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AA.10 VII 1KIO I»t Ji\i:iItO. OU4KT4-FKIU4. 3 DE ABKIL DK 1 í» I i '....ii榦' ' X. 3»9 ^PfW^ de 'UBLICA OS RETRATOS DE TOCOS OS SEUS ASSIGNANTES UM PAPAGAIO INTELLIGENTE 1) O rei Luiz XIII vivia muito triste e o seu único divertimento á) Um dia passava elle por ,T^\_^^C^^^ tjlf 1 2I jLrJt"M"a' Passairos- uma.rua, quando ouviu gritar ?^> .. r—<3> J¦ ''irfÉk? /x //O 1) Um sapateiro ensinara o seu papagaio e como AQ >£\ »* Jiw iv~^ S^~~^ ~"^""v\ não conseguisse vendél-o dizia: Perdi meu tempo 222* *>) O pássaro aprendeu também essa phrase e guando o rei por passou gritou : Viva Luiz Mil! Ainda 1—exclamou orei massado, eafu- ^entou o animal, que fugiu dizendo: Perdi meu tempo e meu trabalho 1 » 6) O rei achou graça nisso e riu muito, Entrou na sapataria e reconhecendo no dono do papagaio um antigo soldado seu . 7).. .concedeu-lhe uma pensão. E, assim, o papagaio intelligente conseguiu para se u dono o que este nunca esperara.

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AA.10 VII 1KIO I»t Ji\i:iItO. OU4KT4-FKIU4. 3 DE ABKIL DK 1 í» I i'....ii ¦¦ ' '

X. 3»9

^PfW^

de 'UBLICA OS RETRATOS DE TOCOS OS SEUS ASSIGNANTES

UM PAPAGAIO INTELLIGENTE

1) O rei Luiz XIII vivia muito triste e o seu único divertimento á) Um dia passava elle por T^\_^^C^^^ tjlf 1 I

jLrJt"M"a' Passairos- uma.rua, quando ouviu gritar ^> .. r—<3> ¦

''irfÉk? /x //O 1) Um sapateiro ensinara o seu papagaio e como Q >£\ »* Jiw iv~^ S^~~^

~"^""v\ não conseguisse vendél-o dizia: — Perdi meu tempo 22 2*

*>) O pássaro aprendeu também essa phrase eguando o rei por lá passou gritou : — Viva LuizMil! — Ainda 1—exclamou orei massado, eafu-^entou o animal, que fugiu dizendo: — Perdimeu tempo e meu trabalho 1 »

6) O rei achou graça nisso eriu muito, Entrou na sapatariae reconhecendo no dono dopapagaio um antigo soldadoseu .

7).. .concedeu-lhe uma pensão. E, assim, opapagaio intelligente conseguiu para se u donoo que este nunca esperara.

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um CONCURSO TiCO-TicqDE BOAS ACÇOES O

1[) Tia Verônica resolveu abrir um concurso de boas acções entrei

seus quatro sobrinhos Olga, Mina, Maria e Carlota. O jury compunha-se da tia Verônica e dos pães das creanças

2)—Eu—começou Olga—sou muito zombeteira, ihomem vi uma velha atirada ao chão por cous c

e não ri.

. . |Pj»^L -|

I)—Eu— disse Mina— dei todas as minhas economias 4)—Eu—acudiu Maria—estava fazendo um chalé de /rico/ para mim; ma3*para as victimas de um incêndio e meu nome sahiu nos como a madrinha me d"u uma capa, dei o chále a uma mulher pobreiornacs, com grande inveja de meus irmãos.=~YZZ^BÊÊÊÊÊÊÊÊ

">)—E você Carlota—perguntou Tia Verônica—Eu não tive tempo parapraticar uma boa acção porque ia todas as noites ler historias e fazer compa-nhia a tia Maria,a mãi da creada.que estava doente.

6)—Dá-me um abraço Carlota; tu é que a melhor acçã°praticaste. Espera a recompensa. Uma boa acção deve vifdirectamentc do coração.

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EXPEDIENTECondições da assignatura:

interior: l anno, 11$000, 6 mczcs 6$000exterior: 1 » 20$000, 6 » 12$000

Numero avulso, 200 réis. Numero atrazado, 500 réis.

^3 /T> O TICO-TICO

A importância das assignaturas devenos ser remettidas5"1 carta registrada, ou em vale postal, para a rua doOuvidor, 16 I.

_ As assignaturas começam em qualquer tempo, mas ter-rainamem Junho e Dezembro, década anno. Não serão ac-celtas por menos de seis mezes.

A empreza â'0 Malho publica todas as quartas-feirasO Tico-Tico, jornal illustrado para creanças, no qual colla-boram escriptores e desenhistas de nomeada.

Sempre que tenham de fazer qualquer recla-*uoçfto relativa ó entrega da folha ou de coramunicara mudança de residência, rogamos aos nossos as-signanles que não se esqueçam de enviar os númerosdos seus recibos. E' o meio de podermos providen-ciar promptamente, como nesse caso nos cumpre edesejamos.

Meus netinhos .•Hoje vamos tratar das columnas

de água; mas vocês não devem con-fundir estas com as trombas de água,vulgarmente conhecidas com o no-me de mangas d'agua, pois sua ori-gem é bem differente, visto que ascolumnas d'agua são produzidaspelos tremores de terra. Das trombasdágua trataremos brevemente.

Acentece, ás vezes, durante os tremores de terra, quea égua dos lagos e até dos rios se ergue, em turbilhões,a grande altura, para cahir em seguida em seu leito e in-nundar o paiz.

Apezar de nada poder dar uma idéa justa da impres-são, que produz semelhante espectaculo, quero descrevera scena, que se offereceu ao olhar de um viajante allemãoem 1858, durante o tremor de terra, que desolou a republi-cadê Honduras.

O Sr. Heine achava-se á beira de uma grande lagoachamada Criba, quando de repente a terra tremeu, rugin-do ; o solo levantou-se e abaixou-se tão violentamente,que Heine e seus companheiros foram atirados ao chão, esentiram-se como quando se embarca, Repentinamenteuma scena estranha e terrível desenrolou-se a seus olhos ;a água da lagoa desappareceu como se se tivesse abysma-do numa caverna subterrânea, ou antes retirou-se sobre simesma, de sorte que, da margem até ao centro, o fundedo lago ficou descoberto. Mas logo a água appareceu denevo; }untando-se no centro da enorme bacia, ergueu-se, turbilhonando, e formou uma immensa columna, ru-gindo, cobrindo se de espuma e interceptando a luz dosol; depois, de repente, a columna baixou com ruidoassustador, e as vagas espumantes precipitaram-se nasmargens. Parecia que iam devorar toda a localidade;avançavam furiosas, agitadas; tudo cedia a seu imperiosoembate: arvores, pedaços de terreno, blocos enormes, ro-chedos etc, eram arrastados no terrivel cataclysmo.

A obra de destruição fez-se em alguns segundos ape-nas. O viajante que relatou este facto achava-se n'uma

SSMkjMÍ-

Colwnnas d'agua

alta colina, que resistiu ao furor das vagas; elle ficou des-maiado durante alguns minutos e quando recobrou os sen.tidos a lagoa tinha o seu aspecto habitual. Sem a scena dadesolação que elle via em torno de si e o susto de seuscompanheiros, teria podido julgar-se victima de cruelallucinação.

Vovô

~ ^^sw^^sSaSa^a^sw^ia^^aywia&aifa w> ^.KhahaKaèh^^x»a^o^a^fa^»^^*zhLj '¦^Y^yiYYTTylTfV

yp ff TfTfTfff YTTfTTf7 T

A graciosa meninaAMÉLIA SIMONI

Intelligente leitora do nosso jornal, de 11 annos de edadte residente nesta capital

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O TICO-TICO

InTO^y > uWífAi\ /£l í \ -$NKf?If V£'^?jw__-_p<Íí:4/í'' / "*^^ \fii\ili\ M'\—SnS? wkP^^^nw/w IvJ

j£^ ^j^^fe-^-3SB^_ v— ^ *v_,

;pfiF^^l^v*mmmUM LEÃO DE PANNO-BRINQUEDO

do panno, tendo oito centímetrosermar as patas. A parte marcada Bmenor é a metade da cabeça.

Para moldevejam o dese-nho 2. Aviamen-tos necessários:70 centímetrosde velludo corde bronze, tendo50 centímetrosde largura.

O desenho dosmoldes (figura2) indica comose devem cortaras peças patafa-zer o leão. Omolde maior éa metade decorpo com aspernas, ás quaesse deve juntar,com um aramegrosso no inte-rior, uns pedaços

de comprimento paraé o peito e o recorte

Figura j—Leão. Brinquedo

Essa parte, aue se deve cortar dupla como a outra,deve ser de velludo.

O desenho do nariz, dos olhos e da bocea é feito compontos de linha grossa e caracterisado com traços feitos a

Os olhos são marcados com pedaços de papelãopincel.

Figura s—Molde para Jazer o leãobranco, fixos com alfinetes de cabeça preta. Forma-se aquella com dous pedaços de velludo, tendo oito centi-metros de comprimento sobre seis centímetros de lar-gura, arrendondades na frente, juntos e fixos na partede baixo da cabeça. Um pedaço de panno vermelho será a

lingua. As orelhas são de pellucia dupla, cortadas emsemi-circulo de quatro centímetros de altura sobre seiscentímetros de largura, dobradas em bainha nas beirasdireitas e fixas na juba. Uma tira de fazenda, tendo dozecentimetros.enrolada e com borla na ponta, forma a cauda.

Depois do animal todo cozido, ficando somente aber-tas a barriga e as solas das quatro patas, enche-se compaina, serragem ou algodão e só depois de estsr bemcheio é que se fecham as costuras das quatro patas eda barriga.

^3 _LH fe~~—<3 -s#«3 l:?: ^^*<S___ isz

2^1 ¦ BI I»—_á F

O interessante ROQUE PAIVA DE CARVALHO, filhoSr. Ulysses de Carvalho—Pernambuco'

— LÊR COM ATTENÇÁO-AOS QUE PRECISAM DE DENTADURAS

.. hM h^ .=C.!Í6^UI5 PráCisam de dentaduras,-devido S exigul-dado do. «eus recursos, sao, muitas vezes, forçadas a procurarproflssiom.es menos hábeis, que as iliudem em todos os seu-tidos pois esses trabalhos eslgem multa pratica e conheci-mentos especiaes.Para evitar taes prejuízos e facilitar a todos obter dentadura*.dentes a pivot, coroas de ouro, bridge-work, ele., o que hade mais perfeito nesse gênero, resolveu o abaixo asslgnado reduziro mais possível a sua antiga tabeliã de preços, que ficam d'esssmodo ao alcance dos menos favorecidos da fortuna. No seunovo consultório, á rua do Carmo n. 71, (canio da do Ouvidor)da inroí inações completas a todos que as desejarem. Acerta e fazfuncclonar perfeitamente qualquer dentadura que não esteiahAm na Kh.>__ _ __ *pem na bocea e concerta as que se quebrareInsignificantes. por preços

Os clientes que não puderem vir ao consultório serãoattendidos em domicilio, sem augmento de preço

DR. SÁ REGO (Especialista)mudou-se RUA DO CARMO 71 %TJúot.

