trombogênese-trombofilia.pdf

14
Trombogênese - Trombofilia Thrombogenesis - Thrombophilia Fernando L.V. Duque 1 , N.A. Mello 1 1. Departamento de Angiologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Serviço de Angiologia e de Cirurgia Vascular, Hospital Central da Santa Casa da Misericórdia (Rio de Janeiro). J Vasc Br 2003;2(2):105-18. Copyright © 2003 by Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. 105 Resumo A doença tromboembólica vem sendo alvo de intensas pesquisas desde o fim do século XVIII na tentativa de se determinar uma explica- ção para sua incidência e seu desenvolvimento. Entretanto, ainda não se tem um estudo detalhado de todos os fatores intrínsecos e extrínsecos que podem levar ao quadro clínico de trombose. Assim, após uma bre- ve revisão histórica das descobertas e das hipóteses levantadas sobre a trombofilia, o artigo prossegue com a descrição de fatores de risco que têm sido alvo de pesquisas detalhadas no intuito de proporcionar trata- mentos profiláticos eficazes. Palavras-chave: trombofilia, tromboembolismo, fatores de risco. Abstract The incidence and development of thromboembolism has been the object of extensive research since the late 18th century. However, a detailed study of all intrinsic and extrinsic factors that may lead to thrombosis is not available yet. Therefore, after a brief historical review of the findings and hypotheses formulated about thrombophilia, the present article describes the risk factors that have been currently investigated, with the aim of offering efficient prophylactic treatments. Key words: thrombophilia, thromboembolism, risk factors. ARTIGO DE REVISÃO As referências sobre a inflamação das veias e sobre as tromboses venosas estão presentes na literatura médi- ca há vários séculos. Com o passar dos anos, a impor- tância clínica do fenômeno tromboembólico aumen- tou progressivamente e hoje, por ocorrer em escala endêmica, a trombose é problema grave em quase todos os campos da medicina. Hunter 1 , em 1784, no artigo “Observações sobre a inflamação da camada interna das veias”, chamou a atenção para a trombose identificada após venopuntu- ras, fraturas complexas e operações cirúrgicas. Logo depois, observou a presença de inflamação na veia e responsabilizou-a pela trombose venosa concomitante, ponto de vista partilhado por Cruveilhier 2,3 . Mais tarde, constatou casos de trombose sem supuração da parede do vaso, denominando-os de inflamação espon- tânea da parede venosa. Em 1877, Trousseau 4 assinalou a associação da trombose venosa com as neoplasias. Mais ou menos na mesma época (1875), Paget 5 e, um pouco mais tarde (1884), Schröetter descreveram a tromboflebite por esforço, onde, entretanto, parecia não haver inflamação da veia. No fim do século XVIII e começo do XIX, surgiram esparsos trabalhos sobre o assunto e os estudos sobre a trombose venosa só tomaram corpo na segunda metade do século XIX, na maior parte realizados pelos grandes patologistas alemães que descreveram quase todas as alterações estruturais dos vasos que conhece- mos hoje. As morfologias macroscópica e microscópica do trombo foram bem determinadas por Virchow 6,7 , Zahn 8 , Welch 2,3 , Aschoff 9 e outros. Entretanto, a melhor caracterização da lesão trombótica só veio a ser feita nos meados do século XX, com o emprego da microscopia eletrônica. Ao lado dos estudos anatomopatológicos, quase todos esses investigadores criaram hipóteses sobre a

Upload: laise-viana

Post on 30-Sep-2015

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 105

    Trombognese - TrombofiliaThrombogenesis - Thrombophilia

    Fernando L.V. Duque1, N.A. Mello1

    1. Departamento de Angiologia, Pontifcia Universidade Catlica do Rio deJaneiro. Servio de Angiologia e de Cirurgia Vascular, Hospital Centralda Santa Casa da Misericrdia (Rio de Janeiro).

    J Vasc Br 2003;2(2):105-18.Copyright 2003 by Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

    105

    ResumoA doena tromboemblica vem sendo alvo de intensas pesquisas

    desde o fim do sculo XVIII na tentativa de se determinar uma explica-o para sua incidncia e seu desenvolvimento. Entretanto, ainda nose tem um estudo detalhado de todos os fatores intrnsecos e extrnsecosque podem levar ao quadro clnico de trombose. Assim, aps uma bre-ve reviso histrica das descobertas e das hipteses levantadas sobre atrombofilia, o artigo prossegue com a descrio de fatores de risco quetm sido alvo de pesquisas detalhadas no intuito de proporcionar trata-mentos profilticos eficazes.

    Palavras-chave: trombofilia, tromboembolismo, fatores de risco.

    AbstractThe incidence and development of thromboembolism has been

    the object of extensive research since the late 18th century. However, adetailed study of all intrinsic and extrinsic factors that may lead tothrombosis is not available yet. Therefore, after a brief historical reviewof the findings and hypotheses formulated about thrombophilia, thepresent article describes the risk factors that have been currentlyinvestigated, with the aim of offering efficient prophylactic treatments.

    Key words: thrombophilia, thromboembolism, risk factors.

    ARTIGO DE REVISO

    As referncias sobre a inflamao das veias e sobreas tromboses venosas esto presentes na literatura mdi-ca h vrios sculos. Com o passar dos anos, a impor-tncia clnica do fenmeno tromboemblico aumen-tou progressivamente e hoje, por ocorrer em escalaendmica, a trombose problema grave em quase todosos campos da medicina.

    Hunter1, em 1784, no artigo Observaes sobre ainflamao da camada interna das veias, chamou aateno para a trombose identificada aps venopuntu-ras, fraturas complexas e operaes cirrgicas. Logodepois, observou a presena de inflamao na veia eresponsabilizou-a pela trombose venosa concomitante,ponto de vista partilhado por Cruveilhier2,3. Maistarde, constatou casos de trombose sem supurao da

    parede do vaso, denominando-os de inflamao espon-tnea da parede venosa.

    Em 1877, Trousseau4 assinalou a associao datrombose venosa com as neoplasias. Mais ou menos namesma poca (1875), Paget5 e, um pouco mais tarde(1884), Schretter descreveram a tromboflebite poresforo, onde, entretanto, parecia no haver inflamaoda veia. No fim do sculo XVIII e comeo do XIX,surgiram esparsos trabalhos sobre o assunto e os estudossobre a trombose venosa s tomaram corpo na segundametade do sculo XIX, na maior parte realizados pelosgrandes patologistas alemes que descreveram quasetodas as alteraes estruturais dos vasos que conhece-mos hoje. As morfologias macroscpica e microscpicado trombo foram bem determinadas por Virchow6,7,Zahn8, Welch2,3, Aschoff9 e outros. Entretanto, amelhor caracterizao da leso trombtica s veio a serfeita nos meados do sculo XX, com o emprego damicroscopia eletrnica.

    Ao lado dos estudos anatomopatolgicos, quasetodos esses investigadores criaram hipteses sobre a

  • 106 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    etiopatogenia da trombose venosa. Baille2,3 sugeriu aimportncia da estase sangnea na gnese do trombo,tema que veio a constituir-se num dos cavalos de batalhade Virchow6,7. Rokitansky10 acreditava que havia duasvariedades de trombose venosa: uma provocada pelainflamao da parede, e outra, desencadeada pela estaseintravasal. Em 1898, Welch2,3 fez uma ampla e comple-ta reviso do assunto e concluiu que, na maioria decasos, h mais de um elemento etiolgico responsvelpela trombose e que apenas a inflamao e a estase noexplicavam todos os casos de trombose.

    Hayem8, em 1878, notou a aglutinao das plaque-tas no local de puno de um vaso; Bizzozero8 confir-mou esse achado e denominou-o de cogulo hemost-tico. Em 1885, Eberth & Schimmelbuch11 provoca-ram a formao de trombos nos vasos mesentricos deanimais e apontaram a aglutinao das plaquetas comoa fase inicial da trombose. Em 1927, Wright & Minot12

    constataram que a metamorfose viscosa da plaquetapode ocorrer antes mesmo do surgimento da fibrina.Em 1924, Aschoff9 classificou os componentes etiopa-tognicos da trombose em trs grupos: fatores parietais,estase sangnea e distrbios da crase sangnea. Em1890, a origem plasmtica da fibrina foi admitidapor Virchow6,7, que, na mesma poca, denominou asua forma precursora de fibrinognio. Em 1895,Schimidt13 constatou a existncia de um fermentoda fibrina (a trombina), que circularia no sangue sobuma forma precursora e inativa (a protrombina). Aativao da protrombina se daria pela presena desubstncias zimoplsticas dos tecidos, denominadasde tromboquinase por Morawitz14 em 1905, e queHowell15 posteriormente chamou de tromboplasti-nas teciduais (fator III). Essas enzimas s se ativa-riam na presena do on clcio (Arthus & Pages16;Hammarsten16). A presena de tromboplastina in-trnseca s foi descoberta anos depois, sob o nome detriptase (Ferguson17). A digesto fermentativa dafibrina (fibrinlise) s foi descoberta em 1903.

