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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO TRATAMENTO DIFERENCIADO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO ÂMBITO DAS LICITAÇÕES PÚBLICAS JULIANA BEPPLER Itajaí/SC, 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

TRATAMENTO DIFERENCIADO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO ÂMBITO DAS LICITAÇÕES PÚBLICAS

JULIANA BEPPLER

Itajaí/SC, 2009

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

TRATAMENTO DIFERENCIADO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO ÂMBITO DAS LICITAÇÕES PÚBLICAS

JULIANA BEPPLER

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor Msc. Emerson de Morais Granado

Itajaí/SC, 2009

AGRADECIMENTO

As conquistas são fáceis de alcançar, pois fazemo-

las com todas as novas forças, mas são difíceis de

conservar, uma vez que apenas a mantemos com

uma parte de nossas forças.

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Augusto e Marisi Beppler, ao meu

noivo Marcos Muller.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí/SC, 2009

Juliana Beppler Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Juliana Beppler, sob o título Tratamento

Diferenciado às Micro e Pequenas Empresas no Âmbito das Licitações Públicas, foi

submetida em 19/11/2009 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: Eduardo Erivelton Campos (Examinador), e aprovada com a nota 9,0

(nove).

Itajaí/SC, 2009

Emerson de Morais Granado Orientador e Presidente da Banca

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. ARTIGO L.C. LEI COMPLEMENTAR C.F. CONSTITUIÇÃO FEDERAL

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais:

Administração

Stoner e Freeman1 conceituam Administração como “a arte de fazer e realizar as

coisas através das pessoas”.

Atos

Acquaquiva2 explica que ato é “aquilo que se fez; feito ou o que se está fazendo;

caracteriza uma ação. Pode ser definido como algo ou modo a se proceder”.

Estado

Meirelles3 define Estado como “comunidade de homens, fixada sobre um território,

com potestade superior de ação, de mando e de coerção; sob o prima constitucional

é pessoa jurídica territorial soberana; na conceituação do nosso Código Civil é

pessoa jurídica de direito público interno (art. 14, I). Como ente personalizado, o

Estado tanto pode atuar no campo do direito público como no do direito privado,

mantendo sempre sua única personalidade de direito público, pois a teoria da dupla

personalidade do Estado se acha definitivamente superada”.

1 STONER,James A. F.; FREEMAN, R. Edward. Administração.5.ed.Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1995. p. 5

2 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro. 3. Ed. São Paulo. 1993

3 MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e Contratos Administrativo. Direito Ad. Brasileiro: São Paulo, 1985. 11. Ed. P.34

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................11

1. DIREITO ADMINISTRATIVO ..............................................13

1.1. CONCEITO .........................................................................................................14

1.2. PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA.............................................15

1.2.1. Principio da legalidade......................................................... ..... ..................16

1.2.2. Principio da impessoalidade.........................................................................17

1.2.3. Principio da moralidade ................................................................................17

1.2.4. Principio da publicidade................................................................................19

1.2.5. Principio da finalidade...................................................................................20

1.2.6. Principio da continuidade..............................................................................21

1.2.7. Principio da indisponibilidade......................................................................21

1.2.8. Principio da autotutela...................................................................................22

1.2.9. Principio da supremacia do interesse público............................................23

1.2.10. Principio da igualdade.................................................................................24

1.2.11. Principio da eficiência..................................................................................25

1.2.12. Principio da motivação................................................................................26

1.2.13. Principio da razoabilidade...........................................................................26

1.3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.............................................................................27

1.4. ATOS ADMINISTRATIVOS ..............................................................................29

1.5. SERVIÇOS PÚBLICOS..................................................................................... 30

2. LICITAÇÃO E CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA........... ................................................................................................................31

2.1. CONCEITO E FINALIDADES DA LICITAÇÃO..................................................31

2.2. PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO.............................................................................34

2.2.1. Principio da padronização............................................................................ 34

2.2.2. Principio da vinculação ao instrumento convocatório ..............................35

2.2.3. Principio da competitividade.........................................................................36

2.2.4. Principio do julgamento objetivo ................................................................36

2.2.5. Principio da fiscalização da licitação ..........................................................37

2.2.6. Principio formal e formalismo .....................................................................38

2.3. MODALIDADES..................................................................................................38

2.3.1. Concorrência .................................................................................................39

2.3.2. Tomadas de preços ......................................................................................42

2.3.3. Convite............................................................................................................45

2.3.4. Concurso.........................................................................................................48

2.3.5. Leilão...............................................................................................................49

2.3.6. Pregão.............................................................................................................51

2.4. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS...................................................................52

3. LEI COMPLEMENTAR Nº 123/06 O REFLEXO DA LEI NAS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE.................55

3.1. LEI COMPLEMENTAR 123/06...........................................................................55

3.2. O NOVO CENÁRIO SOB A VIGÊNCIA DA LEI COMPLEMENTAR 123/06.....64

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................68

REFERÊNCIAS......................................................................................70

RESUMO

O crescimento demasiado das microempresas e empresas de

pequeno porte no Brasil é um forte indício de contribuição para as mudanças no

cenário nacional e consequentemente as alterações e também arbitrariedade nas

leis. Os volumes de recursos financeiros, que movimentam as contratações públicas,

também aumentaram de forma significativa nas licitações com as participações

destas empresas. Reflexos da conjugação de fatores que indica a relevância do

tratamento diferenciado e favorecidos estabelecidos no estatuto atrelado ao

potencial impacto da Lei Complementar 123/06 que elevou, desta forma, os

resultados das licitações na economia brasileira.

Palavras chaves: Micro e Pequenas Empresas; Lei

Complementar; Licitação Pública.

11

INTRODUÇÃO

A sociedade, de uma forma geral, está em constantes

mudanças; e avaliando esses processos de transformações podemos indagar

se isso também influência o âmbito do Direito Administrativo.

Diferente do período de sua criação e a chamada

“revolução” do Direito Administrativo, onde as leis e sistemas eram por

imposição das autoridades da época; a sociedade de hoje detém muito mais o

poder de influenciar as leis e até mesmo de transformá-las de acordo com os

interesses ainda dos governantes, mas aliados também com os interesses de

toda uma população. Isto se deve a diversos fatores, um deles é o acesso

ilimitado as informações que proporciona desenvolver cidadãos, mas interados

dos seus direitos.

No Brasil, recentemente, uma constatação disso foi à

implementação da lei complementar 123/06 que surgiu após uma avaliação do

crescimento das microempresas (cerca de 60% período de 1996 a 2002) e

empresas de pequeno porte (cerca de 40% período de 1996 a 2002)4

juntamente com a proposta do governo de acelerar o crescimento econômico

do país.

Entretanto, algumas inafastáveis indagações surgiram: a

lei complementar poderia de fato alavancar a macroeconomia nacional? Quão

duradoura e eficaz seria a nova lei e até que ponto esta contribuirá para o

desaparecimento das grandes empresas nos certames?

Por essa razão o presente trabalho busca abordar como

tema principal o impacto desse tratamento diferenciado as Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte nas Licitações Públicas a partir do surgimento da

Lei Complementar nº 123/2006.

4 SANTOS, José Anacleto. Licitações e o Estatuto da Microempresa e Empresa de

Pequeno Porte. Juruá: Paraná, 2009.

12

Deste modo o trabalho foi dividido em três capítulos. No

primeiro capítulo serão abordados os conceitos gerais, os objetivos e os

princípios que norteiam o Direito Administrativo. Além disso, será apresentado

neste capítulo o objeto deste Direito, a administração pública.

O segundo capítulo trata os aspectos conceituais e

princípios das Licitações e Contratações da Administração Pública bem como

as modalidades das licitações e os contratos administrativos.

No terceiro e último capítulo são analisados a Lei

Complementar Nº 123/06, modelos de contratações, além dos impactos e

reflexos que a nova Lei proporcionou e criou como novo cenário.

Na finalização desta monografia apresentam-se todas as

considerações sobre o tema proposto pela autora.

13

1. DIREITO ADMINISTRATIVO

O direito administrativo teve origem a partir do século

XVIII, mas precisamente na Idade Média, porém este período não foi propício

para o seu desenvolvimento completo uma vez que a monarquia tinha domínio

absoluto sobre as leis da época. Sobre isto Di Pietro5 comenta que as

monarquias eram “absolutas, em que todo o poder pertencia ao soberano; a

sua vontade era a lei, a que obedeciam todos os cidadãos, justificadamente

chamados servos ou vassalos (aqueles que se submetem à vontade de

outrem)”.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 24) a história e o

desenvolvimento do direito administrativo ficariam marcados neste período

juntamente com as revoluções dos regimes absolutistas.

Para Meirelles (1985, p. 17) “o absolutismo reinante e o

enfeixamento de todos os poderes governamentais nas mãos do Soberano não

permitiam o desenvolvimento de quaisquer teorias que visassem reconhecer

direitos aos súditos”, e a Revolução neste período surgiu para ensejar

atividades administrativas ou justiça administrativa.

Conforme Granziera6 a fonte do poder confundia-se com

a pessoa do rei que retratava uma sociedade em que apenas uma parte ditava

as normas, “o próprio direito administrativo não se encontrava consistente

como ramo do direito” (GRANZIERA, 2002, P.20).

5 DIPIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, 2006.p.23

6 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Contratos Administrativos – Gestão, Teoria e Prática. Atlas: São Paulo, 2002.p.19

14

Contudo, as lutas pelas mudanças no poder repercutiram

lentamente e o reconhecimento dos direitos dos cidadãos e a legitimidade do

direito administrativo ocorrem apenas na segunda metade do século XX.

No Brasil o direito administrativo seguiu as demais nações

e obteve influências principalmente do Direito Público Norte Americano, “onde

os republicanos foram buscar o modelo para a nossa Federação”

(MEIRELLES, 1985, P. 20).

Meirelles (1985, p. 21) enfatiza que o direito administrativo

brasileiro não se atrasou cronologicamente de tal modo que em 1857 foi

“editada a primeira obra sistematizada – Elementos de Direito Administrativo

Brasileiro”.

Di Pietro (2006, p. 42) exorta que “o direito administrativo

brasileiro sofreu grande influências do direito alienígena, em especial, nas

origens, do francês e italiano”.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 42) o direito

administrativo brasileiro, nessa fase, obteve influências do direito norte

americano, “no que diz respeito ao sistema de unidade de jurisdição, à

jurisprudência como fonte de direito, à submissão da Administração Pública ao

controle jurisdicional”. No entanto no que diz respeito a teorias e princípios fica

evidente a predominante influência do direito francês.

Segundo Granziera (2002, p. 20) a consagração do

processo administrativo no Brasil ocorreu por meio de sua Constituição Federal

de 1988, sendo este o processo mais elaborado e consolidado.

1.1. CONCEITO

Durante toda a sua história e as evoluções os quais

passaram o direito administrativo diversas foram as definições criadas para

procurar caracterizar o seu objeto e definir sua área de atuação.

15

Um das definições é que o direito administrativo sintetiza-

se como um “conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos,

os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e

imediatamente os fins desejados pelo Estado”7.

Essa expressão comporta duas acepções e pode indicar

um “conjunto de regras jurídicas ou uma disciplina científica autônoma”, de

modo que estes sentidos levam o conceito do direito a uma dose de imprecisão

e também de arbitrariedade. Estas razões, por fim, dificultam o oferecimento de

conceito de direito administrativo em caráter universal8.

Marçal9 comenta que “o direito reflete as vicissitudes e

características do universo político, social, econômico e cultural em que se

insere”. Existe um direito administrativo com dois conceitos e objetivos um

antes e pós modernismo, sendo o pós moderno àquele que envolve e convoca

o Estado “para a defesa de valores essenciais e para o controle e repressão

dos abusos propiciados pela concentração do poder econômico e pela

afirmação de uma sociedade”.

