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Universidade Federal de Alfenas UNIFAL/MG Campus Avançado de Poços de Caldas Stella Letícia de Paula Borges Tratamento anaeróbio de drenagem ácida de mina em reator anaeróbio de leito fluidizado (RALF) Poços de Caldas/MG 2014

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Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL/MG

Campus Avançado de Poços de Caldas

Stella Letícia de Paula Borges

Tratamento anaeróbio de drenagem ácida de mina em reator

anaeróbio de leito fluidizado (RALF)

Poços de Caldas/MG

2014

Stella Letícia de Paula Borges

Tratamento anaeróbio de drenagem ácida de mina em reator

anaeróbio de leito fluidizado (RALF)

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado

como parte dos requisitos para a obtenção do título

de Bacharel em Engenharia Química da

Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL).

Orientadora: Profª. Drª. Giselle Patrícia Sancinetti.

Poços de Caldas/MG

2014

Borges, Stella Letícia de Paula.

Tratamento anaeróbio de drenagem ácida de mina em reator

anaeróbio de leito fluidizado (RALF) / Stella Letícia de Paula Borges.

- Poços de Caldas, 2014.

31 f. –

Orientadora: Giselle Patrícia Sancinetti.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia

Química) - Universidade Federal de Alfenas, Poços de Caldas, MG,

2014.

Bibliografia.

1. Drenagem ácida de mina. 2. Tratamento anaeróbio. 3. Reator de

leito fluidizado. I. Sancinetti, Giselle Patrícia. II. Título.

CDD: 628.16832

Agradecimentos

Por trás de um triunfo individual existe sempre uma grande equipe. Nessa etapa

vitoriosa de minha vida, em que as emoções dos momentos saudosos se confundem com a

grandeza de missão cumprida, contei com pessoas que acreditaram no meu potencial e me

fizeram acreditar que era possível.

A Deus, eterno protetor, dedico a minha vida e agradeço por mais esta conquista.

Mãe, a você a minha eterna e mais profunda gratidão, sei que sempre renunciou dos

seus sonhos para que os meus se tornassem realidade, é e sempre será o meu maior amor,

orgulho e alicerce.

Não posso esquecer jamais do meu pai, que esteve presente quando eu mais precisei, e

que se estivesse entre nós seria um dos mais vibrantes. Sempre te amarei, meu pai.

Ao meu irmão Stênio, que entre tantas dificuldades que juntos passamos, me concedeu

com o melhor presente, a nossa Isabelly.

Ao meu herói e bem maior, meu avô João, obrigada pela força e dedicação na minha

criação.

A minha eterna avó Maria, quantas saudades! Como a senhora faz falta em nossos dias

com suas palavras de conforto e de estímulo.

Aos meus avós paternos, Mozar e Lourdes, por acreditarem e confiarem em mim, o

meu muito obrigado!

Ao meu namorado, Roniere, obrigada pelo seu amor, compreensão e cumplicidade.

A todos os meus colegas de sala, amigos e companheiros por entre estes cinco anos, os

quais juntos superamos todos os obstáculos.

Aos mestres e membros da UNIFAL, por compartilharem seus conhecimentos, em

especial, às docentes Giselle Patrícia Sancinetti e Renata Piacentini Rodriguez, pela

oportunidade oferecida.

A todos os meus amigos de longas datas e aos demais familiares que me incentivaram

a trilhar este caminho lhes digo: O sonho de ser Engenheira Química está se concretizando.

Minha eterna gratidão.

Resumo

Muitos dos impactos ambientais são resultantes da atividade mineradora, os quais podem

comprometer, principalmente, a vida aquática. Quando nos resíduos minerais estão presentes

sulfetos, estes são fonte para a drenagem ácida de mina (DAM). A ocorrência da DAM se dá

pela solubilização dos metais pesados devido ao baixo pH do meio, ou pela oxidação da pirita

a ácido sulfúrico. Os tratamentos disponíveis para esta água residual incluem os processos

físico-químicos ou biológicos, sendo os físico-químicos um tratamento com alto valor

agregado. O processo de fluidização, utilizado nos reatores de leito fluidizados, tem uma fase

fluida que escoa através de uma fase sólida particulada e pode ser aplicado em reações

químicas (catalíticas ou não) ou em transferência de calor. Este trabalho teve por finalidade o

tratamento anaeróbio da DAM em reator anaeróbio de leito fluidizado. O material suporte

utilizado foi a partícula Liteball e utilizou-se etanol como fonte de carbono. A relação de

Demanda Química de Oxigênio (DQO) e sulfato (SO-2

4) empregada foi de 1,0 para ambos

com concentração igual a 500 mg/L. Foi possível verificar um crescente comportamento do

pH, atingindo média de 5,70 (± 0,72), além de significativa remoção da matéria orgânica,

obtendo eficiência média de 89,23% (± 4,07). A redução média de sulfato foi de 10,64%

(± 7,87) e a concentração média de geração de sulfeto foi igual a 0,40 mg/L (± 0,31).

