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151 Educação, Batatais, v. 7, n. 2, p. 151-171, jan./jun. 2017 Transtorno Desafiador Opositivo: desafios e possibilidades Ana Paula BARBOSA 1 Bianca Carla BORGHESI 2 Gabriela de Souza BRONZI 3 Renata Andrea Fernandes FANTACINI 4 Resumo: O Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) enquadra-se nos comportamentos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta, como um padrão de humor raivoso, irritável, de comportamento questionador. O objetivo geral deste estudo foi conhecer o TDO, as possibilidades e os desafios da atuação pedagógica. O presente estudo teve como justificativa a ocorrência crescente do número de crianças diagnosticadas com TDO nas escolas e muitos são os desafios do pedagogo devido às limitações que possa enfrentar em sua prática pedagógica, por não ter conhecimentos que se fazem necessários para a contribuição no tratamento do aluno. Através deste estudo, pretendemos apresentar a importância da parceria da escola com a família e os especialistas que acompanham as crianças, pois muitas escolas não têm a informação sobre seus alunos e acabam não par- ticipando no processo de ensino e aprendizagem. Queremos disseminar conhecimentos sobre o assunto, removendo barreiras existentes em sala de aula, promovendo aprendi- zagens significativas, buscando estratégias que possam colaborar e atender às reais ne- cessidades dos alunos. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica. Discutimos neste estudo o conceito, as características, os sintomas, bem como os possíveis fatores de desenvolvimento do transtorno, como são os comportamentos no ambiente familiar e na escola, como foram apresentados as possibilidades e desafios com a criança, es- tratégias que pais e professores podem utilizar para o manejo dos maus comportamen- tos, como também a importância da parceria entre escola e família na contribuição do tratamento da criança. A partir do estudo desenvolvido, cumpre ressaltar a importância dos familiares e pedagogos buscarem por esse conhecimento, que é importante para a convivência e atuação de ambos, sendo indispensável essa parceria no tratamento em que a família estará apta a mudanças, em que as maneiras de se relacionar, decidir ati- tudes e organizar o ambiente de convívio interferem no tratamento dessa criança, con- tribuindo grandemente para a regressão do TDO e de outros possíveis transtornos. Palavras-chave: Inclusão. Transtorno Desafiador Opositivo. Possibilidades e Desafios. 1 Ana Paula Barbosa. Graduanda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 2 Bianca Carla Borghesi. Graduanda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 3 Gabriela de Souza Bronzi. Graduanda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 4 Renata Andrea Fernandes Fantacini. Doutoranda em Educação Especial pela Universidade de São Carlos (UFSCar). Mestre em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda (CUML). Docente e Tutora dos cursos de Graduação e Pós-graduação (Lato Sensu) em Educação Especial do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Educação, Batatais, v. 7, n. 2, p. 151-171, jan./jun. 2017

Transtorno Desafiador Opositivo: desafios e possibilidades

Ana Paula BARBOSA1

Bianca Carla BORGHESI2

Gabriela de Souza BRONZI3

Renata Andrea Fernandes FANTACINI4

Resumo: O Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) enquadra-se nos comportamentos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta, como um padrão de humor raivoso, irritável, de comportamento questionador. O objetivo geral deste estudo foi conhecer o TDO, as possibilidades e os desafios da atuação pedagógica. O presente estudo teve como justificativa a ocorrência crescente do número de crianças diagnosticadas com TDO nas escolas e muitos são os desafios do pedagogo devido às limitações que possa enfrentar em sua prática pedagógica, por não ter conhecimentos que se fazem necessários para a contribuição no tratamento do aluno. Através deste estudo, pretendemos apresentar a importância da parceria da escola com a família e os especialistas que acompanham as crianças, pois muitas escolas não têm a informação sobre seus alunos e acabam não par-ticipando no processo de ensino e aprendizagem. Queremos disseminar conhecimentos sobre o assunto, removendo barreiras existentes em sala de aula, promovendo aprendi-zagens significativas, buscando estratégias que possam colaborar e atender às reais ne-cessidades dos alunos. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica. Discutimos neste estudo o conceito, as características, os sintomas, bem como os possíveis fatores de desenvolvimento do transtorno, como são os comportamentos no ambiente familiar e na escola, como foram apresentados as possibilidades e desafios com a criança, es-tratégias que pais e professores podem utilizar para o manejo dos maus comportamen-tos, como também a importância da parceria entre escola e família na contribuição do tratamento da criança. A partir do estudo desenvolvido, cumpre ressaltar a importância dos familiares e pedagogos buscarem por esse conhecimento, que é importante para a convivência e atuação de ambos, sendo indispensável essa parceria no tratamento em que a família estará apta a mudanças, em que as maneiras de se relacionar, decidir ati-tudes e organizar o ambiente de convívio interferem no tratamento dessa criança, con-tribuindo grandemente para a regressão do TDO e de outros possíveis transtornos. Palavras-chave: Inclusão. Transtorno Desafiador Opositivo. Possibilidades e Desafios.

