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POR JESUS ou CAMINHOS FCEIS DO AMOR DIVINO PELO REV. PADRE FREDERICO WILLIAM FABER SUPERIOR DO ORATORIO DE S. PHILIPPE DB NBR Y (DE LONDRES) DOUTOR EM THSOLOGA

TUDO

TRADUGAO PORTUGUEZA

H. GARNIER* LIVREIRO-EDITOR 71, RUA DO OUVIDOR, 71RIO DE JANEIRO 1 PARIS

; 6, RUE DES SAINTS-PERES, 6 PREFACIO suas bccas innocentes louvem santamente, cantem sinceramente Jesus hnsto, guim dos meninos. (CL&MSNTB p* ALEXANDRIA)

Reuni os vossos filhos de corao* puro, para, que

Oflerecendo este pequeno Tratado ao publico, apenas duas cousas me parece pedirem alguma explicao. Primeiro, fallo repetidas vezes da Confraria do Precioso Sangue (1). A razo que esta obra era destinada a servir de manual espiritual para os membros d'essa Associao, mas d'aqui no se conclua que ella no possa tambm ser util a todos os catholicos piedosos. Em segundo logar, comquanto eu espere da caridade dos meus leitores que interpretem as passagens duvidosas ou obscuras do meu livro no nico sentido

adoptado pelos escriptores orthodoxos, quereria no -obstante resguardar-me d'um equivoco. Pde fazer-se me esta objeco : Todas estas praticas, todas es- tas devoes, no se referem seno ao amor affectivo e no ao amor effectivo; > d?onde se concluiria talvez que s procuro inspirar o primeiro sem me dar cuidado o segundo. Reconheo que o verdadeiro amor essencialmente operoso, e que implica a mortificao, desde o grau de renunciamento a si prprio, que necessrio a todo o christo para evitar o peccado mortal, at perfeita abnegao, que admiramos nos Santos, e que parece a olhos pouco perspicazes roar quasipela extravagncia. No ha elevada santidade possvel em quem no leva a pratica da mortificao muito alm do preceito rigoroso e do que exige a fuga ao peccado grave. Mas no este assumpto que me propuz tra-ctar aqui. O meu fim no mostrar o que pereito, mas patentear o que faci. No trato de conduzir as (1) Adeante vae uma Informao acerca d*esa confraria.

almas pelos caminhos da espiritualidade mais sublime; se assim fosse, haveria na minha tentativa tanta loucura como vaidade. Gomo filho de S. Philippe, devo exercer o meu ministrio, principalmente no mundo, em favor- d*aquelles que buscam permanecer christos e santificar-se nas condies ordinrias da vida. estes homens que eu me dirijo e lhes proponho no sacrifcios superiores s suas foras, mas devoes cheias ^attractvoSj que contribuiro para reanimar o seu fervor, excitar o seu amor e augmentar para elles essa ineffavel suavidade que offerece a pratica da religio e o cumprimento dos deveres que ella impe. Desejo apresentar a piedade como belia e amena quelles que, para serem piedosos, teera como eu necessidade d'estas attraces. Se este livro augmentar, ainda que pouco, em um s corao que seja a chamma do seu amor ao nosso adorvel Salvador, ter Deus abenoado o livro e o auctor muito mais do que o merecem. SYDENHAM HLL, festa de S. Phylippe de Nery, 1853. mitta-se rne aproveitar esta

occasio para lhe agradecer a amabilidade, ou melhor diria, a indulgncia que me tem dispensado em outras occasies, roubando-se multido dos seus trabalhos apostlicos para, de mistura com a critica mais judiciosa e com as mais sabias advertncias, me dedicar palavras d'affecto e- d'animao io preciosas para um auctor convertido, e das quaes eu tinha necessidade, mais que ningum. Oferecendo novamente este meu insignificante livro aos catholicos da Inglaterra e da Irlanda, desejo exprimirlhes quanto me commoveu o acolhimento que entre elles obteve. Rejubilo com isto, no pela honra que de semelhante facto me possa advir, mas porque essa* acceitao me provou que o nome de Jesus no pde ser pronunciado sem encontrar echo, e que a voz que d'elle falle, por mais dbil que seja, sufficiente para excitar, para apaziguar e para ganhar os coraes. Apreciei, mais que todos s louvores, a dita de vr que o meu xito estava no meu assumpto. No ORAT ORIO DE LOND RES, festa, do

9 santo Nome de Maria, 1853.

PREFACIO DA SEGUNDA EDIO , Tendo-se esgotado uma edio bastante avultada d este livro no decurso do mez que se seguiu sua publicao, dei-me pressa em preparar esta, attendendo tanto quanto possvel, n'este trabalho, as advertncias d'uma critica judiciosa. Agradecendo aos amigos e aos desconhecidos que me favoreceram com os seus conselhos, comprazo-me em reconhecer a especialssima gratido que devo ao Excellentissimo Bispo de Birmingham pela benevolncia de que usou com migo. Per PREFACIO DA QUARTA EDIO Obtemperando aos desejos d'um certo numero dos meus leitores, dividi n'esta edio os captulos demasiadamente extensos em paragraphos mais curtos. Tambm fiz diversas modificaes, e aqui agradeo sinceramente a quem as reclamou, que foram : os Ex.1008 Bispos de Birmingham e de Southwark,

Monsenhor Newsham, o Padre Gardella do Collegio Romano, e tambm o auctor d'um artigo, excessivamente indulgente, da Revista de Dublin, que continha uma justssima critica a varias expresses inexactas. Egualmente retoquei trs outras passagens do meu livro, a pedido (d'alguns superiores de casas religiosas aos quaes sou devedor, pela minha publicao da Vida dos Santos idos ltimos sculos, d'obsquios que jamais me ser jpossivel solver. Pelo que diz respeito mortificao, fizeram-se-me algumas observaes, que tiveram como resultado filial empregar eu maior circumspeco nas minhas palavras em um ou dois logares, e accrescentar um para-grapho, que j appareceu na terceira edio. Os meus leitores attribuiram ao meu livro um fim mais elevado do que eu me propuz. Nunca entrou no meu propsito fazer d'elle um tratado completo da vida espiritual : no mais que uma parte d'esse tratado, como indica o seu sub titulo : CAMINHOS FCEIS DO AMOR 4.

DIVINO. Evidentemente os caminhos speros no entram no meu plano. No me persuado de que uma pessoa, que observasse lodos os ensinamentos, que encontrasse no meu livro, vivesse uma vida muito perfeita, ou, para empregar o termo prprio, caminhasse a passos largos na estrada da perfeio. Estou longe d'isso. Mas ouso affirmar que para uma alma piedosa auxiliada por um director ahio, o meu livro seria um guia que a conduzia pratica da mortificao, e a impediria d'adormecer n'uma rida molle e n'uma devoo fcil demais. Depois d'um demorado e consciencioso exame a estas observaes, resolvi no accrescentar um capitulo sobre a mortificao, porque destruiria a unidade do meu livro e talvez o inutilizasse para o seu fim. O meu livro sahiu luz no corao da cidade mais vasta do mundo, 'e quis tambm a mais dada ao luxo, em um sculo em que a molleza e o amor das commodidades so levados a um excesso espantoso ; e eu escrevi-o para encher uma lacuna, para offerecer s almas fracas um * ^alimento ligeiro, que possa obstar s enfermidades chronicas e predispor esses pobres valetudinrios para o mais solido e substancial alimento

d'uma generosa mortificao. Por tanto, quelles dos meus amigos e dos meus irmos no sacerdcio e na religio, que me fizeram a observao, responderei, guardando sempre o respeito que devo sua experincia e s suas virtudes : Ha milhares d'almas que so para ns objectos d'esperana . mas no podem ellas elevar-se rapidamente s alturas que vs j occupaes; deixae-me guiai-as para vs; no posso aspirar a mais. Depois, quando ellas estiverem ao vosso alcance, recebei-as da minha mo e arremessae-as para mais alto, para muito mais alto, e com toda a rapidez que poderdes : o meu mais ardente desejo, mas realizal-o superior s minhas foras! Ou ainda, para me servir d*outra comparao : < Ide denodadamente para o alto mar, lanae l as vossas redes aos peixes mais grados, mas deixae que eu, pescador humilde, me contente com o refugo da baixia e com as areias da praia. Do ORA TR IO DE BRO MPT ON,

9 fest a de S. Vice nte Ferr er, 185 4. A Confraria do Precioso Sangue, actualmente erecta na egreja do Oratrio de Londres, nasceu nas seguintes circumstancias: Durante a sua estada em S. Wilfrid no condado de Strafford, o Rev. Padre Fber, julgando a devoo ao Precioso Sangue, em harmonia com o genio do povo inglez, estabeleceu uma Associao em honra do mesmo Precioso Sangue, e quando veio a ser .superior do Oratrio de Londres, erigiu a Confraria

NOTICIA SOBRE A CONFRA RIA DO PRECIOS O SANGUE

_ O actual, em virtude d'uni rescripto pontifcio, com a per-xsso do cardeal arcebispo de Westminster (a 1 de Janeiro de 1851). A principio, a Associao no contava outros membros seno os frequentadores do Oratorio, mas propagou-se rapidamente a outras localidades, e boje conta cerca de 17:000 associados, tanto na Inglaterra como na Escossia e na Irlanda, comprehendida p'este numero uma parte considervel dos conventos e estabelecimentos religiosos do reino. Outras confrarias se foram estabelecendo em varias parochias de muitas cidades : em Londres, na egreja da Assumpo (War-tvick-Saint), na de 8. Thomaz (de Cantorbery). em Jul-nam, bem como no Oratorio de Birmingham, em Liverpool e outras partes. Monsenhor Cullen, arcebispo de Dublin, egualmente obteve um rescripto e erigiu uma confraria na sua metrpole, de sorte que a devoo ao Precioso Sangue promette vir a ser em breve tempo uma das mais florescentes do Reino-Unido. A ideia preponderante que presidiu ereco da nossa confraria foi fundar uma Associao consagrada orao. Os ca-tholicos 6.

prevaricadores, os protestantes, as almas do purgatrio, taes so os constantes objectos do seu zelo piedoso, e a cada associado se recommenda que, entre estas trs cathegorias, escolha uma alma pela qual offerea as suas oraes. Para demonstrar quanto esta Confraria agradvel a Deus, bastar indicar os assignalados favores de que a tem accumulado. Desde os Jprimeiros tempos da Associao, os seus membros no se reuniram uma s vez (e note-se que estas reunies effectuam-se todas as semanas) sem que se haja assi-gnalado alguma nova graa que parece ser o fructo das oraes da semana precedente, e no poucas vezes o numero d'estes favores celestes, dados a conhecer em uma s assembleia, tem attingido a vinte > e mesmo a trinta. Quando o Oratorio estava em King William Street (Strand),os membros da Confraria reuniam-se em todas as sextas-feiras s 8 horas da noite. Mas depois que os Rev.4" Padres transferiram a sua residncia para Brompton, as reunies effectuam-se duas vezes por semana : uma, sexta-feira de tarde, como antigamente, na qual pregado um breve sermo sobre a Paixo ante o Caminho da Cruz ; mas a

Assembleia principal da Confraria realiza-se actualmente ao domingo de tarde, s 7 horas. A conferencia comea por um cntico ; depois recitam-se as sete oblaes do Precioso Sangue; em seguida d-se conhecimento aos associados das differentes intenes por que devem orar no decurso da semana,assim como das graas que recompensaram as suas oraes da semana anterior. Aps isto, recita-se o Pater e sete Ave, pelas intenes de que acabamos de faliar, depois um Pater e um Ave pelo Soberano Pontfice, e outro pelos membros fallecidos da Associao. Canta-se ento um segundo cntico, seguido d'um sermo sobre assumpto prprio para incitar a devoo ao Precioso Sangue, e para inspirar aos membros da Confraria maior confiana no poder e efficacia da orao. * Gomo o numero dos Associados continua a progredir rapidamente, permittido esperar que as graas obtidas pelas suas oraes tambm augmentem proporcionalmente. Aos fieis que lerem esta ligeira n Dticia roga-se instantemente que rezem uma Ave-Ma-ria por esta inteno. D. O. M.

