tribunal de justiÇa poder judiciÁrio são paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro...

24
TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2012.0000471578 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 9133918- 11.2004.8.26.0000, da Comarca de Ribeirão Preto, em que são apelantes MINISTERIO PUBLICO e ADRIANO COSELLI S A COMERCIO E IMPORTAÇAO, são apelados ADRIANO COSELLI S A COMERCIO E IMPORTAÇAO e MINISTERIO PUBLICO. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente), ELCIO TRUJILLO E CESAR CIAMPOLINI. São Paulo, 11 de setembro de 2012. João Carlos Saletti RELATOR Assinatura Eletrônica Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9133918-11.2004.8.26.0000 e o código RI000000EZSGS. Este documento foi assinado digitalmente por JOAO CARLOS SALETTI. fls. 1

Upload: others

Post on 11-Nov-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

Registro: 2012.0000471578

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000, da Comarca de Ribeirão Preto, em que são apelantes MINISTERIO PUBLICO e ADRIANO COSELLI S A COMERCIO E IMPORTAÇAO, são apelados ADRIANO COSELLI S A COMERCIO E IMPORTAÇAO e MINISTERIO PUBLICO.

ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente), ELCIO TRUJILLO E CESAR CIAMPOLINI.

São Paulo, 11 de setembro de 2012.

João Carlos SalettiRELATOR

Assinatura Eletrônica

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 1

Page 2: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

2

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

APELAÇÃO CÍVEL nº 9133918-11.2004.8.26.0000

COMARCA - RIBEIRÃO PRETO11º Ofício, Processo nº 3522/2000APELANTES eAPELADOS - MINISTÉRIO PÚBLICO e ADRIANO COSELLI S.A.

COMÉRCIO E IMPORTAÇÃO

VOTO Nº 18.153

RECURSO Resposta pelo Ministério Público Termo inicial do prazo situado na data de entrega dos autos na secretaria do órgão Processo enviado com apenas dois dos volumes dos autos Insuficiência Reentrega do feito, com todos os volumes Termo inicial que recai nessa entrega, e não na primeira Resposta à apelação ofertada no prazo legal Agravo retido que busca a declaração de intempestividade, não provido.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA Interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido Configuração Pedidos de imposição de preceito cominatório ligado a obrigação de não fazer e de indenização destinada a ressarcir consumidores potencialmente lesados por exposição de sua saúde a perigo por práticas abusivas Pedidos, ademais, albergados pelo sistema jurídico em vigor Condições da ação, presentes Preliminares de carência, rejeitadas Decisão mantida Agravo retido não provido.

INQUÉRITO CIVIL Alegação de não obediência ao contraditório Réus que se fizeram representar no procedimento, participando de todas as suas fases Inocorrência de vício, portanto Procedimento prévio não revestido de forma legal, e que tem caráter meramente apuratório no âmbito do Ministério Público Elementos, ademais, submetidos ao contraditório e à

ampla defesa, no processo judicial Preliminar improcedente Decisão mantida Agravo retido não provido.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA Imposição de obrigação de não fazer, sob cominação de multa, e indenização por danos morais difusos Desrespeito à saúde e dignidade do consumidor Direitos difusos Reprocessamento

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 2

Page 3: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

3

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

ilegal de produtos impróprios para consumo (por empresa comerciante de alimentos), troca de etiquetas originais por novas, com adulteração do prazo de validade, e descumprimento de normas de higiene relacionadas à limpeza e armazenamento de produtos alimentícios Produtos apreendidos e analisados Conduta comprovada Imposição de obrigação de não fazer e de indenização, devidos Inteligência e aplicação do art. 6º, I, do CDC Não majoração, entretanto, do quantum indenizatório Sentença mantida.

Agravos retidos e apelações não providos.

A r. sentença de fls. 1755/1794 julgou procedente ação civil pública movida pelo Ministério Público, para condenar a empresa ré a pagar indenização pelos danos morais difusos causados no valor de R$ 1.000.000,00, atualizável até a data do efetivo pagamento e recolhido ao fundo estadual de reparação de interesses difusos lesados, bem como multa cominatória de R$ 100.000,00 em caso de descumprimento de qualquer das obrigações de não-fazer impostas. Opostos pela ré, os embargos declaratórios (fls. 1797/1800, numeração corrigida) foram rejeitados (fls. 1801).

Apelam ambas as partes.

O Ministério Público (fls. 1803/1813; antes, 2003/2013), pleiteando, em síntese, a majoração da condenação imposta para R$ 5.420.000,00, resultante do cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado e fraudado, bem como para desestimular a prática inescrupulosa e gananciosa da ré, que buscava o enriquecimento ilícito em detrimento da saúde pública e da dignidade humana.

A ré, de sua vez (fls. 1816/1881; antes, 2016/2081), alega, em longas razões, o seguinte: a) reitera a apreciação do agravo retido interposto (fls. 1459/1480) contra a r. decisão que rejeitou preliminar de impossibilidade jurídica do pedido de indenização e de cominação de obrigação de fazer, como também de ausência de interesse de agir, assim como afastou a arguição de inexistência do contraditório no inquérito civil; b) não ter restado comprovada a prática das atividades mencionadas na inicial pela empresa ré, uma vez que, no momento da busca e apreensão (26.2.2000, sábado) na empresa Pleopack, ninguém foi visto trabalhando no local, bem como não foi coletada nenhuma amostra das mercadorias para exame de laboratório; c) as amostras foram coletadas após 3 dias da lacração do estabelecimento comercial (o bacalhau ficou por 3 dias acondicionado em local “super quente”), de modo que não há a mínima possibilidade de, cientificamente, constatar o estado da mercadoria no dia em que foi apreendida; d) o laudo pericial apresenta irregularidade flagrante, não está datado, bem como os peritos não

