título: 4 estações pedagógicas - desafios relatório de
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Título: 4 Estações Pedagógicas - Desafios
Relatório de Estágio Profissional
Relatório de Estágio apresentado com vista à
obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau
de Mestre em Ensino de Educação Física nos
Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006
de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de
Fevereiro).
Orientadora: Profª. Doutora Paula Silva
Ângela Cristina Freire Alexandre
Setembro 2012
II
Alexandre, A. (2012). Relatório de Estágio Profissional. Porto: A. Alexandre.
Relatório de estágio profissional para a obtenção do grau de Mestre em Ensino
de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, PROFESSOR, REFLEXÃO,
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
III
Dedicatória
À minha mãe Lucinda
V
Agradecimentos
À minha Orientadora, Professora Doutora Paula Silva, pela total
disponibilidade que sempre demonstrou em me ajudar. Também pelo apoio e
dedicação e por todos os ensinamentos e sugestões que me prestou na
orientação deste trabalho.
Ao meu Professor Cooperante, José Carlos Carvalho, pela sua presença
em todos os momentos do meu estágio. Muito obrigada pelo incentivo que
sempre me deu, por ter acreditado nas minhas capacidades e pelo precioso
papel que desempenhou no enriquecimento dos meus conhecimentos.
Aos meus colegas de Núcleo de Estágio pelos bons momentos de
trabalho, partilha de ideias e entreajuda.
À Maria João pelas conversas de incentivo, pela amizade genuína e por
estar sempre presente. Sempre.
Ao Renato pelo apoio, pelas cumplicidades sentidas, pelos muitos afetos
e pela compreensão que sempre demonstrou relativamente ao tempo que nem
sempre lhe consegui dedicar.
À maravilhosa mãe que tenho, Lucinda, pelo seu amor incondicional,
pelos sacrifícios que fez para que eu conseguisse conquistar esta etapa, por ter
sempre acreditado em mim e por dizer inúmeras vezes - “A mãe sabe que tu
consegues e está aqui para o que necessitares.”
VII
Índice Geral
Índice de Quadros ............................................................................................ IX
Índice de Anexos ............................................................................................. XI
Resumo ......................................................................................................... XIII
Abreviaturas .................................................................................................... XV
1. Introdução ..................................................................................................... 1
2. Enquadramento Pessoal ............................................................................... 5
2.1. O meu percurso ...................................................................................... 7
2.2. Das expetativas iniciais à realidade encontrada ...................................... 9
3. Enquadramento da Prática Profissional ...................................................... 13
3.1. Enquadramento Concetual .................................................................... 15
3.2. Enquadramento Legal e Institucional .................................................... 17
3.3. Enquadramento Contextual ................................................................... 19
3.3.1. A Escola Secundária de Ermesinde ................................................ 19
3.3.2. O Grupo de Educação Física .......................................................... 21
3.3.3. A Turma .......................................................................................... 22
4. Realização da Prática Profissional .............................................................. 25
4.1. Área 1 - 4 Estações Pedagógicas ......................................................... 27
4.1.1. Conhecimento da matéria de ensino: um Inverno escuro................ 27
4.1.2. Planeamento: uma Primavera organizada ...................................... 30
4.1.3. Realização: um Verão maratonista .................................................. 35
4.1.3.1. Gestão e Controlo da Turma ........................................................ 35
4.1.3.2. Instrução ...................................................................................... 38
4.1.4. Avaliação: um Outono de colheitas ................................................. 42
4.2. Área 2 e 3 - Participação na Escola e Relações com a Comunidade .... 44
4.2.1. Corta - Mato .................................................................................... 45
4.2.2. Mega Evento ................................................................................... 47
4.2.3. A Direção de Turma ........................................................................ 49
4.3. Área 4 - Desenvolvimento Profissional .................................................. 50
4.3.1. A Disciplina ..................................................................................... 50
4.3.1.1. Introdução .................................................................................... 50
VIII
4.3.1.2. Temática ...................................................................................... 51
4.3.1.3. Metodologia ................................................................................. 53
4.3.1.3.1. Amostra .................................................................................... 53
4.3.1.3.2. Instrumento e Procedimentos ................................................... 53
4.3.1.4. Apresentação e discussão dos resultados ................................... 54
4.3.1.5. Bibliografia ................................................................................... 57
5. Conclusão ................................................................................................... 61
Bibliografia ...................................................................................................... 65
Anexos ........................................................................................................... XVI
IX
Índice de Quadros
Quadro 1: Quadro de apresentação dos dados recolhidos ............................. 54
XI
Índice de Anexos
Anexo 1: Ficha Individual do Aluno .............................................................. XVIII
Anexo 2: Planeamento Anual ......................................................................... XXI
Anexo 3: Exemplo de uma Unidade Didática ................................................ XXII
Anexo 4: Exemplo de um Plano de Aula ...................................................... XXIII
Anexo 5: Guião da Entrevista ....................................................................... XXV
XIII
Resumo
O presente Relatório de Estágio, fruto de um conhecimento pessoal
adquirido ao longo de toda a formação académica e de uma experiência
embrionária no ramo educativo, não é mais do que um fiel retrato das minhas
vivências, enquanto estudante estagiária, recheado de objetivos, dificuldades,
desafios, soluções e estratégias, que convidam a uma reflexão constante e
sustentada, fomentando o desenvolvimento e a melhoria da minha postura em
torno do professor reflexivo.
O Estágio Profissional (EP) foi realizado na Escola Secundária de
Ermesinde (ESE), sob a orientação da Professora Doutora Paula Silva e do
Professor Cooperante José Carlos Carvalho.
Este documento compreende cinco capítulos articulados entre si, sendo
que o primeiro diz respeito à Introdução. O segundo refere-se ao
Enquadramento Pessoal, onde serão apresentadas as minhas perspetivas
pessoais e as expetativas relativas ao estágio. O terceiro recai sobre o
Enquadramento da Prática Profissional, com a finalidade de dar a conhecer as
determinações legais e institucionais do EP, assim como o contexto funcional
onde o mesmo decorreu. O quarto, Realização da Prática Profissional, percorre
as quatro áreas de desempenho previstas no regulamento do EP, todas elas
conduzidas por uma análise consciente e autêntica da minha atuação, e,
simultaneamente, por alguns excertos de reflexões elaboradas ao longo do
ano. Este capítulo inclui, também, um estudo de investigação incidente na
temática da Disciplina. O quinto capítulo é dedicado à Conclusão, no qual
tentarei refletir sobre a importância desta soma de vivências pedagógicas para
o meu desenvolvimento enquanto futura professora.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, PROFESSOR, REFLEXÃO,
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
XV
Abreviaturas
CT - Conselho de Turma
DT - Diretor de Turma
EF - Educação Física
EP - Estágio Profissional
ESE - Escola Secundária de Ermesinde
FADEUP - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
1. INTRODUÇÃO
Introdução
3
Introdução
Não raras vezes, dava comigo a representar no pensamento de como
seria estar perante um grupo de alunos de olhares atentos, de como seria
transportar o conhecimento conquistado de forma útil para o processo de
ensino e aprendizagem, ou de como seria avaliar e controlar uma turma. E foi
assim que, do pensamento à ação o EP se desenhou, entre um grande tacho
onde as dificuldades e os desafios se misturaram com soluções e estratégias
de superação, e a reflexão constante que serviu de base ao desenvolvimento e
à melhoria da minha atuação - saldo bastante positivo de uma experiência na
ESE, que me levou à escrita do meu Relatório de Estágio.
Com efeito, este documento surge de uma necessidade formativa
proveniente do cumprimento de um dos pressupostos da unidade curricular de
EP, pertencente ao 2º Ciclo de Estudos de Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário da FADEUP.
São grandes os contributos que o EP tem dado para a otimização da
formação inicial do professor, sendo que este proporciona o desenvolvimento
de competências profissionais que promovam nos futuros docentes um
desempenho crítico e reflexivo (Matos, 2010), no sentido de os preparar
convenientemente para o mundo profissional que escolheram abraçar. Assim
sendo, também a questão da reflexão sobre a prática, exerce importante
influência no contexto da formação inicial de professores, pois enquanto futuros
profissionais necessitamos de refletir sobre o nosso conhecimento e sobre as
nossas ações, para que possamos tomar as decisões mais apropriadas e,
consequentemente, dar resposta às novas situações.
Resultante destas constatações, importa referir que este Relatório de
Estágio pretende ser um documento reflexivo de todo o trabalho desenvolvido
no EP, e nasce com a missão de expor a minha experiência pedagógica com a
qual me confrontei e interroguei frequentemente.
Neste sentido, e para além do presente capítulo conter uma breve
Introdução, estruturei o meu trabalho da seguinte forma: o segundo capítulo é
dedicado ao Enquadramento Pessoal, onde serão verbalizados alguns dos
momentos mais importantes do meu percurso de vida, assim como as
Introdução
4
expetativas iniciais relativas ao estágio. O capítulo seguinte recai sobre o
Enquadramento da Prática Profissional, com a finalidade de dar a conhecer os
vários contextos em que o estágio está enquadrado, nomeadamente o contexto
concetual, legal, institucional e funcional. Passa-se ao capítulo de maior
propriedade, Realização da Prática Profissional, sendo que este é marcado por
uma análise consciente e autêntica de toda a minha intervenção pedagógica, e
percorre as quatro áreas de desempenho previstas no regulamento do estágio:
Área 1 - Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem, revestida por 4
Estações Pedagógicas - um Inverno escuro, uma Primavera organizada, um
Verão Maratonista e um Outono de colheitas - que reúnem os momentos mais
importantes de toda a minha intervenção pedagógica; Área 2 e 3 - Participação
na Escola e Relações com a Comunidade; Área 4 - Desenvolvimento
Profissional, que inclui um estudo de investigação incidente na temática da
Disciplina, uma vez que a tentativa de melhorar o comportamento dos meus
alunos foi um dos grandes desafios que assumi no EP. O último capítulo diz
respeito à Conclusão, no qual tentarei refletir sobre a importância desta soma
de pensamentos e vivências pedagógicas para o meu desenvolvimento
enquanto futura professora.
Este Relatório de Estágio é, acima de tudo, um retrato transparente da
minha atuação enquanto estudante estagiária, um documento privado com as
portas abertas ao público, e tem o mérito de deixar no papel aquilo que está
algures dentro de mim, com a certeza de que não é possível transcrever por
inteiro a soma de vivências que revestiram a minha prática pedagógica. Não é
uma obra prima (muito longe disso), mas resultou de uma constante e doce
parceria entre a reflexão e o forte comprometimento.
2. ENQUADRAMENTO PESSOAL
Enquadramento Pessoal
7
Enquadramento Pessoal
Neste capítulo são apresentados alguns dos momentos mais
importantes do meu percurso pessoal e escolar, assim como as razões que
contribuíram para a escolha da profissão docente. De seguida são
apresentadas as minhas expetativas iniciais relativas ao EP, confrontando as
mesmas com a realidade vivenciada.
2.1 O meu percurso
Abraçada à ginástica desde os meus quatro anos de idade e em parceria
com uma vertente social que me ajudou a respeitar, a conviver e a cimentar o
espírito de sacrifício, tornei-me quase inseparável da área desportiva, uma vez
que sempre fez parte da minha educação. Deste modo, apesar de algumas
dúvidas e incertezas aquando a minha candidatura à universidade, a
Licenciatura em Desporto no Instituto Politécnico da Guarda (IPG) foi a minha
primeira opção.
Optei pelo IPG pelas suas infraestruturas e garantias no entanto, uma
experiência pessoal vivida durante alguns anos como atleta de ginástica
artística feminina (GAF) e o facto de ter como “prioridade” a minha mãe, que
significa tanto para mim, foram também determinantes para a escolha deste
estabelecimento de ensino, tendo em conta a sua proximidade relativa à minha
cidade. Para fechar a minha licenciatura, realizei o estágio no Ginásio Clube da
Maia, na área da GAF. Fazer estágio nesta instituição desportiva foi um imenso
privilégio, no sentido de confirmar que a ginástica é, para mim, a modalidade
desportiva mais bonita do Mundo.
Ainda que a exigência escolar tenha conduzido a sacrifícios e a esforços
contínuos, as relações humanas e as diferentes formações, traduzidas num
curso de Fitness e Atividades de Grupo, numa experiência em reabilitação
psicomotora, ainda não concluída, e outras atividades extracurriculares,
ofereceram momentos inesquecíveis e ajudaram a ser a pessoa em que me
tornei hoje.
Enquadramento Pessoal
8
Na verdade, o gosto pela vertente do ensino e a dedicação às pessoas,
sobretudo aos mais pequenos, fez com que nunca excluísse a profissão
professor. Também o facto de me ter sido proporcionado o contacto com tantas
pessoas tão diferentes e sabedoras, que, para mim, só faz sentido ter uma
profissão que me possibilite continuar a conhecer e a formar pessoas - ser
professora. Uma profissão que, no meu entendimento, se conquista, entre
muitas dificuldades e desafios, dia após dia.
Foi assim que optei por fazer Mestrado em Ensino da Educação Física
nos Ensinos Básico e Secundário na FADEUP. Ser estudante desta instituição
tem sido muito satisfatório, mas sobreviver a toda esta vivência emocional e
pedagógica, em ritmo acelerado, tem sido um grande desafio. Fiquei bastante
satisfeita com as aprendizagens que fui acumulando no decorrer do primeiro
ano deste Mestrado, tendo sido decisivo em termos de competências e
saberes. Passado o primeiro ano novos desafios surgiram e o tão esperado
estágio profissional aparece, como o colocar em prática aquilo que fui
aprendendo nas aulas e nos trabalhos que realizei.
A minha entrada na ESE enquanto estudante estagiária, permitiu-me
“mergulhar” e contactar com uma nova realidade que se tem revelado tão
diferente da vida académica. Se antes teorizava e fundamentava as minhas
atitudes inerentes ao papel do professor de educação física, agora tive a
oportunidade de vivê-las. Foi “estranho” entrar numa escola não como aluna,
mas como estudante estagiária. Cunha (2008, p. 122), no seu livro “Ser
Professor”, afirma que “a passagem a estagiário significa uma descontinuidade
tripartida: da instituição de formação para a escola, de aluno para professor, da
teoria para a prática, destacando-se como fortes e marcantes fatores de
socialização o contexto prático em que se passa a atuar e os elementos que
têm a responsabilidade de o avaliar.”
