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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Centro de Letras e Artes – CLA Faculdade de Letras Departamento de Lingüística e Filologia Programa de Estudos sobre o Uso da Língua - PEUL Banco de Dados do PEUL/UFRJ AMOSTRA DE INDIVÍDUOS RECONTACTADOS/2000 Falante: 09 Dav Sexo: masculino Idade: 47 Escolaridade: Ensino Médio Bairro: Copacabana Profissão: assistente de administração, comércio e obras (aposentado) Ano da entrevista: 1999 E: Ah, e você faz o aniversário? F: Faço E: É, e foi muita gente? F: Ah, veio bastante, veio da Maria, depois o da Luana. Agora o da Luana foi mais incrementado, né? [O da Luana foi mais incrementado.] O da Luana eu só fiz a torta, duas tortas [melhó] duas tortas de maçã gelada, ganhô uma [da madrinha] e a mãe encomendou salgadinho pro aniversário [pra dá né] pros colega do colégio, e o da mãe eu fiz um jantarzinho assim rápido. F: [est] [est] [ Nossa quanta coisa] [est]. E: Vocês fizeram separados então? F: É separado porque o da Maria fiz na quinta, caiu numa quinta- feira e ela não quis fazê, não queria que fizesse nada, eu falei: “não, não vai [passá em branco].” Então eu procurei fazê assim uma coisa rápida, num foi jantá né [inint ] fazê tira gosto pra quantidade de frango que eu temperei, botei [ fritadeira elétrica né] mas depois você vai, uma coisa vai puxando outra, [ih mais que mesa feia] fiz uma salada de de maionese, uma farofinha com bacon, aí

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJCentro de Letras e Artes – CLAFaculdade de LetrasDepartamento de Lingüística e FilologiaPrograma de Estudos sobre o Uso da Língua - PEULBanco de Dados do PEUL/UFRJAMOSTRA DE INDIVÍDUOS RECONTACTADOS/2000

Falante: 09 DavSexo: masculinoIdade: 47Escolaridade: Ensino MédioBairro: CopacabanaProfissão: assistente de administração, comércio e obras (aposentado)Ano da entrevista: 1999

E: Ah, e você faz o aniversário?F: FaçoE: É, e foi muita gente?F: Ah, veio bastante, veio da Maria, depois o da Luana. Agora o da Luana foi mais incrementado, né? [O da Luana foi mais incrementado.] O da Luana eu só fiz a torta, duas tortas [melhó] duas tortas de maçã gelada, ganhô uma [da madrinha] e a mãe encomendou salgadinho pro aniversário [pra dá né] pros colega do colégio, e o da mãe eu fiz um jantarzinho assim rápido.F: [est] [est] [ Nossa quanta coisa] [est].E: Vocês fizeram separados então? F: É separado porque o da Maria fiz na quinta, caiu numa quinta- feira e ela não quis fazê, não queria que fizesse nada, eu falei: “não, não vai [passá em branco].” Então eu procurei fazê assim uma coisa rápida, num foi jantá né [inint ] fazê tira gosto pra quantidade de frango que eu temperei, botei [ fritadeira elétrica né] mas depois você vai, uma coisa vai puxando outra, [ih mais que mesa feia] fiz uma salada de de maionese, uma farofinha com bacon, aí fiz arroz, aí todo mundo resolveu comé a comida toda que tinha, ninguém quis só a [salada e a farofa]. [ Aí eu achei legal], agora o próximo é o meu, mas o meu eu não vou embora pa Angra dos Reis. [Ah, todo ano eu vou pa Angra]. Todo ano eu não gosto de ficá aqui não, não gosto de [fazê aniversário aqui não]. Não eu: me divirto mais assim né, curtido meu aniversário assim né, fazendo alguma coisa que eu [gosto né] porque também ficá dentro de casa não dá [inint] prefiro ir pa Angra fazê o que eu tenho que fazê, é mais gostoso.E: [est] [est] [est] [est] [est] [ Ah você vai pra lá né?] [ Ah você não gosta?] [est]. E você gosta de lá de Angra ou então...?F: Angra é um amor [risos]. Meu terceiro amor.E: E...vai muito amigo da sua filha, assim?F: Bastante, tem uns dez ou onze, vem tio, vem tia, vem mãe do colégio [que eu não conhecia] mandei entra, né? Vou mandando, abro a porta, “vamo entrando, vamo

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entrando”, ( aí era pai daquele) [riso F ] . Mas foi legal, [foi o maior barato o aniversário dela].E: [est] [est] E ela tem mais amigos meninas ou meninos?F: Ah, mais meninos [risos F]. Parece até urubu na carniça, onde vai, é muito amigo [risos F] tem bastante, tem bastante, mas tudo assim uma rapaziada legal, conheço todo mundo, né? E de mais... no colégio pode até sê que... a coisa balance, mas aqui em casa não tem, tem uns quatro ou cinco colegas que vem mas tudo é homem e tudo é colega do namorado também amigo de todo mundo.E: Vai vê que é até por isso é amigo do namorado também [né, tudo do mesmo colégio, os amigos dela são dele, né?]F: [É estudam junto, é tudo junto, aí né tudo homem.] Aí eu digo “puxa a Luana tem muito amigo homem.”[risos F] Aí ela diz: “[Pai eu tenho muito segurança].” Mas é legal.E: [É, tá certo.] E... você acha que... O que você acha deles? Você acha que eles são pessoas assim...F: Olha, eu confio em todos eles, eu... eu costumo assim analisar bem a pessoa quando (conheço) observo, estou atento a tudo, nos mínimos detalhes, se a pessoa tivé assim com um dedinho de fora, eu vou olhá aquele dedinho, tá entendendo? Mas eu acho assim, acho legal. Só teve um amigo dela que eu disse: “olha Luana, não... não gostei aí desse seu amigo.” E acabô, na verdade, que o menino não vale nada, não que seja, assim drogado, ou... ou... não sei, mas era meio pancado da cabeça, ali não fala coisa com coisa e agora mesmo os colegas dela nenhum tá se dando com ele, né? Ele é uma pessoa estranha, é muito estranho, parece um [psicopata] [risos F]. É sério, e eu tenho medo dessas coisa assim, então eu fico [alerto].E: [É mesmo?] [est] E você se preocupa com (a visão sobre) álcool, com essa [juventude, com quem ela anda, drogas?]F: [ Muito... Muito... Muito]. Esse é o maior medo de qualquer pai hoje, qualquer pai, qualquer mãe acho que... a gente tem que observá muito, às vezes até controlá o seu comportamento na casa do namorado, não quero muito agarramento, porque fica chato, né? Na casa dos outro, na minha casa eu controlo, não quero... esse agarramento perto de mim, vai se agarrá longe, tá entendendo, eu acho que a pessoa tem que procurá mantê a coisa, né? E... quanto a droga, né? Tem que pedí a Deus e orientá bem. Eu disse a ela: “vai numa festinha?” "Vou, me leva pai?” “Levo, agora vou buscá. Agora Luana não, não bebe nada do copo de ninguém, porque no copo você ... pega sujeira e se tem que compra cê compra, se tivé servindo você pega da bandeja, não é se chegá um colega: “ah bebe isso aqui” e você bébe, não, não faça isso porque pode ser uma [furada”, então eu tô sempre avisando, tanto eu como a mãe, né? Sempre olhando porque você não pode proibir o filho de sair [hoje em dia]. Ainda mais ela “pai me leva, depois vai me buscá” eu como um bom pai tenho que levá e tenho que [buscá] .E: [est] [est] [est] E o que você acha da juventude assim em geral, como tá a juventude hoje? F: Oh eu acho que a educação tá muito vaga, muito vaga, tá entendendo. Eu acho que o jovem hoje em dia, eu não sei, tudo bem que o mundo evoluiu, então não existe mais aquela educação de antigamente. Você vê, por exemplo, a Maria fala assim: “ah, uma pessoa da sua idade fala com você, você sim senhor, sim senhor.” Ah tá, tá bom, mas é coisa minha, foi a educação que eu tive, ela acha que não, que eu não devo falá assim e eu coloco a pessoa mais velha, e eu digo que não. Já eh... os amigos da minha filha é David pra cá, David pra lá, Maria pra cá, Maria pra lá, eu acho bacana, mas não sei dá