    H muitas dcadas, as observaes clnicas e epide-miolgicas, realizadas por inmeros autores em dife-rentes partes do mundo, permitiram identificar umasrie de situaes e de doenas que precediam ouacompanhavam os quadros clnicos da trombose veno-sa (Tabela 1). Esta concomitncia configurou umarelao de causa e efeito, e esses eventos foram conside-rados potencializadores ou desencadeadores na instala-o da trombose venosa e, por extenso, da trombosearterial.

    Tabela 1 - Condies que favorecem a instalao da trom-bose (fatores de risco, condies no congnitas)

    * Com restrio de crescimento intra-uterino; deslocamento de placenta;histria de tromboembolismo; pr-eclampsia; trombose ps-parto; per-das fetais repetidas.

    AdenocarcinomaAnemiaAnestesia geral prolongadaAnticoagulante lpicoAnticorpo antifosfolipdicoBacteremiaCncerCirurgia (pelve, bacia, extensa)ColagenoseCorticosteridesEnterite crnicaEstrognios exgenosGravidez*HemodiluioHemoglobinria paroxstica noturnaHemlise intravascularHepatopatiasHiperhomocisteinemiaHiperlipidemiasHiperviscosidadeHomocistenriaHormonioterapia estrognicaIdadeImobilizao geral e/ou de membros inferioresInfarto do miocrdio recenteInfecesInsuficincia cardacaLeucoseLpusMieloma mltiploNefropatiasObesidadeParaproteinemiasPolicitemia VeraPoliglobuliaPuerprioQueimadurasSedentarismoTabacoTraumaTrombose prviaUso de anticoncepcionalVasculite de BehcetVeias varicosas

    Mais ou menos simultaneamente, foi sendo vistoque os pacientes com maior nmero desses fatores derisco tinham maior probabilidade de causar tromboseintravasal, o que levou muitos autores a criarem mto-dos de avaliao prognstica por meio de tabelas nas

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 107

    quais cada fator recebe um valor numrico absoluto oupercentual18-20 (Tabela 2). Se um paciente apresentar asoma desses valores parciais maior do que um determi-nado valor, ele considerado paciente de risco para adoena tromboemblica e, por isso, merece cuidadosespeciais, inclusive eventual tratamento medicamento-so anticoagulante profiltico no per e ps-operatrio(Tabela 3). Estas tabelas so de muita valia e empregadasem muitos Servios.

    Entretanto, com o passar do tempo, verificou-seque muitos indivduos portadores de altas taxas defatores de risco no apresentavam, obrigatoriamente, adoena tromboemblica, apesar de sujeitos a condiesreconhecidamente trombognicas; ou seja, nem todasas pessoas portadoras de fatores de risco apresentavamtrombose ao sofrer estresse trombognico adicional(trauma, parto, etc.)21. De forma inversa, constatou-seque um tero dos pacientes com quadro clnico detrombose venosa no apresentava nenhum dos fatoresde risco.

    Considerando-se essas observaes, foi ficando pa-tente que haveria uma trombofilia espontnea, idio-ptica, que geraria a trombose vasal sem necessitar degrande auxlio de um estmulo patognico extrnsecoou mesmo sem necessitar de qualquer processo precipi-tador. Ressurgia o velho aforismo da medicina consti-tucionalista: s faz doena quem pode ou, de outra

    Tabela 2 - Quantificao dos fatores de risco da trombosevenosa (doena tromboemblica)*

    * Adaptada da tabela de Weinmann20 Se a soma dos pontos dos fatores de risco de um determinado paciente

    for = 5 (cinco), ele dever merecer medidas antitrombticas profilticas. Doena tromboemblica

    Risco alto (cada um valendo 4 pontos)

    Cirurgia ou fratura de quadril, joelho, prteseFratura de osso longo ou mltipla

    PolitraumatismoCirurgia abdominal para cncer

    Cirurgia e/ou doena grave, com DTE prvia

    Risco moderado (cada um vale 2 pontos)

    Idade igual ou acima de 60 anosAntecedentes de trombose venosa

    (mais doena ou cirurgias pequenas)Insuficincia venosa crnica, com ou sem lcera

    Insuficincia cardaca congestivaInfarto do miocrdio complicado

    Neoplasia malignaImobilizao no leito

    AVC isqumicoQueimadura e traumas extensos

    Cirurgia geral(mais de uma hora e com outros fatores de risco)

    Presena de anticorpo antifosfolipdico

    Risco baixo (cada um vale 1 ponto)

    Idade de 40 a 60 anosObesidadeTabagismo

    Estrognio/anticoncepcionalGravidez ou puerprio

    Diabetes melitoInfarto do miocrdio no complicado

    InfecesCirurgia de grande porte nos ltimos 6 meses

    Sndrome nefrticaPequena cirurgia (< 30 min)

    Grande cirurgia em jovem saudvel

    Tabela 3 - Profilaxia a ser adotada de acordo com o nme-ro de pontos nos pacientes que vo enfrentaroutros fatores de risco (cirurgia, repouso noleito, certas medicaes, etc.)

    Risco baixo (1 ponto)

    Movimentao ativa dos membrosDeambulao precoceUso de meias elsticasExerccios respiratrios

    Hidratao amplaEvitar posio sentadaEvitar leito de Fauwler

    Risco moderado (2 a 4 pontos)

    Mesmas medidas do risco baixoHeparina subcutnea 5.000 U de 12/12 horas

    Enoxaparina [Clexane], sc, 20 mg, uma vez por diaNadroparina [Fraxiparina], sc, 0,3 mg, uma vez por diaDalteparina [Fragmin], sc, 2.500 U, uma vez por diaNos pacientes cirrgicos, iniciar o uso da heparina horas

    antes da operao e prolong-lo, se for o caso

    Risco alto (5 ou mais pontos)

    Mesmas medidas do risco baixo.Heparina, sc, 40 mg, uma vez ao dia

    Enoxaparina, sc, 40 mg, uma vez ao diaNadroparina, sc, 0,6 mg, uma vez ao diaDalteparina, sc, 5.000 U, uma vez ao dia

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • 108 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    forma, os fatores de risco s so expressos no indivduoque tem padro gentico adequado. Esta amizade aotrombo (trombo+filia) seria derivada de condiespeculiares do sistema de coagulao do sangue doindivduo, talvez uma latente hipercoagulabilidade in-dividual, possivelmente congnita, familial.

    Com essas constataes, o fenmeno da coagulaotomou nfase no estudo da trombognese. A hipteseda leso parietal e da estase sangnea como fatoresdominantes na formao do trombo foi, em parte,suplantada pela importncia do componente sang-neo, o terceiro membro da trade de Virchow6,7 eAschoff9. Os esparsos trabalhos experimentais do inciodo sculo sobre a coagulao sangnea cederam lugara um grande volume de investigaes, resultando nadescrio dos inmeros fatores de coagulao que viri-am a constituir a estrutura da cascata da coagulao edo sistema fibrinoltico.

    Quase todas as descobertas fundamentais sobre acoagulao do sangue datam mais ou menos desseperodo: a acelerina 22, a convertina17, o fator Stuart24,a triptase17, a globulina anti-hemoflica25, o fator Ha-geman26, o fator B27,28, o fator C29, a antitrombinaIII14, etc. Em 1933, Tillet & Garner30 descobriram afibrinolisina estreptoccica. Em 1941, Milstone31 veri-ficou que a ao deste produto dependia de uma globu-lina humana que ele chamou de fator ltico. Em 1944,Kaplan32 descobriu que esse fator plasmtico era umaprotease precursora que era ativada pelo fator estrepto-ccico. Em 1945, Christensen33 denominou o fatorestreptoccico de estreptoquinase, o precursor plasm-tico do plasminognio. A protease ativa foi chamada deplasmina.

    Essas descobertas ajudaram enormemente a com-preenso dos estados hemorrgicos, mas no lanarammuitas luzes sobre o fenmeno trombtico.

    H muito tempo, o termo trombofilia empre-gado, senso lato, significando a capacidade ou atendncia do organismo em formar trombo (porleso parietovasal, distrbios reolgicos e distrbiosda crase sangnea). Aos poucos, o termo passou a terum sentido restrito, significando distrbio de coa-gulao, de estado de pr-coagulao, de estado dehipercoagulabilidade (expresso preferida pelos au-tores anglo-saxes). Sabemos, hoje, que este estadodepende dos fatores de risco (condies extrnsecas)que agiriam per si ou facilitados pela existnciaprvia de distrbios congnitos da coagulao e/ouda fibrinlise (condies intrnsecas).

    O interesse suscitado pela possibilidade de identifi-cao dos indivduos portadores do estado de hiperco-agulabilidade, isto , com propenso congnita trom-bose, atravs de testes laboratoriais, deu nfase pesqui-sa desses distrbios sangneos e intensificou uma ten-dncia ao emprego do termo trombofilia to somentereferindo-se presena desses distrbios sangneosgenticos.