Di Pietro (2006, p. 25) define o direito administrativo como

ramo de direito público “que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas

jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade

jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para

consecução de seus fins, de natureza pública”.

1.2. PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

Apreciados os conceitos e definições do direito

administrativo passamos agora o estudo para as atividades administrativas que

7 MEIRELLES, Hely Lopes.Direito Administrativo Brasileiro. 1985, p. 06

8 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 2008, p. 02 9 JUSTEN FILHO, Marçal. O Estatuto da Microempresa e as Licitações Públicas. 2.Ed, São Paulo: Dialética, 2007

16

indica seus princípios básicos. Antes importante elucidar o sentido de

administrar; que significa “gerir interesses, segundo a lei, a moral e a finalidade

dos bens entregues à guarda e conservação alheias” (MEIRELLES, 1985, P.

57).

Já “a atividade consiste numa atuação contínua, integrada

por um conjunto de ações ativas e omissivas, que devem ser consideradas

unitariamente em vista de uma finalidade comum” (MARÇAL, 2006, P.02).

Conceitos alinhados juntos a atividade administrativa

constituem “os fundamentos da validade da ação administrativa”, ou melhor,

“os sustentáculos da atividade pública”, estão consubstanciados em seus

princípios básicos (MEIRELLES, 1985, P. 60).

1.2.1 PRINCIPIO DA LEGALIDADE

Na administração pública dentro do âmbito do direito

administrativo, o princípio da legalidade está atrelado ao administrador público

que em a sua atividade esta sujeito às leis e as exigências do bem comum.

Granziera (2002, p. 27) comenta que o “principio da

legalidade está fixado caput do art.37 da Constituição Federal, que dispõe

sobre a atuação da Administração Pública”. O que significa que sua atuação

deve “fundamentar-se, necessariamente, no ordenamento jurídico em vigor,

mais precisamente na norma”.

Meirelles (1985, p. 60) conclui que “a eficácia de toda

atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei”.

Ainda de acordo com Meirelles (1985, p. 60) este

principio, “até bem pouco só era sustentado pela doutrina”, felizmente passou a

ser imposição legal através da lei reguladora “da ação popular que considera

nulos os atos lesivos ao patrimônio público”.

17

Di Pietro (2006, p. 81) comenta que o principio da

legalidade surgiu com o Estado de Direito (pela Administração do Poder

Judiciário) constituindo como forma de garantias de respeito aos direitos

individuais. “Isto porque a lei, ao mesmo tempo em que os define, estabelece

também os limites da atuação administrativa que tenha por objeto a restrição

ao exercício de tais direitos em benefício da coletividade”.

Para Gasparini (2008, p. 7) o principio como toda a sua

atividade, na Administração Pública, “presa aos mandamentos da lei, deles não

se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu

autor”.

Ainda de acordo como Gasparini (2008, p. 8) o princípio

da legalidade não se incide somente na atividade administrativa, mas se

estende por todas as atividades do Estado.

Mukai10 ressalva que este princípio rege o “instrumento de

garantias da liberdade contras as possíveis arbitrariedades do poder, ou seja,

pode-se “fazer somente aquilo que for expressamente autorizado por lei”.

Segundo Marçal (2006, p. 146) “a temática do princípio da

legalidade está no centro das discussões travadas sobre a atividade

administrativa e sobre as expectativas de sua reforma”.

1.2.2 PRINCIPIO DA IMPESSOALIDADE

O termo de impessoalidade está atrelado à objetividade;

princípio que rege a igualdade e isonomia.

Graziera (2002, p. 30) comenta que “as questões devem

ser tratadas considerando-se o objeto em questão e não os sujeitos

10 MUKAI, Toshio. O Direito Administrativo e os Regimes Jurídicos da Empresas Estatais. 2. Ed. Fórum: Belo Horizonte, 2004.p.110

18

envolvidos”. Desta o administrador público só poderá praticar atos para um fim

legal.

De acordo com Gaparini (2008, p. 9) a atividade

administrativa é destinada a todos os administrados e direcionada aos

cidadãos de uma forma geral, “sem determinação de pessoa ou discriminação

de qualquer natureza”. Mas é importante ressalvar que o princípio em si não

impede que determinados atos administrativos tenham beneficiários, “como é o

caso do ato de nomeação de servidor público”.

Di Pietro (2006, p. 85) ressalva que a denominação deste

princípio apareceu pela primeira vez no art. 37 da Constituição de 1988,

deixando com que diferentes interpretações fossem feitas. O autor comenta

também que a impessoalidade esta relacionada tanto como a finalidade

pública, para nortear a atividade administrativa quanto para a administração de

modo a “não atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar” determinadas

pessoas.

Outra aplicação deste princípio esta na própria matéria de

exercício de fato, quando se define a validade dos atos práticos “por

funcionários irregularmente investidos no cargo ou função, sob fundamento de

que os atos são do órgão e não do agente público” (DI PIETRO, 2006 P. 85).

1.2.3 PRINCIPIO DA MORALIDADE

Moralidade significa qualidade do que é moral ou

doutrinas, princípios enfim regras morais. Sobre isto Meirelles (1985, p. 61)

comenta que o ser “humano dotado da capacidade de atuar, deve,

necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto”. Na

atuação não poderá desprezar elementos como a ética na sua conduta uma

vez que a moralidade administrativa não se confunde ou se difere da

moralidade comum.

19

Ainda de acordo com o autor a moral administrativa é

regida pelo “agente público para sua conduta interna” seguindo as exigências

“da instituição a que serve, e a finalidade de sua ação: o bem-comum”.

Gasparini (2008, p. 10) enfatiza que o ato e a atividade

administrativa “pública devem obedecer não só a lei, mas à própria moral,

porque nem tudo que é legal é honesto”.

Na administração pública, o princípio da moralidade extrai

um conjunto de regras de conduta que além de reger, também regulamenta.

Di Pietro (2006, p. 92) comenta que muitos autores não

reconhecem este princípio porque compreende que a moral administrativa traz

um conceito um pouco vago e impreciso e que pode ser absorvido pelo mesmo

conceito da legalidade.

1.2.4 PRINCIPIO DA PUBLICIDADE

Declarado como princípio obrigatório para a divulgação de

atos, contratos ou outros instrumentos realizados pela Administração pública,

seja ela direta ou indiretamente.

Gasparini (2008, p. 11) reforça que “todos os atos,

contatos e instrumentos jurídicos devem ser publicados”.

Granziera (2002, p. 31) enfatiza que “o princípio da

publicidade encontra-se previsto no art. 37 da Constituição Federal, no art. 4º

da Lei nº 8.429/92 e no art. 2º da Lei nº 9.784/99”. Como regra geral que todo

ato administrativo deve ser publicado oficialmente, “salvo as questões de

segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior da

administração, a ser preservado”.

20

Di Pietro (2006, p. 89) ressalva que o principio esta

inserido na lei e proporciona desta forma uma ampla divulgação de todos os

atos praticados pela Administração Pública.

De acordo com Meirelles (1985, p. 63) a publicidade é a

divulgação oficial do ato, de modo a ter público seus efeitos. Porém, a

“publicidade não é elemento formativo do ato; é requisito de eficácia e

moralidade”.

1.2.5 PRINCIPIO DA FINALIDADE

Meirelles (1985, p. 63) define o princípio da finalidade

como algo impositivo ao administrador público que pratica o ato para seu fim

legal. Sendo o fim legal, unicamente, a expressão do direito ou o objetivo do

ato.

Ainda de acordo com o autor o princípio denomina-se

como “finalidade pública” que defende o interesse público de modo que, deve

ser impedido de praticá-lo em interesse próprio ou de terceiros. A prática para

satisfazer a outrem é considerada a forma de desvio de finalidade, ou seja,

desvio de conduta.

Para Granziera (2002, p. 34) os órgãos e entidades

“possuem finalidades definidas em lei” e o principio da finalidade se divide em

duas formas. A primeira esta no atendimento/ cumprimento da lei e a segunda

consiste em buscar os interesses públicos.

Gasparini (2008, p. 14) caracteriza o principio da

finalidade como prática direta a Administração Pública e o “afastamento da

Administração Pública da finalidade de interesse pública” ou desvio de

finalidade pode ser dividido em genérico ou específico. “Diz-se genérico

quando o ato simplesmente deixa de atender interesse público” e os

específicos “quando o ato desatende a finalidade indicada na lei”.

21

Mukai (2004, p. 116) este é o princípio “balisar que

informa toda a atividade administrativa do Estado moderno”. Sua importância

chega ao ponto que sua desobediência é a causa de anulação do ato

praticado.

Enfim, o princípio da finalidade administrativa corresponde

a uma necessidade pragmática de se confirmar os atos da Administração

Pública, da forma, mas correta (MUKAI, 2004. P.119).

1.2.6 PRINCIPIO DA CONTINUIDADE

A atividade pública é algo ininterrupta; isto se deve aos

anseios da coletividade que não param. Gasparini (2008, p. 17) comenta que

se entende como ininterrupta os serviços relacionadas à segurança pública,

distribuição de justiça, serviços de saúde, transportes etc.

Gasparini (2008, p. 17) exorta que “a razão deste princípio

que, pelo menos em teste, veda-se àquele que contrata com a Administração

Pública a possibilidade de valer-se da exceção de contrato não cumprido”.

Granziera (2002, p. 33) enfatiza que o princípio da

continuidade constitui a impossibilidade de paralisar atividades administrativas,

tendo em vista a essência da coletividade.

Segundo Di Pietro (2006, p. 88) “esse princípio entende-

se que o serviço público, sendo a forma pela qual o Estado desempenha

funções essenciais ou necessárias à coletividade, não pode parar”.

1.2.7 PRINCIPIO DA INDISPONIBILIDADE

O princípio da indisponibilidade é indicado como o

alicerce para o exercício da contratação onde “tais gestores podem ser a

22

autoridade superior que decide pela contratação de terceiros e autoriza a

abertura do procedimento licitatório” (GRANZIERA, 2002, P. 33).

Segundo Di Pietro (2006, p. 86) este princípio assim como

a legalidade decorre do principio da especialidade, ou seja, uma concernente à

“idéia da descentralização administrativa”.

Mukai (2004, p. 112) comenta que esse “princípio é

fundamental para estruturação racional do direito administrativo atual porque”

primazia o interesse público e responsável pela noção de normas

complementares a fim de dirigir forças sociais.

Sobre isto Gasparini (2008, p. 18) relata que:

““Não se acham, segundo esse princípio, os bens, direitos, interesses e serviços públicos à livre disposição dos órgãos públicos, a quem apenas cabe curá-los, ou do agente público, mero gestor da coisa pública. Aqueles e este não são seus senhores ou seus donos, cabendo-lhes por isso tão-só o dever guardá-los e aprimorá-los para a finalidade a que estão vinculados. O detentor dessa disponibilidade é o Estado”.

Ainda de acordo com o autor a razão deste princípio é a

necessidade da lei alienar bens, outorgar concessão de serviço público. Além

disso, renunciar, confessar, transigir para tantas outras atividades “a cargo dos

órgãos e agentes da Administração Pública” (GASPARINI, 2008, P. 18).

1.2.8 PRINCIPIO DA AUTOTUTELA

O princípio da autotutela é a decorrência do princípio da

legalidade. Exerce controle sobre os próprios atos, sujeito inclusive de

anulação caso sejam atos ilegais e “revogar os inconvenientes ou inoportunos,

independentemente de recurso ao Poder Judiciário” (DI PIETRO, 2006, P. 87).

23

Di Pietro (2006, p. 87) comenta que ao se falar de

autotutela significa designar o poder que a Administração Pública tem em zelar

pelos bens que integram o patrimônio. Além disso, segundo Di Pietro, por meio

deste princípio, pode-se valer “medidas de polícia administrativa” que impede

“quaisquer atos” que coloquem em risco a conservação dos bens.

