u5 - cristologia sistemática
DESCRIPTION
Cristologia sistemáticaTRANSCRIPT
EAD
Cristologia sistemática
5
1. OBJETIVOS
• SistematizarumdiscursoexaustivosobreJesusCristo.• Argumentar sobre aoriginalidadede Jesus, justificando
suaposiçãocristológica.• Aprofundarcriticamenteosignificadoteológicodamorte
deJesus.• CaracterizararessurreiçãocomoautorrevelaçãodeDeus
econsumaçãodacriação.• Diferenciarosaspectosteológicos,cristológicoseantro-
pológicosdaressurreição.• Justificaracriaçãocomonovacriação.• Caracterizararessurreiçãocomo"consumaçãoescatoló-
gica".
© Cristologia132
2. CONTEÚDOS
• Acristologiahoje.• OhomemJesus.• OdestinodeJesus:morte.• Oressuscitado:autorrevelaçãodeDeusedohomem.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antesde iniciaroestudodestaunidade,é importantequevocêleiaasorientaçõesaseguir:
1) É necessário que você aprofunde alguns conceitos decristologiaafimdefacilitaracompreensãodequeméJesus, o Cristo. Ao refletir sobre Ele, você deve saberondeestávocêmesmoedeondeestápartindo.Assim,poderáfazerumdiscurso,umareflexãocoerente.Éim-portante conhecer a experiência teórica queoutros jáfizeram.Destemodo,conseguirápercebermelhorasuaposição,bemcomoadosoutros.
2) Paraaprofundarseusconhecimentos,confiraosconcí-lios.
3) Para você se aprofundar mais sobre o significado davirgindadedeMariaeonascimentodeJesus,leiaRAT-ZINGER,Joseph.Introdução ao cristianismo.SãoPaulo:Loyola,2005,p.201ss,especialmente204.Hátambémmuitostextos,facilmente,encontradossobreosevange-lhosdainfância.
4) ParavocêconhecerosignificadotradicionaldaIgrejaCa-tólica,outrasigrejaseexegesesatuaissobreoassunto,leiaTHEISSEN,Gerd;MERZ,Annette.O Jesus histórico:ummanual,p.218ss.PUIG,Armand.Jesus: umabiogra-fia,p.170-184.
5) VocêsabiaqueBuda‘SidarthaGautama’ensinou,apóssuailuminação,durante45anos.Maomé‘Mouhamed’pregoudurante20anos,eMoisésdirigiuopovopor40
133
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
anos,enquantoJesusviveuseuministérioentreumanoemeioatrêsapenas?
6) Paraaprofundarmaisseuconhecimento,sugerimosqueleiaosestudosdeVERMES,entreeles.Natividade.RiodeJaneiro/SãoPaulo:Record,2007;As várias faces de Jesus.RiodeJaneiro/SãoPaulo:Record,2006.
7) Vocêdeveretomarosignificadobíblicodeprimogenitu-ra.Complementeosentidoconsultandodicionáriosouvocabuláriosbíblicosouentãorevejaseusestudosbíbli-cosdoAntigoTestamento.Osprimogênitostinham,des-dealegislaçãomosaica,direitoaduaspartesnaheran-ça.Aoprimogênitoeraasseguradoorespeitodetodososoutrosirmãos;deletambémeraaresponsabilidade,especialmente, quando umdos irmãos necessitava deum socorro especial. Aprofunde o estudo deste tema,para compreendero lugar de Jesus como primogênito entre nós e para nós.
8) Vocêpodeaprofundar,ainda,osestudossobreapieda-de de Jesus,bemcomosobreaoração do Senhorem:SOBRINO,Jon.Jesus, o libertador,p.207-211,alémdeváriosoutrosautores.
9) Revejaoconceitode“novo adão”noscadernosdeAn-tropologia Teológica,nasUnidades3e5,e Introdução Geral à BíbliaeHistória de Israel.DeusanteviaemCristoJesuso serhumanoperfeito,porantonomásia.Assim,volteaoseucadernodeAntropologia Teológicaereleia,naUnidade3,sobretudo,osTópicos2,3,4e5.
10)Paravocêseaprofundarnoassunto,confiraoconceitodeSchürmann,quejáéclássicoemcristologia,nores-pectivoverbete"pró-existência”doDicionário Crítico de Teologia,p.1452,p.363-364.
11)Vale salientar que, neste estudo, sedeve ter presentenão apenas a história dos dogmas cristológicos, mastambémdeve-seestarabertoparacompreenderosigni-ficadodaTrindade UnaoudaUnidade Trina,quealgunsdizem: ‘Tri-unidade’. Este tema será desenvolvido emoutrocadernonodecorrerdoseucurso.
© Cristologia134
12)Vocêpoderáaprofundaras teoriasdestaunidade, len-do,entreoutrostextos,BOFF,L.Paixão de cristo, paixão do mundo.Petrópolis:Vozes,1977,p.108-126eSEREN-THÀ,M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre:ensaiodecristologia.SãoPaulo:Salesiana,1986,p.425-444.
13)Paraaprofundar seusestudos, leiaos textos:Mc9,31;10,33-34;14,41;15Mt20,28;Lc22,27;Jo10,17.Pesqui-se,também,emoutrostextosneotestamentárioscomo:Gl1,4;2,20;Ef5,2-25;Tt2,14;1Tm2,6.
14)Para completar seusestudos sobrea ressurreição, leiatodoocapítulo15de1Cor,começandopelosversículos35-58eleiadepois1-34.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Estaunidadepropõelevarvocêaumgrandeprocessodesín-teseesistematizaçãodoquefoiestudadoatéaqui.
Assim,aquivocêseencontrarácomJesusCristo,umserhu-manooriginal,nãosóporserdivinoehumanoaomesmotempo.Vocêselembradoconceitode"uniãohipostática"?
Comtaisconhecimentos(bíblicoehistórico-dogmático,quesãonormativoseintegrativosdafé),vamosencontrarcomJesus,AquelequesecompreendeuapartirdeDeus;quefoisolidárioco-nosco,apontodedarsuavidapornós.Talamorsolidárioerepre-sentativofezqueoPaioressuscitasseedeixasseclaroqueohaviaconstituídonossosalvador,comoEleeradesdeoiníciodacriação.
Tenhoacertezadequeestaunidadeéempolgante.Econhe-cendomelhorJesusCristo,vocêserácapazdesehumanizarmais,vivenciando-oparaamá-loeservi-lomaisprofundamente.
Nesse sentido, você estudará as cristologias atuais, o Ho-memJesuseseudestino,morteeoressuscitado,bemcomoau-torrevelaçãodeDeusedohomem.
135
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Aprincípio,retornaremosaotemadacristologiacomotal,para que você percebamelhor não só o caminho que faremos,mastambémtenhacritériosteológicosparaperceberascristolo-gias existentes ao seu redore aspolêmicas (frequentes)que selevantamemtornodestetema.
Propomosuma leituraglobaleenglobantedaencarnação.VocêdevecompreenderefundamentarJesuscomoumagrandeunidade.
Assim,iremosaprofundarteologicamenteossignificadossalví-ficosdamorteeressurreiçãodeCristo,comorespostadeféparahoje.
Vocêencontraaseguirummapaconceitualdaunidadese-guinte,oqualseconfiguranãoapenascomoumasíntesedosprin-cipaisconceitosaquitratados,mas,sobretudo,comoumroteirodeestudo.
CRISTOLOGIA SISTEMÁTICA
A originalidade de Jesus
O destino: a morte de Jesus e suas interpretações
A ressurreição de Jesus : a autorrevelação de Deus
Cristo no Plano Salvífico
de Deus
O lugar do Salvador
Autocompreensão
Pro-existencia
estaurologia
encarnação
TeoriassobreaMortedeJesus
Fontes
Testemunho
Autorrevelação
Significado
Valorsalvífico
O papel do Salvador
Questões teóricas da cristologia hoje
Perspectivas cristológicas
Cristologiadoalto
Doalto
Cristologiadebaixo
Valorsalvífico
´ ^
Bomestudo!
© Cristologia136
5. AS CRISTOLOGIAS HOJE
Acristologiaéfeitanoplural.Naverdadenãoexisteacris-tologia,masas cristologias.Eporqueéassim?
Nenhumestudo,pormaiscompletoqueseja,abarcatodaapessoadeJesus,homemeDeus,entrenósenossosenhorsal-vador.
OpróprioNovoTestamentoapresentaaomenoscincomo-delosdiversos.Estefatoindicanãosóanecessáriaintercomple-mentariedade(nenhumsebastaporsisó).Apontaapossibilida-dedemuitosenfoques.Querdizer,podemserdiversosospontosdepartida,poiselesdevemestaradequadosaosouvintes/leito-resquecreeem.
Acristologiaéparaacompreensãodosquecreem,notem-poecircunstânciaqueelesvivem.OmesmoJesuséapresenta-doconformeacapacidadeeexigênciados"crentes"desdequetalcristologiatenhasemprepresentecomonormaoNovoTes-tamentoeodogma,como integrativo. Istonãoquerdizerqueambossejamuma“camisade força”;masumaorientaçãoquenãosepodeignorar.
Numagrandesíntese,pode-sedizerqueacristologiatemtidodoisgrandesmodosdeproceder(métodos):"a partir de bai-xo”ou“a partir de cima”.
Acristologiaapartirdebaixocomeçaenfocandoahistóriahumana de Jesus para depois compreendê-lo tambémem suadivindade.AênfaseestáemJesushistórico,tendocomobaseosevangelhossinóticos.Eacristologiaapartirdecima,mesmoquetenhapredominadonahistória,partedoFilhoeternodeDeuseutilizaumalinguagem,predominantemente,ontológica(helenis-ta,ocidental).
137
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
O ponto de partida da cristologia
Cristologia a partir de baixo
Acristologia“apartirdebaixo”équevaipredominandohojecomocritérioparaaproximar-sedeJesus.Porquê?
Não sópor causadasmudanças socioculturais domundo,mastambémpelacrescente"des-europeização"daIgreja.Nãosóporqueasegundausauma"gramática"queleva(quaseheretica-mente)aperceberJesusemsi,ontológico,comoalguém(quase)estranhoaossereshumanosreais,mastambémpelacompreen-sãodamudançadopapeldaIgreja,como“serva”e“instrumentodesalvação"(cf.LGeGS).Porqueainda:pararesponder"queméJesusCristo,paranóshoje?",énecessárionãoapenasumanovalinguagem,mas uma linguagem que leve também em conta asperspectivasantropológicasdaculturacontemporânea.Eaí,inclu-sive,arecuperaçãodeumacristologiasotereológica.
Desdeoséculo12,houveumacrescenteseparaçãoentrecris-tologiaesotereologia.Seantes,noperíododeourodacristologia(doséculo3ºao8º),haviaumapreocupaçãoemseafirmarsemprequemeraJesusCristoparaanossasalvação,progressivamentefoi--seconstruindoumacristologiasobreoserdeJesusCristo,desliga-dodeseupapeldesalvadordetodos.Aquestãosalvíficavoltouaintegrarareflexãoatualespecialmentenacristologiadebaixo.
Deformamuitosimplistasepoderiadizerqueacristologiaapartirdebaixoéencontradanascristologiasda libertação, fe-minista,contextual(asiática),negra(africanaenorte-americana).Nopassado,elaexistiupormeiodascorrentesdepensamentodachamadaEscolaAntioquena,dopensamentofranciscano,naespi-ritualidadeeartesmedievaisetc.
A cristologia a partir de cima
A cristologia a partir de cima, com fundamento joanino epaulino, predominou entre o clero e intelectuais, sobretudo da
© Cristologia138
culturabranca“masculina”eeuropeia.Parte-seda ideiadequeJesuséoVerbopré-existente(desdetodaaeternidade)e,umdia,sefezhumanonoseiodeMaria.Éusadapredominantementepe-losquetrazemumatradiçãodoutrináriahelenista-ocidental(comcortemais europeu e eclesiocentrico). A grande preocupação éressaltarakenosedeDeus,que,aosehumilhar,nãosesentiuin-dignodeassumiranaturezahumana,afimdeelevá-laatéDeus(cf.Fil.2,6ss).Talcristologia identificanosevangelhos, inclusivenossinóticos,apresençadeDeusnohomemJesus.
Algunsafirmamquesuafortepresença,emcontraposiçãoàscristologiasapartirdebaixo,sedeveaofatodequeelaéaprefe-ridapelosbisposepapas.
Assim,oquedizersobreestasduascristologiashoje?
Tanto quanto são normativos os evangelhos, que, em ter-mosdecristologia,noslevamaconceberJesusCristocomoDeusEterno,exigemconcebê-lotambémemsuahistóriahumana.Earecíprocaéverdadeira:conceberahumanidadeDeleexigereco-nhecê-locomo"Emanuel"(Deusconosco).Umasemaoutranoslevaránãosóaevitarasdiscussõesjásuperadaspelostemposdosconcílioscristológicos(equeseriaperdadetempo),masaevitartambém os erros (heresias) passados, cuja solução integra a fécristológica.Note-sequeculturapós-moderna(inclusivecatólica)écentralizadanoserhumano,nãomaisnasforçascósmicas(dis-cursodiferentedodasquestõesecológicaecósmicacontemporâ-neas)nemteocêntricas.
Perspectivas cristológicas
Comoéimpossívelescreveruma"síntesecristológicadefini-tiva",entãosepercebequetodasequaisquercristologiassofremainfluênciadaculturaedasrelaçõesexistenciaisdeseusteólogos.
Ascristologiasatuaistêmsidofeitasmaisapropriadamente"apartirdebaixo".Estaposição,inclusive,superaadiscussãore-centesobreaperspectivacristológica,oracentradanamorte (eressurreição),oranaencarnaçãoounahistória.
139
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Aprimeira(quepredominounosegundomilênio,especial-mentedepoisdeSantoAnselmo)enfatizouopapelsotereológicodamortedeCristo.Chegou-senaradicalizaçãodealgunsafirma-remquearazãodaexistênciadeJesuseraparamorrernacruz,afimdenossalvardenossospecados.