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O TICO-TICO

O "SR. X" E A SUA PAGINACOMO SE FAJSEiM M^OIO-A-S

Querem saber como ede que modo os prestidigitadoresque se apresentam ao publico nos theatros fazem desappa-recer uma pessoa, em plena luz, sem que ninguém per-ceba?

Eis o que fazem no theatro :Antes de tudo tragam para o palco um grande espelho

com elegante

barra transversal serve para dissimular a juneção das duaspartes.

A parte maior do vidro é movei e pôde subir ou descerpelas cavidades existentes de cada lado, o que explica aparte superior muito alta na moldura. Quando a pessoa ècollocada em seu logar e dissimulada atraz do biombo, aparte maior do vidro afasta-se e deixa uma abertura na ai-tura da barra; no mesmo instante uma parte do fundo dopalco, bem atraz do espelho, abaixa se, vindo encostar-se

(j

mold ura. A¦fttgriÜÈÊjjSfii I base do espe-

-j

A moça volta-se logo para o espelho

lho está a 60 centímetros do soalho, de maneira que todoso possam ver. O que o espectador poderia notar de parti--ular seria que na parte superior ha uma barra atravessandoO espelho a um metro e20 centímetros de altura do chão.•íssa parte superior tem por fim fazer effeito e mascarar oengano. A peça horizontal é destinada a sustentar pormeio de prateleiras uma peça de vidro, sobre a aual umasenhora se mantém de pé.A' moldura são fixadas umas prateleiras de cada ladona altura da peça transversal. Duas cortinas deslisam sobreuma barras estendidas dos dous lados do quadro. Colloca-se uma taboa sobre as extremidades das prateleiras e sobreesta colloca-se uma prancha da vidro.

O publico pensa então na utilidade da peça transversal.A dama sobe

para a pranchade vidro, serviu-d^-se para isso deum banquinho,Vulta se para oespelho e põe-sea olhar para aprópria imagem,apezardo empra-zario fazer esfor-çospara que ellavolte o_ rosto parao publico.

Neste mo-mento colloca-scum biombo atro/.d'ella, escondeu-do a completa-mente. Esse Li-ombo é bastanteestreito para per-mittir que se vejaum lado e outrodo espelho.

Ha então um

O illusionisla tira então eis cadeiras

na prateleira; a moça então deixa-se escorregar pelo aber-tnra dos dous vidros, sendo puxada pelos machinistas.

E' essa a razão por que a dama está com o rosto voltadopara o espelho, para assim ser puxada com os pés paradeante.

Passemos agora a explicar a ,'llusão da mulher sus*pensa no espaço.

•*i:"~- r/*T_^'í"?i^/í"JN*VÈ2E?'''"

A mo",a desappareceu

¦Jf.\¦m \ s

instante de silencio. Depois afasta-se o biombo. A mulherdesappareceu.

Completa a mystificação carregando para fora do palcoo espelho, o que mostrará que a pessoa nao está escondidaatraz d'elle.

Em realidade o espelho é formado de duas peças. A

Sobre uma taboa, que descansa no espaldar deduas cadeiras, uma moça deita-se, tendo ao lado esquerdoum ramalhete de flores e segurando com a mão direita asdobras do vestido.

O illusionista avança e com o auxilio de alguns passesmagnéticos finge hypnotisar a moça. .

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O TICO-TICO 6Neste instante uma barra chata,

de aço, empurrada do outro ladodo palco, entra num orifício prati-cado na espessura da taboa, bas-tante solido sobre a qual está es-tendida a moça.

E' inútil dizer que o logaroccupado pelas cadeiras, a posiçãoda prancha, tudo foi exactamentepreparado de antemão, afim deque; sem hesitação alguma, afen-da se ache mathematicamente col-locada no prolongamento da barrametallica.que por si só deve sustero apparelho.

Desde que a moça finge estaradormecida o illusionista retira len-tamente as duas cadeiras queparecem ainda sustentar a pranchae d'esse modo a prancha parecesolta no espaço.As dobras do vesti-do e as flores do lado sãosufficien-tes para esconder a barra metallica.

O TRAIDOR E A VINGANÇA DO CYSNE

HISTORIA SEM PALAVRAS

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ODETTE, 2 annos de edade. filha do Sr. Albino Cabral.Odette está fantasiada de Republica

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O galante menino ARLINDO, fantasiado de marqucz.Tem quatro aanos

e é filho do Sr. Albino Cabral, residente no Estadode S. Paulo

NO O TOMBO DO RIO"Os Srs, chefes de família encontram o mais bello, mais varia-do e mais barato «stock» de roupas para meninos de 3 a 12 an-nos, desde o preço de 3$ a 40$, assim como gorros, bonets e cha-peus de palha para os mesmos. "^^^^f^^#^^^^^^^^^

1 -- E.XJJL TJSXJQ-TJTA.YAJIÍL -1PONTO DOS BONDS

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O TICO-TICO

H^fWWlPfll^rTfí 'iHka^eSl ü'

OS QUATRO HENRIQUE(CONTO HISTÓRICO)

Uma noite,em quechovia muito, dizemque uma velha, quepassava em seu paizpor feiticeira e quehabitava uma pobrecabana na floresta deSaint Germain, ouviubater á porta ; abriu e

viu um cavalheiro, que lhe pediu hospitalidade. Ella levou-Jheo cavallopara debaixo de um telheiro e convidou o ca-valheiro a entrar.

A* claridade de uma lâmpada fumarenta ella viu que«ra um joven fidalgo. O physico mostrava a mocidade;a roupa denunciava a qualidade. A velha accend?u o fogoe perguntou ao fidalgo se desejava comer alguma cousa.Um estômago de dezeseis annos écomo um coração da mesma edade,muito ávido e pouco difíicil. O meçoaceito» um peda,o de queijo e umtesto de pão que tirou do armário ;era toda a provisão da velha.

Não tenho mais -disse ella aofidalgo; è o que me deixam paraoffertcer aos pobres viajantes, odizimo, a gabella, e todos os impôs-tos, sen» contar que os vagabundosdos arredores dizem que sou fetticei-ra e dedicada ao diabo, para meroubarem, com tranquillidade deconsciência, os produetos do meucampo.

Por Deus ! — disse o joven fi-dalgo,— se eu for algum dia rei detrança, suprimirei os impostos e fa-rei instruir o povo.Deus o ouça I — respondeu avelha.

O joven fidalgo approximou-seda mesa para comer; mas no mesmoinstante bateram de novo á porta•e elle deteve-se. A velha abriu e viuainda entrar um cavalheiro todo mo-Ihado pela chuva, e que pediu hos-pitalidade.

A fcospitalidade lhe foi concedi-da e o cavalheiro, tendo entrado viu-se que era um moço, e também fi-dalgo.

Fs tú, Henrique? — disseum:

Sim, Henrique,— disse o ou-tro.

Ambos se chamavam Henrique ;a velha soube pela sua conversa queelles haviam tomado parte em umacaçada, que havia sido organisadapelo rei Carlos IX, e que a trovoadadispersara.

Minha velha, — disse o quechegara depois,—não tens mais parame dar ?

Nada—respondeu ella.Então,—disse elle ao outro—

vamos partir.O primeiro Henrique fez uma careta; mas, vendo o

o olhar resoluto e o estado nervoso do segundo, disse emvoz triste: — Repartiremos 1

Além d'essas palavras, havia o pensamento que ellenão ousou exprimir.

Repartiremos para que elle não tome tudo.Sentaram-se um diante do outro, e já um dos dous ia

cortar o pão com a adaga, quando se ouviu uma terceirapancada na porta.

O encontro era singular: era ainda um joven fidalgo,um terceiro Henrique.

_ A velha poz se a consideral-os, surprehendida. O pri-meiro quiz esconder o queijo eopão; o segundo ecl-locou-os sobre a mesa e collocou a espada ao lado.

O terceiro Henrique sorriu.Então não me querem daralguma cousa da sua ceia>—disse elle—Está bem; posso esperar, tenho o estômagobom.— A ceia—disse o primeiro Henrique—pertence de direitoao primeiro que chega.

A ceia—disse o segundo—pertence a quem souberdefendel-a.O terceiro Henrique ficou vermelho de cólera e disseorgulhosamente :

Talvez pertença áquelle que melhor souber con-

¦Sj-.y*^ * I

j

cuistal-a. Mal essas palavras foram ditas o primeiro Hen-rique tirou o punhal e os dous outros as espadas.

Quando iam começar o combate, uma quarta pancadafoi dada na porta; um quarto moço,um quarto fidalgo, umquarto Henrique entrou; á vista das espadas nuas, elletirou a sua, poz se do lado mais fraco e atacou estouva-damente.

A velha escondeu-se, assustada, e as espadas come»cavam a quebrar tudo que encontravam.

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O T1CO-TICOA lâmpada cáe e apaga-se e o combate continua no

escuro.O barulho das espadas durou ainda algum tempo;

depois enfraqueceu gradualmente e acabou por cessar com-pletamente

Então a velha atreveu-se a sahir do seu canto, accendeua lâmpada e viu os quatro moços estendidos no chão; cadaum recebera um ferimento. Ella examinou-os; tinhamcahido mais pela fadiga do que mesmo pela perda desangue.

Levantaram-se uns depois dos outros e, envergonha-dos com o que tinham feito, começaram a rir, dizendo :

Vamos! Ceiemos de boa boa vontade e sem rancor.Mas então viram que a ceia estava no chão, pisada s

pés, suja de sangue. Embora pouco valesse foi bem lamen-tada.

Além d'isso a cabana estava devastada, e a velha, sen-tada a um canto, fixava os olhos ferozes sobre os quatromoços.

Porque nos olhas assim f —perguntou o primeiroHenrique. /

Olho para os seus destinos escriptos sobre as suasfrontes—respondeu a velha.

O segundo Henrique ordenou-lhe com dureza que osrevelasse ; os dous outros pediram-lhe rindo.

A velha respondeu:Como estão reunidos os quatro nesta cabana, estarão

reunidos todos quatro em um mesmo destino. Comopisaram aos pés e sujaram de sangue e lama o pão que ahospitalidade lhes offereceu, pisarão aos pés e sujarão desangue o poder que poderiam dividir.

Como devastaram e empobreceram esta cabana, devas-tarão e empobrecerão a França ; como foram feridos osquatro na sombra, acabarão os quatro pela traição e demorte violenta.

Os quatro fidalgos desataram a rir da predicção davelha. Os quatros fidalgos eram os quatro heróes da LigaCatholica de França, dous como seus chefes e dous comoseus inimigos.

Mas todos tiveram o fim predicto pela velha.O 1-—Henrique de Conde foi envenenado em Saint-

Jean-d'Augely por sua mulher; o 2-—Henrique de Guizefoi assassinado em Blois pelos Quarenta e Cinco fidalgos,que formavam a guarda do rei Henrique III; o 3-— Henri-que de Valois [Henrique III], foi assassinado pelo fradeJacques Clément, em Saint-Clou; o ultimo—Henriquede Bourbon [Henrique IV], foi assasinado cm Paris por umlouco chamado Raivallac.

