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Título da produção : Evolução Educacional a partir da Inclusão Digital Proposta Pedagógica : A partir dos aplicativos educativos oferecidos, podemos propor atividades diferenciadas que possibilitem maior facilidade de aprendizados prazerosos no cotidiano dos alunos da inclusão; as ferramentas oferecidas nos proporcionam rica diversidade de imagens, cores, formas, volumes, texturas, planos, etc., o que chama a atenção dos olhos que em certos momentos não focam determinadas situações. Com este mundo novo sendo apresentado, com estes novos desafios, a atenção é voltada de modo direto à atividade que está sendo realizada, o que ajuda muito na educação dos alunos, pois podemos verbalizar enquanto “brincam” com as imagens, formas, buscando fazer com que as crianças possam relacionar as imagens com os sons das letras/palavras. Com isto, a comunicação amplia-se de maneira a favorecer o processo educativo. Local : EMEI Jardim de Praça Cirandinha Estagiária : Débora Schwarthaupt Eugênio (3º Semestre Pedagogia UFRGS, membro no projeto “Apoio á Inclusão” da PMPA. Aluno : Dario Welp Iranzo Idade : 6 anos. Trilhando novos horizontes No início de meu estágio na EMEI JP Cirandinha, fui informada de que Dario, um aluno muito especial, diagnosticado com autismo aos três anos de idade, ainda não tinha nenhuma proximidade com o computador, nenhum domínio do mouse; só sabia rolar a “bolinha” do mouse (scroll ball). A partir disto, dedicamo-nos a tentar ensiná-lo, primeiramente, a mexer no mesmo para os lados. Naturalmente apresentou certa resistência por conta do espectro de autismo, mas quando apresentei a ele um dos jogos do GCompris, em especial um aplicativo que escondia as imagens de animais diversos com quadrados, onde Dario deveria passar a seta do mouse sobre eles para que a imagem pudesse ser vista, Dario foi aprendendo a utilizar o mouse em relação à movimentação deste. Notei que ele ficava muito chateado quando não conseguia ver a imagem por completo, e realizava um esforço significativo para “dar conta” de fazer sumir todos aqueles quadrados, e foi assim que atualmente, Dario manipula o mouse com facilidade. Nosso segundo passo, foi ensiná-lo a clicar, para isso, utilizamos um dos jogos educativos, também do GCompris, onde Dario deveria clicar para que a imagem fosse aparecendo, o mesmo processo que o anterior, com isto, ele parecia entender, que para ver a imagem por completo, deveria fazer desaparecer de alguma maneira o que estava a esconder as imagens, e com esta vontade, conseguimos ter mais facilidade para ensiná-lo a clicar com o dedo indicador. O processo foi este: com delicadeza, friccionava o dedo indicador de Dario no botão esquerdo do mouse. Assim que ele aprendeu a movimentar e a clicar sozinho, começou a navegar com muita esperteza e tranquilidade no computador, podendo acessar os jogos que ele queria, acessando inclusive, o site do youtube.com, onde assiste desenhos animados e escuta músicas de seu gosto, aumentando a tela de exibição, o volume, voltando a página da internet, acelerando os vídeos para a parte que mais gosta. Esta aprendizagem de Dario impressionou-nos

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Título da produção: Evolução Educacional a partir da Inclusão Digital

Proposta Pedagógica: A partir dos aplicativos educativos oferecidos, podemos propor atividades

diferenciadas que possibilitem maior facilidade de aprendizados prazerosos no cotidiano dos

alunos da inclusão; as ferramentas oferecidas nos proporcionam rica diversidade de imagens,

cores, formas, volumes, texturas, planos, etc., o que chama a atenção dos olhos que em certos

momentos não focam determinadas situações. Com este mundo novo sendo apresentado, com

estes novos desafios, a atenção é voltada de modo direto à atividade que está sendo realizada, o

que ajuda muito na educação dos alunos, pois podemos verbalizar enquanto “brincam” com as

imagens, formas, buscando fazer com que as crianças possam relacionar as imagens com os

sons das letras/palavras. Com isto, a comunicação amplia-se de maneira a favorecer o processo

educativo.

Local: EMEI Jardim de Praça Cirandinha

Estagiária: Débora Schwarthaupt Eugênio (3º Semestre Pedagogia UFRGS, membro no projeto “Apoio á Inclusão” da PMPA.