Para Gasparini (2008, p. 20) este princípio é, em algumas

vezes, confundido com a tutela administrativa (significa “controle a

administração direta exerce sobre as entidades da administração indireta”). O

princípio da autotutela visa policiar os atos administrativos praticados e “cabe-

lhe retirar do ordenado jurídico os atos inconvenientes”, inoportunos e os

ilegítimos.

1.2.9 PRINCIPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO

Esse princípio, também é conhecido como “princípio da

finalidade pública, está presente tanto no momento da elaboração da lei como

no momento da sua execução em concreto pela Administração Pública” (DI

PIETRO, 2006, P. 82).

Granziera (2002, p. 33) conceitua o princípio da

supremacia do interesse público como a soma de “interesses individuais à luz

da comunidade”, ou seja, que sobreponha ao interesse particular.

Mello11define o princípio como “interesse resultante do

conjunto de interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando

considerado em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato

de o serem”.

11 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 6. Ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Malheiros, 1995.p.59

24

Gasparini (2008, p. 20) caracteriza como o grande

princípio informativo do Direito Público, uma vez que, o interesse de um ou de

um grupo possa vingar sobre o interesse de todos.

1.2.10 PRINCIPIO DA IGUALDADE

Reconhecido também como princípio da isonomia, o

princípio da igualdade rege o tratamento impessoal, igualitário às pessoas

físicas e jurídicas tanto para o direto público quanto para o privado.

O princípio da igualdade visa “evitar privilégios, e quando

instalados servir de fundamento para sua extinção”. Porém vale ressaltar que

essa igualdade, “não significa nivelamento econômico, pois não se trata de

uma igualdade material, mas jurídico-formal” (GASPARINI, 2008, P. 21).

Gasparini (2008, p. 20) comenta que o princípio da

igualdade concede tratamentos iguais quanto a benefícios, “confere isenções

ou outorga vantagens como quando prescreve sacrifícios, multas, sanções,

agravos”. Portanto todos àqueles considerados iguais perante a lei na

administração pública deve receber o mesmo tratamento.

Segundo Granziera (2002, p. 32) exorta que a igualdade

definida como princípio refere-se à vedação de tratamentos diferenciados e

preferenciais atrelado, desta forma, ao princípio da impessoalidade.

Ainda de acordo com Granziera (2002, p. 32) o princípio

da igualdade “é a garantia de tratamento isonômico a todos os interessados em

contratar com a Administração, assim como a todos aqueles que já celebraram

contrato”.

Mukai (2004, p. 119) relata que o principio possui sentido

duplo. Um deles é “a igualdade diante das vantagens oferecidas pela

Administração” à outra é “diante o ônus e dos encargos públicos”.

25

Ainda de acordo com Mukai (2004, p. 119) o princípio da

igualdade domina toda a Administração Pública, seja ela direta ou indireta.

1.2.11 PRINCIPIO DA EFICIÊNCIA

Esse princípio assegura que os melhores resultado sejam

alcançados na prestação do serviço público.

Di Pietro (2006, p. 98) comenta que o princípio da

eficiência se apresenta em dois aspectos: “pode ser considerado em relação ao

modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho

possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação

ao modo de organizar, estruturar” e disciplinar.

Para Granziera (2002, p. 32) a eficiência é um fator

determinante para a “atuação do gestor do contrato”. A forma racional na

utilização de recursos orçamentários são conseqüências da eficiência na

gestão dos processos de contratação.

Ainda de acordo com Graziera (2002, p. 32) a “eficiência

concilia-se com outro princípio constitucional da Administração, o da

legalidade, cabendo à Administração atuar com eficiência, porém dentro dos

limites que o ordenamento” impõe.

Gasparini (2008, p. 21) conceitua o princípio da eficiência

como a obrigação de atribuir rapidez, rendimento e perfeição na administração

pública.

26

1.2.12 PRINCIPIO DA MOTIVAÇÃO

“O princípio da motivação abrange toda a questão do

mérito administrativo, que embasa a atuação do administrado público nas

decisões não determinadas por lei” (GRANZIERA, 2002, P. 37).

Segundo Granziera (2002, p. 37) os atos administrativos

necessitam ser motivados. Através da motivação, o administrador público

justifica a sua ação, indica os fatos que ensejam o ato além dos preceitos

jurídicos.

Conforme Gasparini (2008, p. 23) “a motivação é

necessária para todo e qualquer ato administrativo”, porque os “atos

administrativos precisam ser motivados. Devem ser mencionadas para a

prática de qualquer ato administrativo as razões de fato e de direito que

levaram a Administração a proceder daquele modo”.

1.2.13 PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE

O princípio da razoabilidade não o prevê expressamente

na Constituição Federal; é uma decorrência dos princípios da finalidade e

legalidade.

Gasparini input Mello (2008, p. 25) comenta que

determinadas condutas (bizarras, desarrazoadas, incoerentes, por exemplo)

praticadas com desconsideração às situações e “circunstâncias que seriam

atendidas por quem tivesse atributos normais de prudência, sensatez e

disposição de acatamento às finalidades da lei atributiva da discrição

manejada”.

Granziera (2002, p. 34) exorta que a razoabilidade trata-

se das decisões de mérito, visto que o administrador exerce o poder

discricionário.

27

Ainda de acordo com Granziera (2002, p. 34) o

administrador deve utilizar a razoabilidade principalmente na “sistemática de

aplicação de penalidades durante a execução do contrato e a rescisão

unilateral do mesmo”.

Di Pietro (2006, p. 95) disserta sobre o principio como

mais uma tentativa de impor “limitações à discricionariedade administrativa,

ampliando-se o âmbito de apreciação do ato administrativo pelo Poder

Judiciário”.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 96) trata-se da

razoabilidade no “prazo de tramitação dos processos judiciais administrativos.

O intuito evidente é o de acelerar essa tramitação, o que somente será possível

com a criação de instrumentos adequados”.

O princípio da razoabilidade está sob a feição de

proporcionalidade entre os meios e os fins, está contida implicitamente na lei

que impõe a Administração Pública a adequação destes meios e fins (DI

PIETRO, 2006, P. 96).

1.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Constituição Federal de 1988 fez uma revolução na

administração pública, no que diz respeito a sua democratização e

institucionalização, porém continuou, em sentido formal, um conjunto de órgãos

instituídos para consecução dos objetivos do governo.

Sobre isto Meirelles (1985, p. 38) complementa:

“(...) em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por eles assumidos em benefício da coletividade”.

28

Ainda de acordo com Meirelles (1985, p. 39) numa “visão

global, a administração é, pois, todo o aparelhamento do Estado preordenado à

realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas”,

de modo que não se pratica atos de governo, mas praticam-se “tão somente,

atos de execução”; desta forma com maior ou menor autonomia, os chamados

atos administrativos.

Segundo Marçal (2006, p. 23) “a atividade de

administração pública é uma das funções estatais, a qual era anteriormente

desempenhada exclusivamente por órgãos estatais”.

Conforme Di Pietro (2006, p. 68) dois sentidos são mais

“comumente para a expressão administração pública”:

Sentido subjetivo, formal ou orgânico: neste caso

abrangem pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos para exercer funções

administrativas;

Sentido Objetivo, material ou funcional: neste sentido, a

administração pública é a própria função administrativa, exercidas por aqueles

entes (Poder Executivo);

Di Pietro (2006, p. 73) ainda frisa que a administração

pública possui uma distinção em relação ao Governo. Isto porque “o governo e

a função política são mais objeto do Direito Constitucional” e nestes sentidos, “

a administração pública é o objeto de estudo do Direito Administrativo”.

Gasparini (2008, p. 44) conceitua a administração pública

como atividade administrativa, “quando determina sua submissão aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência da

licitação e os de organização do pessoal administrativo”.

29

Segundo ainda Gasparini (2008, p. 45) a expressão de

administração denomina-se uma idéia de comando, orientação e direção.

Essências fundamentais para atendimentos a necessidades coletivas.

1.4 ATOS ADMINISTRATIVOS

A atividade administrativa propõe para o atingimento dos

seus fins a administração Pública como exercício as prerrogativas, previstas

em lei ou sobre uma prática de vários atos denominados “atos da

administração pública”.

Em síntese, segundo Gasparini (2008, p. 59):

I – Ajurídicos 1.materiais

Privado Atos da Administração

Pública II – Jurídicos 1.regidos pelo Direito

2.administrativos

Os ajurídicos, também são conhecidos como fatos

administrativos, que traduzem o trabalho e operação técnica de agentes

públicos. A manifestação de anseios, juízo ou conhecimento não expressam a

Administração Pública sobre dada situação12.

Os jurídicos visam declarar, alterar, criar, transferir e a

extinguir direitos e obrigações. Estão predestinados a produzir efeitos jurídicos.

Para Meirelles (1985, p. 108) a administração pública

executa atos jurídicos e recebem uma denominação diferenciada chamada

atos administrativos. O autor conceitua ato administrativo como “toda

manifestação unilateral de vontade da Administração Pública, que, agindo

nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir,

12 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2008

30

modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados

ou por a si própria”.

Ainda de acordo com Meirelles (1985, p. 108) este

conceito é restrito ao ato administrativo unilateral ou a vontade única da

Administração.

Di Pietro (2006, p. 200) exorta que há “sentido mais amplo

do que a expressão ato administrativo, que abrange apenas determinada

categoria de atos praticados no exercício da função administrativa”.

1.5 SERVIÇOS PÚBLICOS

A “atribuição primordial da Administração Pública é

oferecer utilidades aos administrados, não se justificando a sua presença

senão para prestar serviços à coletividade”. Esses serviços são denominados

como serviços públicos. (MEIRELLES, 1985 P. 271).

Conforme Meirelles (1985, p. 272) “o serviço público é

todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e

controles estatais”, para realizar necessidades essenciais a coletividade ou a

“simples conveniências do Estado”.

Para Gasparini (2008, p. 49) relação direta com os

agentes públicos que prestam serviço ao Estado.

Conforme Di Pietro (2006, p. 110) não é tarefa difícil

conceituar o serviço público, “pois a sua noção sofreu consideráveis

transformações no decurso do tempo, quer no que diz respeito aos seus

elementos constitutivos” a sua abrangência.

Ainda de acordo com Pietro (2006, p. 111) quando há

referência à Administração e não ao Estado, excluem-se as atividades

legislativas e jurisdicionais. “No entanto, ainda é amplo, porque não distingue o

31

poder de polícia do serviço público” e abrange “todas as atividades exercidas

pela Administração Pública”.

2. LICITAÇÃO E CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Neste capítulo abordam-se os conceitos da licitação bem

como sua finalidade e princípios que norteiam o âmbito da administração

pública. Além disso, as modalidades e as leis que regem a licitação.

Analisa-se também, os contratos administrativos qual a

sua finalidade quando celebrados pela Administração Pública.

2.1. CONCEITO E FINALIDADES DA LICITAÇÃO

A contratação administrativa exige prévia licitação,

apenas dispensável nos casos previstos em lei. Desta forma, a licitação é um

procedimento administrativo de preparação do futuro ajuste entre a entidade

pública e a licitante, não conferindo ao vencedor nenhum direito ao contrato.

Afinal, a licitação gera uma expectativa de direito, pois fica a critério da

entidade publica contratar ou não com a licitante vencedora.