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 3

Page 4: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

4

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

estiveram no local no momento da apreensão, tendo elaborado o laudo dois dias depois; e) o servidor Sérgio, um dos subscritores do laudo, afirmou contraditoriamente ter participado da busca, tendo afirmado que a mercadoria saiu de Ribeirão Preto deteriorada; ao mesmo tempo, respondeu não à pergunta de não ter sido colhida amostra de bacalhau naquele dia (fls. 2028); f) a Vigilância Sanitária Municipal é incompetente para fiscalizar a mercadoria de origem animal, e seu relatório também não está datado, parecendo faltar folhas; aliás, sequer esteve lá no dia da autuação; g) a Coselli, em contato direto com o exportador da Noruega, soube por ele do erro operacional ocorrido ao estipular prazo de validade do bacalhau em um ano, de maneira que se fez necessária a emissão de novas etiquetas com novo prazo de validade, revisão e seleção do bacalhau; h) devido a problemas decorrentes da entrega, as mercadorias eram revisadas, selecionadas, fracionadas e embaladas em outra empresa prestadora de serviços (Pleopack, em Cravinhos); i) o autor não provou sua alegação de que a finalidade dos produtos, por estarem na Pleopack, era ilícita ou irregular; j) os produtos separados pela empresa terceirizada sequer foram descartados em razão da lacração operada pelas autoridades competentes; k) não pode a mercadoria que não foi periciada no dia da apreensão ser considerada imprópria tão-somente pelo escoamento do prazo tido como de validade da etiqueta; l) o bacalhau apreendido em Ribeirão Preto, na sede da empresa Coselli, com o rótulo “para selecionar”, ainda seria encaminhado à Pleopack para seleção; quanto aos apreendidos na Confrio (em Bebedouro), não houve laudo que os declarasse impróprios; m) o Ministério Público não conseguiu provar qualquer reclamação de consumidor sobre a qualidade do bacalhau e qualquer outro produto distribuído pela Coselli (abacaxis em calda, uvas passas, azeitonas e etc.), nem que tais produtos foram adulterados, deteriorados e maquilados com prazo de validade vencido; n) a amostra de bacalhau existente no Supermercado Fatura foi recolhida depois de decorrido um mês de sua saída/venda; o) a Vigilância Sanitária Municipal sugeriu contratação, pela própria empresa, de profissional para fins de inutilização de alimentos quando estes estivessem impróprios para o consumo; p) não poder ser responsabilizada pelo eventual problema existente nas mercadorias, tendo em vista serem provenientes de fabricantes estrangeiros; q) como não houve reclamação de consumidor nem prova de que o bacalhau encontrado fosse destinado a comercialização, não se configurou repercussão para fins de dano moral difuso, sendo certo que o dano hipotético não é indenizável; r) o dano causado à empresa foi enorme, com redução de 500 para 46 funcionários, frota de veículos e redução do faturamento de 194 milhões para 42 milhões de reais; s) desarrazoada, estrondosa e olímpica a pretensão inicial de indenização milionária de R$ 5.400.000,00.

Requer, portanto, seja extinto o processo, com base no art. 267, VI, do CPC ou o provimento do recurso para ser a ação julgada improcedente.

As partes responderam às fls. 1894/1912 e 1914/1925 (antes 2115/2136 e 2095/2113).

A ré peticionou requerendo fosse declarada intempestiva a resposta do Ministério Público à sua apelação e pediu fosse ela desentranhada dos autos (fls.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 4

Page 5: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

5

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

1937/1941). Da decisão que considerou tempestiva essa resposta (fls. 1978; antes, 2179), interpôs o agravo retido de fls. 1980/1985 (antes, 2181/2186), reiterando mais à frente (fls. 1995), requerendo sua apreciação por ocasião do julgamento da apelação.

O Ministério Público respondeu a esse recurso às fls. 1988/1990 (antes, 2189/2191).

Nesta Instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não provimento de ambos os recursos (fls. 2000/2010).

Distribuído o feito em julho de 2005 à Colenda 8ª Câmara da Seção de Direito Público (fls. 2011), a E. Turma Julgadora entendeu pela redistribuição à E. 6ª Câmara de Direito Público, por prevenção (fls. 2025/2029). Redistribuídos os autos, esta última também não conheceu dos recursos e determinou a redistribuição do feito a uma das Câmaras de Direito Privado (fls. 2037/2044). Foram a mim, então, redistribuídos os autos (fls. 2047).

Determinei fossem renumeradas as peças dos autos e a complementação do preparo do recurso interposto pela ré (fls. 2.048/2049), o que ela fez (fls. 2053/2054).

É o relatório.

1. Decido de início o agravo retido interposto pela requerida contra o r. despacho de fls. 1978, que considerou tempestiva a resposta ofertada pelo Ministério Público à apelação por ela interposta.

Não há dúvida de que não funcionando o Ministério Público como fiscal da lei mas, diversamente, atuando como parte proponente da ação civil pública, sujeita-se à disciplina dos prazos a que se submetem as demais partes e interessados na relação processual.

Neste caso, não houve desrespeito a esse princípio ou ao regramento legal.

Consoante salientou o MM. Juiz na r. agravada,

“o prazo se inicia com o recebimento dos autos o que se entende sejam todos os volumes no setor administrativo daquele Órgão.

“Na data alegada pelo apelante ou seja, 17/02/04, foram encaminhados apenas dois volumes do processo. Assim, não se pode considerar entrega dos autos, a entrega parcial dos autos.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 5

Page 6: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

6

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

“A data para apresentação das contra-razões teve início em 04/03/04. Tempestiva, portanto.” (fls. 1978).

Acertado o decisório. Embora fosse possível entender tivesse o digno Promotor de Justiça conhecimento do ato que devera praticar (apresentar contra-razões ao apelo da ré), o serviço cartorário não lhe entregou todos os volumes do processo, para que pudesse praticá-lo como de seu direito. A situação se assemelha àquela em que, tendo o prazo em curso, a parte busca a retirada dos autos de cartório, mas vê-se frente a impedimento, porque os autos não estão disponíveis (porque conclusos, por exemplo), ou porque não estão por inteiro, senão em alguns volumes. O impedimento obriga a restituição do prazo.

Neste caso, como o Ministério Público deve ser cientificado pessoalmente do ato a praticar, o que se dá com a entrega dos autos, a falta destes ou a entrega apenas de parte dos volumes, configura impedimento. Ocorrida a entrega regular, o prazo correu e a resposta foi ofertada tempestivamente, como concluiu o MM. Juiz.

Esse agravo não é provido, portanto.

2. Não procede também o agravo retido (fls. 1459/1480) interposto pela mesma requerida contra o r. despacho de fls. 1433/1436, que rejeitou preliminar de ilegitimidade ativa do Ministério Público Estadual para o ajuizamento desta ação, de impossibilidade jurídica dos pedidos de indenização por danos morais e de cominação de obrigação de fazer, e de ausência de contraditório no inquérito civil junto aos autos.

A alegação de ilegitimidade de parte do Ministério Público para propor a demanda foi objeto do Agravo de Instrumento nº 262.190-5/6-00, julgado pela E. 6ª Câmara, que negou provimento ao recurso (fls. 193/196 do apenso).

No tocante à preliminar de impossibilidade jurídica dos pedidos de

indenização por danos morais e de cominação de obrigação de fazer, acertado o decisório, lançado nestes termos:

“Os réus alegam que não ocorreu dano efetivo à saúde pública, sendo que os produtos eivados de vício sequer foram postos a venda, não havendo que se falar em indenização. Contudo, o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor prevê entre o rol de práticas abusivas a colocação em “risco” da saúde do consumidor, bastando sua exposição a perigo, mesmo que não ocorra o efetivo dano (artigo 6º, I). Assim, os consumidores potencialmente lesados serão titulares do direito de indenização, com fundamento no art. 6º, inciso VII, fazendo-se necessária a apuração da existência de risco à saúde pública nas situações elencadas na inicial para a posterior averiguação de eventual direito à indenização.”

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 6

Page 7: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

7

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

Ora, a pretensão protetiva do interesse difuso dos consumidores, com imposição de preceito cominatório, de um lado, e de comando condenatório, de outro, está albergada pelo sistema jurídico em vigor. Se esses pedidos procedem ou não é questão adstrita à sentença de mérito da causa. Assim se conclui inclusive quanto à assertiva de descaber o pedido condenatório de indenização porque hipotético o dano alegado pelo proponente da demanda. Essa questão não pode ser resolvida ao início do processo, senão ao cabo da instrução da causa, na sentença.