1Ana Paula Barbosa. Graduanda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Bianca Carla Borghesi. Graduanda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Gabriela de Souza Bronzi. Graduanda em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Renata Andrea Fernandes Fantacini. Doutoranda em Educação Especial pela Universidade de São Carlos (UFSCar). Mestre em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda (CUML). Docente e Tutora dos cursos de Graduação e Pós-graduação (Lato Sensu) em Educação Especial do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Oppositional Defiant Disorder: challenges and possibilities

Ana Paula BARBOSABianca Carla BORGHESI

Gabriela de Souza BRONZIRenata Andrea Fernandes FANTACINI

Abstract: The Oppositional Defiant Disorder (ODD) fits into the Disruptive Behaviors, in the control of impulses and of conduct, as a standard for anger, irritable humor and questionable behavior. The general objective of this study is to know ODD, the possibilities and the challenges of the teacher´s actions. The present study was justified by the occurrence of the increased number of children diagnosed with ODD in schools and many are the challenges of the teacher due to the limitations that one might face during the teaching practice, by not having the knowledge that is necessary for the contribution for the student´s treatment. Through this study, we intend to present the importance of the partnership between the school, the family and the specialists that accompany the children, since many schools do not have the information about these students and end up not participating in the process of teaching and learning. We hope to spread the knowledge about the subject, removing barriers that exist in the class room, promoting significant learning methods, seeking strategies that might contribute and contemplate the real necessities of the students. The methodology used was bibliographical revision. We discussed in this study the concept, the characteristics, the symptoms and the possibilities and challenges presented to the child, strategies that parents and teachers can use to deal with the bad behaviors, as well as the importance of the partnership between the school and the family in the contribution of the treatment of the child. Considering the study that was developed, it is important to state the importance of the families and teachers to seek this knowledge, that is important for the coexistence of both, because this partnership is indispensable in the treatment in which the family will be apt to the changes, in the ways of relating, deciding attitudes and organizing the living environment interfere with the treatment of the child, greatly contributing to the regression of the ODD and other possible disorders.

Keywords: Inclusion. Oppositional Defiant Disorder. Possibilities and Challenges.

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1. INTRODUÇÃO

Segundo a classificação do DSM-5 (APA, 2014), o Transtor-no Desafiador Opositivo (TDO) se encaixa na categoria dos trans-tornos disruptivos, do controle de impulso e da conduta, define-se como um padrão de humor raivoso, irritável, de comportamento questionador, sempre desafiando e com índole vingativa. É impor-tante conhecer as características e seu processo de desenvolvimen-to, pois, sem um tratamento correto, pode ocasionar em possíveis complicações, acarretando em prejuízos na vida social das crianças.

A orientação mais comum é que a família deve proporcionar a essas crianças um ambiente acolhedor, harmonioso, com bons re-lacionamentos e exemplos, assim, contribuindo para a regressão do transtorno, família presente na vida dos filhos faz a diferença, pois é ela que passa a maior parte do tempo com as crianças.

Salienta-se a importância de conhecer e se relacionar com crianças que apresentam ou possam vir a apresentar o transtorno desafiador opositivo, algumas necessidades devem ser pontuadas, trabalhar práticas e obter resultados satisfatórios são ações na busca por conhecimentos que minimizem perdas e resgatem o sujeito pe-rante a sociedade, além dos contextos familiares e escolares serem ambientes primordiais para essas práxis.

A escolha do tema justifica-se por, atualmente, ocorrer um crescente número de crianças diagnosticadas com TDO (Transtor-no Desafiador Opositivo) nas escolas. Muitos são os desafios do pedagogo devido a limitações que possa enfrentar em sua prática pedagógica, por não ter conhecimentos que se fazem necessários para contribuir com o tratamento do aluno.

Por meio deste estudo, pretendemos apresentar a importância da parceria da escola, juntamente com a família e os especialistas que acompanham as crianças, pois muitas escolas não têm a infor-mação sobre seus alunos e acabam não participando e contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem. Queremos disseminar conhecimentos sobre o assunto, removendo barreiras existentes em sala de aula, promovendo aprendizagens significativas, buscando

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estratégias que possam colaborar e atender às reais necessidades dos alunos.

Esperamos que esta pesquisa contribua para nossa relevância intelectual e para toda a comunidade acadêmica e que possa pro-mover novas maneiras de atuar, agir e pensar sobre essas crianças.

O objetivo geral deste estudo será conhecer o Transtorno De-safiador Opositivo (TDO), as possibilidades e os desafios da atua-ção pedagógica.

Os objetivos específicos deste estudo serão: caracterizar e definir o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO); apontar os pos-síveis caminhos e os desafios para a atuação pedagógica, utilizando estratégias de ensino para inclusão e, por fim, destacar a parce-ria entre pedagogo, escola e família no tratamento do aluno com (TDO).

2. METODOLOGIA

A metodologia aplicada neste estudo está pautada na pesquisa bibliográfica (revisão de leitura), em que foram consultadas teorias em livros impressos e digitais, manuais de psiquiatria, revistas e artigos científicos acessíveis em sites confiáveis:

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abran-ge toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação oral: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e tele-visão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 166).