Nesse sentido Helly Lopes Meirelles conceitua:

“Procedimento administrativo mediante o qual a

Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de

seu interesse. Como procedimento, desenvolve-se através de uma sucessão

ordenada de atos vinculantes para a Administração e para os licitantes, o que

propicia igual oportunidade a todos os interessados e atua como fator de

eficiência e moralidade nos negócios administrativos.” 13

Desta maneira todas as publicações, governamentais e

suas subsidiárias que são obrigadas a licitar, puderem obter de mais de um

13 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 11.ed. São Paulo: RT, 1985

32

ofertante há de ser, em tese, escolhida em procedimento licitatório, tendo como

objeto a obra, o serviço, a compra, a alienação, a locação ou a concessão,

conforme disposto na Lei 8.666/93. O art. 1o da Lei estabelece normas gerais

sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços,

inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de modo

que, a definição do objeto da licitação é condição legítima devendo estar

claramente disposta no Edital.

Di Pietro (2006, p. 348) exorta que a licitação pode ser

definida como um procedimento administrativo no qual um agente público, na

sua função administrativa, “que se sujeitem às condições fixadas no

instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas dentre as

quais selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração do

contrato”.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 349) através da

licitação, a administração alcança todos os interessados e os convida na forma

de convocação prevista em lei.

Para Granziera (2002, p. 41) a licitação esta dividida em

duas etapas no processo administrativo de contratação; sendo que ambas são

distintas, são elas: fase interna e fase externa. A fase chamada interna se

caracteriza mediante solicitação, desta forma é autorizada à abertura do

processo de licitação. A fase externa, “agrupa todos os atos que ocorrem

desde a publicação do instrumento convocatório até a adjudicação do objeto ao

licitante vencedor.”

Ainda de acordo com Granziera (2002, p. 41) “o ato que

julga a licitação emana de poder vinculado e não discricionário. Daí

entendermos que mais adequado seria dizer que a Administração selecionará,

entre as propostas apresentadas”, e a melhor, ou seja, aquela que atende aos

“requisitos convocatório, de acordo com os critérios objetivos para tanto

estabelecidos”.

33

Conforme Gasparini (2008, p. 476) a busca facultativa

pela melhor proposta para certo negócio é um procedimento comum às

pessoas, porém, em se tratando de órgãos públicos, governamentais é na

grande maioria obrigatória selecionar a melhor proposta com base em critérios

pré-estabelecidos por lei.

Sobre isto Gasparini (2008, p. 477) conceitua a licitação

como procedimento administrativo que “através do qual a pessoa a isso

juridicamente obrigada seleciona, em razão de critérios objetivos previamente

estabelecidos, de interessados que tenham atendido à convocação, a proposta

mais vantajosa” para o ato ou contrato de interesse. Assim a pessoa obrigada é

chamada de licitante e a que participa de “procedimento da licitação”.

Marçal (2006, p. 316) define “a licitação como

procedimento administrativo disciplinada por lei e por um ato administrativo

prévio”, que define critérios e objetivos na seleção das propostas, na busca da

contratação mais vantajosa, “com observância do princípio da isonomia,

conduzido por um órgão dotado de competência”.

Ainda de acordo com Marçal (2006, p. 316) no processo

licitório há o envolvimento de práticas de uma série ordenada de atos jurídicos

“que permite aos particulares interessados apresentar-se perante a

Administração Pública, competindo entre si em condições de igualdade”.

Segundo Dallari (2000, p. 02) a licitação é “definida como

um procedimento relativo ao modo de celebrar determinados contratos, cuja

finalidade é a determinação da pessoa que ofereça à Administração condições

mais vantajosas,” após convite aos interessados que ofereçam propostas as

quais serão submetidas ao processo de seleção.

Mukai (2004, p. 340) caracteriza que o princípio que

domina a Administração Pública esta: “o do dever de licitar”.

34

2.2. PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO

Os princípios que regem a licitação, independente de sua

modalidade, se resumem nos preceitos de um procedimento formal; publicação

dos atos; a igualdade entre os interessados; o sigilo nas informações

(licitantes); vinculação ao edital; julgamento objetivo; adjudicação compulsória

ao vencedor (MEIRELLES, 1985, P. 224).

Conforme Gasparini (2008, p. 479) tais princípios

informam, “qualquer modalidade de licitação, embora se reconheça que nem

sempre com a mesma intensidade. Ademais, esses princípios” proporcionam a

elaboração dos diplomas licitatórios das pessoas governamentais.

Ainda de acordo com o Gasparini (2008, p. 478) os

princípios que veremos a seguir não são os únicos mais os básicos, previstos

em lei, para o processo de licitação na Administração Pública.

Sobre isto Di Pietro (2006, p. 351) também comenta que

“não há uma uniformidade, entre os doutrinadores na indicação dos princípios

informativos da licitação”. Afora o princípio da licitação, “existem outros que se

referem ao próprio procedimento: em suas várias fases vão se colocar em

confronto o interesse público na escolha da melhor oferta e o interesse

particular em contratar com a Administração”.

2.2.1. PRINCIPIO DA PADRONIZAÇÃO

Gasparini (2008, p. 480) define o principio como àquele

que “imponha a compatibilidade de especificações técnicas e de desempenho

observadas, quando for o caso, as condições de manutenção, assistência

técnica e garantias oferecidas” mediante ao ensejo da Administração Pública

alinhado ao interesse público.

Segundo ainda Gasparini (2008, p. 480) a palavra

padronizar significa uniformizar, igualar e a palavra princípio indicam o básico;

35

assim deve-se a “entidade compradora” nos negócios praticados “observar as

regras básicas que levam à adoção de um estander, de um padrão que,

vantajosamente, possa satisfazer às necessidades das atividades que estão a

seu cargo”.

2.2.2. PRINCIPIO DA VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO

Segundo Di Pietro (2006, p. 357) este princípio da

licitação é essencial, pois “cuja inobservância enseja nulidade do

procedimento”.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 357) além de

“mencionado no artigo 3º da Lei 8.666/93, ainda tem seu sentido explicado no

artigo 41, segundo o qual a Administração não pode descumprir as normas e

condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada”.

Conforme Marçal (2006, p. 323) todas as atividades

internas traduzem-se, nos casos de licitação, “no ato convocatório da licitação”,

objeto da disciplina de vários dispositivos da Lei nº 8.666/93.

Marçal (2006, p. 323) ainda complementa que “o ato

convocatório da licitação é um ato administrativo unilateral, de forma escrita,

que define o objeto da licitação e as cláusulas do futuro contrato e disciplina o

procedimento licitatório” fixando as condições de participação além dos critérios

de julgamento.

Para Gasparini (2008, p. 486) uma vez estabelecidas as

regras de certa licitação, as mesmas “tornam-se inalteráveis a partir de sua

publicação do instrumento convocatório e durante todo o seu procedimento”.

Se alguma alteração for necessária, essa seguirá o “procedimento de

rerratificação do ato convocatório”; precisa ser publicado oficialmente.

Granziera (2002, p. 35) exorta que a vinculação ao

instrumento convocatório possui o seu sentido explicitado na lei; “o art. 43,

inciso V, dispõe que a licitação será processada e julgada com observância do

36

procedimento de julgamento e classificação” de acordo com os critérios

definidos. “Desta forma, pode e deve a Comissão de Licitação afastar o licitante

que não tiver cumprido os requisitos do edital”, sendo que isto não caracteriza

ilegalidade, mas o cumprimento dos requisitos do edital e além do cumprimento

do princípio da igualdade entre os licitantes.

2.2.3. Principio da competitividade

Os contratos e licitações da administração pública a lei

regulamenta e, é “vedado aos agentes públicos admitir, prever, incluir ou

tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometa

restrinjam ou frustrem o caráter competitivo da licitação” ou que se

estabeleçam preferências (GASPARINI, 2008, P. 488).

Gasparini (2008, p. 488) comenta que o princípio da

competitividade garante disputas entre os interessados e “em tese, obrigada a

licitar, sob pena de inexistir a licitação” caso isso não ocorra.

Mukai (2004, p. 27) enfatiza que a disputa é “tão essencial

à matéria que, se num procedimento licitatório, por obra de conluios, faltarem à

competição (ou oposição) entre os concorrentes, falecerá a própria licitação,

inexistirá o instituto mesmo”.

2.2.4. Principio do julgamento objetivo

Marçal (2006, p. 320) comenta que “a vantajosidade da

proposta deve ser apurada segundo um julgamento objetivo”. Através dos atos

convocatórios os critérios objetivos são definidos para não fundirem nas

escolhas e preferências dos julgadores. Além disso, a analise e julgamentos

das propostas estão subordinados, “obrigatoriamente àqueles critérios”.

37

Conforme Di Pietro (2006, p. 357) o julgamento objetivo é

decorrência do princípio da legalidade, e visa julgas as melhores propostas de

acordo com os critérios fixados em edital.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 357) “para fins de

julgamento objetivos, o mesmo dispositivo estabelece os tipos de licitações: de

menor preço, de melhor técnica, de técnica e preço e o de maior lance ou

oferta” (exceto para o concurso e para o pregão).

Meirelles (1985, p. 226) conceitua o princípio como

mecanismos baseados nos critérios indicados em edital e em termos

específicos, de acordo com a proposta. O mesmo autor elucida que o

julgamento objetivo é o “princípio de toda licitação que o seu julgamento se

apóie em fatos concretos pedidos pela Administração, em confronto com o

ofertado pelos proponentes dentro do permitido no edital ou convite”.

Para Gasparini (2008, p. 490) o princípio impõe-se com

base em critérios, indicado no ato convocatório, para julgamento das

propostas. “Por esse princípio, obriga-se a Administração Pública a se ater ao

critério fixado no ato de convocação e se evita o subjetivismo no julgamento

das propostas”.

Segundo Granziera (2002, p. 36) o julgamento objetivo é

o princípio que complementa o princípio da impessoalidade, consiste em

vincular critérios, “previamente estipulados no instrumento convocatório” no

julgamento das propostas.

2.2.5 Principio da fiscalização da licitação

O princípio da fiscalização da licitação concede aos

cidadãos e seus proponentes o direito de fiscalizar a administração pública.

“Certamente, este direito à fiscalização da licitação de nada valeria se não

viesse acompanhado de um mecanismo recursal rápido e de baixo custo”

estatuído na lei das licitações públicas que, através de via administrativa,

38

viabiliza e atribui a qualquer cidadão o exercício de fiscalização (GASPARINI,

2008, P. 492).

2.2.6. Principio formal e formalismo

Segundo Marçal (2006, p. 322) não se restringe a licitação

“quando o ente administrativo atribui encargos para uma entidade vinculada,

integrante da própria estrutura administrativa”. Trata-se de uma formalização e

de atribuições para entes descentralizados.

Para Gasparini (2008, p. 493) o princípio formal, é

decorrência do principio da igualdade o qual caracteriza o Direito Administrativo

a qual se submete a Administração Pública em todos os atos e

comportamentos.

Ainda de acordo com Gasparini imput Meirelles (2008, p.

494) “o princípio do procedimento formal, todavia, não significa que a

Administração deva ser formalista a ponto de fazer exigências inúteis ou

desnecessárias à licitação”, assim como não significa que se deve anular o

julgamento ou procedimentos, mediante a simples “omissões ou irregularidades

na documentação ou proposta”.

2.3. Modalidades

A licitação possui suas particularidades por isso podemos

dizer que não é sempre igual, pois obedecem a regimes jurídicos diversos que

as separem em modalidades que estão dispostas no art. 22 da Lei Federal de

Licitações e Contratos da Administração Pública.

39

Dallari (2000, p. 69) o tema licitação faz uma abordagem

de “linear, descritiva, jungida à legislação vigente”, por essa razão apontaram

as modalidades para procedimentos existentes.

Marçal (2006, p. 327) a expressão de modalidade

caracteriza uma espécie de “procedimentos licitatórios, que se diferenciam

entre si”.

Meirelles (1985, p. 260) comenta que “a licitação é

gênero, do qual as modalidades são espécies”. Fazem parte das modalidades

de licitação: Concorrência, Tomada de Preços, Convite, Concurso, Leilão e

Pregão.