De qualquer modo, em abono da pretensão de ser admissível em tese o pedido formulado na petição inicial, vale trazer à colação v. acórdão do Colendo Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema:

“I - A dicção do artigo 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor é clara ao possibilitar o cabimento de indenização por danos morais aos consumidores, tanto de ordem individual quanto coletivamente.

“II - Todavia, não é qualquer atentado aos interesses dos consumidores que pode acarretar dano moral difuso. É preciso que o fato transgressor seja de razoável significância e desborde os limites da tolerabilidade. Ele deve ser grave o suficiente para produzir verdadeiros sofrimentos, intranquilidade social e alterações relevantes na ordem extrapatrimonial coletiva.

“Ocorrência, na espécie.(...).“VI - Recurso especial improvido.

“(REsp 1221756/RJ, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJE 10/02/2012).”

É que o que se dá na espécie dos autos, ao menos ante o relato procedido na petição inicial. O mais, como dito, é mérito.

Quanto ao mais alegado na mesma preliminar e no recurso mencionado, continuou o Juízo afirmando:

“Quanto ao pedido de cominação de obrigação de não fazer, sua concessão constitui-se requisito para a fixação de multa diária pelo seu inadimplemento posto que, mesmo que as práticas que se pretende evitar já sejam repelidas pela legislação vigente, necessária se faz a determinação judicial de não praticá-las para que se possa fixar a multa diária pelo descumprimento, tudo a fim de dar maior efetividade à tutela da legislação consumerista e assegurar seu resultado prático (segundo art. 83 e 84 do CDC)”.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 7

Page 8: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

8

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

“Logo, os pedidos são juridicamente possíveis e, pelos mesmos motivos, deve ser afastada a preliminar de ausência de interesse de agir.”

É bem de ver que a imposição de preceito cominatório objetiva a evitar que a parte não repita a atitude danosa ao interesse dos consumidores. Não importa se sujeita a empresa à fiscalização pelo órgão administrativo competente. A evidência dos fatos examinados pela r. sentença que adiante se confirma bem revela que, a despeito da fiscalização, os costumes empresariais revelados no processo sugerem ou, mais que isso, determinam se imponha o preceito para evitar a recidiva no comportamento daninho ao interesse da comunidade de consumidores.

Quanto à arguição de inexistência de contraditório durante o inquérito civil, referido agravo igualmente não procede. No pormenor, está assim lançada a r. decisão agravada:

“Registre-se que foi verificado pelas procurações de fls. 68/70, 83/90, 106 e 193 que os patronos dos réus participaram de todas as fases de processamento do inquérito civil, acompanhando os averiguados, ora réus, e orientando-os, sendo certo que a qualquer momento poderiam se manifestar nos autos.”

“Como é cediço, não há procedimento legal previsto para o inquérito civil, sendo impossível avaliar se os averiguados foram impedidos de se manifestar em algum momento, se assim pretendessem, não havendo nos autos qualquer suspeita de cerceamento de defesa pela autoridade que o presidiu, não podendo ser presumida a ofensa ao princípio do contraditório, cuja aplicação, aliás, não é unanimemente adotada em investigações preparatórias encetadas pelo Ministério Público (neste sentido: STJ, RO-MS 8716/GO).”

Por fim,

“Cuide-se, ainda, que o inquérito civil não é prova absoluta dos fatos narrados na inicial, ficando às partes facultado o direito de produzirem outras provas pretendidas para demonstrar a verdade dos fatos e, ainda, pelo princípio da livre apreciação das provas, caberá ao magistrado valorar todo o conjunto probatório trazido para chegar a seu convencimento, até mesmo determinando diligências nesse sentido.”

Ora, a agravante tinha pleno conhecimento da existência do inquérito, tanto que, logo de início, nele interveio juntando instrumento de procuração (fls. 52). Por certo que pode acompanhar o desenvolvimento do procedimento, tomando conhecimento das diligências ordenadas ou procedidas pelo Promotor de Justiça que o conduzia.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 8

Page 9: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

9

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

Por outra parte, o inquérito civil, por sua própria natureza, não é procedimento judicialiforme. Nele não se estabelece contraditório, de tal arte que os elementos de convicção nele reunidos e carreados para o processo civil submetem-se ao devido processo legal e ao controle do contraditório e da ampla defesa na esfera jurisdicional, apenas. Neste feito, a agravante pode exercer em sua plenitude esses direitos ao ser chamada para a relação processual.

Bem pondera o digno Promotor de Justiça Doutor João Lopes Guimarães Júnior, manifestando-se pela douta Procuradoria Geral de Justiça, que “o inquérito civil é mero procedimento preliminar, facultativo, e de natureza administrativa. Tem caráter inquisitorial e a lei não lhe atribui qualquer sorte de rito” (fls. 2001), tal qual sucede com o “inquérito policial, também dispensável (CPP, art. 46, § 1º)” (fls. 2002/2003). Traz à colação julgados desta Corte e do C. Superior Tribunal de Justiça, que vale anotar: JTJ 229/199; JTJ 237/20; Agravos de Instrumento nº 132.193-5 Avaré 3ª Câmara de Direito Público Relator Hermes Pinotti 20.06.00 V.U.; e n. 123.818-4 Jundiáí 6ª Câmara de Direito Privado Relator: Antonio Carlos Marcato 06.04.200 V.U.; e Apelação Cível nº 142-5/9 Santos 1ª Câmara de Direito Público Relator: Scarance Fernances 13-03.01 V.U.; ROMS 13010 Quinta Turma Rel. Min. Gilson Dipp 03.12.02 Decisão Unânime).

Mais não é preciso dizer para confirmar na totalidade o r. despacho que rejeitou as preliminares apontadas, não se havendo falar em violação de quaisquer preceitos assecuratórios do contraditório ou da ampla defesa em razão do sucedido no inquérito civil.

Desse modo, a r. decisão de fls. 1433/1436 deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

3. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público de São Paulo em face da Adriano Coselli S/A Comércio e Importação e outros, com pedido de abstenção, por parte dos réus: a) de manipulação de quaisquer gêneros alimentícios, quer para extração ou limpeza de partes avariadas, quer para reembalagem, ou outra finalidade, sem a devida autorização de órgão de vigilância sanitária; b) de adulteração, de qualquer forma, de etiqueta de validade de produtos; c) de depósito ou exposição à venda de gêneros alimentícios com o prazo de validade expirado ou impróprios para o consumo, tudo sob pena de multa de duzentos mil reais para cada infração verificada pelos órgãos de vigilância sanitária ou de serviço de inspeção federal do Ministério da Agricultura. Requereu, ainda, o postulante, condenação dos réus ao pagamento de R$ 5.420.000,00, a título de reparação de danos morais difusos.