Este impacte começou por ser intimidante na medida em que me fez
aperceber da minha vulnerabilidade. Contudo, o tipo de socialização com todo
o núcleo de estágio e com o grupo de educação física teve efeitos positivos na
recuperação da minha autoconfiança.
Enquadramento Pessoal
9
Conseguir estar à altura dos desafios que os meus alunos me
colocaram, assim como encontrar estratégias e ter um conhecimento
necessário para satisfazer as suas necessidades, não foi algo fácil de
conseguir. No decorrer das aulas lecionadas senti muitas vezes o peso da
responsabilidade e algumas preocupações e, por vezes, fui “atacada” pelo
medo - será que estou a fazer bem? Ainda assim, parti com humildade e com
perfeita convicção de que o Professor José Carlos e a Professora Paula Silva
tinham muito para me transmitir e aconselhar. No entanto, tornou-se também
preponderante reconhecer os meus pontos fortes e fracos no decorrer do
estágio, no sentido de perceber o essencial e potencializar a minha prática.
Mesmo depois de ter escolhido a vertente de ensino confesso que me
sentia (sinto) inquieta e apreensiva, isto porque tinha a clara noção de que a
profissão docente, apesar de valiosa e gratificante, é um trabalho de enorme
responsabilidade.
Confesso que o otimismo nem sempre esteve presente, mas alivia-me a
certeza de que fiz sempre o melhor que sei e que a escolha desta profissão
assenta claramente na pessoa que sou, nas minhas experiências e na minha
vontade de possuir um conhecimento mais completo e consistente. Considero
que, para desempenhar esta e qualquer outra profissão, é fundamental
acreditar nas nossas potencialidades e no conhecimento até aqui conquistado.
Talvez o segredo passe também por confiar e trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Tentar sempre fazer mais e melhor.
2.2 Das expetativas inicias à realidade encontrada
Ao longo da minha formação académica houve uma vasta evolução,
quer a nível de saberes científicos, quer a nível de aprendizagem humana e
social. Assim sendo, todos os conhecimentos, experiências e vivências sociais,
em grande parte centradas no primeiro ano do Mestrado, foram passos
importantes para a inserção no mundo do ensino. Desta forma, posso fazer
referência ao estágio, já que consiste no momento de fusão entre as várias
disciplinas curriculares e onde devemos colocar em prática todos os saberes
Enquadramento Pessoal
10
adquiridos. O porquê desta contextualização tem a sua razão de ser, na
medida em que “ao longo do estágio é esperado que o aluno adquira e aplique
corretamente os conhecimentos que foi aprendendo ao longo do seu percurso
académico …”. (Caires, 2001, p. 21).
Como seria de esperar, em vésperas de começar o meu estágio
profissional fui atacada pela ansiedade e, como tal, várias perguntas surgiram:
Como será a minha turma? E o meu Professor Cooperante? A escola terá um
ambiente propício à minha integração? Será que vou ser capaz de estar à
altura de todos os desafios? Perante as muitas questões acerca de como seria
o meu exercício docente integrado num contexto real de ensino, e relembrando
os testemunhos dos meus colegas relativamente ao seu ano de estágio, fui
criando, como ponto de partida, algumas expetativas em relação à minha
prática profissional, de como a minha forma de atuar e agir poderia influenciar a
dinâmica e funcionamento da escola onde iria realizar o meu estágio.
Primeiro de tudo, uma das certezas que me parece importante realçar foi
o facto de saber que os conhecimentos adquiridos na minha Licenciatura iriam
ser diminutos para o processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, com
empenho, interesse e dedicação pretendia colmatar tais lacunas, fortalecendo
o meu saber nas diferentes áreas.
Ambicionava ser pedagogicamente reflexiva nas minhas ações de modo
a aperfeiçoar progressivamente a minha intervenção pedagógica, no sentido de
alcançar ao máximo, e com sucesso, quer o desenvolvimento integral dos
alunos, quer o conhecimento necessário para satisfazer as minhas
necessidades, perspetivando a melhoria da minha atuação. Parafraseando
Oliveira (cit. por Cunha, 2008), o professor deverá ter a capacidade de
desenvolver o seu próprio quadro interpretativo sobre o ato educativo, sendo
que este resulta de uma reflexão constante e fundamentada acerca do
significado das experiências da prática.
Pretendia contribuir para o desenvolvimento dos meus alunos em todos
os seus domínios, assim como manter toda uma gama de afetividade positiva,
pois sei que uma boa relação entre professor e aluno é um aspeto importante
para o sucesso da aula.
Enquadramento Pessoal
11
Acredito que “a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam
espaços de formação mútua…” (Nóvoa, 1991, p. 26). Talvez pela pessoa
curiosa que sou, a troca de conhecimentos é de extrema importância e
gratificante para mim. Deste modo, enquanto colega, pretendia trocar
informações com os meus companheiros de estágio, dialogar sobre as
experiências, saberes, formações e medos vivenciados e, ainda, ajudar o meu
grupo a refletir sobre as suas experiências. Acredito que tudo isto iria ser uma
forma de aprendizagem para todos.
Ao compartilhar a sua investigação no domínio da formação inicial de
professores, Jacinto (2003) afirma que o orientador tem o objetivo de modelar
os comportamentos e atitudes do professor estagiário, no sentido de melhorar
o processo de ensino. Neste sentido, do Professor José Carlos e da Professora
Paula Silva esperava o seu contributo na resposta das minhas dúvidas e que
todos os conhecimentos, experiências, sugestões e críticas construtivas,
pudessem contribuir para a correção dos meus erros e para a melhoria do meu
trabalho. O profissionalismo de ambos iria ser certamente uma ajuda
imprescindível em todo este caminho.
Enquanto professora estagiária, sabia que iria exercer a minha função
com humildade e responsabilidade, ciente de que a ementa do professor deve
ser constituída quer por saberes académicos e pedagógicos, quer por
competências pessoais e sociais. Os professores não só transformam a
informação em conhecimento, como também formam pessoas.
E já passaram 10 meses de estágio, 10 meses de mim, 10 meses de
aprendizagens… No final desta etapa acredito que, com mais ou menos
dificuldades, as minhas expetativas iniciais foram atingidas. Muitas foram as
vivências que contribuíram para a aquisição de uma maior confiança e
segurança. Muitos foram os subsídios práticos essenciais para intervir
assertivamente em futuras atuações como profissional docente.
Desde cedo que sabia que o meu conhecimento em algumas matérias
seria reduzido. Deste modo, senti a necessidade de me informar cada vez mais
quer através da consulta de várias referências bibliográficas, quer através das
conversas com o meu Professor Cooperante e com os meus colegas
Enquadramento Pessoal
12
estagiários. É verdade que o desconhecimento quase total de algumas
matérias conduziu várias vezes a uma sensação de desconforto, assim como é
verdade que ainda tenho muito para aprender. No entanto, foi gratificante ver
que o meu esforço surtiu efeitos quer em mim quer nos meus alunos.
Tendo em conta a minha condição de professora estagiária, os
ingredientes das minhas aulas não ficavam apenas pelos conteúdos
específicos das diferentes modalidades, mas passavam também pelas normas,
valores e padrões de comportamento.
Foi também a partir da prática reflexiva que discuti os aspetos positivos
e os a melhorar, e foi através das muitas palavras do Professor José Carlos e
da Professora Paula Silva, que notei a importância de perceber efetivamente o
que os meus alunos sabiam ou não sabiam.
Quero acreditar que dentro de todos os valores pessoais e profissionais,
assumi todas as minhas responsabilidades como professora estagiária,
principiante e inexperiente.
3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
Enquadramento da Prática Profissional
15
Enquadramento da Prática Profissional
O presente capítulo inicia-se com uma breve consideração sobre o
enquadramento concetual, legal e institucional do EP. Em continuação, e uma
vez que este relatório diz respeito à minha intervenção pedagógica, será
efetuada a caraterização do contexto funcional onde o mesmo decorreu, bem
como do Grupo de Educação Física e da minha turma.
3.1. Enquadramento Concetual
Testemunhos e afirmações tais como “período de formação curricular”,
“encontro com a realidade docente”, “oportunidade única e proveitosa para a
formação”, etc., são expressões frequentemente proferidas pelos nossos
professores, assim como pelos próprios estudantes estagiários. Este facto
implica que o estágio seja uma etapa fundamental e significativa no processo
de formação do futuro professor (Kulcsar, 1991).
A formação inicial, compreendida como o EP, deve preparar o futuro
professor para lidar com as situações reais do processo educativo, tendo por
base a reflexão, a alteração de atitudes, as crenças irracionais perante a
realidade, contrariando-se assim a perspetiva de perpetuação de crenças, de
valores e de representações assente na construção de um modelo ideal de
professor, já que este modelo dificilmente encaixa com as práticas reais de
ensino, tendo por base o treino de competências e de comportamentos
considerados ajustados ao bom professor (Cunha, 2008).
O estágio deve proporcionar o desenvolvimento de competências,
adequadas a um desempenho profissional de qualidade, preparando
convenientemente o futuro professor para o mundo profissional que escolheu
abraçar (Cardoso, 2009). Sabemos, a este respeito, que a prática da
lecionação constitui-se como uma componente crucial no contexto da formação
de professores, todavia esta não pode estar dissociada de níveis teóricos que a
justifiquem. Quer isto dizer que a formação inicial, o estágio, envolve o
Enquadramento da Prática Profissional
16
movimento dinâmico entre a teoria e a prática (Freire, 2012), sendo que a
primeira não se consegue sem a segunda e vice-versa.
O EP é entendido por Matos (2010, p. 3) como um projeto de formação
que visa a integração do estudante estagiário no exercício da vida profissional
de forma progressiva e orientada, em contexto real, desenvolvendo as
competências profissionais que promovam nos futuros docentes um
desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências
da profissão. Neste sentido, como projeto de formação que possibilita uma
ligação direta ao ensino e com interações permanentes na realidade escolar, o
estágio permite aplicar em contexto real todos os conhecimentos adquiridos até
então, assim como aprimorar certas aprendizagens, desenvolvendo um espírito
crítico e reflexivo e perspetivando a melhoria da nossa atuação. E, não
devemos nem podemos esquecer que a única forma de analisarmos e
aperfeiçoarmos a nossa prática, que corresponde à nossa atuação, é pensando
e refletindo sobre ela (Cardoso, Peixoto, Serrano & Moreira, 1996). Enquanto
futuros e jovens professores necessitamos de refletir e fundamentar as nossas
ações e atitudes, assim como pensar em como melhorar os aspetos que não
correram tão bem, procurando soluções acertadas para os problemas que a
nossa prática levanta. Certamente que isto exige vontade, vontade de fazer
mais e melhor. Portanto, é através de todo este conjunto de requisitos que vou
ao encontro da descrição feita por Piconez (1991, p. 27), referindo que “com a
prática da reflexão sobre a prática vivida e concebida teoricamente, são
abertas perspetivas de futuro proporcionadas pela postura crítica, mais
ampliada, que permitem perceber os problemas que permeiam as atividades e
a fragilidade da prática.”
Durante o estágio, sobretudo nas primeiras semanas, penso que é
sempre complicado gerir o turbilhão de emoções e medos que sentimos ao
“entrar” no contexto real, pois se, por um lado, a situação é vivida com alegria,
com curiosidade e desejo de fazer o que mais ambicionamos, por outro, existe
sempre um sentimento de inquietação, um receio de não satisfazer as
expetativas. Deste modo, considero que a disponibilidade, incentivo e
colaboração do Professor Cooperante é de extrema importância quer para a
Enquadramento da Prática Profissional
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nossa formação quer para o sucesso educativo. O papel do Professor
Cooperante passa por ajudar o estagiário a desenvolver uma conceção de
ensino profunda e significativa (Cardoso, 2009), para que este se torne cada
vez mais independente.
Em conclusão, a prática pedagógica é seguramente uma experiência
transformadora e fundamental na formação de professores, proporcionando
oportunidades para alargar o seu repertório de conhecimentos e de
experiências práticas relacionadas com a atividade docente.
3.2. Enquadramento Legal e Institucional
O enquadramento legal, institucional e funcional constitui o elemento
base para a concretização da Unidade Curricular EP.
No que se reporta ao enquadramento legal, a iniciação à Prática
Profissional do Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino da
Educação Física da FADEUP é legitimado pelas normas da instituição
universitária e pela legislação específica acerca da Habilitação Profissional
para a Docência, aprovado pela Comissão Científica do Curso de Segundo
Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino da Educação Física
nos Ensinos Básico e Secundário.
Nesta ótica de carácter legal, o Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e
o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro enquadram toda a estrutura e
funcionamento do EP, sendo que este último define as condições necessárias
à obtenção de habilitação profissional para a docência num determinado
domínio e, determina também que a posse deste título constitui condição
indispensável para o desempenho docente. De referir que o EP é legitimado
não só pelas orientações legais presentes nos dois artigos acima referidos,
como também pelo Regulamento geral dos segundos Ciclos da UP, pelo
Regulamento geral dos segundos ciclos da FADEUP e pelo Regulamento do
Curso de Mestrado em Ensino da Educação Física, que detalham toda a
arquitetura estrutural e funcional do mesmo.
Enquadramento da Prática Profissional
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No âmbito institucional, o EP é uma unidade curricular do segundo ciclo
de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino da Educação Física da
FADEUP, que decorre nos terceiro e quarto semestres do ciclo de estudos.
Relativamente às Normas Orientadoras do Estágio, estas
operacionalizam o Regulamento do Estágio Profissional o qual considera
quatro áreas de desempenho, sendo que as áreas 2 e 3 se encontram
congregadas numa só: Área 1 - Organização e Gestão do Ensino e da
Aprendizagem; Área 2 e 3 - Participação na Escola e Relações com a
Comunidade; Área 4 - Desenvolvimento Profissional.
Deste modo, a Área 1 visa a interconexão de quatro categorias:
conceção, planeamento, realização e avaliação. Das quatro áreas integradas
no EP, esta é aquela que, no meu entendimento, tem maior propriedade, pois
constitui a base de todo o processo de ensino e aprendizagem e tem como
objetivo máximo “construir uma estratégia de intervenção, orientada por
objectivos pedagógicos, que respeite o conhecimento válido no ensino da
Educação Física e conduza com eficácia pedagógica o processo de educação
e formação do aluno na aula de EF” (Matos, 2010, p. 3).