Olhai para o futuro de vossos filhosDai-lhes Morrhulna (principio activo do óleo ásfigado de bacalhau) de

COELHO BARBOSA & G. .RUA DOS OURIVES 38e QUITANDA 104

assim os tomareis fortes e livres demuitas moléstias na juventude

TELEPHONEN.

1.313

Colur de MESUruguayana, 78

POSTIÇO DE ARTETodos os trabalhos sendo

feitos com cabellos natn-raes, a casa não tem imi-tação.

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CABELLOS DE CREANÇAS

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ACABA DE CHEGAR DE PARISCONTOS DA CAROCHINHA

Contendo sessenta, e um contos popnla*res, moraes e proveitosos,cie vários paizes

Um grosso volume de 408 paginas encadernado, commuitas gravuras coloridas, obra ricamente impressa emParis 5$000

Os Contos da Carochinha, que acabamos de publicar, sãoessas historias que todos nós ouvimos em pequeninos, con-tados por nossas mais, por nossos avós e velhos parentes,teque sabem todas as creanças de todos os paizes; escri-p os em linguagem fácil, como convém ás creanças, osContos da Carochinha são, pois, um livro valioso, um livroeterno, porque no Brazil até hoje nada se tem publicadoque os eguale: elles são eternos, datam de séculos e secu-los durarão ainda. A's mais de família, aos educadores eao povo em geral recommendamos este precioso livro,uni-co que pode guiar as creanças no caminho do bem e davirtude, alegrando e divertindo ao mesmo tempo.

ÍNDICE DOS CONTOS :—Os três cães, A bella e a fera, Ágataborralheira, João e Maria, Jaques e os seus companheiros, Os dousavarentos,0 patetinha, O chapéosinho vermelho, O perigo da for-tuna, Os m eninos vadios, O pequeno Polegar, A egreja de Falster,Os trez presentes da fada,0 ratinho reconhecido, A perseverança, Aguarnição da fortaleza, A gratidão da serpente, Abriga difficil, JoãoBobo, O tocador de violino, Os seis companheiros, O anachoreta, Orei dos metae.s, O rabino piedoso, O vaso de lagrimas, Os dous ca-minhos, A lenda da montanha, O pintasilgo, Branca como a neve, Afina Alice, O frade e o passarinho,A cathedral do rei, Jacques e o péde feijão. Os pecegos, O urso e a carriça, O caiporismo do alfaiateJoão, O castello de Kinast, Os onze irmãos da princeza, As trez gal-linhas, O veadinho encantado, O menino da matta e o seu cão Pilo-'to, João Felpudo, Pedro Malazarte, A moura torta, A baratinha quese casou com o sr. ratinho, Os trez cabellos do diabo, A baba do pas-sarinho, O gato de botas, O barba azul, O castigo da bruxa, A vidado gigante, As trez maravilhas, Pelle de urso ou o pacto com o dia-bo, A quem Deus ajuda... A bella adormecida no bosque, Aladimou a lâmpada maravilhosa, Os piincipes com estrellas de ouro natesta, O tapete, O óculo e o remédio, O diabo e o ferreiro, A formiguinha, O homem de mármore, etc, etc.

Historias do arco da velha—com 47 contos 4S00OHistorias da avósinha—com 50 contos.,.' 5$000Historia da baratinha—com 70 contos 4$000

Estes quatro bons livros contém esseB cantos que todos nós ouvimos.em pequeninos, contados por nosòas máts, velhas avósinhas, tias, madrinhas,amas, ete-, etc, contos populansslmos, moraes e piedosos, que sabem as cre-ancas todas de todos os paizes. Sâo narrações fantásticas onde ha Fadas, lo-bishomens, gênios mysteriosos, animaes fallanles, bruxas, feiticeiras e encan-tamentos, mas em linguagem simples, incutindo sempre aldéa do bem e davirtude. Cada livro (orma um grosso volume de 320 a 400 paginas, com mi-lharesde vinhetas e gravuras, impresso em papel de bôa qualidade, typonovo e letlras defantasia, encadernado, e sempre com a mesma capa litho-graphadaa cores.

OS MEUS BRINQUEDOS—O melhor e mais encantador livropara creanças, que existe em língua portugueza, nnico no seu gene-ro. Contém innum etas cantigas para adormecer ao berço; bnncadei-ras e divertimentos para todas as edades; jogos de prendas e senten-ças, e peças próprias para serem representadas por meninos e meni-

• nas em casa, nos collegios e em theatrinhos particulares ; tudoacompanhado de centenas de gravuras explicativas. 4JJ000

THEATRIN HO INFANTIL—Esplendida collecção de monolo-gos, diálogos, scenas cômicas, dramas, comédias, operetas, etc. (emprosa e verso, próprias para serem representadas por creanças, dis-pensando-se despezas com scenarlos, vestimentas e caracterisação.1 volume com 24 peças. 5S000

AL13UM DAS CREANÇAS—Excellente obra encerrando mui-tissimas poesias dos mais celebres e modernos autores, destinadas áinfância, próprias para serem recitadas em salas, nos collegios. eratheatros, etc, ensinando as creanças a declamar e a se desemba-raçarem. _,.,; .,,, 4S000

O CASTIGO DE UM ANJO - Delicioso e moralissimo contotoriginal do grande escriptor Leão Tolstoi, commovente e sentimenai, baseado na máxima christã: Amae-vos uns aos outros, obra-divina, piedosa e cheia de virtude. ígooo

AVISOPrevenimos ao publico que quando haja de comprar os

Contos da Carochinha—exija sempre a Décima oitava edi-ção da Livraria Quaresma— é um grosso volume de 4o8paginas, bem encadernado, com 3o finíssimos chromos a8 cores e grande numero de estampas em preto—trabalho lu-xuosamente executado em Paris, propositalmente feito paraprêmios collegiaes, e também para os pais presentearemos filhos; os padrinhos, os afilhados; os tios, os sobri-nhos; os amigos, os filhos de seus amigos, etc, etc.

As remessas para o Interior serão feitas livres de des-pezas do correio, bastando tão somente enviar sua impor-tanciaem carta registrada com valor declarado, dirigida'aPEDRO DA SILVA QUARESMA.IRVta, S- José XIS. V 1 e 73-Rio de Janeiro

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9 O TICO-TICO

PERSONAGENS CELEBRES DA HISTORIAD. Damião Cósme de Churruca

D. Damião Cosme de Churruca, nasceu em Motrico,na província de Guipuzcoa, Hespanha. no dia 27 de Setem-°ro de 1761. Era filho de D. Francisco de Churruca ede D. Maria Thereza de Elorza. Sua primeira educação fez-se no seminário conciliar de Burgos e terminada esta correua casa de seus pães afim de lhes pedir licença para sededicar á carreira marítima, em troca dos perigos e glorias

No dia 15 de Junho de 1776, vestiu Churruca, pelaprimeira vez, com a edade de 15 annos.o honroso uniformede guarda marinha.

Fez brilhantes estudos nas escolas navaes de Cadiz ede Ferrol, durante dous annos, sobresahindo entre todosos seus companheiros, recebendo como recompensa oposto de tenente.

Em Outubro de 1778 poz Churruca o pé pela primeiravez no convez de um navio, o São Vicente, commandadoPelo bailio D. Francisco Gil y Lennus.

Esta primeira viagem, muito borrascosa.poz em eviden-c»a o arrojo de Churruca para arrostar os perigos e a suaaPtidão nas manobras.

O almirante Ponce de Leon, tendo tomado o comman-do da esquadra, escolheu Churruca para seu ajudante deordens.

No dia 13 de Dezembro de 1781 o joven official passoupara a fragata Santa Barbara,commandada por D. Ignaciode Alava. ,. .

No bloqueio de Gibraltar Churruca distinguiu-se bn-lhantemente, acudindo intrépido para apagar o incêndiodos navios e levar soccorros ás equipagens, debaixo deum dilúvio de metralha.

Firmando-se a paz em 1782, D. Damião de Churrucaaproveitou o tempo estudando seriamente. Solicitou eobteve entrada na Academia de Ferrol, sendo recebido,apezar de não haver vaga; foi-lhe confiado 0 cargo decommandante pos guardas-marinha.

No anno seguinte substituía os professores de variasnulas, fazendo em 1787 brilhantes exercícios de mathema-ticas, mecânica e astronomia.

Tendo determinado o governo hespanhol que ó capitãotenente D. Antônio de Côrdoba, fizesse novas exploraçõesno estreito de Magalhães. D. Damião, que já era !• tenen-te, fez parte da expedição.

Innumeros foram os perigos e lutas naquelles mares,que são varridos por continuo vendaval.

Em 1789 foi nomeado para o Observatório e, apezar daconvalescente, entregou se a estudos importantes; no annoseguinte foi nomeado ajudante de ordens do almirantechefe, marquez do Soccorro; fez uma campanha e voltouao Observatório.

O seu trabalho intellectual arruinava-o cada vez mais,sendo sua saúde muito abalada pelos soffrimentos no es-treito de Magalhães.

Nessa época o ministro damarinhadeterminou mandaruma expedição scientifica formada de duas divisões, umadas quaes devia percorrer as ilhas e costas mexicanas e aoutra o resto do continente, com o fim de formar o «AtlasMarítimo da America septentrional». Era árdua a tarefa.

O ministro consultou um illustre marinheiro, D. JoséMazarredo e este propoz D. Damião Cosme de Churrucapara o commando da expedição.

Uma real ordem de 10 de Novembro de 1791 nomeoucapitão de fragata o illustre Churruca, que tinha apenastrinta annos. Todos approvaram tão acertada escolha.

Churruca embarcou em Cadiz em Junho de 1792, com

Vários ojfíciaes tomaram Churruca nos braços, querendo leval-o parajòra do combate

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O TICO-TICO IO

os bergantins Descobridor e Vigilante. A outra divisão,commandada pelo capitão de fragata D. Francisco Fidalgo,partira no dia 4 para esperal-o em Trindade.

Dous annos e quatro mezes durou essa campanhascientiflca, contrariada por todos os incidenys, aos quaesveiu se ajuntar a guerra com a França. Mas Churruca.comglorioso empenho e constância, sahiu-se tão bem de suamissão que seus trabalhos, submettidos ao exame dosobservatórios mais celebres da Europa, mereceram oapplauso universal e deram a seu autor nomeada geral.

Churruca chegou doente a Cadiz a bordo do Con-quistador, indo a Madrid, onde recebeu como prêmio dosseus serviços o posto de capitão de mar e guerra. Em 1793publicou a carta espherica das Antilhas e Porto Rico eoutros trabalhos,que formam uma collecção riquíssima.

Em Fevereiro foi commandar o navio chefe da esqua-dra commandada pelo almirante Mazuredo. Em 1798 obteveo commando do navio Conquistador e teve occasião demanifestar ainda uma vez sua habilidade.

Fazendo-se a alüança da Hespanha com a França, umaesquadra hespanhola foi incorporar-se com a franceza noporto de Brest; para alli foi D. Damião. Ahi recebeu ordempara ir a Paris em missão scientiflca. O primeiro cônsul

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Bonaparte, para quem todo o mérito era um attractivo.conhecendo já a fama da Churruca, quiz vel-o e recebeu-ocom grandes demonstrações de apreço.