O Juízo, em minuciosa, articulada e fundamentada sentença da lavra do Doutor PAULO CÉSAR GENTILE, em breve síntese, decidiu pela culpa dos réus e pelo desrespeito à saúde e dignidade do consumidor, ante a conduta reprovável de “reprocessar ilegalmente produtos impróprios para o consumo, a fim de dar-lhes falsa

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 9

Page 10: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

10

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

aparência e recolocá-los no mercado; ao adulterar etiqueta de prazo de validade e ao deixar de cumprir normas de higiene relacionadas à limpeza e armazenamento de produtos alimentícios”, ofendendo, assim, direitos básicos do consumidor e a saúde pública, razão pela qual os condenou a indenização por danos morais difusos fixados em um milhão de reais.

4. Bate-se a apelante Adriano Coselli S/A contra a r. sentença que entendeu ter sido comprovada a prática das atividades mencionadas na petição inicial.

Inicialmente, sustenta que, em verdade, em 26.2.2000 (sábado), data da busca e apreensão na empresa Pleopack (que presta 100% dos serviços à empresa ré, na cidade de Cravinhos, tendo já pertencido a ela, inclusive cf. fls. 1786), ninguém foi visto trabalhando no local, bem como não foi coletada nenhuma amostra das mercadorias para exame de laboratório.

A respeito, o MM. Juiz bem discorreu, afirmando que,

“Apesar de as autoridades terem chegado na empresa Pleopak na hora do almoço e não terem presenciado a manipulação do bacalhau, uma vez que não havia ninguém trabalhando naquele momento, segundo depoimentos de testemunhas a fls. 1494, 1502 e 1526 havia manipulação do bacalhau pois foram encontradas escovas de aço e nylon e sal nos galpões das empresas de Cravinhos e Bebedouro-SP. Foi dito ainda, em depoimento, que haviam duas pilhas de bacalhau, uma daqueles que ainda não tinham sido trabalhados e outra daqueles que já estavam sendo trabalhados (fls. 1502).”

“No depoimento prestado na Delegacia de Polícia no dia da apreensão, um policial militar que acompanhou a lacração disse que havia sal e escovas de aço sobre as mesas, sendo que o local não possuía câmara fria e ventilação, sendo coberto por teto de metal, o que eleva ainda mais a temperatura.”

“Alguns funcionários das empresas Pleopack e Pleorotus afirmaram em seus depoimentos na Delegacia de Cravinhos que viram o bacalhau ser manipulado com a “raspagem” do sal, o que achavam que era normal (fls. 43/44). Naquela mesma oportunidade a gerente da empresa Pleopak afirmou em seu depoimento que pelo fato de o bacalhau “ser um produto submetido à ação do sal, as toneladas de bacalhau recebidas da empresa Adriano Coselli vieram justamente para renovar o prazo de validade vencida justamente por decorrência do produto suportar um prazo maior previsto pelo fabricante, nesse sentido, até as etiquetas novas são enviadas pela firma Coselli” (r. sentença, fls. 1770/1771).

Não há o que desminta essa prova, o que torna irrelevante a

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 10

Page 11: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

11

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

circunstância de que ninguém foi visto trabalhando no local, por se acharem os funcionários em hora de almoço. Segundo os depoimentos de início mencionados pelo MM. Juiz, havia empregados no local, mas em horário de almoço, de sorte que não trabalhando. Os policiais militares depoentes, aliás, tomaram informações de funcionários presentes no local, que explicaram alguns dos procedimentos então adotados.

A evidência do que apurado fala por si. Revela as reais condições em que encontrado o produto, exposto e em pilhas, enquanto empregados estavam em horário de almoço, e o local em que manipulado, ou seja, galpão coberto por teto de metal, elevando a temperatura ambiente de forma imprópria para a sua própria conservação. E mais, o motivo pelo qual os produtos lá estavam para ser manipulados, quer dizer, para ser reprocessados, ganhar nova aparência, e novamente embalados (em embalagens novas), com novas etiquetas como novo prazo de validade!

5. Quanto à afirmação de que nenhuma amostra fora extraída no dia da

busca e apreensão, mas apenas dois dias depois, razão de apresentar sinais de bolor, o Juízo ponderou:

“Segundo depoimentos dos fiscais federais agropecuários, estes apenas chegaram ao local na segunda-feira, dia 28/02/2000, ou seja, dois dias após a lacração.”

“Um dos fiscais que prestaram depoimento, que esteve no local apenas na segunda-feira, dia 28/02, disse que achava que em dois dias o bacalhau pode deteriorar-se a ponto de ficar com fungos aparentes e com a cor alterada (fls. 1527 e 1529), mas não deu ao juízo certeza disso.”

“Já os fiscais federais agropecuários chegaram no local apenas 48 horas depois, no dia 28/02 (fls. 1521, 1526, 1534), contudo, um produto desidratado e salgado não poderia deteriorar-se e desenvolver bolor em apenas dois dias de mau armazenamento” (sublinhei) (r. sentença, fls. 1772/1773).

Prossegue a r. sentença:

“o bacalhau não ficou em temperatura alta apenas do dia 26 ao dia 28/02/2000, já que pelo que foi constatado pelas pessoas que estiveram no local no dia 26/02/2000, o produto estava enfrentando esta temperatura há mais dias. Esse argumento seria válido se o bacalhau estivesse em boas condições de conservação até o momento da apreensão, o que não ocorreu no caso” (sublinhei) (fls. 1774).

Lembrou o digno Magistrado o disposto na Portaria nº 52 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, em seu anexo I, item 4.2.3,

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 11

Page 12: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

12

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

segundo o qual,

“os peixes salgados e/ou salgados e secos devem ser convenientemente embalados e, posteriormente, armazenados em temperatura não superior a 5ºC, sob a qual o produto deverá ser mantido durante o transporte, estocagem e distribuição até o momento de sua venda final” (fls. 1772).

Não era esse o cuidado adotado pela empresa a serviço da requerida, tanto que assim observou a r. sentença:

“no depoimento de fls. 1508 foi declarado que a temperatura ideal para conservação do bacalhau é de 0 a 5 graus centígrados e que a temperatura no galpão onde estavam armazenados os produtos era de aproximadamente 25 graus. Em outro depoimento tomado na Delegacia de Cravinhos, foi declarado que a temperatura no galpão onde estavam as mercadorias “era alta em razão da construção do telhado feito com zinco” (fls. 41, 1504 e 1508)” além de total ausência de refrigeração (cf. fls. 1773).

De fato, o local era impróprio para o trato do bacalhau, conforme apontou o “Laudo de Condenação do Ministério da Agricultura (fls. 152/155), observado pela r. sentença:

“constatado que o bacalhau “encontrava-se depositado em um galpão de alvenaria, com cobertura em estrutura metálica com telhas de alumínio. Local inapropriado para guarda do referido produto, tendo em vista a alta temperatura ambiente e completa ausência de refrigeração” este laudo também afirmou que as alterações do produto dão-se “quando o produto não é mantido sob refrigeração e armazenados por longo período” (fls. 154)” (r. sentença, fls. 1773).

Fácil de ver, portanto, que, embora não tenham sido apreendidas amostras dos produtos no sábado, dia da apreensão em Cravinhos, mas somente na segunda-feira, dois dias após, o bacalhau, estava sendo submetido a altas temperaturas há muito tempo, o que certamente foi a causa do perecimento.