Asegundaperspectiva,comenfoqueencarnatório,emresu-moafirmouquearazãodoFilhoEternosefazerhomem(encarna-ção)erapararevelarqueméDeus,quemsomosnósecomoDeusnoscomunicasuavidadivina.Éaperspectivajoanina.
Aterceiracorrente(apartirdossinóticos)percebe,àluzdapáscoa,avida,aatuaçãoeodestinodeJesuscomoproximidadedeDeusentrenósparaanossasalvação.
Astrêsperspectivas,somentesãolegítimasseforeminter-complementaresenãoautoexcludentes.Porjulgarqueoenfoquehistórico,hoje,tornamaisacessível,paranós,oencontrocomJe-susCristo,équefazemosestaopçãometodológica.Areflexãoso-breaplenitudedeCristo(eistoécristologia)noslevará,desdeahistóriadohomemdeNazaré,àluzdapáscoaaoencontrodopro-jetodesalvaçãodeDeus,realizadoNele,seuFilhoenossoIrmão.
6. O HOMEM JESUS
Jesus, um homem original
MesmoquandolocalizadonocontextodaGalileiado1ºsé-culod.C.,JesusviveuareligiosidadedeseupovoqueeraportadordeumagrandetradiçãovindadeAbraão,passandoporMoisés,pelospatriarcas,profetas,reisesacerdotesdeseupovo.Eraumareligiosidadequeocupavaocentrodavidadopovo,mesmonosperíodosdeescravidão(vividamuitasvezescomosentidodepe-cadodaidolatria).Exatamentenestesperíodos,acentuavam-seapreocupaçãocomaspromessassalvíficas,feitasnasantigasalian-ças,ecomasexpectativasmessiânicas.Jesuséumhomemjudeu,plenamenteinseridonaculturadeseupovo.
© Cristologia140
Viveu Jesus ao tempo dos imperadores romanos OtavioAugusto (27a.C.a14d.C.)eTibério (4-37d.C.);dogovernodeHerodesoGrande(atéoano36d.C.),operfeitoromano,quead-ministrou Judeia romana e detinhao poder denomear o sumosacerdoteecontrolarosinédrionogovernodeJerusalém(entre4e41d.C.).JoséCaifás,influenciadopeloseusogroAnás,foisumosacerdotepordezesseteanos.
Seminfluirmuito,Romacontentou-se,emgeral,emdomi-nararegião,apenasmantendoapaz(romana)entreseussubor-dinadosecobrandoosimpostospormeiodefuncionárioslocais,queincluíamnestacobrançaseussalários(motivodeconstantesdescontentamentospopulares).
Contudo, ao tempode Jesus, apresença romanae a con-vivênciadoSinédrioedossaduceus,sobretudo,erammotivodetensãopolítica(invasãoestrangeira),econômica(exacerbaçãodeimpostos)ereligiosa(oimperadorCesareraumdeus,"odivino").Apósadestruiçãodotemplo,pelosromanos,sósobraramosfari-seuseosprimeiroscristãos-aindaumaespéciedeseita,dentrodojudaísmo:osdocaminho(cf.At9,25).
Pouco se pode dizer da infância de Jesus (abreviação deYeshua),quesignifica"Deussalva"ou"salvaçãodeDeus".Sobrefatosehistóriasdeseunascimento,deve-sefazerumadistinçãoentreverdadehistóricaesignificadosalvífico,comoosevangelhosdainfânciapretendemtransmitir.Maioratençãoaindasedevedaràidoneidadedosfatosdescritosnosevangelhosapócrifos,surgi-dosapartirdofinaldoséculo2º.A intençãodosevangelhosdainfância(MteLc1e2)éteológica,eemgeralsemrepercussãonorestantedosevangelhos–salvooprincípioteológicodeevidenciarqueeleprovémdeDeuseéfilhodahumanidade.
TeriaJesusnascidoprovavelmenteemNazaré,enãoemBe-lém,noano7ou6a.C.,algumtempoantesdamortedeHerodes,oGrande(4a.C.),vivendocomseuspais,o“justo”JoséeMariaeseus"irmãos",emNazaré,porissoerachamado“nazareno”.
141
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Atraído pelo movimento de João Batista, Jesus tornou-seindependenteepeloano27/28começouseuministériopúblico,comaproximadamentetrintaetrêsanosdeidade.Foicrucificadoem14denizan(7deabril)doano30.Tinhatrintaeseisanos,maisoumenos.Esteperíododevidapública(27/28–30)caracterizounãosóavida,mastambém,demodosurpreendente,marcouahistóriadahumanidade.
Sãoaspregações,asatitudeseodestinode Jesus,duran-teestesdoisoutrêsanos,queconstituemacentralidade(nãoofundamento)dacristologia.Nãoéporacasoqueapartemaiscon-sistentedosevangelhossejadedicadaaoseuministériopúblico,sobretudoàpregaçãosobreoReinodeDeus.Sãopoucososcapí-tulosdedicadosaoseunascimentoemorte;bemmenosàressur-reição(GAMBERINI,2007,p.52).
VejamosaseguiroquadroquedivideavidadeJesusnarradapelosquatroevangelhos:
Mt Mc Lc Jo
Infância 1-2 0 1-2 -Ministério Público 3-25 1-13 3-21 1,19-17
Paixão e Morte 26-27 14-15 22-23 18-19Ressurreição 28 16 24 20-21
Fonte: Acervopessoal.
Jesusfoiconhecidocomopessoanormal,mesmoquecomumalgoamais,queo tornavadiferente.Entreosseuscontem-porâneos,conheciam-seseupai,suamãeeseusirmãos.Sabia-sedesuaprofissão.Osevangelistasomostramcomoquemviveuasrealidadeshumanas,comotodososoutroshomensemulheres.Dizemeles:foiemtudosemelhanteaumdenós.Alegrou-seemfestadecasamento.Frequentouacasadeconhecidos(adeLázaro,MariaeMarta,adasogradePedro)ededesconhecidos(fariseus,cobradoresdeimpostos‘Mateus’,Nicodemos).Participavadasli-turgiasnassinagogasenotemplo,acatavaaLeieastradições,amododedar-lhesplenocumprimentomesmoqueas“desobede-cesse”circunstancialmente.
© Cristologia142
Manteve um grupo de seguidores (discípulos), constituídodehomensemulheres.Aoquetudoindica,foicélibe,numcon-textoambíguoqueprezavaaconstituiçãodafamíliae,aomesmotempo,aceitavafigurasreligiosasascéticas(JoãoBatista,osceliba-táriosdeQumran).Sentiufome,sede,cansaço.Comoveu-sepelosamigos. Solidarizou-se commarginalizado (doentes, prostitutas,criançaseoutrosexcluídos).Condoeu-sepelopovodesorientado.Exerceumedicinacurativa.Aceitouemseugrupopessoasdepro-cedênciabemdiversificada,comoJudaseJoão,MateuseTiago.Curoucegos,aleijados,endemoniadosetc.
Ensinou com autoridade. Gerou admiração e perseguição;foiamadoeodiado.Porcausadesuasideias,foiduro,exigente,comsuafamília;rigorosocomseusadversáriosebenquistoentreospobres.Valorizoucoisasbelas.Apreciouanaturezaeoasim-plicidade.Foididáticoemseusensinamentos;e foichamadode"mestre"rabi.Pormuitos,inclusiveadversários,foicompreendidocomoprofeta.Gostavaderefeiçõescomamigos.Chegouasercha-madode"glutão".Foiseverocomosqueexploravamareligiãoemproveitopróprio.
Jesus encarou, comdestemor, amorte. Sentiu seupeso esuasdores.Crucificado,morreuabandonadoporseusamigos.
Viveu o "sucesso" dasmultidões. Sofreu a perseguição, ojulgamentoeamortedopoderpolítico-religioso.Sobretudo,emsuavidapública,foipregadoritinerante.Comonós,tambémcres-ceuemidade.Alfabetizou-seeleuasEscrituras–oqueerararoemseutempo.Sofreuastentações,especificamenteemrelaçãoàfama,àsriquezaseaopoder.Viveuangústiaspsíquico-mortais.Seusaber,profundonaTora,maslimitadocomoosaberdequal-querpessoa, inclusivepassíveldeerro.Eradeterminadoemsuavontadeeatentoàsnecessidadesdapessoa.
Jesusfoiumapessoahumanaemtudoigualanós.Todavia,tambémfoidiferentedenós.Enãoofoi,apenasporquenãopecou(comosecostumaacrescentar),masporseumododeserdiantedeDeusedosoutros.
143
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
AradicaldiferençadeJesusenóséumaquestãodefundoe fundamento religioso (aquinão se falaaindado serdivinodeJesus).Nãoéaindaumaquestãoteológica.Ou,sequiser,éumaquestãoradicaldeantropologia.
Por que é diferente de nós, o próprio Jesus nosso irmão?Eleoé,pelofatodeterassumidoaplenitudedohomem,emsuaoriginalidade.Eleéoserhumanooriginal,radical,projetadoporDeusdesdeoinício,desdeantesdacriação(histórica)doserhu-mano.NodizerdeSãoPauloedosSantosPadres:Ele,"osegundoAdão",vindodocéu(cf.1Cor15,45-47;Rm5,12-21),éoprimogê-nitodentreosirmãos(cf.1Cor15,48;Rm8,29).
Jesusédiferenteporquesendoumdosnossos,comonós,éAquelequevemcomo“homemnovo”(originalnopensamentodeDeus).QuandoElecentralizasuavontade,seuquerer,demodoabsolutoemDeus,éElecapazdefazersempreavontadedeDeus.Eleédiferente,porter-secolocadotodoaserviçodeDeusedosir-mãos.Suasolidariedade,tãoextrema,revelaprofundamente,queNaquelehomemencontramosDeusmesmo.
Jesus, o homem que se compreendeu a partir de Deus
Opróprio Jesus (ressuscitado)aoconversar,pelocaminho,comosdiscípulosdeEmaúsensinaométododeinterpretá-loàluzdasEscrituras(cf.Lc24,13-35;Mc16,12-13).ÉobvioqueseJesusprocedeassim,Eleafirmadesdeaantropologiabíblicaque,comotodoserhumano,Eleécriatura,imagemesemelhançadeDeus.Todos(etudo)procedemdeDeusnacriação.Ocentrodoserhu-manoéDeus.Deuséquemdásentidoàhumanidadedetodoequalquerserhumano,sejanaorigemenodesenvolvimentosejanofim(parusia).
O tema da parusia ‘ será estudado em Escatologia.
© Cristologia144
Jesuscompreendeestarealidadedesimesmo.Eseautoin-terpretapormeiodeDeusepornós.Pôs suavidaa serviçodeDeusedahumanidade(nogestoimediato,aosseuscontemporâ-neos,especialmenteaosexcluídos).
Aquiéimportanteperceber,numaleiturateológicasobreavidadeJesus,aomenoscincosituações:
1) arelaçãopessoalcomoPai(suafielconfiança);2) umhomemorante;3) otestemunhodadoporElesobreoPai;4) oredimensionamentodaimagemdeDeus;5) ovalorsalvíficodoReinadodeDeus.
JesuscentrousuavidanoPai.SósepodecompreenderJesusapartirdesua relaçãocomoAbbá. Semdúvida, semdeixardenotarquedapartedeDeushouvesempreumaatençãoparticularsobreoHomemJesus(anunciação,batismo,morteeressurreiçãoetc.);poroutrolado,éfundamentalressaltarqueJesuselegeuaDeuscomofonteerazãodesuavida.EleviveuparaDeus,oDeusdeIsrael,seuPai.
ValesalientarqueJesus,porquecreuemDeus, foiumho-memmístico.
Não confunda ser místico com uma pessoa que só vive em ora-ção, “fora do mundo”. Místico é o que mantém profunda ligação com Deus e age em favor dos filhos de Deus. Quer dizer: oração e ação.
Assim,como“abocafaladoqueocoraçãoestácheio"(cf.Lc6,45),istoseevidencia.JesuspôsemDeusasrazõesefundamen-tosdoseuagir,doseufalaredesuaoração.Suavidafoialimenta-danaféenaconfiançaemDeus,atéoextremonamortedacruz.
Os evangelhos insistemque Ele constantemente se retira-vapararezar.Efaziaisto,sobretudo,ànoite.Opiedosojudeufoiumhomemorante(cf.Mt15,36;26,26;Lc4,16).Ossinóticosnão
145
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
deixamderessaltaristo.Lucas,porexemplo,insinuaestavidadeoração,aorelataravidapúblicadeJesus(cf.Lc3,21;23-46).Emmomentosdedecisãoouocasiões importantes,ossinóticosevi-denciamoJesusorante.IstoéaindamaisclaronoevangelhodeJoão.
JonSobrino(entreoutros)acentuanãosóestapiedadedeJesus,comocomentaaprofundidadedaoraçãodoSenhor,supe-rando ingenuidades,mecanizações,hipocrisias,opressões,narci-sismos.AcentuapositivamenteaoraçãodeJesuscomoumcom-promissosituado,concretoeamorosoesemprecomsentidodetotalidade.Eresumedizendo:
OfatomesmodeJesusorarmostraqueexisteparaEleumpóloreferencialúltimodesentidopessoal,anteoqualsepõepararece-bê-loeexpressá-lo.Estaoraçãoéalgodistintodesuapráticaedesuapossívelreflexãoanalíticasobrecomoconstruiroreino;éumarealidadenaqualexpressadiantedeDeusosentidodesuaprópriavidaemrelaçãoàconstruçãodoreino,sentidoafirmadoequestio-nadopelahistóriareal.Porisso,aoraçãodeJesusaparececomobuscadavontadedeDeus,comoalegriadequeseureinochega,comoaceitaçãodeseudestino;emsíntese,aparececomoconfian-çaemDeusbom,queéoPaiecomodisponibilidadediantedeumPaiquecontinuasendoDeus,mistério(SOBRINO,1994,p.211).