A Área 2 e 3 compreende todas as atividades não letivas realizadas pelo
estudante estagiário, tendo em vista a sua integração na comunidade
educativa, no sentido de contribuir para a melhoria do sucesso educativo, quer
através de competências relacionadas com o papel do professor de Educação
Física na escola, quer na disciplina de Educação Física. Esta etapa conjuga
momentos individuais e coletivos importantes para a construção da profissão
docente, possibilitando uma partilha e troca de experiências com os vários
agentes da comunidade educativa.
Quanto à Área 4, esta reúne “actividades e vivências importantes na
construção da competência profissional” (Matos, 2010, p. 7). É através da
reflexão acerca das condições e do exercício da atividade, da experiência e da
investigação que o estudante estagiário poderá ganhar outro tipo de
competências e responsabilidades para que, deste modo, se desenvolva
profissionalmente.
Enquadramento da Prática Profissional
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3.3. Enquadramento Contextual
3.3.1. A Escola Secundária de Ermesinde
Há locais que definem a minha vida e a Escola Secundária de
Ermesinde passa a ser mais um.
Situada na Praceta D. António Ferreira Gomes, freguesia de Ermesinde,
concelho de Valongo, esta instituição acolhe alunos de outras freguesias e de
outros concelhos, reunindo, assim, educandos com origens sociais distintas.
Importantes aspetos, como as condições precárias do edifício primitivo - Escola
Técnica de Ermesinde, os maus acessos e o aumento da população escolar,
contribuíram para a construção da atual escola, inaugurada em 1989.
Este estabelecimento de ensino conta com cerca de 200 professores
distribuídos pelos diferentes departamentos curriculares, sendo a maioria do
género feminino. Já o pessoal não docente perfaz um total de 65, que no
âmbito das respetivas funções contribuem para apoiar a organização e gestão
da escola. De salientar igualmente que tem mantido uma frequência escolar à
volta dos 2000 alunos, dos quais 1800 em regime diurno e 200 em regime
noturno. Assim, em termos de estrutura curricular, o ensino diurno abrange o 3º
Ciclo do Ensino Básico, Ensino Secundário, Cursos de Educação e Formação
(CEF) e Cursos Profissionais. Já o ensino noturno está dividido pelo Ensino
Recorrente (Ensino Secundário) e pela Educação e Formação de Adultos
(Ensino Básico e Secundário). Para além desta oferta curricular, e tendo em
vista uma formação complementar de acordo com uma perspetiva integral da
educação, a escola promove projetos de cariz variado, como é o caso do
Desporto Escolar, projeto que visa despertar e amplificar o interesse pela
prática desportiva e, consequentemente promover as relações sociais entre os
alunos.
De acordo com as informações proferidas pela Professora Rita Ramos,
coordenadora do Grupo de Educação Física, a população estudantil tem vindo
a diminuir nos últimos anos. Este decréscimo é justificado sobretudo pela
remodelação e abertura de novas instituições de ensino nas freguesias mais
próximas. De facto, ainda que constituída por vários pavilhões, serviços e
Enquadramento da Prática Profissional
20
espaços de convívio e de apoio que se implantam numa área de recreio e
jardins, reconheço que existe alguma precariedade ao nível das condições
estruturais. Em contrapartida, é uma escola para todos, uma escola que
demonstra equidade, permitindo que um qualquer aluno, com ou sem
necessidades educativas especiais, se forme num ambiente despido de
quaisquer preconceitos.
Esta instituição é também caraterizada pela grande multiplicidade de
trabalhos de arte manual e criativa existentes por todo o espaço escolar. No
entanto, logo nas primeiras semanas de estágio, fiquei impressionada com a
quantidade de lixo espalhada por muitos dos espaços exteriores,
nomeadamente no campo de jogos. Penso que a escola deveria dar mais
atenção a este aspeto.
No decorrer do estágio pude constatar que esta instituição apresenta um
bom ambiente escolar, marcado pela cooperação dos auxiliares educativos,
pelo bom entendimento entre os professores, e mesmo pelos órgãos de
direção, sempre presentes e recetivos a novas experiências pedagógicas.
Para a lecionação da disciplina de Educação Física, a escola dispõe de
um pavilhão gimnodesportivo e um campo de jogos exterior, com pista de
atletismo (com 182 metros de comprimento) e uma caixa de saltos. O facto de
cinco turmas terem aula em simultâneo torna o roulement (sistema de rotação
das instalações) um documento orientador imprescindível, e obriga a que o
pavilhão seja dividido em três espaços similares. Na minha opinião, para uma
turma com um elevado número de alunos, do pavilhão é manifestamente
limitado, o que por vezes compromete a execução de algumas modalidades.
Perante este quadro, e como seria de esperar, um barulho excessivo marca
presença no pavilhão, o que, no meu entendimento, influencia um pouco a
atuação do professor. No entanto, apesar destas adversidades, é possível
realizar uma aula com sucesso. Além da área principal de jogo, o pavilhão
possui dois balneários de apoio aos alunos (um para cada sexo), uma zona
exclusiva para o material gímnico, uma sala de arrumação para o restante
equipamento desportivo e ainda uma sala de professores. Na minha opinião, a
Enquadramento da Prática Profissional
21
escola deveria consolidar e melhorar algumas das vertentes estruturais do
pavilhão.
Já o espaço exterior possibilita o desenvolvimento de desportos
coletivos (andebol, basquetebol e futebol), e oferece condições adequadas
para a prática das diferentes disciplinas do atletismo. No decorrer do estágio,
quando as condições atmosféricas não permitiam realizar a aula no espaço
exterior e quando não tínhamos nenhum espaço desportivo alternativo, a
solução passava por dar uma aula teórica.
De realçar, também, sem dúvida, a quantidade de materiais didáticos
existentes para todas as modalidades. No que diz respeito ao pessoal não
docente, existem dois funcionários que contribuem para o bom funcionamento
do pavilhão gimnodesportivo.
A ESE foi certamente um espaço e um período onde fui contornando as
minhas dificuldades e adquirindo experiências importantes, aspetos que
contribuíram para aquilo que penso sobre vários assuntos ligados ao papel da
escola.
3.3.2. O Grupo de Educação Física
Será escusado referir que o estágio traduz-se sobretudo num caminho
individual, mas será também no diálogo com aqueles que conhecem melhor o
ramo educativo e no saber trabalhar em equipa, que se aprende a profissão
docente. Assim sendo, o grupo de professores de EF teve um papel essencial
no meu crescimento enquanto futura professora, permitindo que me tornasse
mais consciente do mundo escolar. Confesso que fui bem recebida e acolhida
por todo o grupo, sendo que a sua disponibilidade para desfazer qualquer
dúvida esteve sempre presente.
Pareceu-me que a maioria dos docentes já se conhecia há muito tempo,
existindo boas relações profissionais e de amizade. De referir ainda o êxito das
diferentes atividades organizadas por este grupo de professores, muito devido
ao seu empenho e união.
Enquadramento da Prática Profissional
22
Do mesmo modo, todos os elementos do meu núcleo de estágio
contribuíram para o desenvolvimento da minha aprendizagem. Desde a partilha
de vivências, saberes e ideias com os três colegas estagiários, à
disponibilidade e sabedoria do Professor Cooperante, José Carlos, um
profissional rico em experiências que despertava em nós curiosidade e
autonomia, sempre associadas a uma prática consciente e refletida, passando
ainda pelas reuniões, onde se discutiam as aulas lecionadas, onde cada um
tinha o direito de falar e era questionado sobre as razões das suas atitudes,
pensando sempre em melhores soluções para os problemas.
Toda esta partilha de conhecimentos, opiniões e até mesmo de afetos,
revelou-se indispensável para o desenvolvimento da minha atuação
profissional. Ganhei muito com tudo isto, e decerto que não fui a única.
3.3.3. A Turma
Apresentações feitas, e tinha na minha frente 25 alunos, dos quais 10
raparigas e 15 rapazes, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos,
sendo que quatro deles já tinham reprovado em anos anteriores. Um 8º D
constituído por alunos diferentes e irrepetíveis, todos eles com preferências e
rejeições, e alguns com um passado delicado. Neste sentido, importa referir
que a Ficha Individual do Aluno, distribuída na primeira aula, foi determinante
para conhecer melhor as diferentes personalidades existentes na turma, bem
como detetar algum tipo de comportamento do/s aluno/s que pudesse
influenciar a sua prestação nas aulas.
Em relação às competências motoras, as diferenças entre os alunos
eram realmente evidentes. Como tal, e já que essas diferenças iriam ter
reflexos no comportamento dos alunos, foi necessário constituir grupos por
níveis de desempenho, adaptar tarefas e estabelecer critérios distintos de
avaliação. Por via disso, estes aspetos acarretaram maiores desafios e
dificuldades ao nível do planeamento e organização das aulas.
Se tivesse que resumir em duas palavras as características mais
preocupantes da turma, diria que era desmotivada e indisciplinada. Por esta
Enquadramento da Prática Profissional
23
razão, e uma vez que o 8º D iria pertencer à esfera do meu estágio, estava
pronta para compensar este tipo de comportamentos. Se foi simples? Nem por
sombras! Os alunos, sobretudo as raparigas, eram muito pouco predispostos
para a prática desportiva, tornando-se difícil motivá-los para as tarefas. Já no
tocante à falta de disciplina, fui por diversas vezes confrontada com situações
desagradáveis, deixando clara a pouca preparação que tinha, tal como se
verifica nos próximos excertos: “Foi com alguma angústia e insegurança que
verifiquei que um dos alunos gerou uma situação bastante desagradável.
Reconheço que, mais uma vez, tive muita dificuldade em atuar…” (Reflexão da
aula nº 25 e 26); “Saliento ainda o facto de um aluno ter contestado algumas
das minhas decisões, recusando-se a realizar a avaliação e perturbando o
funcionamento de algumas estações” (Reflexão da aula nº 28 e 29); “Confesso
que tenho tido algumas dificuldades em trabalhar e gerir casos de
comportamentos menos apropriados” (Reflexão da aula nº 51 e 52).
Assim, e uma vez que a tentativa de melhorar o comportamento da
turma foi um dos grandes desafios que assumi ao longo deste ano, tornou-se
imperativo elaborar um estudo incidente na temática da disciplina, tentando
responder a algumas inquietações pessoais e, eventualmente, esclarecer
alguns aspetos sobre as questões da falta de disciplina nas aulas de EF. De
referir que o estudo está inserido na Área 4 - Desenvolvimento Profissional.
4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
Realização da Prática Profissional
27
Realização da Prática Profissional
Um longo percurso, uma viagem, ou até mesmo um retrato de toda a
minha prática, são expressões que ajudam a caracterizar este capítulo. Os
temas aqui abordados, claramente incorporados nas quatro áreas de
desempenho, pretendem mostrar todo o meu caminho enquanto estudante
estagiária, desde as minhas dificuldades, dúvidas e desafios até às decisões e
estratégias implementadas.
4.1. Área 1 - 4 Estações Pedagógicas
4.1.1. Conhecimento da matéria de ensino: um Inverno escuro
A ideia de estar “sozinha” perante uma turma, aquela que iria ser o
centro de toda a minha atuação e com a qual iria assumir todas as minhas
responsabilidades, transformava as minhas emoções num pêndulo que
oscilava entre o entusiasmo e o medo. Entusiasmo por saber que tinha a
oportunidade de vestir a camisola docente, uma camisola de sonho. Depois o
medo, pois sabia que o conhecimento técnico de algumas matérias, sobretudo
nos jogos desportivos coletivos, era insuficiente e, consequentemente, por não
me sentir segura das minhas capacidades para ensinar este tipo de
modalidades. Neste sentido, vejamos o seguinte excerto, que, a meu ver,
demonstra como este receio se tornou oficial: “Confesso que o medo se
estendeu por todo o primeiro período. Todos os dias sabia que podia fazer
melhor mas, na maioria das vezes, agi de forma tímida, dando erros. Até
podem ter sido os típicos erros de quem está a iniciar a carreira profissional,
mas tenho noção que muitos deles foram devido à falta de vivências e de
conhecimento de algumas modalidades” (Reflexão final do 1º período).
Ter que dominar e desenvolver um conjunto de conteúdos que nunca
tinham sido contemplados na minha formação, assim como conhecer os
objetivos de cada destreza motora a lecionar, revelava-se num grande desafio.
Um desafio que me obrigou a esquecer as impossibilidades, a trabalhar mais e
a dar o melhor de mim. Já dizia numa das minhas reflexões que “o fraco
Realização da Prática Profissional
28
conhecimento acerca da modalidade em questão (…) obriga a um maior
empenho e dedicação da minha parte” (Reflexão da aula nº 38). Queria mesmo
acreditar que tudo isto podia ser conseguido com trabalho e esforço.
Senti muitas vezes um sentimento de frustração e insegurança, pois esta
falta de vivências e de conhecimento sobre algumas das matérias que tinha
que lecionar, refletia-se nas minhas opções e até na forma como interpretava
algumas das situações. Tive realmente “dificuldades em, por vezes, conseguir
responder e estar à altura dos desafios que os alunos me colocaram, ou ter o
conhecimento necessário para satisfazer as necessidades dos mesmos…”
(Reflexão final do 1º período).
Assim sendo, e com o intuito de encontrar a informação de que
necessitava, foi necessário consultar diversas referências bibliográficas e
informar-me cada vez mais. E “sempre que percebia que as minhas atitudes
não tinham sido as mais corretas, cruzava-as com a teoria e tentava procurar o
que podia ser feito para melhorá-las” (Reflexão final do 2º período). Sobre isto,
Demo (cit. por Marcon, Nascimento & Graça, 2007, p. 19) já falava acerca da
necessidade de procurarmos na teoria fundamentos que nos ajudem a
reorganizar a nossa prática pedagógica.
De facto, e seguindo a opinião de Bento (1995), o professor não pode
dissociar, nem hierarquizar, os níveis teóricos e práticos de conhecimento e
atuação. A atividade do professor precisa necessariamente da teoria e da
prática, e da relação sistemática das duas, “até porque a luta por melhores
resultados no ensino requer diariamente do professor o confronto com
problemas teóricos e práticos” (Bento, 2003, p. 10). A utilização da teoria
requer uma competência absolutamente específica que apenas poderá ser
adquirida mediante a exercitação na própria prática, sendo que a única forma
de perceber o que pode ser melhorado nessa prática é refletindo sobre ela.