A Hespanha, tendo cedido á sua alliada seus naviosde linha, os marítimos francezes pediram que entre essesestivesse o Conquistador, que consideravam como ummodelo. Churruca sentiu immensarnente ter de se separardo seu amado navio e isso ainda mais lhe avivou a antipa-thia que sentia pela alliança franceza.

Voltou para Cadiz a bordo do Concepcion em Maiode 1802. Obtendo uma licença foi viajar no sul daFrança.

Em Novembro de 1803 deram-lhs o commando doPríncipe das Asturias e breve esse se transformou n'outromodelo como o Conquistador.

Casou com Maria de los Dolores Ruíz de Apodaça,filha de um offidal de marinha D. Vicente, e sobrinha doalmirante conde de Venadito. Sua felicidade, porém, foiprelúdio de um fim próximo.

Não tardou a chegar o desastrado dia 21 de Outubrode 1805, no qual se travou a batalha de Trafalgar, onde.

devido á falta de perícia do almirante francez Villeneuve,as esquadras franceza e hespanhola foram derrotadas peloalmirante inglez Nelson.

O San Juan Xepomuceno, commandado por Churruca,partiu no dia 19 de Outubro, com a esquadra, para Trafal-gár. Nesse dia o commandante escreveu a um amigo di-zendo :

— Se souberes que meu navio foi feito prisioneiro, dizque morro.

No dia 22 cinco grandes navios atacaram o San Juw.Depois yeiu mais um e o San Juan teve a gloria de bater-se contra seis navios ao mesmo tempo. O valoroso com-mandante que dirigiu a defeza tão heróica, com talento edenodo, commandou as manobras com a buzina de com-bate.

Nem a chuva de metralha, que cobria o navio, nema impossibilidade de soecorro abatiam a sua intrepidez.semque os inglezes pensassem ne,n uma vez em tentar a abor-dagem.

Assim luetava Churruca, quando foi alcançado poruma bala de canhão na perna direita, deixando-a quasidesprendida da coxa.

Cahiu o heroe mortalmente ferido, mas levantou-seapoiado na mão esquerda, e brandindo na direita a es-pada ordenou :

—Continuem o fogo.Vários officiaes, entre os quaes seu cunhado D. José

de Apodac, correram para elle e tomaram-no nos braços,querendo Ieval-o para fora do combate; mas Churruca nãoquiz deixar o convez. Teve entretanto qué entregar o com-mando ao capitão de fragata D. Joaquim Ibanez de Cor-bera.

O San Juan estava com toda a sua artilharia des-montada, morta e ferida a maior parte da tripulação.

Quando o almirante Gravina fez o signal de cessar ofogo, o San Juan esforçou-se por seguir os movimentosdo Príncipe das Asturias, mas foi lhe impossível, porqueestava desmastreado, ficando-lhe só a vela de traquete,sem poder governar, pois seu leme estava inutilisado.

Nesse momento já havia expirado o biavo Churruca.

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rO menino PAULO VELLOSO. de 5 annos de edade, nosso

assignante, residente na cidade de Maceió, Alagoas

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9 TICO-TICO II

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Pel O frio tá estava se fazendo sentir, o que induziu Kaximbown a adoptar roupas grossas e pellicas. Sabbado aproveitou muito bem osdos tratos, de que fizera larga provisão. Emquamo isso Pipoca esquentava-se ensaiando o hymtio esquimau com um novo instrumento.

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e foi com um serrote novo modelo que Pipoca auxiliou Kaximbown"aconstrucção de um trenó destinado a carregal-o até o pólo norte

-¦ _______________________—

Sabbado, que também não é cousa a t<>a e sim um cabra deClique-, carregou em uma só viagem todas as malas para o trenó|'5o Ia mexer com semelhante carregador Para medida ae pre-

V__I__~IMIU O €Q.lCLI:tSO V O.».»

caução Kaximbown mandou amarrar o hiate Sangue Frio na ponta deum weberg, parafusando-o bem ao bloco de gelo, para que na voltapudetie encontral-o no mesmo iogar (Continua—" 5\T_Z__! 1

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A CAVERNA .[CONTINUAÇÃO III] O TICO-TICCO

25] Compadecido com seus sdffrimen-tos o menino confessou-lhe que não eramudo e cuntou-lhe sua historia. '

26]—Mas então estamos salvos—disse o ve-lho-procure saber em que'dia os bandidos vãovender tudo quanto me roubaram e poderásahir d'aqui...

27; . . .oeculto dentro de uma das malas. Estevão não se descuidou de seguir esse consClho e poucas horas depois soube que iam lev'as rnalas no dia seguinte.

2S] 1'oi Jogo levar essa boa noticia ao ve-lho prisíòheiro que, lhe deu atravez das gra-des a chave da maior das malas.

29] Immediatamente Estevão dirigiu-seá gruta onde os salteadores haviam guar-dado as bagagens do velho .

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4'ia'30] . e conseguiu, sem grande esforço, e°

trar para ella. Exactamente nesse momentoouviu passos.

31] Mal teve tempo de fechar a mala e logochegaram dous bandidos trazendo chavesfalsas

32] Mas não conseguiram abrir a malaporque essa tinha fechadura de segredo ealém d'isso Estevão segurara as molaspor dentro.

33] Então os bandidos resolveram leval-a fe mjchada, para fazel-a abrir na cidade próxima. ^c

'¦' l Levaram-a a um negociante, dizendoque a tinham comprado e queriam vendel-a.Mas era preciso .

• 35] .'. ir buscar um serralheiro. Um dos ban-didos sahiu para Uso, mas demorou-se em umataverna.

3<>] Estevão, aproveitando a occasião, sam11da mala, causando grande espanto ao 4»'gociante. \

\Ccnclue na pagina seguinte

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P TICO-TICO A CAVERNA FIM

s:i7> G*evel(

jpnadu.

SJ:í7) cüntou-lhe por que razão alli estava 38) Feito isso dirigiu-se á estação de'policia

vJo lou a historia do pobre velho apri- e avisou os soldados.39] Entretanto um dos salteadores voltara

com varias chaves fornecidas pelo serralheiro.

v<>5L~ j^jg^H |_è__s_^^-_i---Jl-3nI 4üj. Mas, no momento em que elle contem-tocava a mala vazia, chegaram os soldados.

I

411 Depois, guiados por Estevão, os sol-dados foram a;é a caverna.

42] Mas ahi não puderam penetrar porqueo? salteadores se entrincheiraram e defen-deram-se a tiros.

e ,*3] Para não sacrificar sua gente o com-_nandante da policia não assaltou a gruta. Mastendeu cm sua entrada uma grande fo-*üeira.

14] E, suflocados pela fumaça, os salteadorestiveram que se entregar á prisão.

45] O velho, entrando de novo na possede seus haveres, quiz levar Estevão paraseu castello; porém este preferiu . .

u *5). . voltar para a modesta casinha de seus'' nvs. onde poderia viver tranquillo. O sal-

Vg >r que salvara.'

17). . foi perdoado pelos juizes, em vista- desua boa acçâo e veiu pedir trabalho a Estevão,que se estabelecera com casa de ferreiro.

18) Estevão recebeu-o muito bem e elletornou-se um bom operário, Quanto aosladrões, ficaram na prisão para toda avida.

^

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14 ZE' MACACO O TICO-TIC

E- +

r/DIA;. • •

OcIE CHEIROOS BARAJ"Ai

1!¦¦ Wr1 | Estava um dia o Baratinha aborrecido da vida,]

scismando sobre a patifaria das curandeiras chinezas,quando um cheiro extranho o veiu perturbar.Três pan-icadinhas nas costas fizeram-no voltar-se e Baratinha]incontrou-se com uma barata enorme

-^2J—A tua fama chegou até nosso paiz, Baratinha—disse-1

a barata—por isso em nome da minha rainha, S.M. Bif\Sai-Kara /venho te convidar para visitares Baratopolis.Cap1da Barataria. — Se é assim vamos lá— disse Baratinha mídesconfiado.—E de mãos dadas Ia foram ambos para essep*

||

3 ] Baratinha teve um séquito colossal, e pelas ruas onde passava, seu nome, assim como o dos seus progenitoresmado enthusiasticamente. Com toda a solemnidade foi apresentado a S. M. a Rain&a.que. trocados os cumprimentosconviduu-o a dar um passeio pela cidade. Baratiuha estava radiante; só o incommodava o cheiro de barata. Convémdurante a cerimonia, a banda tocou o hymno Morte ao pó insecncida'.

1era acci.li

do estvkMnotar qudl

i

4| De braço dado com a Rainuma garrafa de delicioso nectar,topolis.

iha, üliai alinha toi conviidado para tomarque era a especialidade de Bara-

>| Era^^o famoso vinho de sangue de barata, quefabricado pelo dono do I • o armazém mais notável de itopolis. O fabricante era um baralão gordo que gat1celebridade na fabricação do celebre vinho. {Contini

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.7 O TICO-TfCO

Feliciano Tavares — Mandeseu endereço que o enviaremos.

Aluizio Rolim— Passam bemc agradecem.

Miguel do Valle Gutierrez —Nada ha que desculpar. Muitogratos.

Ermelinda M. Martins— Esseenigma já foi publicado por nósmesmos.

José Pedro Martins — Pôdemandar.

Cremilde Lima—Pode; commuito prazer.

Perguntas de : Armando Diniz; Cleantho d'Albuquer-que, Mery Hceper Soares, Ajuricoba Lopes Barroso, JoséAugusto da Silva, J. Santos Martins, Justino Cordeiro Ma-rina de Almeida Magalhães, Estevam Gonçalves da Silva,Eurico F. Motta, José Júlio Calazans, Carmelita Quaglietta,Arlindo Matiz Garcia, Dagobcrto Ramos de Oliveira, Fran-Jdin Guimarães, Risoleta Martins Kallut, José Pagano B.Filho Guilherme Souza. Silvino Luiz de Oliveira, José Paesde Barros, Álvaro de Moura e Silva, Manuel de Vascon-cellos, Arindo de Corrêa de Sá, Guilherme D. E. Souza,Marina Gama Cerqueira, Edgard Abreu de Oliveira, LeonorFernandes da Silva, Maria Antonietta do Rego Monteiro,Castellar José Freire, Lody Machado, Justino Cordeiro,Eurico F. Motta, Tete Xavier, Regina Trindade, Olavo Mo-reira da Silva e Helena Cunha.

Desenhos de :— Armando Diniz, Gonlran Mury, Cio-vis de Campos Nogueira, Manuel Miguelote Vianna,Adhemar Lopes, Antônio Ferraz do Rego Lima e JuvenalPedroso de Camargo.

AVISOSerão excluídos do numero de nossos collaboradores

todos aquelles que nos mandarem, para publicar, trabalhosde outrem, e sob os quaes venham suas assignaturas comolegítimos auetores. Com isso queremos dizer que o colla-borador que quizer publicar um trabalho n'0 Tico-Ticodeve elle ptoprio imagmal-o e escreve! o e não, como mui*tos tem feito, aproveitar os escriptos de outros.

As traducções devem ser acompanhadas da nota : tra-aucção.

Só poderão ser acceitos os trabalhos que, além deprehencherem as condições acima e julgados merecedoresde publicação, forem escriptos de um só lado do papel.

As perguntas deverão ser acompanhadas das respecti-vas soluções.

