas culturais que se enraizaram de tal modo no chão das sociedades, de seu

cotidiano que seria assustador se as retirássemos abruptamente.

No campo educacional os alunos e alunas que chegam à sala de aula estão

todos e todas, de alguma forma, com algum tipo de letramento digital, principalmente as

crianças que nasceram sob o uso generalizado das novas tecnologias, como afirmam

Venn e Vrakking (2006) ao denominarem-nas geração homo zappiens. Tais crianças e

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 103802

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jovens notoriamente compreendem muito mais a tecnologia atual do que as pessoas que

as educam. Tapscott (1999) também denominaria tais grupos como sendo a geração

digital, tendo apresentado resultado de pesquisas com estudantes adolescentes e

professores e obtendo resultados que apontam para novas formas de ensinagem-

aprendizagem em contraposição a antigas formas pedagógicas. Segundo Tapscott

(1999) o “antigo jeito de aprender” está centrado no professor, numa atitude passiva e

individualizada do aluno, estabelecido numa didática estática. Em decorrência das novas

tecnologias o “novo jeito de aprender” está centrado no aluno, numa atitude

participativa e colaborativa do aluno, desenhado numa didática dinâmica e flexível.

A esse respeito Xavier (2002) propôs a ideia de letramento digital que se

realiza pelo uso intenso das novas tecnologias de informação e comunicação e pela

aquisição e domínio dos vários gêneros digitais, sugerindo que os profissionais de

educação desenvolvam estratégias pedagógicas eficazes para enfrentar os novos

desafios que estão postos, assim preparando melhor os(as) alunos(as) para o novo

século. Por sua vez Freitas (2005; 2009) vai utilizar a terminologia criada por Mark

Prensky (2001), os nativos digitais e os imigrantes digitais para alertar os(as)

professores(as) sobre atualização pedagógica considerando a cibercultura. O autor

afirma que “os alunos de hoje não são mais as pessoas que nosso sistema educacional

foi projetado para ensinar”, exigindo-nos novas práticas e atuais recursos para o

processo de ensinagem e de aprendizagem.

Conscientes dessa realidade observamos que o uso da internet, por exemplo,

tem sido uma prática vigente por parte de crianças e adolescentes, de modo precoce e

crescente nos últimos anos, conforme aponta os dados do PNAD no IBGE (cf. BRASIL,

2005). Dos dados apresentados observamos que a faixa etária dos 10 aos 24 anos

apresenta o maior índice de utilização da internet, sempre acima de 30%. A faixa etária

de 25-29 anos apresentou índice de 27,1 de uso da internet. Tais estatísticas apontam

para uma realidade de crianças e adolescentes que adentram as escolas e se posicionam

diante o professor em sala de aula: eles já vem letrados digitalmente, assumem o

estatuto da geração digital (TAPSCOTT, 1999) ou de nativos digitais (PRENSKY,

2001). Na contramão dessa nova realidade observamos que as gerações mais antigas

acessam bem menos a internet, o que se refletem em professores(as) que não tem o

hábito da acessibilidade digital e virtual.

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EdUECE- Livro 103803

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A par disso ocorre um uso crescente das Redes Sociais Virtuais (RSV), estas

que são ambientes da internet onde as pessoas se conectam umas às outras através de

perfis criados, ondem mantem uma rede de relacionamentos. Atualmente o Orkut tem

apresentado decréscimo em termos de usuários e acessibilidade em relação ao Facebook

que se projeta de forma crescente continuamente. É notório o crescimento do Facebook

atuamente, observando-se a estatística de pesquisas de recente relatório da

WeAreSocialii que publicou dados sobre internet (Social, Digital & Mobile Around The

World – January 2014)iii

apresentando dados relevantes sobre as RSVs e o perfil dos

internautas brasileiros: a) quase metade dos brasileiros tem acesso à internet (quase 40%

tem internet mobile) e, dentre eles, quase todos usam alguma mídia social; b) 94% têm

conta no Facebook (57% usaram recentemente); c) 75% têm conta no Google+ (28%

usaram recentemente); d) 56% têm conta no Twitter (21% usaram recentemente); e)

54% têm conta no LinkedIn (13% usaram recentemente); f) 39% têm conta no Orkut

(12% usaram recentemente).