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esse tratamento pra uma pessoa que um pouco de [idade mais elevada] eh...eh... mas comigo não, não tem essa de chamá de [tio não que eu corto logo] eu prefiro que me chame de David [risos F], tio, tio, não, pára com isso, só quando for sobrinho mesmo, tá. E agora eu acho que a... a nossa educação tá (inint)... Tudo bem que meu tempo ou aprendia ou morria de apanhá, mas não é esse caso que eu tô querendo, mas eu acho que você fazê muito gosto de filho... tudo que o filho quer você não pode tá fazendo, então isso fazê o que o filho que é só fazê uma perguntinha vai, aí é sua culpa [tudo na hora certa]. E tem essa coisa, começa por aí, botá, como é que se diz... botá um freio né, no jovem, porque hoje está tudo mudado, a rebeldia tá geral, pai e mãe não existe, lixo, né? Então eu ainda procuro assim... preservá algumas coisas que eu aprendi quando pequeno.E: [Agora só chama de tio.] [Você não gosta, tio, tia.] [est] E você falou que tem medo de drogas e álcool [você...você deixaria bêbe?] Você deixa essas coisas?F: [Não, não, primeiro que já é dela mesmo não gostá, não gosta]. Eu bebo de vez em quando ela vê que eu tô passando ela: “pai...” Cigarro ela não suporta, pra eu fumá aqui dentro de casa, eu não posso fumá, e quando ela chega aqui sente cheiro de cigarro só falta... Então o medo da droga assim em relação a ela eu não tenho não, eu tenho mais medo assim do namoro... [de uma gravidez na hora errada]. É do sexo, então eu procuro sempre orientá pra esta parte, né? Que o que mais me preocupa hoje, porque hoje em dia o namoro é todo cama, a verdade é essa, o namoro se resume [basicamente cama, tá na moda.] E então eu tô sempre... falando né, quando pensa em fazê alguma coisa leva camisinha. Hoje em dia transá não é nada, o pió é as conseqüências depois, né? Uma doença conforme a AIDS por aí, que a gente só falta morré do coração, (eu já cansei de falá) eu já perdi um sobrinho por parte da minha mulhé com essa doença, é horrível, você vê um filho... se acabando daquela forma e você não pode fazê nada .E: [Do sexo.] [ Aí volta o programa de televisão.] E você... você vê muita diferença dos jovens atuais dos jovens da tua época?F: Olha, vejo, vejo, vejo porque, vejo porque, no meu tempo, tudo era simples, não tinha muita coisa de diferente do que é feito agora, só que tudo o que você tinha que fazê, você tinha sempre um pé atrás, bom eu vou transá com aquela menina, mas se eu transá o pai dela me mata, hoje em dia não existe isso, é tudo liberado... tá entendendo? E... e outra coisa que não fazia, não namorava, no meu tempo existia coisa pió, tá entendendo? Mas o que importa é o respeito pelas pessoas. Você vê e que você não é do meu tempo, vou namorava, mas não ficava de agarramento na frente de um pai e de uma mãe, nem pra dá um beijinho, tá entendendo, então você tem um respeito, você tem um certo respeito, de repente até medo. Mas hoje em dia está tudo liberado, você tá assim, na praia com a filha, o namorado chega, um agarramento, tem pai que deixa rolá, eu falo logo[ risos F], tá entendendo? Eu acho que tem muita [diferença sim].E: [est] E você acha que com a AIDS essa... isso diminuiu um pouco, as pessoas ficaram com medo de ir com qualquer pessoa?F: Eu acho que não, eu acho que não, o pessoal, me... (inint) [não, não por causa de prevenção não] o tal no que tá [risos F] eu... eu tava assistido repórter, a garota numa noite ficou com quatro, mas ficá assim beijá, abraçá, não sei se foi mais forte, de se entregá, mas abraçá e beijá no nosso tempo era namoro, tô namorando fulano, então você namorava fulano o tempo que fosse possível e hoje em dia não, você vê um menino de quinze anos que me falou: “ah, seu David eu já fiquei com cinqüenta e nove garotas.” Eu falei: “quantos anos você tem?” “Ah, tô com quinze.” “Ah, mas você ficou como?” “Ah tem noite que eu ficava com três... largava uma, ficava com outra.” Então...

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ela falava abertamente (inint) pra transá, por isso que eu acho que jovem não tem, tá entendendo, e não é só jovem não, pessoa de idade que eu conheço tá, da minha própria família tem e... arranja o namorado, depois de um tempo [esquece da camisinha, é o cúmulo]. [O pessoal tá dando sorte de... de não acontecé nada] porque quem vê cara não vê coração, você vê muito bonitinho, mas você não sabe com quem já passó tá entendendo, enfim é o que eu falo pra minha filha. Uma menina lá em Angra, devia ter uns quatorze anos, uma menina bonita, e pelas atitudes da garota eu já sabia que a garota não era boa bisca, né? Ela gritava, os modos que ela fazia pra abaixá, pra levantá, com fio dental, mais do que... como tem que ter certos cuidados na hora de levantá, o bumbum, e ela não, nisso me chega três rapazes, de uns vinte e um, vinte e dois anos e eu observando, os rapazes da lancha foram embora com ela. Será que os três tinham camisinha?E: [est] [est] Eu pergunto o que se passa na cabeça de uma menina, de uma menina dessa?F: O que se passa na cabeça de uma menina dessa depois de heras na praia, ela nem conhecia, ela ficou dando mole, aí veio conversou, ela tinha um filho, aí deixou com uma dona que parecia ser mãe dela, aí foi numa boa.E: Eu acho assim que a situação hoje em dia se [inverteu].F: [É se inverteu] a coisa inverteu num tá...E: As mulheres hoje em dia dão em cima [dos homens assim...] de uma maneira tão vulgar.F: [Atacam geral]. Eu acho que não deixa nem os homens atacá, elas vão atacando logo ( inint)... de o que dá pra se aproveitá as mulheres pegam, né? [risos F ] Eu acho que é por aí.E: E assim no seu bairro aqui, você vê muito jovem... assim [ na praia].F: [Copacabana.] Copacabana você vê de tudo, né? Assim é conforme eu te disse é que eu (tô matando o desejo de) morá em Copacabana, né? Mas você vê de tudo, droga. Você passa no Atlântico até oito horas da noite e só tem prostituição e... garoto de programa é tudo... é tudo, eu já vi de tudo.E: Não se tem mais pudor [pra nada] pra droga nem pra...F: [Não tem, não tem.] Abertamente todo mundo fuma na praia, todo mundo... tá entendendo... às vezes você tá com a família muitas vezes eu troco até de lugar, eu corro pra outro lugá, porque a maconha tá demais e o cheiro incomoda.E: É horrível, né?F: É e... você tem que mudá com a família porque você não pode falá nada, que se você falá, tá arriscado a apanhá, então a melhó coisa a falá é colocá a mochila nas costas e saí fora.E: É verdade. E você já morou em Copacabana... tá morando agora, Vila Isabel, [Cordovil] e qual desses que você gostou mais? Fala o lugar que você gostou mais?F: [Cordovil.] Qual eu gostei mais. Olha eu quase todo o lugar que eu moro, eu gosto, né? Só que gostei mais, mais, mais, foi Vila Isabel.E: É um lugar bom?F: É um lugar bom, bairro alegre, tá entendendo? Você vê tudo, mas não com tanta intensidade.E: E quais são os problemas maiores assim do seu bairro?F: Olha, o maior medo meu é seqüestro.E: Seqüestro, né?