Ademais, às fls. 154, in fine, no laudo do Ministério da Agricultura, há a afirmação de que as alterações ocorrem “quando o produto não é mantido sob a refrigeração e armazenado por longo período” e que o local era inequivocamente inapropriado para armazenagem. Logo, o fato de ter sido extraída amostra apenas dois dias após a apreensão para elaboração do laudo pericial, não muda o quadro. Igualmente, o laudo da Vigilância Sanitária atestou as condições insatisfatórias de estocagem (fls. 273).

6. A alegação de irregularidade flagrante dos laudos técnicos juntados aos autos, não colhe melhor sorte.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 12

Page 13: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

13

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

O laudo da Vigilância Sanitária está datado e assinado (fls. 275). Ocorreu apenas que na formação dos autos, sua conclusão foi juntada antes do corpo do laudo, às fls. 277/280. Os laudos periciais do Ministério da Agricultura (fls. 95/98 e 153/155), de sua vez, embora não estejam datados, estão assinados pelo mesmo Médico Veterinário (Dr. Clóvis Ferrari) que subscreveu o Auto de Infração (fls. 150), o Termo de Apreensão (fls. 151) e o Termo de Condenação (fls. 152), todos datados de 1º de março de 2000. A mera irregularidade, portanto, não retira a credibilidade do laudo.

Ainda, o fato dos técnicos da Vigilância Sanitária chegarem no local dos fatos apenas dia 28 de fevereiro (cf. fls. 277), não retira sua autoridade, nem a capacidade de averiguação dos produtos. E como dito anteriormente, apenas dois dias de exposição do bacalhau salgado sob alta temperatura não seriam suficientes para alterar suas características organolépticas. Além disso, outras várias irregularidades foram constatadas no local, como estado dos galpões de processamento, manipulação e armazenamento do bacalhau e de outros alimentos, além de ausência de câmara fria (cf. laudo fls. 277/280 e 275).

O Juízo sentenciante acresceu ainda a seguinte fundamentação, relativamente ao laudo do Serviço de Inspeção Federal:

“Segundo depoimentos de fls. 1516, 1522 e 1528 tais laudos foram realizados da seguinte forma: foram retiradas uma amostra de cada lote e não amostras de cada um das caixas, devido à grande quantidade, mas foram abertas e inspecionadas caixa por caixa.”

“No entanto, os Termos de Colheita de Amostra da Direção Regional de Saúde, (Secretaria de Estado de Saúde) para exames microscópico, físico-químico e microbiológico de fls. 365/378 contêm assinatura do representante da empresa ré que acompanhou a colheita de amostras.”

“Nenhuma outra irregularidade foi indicada nos autos que tenha o condão de retirar desses laudos a presunção de veracidade que possuem, posto que advindos de autoridade competente, representante do Estado, não existindo qualquer intenção visível de prejudicar a empresa ré” (fls. 1785).

Por fim, as características dos alimentos apreendidos foram ratificadas pelos laudos do Instituto Adolf Lutz (fls. 290/296 e 382/389).

7. O Fiscal Federal Agropecuário Sérgio não foi contraditório como alegado. Ao contrário, seu depoimento foi esclarecedor.

Disse não terem sido recolhidas amostras no dia da busca e apreensão

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 13

Page 14: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

14

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

e lacração do estabelecimento, ocasião em que não estava presente. Portanto, ao dizer “a gente chegou lá” foi flagrado o bacalhau sendo escovado e fora de temperatura, quis dizer, como explicou adiante, após a lacração do estabelecimento, que flagrou a “situação, as peças, as caixas originais, e as peças já reembaladas em outras caixas” (cf. fls. 1508), o que facilmente o fez concluir pela manipulação inadequada do produto.

O esclarecimento mais importante foi o de que inexistia câmara fria em Cravinhos e a conclusão de que a mercadoria já saiu deteriorada da cidade de Ribeirão Preto, das instalações da empresa Coselli, onde também realizaram inspeção (cf. fls. 1508). Mesmo acondicionado em câmaras frias nessa cidade, o bacalhau já estava deteriorado.

Isto demonstra que o produto já vencido e deteriorado estava sendo maquiado, reembalado e novamente etiquetado.

8. Não procede a alegação de incompetência do serviço de Vigilância

Sanitária.

Afirma a requerida (fls. 1830) não caber à Vigilância Sanitária (órgão estadual) cuidar de fiscalização de produtos de origem animal, porquanto a competência é da SIF (Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, órgão federal do Ministério de Agricultura).

Como verificado nos autos, a empresa Coselli possui licença para funcionamento concedida pela Vigilância Sanitária, sendo registrada no Serviço de Inspeção do Ministério da Agricultura (fls. 135/136). O mesmo sucede com a empresa Pleopack (fls. 277).

A Vigilância Sanitária, portanto, é órgão competente para verificação das condições higiênicos-sanitárias e estruturais do local, recepção, conservação, estoque e distribuição dos alimentos processados, mesmo porque não se trata apenas de produtos de origem animal, mas também de azeitonas, uvas passas, etc.

Seja como for, na fiscalização realizada em Ribeirão Preto, a inspeção foi realizada em conjunto com a SIF/MA (ver fls. 96/98), sendo que a fiscalização dos produtos de origem animal com registro no órgão ficou sob responsabilidade de seus representantes (cf. fls. 135/136).

Em Cravinhos, de sua vez, o serviço federal também participou da inspeção, porém em data posterior (cf. fls. 150/155).

Desse modo, tendo sido regular a inspeção pelos órgãos responsáveis, a alegação não prospera.

9. A respeito do prazo de validade das diversas partidas de bacalhau, o

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 14

Page 15: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

15

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

inconformismo da ré igualmente não prospera.

Afirma a requerida ter entrado em contato com o exportador da Noruega (“Andreas Bjorge A/S”), sabendo por ele do erro operacional ocorrido ao estipular prazo de validade do bacalhau de um ano, em vez de dois anos (cf. carta de fls. 1207), razão pela qual se fez necessária a emissão de novas etiquetas com novo prazo de validade, revisão e seleção do bacalhau.

A respeito do tema o Juízo discorreu com fundamentos que respondem satisfatoriamente a insurgência:

“Segundo a Vigilância Sanitária a definição de “Prazo de Validade” é: “Tempo durante o qual o produto poderá ser usado, caracterizado como período de vida útil e fundamentada nos estudos de estabilidade específicos”, ou seja, o prazo de validade de um produto, ou o tempo durante o qual ele poderá ser utilizado é definido após estudos e análises científicas daquele produto, não cabendo ao fornecedor alterar o prazo de vida útil das mercadorias que se encontram em seu poder, sem o consentimento dos órgãos competentes, mesmo que o fornecedor exportador concorde com isto. Caso contrário estar-se-ia criando um caos na relação de compra e venda, ademais nos casos de produtos perecíveis e de produtos destinados à alimentação” (fls. 1778).