Palavras-chave: Drenagem ácida de mina. Tratamento anaeróbio. Reator de leito fluidizado.

Abstract

Many of the environmental impacts result from mining activity, which can compromise

mainly the aquatic life. When sulfides are present in mineral waste, they are a source for acid

mine drainage (AMD). The occurrence of AMD is either by solubilization of heavy metals

due to the low pH of the environment, or by the oxidation of pyrite to sulfuric acid metals.

The available treatments for this wastewater include physic-chemical and biological

processes, being the first one a treatment with a high value accreted. The fluidization process,

used in fluidized bed reactors, has a fluid phase that flows through a solid particulate phase

and can be applied in chemical reactions (catalytic or otherwise) or heat transfer. This work

had the anaerobic treatment of AMD in an anaerobic fluidized bed reactor as its main goal.

The Liteball particle was used a support material and ethanol was used as a carbon source.

The ratio of chemical oxygen demand (COD) and sulfate (SO-2

4) used was 1.0 for COD of

500 mg/ L. It was possible to verify the behavior of an increasing pH, with average of 5.70

(± 0.72) and significant removal of organic matter, reaching an average efficiency of 89.23%

(± 4.07). The average reduction of sulfate was 10.64% (± 7.87) and the average concentration

of generating sulfide was equal to 0.40 mg/L (± 0.31).

Keywords: Acid mine drainage. Anaerobic treatment. Fluidized bed reactor.

Sumário

1. Introdução .................................................................................................................... 7

2. Objetivo ....................................................................................................................... 8

3. Revisão Bibliográfica .................................................................................................. 9

3.1. Drenagem ácida de mina ...................................................................................... 9

3.2. Tratamento da drenagem ácida de mina ............................................................. 10

3.2.1. Tratamento físico-químico .............................................................................. 10

3.2.2. Tratamento biológico ...................................................................................... 11

3.3. Digestão anaeróbia ............................................................................................. 12

3.4. Processo de fluidização ...................................................................................... 14

4. Materiais e Métodos ................................................................................................... 18

4.1. Material suporte .................................................................................................. 18

4.2. Água residuária ................................................................................................... 19

4.3. Inóculo ................................................................................................................ 19

4.4. Análises físico-químicas ..................................................................................... 19

4.5. Reator de leito fluidizado ................................................................................... 20

4.6. Operação ............................................................................................................. 20

5. Resultados e Discussão .............................................................................................. 22

5.1. Ensaio de fluidização .......................................................................................... 22

5.2. Operação do reator anaeróbio de leito fluidizado (RALF) ................................. 24

6. Conclusão ................................................................................................................... 29

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 30

7

1. Introdução

Um grande risco ambiental é a ocorrência da drenagem ácida de mina (DAM)

associada à mineração, uma vez que, os resíduos minerais que contêm sulfetos, são uma

significativa fonte da DAM. Originada, principalmente, das atividades de mineração, a DAM

é uma solução aquosa, de coloração vermelho-alaranjada, caracterizada por valores baixos de

pH e pela diversificação de metais sulfatados dissolvidos em solução (FUNGARO et al,

2006).

As principais fontes de drenagens ácidas são as minas a céu aberto ou subterrâneas,

bacia de rejeitos, pilhas de estéril e de estocagem do minério que contenham sulfetos

associados (ALMEIDA, 2005). A sua liberação representa riscos ambientais, principalmente,

aos recursos hídricos, além da contaminação do solo e a redução da biodiversidade dos

ecossistemas aquáticos e terrestres (AKCIL et al, 2006).

O tratamento da drenagem ácida de mina vem sendo intensificado por questões de

ordem econômica e ambiental. Para a minimização dos impactos, são necessárias ações

mitigatórias, como prevenção e remediação. Uma alternativa interessante é o uso do

tratamento anaeróbio para o tratamento das águas. Para estudar a redução anaeróbia do sulfato

e para o tratamento da drenagem ácida de mina, há diversas configurações de reatores, dentre

elas, está o reator anaeróbio de leito fluidizado (RALF), o qual foi utilizado, neste trabalho,

com o objetivo de avaliar a conversão biológica de sulfato oriundo de drenagem ácida

sintética e contribuir para obtenção de processos mais eficientes.

8

2. Objetivo

Este trabalho de conclusão de curso teve como objetivo estudar o reator anaeróbio de

leito fluidizado (RALF) para o tratamento de drenagem ácida de mina sintética. Deste modo,

foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:

a. Avaliar a hidrodinâmica do reator com a partícula de Liteball;

b. Estudar o comportamento do reator anaeróbio quando submetido a relação

DQO/SO4-2

igual a 1,0.