Mesmo considerando essa realidade atual, com a proeminência do Facebook

em relação ao Orkut, neste artigo apresentamos as experiências realizadas nos dois

ambientes virtuais, esclarecendo que atualmente as práticas pedagógicas estão sendo

realizadas apenas no Facebook em decorrência dessa migração virtual que ocorreu entre

essas duas RSVs.

Orkut como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)

O Orkut é um serviço de rede social da Internet associado ao Google

(www.google.com) e disponibiliza a criação de uma rede relacionamentos (novas

pessoas agregadas ao seu perfil). A entrada nesta RSV se faz através de um email, com

o qual é realizado o seu cadastro pessoal (perfil), onde é possível apresentar

identificações pessoais (fotos, nome, formação escolar e profissional etc.). É

disponibilizada para cada perfil a possibilidade de criar álbuns de fotos, bem como

coletânea de vídeos. A interfase gráfica oferece um espaço para a exposição de suas

mensagens (postagens), onde as pessoas da sua rede de relacionamentos poderão

interagir. Destacamos desta RSV o recurso de Comunidades, ou seja, é possível ao

usuário criar um ambiente de grupo onde outras pessoas poderão entrar, sendo

convidadas ou atraídas pelos assuntos ali tratados, realizando Fóruns (debates

temáticos).

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EdUECE- Livro 103804

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A experiência com essa RSV foi realizada através das Comunidades criadas

pelo professor em duas Instituições de Ensino Superior no período de 2008-2009: I)

UFPE (Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste/Caruaru),

na disciplina Educação e Tecnologias, no curso de Pedagogia; II) FAFICA (Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru), nas disciplinas de Cibercultura, do curso de

Filosofia e na disciplina de Tecnologia da Informação, do curso de Administração.

Optamos pelo Orkut como ensaios metodológicos de tecnologias educacionais,

por diversas razões: a) Conhecimento e uso por parte da maioria de alunas e alunos; b)

Acesso mais fácil, mesmo fora dos laboratórios; c) Prática de lecto-escrita hipertextual

(letramento digital); d) Disponibilização dos recursos oferecidos como ambiente de

Fórum, Enquetes e Eventos; e) RSV mais utilizada àquela época.

Compreendemos que as possibilidades oferecidas, embora mínimas ainda que

sejam, para as práticas educacionais, aproximam-se dos Ambientes Virtuais de

Aprendizagem (AVA) como o Moodle, por exemplo, permitindo alguns „movimentos‟

pedagógicos, mobilizando os diversos saberes de alunas e alunos, professoras e

professores, bem como o acesso aos dados e informações de outras pessoas

disponibilizados na Internet. Nesse sentido, Araújo (2006) já apresentava sua

preocupação e interesse sobre essa “nova sociabilidade” encontrada no Orkut, devendo

a Escola inclusive estar atenta para ela, “não fechar os olhos” para esse novo gênero

emergente na tecnologia digital.

Melo (2007) discutindo o Orkut como construção de redes sociais identificou

tanto esse aspecto pessoal quanto o coletivo dos seus usuários, ampliando

relacionamentos e realizando interações. Apropriando-se dessa disponibilidade de

integração de pessoas sob um eixo temático, ou seja, uma comunidade, realizamos “a

geração de valores compartilhados” sob uma orientação metodológica educacional

transformando o que seria simplesmente um espaço para troca de ideias e debates num

Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Percebe-se, portanto, que o Orkut mesmo

não sendo citado explicitamente, pode, contudo, estar inserido na categoria das

Comunidades Virtuais, reconhecidas pelo próprio Marcuschi (2005, p. 22) pela

existência de: (1) Membros; (2) Relacionamentos; (3) Confiança e reciprocidade

generalizada; (4) Valores e práticas partilhados; (5) Bens coletivos; (6) Durabilidade.

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EdUECE- Livro 103805

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Melo (2007, p. 37) define as comunidades do Orkut como sendo temáticas, ou

seja, formadas pelos usuários que se associam por interesses de conteúdo informacional

e que atendem às características mencionadas acima de Comunidades Virtuais.