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F: [risos F] Porque eu acho que se uma pessoa seqüestra a minha filha, eu não consigo nem dá um passo, eu vou morrê fulminante. Se quisesse me levá, pode levá, faz o que quisé, me mata, mas deixa a minha filha vivê, porque... ela está começando a vida agora né? E eu não já vivi um bocado e ainda quero vivé bastante, né? E eu me coloco no lugar dela pra qualquer coisa [ risos F].E: E [o maior medo então... que você tem] é o seqüestro.F: [É o seqüestro.8] É o seqüestro, muito medo, cê sê assaltado não é nada, se você precisá dá uma bolachada no meio da rua não é nada, agora a pessoa que panha, leva, quem tá lá sofrendo e quem fica do lado de cá, também tá sofrendo. Você vê o que fizeram com o irmão de Zezé de Camargo e Luciano. Arrancaram... o cara todo aleijado ainda arrancaram pedaço da orelha dele, que isso, que mundo que estamos vivendo? Eu acho que cadeia pra um cara assim não é suficiente não, num é não, tem é logo que é acabá com ele. Quando eu era garoto via muito dessas coisas que faziam com estuprador lá em Cordovil, quando meu irmão morava lá, que eu ia lá. O cara estupro, pega um pedacinho dele bota um em cada canto da rua, colocaram, acabô, não vai mais estupra ninguém, não vai mais machucá ninguém, não vai mais fazê mais nada, melhó que abarrotá cadeia e a gente ficá sustentando e além de sustentá esses ainda sustentamos os de [colarinho, né?] [ risos F] Agora você vê, ainda tem isso, o pobre coitado às vezes rouba um pão pra comê, né? Alguém rouba um vale transporte, vai pra cadeia, Jorgina, P. C, Collor, falaram da prisão de alguém até agora, nada e... também é a coisa, também depois dessa aí... Eu não sei por quê, eu não gosto muito desse negócio de política [risos F] eu só escuto.E: [est] E você já escutou a nova de que os aposentados vão ter que pagá INPS?F: É. Assim que eu tirei a minha aposentadoria, eu descontei dez meses, aí pararam, mas parece que agora vai botá de novo, mas o sindicato, né? Sindicato entrô com uma ação só que por enquanto ainda não decidiram nada.E: E vocês já estão cinco anos sem aumento.F: Sem aumento. Cinco anos [sem aumento] aí você vai no Banco do Brasil na conta salário, três reais manutenção de conta, paga estrato, mais um real e aí você tem que pagá, se você passa um cheque, abaixo de dez reais você tem que pagá cinqüenta centavos pelo cheque, que diabo de manutenção de conta é essa? Desses três reais, tá rolando roubo, aí e ninguém faz nada.E: [Aí ainda querem cobrá isso.] E o que que você acha da situação do aposentado no Brasil?F: Olha, não só do aposentado, mas como o de todo mundo, estamos vivendo em um mundo de cão, em um mundo de cão, se duvidá não adianta estudá muito nesse país não. Eu acho que o... dono do nosso país tá querendo que porque (inint)... privatizá tudo, bagunçando tudo qué dizê, você com estudo já não tá arranjando nada, sem estudo pió ainda, tá entendendo? Tive que arranjá trabalho agora por seis mese, né? A Maria ficô falano, mas me deu apoio, você me diz pra que dá cento e trinta e seis reais, [não, pra que dá cento e trina e seis reais?] Pra nada, a inflação taí, cada dia que vai no mercado, o preço é diferente, não tá do mesmo jeito, aí você tem que fazê isso, você vai num mercado, vai no outro, vai em um vai em outro, no fim do dia, tá estourado e gastou a sola do sapato, aí vai gastá seu sapato, não gastô com a comida [risos F], tá uma droga, a coisa tá feia a cada dia que passa a coisa vai ficando pió. Aposentado esse coitado, se ele pudesse ele matava todos.E: [est] Pois é, né?

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F: É aposentado nesse país, não tem jeito não, só ele mesmo pra ficá quatro anos de mandato, e tá resolvido a coisa. Eu levei, trabalhei trinta e três anos pra ainda levei nome de vagabundo. Eles com quatro anos não são vagabundos eu com trinta e três [sou vagabundo], com trinta e sete anos de idade, de idade, com quatro anos de mandato, isso uma das aposentadorias, porque tem mais e eu só posso me aposentá uma vez, ele de quatro em quatro anos uma aposentadoria e nisso vai o nosso dinheiro todo, virou bagunça. [Com quatro anos ele se aposentou.] Estamos em uma situação que [não temos saúde, não temos educação.]F: [Saúde, então, nem se fala.] Você vê esse que matá esse enfermeiro, aí não dá nada pra ele não, cê entende, vão botá a mão nele com tudo, entrou injeção, entrô injeção liquida e acaba com tudo.E: Vem cá, você acha que tem o dono do hospital no caso?F: Olha, isso é uma máfia, eu tenho pra mim que tem gente grande [por trás disso] ele não tava sozinho nisso, se catucá bem a cobra com vara curta, vai falá. [Eu acredito que ele prevaricou...] Não foi o pessoal da fune... funerária, ameaçaram, ele tem muita gente grande por trás disso e ele agora já ta [mudano] ele já tá mudano, pois é tem alguém precionando ele, ele num tá sozinho nisso tudo não.E: [Também acho.] [Primeiro ele ficó ah...] [Pois é.] Você acha que tem uma máfia muito grane, né?F: Se fez, ele foi ensinado por alguém, primeiro que pra chegá assim pra aplicá uma injeção, fazê as coisa pra matá uma pessoa, a pessoa porque alguém alertou para isso, tá entendendo, aplicá isso aqui vai matá o infeliz, todo mundo tem noção que o cara não tem muito estudo, alguém deve ter orientado ele principalmente matá. Quer dizê tem gente muito grande por trás disso.E: Eu que sou muito nova, não sei onde vamos parar?F: Você não tem experiência de nada, eu... eu tenho que operá, eu... eu... tô (inint)... porque operação do coração você deita e não sabe se vai levantá.E: Assim, seria bom tê alguém conhecido dentro do hospital.F: Porque você vê tá, existe a suspeita que tavam tirando os orgãos das pessoas pra podê... no ato que a gente se interna o cara vai chegá, eu vou matá e vou cortá e vou tirá o cara da família, não, não é assim não tem que tê uma técnica pra você podê fazê as coisa, ele não vai cegá abri o (quadro) tirá os rins de qualquer jeito, então não é assim, então eu acredito que tem gente grande por trás disso, não é só pequeno, é gente grande.E: Você vai operá o que?F: Eu vou operá o nariz, tenho carne no nariz, na face, mas a operação boba, mas eu já fui duas vezes e não consegui operá por causa da pressão que sobe, medo, essas horas eu tenho medo, aí eu cego lá a pressão tá em alta, aí manda pra casa, aí vai outro dia. Então agora eu vou procurá um hospital grande, que eu ia operá na Policlínica de Botafogo, mas aí aconteceu esse problema, aí eu fico lá enternado um dia, dois controla a pressão e faz a cirurgia.E: E você já fez mais alguma cirurgia?F: Muitas.E: Muitas.F: Essa tô na oitava acho, já operei tudo que eu tinha que operá e ainda tem mais um pouquinho [risos F].E: E qual foi a pió que você achou?F: A pió, a pió, olha, foi a do nariz que eu já operei uma vez.E: Você já tirou carne uma vez e voltou?

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F: De um lado, agora tem que tirá do outro porque de um lado tem que tirá do céu da boca também, porque tenho carne na face, no nariz e [vai aumentando] aí ouvido enche de cera e quando o tempo muda, aí tem que tirá, eles abrem pelo céu da boca abrindo o nariz aí só em pensá nisso tudo eu já tenho medo, além da anestesia, eu só faço anestesia [geral] só pode sé geral, não, eu já tomei diversa vezes, mas e o medo, mais o medo quando vejo hospital, já tô correndo da porta, se pudesse eu nem entrava, nem pra visitá.E: [Eu também tenho, eu também tenho] [hum, um, esta anestesia é muito perigosa.] Tem o problema também de transplante, né? Não é o [seu caso] Tô dizendo as pessoas, os hemofílicos que vão faze [transfusão de sangue], aí já não sabe se o sangue tá contaminado.F: [Hum, hum.] [Ah isso aí, isso aí.] É porque hospital tem que trabalhá bem o sangue, acho que o hospital público não trabalha bem o sangue, e no hospital particular eles cobram os tubos, você vai tomá sangue de outra menina, eles vão te tirá aquele sangue, vão trabalhá o sangue e vão cobrá os olhos pra te dá aquele sangue e no hospital público não fazem um examezinho barato e jogam pra lá de qualquer jeito, vai deixá de morré daquilo e vai morré de uma AIDS ou de uma doença qualquer [de hepatite, né?] Ou de uma coisa assim.E: [Hepatite.] [É isso que eu tô falando, não tem saúde, não tem educação, não... sei lá, a gente não tem, não tem opção, tá longe de tudo]F: [Não tem, tá perdido, é.] Eu tô pagano o que cento e quinze reais de plano de saúde, isto porque eu tô com menos de cinqüenta ano, [ainda tem essa] [ risos F] ainda bem que eu não vou mais.E: [Ainda tem essa, né? A partir de... aumenta o plano de saúde.]I: E hoje em dia não cobre mais tudo, o plano de saúde.F: O meu até que o plano cobre, só se não pagá assim a parte dentária, dentista não tá cobrindo tudo, até... ficá CTI, se Deus quisé eu não vou ficá, mas tudo, tudo eles paga, a anestesia que não tá incluído eles pagam a parte.E: Hum, hum, meu pai tem Amil, né? São quatrocentos reais com odontologia, o plano odontológico [não cobre nada] [risos E], limpeza, cárie, [ entendeu o problema?] Um problema, aí você paga qual plano?F: [Não cobre quase nada.] [ É um problema.] Eu sou do plano [da Embratel] porque minha mulhé trabalhava na Embratel e eu era dependente dela, aí aposentou, eu perdi como dependente, aí só ficou a Luana e aí agora eu... fizeram este plano eu entrei em noventa e oito, já tem quase dois anos pagando, mas é bom o plano.E: [est] Aí você paga por fora?F: Pago por fora, todo mês eu pago cento e quinze, manda depositá aí eu levo no banco e pago.E: Não é plano familiar não?F: Não, não, não, eu é exclusividade é... (inint)... Porque a Maria ela paga, ela se aposentou, ela paga, ela paga... 30% das consultas que ela fizé, no fundo o dela sai mais caro do que o meu, aqui se ela... foi internado no hospital, ela paga 30%, eu não, eu pago cento e quinze, mas de tivé enternado ou te atendê, consulta, eu não pago.E: É realmente, a situação hoje em dia tá muito difícil. [ risos E]F: A situação tá crítica. [ risos F] São é só no Rio não no Brasil todo [ risos F] E: E detalhe que ninguém faz nada pra mudá.F: Não, ninguém tá fazendo nada, a verdade é essa, ninguém vai fazê nada, só o interesse deles, apoia o salário deles lá [isto tudo revolta] tá entendendo?