As licitações têm características próprias e se destina os

determinados tipos de contratação como segue.

2.3.1. Concorrência

A concorrência está prevista no art. 22, I da Lei 8.666/93

e, é definida como “modalidade de licitação entre quaisquer interessados, que

na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos

mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto”..14

Marçal (2006, p. 327) essa modalidade esta na fase inicial

de habilitação preliminar, para quaisquer interessados, a fim de avaliar os

requisitados mínimos de qualificação exigidos no edital e execução do objeto.

Dallari (2000, p. 79)15 conceitua a modalidade como

“chamamento mais geral possível; destinam-se a toda e qualquer pessoa

14 DE PAULO, Antonio. Licitações e Contratos da Administração Publica. DP&A: Rio de janeiro, 2005, 4.ed

15 DALLARI, Adilson Abreu. Aspectos Jurídicos da Licitação. 5. Ed. Saraiva: São Paulo, 2000.

40

eventualmente interessada, que, no curso da licitação, puder demonstrar os

requisitos expressamente requeridos” no edital pela Administração.

Para Granziera (2002, p. 55) é a modalidade mais ampla

da licitação e “prevê a participação de qualquer interessado, sem necessidade

de cadastro prévio”.

Neste sentido Gasparini (2008) complementa que a

“modalidade de licitação, em tese, obrigatória para as alienações imobiliárias,

as concessões de uso, serviços e obras publicas, o registro de preços e os

contratos de grande vulto, aberta com publicidade, que admite qualquer

licitante cuja habilitação será apurada no inicio do procedimento”.16

Di Pietro (2006) afirma que concorrência é a “modalidade

de licitação que se realiza com ampla publicidade para assegura a participação

de quaisquer interessados que preencham os requisitos previstos no edital.”17

Para Meirelles (1985), concorrência a modalidade de

licitação “própria para contratos de grande valor, em que se admite a

participação de quaisquer interessados, registrados ou não, que satisfaçam as

condições do edital, convocados com antecedência mínima de 30 ou 45 dias.”18

Desta forma, a concorrência torna-se a modalidade mais

completa de licitação, haja vista a destinação de contratações de grande

expressão econômica.

Sendo uma modalidade de licitação destinada à

contratação de valores mais elevados o Estatuto Federal de Licitações e

Contratos Públicos traz em seu art. 23 uma definição mínima de valores as

modalidades licitatórias.

Neste sentido a concorrência para aquisição de materiais

e serviços deve ser realizada para objetos com valores acima de R$

16 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. Saraiva: São Paulo, 2008. 13. Ed. 17 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 376 18 MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo, p.79

41

650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil reais) e as obras e serviços de

engenharia acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais).

Embora, por conta do Estatuto Licitatório haja uma

definição de valores é importante ressaltar que, essa modalidade, é cabível

para qualquer valor de contratação, porém, deve o administrador pautar à sua

escolha da modalidade da licitação, tendo em vista a inviabilidade da

realização de uma concorrência de valor muito baixo, já que o custo processual

pode ser maior que o próprio objeto licitado.

No entanto, isso ocorre, porque toda licitação possui um

prazo de publicidade, no caso a concorrência apresenta o maior prazo sendo

este de 30 (trinta) dias no mínimo para as do tipo menor preço e 45 (quarenta e

cinco) dias para as do tipo “técnica”, “técnica e preço” e “melhor técnica”,

sempre contando a partir da data da publicação do aviso até a data de sua

abertura.

Ainda, é importante lembrar que toda concorrência deve

ser publicada em diário oficial e em jornal de grande circulação, conforme

disposto no art. 21 da Lei 8.666/93.

Ainda, neste sentido há que se fazerem esclarecimentos

sobre a Concorrência Internacional, devidamente regulamentada no art. 42 da

Lei 8.666/93, que segue o procedimento comum da concorrência pública,

embora esteja sujeita as diretrizes dos órgãos responsáveis pela política

monetária e pela política de comercio exterior.

Assim conceitua Hely Lopes Meirelles:

“Concorrência Internacional é aquela em que se permite a participação de firmas nacionais e estrangeiras, isoladamente ou em consorcio com empresas nacionais. [...] com sujeição as diretrizes estabelecidas pelos órgãos federais responsáveis pela política monetária e de comercio exterior.” 19

19 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 11.ed. São Paulo: RT, 1985

42

Para a participação nas licitações as empresa

internacionais deverão comprovar que estão autorizadas a operar em nosso

país e que seus atos constitutivos estão regularizados junto ao seu consulado

ou embaixada e vertidos para o português por tradutor juramentado.

Salienta-se que a empresa estrangeira que possui

interesse em licitar na concorrência só poderá fazê-lo se possuir um

representante legal no Brasil, que possa receber citações e atuar

administrativamente e judicialmente em nome da empresa.

Haverá exceção se a empresa estrangeira for consorciada

a uma empresa brasileira, sendo que no caso somente a nacional poderá

representar o consórcio.

No caso de consórcios entre empresas estrangeiras,

opção também cabível nas licitações internacionais a empresa designada como

líder deste consórcio deverá manter representação no Brasil.

2.3.2. Tomadas de preços

A Tomada de Preços tem previsão no art. 22, II da Lei

Federal n° 8.666/93, sendo definida como uma “modalidade de licitação entre

quaisquer interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as

condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior a data do

recebimento das propostas, observada a necessária qualificação”.20

Di Pietro (2006) conceitua a tomada de preços a

modalidade de licitação “realizada entre interessados devidamente cadastrados

20 DE PAULO, Antonio. Licitações e Contratos da Administração Publica. DP&A: Rio de janeiro, 2005, 4.ed

43

ou que preencha os requisitos para cadastramento até o terceiro dia anterior a

data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação.”21

Para Meirelles (1985) o que define a tomada de preços “é

a licitação para contratos de valor estimado imediatamente inferior ao

estabelecido para a concorrência, realizada entre interessados previamente

cadastrados, observada a necessária qualificação.”22

Segundo Marçal (2006, p. 328) comenta que a

modalidade atende aos interessados devidamente cadastrados ou àqueles que

atenderem as condições mínimas exigidas.

De acordo com Dallari (2000, p. 79) a toda de preços é o

chamamento ais contratantes previamente cadastrados, mas que

“comprovarão essa circunstância e apresentarão propostas de acordo com o

requerido no edital de abertura, o qual deverá ser afixado em lugar visível e

divulgado pelos meios capazes” de expor e atingir a totalidade de pessoas.

Caracteriza-se esta modalidade por ser de médio valor,

sendo obrigatória para as contratações de obra e serviços de engenharia que

não sejam inferiores a R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) e nem

superior a R$ 1.500.000,00 (um Milão e quinhentos mil reais) e para a

contratação de compras e serviços diversos aos de engenharia não deverá ser

inferior a R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) e nem exceder a R$ 650.000,00

(seiscentos e cinqüenta mil reais).

A Tomada de Preços como qualquer modalidade de

licitação exige prévia publicidade, porém esta modalidade se diferencia por

seus prazos de publicação, ou seja, nas licitações do tipo “melhor técnica” ou

“técnica e preço” o prazo será de 30 (trinta) dias e para os demais casos serão

15 (quinze) dias, todos contados a partir da data da publicação do aviso.

O que principalmente caracteriza e distingue a tomada de

preços das demais modalidades é a “existência da habilitação prévia dos

21 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 376-377 22 MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo. p.97

44

licitantes através dos registros cadastrais, de modo que a habilitação preliminar

se resume na verificação dos dados constantes dos certificados de registro

dos interessados e, se for o caso, se estes possuem a real capacidade

operativa e financeira exigida no edital”.23

Neste sentido, entende-se por Registro Cadastral, todo

assentamento mantido pelos órgãos e entidades obrigadas a licitar objetivando

a qualificação dos interessados para o fim de licitação e contratação, no ramo

de suas atividades, ou seja, seu objeto social.

Qualquer interessado poderá solicitar sua inscrição no

registro cadastral que será analisado por três integrantes da Comissão de

Licitação. Após a analise prévia da situação da empresa, por meio da

verificação de sua habilitação jurídica, de sua regularidade fiscal, de sua

qualificação econômico-financeira, de sua qualificação técnica e do

cumprimento das exigências do Ministério do Trabalho com relação ao trabalho

do menor, em conformidade com o disposto nos arts. 27 a 31 da Lei n°.

8.666/93 e resultando na aprovação do cadastro será emitido pelo Órgão

Competente o correspondente certificado.

Portanto, fica sob a responsabilidade do cadastrado

manter seu assentamento sempre atualizado, pois o mesmo poderá suprir a

habilitação jurídica, a qualificação técnica, e idoneidade econômica - financeira

e a regularidade fiscal do edital de licitação, conforme disposições do mesmo.

Colhe-se do enunciado da lei que na tomada de preços a

participação de qualquer interessado estará necessariamente vinculada à

ocorrência de seu cadastramento perante a repartição licitadora ou, não

estando ele cadastrada, deverá providenciar o seu cadastramento até o

terceiro dia anterior à data designada para abertura do certame e recebimento

das propostas.

Isto, todavia, não se presta a desnaturar a tomada de

preços, servindo em realidade para proporcionar maior competitividade em seu

23 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 11.ed. São Paulo: RT, 1985

45

âmbito, já que garantirá aos retardatários ou àqueles que por razões várias não

puderam se cadastrar antecipadamente, a participação no procedimento de

seu interesse.

Todavia, deve a comissão permanente de licitação

acelerar o processo de analise dos documentos das interessadas, afim de que

as empresas ao participarem do certame tenham as mesmas condições de

cadastramento dos demais participantes.

2.3.3. Convite

O convite é uma modalidade de licitação que está prevista

no art. 22, III da Lei 8.666/93 e conceitua-se como: modalidade de licitação

entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não,

escolhidos e convidados em numero mínimo de três pela unidade

administrativa, a qual afixará, em local apropriado, copia do instrumento

convocatório e o estendera ao demais cadastrados na correspondente

especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até vinte e

quatro horas da apresentação das propostas. 24

Gasparini (2008) conceitua “a modalidade de licitação

aberta sem publicidade, indicada para contrato de pequeno vulto que exige o

convite a no mínimo, três interessados escolhidos pela entidade obrigada a

licitar e por ela tida como habilitados e permite a participação de interessados

cadastrados que manifestarem interesse com a antecedência de ate vinte e

quatro horas da data designada para apresentação de propostas.”25

É a modalidade mais simplificada de licitação e por isso é

destinada aos contratos de pequeno valor. Por ser uma modalidade de baixo

valor é obrigatória a Carta Convite nos seguintes limites:

24 DE PAULO, Antonio. Licitações e Contratos da Administração Publica. DP&A: Rio de janeiro, 2005, 4.ed

25 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. P.505

46

R$ 15.000,00 a R$ 150.000,00 - obras e serviços de

engenharia;

R$ 8.000,00 a R$ 80.000,00 - compras e execução de

serviços comuns;

Conforme já consignado identificamos que a modalidade

convite é simplificada, sendo desnecessária a publicação na Imprensa Oficial e

Jornais de Circulação regional ou local. Semelhante comentário encontra nas

palavras de Meirelles (1985) que “o convite não exige publicação, porque é

feito diretamente aos escolhidos pela Administração através de Carta-

Convite.”26

Assim também, Marçal (2006) leciona que a “ lei não

exige a publicação pela imprensa dos avisos relacionados com convites,

obrigando que isso ocorra nas outras modalidades de licitação.”27

Consoante os pensamentos acima a falta de publicidade

no convite não é absoluta e, portanto, comporta esclarecimentos. A lei não

exige a publicação na imprensa, todavia deve ser dada a publicidade do

convite, afixando-o em local público e visível a qualquer interessado de

maneira que possibilite os outros interessados ter ciência da licitação, para

assim se habilitarem.