    O conhecimento dos fatores de hipercoagulabilida-de est permitindo a feitura de melhor prognstico dadoena tromboemblica venosa e arterial e a compreen-so do fenmeno da trombose dita idioptica, da ori-gem da trombose venosa espontnea, das flebites derepetio, das flebites migratrias, das suscetibilidadesindividuais medicao hormonal, da transfuso desangue, dos anovulatrios, ou, de forma mais geral, dapredisposio trombognica aos chamados fatores derisco trombtico extrnsecos.

    indiscutvel que o progresso advindo da identifi-cao dos fatores tromboflicos sangneos congnitosconstitui um grande passo no estudo do fenmenotromboemblico. Entretanto, necessrio utilizar comeqidade as novas conquistas, sem ignorar a importn-cia dos fatores de risco extrnsecos, capazes de gerar adoena tromboemblica independente de condiessangneas anmalas genticas previas ou, pelo menos,at agora conhecidas.

    A constatao desse substrato tromboflico indivi-dual, congnito compromete, em parte, as investiga-es at agora realizadas sobre a incidncia de doenastromboemblicas, arteriais e venosas em situaes fisi-olgicas tais como gestao, menopausa, obesidade,sedentarismo, e outras. Como os fenmenos trombo-emblicos incidem em propores diversas em organis-mos congenitamente diferentes frente aos mesmosembates fisiolgicos e/ou patolgicos, as pesquisas epi-demiolgicas sobre as correlaes clnicas freqentesmenopausa/infarto, hipertenso arterial/AVC, dislipi-demias/tromboescleroses, reposio hormonal/angio-cardiopatias e outras tero que ser precedidas pelaanlise tromboflica dos indivduos participantes dainvestigao.

    A par destes avanos, interessante consideraroutras vertentes etiopatognicas do fenmeno tromb-tico que continuam um tanto negligenciadas e queainda no alcanaram destaque na prtica clnico-labo-ratorial: a viscosidade do sangue conhecida e estudada h

    varias dcadas. Todavia, raramente oposta trade

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 109

    trombognica de Aschoff-Virchow6,7,9. Contribu-em para sua pouca divulgao, a relativa dificuldadeem se evidenciar a ao nxica da hiperviscosidadee a sua complexa avaliao laboratorial, apesar deela interferir em praticamente todos os fenmenosfisiopatolgicos vasculares, especialmente aquelesda microcirculao;

    a atividade do endotlio: na avalanche de fatoresendoteliais recentemente descobertos, incluem-semuitos com atividade sobre os sistemas de coagula-o e de anticoagulao. A avaliao do fator de vonWillebrand, da trombomodulina e de muitos ou-tros produtos endoteliais, em breve sero includoscomo novos fatores de hipercoagulabilidade laten-te, constituindo um estado de trombofilia endote-lial ao lado dos fatores da hipercoagulao atual-mente identificados. Quase todas as disfunesendoteliais at agora conhecidas so secundrias afatores de risco extrnsecos, mas, recentemente,foram observados casos com defeito primrio doendotlio34,35.

    Concomitantemente, o progressivo conhecimentodas disfunes endoteliais talvez venha a tornar aindamenos categricas as fronteiras entre as atividades efunes dos participantes etiopatognicos da trade deVirchow6,7. Talvez voltemos a reconhecer e a ampliar aafirmativa de Welch2,3 de que, na maioria dos casos detrombose venosa (ou arterial), h mais de um fatorenvolvido na doena. provvel que, de todos os fatoresparietais (especialmente os endoteliais), os reolgicos eos sangneos (inclusive a viscosidade) contribuam,simultaneamente, em maior ou menor intensidade paraa formao do trombo.

    Tendncia inata trombose

    A doena tromboemblica e a trombose em geraltm um trao hereditrio-familial, fato conhecido hsculos. Somente nas ltimas dcadas, as tentativas deidentificao em laboratrio dos distrbios sangneoseventualmente presentes e/ou responsveis pela tendn-cia trombose foram frutferas. O complexo conjuntodesses distrbios sangneos tem recebido diferentesnomes: trombofilia propriamente dita, trombofilia pri-mria, essencial, idioptica, congnita, hereditria, ge-ntica, familial ou inata. Outras expresses com igualsignificado so: estado pr-trombtico, estado de pr-coagulao, estado pr-trombtico, estado de hiperco-agulabilidade, estado tromboflico congnito, estado

    de risco trombtico e anomalias predisponentes. Otermo fator de risco, tal como hoje o empregamos,tomou corpo a propsito dos fatores predisponentesdas coronariopatias observados nos primeiros relatriosdo Estudo de Framingham36 e, logo, estendeu-se aoutros campos mdicos, inclusive as coagulopatias.

    Foram estudados e relacionados trombose dife-rentes distrbios sangneos que parecem ocorrer nascondies de estresse trombtico tais como hipervisco-sidade sangnea por aumento de plaquetas37 ou defibrinognio38, distrbios funcionais das plaquetas39,hipercolesterolemia plasmtica40, hiperprotrombine-mia23, aumento do fator VII23, do fator Stuart41, dofator Christmas42, da glicose sangnea43, etc. Nospacientes com o processo tromboemblico em ativida-de, tambm foram pesquisados possveis distrbios dacrase sangnea que caracterizariam o estado de hiper-coagulabilidade: aumento de fibrinognio44, do fatorVII45, da pr-acelerina46, da adesividade plaquetria47

    e de inibidores da plasmina48. Os resultados dessaspesquisas foram to contraditrios que levaram Ratnoff& Botti42 a escreverem que as evidncias apresentadasat agora tornam improvvel que se possa tirar umaamostra de sangue de um paciente e dizer que essesangue hipercoagulvel.

    Investigaes mais vlidas comearam a ser feitasmais ou menos nessa mesma poca. Em 1965, Ege-berg49 relacionou a antitrombina tromboflebite. Bro-wse50 e outros autores constataram a diminuio daatividade fibrinoltica nos estados trombognicos. Nes-tas mesmas condies, constatou-se a existncia dehipercoagulabilidade do sangue total ou do sanguediludo51, medida pela tromboelastografia52 ou pelotempo de coagulao por impedncia53.

    Em 1981, Griffin et al.54 relataram a deficincia deprotena C em casos de doena trombtica recorrentefamilial. Em 1983, Carrel et al.55 afirmavam que adisfibrinogenemia congnita eventualmente causa trom-bose. Em 1984, Towne et al.56 verificaram a atividadetromboflica na disgenia e na hipofuno do plasmino-gnio. No ano seguinte, Nilsson et al.57 constataramque a menor sntese de ativador tecidual do plasmino-gnio (t-PA), ou menor sntese de ativadores endoteli-ais, podia ser acompanhada de trombose venosa.

    Em 1993, Dahlback et al.58 identificaram um co-fator da coagulao sangunea, com resistncia prote-na C ativada, que era trombognico. Esta descoberta foiampliada por Bertina et al.59 no ano seguinte ao verifi-carem que o fator era uma mutao do prprio fator V,

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • 110 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    determinando resistncia deste fator protena C ativa-da (esta descoberta foi feita na Universidade de Leiden,origem do nome deste fator alterado). Em 1998, Willi-amson et al.60 descreveram outra mutao do gene dofator V dentro do quadro da resistncia proteina Cativada (fator V de Cambridge). Poort et al.61, dogrupo de Bertina, identificaram, em 1996, as alteraesgenticas do cromossomo 20.210, da protrombina eassim por diante.

    A maneira desses fatores e/ou anomalias mutacio-nais agirem na formao do trombo ainda motivo dedvidas e necessita de mais pesquisas. Nas ltimasdcadas, foram descritos vrios pretendentes a ocupa-rem as funes de facilitadores da trombose ou, deoutra forma, a serem os erros inatos da hemostasia quedariam origem hipercoagulabilidade ou trombofiliacongnita. A cada ms, surgem novas descobertas e, poresta dinmica acelerada de descobertas, qualquer enu-merao ou listagem de substncias tromboflicas correrisco de nascer ultrapassada. No momento, trabalha-se,em termos clnicos, com os fatores pr-trombticos quesero resumidamente descritos em seguida e que ocor-reram com a freqncia assinalada na Tabela 4.

    De maneira geral, sabe-se que a trombose arterial predominantemente derivada da ativao das plaque-tas, dos depsitos de lipdios e da proliferao celular naplaca ateromatosa. A trombose venosa essencialmentedependente dos fatores hemostticos que estamos estu-dando.

