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  • Cadernos do Logepa Joo Pessoa Vol.2, n.1 Jan/Jun-2003 p. 28-34

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    O USO DE TRILHAS DE ORIENTAO NO ENSINO DA CARTOGRAFIA: O RELATO DE UMA EXPERINCIA

    Valria Raquel P. de Lima; Jorge Flvio C. B. da Costa Silva Fabiano Silva de Lima; Joseane Nazaro de Brito (Acadmicos do Curso de Geografia e

    Estagirios do LEPAN) Pedro C. G. Vianna (Professor Dr. do Depto. de Geocincias e do PPGG da UFPB)

    RESUMO: Este trabalho corresponde ao relato de uma experincia prtica sobre a importncia das aulas de campo para a compreenso e interpretao de cartas. Busca tambm demonstrar a necessidade de se integrar os conhecimentos tericos e tcnicos com uma prtica ldica. O uso de trilhas de orientao, adaptadas como aulas de campo para auxiliar a aprendizagem da cartografia, neste caso foi fruto tambm da procura de alternativas para a efetiva compreenso dos alunos dos diversos conceitos bsicos de cartografia, sobretudo aqueles ligados a altimetria.

    I. INTRODUO

    Este trabalho corresponde ao relato de uma experincia prtica sobre a

    importncia das aulas de campo para a compreenso e interpretao de cartas. Busca

    tambm demonstrar a necessidade de se integrar os conhecimentos tericos e tcnicos

    com uma prtica ldica. O uso de trilhas de orientao, adaptadas como aulas de campo

    para auxiliar a aprendizagem da cartografia, neste caso foi fruto tambm da procura de

    alternativas para a efetiva compreenso dos alunos dos diversos conceitos bsicos de

    cartografia, sobretudo aqueles ligados a altimetria.

    O objetivo principal foi, atravs de um exerccio simples, utilizar e articular

    dados de altimetria e planimetria, aplicando-os ao longo do percurso de uma trilha de

    orientao. Em segundo plano, objetivou-se o desenvolvimento do sentido de orientao

    no campo, com o uso de carta bsica e bssola e o reconhecimento de formas e

    elementos presentes no terreno e representados nas cartas.

    2. MATERIAIS E MTODOS

    Na fase da montagem do percurso da aula prtica, usou-se:

    Carta Bsica na escala 1:25.000 produzida pelo DSG; Bssola; GPS; Latas e estacas para sinalizao; Garrafas plsticas coloridas; Binculos.

    Na aula prtica os alunos utilizaram:

    Cpia ampliada da carta referente rea escolhida; Bssola. Inicialmente em aulas tericas foram apresentados e discutidos os conceitos

    bsicos de escala e orientao. Foram tambm realizados exerccios prticos para dar ao

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    aluno noes de localizao dos pontos e de distncia. Nesta fase, o conjunto dos

    estudantes foi dividido em grupos para a prtica de exerccios de orientao, utilizao

    de bssola, correo da declinao magntica e noes de distncia com a utilizao dos

    prprios passos. Esses exerccios foram realizados de dia e noite, dentro do Campus I

    da UFPB, com roteiros pr-definidos contendo: sentido, direo e pontos determinados

    para que os alunos pudessem se familiarizar com a bssola e se orientassem atravs da

    mesma.

    Com a idia de consolidar o aprendizado dos temas abordados na sala de aula e

    exercitados no Campus, foi escolhida uma rea dentro de um assentamento rural, o de

    Dona Antnia, situado no municpio do Conde, Litoral Paraibano. Esta escolha teve

    como pr-requisito a sua incluso na Carta Topogrfica de Jacum (SB.25-Y-C-III-3-

    NE), que estava sendo utilizada para todos os exerccio prticos da disciplina como:

    clculo de distncias, prticas com altimetria, declividade, perfis topogrficos, clculo

    de coordenadas, entre outros.

    Aps a escolha do local para os exerccios, os pontos de controle foram

    identificados no campo e suas coordenadas anotadas na carta com o auxilio do GPS.

    Tomou-se o cuidado para que as distncias entre os pontos no fossem superior 1.000

    metros, sendo que o percurso total foi de aproximadamente 3.000 metros, podendo ser

    realizado p em menos de 90 minutos.

    Como materiais foram utilizadas latas de metal de 20 litros, cheias de areia, nas

    quais estavam cravadas estacas de 1,5 metros, com um plstico branco na extremidade

    superior. Na base da lata foram colocadas quatro garrafas plsticas de 330 ml, de cores

    diferentes, uma para cada grupo de alunos. Os pontos eram de fcil acesso, porm sua

    visibilidade somente era possvel quando o observador estava prximo.

    Terminada esta primeira etapa, foram confeccionados roteiros diferentes, de

    maneira a que todos os grupos passassem pelos cinco pontos, porm em ordem

    diferente. Posteriormente, foram elaboradas cpias ampliadas da carta local, onde estava

    localizada a rea definida e marcados os pontos de passagem, nos quais os alunos teriam

    que passar e recolher as garrafas correspondentes cor do seu grupo. Nestas cartas o

    traado da drenagem foi reforado com hidrocor azul, pois as fotocpias eram em preto

    e branco e esperava-se que a drenagem fosse um objeto geogrfico de fundamental

    importncia na orientao e no traado dos roteiros elaborados por cada grupo.

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    Como a disciplina foi ministrada para duas turmas, uma noturna e outra diurna e

    na turma da noite predominavam alunos que trabalham durante o dia, escolheu-se para

    esta turma um sbado para realizar a atividade. J para a turma diurna realizou-se a

    prtica durante a semana, em perodo normal de aula, sempre pela manh, onde o calor

    e o sol so menos intensos na regio.