Para Schön (1987) a reflexão sobre a prática permite ao professor enriquecer o
seu reportório e melhorar a sua capacidade de resolver problemas,
conduzindo-o, assim, a mudanças na sua prática.
Procurava respostas para as minhas infindáveis questões, recorria a
pessoas experientes, estabelecia relações com os conhecimentos anteriores, e
Realização da Prática Profissional
29
com vontade e “empenho, com as aprendizagens obtidas nas reflexões das
aulas e com as correções e sugestões do Professor José Carlos, procurei
sempre melhorar a minha atuação” (Reflexão final do 1º período).
Obviamente que não foi um processo fácil, bem pelo contrário. Passei
por momentos desconfortáveis e existiam sempre questões que me
inquietavam, mas que me permitiram chegar até aqui. Sei que “ainda não
consigo encarar os desportos coletivos com a mesma segurança que encaro as
modalidades individuais” (Reflexão da aula nº 77 e 78), mas também sei que fui
eliminando parte desta dificuldade. Julgo que tudo se aprende se tivermos
vontade. E eu que o diga!
Não nos pode deixar dúvidas que ensinar requer bastante conhecimento
sobre a matéria de ensino. Pois tal como refere Ball & Mc Diarmind (cit. por
Graça, 1999, p. 185), a compreensão do conteúdo é fundamental para a
qualidade do ensino. Acredito mesmo que sim. Mas também acredito que não é
apenas a compreensão da matéria que dita o nosso bom ou mau desempenho,
há muito mais em jogo…
Neste seguimento, importa ter presente que não basta conhecer a
matéria de ensino, é necessário saber qual o melhor caminho para a transmitir
de forma adequada. Exige-se, portanto, que o professor saiba representar a
matéria para os outros, não basta que a saiba apenas para si (Graça, 2001, p.
108). Daí ter referido, numa das minhas reflexões, que a ginástica “é uma
modalidade com a qual me sinto mais à vontade. Contudo, reconheço que
ainda há muito caminho a percorrer, há muito que aprender, há muito que
experimentar. Pois tanto importante quanto conhecer a matéria de ensino é
saber como a devemos aplicar no terreno” (Reflexão da aula nº 19 e 20).
Como já referido, o conhecer e o saber fazer são condições que, por si
só, não são suficientes, pois se quisermos que os alunos se apliquem numa
determinada tarefa e alcancem os objetivos propostos, devemos também saber
como transformar esse conhecimento, de forma a conseguir adaptá-lo às
circunstâncias e torná-lo compreensível aos alunos (Siedentop e Tannehill,
2000). Ou seja, torna-se imperioso que o professor possua também um
conhecimento pedagógico do conteúdo, um tipo de conhecimento que, além de
Realização da Prática Profissional
30
ser destacado em toda a literatura pedagógica, é visto como um elemento
imprescindível para o trabalho docente. O conhecimento pedagógico do
conteúdo combina o conhecimento da matéria com o da pedagogia, tornando o
professor num especialista na condução do processo de ensino e
aprendizagem, tendo a capacidade de flexibilizar o conteúdo ao nível de
conhecimento dos alunos, selecionando a forma mais adequada para o
transmitir face às características contextuais (Shulman, 1987). Como tal, o
professor necessita de um bom conhecimento pedagógico do conteúdo de
forma a otimizar a aprendizagem dos alunos.
Com efeito, penso que não se pode representar e transformar a matéria
de ensino se não planearmos. O planeamento não pode, de forma alguma, ser
desligado do processo de ensino.
4.1.2. Planeamento: uma Primavera organizada
Antes de avançar diretamente para o planeamento, gostaria de fazer
uma breve referência aos documentos orientadores analisados no início do ano
letivo. Neste sentido, através do Projeto Educativo de Escola e do
Regulamento Interno, pude mais facilmente conhecer e compreender toda a
realidade vivida na Escola Secundária de Ermesinde, desde os seus valores e
objetivos educativos, até à forma como está organizada.
Relativamente ao Programa Nacional de Educação Física (PNEF) do 3º
Ciclo, constatei que para além de existir uma articulação vertical pouco
coerente, apresenta também, em algumas matérias, propostas pedagógicas
desajustadas à realidade dos alunos. Por esta razão, e quando necessário, o
professor pode e deve reorganizar as matérias contempladas no programa, no
sentido de construir o melhor caminho para a qualidade do processo de ensino
e aprendizagem. Ademais, verifiquei que o Projeto Curricular de Educação
Física define-se com referência ao PNEF, sempre em função das
características específicas da escola, e justifica-se para melhorar a formação e
o desenvolvimento dos alunos nos diferentes domínios e matérias próprias da
Educação Física.
Realização da Prática Profissional
31
Em referência à análise do Plano de Atividades de Educação Física
(PAEF), pude comprovar que este documento reflete o dinamismo e a missão
educativa do grupo de Educação Física. O conjunto de atividades que o
compõem contribui não só para despertar o gosto pela prática desportiva mas,
também, para desenvolver princípios e laços de afetividade. Pois tal como
refere Rosado (2009), praticar desporto é, em primeiro lugar, uma experiência
moral e espera-se que, do envolvimento nessa prática moral, resultem alguns
aspetos importantes, como a cooperação, a amizade, a generosidade, a
magnanimidade, a compaixão, o sentido de justiça, a autenticidade, a
transcendência e a humanidade.
Por último, e como não poderia começar esta navegação pedagógica
sem conhecer aqueles que iriam merecer toda a minha atenção, resolvi
elaborar uma caracterização dos meus alunos, centrada em alguns elementos
da sua “história” pessoal, nos seus interesses e preferências. De referir que os
dados foram recolhidos através da Ficha Individual do Aluno elaborada pelo
Núcleo de Estágio (anexo 1).
Em conclusão, os documentos analisados têm papéis diferenciados e
embora sirvam de referência ao trabalho docente, devem ser flexíveis no seu
conteúdo, para que os professores possam expressar as suas convicções
pedagógicas. De referir ainda que alguns destes documentos foram essenciais
para realizar as várias planificações.
É, então, altura de empregar algumas linhas deste relatório ao
planeamento, ao meu planeamento.
Outros, como eu, devem ser da opinião de que planificar é (mais) um
trabalho que implica empenho e responsabilidade, e que não pode ser feito
sem rigor, sob pena de produzir um exercício infrutífero. Neste propósito, e
segundo Bento (1987), uma planificação realizada de forma superficial,
promove decisões espontâneas que normalmente se revelam falsas e
comprometem a concretização do ensino.
Mais ainda, a própria natureza do processo de ensino e aprendizagem
exige que o planeamento não se traduza num quadro rígido e absoluto, mas
que possa ser algo reajustado ou até modificado. Cedo constatei que nem
Realização da Prática Profissional
32
sempre cumprir exatamente o planeamento é sinónimo de dar respostas
adequadas, isto porque os imprevistos acontecem aquando a realização. Pois
“se aquilo que planeamos para a aula não está a resultar, devemos,
imediatamente, reestruturar aquilo que se planeou, para assim garantirmos um
ambiente adequado de aprendizagem” (Reflexão da aula nº 73). Neste
enquadramento, Bento (2003, p. 16) afirma que “no processo real do ensino
existe o inesperado, sendo frequentemente necessário uma rápida reacção
situativa.” Resultante destas ideias, e uma vez que a prioridade deve ser dada
à natureza da ação pedagógica, tive que por vezes reajustar, ou até mesmo
alterar, as minhas planificações.
Contudo, ser capaz de reagir rapidamente face aos imprevistos exige, na
minha opinião, uma boa leitura dos acontecimentos. E foi aqui que as
dificuldades também surgiram, pois nem sempre consegui tomar decisões
rápidas, corajosas ou determinadas, tal como se pode verificar no seguinte
excerto: “O mau aproveitamento do espaço da aula comprometeu a execução
dos exercícios propostos. Reconheço que poderia ter resolvido este aspeto,
mas confesso que fiquei inquieta assim que me apercebi que não estava a
conseguir obter os resultados pretendidos” (Reflexão da aula nº 13). Sabia que
não podia ter apenas como referência a minha planificação, referindo mesmo
que “embora as transições ocasionais me ocupem muito tempo e me
condicionem alguns momentos da aula, não posso desperdiçar um espaço
mais propício para a realização das tarefas” (Reflexão da aula nº 47).
Neste âmbito, foi necessário criar e operacionalizar vários documentos,
todos eles com funções distintas, mas que acabam sempre por servir o mesmo
propósito - o processo de ensino e aprendizagem, estando, por isso,
relacionados entre si.
Comecei por elaborar o planeamento anual (anexo 2), um instrumento
que, na minha opinião, garantiu sobretudo propósitos organizativos. Com
efeito, procurei estruturar as matérias para cada período letivo em
concordância com o PAEF e com o roulement. Não foi uma tarefa fácil,
carecendo de umas boas horas de trabalho, mas tornou-se num documento
necessário e até inevitável para o meu trajeto educativo.
Realização da Prática Profissional
33
No que se refere ao Modelo de Estruturas de Conhecimento (MEC)
proposto por Vickers (1990), este revelou-se determinante na aquisição das
minhas competências pedagógico didáticas. Este modelo assume particular
relevo na orientação do processo de ensino e aprendizagem, e está organizado
em oito módulos e três fases: fase de análise (módulos 1, 2 e 3), fase das
decisões (módulos 4, 5, 6 e 7) e fase de aplicação (módulo 8). De facto, para
conseguir uma certa congruência entre os vários módulos e perceber o que
deveria ser particularmente tratado em cada um deles, foi necessário muito
trabalho, muito comprometimento... Afinal, ensinar é um processo que não é
feito sem esforço! Foi uma tarefa absolutamente complexa, mas ao mesmo
tempo absolutamente vantajosa para o desenrolar da minha atuação. Deste
modo, considero pertinente mencionar a ajuda da Professora Paula Silva na
elaboração deste documento, sempre disponível para esclarecer qualquer
dúvida.
Complementarmente, também surgiram algumas dúvidas quanto à
elaboração das Unidades Didáticas (UD) (anexo 3), porquanto foi complicado
planear e construir uma UD tendo em conta muitos conteúdos e tão poucas
aulas. Nesta conformidade, interessa, por exemplo, referir que o processo de
avaliação teria sido muito mais fácil “se num momento específico das Unidades
Didáticas tivesse feito uma avaliação formativa. Porém, uma vez que as
Unidades Didáticas são tão curtas, esta opção não foi considerada…”
(Reflexão final do 1º período). Se neste momento voltasse às minhas funções
de estudante estagiária, muito provavelmente iria optar por selecionar menos
conteúdos, no sentido de conseguir uma aprendizagem mais consistente.
Para dar continuidade à planificação do processo educativo foi
necessário realizar os planos de aula (anexo 4). Mas será mesmo obrigatório
planear todas as aulas? Acredito que muitas pessoas diriam que não,
sobretudo aquelas que ignoram as responsabilidades de um verdadeiro
educador. Mas a minha resposta é um evidente “sim”. Pois “se cada aula
fornece um contributo totalmente específico” (Bento, 2003, p. 102), então
facilmente percebemos que deverá ter um plano apenas a ela pertencente.
Realização da Prática Profissional
34
Aqui as dificuldades também estiveram presentes, sobretudo em “redigir
de uma forma concreta os objetivos daquilo que pretendia da aula. Entretanto,
após algumas conversas com o Professor Cooperante, penso ter superado
facilmente esta dificuldade” (Reflexão final do 1º período). É importante que
sejamos específicos em relação aos objetivos, pois caso contrário o ensino não
terá intencionalidade. Acerca deste aspeto, Bento (2003) refere que uma
formulação exata dos objetivos exerce uma influência importante sobre a
eficácia da realização do ensino. Cria clareza e constitui um pressuposto
essencial para uma correta orientação da ação dos alunos. Já no tocante às
componentes críticas, levei algum tempo até conseguir selecionar as mais
importantes, e em número reduzido. A solução passou por dar particular
atenção às características das tarefas motoras e ao nível de capacidades dos
meus alunos.
Sempre que planeava uma aula pensava em todos os fatores que iriam
ter influência na mesma, e representava no papel e no meu pensamento tudo
aquilo que deveria acontecer - “aquando a preparação da minha aula foi
necessário dar atenção aos aspetos organizativos, aos objetivos e conteúdos,
pensar nas tarefas mais ajustadas aos reais propósitos da aula, como iriam ser
feitas as transições, entre outros aspetos” (Reflexão da aula nº 62 e 63). A este
propósito, e nas palavras de Bento (2003), antes de entrar na aula o professor
já tem um projeto da forma como esta deve decorrer, uma imagem estruturada,
naturalmente por decisões fundamentais, tais como, por exemplo, decisões
sobre o objetivo geral, sobre a escolha e sequência da matéria, sobre os
pontos fulcrais da aula, sobre as principais tarefas didáticas, sobre a direção
principal das ideias e procedimentos metodológicos.
Confesso que nem sempre foi fácil planear as minhas aulas, sobretudo
planear uma aula para o ensino de modalidades coletivas. Mas entre várias
tentativas e erros e muitas horas de trabalho, as dúvidas foram ficando cada
vez mais pequenas e os resultados foram aparecendo, sendo notória a minha
evolução. Na realidade, planear cada uma das minhas aulas foi mais uma
aprendizagem do que uma simples tarefa de rotina, e além do mais, tornou o
meu processo de ensino bem mais eficaz.
Realização da Prática Profissional
35
Importa referir que o planeamento, além de necessário e importante, não
é, no entanto, suficiente para operacionalizar e concretizar o ensino. Se
pretendemos assumir corretamente as nossas funções, assim como dar
continuidade a todo este processo educativo, é obrigatório transformar e ativar
todo o conjunto de planificações e expectativas em algo prático e substancial. É
pois chegado o momento de intervir pedagogicamente.
4.1.3. Realização: um Verão maratonista
4.1.3.1. Gestão e Controlo da Turma
As decisões de gestão adotadas pelo professor são o espelho da
qualidade do trabalho dos alunos e consequentemente das oportunidades de
aprendizagem (Mesquita & Rosado, 2009). Daí a importância de o professor
desenvolver um conjunto de habilidades de gestão, visto que estas assumem
um papel essencial para que se consigam aprendizagens efetivas. E embora
por si só não tornem o professor eficiente, são indispensáveis para que o
mesmo atinja esse estatuto (Rink, 1993).