A vida de oração de Jesus revela não somente sua fé emDeus.Contudo,torna-seclaraaprópriaconfiançaemDeus.UmaconfiançacotidianaquesemanifestavanãosóaoinvocaraDeus;mas,sobretudo,atribuindoaDeusseusmilagres,aorigemesigni-ficadodesuavida.Aconfiançaabsolutaeradicalevidencia-senomodocomoEleassumeaprópriamortepelacausadeDeus.
ArelaçãodeJesuscomoPaiultrapassaseucomportamentopessoaletransparecenomodocomoElefala,invocaedátestemu-nhodeDeus.Nassituaçõesgraves,pressionadopelosopositores,EleindicaDeuscomoseutestemunha-defensor,expulsademôniosporDeus(cf.Lc10,17;Mt12,28),prolongaasaçõesdoPainassuasações(Jo14,10),porta-secomofilhoeatribuiaoPaioperdão,amisericórdia,abondade.DefendeoPaidiantedosexploradoreseopressores.
© Cristologia146
Enfim, Jesusentendeque suas açõese reações, ensinoseobras(milagres),tudodevetestemunharsuarelaçãocomoPai.
Eleacolheospecadores,levando-osàlibertaçãodesimes-mosedamarginalizaçãoqueosenvolvia(cf.Mc2,10ss;Lc7,28ss.)comosinaldoReinodoPaichegando.PorqueoPaiacolheaestespequenos,Jesus,quedátestemunhodoPai,osacolhetambém.Eleseaproximadospecadores.Nele,éDeusquemestáseaproxi-mando,porqueoPaiacolhebonsemaus,fazchoversobrejustoseinjustos,semcomistoserojuizdapessoahumana,apesardenãoacolhernemopecadoenemainjustiça.
O testemunho que Jesus dá do Pai o leva a reprovar atémesmoaoraçãodosquequeremserjustossemoser,sobretudopordesprezaremosoutros,ospobres(cf.Lc18,9-14).Domesmomodo,dátestemunhodeDeusaoexpulsardemônios,símbolosdopoderdomaledadestruição(cf.Mc3,21ss;Jo10,20ss).Hospeda--senacasadepecadores(Zaqueu,porexemplo),porqueasalva-çãodeDeusdevechegartambémaeles(cf.Mc2,15-17).
Jesus,otestemunhodeDeus,acolheascrianças,asmulheres,ospecadores,“asmulherespúblicas”,osdoentes,enfimosdespre-zados.Elesabequeestátrazendoacura,aboanova,aosquepre-cisamdeDeuseseveemcerceados,porqueoschamados“justos”osimpedem(Lc7,36-50;Jo4,7-42;Mt18,12-14;Lc15,4-10).Sabeeafirmaemaltoebomsomque,nacasadoPai,prostitutasepecado-resprecederamaos“piedososdotemplo(cf.Mt21,31).
Comsuamorte,dáumradicaltestemunhodequeEleéen-viadodoPaiequemesmono"abandonodoPai"(Mc15,34),Eleconfiaatéoextremo.Nãoemvão,todootestemunhoqueJesusdádoPaisemanifestanaaçãodoPai,queoressuscita(cf.At2,24).
Jesus redimensionou a imagem de Deus. A compreensãoDelesobreDeuséimpressionante.NãosóoscontemporâneosdeJesus,mastambémos judeusantigosatribuíramaDeusaquali-dadede"pai".Jesus,porém,tratouaDeuscom"seuPai"eagiucomoseufilho.
147
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Mesmo que tenha diferenciado, e com razão, omodo deDeusserpaiDeleenosso,criouumaaproximaçãosingulardeDeusparacomtodosossereshumanos.Deusnãoéalguémdistanteenemumjulgadorimplacável.Elenãoénemumvingativoenemumindiferenteparacomseusfilhos.ÉumDeusamoroso,sempreatentopelobemdeseusfilhos.
JesusfazcompreenderqueDeusseaproximadetodos,es-pecialmentedospobres.ElevemaserumDeuspróximo,queamae perdoa, que sabe de nossas necessidades e émisericordiosoparacomtodososqueoprocuram.JesusfazsaberqueDeus,oPai,oenviouanóscomoexpressãodeseuamorprovidente.EemnomedoPai,Jesuscura,perdoa,encontra"osperdidos",reconci-liaosinimigosdeDeusedoshomens.
Anova imagemdeDeus,mostradapor Jesus,nãoé irêni-canemingênua.Deusnãosedeixaconvencerpelahipocrisiadoorante(Lc18,9-14).Nemsedeixamanipularpelos“poderososdeseutempo”quejulgam“determinar”emseunomeaLeieoensi-nodosprofetas(cf.Mc3,4;Lc14,2s;Mt12,11;Lc6,24).
JesusoapresentacomoSenhorquenãoseconvencecommecanismos idolátricos da religião, particularmente da religiãoopressora(cf.Mc7,1-23;Mt15,1-20;Lc11,38;7,14;13,10s).Deus,porqueéjusto,reprovaareligiãoqueoprimeediscrimina,inclusi-veaquelesaodireitodopróximo(cf.Mt7,13;Mc7,14-23;12,40;Lc11,42.46.52).
Éprecisolembrarque,paraJesus,Deusnãoéumaquestãodediscussãoede teorias, é simpreciso fazer a sua vontadenaprática(cf.Mt7,21).
As parábolas de Jesus sobre o Reino (e em especial a do"bomsamaritano",do"juízofinal")easdeclaraçõessobreasbem--aventurançassãoindicativosclarosdequeméDeuseoqueElepode.Paratanto,aexpressãodeJonSobrinhoaquipodeserapre-sentadacomoumasíntese:
© Cristologia148
JesusnãotemmuitoadizerhojesobreaquestãodeDeusseestaévistapuramenteapartirdoateísmo,daexistênciaoudanãoexis-tênciadeDeus.Mas,temmuitoadizer,atéodiadehoje,seper-guntamosqueméoDeuseoquefazerdeDeus.Jesusnãoilustrao fatoqueDeusexista,mas ilustraqualDeusexista (SOBRINHO,1994,284).
JesusdeuumvalorsalvíficoaoReino.ElecreunoSenhorio(Reino,Reinado)deDeusqueseaproximava.CreuqueoreinadodeDeuspassavapelasuapessoa.Anunciá-lo,porpalavras,obraseatépelaprópriavida, foisuamissão.Oquefezedisse foiemfunçãodesteSenhorio.
ÉimportanteperceberqueJesusanunciouqueesteSenho-riodeDeusésalvífico.Enoexercíciodesuamissão,Jesusocom-provariaaocurardoentesdetodaespécie,aoperdoarpecadores,aoreconstituiradignidadedosexcluídosediscriminados,aoex-pulsarosmaleseseuspoderesdiabólicos.
PorcausadoReinadodeDeusquechegava,Jesus"restituia vista aos cegos, anuncia a libertaçãodos prisioneiros e o anodagraçadoSenhor(cf.Lc4,18ss).PorqueésalvadoroSenhorioanunciadoaospobresmultiplica-seesereparteopão.As"ovelhasperdidas"devemserencontradas.Ospecadoresprecisamserre-dimidos.Ascriançasemulherespassamaserconsideradascomoiguais.Homensemulheressãocompanheiros.
Ovalor salvíficodoSenhoriodeDeus, segundo Jesus, criaaoportunidadeparatodospoderemparticipar,comoconvidadosdograndebanquetedoRei,e,umdia,morarnasmuitascasaspre-paradasnacasadoPai.NoSenhoriodeDeus,queJesusanunciaporpalavraseobras,nãomaishaverátristeza,lutooudor.PorqueoSenhoriodeDeuséverdadeiramentesalvador,Jesusnãotemeentregarsuavida"portodos",inclusivedesejandoardentementefazeraceiadedespedidacomosseusamigos,porqueElesótor-naráabebercomelesofrutodavideiraquandooReino(salvífico)estiverimplantadodefinitivamente(cf.Lc22,14ssepar.).
149
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Jesus, o homem por nós
PoucosabemosdetodadavidadeJesus;poucodesuainfân-ciaepraticamentenadadesuaadolescência,juventudeedesuavidaadulta.Conhecemos,pelosEvangelhos,suavidapública,deunsdoisoutrêsanos.Elaéexpressivamentesignificativaedelasedevedizer:"Eleviveufazendoobem"(cf.At10,38).Eleviveuparaservir(Mc10,45).Esvaziou-sedesimesmo,deseusinteresseseegoísmosparapôr-seaserviçodosoutros.Nãolheimportaramafama(cf.Mt9,10-13),odinheiro,asegurançapessoal(cf.Mt8,20;Lc16,13).Nãobuscouparasiopoder.Abriumãodasegurançadeuma residência, do autossustento, do conforto e até da própriafamília.Inclusivedaconstituiçãodeumafamíliaprópria.FezdesiumHomemlivreparaamar.Parapôr-seàdisposiçãodosoutros.Fezsuavidaemproldosoutros.PorquehaviacentradosuavidaemDeus,viveuparaosoutros.
Édoseuensinoquedecorreaafirmaçãode1Jo4,20:“QuemdizqueamaDeus,masesqueceoirmãoémentiroso".Jesusradi-calizouseuamorporDeusepelosoutros.Suapreocupaçãomaisradicalaindafoioserhumanonecessitado.Fezdoseu,umamoramploquesetornouuniversal:amouatodos,aexemplodeseuenossoPai.
Frenteaosoutros, foi sinceroe serviçal (Lc22,27).Aproxi-mou-sedesinteressadamentedospobres,dosexcluídos,dosdo-entes,dosperdidos.Buscouospecadores,osdesolados.Acolheuosfracoseosimpuros(cf.Mc1,23-38;40-45;5,25-34).Defendeuopovohumildeeexplorado(Mc6,34;Mt9,36)eatéoprimidopelareligião(Mt23,4).
DasuarelaçãocomDeus,brotouumempenhativoamorpe-losoutros.Fatigou-separaatenderatodos.Foisolicitoparacomosqueoprocuravam.Procurouquemnãopodiaprocurá-lo(porcausadasdiscriminaçõeslegais).Sofreuechoroucomossofredo-res.Animouasamizades.Devolveuaautoestima.Soubeconfiaratéoextremo(mesmodatraição).Criounovasformasdeconvi-
© Cristologia150
vência.DescobriuprincípiosmaisconvincenteseprofundosnaLeienosProfetas,nãoveioparamudá-los,masparaaperfeiçoá-los(Mt5,17).Oportunizounovosvínculosdesolidariedadeparacomopróximo(queeragentereal,nãoobjetodediscurso).Lembrouosmandamentos fundamentais do amor a Deus e ao próximo.Comoviveupara servir, deuomandamento aosdiscípulos, queelesoimitassemnoserviço(cf.Jo13,15).
DasuarelaçãocomDeus,gerouforçaslibertadorasparaosqueoprocuravam,inclusiveparaosricosqueoconvidavamparaseusjantares(esnobes):emsuascasastambémdeveriaentrarasalvação.Para isso,eraprecisoqueelesnascessemdenovoemespíritoeverdade(Jo3,3).
Valorizou-lhes a fé (como a do oficial romano, pai dame-ninamorta, Lc 7, 9-10); atendeuo jovem ricoporquemdepoisseentristeceu(Mt19,22;Mc10,22).Desmascarouasarmadilhas,paraqueas"ovelhasperdidasdacasadeIsrael"tambémtivessemoportunidadederetornaremaobomcaminho.Naaparenterejei-çãoàprópriamãeeaosirmãosindicouocaminhomaisnobreque"apenas"odesangueefoiassimquesuamãesetornoudiscípulaDele(cf.Mt12,50).Demodoigual,otextosagradofaladeseuir-mãoTiago,quedepoissetornoubispodeJerusalém.
Comoensinara ao amor aos inimigos (cf.Mt 5,4ss), assimtambémviveuesuplicouoperdãodoPaiporaquelesqueocruci-ficavam(cf.Lc23,34).
Jesus, o homem por Deus e por nós
Foi Jesus verdadeiramente um ser da raça humana, comonóseseautocompreendeucomohumanoapartirdeDeus.PorissoexatamenteviveupelacausadeDeus.
EleexisteporcausadeDeus.Suavida,porcausadeDeus.Deuséseucentro.Entãooquerer,opensareoagirdeJesussãodiscernidosapartirdeDeus:"Vimparafazeratuavontade,oPai"(cf.Jo6,28);"nãosefaçaaminha,masatuavontade"(Lc22,42;
151
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Mc14,36).OsimbolismodaeleiçãodoPainobatismoenatransfi-guração,alémdeindicaromotivoda"eleição"divina,podeapon-taroutrosentido:
Jesusfoieleitoporquesedeixou(pareceserumaquestãopassiva)eleger.Seassimé,éporqueElesefeztododeDeus(questãoativa).Deuselegetodoserhumanoparaserseufilho(noFilho,inclusivedesdeantesdacriação–cf.Ef3,3ss).Jesus,onascidodemulher(Gl4,4),FilhodeDavisegundoacarne(Mt9,27),compreendeprofun-damentequearazãodeseusererafazeravontadedeDeus.SóapartirdeDeuséqueEleseautoconcebe.DeuséseuúnicoSenhor.Fazersuavontadeérealizar-sedemodoplenocomohumano.
ComoSãoPauloafirma,Jesuséoserhumanonovo,onovoAdão(etiológicoe/ouhistórico).
Naverdade,Nelenósencontramosnãosóo"serhumanonovo",masoiniciadordahumanidadenova.Neletemosaorigemeodestino finaldo serhumanopessoale coletivo.Nisto, Jesushumano-divinoéomodeloeoexemplodafiliaçãodivina.
ÉporissoqueoVaticanoII,naGS,22,ensinaquesóElenosrevelaquemverdadeiramentesomos.PorestartotalmenteabertoaDeus,eistofazadiferençaentrenós,Elepôdepôr-seaserviçodoshomensemulheresdeseutempo(Eleédetodosostempos)(cf.Mc10,45).