9

3. Revisão Bibliográfica

3.1. Drenagem ácida de mina

Os diversos ramos industriais, principalmente, a mineração, a engenharia civil e as

atividades extrativas, têm contribuído enormemente para o impacto ambiental mundial,

devido às suas formas de eliminação de resíduos sólidos e de efluentes. Dentre tantos, na

mineração destaca-se a drenagem ácida de mina (DAM), que é oriunda da oxidação natural de

minerais sulfetados, principalmente a pirita (FeS2), quando expostos à ação combinada da

água e oxigênio, na presença ou não de bactérias oxidantes. Desse processo resulta a produção

de ácido sulfúrico (H2SO4), que dissolve os metais presentes no solo e os hidróxidos

metálicos. (MENEZES et al., 2004; RODRIGUEZ, 2010).

As reações que justificam a produção de ácidos a partir da pirita podem ser

representadas pelas equações a seguir:

FeS2(s) + 7/2O2(g) + H2O(l) Fe+2

(aq) + 2SO4-2

(aq) + 2H+(aq) (1)

Fe+2

(aq) + 1/4 O2 (g) + 2H+ (aq) Fe

+3(aq) + H2O(l) (2)

Fe+3

(aq) + 3H2O(l) Fe(OH)3(s) + 3H+(aq) (3)

4FeS2(s) + 15 O2 (g)+ 14 H2O(l) Fe(OH)3(s) + 8SO4-2

(aq) + 16H+(aq) (4)

A Equação 1 é a reação de oxidação da pirita em meio aquoso, na qual se forma o íon

ferroso (Fe+2

). Algumas bactérias que atuam no meio natural podem acelerar a quebra de

minerais de sulfeto e promover a catálise da oxidação de Fe+2

a Fe+3

(EQUAÇÃO 2). A reação

do íon férrico (Fe+3

) com água (EQUAÇÃO 3) forma mais ácidos. São os hidróxidos ferrosos,

Fe(OH)3, formados que dão a cor vermelho-alaranjada à drenagem ácida de minas. A DAM é

um resíduo líquido no qual o nível de acidez, a concentração e a composição dos metais,

dependem do tipo e da quantidade de sulfetos e da presença ou ausência de materiais alcalinos

(CASTRO et al., 2006; FUNGARO et al., 2006; RODRIGUEZ, 2010).

10

A exploração de certos minerais associada à DAM pode causar em longo prazo,

deficiência dos cursos de água e da biodiversidade, contaminando severamente as águas

superficiais e subterrâneas, bem como os solos. Além de impossibilitar o desenvolvimento e a

sobrevivência de espécies aquáticas, tais como os peixes (AKCIL et al., 2006).

Para a minimização e o controle do impacto ambiental gerado pelas drenagens ácidas

de mina alguns procedimentos mitigatórios são necessários. Primeiramente, deve-se fazer a

prevenção primária em prol da diminuição dos ácidos gerados. Posteriormente, com os

métodos de contenção, é possível evitar ou ao menos reduzir a emissão da DAM para o meio

ambiente, e por fim, realizar remediações, através da coleta e do tratamento dos efluentes

(AKCIL et al., 2006; NUNES, 2010).

3.2. Tratamento da drenagem ácida de mina

No Brasil, a legislação para o limite de emissão indireto de efluentes no corpo receptor

é feita através da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) Nº430 de

13 de maio de 2011, que visa obter níveis de descarte de poluentes dentro do padrão aceitável.

3.2.1. Tratamento físico-químico

Para o tratamento da drenagem ácida de mina, normalmente, utilizam-se a

neutralização química e a precipitação dos hidróxidos metálicos, por meio de substâncias

alcalinas. Dessa forma, é possível aumentar o valor do pH utilizando hidróxido de cálcio,

Ca(OH)2, e óxido de cálcio, mais conhecido como cal, CaO, pois estes reagem com o sulfato

presente na água ácida formando sulfato de cálcio e água (CaSO4 2H2O), o qual precipita

(HAO, 2000; RODRIGUEZ, 2010; TANG et al., 2009).

Ao tentar recuperar áreas afetadas com a drenagem mineira por meio do tratamento

físico-químico, tem-se um processo caro, uma vez que os reagentes químicos possuem alto

custo e estas áreas possuem pH baixo, condutividade específica elevada e concentrações

elevadas de ferro, alumínio e manganês (AKCIL et al., 2006; RUBIO et al., 2012).

11

3.2.2. Tratamento biológico

No tratamento biológico utilizam-se processos microbiológicos com intuito de

diminuir a acidez e os metais dissolvidos, incluindo as lagoas e biorreatores aeróbios e

anaeróbios. O destaque dos biorreatores está na redução de sulfato a sulfeto por meio de

bactérias redutoras de sulfato (BRS). É importante ressaltar que além do sulfato, as BRS

necessitam de uma fonte de carbono para que o seu metabolismo ocorra. Este processo gera

alcalinidade e pode precipitar metais solúveis na forma de sólidos altamente insolúveis

(SHEORAN et al., 2010).

Há duas formas de se atingir a redução biológica do sulfato, por meio de células

suspensas ou imobilizadas. A utilização de reatores contínuos com células suspensas está

associada a baixas vazões de escoamento e altos tempos de residência para evitar o arraste das

células. Os reatores com células imobilizadas normalmente oferecem maior resistência a

condições extremas de pH e a altas concentrações de metais (TANG et al., 2009).