Deste modo, para conseguirmos uma boa gestão da aula há todo um
conjunto de aspetos que permitem manter a organização e o controlo
sistemático da turma, como é o caso da criação de regras e rotinas. É
importante que o professor estabeleça rotinas que permitam um funcionamento
mais eficaz da aula (Rink, 1993), garantindo a fluidez da mesma, a
continuidade da atividade e o envolvimento dos alunos na tarefa (Oliveira,
2002). Estas centraram-se sobretudo na responsabilização dos alunos pelo
transporte e arrumação do material, na utilização do apito para uma rápida
reunião de toda a turma, e na decisão de só iniciar a instrução com os alunos
posicionados à minha frente. Confesso que certas rotinas careceram de algum
tempo até serem automatizadas, mas valeram bem a pena!
De referir ainda que durante a realização das atividades optava por
corrigir individualmente os alunos, sendo que apenas reunia o grupo quando
mudava de tarefa ou quando os erros de execução fossem comuns. No meu
Realização da Prática Profissional
36
entendimento, descobrir se os diferentes feedbacks devem ser dirigidos ao
grupo ou a cada aluno, foi determinante para aumentar o tempo de
empenhamento motor.
Ademais, e tendo em consideração que os comportamentos fora da
tarefa por parte dos meus alunos apareciam muito facilmente, a realização de
atividades mais próximas da realidade competitiva foi sem dúvida uma boa
opção - “…o torneio nas aulas de badminton tem sido fundamental para ampliar
a motivação e o entusiasmo dos alunos, e para mais facilmente conseguir um
bom clima de aula” (Reflexão da aula nº 90). Face ao exposto, importa salientar
a importância que a atitude do professor tem sobre a motivação dos alunos. As
tarefas que o professor escolhe, o modo como interage com a turma, e até
mesmo a forma como dirige a sua aula influenciam muito a motivação dos
alunos. Pois segundo Guimarães e Boruchovitch (2004), a motivação no
contexto escolar é um elemento determinante no desempenho do aluno.
Paralelamente, e além de tentar utilizar desafios aliciantes que
promovessem o constante envolvimento dos meus alunos, procurava “planear
um conjunto de tarefas com uma sequência fluida e sem grandes intervalos de
transição, optando por manter a organização dos alunos e do espaço de uma
tarefa para outra” (Reflexão da aula nº 73).
Outro aspeto a ter em conta é o posicionamento e observação do
professor durante o decorrer dos exercícios. É importante não só manter os
alunos empenhados e motivados, mas também que estes saibam e sintam que
o professor está sempre atento e presente. Todavia, esta tarefa não foi de fácil
concretização, prova esta espelhada nos seguintes excertos: “…por diversas
vezes mantive apenas metade da turma no meu campo de visão…” (Reflexão
da aula nº 56 e 57); “…perdi o contacto visual com determinados alunos, isto
devido à excessiva focalização que tinha quando explicava uma determinada
tarefa” (Reflexão da aula nº 73). Sei que é difícil dedicar a nossa atenção e
entrega a todos os alunos ao mesmo tempo, mas também sei que não
podemos pactuar com uma postura desatenta, principalmente quando temos
alunos que revelam comportamentos inadequados. Portanto, devemos tentar
posicionar-nos num local onde consigamos observar toda a turma, e sempre
Realização da Prática Profissional
37
que possível transmitir feedbacks à distância, evitando que os alunos se sintam
“sozinhos” e tenham comportamentos menos desejados.
A relação entre professor e aluno é um dos aspetos mais relevantes do
processo de ensino e aprendizagem. Ainda que a relação entre ambos não
seja uma relação de igualdade, o professor deve tentar criar uma comunidade
de aprendizagem, deve interagir e tomar decisões compartilhadas com os seus
alunos, para que juntos desenvolvam e mantenham uma boa relação entre si,
enfatizando, assim, as questões da autodisciplina, da responsabilidade e
entreajuda (Siedentop & Tannehill, 2000).
Deste modo, procurei sempre que existisse um bom diálogo entre mim e
os meus alunos, mantendo uma postura firme e utilizando toda uma gama de
afetividade positiva, pois sempre ouvi dizer que “uma boa comunicação ajuda a
fazer caminhos.” E mesmo perante comportamentos inadequados procurava
incentivar e intervir com uma atitude positiva, tentava conversar com eles e
compreender as razões que os levavam a adotar tais comportamentos. Se
sempre foi fácil? Claro que não! Quem conheceu a minha turma sabe que
alguns dos alunos deixavam muito pouca margem para me relacionar com
eles, contestavam as minhas decisões e quando contrariados exibiam um
comportamento pouco satisfatório, não vendo retorno do esforço empregue, o
que dificultava a criação de um ambiente harmonioso, de partilha e ajuda. A
verdade é que acabei por perceber que os alunos em causa também
mantinham este tipo de comportamento nas restantes disciplinas.
No entanto, importa salientar que nunca procurei atribuir a culpa
exclusivamente aos alunos, tal como se depreende no seguinte excerto: “Os
comportamentos inadequados de alguns alunos continuam a marcar presença
nas minhas aulas, não querendo com isto passar a ideia de que a culpa é
deles, pois nunca pensei assim. Bem pelo contrário! Tenho-me questionado por
várias vezes onde é que posso ter falhado” (Reflexão da aula nº 29 e 30).
Para conseguir um nível efetivo de disciplina na turma, o professor deve,
segundo Siedentop & Tannehill (2000), adotar estratégias pró-ativas, pois mais
importante que repreender os comportamentos indesejados é evitar a sua
ocorrência. Deste modo, e atendendo às características da turma, procurei
Realização da Prática Profissional
38
utilizar algumas estratégias que permitissem prevenir o aparecimento de
comportamentos inapropriados: na formação de grupos optei por separar os
alunos mais problemáticos, procurei ser mais cuidadosa na organização do
espaço, evitar tempos de espera prolongados e criar tarefas exequíveis e
desafiadoras. Ainda que estas técnicas tenham atenuado alguns dos
comportamentos inadequados, não se manifestaram totalmente eficazes na
dissipação dos mesmos. De facto, este fenómeno constituiu-se,
indubitavelmente, como um enorme desafio.
4.1.3.2. Instrução
Utilizar uma linguagem clara, concisa e objetiva, são, certamente, três
ingredientes essenciais para o professor. Pois como tantas vezes foi referido
nas aulas de Didática Geral, são pequenos pormenores mas ao mesmo tempo
“pormaiores”. Neste propósito, Rink (1993) alerta para a importância de
treinarmos a nossa capacidade de comunicação, para que consigamos mais
facilmente apresentar as tarefas de forma precisa e concreta. E na verdade, foi
o que eu tentei fazer, tal como mostra o seguinte extrato: “...tenho trabalhado
imenso no sentido de ser clara e objetiva no que diz respeito à minha
comunicação” (Reflexão da aula nº 79 e 80).
Neste quadro, Siedentop & Tannehill (2000) também alegam que para
garantir uma boa comunicação, o professor deve utilizar uma linguagem
facilmente compreensível, mostrando certezas sobre a informação que
transmite. Confesso: falava sozinha e pensava “alto” sobre aquilo que tinha de
dizer e no como dizer, pois como facilmente devem compreender, este treino
prévio revelava-se fundamental, sobretudo para as aulas destinadas aos jogos
desportivos coletivos. O ato de instruir não pode ser deixado ao improviso do
momento por parte do professor, sendo imprescindível que exista um
planeamento e um treino das preleções que se vão realizar na aula (Sarmento,
Veiga, Rosado, Rodrigues & Ferreira, 1993).
Contudo, embora treinasse para melhorar a minha capacidade de
comunicação, de pouco valia se a turma não estivesse minimamente atenta. E
Realização da Prática Profissional
39
acreditem que por diversas vezes foi difícil captar a atenção dos meus alunos,
sobretudo no início da aula, sendo que uma boa parte deles interrompia
constantemente a minha informação. Portanto, e tendo em conta o
comportamento peculiar da turma, exigia-se que pensasse em alguma
estratégia. Optar por me calar até que eles prestassem atenção? Falar mais
alto? Estas não eram decididamente as melhores opções. Achei que o melhor
a fazer seria diminuir o tempo dedicado à informação transmitida, no sentido de
encaminhar os alunos o mais rapidamente para a primeira tarefa. Digamos que
foi uma solução simples, mas que desencadeou grandes mudanças.
Dos vários aspetos que concorrem para uma boa apresentação das
tarefas motoras, a clareza na emissão de informação é considerada como uma
variável preditiva da eficácia do ensino (Doyle, cit. por Mesquita & Rosado,
2009, p. 79). Deste modo, tentei ser clara na explicação das tarefas,
transmitindo o que fazer e como fazer, para que os alunos percebessem aquilo
que devia ser realizado e, consequentemente, para que se envolvessem mais
no que estavam a fazer. A este respeito, Mesquita & Rosado (2009)
acrescentam que a ideia de os alunos realizarem um conjunto de tarefas sem
que eles entendam a sua razão de ser, é de todo desajustada.
De referir ainda que a explicação necessária para a execução das
tarefas foi, geralmente, feita para pequenos grupos e próxima do contexto que
pretendia. Pois o facto de existirem dois níveis de desempenho na turma
obrigava a conteúdos e objetivos diferentes e, naturalmente, a explicação não
podia ser a mesma, principalmente no tocante às modalidades coletivas.
No meu entendimento, para melhor garantir a qualidade da informação
também será de toda a conveniência recorrer a palavras-chave, no sentido de
“focar a atenção sobre aspectos críticos da tarefa” (Landin, cit. por Mesquita &
Rosado, 2009, p. 99). Como é óbvio, estas também exigiram preparação,
sendo que pensadas previamente aquando o planeamento das minhas aulas, e
sem dúvida que “o facto de ter planeado algumas palavras-chave facilitou a
minha atuação” (Reflexão da aula nº 44).
No que diz respeito à demonstração, esta assume igualmente um papel
fundamental na apresentação das tarefas, e é um excelente meio para fornecer
Realização da Prática Profissional
40
uma imagem motora. Para tal, é necessário que esta estratégia instrucional
seja coerente, que mostre particularidades úteis e não ineficazes. No decorrer
das aulas optei que a demonstração fosse, sempre que possível, realizada
pelos alunos, e através do complemento da minha informação verbal,
conseguia mais facilmente focar a atenção dos mesmos para os aspetos mais
importantes. Contudo, há que aceitar as palavras de Mesquita & Rosado (2009,
p. 98): “Com alguma frequência deverá ser o professor a fazer a demonstração,
já que isso pode contribuir para criar uma imagem mais positiva de si e da
actividade desportiva em causa”.
Muito honestamente, o feedback foi outro desafio assinalado na minha
agenda. Como sabemos, este é sem dúvida um dos alicerces que mais
contribui para o processo de ensino e aprendizagem. Ultrapassa a simples
informação daquilo que é correto ou incorreto, e define-se como um
comportamento de reação do professor à resposta motora do aluno, tendo por
objetivo modificar essa resposta, no sentido da aquisição ou realização de uma
habilidade (Fishman & Tobey, cit. por Mesquita & Rosado, 2009, p. 82). O
feedback deve então fazer parte dos conhecimentos e procedimentos didático
metodológicos do professor, servindo de fonte de informação complementar e
meio de motivação para a aprendizagem (Piéron, 1999).
Numa fase inicial do estágio perguntava a mim própria: se o meu
conhecimento em algumas modalidades é exíguo, como é que vou fornecer
feedbacks aos alunos para poder conduzi-los a um bom desempenho? Se não
domino todas as matérias, como é que vou saber diagnosticar os erros? Tinha
noção de que para fornecer um feedback adequado seria necessário deter
bastante conhecimento sobre a matéria de ensino. Mesquita & Rosado (2009)
referem mesmo que uma das maiores lacunas na qualificação do feedback
prende-se com a dificuldade de os professores diagnosticarem as insuficiências
dos alunos, não raramente derivada da falta de domínio do conteúdo. E entre
uma mistura de perguntas e receios, eis as constatações: “Enquanto os alunos
realizavam os exercícios propostos, deveria ter tido o cuidado de fornecer
alguns feedbacks…” (Reflexão da aula nº 13); “Assumi uma postura pouco
interventiva, tendo muita dificuldade em dar feedbacks…” (Reflexão da aula nº
Realização da Prática Profissional
41
16); “De referir também que a emissão de feedbacks continua, no meu
entendimento, a ser diminuta” (Reflexão da aula nº 24).
Porém, como nunca me deixo vencer sem antes dar o máximo de mim,
abri o “peito às balas” e enfrentei o desafio (mais um). Corria atrás de tudo
aquilo que me pudesse ajudar, desde livros, a documentos fornecidos por
outros colegas. Observava aulas de professores experientes e não hesitava em
pedir apoio ao Professor José Carlos. Não tinha vergonha de pedir ajuda, nem
tenho! Se há coisa que gosto é de aprender. E em casa o trabalho seguia
sempre o mesmo caminho: interrogar, pensar e repensar.
Com o decorrer das aulas, o esforço e a dedicação começaram a ganhar
cor e as dificuldades foram sendo colmatadas. É claro que não passei a
dominar todas as matérias em profundidade, mas com a prática, com os erros
e com o trabalho constante fui vencendo o desafio e os resultados foram sendo
visíveis, tal como se verifica nos próximos três excertos: “Ainda que por vezes
os feedbacks emitidos não tenham sido os mais corretos, tentei que fossem
constantes no decorrer da aula, não me ficando pelas expressões do tipo
“Isso”, “Muito bem”, entre outras…” (Reflexão da aula nº 47); “…a quantidade e
a qualidade de feedbacks têm sido melhoradas ao longo das aulas…”
(Reflexão da aula nº 59 e 60); “Procurei envolver-me nas tarefas propostas,
fornecendo feedbacks gerais e focando também a minha atenção em erros
mais particulares. Utilizei várias vezes o feedback interrogativo, no sentido de
estimular o conhecimento dos alunos” (Reflexão da aula nº 81).