    Fibrinognio (fator I)

    O fibrinognio uma glicoprotena sintetizada nofgado que circula no plasma sob a forma inativa naconcentrao de 160 a 415 mg/dl. ativado (para fatorIa = fibrina) pela trombina ao ser cindido em fragmen-tos (fibrinopeptdios). Esses fragmentos so monme-ros formados por domnios (d) que, ao ligarem-se,formam redes densas (polmeros de fibrina) que aprisi-onam hemcias, leuccitos, plaquetas e fatores de coa-gulao (XIII, IIa), constituindo o cogulo hemostti-co/trombo. De incio, esse polmero reversvel, mas,sob a ao do fator XIII (presente no cogulo, que ativado pelo fator IIa = trombina), torna-se estvel aofim de dois ou trs dias.

    Alguns estudos indicam que a hiperfibrinogenemiaest associada doena tromboemblica62. O aumentoda taxa sangnea do fibrinognio acelera a formaodos cogulos/trombos, aumenta a agregao das pla-quetas e acarreta hipercolesterolemia. Em sentido opos-to, os cidos graxos livres aumentam a sntese dofibrinognio em meios de cultura63. Durante a gravi-dez, constata-se aumento das taxas sangneas do fibri-nognio, dos fatores VII, VIII, IX, X e XII, reduo daprotena S, aumento da resistncia adquirida ao daprotena C ativada, hiperativao das plaquetas e au-mento do PAI-1 e PAI-2. As taxas sangneas elevadasde fibrinognio e de fator de von Willebrand so fatoresde risco para a doena isqumica cardaca (independen-tes e genticos), especialmente nos filhos de pais comhiperfibrinogenemia64. Algumas formas de disfibrino-genemia so condies hereditrias nas quais as molcu-las de fibrinognio so sintetizadas erroneamente emanifestam-se clinicamente pela trombose arterial e/ouvenosa em 5% dos casos.

    A incluso da dosagem do fibrinognio no algorit-mo da pesquisa da trombofilia intrnseca assuntopassvel de controvrsias.

    Protena C

    Durante o fenmeno hemosttico, a ao catalisa-dora da trombina sobre o fibrinognio (gerando fibri-na) limitada por vrios mecanismos reguladores,inclusive pelo acoplamento da trombina trombomo-dulina endotelial. Ao lado dessa inativao direta, ocomplexo trombomodulina/trombina ativa a protenaC plasmtica que, normalmente, atua inibindo os fato-res V e VIII ativados, reduzindo, assim, a atividade dacascata da coagulao e, conseqentemente, restringin-

    Prevalncia mdia segundoalguns valores encontrados na literatura %

    Associao de anomalias genticas 30 - 60Resistncia protena C ativada (Leiden) 20 - 50Anomalias da fibrinlise 10 - 15Mutao do gene protrombina G20210A 5 - 15Deficincia da antitrombina III 4 - 10Deficincia de protena C 3 - 6Deficincia de protena S 5 - 15Deficincia de plasminognio 1 - 2Deficincia do co-fator II da heparina 1Anomalias do fibrinognio 1t-PA < 1Excesso de PAI* < 1Alfa-2-macroglobulina < 1Hiperhomocisteinemia < 1

    Tabela 4 - Fatores tromboflicos congnitos

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

    *Inibidor do ativador do plasminognio

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 111

    do a formao do cogulo hemosttico zona em quehouve leso endotelial, o que impede a formao docogulo trombtico excessivo.

    A protena C uma protease srica, vitamina K-dependente, e com atividade potencializada pela prote-na S. Alm da ao limitante da via intrnseca dacoagulao65,66, a protena C age como auxiliar nosistema fibrinoltico ao efetuar a lise da substncia [PAI-1], que bloqueia o ativador tecidual do plasminog-nio67.

    A deficincia congnita ou adquirida de protena Cest associada a eventos trombticos vasais68. A defici-ncia congnita da forma homozigtica incompatvelcom a vida. Quando a reduo do nvel da protena Cgira em torno de cinqenta por cento (ou seja, nospacientes heterozigticos), geralmente ela propicia ainstalao da trombose a partir da segunda ou terceiradcadas de vida por ocasio de traumas, cirurgias, etc67.

    Recentemente, foi constatado que os acidentes trom-boemblicos so mais comuns quando h resistncia protena C ativada do que quando h diminuio dataxa total da protena C69,70.

    Fator V da coagulao

    O fator V um regulador fundamental na faseinicial da cascata da coagulao sangnea. Sua defici-ncia gentica d origem a uma doena hemorrgicarara, a para-hemofilia. Uma pequena modificao noseu gene (fator V de Leiden) aumenta sua ao por nosofrer bloqueio natural da protena C, o que facilita aformao de trombos. Essa mutao est presente entre2% a 7% da populao em geral e em mais de 50% dosdoentes com diagnstico de tromboembolismo. Nomomento, esto sendo estudadas diversas mutaesgenticas que eventualmente produzem alteraes se-melhantes ao tipo fator de Leiden71.

    Resistncia protena C ativada (RPCa)

    Fator V de Leiden

    Em alguns pacientes com tromboembolismo fami-lial e/ou recorrente, constatou-se que o teste do tempode tromboplastina parcial (PTT) era anormal e que noera corrigido pelo acrscimo da protena C ativadanormal; ou seja, havia uma resistncia do fator V aoda protena C ativada, o que explicaria a tendncia aoaumento de produo de trombina e o aumento daincidncia de trombose nesses pacientes58,69. Uma das

    condies geradoras dessa resistncia, o fator V deLeiden, consiste numa mutao que ocorre no prpriofator V, no qual a arginina 506 convertida em gluta-mina59. Com a substituio desse aminocido, ficabloqueado o stio onde a protena C faz a clivagemnatural no fator V, o que diminui a sua ao. Assim, aao do fator V plena, com conseqente instalao deestado de hipercoagulabilidade.

    O fator de Leiden a alterao gentica trombof-lica mais encontrada nos pacientes com RPCa (emtorno de 95% dos casos). Segundo Williamson60, nos5% dos casos restantes, haveria uma outra mutao dofator V, sendo chamada de o fator V Cambridge (uni-versidade onde foi descoberta).

    A incidncia do fator V de Leiden de 2% a 5% dapopulao em geral e de 25% dos casos de trombosevenosa recorrente e/ou embolia pulmonar. Esta muta-o apangio da raa branca, ausente entre negros eentre asiticos.

    A mutao do fator V de Leiden, heterozigtica,aumenta em sete vezes o risco de tromboembolismodurante a vida de uma pessoa, risco que aumenta aindamais com o passar dos anos, com a gravidez ou com ouso de anovulatrios orais. A forma homozigtica doalelo aumenta o risco trombognico em vinte vezes72. Aincidncia do tromboembolismo maior nos indivdu-os que, alm do fator de Leiden, sofrem de deficinciasde protenas C ou S.

    Fator V Cambridge; Fator V Hong-Kong

    Alm do fator V de Leiden, foram descritas duasoutras mutaes no gene V que conturbam o stio declivagem da protena C: o fator V/R306T (fator dito deCambridge) e o fator V/R306G (dito de Hong-Kong).Alguns autores acham que ainda no h elementossuficientes para que se possa relacionar esses fatores como fenmeno trombtico73,74.

    Protena S

    A protena S uma glicoprotena sintetizada nofgado, nos megacaricitos, osteoblastos75 e no endot-lio66. , em parte (40%), produzida sob a forma livre e,em parte (60%), sob a forma de um precursor inativoque ativado durante a ativao das plaquetas75. Devi-do ao fato de ser dependente da vitamina K, a sua sntesepode ser inibida pelos medicamentos cumarnicos, oque explica o desenvolvimento de trombose microvas-

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • 112 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    cular e eventual necrose de pele em pacientes comdeficincia de protena C ao tomarem essas drogas.

    A deficincia de protena S pode gerar estadostrombticos77-80. As deficincias da protena C e daprotena S so mais freqentes do que a deficincia deAT III em famlias que apresentam tromboembolismovenoso recidivo76. Alguns pacientes podem ter taxasangnea normal da protena S total e diminuio tosomente da forma livre, poro que tem maior aocomo co-fator da protena C ativada.

    Sua deficincia pode ser congnita ou adquirida, talcomo ocorre com a protena C e a antitrombina III. Aforma adquirida encontrada nos estados infecciosos,nas neoplasias, nas nefropatias, na gravidez, na presenade fator de necrose tumoral e em outras condies. Nadeficincia congnita, a trombose ocorre de formaespontnea na metade dos casos e aps traumas ouinfeces nos outros 50%70.

    Antitrombina III (AT III)

    A trombina o fator fundamental no mecanismoem cascata da coagulao, e a antitrombina o seuprincipal inativador fisiolgico83,84. A antitrombinaIII uma serino-protease produzida pelo fgado que,alm de bloquear a trombina [IIa], inibe a ao dosfatores de coagulao IXa, Xa, e XIa.

    Em condies normais, a limitao do mecanismode coagulao ao local da leso endotelial feita pordiferentes processos (protena C e S), mas, basicamente,pela modulao e bloqueio da trombina que ocorremno stio da injria vasal. O excesso de trombina inibido pela sua fixao pela fibrina, pelo seu bloqueiopela trombomodulina e pela antitrombina III.