SeopovodeentãosesentiaatraídoporEle,procurandoatétocá-loparasercurado,oouviaporsaberqueElefalavacomauto-ridadeereconheciaNelealguémvindodeDeus.PorquepercebiaNelealguémtãohumano, sedivisava,emsuapessoa,os traçosdivinosqueDeussonhouparatodoserhumano.Primogênitoden-treosirmãosrevelavaistoemsuavidatodadedicadaaDeus,todaemfavordos irmãos.Enfim,erarealmentehumano,masdeummododiferente.Diferenteporquefoiverdadeiraeprofundamentehumano.
Umteólogoalemão,H.Schürmann,caracterizandoestasoli-dariedadedeJesuspelosoutros,cunhouotermo"pró-existência".DavidatotalmentevoltadaparaoPai,JesusviveuoamordeDeusinesgotávelparaoserhumano.Elefez-selivreparaservir.
© Cristologia152
JesusnãoapenastestemunhouotãograndeamordeDeuspornós,masdeuoexemplodeviverpornóseparanós.ExistiuparaDeuseparanós.Maisqueatosdebenevolênciae/oubonda-de,Eleviveumovidopelasolidariedaderadical,quenãosubstituiooutro,nemolimita.Mas,viveuparapromover,elevaredignifi-carooutroapontodedaravidapornóseporDeus.
Compreendendo-secomoum‘homemparaosoutros’(pró--existente),JesusadquiriuprogressivamentemaiorconsciênciadesuamissãoedeseupapeldemensageirodoSenhoriodeDeus.Foidescobrindo-se"FilhoamadodeDeus".Por isto"deuavidaemresgatedemuitos"(cf.Mc14,24;Mt20,28).
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––Neste seu modo humano de viver, os primeiros cristãos da Palestina vão desco-brir o inaudito em Jesus: este Jesus, escolhido por Deus, é nosso salvador. Por Ele atingiremos nossa realização humano-escatológica. Os cristãos da América Latina, na sequência dos tempos atuais, o descobriram como libertador dos oprimidos (e se vai descobrindo que Ele deve ser libertador também dos opressores de todos os tipos, inclusive religiosos e fundamentalis-tas). Já na África negra, os cristãos o encontram como o “bem” e o grande “Ancestral”, que cuida da vida, saúde e felicidade da comunidade; como o “mestre da inicia-ção” a ensinar e introduzir os “menores” (iniciantes no radical sentido da vida). Ainda os negros por toda parte o perceberam como o grande discriminado. Os cristãos provenientes do hinduísmo olham para este homem Jesus que olha para eles e o reconhecem como o grande líder espiritual (guru) ou um grande avatar, capaz de, como Deus universal, encarnar-se para eliminar os males do mundo e despertar a bondade por toda parte. Para os indianos, vindos de grandes e permanentes sofrimentos, Jesus é Aquele que é capaz de reconstituir a unidade do cosmo por causa de sua ressurreição e dar o sentido pleno do amor abnegado, mesmo de dentro do sofrimento. Para chineses, Jesus pode representar o amor dolorido de Deus, capaz de re-conciliar e redimir, por uma vida de bondade que leva à sempre maior comunhão da humanidade inteira. As mulheres, especialmente na teologia feminina, querem ver ressaltar em Jesus a antropologia integrativa do masculino e do feminino de cada ser humano. Assim, outros homens e mulheres vão prolongando cristologicamente, pelos tempos a fora, o significado que Jesus deu à sua vida: ‘vida pelos outros’.––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
153
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
O que você acabou de estudar na Informação Complementar pode ser aprofundado com o auxilio de inúmeros livros e revistas. In-dicamos alguns: KESSLER, Hans; BOURGEOIS, Henri. Libertar Jesus: cristologias atuais. São Paulo: Loyola, 1989.
AtãoinauditadedicaçãodeJesuspornósolevouasetornarhomemsempecado.Condiciona-seasimesmoeasuacausaporDeusepelosoutros:nãoháespaçoparaidolatrias,interessespró-prios.TudoNelesetornadeDeuseparaDeus,pornóseparanós.
Jesusécapazdecontinuarumprocessodeautoesvaziamen-to,semsetornaralienadooualienante.Eleésenhordesuavon-tade,deseuquerer,deseuagir,deseusaber(aprender)edesualiberdade.Demodotãosenhordesi,torna-secapazdesertododeDeuseviverinteiramentepornós.ElemesmotraduzdestemodooquantoDeusébomparacomseusfilhosefilhas,apontodeseaproximardetodosparagarantiraincondicionalsalvação.
Époristoquesepodedizer:emtudo,Elefoiigualanós,me-nosnopecado.ComoDeusnãopoderiapecar.Mas,comohomem,sim.NãopecouporqueviveuinteiramenteparaDeusepornós.Todavia, foitentadocomonósosomos.Ninguémestá isentodatentação.Mas,todoserhumanopodetambém,comoJesus,nãopecarporqueseélivre.
Iluminadospelaressurreição,osapóstolosdescobriramqueNaqueleque"vós,homensdeIsrael,matastes,crucificando-ope-lasmãosdosímpios,Deusoressuscitou.Eleeraumhomempro-vadoporDeusdiantedenóscomomilagres,prodígiosesinais"(cf.At2,23).
Nestehomem,aIgrejadescobriunãosóomessiasdeDeus,masDeusmesmoentrenós,oEmanuel.NohomemJesus,aIgrejadescobriuDeusencarnado.
OhomemJesusdeNazarérevelouemsuahumanidadetalgrande-zaeprofundidadequeosApóstoloseosqueoconheceram,nofi-naldeumlongoprocessodedecifração,sópuderamdizer:humanoassimcomoJesussópodeserDeusmesmo.Ecomeçaramentãoachamá-lodeDeus(BOFF,1997,p.193).
© Cristologia154
Nãoforamosapóstolos,nemaIgrejaquedivinizaramoho-memJesus.Nãoofizeramumdeus,comoprocediamosromanos,osgregoseoutrosmais.AocontráriodescobriramquenoHomemJesus,Deussefizeraumdenós,pornóseparanós.Foramosapós-toloseaIgrejanascentequeprecisaramdenovoscritériosecon-ceitosparacompreenderJesuseopróprioDeus.
7. O DESTINO DE JESUS: A MORTE
Paramuitoscristãos,amortedeJesus,nacruz,paranossal-vardenossospecadoséarazãoúltimadeEleter-sefeitohumanoentrenós.Sópelacruz,Eleseriaonossosalvador.Noentanto,estareflexão(estaurologia),utilizadasobretudonosegundomilênio,eapiedadepopularderamumaimportânciatalquepareceistoseraverdadeplenaequaseúnica.
Inúmerosteólogoscentralizaramtodososestudoscristológi-cosnestaótica.Evidentemente,aquestãodamortedeJesuspas-souaternovasinterpretações.
Hoje,umnúmerosignificativodecristólogostempreferidofazerseusestudoscentradosnosignificadoglobaldavidadeJe-sus,desdeseunascimentoatéaressurreição.Masistoéquestãoparaoutromomentodenossoestudo.Eagora importaverestegrandetemadodestinodeJesus,detalhandoasteologiasdesuamorteeressurreição,queseráanalisadonoprópriocontextodoVerbofeitoumdenós,paranossasalvação.OtemaestálocalizadonotododavidadeJesus.
É importante que, neste momento, você retorne ao tema estudado nas unidades bíblica e dogmática sobre a morte de Jesus. Feito isto, retome o estudo, porém, com uma ótica mais abrangente, como resposta para o nosso tempo.
Nodecorrerdahistóriateológica,foramelaboradasdiversasteoriassobreamortedeJesus.Todaselasprocuraramfundamen-
155
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
tarafédaquelesqueobuscaram,nascircunstânciasdetempoeespaçoemqueviveram.
A morte de Jesus, na grande tradição eclesial
Muitos cristãos creemqueoVerboeterno se fez humanoparamorrernacruz,afimderepararatãograndeofensafeitaaDeuspornossospecados.Sóumserperfeito(naverdade,opró-prioFilhodeDeus)poderiasatisfazer,pornós,airadivina(teoriadasatisfação,cujoautormaisimportanteéSantoAnselmo).
OutroscristãospensamqueamortedeJesustornou-seummérito nosso junto aDeus tambémpara conquistar o preçodoperdão(teoriadomérito).FundamentadosnaBíblia,outrospre-feremenfatizaramortedeJesuscomoumsacrifíciopelosnossospecados.UmsacrifícioquepoderiaselaraaliançanovaedefinitivadoshomenseDeus(aênfasenaeucaristiatrazesta ideiamuitoviva).
Contudo,osacrifíciodeCristopoderiaserentendidoemvis-tadaexpiaçãodenossospecados(ideiafortedecorrentedaEpis-tolaaosHebreus).AindapoderiaserosacrifíciodoServosofredor,quecarregaospecadosdomundoecujosangueeraderramadopormuitos(teoriadosacrifício).FinalmenteumquartogrupodecristãosdávaloràaçãodeDeus,quepormeiodamortedeJesusnosresgata,nosredimedenossospecados(teoriadoresgate).
Asduasprimeiras(teoriadasatisfaçãoedomérito)sãogran-desexplicaçõesquealimentaramafédoscristãosapartirdeinter-pretaçõesteológicas.Asoutrasduas(daexpiaçãoedosacrifício)tambémmarcamafécristãetemseufundamento,especialmentenatradiçãobíblica.
Estasteoriastêmgrandevalorparainterpretaraaçãosalví-ficadeJesus.Elaspodemserestudadasemmuitostextoselivros,comose indicaráao finaldestaunidade.É importante ressaltar:elastêmsuavalidadeaindahoje;porém,sãoencontradosmuitoslimitesnelas–quenãopodemserignorados.
© Cristologia156
Todaselasenfatizamamortenacruz,porcausadopecado,oquenãodeixadetersuaverdade.Elas,porém,têmolimitedeperceberosignificadodevidadeJesus,apenasemsuamorte.Eleexistiupor causadospecadosa serem redimidospela suamor-te.Hoje,também,continua-sepercebendoariquezadecadaumadelas.Nota-se, porém, que elas devem ser assumidas demodoconjuntoenãoisoladoparamanteremavalidadeglobal,mesmoqueaindalimitadamente.
Elasforamimportantesnosséculospassadosealimentarama fécristã.Hoje, influenciadaspornovosestudosbíblicos (eatéhistóricos), elas não têm todas as possibilidades interpretativasbíblicas e, sobretudo,não são tão convincentesparaos temposatuais.
Tomadas isoladamente, estas teorias fazem aparecer, demodoindireto,Deuscomoalguém(umgrandesenhorfeudalofen-dido)queexigeareparaçãodasofensascontraEle.Énecessárioque alguém satisfaça tal exigência ou conquiste méritos dianteDele,movendoseucoraçãoparaoperdão.
Vencendo a piedade popular medieval, que enfatizava omedo,osofrimentoepecado,consegue-se,hoje,fazerumaleiturabíblicamaisglobal.EdestaleiturasecompreendeosignificadodacruzcomorespostadeamordeJesuse,maisamplamente,osig-nificadodacruznocontextodetodaavidadeJesusparaanossasalvação.
Aqui,demodoalgum,sequernegarovalorsalvíficodamor-tedeJesusnacruz.Apenasestásechamandoatençãocríticaparaainsuficiênciadasteoriashistóricase/oudanãoexclusividadedasduaspredominantesteoriasbíblicas.
DesdeTertuliano,emlinhaopostaaIrineudeLion,começagradativamenteapassarparaocentrodasotereologiaaquestãodopecadoedoperdão.Daíseorigina,somadaàcontribuiçãome-dieval,oatualsignificadodacentralidadenacruz(eaquaseeli-minaçãodeoutrossignificadossoteriológicos).Acruzeopecado
157
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
pareceramserosentidoearazãodaencarnação.Todavia,acris-tologiaatual,inclusiveporinfluênciadoVaticanoII,temreencon-tradooutrossignificados,queestavamlatentesnostextosbíblicos,tantoparaaencarnaçãoquantoparaacruz.
Éfatoquepelacruzseestabelecearedençãodospecados(asalvaçãoemsentidopositivovaimaisalémdoqueestapositivarealidadenegativa).AcruzésinaldoamoredoaçãotantodeJesusquantodaTrindade.
Maseraelanecessária?SantoTomásjárespondeuàques-tão:nãosetratadeumapossibilidade.Elaéofato,arealidade.Poder-se-iaperguntar,então:elafoiqueridaporDeusebuscadaporJesus?Earespostaabsolutaé:"não".
Acruzéumaconsequênciadeatoshumanos,demodoime-diatodoschefesromanos, instigadospeloslíderesjudeusdeen-tão.Adecisãodamortenacruz,sócio-politicamente,éconsequ-ênciadosconflitosdecorrentesdapregaçãodeJesus,darejeiçãohumana(detodosostempos)àsuamensagemedacondenaçãopolíticaereligiosa.Desdeaperspectivajudaica,podem-seinferirduassituaçõesimediatas:adesautorizaçãodapretensãodeJesus(“malditotodoaquelequependenacruz”),eaeliminaçãodemaisumprofeta.
Ostextosneotestamentáriosapresentamdiversasteologiasdacrucifixãoemorte,comoascitadasanteriormente.Atradiçãodeproduzirnovasexplicações,semcontrariarotextobíblico,temsidoaricaexperiênciadaIgreja,pararesponder,nafidelidadeàfé,àsquestõeshumano-religiosasnosdiversostempos.Époristoqueacristologiasetornaumconhecimentodinâmico.Elaatualizaafécircunstanciada,massemnuncaperderareferêncianormativadaBíbliaSagrada.
Agora,vamosaprofundarasquatroteoriasmaissignificati-vasdatradiçãodaIgrejasobreamortedeJesus:
© Cristologia158
a) teoriadosacrifício;b) teoriadaredençãoeresgate;c) teoriadasatisfação;d) teoriadomérito.