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E: [est] Se você fosse o presidente do Brasil o que você faria pra mudá essa situação?F: Olha, eu botava todo mundo pra fora, eu botava tudo gente nova.E: Você mudaria tudo?F: Tudo, tudo, tudo, mandava fazê uma fogueira assim e queimá aqueles que tão no Congresso numa fogueira só, botava na panela e mandava tacá fogo e botá gente nova que que trabalhá.E: E qual seria a sua primeira atitude assim, que você mudaria?F: Abaixa [o salário] deles, deles lá porque o cara ganha, agora foi pra dez mil ou... não fazem, nada, ainda ganha todo esse dinheiro e pra participado ganha mais ainda, que dizé então ele já ganha dez mil , oito mil teria que é lá ganhá... já vinha um salário que ele tinha que comparecé todas as vezes que fosse preciso, tá entendendo? Então eles ganham mixaria e são obrigados a trabalhá. Por que que ele tem que ganhá por fora pra podé trabalhá? Porque aquele porção de apartamento lá ainda tem quem diga ajuda de... de... como se diz... eles ganham uma ajuda pra pagá aluguel porque pra pagá apartamento em Brasília pra eles.E: [O salário?] Eles não usam?F: Não usam, não, não usam porque não é... há interesse, o cara vai ganhá três mil reais pra pagá aluguel, vai vivé como rei a nossas custas. Se você ganha dez mil arranja, arruma um aluguel de mil, mil e quinhentos reais dá pra [sobrevivé bem.] Agora eles não tem interesse, e ficam pra lá e pra cá gastando nosso [dinheiro.] Vai vê quantos garçons lá no congresso [tem até barbeiro pra eles] tem barbeiro, tem garçom, tem lavadeira, passadeira, tem tudo isso, tudo no congresso, tá entendendo? Por isso que eu falei: “pra mim tem que, pra mim não vai servi de nada, nem pedi favô.” Você trabalha todos esses anos e não, nunca tive um [plano de saúde] fui funcionário público vinte e dois anos, nunca tive um plano de saúde, a minha sorte é que a mulhé trabalhava na Embratel, aí dava com direito ao companheiro assistência médica, né? Porque eu nunca paguei, agora que eu pago, né? Antes eu tinha direito por causa dela, o governo Federal só tinha direito ao salário e muito mal ao salário.E: [est] [É problema] [tem até barbeiro] [você foi funcionário público.] Você acha que hoje em dia não tem mais vantagem de ser funcionário público?F: Não, não tem não, só fô... se você fô um ministro, um deputado, aí ganha mais, fora disso eu não aconselho ninguém não.E: Você prefere mais sê profissional liberal... as diferenças entre...[ profissional liberal e funcionário público?]F: [Acho que aqui fora é melhor pra se trabalhá] do que funcionário público, funcionário público tem que mandá. Veja bem meu caso, na área de educação, chega um professorzinho lá, pensa que é dono da Universidade, acha que estar do reitor ou de qualquer coisa, então só por isso a gente tem que obedecê, ele acha que ele manda, tem podê, quer menosprezá, existe isso lá dentro, é normal até. Lá eles fazem pesquisa, ganham dinheiro, aquele dinheiro, até eles trabalham da forma que eles tão querendo, eles não passa pela, por exemplo, eu que já trabalhei, não passava na mão do... do... da Universidade, e eles faziam, gastavam como [queriam.] Cê acha que gastavam tudo na pesquisa?E: [est] Hoje em dia já têm... cortaram bastante coisa né?F: Agora, agora tão cortando tudo, né? Mas antes não, antes a coisa corria solta.E: E você já trabalhou muito [tempo na área, né?]F: [Muito tempo dentro da área, eu sei de muita coisa, sei de muita coisa, tá entendendo?]. E isso não é só na Rural não, na Fundação Getúlio Vargas, eu já vi muita

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coisa, mas eu trabalhei, tudo quanto foi a... na Fundação Getúlio Vargas, aí você vê muita coisa. (inint) [ Pior é isso.]E: [est]. E você fala que já fez [muita coisa] na sua vida, né? Já foi funcionário público, já fez muita coisa. Qual você acha que é a sua verdadeira vocação? O que você gostaria de ter sido?F: [est] Olha eu queria ser ator. (risos F)E: Ah, você queria ser ator?F: Mas ainda não perdi a esperança não.E: É, tá certo.F: Eu tô esperando, eu tô tentando, eu vou vê agora (inint) depois das férias da Lú, eu vou vê se arrumo um curso, tá. Porque eu gosto muito, eu brinco muito, eu tô sempre alegre, sempre rindo, sempre brincando. Maria diz que eu sou um artista (risos F). Quando às vezes tô bavo, às vezes eu brigo, mas quando brigo é fogo, mas é difícil muito você me vê aborrecido. Ela dá maió incentivo, mas depois se eu ocupá o lugá do Gugu, aí, aí morreu o Muçum, ocupó morreu (risos), tá entendendo? Mas é assim não sei nunca é tarde pra nada. E a Lú também, a minha filha, tem vontade de sê, aí eu falei pra ela: “você agora, taí (inint). Primeiro eu faço questão que estude, né?” É o que disse pra ela: “olha Luana, eu abandonei o segundo grau pra podê ser pai e é um fracasso, porque meu português é péssimo, né? Tá entendendo? Agora você não, você tem toda a força, eu tive que trabalhá cedo.” Então, eu incentivo ela a estudá, a se dedicá, eu incentivo, a gente faz o que pode, tanto eu como a mãe, né? A gente procura... também não cobro o estudo dela, aí não, vai estudá, não precisa.E: Pelo que você [falou ela...]F: Ela tem... Ela tem, é aula mesmo, ela estuda por ela mesmo e fica danada quando tira nota baixa, Eu digo: “Luana, porque você tá chorando? Não porque... Não você não pode ficá assim você me bota nervoso dentro de casa, eu não tô te cobrando nada, eu quero que você tire, mas eu não tô te cobrando nota, dez em [tudo], eu nunca te fiz este tipo de cobrança.”E: [est] Ela mesmo se cobra.F: Ela mesmo se cobra, eu digo pra ela isso é um grande erro seu, tá entendendo? Eu acho que ela não deveria se cobrá tanto, as coisa dela.E: E você trabalharia na Globo como ator?F: Ah, se eu, eu tivesse a oportunidade.F: De repente eu nem quereria aceitar [fazê] tá entendendo? Mas, [mas agora é moda, né? Jogador posa nú], ator posa nú, e tudo velho, né? Chico Anísio posa nú. [Você assistiu?] Eu assisti ele e aquele... como é que é o nome, meu Deus... é um gordo que trabalha em novela a beça. A coisa mais ridícula os dois sabe, não apareceu a parte de baixo, mas Chico Anísio com aquela barriga indecente, é demais pra garganta, [é demais pra garganta], o outro, aquele barrigão, tudo nú. Então eu acho que é uma forçação de barra, o tipo de coisa que força a barra. O nú é bonito, mas tem que ter o corpo bem... sabe? Pra podê botá de fora, não o que eles tão fazendo aí, [virou bagunça], [riso f], [pior que dá ibope] porque no dia seguinte andando no calçadão, com a minha mulher - todo mundo só falava nisso. Você viu que ridículo? Quer dizê, dá ibope, porque disse que a coisa começa a fazê sucesso quando ela passa a irritar as pessoas, sabe como é? Estão, ela tá fazendo sucesso que ela irrita, você e ela acaba fazendo [sucesso]. Acho que... [foi horrível, horrível.] [riso f] Muito feio os dois gordo pelado assim, ta? Só faltava, só aparece aquela faixa preta assim em baixo.