    Quantitativamente, o primeiro mecanismo omais importante pois, aps a formao do cogulo, afibrina recm formada absorve 80% da trombina gera-da pela ativao da protrombina.

    A trombomodulina, acoplada superfcie endote-lial, age de duas maneiras: primeiro, liga-se trombina,tornando-a inativa; segundo, o complexo trombomo-dulina/trombina ativa a protena C que, como foi visto,tem ao inibidora sobre certos fatores que precedem aformao da trombina (Va e VIIIa), impedindo agerao de mais trombina.

    O terceiro mecanismo consiste no acoplamento daAT trombina, que escapa da adsoro da fibrina nomomento em que ocorre a retrao do cogulo, forman-

    do um complexo trombina/antitrombina que no temao no mecanismo da coagulao e que prontamenteremovido da circulao pelo fgado. Esse processo deconjugao torna-se muito mais intenso na presena daheparina, motivo pelo qual a AT III tambm conhe-cida como co-fator 1 da heparina (AT 1). O complexoAT/heparina tem ao menos intensa, mas igualmententida, na remoo de outros fatores da coagulao (IX,X, XI e XII).

    A deficincia da AT determina eventos trombti-cos, tanto venosos quanto arteriais84-86, especialmenteem pacientes jovens87,88. Esta trombofilia parece ocor-rer por diferentes tipos de deficincia89: diminuio deconcentrao e de atividade da AT; diminuio deatividade com concentrao normal ou elevada da AT;diminuio de concentrao e de atividade adquiridasda AT.

    A primeira situao facilmente compreensvel.Nesta trombofilia gentica, os acidentes trombticosespontneos so raros, as tromboses geralmente ocor-rem aps a segunda dcada da vida e so subseqentesa outras condies de risco (infeco, trauma, etc.)56,89.Da mesma forma, so comuns ocluses de enxertosarteriais e de fstulas AV para hemodilise, ocorrnciade tromboses espontneas90, progresso rpida daaterosclerose obliterante com trombose precoce91, etc.Um dado clnico significativo a instalao de cogulosprecoces nos processos cirrgicos apesar do uso daheparina, visto que a heparina s pode agir amplamentena presena da AT III. Ressalve-se que mesmo pequenastaxas de AT so suficientes para exercer a funo de co-fator da heparina.

    Na segunda situao, presume-se que aja produoheptica de antitrombina III qualitativamente anor-mal. A diminuio de concentrao e de atividade daAT III adquirida ocorre no decurso de doenas hepti-cas graves, na sndrome nefrtica, na hipoalbumine-mia, na caquexia, na coagulao vascular disseminada,no uso de anovulatrios, nas cirurgias de grande porte,etc56,89. Mesmo pequenos valores abaixo da taxa nor-mal implicam aumento do risco de trombose.

    Protrombina (Fator II) - Mutao G20210A

    A mutao G20210A do gene da protrombinapode facilitar a incidncia de trombose venosa ouarterial (coronarianas, cerebrais). Nos indivduos queapresentam um gene normal e o outro mutante (hetero-zigotos), a incidncia do distrbio entre 1% e 4%. Essa

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 113

    mutao ainda no foi encontrada em pacientes negrosou asiticos.

    Com freqncia, a mutao da protrombina estassociada a outros fatores de risco genticos (fator V deLeiden, deficincia de protenas C e S e de AT III) ouadquiridos (anticoagulante lpico, gravidez, puerprio,traumas, imobilizao, neoplasias).

    O mecanismo que determina a maior incidncia detromboses parece ser a elevao das taxas de protrombi-na sangnea graas a maior estabilidade do RNA dogene mutante.

    O diagnstico laboratorial dessa anomalia feitopor mtodos de biologia molecular, no sendo possvelavali-la pela concentrao plasmtica92.

    Hiper-homocisteinemia

    A homocistena um aminocido sulfidrlico queocupa posio central na regulao do metabolismo dametionina e envolve, tambm, o metabolismo das vita-minas B6, B12 e cido flico. Os nveis elevados nosangue determinam acmulo de metionina, de homo-cistena e de seu dmero, a homocistina, em diversostecidos do corpo. As conseqncias mrbidas so oste-oporose, retardo mental, luxao do cristalino e outrasalteraes orgnicas, entre as quais as leses vasculares eas tromboses. Ainda no bem conhecida a razo pelaqual ocorrem distrbios vasculares na hiper-homocis-teinemia, mas presume-se que neles intervenham fato-res plaquetrios, vasais e de coagulao, e, segundoHandin72, as tromboses geradas pelo aumento da ho-mocistena no sangue so mais comuns nas artrias doque nas veias.

    A hiper-homocisteinemia gentica um erro inatodo metabolismo da homocistena pela deficincia deuma das duas enzimas a ela relacionadas, conseqnciade herana cromossmica recessiva (cistationina-beta-sintetase, CBS, e metilenotetrahidrofolato redutase,MTHFR). A anomalia mais freqente a mutaoC677T dos genes da MTHFR, presente em torno de5% a 15% das populaes caucasianas e asiticas, povoscom alta prevalncia de homozigotos. As mutaesgenticas tornam as enzimas termolbeis e, em conse-qncia, h 50% de reduo de suas atividades93.

    A hiper-homocisteinemia adquirida encontradaem condies fisiolgicas (idade, sexo), diferentes hbi-tos de vida (alcoolismo, tabagismo, etc.), deficinciasvitamnicas (B6, B12, cido flico) e em certas doenasrenais, tireideas, aterosclerticas, etc.

    O teste de sobrecarga de metionina ajuda a fazer odiagnstico em casos suspeitos, mas com taxas sang-neas normais em jejum.

    Anticorpo anticardiolipina/Anticoagulante lpico

    O anticoagulante lpico e os anticorpos anticardi-olipina so anticorpos antifosfolipdicos e esto associ-ados ao abortamento espontneo de repetio, pla-quetopenia e a doenas tromboemblicas94. Esses anti-corpos podem estar presentes em pacientes normais;doenas auto-imunes (lpus eritematoso sistmico, ar-trite reumatide); doenas neurais (epilepsia, enxaque-ca, esclerose mltipla, sndrome de Guillan Barr); usode medicamentos (interferon, fentona, clorpromazina,antibiticos, etc.); infees virais; parasitoses.

    A relao dos anticorpos com a trombose ainda noest bem esclarecida. Aparentemente, a coagulao anor-mal causada pela ligao do anticorpo a uma protenaplasmtica, apolipoprotena H ou beta-2-glicoprote-na95,96. Embora os anticorpos no tenham origem emdistrbios genticos comprovados, a sndrome de Jo-hansson-Hughes merece ser includa entre as trombofi-lias intrnsecas pela gravidade dos fenmenos tromb-ticos e pela necessidade de tratamento antitrombticointenso e prolongado.

    Plasminognio/t-PA e PAI-1

    O sistema fibrinoltico tem como principal funoa remoo do cogulo, o que feito atravs da degrada-o enzimtica da fibrina. Esse sistema constitudo devrios componentes, dos quais os principais so a pr-enzima plasminognio e as suas enzimas ativadoras [t-PA e u-PA] e inibidoras [PAI-1].

    Plasminognio

    uma beta-globulina sintetizada no fgado, tam-bm chamada de pr-fibrinolisina. Est presente noplasma na concentrao de 1-20 mg/100 ml. O plasmi-nognio torna-se atuante ao transformar-se em plasmi-na no local do cogulo, regio onde depositam-se oplasminognio e o t-PA. No existe plasmina circulan-te. A leso do endotlio determina ativao do fator XII.Todavia, age, tambm, sobre o plasminognio transfor-mando-o em plasmina.

    A plasmina ativada age sobre fatores de coagulao[I, V e VIII], protenas (hemoglobina, casena), fibrino-gnio e, especialmente, sobre a fibrina. A fragmentao

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • 114 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    da fibrina d origem a segmentos proticos denomina-dos produtos de degradao da fibrina (PDF). Essesfragmentos tm atividades metablicas diferentes (X, Y,D e E).

    Defeitos ou deficincias do plasminognio soencontrados em cerca de 2% ou 3% dos casos detrombose venosa em jovens sem outra causa aparen-te97. Entretanto, a relao entre a deficincia e atrombose ainda no est bem estabelecida98.

    Ativadores

    O mais importante ativador do plasminognio ot-PA (Tecidual Plasminogen Activator), que uma enzi-ma liberada pelas clulas endoteliais, especialmente asdas pr-vnulas e das vnulas dos rgos muito vascu-larizados (fgado, pulmo, tero, pncreas, tireide eprstata). O mecanismo de ao do t-PA por clivagemproteoltica, que transforma o plasminognio em plas-mina.

    A uroquinase (u-PA) outro ativador fisiolgico doplasminognio, encontrada nas vias urinrias.