A par desta visão, convém referir que o professor deve ter cuidado para
que não se torne num “polícia” dos alunos, pois também é importante dar-lhes
espaço para que estes desenvolvam o sentido de responsabilidade e
autonomia (Siedentop & Tannehill, 2000), sendo que à medida que os alunos
vão ganhando mais capacidades, a quantidade de feedback deve diminuir.
Por último, quero apenas lembrar que, o retrato do professor só ficará
totalmente pintado se a tarefa de avaliar também for considerada.
Realização da Prática Profissional
42
4.1.4. Avaliação: um Outono de colheitas
A análise e avaliação do ensino, conjuntamente com a sua planificação e
realização são, segundo Bento (2003), as principais tarefas da atuação do
professor, e se este pretende assumir corretamente as suas funções, nenhuma
destas três atividades pode ser dispensável.
Para o mesmo autor, o delicado processo de avaliação é certamente o
mais complexo de todas as dimensões pedagógicas. Portanto, coloca-se então
a questão - o que é a avaliação? Trata-se de um elemento balizador do
processo de ensino e aprendizagem (Carvalho, 1994), que fornece informação
aos alunos sobre o seu progresso e ao professor sobre o resultado das
metodologias utilizadas (Rink, 1993). É pois necessário que a avaliação seja
entendida e percebida como essencial no processo de ensino e aprendizagem,
isto porque permite verificar a evolução dos alunos ao longo do tempo e dar ao
professor a possibilidade de perceber o que tem que modificar na sua ação
pedagógica (Siedentop & Tannehill, 2000).
Na minha opinião, avaliar não foi, efetivamente, uma tarefa simples. Eis
a confirmação nos seguintes trechos: “Reconheço que continuo a ter
dificuldades na avaliação dos alunos, questionando-me muitas vezes se aquilo
que observei, se a minha visão crítica foi ou não a mais acertada” (Reflexão da
aula nº 61); “…tal como inicialmente previa, senti também algumas
dificuldades, sobretudo em efetuar uma análise pormenorizada de uma
determinada situação e quantificar num número a globalidade do desempenho
dos alunos” (Reflexão final do 1º período).
E nem vale a pena contornar o evidente, pois sem dúvida que as
matérias mais complicadas de avaliar foram os desportos coletivos, já que a
falta de conhecimento refletia-se, novamente, nas minhas funções. Deste
modo, aquando o planeamento da aula procurava “que a mesma fosse simples,
isto é, com poucas preocupações ao nível da organização e transição entre as
tarefas, ficando, assim, mais disponível para a observação dos alunos”
(Reflexão da aula nº 61). No entanto, além de saber que no momento de
avaliação é fundamental ter em mente as habilidades que queremos observar
em cada tarefa (e isto deve ser preparado aquando o planeamento da nossa
Realização da Prática Profissional
43
aula), queria acreditar que todas estas dificuldades também se deviam à pouca
experiência que tinha em realizar este tipo de tarefas.
Acresce referir que no final do segundo período já conseguia ter uma
perceção mais aprimorada dos acontecimentos. Para tanto, “muito contribuiu o
facto de entender os meus próprios erros, assim como a reflexão constante
sobre o meu desempenho nas aulas” (Reflexão da aula nº 64), pois “sem um
trabalho de reflexão suficientemente aprofundado não é possível a avaliação
dos alunos…” (Bento, 2003, p. 175).
Durante o processo de ensino, recorri a diferentes momentos de
avaliação contínua: avaliação diagnóstica, formativa e sumativa. Relativamente
às aulas de avaliação diagnóstica, além de ficar a conhecer o nível inicial da
turma, procurei implementar algumas rotinas de organização, e recolher dados
sobre a dinâmica dos grupos de trabalho. Já no que diz respeito à avaliação
formativa, esta também foi tida em conta, mas de uma forma informal, tendo
sido mencionada ao nível das reflexões e críticas das aulas, sempre com o
propósito de tentar perceber a evolução dos meus alunos, as dificuldades
sentidas e fazer, se necessário, alguma alteração no processo de ensino. No
entanto, importa referir que tal forma só foi possível porque unicamente
lecionava uma turma. Claro que numa situação dita normal, ou seja, quando
lecionar várias turmas este procedimento será inviável. Neste caso, a avaliação
formativa terá que aparecer no planeamento com momentos específicos para a
recolha de informação. Inversamente, a avaliação sumativa assumiu um
carácter mais pontual, e através desta pude verificar o nível atingido pelos
meus alunos e também a eficácia das estratégias implementadas. Acresce
referir, que no momento da avaliação sumativa, procurei também respeitar e
garantir a mesma organização das aulas de toda a UD, potenciando as
oportunidades de prática e, consequentemente conseguir uma avaliação mais
consistente. Quero com isto dizer que uma aula de avaliação é uma aula como
outra qualquer e, portanto, deverá ser pensada com as mesmas preocupações
de organização e instrução.
Contando com a heterogeneidade de competências motoras existente
na turma, optei por realizar as avaliações recorrendo não só a situações com
Realização da Prática Profissional
44
interferências contextuais reais, mas também a situações mais analíticas e
fechadas, à exceção das matérias de ginástica e atletismo. E uma vez ciente
da falta de espírito de sacrifício da grande maioria dos alunos, foi curioso ver a
modificação do comportamento da turma nas aulas de avaliação.
Sempre que possível procurei dar a conhecer aos alunos as suas
principais dificuldades e capacidades, para que estes se inteirassem do nível
em que estavam. Ademais, e no final de cada período, criei um momento para
que os alunos realizassem a sua autoavaliação. Alguns deles perceberam que
muitas das vezes o não cumprimento de alguns objetivos não está no
desconhecimento sobre a forma de realizar as habilidades, mas sim no
empenho, interesse e comportamento nas aulas.
Lembro-me das dificuldades que tive aquando a junção de todos os
domínios e parâmetros de avaliação no final do primeiro período. Mas com a
ajuda do Professor Cooperante e alguma ponderação dos critérios e métodos
de avaliação, fui sentindo um maior conforto na forma e no rigor dos
procedimentos a adotar.
Sou da opinião que classificar um aluno com base numa escala
quantitativa é um trabalho sempre complexo e, também, nunca definitivo. Mas
apesar disso, será sempre uma parte muito importante no processo de ensino
e aprendizagem.
4.2. Área 2 e 3 - Participação na Escola e Relações com a Comunidade
A complexidade do papel do professor ultrapassa em muito os
momentos ditos letivos, sendo necessário que este desdobre a sua atuação por
toda a comunidade escolar. Pois só assim poderá desenvolver um trabalho
consciente e adequado à realidade em que se encontra, uma realidade que o
enriquece pela troca coletiva e cooperativa entre os vários intervenientes do
processo educativo. Com isto pretendo dizer que para além dos momentos em
que são desenvolvidas matérias específicas de uma modalidade, toda a
participação na escola assume indubitável importância para o desenvolvimento
da nossa prática docente.
Realização da Prática Profissional
45
Neste sentido, procurei conhecer todo o ambiente e estrutura que dão
vida à escola e envolver-me nas atividades definidas pelo grupo de Educação
Física, e para que tal acontecesse, foi fundamental criar um diálogo vivo e uma
relação respeitosa com a maioria dos docentes e com os incomparáveis
auxiliares educativos.
No respeitante às atividades contempladas no PAEF, os dois núcleos de
estágio ficaram inteiramente responsáveis pela organização do Corta - Mato e
do Mega Sprinter, sendo que através da colaboração e recetividade do
coordenador do Desporto Escolar consegui apreender e aprender ativamente
os principais fatores que distinguem e regulam atividades desta natureza. Estes
dois eventos fizeram-me pensar no meu próprio passado enquanto aluna, na
quantidade de vezes em que participei neste tipo de atividades... De facto,
tinha realmente vontade em conhecer os seus bastidores!
Quanto às restantes atividades (Semana da Orientação; Gira Vólei;
Torneio de Voleibol; Semana da Dança; Dia do Atletismo; Jogos Tradicionais;
Torneio de Andebol), mesmo que não tenha feito parte da organização,
marquei a minha presença em cada uma delas. Foram experiências
gratificantes na minha prática pedagógica, que contribuíram certamente para a
“conquista” do meu lugar enquanto estudante estagiária, e que me permitiram
evoluir e desenvolver pessoalmente.
4.2.1. Corta - Mato
O corta - mato escolar não é uma atividade nova, no entanto este tipo de
ações é fundamental para mobilizar a escola em torno do Desporto e da
Educação Física. É uma atividade aberta a todos os discentes da escola,
sendo a adesão enorme. A par desta visão, o papel dos Professores de
Educação Física pode certamente ter um impacto positivo sobre a participação
dos alunos na atividade. Deste modo, foi importante o esforço que todos os
professores fizeram para incentivar os alunos das respetivas turmas a
participar. Importa salientar que para a concretização deste evento, em função
da logística necessária, foi importante o envolvimento de todos os Professores
Realização da Prática Profissional
46
de Educação Física, estudantes estagiários, associação de estudantes e
elementos da população escolar. Mas certamente que o grupo de Educação
Física foi o epicentro de coordenação de todas as tarefas.
Aquando a primeira junção do grupo e de modo a caracterizar o evento,
o cartaz foi o primeiro passo com que nos preocupámos, bem como a
reformulação de um conjunto de documentos necessários para a realização da
atividade. Foram também iniciados contactos com algumas organizações para
que aquando da mesma tudo estivesse definido. A preparação deste evento
passou, também, pela construção de credenciais e de um cartaz para a entrega
de prémios.
Relativamente à angariação de patrocínios, penso que não foi uma
tarefa fácil. Ainda assim conseguimos apoios de algumas organizações, dando
como “moeda de troca” a sua publicação durante a atividade. Não
culpabilizando ninguém, acredito que os contactos com as organizações
deveriam ter sido formalmente melhor conduzidos.
Em todos os escalões houve a participação de alunos do sexo masculino
e do sexo feminino, apresentando distâncias distintas. Houve o cuidado de
atribuir prémios aos três primeiros alunos de cada escalão deixando-os
radiantes. Na minha opinião, este aspeto foi de extrema importância, uma vez
que se deve premiar o esforço dos alunos. Todos eles demonstraram disciplina
e motivação e uma busca constante pela melhor classificação possível.
Tendo em conta a tarefa pela qual fiquei responsável no dia do corta -
mato escolar, senti um peso de responsabilidade extra, já que constituía um
dos elos de ligação para o tratamento das classificações. Foi com orgulho que
encarei este cargo e sinto-me entusiasmada com tudo o que pude aprender.
Penso que a organização desta atividade foi extremamente rica, em
termos da dinâmica criada na escola e da união de professores, estudantes
estagiários, alunos e auxiliares. Organizar e estruturar toda a prova foram
tarefas que permitiram que tudo se realizasse com saber e eficácia. Penso que
procurámos sempre envolver-nos nas tarefas propostas e acredito que em
cada momento apelámos ao espírito de equipa, à cooperação, ao fair-play e à
nossa criatividade, pois esta última deve ser outra das preocupações na
Realização da Prática Profissional
47
preparação não só de uma aula de Educação Física, mas também de uma
qualquer atividade. Na minha opinião, o facto de ter existido uma ótima
organização, contribuiu significativamente para uma melhor prestação da nossa
parte, e consequentemente proporcionou um ótimo desenvolvimento da
atividade.
4.2.2. Mega Evento
No cumprimento das tarefas inerentes à organização desta atividade, os
dois núcleos reuniram-se pela primeira vez e optaram por recorrer à divisão e
delegação das tarefas definidas, entre todos os elementos de ambos os
núcleos. Decidimos também apelar ao trabalho em conjunto, no sentido de
interligar todas as ações e de dar um sentido global à atividade.
Numa fase inicial, foi importante a elaboração do projeto da atividade,
documento que definia, não só algumas regras de cada uma das provas que
iriam ser realizadas, como também considerava os seguintes aspetos:
regulamento geral, caraterização da atividade, intervenientes, sistema de
seleção, materiais e recursos.
A divulgação da atividade foi outra das tarefas a cumprir. Para tal,
pensámos que seria importante elaborar um cartaz geral, um comunicado que
informasse todos os professores de Educação Física, a respeito da entrega dos
dados referentes a cada uma das suas turmas e ainda, divulgar a atividade nas
aulas de Educação Física.
Relativamente ao sistema de seleção, o pressuposto primário era que a
atividade fosse exclusivamente para os melhores alunos de cada escalão e
género. Deste modo, ainda que com algumas dúvidas, decidimos o número de
alunos selecionados para cada uma das provas. No entanto, penso que
também deveríamos ter dado atenção à questão da entrega dos dados, pois o
facto de existir quer docentes a enviarem os dados de todos os alunos das
suas turmas, quer docentes a enviarem os dados apenas dos alunos que
melhores resultados obtiveram, gerou uma confusão que poderia ter sido
Realização da Prática Profissional
48
evitada antecipadamente e, consequentemente foi difícil cumprir com o
pressuposto fundamental - selecionar os melhores alunos.
Para a concretização desta atividade pensámos ser positivo recorrer a
um conjunto de apoios que foram desde a oferta de medalhas e apoios para o
lanche. Creio que o recurso a patrocínios foi um elemento importante,
sobretudo no que concerne às medalhas. Importa referir que a questão das
medalhas deveria ter sido tratada mais atempadamente. Saliento também o
facto de não ter conseguido perceber se o número de medalhas conseguidas
foi ou não o suficiente, assim como não consegui perceber quais os alunos que
as deveriam receber.
No período “pré atividade”, eu e outro estudante estagiário ficámos
responsáveis principalmente pela elaboração do projeto, com o intuito de dar a
conhecer toda a ação ao grupo de Educação Física. Deste modo, sentimos a
necessidade de nos informar sobre o mesmo através da consulta de alguns
documentos. Todas as opções tomadas no projeto e na sua conceção foram
discutidas por todos os elementos dos núcleos de estágio. Também me parece
pertinente referir o facto de ter tido a preocupação de estar ao corrente das
tarefas dos meus colegas, estando sempre disponível para ajudar em
quaisquer passos organizativos, já que todos dependíamos uns dos outros.
Concomitantemente com o estudante estagiário João Araújo assumi
funções de secretariado. As tarefas realizadas neste trabalho de pares
passaram pela receção dos alunos e entrega de dorsais, organização dos
certificados de acordo com as classificações, pelo registo dos resultados e da
ocorrência das assinaturas dos participantes.