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E: [est] [riso e] [não] [est] [est] [riso, dá ibope né, dá ibope] [est] [Não vi não, esse... ainda bem que eu não vi então] Foi no programa dele?F: Foi no programa do Chico Anísio, aquele... nu esqueço o nome dele...E: Sábado? Não.F: Não foi um dia de semana, eu só lembro daqueles peito caído. Tem até a mulher dele, tá trabalhando numa, numa novela aí, agora, que é sogror (?), eu não gravo o nome deles não.E: Paulo Goular.F: Paulo Gu... Um homem gordo daquele, poxa, bota a Wilsa Carla. [riso f] (?)E: É que era pra conquistá, eu vi um pedacinho na propaganda.F: É na (?) conquista uma enfermeira, uma secretária. Ah... eu fiquei tão irritado com aquilo que eu saí da sala [riso f]. Cê mostra uma coisa bonita, ainda passa, mas aquilo é um (“sorvete de abacaxi”) (?) poxa, você vai perder seu tempo olhando pra isso, olhá pra que sou mais bonitinho ainda poxa (falando rindo), ainda tô mais bonitinho, forte (riso f).E: Você falou que não gosta muito de televisão, né?F: Não, não, uma vez ou outra, [assim, novidade...] mais um Jornal Nacional... Também não tenho nem tempo né? Porque eu tô assim, eu deixo de fazê alguma coisa que tenho que fazê dentro de casa, pra não ficá parado, sou mais [um rádio].E: [Não assiste nada não] [é que você gosta do rádio.]F: É que o rádio onde eu tô, eu tô escutando, né? Você não precisa perder tempo parado na tela.E: [est] E qual o programa que você mais gosta do rádio?F: Ah, eu gosto de escutá na Tupy, [a Globo]. É quando tinha Cidinha, eu gosto daqueles debate, aquelas coisa, né? Porque você fica enterado, né?E: [Tupy (?)] E o apresentador que você mais gosta?F: Olha... eu gostava do Garotinho quando ele apresentava (falando rindo), agora ele foi governador, eu desliguei um pouco, mas eu gostava do Haroldo de Andrade da (“da”)... Cidinha mesmo... que... metia o malho, eu gosto mesmo é guando mete o malho (riso e), né? Chega assim e fala abertamente (?) tem um monte por aí, de nome eu não sou muito pra gravar, eu gravo muito telefone, agora nome... (riso i) Se você falá assim, “meu nome é tal”, “meu telefone é tal”, gravo o telefone, mas não gravo o nome. Mas eu gosto assim de escutá o rádio.E: E você falô assim que o o programa da Cidinha decaiu muito, porque ela continua com o programa, né?F: É porque ela, depois que ela foi pra política, ela caiu muito, eu não achei que... Agora perdeu a graça porque metia o malho naquele pessoal todo, depois se juntou a eles.E: Ah entendi, então antes ela fazia [ela fazia um outro tipo de programa.]F: [O maior sucesso, um outro tipo, depois que se juntou, aí eu achei que caiu (?) um muito.]E: E agora o programa dela hoje em dia fala de quê?F: Olha, sinceramente não tenho nem escutado.E: É?F: Meu tempo anda tão corrido agora que eu depois de aposentado, é calçadão (riso f), vai no mercado, volta, aí não dá muito tempo pra escutá rádio não?E: E você vai sempre com a sua esposa, né?

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F: No calçadão, não, hoje eu fui só, tem dia que eu vou só, tem dia que ela não levanta, aí eu vou só, mas eu prefiro levá, né? Porque ela tá numa fase que tá precisando caminhá e tomá sol da manhã, né? Então eu procuro ajudá de alguma forma.E: Aí vocês vão juntos?F: Aí <vamo> juntos os dois, aí a gente vai batendo um papo, conversando passando um... que teve uma reportagem no Globo Repórter, né? Falando sobre (“sobre”) silicone, que a mulher coloca no seio, no bumbum, né? Aí passou a dona, aí... aí falou assim, aí que o cara virou, o apresentador que eu não lembro quem é (riso f) falou assim: “Esse é o famoso bumbum triste; que é aquele bumbum caidinho”; (risos) aí, olha, eu ri tanto, no outro dia eu saí a procura dos bumbum triste, [na rua]. (risos)E: [Você acaba <pestando> atenção.]F: É claro, presta atenção.E: Pra vê quais são os tristes, quais são os alegres.F: É agora, por exemplo, eu escutei estes dias no <reporte> que... o câncer de mama no homem, eu nunca tinha visto falar nisso.E: Nem eu...F: Tem, a partir dos quarenta anos tem que examinar, falei pra mulher: “Oh, começa a examinar, porque já passei dos quarenta, tem que fazê exame, preventivo, que... tá tendo homem com câncer de mama... ainda diz que vem mais agressivo do que na mulher.” Então, sabe, essas coisa assim me interessa, eu escuto (?) e... passa um programa na televisão de menopausa, eu fiquei no rádio, ouvindo orientação, né? Pra tê calma, isso tem que tomá <homônio>, fazê caminhada. Então, eu incentivo ela nessa parte, digo: “Olha, <vamo> embora andá, mulher, você precisa andá.” Porque eu já ando muito, ela hoje ela já não foi porque ela foi dormir tarde, ficou assistindo filme, eu já nem vejo, eu <dumo> (?), nem sei nem qual filme que ela assistiu, né?E: E você telefonaria pra esses programas, pra se interar de mais coisas que quisesse saber?F: Tentar, a gente até tenta, mas é difícil a gente conseguir, por exemplo, tem entrevistas na Tupy que eu tentava ligar pra dá opinião, pra falá, e nunca consegui falá com a Tupy, assim...E: Nunca conseguiu, [tá sempre ocupado?]F: [Tá sempre ocupado], mas tinha vontade de participá, tá entendendo? (?) Uma vez eu até tinha uma crítica, né? Eles estavam pixando que os homens que não ajudavam a mulher em casa, que... a mulher tava reclamando que o homem não fazia nada dentro de casa, eu digo então: “poxa eu sou exceção, vou ligá [pra lá], poxa”, tá entendendo? (riso f) Me senti ofendido com aquilo; (riso f) ia botá minha mulher pra falá no ar, tá entendendo? Que existe não só eu, como muitos homens, eu sei que <faz-> (?), fazem muita coisa, fazem...E: E você gosta, né?F: Gosto (“gosto”) de... a última vez que você veio aqui tinha esse lustre aí, não tinha?E: E: realmente. (???)F: Eu coloquei tudo, coloquei ponto de luz, eu tô sempre assim dentro de casa, fazendo as coisa, ela é que fala, que não sabe o que é que eu quero da vida, eu tô sempre... ela: “<vamo> botá?” “<Vamo>.” “Quem é que vai colocá?” Eu digo: “eu acho que eu coloco” e boto escada, faço. Não tem... (??)E: E qual serviço que você gosta mais de fazê?F: Dentro de casa.E: É.

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F: Ah comida (risos). O pió é passá roupa. (riso f)E: Também concordo com você, [lavá, cozinhá, tudo bem, mas passá... 64]F: É, o pió é passá roupa, né? Porque quando assim, por exemplo, quando ela não qué lavá roupa, aí eu vou lá e lavo minha roupa, lavo a da Luana, aí na hora de passá, se ela falá “vou passá”, eu falo “graças a Deus”, se ela falá que não vai passá, eu tenho que (“ir”) passá, então é o mais triste, porque você fica muito tempo [parado] num lugá só, ainda mais quem não tem cão caça com gato, se você não tem quem faça, você vai a luta, acho que não tem que esperá.E: [Em pé.] E qual a comida que você gosta mais de fazê?F: Ah, não sei, assim é difícil falá, eu faço tanta comida que eu...E: Então qual que você gosta mais de comê?F: Eu sinceramente, arroz e feijão é o que me segura em pé, que me tanta energia, porque eu posso fazê a melhó comida do mundo, assim uma salada... essas coisa fina, eu não fico satisfeito, eu só fico satisfeito se eu comê arroz e feijão, não tem sábado, não tem domingo, tem que tê arroz e feijão.E: E você faz aquele feijão bem caprichoso ou não?F: Ah, eu faço a moda paraíba, paraibano.E: E como é a moda paraíba?F: É porque é assim, porque pai e mãe de João Pessoa, né? Eu já te falei (riso e), então eu fui criado assim, comendo feijão assim. O feijão da gente é igual a uma sopa, né? Leva tudo quanto é legume dentro.E: Ah, bota legumes dentro?F: É, leva couve, leva repolho, leva quiabo, abóbora essas coisa toda, então eu tinha que... (“permaneço”) assim, porque a Luana é uma dificuldade pra comê assim uma (“folha”) aí eu pego bota couve, aí ela não gosta de abóbora, bota abóbora dentro do feijão, na hora que vai pro prato, eu já amasso, então ela come que nem sente, não é necessariamente você obrigá a botá [salgado] você pode colocá um legumezinho, a couve, agora você vai me dizê depois e um quiabo.E: [est] [est] E como é que faz você refoga?F: Não, não refoga não. A abóbora você lava ela, descasca, aí depois que você temperou o feijão, tá, aí você bota primeiro a couve, lava as coisa da couve bem lavadinha e coloca no feijão, aí deixa dá uma fervura boa (“ali”) dentro depois vai colocá a abóbora, porque a abóbora basta você praticamente abafá ela dentro da panela [porque se não, ela desmancha], fica uma delícia. Quiabo também, quiabo primeiro tira a baba dele, se não fica gosmento, aí você vai tê que dá uma refogadinha pra tirá a baba, porque você lava ela, né? Sabe limpá quiabo? [est]E: Eu já peguei, mas... (riso e)F: Não, você raspa ele, com a faquinha direto, porque ele tem um pelozinho que se você encostá assim queima, aí você abre, corta a cabecinha dele e o rabinho, se quisé cortá em pedaço menó, corte em pedaço menó, aí você coloca ele na água com vinagre, depois bota no escorredô, aí deixa ele no escorredô ali, depois que tira ele do escorredô, você pinga um pouquinho de azeite dentro, se você não quizé colocá dentro do feijão, aí você pinga um pouquinho de azeite dentro, coloca um pouquinho d’água, deixa ele dentro, aí ele vai ficá refogando, ele vai dá aquela espuma, quando tivé sequinho aí você bota o resto dos temperos nele, coentro, cheiro verde, [cebola], aí ele pega, o pega o gosto, aí bota um pouquinho d’água e deixa ele cozinhando e secá um pouquinho, aí tira aquela baba toda, porque normalmente o pessoal coloca (“giló”) em uma e bota no fogo pra tirá a baba só que escurece o quiabo e bom do quiabo é você comê ele [verdinho.]