Os tipos de tratamento biológico podem ser divididos em passivo ou ativo. O

tratamento passivo para áreas contaminadas abaixo da superfície consiste no enriquecimento

da atividade microbiana, inserindo o substrato adequado ou barreiras permeáveis reativas

(BENNER et al., 1999). Dessa forma, tem sido comprovado que onde as águas ácidas

contaminaram os sistemas aquáticos, estes têm a capacidade de se recuperar naturalmente

com a aplicação de espécies que são capazes de regenerar o meio ao seu estado inicial. E já

nas áreas de superfície, há a proposta de áreas de infiltração, lagoas anóxicas e sistemas com

uso de áreas alagadas (“wetlands”) (HULSHOFF et al., 2001). Essas duas propostas são de

baixo custo e manutenção fácil. Porém, necessitam de grandes áreas, apresentando maior

dificuldade para recuperar metais e estão sujeitas às variações sazonais (GARCIA et al.,

2001; RODRIGUEZ, 2010).

Para o tratamento ativo têm-se os biorreatores que podem ser utilizados com biomassa

adequada para ter maior controle do processo. Dessa forma, há diferentes tipos de reatores

para reduzir o sulfato, e, de acordo com Tang et al., (2009) alguns pesquisadores

desenvolveram estudos sobre a redução anaeróbia de sulfato associado ao tratamento da

drenagem ácida de minas.

Uma proposta de tratamento da drenagem ácida de mina, utilizando reator de leito

fluidizado, foi estudada por Sahinkaya et al., (2010), a qual continha pH entre 2,7 e 4,3,

12

sulfato entre 1,5 e 4,4 g/L, além de metais. Este reator foi alimentado com etanol como

redutor de sulfato e carvão ativado como meio suporte. A maior taxa de redução de sulfato,

4,6 g/L dia, foi obtida com concentração de alimentação de sulfato de 2,5 g/L, relação DQO/

SO4-2

de 0,85 e tempo de retenção hidráulico de 12 h. A remoção de sulfato e DQO obtidas

foram cerca de 90% e 80%, respectivamente.

Rodriguez (2010) utilizou reator anaeróbio horizontal de leito fixo (RAHLF), para o

tratamento da drenagem ácida de mina, com espuma de poliuretano como suporte de

imobilização e etanol como fonte de carbono. Os resultados mostraram que a redução da

carga de sulfato aplicada foi o fator determinante para os bons resultados de remoção,

encontrados ao longo da operação do reator (70% de remoção de sulfato e 75% de remoção de

DQO). A relação DQO/SO42-

também foi importante e quando utilizada a relação

estequiométrica de 0,67, a eficiência de remoção de sulfato atingiu níveis superiores a 70%

com pequeno acúmulo de ácido acético no efluente.

Bekmezci et al. (2011) avaliaram o potencial do reator anaeróbio compartimentado

perplexo (ABR) no tratamento da drenagem ácida de mina sintética contendo sulfato (3,0–3,5

g/L) e vários metais (Co, Cu, Fe, Mn, Ni, and Zn). O reator foi operado por 160 dias a 32ºC,

alimentado com etanol como fonte de carbono, pH igual a 3,0 e tempo de retenção hidráulico

de 48 horas, sem aeração no 4º compartimento. A remoção de DQO foi de 92%, enquanto a

redução do sulfato foi de 88%, utilizando a relação de DQO/ SO42-

igual a 0,737.

3.3. Digestão anaeróbia

Nos dias atuais, a digestão anaeróbia está sendo utilizada como uma importante

alternativa para o tratamento de diferentes tipos de resíduos, devido aos baixos custos

operacionais e da capacidade de substituir os combustíveis fósseis, minimizando assim, a

emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa (SILVA, 2009).

A digestão anaeróbia é a etapa em que ocorre a estabilização de substâncias instáveis e

da matéria orgânica no lodo, reduzindo ou até mesmo destruindo os microrganismos

patogênicos e o volume do lodo, e permitindo a sua utilização como fonte de húmus ou

condicionador de solo para fins agrícolas (MORAES, 2014).

13

Na digestão anaeróbia, a matéria orgânica em ausência de oxigênio, é convertida a

gases, em que contém a predominância de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Já no

processo de biodigestão, em que ocorre à conversão da matéria orgânica também em ausência

de oxigênio, são utilizados, por exemplo, aceptores finais de elétrons íons do tipo SO4-2

, para

reduzir o sulfato a gás sulfídrico (H2S) e CO2 (SILVA, 2009).

A digestão anaeróbia pode ser dividida em quatro fases, sendo elas:

Hidrólise: processo pelo qual o material orgânico é transformado em compostos

dissolvidos de menor peso molecular através da solubilização com água.

Acidogênese: os produtos gerados na hidrólise são absorvidos por bactérias

acidogênicas fermentativas e eliminados como substâncias orgânicas simples.