    Vrios estmulos podem aumentar a secreo det-PA, acentuando a atividade fibrinoltica do sangue(cogulo, exerccio fsico, febre, noradrenalina, cidonicotnico).

    Inibidores

    As antiplasminas so substncias plasmticas quelimitam a gerao de plasmina e, portanto, reduzem suaatividade proteoltica sobre o complexo trombina-fi-brina do cogulo.

    A principal antiplasmina denominada Inibidordo Ativador do Plasminognio 1 (PAI-1). Age nocomplexo precursor da plasmina, modulando a ativida-de do t-PA e produzido pelos hepatcitos, pelasplaquetas e, especialmente, pelas clulas endoteliais.Quando a taxa de PAI-1 alta, a atividade fibrinolticafica diminuda, o que aumenta o risco de trombosevenosa e arterial. O PAI-1 um fator de risco indepen-dente para a arteriopatia coronria e cerebral, assimcomo para a trombose venosa e para a osteonecrose99.

    Um segundo inibidor o Inibidor do Ativador doPlasminognio 2 (PAI-2), encontrado originalmentena placenta e cuja ao ainda no est bem estabeleci-da98. O polimorfismo [4G/5G] no gene do PAI-1aumenta a atividade do PAI-1 e fator de risco indepen-dente para complicaes na gravidez100.

    A alfa-2-macroglobulina um dos principais inibi-dores fisiolgicos da plasmina ao formar o complexoplasmina/antiplasmina (PAP). Em soluo livre, estareao extremamente rpida. Todavia, mais lenta nacirculao por depender da viabilidade de locais espec-ficos de ligao na plasmina.

    Co-fator II da heparina

    O co-fator II da heparina tem alta especificidade eatividade antitrombnica quando em presena de valo-res relativamente altos de heparina. Na inativao datrombina, a formao do complexo trombina/co-fatorII catalisada pelo sulfato de dermatan101. A deficin-cia do co-fator II da heparina encontrada em algunspacientes que apresentam tromboembolismo recorren-te, especialmente com histria familiar66.

    Plaquetas

    A trombocitose essencial uma desordem clonal daclula progenitora hematopoitica multipotente e, talcomo a hiperplaquetose secundria, , esporadicamen-te, associada microtrombose (eritromelalgia, hemi-crania, isquemia cerebral transitria). Entretanto, astrombocitemias, o mais das vezes, so assintomticas ouso associadas a fenmenos hemorrgicos. A contageme os testes funcionais das plaquetas no predizem comacerto a tendncia hemorragia ou trombose. Nomomento, contudo, estuda-se o diagnstico diferencialda policitemia vera, da hiperplaquetose e dos novosfatores tromboflicos nos estados de hipercoagulabili-dade intrnseca102.

    Fator VIII

    O nvel plasmtico do fator VIII condicionadopor fatores genticos e ambientais. Ele influenciadopelos genes que codificam o grupo sangneo ABO e ofator de von Willebrand, assim como est aumentadopor fatores familiares desconhecidos, provavelmentegenticos62. Embora estes estudos estejam no incio,afirma-se que os nveis do fator VIII esto aumentadosem cerca de 7% da populao em geral e entre 10% e15% dos pacientes com doena trombtica. O aumentodo fator VIII no sangue elevaria o risco de trombose emquatro vezes quando comparado aos pacientes com oseu valor normal103.

    Fatores IX e XI

    Recentemente surgiram algumas referncias a ele-

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 115

    vadas taxas sangneas de fatores IX e XI em pacientescom tromboembolismo104. Esses estudos esto emandamento.

    Fator XIII (Fator XIII Val-34-Leu)

    A mutao valina/leucina na posio do aminoci-do 34 (Val-34-Leu), no gene do fator XIII, altera ocomportamento fisiolgico deste fator na cascata dacoagulao de maneira ainda no bem caracterizada,aparentemente agindo como antitrombtico105,106.

    Fator de von Willebrand (F vW)

    O fator de von Willebrand funciona como umaponte entre as plaquetas e o endotlio, participandoativamente do fenmeno hemosttico. Modificaesna quantidade e/ou qualidade do fator produzem adoena de von Willebrand, a mais comum das doenashemorrgicas do homem. Por outro lado, os nveiselevados de F vW aumentam o risco de hipercoagulaosangnea71. Presume-se que a prpura trombocitop-nica trombtica (PTT) produzida por multmeros damolcula do F vW, que se prendem s glicoprotenasdas plaquetas conglomerando-as em trombos107,108.Normalmente, as enzimas ADAMTS-13 fracionam osmultmeros de F vW em monmeros no conglomera-dores. Em pacientes com PTT familial, a atividade daADAMTS-13 muito reduzida109, o que facilitaria aaderncia das grandes molculas de F vW superfciedas plaquetas.

    Fatores associados

    A presena de fator(es) de risco no significa, inexo-ravelmente, a ocorrncia de fenmenos tromboembli-cos. Os defeitos genticos tromboflicos no so sempreacompanhados de trombose, mesmo com a concomi-tncia de fatores tromboflicos extrnsecos de impor-tncia no mesmo indivduo.

    Entretanto, em termos epidemiolgicos, a associa-o de dois ou mais fatores de risco congnitos geraaumento na incidncia de trombose62. Outrossim, aocorrncia de um fator de risco, no congnito, nospacientes inferiorizados congenitamente, age cumulati-vamente e aumenta o risco da doena trombtica62.

    Com a sedimentao das recentes descobertas sobreos fatores de risco intrnsecos, no futuro poderemosconstruir tabelas de risco total, somando os valores datrombofilia prpria e da trombofilia adquirida para

    obtermos uma soma indicativa do perigo de tromboseem determinado paciente e, com isso, orientar trata-mento anticoagulante ativo e profiltico.

    Pesquisa laboratorial dos fatores tromboflicos

    Na pesquisa da trombofilia hereditria, o Grupo deTrabalho do Consenso da SBACV sugere a feitura dosseguintes exames:

    dosagem da antitrombina III [AT]; pesquisa das protenas C e S; dosagem do fibrinognio; dosagem do fator VQ 506 [Leiden]; dosagem da protrombina G20210A.

    Alguns desses exames so caros e no realizados emtodos os laboratrios clnicos. mais exeqvel iniciarcom a feitura dos testes da RPCa e da antitrombina III,por mais abrangentes, com eventuais pesquisas posteri-ores. Outrossim, a investigao de rotina pode restrin-gir-se aos indivduos com o primeiro episdio de trom-bose ocorrendo antes dos 45 anos de idade, nos casos detromboembolismo espontneo (sem a presena de fato-res extrnsecos de alto risco), nos indivduos com trom-bose anterior, nas tromboses recorrentes, nas trombosesem stios pouco usuais (seio sagital, vasos mesentricos,veia porta ou esplnica), na presena de tromboembo-lismo em outros membros da famlia, nas mulheresmais idosas que pretendem engravidar ou fazer reposi-o hormonal, nas vtimas de fatores de riscos extrnse-cos associados (traumatizado, cirurgia ortopdica eimobilizao prolongada), nos casos de tromboembo-lismo pr ou ps-parto, nas ocluses vasais ps-cirrgi-cas, nas mulheres com perdas fetais repetidas, nos casosde deslocamento placentrio.

    Referncias1. Hunter J. The Works of John Hunter. London: Longman,

    Rees, Orme, Green and Longman; 1837.2. Welch WH. Diseases of blood thrombosis. Allbutts System

    of Medicine 1899;7:155.3. Welch WH. Thrombosis. In: Allbutt C, Rolleston HD. A

    system of medicine. London: MacMillian Co.; 1909. vol. 6.p. 691-762.

    4. Trousseau A. Clinique Medicale d Htel Dieu du Paris. J BBailliere 1868;8:95.

    5. Hughes ESR. Venous obstruction in the upper extremity. BrJ Surg 1948;36:155.

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • 116 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    6. Virchow R. Cellular pathology as based upon physiologicaland pathological histology. New York: R.M. De Witt; 1860.p. 554.

    7. Virchow R. La Pathologie Cellulaire Base sur l etudePhysiologique et Pathologique des Tissus. Paris: J. B. Baillireet Fils; 1861. p. 162.

    8. Favre-Gilly J. Physiologie sanguine: coagulation et thrombose.In: Gerson L, Merlen JF, editores. Angiologie. Paris: EditionsDoin; 1966. p. 219.