Teorias bíblicas
Teoria do sacrifício
Aideiadesacrifícioedavitimizaçãosacrificialestavapresen-tenopovohebreu,tantodoAntigoTestamentoquantodoNovoTestamento. Ela expressa, sobretudo, a fé emDeus.Oferecia-seaDeusumavítimaparasacrifíciosdealiança,deholocausto,deexpiaçãopelospecadosoudelouvação.
Osacrifício,nasdiversasrepresentações, tevecomo inten-ção a vontadede entrar ou de permanecer em comunhão comDeus,render-lhegraças,pedirperdãooulouvá-lo.Osacrifícioeratambémcelebradocomomemóriaatualizantedosgestospassa-dos. Eleasseguravaa certezadapresençaperenedeDeusedesuaassistênciadivinajuntoaopovo.Tambémpormeiodosanguedavítimasejulgavaaplacar(aindaqueprovisoriamente)airadeDeus,feridopelamaldadehumana.Inocenteeraavítimaasersa-crificadapelopecador,apesardequeDeus,pormeiodosprofetas,insistianapurezadecoração,nahombridadedosatospessoais:coraçõespuros!OscânticosisaianosdoServosofredorexpressambemosignificadodosacrifício.Suateologiasetornaclara,sobre-tudo,notextodeIs53.
Nocasodamortede Jesus,osanguederramado"pornóshomensepelanossasalvação"comoiniciativadeamordeJesusemofertaaoPai,tornou-se,emrealidade,odomsupremodoPaiàhumanidade(cf.Rm3,24-26).Seuvalorimplicanooferecimentodenossasvidas,comosacrifíciovivo,santoeaceitoporDeus(Rm12,1),emfavordosirmãos.
159
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
AmortedeCristoé,aomesmotempo,sacrifícioeexpiação,poisoserhumanoéincapazdereparar,porsisó,seupecado.Nãopodesatisfazerajustiçadivinaultrajada.SóCristopodefazeristodemodoplenoeeficaz.Elesubstituioshomens.
O mundo bíblico estava baseado na cultura de sacrifícioscruentoseexpiatórios,enaculturaromana,combaseàsquestõeslegaisdejustiça.AmortedeJesusrecebeainterpretaçãoteológicaadequadadateoriadosacrifício.
Maisprofundamente,porém,noexistirhumano,osacrifícioevidenciaaideiadedoaçãodesimesmo,apontodemorrerdoan-dosuavidapornós.
Aválidaideiadeoutroraevidenciahojeumlimitenoaspec-tovindicativoecruento,pornãosecoadunarcomabondadedeDeus.Ovalordaideiatambémcontémumlimite:sejaporignoraramisericórdiadeDeussejapornãolevaremcontaaressurreiçãodeJesus.
Teoria da redenção ou do resgate
Ateoriadaredençãooudoresgatetambémébíblicacomoaanterior.Estavaligadaà ideiadeescravaturae libertação.Paraalforriarumescravoeraprecisopagarseupreço.SeguindoaleidoAntigoTestamento,oparentemaispróximodo"escravizado"tinhaaobrigaçãodepagarseuresgate,redimindo-o.
Cristoéoparentemaispróximodoserhumano,queestáes-cravizadopeloseupecado.SóCristoélivre,porquevemdeDeus,eporistopodepagaropreçodevido.Aliás,opróprioJesusseapre-sentoucomoresgatadorelibertador(cf.Mc10,45;Mt20,28).Istotambémficaclaronostextosde1Tm2,5-6;Tt2,14.
OstextosdeGl3,12;4,5;1Cor6,20;7,22-23;Ap5,9-10;14,3-4,falamdepagaroresgateaquemDeusdeverianossopreço(édaíquesurgea"teoriadodireitododemônio").Oresgatesees-tabeleceentreDeuseodemônionumasituaçãosalvíficasupra--histórica.AmortedeJesusseriaopreçodareaquisiçãodaliber-
© Cristologia160
dadehumana.Todavia,nahistória,ohomempermanecesempreemsituaçãoderiscoedaperdadaliberdade.Isto,hoje,dificultaaplenaaceitaçãodateoria.
Teorias teológicas
Teoria da satisfação
Estetemajáfoicomentadoanteriormenteaosefalardacris-tologiadeSãoAnselmo.
Volte e releia o texto na Unidade 1, item 2, para perceber melhor o sentido desta teoria.
SeohomemofendeugravementeaDeus,énecessárioqueDeussefaçahumanoparapoderreparardemodoinfinitoaofensafeita.Cristo,emnossolugar(daquivaisurgirateoriadasatisfaçãovicária),éoúnicocapazdesatisfazeradequadamenteDeusofen-dido.ApenadopecadoéosofrimentoeamortedeJesusnacruz.DeuscastigaJesus,quemorrepornós–emvistadonossopecado–eassimajustiçadivinaérecomposta.Fomoscuradosgraçasaoseusacrifícioeàsuamortenacruz.
Estateoria,hoje,deixadetertantovalor,mesmonumorde-namentojurídico,porenfatizarummecanismoatrozdepagamen-todomalporoutrasituaçãomaldosa.IstonãoseharmonizanemcomaexperiênciahumanadeJesusenemcomnossaexperiênciadiantedeDeus.Entretanto,ateoriamantémseusignificadoper-manenteàmedidaquesedescobreasolidariedadedeCristopornós,apontodedarsuavidaembuscadamaiscompletafidelidadeaoPai.
Teoria do mérito
AmortedeJesusobtém,alcança,paranós,nãosóoperdãodosnossospecados,mas tambémrestauraaordemperturbadapelomal.Amortecancela,destrói,adesordemdopecadoenos
161
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
garantearenovaçãodaordemperdida,abrindoapossibilidadedaressurreição,davidanova.Deusaceita,comoradicaladesãohu-manaàsuavontadedivina,asantidadedevidanossavividames-monadorenoextremodamortedeseuFilho,quenos"merece"assim a salvação. Se "adão" criara seu deus, seu ídolo, fazendoexatamenteocontráriodavontadedivina,agora,Cristoorecupe-raemamortãogrande,assumindoamortenacruz,e“merece”,obtémoperdãodospecadoseasalvaçãoparatodos.
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––Estas quatro teorias, que predominaram e predominam na teologia e na vida da Igreja, nem sempre são “convincentes” na atualidade para muitos cristãos. Vários teólogos têm proposto novas interpretações.––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Iremosenfatizaraquiapenasduasrazõesteológicas,apartirdopressupostosotereológicodacruzenãotodaasotereologiadaencarnaçãodoHomemDeus.
Teoria da entrega ou da solidariedade
Ateologiadaentrega,tambémcompreendidacomosolida-riedade,éumadasinterpretaçõesmaisfortesnacristologiaatual.Elapredominaemautorescomo:KarlRahner,ChristianDuquoc,EdwardSchillebeeckxeJonSobrinho.
Amortede Jesus só temsignificadomediantesua relaçãocomDeuseconosco.Nestarelaçãosurgeumateologiadaentregaoudasolidariedade(significadoantropológico),quefoiomododeJesusvivereentendersuamorte:A“entregaDeleporDeusepornos"éumaquestãomuitopresentenosevangelhos.
OpróprioJesusindicaqueoFilhodoHomemvaiserentre-gueàsmãosdoSinédrio,dospagãos.Eleseráescarnecido,flagela-doemorto(cf.Mc14,41).EleviveuacondenaçãoeamortecomoautoentregaaDeuseatodososhomens,comoconsequênciadesuavidaterrena(pró-existência).Jesusdeixou-selevardemãoemmão:traídoporJudaséentregueaossoldados,queoentregamaossumossacerdotes,queoentregamaoSinédrio,queoentrega
© Cristologia162
aPilatoseHerodes,queoentregamaossoldadosparaocrucifi-carem.
Abandonadoportodos(incluídosaquelesaquemdedicarasuavida),eemsuaextremasolidão,Jesusentrega,numgritolan-cinante,seu"ruah"aoPai(cf.,Lc23,46;Jo19,30).Paulo,interpre-tando,parasuacomunidade, sintetiza: "Minhavidapresentenacarne,euavivopelafénoFilhodeDeus,quemeamoueseentre-gouasimesmopormim”(Gl2,20;cf.Ef5,2.25;Tt2,14).
Aentregade Jesus,pelos sofredoresepecadores,nacon-denaçãoenacruz,éumadentrar-senaextremamisériahumana,comtodasasconsequênciasperversasediabólicas.Jesussofreemorrepeloshomensemulheresoprimidosesofredoresdetodosostempos.Suaentregatambémnasmãosdosopressoreseinimi-gos(deDeusedosirmãos)étambémumgestodesolidariedaderadical(Elenãoapelouàviolência)emfavordaquelesquesãoví-timasdeseusprópriospecados,parapermitir-lhesqueseafastemdomalquefazemesereconciliemcomDeus(cf.Mt23,33).
Napaixãoemorte,osignificadodapró-existênciadeJesussetornatranslúcidoporqueEleentregasuavidapelosquesofrem,pelosque sãoexcluídos. Tambémaentrega,pelosopressoreseinjustiçadores.Oparadoxonãoéambiguidade,masumprofundoatosalvífico,cujosignificadonãosedánasestruturashumanas.Sóumhomem-Deuspoderiaagirassim.
Significado da entrega
Nestateologiadaentregaoudasolidariedadedescobre-seumsegundoaspecto:osignificadoteológico.Deusmesmoentre-gouseuFilhoúnico.Deusoentregouaomundoparasalvaromun-do.NãopoupouopróprioFilho,paraevidenciaroquantonosama(cf.Rm4,25;8,22;Jo3,16s;Rm8,31s).NoFilho,éDeusmesmoqueseentregaaospecadoreseàsvítimasdopecado.Deusseen-treganoseuFilhonãoporumaprepotênciadivinasobreoFilho,masenquantoesteradicaliza,comoseu,oquererdoPai.Nemsuavida,nemsuamortelhepertencem;elaspertencemaoPai.
163
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Deus,aomesmotempo,seentregapeloFilhoàsmãosdospecadores,paraqueestesconsumamsuaobraperversa.Semospecadoresperceberemé,desdedentrodamorteedopecado,queDeusvailhesredimir.AfécristãprofessaqueumdaTrindademor-reunacruz.JesuscrucificadoéaSegundaPessoadaTrindade.NamortedoVerboencarnado,Deusentraemcontatocomosofri-mentosemsedeixarsucumbirporela(JesuséressuscitadopeloPai,quedestróiamorte).Porestaentrega,Deusnosredimedanossamorte.
SofrendoamortedeJesus,emsimesmo,Deussepõeemcontatoinseparáveleinalienávelcomomaisperdidopecadorpararedimi-lo.Nestaradicalidadedamorte,Deusserevelaquemé:Eleéamor(1Jo4,8).Éaquelequeamaoserhumano,numaentregatotalparaqueninguémseperca(cf.Jo3,16).DeuséJesuseJesuséDeus.Nestaidentificaçãoprofundaeabsoluta,compreende-searelaçãoexclusivaentreDeuseohomemJesus,comoAquelequeviveupornóseparanós.Estaentregaàmorteparavencê-lapornóseparanóssignificaaautocomunicaçãodeDeusparao"nãoDeus”(oserhumano)demodoaatingiraplenitudenaressurrei-çãodoFilho.
EstaentregaresumeosignificadodoensinodeJesus,que,antesdeserumaquestãoética,éteológica:"Quemquisersalvarasuavida,vaiperdê-la.Equemperderasuavida,asalvará"(Jo12,25).
Teoria da representação
Ateologiadaentrega,tambémcompreendidacomosolida-riedade, constitui, ao ladoda categoria representação, umadasinterpretaçõesmaisfortesnacristologiaatual.
É importante ressaltar,no tocanteàmortede Jesus, aex-pressão:"por nós”,“por muitos”,“por vós”(cf.Mc14,14;Mt26,28;1Cor11,24;Lc22,19;Jo6,51).J.Jeremiasafirmaquetalconteúdo(pro,por)temtantoosentidode"em favor de",mastambém"no lugar de"(representaçãovicária).
© Cristologia164
Suaentregaàmorteéumserviçodalibertaçãonossafren-teatodosostentáculosdopecado,dasopressõesedamorte.Étambémumaentreganolugardospecadores,necessitadoseatédosinimigoseopressores.Nestesentido,pode-se,antesdeleituraética,compreenderotextodeLc6,27,35,comoteológicoeaplicá--loaosentidodamortedeJesus.Suamortemanifesta,demodoradical,oseuamorpró-existentemente.
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––Jesus morre não apenas em favor de nós, mas também em nosso lugar. Esta teologia tradicional, que mantém uma proveniência jurídica, tem sido renovada em grandes teólogos atuais: Wolfgang Pannemberg, Walter Kasper, Urs Von Bal-thazar, Joseph Ratzinger, entre outros.––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Amortede Jesus,comorepresentaçãodeumpormuitos,nãolivranemsubstituiamortedosoutrosemuitomenosares-ponsabilidadepessoaldecadaum.Elasignifica:
• alibertaçãofundamentalqueJesusproduznosentidodeabriraspossibilidadesde,doravante,vencerasescravi-dõeshumanas(omal,opecadoeamorte);
• criarapossibilidadedeumavidanovaemDeus.
Jesus é o iniciador e condutor de uma nova humanidade,como "primogênitodentremuitos irmãose irmãs (cf. Rm8,29).Anovaeverdadeirahumanidade(onovoAdão)émarcadacomosanguedeCristoenãomaiscomosanguedo"velhoAdão".Seantesohomem"velho"olhouparasi,agorao"homemnovo"écapazdeseesquecerdesi,parafazersuaavontadedoPai,edaravidaparasalvarosqueoPailhedera,poisnenhumpodeseperder(cf. Jo6,37-39). JesusassumeamissãoconfiadapeloPai,comadedicaçãoextremaatéamorte.Eestafidelidadeofazapresentar--sediantedoPaiemnomedetodos.
Senateologiadaentrega,hádoisníveisousignificados:1) aentregadeJesusCristopornós (significadoantropo-
lógico);2) aentregadeDeusemJesus(significadoteológico).