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Devido à grande anemia passava os dias deitada«Mais de um anno soffri martyrios, devido ao meu

estado de grande fraqueza; durante muitas semanasnão me levantava da cama, atormentada por dores ne-vralgicas, na cabeça e no rosto; não tinha forças naspernas, e era com a maior repugnância e fastio, que to-mava um pouco de alimento; estava completamente de-sanimada de tanto soffrer sem allivio.

Depois da descripção de meus padecimentos, seráfácil comprehender meu contentamento actual, achan-dome, graças ao uso do IODOLINO DE ORH, curadade meus longos padecimentos, sadia, forte e alegre.

Publicando esta declaração de minha cura, com ouso do IODOLINO DE ORH, cumpro um dever de gra-tidão para com o remédio que me salvou a vida.

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O TICO-TICO 18

INDITOSA CREANÇA!

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2*MARIO DE OLIVEIRA BOTELHO

Pranteado filho do Dr. Oliveira Botelho, presidente do Estado do Rio de Janeiro

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No dia 27 ultimo fez um mez que suecumbiu,em Nictheroy, a esperançosa creanca cujo retratoaqui estampamos.

Rápida e insidiosa foi a enfermidade, que avictimou, zombando de todos os recursos da sciencia.

A 2D de Fevereiro, á noite, embarcara de perfei-

ta saúde, vindo com seus pais de Rezende paraaquella capital; momentos depois, tendo tomadeágua, tirada do reservatório do carro, manifes-taram-se por vômitos, os primeiros symptomas dalethal enfermidade.

Ao chegar á Central estava exhausto, precisan-

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19 O TICO-TICO

do sahir do trem quasi carregado ; e, em progres-sivo augmento, aggravava-se a moiestia, desfigu-rando a intelligente creança.

Chamado a soccorrel-o, não se fez esperar o Dr.Borman Borges, cujas prescripções foram seguidasá risca.

Peiorando sempre, interveiu, em conferência, oDr. Álvaro Ozorio, que velou toda a noite á cabe-ceira do doente, acompanhado por seu digno ir-mão Dr. Miguel de Almeida, que chegara a pala-cio ás 3 horas da madrugada.

Na manhã de 27 era alarmante o estado dodoente, sendo, por solicitação dos assistentes, cha-madosos Drs. Domingos de Sá e Miguel Couto,que desesperaram de salval-o.

De facto, ás 2 e meia da tarde, exhalava o der-radeiro suspiro a meiga e encantadora creança,

que era o maior enlevo de seus hoje desoladospães.

Filho do Dr. Oliveira Botelho e de D. JulietaBotelho,sua esposa ,nascera em Rezendea 6 de Maiode 1899, e desde os mais verdes annos se revelaráintelligencia de escól, muito apreciado pelos seusprofessores e querido dos collegas.

Concluiu com distincção o curso piimario noCollegio Paula Freitas, de onde era alumno, tendoganho o diploma de Auxiliar de Disciplina, pelogrande aproveitamento e exemplar comporta-mento.

Eis o que a seu respeito escreveu o nosso col-lega «Tymbunbá», que se publica na cidade deRezende.:

«Não ha espirito mais afeito ás flagelladoras,vicissitudes da vida ; não ha alma mais estranha ásdores quelancinam alheios corações, que se forre áfunda vibração de magua defrontando um ataúde,derradeiro abrigo, em que repousa o pequeno serque era a esperança risonha de um casal e cujosprimeiros gestos davam a nitida sensação de seualto espirito de amoravel compaixão pelos humil-des.

Foi, por certo,essa torturante impressão de pun-gitivo acabrunhamento que empolgou os que seabeiraram do cadáver de Mario Botelho, o inditosopatrício tao bruscamente fulminado pela morte,quando ávida lhe sorria festiva através do estendalde bênçãos dos pobres que elle amparava, piedosa-mente discreto.

Simples, d"essa encantadora meiguice que étodo um poema de enternecido amor pelos que sof-frem, era> positivamente, uma creança excepcio-nal.

Modestamente, ás occultas, sem o ruido quemagoa e vexa, elle levava, por vezes, aos lares ermosdas caricias da fortuna, o obulo amigo, a consola-dora contribuição da sua esmola discreta.

Com os pequeninos necessitados, mais neces-sitados do que elle, não raro partilhava os brinque-

dos e as moedas que vinham ao mealheuo. E o faziaalegremente, n a suave expontaneidade dé um gestobom, sem alardes e sem ostentação. Dir-se-hia ter aclara comprehensão de um requintado dever de hu-Nmanidade. Condoído com a situação de inferiorida-de de seus fâmulos, nas horas de lazer, aoenvezdastravessuras próprias da sua edade, ia praticar aindauma vez o bem. • •

Ensinando-os a ler, cuidava em arrancar esseshumildes serviçaes da noite negra do analphabe-tismo para as claridades radiosas da instrucção.»

De uma feita, visitando um dos casebres do Al-to dos Passos, os casinhotos onde distribuía suasesmolas, encontrou morto o chefe da família— umrancho de creancinhas sem pão. Outro teria se afãs-tado, sem inquerir talvez o que fosse o dia d'ama-nhã naquelle casal amargurado que a morte enlutá-ra e a miséria assediava.

Carinhoso, confortava o espirito conturbado daviuva infeliz em cujo regaço dormitava, tranquillo,um recém-nascido, o derradeiro filho do extenuadotrabalhador,que succumbira.

E meigo, e amoroso, e esmoler, elle, umacrean-ça também, transmuda-se em homem e assume, poisi, num formoso impulso de extremosa caridade, openoso compromisso de custear a creação do peque-nino orphão, de amparal-o, de educal-o, de fazel-oum homem útil á sociedade e á família.

E ia amortizando religiosamente a sua dividade amor e de caridade.

No entretanto, por escarninha irrisão, a morfeinexorável, fere, sem piedade, um espirito dessatempera, cujos actos frisantemente revelam a doceestructura d'aquella alma devotada á santa cruzadado Bem, nos tempos que percorremos de amargoegoísmo.

Dorme em paz inditosa creança e que as lagry-mas de teus soccorridos aureolem de bênçãos tualímpida memória.

O Tico-Tico, publicando o retrato e biographiado menino Mario de Oliveira Botelho, apresenta-o aseus leitores como um exemplo.

Por sua intelligencia, por seu amor ao estud\sua affeição e submissão a seus pais, seu espiritohumanitário, sua dedicação aos infelizes, seu empe-nho constante a espalhar o bem e principalmente zinstrucção,que é a melhor de todas as riquezas,entreos desherdados dá sorte, Mario de Oliveira Botelhoera o orgulho e alegria de seu extremoso pai, hojeabatido no mais horrendo desconsolo por tão durosoffrimento.

Seu fallecime-nto é também uma perda lamen-tavel para o paiz, que tudo tinha a esperar de umfilho tão bem dotado.

Um menino com tão elevadas qualidades seria,certamente, mais tarde, um homem precioso parasua pátria.

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O TICO-TICO 20

M£$SS)!Ki RESULTADO ^ feitas Alves, Aracy Froes, José Rodrigues do P rado,J^^^H Hele"a Prado Brouwne, Francisco Curza, Fiodoardo LimaWÊÊÊÉSÊsWfÊM D0 CONCURSO N. 687 da Silveira, Lida Leite Miller. Nelson Dias de Aguiar,^I^^W^^ffl José

A Pereira, José M. M. Naegele, Joaquim AntônioS8$EjmF¥^0iÊ A P^tizada recebeu muito ale- Naegele, Gaspar_Luiz Coelho, Alberto Pellerano, Ivan deHfiSwfiMp^l gremente o concurso dos ani- Campos Guimarães, Nero S. Freitas, Humberto Vemet,

HHMBIfflEE!!!^ mães. O sorteio realisado entre os Aivaro vital, Calpurnia Freire. Guilhermp Rv,orictn ,-1,-. q™.

prêmio—10$Helena

A p^tizada recebeu muito ale-gremente o concurso dos ani-mães. O sorteio realisado entre osconcurrentes deu o seguinte re-sultado :

de "C. •LisboaRua Maria Nazareth, 36—Piedade—Capital.

%uM:

Solução do concurso n. 637

2- prêmio —10$

êair Ribeiro da Silva10 annos de edade, residente em Bello Horizonte — E.Minas.

de

Recebemos soluções:José da Rocha Brito, José Augusto Thomaz, Antônio

Joaquim Ferreira, Maria Eugenia da Silva, Armando Lopesde Araújo, Cariinda TinquitelIa.Moacyr Bittencourt, JustinoCordeiro, Sancho de Mello, Edmundo Luiz, Zina Aita, Er-nesto Walte Júnior, Leomax de Laia Lage, Francisco deA. Almada Rodrigues, Seraphim Lobo, Risoleta Proença,Maria Marques de Oliveira, Dinorah Savaget, Estevão Gon-çalvesda Silva, Isa Guimarães, José Marques de Oliveira,Inah Gonçalves, Aloysio Meirelles, Amalia Teixeira, Jo-nes de Araújo Franco, Maria da Candelária S. Diniz, JoãoFernandes Braga, Maria de Lourdes Pinheiro Baptista,Dores de Campos, Tete Xavier, José Caldas Júnior, Lau-rinda Ferreira de Macedo, Magdalena de Oliveira, ArthurNapoleão Goulart, Oscar Pires da Silva, Haydée Cardoso,A. de Souza Lima, Gilvandro Pessoa, Nair Passini, Guio-mar da Silva Machado, Stenio de Campos Freire, Édy E.de Abreu, Arnaldo Goulart, Stellita Freitas Barbosa, Mario

za, Edith Carvalho, Victoria Armondi, Odila S. de Barrosloao José da Silva, Helena de Saldanha Abata, Laura Ma-na de Oliveira Graça, Esmeria S. Freitas, Joaquim Men-des de Souza, Álvaro Vital da Fonseca, Branca Duarte,Aracy Costa, ChristinoCruz Fiiho. Miguel de Campos Ju-mor, Antônio Luiz Gonçalves, Lody Machado, João dos

Santos Silva, Henrique Alvares daSilva, Manuel da Cunha Júnior,Jorge J. Ristom, Jofé Rodriguesdo Prado, Cezar de Oliveira Botelho, Martha dos Santos Abreu, Cie-antho de Albuquerque, Luiz deMello Alvarenga, Ilenriqueta Wor-

^w<f\ /áêfatk. ms' AdeIaide Maria Larangeira,Noemia J. Vianna, Maria Elisa Pin-to, Antônio Vaz Pinto, JoaquimPrado Pinto, Tyrteu Rocha Vianna,Isaltina Pereira Villar, Gizelda C.Cony, Laerte Rangel Brigido, Evade Lima Evangelho, Celina Gomes,Moacyr Peixoto, Nelson Pereira deCastro, Oscar de Mello Cahú, Ma-ria Luiza Bettanio Guimarães, Pe-dro Fernandes da Costa Mattos,Jayme Augusto, Dora Soares, Ary-Kerner Henrique de Barros, Ari-manda Moraes, Maria FranciscadeArruda, Adelaide de VasconcellosCha- ves, Paulo Castello Brancode Gusmão, Eduardo Souza Filho,Gontran Mury, Stanley Gomes, Se-bastião de Almeida Pinto, Victorde Moura Drummond, FYanciscoGomes Marinho, Alberto Ferreira deOliveira, José de Figueiredo, Appa-recida S>mpaio, Rubem RomanoMadeira, Maria Carolina Bransford,