    9. Aschoff L. Thrombosis. In: Lectures on Pathology. New York:Paul B. Hoeber, Inc.; 1924. p. 253.

    10. Rokitansky C. The Sydenham Society 1852;4:398.11. Eberth J, Schimmelbuch C. Experimentelle untersuchungen

    ueber thrombose. Virchow Arch Pathol Anat 1886;103:39.12. Wright JH, Minot GR. The viscous metamorphosis of the

    blood platelets. J Exper Med 1917;26:395.13. Schmitt S. De la phlebite reumatismale. 4 ed. Paris;1884.14. Morawitz P. Die Chemie der Blutgerinnung. Ergebn Physiol

    1905;4:307.15. Howell WH. The nature and action of the thromboplastic

    zymoplastic substances of the tissues. Am I Physiol 1912;31:1.16. Quick AJ. Development of coagulation knowledge. In: Poller

    L. Recent Advances in Blood Coagulation. London: J. C.Churchill Ltd.; 1969.

    17. Ferguson JH. The blood calcium and the calcium factor inblood coagulation. Physiol Ver 1936;16:640.

    18. Smithwick RH, Robertson CW. Prevention ofphlebothrombosis. In: Collens WS, Wilensky ND. PeripheralVascular Diseases. 2nd ed. Springfield: Charles C. ThomasPub.;1953. p. 493.

    19. Clagett G, Anderson F, Heit J, et al. Prevention of venousthromboembolism. Chest 1995;108:312-34.

    20. Weinmann EE, Salzman EW. Deep-vein thrombosis. N EngJ Med 1994;331:1630-44.

    21. Allen EV, Barker NW, Hines EA. Peripheral Vascular Diseases.1st ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 1946.

    22. Owren PA. Parahemophilia: hemorrhagic diathesis due toabsence of a previously unknown clotting factor. Lancet 1947;1:446.

    23. Alexander B, Meyers L, Kenny J, et al. Blood coagulation inpregnancy. Proconvertin and prothrombin and thehypercoagulable state. New Engl J Med 1956;254:358.

    24. Hougie C, Barrow EM, Graham JB. Stuart clotting defect. IClin Invest 1957;36:495.

    25. Seegers WH, Landaburu RH. Acceleration of thrombin activitywith Ac-globulin. Am J Physiol 1961;201:1142.

    26. Ratnoff OD, Holland TR. Coagulation components in normaland abnormal pregnancies. Ann NY Acad Sci 1959;75:626.

    27. Aggeler PM, Lucia SP. The potency of blood coagulationsubstances. Am J Med Sci 1940;199:81.

    28. Biggs R. Christmas disease: a condition previously mistakenfor haemophilia. BMJ 1952;2:1378.

    29. Rosenthal MC. Hemorrhage and thromboses associated withneoplastic disorders. J Chron Dis 1963;16:667.

    30. Tillet WS, Garner RL. Fibrinolytic activity of hemolyticstreptococci. J Exp Med 1933;58:485.

    31. Milstone HH. A factor in normal human blood withparticipates in streptococcal fibrinolysis. J Immun 1941;42:109.

    32. Kaplan MH. Nature and role of the lytic factor in hemolyticstreptococcal fibrinolysis. Proc Soc Exp Biol Med 1944;57:40.

    33. Christensen LR. Streptococcal fibrinolysis: proteolytic reactiondue to serum enzyme activated by streptococcal fibrinolysin.J Gen Physiol 1945;28:363.

    34. Zizek B, Poredos P, Videcnik V. Endothelial dysfunction inhypertensive patients and in normotensive offspring of subjectswith essential hypertension. Heart 2001;85:215-6.

    35. Poredos P. Endothelial dysfunction in the pathogenesis ofatherosclerosis. Int Angiol 2002;21:09-115.

    36. Kannel WB, Dawber TR, Kagan A, et al. Factors of risk in thedevelopment of coronary heart disease. Six-year follow-upexperience. The Framingham Study. Ann Inter Med1961;55:33-50.

    37. Danburn RY, Earlam F, Ewans WH. The relation of the bloodplatelets to thrombosis after operation and parturition. J PathBact 1928;31:833.

    38. Ditenfass L. Thixotropy of blood proneness to thrombusformation. Circulation Res 1962;11:233.

    39. Shater AI. The hypercoagulable states. Ann Intern Med1985;102:814-28.

    40. Shattil SJ, Anaya-Galindo R, Bennett J, et al. Platelethypersensitivity induced by cholesterol incorporation. J ClinInvest 1975;55:636-43.

    41. Pechet L, Alexander B. Increased clotting factors in pregnancy.N Engl J Med 1961;265:1093.

    42. Ratnoff OD, Botti RE. Blood coagulation and thrombosis: acritical review. In: Sasahara AA, Stein M, editors. Pulmonaryembolic disease. New York: Grune & Stratton; 1965. p. 23.

    43. Petterson CM, Jones RL, Koenig RJ, et al. Reversiblehematologic sequelae of diabetes mellitus. Ann Int Med1977;86:425-9.

    44. Eastham RD, Morgan EH. Plasma-fibrinogen levels incoronary-artery disease. Lancet 1963;2:1196.

    45. De Nicola P. Factor VII (SPCA). Its physiologic significance.Blood 1953;8:947.

    46. Olwin JH, Fahey JL. Ac globulin levels in thrombo-embolism.Ann Surg 1950;132:443.

    47. Wright HP. Changes in the adhesiveness of blood plateletsfollowing parturition and surgical operations. J Path Bact1942;54:461.

    48. Naeye RL. Thrombotic disorders with increased levels ofantiplasmin and antiplasminogen. N Engl J Med 1961;265:867.

    49. Egeberg O. Inherited antithrombin deficiency causingthrombophilia. Thromb Diath Haemorrh 1965;13:516-30.

    50. Browse NL, Gray L, Morland M. Esteroides anabolicos yenfermidad vascular. In: Greenhalgh RM. Hormonas yenfermidad vascular. Barcelona: Salvat Editores; 1985.

    51. Heather BP. Evaluacin preoperatoria del riesgo de aparicinde trombosis venosa profunda com la prueba de dilucin ensolucin salina. In: Greenhalgh RM. Hormonas y enfermidadvascular. Barcelona: Salvat Editores; 1985. p. 273.

    52. Jennings S, Cass AJ, Heather BP, Greenhalgh RM. Alteracionesde la coagulacin en la cirurgia mayor. Relacin con latrombosis venosa profunda postoperatoria. In: GreenhalghRM. Hormonas y enfermidad vascular. Barcelona: SalvatEditores; 1985.

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2 117

    53. Greenhalgh RM. Hemodilucion, hipercoagulabilidad ytrombosis venosa profunda. In: Greenhalgh RM. Hormonasy enfermidad vascular. Barcelona: Salvat Editores, 1985. p.265.

    54. Griffin JH, Evatt B, Zimmerman TS, Kleiss AJ, Wideman C.Deficiency of protein C in congenital thrombotic disease. JClin Invest 1981;68:1370-3.

    55. Carrell N, Gabriel DA, Blatt PM, et al. Hereditarydysfibrinogenemia in a patient with thrombotic disease. Blood1983;62;439-47.

    56. Towne JB, Bandyk DF, Hussey CV, et al. Abnormalplasminogen: A genetically determined cause ofhypercoagulability. J Vasc Surg 1984;1:896-902.

    57. Nilsson IM, Ljungneer H, Tengborn L. Two differentmechanisms in patients with venous thrombosis and defectivefibrinolysis: low concentration of plasminogen activatorinhibitor. BMJ 1985;290:1453-56.

    58. Dahlback B, Carlsson M, Svensson P. Familial thrombophiliadue to a previously unrecognized mechanism characterized bypoor anticoagulant response to activated protein C; predictionof a cofactor to activated protein C. Proc Natl Acad Sci USA1993;90:1004-08.

    59. Bertina RM, Koelemar BPC, Koster T, et al. Mutation inblood coagulation factor V associated with resistance toactivated protein C. Nature 1994;97:369;64-7.

    60. Williamson D, Brown K, Luddington R, Baglin C, Baglin T.Factor V Cambridge: a new mutation (Arg306-> Thr)associated with resistance to activated protein C. Blood1998;91:1140-4.

    61. Poort RS, Rosendaal FR, Reitsma PH, Bertina RM. A commongenetic variation in the 3-untranslated region of theprothrombin gene is associated with elevated plasmaprothrombin levels and an increase in venous thrombosis.Blood 1996;88:3698-703.

    62. Rosendaal FR. Venous thrombosis: a multicausal disease.Lancet 1999;353:1167-73.

    63. Adura M, Golin V. Patofisiologia da Hemostasia. In: DouglasCR. Patofisiologia Geral: Mecanismo da Doena. 1 ed. SoPaulo: Robe Editorial; 2000.

    64. Jastrzebska M, Foltynska A, Torbus-Lisiecka B, et al. Fibrinogenand von Willebrand factor levels in relation to lipid profile andblood pressure in children whose fathers have a history ofpremature myocardial infarction. Kardiologia Polska2002;56:488.

    65. Peyton BD, Cuttler BS, Stewart FM. Spontaneous tibialartery thrombosis associated with varicella pneumonia andfree protein S deficiency. J Vasc Surg 1998;27:563-7.