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E: [... Pra dá gosto, né?] [est] Aí você coloca quiabo, abóbora...F: Abóbora, couve, repolho, tudo eu boto no feijão, beterraba, (“cenoura”).E: Isso é feijão paraíba.F: É, chamo feijão paraíba da minha mãe, apesá de sê... é igual a uma sopa, e fica forte, você não precisa tá se prendendo em fazê sopa, eu não passo sem feijão [preto], todo dia é dia santo, comigo nem tem sábado , <num> tem domingo, olha (???) passo um [dia]... Eu fui pra Angra quarta-feira passada, voltei na Sexta, passei <dos> dias sem fazê comida lá, porque eu tenho preguiça de fazê comida só pra mim, então eu como <sanduche>, mas eu cheguei aqui em casa doido pra comê feijão. Eu digo pra Maria: “esquenta, bota o feijão pra fervê, como dois prato de feijão puro, aí eu tô satisfeito.E: [est] [Tem que comê feijão.] Feijão puro.F: É porque ele já está com legume todo dentro, então [não precisa praticamente] nem o arroz.E: [Nem precisa...] (??) Aí você prefere o que o frango, o... carne, ou peixe [pra acompanha?]F: Olha eu...] Acompanhá o feijão, eu prefiro mais o frango.E: Frango.F: É [porque] eu não consigo... Cozido (??) porque eu não gosto de comida gordurosa, fritura não gosto, gosto de comê tudo assim cozido porque eu mesmo fazendo eu não ponho gordura [porque o frango] já tem a gordura dele, né? E... por exemplo, esses frangos que cê come aí cheio de hormônio, que nós compramos aí, tem que tirá a pele, você tira, aí lava bem o frango, bota na água com vinagre, depois fica [aquelas babinha assim] aí eu raspo tudo com a mão, minha mulhé diz assim que não sabe o que eu tanto limpo, que eu sou um pouco nojento, aí eu faço de, eu não boto gordura, eu fazendo ele cozido, então a gordura que fica é dele, e eu nunca como molho de nada, que eu não gosto de comida com muito [molho], aí eu faço ele cozido, aí aquela gordura que ele solta eu nunca como, né? (inint) E às vezes assado mais por causa da Luana, porque eu não gosto de galinha assada, eu gosto mais de cozido.E: [Cozido... assado.] [est] [est] [est] E como você faz a galinha assada, você bota no... alguma coisa diferente?F: Não, eu tempero ela com óleo, cebola, um pouquinho de pimenta do reino, limão né? Normalmente eu já boto pra assá cortada porque eu sou uma negação pra cortar o frango inteiro, eu despedaço todo e não consigo <parti> e... Aí boto, deixo um pouco ele fora da geladeira temperado depois boto ele no tabuleiro com aquela aguazinha que sai do tempero, não boto (inint) e na medida que ele vai assando eu vou pingando água no tabuleiro e vou assando ele pingando aquela gordura que vai soltando na água, regando em cima e ele assa nem boto [óleo nem nada]. E fica uma delícia, que eu vi uma vez uma pessoa fazendo um frango assado, ele... (“futucou”) lá pegou uma lata de óleo e despejou em cima, eu achei aquilo um absurdo. Por exemplo, uma fritura que eu gosto batata frita, adoro mas não faço, uma vez na vida outra na morte quando eu tô na rua, se tivé eu como, mas em casa eu não faço. Primeiro que vou enchê a cozinha de gordura e eu que vou tê que limpá, e eu que limpo os azulejo (risos) a (“atro armá”) frio (inint) entra gordura de qualquer jeito. Aqui por exemplo, aqui em casa, uma lata de óleo dura mais de um mês.E: [est] Nossa, lá em casa a gente gasta muito.F: Não aqui em casa eu quase não faço fritura, porque também por causa da idade, e diz que o colesterol é bom você fazê uma prevenção desde novo, então já que não fizeram

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em mim eu faço na [minha filha], né? (risos) Apenas que ela [adora um carré]. (riso f) Corre (??) ela adora carne de porco.E: [Tá certo.] [Adora um carré.] Aí você irrita de fazê.F: Ah irrita, mas tem hora que eu tenho que abri uma exceção uma vez por mês, duas vezes por mês, aí eu faço <ma> ela porque...E: Aí como se faz carré pra ficá bem assim...F: Olha não frita muito, tempero ele como bife normal, carré normal e bota no forno pra assá.E: Ah, vai direto, direto no forno.F: Bota tudo no forno que você... ele vai soltar a gordura dele e você não vai precisá botá outra gordura de lata não, tudo eu jogo no forno, porque minha mulhé, ah, bota no microondas. Mas eu [tenho medo], já escutei uma reportagem de televisão, microondas, esses troços assim, então eu errito, nem uso, nunca uso, só quando eu nem tô em casa que elas tão usando né, fora disso, aí eu faço comida, deixo [pronta, né?] aí tá congelada, aí elas preguiça de ascendê o forno, vão lá e ligam o microondas, mas se dependê da minha pessoa, vou entregá lá. (risos)E: [Tem medo...] [est] E doce? Você gosta de doce.F: Ah doce, doce eu adoro.E: Mais do que o salgado.F: Olha bate os dois junto, tá? Porque eu não sei tem dia que eu tô pra comê doce, tem dia que eu tô pra comê salgado. Mas eu acho que ainda sou mais o doce, adoro rapadura, adoro... doce de banana, doce mais caseiro assim é doce de abóbora, doce de banana que eu trago banana lá de Angra, aí eu faço doce.E: E qual que você gosta mais? Banana ou abóbora?F: De abóbora.E: E é você que faz mesmo?F: Faço, faço quando não tem abóbora pra fazê, quando não tem lá no quintal, eu trago lá de cima de Angra, eu compro aqueles docinhos do camelô, que eu adoro, aquele eu não sei como ele é feito, mas é muito gostoso.E: Hum, hum, vende por aqui mesmo?F: Vende na cidade, qualquer lugá que você passe, barraca de camelô tem.E: Em Angra você tem um sítio?F: Não, eu tenho um terreno mais eu gosto muito de plantá, (inint) banana, mamão, coco, tem caju, tem goiaba, agora eu plantei pé de laranja, aí, por debaixo das bananeiras, eu jogo sempre semente de abóbora e acaba dando muita abóbora.E: Só com semente?F: Só com semente, não trato nem nada, se não tivé mais mato ou excesso de mata, deixo ela ali ela... Eu tive, por exemplo, eu compro uma abóbora bonita aqui no mercado a semente, bonita, grande, né? Aí eu lavo, boto ali na área pra secá, quando elas tão sequinhas eu levo elas pra lá, aí eu (“solto”) elas na terra assim de preferência lugá que você queima um pouquinho de mato que sempre eu faço assim uma fogueira, nem conto que é pra queimá entulho, mato seco, ali é o melhó lugá que tem pra se plantá abóbora, depois ali dá abóbora que é (“uma beleza”) a gente vai vivendo e aprendendo.E: [est] Aí é bom que você trás tudo de lá.F: Trago, por exemplo (“ovo”), (“ovo”) só quando passa muito tempo sem í lá que eu compro, banana, olha acho que tem... O tempo que tenho a casa em Angra que eu não compro banana, se você vê o tamanho das bananas que eu tenho aqui na cozinha, você