O exportador, de sua parte, esclareceu os métodos efetivos de conservação do bacalhau como sendo o sal e a desidratação, que aliados ao frio, podem conservá-lo em até 4 anos, “em algumas ocasiões” (cf. fls. 1207).

Entretanto, como bem ponderou o digno Magistrado, a ré não trouxe aos autos prova de que conservava o bacalhau em temperatura fria, ou seja, de 0 a 5 graus centígrados. Isso, por um lado. Por outro, não é possível afirmar que o bacalhau em questão proviesse todo do exportador mencionado (são diversas partidas em elevados volume, de toneladas), e que de fato estivesse dentro do prazo de validade (não o de um ano, mas o de dois, sustentado!), a contar da data de seu processamento pelo exportador.

Por outro lado, se necessidade havia de substituição de etiquetas para consignar o prazo maior de validade, apenas, não é possível entender, porque, então foi a mercadoria desembalada e tratada da maneira descrita nos autos, para ganhar nova aparência, para não dizer aparência de novo, quando novo não era, senão com prazo de validade (o indicado) já vencido ou por vencer. Nem é possível entender, igualmente, porque trocadas as embalagens e destruídas as etiquetas originais, como mostram as fotografias ilustrativas de fls. 156/158.

Aliás, consta no laudo da Vigilância Sanitária resultante da inspeção à empresa de Pleopack que:

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 15

Page 16: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

16

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

“Inicialmente, deparou-se com uma excessiva quantidade do produto “BACALHAU”, parte acondicionada em caixas de papelão com os dizeres indicando procedência da Noruega, e parte dos produtos expostos em mesas” (cf. fls. 277/278).

E mais adiante:

“Há problemas com a manutenção de produtos que necessitem de refrigeração, uma vez que não foi verificada nenhuma câmara fria ou freezer” (cf. fls. 280).

Já nas instalações da ré, em Ribeirão Preto, em que pese mantidas duas câmaras frias (cf. atestado às fls. 135), constou no laudo do Ministério da Agricultura:

“Todas as embalagens contendo o produto bacalhau estavam guardadas em temperaturas inadequadas (acima de 25º C), em depósito com teto de alumínio favorecendo o aumento da temperatura e consequentemente o desenvolvimento de bactérias, mofos e fungos, contrariando, portanto, as exigências do exportador contidas em todas as embalagens.”

“Dentro da câmara fria foram encontradas várias caixas com rótulo falsificado, contendo produtos deteriorados com observação (PARA SELECIONAR), como mostra foto anexa demonstrando que possivelmente essas caixas seriam enviadas para firma Pleopack na cidade de Cravinhos, onde seriam fraudadas com processo de restauração...” (fls. 98).

Desse modo, portanto, admitido que fosse o equívoco na etiquetagem da validade do produto por parte do exportador (pois a simples expiração do prazo de validade pode não significar impropriedade para consumo, cf. depoimento do fiscal às fls. 1510), o produto deveria ao menos apresentar-se em condições de ser utilizado e armazenado adequadamente. Tal, entretanto, não ocorreu. Ao contrário, é possível afirmar que o bacalhau lá encontrado (assim como os demais produtos alimentícios), estavam visivelmente impróprios para o consumo.

A guarda ou a manipulação do produto se dava sem observância até mesmo da recomendação feita nas etiquetas originais, segundo as quais, após aberta a embalagem, a guarda do produto devera ser feita “em geladeira, balcão frigorífico ou câmaras frias, em temperatura entre 2º C e 4º C” (cf., p. ex., fls. 159).

Mas, como bem decidiu o Juízo, seja como for, é vedada a alteração do prazo de validade de produtos perecíveis, sem a autorização dos órgãos responsáveis, segundo a legislação brasileira, ainda que o exportador assim concorde e autorize. Desconhece-se, ainda, segundo a legislação sanitária, tolerância aos alimentos vencidos, consoante se pode notar pelos laudos técnicos juntados aos autos.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 16

Page 17: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

17

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

Logo, nada justifica revalidação do produto. Conforme concluiu acertadamente o Juízo sentenciante,

“... no caso em tela concluiu-se pela impropriedade da mercadoria tendo em vista o conjunto probatório que apontou haver lesões de vários tipos no bacalhau e as condições ruins de armazenamento a que a mercadoria estava sujeita.”

10. Quanto à alegação de inexistência de prova da finalidade ilícita ou irregular dos produtos encontrados na Pleopack, outra não é a conclusão.

O conjunto dos laudos e elementos dos autos, bem examinados pela r. sentença, mostra a evidência da ilicitude do objetivo de estarem os produtos na Pleopack. Primeiro porque, em Cravinhos, como dito anteriormente, inexistiam câmaras frias, razão pela qual não poderia receber produtos que necessitavam de refrigeração. Segundo porque foi encontrado material demonstrativo da atividade de reetiquetagem e adulteração do bacalhau, para posterior colocação no mercado, além de péssimas condições de armazenamento dos mais variados gêneros alimentícios.

A alegação de que os produtos seriam descartados, por si mesmo, confirma a situação imprópria para o seu consumo. O só fato de os produtos estarem sendo reembalados e reetiquetados para posterior comercialização, desmente a assertiva de que seriam descartados.

O mesmo pode ser dito do bacalhau apreendido em Ribeirão Preto, portando o rótulo “para selecionar”. Seriam encaminhados à Pleopack, em Cravinhos, para seleção. Como relatam os mesmos laudos, os produtos já vinham vencidos e deteriorados de Ribeirão Preto para a sede da empresa Pleopack. Se eram próprios para o consumo, porque razão eram enviados à distância para o tratamento revelado nos autos, é de perguntar. Não se justifica, portanto, o envio do produto para Cravinhos, ao argumento de “problemas decorrentes da entrega” (letra h do relatório acima).

Quanto ao bacalhau apreendido na empresa Confrio, em Bebedouro, o Juízo assim discorreu:

“Os documentos de fls. 1269/1272 e 1275 atestaram que este produto estava em desacordo com a legislação em vigor por conter umidade e resíduo mineral acima do permitido e declarou-o impróprio para o consumo, ao contrário do afirmado na contestação. O SIF, após análise, liberou apenas aqueles produtos “cujas análises físico-químicas apresentarem resultados de produto próprio para o consumo, porém com teor de umidade acima de 35%” (fls. 1285), para aproveitamento condicional em conserva de pescado ou defumação.”

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 17

Page 18: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

18

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

“A sentença de 1ª Instância decidiu pela incineração do produto e o acórdão de 2ª Instância firmou entendimento de que não havia impropriedade para o consumo, podendo ser reaproveitado condicionalmente (fls. 1302/1308).”

Vê-se, portanto, que embora não tenha o produto sido declarado impróprio, somente foi permitido o aproveitamento condicional em conserva. Todavia, laudo do Instituto Adolf Lutz (fls. 1269/1270) anotou tratar-se de produto com validade vencida.

11. Sustenta a requerida inexistir reclamação por parte dos consumidores. Sem razão, como bem afirma a r. sentença:

“A ré aduziu em seu favor que nenhum cliente ou consumidor apresentou qualquer reclamação quanto à qualidade dos seus produtos, mas no depoimento de fls. 1536 foi dito que anteriormente houve reclamação do abacaxi em calda cujo rótulo havia sido substituído, ainda que na época não tenha sido possível comprovar tal fato.”