Nesse contexto, a presente pesquisa está fundamentada teori-camente nos conhecimentos de pesquisadores, médicos conceitua-dos na área de Educação Inclusiva, que abordam o tema Transtorno Desafiador Opositivo (TDO), sendo eles: Barletta (2011), Facion

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(2013), Almeida, et al (2014), Manual Diagnóstico da APA (2014) e Teixeira (2014).

O estudo está dividido em três tópicos, organizado na sequ-ência: 1) Conhecendo o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO); 2) Contexto familiar; 3) Contexto pedagógico, possibilidades e de-safios em sala de aula.

No primeiro momento, iremos abordar o conceito de Trans-torno Desafiador Opositivo, suas características e sintomas, seus possíveis fatores de desenvolvimento, bem como alguns compor-tamentos similares ao TDO e a importância de um tratamento ade-quado.

No segundo momento, vamos ressaltar a importância de uma família estruturada, acolhedora, que possa estar presente na vida da criança, vivenciando uma relação dinâmica em que as regras sejam esclarecidas, proporcionando estrutura familiar para que, por meio desta, se dê o desenvolvimento para o meio social.

No terceiro momento, iremos discutir os desafios e as pos-sibilidades que o professor e a equipe pedagógica enfrentarão no ambiente escolar, fazendo-se necessária a busca do conhecimento para a integração do aluno, utilizando de estratégias para o desen-volvimento do aluno, bem como para regressão do transtorno.

3. DESENVOLVIMENTO

Conhecendo o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO)

Segundo a classificação do DSM-5 (APA, 2014) o Transtor-no Desafiador Opositivo (TDO) se encaixa na categoria dos trans-tornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta, incluin-do condições que envolvem problemas de autocontrole, emoções e comportamentos. O DSM-5 (APA, 2014, p. 462) define o TDO como sendo “Um padrão de humor raivoso/irritável, de comporta-mento questionador/desafiante ou índole vingativa com duração de pelo menos seis meses”.

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Consideram-se oito critérios importantes para o diagnóstico:1. Com frequência perde a calma.

2. Com frequência é sensível ou facilmente incomodado.

3. Com frequência é raivoso e ressentido. Comportamento Questionador/Desafiante.

4. Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, no caso de crianças e adolescentes, adultos.

5. Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a obedecer a regras ou pedidos de figuras de autoridade.

6. Frequentemente incomoda deliberadamente outras pes-soas.

7. Frequentemente culpam outros por seus erros ou mau comportamento, índole vingativa.

8. Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos últimos seis meses (APA, 2014, p. 462).

Dessa forma, compreende-se que as crianças, apresentando estas características, possam estar aptas ao desenvolvimento do TDO e devemos estar atentos a esses sinais. Ressalta-se no DSM-5 (APA, 2014) que os sintomas do transtorno podem se limitar ape-nas a um ambiente como o familiar, ou também em dois, três ou mais, incluindo a escola, sendo essa difusão o indicador de gravida-de do transtorno em que se consideram leves os sintomas limitados apenas em um ambiente, podendo-se apresentar de forma mediana em dois ambientes e graves em de três a mais variados ambien-tes. Para diagnóstico inicial, deve-se manifestar quatro sintomas ou mais, durante seis meses. Outro ponto relevante a destacar é que, em geral, o sintoma inicial do transtorno de oposição desafiante apresenta-se no período da pré-escola e, esporadicamente, mais tar-de, na entrada da adolescência, em maior parcela, com crianças do sexo masculino.

Cumpre-se ressaltar que, nas características que apoiam o diagnóstico de TDO, relata-se que podem proceder de ambientes desorganizados:

O transtorno de oposição desafiante é mais prevalente em famílias nas quais o cuidado da criança é perturbado por uma sucessão de cuidadores diferentes ou em famílias nas

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quais são comuns práticas agressivas, inconsistentes ou negligentes de criação dos filhos (APA, 2014, p. 464).

É importante conhecer a dinâmica familiar da criança, pois a presença da família é essencial na regressão do TDO, transmitindo seus valores de maneira positiva, levando a criança à compreensão do porquê de se respeitar as regras, dando bons exemplos para que ela consiga se relacionar no meio social.

Teixeira (2014, p. 29) enfatiza que:As causas do transtorno desafiador opositivo são comple-xas e multifatoriais. Os estudos científicos evidenciam que múltiplos fatores de risco estão relacionados ao surgimento do transtorno. Esses fatores são eventos, características ou processos que aumentam as chances do desencadeamento do problema comportamental, e seu desenvolvimento está provavelmente relacionado com uma quantidade de fatores de risco presentes na criança. Todos esses possíveis fato-res estão relacionados com questões sociais, psicológicas e biológicas, sendo suas interações responsáveis pelo surgi-mento, desenvolvimento e curso clínico da condição.