Poderemos, assim, definir as comunidades do Orkut como espaços virtuais de interação,

associando pessoas por interesses temáticos, podendo ser abertas (públicas) ou fechadas

(restritas).

As comunidades do Orkut disponibilizam: 1) Fórum; 2) Enquetes; 3) Eventos;

4) Listagem de membros, conforme coluna A, na figura abaixo. Vejamos a seguir os

detalhes de uma comunidade do Orkut (Figura 1). O design de uma comunidade do

Orkut está em uma arquitetura de três colunas: (A) da esquerda, apresentando os links

ou principais subespaços da comunidade (fórum, enquetes, eventos, etc.); (B) central,

apresentando o perfil da comunidade e os resumos de Fórum e de Enquetes; (C) da

direita, apresentando os Membros da comunidade e as outras comunidades associadas.

Espaço privilegiado da comunidade, o Fórum é o ambiente de interação,

mesmo caracteristicamente assíncrono. Ali, os membros da comunidade registram seus

comentários e opiniões. No caso em estudo, os membros apresentaram seus resultados

de pesquisas e respostas aos exercícios propostos. Vejamos na Figura 2 (Comunidade

Educação e Tecnologia CAA UFPE) apresentada anteriormente, na coluna central, o

resumo dos tópicos do Fórum, onde podemos verificar que o tópico “Atividade-2 turma

2009.1” possui 19 postagens, ou seja, 19 mensagens ali apresentadas pelos usuários da

comunidade.

Se acessarmos esse tópico, teremos então o ambiente do Fórum correspondente

conforme Figura 2, no qual o professor propôs uma tarefa (Realizar resumo do texto de

Manuel Moran sobre Mídias na Educação) e os alunos, após a leitura do texto

recomendado, realizaram suas sínteses, compartilhando com os demais membros da

comunidade o seu saber elaborado e construído a partir de um referencial teórico. Essas

atividades no Fórum se constituíram numa espécie de Mural onde foram registrados as

produções de saberes dos alunos e das alunas, mediados pelos professor.

O Orkut, portanto, evidenciou-se nas três comunidades de cunho educacional

(Educação e Tecnologias, Cibercultura e Tecnologia da Informação), como um espaço

alternativo e de extensão às atividades pedagógicas de sala de aula, com resultados

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EdUECE- Livro 103806

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positivos até este momento da análise. O trabalho do professor, neste cenário, equivale

ao dos professores mediadores e tutores dos cursos de EAD, acompanhando as

produções de alunos e alunas, verificando necessidade de retificações e realizando as

intervenções necessárias tanto pessoalmente como em caráter coletivo, nas aulas

presenciais.

O Facebook como ambiente virtual de aprendizagem (AVA)

A ideia era criar uma rede de contatos para o jovem norte americanos que

estavam saindo do colegial e ingressando nas universidades. Inicialmente, a plataforma

foi desenvolvida e sendo focada nas escolas e colégios. Para ter acesso era preciso ser

membro das instituições reconhecidas, fazer um cadastro com um email pessoal e

construir sua rede de relacionamentos. Assim surgiu o Facebook em fevereiro de 2004

(RECUERO, 2009; KIRKPATRICK, 2011).

Uma descrição detalhada do Facebook foi realizada por Matos (2013) que para

uma visualização mais didática apresentou o design da página em três eixos,

denominados de eixo esquerdo, central e direito conforme apresentado na figura 3.

Estes três eixos possuem uma dinamicidade com atualizações constantes, ou seja, a

página sempre estará tendo modificações (novos anúncios, novas postagens na sua

linha-do-tempo etc.).

O Eixo Esquerdo (figura 3) disponibiliza um painel de controle com

configurações diversas que permite ao usuário do Facebook inscrever-se em grupos ou

criar um grupo, curtir páginas, instalar aplicativos (games, programas etc.) bem como

modificar dados de seu perfil, ou seja, permite um gerenciamento do seu perfil na RSV.