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fica boba. Olha, dessa vez eu trouxe cinco caxos de banana prata e um de banana ouro, passei em Bangu, deixei pros meus cunhados, deixei um cacho já dividido, dei pros pessoal aqui da garagem, eu não como tanto banana assim, três penca, quatro dúzia dá e [sobra]... Uma banana que eu trago de lá você compra aqui no mercado, você vai pagar dois reais o quilo, eu acho um absurdo, você pagá banana a quilo né, não existe isso banana, laranja a quilo.E: [est] Só aquele acho, né?F: Só aquele troço, tolo dele e a casca, pesa muito, porque antigamente você comprava por dúzia né, tangerina, laranja, banana tudo dúzia, agora que inventaram essa porcaria de quilo... quilo.E: Um quilo de laranja, quatro laranjas.F: É, você compraria dúzia, até nisso tá um absurdo, né?E: E sua esposa gosta de... de planta de... pegáF: Não.F: Não, não é (“cuzé”) que ela não goste não, ela não leva muito jeito porque às vezes ela até ajuda assim, ela fica toda boba, quando eu planto que a gente tira banana, ela diz: “ah meu filho, pega lá, traz da casa lá, planta aipim. (risos e) Mas ela não qué ajuda não, agora, por exemplo, ela não tem vocação nenhuma pra criá, ela não quer que maltrate os bichos, eu não maltrato, eu mato e como, eu não considero isso maltratá não, mas ela só é boa pra comê. (risos) Ela come qualqué coisa que eu tirá de lá ela come, coco eu subo no coqueiro, tiro água do coco, dou a ela, banana, eu trago, ela come, por exemplo, quando eu matei o coelho lá, ela não quis nem vê, mas comê, ela comeu quase todo sozinha, tá entendendo? Vou matá a galinha ela sai de perto, mas depois de pronto pode dá a panela, não precisa mais ninguém chegá perto, então agora não é dizê que [ela tenha pena], ela não gosta de vê. Por exemplo, eu criava cachorro, eu vendi muito cachorro, eu cortava o rabinho dos cachorros, ela não queria nem chegá perto, ela saía de casa, eu chamava uma pessoa pra segurá o cachorro, eu ia lá cortava tudo, costurava, ela vinha depois de horas pra casa, ela dizia: “coitadinho do bichinho, chorô muito”. Que choro o bicho tá lá quieto no canto dele (riso e), tá entendendo? Então, certas coisas assim né o homem mesmo que faz ou uma pessoa muito corajosa, né? E eu não sei se eu sou feio ou se sou corajoso, porque eu sou um pouco medroso, mas assim... eu não tenho medo de chegá assim abre o bicho pra salvá o filhote, o bicho vai morré, tem que tirá, não tenho medo, não tenho receio de fazê, não tenho nada, eu não tenho receio de chegá eh eu criei aquela galinha, eu não vou matá, não mato, eu fui criado assim, pessoal do norte é tudo assim, então eu... carioquinha, mas herdei alguma coisa.E: E seus pais vinham pra cá já... faz... muito tempo, né?F: Minha mãe veio com dezoito anos, anos, foi quando casô, [ela vai fazê setenta (??)] ela casô no Rio, ela veio do Norte pra cá e casou aqui com meu pai, vieram os dois pra casá aqui, porque o meu avô tava [namorando aqui], tudo de lá, vieram pra cá pra [casá no Rio], eu digo que ela veio fugida, ela diz que não, porque a vida lá era muito ruim, muito difícil na época, então, veio tentá a vida aqui no Rio, meu pai entrou pra polícia, ela ficava em casa, aí veio a família toda, meu avô, minha avó, meus tios, veio todo mundo embora de João Pessoa pra cá.E: [est] [Ela casou aqui no Rio,] [mas eles se conheceram aqui] E... eles passaram por muitas dificuldades, como é que foi essa vinda pra cá?F: Olha, vida de cão né, vida de cão porque, vindo pra cá aí... naquela época... morá em morro, morá em morro, depois filha num é, aí continuava morando no morro, eu saí de lá com dezoito anos.

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E: E você tem quantos irmãos?F: Ao total, nós somos seis, um morto, morreu, mais novo [do que eu], mas (inint) cheio de filhos, mas a faixa lá em casa é todo mundo dois filhos, não passa disso. Eu tenho um, meu irmão... Minha segunda irmã também, os outros têm tudo dois, dois, dois, dois, tem quatro porque tá no segundo casamento, o que morreu tem dois da mulhé de casado e dois da de fora, ele era meio trapalhão (riso f) [família rende.]E: [est] [est] E quais são aí... profissão dos seus irmãos a assim, a que que...F: Olha o... a... a minha irmã é secretária do Luís [Dorneles], a mais velha, depois as outras duas tão trabalhando, agora não sei fazendo não sei o que, né? Secretária não sei de quem(risos) [já engordou], meu irmão mais velho do que eu é motorista de caminhoneiro, e meu outro irmão que morreu era frentista de... posto de gasolina.E: [Já engordou no Dorneles.] Foi uma tragédia que aconteceu?F: Foi assalto, foi assalto.E: Foi assalto. Então é por isso que você tem tanto medo?F: Ah, eu tenho muito medo, a minha filha sai de manhã eu (“vou”) no ponto do ônibus, já fico rezando eu só me sinto bem se ela tá dentro de casa e fecho a casa toda e vamos dormi, aí eu durmo de noite que eu sei que ela tá junto de mim.E: Hum, hum e como é que foi esse assalto?F: Ah, ele saiu com o cunhado dele, o carro dele foi assaltado aí ele reagiu, os dois, o cara pegou deu tiro, né? Ele pegou um tiro só na barriga, né? Mas era de vinte e dois, isso foi por volta de quatro horas da tarde lá em Jacarepaguá. E eu só fui sabê da notícia eram onze e trinta da noite quando tinha chegado do colégio, nessa época eu estudava muito, fazia o segundo grau [à noite]. Ele já era casado e só eu era solteiro, então eu estudava muito, trabalhava e estudava muito.E: [est] Já tem bastante tempo, né?F: Já eu tô com dezoito de casado, vai fazê dezoito anos, vai fazê dezenove anos que ele morreu, um ano depois eu casei.E: E você já passou por uma situação assim de assalto?F: Não, graças a Deus não, nunca fui assaltado, nunca ninguém me ameaçou de nada [assim]... Minha filha já foi assaltada ali na Presidente Vargas quando saia do colégio, a mulhé já foi assaltada na Central do Brasil, mas eu graças a Deus... Já teve assim assalto comigo dentro do ônibus eu voltando do trabalho eram duas horas da tarde ali na Vinte e Oito, eu tava dormindo dentro do ônibus, acordei com o grito do pessoal e os (“caros”) olharam pra minha cara e não falaram nada, tava de relógio, tinha dinheiro no bolso [mas eu tava sentado], eu acho que eles viram alguma coisa em mim que... que... que não bateu bem (riso e), não pediram nada eram dois homens e duas mulheres e roubaram o pessoal todo, comigo não falaram nada, [dois homens e duas mulheres] rendeu todo mundo, assaltou todo mundo, eu tava sentado atrás do motorista, quieto eu tava, quieto eu fiquei e o cara ainda me olhou na saída e não falou nada. Graças a Deus só agradeço tudo a Deus porque em quarenta e oito anos de vida [e nunca sofri um assalto], ninguém nunca mexeu comigo, eu nunca assim sofri ameaça, ameaça assim é só em trabalho que briga, discute essas coisas, mas assim de violência, violência, violência não, nunca tive, mas eu hoje em dia, eu tenho medo de tudo, porque você vê aí esses alunos de escola como é que tá ficano é colega matano colega, esses dias um bajulou o outro tanto na parede, em São Paulo, que matou um menino eu acho de onze ou doze anos de tanto que jogou na parede, fica muito difícil, né? Fica bem difícil encará isso tudo.