DE

TUDO POR JESUS

CAPITULO I OS INTERESSES DE JESUS

i. Jesus todo nosso, todo para noa Jesus pertence-nos ; elle se digna pr-se nossa disposio ; communica-nos elle prprio tudo quanto d'elle podemos receber. Amanos com um amor que nenhuma lingua saberia exprimir, ama-nos mais do que a nossa inteiligencia pde comprehender ou a nossa imaginao conceber, e tem a complacncia de desejar com um vivo ardor, to indizvel como o seu amor, que ns o amemos e concentremos n'elle todo o fervor dos nossos affectos. Os seus mritos podem chamar-se tanto nossos como seus. As suas reparaes so menos the-souro seu do que nosso. Os sacramentos so outros an-

9

tos meios que o seu amor escolheu para se communicar s nossas almas. De qualquer ponto qua lancemos nossas vistas para a Egreja de Deus, l vemos sempre Jesus c Elie para ns o principio, o meio e o fim de todas as cousas ; ajuda-nos em nossas penitencias, consola-nos em nossas penas, sustenta-nos em nossas privaes. Nada existe de bom, de santo, de bello, d'agradvel que no encontrem n'elle os que o servem. Como se poder ser pobre, quando se pde, querendo, tomar posse de Jesus? Como poderia algum abandonar-se tristeza, quando Jesus a alegria do co, e seu prazer entrar nos coraes afflictos ? Podemos exagerar em muitas cousas, mas nunca poderemos exagerar as nossas obrigaes para com Jesus, nem a grandeza das misericrdias e d amor de Jesus por ns. Poderamos durante toda a nossa vida fallar de Jesus, sem jamais esgotarmos este suave e aprazvel assumpto. A eternidade no bastar para chegarmos a conhecer o que elle , ou para o louvarmos por tudo quanto tem feito. Mas que importa isso ? Estaremos ento com elle para sempre, e no desejaremos mais nada.

Por ns a nada se poupou Jesus : nem uma s das faculdades da. sua natureza humana deixou de contribuir para a nossa salvao ; nenhum membro do seu adorvel corpo deixou de soffrer por nossa causa ; nenhuma dr, nenhum opprobrio, nenhuma ignominia houve de que, por amor a ns, no esgotasse o clice at s fezes. Por ns verteu at ultima gotta o seu precioso sangue, e cada palpitao do seu sagrado Corao um acto d'amor por ns. Lemos cousas surpre-hendentes na Vida dos Santos a respeito do amor que es-tes tinham a Deus, cousas essas to maravilhosas que nio ousaramos pensar em as imitar. Praticavam austeridades espantosas, passavam annos inteiros em si-lejcio, ou permaneciam em perptuos extasis e arroubamentos ; outros mostravam-se apaixonadamente enamorados das humilhaes e dos soffrimentos, ou, em sua santa impacincia, aborreciam-se n'esta vida, suspirando sem cessar pela morte, e recebendo-a afinal com alegria, em meio das torturas do mais cruel mar tyrio. Cada uma doestas

10 10 cousas em particular nos encha de admirao, e no obstante, ajuntae-as todas ; ima-ginae todo o amor de Pedro, de Paulo, de Joo, de J Ds e de Magdalena, de todos os apstolos, martyres confessores e virgens, que teem illustrado a Egreja em todos os sculos ; reuni, repito, todos esses ardentes affectos, e mettei-os n'um corao assaz grande por milagre para conter tanto amor; ajuntae-lhe ainda todo aquelle em que por Deus se abrazam os nove coros d'Anjos; finalmente corae todo este amor com o amor inconcebvel do corao immaculado da nossa santa Me, e depois d'isto, no tereis mais que uma pallida imagem do amor que Jesus tem por cada um de ns, no obstante a nossa pequenez e a nossa indignidade. Ns no ignoramos quanto somos indignos d'elle. A ns mesmos nos aborrecemos por causa dos nossos peccados ; no podemos supportar a vista das fraquezas, das misrias da nossa natureza ; cansamonos de nos ver to perversos e to despreziveis. Mas a pesar de tudo isto, Jesus ama-nos com um amor ineffa-vel, e estava prompto, se necessrio fosse, como o re-vellou a um dos seus servos, a descer do co para ser crucificado outra vez por cada um de ns.

O que me espanta, no que elle leve to longe o seu amor, mas simplesmente quo sinta amor por ns. Considerando o que elle e o que ns somos, no encontraremos em ns nenhum titulo ao seu amor, a no ser talvez a profundeza da nossa misria que, sem o auxilio da sua graa, nos mergulharia no desespero. No temos outros direitos aos seus favores seno os que elle mesmo, em sua misericrdia, se dignou darnos. Que haver -de menos amvel, menos generoso, mais ingrato que ns ? E comtudo, ell nos ama com tanto excesso d'amor ! Oh ! Gomo pode este pensamento atastar-se do nosso espirito um s momento! Como podemos interessar-nos por outra cousa que no seja este amor infinito d'um Deus pelas suas creaturas decahidas I E' effectivamente para estranhar, que possamos entregar-nos s occupaes ordinrias da vida, e que DOS no esquecem aquelles cujo corao se apaixona por alguma creatura, vendo-nos a toda a hora do dia e da noite alvo da mais generosa ternura,sentindo-nos accum alados dos favores d'um Deus omnipotente e eterno, em quem se encerram toda a sabedoria, toda a per-

11 feio, toda a belleza! O' maravilha a mais incrvel I Jesus amontoa sobre as nossas cabeas os benefcios, at nos fazer curvar ao seu pezo, por assim dizer. Sem cessar ajunta graas a graas, a ponto de nos ser impossvel contal-as, se o tentssemos fazer. Todas as manhs se renovam para ns a sua ternura e a sua misericrdia. E aps todos estes favores, vir ainda uma recompensa que jamais olhos viram, como ouvidos nunca ouviram, como nenhum corao concebeu nunca I Eis o que Jesus para ns; eis o que elle faz para ganhar os nossos coraes. Ail dulcssimo Salvador nosso, e ns, at agora, o que temos feito por vs? Olhamos para um crucifixo, e difScilmente nos commove ; escutamos a narrao dolorosa da Paixo, mas os nossos olhos no teem lagrimas nem o nosso corao piedade; ajoelhamo-nos para orar, mas no podemos fixar o nosso pensamento em Jesus durante um quarto d'hora; vamos apresentarnos na sua santa presena, e mal dobramos o joelho ante o tabernculo, com receio de estragarmos os nossos vestidos; vemos os outros homens peccar, mas que nos importa que Jesus seja offendido, contanto que no arrisquemos a salvao

de nossas almas offendendo o ns mesmos? Oh! que estranhos signaes d'amorI Com certeza occupa Jesus um logar muito pequenino m nossos coraes, se so estes os nossos sentimentos :para com elle. E todavia isto mais que verdade ! Cada qual s se escuta a si mesmo, e no obedece seno sua vontade. A nossa grande preoccupao satisfazer todos os nossos desejos : a vida deve ser para aos uma estrada bordada de rosas, e temos o cuidado de lhes arrancar os espinhos. Quanto penitencia, deixase aos santos a sua observncia. So-nos necessrias todas as commodidades da vida, todos os gozos do mundo ; e a nossa vida espiritual deve limitar-se ao necessrio para evitar as inquietaes de conscincia. Se rendemos culto a Deus, por nossa propria convenincia; se fazemos bem aos outros, ainda a ns mesmos que nos buscamos na nossa caridade. Pobre Jesus Christo i exclamava santo Affonso pc-bre Jesus Christo i Quem pensa n'elle ? Quem quer esposar os seus interesses ? Entretanto, o nico fim da nossa Confraria do Precioso Sangue abraar a defeza dos interesses de Jesus e

12 12 fazel-os valer por todos os meios que Deus pz ao nosso alcance. Vede o mundo ; ha ahi qualquer cousa importante, qual se no ligue uma associao, que tome a seu cargo defender-lhe os direitos e valo-risar-lhe os interesses ? Porque ho de ser os interesses de "Jesus os nicos desamparados ? A sciencia tem juas agremiaes e seus scios correspondentes. Os homens unem-se para fazer triumphar uma opinio politica ; organizam companhias para explorar os caminhos

de ferro, os navios a vapor e as minas de hulha. Por que no estabeleceremos ns uma associao para tratar dos negcios de Jesus, proteger os seus direitos e fazer prosperar os seus interesses ? E' este precisamente o ti m da Confraria do Precioso Sangue Ao entrar n'ella deve-se deixar o egosmo porta ; entre ns, no deve haver meu por forma alguma. Aqui tudo para Jesus Christo ; o syndicato dos interesses de Jesus.

Tentemos primeiro que tudo formar uma ideia do que so os interesses de Jesus, sem o que no poderamos fazer cousa alguma para os zelar. O homem no pode trabalhar s cegas, precisa conhecer aquillo a que applica o seu trabalho, E primirante, sabeis o que se entende por ter um interesse ? Olhae em volta de vs e vereis que, no mundo, cada qual tem a peito uni interesse, pelo qual trabalha noite e dia-. Tantos homens, quantos interesses. Todos os que encontraes por essas ruas diligenceiam alcanar um fim qualquer. Podeis lr-lho na cara, no afogueado dos olhos, na rapidez de seus passos. Todos tendem a um fim. Para, uns a politica ou as belias artes ; para outros, o commercio ou a sciencia ; para outros erafim, a moda, a fortuna, ou a satisfao das paixes deshones-tas. Mas, qualquer que seja, cada homem abraou o interesse que escolheu, e dedica-lhe todos os seus cuidados. N'isso trabalha com ardor durante todo o dia ;' n'isso pensa ao ir procurar o descano da noite e, na manh seguinte, este pensamento desperta com elle. E mesmo ao domingo, se os seus braos descanam, a sua cabea e

o seu espirito trabalham no seu interesse. Vede tudo o que fazem os homens, ss ou reunidos, para abolirem a escravido, para obterem o livre-cam-bio, para tirar um bom logar a um rival, para accele-rar o servio dos correios, ou para construir novos caminhos de ferro. evidente que os homens teem numerosos interesses no mundo, que os amam ternamente, e que por elles trabalham com energia. Oh ! se tudo isto fosse por Deus, por Deus to bom e to misericordioso, por Deus que eterno l O demnio tambm tem seus interesses no mundo. Foi-lhe permittido estabelecer um reino em opposio ao de Deus, e elle, como todos os soberanos, tem uma infinidade de negcios. Por isso tem em toda a parte agentes activos e diligentes, espiritos invisveis que aos milhares andam furtivamente pelas ruas das cida-des, para fazerem progredir os interesses do seu senhor. Armam enibuseadas ao trabalhador do campo ; procuram assaltar o frade no claustro e o eremita na sua cela ; at nas egrejas, durante a santa missa cu os officies divinos, elles l esto alerta, procurando cumprir a sua tarefa infernal. Alm d'isio, milhares de homens se

lhe entregam como agentes. Sim, ha uma mui-tido d'esies que no hesitam em servir gratuitamente os interesses de tal senhor ; e, o que mais deplora- vei^ muitos d'elles, trabalhando para o demnio, quasi julgam trabalhar para Deus, to bom e rreprehens-vel se lhes afigura o que fazem. Quantos catholicos se no oppem a obras boas e mettem a ridculo pessoas virtuosas?E sem embargo no quereriam fazer-se agentes do demnio, se soubessem ser este o resultado do seu procedimento. Quem poderia enumerar todos os interesses que sustenta o inimigo do gnero humano ? Fazer commetter o peccado mortal, induzir s faltas veniaes, tornar estril a graa, impedir a contrico, afastar dos sacramentos, dispor para a tibieza, macular a reputao das pessoas que servem a Deus, dos bispos e das ordens religiosas ; suffocar as vocaes, semear a maledicncia, perturbar a orao dos fieis, inspirar aos homens o amor das frivolidades do mundo, persuadil-os a dissiparem suas fortunas em gozos, em objectos de luxo, em vos atavios, em jias, em mil bagatellas, em logar de darem esmola aos pobres de Jesus Ghristo ; impeli il-os a