De acordo com a revisão bibliográfica de Teixeira (2014), que relaciona algumas questões aos possíveis fatores de surgimen-to, especialmente em termos biológicos, não há pesquisas conclusi-vas que possam definir diretamente as causas do TDO, mas existem alguns pontos a serem ressaltados:

Estudos identificaram que mulheres que fumam durante a gravidez, assim como gestantes abusadoras de álcool, apre-sentam maiores chances de gerar filhos com o diagnóstico de transtorno desafiador opositivo. Outros dados apontam que crianças prematuras, com baixo peso, complicações de gestão ou no momento do parto, além de crianças com doenças crônicas, apresentam mais chances de desenvol-ver alteração comportamental (TEIXEIRA, 2014, p. 30).

Assim como,Alguns fatores biológicos relacionados com característi-cas da própria criança como temperamento, negativismo, baixa capacidade de adaptação a mudanças, déficits neu-ropsicológicos, dificuldades de linguagem, memória, pla-nejamento, organização, disciplina, atenção e julgamento,

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também influenciariam no desenvolvimento do transtorno (TEIXEIRA, 2014, p. 30).

Como também,Alterações estruturais no córtex pré-frontal, região cere-bral responsável pelo controle das emoções e da impul-sividade, alterações no funcionamento de substâncias neurotransmissoras dos sistemas serotoninérgicos, dopa-minérgicos e noradrenérgicos, baixa de cortisol e níveis elevados de testosterona, entretanto esses dados não são conclusivos (TEIXEIRA, 2014, p. 31).

Os fatores psicológicos estão associados ao aprendizado so-cial e modelo de apego, as crianças têm dificuldade de se relacionar em meio social, apresentando também dificuldades para resolver seus problemas, pensar em maneiras, estratégias para resolução de frustrações que podem vir ocorrer no dia a dia, sendo o ambiente que elas convivem funcionando como espelho, podendo assumir os mesmos comportamentos dos pais (TEIXEIRA, 2014).

Os fatores sociais podem compreender como as questões so-ciais: “A Violência doméstica, falta de estrutura familiar, moradia em áreas de grandes criminalidades e ambientes familiares em que regras e limites sejam pouco claros podem contribuir para o desen-cadeamento dessa condição comportamental” (TEIXEIRA, 2014, p. 33). O mesmo vale para fatores escolares relacionados ao am-biente.

Cumpre ressaltar que:Quando o transtorno de oposição desafiante é persistente ao longo do desenvolvimento, os indivíduos com o trans-torno vivenciam conflitos freqüentes com pais, profes-sores, supervisores, pares e parceiros românticos. Com freqüência, tais problemas resultam em prejuízos signi-ficativos no ajustamento emocional, social, acadêmico e profissional do indivíduo (APA, 2014, p. 465).

Neste sentido, Teixeira (2014) argumenta que, se não ocorrer um tratamento ou alguma intervenção, há chances de prosseguir para um Transtorno de Conduta (TC). Segundo o DSM-5 (APA, 2014):

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Tanto o transtorno da conduta quanto o transtorno de opo-sição desafiante estão relacionados a problemas de condu-ta que colocam o indivíduo em conflito com adultos e ou-tra figura de autoridade (por ex., professores, supervisores de trabalho).

Assim sendo, Facion (2013, p. 107) descreve o Transtorno de Conduta (TC) por “Padrão repetitivo e persistente de mau com-portamento, desafiador e, muitas vezes, contrário às regras de con-vivência social, na qual os direitos mais básicos e a privacidade dos outros são violados”. Segundo Facion (2013), logo no início da segunda infância, o TC aparece com uma periodicidade entre 10/11 anos, ou se mostra no início da adolescência.

Define-se o transtorno de conduta (TC) por “Quebra de re-gras, sendo grave como roubo, agressão e atrocidades com animais e pessoas” (PINHEIRO et al., 2004, p. 273).

Quando a criança evolui para um TC, há chances de prosse-guir para o transtorno de personalidade antissocial, que também é conhecido como Sociopatia, “Que se refere às pessoas adultas que praticam atos ilícitos, criminosos, e que apresentam uma incapa-cidade de respeitar normas e regras sociais” (TEIXEIRA, 2014, p. 59).

Outro ponto importante a destacar é considerar que as crian-ças que apresentam TDO podem indicar alguns comportamentos relacionados ao Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH):

Essa associação é muito comum, estando presente em até 14% dos casos. Essas crianças apresentam maior agressi-vidade, maior impulsividade, mais conflitos com os outros estudantes, maior dificuldade nos relacionamentos sociais e pior desempenho acadêmico (TEIXEIRA, 2014, p. 35).

Por isso, é de extrema importância fazer diagnóstico diferen-cial, pois muitas vezes o TDO é confundido com o TDAH por apre-sentar excesso de atividade, dificuldade de se acalmar e reatividade extrema, que são alguns comportamentos que ambos apresentam em comum, ou também podendo ser diagnosticado como comorbi-dade (BARLETTA, 2011).

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Devido à complexidade do TDO, faz-se necessário encami-nhar essa criança para um profissional especializado da saúde:

Considerando-se a necessidade de se fazer um diagnósti-co, em termos de manifestações, o transtorno se apresenta em casa, na escola e em lugares públicos, revelando dife-rentes teorias que justifiquem seu surgimento (BARBO-SA, 2014, p. 38).