    Os alunos foram levados ao campo, onde foram divididos em grupos de cinco

    identificados pr cores diferentes, receberam as cpias da carta com os roteiros, a

    bssola e saram em busca dos pontos indicados nas cartas (Foto 1). Cada grupo teve o

    acompanhamento de um adolescente da comunidade de assentados, conhecedor da rea,

    que tinha a funo de auxiliar em alguma eventualidade no trajeto, como a presena de

    animais ou mesmo um desvio de rota muito grande. Neste caso, o jovem estava

    instrudo para reconduzir o grupo ao ponto de partida.

    Foto 1 Alunos procura dos pontos

    Desta forma, os alunos deveriam percorrer o roteiro, atravs dos cinco pontos

    plotados na carta, orientando a carta, estimando distncias, altitudes e direes.

    3. ANLISE DOS RESULTADOS

    Com este exerccio simples e de fcil realizao, conseguiu-se demonstrar em

    campo, diversos aspectos fundamentais da Leitura e Interpretao de Cartas

    anteriormente apresentados em sala de aula. Na prtica, os grupos no encontraram

    grandes dificuldades, fazendo at com que fosse dispensvel o uso da bssola durante o

    percurso, utilizando-a apenas para a orientao inicial da carta.

    Devido falta de atualizao da carta utilizada, datada em 1972, algumas

    modificaes foram encontradas no relevo, como pr exemplo, uma eroso de grande

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    porte, tipo vossoroca, no mapeada na carta, mas presente no terreno (Foto 2). Esta

    situao fez com que um dos grupos tivesse problemas para encontrar um dos pontos.

    Pr outro lado o exerccio demonstrou aos alunos a necessidade de atualizao das

    cartas, no apenas no aspecto do uso do solo, facilmente observvel, mas tambm do

    relevo em escala detalhada, pois se tem como paradigma que este aspecto do quadro

    fsico seja estvel em seus grandes traos. Isso ajudou os alunos a entenderem que a

    dinmica geomorfolgica na regio litornea da Paraba extremamente ativa, podendo

    produzir ravinamentos e alteraes do relevo de grande impacto.

    Foto 2 Eroso presente no trecho, no representada na carta geogrfica

    Outro aspecto observado que o prprio assentamento e sua agrovila, no

    aparecem na carta, pois sua instalao data de 1997. Assim, uma propriedade de grande

    porte, com mais de 1.000 hectares passou a se constituir em um assentamento com 110

    lotes familiares em mdia de 7 hectares e uma rea comum, inclusive uma reserva

    florestal, com aproximadamente 300 hectares.

    Desta forma, os alunos puderam observar no campo o que significa o impacto na

    ocupao do solo de um projeto de reforma agrria. Neste aspecto ainda, relevante

    salientar, que ao entrar no assentamento a liderana local fez uma breve exposio da

    histria desta transformao do espao agrrio no local.

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    Em reunio de avaliao realizada algum tempo aps o exerccio, os alunos

    apresentaram os seguintes aspectos como os mais relevantes na compreenso do espao

    local:

    - Mudana do quadro fsico (eroso)

    - Facilidade na compreenso da altimetria

    - Importncia da atualizao dos dados e informaes do uso do solo

    - Melhor compreenso da noo de escala e da relao carta X terreno

    - Entendimento da diferena entre a distncia na carta e acessibilidade no terreno

    - O uso da bssola para orientao foi considerado irrelevante.

    CONCLUSO

    Com essa experincia, os alunos puderam ver e sentir concretamente o que

    estar em um lugar desconhecido, com relevo acidentado e a grande utilidade que tem

    uma boa leitura da carta geogrfica, desde que corretamente orientada para a obteno

    de roteiros apropriados.

    Outro fator importante foi o empenho e a vontade de acertar dos alunos, que

    foram motivados pela necessidade de vencer desafios, em uma rea desconhecida, alm

    da necessidade de pensar, decidir e agir em grupo.

    Em resumo, esta experincia teve sua validade, tanto na elaborao como na

    execuo do exerccio, acarretando melhor conhecimento e colocando em prtica partes

    importantes dos contedos vistos em sala de aula.

    Como sugesto dos alunos, na prxima experincia, devero ser apresentados

    nveis de dificuldade maiores, entre eles o fornecimento aos estudantes apenas da

    direo e da distncia entre os pontos, portanto sem a cpia da carta, tornando o uso da

    bssola e das coordenadas geogrficas mais necessrias.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BOCHICHIO, Vincenzo Raffaele, Atlas Atual Geografia Livro do Professor. Ed. Atual, So Paulo SP, 50p, 1997.

    BRASIL. MINISTERIO DO EXERCITO. Manual de convenes cartogrficas. Ed. Servio Geogrfico do Exercito, Rio de Janeiro,125p, 1966.

    BRASIL. MINISTERIO DO EXERCITO. Manual de Campanha Leitura de Cartas e Fotos Areas. Ed. Servio Geogrfico do Exercito, Segunda Edio, Rio de Janeiro,125p, 1980.

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    GRANEL-PEREZ, Maria del Carmen, Trabalhando Geografia com Cartas Topogrficas. Ed. Omega, Iju RS, 127p, 2001.

    JOLY, Fernand, A Cartografia, Ed. Papirus, Campinas SP, 136p, 1990. LACOSTE, Y. A. Geografia isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Ed. Papirus, Campinas, 263p, 1988.

    OLIVEIRA, Curio de, Curso de Cartografia Moderna. Ed. IBGE, Rio de Janeiro RJ, 125p, 1988.

    RAIZ, Erwin. Cartografia Geral. Ed. Cientifica, Rio de Janeiro RJ, 414p, 1969.

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