165
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Aqui,na teologiada representação também,háplanosousignificados.Noplano,antropológico,queéomaisfundamental,Jesuspodeapresentar-sediantedoPaicomotodooamorhumanopossível,atéamorte,pelacausadeDeus.
UmdentrenósamoutantoaDeusquantoosseusirmãos,quesetornoucapazderepresentar,emsimesmo,todaapossibili-dadehumanadeamoraDeussobretodasascoisas,comtodoen-tendimento,comtodasasforças,detodoocoração(cf.Lc10,27).Umdentrenósfoicapazdetranscender-seapontodedaravidapara fazera vontadedeDeus (adenãoperderdenenhumdosirmãos).
Se“Eleseentregoupormim”comodizSãoPaulo(Gl2,20),oferecidoporDeusanós,tambémocaminhoinversoocorre.Nasatitudesdestefilhodahumanidade,nascidodemulhersobaLei(cf.Gl4,4),foifeita,nãoavontadedeAdão(cf.Gn3,6;Lc22,42),masadoPai(significadoantropológico).
Vistoqueemsuavidaesuamorte,Jesuséoserhumanoverdadei-roquecorrespondeinteiramenteaDeus,sendo,portanto,emseurelacionamentocomDeuseosoutros,oprotótipodoserhumano,comotal,Elerepresentaemsitodososdemaissereshumanos,nãocomoelessempresão,mascomoaindadeverãotornar-se;afinal,todosdeverãoconformar-seàsuaimagem,edeverãofazê-loatra-vésdacomunhãocomEle“pormeioDele”,“em”e“comCristo”(KESSLER,p.380).
AmortedeJesusé,então,apossibilidadedeDeuscrerreal-mentenohomemeapossibilidadedeohomemencontraremJe-sus,comodizRatzinger,a"representaçãoafiançadora",queafirmaJesuscomogarantiadapossibilidadedeohomemvoltaraDeus,entregar-se a Ele e recompor a aliança agora tornada definitivapelosanguenacruz.AmortedeJesusvenceopecadoeseuspo-deresescravizantes,inclusiveoamedrontamentodairadeDeus,eporElepossibilitar,nãosubstituiraprópriaentregadecadaumaDeus.
© Cristologia166
OsacrifíciodeJesus"pelospecadosdomundointeiro”(1Jo2,2)éamaispurarepresentaçãodoamorhumanoaDeus.Aofe-rendadocorpodeJesusCristo,realizada“umasóvezportodas",nacruz(cf.Heb10,5-10),nãoapenasnossantifica,mastambémnosapresentacomohóstiasvivasdesuaveodoraoPai(cf.Ef5,2).
Amando-nosatéofim,dandoavidapornós,seusamigos,fazendo-seumconosco,ElesetornanossorepresentantejuntoaoPai.PoiséseudesejoqueondeEleestiver,nósestejamoscomEle.“Eleuniuasi,decertomodo,todohomem”(GS22,2).DeuassimatodosapossibilidadedeseassociaremaoseuMistérioPascal(cf.GS22,5).ChamaosseusatomaremsuascruzeseOseguirem(cf.Mc10,39),dando-lhesoexemploparaquesigamosseuspassos(cf.1Pe2,21).
No outro plano, encontra-se o significado teológico. DeusaceitouosacrifícioúnicodeJesuscomoprovadoamorhumano.DeusnosvêpeloseuFilho,queéonossoirmão.Equempoderiamelhor representar o ser humanodiante deDeus, senão oHo-memJesus?
A cruzde Jesusnãoéo significadodaquantidadededor,masaexpressãomaiordadedicaçãohumanaaDeus.Nela,oserhumanonãoprecisamaisofereceraDeuscultosesacrifícios,san-guedeanimaisoubodes.Nacruz,nãoéoferecidonadadetudoquantopertenceaDeus.Nela,sóéoferecidooqueéprópriodohomem:sualiberdade.
Acruztorna-se,pois,aradicaleinauditaofertadeliberdadehumana,emsuacapacidademáximadeamaraDeus.Porqueaoferta (entrega)de JesusnacruzaoPaiéumaaçãohumanadeamor,querespostapodeDeuslhedarsenãotambémemamor?Deussópodemesmorecriarahumanidadeeocosmo,começan-dotudodenovo,eressuscitarseuFilho.E torná-loprimogênitodosmortos.
ConformeoNovoTestamento,acruzdeJesuséummovi-mentoprimeirodecimaparabaixo,comodizRatzinger(cf.Intro-
167
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
duçãoaocristianismo,p.209).ÉnelaqueoPaireencontraovelhoeonovoAdãoeoschamadevoltaaoparaíso.Jesussintetizaemsiarealidadehumana(fizera-seatépecadopornós(cf.2Cor5,21)eeraoFilhoamadodoPai(cf.Mt3,17;Mc9,7).Numasíntesefeliz,H.Kesslerafirma:
JustamenteemsuamorteElerepresenta,poristo,osmuitoseosfaz,atravésdoefeito"multiplicador"dagraça(2Cor4,15),partíci-pesdesuaprópriajustiçadeDeus(5,21).Esse,umserhumano,re-presentaolugardeDeusjuntoatodosossereshumanoseolugardestes juntoaDeus;ao invésdenossubstituir,Elemantémesselugar permanentemente aberto para nós e nos introduz em suaprópriaatitudeinterior.ArepresentaçãodeJesuscontém,assim,ummovimentoexclusivo(quecabeunicamenteaJesus)eumin-clusivo(queincluieconvidaosoutros)(KESSLER,2000,p.380-381).
Inúmerasoutras ideiaseteoriasforamapresentadas,mes-morecentemente,sobreamortedeJesus.
Assim,resumidamentetemosquatroplanos:1) Histórico:
• condenado politicamente, por desacato ao EstadoRomano(subversão)emessianismo/pretensãodere-aleza;
• religiosamente,porcausadaquestãodo"sábado";• edapretensãodefiliaçãodivina.
2) Bíblico:• Mortecomosacrifício,redenção(resgate);• Figuradoservosofredor,profetamártirescatológico.
3) Teológico:• Deusofezpecadoporcausadenós;• ComosatisfaçãoaDeus;• ComoméritopornósjuntoaDeus;• Porsolidariedadeerepresentação.
4) Sotereológico:• paraoperdãodospecados(dimensãonegativa);• paranossasalvação(dimensãopositiva).
© Cristologia168
Háumaimensagamadeinterpretações.Todaselastêm(outiveram)suavalidade.Nãoháumaquesejasuficientementeglo-balizante.Sempresãopontosdevistasquepodempartirdeuni-versossócio-culturais,religiososouteológicosdiversos.
As explicações teológicas, como as outras, estão condicio-nadasaotempoeàsculturas.Elasnãopodemignorarasdedi-mensãobíblica(mortepornós,comosacrifícioecomoresgate).Impuseram-sehistoricamenteduasgrandes teses teológicas (sa-tisfação emérito).Na atualidade, aparecem tambémdois enfo-quespredominantes: odaentrega (ouda solidariedade) eodarepresentação.
Contudo,ograndesignificadodamortedeJesussópodesercompreendido a partir da dimensão sotereológica.Mesmo queelatenhasidocompreendida,nopassado,prioritariamentecomosalvaçãoe/ouredençãodospecados;hojesetendeaperceberocaráterredentordamortepelospecados.
HáumaforteênfaseemcompreendertodaavidaencarnadadeJesusCristo(nãoapenassuamorte),comoaçãosotereológica(salvífica).
Particularmente, aqui, são postas duas questões sobre amorte:oaspectoredentordospecadosdahumanidadeeasolida-riedaderepresentativadeJesus(umamorpró-existente:porDeusepornós,homens).
8. O RESSUSCITADO: AUTORREVELAÇÃO DE DEUS E DO HOMEM
No iníciodoséculo20,osmanuaisdecristologiamalace-navamàquestãodaressurreição.Otemanãomereciamaisqueumaslinhas,emcomplementaçãoàmortedoSenhor.Aressurrei-çãoeratomadacomoumfatoquediziarespeitopraticamentesóàpessoade Jesus, semnenhuma incidênciaparaahumanidadetoda.
169
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Desdeametadedoséculopassado,apartirdaobradofran-cêsFrançoisDurwell,"AressurreiçãodeJesus,mistériodasalva-ção"(1950),redescobriu-seaimportânciadotemaparaafé.
Vocêterá,agora,umaoportunidadedeaprofundararefle-xão cristológica sobre a ressurreição de Jesus. Inicialmente, en-contrará,notexto,algumasquestõesqueajudamadirimiralgunspontosparaassimfacilitaroentendimentodestamaravilhadivina,quenãoapenascontinuaaobradacriação,masarecriaealevaasuaplenitude.
Lembre-sedequesemaressurreiçãoanossaféévã,comojádiziaSãoPaulo.
Diantedotemafundamentaldacristologia,aressurreição,devemos,logonoinício,eliminaralgumasdúvidaseofaremosdemodoincisivo:
a) AIgrejacrêqueDeusressuscitouocrucificado.Eofez:• paradesautorizararejeiçãoeacondenaçãoinfligida
peloshomens;• paraevidenciarqueaplenitudedavidasóseencon-
traemDeusmesmo;b) A ressurreiçãode Jesuséumacontecimentoescatoló-
gico, com incidência histórica. Portanto, não pode sercomprovadocientificamenteenãoexistenenhumoutrocasoconhecidonahistória.AressurreiçãodeJesusnãoécomoadeLázaro(estevoltouaviverestavidaterrenaedepoismorreunovamente).
Vale lembrar que, reencarnação, reanimação de cadáver ou “expe-riência de morte” em nada tem a ver com a ressurreição.
ONovoTestamentonãorespondecomoeraocorpodores-suscitado. Limita-seadizerqueo ressuscitadoeraAquele Jesusqueconviveracomeles.Ninguémviuomomentodaressurreição,mastodososqueviramoressuscitadosabiam(nãosócriam)queEleeraAquelequeviveracomelesemorreracrucificado.
© Cristologia170
Aciênciasópodeconstatara reaçãodosapóstolosesuasconsequências (por causa da ressurreição). Não é competênciacientíficapesquisararessurreição.Elaéumfatoescatológico,nãoverificávelempiricamente.
Ostextosbíblicossobrearessurreiçãoeasaparições,escri-tosemtemposdiferentes,porevangelistascomobjetivosdiferen-tes,nemsempresemanifestamdeacordonosdetalhes.Istonãoésinaldecontradiçãooudesautorizaçãodosfatos,masexperiênciastãoinauditasesurpreendentesquenemsempreosdetalhessãoimportantes,comoporexemplo:númerodeapariçõeseaquem,terceirodia,otúmulovazio,peixeassadoetc.
A realidade do ressuscitado é nova e inaudita. São Pauloescrevequeo corpobiológico (animal) se transformaemcorpoespiritual.Nãoédes-encarnaçãoou i-materialização,mascorpopossuídopeloEspíritodeDeus(cf.2Cor3,17).Nãoévidahistórica(1Cor15,45),masévidavivificadaevivificante.Évidanãomaisparasi,masvidaabertacomocomunhãocomDeus,comosoutrosecomocosmo(mundo).Évidaespiritual.
Quando, seescrevenosevangelhosque Jesus “pegou (to-mou)"opão,eo"comeu",mostrou"aschagas","atravessou"pa-redes, "subiu"aocéu,"falou"etc.querseafirmaraconcretudeda identidade do ressuscitado, levando em conta a experiênciadosouvintesdoevangelhoesuacapacidadedecompreensão.IstoapareceprincipalmentenostextosdeLucas,queescreveparaosgentiosejudeushelenizados.Osrelatosdaressurreição,comên-fase na questão corporal, pretendem, sobretudo, afirmar que oressuscitadoéomesmocrucificado,emsuatotalidade,superandoadicotomiagregadecorpoealma:quemressuscitoufoioNazare-noemsuatotalidadeagoraespiritual.
Sequandonascedeumovo,umpassarinhoou,deumase-mente,umaplanta,quemficavalorizandoacascadoovooudasemente?Oquepassaaterimportânciaéanovavida.Assim,tam-bémprocedeoNovoTestamentosemseateraocomoeraonovo
171
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
corpo.Mas,eseencontrassemocorpodeJesus,doismilanosde-pois?Éprecisolembrar:nossafénãosebaseianumcadáver,nummorto,masnarealidadeescatológicaaceitapelafé.
Portanto,aaceitaçãodaressurreiçãoéumatodeféreligiosa(nãoécomprovaçãonempelaciência).Elaéumarealidadeesca-tológica.Eistoéofundamentodafécristãedacristologia.
A "ressurreiçãode Jesus"nãoéuma ideiaabsurda.Nela,eparaalémdela,oscristãosencontramaexplicação,racionalerazoá-vel,paraosprofundosanseioshumanos.Elesafirmam:o ser huma-no existe a caminho da plenitude da vida humana, que só se realiza em Deus, ao poder vê-lo face a face, sem nunca mais morrer.
AressurreiçãodeJesustemavercomofuturo,masjáévivi-donafé,hoje.PoristoomododeviverDeleéalgodesconhecidoparanós:sabemos,noentanto,queElemantémaintegralidadedesujeitohumano,vivendojuntodeDeusecomoDeus.
Jesus‘crucificadoressuscitado’équemtomouainiciativadesefazerver.Suasapariçõesnãosãomanipulaçõesouvisões.Elasnãodependemdoserhumano.
Foifundamentadosnaressurreiçãoqueosapóstolosatemo-rizadosdiantedofracassoeescândalodacruzcompreenderamosentidoglobaldaaçãodeDeus(aressurreiçãodeJesus)edestemi-damentereabilitaramacausaeapretensãodeJesus.Acomprova-çãodistoestánapresençadocristianismo,comsuacontribuição,atéhoje,portodaapartedoplaneta.