porem sua confiana nos principes, e a captarem o favor das pessoas altamente collocadas; satural-os d'um amargo espirito de critica mutua, e tornal-os assim susceptveis de se escandalizarem como crianas ; enfraquecer a devoo Santssima Virgem ; fazer acreditar ao povo que o amor divino no mais que enthusiasmo e fanatismo : taes so os prmeipaes interesses do demnio. N'elles trabalha com uma espantosa energia, e nada ha que eguale a astuciosa habilidade com que os faz triumphar no mundo. Seria um espectculo digno d'admiraao, se no nos fizesse tremer pela salvao da nossa alma, e se tudo quanto se levanta contra Deus no devesse ser votado abominao e ao dio* O Creador, em seus occultos desgnios, permitte que o seu tenebroso inimigo obtenha resultados que nos maravilham, n'esta creao a que se dignou lanar um olhar de complacncia e que elle abenoa em sua bondade ineffavel. Os interesses dos homens fazem com que estes desprezem os de Jesus, considerando-os ou como um incommodo, ou como cousa insignificante. Os interesses do domonio so inteiramente oppostos aos de Jesus, e onde quer que aquelies triumpham,

estes se offuscam, quando no se extinguem completamente. . Quaes so os interesses de Jesus Devemos vr agora quaes so os interesses de Jesus. Para isso, ponderemos toda a Egreja, que sua esposa; e em primeiro logar dirijamos as nossas vistas ao co, egreja triumphante. O interesse de Jesus pede que a cada hora do dia e da noite a gloria da santssima Trindade receba, tanto quanto possvel, um novo augmenta E esta gloria, que se chama a gloria accidentai de Deus, augmenta com todo o bom pensamento, com toda a boa palavra e obra, com cada cooperao prestada graa e cada resistncia s tentaes ; com cada acto de devoo, cada sacramento bem ministrado ou humildemente recebido ; com cada tributo de louvor ou de amor offerecido Santa Virgem, com cada invocao aos santos, . cada mysterio do rosrio, cada signal da cruz, cada asperso d'agua benta ; com cada dr supportada com pacincia, com cada injuria soffrida mansamente, com cada bom desejo : mas tudo isto deve ser feito com uma inteno pura e em unio com os merecimentos

do nosso amvel Salvador. Em cada hora que passa, com prazer o acreditamos, mais uma alma sobe do purgatrio ou da terra ao co, e comea a sua eternidade de delicias e de louvores. Cada alma que vae engrossar o numero dos adoradores prostrados ante o Eterno ; cada dbil voz que vae misturar-se com os coros dos Seraphins, augmenta alguma cousa gloria de Deus. Portanto o interesse de Jesus exige que os bemaventurados adoradores vo em maior numero, e levem comsigo mais mrito e mais amor. At no co tem, pois, a Confraria do Precioso Sangue trabalhos que a solicitam, e ella os pde executar. O co um dos nossos escripto-rios, e n'aquelle magnifico palcio no faltam negcios a tratar no interesse de Jesus, negcios que elle tem a peito e dos quaes, por conseguinte, ns devemos occupar-nos. Espraiemos depois a vista pelo vasto reino do purgatrio. Maria alli a RainhaMe. Todos aquelies milhares d'almas que o habitam so as queridas e fieis esposas de Jesus Christo. E no obstante, em que abandono, em que abysmo de dores o seu amor as deixa submersas? Jesus deseja ardentemente a libertao d'ellas, almeja pelo feliz

momento em que deixem aquella regio de soffrimentos e de trevas, para entrarem na celeste ptria em que brilha um sol sem aurora e sem crepsculo. Porm, tem as mos atadas por assim dizer. J lhes no concede graas; no lhes d mais tempo para fazerem penitencia ; no lhes permitte alcanarem novos merecimentos ; antes, segundo pensam alguns auctores, estas infelizes almas ' nem j podem orar. Que se deve portanto fazer pelas almas que sofrem no purgatrio ? O que vamos dizer oferece matria bastante para meditao. Essas almas dependem mais da terra do que do co ; esperam mais de ns, por assim dizer, do que de Jesus; assim o quiz aquelie de quem tudo depende. Evidentemente alli est o interesse de Jesus; elle deseja a libertao dos seus captivos. Aquellas almas que elle resgatou, quer que tambm ns as resgatemos, ns que lhe devemos a nossa vida, ns a quem elle prprio resgatou tambm. Cada acto de reparao offerecido a Deus por aquellas almas que sofrem, cada oblao do Precioso Sangue ao eterno Pae, cada missa ouvida com devoo, cada communho humildemente recebida,

cada penitencia voluntariamente cumprida, a disciplina, o cilicio, a cadeia com puas; cada indulgncia ganhada, cada jubileu a cujas condies se satisfez, cada de profundis por ns recitado com recolhimento, cada esmola, cada bolo dado a quem sej a mais pobre do que ns, por inteno d'aquelles queridos captivos, au-gmentam d'hora para hora os interesses de Jesus no reino de Maria, que ns chamamos o purgatrio. Ahi est uma outra parte do fim que nos devemos propor ; e no tenhamos receio de sobrecarregar na sua lida o glorioso secretario d'aquelle vasto reino, o bemaventu-rado Miguel, um dos sbditos de Maria. Vede, a bordo d'um navio, que mette agua, com que afan os marujos trabalham s bombas para salvarem suas vidas. Oh I se ns tivssemos caridade bastante para nos servirmos com a mesma diligencia do suave recurso das indulgncias, e trabalharmos na libertao das pautas almas do purgatrio 1 Pois no temos nossa disposio as propiciaes infinitas de Jesus, e as dores de Maria, e os soTrimentos dos martyres, e a perseverana herica com que os confessores trilharam o spero caminho da virtude ? Jesus no quer n'este caso

vir em seu prprio auxilio, porque gosta de se vr ajudado por ns, e espera que o nosso amor se regozije de poder fazer alguma cousa por elle, ! Houve sautos que consagraram toda a sua vida a esta nica tarefa, e trabalharam no allivio das almas do purgatrio, como quem explora uma mina. E a quem reflectir nas mximas da f, este procedimento deixar de parecer estranho. Perde-se-me uma comparao absurda, insensata, por muito mesquinha : certamente muito menos glorioso haver ganho a batalha de Waterloo, ou inventado as machinas a vapor do que ter livrado uma s alma do purgatrio ; e custarme-hia acreditar que qualquer dos membros da Confraria no tenha j feito mais do que isto. Voltemos agora as nossas vistas para a Egreja militante na terra. Aqui no faltam interesses a Jesus, a 'seara rica e abundante. Aqui ha muito que fazer e muito que desfazer ; coraes a persuadir e coraes a dissuadir. E' tal a abundncia de trabalho, que a difficuldade est em saber por onde comear e a que mefter hombros primeiro. E' necessrio inspirar o ' amor

de Jesus aquelies que o no amam, e os que j o amam devem ser excitados a mais o amarem, imponha-se cada um de ns uma tarefa especial, e n'ella encontrar mais trabalho do que o seu tempo lhe permittir concluir. J calculastes alguma vez quantos homens agonizam e morrem em cada minuto do dia, em toda a face da terra ? Oh l que perigos no correm os mais caros interesses de Jesus n'esses leitos de dr ! Satanaz duplica a sua energia ; as tentaes cahem sobre elles mais numerosas que os flocos de neve em tempestuoso dia d'inverno, e conforme obtiverem victoria ou derrota n'este combate, assim ficar triumphante Jesus ou o demnio, para a eternidade, pois a lucta acaba lli e no recomear. Aqui so catholicos que ha muitos annos se no approximavam dos sacramentos ; alm, justos que depois de meio sculo de merecimentos e amor, esto talvez a pique de lhe perder os fructos : no lhes falta seno uma cousa, que todos os seus soTrimentos lhes no podem merecer, a perseverana finai. N'esses leitos ha herticos que nunca suspeitaram a sua heresia, e herticos de m f que calumniaram a Egreja e ultrajaram a Me de Deus. Aqui, so judeus

descendentes dos que crucificaram Nosso Senhor, e acol mahometanos que esto senhores de Jerusalm. Ha hottento-tes que adoram imagens repugnantes, e indianos d'America para quem a felicidade da vida futura consiste em andarem eternamente caa, e contam os seus mritos pelas mortes que tem commettido. Ha homens que vivem perpetuamente em meio de neves, e outros que so queimados pelos ardores do meio-dia. Ha-os nos picos das montanhas, no fundo dos vai-les, nas cidades e nas solides, na terra e no mar, nas prises infectas e nos palcios dourados : ai, a morte, a cada minuto, leva uma multido d'elles, e o christo treme ao pensar no estado em que vo ser surprehendidoB por esse instante supremo 1 Comtudo Jesus morreu por cada um d'elles, to realmente como se a sua morte no houvesse aproveitado seno a cada um individualmente ; e estava prompto a descer do co e a morrer*-outra .vez por cada um d'elles, se isto fosse necessrio. Segui-o no decurso da sua longa Paixo, contae seus passos, suas lagrimas, as gottas de seu sangue, os espinhos que perfuraram sua cabea, os

golpes que recebeu, os escarros que sujaram seu rosto? as suas quedas ; sondae o abysmo interno das suas humilhaes e das suas dores, as torturas e as angustias do seu corao sagrado : tudo isto era por esse pobre indiano, que n'esta hora morre ignorado ao p dos Andes. E se morre no peccado, toda aquella Paixo ficou inutil I;

; Este quadro no nos mostra seno uma parte dos - interesses de Jesus, pois s so aqui considerados os homens no momento da sua agonia. (E' sabido que S. Camillo foi suscitado por Deus para fundar uma Ordem em favor dos moribundos). Quanto se poderia dizer das almas em estado de peccado mortal, dos herticos, dos infiis, dos criminosos encarcerados, das pessoas que vivem no habito da calumnia, das pobres almas que so atormentadas por escrpulos ou tentaes l No terminaria,.se quizesse mencionar todos os interesses de Jesus n^terra. Havndo-se tornado objecto d'uma devoo especial a agonia e os perigos no leito de morte, no ser fora de propsito recordar aqui que Pio VII applicou recitao de trs Padre-Nossos e trs

Ave'Marias pelos moribundos, em louvor da agonia de Jesus, indulgncias que se encontram na Racolta. Uma multido de santos e de pessoas piedosas praticaram esta devoo especial pelas almas dos moribundos. Lemos na vida d'uma das primeiras religiosas da Visitao,, que estando em adorao ao Santssimo Sacramento durante a noite de QuintaFeira Santa de 1641, presenciou, em uma viso, a agonia de Nosso Senhor, recebendo ao mesmo tempo grandes luzes e graas particulares para orar efficazmente pelaspessoas agonisantes: Ah ! exclama ella, a agonia d'essas pobres crea-turas uma hora terrvel. Realmente, aquelle momento, que decide da nossa eternidade, o nico negocio importante de que temos de nos occupar n'este mundo. Depois do momento em que recebeu esta graa

admirvel, aquella religiosa parecia muitas vezes escutar os suspiros d'algum moribundo ; e tal foi n'ella o efifeito d'esta viso, que todos os dias recitava, de manh e de tarde, as oraes da Egreja pelos moribundos. Meditava frequentemente estas palavras que Nosso Senhor pronunciou pouco tempo antes da sua morte : Veio o principe do mundo, e nada encontrou em mim, como dizendo que toda a nossa vida no deve tender seno a pr-nos em estado de podermos a ns mesmos applicar, d?alguma sorte, estas palavras, hora da morte. Conta-se um outro episodio da mesma religiosa. O bispo de Genebra viera no dia da festa de S. Jeronymo para consagrar a egreja da Ordem em Annecy; como a superiora mostrasse desejo de que uma das seis capellas fosse dedicada a S. Jos, esta boa irm supplicou-lhe que a fizesse consagar a S.