Acetogênese: os ácidos graxos e o etanol formados são transformados pelas bactérias

acetogênicas em acetato e hidrogênio. É nesta fase que ocorre a conversão dos

produtos gerados na acidogênese em compostos que formam os substratos para a

produção de metano.

Metanogênese: o metano é produzido pelas metanobactérias, convertendo o acetato,

hidrogênio e dióxido de carbono em metano e dióxido de carbono.

As bactérias metanogênicas dependem do substrato fornecido pelas acetogênicas, que

são dependentes das acidogênicas e estas das hidrolíticas, em que se estabelece um

mecanismo de interações entre os grupos de bactérias (SILVA, 2009).

A Figura 1 representa as sequencias metabólicas envolvidas no processo da digestão

anaeróbia.

14

Figura 1: Sequencias metabólicas na digestão anaeróbia.

Fonte: Adaptado de SILVA, 2009.

3.4. Processo de fluidização

Geralmente, em muitas operações unitárias, como na fluidização, uma fase fluida

escoa através de uma fase sólida particulada. Assim, a taxa de transferência do fluido para as

partículas sólidas, e, portanto, a perda de pressão do escoamento através do leito, está

relacionada aos mecanismos físicos que ocorrem o escoamento.

Orgânicos Complexos

Proteínas/Carboidratos/Lipídeos

Orgânicos Simples

Aminoácidos/Açúcares/Ácidos graxos

Ácidos orgânicos

H2

+ CO2 Acetato

CH4 + CO

2

H2S + CO

2

Hidrólise

Acidogênese

Acetogênese

Metanogênese

Redução do Sulfato

(Sulfetogênese)

15

A fluidização pode ser aplicada em reações químicas (catalíticas ou não), na

transferência de calor, como por exemplo, na secagem, em mistura de sólidos e na adsorção.

Suas características gerais estão relacionadas com a velocidade de escoamento do fluido. Se a

velocidade é baixa, o fluido percorre pequenos e tortuosos canais, perdendo energia e pressão,

sendo que a perda de carga ( ) é função da permeabilidade, rugosidade, densidade,

viscosidade e velocidade superficial. Aumentando-se a velocidade, a fluidização atinge um

valor em que a ação dinâmica do fluido permite reordenação das partículas, de modo a

oferecer menor resistência à passagem do mesmo. Já em velocidades altas, as partículas

deixam de estar em contato entre si, se movem sob a influência do fluido escoante e se

parecem com um líquido em ebulição, em que se diz que elas estão fluidizadas (FOUST et al.,

2011).

Quando um fluido está passando por um leito de partículas a uma determinada

velocidade, a queda de pressão (perda de carga) do fluido através do leito é descrita pela

Equação de Ergun (EQUAÇÃO 5).

( )

( )

( )

Em que:

= Queda de pressão do fluido através do leito [N/m²];

= Altura do leito [m];

= Esfericidade da partícula;

= Diâmetro da partícula [m];

= Massa específica do fluido [kg/m³];

= Velocidade superficial média entre a massa específica de entrada e de saída [m/s];

= Porosidade do leito [adimensional];

= Viscosidade do fluido [kg/m s].

Utiliza-se a velocidade superficial média, uma vez que, seria muito difícil encontrar a

real velocidade do fluido, a velocidade intersticial, que escoa por entre os poros.

Considerando que a partícula é esférica ( = 1) e sabendo-se que o Número de

Reynolds é dado pela Equação 6, a Equação de Ergun (EQUAÇÃO 5) pode ser alterada para a

Equação 7.

(5)

16

( ) ( )

A relação entre a perda de pressão e o Número de Reynolds pode ser visualizada

através da Figura 2.

Figura 2: Fluidização de leito de sólidos particulados.

Fonte: FOUST et al., 2011.

No intervalo entre A e B: o leito é fixo ou estático; o regime é quase sempre

laminar; a Equação de Ergun pode ser aplicada.

No Ponto B: A perda de carga iguala-se ao peso dos sólidos; o leito é calmo ou

tranquilo; observa-se fluidez no leito. Este ponto se caracteriza pelo rearranjo

das partículas, as quais mudam de posição.

No Ponto C: é o ponto de mínima fluidização, em que há pouco contato entre

as partículas e ocorre o equilíbrio entre a perda de carga e o empuxo com o

peso aparente.

No intervalo C e D: o movimento das partículas é desordenado, com choques

frequentes devido ao aumento da porosidade e a diminuição da perda de carga.

(6)

(7)

17

No ponto D: a perda de carga começa a ficar constante e não há contato entre

as partículas.

Intervalo entre D e E: há o aumento da agitação das partículas à constante

perda de carga. Assim, o leito está em ebulição ou fluidizado.

No ponto E em diante: há o arraste das partículas do leito pelo fluido; a

fluidização é contínua ou em fase diluída; e quando o fluido é o ar, ocorre o

transporte pneumático, e quando é água, o transporte é hidráulico.

No ponto C, de mínima fluidização, tem-se a equação clássica da fluidização, descrita

pela Equação 8.