Luiz Pereira da Silveira Júnior, Adhemar Lopes, M. Ade-laide Tavares, Renato de Almeida Rego, Albino Silva,Adauto de Assis, Elisa Romeiro Perez, Haydee Nobre Ven-tura. Helena cos Santos Jordão, Waldomiro Coelho Dias,Lduardo F. Nunes, Aida Pucú de Andrade, Carlos Abiliode Andrade, Flavio Pinto Duarte, Eduardo de C. Ribeiro,José Guadalupe, Joaquim Petrelli, Luiz Gonzaga Ferreirade Andrade, Filandizia Sócrates, Palmyra Rodrigues deMello, Mana de Lourdes da Câmara Saldanha, Guanahyrade Almeida, Menton Pinto de Almeida, Luiz NogueiraMartins Filho, Rosa Alves Penna, Arlindo Mariz Garcia.Maria do Carmo, Donguinha, Homero e Filhote Dias Leal,Castellar José Freire, Eurico Miranda Machado de Araújo,Clanmundo do Nascimento, Julieta Tejo, Waldemar Corrêade Sá, Maria Sylvava, Evan Amorim, Mario de OliveiraBrandão, Dianna Willer de Alvaes, Isaac Miguel Mendes,Abelardo Xavier, Flavio Duarte, Nereida Martini, JoanellaCosta, Jair Ribeiro da Silva, Thereza de Gouvêa, Mariada Conceição Azevedo, Laurentina Gonçalves Leal,Margarida das Dores, Aguinaldo de Mello Junqueira,Antônio Henriques Mattoso Leal, O. Barreto, Cláudio Clau-dionor de Queiroz Prata, Amorim Muller, Francisco LuizLeitão, Alexandrina Ribeiro. Aristóteles Ribeiro, MarioSantos, Helena de C. Lisboa, Heitor Azevedo Àlmsida,

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104 Bibliotheca d'0 TICO-TICO SOBRE O GELO ERRANTE ÍOÍ

vezes, antes de que nós chegássemosjunto d'elle!...

— Empreguemos nosso ar liquifeito,de reserva ! — disse Gil—Salvemos essedesgraçado !

_0 capitão fazia um grande sacrifícionisso. Esse ar liquido que, com a velo-cidade que tinha de imprimir, ia talvezser inteiramente absorvido, era por ellepreciosamente reservado para o fim desua empreza, para as operações dispen-diosas de força mecânica de que necessi-taria, talvez, á sua chegada a Ker-Saint-Iwes. Tanto peior. Era preciso primeiroque tudo salvar William.e urgentemente.

Um momento depois de ter fallado, ti-nha Gil feito desapparecer a quilha deseu batei; depois, exactamente na dire-cção da miragem, lançou o «iceberg» álouca velocidade de cincoenta e duasmilhas áhora.

Cincoenta kilometros representavampara o rápido batei uma meia hora denavegação. Poderia William sustentar-seá tona d'agua por lodo esse tempo? An-gustiosapergunta! Era cgualmente ne-cessarioparao bom successo da aventura,que sua cabeça emergente se encontrasseno circulo visual de nossos amigos.

Para facilmente ser descoberta, já nãodispunham de seus óculos de grandealcance, que o mar tinha levado ou que-brado. Quando Severino fez essa obser-vação aGil.respondeu este :

—Esse caso está previsto , teremos umóculo. O dedicado ex-creado calou-se,porque do que viesse a acontecer no «ice-berg» nada o admiraria. Deixar am-se fi-car os trez por algum tempo «no postode observação», olhando a miragem que,lentamente, se esvaia. Pouco ouviam asacceleradas trepidações domotorgelado,que os transportava, porque das águasimpellidas para a frente, sahia um rumorque tudo cobria, mesmo o ruido de suasvozes, quando fallavan;.

Tinha desapparecido por completo noceu a phantastica e dramática miragem.No horizonte opposto brilhava o astrodo dia com todo o esplendor.

— Occupemo-nos de nosso óculo —disse Gil.

E descendo para o compartimentocommum, seguido de seus companhei-ros, curiosos, pegou de um dos escani-nhos da barca, dous pequeníssimos dis-

cos de cobre, um em forma de lente bi-convexa e o outro, ainda menor, emforma bi-concava. Collocou estes dis-cos e ajustou os em pequeninos tubosmoveis na parte supericr da reducçãode cobre, isto é, na parte correspon-dente «ao posto de observação». Depoisapertou uma finamanivella.

—Isto é para nosso óculo—disse sim-plesmente.

E, sempre seguido por seus compa-nheiros, estupefacto?, subiu rapidamenteao «posto de observação».

— Comprehendo — disse Severino —quando alli chegaram—Mais uma vez,comprehendo

Via-se alli um verdadeiro óculo degrande força e alcance, sem tubo—intei-ramente formado de gelo brilhante.

Na verdade Severino não tinha feitograndes esforços para comprehender arazão d'essa nova invenção gelada. Fi-zera-se como o próprio gelo, como asportas, como a grade para a pesca, semprepela projecção do frio.

Edwiges continuamente mostrava suaadmiração.

—Procuremos!—disse o capitão, fa-zendo voltar a lente e collocando-a defôrma a examinar o horizonte.

Oh, maravilha,das maravilhas! Aquelleóculo voltava-se, alongava se e torna-va-se menor, porque,manejando a reduc-ção, a producção gelada deslocava-se,deslocando a mesma produejão e fazendomover a reducção. O maravilhoso instru-mento podia pois ser montado, abaixado;podia voltar, avançar, recuar de todos oslados; podia ser posto em acção, sem quea formação do gelo deixasse de se pro-duzir. Já explicámos este facto quandotratámos da formação das entradas do«icebery».

Era muito simplesmente uma grandeluneta de Galileu, sem tubo, de objectivabiconvexa e de mira biconcava. As pe-quenas lentes eram bellas e finas, comose fossem de crystal.

No entretanto,o «iceberg»,que desfilavahaveria meia hora, devia encontrar-se nologar do drama, pouco mais ou menos.

—Temos feito nossa marcha directa-mente á miragem—disse Gil—Se nãovirmos a cabeça de Williai-n nestas pa-ragens, então é porque nosso amigo estámorto.

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contrava o «iceberg». O céu estava lim-pido e apenas no horizonte ligeiras nu-vens oceultavam o astro rei. Severinoachava-se no posto de observação, diri-gindoo navio,descendo ás vezes para mu-dar as velas em reducção, que se encon-travam no compartimento commum, se-gundo o capricho dos ventos.Gil e Edwi-ges, na proa, olhavam para o oceano.

De repente Edwiges deu um grito emostrou o Armamento em direcção dohorizonte, para oeste

William !... de cabeça para baixo—exclamou ella.

William ! — replicou Gil — está so-nhando Edwiges.

No emtanto também elle vira, depoisda exclamação de Edwiges, porque, porsua vez, exclamou :

—E' verdade o nosso normando ! onosso William ! Que significa ?...

Isso significa — disse Sevrino quetudo ouvira do alto«do posto de observa-ção»—isse significa que nós temos diantedos olhos, uma miragem, muito simples-mente.

—E' verdade—replicou Plomonach, —uma verdadeira miragem ! Mas que faz lá• em cima nosso William ?

—Que faça o que quizer, pouco im-porta—disse Edwiges alegremente.—Estávivo e isso é o principal. Meu Deus, quefelicidade!

—Sim é o principal—confirmou Seve-rino.—Bravo e bondoso William !

Gil não manifestou sua satisfação comtanto enthusiasmo. Sobretudo, elle obser-vava, sem que sua alegria fosse menos.ntensa do que a dos outros.

Todos olhavam para ó cêu com a maiorattenção. O próprio Severino, deixara o«posto de observação» depois de ter feitovolatisar as grandes velas, para ir parajunto de Gil e de sua mulher.

Todos viam um navio, nas nuvens, pin-tado de negro e que devia medir appro-ximadamente trinta metros. Na ponted'esse navio moviam-se alguns homens eentre elles achava-se William ! O navioestava voltado;as chaminés, os mastros...tudo estava voltado para baixo,os homenscaminhavam com as pernas no ar. Apezarde posição tão anormal a silhueta do nor-mando era perfeitamente reconhecível.

—Uma miragem nesta estação do anno,

de tempestades !... é singular—murmu-rava o capitão.

Era singular, com efieito, pela estação,mas não era pela ideal temperatura queos cercava no momento.

Produzia-se o phenomeno, em summa,normalmente. Com b auxilio da calma,dava-se a total reflexão dos raios lumi-nosos sobre a superposição das camadasde ar, de differentes densidades.

Aquelle batei deve estará uns cinco-enta kilometros de distancia de nós—affirmou Gil.

Tão longe, assim !—exclamou Se-verino; nós vemos aquella gente commaior facilidade do que se estivesse aduzentos metros I

—Esse phenomeno produz-se bastantesvezes no oceano;—disse Gil—mas pode-mos estabelecer uma comparação entre oque estamos observando e o que se pas-sou em quinta-feira, 14 de Junho de 1907,em pleno Atlântico, a trez dias de New-York. Os officiaes do transatlântico ame-ricano Philadelphia viram nas nuvens eem tempo de calmaria e quente, o naviofrancez I.orraine, da Companhia GeralTransatlântica. Eram nitidamente visíveisos passageiros do Lorraine e todavia osdous navios estavam bem á distancia decincoenta kilometros um do outro.

E como se poude verificar essa dis-tancia ?—perguntou Severino.

—Por meio do telegrapho—respondeuGil.—Um « sem fio » foi expedido do Phi-ladelphia para o Lorraine,que respondeuda mesma fôrma, indicando sua situação.E foi assim que se soube que os dousnavios se encontraram distantes 50 kilo-metros. A miragem durara meia hora. Soude opinião, pois que o phenomeno nosmostra um navio situado a egual distancia,pouco mais ou menos.

—E', com effeito, muito provável—con-firmou Severino,—Mas,... mas... o quese passará lá no alto ?

Uma grande animação agitava os-grupos d'aquelles homens.Davam brutal-mente encontrões em William.

—Batem-se !—exclamou Gil— Que irãoelles fazer de nosso companheiro?—Vejam-os— disse Edwiges por suavez—elles prendem-o ao mastro de me-sena I

Esse mastro é, num yacht.de dous

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102 Bibliotheca d'0 TICO-TICO

mastros, o que está na frente. Prendiamo normando a esse mastro.

—Mas que quererá fazer lhe essa gen-te !?..—repetia Gil, fechando os punhos

Todos olhavam paraaquelleespectaculocom tão grande pertinácia, que deviamcansar as retinas.

Aquillo era bem uma visão fantástica ese nossos amigos não soubessem o queera uma miragem, certamente julgariamestar sonhando...

William. nas nuvens, de cabeça parabaixo,em um batei que tinha a quilha vol-tada para cima! Era bem elle ! Nesse casotinha sido recolhido? Que extranha aven-tura!...

—Mas que quererá fazer d'elle aquellagente ?—perguntava ainda Gil.