Esclarece a respeito o autor Braz (2007) em que “o

chamamento é feito através de carta-convite, com o mínimo de publicidade. A

publicidade fica adstrita à garantia do princípio da isonomia e da moralidade

pública, contudo, a publicação da lista dos convidados, em quadro de avisos, é

medida salutar, que se recomenda.”28

26 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34ª ed. São Paulo. Malheiros Editores. 2007. p. 323.

27 MARÇAL, Justen Filho. Curso de Direito Administrativo. 2ª ed. São Paulo. Saraiva. 2006. p. 346.

28 BRAZ, Petrônio. Tratado de Direito Municipal – Volume II. 2ª ed. São Paulo. Mundo Jurídico Editora. 2007. p. 390.

47

Por ser um procedimento com prazos reduzidos a Carta

Convite possui uma convocação restrita, consistindo na solicitação de pelo

menos três propostas diferentes a serem apresentadas no prazo mínimo de

três dias para que o Órgão competente possa assim montar o processo

licitatório e dar inicio a sua realização.

A publicação do edital da Carta Convite não é obrigatória

devido ao prazo para que os convidados e demais interessados, apresentem a

documentação. Para a apresentação dos documentos de habilitação e a

proposta para julgamento se tem o prazo de 05 (cinco) dias úteis, sendo que

deverá conter no mínimo três possíveis interessados no certame, sob pena de

nulidade do procedimento.

Nesse sentido opina Melo (2006) “o certame pode ser

realizado, desde que tais circunstâncias sejam justificadas no processo, caso

contrário haveria invalidade e o convite terá de ser repetido”29

Assim sendo, a Administração Pública escolhe quem

deverá participar do Convite, sendo cadastrado ou não na entidade. É claro

que essa escolha deverá sempre ser pautada nos Princípios da Legalidade, da

Igualdade entre os Licitantes, da Probidade, dentre outros.

Segundo os ensinamentos de Marçal (2006) temos que “a

faculdade de escolha pela Administração dos destinatários do convite deve ser

exercida com cautela, diante dos riscos de ofensa à moralidade e à isonomia.

Se a Administração escolher ou excluir determinados licitantes por preferências

meramente subjetivas, estará caracterizando desvio de finalidade e o ato terá

de ser invalidado.” 30

Graziera (2002, p. 57) reforça que “a única possibilidade

de participação no certame, para a empresa não convidada e não cadastrada,

é solicitar à Administração que a convide”.

29 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª ed. São Paulo. Malheiros. 2006. p. 338.

30 MARÇAL, Justen Filho. Comentários a Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 11 ed. São Paulo. Dialética. 2005. p. 200-201

48

No tocante a participação de interessado não cadastrado

no banco de fornecedores da entidade licitante, admite-se a sua participação,

desde que, se apresentem em até 24 horas, da entrega das propostas.

2.3.4. Concurso

Como modalidade de licitação o Concurso está previsto

no art. 22, IV da Lei 8.666/93 que o define como “modalidade de licitação entre

quaisquer interessados para a escolha de trabalho técnico, cientifico ou

artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores,

conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com

antecedência mínima de quarenta e cinco dias”. 31

Gasparini (2008) ensina que “o concurso é a modalidade

de licitação que observa regulamento próprio, aberta mediante publicidade,

destinada a escolha, por comissão especial, de trabalho técnico, cientifico ou

artístico, que admite a participação de qualquer interessado, mediante a

concessão de prêmios ou remuneração aos vencedores.”

Portanto, concurso é uma modalidade em que qualquer

interessado possa participar para a escolha de trabalho técnico, cientifico ou

artístico objetivando um premio final.

O prêmio corresponde a uma contrapartida (econômica ou

não) pela atividade técnica, científica ou artística, até porque, em regra, o

produto dessa atividade não será economicamente avaliável.

Funcionando como fator de incentivo aos participantes o

premio poderá consistir em bem economicamente avaliável, bem como em

uma honraria de outra natureza.

31 DE PAULO, Antonio. Licitações e Contratos da Administração Publica. DP&A: Rio de janeiro,

49

Embora a legislação aluda o prazo de quarenta e cinco

dias para a publicação do concurso, deve o mesmo ter a mais ampla

divulgação possível.

Dallari (2000, p. 79) conceitua a modalidade como recurso

destinado a casos onde não cabe uma comparação de preços.

Marçal (2006, p. 330) define o concurso como modalidade

usual em que a “habilitação seja remetida a momento posterior ao julgamento”.

Segundo Di Pietro (2006, p. 380) a modalidade concurso

na licitação prevê participação de “quaisquer interessados na escolha do

trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmio ou

remuneração”.

Meirelles (1985, p. 1985) relata que o concurso “exaure-

se com a classificação dos trabalhos e o pagamento dos prêmios, não

conferindo qualquer direito a contrato com a Administração”.

2.3.5. Leilão

O leilão está previsto no Estatuto federal licitatório no

inciso V e definido no art. 22 como uma modalidade aberta, indicada na venda

de bens móveis, bens legalmente apreendidos, bens em penhor e bens

adquiridos judicionalmente.

Gasparini (2008, p. 573) comenta que o leilão possui as

características de: “a) destinar-se à venda de bens móveis inservíveis, produtos

legalmente apreendidos, bens dados em penhor e bens imóveis adquiridos

judicialmente ou mediante dação em pagamento; b) permitir a participação de

qualquer interessado; c) exigir ampla publicidade; d) dispensar, em rega, a

habilitação”.

50

Ainda de acordo com Gasparini (2008, p. 573) os bens

inservíveis são aqueles bens imprestáveis, sem utilidade em si mesmo. Os

bens aprendidos “são os apropriados pela fiscalização” da administração

públicos. Os penhorados são bens retidos como garantia de pagamento a

receita federal. “Os bens imóveis adquiridos judicialmente são os que passam a

integrar o patrimônio público por foca de decisão judicial”, exemplos sentenças

de usucapião.

Dallari (2000, p. 81) exorta que “a utilização do leilão deve

ser parcimoniosa, pois sua celeridade prejudica um controle mais eficaz. Nada

impede a utilização da concorrência, da tomada de preços e do convite para

alienação dos bens”.

De acordo com Meirelles (1985, p. 269) “o leilão é uma

espécie de licitação utilizável na venda de bens móveis”.

Ainda de acordo com Meirelles (1985, p. 269) comenta

imput ao Decreto 21.981:

“A administração poderá, valer-se de dois tipos de leilão: o comum privativo de leiloeiro oficial, onde houver; e o administrativo, propriamente dito. O leilão comum é regido pela legislação federal pertinente, mas as condições de sua realização poderão ser estabelecidas pela Administração interessada; o leilão administrativo é o instituído para a venda de mercadorias apreendidas como contrabando, ou abandonadas nas alfândegas, nos armazéns ferroviários, ou nas repartições públicas em geral observadas as normas regulamentares da Administração interessada”.

Para Di Pietro (2006, p. 381) reforça que a modalidade na

licitação prescreve que quaisquer interessados para a “venda de bens móveis

inservíveis a administração” assim como penhores, alienação de bens imóveis

considerando o maior lance, igual ou superior à avaliação.

Granziera (2002, p. 57) exorta que “os bens móveis

mencionados são inservíveis a administração” mas isso não significa que não

tenha utilidade pelo contrário; embora tenha sido perdido, há valor econômico.

51

Sobre isto Marçal (2006, p. 330) ressalva que o leilão é

um procedimento licitatório mais apropriado para alienação de bens pelo

melhor preço. “Por isso, é desnecessária uma fase de habilitação destinada a

investigar alguma peculiaridade do interessado”.

2.3.6. Pregão

Essa modalidade foi criada mais recentemente na

licitação e possui como principal característica sua aplicação não estar

vinculada diretamente ao valor de contrato, mas a natureza de sua prestação

do serviço. Outra característica que destaca a modalidade pregão consiste na

inversão das fases de proposta e habilitação (MARÇAL, 2006, P. 331)

Dallari (2000, p. 81) comenta que o leilão “pode ser

realizado por qualquer agente efetivo e estável da Administração, porque esta

é dotada de fé pública. Pode ser também confiado a um leiloeiro oficial, quando

necessário ou conveniente”.

Ainda de acordo com Dallari (2000, p. 81) a sua utilização

deve ser “parciomoniosa, pois sua celeridade prejudica um controle mais

eficaz”.

Segundo Gasparini (2008, p. 575) dentro da modalidade

de pregão temos pregão virtual ou eletrônico e também o pregão presencial. O

pregão presencial “não é definido pela Lei federal n. 10.520/2005, mas o art. 2º

do Regulamento aprovado pelo Decreto n. 3555/2000” diz que a “modalidade

de licitação em que a disputa pelo fornecimento de bens ou serviços comuns é

feita em sessão pública, por meio de propostas de preços escritas e lances

virtuais”. A finalidade do pregão é a selecionar das melhores propostas e

aquisições dos bens conforme estabelece essa lei. Nesta fase ainda considera-

se que o processo possui uma divisão, em duas partes a interna reconhecida

por lei como fase preparatória e a externa que “comumente denominada fase

do pregão propriamente dita, cuja disciplina e seqüência de seu s principais

52

atos” estão indicados no art. 4º do 6º Decreto federal n.3555/2000. A segunda

espécie de pregão, como citamos, é chamada de pregão eletrônico, foi

denominado desta forma por utiliza recursos tecnológicos na sua execução. “O

pregão eletrônico, por força do disposto no art. 2º, caput,é modalidade de

licitação do tipo menor preço, como , aliás, é o pregão presencial”. O

regulamento do pregão estabelece, no parágrafo único do art. 5º que “as

normas disciplinadoras, lei e regulamento, dessa modalidade de pregão

deverão ser, sempre, interpretadas em favor da ampliação da competitividade

entre os eventuais interessados, desde que não” inflija os princípios da

igualdade, finalidade e segurança da contratação e que não comprometam o

interesse da Administração pública licitante.

Di Pietro (2006, p. 381) comenta que a modalidade é

definida como recurso “para aquisição de bens e serviços comuns, qualquer

que seja o valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento”

é realizado através de lances em sessões públicas.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 381) a “medida

provisória nº 2.182/2001 havia instituído o pregão apenas para a União”. A

restrição era considerada como “inconstitucional pela quase totalidade da

doutrina” que trata do assunto através de norma geral, e que sua aplicação na

realidade deve ser a todos os entes federativos.

2.4. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Cada órgão da Administração Pública ou outras entidades

possuem finalidades especificas. Desta forma a Lei nº. 8.666/93 define que

“todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração públicas e

particulares, em que haja um acordo de vontade para a formação do vínculo e

a estipulação de obrigações” mutuas, seja qual a sua denominação, celebra-se

contrato.

53

Meirelles (1985, p. 218) define contratos como “atos

bilaterais e consensuais reguladores de interesses contrapostos, geradores de

efeitos jurídicos e vinculantes para as partes que o celebram”.

Conforme Granziera (2002, p. 96) comenta que um

contrato só possui validade se o cumprimento dos pressupostos estiver fixado

na norma. “A capacidade, em matéria de direito administrativo, contém

elementos que complementam a capacidade do direito civil”; declarado o

licitante é capaz de contratar, o que foi habilitado, com a Administração

Pública.

Ainda de acordo com Granziera (2002, p. 96) há traços

que distinguem os demais contratos dos contratos administrativos, são eles:

A Administração Pública é uma das partes contratantes;

“O regime jurídico que vigora sobre os contratos

administrativos é o do direito público, em que a Administração possui

prerrogativas, mas deve garantir ao contratado o equilíbrio econômico-

financeiro do contrato”;

Da licitação se estabelece o contrato administrativo, “da

dispensa ou ainda da inexigibilidade, que a Administração Pública realiza suas

finalidades”.