(

) ( )

Em que:

= Massa específica do sólido [kg/m³];

= Aceleração da gravidade [m/s²].

Algumas condições de fluidização para a Equação 8 devem ser consideradas. Para

, há a formação de micro bolhas, pois a fase densa apresenta características de um

fluido. Este caso é chamado de fluidização particulada ou homogênea. Já para , a

fluidização é irregular devido à coalescência das bolhas. Isso acontece quando se tem

partículas grandes e alta velocidade ou partículas muito pequenas no leito, sendo chamada de

fluidização agregativa ou heterogênea (FOUST et al., 2011).

(8)

18

4. Materiais e Métodos

O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório das Engenharias e de

Biotecnologia Anaeróbia do Instituto de Ciência e Tecnologia – Campus Poços de Caldas da

Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

4.1. Material suporte

As partículas usadas como meio suporte para a imobilização da biomassa foram o

Liteball fornecido pela empresa Mineração Curimbaba, sediada em Poços de Caldas – MG

(FIGURA 3). Este material possui características atrativas para ser utilizado como meio

suporte, tais como: densidade aparente de 2,56 g/mL, diâmetro médio de 0,897 mm, área

superficial igual a 31,84 m²/g e alta porosidade.

Figura 3: Liteball utilizado como meio suporte para a imobilização da biomassa.

A opção de se utilizar o Liteball foi devido à possibilidade de reaproveitar resíduos

industriais da empresa supracitada. Além disso, existe interesse da empresa nesta

possibilidade de aplicação do material, que pode acarretar desenvolvimento de novos

produtos pela mesma.

19

As partículas de Liteball foram peneiradas, utilizando malha de 28 mesh que continha

abertura de 600 µm, com o objetivo de retirar os finos.

4.2. Água residuária

Para alimentação dos reatores foi utilizada DAM sintética com pH de

aproximadamente 4,0, o qual era corrigido, se necessário, com ácido clorídrico (HCl) 2 M,

concentração de sulfato e DQO igual a 500 mg/L e etanol como fonte de carbono. A

composição da DAM em mg/L era formada por: MgSO4 (110), FeSO4.7H2O (49), ZnCl2 (15),

NH4Cl (115,4), NaH2PO4 (68,2) e Na2SO4 (600).

4.3. Inóculo

Como inóculo, foi utilizado o lodo proveniente de reator anaeróbio de manta de lodo

aplicado para tratamento de água residuária do abatedouro de aves da empresa Avícola Dacar,

sediada em Tietê - SP.

4.4. Análises físico-químicas

O sistema foi avaliado através da realização de análises físico-químicas, tais como

DQO, pH, sulfato, das amostras de afluente e efluente dos reatores três vezes por semana,

sendo que a análise de sulfeto foi feita apenas para o efluente. As análises de DQO, pH,

sulfato e sulfeto seguiram os métodos descritos pelo APHA (2012).

20

4.5. Reator de leito fluidizado

Para a realização de testes preliminares de fluidização, tais como, a velocidade de

fluidização e a perda de carga, utilizou-se o kit didático do reator de leito fluidizado das

Engenharias. Este reator possuía altura de 0,80 m e diâmetro de 0,08 m.

Posteriormente, para o tratamento anaeróbio da drenagem ácida de mina sintética,

montou-se o sistema operacional do reator de leito fluidizado no Laboratório de

Biotecnologia. Este reator, em escala de bancada, foi confeccionado em acrílico com altura

igual a 1,08 m, diâmetro de 0,17 m e com volume útil de 1,5 L. Sua montagem pode ser

visualizada na Figura 4.

Figura 4: Sistema operacional do Reator de Leito Fluidizado.

4.6. Operação

O processo de fluidização iniciou-se, inserindo aproximadamente 250 g de Liteball no

interior do reator. Em seguida, ligou-se a bomba, alternando a vazão, para que pudesse

realizar as medidas de perda de carga.

21

Para tratamento anaeróbio da DAM com o reator de leito fluidizado, primeiramente, o

inóculo, a princípio na forma de grânulos, foi previamente triturado em liquidificador. Em

seguida, inseriu-se 250 mL de inóculo juntamente com 300 g de Liteball e a DAM, atingindo

o volume útil do reator de leito fluidizado. Este foi colocado em câmara termostática com

temperatura controlada de 30ºC e o sistema foi mantido em repouso por 24 horas.

Ao final das 24 horas, o reator foi mantido sob recirculação por 48 horas, antes de ser

operado continuamente como sistema aberto, apenas para a recirculação para permitir a

adesão da biomassa no Liteball.

A alimentação foi feita por bomba peristáltica Gilson®,

em rotação de 6 rpm, e a

recirculação por bomba dosadora Ecosan®, com vazão de 20 L/h, atingindo uma altura de

fluidização igual a 29 cm, e pressão de 6 kg/cm², de modo a manter o tempo de retenção

hidráulica (TDH) de 24 horas. O leito apresentou altura igual a 27,5 cm com a mínima

fluidização e 26 cm sem fluidização, ou seja, com leito totalmente parado. A solução de

alimentação foi mantida em geladeira sob temperatura de 15ºC.