De acordo com a revisão de Teixeira (2014), a prevenção e a intervenção precoces são fundamentais, também consideradas as palavras-chave de um sucesso para obter mudanças no compor-tamento, ou seja, é de extrema importância acontecer mais rapi-damente a intervenção para melhores resultados. Para tal, o autor ressalta algumas estratégias que podem ser realizadas, sendo elas:

– Tratamento medicamentoso.

– Antipsicóticos ou Neurolépticos.

– Estabilizadores do humor.

– Psicoestimulantes.

– Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina.

– Tratamento Psicossocial.

– Psicoterapia cognitivo-comportamental.

– Terapia Familiar.

– Psicoeducação Familiar.

– Treinamento dos pais.

– Psicoeducação Escolar.

– Intervenções Escolares (TEIXEIRA, 2014, p. 44-50).

Conforme avaliação médica, será possível proceder aos meios para estabilizar ou minimizar o transtorno. Sendo assim, a família e a escola serão orientadas a acompanhar o desenvolvimen-to da criança e sobre como manter um contexto familiar em que seja possível uma convivência harmônica, assim como abordare-mos posteriormente.

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Contexto Familiar

Um bom relacionamento familiar, o apoio e auxílio de seus membros são fundamentais, tendo a família um dos papéis mais importantes para as crianças:

Pesquisas demonstram que um bom relacionamento entre pais e filhos é um importante fator protetor em relação aos problemas de comportamento. Nesse sentido, posso afir-mar que uma das funções da família é dialogar, esclarecer dúvidas, ensinar limites e ajudar a criança ou adolescente a lidar com as frustrações. Realize passeios, faça refeições à mesa com toda família sempre que possível. A integração familiar é essencial para auxiliar na prevenção e no mane-jo de problemas de indisciplina (TEIXEIRA, 2014, p. 90).

Nesse parecer, fica claro que:Uma criança que se desenvolve em um contexto familiar saudável, com pais presentes e participativos em sua vida, terá índices menores de manifestar problemas relativos com comportamentos desafiadores, desobedientes e opo-sitivos (TEIXEIRA, 2014, p. 86).

Ressalta-se que pais presentes no cotidiano dos filhos fazem a diferença quando verdadeiramente demostram carinho, amor, atenção e afeto. Assim, possibilita-se uma agradável convivência familiar.

Neste sentido, considere-se que:Questões sociais como violência doméstica, falta de estru-tura familiar, moradia em áreas de grande criminalidade e ambientes familiares em que regras e limites sejam pouco claros podem contribuir para o desencadeamento dessa condição comportamental. Dessa maneira, a convivência de filhos com pais ausentes, negligentes, agressivos, vio-lentos, abusadores, usuários de álcool ou outras drogas, em lares onde a falta de desenvolvimento parental na criação dos filhos, a falta de afeto e de suporte emocional, a ausên-cia de diálogo e a prática inconsciente de disciplina este-jam presentes, pode favorecer o surgimento do transtorno desafiador opositivo (TEIXEIRA, 2014, p. 33).

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Ou seja, necessita-se de um ambiente familiar acolhedor que transmita e forneça à criança o suporte emocional necessário para o seu desenvolvimento, independentemente de quem sejam seus membros, a importância da participação da família é fundamental e essencial, pois ela se faz presente com atitudes positivas e de valo-rização entre ambos.

A família torna-se base estrutural essencial, sendo ela um exemplo a ser seguido pelas crianças, sendo sua função orientar e demonstrar bons exemplos, pois, segundo Teixeira (2014), a crian-ça aprende tudo o que vê em casa, se os pais utilizam de violência para resolverem problemas, com agressividade e gritos, da mesma forma a criança tentará resolver seus problemas.

Teixeira (2014) propõe algumas dicas que podem auxiliar os pais em promover um ambiente mais agradável e saudável, contri-buindo na diminuição do desencadeamento do transtorno, sendo elas:

1) Tenha um ambiente saudável;

2) Estabeleça regras e limites;

3) Faça pedidos claros e objetivos;

4) Pai e mãe devem falar a mesma língua;

5) Seja um exemplo positivo e pacifico para o seu filho;

6) Seja amigo de seu filho;

7) Fortaleça a autoestima de seu filho;

8) Esteja atento às mudanças da adolescência;

9) Esteja atento à saúde mental de seu filho;

10) Ensine sobre as pressões da juventude;

11) Estimule as práticas de esporte;

12) Comunica-se com a escola (TEIXEIRA, 2014, p. 85-93).

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O autor destaca que não é uma receita pronta com informa-ções possíveis e com soluções mágicas, rápidas, mas sim estraté-gias, ferramentas e orientações que podem ajudar seus filhos.

A base familiar estruturada é importante para prevenir a pos-sibilidade de uma criança desenvolver o TDO, deve-se ressaltar a maneira como os pais lidam com os filhos.

Conforme Druckerman (2013), é importante ressaltar limites que devem ser impostos às crianças, ela aborda a educação fran-cesa, que é muito rígida, e a americana, que é muito parecida com a educação brasileira. Em um contexto simples, a autora fala de como auxiliar as crianças para desenvolver autonomia, a mediação da família deve apresentar-se de forma regrada sem acarretar preju-ízos sociais às crianças.