Jos expirando nos braos de Jesus e ore Maria, e exclamou : Ah I minha boa me, Deus fez-me conhe- cer que queria por esta devoo a S. Jos agonisante, < conceder, em sua infinita misericrdia, abundantes < graas aos moribundos. Como S. Jos no subiu logo ao cep, pois que Jesus o no tinha ainda abrido, mas desceu ao limbo com seus maiores, a mais salutar de- voo pelos que esto expirando e pelas almas do pur- gatorio offerecer a Deus a resignao do grande S. Jos expirante e despedindo-se de Jesus e Maria, e a santa pacincia com que esperou tranquillamente , que raiasse a aurora da Paschoa, quando Jesus re-.. suscitado foi plo em liberdade. Alongamonos a .respeito d'esta devoo, e no obstante, repito, eu no acabaria nunca, se quizesse descrever todos os interesses de Jesus na terra. No ha taberna ou caf, theatro ou baile, reunio ^particular ou publica : no ha loja ou mercado, trem ou navio, no ha escola ou egreja, onde os interesses de Jesus no estejam em risco a toda a hora, e aonde Elie nos no chame para os defendermos. So os com-

bates da Egreja. Porque nos espantamos de haver ahi ianto trabalho e to pouco tempo para o fazer ? Todas MS cousas teem dois lados : um por Jesus, o outro contra elle. O interesse do demnio no se restringe a fazer commetter immediatamente o peccado. Pode combater a Jesus com armas quasi inoffensivas na ap~ carncia, e tirar quasi tanto resultado como com o peccado mortal. s vezes um veneno lento mata as almas mais seguramente que o mais violento toxico. Vede, pois, quaes no os interesses de Jesus ; so innumera-rveis, esto em toda a parte, so momentosos, e para ,os zelar que nos fizemos membros da Confraria. Qualquer que seja a impossibilidade de conhecer todas as particularidades dos interesses de Jesus na terra necessrio todavia formarmos d'elles uma ideia mais Iara e distincta, se desejamos desempenhar os nossos deveres e trabalhar como convm a membros da Contraria. Se estudarmos o sagrado Corao de Jesus, tal como nol-o revellou no Evangelho, na historia da Egreja, na vida dos Santos, e

tal como ns mesmos o temos encontrado na orao, veremos que a multido immensa dos nterresses de Nosso Senhor muito amado se pode dividir em quatro cathegorias. Um rpido esboo de cada uma d'ellas nos dar uma ideia clara do que temos a fazer. Os primeiros interesses de Jesus esto, incontestvel m ente 5 no fundo da nossa alma : o reino dos cos est dentro de ns. Todavia, por maior que seja a sua importncia, a questo da nossa propria santificao no a que n'este momento, ao menos directamente, nos deve occupar. Sem santidade pessoal nenhum resultado obteremos, bem o sei ; mas no agora, nem n'este logar, que devemos fali ar d'ella. Os quatro grandes interesses de Jesus, a que alludimos, so; 1. a gloria de seu Pae ; 2. o fructo da sua Paixo ; 3. a honra de sua Me ; 4. finalmente, a estimao da sua Graa. Digamos algumas palavras sobre cada um d'elles. in. Os quatro principaes interesses do Jesus A gloria de seu Pae. Estudando o nosso divino Salvador, tal como nos representado nos Santos

Evangelhos, veremos que no ha nada, se nos permit tido arriscar esta expresso, siada mais semelhante a uma paixo n'elle dominante que o seu to vivo, to ardente desejo da gloria de seu Pae. Desde o dia em que, na idade de doze annos, deixou Maria para ficar em Jerusalm, at sua ultima palavra na Cruz. essa dedicao gloria de Deus sobresae em cada pagina do livro sagrado. Assim como d'elle se disse, n'uma occasio, que o zelo da casa de Deus o devorava, assim ns podemos dizer que era devorado por uma fome e sede continuas da gloria de seu Pae. Era como se se houvesse perdido na terra a gloria de Deus, e elle houvesse vindo para a encontrar ; e quo opprimido trouxe o corao emquanto a no encontrou ! Foi este o exemplo que nos deu ; e a sua inteno, d ando-nos a graa, que a empreguemos em glorificar seu Pae que est nos cos. Agora, lanando a vista peio mundo e em volta de ns, poderemos deixar de vr quanto a gloria de Deus est perdida na terra ? O interesse de Jesus pede que a procuremos e que a encontremos. Sem faliar d'esses escndalos pblicos que do os grandes

peccadores, no ser doloroso vr como Deus esquecido, completamente esquecido pela maior parte dos homens ? Vivem como se Deus no existisse. No se revoltam precisamente contra Elie, mas no pensam n'Elle, desconhecem-no, Deus n'este mundo, que E!ie fez por suas proprias mos, como um objecto importuno. Foi posto de parte to despreocupadamente como se faria a uma estatua antiga que se houvesse tornado caricata.Os sbios e os homens d'Es-ado esto d'accrdo n'este ponto ; a gente de negcios e os financeiros entenderam que era acertadssimo nada dizerem a respeito de Deus, pois difficil faliar d'Elle ,-on mesmo occupain'Elle apenas o espirito, sem nos sentirmos dispostos o conceder-lhe demasiado. Ahi est um obstculo terrvel, e poderiamos dizer um obstculo insupervel, se no fosse a graa de Deus, para os interresses de Jesus. Oh I quanto nos dilacera o corao semelhante espectculo, e nos faz suspirar por juma outra vida I Pois, que fazer em to desesperada situao ? Mas alguma cousa devemos tentar. Quanto no podero fazer os rosrios devotamente rezados e as

medalhas bentas ? E no infinito o poder d'uma s missa ? Depois, confessamol-o com as lagrimas nos olhos, ha um grande numero de pessoas com reputao de piedosas, que esto longe de dispensarem gloria de Deus um quinho sufficientemente avultado : ha muitas pessoas que manifestam devoo, e que alis lhe no querem dar o primeiro logar em todas as cousas. Teem necessidade de luz para melhor conhecerem a gloria de Deus ; falta-lhes discernimento para descobrirem as armadilhas do mundo e do demnio sob o vo da moderao e da prudncia, por meio do qual estes dois inimigos de Deus se esforam pelo privar da sua gloria ; no teem coragem para affrontar a opinio do mundo, e firmeza para pr sempre a sua vida em harmonia com a sua crena. Pobre gente 1 E, sem o suspeitar, a propria peste da Egreja. Convm sem duvida aos interesses de Jesus, que essas pessoas se vejam a si mesmas e a tudo que as rodeia, taes quaes so. Aqui encontramos, pois, mais uma obra a executar. Oremos por todas as pessoas virtuosas, principalmente por aquellas que trabalham para o ser, afim de que conheam o que reverte em

gloria de Deus, e o que lhe opposto. Oh 1 quantas perdas nos causa todos os dias esta falta de discernimento ! Depois, existem ordens religiosas que, cada uma de sua maneira e conforme o fim da sua instituio, vo trabalhando, com a beno da Egreja, na gloria de Deus. Ha bispos e padres que com uma singular perse verana e perfeio admirvel dedicam os seus esforos a este nico fim. Qual tambm o alvo d'uma infinidade dissociaes e confrarias que existem* seno a gloria de Deus? Temos de soffrer males, affrontai* perigos e supportar escndalos ; a sorte da Egreja curvar hoje a cabea ante o mundo e n'elle reinar amanh. Ora, em tudo isto tem Jesus os seus interesses, e dever nosso tratar d'elles. Meia dzia de homens que percorressem o mundo procurando somente a gloria de Deus, poderiam transportar montanhas. E esta a promessa feita aos homens animados de f viva. Por que no havemos de ser ns d'esses homens?g iv\ O fructo da sua Paixo

Eis o segundo dos grandes interesses de Jesus. Sempre que possamos impedir que se commetta um peccado, por leve que seja, muito faremos pelos interesses de Jesus.

Melhor poderemos apreciar a grandeza d'um tal servio, se fizermos esta reflexo : ainda que podessemos fechar para sempre o inferno, salvar todas as almas que l esto soffrendo, despovoar o purgatrio, e converter todos os homens do mundo em outros tantos santos como os bemaventurados apstolos Pedro e Paulo, dizendo a mais leve mentira que fosse, no a deveria-mos dizer ; pois a gloria de Deus s offre ria mais com essa pequena mentira do que lucraria com tudo o mais. Avaliae por isto quanto se faz pelos interesses de Jesus impedindo um peccado mortal I E todavia isto to fcil 1 Se todas as noites, antes de nos deitarmos, pedssemos Virgem Santa que offerecesse a Deus o precioso sangue de seu querido Filho, afim d'impedir um peccado mortal que ameaasse commetter-se em qualquer parte do mundo durante a noite ; e se renovasse-mos o mesmo pedido todas as manhs, para o mesmo fim durante as horas do dia, no ha duvida que semelhante offerta, apresentada por taes mos, no poderia deixar d'obter a graa desejada ; e assim cada um de ns poderia provavelmente impedir setecentos e trinta peccados mortaes em cada anno. Suppunhamos agora que mil d'entre ns querem fazer esta

offerta e n'ella perseveram durante vinte annos ; isto, que nenhum trabalho nos daria, seria bem meritrio : teramos impedido mais de quat/rze milhes de peccados mortaes. E se todos os membros da Confraria seguissem este exemplo, teramos que multiplicar este numero por dez. Ah d'est modo, como os interesses de Jesus progrediriam no mundo, e que alegria, que felicidade nos no proporcionaramos a ns mesmos 1 Assim tambm, todas as vezes que possamos resolver algum, que o necessite, a confessar-se, ainda que no tenha a accusar seno peccados veniaes, augmentamos o fructo da Paixo do nosso Redemptor. Cada acto de contrico que qualquer pessoa faa, a instancias nossas ; cada orao que ns faamos com o fim de lhe alcanar esta graa, accrescenta os mesmos fructos, Cada nova austeridade, cada ligeira penitencia que promovamos, d o mesmo resultado. O mesmo aconteceria com os nossos esforos para fazermos apreciar a communho frequente. Quando podermos conseguir . que algum tome parte nas nossas devoes Paixo de Nosso Senhor, que a leia ou a medite, daremos impulso aos interesses de Jesus. Disse algum (e, se me no falha a

memoria, foi Alberto o Grande) que uma s lagrima vertida pelos soffrimentos do nosso doce Salvador era mais preciosa a seus olhos, que um anno inteiro de jejum a po e agua. O que no seria, pois, se ns podessemos interessar os outros em juntarem as suas lagrimas s nossas, e unirem-se comnosco no sentimento d'uma terna piedade pela Paixo de Jesus I Oh l Quo grandes so os fructos d'uma simples orao ! Suavssimo Jesus 1 porque somos ns to insensveis, to frios ? Accendei em ns esse fogo que viestes trazer terra I V. A honra de sua Mae. Aqui est outro dos principaes interesses de Jesus, e toda a historia da Egreja nos mostra quanto apreciado pelo seu sagrado Corao. Foi o seu amor por Maria que, mais que tudo, o fez descer dos Cos, e foram os merecimentos de Maria que determinaram a epocha da Encarnao. N'ella incidiu a escolha da santssima e indivisvel Trindade ; era ella a filha predilecta do Pae a Me predestinada do Filho, e a Esposa eleita do Espi rito Santo. A verdadeira doutrina de Jesus tem estado, p em todos os tempos, intimamente ligada com a devo- | o a Maria ;