Já o Eixo Central (figura 3), encontramos a área "Compartilhar" também denominada

linha-do-tempo ou timeline. É nesse espaço da interface gráfica do Facebook que o

usuário poderá enviar mensagens (postagens) utilizando os ícones “Status” ou “Enviar

Fotos/Vídeos” e escrevendo no campo onde já está escrito “O que você está

pensando?”. Também nesse Eixo Central o usuário poderá ler as mensagens que foram

postadas por outros usuários que fazem parte de sua rede de relacionamentos. O Eixo

Direito (figura 3) além de links para "Página inicial", "Perfil" e "Conta”, localizado no

alto deste espaço, disponibiliza mais abaixo dicas de eventos enviados por seus amigos,

informe de aniversariantes do dia, as atividades realizadas por seus conhecidos da rede

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de relacionamentos, assim como o merchandising dos patrocinadores do Facebook

(propagandas). Mas o ambiente utilizado dentro do Facebook para prática pedagógica é

semelhante à Comunidade do Orkut: trata-se dos Grupos. Para criar um Grupo é

possível fazê-lo através do painel de controle dos recursos desta RSV no Eixo

Esquerdo. Vejamos abaixo na figura 4 um Grupo criado para fins pedagógicos.

A disciplina de Introdução à Computação do curso de Zootecnia realizada na

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na Unidade Acadêmica de

Garanhuns (UAG) foi realizada no período de outubro de 2013 a fevereiro de 2014. O

Grupo no Facebook (figura 4) foi criado para realizar atividades tanto presenciais, no

laboratório de informática, durante a aula, como à distância, quando atividades eram

apresentadas na timeline do Grupo. Observemos na figura que o design do Grupo é

semelhante à página principal do usuário do Facebook, com pequenas mudanças,

conforme identificadas na figura 4 pelos quadros 1, 2, 3 e 4, os quais identificaremos a

seguir:

Quadro 1: Painel de controle do usuário do Facebook. É o mesmo Eixo

Esquerdo apresentado na figura 3, onde o usuário poderá realizar gerenciamento

de seus outros grupos e dados de seu perfil;

Quadro 2: Semelhante ao Eixo Central do usuário do Facebook (ver figura 3)

equivale à timeline do Grupo, onde o professor apresenta informações, propõe

questões, fotos ou vídeos no campo onde já existe uma sentença “Escreva

algo...”. É nesse quadro onde ocorre a dinâmica de aula no Grupo, através das

interações entre alunos e professor. Os arquivos que são anexados na timeline

poderão ser localizados no ícone Arquivo. Pode-se dizer que aqui temos o

“ambiente de sala de aula”, a metáfora de um espaço de socialização de

conhecimentos e de práticas colaborativas;

Quadro 3: Apresenta as imagens (fotos) dos membros do grupo. Além disso

disponibiliza um painel de Membros, Eventos, Fotos, Arquivos e Notificações.

Este espaço da interface de Grupo do Facebook permite o gerenciamento mais

específico deste ambiente;

Quadro 4: Apresenta as informações do Grupo, descrição, número de membros,

além de oferecer campo para envio de mensagens múltiplas aos participantes.

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O Facebook se constitui como AVA nos Grupos, onde a timeline (Quadro 2) se

torna a sala de aula virtual, o ambiente onde o professor apresenta questionamentos,

lança observações, cria eventos e enquetes. Observemos a dinâmica de aula nesta turma

de Introdução à Computação, no curso de Zootecnia, a seguir, na figura 5. Nesse

quadro observamos que o professor disponibiliza um artigo no dia 27 de janeiro

“Crescimento heterogêneo de girinos de rã-touro alimentados com diferentes rações”,

solicitando que seja revisada a atividade do programa Excel. Nesse caso, os(as)

alunos(as) deverão seguir os seguintes passos: 1); Baixar o arquivo (download); 2) Ler o

artigo (disponibilizado no formado PDF); 3) Realizar as atividades de exercício de

Excel (gráficos e tabelas). Assim, constatamos que didaticamente o Orkut por separar os

recursos ou ferramentas da sua interface gráfica facilita uma melhor focalização de

ações. Abaixo, realizamos breve comparação analítica das duas RSV (Orkut e

Facebook) sob o ponto de vista pedagógico.