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E: [E sua filha, sua mulher] [é porque você é grande assim.] [est] E fora esse seu irmão que já foi assaltado, você conhece outra pessoa que <conh->... que assim tinha intimidade com você que... pra gente vê a proporção né, de...F: Ah tem, tem uma amiga minha (riso f) que aquela é um pé feio né, ela é da Petrobrás, ela é auditora da Petrobrás, se aposenta agora, também ela já foi roubada [três carros dela], já tomaram três carros. Agora como se não bastasse, tudo acontesse com ela, coitada. Esse roubo do Banco do Brasil, ela tinha as coisas dela no cofre, ela é uma das pessoas que dançou.E: [Três carros.] Ainda não recebeu?F: Até agora nada, eles formaram uma comissão, tá na mão de um advogado pra vê o que vão resolvê, levaram tudo dela. Parece que foram cento e oito negocinho daquele aberto né, de dois mil e pouco, e o dela era dela e de outra que guardaram junto e dançaram as duas. Perderam tudo, não sobrou nada.E: E você nunca foi assaltado [né]. Qual seria a sua reação, o que você faria se você fosse assaltado? [Reagiria.]F: [Não.] [Olha.] Ah, não sei, a princípio eu penso em não reagi, mas vai dependê muito da hora porque eu não sou uma pessoa muito de [levá desaforo pra casa não.] [Depende do tom,] depende da forma que a pessoa vai chegá, depende assim da quantidade, porque se fô um só vai sê muito difícil, vai sê meio difícil, eu vou (“caí”) pra dentro dele (riso f), eu não vou (“lutá”) pra pagá os minhas coisas pra vagabundo vim e tomá num maió mole. Não, mas eu espero que nunca aconteça isso comigo não, não... sei, não sei, a reação da gente na hora é assim, né? E eu não sei, a a gente pensa “ah, não vou reagi, não vou reagi”, na hora você acaba reagindo, e na hora acaba até acontecê o que acabou acontecendo com meu irmão, não sei se eu teria sangue (“fui”) de uma pessoa só, né? Com um revolvinho, e acho bom ele não dá mole que eu vou tomá o revolver dele e tá arriscado a matá, porque na hora da minha raiva eu não tenho pena de... se tivé que matá eu mato, eu, pra não morrê, faço qualqué negócio.E: [est] [Depende de como chega.] Você tem medo de morrê?F: Eu tenho e muito e pra não morrê eu mato qualqué um.E: Pra defendê sua família?F: Pra defendê minha família eu sou pió que um leão, (risos) uma leoa, né? Porque leão não defende nada, [leoa defende mais,] eu vou defendê.E: [est] Hum, hum.F: Porque... [(inint)] se fô pra defendê eu defendo; (“então é o negócio”) se chegá os cara, aí vou levá a sua filha, vai leva, mas vai tê que me deixá morto ali, não vai levá ela assim e me deiza não. Eu peço a Deus que nunca aconteça porque a minha (“reação”), eu falo com a mulhé vai sê (riso f).E: [Obrigado.] Vai sê difícil, né?F: Vai sê muito difícil, assim, eu acho que tudo o que eu tenho de precioso nessa vida é minha filha, acho que nada, casa, nem isso, nem carro, nada tem valô pra mim, valô mesmo é minha filha.E: E se ela casá, morá bem longe.F: Ah, eu procuro morá perto, vendo tudo e vou pra pertinho, eu vou ser o vizinho do lado. (risos)E: Você vende tudo?F: [Vendo.] Não, porque quando nós compramos isso aqui, eu e a mãe, a intenção era assim, bom a Luana tá crescendo, Luana vai casá e ela fica morando aqui com a gente, (“nunca, nunquinha”) porque ela é filha única, né? Ninguém vai querê, deixa aí, mas se

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não tivé jeito e ela quizé, é, eu falo assim que vou, mas não vou não, vou claro está sempre visitano, procurá falá, sabê como é que tá, como é que não tá.E: E se ela fosse pra outro país?F: Aí, não, não iria não, só se me amarrasse dentro do (“avião”) (riso f).E: Não voa de avião?F: [Não.] (risos) Se fosse de navio ainda vou, mas de avião... (risos) Eu prefiro sê comido pelos peixes do que explodí lá em cima. Já tive um do meu trabalho que explodiu é... (“Atério Ribeiro”) já ouviu falá da Universidade Federal Rural, ele tava em Brasília, pegou... Um acidente de avião anos atrás...E: [Não vai não.] E você conhecia as pessoas?F: É, ele trabalhava comigo, ele foi coordenador lá do curso, (“Ivan Atério Ribeiro”), se você procurá se informá com o reitô da sua universidade ele sabe quem é, muito conhecido o cara... e explodiu o avião e ele tava dentro e foi... Eu não fui nem no enterro dele de tanto (“horrô”) que eu tenho, eu não tive condições de é, fiquei muito nervoso, diz que o corpo tava [pequenininho], dentro de um caixão pequenininho, ah não desse que era um caxãozinho pequenininho simbólico, aí eu falei: “tô fora”. Eu não suporto nem é a enterro de ninguém.E: [Ai, que horrô, tinha que tá fechado.] Você não gosta de í em enterro.F: Não, vou só quando sou obrigado, (riso e) tem uma hora que você é obrigado a í, praticamente você é obrigado, não é questão nem de você gostá, você tá sendo obrigado, porque fica chato, uma pessoa amiga e você nem... mas eu não olho nem pro defunto, eles ficam lá e eu fico só de longe.E: [Eu só fui uma vez no da minha avó e...]F: [A Luana também ela é igual a mim,] ela foi no enterro da mãe de uma coleguinha dela e... disse que nunca mais vai, que é muito triste, vê botá a pessoa lá dentro com terra.E: É mesmo, a pió parte é quando...F: Aí eu digo pra ela assim: “quando é na terra ainda, não é muito triste não, pió é naquelas gaveta de concreto abafado.” Aquilo deve sê quente. (risos) [Ah, eu não sei eu nunca morri.] Não, eu tenho medo da morte principalmente assim porque, por exemplo, enquanto a Luana foi... pequenininha, pequenininha não que tá com doze anos (risos e), mas eu acho que ainda depende da sabe asa da galinha velha [em cima]. Ai eu tenho muito medo de morrê eu quero vê minha filha, formada, casada, sei lá, seja o que Deus fô, mas já com idade, com uns trinta, trinta e pouco ano, aí eu já sei que ela já sabe se defendê só, mas por enquanto [ainda não], por enquanto tá muito cedo, espero que aquele lá de cima me dê mais essa oportunidade, pelo menos uns [duzentos ano tá bom, né?] (risos f) [Chega até duzentos], porque com toda a coisa ruim aqui debaixo, acho que aqui ainda é melhó.E: [É, nunca morreu.] [est] [Duzentos anos.] [Duzentos anos tá bom.]F: Eu acho porque aqui (“eu”) conheço do outro lado eu [não conheço], eu [prefiro aqui], com todos os atropelos que tá tendo por aí eu prefiro isso aqui.E: [est] [est] E... você... que que eu ia te perguntá. E se você ganhasse na loteria? O que você faria? Mudando de assunto agora.F: Ah que que eu faria, ficaria quietinho (risos). Só falaria pra minha mulhé e pra minha filha: “oh nós tomos rico, mas continuá fingindo que nós somos pobre, não quero empresa, não quero ninguém, porque se você fala vem todo mundo em cima de você, todo mundo qué dinheiro, nego vai te assaltá, vai seqüestrá sua filha, vai... tá entendendo? A melhó coisa é você levá uma vida normal como se nada tivesse

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acontecido, claro que tudo que eu tivesse vontade de fazê, eu ia fazê, a minha filha qué viajá, “toma minha filha e vai quietinha.” (riso e) Mas eu ia continuá do mesmo jeito que eu sou, só pelo medo que hoje [em dia você tem que] tê medo, você tem que tê dinheiro, mas você tem que tê medo de falá que você tem dinheiro, você não pode falá, ninguém sabê que você vive na sua, fica na sua.E: [inint] Qual o programa que você faria em família assim? Primeiro programa que você faria?F: Olha, eu não sei, eu não sei, era tanta coisa que eu tenho vontade de fazê, mas a primeira coisa que eu ia fazê é... í pra churrascaria com a minha mulhé, que ela adora carne, né? (riso e). Aí dá a notícia e diz: “agora vamos sentá nessa churrascaria, come a carne que você tivé vontade.” (risos)E: Compra a churrascaria, né? (riso e)F: Não, aí eu não quero compra [não] porque aí fica sem graça, né? Eu levo ela pra comê, aí eu digo assim: “agora tudo que você quisé comê, você vai comê na rua.”(risos)E: [Não.] Ah, é, aí você não precisaria mais fazê comida né?F: Ah mais eu ia continuá fazendo, nem, não, não acho que o dinheiro faz muito minha cabeça não, ajuda... ajuda, tá entendendo? Eu queria tê bastante dinheiro, mas não pra mudá assim meu ritmo de vida não, claro, não ia continuá a mesma coisa, só ia tentá...