22

5. Resultados e Discussão

5.1. Ensaio de fluidização

Os dados obtidos experimentalmente da vazão volumétrica, da altura do leito e da

perda de carga estão expressos na Tabela 1.

Tabela 1: Dados experimentais da vazão volumétrica (Q), da altura do leito (h) e da perda de

carga (∆P/L).

Vazão

Volumétrica Q

[10-5

] (m³/s)

Altura do leito - h

(m)

Perda de carga - ∆P/L

(Pa/m)

0 0,09 607,83

2,92 0,13 715,88

3,06 0,13 764,92

3,33 0,13 774,72

3,61 0,14 745,30

3,89 0,15 764,92

4,17 0,15 745,30

4,44 0,15 745,30

4,72 0,16 745,30

5,00 0,16 745,30

5,28 0,17 745,30

5,55 0,18 941,43

6,11 0,19 941,43

6,66 0,23 951,24

7,22 0,28 951,24

8,33 0,21 961,05

Utilizando a Equação 9, e os dados da Tabela 1 foi possível calcular a velocidade

superficial, , os quais seus valores estão apresentados na Tabela 2.

Em que:

= Vazão volumétrica [m3/s];

A = Área superficial [m2].

(9)

23

Sabendo-se que o raio superficial era igual a 0,04 m, a área superficial, portanto, foi de

5,03 10-3

m2.

Tabela 2: Valores da velocidade superficial, .

Velocidade superficial -

[10-3

] (m/s)

1 0

2 5,80

3 6,07

4 6,63

5 7,18

6 7,73

7 8,28

8 8,84

9 9,39

10 9,94

11 10,49

12 11,05

13 12,15

14 13,26

15 14,36

16 16,57

Com os valores da velocidade superficial () e da perda de carga (∆P/L) foi possível

traçar um gráfico de ∆P versus , expresso na Figura 5.

Figura 5: Perda de carga versus velocidade superficial.

0

200

400

600

800

1000

1200

0 0,005 0,01 0,015 0,02

Pe

rda

de

car

ga -

∆P

/L (

Pa/

m)

Velocidade superficial - v (m/s)

24

Como dito anteriormente, utilizou-se o kit didático das Engenharias para a realização

experimental do ensaio de fluidização, a fim de se obter a máxima e a mínima fluidização, e a

perda de carga. Porém, este kit experimental possuía uma bomba com alta vazão, de no

mínimo 300 L/h, assim, de acordo com a Figura 5, não foi possível verificar com o Liteball, a

mínima fluidização e nem a diferença de carga. Uma alternativa para a efetivação do ensaio

de fluidização, utilizando o Liteball, seria uma bomba com uma menor vazão.

Entretanto, a partir destes resultados, foi possível especificar melhor a bomba de

recirculação que foi comprada e utilizada para o desenvolvimento do trabalho com o reator de

leito fluidizado para o tratamento da DAM no Laboratório de Biotecnologia.

5.2. Operação do reator anaeróbio de leito fluidizado (RALF)

A Figura 6 apresenta os valores do pH afluente e efluente em relação ao tempo de

operação do reator de leito fluidizado.

Nota-se uma estabilidade na manutenção dos valores de pH efluente até o período de

53 dias. Após este dia, verifica-se o crescente aumento do pH efluente, atingindo valor médio

de 7,02 (± 0,42), indicando a geração de alcalinidade no meio resultante do tratamento

biológico da DAM. O valor médio de pH efluente para o período total de operação foi de 5,70

(± 0,72).

De acordo Rodriguez (2010), este aumento observado no pH efluente resulta do

consumo de sulfato e, consequentemente de íons H+, contribuindo com a geração de certa

alcalinidade no efluente.

25

Figura 6: Valores experimentais do pH em relação ao período de operação.

A Figura 7 mostra o comportamento da DQO na corrente afluente e efluente. A

remoção da matéria orgânica apresentou uma variação significativa durante todo o período de

operação, atingindo uma eficiência média de 89,23% (± 4,07) e concentração média do

efluente igual a 72,64 mg/L (± 33,51).

Figura 7: Valores de remoção da DQO em relação ao período de operação.

A remoção de sulfato pode ser acompanhada pela Figura 8 e, consequentemente, o

percentual de remoção de sulfato pode ser visto na Figura 9.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

9,00

0 15 30 45 60 75

pH

Périodo de Operação (dias)

Afluente

Efluente

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

0 15 30 45 60 75

DQ

O (

mg

/L)

Tempo de Operação (dias)

Afluente

Efluente

26

Figura 8: Valores de redução de sulfato de afluente e efluente em relação ao tempo de operação.

Figura 9: Percentual de remoção de sulfato em relação ao período de operação.

Observa-se que, a partir das Figuras 8 e 9, a concentração de sulfato mediano efluente

foi de 452,75 mg/L (± 78,22) e a média da remoção de sulfato foi de 10,64% (± 7,87). Em

relação à concentração de sulfato e remoção de sulfato, nota-se que nos dias finais de

operação há uma tendência de maior remoção.