Aluno: Dario Welp Iranzo

Idade: 6 anos.

Trilhando novos horizontes

No início de meu estágio na EMEI JP Cirandinha, fui informada de que Dario, um aluno muito especial, diagnosticado com autismo aos três anos de idade, ainda não tinha nenhuma proximidade com o computador, nenhum domínio do mouse; só sabia rolar a “bolinha” do mouse (scroll ball). A partir disto, dedicamo-nos a tentar ensiná-lo, primeiramente, a mexer no mesmo para os lados. Naturalmente apresentou certa resistência por conta do espectro de autismo, mas quando apresentei a ele um dos jogos do GCompris, em especial um aplicativo que escondia as imagens de animais diversos com quadrados, onde Dario deveria passar a seta do mouse sobre eles para que a imagem pudesse ser vista, Dario foi aprendendo a utilizar o mouse em relação à movimentação deste. Notei que ele ficava muito chateado quando não conseguia ver a imagem por completo, e realizava um esforço significativo para “dar conta” de fazer sumir todos aqueles quadrados, e foi assim que atualmente, Dario manipula o mouse com facilidade.

Nosso segundo passo, foi ensiná-lo a clicar, para isso, utilizamos um dos jogos educativos, também do GCompris, onde Dario deveria clicar para que a imagem fosse aparecendo, o mesmo processo que o anterior, com isto, ele parecia entender, que para ver a imagem por completo, deveria fazer desaparecer de alguma maneira o que estava a esconder as imagens, e com esta vontade, conseguimos ter mais facilidade para ensiná-lo a clicar com o dedo indicador. O processo foi este: com delicadeza, friccionava o dedo indicador de Dario no botão esquerdo do mouse. Assim que ele aprendeu a movimentar e a clicar sozinho, começou a navegar com muita esperteza e tranquilidade no computador, podendo acessar os jogos que ele queria, acessando inclusive, o site do youtube.com, onde assiste desenhos animados e escuta músicas de seu gosto, aumentando a tela de exibição, o volume, voltando a página da internet, acelerando os vídeos para a parte que mais gosta. Esta aprendizagem de Dario impressionou-nos

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muito, a todos da nossa escola, inclusive a família de Dario aderiu a estes aplicativos em casa e pode nos relatar que utilizava-os com frequência, demonstrando maior interesse e progresso em sua aprendizagem. Seus pais ficaram muito orgulhosos e contentes.

Hoje há um aplicativo que Dario gosta muito, chamado Tux Paint, ele mesmo acessa o jogo. Quando apresentamos a ele este aplicativo, tive de, com calma, mostrar-lhe todos os carimbos, cores, formas, “mágicas”... No início, pegava a mão da educadora que se encontrava mais próxima a ele e colocava sobre o mouse para fazer para ele, pois gostava muito de ver os desenhos, em especial os de flores e animais. Um exemplo interessante e que ilustra bem estas situações, é o relato da Professora Paula Lovato sobre o quanto ela se surpreendeu no inicio, quando ao ligar o computador, deixou-o carregando e foi atender outro aluno e, Dario, ao ver a solicitação de senha, foi até a professora, pegou a mão dela, levando-a até o mouse, emitindo sons específicos. (Pois Dario não fala). Com o tempo, Dario evoluiu muito, hoje consegue manusear sozinho, escolhe seus carimbos, cores, tamanhos. Durante o uso, Dario expressa entendimento a cerca do que faz, observando cada imagem e cor, aumentando o tamanho das imagens, diminuindo, de acordo com seu interesse.

A contribuição que Cristina Santos nos trouxe com estes aplicativos foi imensa, pois estes facilitaram muito na comunicação e educação de Dario, pois pudemos ensiná-lo como usar outras ferramentas, a poder buscar aquilo que deseja de modo independente. Outro aspecto muito importante é o de podermos verbalizar o nome de cada imagem que ele escolhe, acelerando o processo de alfabetização indireta, com isto, a comunicação tem suas fronteiras rompidas, pois podemos unir sua vontade de aprender e a alegria de estar fazendo o que gosta. Hoje, ao clicar algumas imagens, como a maça, por exemplo, emite o som: “ma”, e logo afirmamos “Maça! Muito bem!”. E assim, aos poucos, podemos notar grandes evoluções e aprendizados deste aluno em nossa escola.