Di Pietro (2006, p. 257) informa que a expressão de

contratos, é utilizada, da administração, em sentido amplo, pois abrange

contratos celebrados pela Administração Pública, “seja sob regime de direito

público, seja sobre regime de direito privado”. Já contrato administrativo é

reservada, a expressão, para “designar tão-somente os ajustes que a

Administração, nessa qualidade, celebra com pessoas físicas ou jurídicas,

públicas ou privadas, para consecução de fins públicos”, conforme o regime

jurídico do direito público.

Ainda de acordo com Di Pietro (2006, p. 259) argumenta

que o contrato administrativo não observa alguns princípios como da

54

“igualdade entre as partes, o da autonomia da vontade e o da força obrigatória

das convenções caracterizadores de todos os contratos”.

Segundo Gasparini (2008, p. 671) “as avenças

disciplinadas pelo Direito Administrativo são denominadas contratos

administrativos e desses são exemplos os regulados pela Lei federal das

Licitações e Contratos da Administração Pública”.

55

3. LEI COMPLEMENTAR Nº. 123/06 O REFLEXO DA LEI NAS

MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE

Neste terceiro e último capítulo estuda-se os da Lei

Complementar 123/06. Além disso, aborda-se o reflexo da Lei das

microempresas e empresas de pequeno porte neste novo cenário que se

formaram.

3.1. Lei Complementar 123/06

Outras normas incidem sobre as licitações e contratos

administrativos, entre elas encontram-se a Lei Complementar n° 123/2006, que

versa sobre o acesso ao mercado ás micro e pequenas empresas.

Embora, a Lei Complementar n° 123/06 seja válida desde

a sua publicação em 2006 a norma somente se regulamentou com o Decreto

n° 6.204/07.

A existência de leis complementares somente é possível

quando houver previsão constitucional. Assim sendo as normas existentes na

Lei Complementar n° 123/06 no âmbito das licitações publicas possuem

natureza de lei ordinária.

A lei complementar foi editada pela sua natureza

tributaria, pois a Constituição Federal, através de seu art. 146, III, prevê que o

regime tributário das micro e pequenas empresas serão definidos pro meio de

lei complementar. Porém, a normalização das regras sobre licitação foi

fundamentada sobre o art. 22, XXVII da Constituição Federal, in verbis:

Art. 22 [...]

XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em

todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e

fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o

56

disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de

economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;

Nas palavras de Marçal (2006) “isso significa que as

normas sobre licitações contidas na Lei Complementar n° 123/06 apresentam

natureza de lei ordinária e sua prevalência em face das regras da Lei 8.666/93

derivaria do principio da superioridade (a lei superior prevalece sobre a

inferior)”.32

Não há cabimento na aplicação das regras de acesso ao

mercado para o serviço publico do novo normativo, tendo em vista a

necessidade de garantias mais rígidas quanto à idoneidade e a satisfação do

desempenho de atividades continuas atribuídas ao particular delegatório.

As regras da Lei Complementar aplicam-se a todas as

modalidades trazidas pela Lei 8.666/93 - Lei de Licitações e Contratos

Administrativos e Lei 10.520/02 - Lei do Pregão, exceto nas modalidades leilão

e concurso, pois não teria cabimento aplicar os benefícios porque não existe

vinculo de pertinência entre as empresas e o objeto licitado.

Cabe ainda salientar que a regularização fiscal tardia é

aplicada a todos os tipos de licitação, exceto os casos acima expostos, e que a

preferência das micro e pequenas empresas nos casos de empate ficto apenas

são compatíveis com as licitações de menor preço, pois caso contraria estaria

descaracterizando o objetivo das licitações nas modalidades melhor técnicas e

técnica e preço.

A Lei Complementar n° 123/06 institui privilégios as

microempresas e empresas de pequeno porte em sede de licitação,

estabelecendo um tratamento diferenciado no tocante à regularidade fiscal e ao

direito de preferência, conforme assinalado no texto legal.

Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas gerais

relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às

32 JUSTEN FILHO, Marçal. O Estatuto da Microempresa e as Licitações Públicas. 2.ed. São Paulo: Dialética, 2007

57

microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, especialmente no

que se refere:

III – ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à

preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à

tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão.

Em principio aplica-se os dispositivos legais as aquisições

de bens e serviços, efetuadas pelo Poder Publico, qualquer que seja a

modalidade da licitação. Não havendo expressividade na lei que prescreva o

contrário, nem que restrinja suas disposições a determinadas modalidades.

A Lei Complementar n° 123/06 não apresenta limites ás

contratações, onde se deverão aplicar suas disposições. Sendo assim, a

preferência ás microempresas e empresas de pequeno porte devem ser

respeitadas para qualquer que seja o valor da contratação.

Já é fato que as microempresas e empresas de pequeno

porte passaram a ter maior competitividade nas licitações públicas após a

entrada em vigor da Lei Complementar n° 123/06.

A grande participação dos pequenos empresários nas

compras públicas dá-se em razão das vantagens oferecidas pela Lei dentre as

quais está à possibilidade de prorrogação do prazo para a negociação das

dívidas tributárias e o direito de preferência como critério de desempate.

O que se extrai do texto legal na realidade é um privilégio

dado às pequenas empresas de garantir a vitória do certame podendo

apresentar a última proposta.

A Lei Complementar n° 123/06 versa sobre o Estatuto das

Microempresas e Empresas de Pequeno Porte com o propósito de atender ao

inciso IX do artigo 170 da Constituição Federal, cujo texto prevê o

favorecimento das pequenas empresas, conferindo a elas tratamento

privilegiado, sobretudo de ordem fiscal.

58

O problema é que fora a questão tributária, o legislador

resolveu interferir nas licitações públicas, prescrevendo normas incompatíveis

com o regime jurídico que ele próprio criou.

As disposições legais sobre licitação foram concebidas

sem o menor cuidado, criando embaraços procedimentais beirando o absurdo.

O legislador conferiu as microempresas e empresas de

pequeno porte o direito de preferência nas situações em que ocorre empate, no

entanto, o empate que dá ensejo ao direito do microempresário não pressupõe

o mesmo valor nominal ofertado no certame.

Além disso, ainda, foi determinado que a comprovação de

regularidade fiscal somente fosse exigida para efeito de assinatura do contrato,

ficando a mesma suspensa quando serão as pequenas empresas conferidas o

prazo de dois dias para regularização de sua situação fiscal, caso encontre-se

em débito.

Ademais as empresas que não se enquadrarem na Lei

Complementar n° 123/06 e que não atenderem prontamente ao edital da

licitação, deve ser sumariamente eliminado da disputa, sem que haja

oportunidade para o saneamento dos defeitos pertinentes a sua regularidade

fiscal.

Não contente, o legislador ainda permitiu a promoção de

licitação pública restrita ás microempresas e empresas de pequeno porte,

desde que os valores não ultrapassem R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).

Na mesma linha de pensamento, ainda, foi concedido as

pequenas empresas a obrigatoriedade de uma cota de 25% (vinte e cinco por

cento) dos bens divisíveis em licitação dos órgãos públicos.

A Lei Complementar n° 123/06 no intuito de favorecer as

microempresas e empresas de pequeno porte acaba subvertendo os valores

fundamentais do capitalismo moderno, confundindo o incentivo com

protecionismo. O paternalismo estatal não estimula o crescimento, em sentido

contrario, incuti a idéia que crescer no atual mercado tornou-se desvantajoso.

59

Em síntese, o regime jurídico da licitação pública com o

advento da nova lei está causando prejuízos em grande escala á

Administração Pública, já que as licitações vêm tornando-se cada vez mais

lentas, formais e burocráticas, postergando o atendimento aos interesses

públicos.

A recente Lei Complementar n° 123/06 que regulamenta o

tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado ás microempresas e

empresas de pequeno porte no âmbito dos Poderes da União, Estados, Distrito

Federal e Municípios para a participação em licitações públicas é foco de

grandes discussões jurídicas, haja vista que infringe claramente os Princípios

Constitucionais.

Sabe-se que o Governo Federal apresenta boas

intenções quanto ás empresas de pequeno porte e as microempresas, porém,

o texto legal fere a intenção do Governo, não trazendo uma boa semântica ao

texto legislativo, pois confronta a norma constitucional.

Desta forma, os termos do art. 47 e 48 da Lei

Complementar n° 123/06 em conjunto com o art. 6° do Decreto n° 6.204/07 é

totalmente antítese ao inciso XXI, do artigo 37 da Constituição Federal, in

verbis:

Art. 6º Os órgãos e entidades contratantes deverão

realizar processo licitatório destinado exclusivamente à participação de

microempresas e empresas de pequeno porte nas contratações cujo valor seja

de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).

Art. 47. Nas contratações públicas da União, dos Estados

e dos Municípios, poderá ser concedido tratamento diferenciado e simplificado

para as microempresas e empresas de pequeno porte objetivando a promoção

do desenvolvimento econômico e social no âmbito municipal e regional, a

ampliação da eficiência das políticas públicas e o incentivo à inovação

tecnológica, desde que previsto e regulamentado na legislação do respectivo

ente.

60

Art. 48. Para o cumprimento do disposto no art. 47 desta

Lei Complementar, a administração pública poderá realizar processo licitatório:

I – destinado exclusivamente à participação de

microempresas e empresas de pequeno porte nas contratações cujo valor seja

de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

Art. 37 [...]

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação,

as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo

de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os

concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,

mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente

permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à

garantia do cumprimento das obrigações.

Considerando todos os mandamentos legais

apresentados temos um verdadeiro conflito, pois a norma específica é

destinada exclusivamente a participação de microempresas e empresas de

pequeno porte em processos cujo valor não ultrapasse R$ 80.000,00 (oitenta

mil reais), enquanto no mandamento constitucional é assegurado a igualdade

de condições entre os concorrentes, não havendo exclusividade.

Realça-se que a Lei Complementa n° 123/06 e o Decreto

n° 6.204/07, apresentam provas de inconstitucionalidades, massacrando os

princípios da Igualdade e da Legalidade, pois dificultam o acesso as licitações

àqueles licitantes que não se enquadrem como beneficiários da Lei

Complementar n° 123/06.

Através de um erro do Poder Legislativo Brasileiro o

principio da igualdade dos concorrentes vem sendo afrontado, visto se tratar de

destinação exclusiva e não facultativa dos beneficiários da norma em

processos licitatórios, suprimindo por completo o direito de competição dos

particulares nas contratações públicas.

61

Observa - se a Lei n° 8.666/93 – Licitações e Contratos

Administrativos, que regulamenta em seu artigo 3° a norma constitucional, que

nos diz, “A licitação destina-se a garantir a observância do princípio

constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a

Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os

princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da

igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao

instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são

correlatos.”

Sendo assim, faz-se necessário discutir um pouco sobre

os princípios constitucionais infringidos pela presente Lei Específica.

Na Constituição Federal encontramos o princípio da

legalidade expresso como determinação legal e de observação obrigatória,

conforme demonstrado no art. 5°, inciso II, onde garante a liberdade dos

brasileiros quando prevê que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer

algo que não seja previsto em lei”.

Sendo considerado base do nosso ordenamento jurídico o

princípio da legalidade tem como finalidade regular o comportamento dos

cidadãos e órgãos governamentais, visando a manutenção da paz social e da

segurança jurídica que são de fundamental importância para o Estado de

Direito Moderno.

Já o art. 37, caput, em sua redação nos traz o

entendimento de que o princípio da legalidade deve ser obedecido por todos os

níveis da administração pública, a qual possui limites, devendo obedecer a lei

em sua atuação não podendo agir conforme sua vontade.