e os golpes que ferem a Me devem passar pelo Filho. Assim, Maria a herana do catholico humilde e obediente. A santidade cresce na razo da \ devoo que por ella se tem. Os santos formaram-se na escola do seu amor. O peccado no tem maior inimigo : que Mana ; basta pensar n?ella para o conjurar, e os demnios tremem ao ouvir o seu nome. Ningum pde amar o Filho sem que augmente tambm em si o amor da Me ; ningum pde amar Maria sem que ao mesmo tempo sinta inflammar-se lhe o corao pelo Filho. Jesus a coilocou frente da sua Egreja para ser a garantia \ das graas que por meio d'ella repartiria, e a pedra d'escandalo para os seus inimigos. Que admira pois, que os mleresses do Filho e a honra da Me sejam uma j s e a mesma cousa? Se em reparao das blasphemias com que os herticos mancham a sua dignidade fizerdes vs um acto d'amor ou de aco de graas, em honra ,;. da sua immaculada Conceio e da sua perpetua Virgin- \ dade, de cada vez que o fizerdes, favorecereis os interesses de Jesus. Tudo quanto possaes fazer para propagar ; o seu culto, e principalmente para inspirar aos catho-licos uma terna

devoo para com ella, ser uma obra meritria aos olhos de Jesus, que no deixar de vos recompensar generosamente. Attrahir os fieis sagrada Mesa nos dias das festas de Maria, alistarem-se nas suas . Confrarias, conservarem alguma imagem d'ella, ganha- \ rem indulgncias pelas almas do purgatrio que na terra tiveram uma especial devoo por ella, rezar o rosrio ; todos os dias; so cousas que todos podem fazer e todas lias concorrem para os interesses de Jesus. Haumadevo- 1 -o que eu quero sugerir, e oxal possa inspiral-a a todos I Ento faramos prosperar os interesses de Jesus, e | d'ella colheria Nosso Senhor em todo o universo uma duplicao d'amor 1 depositarmos mais confiana nas preces da nossa divina Me ; descanarmos n'ella com menos hesitao ; enderessar-lhe os nossos pedidos com mais afoiteza; em uma palavra, termos mais f n'ella. Haveria mais amor por Maria se houvesse mais f em Maria; mas vivemos n'um paiz hertico (1) e dilficii permanecer no meio da neve sem arrefecer. Jesus, reanimae a nossa confiana em Maria, no s para que trabalhemos nos

vossos amveis interesses, mas para ;-que o faamos do modo que vs desejaes, no perra it-tindo que DO ah; una cre atura occupe no nosso corao mais logar que Aquella que tinha no vosso maior quinho, maior que o de todas as outras creaturas juntas I

VI. A estimao da sua graa Mais um dos quatro grandes interesses de Jesus. O mundo teria uma feio inteiramente differente, se os homens estimassem a graa no seu justo valor. Existe em todo o universo algum objecto que tenha valor ntrinseco, a no ser a graa ? E no obstante, com que fraqueza vamos a traz das futilidades, que nada teem de commum com os interesses de Jesus ! Que

cegueira! Que tempo perdido ! Quanto mal fazemos I Quanto bem deixamos de fazer I E todavia, apesar d'isto, com que carinho, com que pacincia nos trata Jesus I Se todos soubessem apreciar dignamente a graa, todos os outros Interesses de Jesus medrariam. Quando estes sorem, precisamente por que graa se no d a estimao que eiia merece. As graas veem incessantemente, e os merecimentos a adquirir multiplicam-se to rapidamente como as pulsaes do Sagrado Corao de (1) No se esquea o leitor de que o auctor escrevia na Inglaterra. Mas se Portugal e o Brasil no so paiz3S herticos, no podemos dizer, infelizmente, que no hajam n'elles os gelos da indif erena.

34 Jesus. E em quanto este Corao se abrasa por ns no amor mais ardente, ns dizemos : No tenho obrigao de fazer isto ; no preciso de me privar d'est prazer; deve-se moderar o enthusiasmo religioso. Jesus Christof Carissimo Jesus Chris tol Vede ao que chegam os que no sabem dignamente apreciar a graa. Mais valeria morrer, que desprezar uma s inspirao da graa. Acreditamol-o todos? No, mas julgamos crel-o. Se os fundos pblicos baixassem amanh a metade do seu valor, este facto seria menos importante que se um pobre irlandez, doente em qualquer logarejo obscuro, deixasse d'adquirir, por falta de pacincia, o menor grau de graa. Eis o que dizem a este respeito os theoiogos: Se se recebessem todos os dons da natureza e todas as perfeies naturaes dos anjos, estas vantagens nada seriam, comparadas com a addio d'um grau de graa, como Deus nol-o d quando resistimos durante um quarto d'hora a um sentimento de ira; pois a graa uma participao da natureza divina. Oh I e no poremos ns isto em pratica, ns que tentamos persuadil-o aos outros I Mos-trae-me na Egreja um abuso, um mal qualquer, e estou prompto a demonstrarvos que se no teria dado, se os seus filhos houvessem correspondido dignamente graa, e ainda mais, que tudo amanh reentrar na ordem, se os fieis quizerem comear a apreciar a graa no seu justo valor. No verdade que de nada serviria a um homem ganhar o mundo inteiro, se por esse motivo devesse soffrer o menor damno na sua alma immortal ? Ide propagar esta doutrina entre os vossos amigos ; mostrae-lhes os thesou-ros que podem juntar com o auxilio da graa, mostrae-lhes como uma graa chama outra, como ella se converte n'um merecimento, finalmente como os merecimentos conduzem gloria eterna nos cos. Ah 1 servireis realmente os interesses de Nosso Senhor, se assim obrardes, e servil-os-heis muito melhor do que pensaes. Pedi somente que s homens concebam uma ideia mais elevada e mais verdadeira da g roa, e tor-nar-vos-heis ignotos apstolos de Jesus. Todas as graas esto n'elle : a fonte e a plenitude d'ellas ; consome-o o desejo de as espalhar abundantemente so-nre as almas que lhes so caras, e pelas quaes morreu ; e ellas no lh'o querem permittir, pois devem, para obter outras, corresponder s graas j obtidas. Ide ajudar

34 34 Jesus. Por que ha de perecer sufficientemente o nosso uma s d'essas almas, pelas amvel Salvador. E por que quaes elle deu a sua vida ? no comearemos no tempo o Digo uma s, pois cousa que deve fazer a nossa horrorosa pensar na perda felicidade em toda a eternid'uma alma. E por que se dade ? Estudemos Jesus. O perder ella ? Porqu ? O co no co seno porque precioso sangue est Jesus l est ; e eu no disposio d'aquelles que o comprehendo porque a terra querem pedir, e o sangue d a no eguaimente t co, pois graa. S. Paulo consagrou Jesus tambm est na terra. Ai toda a sua vida a pregar aos l porque nos deixou a homens a doutrina da graa, a miservel li- berdade de o pedir a Deus que lira enviasse, offendermos. Eliminemos esta e que efficazmente os misria e teremos n'este impulsionasse a fazerem bom mundo, se no o co, pelo uso d'ella quando a houmenos o purgatrio, que a vessem obtido. Apoz uma porta do co. Chegar fervorosa communho,quando finalmente o dia em que a fonte de todas as graas cessemos de peccar, em que brota em nosso corao, como no mais firamos o sagrado um manancial d'agua viva, corao de Jesus ? Deus peamos-lhe que abra os d'amor, fazei nascer bem olhos dos homens belleza da depressa o sol que no ter sua graa ; e a nossa orao occaso antes de ver realizarsem duvida obter bom se para ns esse glorioso despacho. Assim faremos privilegio ! Para que nos prosperar os interesses de affligir e perguntarmos Jesus, pois a natureza d'est temerosos se iremos para o bom senhor tal, que quanto co logo que partamos d'est mais d, mais rico se torna. Q mundo* ou se primeiro muito amado rei das almas, teremos de passar pelo como podemos ns gastar o purgatrio ? Que importa ? A nosso tempo com outro ? grande questo perdermos a Considerar que elle nos faculdade d'offender o Deus permitte occuparmo-nos dos do nosso amor seus interesses, no um pensamento capaz de nos VII.Gomo podemos fazer encher d'admirao? Quanto a progredires interesses mim, espanto-me de que de Jesus semelhante pensamento no nos faa cahir em extase. Mas Taes so os interesses de ns no conhecemos os Jesus que a nossa Confraria nossos privilgios ; e por qu ? tem por fim fazer progredir ; Por que no estudamos ou antes, os que acabamos

34 d'apontar so apenas, para assim dizer, exemplos e espcimens dos interesses de Jesus. Pde parecer estranho que o nosso divino Salvador se digne servir-se d'instrumentos to fracos, to vis, para uma obra to sublime ; mas o mesmo Deus que arrancou pobres pescadores s suas redes para d'elles fazer apstolos, e envial-os a converter o mundo. E' certo que temos em ns mesmos muitos peccados a expiar, muitas imperfeies que nos alienam o corao de nosso - celeste Esposo ; verdade que no ha em todo o-mundo logar em que os interesses de Jesus estejam to compromettidos como em ns mesmos. Mas no obstante tudo isto, devemos ser apstolos; desgraados de ns se no somos apstolos ! Devemos auxiliar os outros a salvarem as suas almas, mesmo em meio das preoceupaes da nossa propria salvao. O Evangelho uma lei d'amor, e a vida do christo uma vida d'orao. Segundo a recommendao do Apostolo, devemos nterceder por todos os homens. Ainda assim,: nunca trabalharemos fruetiferamente na salvao da nossa alma, se nos no esforarmos por fazer prosperar GS interesses de Jesus nas almas dos outros. Muitos lamentam-se do pouco

que progridem na vida espiritual, e das difficudades que encontram em domar as suas ruins paixes, a sua inclinao ao peccado e- o amor prprio que os domina. Encontram-se precisamente no mesmo ponto em que estavam no anno anterior, e isto desanima-os. Succede-lhes isto a maior parte das vezes porque so egostas, porque s tratam de si. No se preoceupam por frma alguma com o bem dos outros, nem com os interesses de Jesus ; nas suas oraes nunca intercedem por qualquer de seus irmos. Assim no se elevam acima do nivel vulgar, porque nada fazem para merecer graas mais abun-nantes. A Confraria espera de ns outro modo de proceder, e d-nos muitas outras instruces. i Mas importante comprehender-se que os interesses de Jesus no procedem como os interesses do mundo. Se esquecssemos isto, no tardaramos a des-corooar, vista do pouco bem que parecemos fazer. Os interesses de Jesus, na maior parte, so invisveis. Em primeiro logar necessrio que tenhamos f no poder da orao. Jamais saberemos, antes do ultimo dia, o xito que obtiveram as nossas oraes, nem as bnos que attrahiram Egreja no decurso dos sculos.