“Ora, o consumidor não poderia reclamar dos produtos em questão dada a engenhosidade da manipulação e da alteração do prazo de validade que acontecia, o que dissimulava defeitos aparentes do produto” (fls. 1778).

Com efeito, como esperar a existência de reclamação por parte dos consumidores se justamente eles estavam a ser enganados, ou viriam a sê-lo proximamente, com o retorno dos produtos às lojas de supermercados, é de perguntar.

12. O fato da colheita do bacalhau no supermercado Fartura ter ocorrido um mês após sua saída/venda, não muda o quadro.

Às fls. 348 vê-se laudo da Secretaria de Higiene e Saúde da cidade de Franca, datado de 27 de março de 2000, informando tratar-se de pescado salgado colhido no supermercado Fartura, colhido em 29.2.2000 e enviado em 1º de março de 2000 diretamente ao laboratório.

Não há prova de que a amostra tenha sido indevidamente acondicionada pelo laboratório de Franca durante o período em que lá esteve, até a elaboração do laudo.

13. A preocupação da Coselli com o estado da mercadoria apreendida denota a intenção de dar destino dos produtos. Se de fato o destino dos produtos apreendidos era mesmo o descarte, certamente todos eles estariam estragados (pois vencidos já estavam), nada justificando a reembalagem e reetiquetagem como visto.

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 18

Page 19: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

19

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

Assim, se a ré tencionasse descartá-los teria feito pedido expresso à Vigilância Sanitária e ao Ministério da Agricultura. E ainda que seja verdade que a Vigilância Sanitária tenha orientado a Coselli a contratar particularmente empresa para tanto, não foi exatamente o que pareceu e restou constatado pelos técnicos no dia da apreensão.

14. Reclama a requerida de que o dano causado à empresa pelas intervenções questionadas foi enorme, com redução de 500 para 46 funcionários, frota de veículos e redução do faturamento de 194 milhões para 42 milhões de reais.

Ora, não tivesse ela investido na atuação em desconformidade com a lei, certamente o prejuízo sofrido com a perda de bacalhau impróprio para o consumo teria sido insignificante considerada sua importância no mercado, a julgar pela expressão econômica que, diz, ostentava. O que sucedeu ocorreu menos em razão da atuação dos órgãos oficiais competentes que só fizeram cumprir sua função de acordo com a lei mais em razão da própria incúria, ambição ou ganância da ré e de seus representantes.

15. De todo o visto, não há como eximir a ré de responsabilidade, por serem os produtos provenientes de fabricante estrangeiro (conforme alega), pois, como importadora é responsável pelo armazenamento e comercialização deles em condições satisfatórias e de acordo com as normas sanitárias. Não pode, assim, imputar a culpa ao fabricante ou, melhor dizendo, ao importador, por ter supostamente etiquetado mercadorias com prazo de validade menor que o real ou o devido.

Como é bem de ver, o Ministério Público, contrariamente ao sustentado pela requerida (fls. 1869), logrou demonstrar os fatos alegados, nos termos do artigo 333, I, do Código de Processo Civil.

As diversas intervenções de órgãos públicos encarregados da vigilância, do controle, do exame dos produtos alimentícios postos ou a serem colocados à disposição da comunidade para o consumo, e bem assim da repressão aos atos tidos por violadores das regras de prevenção da saúde da população, desnudaram a conduta ilícita da requerida e das empresas de que se valeu para fraudar o interesse maior do consumidor.

O mesmo parecer ministerial nesta Instância, já mencionado, bem sintetiza as premissas acolhidas e assentadas na r. sentença, e que dão suporte ao comando nela explicitado:

“a lei proíbe ao fornecedor colocar no mercado de consumo qualquer produto em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes (CDC, art. 39, inc. VIII);

“a lei considera impróprios ao consumo os produtos cujos

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 19

Page 20: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

20

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

prazos de validade estejam vencidos, os deteriorados, os adulterados e aqueles em desacordo com as normas regulamentares de distribuição ou apresentação; (CDC, art. 18, § 6º, incs. I e II);

“os fornecedores respondem pelos vícios de qualidade que tornem os produtos impróprios ao consumo (CDC, art. 18);

“a lei prevê indenização por danos morais coletivos e difusos (CDC, art. 6º, inc. VI);

“a lei prevê a defesa em juízo, a título coletivo, dos interesses e direitos dos consumidores (CDC, art. 81);

“a apelante, atuando na importação e comércio de produtos alimentícios, é fornecedora de número incalculável de consumidores potenciais;

“documentos oficiais, lavrados por agentes sanitários, comprovam que a apelante tinha em seu poder grande quantidade de produtos alimentícios impróprios para consumo e em desacordo com normas sanitárias;

“o ordenamento jurídico reprova até mesmo a guarda do produto impróprio, e pune inclusive a conduta meramente culposa (Lei Federal nº 8.137/90, art. 7º, inc. IX; Código Penal, art. 272, §§ 1º e 2º);

“a lei atribui fé pública aos documentos oficiais, presumindo-se a veracidade de seu conteúdo (CF, art. 19, inc. II; CPC, arts. 334, inc. IV e 364).”

Mais não é preciso acrescentar para confirmar a conclusão de procedência da causa.

Resta apenas examinar os pleitos de que sejam afastadas as condenações impostas.

16. A responsabilidade da requerida está bem definida no Código de Defesa do Consumidor. Segundo dispõe o artigo 3º desse diploma, fornecedor

“é toda pessoa física ou jurídica, pública ou provada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.”

Como tais, os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 20

Page 21: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

21

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam, nos termos do artigo 18 do mesmo estatuto.

O fato de não terem sido apontadas reclamações concretas por parte de consumidores, não afasta sua responsabilidade. A tanto pode não se ter chegado graças certamente à ação das autoridades competentes.

O dano existe simplesmente pelo fato violador (exposição à venda de produtos impróprios para consumo), gerando abalo de confiança e segurança nos produtos comercializados ou a serem comercializados, sendo desnecessária a prova do dano concreto.

Desse modo, para o Código de Defesa do Consumidor, basta a colocação em risco da saúde do consumidor, expondo-a a perigo, mesmo que não ocorra o efetivo dano, consoante artigo 6º, I, que define um dos direitos básicos do consumidor, qual seja,

“a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”.

Na lição de KAZUO WATANABE (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor - Comentado Pelos Autores do Anteprojeto, Editora Forense, 10ª Edição/2011, Vol. II, pág. 72),

“No campo da relação de consumo, podem ser figurados os seguintes exemplos de interesses difusos:

(...) b) colocação no mercado de produtos com alto grau de

nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança dos consumidores, o que é vedado pelo art. 10 do Código. O ato do fornecedor atinge todos os consumidores potenciais do produto, que são em número incalculável e não vinculados entre si por qualquer relação-base. (...) o bem jurídico tutelado é indivisível, pois uma única ofensa é suficiente para a lesão de todos os consumidores, e igualmente a satisfação de um deles, pela retirada do produto do mercado, beneficia ao mesmo tempo todos eles”.