Nesse sentido Mello (1995) diz que é o fruto da

submissão do Estado à lei. É em suma: a consagração da idéia de que a

Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei. 33.

33 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 6. Ed.

62

Ainda em uníssono com a doutrina Sundefeld (1998)

ensina que a atividade administrativa deve ser desenvolvida nos termos da lei.

A Administração só pode fazer o que a lei autoriza: todo ato seu há de ter base

em lei, sob pena de invalidade. 34

Resulta, portanto, uma clara hierarquia entre a lei e o ato

da Administração Pública que não seja concedido por lei, ou seja, o que a lei

não lhe concede expressamente, nega-lhe implicitamente.

Desta forma, entende-se que todos estão vinculados ao

principio da legalidade, podendo apenas seguir a regras impostas pela norma

jurídica, sendo somente legitima a atuação da Administração Pública, se for

permitida por lei e de acordo com o mandamento constitucional, caso contrário

nasce como letra morta.

Tendo discorrido sobre a legalidade da lei na

administração pública, cabe-nos ainda discutir sobre o principio da igualdade

que tem sede explicita no texto constitucional.

O principio da igualdade não se classifica apenas como

um principio, mas também como direito e garantia a qual todas as normas

devem obediência.

O principio da isonomia é voltado para todos os pólos,

abrangendo principalmente o ordenamento jurídico, devendo estar presente

principalmente às dimensões valorativas do direito.

A isonomia é o mais amplo dos princípios constitucionais,

sendo impositivo e constituindo-se num principio informador da ordem jurídica

constitucional, tendo plena eficácia e devendo ser respeitado, pois casos

contrários estarão diante de uma inconstitucionalidade.

Trazendo para as licitações públicas os princípios e ela

atinentes o principio da igualdade assegura a todos os licitante o direito de

34 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 3. Ed. São Paulo : Editora

63

competição que está regulamentado no art. 37, inciso XXI da Constituição

Federal, in verbis:

Art. 37 [...]

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação,

as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo

de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os

concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,

mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente

permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à

garantia do cumprimento das obrigações.

Sendo assim, não deve haver condições que

comprometam o caráter competitivo nas licitações públicas, impedindo

principalmente a participação do maior número de licitantes no certame.

Ao se tratar da infração de Princípios Constitucionais, não

podemos deixar de mencionar as palavras do Prof. Celso Antônio Bandeira de

Mello (1995):

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir

uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um

específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a

mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão

do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema,

subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu

arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto porque, com ofendê-

lo, abatem-se as vigas que o sustém e aluí-se toda a estrutura neles esforçada.

Diante das ponderações apresentadas essa conduta

reprovável pela Lei Complementar n° 123/06 distância - se dos Princípios da

Igualdade e Legalidade, bem como a Lei Federal n° 8.666/93, ferindo os

princípios do ordenamento jurídico assentado no Estado Democrático de

Direito.

64

3.2 O NOVO CENÁRIO SOB A VIGÊNCIA DA LEI COMPLEMENTAR 123/06

A Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006,

regulamentou tratamentos jurídicos diferenciados para as Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte devido a uma análise do cenário nacional e a

oportunidade de crescimento econômico.

Para tanto um Estatuto foi criado e estabeleceu aos

pequenos empresários, várias vantagens, de modo a simplificar as obrigações

tributárias, administrativas, e previdenciárias para que ocorressem as devidas

regularizações de suas atividades.

Os incisos I e II do artigo 3º da Lei Complementar 123/06

define a microempresa e empresa de pequeno porte, conforme o seu

faturamento anual.

Neste sentido é importante fixar que as empresas

amparadas por todos estes benefícios, ainda conseguiram mais privilégios para

participar de certames licitatórios, podemos obter como exemplos o

deferimento na apresentação da sua comprovação de regularidade fiscal no ato

da assinatura do contrato; prazo diferenciado para comprovação de

regularidade, em casos que ocorra alguma restrição, além disso, o direito de

ofertar o último lance para arrematação no certame.

Certamente essas novas condições são aceitáveis para,

de certo modo, alavancar melhores oportunidades de negócios as

microempresas e empresas de pequeno porte.

Neste novo cenário observamos que este tratamento

diferenciado não prevê, ou melhor, as prerrogativas da Lei 123/06, para

participar de certames, não caracterizam os envolvidos que extrapolam os

limites de seu faturamento, item que inflige e diverge totalmente o Estatuto.

Sobre isto Santos (2009) comenta que as prerrogativas

“do tratamento diferenciado e favorecido a que fazem jus as ME e as EPP

65

podem produzir por vezes, interferências recíprocas. O licitante enquadrado em

situação irregularidade fiscal tem o direito de provar a regularidade tão-

somente para o efeito de assinatura do contrato”.

O que se vivenciamos é que após a implementação da

norma aumentou o número de empresas se prevalecendo das prerrogativas do

referido regime diferenciado. Desta forma arrematando em um único certame

licitatório o que descaracteriza e causa desequilíbrio entre os participantes.

No código Penal Brasileiro está prevista no art. 299 que a

microempresa e empresa de pequeno porte que declarar seu enquadramento

em certames licitatórios, cuja monta a ser arrematada ultrapassam os limites

poderá ser penalizada por falsas declarações.

A execução de determinado ato, na administração, deve -

se analisar rigorosamente o que a lei determina, não cabendo, neste caso,

nenhum tipo de liberdade ao agente ou servidor para a avaliação de

conveniência e a oportunidade do ato.

O incentivo às pequenas empresas, prevista na

Constituição, resumisse em eliminar, determinadas formalidades e exigências

fiscais que não atribuem a elas uma prerrogativa da contratação privilegiada

com o poder público.

O exemplo disso Santos (2009, p. 100) comenta que nos

pregões tanto eletrônico como presencial, também é perceptível o direito de

preferência e negociação; “as normas de regência estabelecem que o

pregoeiro possa negociar diretamente com o licitante vencedor do certame

para tentar obter preço melhor” tal se dá “com orientação ao princípio da

vantajosidade”.

Ainda de acordo com Santos (2009, p. 100) a

“negociação, contudo, não pode produzir o efeito de retirar dos licitantes ME ou

EPP o direito de preferência, conclusão a que se chega pela interpretação

sistemática da norma que preceitua a possibilidade de negociação”.

66

Diante da imposição de determinados privilégios, não se

deve admitir que este sistema se corrompa e na análise de tal razoabilidade,

mesmo que identificada à situação diferenciada, exigir que a mesma seja

verificada e/ou comprovada para que de fato sejam considerados válidos.

Com a comprovação de que a participando de licitações,

cujo valor arrematado, ultrapassou os limites de seu enquadramento, estas

devem ser desclassificadas sofrendo as sanções que são previstas em lei.

As diferenças econômicas podem ser conduzidas com um

tratamento mais protegido, mas não podem conduzir à eliminação de direitos

fundamentais dos economicamente mais privilegiados.

A Constituição prevê que ocorrendo tratamento desigual,

deve ser adotado tomando em vista o conjunto dos princípios que norteiam a

ordem econômica, mas desde que seja adotada técnica compatível com o

princípio da proporcionalidade.

Marçal (2007) ressalva que o alcance da regra da Lei

Complementar 123/06 não reserva às empresas contempladas a totalidade de

suas contratações:

“Seria inconstitucional estabelecer preferência de cunho absoluto, reservando a totalidade das contratações administrativas para ME e EPP. Isso significaria excluir a possibilidade de competição das empresas de maior porte e acarretaria severos prejuízos aos cofres públicos. Portanto, a constitucionalidade das preferências em favor de ME e EPP deriva da coexistência de diferentes regimes, o que significa que a maior parte das contratações administrativas não será norteada pelo tratamento privilegiado referido”.

"No sentido de evitar desequilíbrios e vantagens

excessivas entre a concorrência, foi editada a Lei 8.884, de 11 de junho de

1994, que transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

em Autarquia, dispondo sobre a prevenção e a repressão às infrações contra

67

ordem econômica e dá outras providências, e no caso em apreço, a regra do

Inciso I do artigo 20 do mencionado diploma legal é perfeitamente aplicável.

Outrossim, as Comissões de Licitações e seus membros

têm ciência que o valor dos certames supera as montas estabelecidas na Lei

Complementar para conceder vantagens às empresas vencedoras, ou seja,

sabedores da situação e nada fazendo, flagrante é a sua omissão, posto que

conceder vantagem a um terceiro que conforme Lei, extrapola o limite de seu

enquadramento, enseja a responsabilização do administrador ante a falta de

observância da norma".

68

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As conseqüências da corrupção repercutem em diversos

segmentos da sociedade e acabam afetando ricos e pobres.

Os atuais governos não estão imunes á corrupção.

Podem ser minados por influências e pagamento de propinas. Nas licitações, o

favorecimento de licitantes, em vez de um tratamento igualitário entre todos, é

que corrompe o sistema. Não podemos negar que os clamores da sociedade

por justiça e lisura na condução da máquina pública foram responsáveis pela

elaboração de novas leis. Apesar de ainda existirem, as praticas de imoralidade

administrativa diminuíram bastante com o advento da Lei de Licitações.

A igualdade entre licitantes, principio que impede a

discriminação entre participantes do certame ainda é o princípio fundamental

da licitação. Seu desatendimento constitui a forma mais insidiosa de desvio de

poder, importando, inclusive, ato de improbidade administrativa. Desde a

publicação da Lei Complementar n° 123/06 a Lei Federal n° 8.666/93 ganhou

destaque com a inovação deste tratamento igualitário obrigatório. As

microempresas e empresas de pequeno porte passaram a ter um tratamento

diferenciado, no intuito de promover o desenvolvimento dos órgãos públicos

brasileiros.

Acerca da praticidade ou não desta nova lei, há uma

suspeita perfeita do fim que se destina, porém inábil frente a algumas atuais

realidades. Tal modelo poderia ser mais aceitável e realista se permitisse a

livre concorrência entre os participantes como a redação original da Lei n°

8.666/93, embora, da mesma forma, alguns aspectos são questionados.

Analisando alguns pontos de discórdia que porventura

surgem na atual redação da Lei, essa permite injustiças. Poderão as pessoas

jurídicas beneficiadas pela nova Lei em epigrafe patrocinar percentuais ínfimos

69

apenas para abaixar o preço vencedor. Assim, frustraria o caráter competitivo

da licitação, deixando de assegurar a igualdade de condições a todos os

concorrentes.

Deverá sim haver mecanismos que impulsionem o

desenvolvimento econômico e social precipuamente nos rincões do Brasil, mas

empregá-los em todas as compras talvez não se traduza em benefícios para os

órgãos públicos.

Tendo por base a sensatez que enormes expectativas

envolvem o risco de decepções. A nova Lei poderá ser duradoura e eficaz e de

certa forma contribuir para o desaparecimento de grandes empresas nos

certames. Com certeza o tempo irá nos fazer ainda mais perguntas e podemos

ficar sem as respostas. As opiniões talvez divirjam, porém, com a publicação e

conseqüente entrada em vigor da Lei Complementar, talvez vejamos o auspício

de microempresas e empresas de pequeno porte interessadas unicamente em

protelar o certame, talvez, solapar os direitos dos outros concorrentes, com

representantes habilidosamente treinados para tal fim capcioso. Caberá, então,

ás Comissões de Licitação e aos Pregoeiros o prudente critério de

desmascarar falsas lutas pelo direito, muito mais letais que o enfrentamento de

realidades inexoráveis á sobrevivência desses pequenos empresários no

mercado, levados a uma posição diferenciada. Para as grandes empresas, a lei

está entorpecida e não há tratamento justo e a menos que o senso de

igualdade passe a operar em cada Administrador Público, será inútil clamar por

ela.

70

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Paulo. 1993

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DIPIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, 2006

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