O baixo valor de remoção de sulfato pode ser justificado pela operação do reator para

o tratamento da DAM ainda estar em fase inicial de adaptação. Lembrando que, geralmente,

para o tratamento de águas residuárias que utilizam reatores com microrganismos, a fase

adaptação é de, no mínimo, três meses.

0,00

200,00

400,00

600,00

800,00

0 15 30 45 60 75

Su

lfa

to (

mg

/L)

Tempo de Operação (dias)

Afluente

Efluente

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

0 15 30 45 60 75

Red

uçã

o d

e S

ulf

ato

(%

)

Tempo de Operação (dias)

27

O acetato e o hidrogênio podem ser utilizados pelas bactérias redutoras de sulfato

(BRS) e pelas arqueas metanogênicas, causando uma competição entre elas. Como o inóculo

era metanogênico, inicialmente, a metanogênese é favorecida, observado pela redução da

DQO. Com maior tempo de operação do reator, espera-se que as BRSs predominem em

relação às metanogências, havendo maior redução de sulfato.

Os resultados das análises de sulfeto para o efluente podem ser visualizados na Figura

10.

Figura 10: Variação da concentração do sulfeto no efluente em relação ao período de operação.

Em geral, notou-se uma constante variação da concentração de sulfeto, com valor

médio de concentração igual a 0,40 mg/L (± 0,31). Os resultados da presença de sulfeto no

efluente indicam que houve sulfetogênese no interior do reator.

Ao realizar uma comparação geral dos resultados do presente trabalho com os estudos

realizados de Sahinkaya et al (2010), Rodriguez (2010) e Bekmezci et al. (2011) (TABELA

3), que utilizaram, respectivamente, o reator anaeróbio de leito fluidizado, o reator anaeróbio

horizontal de leito fluidizado e o reator anaeróbio compartimentado perplexo, pode-se dizer

que, em relação à remoção de DQO o presente trabalho apresentou o segundo melhor

resultado, ficando atrás apenas de Bekmezci et al. (2011). Um fator em comum entre ambos

foi a utilização da DAM sintética, enquanto os outros dois, Sahinkaya et al (2010), Rodriguez

(2010), usaram DAM real.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

0 15 30 45 60 75

Su

lfet

o (

mg

/L)

Tempo de Operação (dias)

28

Tabela 3: Comparação do presente trabalho com os demais estudos realizados.

Presente

trabalho

Sahinkaya et al.

(2010)

Rodriguez

(2010)

Bekmezci et al.

(2011)

Tipo de reator RALF RALF RAHLF ABR

Tipo de água

residuária

DAM sintética DAM real DAM real DAM sintética

Material

suporte

Liteball Carvão ativado Espuma de

poliuretano

_

Fonte de

carbono

Etanol Etanol Etanol Etanol

Relação

DQO/ SO42-

1,0 0,85 0,67 0,737

Remoção de

DQO (%) 89,23% 80% 75% 92%

Remoção de

sulfato (%) 10,64% 70% 88% 90%

Os resultados de redução de SO42-

obtidos por este trabalho ainda estão abaixo dos

valores determinados por outros pesquisadores, tais como, Sahinkaya et al (2010), Rodriguez

(2010) e Bekmezci et al (2011), principalmente pelo fato da utilização de diferentes relações

de DQO/SO42

e do meio suporte. Entretanto, acredita-se que com maior tempo de operação do

reator e realizando novos testes com diferentes relações de DQO/SO42, valores próximos

possam ser atingidos.

29

6. Conclusão

Durante o ensaio de fluidização teve-se dificuldade na determinação da máxima e

mínima velocidade de fluidização, como também, na perda de carga. Isso ocorreu pela alta

vazão da bomba utilizada e, por não possuir outra bomba para substituí-la e realizar

novamente o ensaio de fluidização. Entretanto, este ensaio permitiu especificar a bomba de

recirculação que foi adquirida para a operação do RALF para o tratamento da DAM.

De acordo com os resultados obtidos através da operação do reator anaeróbio de leito

fluidizado, o pH efluente apresentou resultados satisfatórios atingindo-se a faixa neutra, igual

a 7,02 (± 0,42). Em relação à eficiência de remoção da DQO, têm-se ótimos resultados,

atingindo média igual a 89,23% (± 4,07). E por fim, a concentração média de sulfato e sulfeto

do efluente foram de 452,75 mg/L (± 78,22) e de 0,40 mg/L (± 0,31), respectivamente.

Portanto, pode-se concluir que, o tratamento anaeróbio da drenagem ácida de mina

sintética, utilizando como material suporte o Liteball e uma relação DQO/ SO-2

4 de 1,0,

apresenta potencial efetivo. Torna-se necessário a operação por um período maior de tempo,

como também, a realização de novas relações de DQO/ SO-2

4, a fim de ter um aumento na

remoção de sulfato e, consequentemente, gerar mais sulfeto.

30

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