34 34 Tomemos para exemplo a dia a dia, e que continuar at orao de Santo Estevo na ao fim dos sculos. Pois o bem oceasio em que o obrado por S. Paulo tambm apedrejavam. Teve como obra de Santo Estevo, por resultado a converso de S. que frueto da sua orao. Paulo, que at ento conserDo mesmo modo certa pessoa vara os costumes dos seus se recommenda s oraes verdugos. Considera agora da Confraria para obter a todo o bem que S. Paulo fez, remoo dos obstculos que bem que se vae perpetuando

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38 pelo merecimento das vossas oraes, Jesus concedeu-lhe uma abundncia de graas a que elle correspondeu. De sorte que o vosso Padre Nosso e a vossa Ave Maria lhe mereceram nos cos um logar mais elevado. Na sua coroa scintillar uma pedra pre' ciosa que ahi no brilharia d'outro modo ; admirai a-lieis um dia nos cos, e sabereis que foi a vossa orao .que all a collocou. O mesmo com o Papa, com a "Egreja, com as ordens religiosas, e emfim com tudo que diz respeito a Jesus. Os seus interesses seguem, no as regras do mundo, mas as regras da graa. Para .lhes conhecer a grandeza, precisamos de os medir com medidas differentes das que se usam no mundo ; de vemos empregar medidas e pesos do sanctuario. Nunca Jesus triumphou mais do que no dia em que se. * deixou cravar na cruz ; e no obstante, o mundo, na sua loucura, julgava ter vencido e attribuia-se as honras do dia. importante para vs terdes sempre presente ao espirito este pensamento : de f que Deus acolhe sempre a orao feita nas condies devidas, e no poucas vezes muito mais favoravelmente do que. poderamos esperar ; mas

a impedem de seguir a sua vocao para a vida religiosa, ou para o estado ecclesiastico ; e n'uma das nossas piedosas reunies das sextas-feiras, Deus digna-se attender as nossas oraes. Este homem vem a ser Padre ; salva centenas de fieis ; estes salvam outros que se ordenam ou entram n'uma ordem religiosa, ou que no mundo se tornam paes e mes segundo o corao de Deus. Os efeitos da nossa orao estendem-se assim mais e mais, e alastram-se talvez at essa noite terrvel, em que o mundo despertar para ver vir Nosso Senhor do Oriente. Por conseguinte no nos devemos prender tanto com os fractos visveis e os resultados pblicos. O que o mundo chama desgraa reverte mnitas vezes em vantagem para Jesus. Por exemplo, um homem tem que sof-frer muito por ser catholico, vs pedis por elle; a injustia faz o seu caminho ; os protestantes triumpham e mostram-se mais altivos, mais insolentes que nunca. 'Vs julgaes que a vossa orao no foi escutada, e com-indoo vosso erro no podia ser maior : Jesus quiz .fazer dJaquelle homem um santo ; conveniente para elle ficar sendo victima innocente d'aquella injustia. .omtudo

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38 nem sempre nos deixa conhecer o caminho que conduz a seus fins. Tenhamos f n'elle, e seremos attendidos. No procuremos vr como elle despacha, deve bastar-nos a f ; podemos estar certos de que afinai de contas no ficaremos logrados. VIII. A orao meio principal de fazer avanar os interesses de Jesus. Resta-nos dizer algumas palavras sobre a maneira porque nos dado fazer progredir os interesses de Jesus. Mil caminhos nos esto abertos para chegarmos a este fim : dar bons exemplos,' pregar, escrever, emprestar livros edificantes, discutir afavelmente com as pessoas do mundo para as persuadir, usar ^influencia onde se tenha tal direito, exercer, christmente a auctoridade de pae, mestre ou amo. Todos estes meios so bons ; e se tivermos um verdadeiro amor a Jesus, nunca deixaremos de os empregar quando para isso se offerea occasio,e podemos fazel-o sem sahirmos da modstia, que nos impe a nossa condio, e o nosso logar na sociedade. Os membros da Confraria no s podem, mas tambm devem assim obrar quando as circumstancias o permittam.

Mas o meio, o verdadeiro meio, quasi diria o nico meio da Confraria obter resultado, a orao. Ora-se pouqussimo nos nossos dias. E' triste vr a pouca f que os homens te em na orao I Julgam poder fazer tudo pela sua prpria habilidade, fora de se moverem, de se agitarem e de trabalharem ; pensam que se pode servir os interesses de Jesus e fazer tri ura-phar o seu reinado no mundo por meios anlogos aos que fizeram d'est paiz (a Inglaterra) uma grande e soberba nao. Hoje tudo se regula, tudo se aprecia pela razo natural, e no pela f. Se os catholicos emprehendem uma obra, e no obtm seno resultados mdiocres, logo se deixam cahir em abatimento, desesperando do xito. D-se uma misso : salvou-se uma alma, ou evitou-se um peccado ; mas gastaram-se n'isto quinze dias de trabalho e dez libras sterlinas. Que infelicidade I E comtudo, para preservar a gloria de seu Pae da mancha d'um s peccado, Jesus est prompto a descer outra vez do co para voltar a ser crucificado I Ns, se no podemos citar cifras e mostrar grandes resultados, como os membros das sociedades biblicas protestantes, que publicam aos quatro ventos que expediram um milho de

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38 Biblias para a China sem accrescentarem que as damas chi nez as as aproveitaram para fazer chinellas ; se no podemos satisfazer o publico, provando-lhe que fazemos uma grande obra, mesmo a seus olhos, imputamo-nos esta falta uns aos outros, ' criticamo-nos com azedume, e peccamos ; falamos inconsideradamente, e peccamos ; formamos conluios, e peccamos ; abandonamos a obra, e peccamos ; depois cada um escreve sua carta em qualquer jornal, na qual pecca ainda provavelmente, e afinal volta-se maneira de viver anterior. Tentramos fazer uma boa obra, mas porque nos baseamos nos principios humanos, essa obra acabou por um numero indefinido de peccados. Tudo isto vem de que se no ora, ou se no tem bastante f no poder da orao. Por isso, lem-brae-vos de que a divisa da Confraria deve ser: Orao continuada I Estejamos certos de que, n'um sculo e n*um paiz sem

f, a orao d'um corao puro ser preciosa ante o Senhor, que a no deixar sem uma recompensa especial. No admirvel vr como Deus se lembrou d'aquelles que, contrariamente ao maior nu> mero, no haviam esquecido Sio? O hl oremos, oremos no seio d'uma nao que esqueceu a orao, que con fia em si mesma e que se apoia n'um brao de carne. Oremos, e Deus ser comnosco como nunca ; oremos, e os interesses de Jesus prosperaro n'este mundo. Ah bs interesses de Jesus! praza a Deus que elles inflamem ;os nossos coraes do mais ardente zelo 1 A vida curta, e ns temos muito que fazer ; mas a orao poderosa, e o amor mais forte que a morte. A obra, pois, alegres e contentes, obra, anjos e homens, pecca dores e santos, e trabalhemos todos pelos interesses d Je^iis, que devem ser os mais caros para ns, os nossos nicos interesses.

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CAPIT ULO II DA SYMPATHIA POR JESUS

I. - A sympathia por Jesus uma prova de

santidade. Quando Jacob exilado habitava em casa de Labo, snamorou-se de Rachei, filha d'est, e disse ao pae d'elia : Eu vos servirei sete annos, se me quizerdes K dar Rachel, vossa filha mais nova. E a sagrada Escriptura accrescenta : -o seu precioso sangue. Os seus interesses prosperam oa razo do numero d'almas que se salvam ; e reciprocamente, quantas mais almas se perdem, mais os interesses de Jesus soffrem. Afora as almas, nada ha no mundo que merea os nossos cuidados. Pensae no que perder-se para a eternidade I Quem poder sondar este abysmo dhorror? Quem poder pintar, ao vivo, esta desolao completa, esta misria incomensurvel, estas Insupportaveis torturas, e este desespero impotente e furioso ? E sem embargo, Santa Thereza viu as almas dos homens precipitarem-se em multides pelas portas escancaradas do inferno, como os turbilhes de folhas seccas que o vento do outono arrasta comsigo. E Jesus esteve suspenso na cruz durante trs horas por cada uma d'essas almas perdidas para sempre I E todas poderiam estar agora brilhando puras e radiosas no reino dos cos ! E quem sabe se ellas nos amaram e ns a ellas, n'este mundo, sendo muito dignas d'esse amor por muitos motivos ? Seriam generosas, boas, dedicadas ; mas amaram o mundo, deixaram-se subjugar pelas suas paixes, quasi sem darem

por isso, crucificaram de novo Nosso Senhor. E agora, eil-as perdidas, perdidas para a eternidade 1 Porque estranhar que os servos de Jesus tenham sollicitude pela salvao das almas, que o prprio Jesus tanto amou? isto que explica o seu zelo pelas misses, pelo ensino, pela fundao de communidades religiosas, pelos retiros, pelas indulgncias e pelos jubileus. Teem mil projectos em mente, e se os no podem levar pratica, oram ; no se occupam quasi de mais nada que das almas, tudo s almas sacrificam. Pouco se importam com os ultrajes que soffrem nem com as contrariedades a que se expem. Pertencem inteiramente s almas, nada os faz desistir, no se deixam esmorecer quando no vem logo com que thesouros, com que homens podem contar para os ajudarem na execuo dos seus piedosos intuitos ; mas consolam-se em pensar que toda a obra, que tem por objecto as almas, gxna obra por si s completa, por todo o tempo que dureT pois propagar os eeitos da graa e os mritos do precioso Sangue cousa excellente em si mesma e abenoada por Deus. Por isso a Egreja, esta Me das almas, favorece todos esses exerccios que de tempos a tempos veem reanimar a piedade dos fieis * os retiros, as misses e os jubileus, porque cada uma

46 51 46 d'estas cousas boa em si mesma e perfeita. Emquanto uns discutem, criticam, fazem consideraes interminveis e assim enfraquecem muitas vezes a coragem d'outros, os que amam a Jesus trabalham na sua obra com toda & simplicidade, sem se preoccuparem com o dia d;ama* inh. Poder-se-hiam escrever volumes acerca d'est zelo peias almas ; elle existe necessariamente nos coraes cem que reina um verdadeiro amor a Jesus No foi s a Pedro, mas a todos os que amam, que foi dito : Uma vez convertido, confirma teus irmos na f ; e tambm: Amas-me tu mais do que estes ? Apascenta as minhas ovelhas. E cada um de ns no tem sua disposio uma immensidade de meios com o auxilio dos quaes pode concorrer para a salvao das almas ? Para no fali ar seno da orao, no podemos ns por este meio exercer uma benfica influencia em toda a Egreja, como o prprio Papa ? . Ahi esto pois as trs cousas principaes que fazem os santos : o zelo pela gloria de Deus, a susceptibilidade pelos interesses de Jesus, e a sollicitude pela salvao das almas. O conjuncto d'estes trs caracteres transforma a alma, d-lhe um qu d'angelical, e o que mais , assegura-nos a salvao eterna. Taes so os trs

caracteres que a Confraria procura desenvolver em ns. J vimos quanto isto fcil, se quizermos apenas aprender a amar Jesus, e a servil-o por amor. Nem o sexo, nem a idade, nem a posio social so bostaculos pratica d'estas virtudes. Ah 1 Como mudaria a face do mundo, se um certo numero de fieis quizessem seriamente imprimir este trplice caracter sua alma e perseverassem tranquillamente n'esta obra em meio das suas occupaes quotidianas e nas suas oraes I Quando morre um homem, os seus amigos, para fazerem o elogio da sua actividade, da sua energia e da concentrao das suas ideias n'um dado objecto, costumam dizer : Consagrou toda a sua vida concluso d'esta importante linha frrea ; ou todos os seus es- foros se empenharam no sentido d'arrancar ao go< verno um systema d'educaao mais desenvolvido para o povo ; ou tambm, dedicou-se inteiramante causa < do iivre-cambio ; ou finalmente, era um zeloso joro- teccionista, morreu martyr da sua opinio. No tinha outra ideia ; esta cresceu com elle ; elle no podia < pensar em outra cousa : no poupava tempo nem di-< < nheiro para fazer triumphar a sua causa favorita e o

51 47 interesse que tinha abraado. Dedicou a sua vida a esta tarefa, e desempenhou-a bem, porque se lhe dedicou de corpo e alma ; bem mereceu do paiz . Ahl e porque se no ha de dizer de ns : Morreu !... Este homem no tinha seno uma ideia, um nico desejo : vr o reinado de Deus n'este mundo e feita c a sua vontade na terra como no co. Tudo o mais nada era para elle. Este desejo devorava-o, era a sua occupao constante, nenhum obstculo o detinha, no poupava tempo nem gastos para chegar ao seu fim, e

quando lhe falhavam os recursos, importunava o co com as suas oraes- No havia outro interesse k para elle, alm da sua obra predilecta, que o alimen-c tava, que b dominava completamente. Morreu, j no existe ; mas emquanto que o outro homem deixou c um caminho de ferro ou as suas outras especulaes, c o nosso amigo levou comsigo todo o seu amor, todos os seus soffrimentos, todas as suas oraes para o tri- bunal de Jesus, e o que estes poderosos advogados lhe obtm junto do soberano Juiz nunca foi visto?