De uma forma geral, a fase referente à organização caraterizou-se pela
produção do projeto, elaboração do cartaz geral, distribuição dos comunicados
pelos professores de Educação Física, afixação dos cartazes, construção das
listas de participantes, distribuição das tarefas, criação e impressão dos
certificados de participação, organização das medalhas para os vencedores e
preparação do material para o evento. Penso que alguns aspetos referentes à
organização deveriam ter sido mais aprofundados, como por exemplo a
questão de entrega dos dados, assim como a quem se destinavam as
Realização da Prática Profissional
49
medalhas. Na minha opinião, uma das dificuldades desta atividade situou-se na
fase da conceção, pois a forma como os alunos foram selecionados não foi
feita de forma sensata e não cumpriu o pressuposto primário e, deste modo,
talvez os resultados não tenham sido os ideais.
Fazendo uma retrospetiva da atividade, onde foram realçados os
aspetos equacionados pelo Professor Cooperante e pelo meu núcleo de
estágio, constato que todas as tarefas e objetivos a que nos propusemos
alcançar foram globalmente atingidos. Assim sendo, no que se refere à
atividade propriamente dita, a estrutura foi plenamente concretizada, não
havendo necessidade de reajustamentos ou alterações.
Relativamente à otimização da relação entre professores, estudantes
estagiários e alunos aliada à promoção de uma prática saudável de atividades
física, lúdica e educacionais, considero que este evento cumpriu estes
objetivos. A Escola e a Educação Física devem claramente contribuir
significativamente para o desenvolvimento de todos os alunos.
Na minha opinião, em termos de trabalho de grupo (estudantes
estagiários) o espírito de colaboração não foi vivenciado por todos da mesma
forma. Em contrapartida, gostaria de salientar a cooperação demonstrada pelos
meus colegas estagiários e docentes que comigo trabalharam e ajudaram na
resolução de algum problema ou questão.
4.2.3. A Direção de Turma
O DT carateriza-se por ser um elemento decisivo na organização escolar
e coordena todo o trabalho do CT. É responsável por favorecer a articulação
entre os professores, alunos, pais e encarregados de educação, promovendo o
trabalho cooperativo, com caráter curricular e avaliativo, além de compreender
e dar a conhecer as particularidades de cada aluno.
Marcar presença nas reuniões de CT reforçou a minha ideia de que,
enquanto futuros professores, é importante ultrapassar a visão puramente
instrumental e, descobrir e fortalecer o nosso papel educativo. Pois mais do
que fazer uma avaliação do aproveitamento, comportamento e assiduidade dos
Realização da Prática Profissional
50
alunos, estas reuniões foram também um espaço de análise e discussão de
estratégias e sugestões, de forma a atuar com eficiência no mundo da
personalidade dos alunos.
Nas reuniões de CT consegui aprofundar o conhecimento da turma em
geral e de cada aluno em particular, confrontando as informações obtidas na
Ficha Individual do Aluno. De referir ainda que estas reuniões possibilitaram-
me compreender melhor algumas das competências do DT, principalmente a
grande responsabilidade que tem ao presidir as reuniões, cuja qualidade
estará, na minha opinião, dependente de três grandes fatores: a experiência
que possui, o planeamento prévio que deve ser efetuado e a sua
personalidade.
4.3. Área 4 - Desenvolvimento Profissional
4.3.1. A Disciplina
4.3.1.1. Introdução
A problemática da falta de disciplina ganhou, nos últimos anos,
dimensão e contornos diferentes, tornando-se num dos problemas que mais
aflige os professores. Deste modo, os docentes vêem-se obrigados a adotar
atitudes pouco coerentes com a sua função de educadores, o que, por vezes,
lhes provoca situações de mal-estar e os deixa psicologicamente afetados: são
os conteúdos que não são cumpridos, é a relação pedagógica que não
funciona, é a sua própria conduta como professor que é posta em causa
(Estrela, 1994).
A falta de disciplina que inequivocamente existe e provoca desequilíbrios
importantes ao normal funcionamento da aula é normalmente atribuída aos
alunos (Estrela, 1994). Contudo, as causas de comportamentos inapropriados
ultrapassam o universo dos alunos e centram-se, por vezes, na atuação dos
próprios professores.
Daqui decorre que a falta de disciplina não pode ser vista como existindo
em si mesma, como uma qualidade inerente ao próprio comportamento, mas
Realização da Prática Profissional
51
deve ser analisada e compreendida no contexto da relação pedagógica em que
a situação ocorre e é categorizada enquanto tal. É no contexto da relação
pedagógica que o professor categoriza alguém ou algum ato como sendo
indisciplinado e, sendo assim, ao mesmo tempo que emerge a relatividade
deste conceito, é todo o contexto pedagógico que aparece implicado na
situação e não apenas o sujeito que praticou um dado ato (Carita & Fernandes,
2012, p. 17).
Assim sendo, pareceu-me importante procurar conhecer as razões que
conduzem à falta de disciplina nas aulas, e qual a postura que o professor deve
adotar para remediar e/ou controlar este tipo de comportamentos, uma vez que
esta problemática assume um papel primordial para o estabelecimento de um
bom clima de aula, no sentido de criar um ambiente propício às aprendizagens
dos alunos. Deste modo, o recurso a entrevistas individuais afigurou-se no
método mais apropriado para obter as informações necessárias.
4.3.1.2. Temática
“Indisciplina”, “mau comportamento”, falta de respeito”, são expressões
habitualmente pronunciadas pelos diversos intervenientes do processo
educativo. Contudo, a falta de disciplina não é um conceito de fácil definição,
sendo suscetível de múltiplas interpretações.
Corroborando com esta linha de pensamentos, Estrela & Amado (2000)
referem que a clarificação deste conceito não é simples nem pacífica, já que
estão envolvidos quadros de referência multidisciplinares, ângulos diversos
através dos quais este fenómeno pode ser perspetivado, e tomadas de posição
relativamente a paradigmas de abordagem que estão longe de ser
consensuais, pois consoante o paradigma em que nos posicionamos temos
tendência a dar mais ênfase a uns aspetos em detrimento de outros.
A falta de disciplina diz respeito às atitudes e comportamentos que
ocorrem na sala de aula e que impedem ou dificultam o decorrer do processo
de ensino e aprendizagem (Silva, Nossa & Silvério, 2000). Trata-se de um
Realização da Prática Profissional
52
conflito entre as necessidades do aluno e as da turma ou da autoridade que o
professor representa (Curvin & Mendler, cit. por Oliveira, 2002, p. 98).
Ademais, e completando o pensamento destes autores, Amado (2000)
considera que este conceito constitui-se como um fenómeno relacional e
interativo, que se concretiza no incumprimento das regras que presidem,
orientam e estabelecem as condições das tarefas na aula, e, ainda no
desrespeito de normas e valores que fundamentam o bom convívio entre pares
e a relação com o professor.
Resultante destas constatações, facilmente se percebe que os
problemas relativos à falta de disciplina produzem efeitos negativos no
processo de ensino e aprendizagem.
Neste âmbito, o controlo disciplinar na sala de aula torna-se uma das
tarefas mais difíceis com que o professor se depara (Oliveira, 2002), ao qual
este tem que responder prontamente, muitas vezes sem ter preparação para
tal. E se, em tempos anteriores, a eficácia do professor no processo de ensino
e aprendizagem assentava apenas no plano cognitivo, hoje, o seu sucesso
centra-se também na relação pedagógica que ele consegue estabelecer com
os alunos.
Amado (2001, p. 223) refere que a utilização de estratégias
desajustadas ou uma relação pedagógica problemática podem estar na origem
de comportamentos inadequados dos alunos. Através de um estudo baseado
na observação direta de aulas concluiu que “se há alunos que se portam bem
numas disciplinas e noutras não, a culpa não é só dos alunos, não é só da
turma, mas é também dos professores.” Os professores não devem atribuir a
culpa exclusivamente aos alunos, porquanto não se podem esquecer que as
causas de comportamentos inapropriados devem ser procuradas tanto no
professor como nos alunos.
Resolver problemas de disciplina nem sempre é uma tarefa fácil. Deste
modo, mais do que remediar é necessário prevenir estes problemas. Sampaio
(cit. por Oliveira, 2002, p. 108) refere mesmo que a falta de disciplina deverá
sempre fazer parte de uma preocupação preventiva e não constituir-se como
uma situação que se banaliza e que se vai tentando resolver. Todavia, a
Realização da Prática Profissional
53
prevenção dos problemas disciplinares passam por uma multiplicidade de
estratégias que, inevitavelmente, só com a prática, e atendendo às
particularidades da turma, se consegue perceber quais as que melhor se
adequam ao contexto específico.
4.3.1.3. Metodologia
4.3.1.3.1. Amostra
A amostra foi constituída por seis professores de Educação Física da
Escola Secundária de Ermesinde - três professores experientes e três
professores estagiários.
4.3.1.3.2. Instrumento e Procedimentos
Como meio de recolha de dados foram realizadas entrevistas individuais,
permitindo-me um conhecimento mais profundo das situações em estudo,
nomeadamente das perceções, opiniões e conhecimentos dos professores a
respeito da problemática da falta de disciplina. De referir que as entrevistas
foram agendadas de acordo com a disponibilidade dos entrevistados e
realizadas com base num guião orientador.
Para a elaboração da entrevista utilizei perguntas diretas, para as quais
obtive respostas não estruturadas, permitido ao entrevistado expor a sua
opinião e conhecimento sem quaisquer tipo de exigência ou limitação. Assim
sendo, optei por orientar a resposta do entrevistado em itens fechados, visto
que permitem ao mesmo a escolha de várias respostas.
Realização da Prática Profissional
54
4.3.1.4. Apresentação e discussão dos resultados
Questão 3 Professores Estagiários 3 Professores Experientes
Indique causas, que, no seu
entender, podem conduzir
ao aparecimento de
problemas no âmbito da
disciplina nas aulas?
Problemas familiares; falta de
acompanhamento; falta de motivação
para a disciplina; falta de disciplina
nas chamadas de atenção; falta de
empatia com o professor; falta de
experiência dos professores;
situações externas do grupo ou
individuais; mau relacionamento com
o grupo.
Má gestão/organização da aula;
situações externas do grupo ou
individuais; mau relacionamento com
o grupo; o planeamento da aula
diminui problemas disciplinares.
Que estratégias de
prevenção utiliza para
manter a disciplina na aula
de EF?
Criar empatia com os alunos; criar um
bom diálogo; não ser autoritário;
motivar através da escolha das
atividades; envolver os alunos nas
tarefas; instrução breve e planeada;
separar os alunos mais conflituosos;
penalizações.
Planear a aula; implementar rotinas e
regras claras; impor autoridade; ter
boas tomadas de decisão; impor
regras e limites iguais para todos;
impor rigor; estimular a competição
entre o grupo; avaliação permanente.
No seu entender, que
obstáculos podem prejudicar
um bom controlo disciplinar
dos alunos?
Inexperiência; elevado número de
alunos por turma; demasiada
confiança inicial; ausência de rotinas
obrigatórias e eficazes; existência de
tempos “mortos”; ausência de
respeito pelos outros; ausência de
capacidade em obedecer.
Falta de decisão assertiva; falta de
organização e planeamento da aula;
existência de tempos “mortos”;
professores não terem humildade de
alterar o plano quando se verifica
que a aula está a correr mal;
ausência de motivação; inexistência
de objetivos claros de avaliação.
Realização da Prática Profissional
55
Pensa que a forma como os
professores planeiam e
conduzem as aulas
influencia o comportamento
dos alunos nas mesmas?
Porquê?
Sim
Planear tem sempre resultados
positivos e permite minimizar a falta
de disciplina.
O ambiente agradável motiva os
alunos; o envolvimento do professor
cativa os alunos; agir no momento;
não intimidar ou usar uma postura
autoritária; responsabilizar os alunos
pelos atos; relação positiva entre
professor e aluno; a afetividade
implica melhores comportamentos.
Sim
Aulas planeadas e organizadas são
importantes e diminuem a falta de
disciplina, ainda que esta possa
mesmo acontecer quando uma aula
é planeada e organizada, sendo
necessário agir com habilidade no
momento.
Existência de competitividade;
elaborar e apresentar metas de
avaliação contínuas; conseguir
alterar o plano caso este não resulte.
Quadro 1 - Quadro de recolha e análise de dados
Após uma análise aprofundada das entrevistas realizadas aos
professores pude constatar que para controlar os comportamentos de disciplina
os professores estagiários preferem adotar estratégias menos rígidas. Pois
sempre que possível resolvem os problemas através de uma conversa com o
alunos, levando-os a compreender que as situações menos corretas prejudicam
o bom funcionamento da aula. Constatei igualmente que estes professores
utilizam, algumas vezes, procedimentos punitivos na tentativa de diminuírem os
comportamentos inapropriados dos alunos.
Já os professores experientes dão mais ênfase ao planeamento e
organização/gestão das aulas como forma de solução para prevenir e minimizar
os problemas de disciplina. Pois tal como sustenta Rink (1993), a melhor forma
de lidar com problemas disciplinares passa pela prevenção, sendo importante
para o professor ter a capacidade de dissuadir problemas antes que estes
cheguem a tornar-se um problema.
Realização da Prática Profissional
56
Acredito que os professores que reagem às situações de disciplina em
vez de preveni-las têm mais dificuldades em controlar os alunos e impor a
ordem na aula. O importante não é limitarmo-nos a castigar os alunos que
manifestam comportamentos de falta de disciplina, mas sim transformar-lhes os
comportamentos em condutas úteis e produtivas para os próprios e para a
turma onde estão inseridos. Nesta situação, o maior esforço dos professores vai
no sentido da prevenção, da antecipação, de atuação antes e não após a
infração da regra, prevendo o que vai ocorrer, eliminando as causas da falta de
disciplina e criando condições para que o aluno reconheça e aceite as normas
voluntariamente (Oliveira, 2002).
Os dados recolhidos mostraram também que os professores estagiários
atribuem a origem dos comportamentos inapropriados a problemas familiares, à
desobediência e respeito pelo professor e à falta de interesse. Quanto aos
professores experientes, estes apontam como causas sobretudo à má gestão e
organização da aula.