A família, quando utiliza estratégias como as alternativas pedagógico-terapêuticas, deve proporcionar aprendizagens, forta-lecendo os comportamentos positivos, visto que:

As alternativas pedagógico-terapêuticas para a convivên-cia diária com essas crianças há bastante semelhança com as apresentadas para os outros transtornos de comporta-mento disruptivo. Os terapeutas comportamentais indicam que os melhores resultados podem ser obtidos quando é realizada uma orientação familiar, com o objetivo de mo-dificar sua postura com os filhos, principalmente para ficarem mais atentos aos comportamentos adequados e reforçá-los, tentando desencorajar os comportamentos de-safiadores. Ou seja, é mais indicado reforçar seletivamente os comportamentos adequados e, na medida do possível, ignorar, ou não reforçar, os comportamentos inadequados (FACION, 2013, p. 123-124).

Na revisão feita por Teixeira (2014), ele destaca algumas estratégicas baseadas nos estudos de Skinner, que acreditava que o comportamento humano poderia ser modulado basicamente por essas estratégias, também chamadas de reforço positivo, isto é, pes-soas serem capazes de aprender melhor por meio de recompensas ou premiações por seu comportamento.

As técnicas que ele destaca são a premiação de comporta-mentos positivos, em que pode se aplicar o método da economia de

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fichas, o qual descreverá alguns comportamentos, como manter o quarto arrumado, escovar os dentes após as refeições, entre outros comportamentos em que obterá uma nota todos os dias, sendo 1 (um) para comportamento positivo realizado, e 0(zero) para com-portamento negativo não realizado, e, no final da semana, somará os pontos, podendo também ser representado por carinhas felizes ou tristes. Necessariamente, terá que atingir mais pontos de com-portamento positivo; sendo assim, terá uma recompensa que fica à escolha dos pais, como assistir TV por mais 20 minutos do que o combinado, ir tomar sorvete com um coleguinha, sendo importante atribuir o ponto na presença da criança, explicando o motivo da pontuação. Deve-se sempre elogiar os comportamentos positivos, uma vez que:

Partindo desse princípio comportamental de que todo o comportamento estimulado tem suas chances aumentadas de se repetir no futuro, elogios do tipo “Parabéns, Isabe-la, você guardou a mochila no armário!” aumentam as chances de Isabela guardar a mochila no dia seguinte, por exemplo (TEIXEIRA, 2014, p. 67).

Outra técnica que Teixeira (2014) ressalta é o contrato pais--filho, que poderá auxiliar na solução de algum problema, em que se colocará um determinado comportamento, sendo um organizar o quarto. O contrato deve ser elaborado juntamente com a criança para se formular a solução, para ser escrito e assinado. Por exem-plo:

Eu Marcelo, concordo em: Manter meu quarto arrumado, livros na estante, roupas e brinquedos no armário.

Nós, pai e mãe, concordamos em: permitir que o Marcelo brinque no computador diariamente até às 19 horas.

Caso Marcelo não cumpra sua obrigação, estará proibido de brincar no computador até que cumpra o que foi combi-nado (TEIXEIRA, 2014, p. 99).

Pode-se destacar técnicas e métodos de antecipação de pro-blemas que alertarão a criança sobre algum comportamento, po-dendo, assim, prevenir futuras situações, por exemplo, Mateus irá a uma festa de aniversário, e a mãe estabelece regras de comporta-

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mento para a criança; se, no caso, não cumprir, ocorrerão consequ-ências, como perder alguns privilégios (TEIXEIRA, 2014).

Vale mencionar o método de correção comportamental: um comportamento negativo deve ser corrigido, lembrando que exis-tem vários tipos de correções, mas a física não contribuirá em nada, pelo contrário, os pais que a utilizam, como dito anteriormente, en-sinam à criança que os problemas devem se resolver com agressões; há outras maneiras de correções, como enfatiza Teixeira (2014):

• As broncas e desaprovação, expondo que ficou chateado com o mau comportamento da criança.

• Consequências naturais por mau comportamento, em al-guma situação a criança quebra seu tablete; em consequ-ência natural, ficará sem o tablet.

• Consequências lógicas por mau comportamento, a criança desrespeitou a ordem do pai de andar de bicicleta apenas na calçada indo para a rua, ficará sem andar por alguns dias.

• Penalidades por mau comportamento, a criança brigou com o irmão, terá uma penalidade, ficar sem brincar no video game.

• Canto da reflexão pode ser utilizado para interromper um comportamento, por exemplo, quando duas crianças bri-gam por um brinquedo; os pais colocarão a criança senta-da em lugar por um determinado tempo, lembrando que, nesse tempo, os pais não vêm dar atenção a ela.

• Caixa do brinquedo, essa é uma forma de recolher objetos da criança; no caso, se ela não cumprir o papel de guardar seus brinquedos no armário, os pais estipulam um tempo; se ela não guardar, recolhem-nos e deixam na caixa por alguns dias.