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58 mais caridade em ofTerecer a indulgncia em favor da alma mais pura, a mais prxima de Deus, no se fazendo isto seno para maior gloria de Deus, creador d'esta alma, pois est prestres a entrar no co, onde comear logo a entoar hymnos de louvor e de bnos em honra da ma gesta de divina. Este homem tinha realmente zelo pela gloria de Deus, e o seu zelo no o extraviava. Efiectivmente, parece que uma alma no pde ser considerada como uma verdadeira conquista de Jesus Christo antes d'ella chegar porta da celeste ptria e de ser apresentada ao Padre eterno pelo nosso divino Redemptor, como um tropheu da sua Paixo. Sendo assim, certo que valia mais deixar a pobre alma esquecida espera da sua libertao do que deixar Nosso Senhor aguardando o seu triumpho. Alm d'isto, de suppr que este combate interior do bom Padre agradasse ao nosso divino Salvador e o obrigasse a fazer alguma cousa em favor da alma qual assim foi preferido. Ahi tendes a susceptibilidade pelos interesses de Jesus ! E depois, pensava o bom Padre, quanto mais depressa esta alma que j se alava para o co ahi der entrada, mais cedo comear a fazer descer as graas ale Deus minha pobre alma e s de todos os pecca-jdores. E isto era

No podem comprehendel-o. Nunca pensaram que o seu amor tivesse tanta grandeza. Ah! servi, pois, a Jesus por amor ; e por muito que faaes, sabei que nunca o amareis tanto como elle vos ama. Repito-vos, servi a Jesus por amor. Se seguirdes o meu conselho, eu ouso promettervos, que antes que vossos olhos se fechem, antes que o pallor da morte tomo o vosso rosto, antes que se certifiquem aquelles que rodearem o vosso leito de que exhalastes o ultimo suspiro, j vs tereis ouvido com surpreza, entre os cnticos dos Anjos, a sentena favorvel do vosso amoroso Jesus, e a gloria de Deus comear a brilhar para vs com um expiendor eterno 1

CAPITULO III 0 PECCDO OFFENDE 0 AMOR

g I _____Deus para ns o mais cariniioso pae

Conta-se d'um dos primeiros Padres do Oratorio, amigo de S. Philippe, que, entre todos os auctores que escreveram acercada graa, preferia aquelles que davam mais preponderncia soberania de Deus e menos ao livre arbitrio do homem. Este trao nos revelia todo o seu caracter ; no prova s que elle era um discpulo fiel de S. Thomaz, na questo theologica a que estamos alludindo, mas faznos vr principalmente o cunho particular da sua vida espiritual, e a propenso da sua devoo. Havia n'elle uma

paixo dominante, que o arrastava com mais fora do que o poderiam fazer as concluses da mais rigorosa controvrsia. Tinha o habito de tomar o partido de Deus

em tudo, e de tudo encarar sob o ponto de vista de Deus. No quer isto dizer que os santos personagens que ho sus, tentado a these contraria, n'esta grande discusso

no Lo mera egualmente, em tudo, o partido de Deus, como o bemaventurado Lessius e o nosso estimadssimo Santo ffonso, dois homens inteiramente de Deus, como os que mais o so ; mas quero significar que n'aquelle modo de proceder era antes o instincto que a inlelligencia, que guiava aquelle bom Padre. Foi por insfinctivo habito que elle abraou, n'esta obscura questo, a opino que lhe parecia dar mais honra a Deus. isto mesmo que me proponho recommendar-vos. Uma falsa doutrina odiosa por no ser verdadeira; odiosa ainda por causa do escndalo que d, por, fazer esfriar a devoo e por pr em perigo as almas. Estas diffrentes razes fazem com que seja detestada por todas as pessoas de bem. Mas aquelles que dedicam a Deus um terno e delicado amor importam-se muito menos com os outros inconvenientes, que com ultraje feito gloria de Deus. A gloria de Deus o seu primeiro pensamento ; tomam logo o seu partido. Se acontece soffrer um homem honrado uma cruel perseguio ou uma perigosa calumnia, seguramente estas piedosas almas no deixam d'experimentar uma carinhosa sympathia pelo offendido, sentem-se dispostas a fazer os mais generosos sacrifcios por

elle ; mas 3 seu primeiro pensamento, aquelle que sobreleva a todos os outros, o ultraje feito gloria de Deus na perseguio ao seu servo e no peccado que os perseguidores necessariamente commettem. Do mesmo modo, quando a piedade affrouxa, quando se commette algum grande escndalo, quando sobreveem importantes mudanas politicas ou calamidades locaes, ou tambm quando os catholicos triumpham, estes homens, imme-jdiatamente e como que instinctivamente, vem o que ,em tudo isto respeita gloria de Deus ; e de tal modo ^e deixam absorver por este pensamento, que se mostram frios, bruscos, insensveis s dores e s alegrias dos outros ; e comtudo, no fundo do seu corao, esto pui to longe d'estas apparencias. Ns podemos facilmente adquirir o habito de abraar sempre o partido de Deus. O tempo, a orao, uma tranquilla assiduidade aos nossos exercicios de devoo, taes so os meios que conduzem a este fim ; e, no o duvidemos, este habito ser para ns um importante auxiliar no servio de Deus. 1 Caminha-se a grandes passos na estrada da perfeio,' quando todos os dias augmenta em ns a convico 61

de que s ha no mundo uma verdadeira desgraa, que 0 peccado ; que o nosso nico inimigo o peccado ; e que, combater o peccado, nos outros, assim como em ns prprios, com as nossas oraes e com os nossos actos, o nosso grande negocio, o nico que merece a nossa atteno. Esta convico nasce em ns da fidelidade em tomarmos sempre o partido de Deus ; e convertida em habito esta fidelidade, d'ella tiramos uma nova fora para perseveramos inquebrantavelmente na virtude. Como creaturas, cumprimos o nosso dever collocando-nos do lado do Creador, para defender os seus interesses, proteger a sua magestade e augmentai a sua gloria. Obrando assim, encontraremos felicidade na vida mais sombriae paz na mais violenta tempestade.

1 Mas Deus no s nosso Creador, tambm nosso Pae. Ah I e no estarmos ns profundamente compenetrados d'est verdade 1 Existe uma grande differena entre o homem que serve a Deus como seu Creador e aquelle que o serve como seu Pae. No servimos a Deus por amor, porque no formamos d'elle a ideia de ser nosso Pae. Somos seccos, frios para com elle, porque nos obstinamos em no vr n'elle seno um legislador, um amo, um soberano, um juiz. Muitas mais pessoas se esforariam por chegar perfeio, muitas mais perseverariam nos seus esforos, e o abysmo que separa os santos dos catholicos ordinrios seria muito menos profundo, se quizessemos servir a D eus como nosso Pae, e consideralo como tal. E verdadeiramente espantoso

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vr certas pessoas to requintadamente zelosas da ma-geslade e soberania de Deus, que julgariam commetter uma falta se alguma vez o considerassem sob um aspecto menos severo e mais attrahente. isto que produz no sei que tormento, que mal estar no cumprimento dos deveres religiosos, que assim fica ermo de toda a consolao. Por outro lado, isto d logar a mil enaes contra a f, faz nascer no corao uma multido de escrpulos que suffocam a ternura da devoo, e que gelam esse santo fervor, que impelle mortificao por amor. Pois no far a felicidade da vida o crrse e sentir-se a toda a hora do dia que Deus nosso pae, que tem por ns um carinho paternal e que nos trata como seus filhos ? Vede os cuidados que Deus quiz ter para impedir que formssemos d'elle uma ideia que no fosse toda d'a mor. Entregou todo o julgamento nas mos de seu Filho. E Nosso Senhor Jesus Ghristo que deve vir julgar-nos no ultimo dia ; o nosso ultimo appello ser ' dirigido ao seu sagrado Corao. Quando Deus convida o seu povo rebelde a voltar a elle, recorda-lhe todos os seus peccados,peia bcca do propheta Jeremias,mas depois, na mais tocante linguagem, mais parece advogar em sei prprio favor que contra elles,

dizendo : mesmo nos d uma ideia bem assombrosa da corte celeste, attenta a dificuldade que ns temos em conceber outra diviso das creaturas racionaes, que no seja a das intelgencias servidas por rgos e dos puros espritos. Outros, sem entrarem na questo d'espec;es, dizem-nos que a graa de cada anjo uma belleza, uma exceilencia

inteiramente diffrente da graa dos outros anjos. Se proseguirmos n'este pensamento, encontraremos felicidade em meditar na perfeio do culto rendido pelos anjos no co a esse Deus que ns servimos to mal na terra. Por isso a Irm Minima de Jesus Nazareno, religiosa Carmelita de Vetralla, que vivia na epo-cha da invaso franceza na Itaiia, e que se entregava d'um modo extraordinrio orao, tinha o costume d'offerecer divina Magestade o amor do primeiro choro dos Sraphins, em reparao de todos os ultrajes que se commettem no mundo. Temos ainda outros auxlios para a nossa intercesso nas adoraes dos Santos, e no culto admirvel que elles rendem a Deus no co ; culto e adoraes que vo sempre augmentando, medida que

as almas deixam a terra ou o purgatrio, para entrarem na morada da felicidade eterna. Por meio d'estas devoes satisfazemos o nossa amor e constrangemos, com uma doce violncia, o sagrado corao de Jesus a attender nossas oraes. VI. Tudo o que e tudo o que foi.

5. Descendo agora terra, tambm ahi encontraremos um incenso delicioso, cujo perfume abrandar a justa clera de Deus e alcanar para as nossas oraes um favorvel despacho. Tudo o que os Santos fizeram nos sculos passados, a maravilhosa santidade do modesto Jos, as austeridades de S. Joo Baptista

178 no deserto, os trabalhos dos Apstolos, os sofrimentos dos martyres ; ou, se remontarmos ao antigo Testamento, os extases dos prophetas, a fidelidade dos Macchabeus, as maravilhas do grande corao de David, os combates de Josu, a suavidade de Moyss, a pureza de Jos, a simplicidade de Jacob, as meditaes de Isaac, a f de Abraham, o sacerdcio de Melchise-dech, a arca de No. o sangue de Abel ; as longas noites e os penosos dias d'esses novecentos annos durante os quaes Ado cumpriu uma penitencia laboriosa, herica e voluntariamente acceite. Todos estes actos podemos offerecel-os a Deus com humildade e confiana, e tero a seus olhos a mesma frescura que se fossem de hontem. Demais, no poderamos empregar um methodo de orao mais em harmonia com o espirito da Egreja, pois uma das suas formulas mais ordinrias implorar a misericrdia de Deus para o tempo presente, em virtude das misericrdias que no passado se dignou derramar sobre seus santos e sobre o seu povo. Mas, assim como o passado, temos nossa disposio o presente. A terra, em cada hora do dia, manda a Deus uma graciosa messe de gloria. Das colimas,das planicies, dos vales, dos conventos e do mundo, desde o Papa no seu palcio, at ao indiano convertido na sua cabana, quantos actos sobrenaturaes se no evo-Iam para Deus ; quantos actos de f, d'aspiraoes, d'esperana, de suspiros d'amor ou de temor ; quantas penitencias, quantos actos de conformidade com a vontade divina! Hoje mesmo quantas missas se disseram, quantas communhes se fizeram, quantas absolvies foram dadas, quantas extremaunces recebidas i E, em cada hora do dia, quantas victorias to brilhantes, quo silenciosas, as aguas do baptismo no ganham para a gloria de Deus I Todos estes bens nos pertencem, podemos tomal-os livremente, espa-Ihal-os sobre as brazas da devoo no thuribulo do nosso corao, e fazer subir ao AUissimo o perfume d'um suave incenso. Ainda no tudo. Todas as creaturas de ordem inferior rendem homenagem a Deus, correspondendo ao fim da sua creao : os ani-maes nas campinas, as aves no ar, os peixes no mar, os bosques e as flores, os ventos e os orvalhos, so outras tantas cousas que ns podemos, com reconhecimento e amor, oferecer ao Senhor. Possuimos ainda todas as obras do prprio Deus, desde a creao do mundo at esta hora que a sua Providencia nos d ; a sua longanimidade para com os peccadores, e os jul-