Queriam matai-o, talvez, porque empouco tempo se passou no yacht voltado,uma scena dramática, qje fez com queEdwiges desse um grito, dizendo :

—Ah 1 os miseráveis !Em presença do drama que se passava

e que os gelava de terror, Gil e Seve-rino fecharam os punhos, 'lamentandoverem-se impotentes para irem em soe-corro do normando.

Um dos homens do yacht alvejavaWilliam preso, com uma pistola auto-matica; mas o normando fazia com a ca-beca um signal negativo, que constante-mente repetia.

A miragem era tão nitida que se via aarma em todos os seus detalhes ; e des-tinguiram mesmo um pequeno rolo defumo que d'ella sahia.

—Matam-o !—exclamou Gil.A bala destinada não devia ter com-

tudo attingido William, porque se viaeste continuando a mover a cabeça, ni-tidae energicamente.

—Que signica aquillo ?—dizia Gil comvoz surda—Oh, os corsários I E não po-der prendel-os pelo pescoço, lá no alto...

—O homem da pistola atirou mais umavez I—exclamou Severino.

Nossos amigos de novo tinham obser-vado duas pequenas nnvens de fumaça oque indicava que mais duas balas tinhamsibilado nos ouvidos do normando ;comtudo não o tinham tocado. Era evi-dentemente uma ameaça.

— Sou de opinião—disse Ewdiges—queelles quere-n obrigai o a fallar. Visando-o

e fazendo sibilar tão perto d'elle as balas,inílingem-lhe uma tortura moral!

E talvez essa não seja a mais duraque lhe preparam—disse Severino porsua vez.

Aquelles homens procedem a uminterrogatório—murmurou o capitão.

Que terão elles a perguntar-lhe ?—disse Severino.

Naquelle momento Polmonach bateuhombro de Severino e sua mão tremia.Estava pallido de emoção.

Conhece aquelle homem?—pergun-tou elle ao companheiro, indicando como dedo o personagem que, na miragem,tinha dado os tiros de pistola—dar se-hao caso !... não... todavia I...

Severino e Edwiges olharam, procuran-do identificar a silhueta do homem in-dicado com outra que já tivessem visto.

Mas !—exclamou Severino de re-pente—é... òo bandido ! é Luiz !...

Luiz Casteloup I—concluiu Gil comvoz surda—tinha-o reconhecido! Aquellenavio pertence aos Estrellados. Aquellesmalditos também operam no mar I...

E o capitão, muito animado, continuouseu soliloquio, em voz alta, as sobrance-lhas encrespadas, os punhos cerrados, si-bilando estas palavras, cheio de cólera,que mal podia conter:

—Elles recolheram nossoamigo.do mar,durante a tempestade; é isso. Seu navioencontrava-se então próximo do nosso.Aquelles bandidos tinham-nos visto, pois;conheceram, talvez, nosso segredo c ro-deavam nosso «iceberg».—Depois aceres-centou, tendo reflectido um momento:

—No entretanto a presença no oceanodo inexplicável bloco de gelo, ter-lhes-ha sido revelada, como ao resto do mun-do, por algum «sem fio» partido do Broo-klrn, e, admiltindo que elles tenham adi-vinhado nossa presença,não podiam estartão perto de nós que pudessem recolherWilliam! Como explicar tudo isso ? Comocomprehender ?

Edwiges e Severino escutavam. Masem breve elle se calou, porque algumacousa de novo se passava na miragem,que infelizmente ia empallidecendo.

Meu Deus !«— exclamou Edwiges —elles o soltam e o lançam á água I...

Os dous homens, vendo isso, não ti-nham podido reprimir um gesto de cólera.Mostraram os punhos cerrados á miragem

SOBRE O GELO ERRANTE 103

atmospherica. Mas poderiam impedir tura sobre as águas, tortura que precede-drama ria pouco tempo o elle afundar-se no

Na miragem os bandidos viam aquelle abysmo!...que tinham precipitado, empregar gran- —Vamos em seu soecorro I—gritou Gil.des esforços para nadar. — E sem demora—acerescentou Seve-

Depois o yacht, abandonando-o, desfi- rino.

=5s=____ ___ _^_J

Era com effeito o corpo do infeliz Normando,que fluetuara

lou. Nossos amigos, passado algum — Mas o vento?—perguntou Edwiges.tempo não viram mais do que a cabeça Iremos com a precisa ligeireza, com estado normando, que fluetuava. O desgra- calmaria absoluta?çado.talvez ferido.não poderia, evidente- — O vento, é verdade ! — disse Se-mente, nadar por muito tempo verino. Esta calmaria maldita I Nosso

Começava para elle uma segunda tor> pobre amigo teria tempo de morrer cem

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(I 21 O TICO-TCO•Zelia Machado Villela, Florina Borges, José Paes de At-meida Ramos, Eulina Paulina Machado, Francisco Thomaz«e Oliveira Filho, Amélia Vasconcellos, João Aliguel João1 edro Barcellos Mariot, Attila Lago, Othon Leonardos, Jan-dyra Rocha Pinto, Alberto L. de Carvalho Júnior, Glasto-ne Meirelles Gralha, Luciono Haguenaner, Moacyr Car-"eiro, Carlos S. Ribeiro, Umbelina Cavalcanti de Albu-querque, Margarida Pospissis Guimarães, José da Silveira^'meida. Alberto dos Santos Terrinha, Lúcia Perez deAraújo, Joio Telles, Raymundo Alboim, José J. Gonçalves.

RESULTADO DO CONCURSO 650PERGUNTAS

1*—Soccorro2-—Paracatú3-—Foice-foi-se4'—Cavallo—cavalla

Resultado do sorteio1" prêmio—105.

•Mapio 'Ppimo da Silva1"*annos, rua Fernandes 33—Engenho Novo.

2- prêmio—10$.Juslino Copdeipo

H annos de edade, morador na rua Pr. Alberto Torres, 101—Porto do Velho—E. do Rio.

Remetteram-nos soluções :Mario Primo da Silva, José Baptista Pereira, Dinorah

Azevedo, Edmundo Francisco Pereira, Orlando EduardoSilva, Eduardo B. Filho,Carlos S. Ribeiro, Amalia Teixeira,Alba Fonseca, Helena Teixeira, Cy Maria Bittencourt, Fran-cisco Xavier Soares Pereira, Wilton Corrêa Barbosa, Mariada Candelária Diniz, Zenyra Horta da Costa, Jayme So-breiro, Edgar Abreu de Oliveira, Castellar José Freire,Jorge de Oliveira Tinoco, José S. Landim, Maria Juliai!e Castro, Zelia Gomes de Almeida. Rogério G., Christino'•ruz Filho, Maria Antonieta do Rego, Maria de OliveiraBrandão, Jandyra Rocha Pinto, Mario de Oliveira Brandão,Jandyra Rocha Pinto, Sylvio Monteiro Moutinho, UldaLeite Muller, Waldemar Lefebre, Eurico Neves Maia,Joaquim de Azevedo, Julieta da Silva, Pedro Mallet deLima, Zilda de Brito Pereira.Paulo Prestes, VictorClaudinodo Espiriio Santo, Carmen da Silva Freire, Arlindo MilitãoCorrêa de Sá, Justino Cordeiro, Arthur Caetano da Silva,Maria José Perez de Araújo, Aguinaldo de Mello Junqueira,Uosa Alves Penna, Maria das Dores Rodrigues, Maria Do-lores Pinto Coelho,Martha dos Santos Abreu, Antônio Tava-res Bastos, Henrique Álvaro da Cunha, Alice Muller, Joa-quim Antônio Naegele, José M. M. Naegele, Arlinda Pe-reira Vaz, Agostinho Leite Rodrigues, Raphael Corrêa Lo-gullo, Clarimunndo do Nascimento Mesquita, José Mar-qucs de Oliveira, Nenê Teixeira, Maria Dulce Soares, Mariade Lourdes Migueis de Mello, Helena Migueis de Mello,Vera Migueis de Mello, Flavio Migueis de Mello, MariaBenedicta da Silva, Adamato de Assis, Christino Cruz,Christino Cruz Filho, Eduardo Moura, Moacyr Peixoto, A.daMury Netto, Guiomar Nogueira da Gama, Irene Nogueirada Gama, Olga da Rocha Santos, Noemi Cotrim Morenade Carvalho, Iracema Rosa, Maria do Carmo Dias Leal.Donguinha Dias Leal, Homero Dias Leal, Filhote Dias LealEdgard 0'Reilly de Souza e Agenor Belmonte dos Santos.

CONCURSO N. 655PARA 03 LEITORES DOS ESTADOS E D-ESTA CAPITAL

IIIIIIIIIIIIII llllilllll??

Trinta e seis palitos e quartro pontos ; com esse mate-rial, depois de recortado, cuidadosamente, está-se aptoa fazer scenas muito interessantes] por exemplo : tomemosos quatro pontos separadamente e para cada um d'ellesreservemos 0 palitos; agora com muita paciência junte-üios, entre si essas dez peças (um ponto e 9 palitos) demodo a se obter a figura de um boneco, no qual se em-j/egaram : para o tronco um palito, um ponto para fazer acibiça e 2 palitos para cada perna e cada braço.

Ampliem essa operação a todos os pontos e teremosquatro bonecos, ao todo, esses quatro bonecos podem serfeitos de maneira que pareçam estar dansando, pulan-do, ou correr etc. Depende isso apenas da inclinação quederem ao seu corpo e da posição que collocarem suas per-r.as e seus braços.

Bem. Cada leitor deve concorr-er com uma serie decuatro bonecos formando uma scena qualquer interessan-le, organisado pelo modo que acima explicamos.

Serão recebidas as soluções até o dia 29 de Maio. Ha-verá dous prêmios de 103 cada um, que serão dados aosdous melhores trabalhos, ou distribuídos por sorteio. Ovale n. 055 deve ser collocado á margem da solução. O:oncurrente deve assignar a solução e nella escrever suaresidência e edade. '

vCONCURSO N. 656

PERGUNTAS

!¦ —Qual é o vehiculo que se torna titular desde quelhe seja trocada a primeira lettra?(Remettida pelo menino Arlindo Mariz Garcia).

£•—Ella morre cantando.Elle morre queimado.

Qual é o casal ?(De Castellar José Freire).

3-_Procurem no espaço.Uma coisa mui bonitaQue ahi encontrarão,Uma mulher bem catita.

(Por Waldemar Luiz da Rocha).

4--Cidade de PortugalCom a nota de instrumentoPodem formar tal e qualUm saboroso alimento

(José Pagano B. Filhol

5— O qu? sou ?

Por simples vogaesE duas iguaesMeu todo é formado.Direito, invertidoE' o mesmo sentidoDo nome indicado.

A grave funeçãoDa nobre missãoQue exerço no larMe torna querida,E me traz n'uma lidaDe nunca findar

[Remettida por Carmen Barreto]

de 10$Haverá, para os decifradores, dous prêmioscada um, por sorteio.

Cada cnncurrente deverá assignar a solução e fazel-aacompannar de sua residência, edade e do vale n. 656.

Recebemos soluções até o dia 17 de Abril.

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O TICO-TICO 22

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ROBINSOI CONTINUAÇÃO BiT

Os Abutres

Essa singular ave conservava de sentinella á entrada dacaverna sitiada, de rroJo a impedir a a approximação depassarcs menores, que esvoaçada por cima dos cadáveres.