Eis o caso dos autos. Os produtos classificados como impróprios chegaram a ser comercializados e postos à disposição dos consumidores, como visto na cidade de Franca, no supermercado Fartura. O restante dos produtos apreendidos certamente estava prestes a ser comercializado, especialmente dada a proximidade da comemoração da Páscoa, evento em que sabidamente é consumido o peixe bacalhau.

Esclarece JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO (op. cit., vol. I, pág. 153) que

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 21

Page 22: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

22

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

“Têm os consumidores e terceiros não envolvidos em dada relação de consumo incontestável direito de não serem expostos a perigos que atinjam sua incolumidade física, perigos tais representados por práticas condenáveis no fornecimento de produtos e serviços.

“E, em decorrência de tal direito, o Código elenca normas que exigem, por exemplo, a devida informação sobre os riscos que produtos e serviços possam apresentar (...), ou simplesmente não colocá-los no mercado, se tais riscos forem além do que normalmente se espera deles (arts. 8º a 10 do Código).

“Decorre ainda de tal direito o dever de os fornecedores retirarem do mercado produtos e serviços que venham apresentar riscos à incolumidade dos consumidores ou terceiros, alheios à relação de consumo, e comunicar às autoridades competentes a respeito desses riscos, sem falar-se, evidentemente, do direito a uma indenização cabal por prejuízos decorrentes de tal fato do próprio produto, ou seja, responsabilidade advinda da simples colocação no mercado de produto ou prestação de serviços perigosos...” (sublinhei).

Segundo o Juízo,

“A simples potencialidade de serem lesados pela aquisição de produtos manipulados e com data de validade falsa já faz com que os consumidores venham a ser titulares do interesse difuso, sem falar na descrença e no desprestígio causados à sociedade em relação ao sistema. Tendo em conta que a ré fornecia seus produtos para este e outros Estados da federação, pode-se dizer que os potenciais consumidores de seus produtos eram de grande número” (fls. 1791).

(...)“Evidentemente houve abalo da confiança e da segurança que

os consumidores possuíram ao crer os produtos que adquiriram eram conservados em boas condições de armazenamento até chegar à suas mãos e também ao orientar-se pela etiqueta de validade de um produto. É lógico que alguns consumidores, crendo na idoneidade dos fornecedores, ainda acreditam nas datas de fabricação e validade impressas em embalagens, mas muitos outros agora desconfiam dessas mesmas datas, causando incerteza e temor pelo produto adquirido, abalando a relação de consumo de um setor inteiro.”

“Após os eventos noticiados não se sabe se aquela data lançada na etiqueta é real ou foi modificada, o que trouxe insegurança e incômodo aos consumidores, principalmente ao adquirir produtos alimentícios, e essa insegurança deu-se pelas práticas da ré que, como dito alhures, vêm de longa data” (fls. 1792).

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 22

Page 23: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

23

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

Essas razões respondem à saciedade ao pleito de que não seja imposta indenização e, igualmente, de não ser ordenado não deixe a recorrente de cumprir as obrigações discutidas na causa. Diz-se que se a obrigação decorre da lei necessidade não há de imposição de preceito cominatório. Acontece que justamente a desatenção e o desrespeito às regras que deram sustentação aos procedimentos que desaguaram nesta causa autorizam e, mais que isso, determinam se imponha o dever de cumprir sob pena de multa, de tal arte a desestimular a repetição da conduta.

17. Por fim, a r. sentença fixou a indenização por danos morais em R$ 1.000.000,00. Levou em consideração o faturamento da empresa no primeiro semestre de 1991 (55 milhões de dólares) e em 1997 (superando 303,5 milhões de reais), conforme o contido às fls. 1310/1315.

O Ministério Público pede seja majorada para R$ 5.420.000,00, resultante do cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda do bacalhau deteriorado e fraudado, bem como para desestimular a prática inescrupulosa e gananciosa da ré, que buscava o enriquecimento ilícito em detrimento da saúde pública e da dignidade humana.

Penso, no entanto, que a indenização por dano moral não pode ser pautada pelo faturamento da empresa, nem igualmente pelo lucro que a requerida obteria, não fosse a intervenção estatal em sua atuação. Esses fatores podem ser levados em conta para a consideração da posição econômica da empresa, sua capacidade de suportar a indenização e de ser influenciada pelo valor imposto pelo Judiciário.

RUI STOCCO (Responsabilidade civil e sua Interpretação Jurisprudencial, - São Paulo : Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1999, p. 754/755 e 762), após colacionar vários v. arestos, alguns de Tribunais deste Estado, apontando o caráter dúplice da indenização por dano moral (punição do agente e compensação pela dor sofrida, de acordo com os julgados), pondera que

“não se há repudiar a teoria do valor do desestímulo enquanto critério, pois o propósito de desestimular ou alertar o agente causador do mal com a objetiva imposição de uma sanção pecuniária não significa a exigência de que componha um valor absurdo, despropositado e superior às forças de quem paga, nem deve ultrapassar a própria capacidade de ganhar da vítima e, principalmente, a sua necessidade ou carência material, até porque, se nenhum prejuízo dessa ordem sofreu, o valor apenas irá compensar a dor, o sofrimento, a angústia, etc. e não reparar a perda palpável, o ressarcimento dito material”.

Conferido ao Poder Judiciário dizer qual a indenização cabível no caso concreto, atendidas as peculiaridades do caso, especialmente as circunstâncias apontadas, a indenização, na hipótese, deve recompor quanto possível o dano e

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 23

Page 24: TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo · cálculo que considerou o dobro do lucro ilícito estimado que seria obtido pela recorrida com a venda de bacalhau deteriorado

TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo

24

Apelação nº 9133918-11.2004.8.26.0000 tv-jcs

constituir estímulo ao aprimoramento do serviço prestado, aliás como dita v. acórdão relatado pelo então Desembargador desta Corte, hoje Ministro CEZAR PELUSO: “estimativa prudencial que leve em conta a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo atentado, o autor da ofensa” (RT 706/76).

De resto, vale a orientação do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual o fixar a indenização "não pode contrariar o bom senso, mostrando-se manifestamente exagerado ou irrisório" (RT 814/167).

O valor encontrado pelo digno Magistrado atende a esses princípios, de sorte que o julgado é de ser mantido também nessa parte.

18. Ante o exposto, nego provimento aos agravos retidos e às apelações, confirmando a r. sentença por seus fundamentos, acrescidos dos acima alinhados.

É meu voto.

JOÃO CARLOS SALETTIRelator

assinado digitalmente

Se

impr

esso

, par

a co

nfer

ênci

a ac

esse

o s

ite h

ttps:

//esa

j.tjs

p.ju

s.br

/esa

j, in

form

e o

proc

esso

913

3918

-11.

2004

.8.2

6.00

00 e

o c

ódig

o R

I000

000E

ZS

GS

.E

ste

docu

men

to fo

i ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or J

OA

O C

AR

LOS

SA

LET

TI.

fls. 24