178 178 gamentos que sobre elles almas santas, formam uma pronunciou ; as palavras que agradvel offert a apresentada dirigiu a seus Santos, as vises justia e pureza de Deus. com que os favoreceu, as revellaes que lhes fez ; a sua VII As perfeies de Deus interveno nos acontecimentos mesmo d'est mundo em favor da sua Egreja; a visivel proteco que 6. Mas homens piedosos dispensou sua arca no Antigo houve que foram ainda mais Testamento, e, na Nova Alliana, longe. Todas as cousas so de a Santa S. Deus quer que Jesus Christo, e Jesus Christo nos sirvamos d'estes meios para de Deus. Sentiram quando o dispormos a escutar-nos esto abaixo da magestade de favoravelmente. So armas que Deus todos os louvores das elle fornece ao arsenal da creaturas ; por isso, quando orao. quizeram obter alguma graa O engenhoso amor dos santos extraordinria, ofereceram ao e das pessoas piedosas tem ido Senhor as suas perfeies mais longe ainda. Teem infinitas e a gloria que recebe oferecido a Deus, no fervor dos dos attribu-tos, que constituem seus coraes, todas as a sua divindade. Advogaram a homenagens que todas as sua causa em nome da gerao creaturas possiveis poderiam eterna do Filho, em nome da render-lhe, afim de fazerem dupla processo do Espirito uma approximao, ou ao ' Santo. Ofereceram a Deus a menos apparental-a, tanto sciencia e o amor com que se quanto possivel, da sua inficonhece e se ama a si mesmo, e nidade. Ousaram imaginar a complacncia incom muni como brotando d'estes trs cavei das tres Pessoas divinas abysmos : o poder do Pae, a cada uma pelas outras. E em sabedoria do Filho, o amor do compensao obtiveram no Espirito Santo, todos os mundos somente o cumprimento dos possiveis, radiantes de belleza e seus desejos, mas um tal n'uma ordem admirvel, e augmento d'amor divino em offereceram esses innumeraveis suas almas, que mal o poderiam systemas como um acto d'amor julgar possvel. Acharam que os e um poderoso auxiliar da sua termos technicos em uso para intercesso. Offereceram tamdesignar os dogmas e precisar bm as dores inconcebveis que as diinies no so sons vos se soffrem no purgatrio, e que ou palavras vazias de sentido, elles mesmos contavam mas clares communicados do experimentar um dia. Estas alto. dores, bellas em sua perfeio, difficil restringir-nos ao santas no seu fim, santificadas nosso assumpto, isto , alm d'isto pelo contacto das

178 intercesso, quando citamos tantas cousas qu nos impellem a fallar do amor. Mas no importa. Pas semos em revista todas as riquezas da nossa pobreza, todos estes thesouros que possuimos em Jesus Christo, e vejamos se no temos nossa disposio uma abundncia de meios com o auxilio dos quaes podemos approximar-nos de Deus, e enderear-lhe continuas e fer ventes preces. Que deliciosa variedade de campos abertos nossa meditao ! Que liberdade de espirito encontramos I Quo fcil fazer um servio d'amor quando tudo o que nos rodeia respira amor, a ponto de nos fazer quasi esquecer a nossa intercesso I Pera melhor apreciar a utilidade d'estas prat:cas, examinemos a situao em que se encontram o. V J I tudinarios? as pessoas que no sofrem precisamente dores d'uma doena grave, mas que esto continuamente expostas aos inconvenientes d'uma sade melindrosa. Tambm desejam ded.car-se gloria de Deus, aos interesses de Jesus e salvao das almas; mas nada podem fazer do que depende da actividade exterior, e talvez no tenham meios para praticarem as boas obras da esmola. A intercesso ordinria, pela qual se pede directamente a Deus, com algumas palavras, alguma graa para tal ou tal pessoa,

depressa se esgota. Demais, elia no oferece nenhum attractivo que tenha fora para sacudir o tdio d'uma sade fraca, ou para soerguer um espirito abatido. Mas vaguear por entre essas riquezas de que falamos, usar d'esta variedade infinita e magnificente de piedosas ofertas, para o espirito uma encantadora oceupao. Reanima a devoo cambaleante, e permitte-nos entreter constantemente com Deus um amvel commercio d'affectos e de respeito, ao mesmo tempo que trabalhamos no augmento da sua gloria e na expanso da sua Egreja. E isto no tem somente applicao s pessoas d'uma sade delicada ; toda a gente pde aqui encontrar uma pratica fcil da presena de Deus e uma oceupao egualmente interessante para o espirito e para o corao. Quanto mais se multiplicam os pensamentos e as imagens de cousas que nos representam a ideia de Deus, tanto mais o nosso espirito e o nosso corao se nos enchem d'elle, e se nos torna mais fcil viver sempre no sentimento da sua presena. E no ser a pratica da presena de Deus metade da perfeio? No esqueamos tambm que uma outra vantagem d'est systema d'intercessao o combater e vencer em ns o espirito do mundo. O que torna o mundo um inimigo to temivel, a multiplicidade dos seus fins e dos seus meios. So com ef-eito to

178 178 numerosos os seus interesses ! tempo Apodera-se de ns *ob Ataca a nossa pobre natureza, tantas e to variadas frmas ! por tantos lados ao mesmo

A religio peio contrario parece a muita gente despida de todo o interesse intellectual, scca e estril, uniforme e montona. Mas que a conhecem muito pouco; e por outro lado, no podem applicar-se constantemente a um s objecto. Por isso que a vida espiritual no est nas boas graas de muita gente. E' verdade que ha para a alma um estado elevado, sublime, chegada ao qual s se fixa na contemplao de Deus. Mas no nos cabe essa sorte. A ns e a todos os que se nos assemelham -nos necessrio todo o interesse que a variedade e a belleza do devoo ; e mesmo assim, fatigamo-nos facilmente. Por conseguinte, quanto maior interesse e variedade encontrarmos na religio, mais fcil nos ser extirpar da nossa alma o miservel espirito do mundo, para abraarmos com zelo os interesses de Jesus. E que consolaes no tiraremos d'estes thesouros da nossa pobreza, quando a tristeza se apossar de ns, a lembrana dos nossos peccados nos acabrunhar, os homens se obstinarem em nos perseguir, as nossas boas intenes se mallograrem, ou a vida e e mundo nos forem pesados ? A todas estas misrias opporemos com vantagem as bellas

praticas que se acabam de 1er. Pois, em concluso, que o que mais nos importa? No a gloria de Deus? Que o que mais nos interessa ? No ver Jesus amado das suas creaturas, e de posse de tudo o que lhe pertence ? Sem duvida. Quaesquer que sejam pois, as aflices que desabem sobre ns, a nossa alma encontrar naturalmente um allivio de seus males e uma consolao verdadeira, percorrendo o imprio infinito de Deus, de Jesus, de Maria, dos anjos, dos santos, dos homens e das creaturas innocentes, e tomando a sua parte d'aegrian'esse sacrifcio perpetuo de louvores, que se eleva de todos os pontos da creao magestade d'Aquelle, que ns amamos ao mesmo tempo como nosso Deus e nosso Pae L /' " " --- ^

CAPITULO VI

DEUS TUDO

CENTRO

DE

. Vaidade sabedoria humana.

da

Deus o centro de tudo, e nada ha de valor seno n'Elle.Como todas as cousas veem d'Eie, todas as cousas voltam para elle ; e a prpria creatura rebelde, que recusou repousar no seio do seu amor, cae nas mos da sua justia. Nenhuma cousa do mundo tem outro valor seno aquelle que Deus se digna appr-lhe. Um espirito esclarecido ou um corao amante no deveria ter estimao por uma cousa qualquer, seno em atten-o s relaes verdadeiras ou suppostas que ellapde ter com o Omnipotente. No ha seno um ponto de vista verdadeiro para ver as cousas, e o ponto de vista de Deus. No sei realmente se necessrio recordar verdades to manifestas. Todavia, preciso confessai-o, os prprios catholicos no se convencem facilmente d'estas verdades ; e j no fallo na difficuldade ainda maior de as porem em pratica, quando as hajam admit-tido. A muitos desgostaos ver nos outros filhos da Egreja tantas provas de esquecimento de Deus, sobretudon'un> paz em que domina a heresia. E no obstante, esto elles mesmos

muito longe de darem a Deus o que lhe devido. Observae a sua maneira de proceder nas assembleias politicas, nos circulo s ecclesiasticos,, ou em outras reunies. Vl-os-heis com ar de quem diz, pela sua excessiva reserva, que Deus est muito bem onde est, mas que no opportune* fazel-o intervir em todas as cousas. Este procedimento entre os catholicos de que estou ali ando, accusa um espirito tacanho, ou uma fraqueza intolervel. Caem n'este erro uma multido de pessoas verdade ramente boas, animadas das melhores intenes ; e pensam augmentar a gloria de Deus e a prosperidade da sua E g reja, usando de taes complacncias com o mundo e com os seus princpios. Ai I Um dia acordam e descobrem que, emquanto a sua propria devoo enfraquecia, e as suas oraes diminuam de fervor, emquaato a sua piedade se tornava puramente exterior, e os seus princpios decahiam insensivelmente at ao nivel do que as rodeava, ellas no attrahiram uma s alma a Deus nem fizeram augmen-tor o amor divino em um nico corao. Com quantas pessoas seno d isto ! So tidas na conta de gente preciosa, de columnas da Egreja, no porque sejam homens sobrenaturaes e iniciados nos segredos de Deus, mas por

gozarem da considerao publica e pertencerem alta classe da sociedade. A sa a prudncia no deixa d'obter resultados; mas que resultados? Accenderam em algum corao um amor mais fervoroso por Jesus ? Salvaram alguma pobre alma ? Oh no I Mas o governo foi obrigado a pronunciar algumas palavras de tolerncia em favor do Papa, ou um deputado fez a merc d'apresentar na respectiva cmara uma moo sobre qualquer questo insignificante. Esta moo foi realada em algum jornal do dia seguinte e terminou por no mais se faliar n'ella I Para isto tomaram todas as precaues afim\ cTevitarem alguma desconsiderao. Muito bem I Deus seja louvado! E louvores tambm a estes generosos protectores de Deus I Mas succde que s vezes temos necessidade d'alguma cousa mais que a considerao. Anaiysemos a nossa prudncia. Ser ella a nossa maior riqueza, se for sobrenatural, m as d'outro modo no. No paiz e no sculo em que vivemos, necessrio que todos formem uma ideia justa de Deus e do que lhe devido. Sem isto, fora de duvida que mil vezes nos a fastaremos do bom caminho, E quasi inguenuidade dizer que se soubssemos sempre o que Deus deseja de ns, sernos-hia isto um grande auxilio

para bem o servirmos. Certamente no ousaramos revoltar-nos abertamente contra a vontade de Deus. Todavia, na patrica, ns conhecemos esta vontade na maior parte das nossas aces ; e se no conhecemos em toda