Um outro aspeto a referir face aos resultados das entrevistas prende-se
com as questões das regras e rotinas. Enquanto os professores estagiários
utilizam regras pouco claras e exequíveis, os professores experientes
estabelecem regras e rotinas no início do ano letivo, estando, por isso, de
acordo com os resultados de Siedentop & Tannehill (2000) quando defendem
que o estabelecimento de um controlo efetivo de rotinas no início do ano tem
muitos ganhos ao nível das atitudes e comportamentos dos alunos.
De facto, definir regras e fazê-las cumprir nem sempre é fácil, mas torna-
se necessário que as estas sejam bem esclarecidas por parte do professor e
que este se certifique que os alunos as compreenderam.
Em jeito de síntese, ao longo de todo este trabalho debati e levantei
algumas questões às quais tentei ir respondendo, sabendo porém que nunca
serão respondidas na totalidade devido à complexidade desta problemática.
Em termos gerais, a realização deste trabalho revelou-se útil no sentido
de permitir desenvolver competências que me permitirá num futuro próximo
estar bem preparada para enfrentar e responder de forma eficaz às
Realização da Prática Profissional
57
dificuldades com que nos poderemos deparar ao longo da nossa percurso
profissional, alcançando um ensino de qualidade.
4.3.1.5. Bibliografia
Amado, J. (2000). A construção da disciplina na escola. Suportes teórico-
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Realização da Prática Profissional
58
Veiga, F. (1999). Indisciplina e Violência na Escola: Praticas Comunicacionais
para Professores e Pais. Coimbra: Almedina.
5. CONCLUSÃO
Conclusão
61
Conclusão
Apesar das dificuldades e de alguns desconfortos experimentados, este
foi, sem sombra de dúvida, um ano bastante exigente, produtivo, de grande
crescimento e, sobretudo, de muitas aprendizagens, um ano temperado com
dedicação e empenho que me fez perceber de uma forma clara que
necessitamos realmente de pensar e refletir sistematicamente sobre as
situações, sobre a nossa própria prática.
Sei que os obstáculos e desafios foram muitos, assim como os
momentos de constante insatisfação com a minha atuação, provocando por
vezes um sentimento de desânimo e impotência. Mas em contrapartida, a
vontade de compensar as minhas dificuldades foi sempre maior, a busca
incessante de respostas para as questões que me inquietavam foi sempre
eminente, o desejo de saber mais e melhor foi sempre superior. E tenho
aprendido e crescido muito assim! Savater (1997) já dizia que o otimismo é
indispensável quando se quer exercer a profissão docente.
Um dos pontos que merece destaque foi a criação de 4 Estações
Pedagógicas, mote característico da Área 1, visto que reúnem os momentos
mais importantes de toda a minha intervenção pedagógica. Numa primeira
instância surge um Inverno escuro (conhecimento da matéria de ensino),
habitado por uma chuva de angústias que gritavam por soluções urgentes,
coberto de receios e inseguranças nublosas, mas também pela dimensão da
vontade de nutrir o meu conhecimento, uma vontade capaz de ultrapassar
qualquer nevoeiro. Por sua vez, o doce começo do meu processo de ensino e
aprendizagem, uma Primavera organizada (planeamento), deu vida ao
florescimento de vários instrumentos para a racionalização do processo de
ensino. Ainda que o trabalho de casa tenha sido muito, imenso, colorir os meus
conhecimentos e renovar o meu entusiasmo foi bastante compensador, e se,
ao princípio, os planos de aula demoraram a romper a terra, a sua exercitação
contínua levou a uma elaboração mais célere e, simultaneamente, mais
adequada. E foi no calor de um Verão Maratonista (realização) que a
dedicação que me era exigida na gestão da turma entrava em confronto com a
instrução. No fundo, dois desafios que fizeram sobressair ainda mais as minhas
Conclusão
62
responsabilidades e que, ao mesmo tempo, trouxeram árvores carregadas e
adubadas de aprendizagens. Por último, anuncia-se um Outono de colheitas
(avaliação), uma época extremamente complexa e docemente necessária, que
se repartiu em singelos momentos de avaliação. E o vento? Esse soprou na
direção de confrontar os resultados obtidos com os objetivos previamente
definidos.
É verdade que estes últimos meses foram marcados pela infinda prática
reflexiva, mas não menos verdade é que foi a partir desta que analisei as
minhas ações e atitudes, os aspetos positivos e a melhorar. Como sabemos, a
prática é muito importante para o desenvolvimento da profissão docente e que
a reflexão sobre esta prática pode conduzir a melhoramentos daquilo que se
faz. Refletir foi cumprir uma boa parte das minhas funções, foi desdobrar-me,
foi ter a curiosidade e a energia para mudar, foi conhecer mais, foi aprender
coisas novas, foi abrir portas de novas realidades e de novos conhecimentos,
foi descobrir e descobrir-me vezes sem fim. E só quando percebemos que a
reflexão é uma varinha de condão com a qual podemos melhorar e enfeitiçar
de encanto a nossa atuação, é que a passamos a usar com mais frequência.
Tenho plena convicção de que o EP foi de grande importância para a
minha formação técnica, profissional e pessoal, por todos os ensinamentos que
o mesmo me forneceu. Enfatizo que muito me empenhei para que as tarefas
que me foram propostas fossem executadas da melhor forma possível e que
trabalhei com afinco e responsabilidade no desempenho dos meus deveres.
BIBLIOGRAFIA
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ANEXOS
XVIII
Anexo 1
Ficha Individual do Aluno
Ficha Individual do Aluno
1. Dados Pessoais
Nome: _______________________________________________________
Ano: ________ Turma: ________ Número: ________
Data de Nascimento: ___/___/___ Naturalidade: ______________________
Concelho: ____________________ Distrito: _________________________
Residência: __________________________________________________
Código Postal: ________ - ______ Localidade: ______________________
Email: _____________________
2. Dados Familiares
Nome do Pai: _______________________________________________________
Idade: _________ Profissão: ______________________________
Habilitações Literárias: __________________________
Nome da Mãe: ______________________________________________________
Idade: _________ Profissão: ______________________________
Habilitações Literárias: __________________________
Com quem vives? __________________
Nº de Irmãos: ______ Idades: _________ Quantos estudam? _________
3. Encarregado de Educação
Encarregado de Educação: ___________________________________________
Idade: _________ Profissão: ______________________________
Grau de Parentesco: ___________________
Residência: ____________________________________________________
Código Postal: ________ - ______ Localidade: ___________________
Telefone: ____________________
XIX
4. Dados Escolares
Frequentaste esta escola no ano letivo anterior? Sim Não
Se respondeste não indica qual: ___________________________________
Que meio de transporte utilizas para te deslocares para a escola? ____________
Quanto tempo demoras? _______________________
Já reprovaste alguma vez? Sim Não Em que anos? ________
Quais as tuas disciplinas preferidas? ___________________________________
Quais as disciplinas que menos gostas? ________________________________
Quais as disciplinas que tens maiores dificuldades? _______________________
Qual o curso/profissão que pretendes seguir? _______________________
Já tiveste apoio pedagógico? Sim Não
Se respondeste sim indica a que disciplinas: _____________________________
5. Dados relativos à Educação Física
Tiveste EF no ano letivo anterior? Sim Não Classificação: _____
Gostas da disciplina de EF? Sim Não
Porquê? __________________________________________________________
Quais as tuas modalidades preferidas? ______________________________
Quais as modalidades que menos gostas? ___________________________
Enumera de 1 a 6, por ordem de preferência, as seguintes modalidades:
Andebol Atletismo Basquetebol Futebol Ginástica Voleibol
Das modalidades que abordaste nos anos letivos anteriores, indica aquelas onde
tiveste maiores dificuldades: __________________________________________
Qual a tua motivação para as aulas de EF numa escala de 1 a 10? ________
6. Experiência Desportiva
Já praticaste alguma modalidade desportiva? Sim Não
Federado? Sim Não
Qual? _________________________ Onde? ____________________________
Durante quanto tempo? _________________________
Atualmente praticas algum desporto? Sim Não Federado? Sim Não
Qual? _________________________ Onde? ____________________________
Quantos treinos/horas por semana? ________ Há quanto tempo? ________
Já estiveste no Desporto Escolar? Sim Não Em que modalidade?
______________
XX
7. Dados Médicos
Peso: ____________ Altura: ____________
Tens assistência médica regular? Sim Não
Tens algum problema de saúde? ______________
Se respondeste sim indica qual: _________________________________
Tens alguma doença impeditiva de realizar a aula de EF? ______ Qual? _______
Ouves bem? Sim Não Vês bem? Sim Não
Já tiveste alguma lesão? _______ Qual? _____________________________
Já sofreste alguma intervenção cirúrgica? Sim Não Se sim, a quê?
________________________________
8. Hábitos e Alimentação
Tomas banho depois da aula de EF? ________
Se respondeste não explica porquê: ____________________________________
_______________________________________________________
Como ocupas os teus tempos livres? ___________________________________
A que horas te deitas normalmente? __________________
Quantas horas dormes por dia? ______________________
Que refeições fazes diariamente? Pequeno almoço Almoço Lanche
Jantar Ceia
Gostarias de fazer uma visita de estudo? ______ Onde? ___________________
Porquê? __________________________________________________________
_______________________________________________
XXI
Anexo 2
Planeamento Anual
XXII
Anexo 3
Exemplo de uma Unidade Didática
XXIII
Anexo 4
Exemplo de um Plano de Aula
Data:
08/03/2012
Ano/Turma:
8º D
Nº de alunos:
25
Aula nº 62 e 63 de 96 Hora: 8:15h Duração da aula: 90’
Tempo útil: 80’ Local: Pavilhão
Unidade didática: Voleibol Função didática: Exercitação Sessão: 12 e 13 de 16
Objetivos da aula:
Habilidades motoras: analisar e adaptar os deslocamentos à trajetória da bola tendo em atenção o espaço de jogo e o
posicionamento dos colegas; rematar ao passe do companheiro, executando corretamente a estrutura rítmica da chamada e
impulsionando-se para bater a bola no ponto mais alto da sua trajetória; realizar jogo 2x2 e 3x3 adquirindo as noções de espaço,
adversidade e colocação da bola, por forma a utilizar os três toques.
Aptidão física: desenvolver a força superior e inferior, cumprindo na íntegra os exercícios propostos; desenvolver a velocidade de
execução e de reação, bem como a diferenciação cinestésica, através da realização dos exercícios.
Cultura desportiva: conhecer as regras da modalidade, aplicando-as na aula.
Conceitos psicossociais: centrar a sua ação em comportamentos ajustados à aula com vista a melhorar os resultados individuais e
de grupo.
Material: bolas de voleibol; sinalizadores; rede.
Parte Tempo Conteúdos Situações de Aprendizagem/Organização Componentes Críticas
Inic
ial
10’
Ativação geral
Jogo “saca coletes”
Os alunos encontram-se dispersos pelo
espaço. Cada aluno possui um colete nas
costas, preso nos calções / calças. Os alunos
devem tentar tirar o colete dos colegas e
manter o seu, vencendo aquele que no final do
jogo conseguir ter um maior número de
coletes.
Manter uma movimentação
constante.
Fu
nd
am
en
tal
10’
Posição base;
Deslocamentos;
Passe;
Manchete.
Em grupos de dois, perpendiculares à rede e
com uma bola, os alunos realizam passe e
manchete alternadamente.
Colocar o corpo atrás da bola
antes de a intercetar;
Deslocar-se mediante as
trajetórias da bola.
10’
Remate
A turma é dividida em grupos de quatro ou
cinco alunos. Um aluno junto à rede, com a
função de passador, recebe a bola vinda do
colega e faz passe para cima, enquanto o
colega realiza chamada e, consequentemente,
remate para o campo contrário. No campo
contrário encontra-se um aluno a receber em
manchete.
Rotações - quem remata fica a receber em
manchete e quem estava a receber vai para a
fila para rematar. O aluno que faz o passe é
trocado pela professora.
Braço esticado no momento
do batimento;
Braço não dominante aponta
a bola;
Contatar a bola no ponto
mais alto da sua trajetória;
Lançar a bola alta;
Atenção à chamada - direito,
esquerdo e salta.
XXIV
Fu
nd
am
en
tal
20’
Jogo 2x2 (remate)
Os alunos realizam jogo 2x2 iniciando sempre
o jogo com passe e utilizando o remate para
finalizar.
Ajustar-se à trajetória da bola
do 2º toque;
Realizar a chamada para o
remate;
Adequar o gesto técnico
(remate) à especificidade da
situação de jogo.
25’
Jogo 2x2 (ajustamento
e tomada de decisão)
Jogo 3x3 (ajustamento
e tomada de decisão)
Grupo 1 - Os alunos realizam jogo 2x2
iniciando sempre o jogo com serviço por baixo.
Grupo 2 - Os alunos realizam jogo 3x3
iniciando sempre o jogo com serviço por cima.
Em cada um dos grupos, existe a
obrigatoriedade de efetuar três toques antes de
enviar a bola para o campo adversário e no
momento da receção ao serviço, cada jogador só
pode intervir no seu espaço.
Posicionar-se no espaço de
jogo mediante a sua função;
Após servir ocupa
imediatamente a posição em
campo;
Cooperar com os colegas na
consecução dos três toques.
Fin
al
5’ Pequena conversa com a turma sobre a aula e recolha do material por parte de todos os alunos.
XXV
Anexo 5
Guião da Entrevista
Assunto Objetivo Questão
Causas de manifestação da
falta de disciplina na aula de EF.
Identificar as razões que levam
os alunos a ter comportamentos
de falta de disciplina na aula de
EF.
Indique causas que, no seu
entender, podem conduzir ao
aparecimento de problemas no
âmbito da disciplina nas aulas?
Procedimentos ou tarefas
preventivas de controlo da
disciplina.
Saber ao nível do planeamento
e estratégias de prevenção da
disciplina.
Que estratégias de prevenção
utiliza para manter a disciplina
na aula de EF?
Obstáculos à prevenção do
controlo disciplinar.
Saber que tipo de elementos
impede o controlo disciplinar na
sala de aula.
No seu entender, que
obstáculos podem prejudicar um
bom controlo disciplinar dos
alunos?
Perceção da influência do
planeamento e condução da
aula na disciplina da aula / dos
alunos.
Saber o que os docentes /
estudantes estagiários pensam
sobre a sua própria atuação.
Pensa que a forma como os
professores planeiam e
conduzem as aulas influencia o
comportamento dos alunos nas
mesmas? Porquê?