    66. Laffan MA, Bradshaw AE. Investigation of Haemostasis (Chap.16 and 18). In: Lewis SM. Practical Haematology. 8th ed.London: Churchill Livingstone; 1995.

    67. Eldrup-Jorgensen J, Flanigan DP, Brace L, et al.Hypercoagulable states and lower limb ischemia in youngadults. J Vasc Surg 1989;9(2):334-41.

    68. Horellou MH, Conard J, Bertina RM, Samama M. Congenitalprotein C deficiency and thrombotic disease in nine Frenchfamilies. BMJ 1984;289:1285-7.

    69. Dahlback B. Inherited thrombophilia: resistance to activatedprotein C as a pathogenetic factor of venous thromboembolism.Blood 1995;85:607-14.

    70. Desmarais S, de Moerloose P, Reber G, Minazio P, Perrier A,Bounameaux H. Resistance to activated protein C in anunselected population of patients with pulmonary embolism.Lancet 1996;347:1374-5.

    71. Ginsburg D. Molecular genetics of blood clotting. HowardHughes Medical Institute [site na Internet]. Disponvel em:http//www.hhmi.org/research/investigators/ginsburg.html.Acessado 10 de abril de 2003.

    72. Handin RI. Disorders of coagulation and thrombosis. In:Harrison. Principles of Internal Medicine. 15th ed. NewYork: McGraw-Hill; 2001. p. 745.

    73. Franco RF. Trombofilias hereditrias. In: Maffei FHA, editor.Doenas Vasculares Perifricas. 2 ed. Rio de Janeiro: Medsi;2002. p. 1837.

    74. Franco RF, Maffei FH, Loureno D, et al. Factor V Arg 306Thr [factor Cambridge] and factor V Arg 306>Gly mutationsin venous thrombotic diseases. Br J Haematol 1998;103:888-90.

    75. Maillard C, Berruyer M, Serre CM, Dechavanne M, DelmasPD. Protein-S, a vitamin K-dependent protein, is a bonematrix component synthesized and secreted by osteoblasts.Endocrinology 1992;130:1599-604.

    76. Wilkerson DK, Burrell L, Cisar LA, Graham AM, Kim H.Hereditary protein S deficiency in a large New Jersey kindred.J Vasc Surg 1993;18:932-8.

    77. Comp PC, Nixon RR, Cooper MR, Esmon CT. Familialprotein S deficiency is associated with recurrent thrombosis.J Clin Invest 1984;74:2082-8.

    78. Comp PC, Esmon CT. Recurrent venous thromboembolismin patients with a partial deficiency of protein S. N Engl J Med1984;311:1525-8.

    79. Comp PC, Doray D, Patton D, Esmon CT. An abnormalplasma distribution of protein S occurs in functional proteinS deficiency. Blood 1986;67:504-8.

    80. Comp C. Clinical implication of the protein C / protein Ssystem. Am N Y Acad Sci 1989;509:149-55.

    81. Engesser L, Broekmans AW, Briet E, Brommer EJ, BertinaRM. Hereditary protein S deficiency: clinical manifestation.Ann Int Med 1987;106:677-82.

    82. Ogston D, Bennet B. Blood Coagulation Mechanism. In:Poller L, editor. Recent Advances in Blood Coagulation.Edinburg: Churchill Livingstone; 1991.

    83. Salem HH. The natural anticoagulants. Clin Haematol1986;15:371.

    84. Karl R, Garlick I, Zarins C, Cheng E, Chediak J. Surgicalimplications of antithrombin III deficiency. Surgery1981;89:429-33.

    85. Sas G, Blasko G, Banhegyi D, Jako J, Palos LA. Abnormalantithrombin III (antithrombin III Budapest) as a cause offamilial thrombophilia. Thromb Diath Haemorrh1974;32:105-15.

    86. Marcinak E, Farley CH, Desimone PA. Familial thrombosisdue to antithrombin III deficiency. Blood 1974;43:219-31.

    87. Johnson AS, Guest MM. Dynamics of thrombus formationand dissolution. Philadelphia: JB Lippincott Company; 1969.

    88. Johnson EJ, Prentice CR, Parapia LA. Premature arterialdisease associated with familial antithrombin III deficiency.Thromb Haemost 1990;63:13-15.

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

  • 118 J Vasc Br 2003, Vol. 2, N2

    89. Towne BJ. Clinical Aspects of Hypercoagulable States -Protein C. J Vasc Surg 1990;12:205-7.

    90. Coller BS, Owen J, Jesty J, et al. Deficiency of plasma proteinS, protein C or antithrombin III and arterial thrombosis.Arteriosclerosis 1987;7:456-62.

    91. McCready RA, Vincent AE, Schwartz RW, Hyde GL,Mattingly SS, Griffen WO Jr. Atherosclerosis in the young:a virulent disease. Surgery 1984;96:863-8.

    92. Figueiredo MS. Trombose Venosa: Conceitos Atuais. Centrode Medicina Diagnstica Fleury [site na Internet]. Disponvelem: http://www.fleury.com.br/medico/mdcont26.htm.Acessado 10 de abril de 2003.

    93. Jacobsen DW. Clinical Chemistry 1998;44:1833.94. Ginsberg JS, Wells PS, Brill-Edwards P, et al.

    Antiphospholipid antibodies and venous thromboembolism.Blood 1995;86:3685-91.

    95. Galli M, Comfurius P, Massen C, et al. Anticardiolipinantibodies directed not to cardiolipin but to a plasma proteincofactor. Lancet 1990;355:1544-7.

    96. McNeil HP, Simpson J, Chesterman CN, et al.Antiphospholipid antibodies are directed against a complexantigen that includes a lipid-binding inhibitor of coagulation:beta-2-glycoprotein I [apolipoprotein H]. Proc Nat Acad SciUSA 1990;87:4120-24.

    97. Mannucci PM. Congenital plasminogen deficiency associatedwith venous thromboembolism: therapeutic trial withstanozolol. Br J Haematol 1986;63:753.

    98. Dacie JV, Lewis SM. Practical Haematology. London:Churchill Livingstone; 1995.

    99. Glueck CJ, Glueck HI, Welch M, et al. Familial idiopathicosteonecrosis mediated by familial hypofibrinolysis withhigh levels of plasminogen activator inhibitor. ThrombHaemost 1994;71:195-98.

    100. Glueck CJ, Phillips D, Cameron P, et al. The 4G/5Gpolymorphism of the hypofibrinolytic plasminogen activatorinhibitor type I gene: An independent risk factor for seriouspregnancy complications. Metabolism 2000;49:845-52.

    101. DAmico EAD, Villaa PR. Patofisiologia da Trombose. In:Douglas CR. Patofisiologia Geral. 1 ed. So Paulo: RobeEditorial; 2000.

    102. Spivak JL. Polycythemie vera and other myeloproliferativediseases. In: Braunwald E, Fauci AS, Kasper DL, Hauser LS,Longo DL, Jameson JL, editors. Harrisons Principles ofInternal Medicine. 15th ed. New York: McGraw-Hill; 2001.p. 701.

    103. Bastos M, Clapauch SH. Trombofilias. In: Brito CJ. CirurgiaVascular.Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p. 1135.

    104. Meijers DC, Tekelenburg WL, Bouma BN, et al. High levelsof coagulation factor XI as a risk factor for venous thrombosis.N Engl J Med 2000;342:696-701.

    105. Catto AJ, Kohler HP, Coore J, et al. Association of a commonpolymorphism in the factor XIII gene with venous thrombosis.Blood 1999;93:906-8.

    106. Franco RF, Reistsman PH, Loureno D, et al. Factor XIIIVal34Leu is a genetic factor involved in the etiology of venousthrombosis. Thromb Haemost 1999;81:876-79.

    107. Moake JL, McPherson PD. von Willebrand Factor inthrombotic thrombocytopenic purpura and the hemolytic-uremic syndrome. Trans Med Ver 1990;4:163-8.

    108. Moake JL, Rudy CK, Troll JH, et al. Unusually large plasmafactor VIII: von Willebrand factor multimers in chronicrelapsing thrombotic thrombocytopenic purpura. N Engl JMed 1982;307:1432-5.

    109. Furlan M, Robles R, Solenthaler M, et al. Deficient activityof von Willebrand factor-cleaving protease in chronic relapsingthrombotic thrombocytopenic purpura. Blood 1997;89:3097-103.

    Correspondncia:Dr. Fernando Luiz Vieira DuqueRua Sorocaba, 464/201CEP 22271-110 - Rio de Janeiro - RJTel.: (21) 2246.5431

    Trombognese - Trombofilia Duque FLV et alii

    Futuras publicaesEm breve ser publicado no J Vasc BR um simpsio sobre Responsabilidade Civil

    sob a coordenao do Prof. Jorge R.R. Timi.

    Outro tema de grande importncia, O Ensino da Especialidade no Brasil,ser tambm abordado nesta publicao,

    atravs de um simpsio coordenado pelo Prof. Emil Burihan.