A experiência com as duas interfaces das RSV permite-nos verificar que o

Orkut apresenta melhores condições de atuação didática pela separação de ações em

timeline diferentes, diferentemente do Facebook onde todas as ações convergem para

uma mesma timeline. Isto provoca uma poluição de ações num mesmo quadro de

atividade, provocando muitas vezes dispersão ou impedimentos para que os(as) alunos

encontrem textos antigos que foram apresentados pelo(a) professor(a). Além do mais, o

recurso do Facebook (chat) de que não foi informado neste artigo e que é integrado à

interface dessa RSV produz desvios de atenção, já que os(as) alunos(as) podem ser

rapidamente convidados para conversas particulares enquanto está ocorrendo a aula

presencial, por exemplo. O motivo pelo qual atualmente se utilizou o Facebook foi pela

participação quase predominantes de todas as pessoas das turmas nessa RSV e pelo

abandono ou sequer cadastro no Orkut.

Conclusões e recomendações

As atividades realizadas tanto no Orkut quanto no Facebook contribuem para

experiências de letramento digital e pela ressignificação de espaços e tempos

pedagógicos, conforme preconiza Kenski (2006) e Lévy (1993), com o uso das novas

tecnologias de informação e comunicação. Ao utilizar as RSV permitimos vivenciar a

expansão da sala de aula para outros ambientes, construindo uma nova noção de espaço

pedagógico, porque muitas vezes realizamos as atividades na interface gráfica do Orkut

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EdUECE- Livro 103809

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ou Facebook mas presencialmente, no laboratório de informática, com os(as) alunos(as)

realizando as atividades e, posteriormente, observamos que as atividades eram

complementadas e concluídas fora da sala de aula. Nesse sentido, constatamos a

previsão de Tapscott (1999), de Prensky (2001) e de Veen e Vrakking (2009) sobre o

perfil dos(as) alunos(as) dessa nova geração pós anos 90, conhecida como geração

digital, dos nativos digitais, cabendo-nos a nós educadores e profissionais da educação

a atenção para utilizarmos adequadamente tais recursos tecnológicos, sem no entanto,

nos perdermos sem um foco didático pedagógico.

O estudo aponta para novas análises destas e de outras RSV a fim de

observamos as potencialidades de trabalho educacional permitido por elas. Merece,

portanto, uma ressignificação a nossa prática pedagógica nos dias contemporâneos,

valendo-nos da imersão já realizada pelas crianças e adolescentes nas RSV, mantendo o

foco de ensinagem-aprendizagem, para que utilizemos a tecnologia a favor da educação,

para os fins a que ele se propõe.

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EdUECE- Livro 103810

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ANEXOS

Figura 1: Comunidade Educação e Tecnologia UFPE/CAA (Pedagogia)

A

B

C

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Figura 2: Exemplo de um tópico do Fórum da Comunidade Educação e Tecnologia CAA UFPE

(Curso de Pedagogia)

Figura 3 – Página Inicial do Facebook (Paula Matos)

Figura 4: Grupo Introdução à Computação-Zootecnica (UFRPE/AUAG)

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Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 103812

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Figura 5 Grupo do Facebook (atividade didática)

Quadro 1: Análise comparativa de quadros do Orkut e Facebook

Orkut Facebook

Timeline para cada Tópico (Fóruns),

como na coluna B da figura 3

Única timeline para todos os recursos e

ações (fotos, enquetes, textos etc.)

Enquete em campo específico (coluna A

da figura 3)

Enquete na única timeline do Grupo

Evento em campo específico (coluna A

da figura 3)

Evento na única timeline do Grupo

i Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no Curso de Bacharelado de Ciência da

Computação. Email: [email protected]

ii Agência que trata sobre marketing e mídia social e digital. Disponível em <http://wearesocial.net >

(inglês) e < http://wearesocial.com.br/> (português).

iii Disponível em < http://wearesocial.net/blog/2014/01/social-digital-mobile-worldwide-2014/> Acesso

em 11/03/2014.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

EdUECE- Livro 103813