Significado teológico da fé na ressurreição de Jesus
Depoisdessasquestõespreliminares,comcaráterapologé-tico,éprecisoaprofundarosignificadoteológicodafénaressur-reição. É importante ressaltar, desdeo início, que seu caráter ésingular,único,inauditoeinusitado.Nenhumaoutrareligiãoapre-sentaestaideia,oumelhor,esteacontecimentoreal,dedimensãoescatológica,porém.
© Cristologia172
A fé pascal é uma atitude pessoal do cristão baseada emsuasprópriasexperiências(comoofoiadosapóstolos),masfun-damentadana tradiçãocristã,cujaorigemestáno relatobíblicodoencontrodosapóstoloscomoressuscitado.Afépascalnãoésóumatodecrernoqueosoutros(especialmenteosapóstolos)disseram.
Cadacrente refaz,emseucoração,aexperiência imediatadoencontrocomoRessuscitado.CrêNelecomoseuSenhorqueestávivoeexaltadopeloPaieéseuúnicosalvador.Afé,quelevaàexperiênciapascal,incluiaexperiênciadesalvação(quepressu-põeagraçadoperdão)eaexperiênciadeeternidade.
Elaincluicrerque,no‘crucificadoressuscitado’,Deussalvoudefinitivamenteoserhumano,particularmenteJesus.Eleéaan-tecipaçãodenossasalvação.OPailevouJesusàconsumação(cf.Heb5,9),cujasequência lógicaedeconteúdoencontramosnosresumosdosdiscursosdePedro(kerigmadafé,cf.At2,22-36;Heb12-26;4,9-12;10,34-43),masepístolas(Rm8,34s;Ef1,22-23;1Pe3,18-22)enos“Credos”daIgreja.
AfépascalcrênesteJesusquepassoupelomundofazendoobem(At10,38),queDeusestavaNeleecomEle,reconciliandoconsigoomundo(2Cor5,18),queNeleDeusesteve(eestá)conos-co(Emanuel,Mt1,23).ElacrêqueElenosrevelouoPai(cf.Jo1,18)efoiconstituídoparaanossasalvação.Crê-seque,porEle,Deusreiniciaahumanidadeeocosmodemododefinitivoeúltimoparaaplenificação.Esecrê,finalmente,porsuaressurreição,DeusnosdeuoEspíritoSantificador,oquenosconduziráànossaplenitudehumana:viveremDeus.
Afépascal,contudo,temumaimplicaçãoradical,que,aliás,decorre das próprias aparições do ressuscitado. É frequente es-quecerquetodasasapariçõesestãovinculadasaomandatomis-sionário.
Àmedidaquecristologiaeasotereologia foramsedistan-ciandoentresi,tambémficavamaispatenteoesquecimentodo
173
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
sentidodasapariçõesdoressuscitado.Jesusnãoapareceucomoquepara dizer "ressuscitei",mas para apelar à continuidade desuacausa,queera(é)acausadoPai:"ideepregaioEvangelho.Ensinaiebatizai,fazeidiscípulos"(cf.Mc15,15s;Mt28,19ss).
AmissãoécontinuaroprocessodeantecipaçãohistóricadoSenhoriosalvíficodeDeus,sobretudopelotestemunho.Éprecisorefletir:aressurreição,anossavidahistórica,fazsentidonocum-primentodomandatomissionário,poisemJesusDeusreconciliaomundo(Mc16,16-20).
Aintencionalidademissionáriadasapariçõesindicatambémadimensãocomunitáriadaressurreição.Quemarecebedeveco-municá-laaosoutros,afimdequeseváconstituindoopovodeDeus(dosbatizados),desdeentãoatéofimdostempos.
Valelembrarqueoeventodaressurreiçãoédistintododasaparições.Enquantoasapariçõestêmumcaráterhistórico,ares-surreiçãoéumacontecimentoescatológico.
Seasprimeirassãoacessíveissóatestemunhaspreviamenteescolhidasenãoa todos (cf.At10,40),enão sãoproporcionaisaoutrosacontecimentoshumanos,aressurreiçãoéumaconteci-mentoemDeus,cujasingularidadedizrespeitoaofuturodoserhumano(mesmocomasimplicaçõesatuais,sejampessoais,sejamcomunitárias).
“Seiquemeuredentorvive"éumbradodefépascal.
Mascomoencontrá-lohoje?Aoresponderestaquestão,Le-onardoBoffdizcompropriedade,lembrandoque"ocristianismonãovivedeumasaudade,mascelebraumaesperança”.Oautorenumeraváriasmaneirasdapresençadoressuscitadohoje:
a) noCristocósmicopertinenteàterraeaoprópriocosmo;b) noserhumano(omaiorsacramentodeCristo);c) noscristãosanônimoselatentes;d) noscristãosexplícitosepatentes;e) naIgreja(sacramentoprimordialdapresençadoSenhor).
© Cristologia174
É importante você ler agora, em BOFF, Leonardo. Jesus Liberta-dor. Petrópolis: Vozes (várias edições), os capítulos: “Onde encon-tramos o Cristo ressuscitado hoje?” e “Como vamos chamar Jesus Cristo hoje?” Lembre-se de que o contexto sociocultural do livro já não é mais o do tempo atual, mesmo nas reedições do autor.
AsapariçõesdeJesus(1Cor15,5-8),suaascensão,exaltação,entronizaçãoàdireitadoPaiourecuperaçãodaglóriaquedetinhaantes da encarnação (cf. Jo 17, 5; 1Tm3,15) etc., são variaçõesbíblicasqueinterpretamomesmofatobásicodaressurreição,emângulosdiferentesdetempoeobjetivos,queapróprialiturgiatemsabidoemexplorá-losdentrodoúnicomistériopascal.
ComodizC.Duquoc:"NasexperiênciasdaPáscoaseligamassimvisão,audição,êxtase.Páscoa,AscensãoePentecostes sejuntamsobaforçadoEspírito”.(In: LACOSTE,2004,p.1533).
Significado teológico da ressurreição
A ressurreição é fator determinante não só da fé. Ela o étambémdacristologia.Sóàluzdaressurreiçãoéquesefazcristo-logia,poissóelarevelaaidentidadedeJesuseseupapelsalvador."SeCristonãoressuscitou,vãéanossapregação,vãéavossafé"e“aindaestaisemvossospecados,eosfalecidosestãoperdidos"(cf.1Cor15,14.17s).
Ressurreição, como ação de Deus: conteúdo teológico
NaressurreiçãodeJesus,DeusserevelaquemrealmenteEleé:"amor".Amorquesecomunica,sobretudopormeiodeseuFi-lho,queéasituaçãopessoal,definitivaeeternadoencontroentreDeuseohomem.OFilhosetornaaocasiãodarevelaçãodeDeusedaplenificaçãodoserhumano.
"SeaencarnaçãoéumatopeloqualoSenhorsefazservo,aressurreiçãoéoatopeloqualoservoéconstituídoSenhor".(CAR-DEDAL,2001,p.487)
175
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
ÉporistoquesedizdoDeusdeJesus:"Eleésenhordosvivosedosmortos"(Mc12,27),"Deusparanóséumdeusdesalvação;sóosenhorDeuspodelibertardamorte"(Sl68,21).Libertandodamorte,Deusressuscita,primeiramente,seuFilhoedepoistodososoutros(cf.2Cor1,9).
ComoaçãodeDeus, a ressurreição completa, consuma, aobracriada.EmJesusDeussuperaamorteefazoserhumanovi-verparasempre,irreversivelmentedianteDele.Jesusressuscitadoéconstituídoopaidestanovahumanidade,cujaplenitudeépar-ticipardavidadeDeus.Poroutrolado,pelaressurreiçãodeJesus,Deusseaproximadahumanidade,recusatodainjustiçaerejeição,sobretudoquandofeitascontraoscrucificadosdahistória;rejeitaasforçasdomalegaranteasalvaçãodoserhumano.SalvaréalgoinerenteaDeus.Porissochamaàvidanãomaishistórica,porqueestaélimitadaecontingente,localizadaefinita;chamaàvidaim-perecedora,queévivificante,universalmentepersonalizante.Seupoderderrotaamorte(todasasespéciesdemorte).
NaressurreiçãodeJesus,oprimeirosinalqueosdiscípuloscompreendemé:DeusatuouNele,ressuscitando-o(cf.osdiscur-sosdePedronosAtosdosApóstolos).Aoprocederassim,Deusculmina suaautorrevelaçãocomoDeusdavidaeque se "intro-mete"navidahumanaafimdequeelaatinjasuaplenitude.Aoressuscitarocrucificado,restituisuaglóriaanteriorcolocando-oàsuadireita.Oprolongamentodaressurreiçãodosoutroshomenséacomprovaçãoquenemamorte,nemoserhumanoenemaprópriahistóriatemaúltimapalavra.
ODeusvencedordamorteéofuturodoserhumano,poisEleéfielàsuapalavra.DiantedaaçãodoressuscitamentodeJe-sus,todohomemetodamulherpodemcrerqueomal,opecado(injustiça,miséria,opressão)eamortenãotêmconsistênciaemsimesmos,apesardasaparênciashistóricas.EstaaçãodeDeusreve-lademododefinitivoqueEleé"Deusconosco"(Mt1,23)e“estavanoseuCristoereconciliouconsigoomundo(cf.2Cor5,18).
© Cristologia176
A ressurreição, com revelação de Jesus: conteúdo cristológico
ConfirmadasporDeus,apessoa,avidaeaobradeJesus,EleéreveladoagoracomooAdãodefinitivo,primogênitodentreosvivosemortos,dentretodososirmãos.EleéoconsumadordaobradeDeus.SuavidahistóricaterrenaconfirmatambémqueEleeraDeusconosco(Emanuel).Adentradonahistória, inclusivenarealidadedosofrimento,dopecadoedaopressão,Eleéoreden-toresalvadordahumanidade.Suavida,nãosóvividaapartirdavontadedeDeus,masdeDeusencarnado,evidenciaqueacomu-nhãovividaemfavordeDeusedosirmãossetornaindestrutível.
Sea ressurreição revelaque JesuseraDeusentrenós,elarevelatambémqueEleentranaglóriadoPai,quecomoFilhojáapossuíaantesdacriaçãodomundo(Jo17,5).Édaíquesurgeavalidadedafórmulateológicatãofrequente:“Eleressuscitou”porsuaprópriaforçadivina.
OconteúdocristológicodaressurreiçãomostraadequaçãodostítulosaEleatribuídos:Messias,SenhoreFilho(cf.At2,36;Rm1,4),porqueaencarnaçãoseconsumanaressurreição,porobradoEspírito.QuemEleerarealmenteseevidencianaressurreição.Porisso,todaaexpectativadeIsraelpormeiodaaliançaedasex-pectativasmessiânicas,pormeiodospatriarcas/profetas,navidaabençoadaporDeus(terra,gadoefilhos),libertações,históricas,tempoabençoadoemSião,perdãodospecadoseesperançadasalvação definitiva e universal, vão se realizar no e pelo ressus-citado.ÉEleasínteseefonteescatológicadetodososanseioseexpectativasdeIsraeledetodososhomensemulheresdetodosostempos.
Reveja na Unidade 2, Jesus na História bíblica, o tema: O Antigo Testamento como base e fonte da cristologia neo-testamentária.
Jesusressuscitadoéacausadasalvaçãodetodososdemais(cf.Heb5,9),quearrastaatrásdesiaimensaprocissãohumana(cf.
177
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
Heb12,2).ÉohomemqueveiodeDeus,oúltimoAdãoconvertidoemespíritoquefazviver(1Cor15,44-49).Équemantecipaecon-cretizaaesperançahumanadaressurreiçãodosmortos(At4,2),arealizaçãohumana.Eleconsumaaféeantecipaofinaldahistória.Eleevidenciaosentidoearazãodacriação,comoprocessoorien-tadoparaDeus.
Acriaçãoeahistóriasãocontínuaseprocessuais.Mas,seusentidoesuarazãoestãonofim.Esteprocessoégarantidopelohomem-DeusressuscitadoqueviveemDeuscomoDeusmesmo.Porisso,paraoscristãos,surgeacerteza(nãoaesperança)dafi-delidadedeDeus(ElefoifielparacomseuFilho)edeCristo(quefoifielaoPaieaoshomens):nossofuturoabsolutoéDeus.Elenãosóvencetodopecado,masconsumaseuplano,traçadodesdeaorigemdomundo:sermossantoseperfeitospormeiodeseuFilho(cf.Ef1,3ss).
A ressurreição como consumação humana: conteúdo antropológico
Jesus ressuscitado carregou consigo as "chagas da crucifi-xão”.Elepermanecehoje tãoverdadeiramenteDeus (dogmadeNiceia), quanto verdadeiro homem (dogma de Constantinopla).É,aomesmotempo,umeomesmo(dogmadeCalcedônia).Suaidentidadepermaneceamesma.
Há,porém,queseafirmarofatodeque:EnquantoemJesushistórico,adivindadesemantinhaumaposiçãokenótica,agoranaparusialheérestituídatodasuagrandezaegló-ria.ConstituídoSenhoreCristo,oressuscitadoéDeus,comoPaiecomoEspírito.Deve-se,contudo,ressaltarqueoressuscitadocon-tinuasendoinseparáveleindivisamentehumano.AuniãosurgidanaencarnaçãodoVerbo,noseiodeMaria,permanece.
Achamadauniãohipostática(asduasnaturezas,divinaehuma-na,inconfusas,imutáveis,indivisaseinseparáveis,conformeoensinodeCalcedônia)permanecenarealidadenovaDaqueleque"subiuaocéueestáàdireitadoPai".OmistériodeDeusseuneàrealidadedohomemdesdeaencarnação,poristoEleéverdadeiroDeuseverda-deirohomem,navida(história),ealémdamorte(ressurreição).
© Cristologia178
SearessurreiçãorevelaqueAquelehomemeraDeusdesdetodaaeternidade,elarevela,poroutrolado,queNaquelehomemahumanidadesetornouinseparáveldeDeustambémnaeterni-dade.Nele,permanecemasduasnaturezasunidasjuntoaDeus,mas inconfusas, imutáveis, indivisas e inseparáveis, conforme opróprioensinodeCalcedônia.