Como vimos, existem bastantes estratégias que podem auxi-liar os pais na mudança dos comportamentos de seus filhos, lem-brando que a maneira como os pais utilizam esse método atingirá um resultado, pois se:

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Utilizarem métodos educativos negativos para contro-lar o comportamento de seus filhos, existirá a propensão de conseqüências indesejáveis presentes no decorrer da infância da criança e mais marcadamente quando aden-trarem na adolescência. Por outro lado, se os cuidadores utilizarem predominantemente métodos parentais positi-vos na educação, estarão fomentando em seus educandos comportamentos pró-sociais que facilitarão a convivência nas diversas áreas importantes para o desenvolvimento saudável do ser humano (ALMEIDA et al., 2014, p. 22).

Corrobora com isso a importância da participação e a repre-sentação da família no convívio social da criança, como também no processo escolar da criança. Conforme o DSM-5 (APA, 2014), deve-se considerar todo o contexto familiar, pois é fundamental sa-ber sobre a dinâmica familiar para se obter o apoio necessário, para que junto com a equipe pedagógica, possa-se buscar alternativas que favoreçam um melhor desempenho para essa criança, como iremos apresentar adiante.

Contexto Pedagógico: possibilidades e desafios em sala de aula

O ambiente escolar é um espaço social em que os alunos con-vivem, trocam experiências e adquirem conhecimentos que serão fundamentais para seu progresso. No contexto desse ambiente, te-mos o papel do pedagogo, que amplia, junto aos alunos, a cons-trução de sua identidade. O pedagogo deve estar preparado para lidar com a diversidade, acontecimento do cotidiano, e possíveis situações, como crianças diagnosticadas ou que apresentam sinto-mas relacionados com o TDO. Dentro do espaço, o professor deve se propor a buscar a relação familiar para melhor conhecer seus alunos e, assim, fazer observações, caso a criança apresente sin-tomas, características que adentrem o diagnóstico de TDO, pois, como vimos anteriormente, os sintomas podem se limitar somente a um ambiente, podendo ser a escola.

A criança, na escola, apresenta características como:Discute com professores e colegas; recusa-se a trabalhar em grupo; não aceita ordens; não realiza deveres escola-res; não aceita criticas; desafia autoridade de professores e

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coordenadores; deseja tudo ao seu modo; é o “pavio curto” ou “esquentado” da turma; perturba outros alunos; respon-sabiliza os outros por seu comportamento hostil (TEIXEI-RA, 2014, p. 25, grifos do autor).

Podemos melhor compreender com o que exemplifica a si-tuação a seguir: “Um aluno dentro de uma sala de aula olha para a professora e a porta de saída”. Se a professora diz: “Fique dentro da sala, Não saia”, ele sai correndo; se a professora diz: “Sente-se”, ele se levanta; se ela diz: “fique em pé”, ele se senta... (FACION, 2013, p. 121).

No entanto, integrar os alunos no ambiente escolar é um tra-balho fundamental da equipe escolar, e principalmente do profes-sor, visto que:

As intervenções escolares são muito importantes no trata-mento. Na escola, professor e funcionários podem encon-trar mecanismos mais adequados para reintegrar o aluno em sala de aula e no recreio. Técnicas comportamentais podem ser aprendidas para que a promoção e o estímulo de comportamentos aceitáveis do aluno sejam introduzidos e atitudes de desrespeito e agressão sejam desencorajadas (TEIXEIRA, 2014, p. 50).

Segundo Teixeira (2014, p. 56): Na escola o desempenho está comprometido na maioria das vezes, pois ele não participa das aulas, não realiza tra-balhos ou deveres escolares. Entre esses alunos são gran-des as incidências de abandono e reprovação.

Cumpre ressaltar a importância de a equipe pedagógica pen-sar em estratégias, que possam dinamizar essa fragilidade na esco-la, pois é essencial a formação que a escola possibilita aos indiví-duos e, se esse aluno permanecer com esses comportamentos, irá afetar a sua formação. Por isso, a escola e os professores devem se empenhar em proporcionar práticas que contribuirão para o aluno, incluindo-o, pois muitas vezes ele pode se sentir excluído. De acor-do com Teixeira (2014), o ambiente escolar pode ser um facilitador desse transtorno, por muitas vezes seus ambientes estarem inade-quados, como sala de aulas lotadas, professores despreparados, que

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não sabem trabalhar com essas crianças, então é essencial que o professor e a escola se empenhem em buscar conhecimentos.

Nesse sentido, é importante a participação e o conhecimento dos profissionais sobre o transtorno, pois:

O trabalho de informação e orientação aos professores, di-retores, orientadores pedagógicos e funcionários da escola será essencial no manejo dos sintomas no ambiente escolar, objetivando o sucesso do tratamento. Esse trabalho pode ser feito através de programas pedagógicos direcionados aos profissionais da educação e a todos os funcionários da instituição de ensino que tenham contato com a criança (TEIXEIRA, 2014, p. 50).