Dario em seus primeiros contatos com a tecnologia

04/04/2012

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06/06/2012

Dario realizando atividades educativas sem apoio tecnológico

Estas imagens ilustram que mesmo Dario conhecendo a tecnologia, mesmo gostando muito de interagir com os aplicativos, não deixou de ter interesse em realizar os trabalhos manuais com matérias diferenciados; Dario não deixou de ter interesse em realizar todas as atividades propostas, buscou sempre tentar fazê-las do seu modo, sem evitar materiais utilizados antes do uso da tecnologia.

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A continuidade do trabalho

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Alguns trabalhos feitos pelo Dario utilizando o Tux Paint

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Os efeitos do uso desta ferramenta pedagógica de trabalho no cotidiano escolar e na vida do Dario, se fez sentir notavelmente em sua questão afetiva e emocional, que por vezes, era um tanto arredio, impaciente, até mesmo, em alguns momentos, aparentemente agressivo, hoje percebe-se, notadamente, uma mudança significativa no desenvolvimento emocional, pois com o amor, a atenção, o carinho dedicados a ele, juntamente com suas descobertas, tem-se nítida impressão que é uma outra criança, uma criança muito mais participativa, alegre e afetuosa com todos nós.

Inclusive, temos um relato da estagiária, Bianca Moreira, que, juntamente com a assessora de inclusão digital, Cristina Santos, no início do ano, conta sobre o Dario, ao passar pela Cristina na sala da direção, que por sua vez encontrava-se no computador, se aproximou e Cristina resolveu colocar o aplicativo Gcompris a fim de ver sua reação, ela se surpreendeu pois ele colocou a mão dele sobre a dela e demostrou que queria “ver como era aquilo”. No momento posterior, ele saiu de perto e depois voltou, só que neste momento, Cristina aproveitou e disse para ele: “Para jogar de novo, só sentando no meu colo”- e bateu nas suas pernas. Ao lembrar deste fato que relato neste texto, não tenho como deixar de referir a expressão manifestada pela assessora quando lembrou da história e comentou: “Foi neste momento que eu me apaixonei!”.

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Acreditamos que esta ampliação de comunicação com Dario ajudou muito nos relacionamentos dentro da escola, pois antes de apresentarmos estas ferramentas á ele, Dario não costumava ter contato com nossa equipe da escola, mas nos dias de hoje, recebe nossa Diretora Adriana Gimenes com um abraço cheio de carinho, muitas vezes procurando-a para lhe demonstrar este afeto. Dario tem uma boa relação com todos da escola, atende aos chamados de seu nome, quando antes o ignorava. Hoje, leva seu biscoito e suco até a nossa cozinheira, carinhosamente chamada de Terezinha, esta fica muito feliz e logo pede o “seu abraço do dia”; também há uma relação afetiva com nossa funcionária de serviços gerais, Rita, para a qual ele abana para dar oi e pede (com gestos) para fazer cócegas. Estas relações foram se fortalecendo á medida que apresentávamos estes aplicativos, acreditamos que Dario ficou muito feliz por poder expressar-se de outra maneira na escola, ficando mais seguro para aproximar-se de todos, pois percebeu que sempre estávamos lá para ajudá-lo.

Enfim, é muito bom ter estes programas que nos dão apoio no dia a dia escolar. E é muito gratificante saber que não só o Dario, mas também outras crianças estão aprendendo com este apoio tecnológico.

“O autismo nos fascina porque supõe um desafio para algumas de nossas motivações mais fundamentais como seres humanos; pois as necessidades de compreender os outros,

compartilhar mundos mentais e de nos relacionarmos são muito próximos de nossa espécie.” (RIVIÉRE 2004, p. 234).

REFERÊNCIAS

• RIVIÉRE, Ángel. O autismo e os transtornos globais do desenvolvimento. In COLL, MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús (orgs). Desenvolvimento psicológico e educação: Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Artemed, Porto Alegre, 2004.

• AMORIM, Letícia Calmon. Uma conversa sobre autismo.

http://www.ama.org.br/site/pt/centro-de-conhecimento/artigos.html

último acesso em 20/11/12 ás 16:49 min.

• MARTINS, Magno. Inclusão e Exclusão Digital – Dois lados de uma mesma moeda no Brasil e no mundo.

http://inclusao.ibict.br/index.php/biblioteca-de-id?sobi2Task=sobi2Details&catid=3&sobi2Id=333

último acesso em 20/11/12 ás 17:15min.