Éevidentequeauniãoacontecidano‘Deushomem’nãoseestendeaoPaieaoEspíritoSanto.Deusé,emsuaunidade,trino(trêspessoasdivinas).AsegundaPessoadaTrindade,oFilho,per-maneceunidoemsuasduasnaturezas(humanaedivina).
Semdúvida,auniãonãosedesfaz(nuncamais),porissoaressurreiçãoatingearealidadetotaldeJesusCristo,Aquelequeéumsóeomesmo,aquelequeéocrucificado-ressuscitado.
Ninguémpodeafirmarqueamorteearessurreiçãoatingi-ramapenasanaturezahumana.ElassãorealidadespertinentesaomesmoeúnicoVerboencarnado.
NacruzmorreuumdaTrindadee,naressurreição,ressurgiuoquemorreu:umdaTrindade.
Agora,pode-sesintetizarassim:
O ‘crucificado ressuscitado’ (unidohipostaticamente)saindo da história (pela morte) entra na eternidadeerecuperatodaagrandezadeDeusmantidakenoti-camente,enquantoanaturezahumanaatingirá tam-bém a sua plenitude. Mantêm-se a identidade dasduasnaturezas,masdoravanteelassemanifestamemplenitude.AnaturezadivinadoVerboressuscitadoseapresentacomseupodereglória.Anaturezahumanatransformaocorpocorruptível(bazar)emcorpoincor-ruptível.
SãoPauloprecisa:Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeadodesprezível ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza,
179
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
ressuscitacheiodeforça;semeadocorpopsíquico,ressuscitacorpoespiritual.Oquefoifeitoalmavivente[...]torna-seespíritoquedávida(cf.1Cor15,42b–45).
Nalinguagempaulina,aressurreiçãotransformaohomemter-restreemceleste.Acorruptibilidadeserárevestidadeincorruptibili-dade.Omortalserárevestidodeimortalidade(cf.1Cor15,50-53).
É preciso relembrar estes conceitos em Antropologia Teológica, na Unidade 3, Tópico 5. Antropologia do Antigo Testamento, p. 24ss.
Aressurreiçãoatinge,demododiverso,asduasnaturezasdomesmoeúnico‘crucificadoressuscitado’,Verboencarnado.
Anaturezadivinaretomaseupodereresplandeceemsuaglória.Anaturezahumanaseconsumaemplenitude,revelando,primogeniamente,quemrealmenteéAquelequeforacriadocor-ruptível(nacarne,nahistória)comoimagemdeDeuseagoraseassemelhaaDeusincorruptivelmente.Aressurreição(deJesus,edepoisadetodososoutros)fazoserhumanomanifestar-seemplenitude.
EsteéomistériodavontadedeDeus,oquequerquenin-guémseperca,poisemCristoquersalvaratodos.Ohomemres-suscitadoéarealizaçãomáximaeirreversíveldasaspiraçõeshu-manasmaisprofundas.Jesus,comoprimíciasdosquemorreram,atingiuestaplenitude.Istoofazgarantiadafidelidadedapromes-sadeDeusatodososhomens.
Quandoistoacontecer,entãoseveráqueDeustinharazãoaoverohomemcriadocomosuaimagemesemelhançaeexcla-marquenãoapenasera“bom”comasoutrascriaturas,mas“mui-tobom”(cf.Gn1,31).E,então,seguiráosétimodia,odo"descan-so"deDeus.EseguiráporqueacriaçãoestaráconsumadaeDeuscelebrará,comtodasassuascriaturas,afestaquenocéununcaseacaba.OfiméafestaeternadeDeus,emqueohomemcontinua-rásendoaquelequeDeustendo-olevadoàperfeição,hádeamarcomosuacriaturaespecial,pormeiodeseuFilho.
© Cristologia180
Contudo,ocarátersotereológicotemsuarevelaçãomáximanaressurreiçãodeJesus.Elaéofuturodoserhumano,empro-messa.Aomesmotempo,antecipadoegarantidoemJesusCristo.Vivemosnestaesperançacristãqueécausadeprofundaalegria,forçadelibertação,descréditodomal(dainjustiçaedopecado),compromissocomavidaea libertação,poisoSenhorviveparasempreenoschamaavivercomEle.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,nasequência,asquestõespropostasparaverificarseudesempenhonoestudodestaunidade:
1) Assinaleaúnicaafirmaçãofalsa:a) Nenhumestudo,pormaiscompletoqueseja,abarcatodaapessoade
Jesus,homemeDeus,entrenósenossosenhorsalvador.b) Acristologiaéfeitaparaacompreensãodosquecreem,notempoecir-
cunstânciaqueelesvivemenãocomoumestudoemsieparasimesmo.c) AcristologiadevetersemprepresenteoNovoTestamentocomonorma-
tivoeodogma,comointegrativo.d) ONovoTestamentoapresentaváriascristologias.AIgrejanãoreconhece
queelasnãoseexcluam,masexigemafidelidadeacadauma.e) Nemtodassãoverdadeiras.
2) Numagrandesíntese,pode-sedizerqueacristologiatemtidodoisgrandesmodosdeproceder (métodos): “apartir debaixo”ou “apartir de cima”.Assinaleaúnicaafirmaçãocorreta:a) Nacristologiavaipredominandohojecomocritérioparaaproximar-se
deJesus“apartirdebaixo”.b) Desdeoséculo12houveumacrescenteseparaçãoentrecristologiae
sotereologia.c) Noperíododeourodacristologia(doséculo3ºao8º),haviaumapreo-
cupaçãoemseafirmarsemprequemeraJesusCristoparaanossasal-vação.
d) Poder-se-iadizerqueacristologia“apartirdebaixo”éencontradanascristologiasdalibertação,feminista,contextual(asiática),negra(africanaenorte-americana).
e) Todassãoverdadeiras.
3) Assinaleaúnicaalternativafalsa:a) A cristologia “apartir de cima” tem fundamentonos textos joaninoe
paulino.
181
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
b) Predominou entre o clero e intelectuais, sobretudo da cultura branca“masculina”eeuropeia.
c) Acristologia“apartirdecima”quasenuncapartedaideiaqueJesuséoVerbopré-existente(desdetodaaeternidade).
d) Ela éusadapredominantementepelosque trazemuma tradiçãodou-trináriahelenista-ocidental(comcortemaiseuropeueeclesiocêntrico).
e) Algunsafirmamquesuafortepresençasedeveaofatodeelaserapre-feridapelosbisposepapas.
4) Assinaleaúnicaalternativafalsa:a) Asperspectivasmaisimportantesdacristologiaestãocentradas:namor-
tedeJesus,emsuaencarnaçãoenahistória.b) Oenfoqueencarnatório,emresumo,afirmaquearazãodoFilhoEterno
sefazerhomem(encarnação)erapararevelarqueméDeus,quemso-mosnósecomoDeusnoscomunicasuavidadivina.
c) Comoéimpossívelescreveruma“síntesecristológicadefinitiva”,entãosepercebequetodasequaisquercristologiassofremainfluênciadacul-turaedasrelaçõesexistenciaisdeseusteólogos.
d) Aoestudaracristologia,enfoquehistórico,hoje, tornamaisacessível,paranós,oencontrocomJesusCristo,por issomuitosteólogosfazemestaopçãometodológica.
e) Aculturapós-moderna (inclusivecatólica)nãoassumiua centralidadedo serhumano; antes, enfatiza a reflexão cristológicaquepermanececentradanaquestãoestaurológica(damortedeJesusnacruz).
5) Assinaleaalternativacorreta:a) JesusfoiumhomemsóquesecompreendeuapartirdeDeus.b) NãofoiJesusquemensinouaosdiscípulosométododeinterpretá-loà
luzdasEscrituras.c) Jesusédiferenteporque,semserumdosnossos,éAquelequevemde
Deuscomo“homemnovo”.d) JesuselegeuaDeuscomofonteerazãodesuavida.EleviveuparaDeus
deIsrael,seuPai.e) JonSobrinodeixadeacentuarapiedadedeJesus,comotambémapro-
fundidadedaoraçãodele,quesuperaingenuidades,mecanizações,hi-pocrisias,opressões,narcisismos.
6) Assinaleaúnicafalsa:a) AvidadeoraçãodeJesusrevelanãosomentesuaféemDeus.b) ArelaçãodeJesuscomoPainãoultrapassavaseucomportamentopes-
soale,porisso,transparecianomodocomoElefalava,invocavaedavatestemunhodeDeus.
c) AvidadeoraçãodeJesustornaclaraasuaprópriaconfiançaemDeus.d) SuaconfiançaemDeusofazatribuiraEleseusmilagres,asuaorigeme
significadodesuavida.e) AconfiançaabsolutaeradicalseevidencianomodocomoEleassumea
própriamortepelacausadeDeus.
© Cristologia182
Gabarito
Depoisde responderàsquestõesautoavaliativas,é impor-tantequevocêconfiraoseudesempenho,afimdequesaibaseéprecisoretomaroestudodestaunidade.Assim,confira,aseguir,as respostascorretasparaasquestõesautoavaliativaspropostasanteriormente:
1) e2) e3) c4) e5) d6) b
10. CONSIDERAÇÕES
Nestaunidade,nosdedicamosaoestudodosignificadoteo-lógicosistemáticodeJesusdeNazaré.Apósaretomadaconceitualdecristologia,procuramosentendercomoJesusseautocompre-endeuapartirdeDeuseemfavordenós.
Certamente,ter-se-áentusiasmadomaisporEle.Realmen-te,acentralidadeDele,nafécristã,fazjusaquemElefoi,éecon-tinuarásendosempre.
Também aprofundamos dois temas teológicos, na grandetradiçãodosegundomilênio:amorteeressurreiçãodeJesus,so-breoqueocristianismoproduziudiversasinterpretações.Asteo-riasdarepresentaçãoedasolidariedadeganhamespaçonascom-preensõescontemporâneas,semignorarasanteriores.
Certamenteestas ideiasdevemter ficadobemclarasparavocê.Casocontrário,éconvidadoarevê-lase/ouampliarsualei-tura,atémesmorecorrendoaoutrasfontesindicadas.
Na próxima unidade, estudaremos o lugar do salvador noplanodeDeus,teologiadasalvação,cristosalvadoratuandoentrenós,alémdecompreendermoscomoseguirJesus.
183
Claretiano - Centro Universitário
© U5 - Cristologia sistemática
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUDE,P.De acordo com as Escrituras.SãoPaulo:Paulinas,1982.
BERGER,K.Para que Jesus morreu na cruz?SãoPaulo:Loyola,2005.
BINGEMER,M.Jesus Cristo:servodeDeusemessiasglorioso.SãoPaulo:PaulinasValên-cia(Espanha):Siquém,2007.
BOFF,L.Paixão de Cristo, Paixão do mundo.Petrópolis:Vozes,1977.
BONY,P.A ressurreição de Jesus.SãoPaulo:Loyola,2008.
BOURGEOIS,H. Libertar Jesus.Cristologiasatuais. SãoPaulo: Loyola,1989.Concilium.RevistaInternacionaldeTeologia326-2008/3.Petrópolis:Vozes.
BROWN,R.E.Um Cristo ressuscitado na Páscoa.SãoPaulo:Ave-Maria,1996.
CARDEDAL,G.Olegário Cristologia.Madrid:BAC,2001.
DUNN,J.D.G.A teologia de Paulo.SãoPaulo:Paulus,2003.
DUQUOC,C.Cristologia: ohomemJesus.SãoPaulo:Loyola,1977.
DURWELL,F.Cristo nossa páscoa.Aparecida:Santuário,2006.
FEINER,J.;LOEHERER,M.(Orgs.).Mysterium salutis.Compêndiodedogmáticahistórico--salvíficaIII/6.O Evento Cristo.6.Mysteriumpaschale.Petrópolis:Vozes,1974.
GAMBERINI,P.Questo Gesù(At.2,32).Bologna:EDB,2007,p.52.
GESCHÈ,A.O Cristo.SãoPaulo:Paulinas,2004.
GOURGUES,M.Jesus diante de sua paixão e morte.SãoPaulo:Paulinas,1985.
HAIGHT,R.Jesus símbolo de Deus.SãoPaulo:Paulinas,2003.
KESSLER,H.Cristologia.In:SCHNEIDER,T.(Org.).Manual de dogmática.Petrópolis:Vo-zes,2000.v.1.
MARTINI,C.Os relatos da paixão de Cristo.Lisboa:SãoPaulo,1994.
MOINGT,J.O homem que vinha de Deus.SãoPaulo:Paulus,2008.
MOLTMANN,J.Quem é Jesus Cristo para nós hoje?Petrópolis:Vozes,1997.
PUIG,A.Jesus, uma biografia.Apelação(Portugal):Paulus,2006.
RATZINGER,J.Introdução ao cristianismo.SãoPaulo:Loyola,2005.
RODRIGUEZ,F.Jesus. RelatohistóricodeDeus.Cristologiaparavivererezar.SãoPaulo:Paulinas,1999.
SCHILLEBEECKX,E.Jesus:históriadeumvivente.SãoPaulo:Paulus,2008.
SERENTHÀ,M.Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre.Ensaiodecristologia.SãoPaulo:Sale-siana,1986,p.425-444.
SLOYAN,G.Por que Jesus morreu?SãoPaulo:Paulinas,2006.
© Cristologia184
SOBRINO,J.Jesus, o Libertador.Petrópolis:Vozes,1994.
TAVARES,S.A cruz de Jesus e o sofrimento do mundo.Petrópolis:Vozes,2002.
QUEIRUGA,A.T.Repensar a ressurreição: adiferençacristãnacontinuidadedasreligiõesedacultura.SãoPaulo:Paulinas,2004.
VERMES,G.A paixão:averdadeirahistóriadoacontecimentoquemudouosrumosdahumanidade.RiodeJaneiro/SãoPaulo:Record,2007.
______.Natividade.RiodeJaneiro/SãoPaulo:Record,2007.