Considera-se a avaliação como pertinente, indispensável nes-se processo, pois é por meio dela que se obtém conhecimento, re-ferências do aluno:

A avaliação escolar também será fundamental nesse pro-cesso investigativo, afinal a criança passa grande parte do seu dia na escola. Através de uma avaliação escolar disser-tativa, poderemos obter informações essenciais a respeito do desempenho acadêmico, do padrão de comportamento em sala de aula e no recreio escolar, da interação social com colegas, professores e funcionários da instituição de ensino (TEIXEIRA, 2014, p. 23).

Ou seja, a avaliação é quem irá nos viabilizar, apontar se nos-sas práticas estão contribuindo ou não para o tratamento do aluno, sendo um momento de reflexão para o educador. Devemos dar ên-fase na avaliação do aluno, como defende Teixeira (2014), a in-teração social envolve padrões de comportamento que podem ser observados para favorecer ao aluno um convívio do meio.

De acordo com Teixeira (2014), é estabelecido um diário es-colar de comportamento, ao qual o professor pode recorrer quando necessário, usando dessa estratégia para auxiliá-lo em sala de aula, em que cada comportamento, como participação em atividades em sala de aula; qualidade do dever de casa; respeito às regras na sala de aula; respeito aos funcionários da escola; comportamento no re-creio e comportamento com os outros alunos, irá obter uma nota: 4 excelente, 3 Bom, 2 Regular e 1 insuficiente, e pode elogiar os

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bons comportamentos, estimulando e promovendo comportamen-tos positivos.

A participação da equipe pedagógica e o apoio da família são sempre para conduzir e contribuir para práticas educativas positi-vas, que promovam a socialização do bem-estar, oferecendo suporte escolar quando o reforço se faz necessário, o diálogo, a valorização em determinadas situações, sempre deixando de lado as punições.

A comunicação e o diálogo são os principais instrumentos para essa conciliação e parceria entre escola e família, na qual:

A comunicação entre pais e professores é muito importante para a identificação e o monitoramento do comportamento do estudante. Portanto, comunique-se com professores e coordenadores pedagógicos sempre que necessário. A ex-periência diária de professores com aluno poderá ser de grande valia para discussões e a busca conjunta por estra-tégias e soluções de problemas de indisciplina do estudan-te presentes tanto na escola quanto em casa (TEIXEIRA, 2014, p. 93).

Há várias maneiras de comunicação entre familiares e a es-cola, com contato diário ou semanal, mas muitas vezes isso pode não acontecer por dificuldades do dia a dia, mas também há outra estratégia, que é a agenda em que a criança portará em seu material, levando na escola e para casa, e ambos vão se comunicando por essa ferramenta (TEIXEIRA, 2014).

Dessa forma, fica perceptível a importância da família e da escola trabalharem unidas, pois ambas convivem com essa criança e juntas conseguem estratégias que podem alcançar a regressão do transtorno, pois, se caso não houver essa parceria, irá dificultar esse processo por apenas um lado trabalhar.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo desenvolvido, conhecemos sobre o Trans-torno Desafiador Opositivo, suas possibilidades e desafios na atu-ação pedagógica, sendo este o objetivo proposto, bem como a sua definição e estratégias familiares e de ensino para a inclusão dessa

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criança, evidenciando sobre a cooperação entre escola e família, tal como a importância do profissional pedagogo e familiares busca-rem por esse conhecimento que se faz importante na convivência e atuação de ambos.

É preciso que os pais e professores fiquem atentos aos cri-térios e sintomas para diagnóstico do TDO, pois, como discutido, há comportamentos associados que podem dificultar o diagnóstico.

Segundo os indicadores da literatura, ambientes desestrutura-dos, desprovidos de regras, são propícios a desencadear o transtor-no. A criança aprende por meio de modelos familiares expostos em seu meio social; salienta-se a relevância de ambientes organizados e harmoniosos e métodos que possam contribuir para a mudança do comportamento. Cumpre ressaltar que a família deve aceitar mu-danças, sendo ela o primeiro exemplo para a construção da identi-dade da criança, e ambos têm o seu papel que deve ser cumprido, a família deve estabelecer regras, sabendo ponderar e não se deixar coagir pela criança, pois, argumenta Teixeira (2014), pode acon-tecer da criança não aceitar algumas correções com relação a não cumprimento de regras estabelecidas, sendo um processo constante e direcionado positivamente.

Destaca-se a importância da família e da equipe pedagógica empenharem-se em buscar conhecimentos sobre o TDO e aplicá--lo, pois muitos professores, não tendo entendimento, contribuem para o desencadeamento do transtorno e, com isso, o aluno, com seus maus comportamentos, acaba sendo excluído pela professora e seus coleguinhas. Então, cabe aos professores buscar sempre novos conhecimentos; além disso, a família e a escola devem ser indisso-ciáveis, para trocarem informações a respeito do desenvolvimento e comportamento da criança.

Este estudo contribui para nossa relevância intelectual, nos proporciona novas maneiras de pensar, atuar e agir com essas crian-ças. Esperamos que contribua para a comunidade acadêmica, pais e professores, conhecendo o transtorno, como também as técnicas para ajudarem nos comportamentos de seus filhos e alunos.

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