Havia alguns instantes que considerávamos este esquisitoespectaculo, quando ouvi por cima de minha cabeça um rui-do de azas pesadas, e ao mesmo tempo vi uma grande som-bra projectarse sobre a areia na direcção da caverna.

Ülhamos-nos todos com admiração, quando Fritz fez fogopara o ar e vimos um pássaro enorme cahir sobre a ponta dorochedo, onde quebrou a cabeça, enquanto o seu sangue soescapava por uma longa ferida.

No emtantoô" guarda da caverna hesitava ainda em abando-nar seu posto; por ;im quando Friiz estava a distancia de umtiro de pistola, a ave levantou-se lentamente, com muito senti-mento nosso, e elevando-se nos ares com um vôo magestosodepressa desappareceu de nossas vistas.

Entrei com precaução na caverna e reconheci com alegriaque os dous ursos estavam ainda intactos ; apenas os olhos ea lingua tinham sido devorados pelos pássaros. Felicitei-mepor termos chegado a tempo de salvar o resto.

A ave que Fritz matara era um condor. Tratava se agora,sem demora, de tirar a pelle dos dous animaes. Para tornar aoperação mais fácil, nós us suspendemos a um forte bambu,solidamente fixo no chão da caverna, emquanto minha mulherse encarregou de construir um fogão e desenterrar os ovosde avestruz, para expol-os aos raios do sol.

O resto do dia passou rapidamente entre os trabalhos di'versos que nos occupavam. Então pensei nas minhas tartaru-gas, que desde d véspera estavam no sacco ; depois de as termettido na água e lhes ter apresentado alguma comida, col*loqueras de novo no sacco, que lhes devia servir de moradaaté a nossa volta para casa.

Empreguei ainda um dia para terminar a preparação dacarne dos ursos.

Meus filhos tiveram permissão para umanova excursão á savana e logo os trez via-jantes, [pois Ernesto ficava], correram paraos seus cavallos que pastavam tranquilla-mente a alguns passos da gruta e tudo ficouprompto para a partida. Ernesto ajudou demuito boa vontade seus irmãos, desejando-lhes felizes encontros e uma serie nunca in-terrompida de aventuras e descobertas.

Depois da sua partida eu voltei tranquil-lamente para o meu trabalho.

Minha mulher preparou para o jantar umpedaço de urso, e rodeámos o fogo.esperan-do impacientemente a chegada de nossoscaçadores.

De súbito ouvimos um ruido de passosprecipitados; e no mesmo instante vimos osnossos caçadores approximarem-se do cam-po gritando alegremente. Apearam dos ca-vallos ligeiramente, deixando que os ani-mães procurassem por si mesmos os fartospastos da planície, Jack e Franz traziam cadaum um veadinho.

Fritz tinha o sacco de caça penduradoao hombro direito, e o movimento das cor-reias indicava claramente a presença de umanimal vivo.

—Boa caçada!— exclamou.fack de longe,apenas me viu.—Aqui estão dous vigorosossaltadores, que perseguimos com tanta energia, que acabaram por se deixar apanhar ámão.

- Sim-exclamou Fran\, — e Fritz trazum par de coelhos angoras em seu sacco;podíamos ter também trazido um pouco demel.

—Esqueces o melhor—ine -rompeu Fritzpor sua vez.—Fizemos entrar uma tropa deantílopes em nosso parque, de sorte que po-demos caçal-os á nossa vontade, ou apanhai-os vivos,se quizermos.

Depois do almoço fiz accender as foguei-ras para a noite e preparar os archotes, parao caso em que o fogo se apagasse; porque,durante a nossa estadia na caverna, nós ti-nhamos sempre de noite duas grandes fo-gueiras accesas, para prevenir o ataquedos animaes selvagens.

CAPITULO XLVIDOCaptura de um avestruz — educação

avestruz — construcçãodo caick —a vacca marinha

Ao romper do dia acordei as creançaspara começar os preparativos da partida.

Jack e Franz sahiram na frente e eu osdeixei ir, lembrando-me de que,na immensaplanicie.estava certo de não os perder de vis-ta. Resolvi com Fritz mesmo parar umpouco; passados alguns instantes tornámos amontar a cavallo para seguir as pegadas dosnossos batedores. Esses já estavam tão longeque tínhamos dífficuldade em os ver. Se-gundo nossas conjecturas, elles deviam se

achar nas vizinhanças do ninho de avestruz e approx/marem-se por detraz para enxota-rem os pássaros para o nosso lado se estivessem no ninho; porq:iesabe seque o aves-truz divide com a companheira o trabalho de chocar os ovos, e que muitas vezes asavestruzes reúnem os ovos em um mesmo ninho, chocando alternativamente.

Fritz, que havia resolvido apanhar vivo o primeiro avestruz que encontrasse,tivera a precaução de embrulhar com algodão o bico da águia, para evitar umacatastrophe semelhante a que havia ensangüentado nossa primeira caçada Postámo-nos cada um por nosso lado a certa distancia do ninho, esperando com impaciência omomento de agir.

Tinham-se passado apenas alguns instantes quando vi muitos vultos sahirem deentre o matto, nas proximidades do ninho, e se dirigirem para nós com grande rapi-dez. Ficámos tão quietos, que os pobres animaes não nos viram, ou pelo menos nosjulgaram menos perigosos que os cães, que já os seguiam. Esses vultos correram tãodepressa, que reconhecemos um avestruz com trez companheiros; todas as nossasattenções voltaram-se para elle; quando estava á distancia de um tiro de pistola,atirei lhe o laço, mas com tão pouco gcito, que em vez de attingir uma perna, a cordabateu na extremidade das azas, onde sa embaraçou, mas sem retardar a fuga do ani-mal. Porém esse, assustado por esse brusco ataque,mudou subitamente a direcção dacorrida. As companheiras dispersaram-se para a direita e para a esquerda; nós cor-remos atraz do aveztruz.

Jack e Franz foram por seu lado apressar Fritz a dar o signal decisivo. Este sol-tou a águia, que começou por plainar por cima do avestruz,sem dar signal de atacar.A approximação d'esse novo inimigo acabou de desnortear o pobre animal, que sepoz a correr para todos os lados, sem decisão, de medo que tivemos tempo de nosapproximar d'elle. Nesse momento a águia plainava tão baixo, que as suas azas toca-vam quasi na cabeça do avestruz. ]ack atirou o laço com tanta felicidade, que pren-deu uma perna do fugitivo. O animal cahiu e a sua queda foi seguida por um gritode victoria. Checámos a tempo de arredar a águia e os cães, e de impedir o prisi-oneiro de se desembaraçar do laço.

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OHO

Os veadinhos

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—í.mã.o sevia prec'\so \ei dous avesuzes mansos,para applicar o mesmo systema a nosso prisioneiro?—perguntou «Jack>.

Respondi que não era preciso, pois tínhamosSturm e Brummer, mas que era preciso amarrar for-temente as pernas do nosso prisioneiro.Os trez rapazes saltaram de alegria.

Tratei então de passar por debaixo das azas doavestruz duas novas correias, menos fortes do que aprimeira, e bastante longas para que, segurando-seem sua extremidade.não se corresse nenhum risco deser attingido pela ave. A primeira foi passada naspontas de Brummer e a segunda nas de Sturm.Meus dous filhos tiveram ordem de montar nessesanimaes, devendo ficar attentos, porque eu ia soltaro animal das cordas e do lenço, que o privava douzo dos olhos: dupla empreza da qual me sahi bem.

Acabado esse trabalho, dei um salto para traze começámos a observar com anciedade os movi-mentos do animal.

Elle começou por ficar no chão, sem movimento,parecendo não querer fazer uzo de sua liberdade,senão para deitar em torno de si olhares assustados.

.1 educação dv avestruzMas os esforços desesperadas do avestruz paralivrar a perna,nos faziam temer que elle conseguisse

romper as cordas e escapar.Não ousávamos approximarmos por esse lado ;mas elle também era terrível do outro, por causa de

seu formidável bater de azas. A posição se tor-nava critica: olhávamos em silencio para os seus ter-riveis meios de defeza, contra os quaes nossos esfor-ços se tornavam inúteis, visto a primeira condiçãoser a de não ferir gravemente o animal.

Por fim eu tive a feliz idéia de atirar o meu lençosobre sua cabeça e amarralo fortemente em tornodo pescoço. Então correu tudo muito bem, porqueo avestruz, perdendo o uso dos olhos, deixou seamarrar sem resistência. Começámos por lhe amar-rar as pernas e os pés, de modo a deixar-lhe a liber-dade de andar sem poder correr; em seguida ro-deei-lhe o corpo com uma larga cinta de pelle decão marinho, que lfte prendia as azas.

Apezar de tudo .Fritz» ainda duvidava de po-der amansar e utilisar o avestruz. Então eu lhe es-pliquei que os indios, para amansarem os elephan-tes, amarram-nos entre dous já mansos, os quaes seelle resiste, atiram-se-lhe em cima, com as trombas,obrigandoo a andar emquanto os indios o excitamtocando-lhecomas suas lançaspordetrazdas orelhas.

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-¦¦'¦

O avestruz domesticado

O cayah

De repente nós o vimos levantar-se, esperando fugir sem obstáculos;mas a violência do seu esforço o fez cahir de joelhos. Não tardou por j*na se levantar de novo com mais prudência, repetindo os seus esforçospara fugir. Mas os seus dous guardas eram muito vigorosos para o deixarfugir.

Então o avestruz quiz tentar a violência, e começou a bater com asazas da direita e da esquerda; mas as azas eram muito curtas e tambémpresas pelos laços para que elle conseguisse seu intento: no fim de algunsinstantes elle cahiu mais uma vez. Uma vigorosa chicotada fel-o levantar-se tentando de novo fugir; mas esta ultima tentativa não foi mais feliz doque as precedentes.

Vendo toda a resistência inútil, o pobre animal rebignou-se a andarseguido por seus guardas e esses souberam tão bem cançal-o que embreve elle diminuiu a pressa.

Julgando então que tinha chegado o momento favorável, ordenei aospequenos que se dirigissem para o Campo dos Árabes, emquanto Fritz eeu iamos ao ninho para escolher os ovos, que quizessemos levar.

Apressàmos-nos em embrulhar os nossos preciosos ovos com o maiorcuidado; e depois carregámos os animaes com os saccos, dei o signal davolta, e depressa chegámos a nossa casa.

Ernesto e sua mãi ficaram assombrados á vista do nosso novo pri-sioneiro.

—Em nome do céu I Trazes um novo hospede ? Que vamos fazer comtal companheiro para que nos servirá?—exclamou minha mulher.

—Em primeiro logar é um excellente corredor—disse Jack—e se naverdade essa região toca com o continente africano ou asiático, serão pre-cisos poucos dias para chegar á primeira colônia européa, onde sabereipreparar tudo para a nossa liberdade. Proponho que chamemos o recém-chegado de Bransevind ívento impetuoso): é um nome que elle nãotardará a merecer. A ti, Ernesto, eu cederei meu Bucephalo, logo que esteesteja em estado de ser montado. O resto do dia foi oecupado em empa-cotar as provisões e nossas novas descobertas.

Offioinas lithogvapliicas d'0 MALHO