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Bruna Camilo Turi TRACKING DA ATIVIDADE FÍSICA: ESTUDO DE IMPACTO SOBRE A OCORRÊNCIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL EM ADULTOS Presidente Prudente 2011 Faculdade de Ciências e Tecnologia - Seção de Pós-Graduação Rua Roberto Simonsen, 305 - CEP 19060-900 - Presidente Prudente SP Tel: (18) 229-5352 / Fax: (18) 223-4519 - E-mail: [email protected]

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  • Bruna Camilo Turi

    TRACKING DA ATIVIDADE FSICA: ESTUDO DE IMPACTO

    SOBRE A OCORRNCIA DE HIPERTENSO ARTERIAL EM

    ADULTOS

    Presidente Prudente

    2011

    Faculdade de Cincias e Tecnologia - Seo de Ps-Graduao Rua Roberto Simonsen, 305 - CEP 19060-900 - Presidente Prudente SP

    Tel: (18) 229-5352 / Fax: (18) 223-4519 - E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]
  • Bruna Camilo Turi

    TRACKING DA ATIVIDADE FSICA: ESTUDO DE IMPACTO SOBRE A

    OCORRNCIA DE HIPERTENSO ARTERIAL EM ADULTOS

    Dissertao apresentada Faculdade de Cincias e

    Tecnologia FCT/UNESP, campus de Presidente

    Prudente, para obteno do ttulo de Mestre no

    Programa de Ps Graduao em Fisioterapia.

    Orientador: Prof. Dr. Henrique Luiz Monteiro

    Presidente Prudente

    2011

  • Turi, Bruna Camilo.

    T846t Tracking da atividade fsica : Estudo de impacto sobre a ocorrncia de hipertenso arterial em adultos / Bruna Camilo Turi. - Presidente Prudente : [s.n], 2011

    92 f. : il. Orientador: Henrique Luiz Monteiro Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,

    Faculdade de Cincias e Tecnologia Inclui bibliografia 1. Atividade Fsica. 2. Crianas. 3. Adolescentes. 4. Adultos. 5.

    Obesidade. 6. Hipertenso. I. Monteiro, Henrique Luiz. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Tecnologia. III. Ttulo.

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho especialmente aos meus pais, Ana

    Maria Camilo Turi e Galiano Turi Neto, pelo amor incondicional,

    esforos dirios, dedicao intensa e compreenso em

    absolutamente todos os momentos desta e de outras

    caminhadas.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, pois sem Ele nada seria possvel.

    A minha irm Andriette Camilo Turi, pela companhia, convivncia e presena

    valiosas e fundamentais.

    Agradeo ao professor e segundo pai, professor Henrique Luiz Monteiro, pela

    dedicao preciosa, amizade, convivncia, saberes e ensinamentos impagveis

    durante a execuo desse trabalho.

    Ao melhor amigo e namorado Ingo Cescatto Germer, pela companhia na

    alegria e na dificuldade, que fizeram da minha realidade, muitas vezes penosa e

    difcil, uma fonte de aprendizagem sem deixar desaparecer a magia e a fantasia da

    nossa juventude.

    Jamile Sanches Codogno, sem voc nada disso seria possvel. Agradeo

    imensamente pela pacincia, crticas, conselhos, sabedoria e amizade.

    Aos Professores Rmulo Arajo Fernandes e Carlos Marcelo Pastre, por

    participarem dessa jornada junto comigo, me fazendo crescer e enxergar alm de

    meus horizontes. Meu respeito e admirao por ambos so desmedidos.

    Ao secretrio da sade de Bauru, Sr. Jos Fernando Casquel Monti, s

    funcionrias da secretaria da sade, Lucila Paula Manso Bacci e Rosilene Reigota, e

    s responsveis e funcionrias das UBS, Adriana Violin da Silva, Chiyoco Minami

    Tanamaka, Leila de Ftima Dorigo, Luciane Pascolat Piva Sabbagh e Vilma Ohki,

    pela ajuda e presteza que viabilizaram a realizao desse projeto.

    Por fim, e no menos importante, aos meus amigos e parceiros do

    Laboratrio de Avaliao e Prescrio de Exerccios, Ana Paula Oliveira, Arina

    Hansen, Clio Daibem, Clara Suemi da Costa Rosa, Eduardo Chagas, Jlio Mizuno,

  • Lia Grego Muniz e Mariana Rotta Bonfim, pela colaborao, companheirismo e

    companhia fundamentais.

  • EPGRAFE

    "Aprender a nica coisa de que a mente nunca se cansa,

    nunca tem medo e nunca se arrepende."

    (Leonardo da Vinci)

  • SUMRIO

    1 INTRODUO E OBJETIVOS.......................................................................... 14

    2 REVISO DE LITERATURA.............................................................................. 17

    2.1 Hipertenso Arterial Sistmica........................................................................ 17

    2.1.1 Conceitos bsicos e panorama da doena................................................ 17

    2.2 Estratgias de tratamento da hipertenso arterial........................................... 20

    2.3 Atuao dos profissionais da sade no tratamento da doena....................... 22

    2.4 Atividade fsica e hipertenso arterial.............................................................. 25

    2.5 Mecanismos fisiolgicos de controle da PA pelo exerccio............................. 27

    2.6 Tracking da atividades fsicas.......................................................................... 31

    3 MATERIAS E MTODO..................................................................................... 34

    3.1 Natureza do estudo, populao e amostra...................................................... 34

    3.2 Aspectos ticos da pesquisa........................................................................... 35

    3.3 Variveis do estudo......................................................................................... 36

    3.4 Procedimentos de campo................................................................................ 41

    3.5 Anlise estatstica............................................................................................ 43

    4 RESULTADOS................................................................................................... 45

    4.1 Caracterizao das Unidades Bsicas de Sade............................................ 45

    4.1 Descrio da amostra...................................................................................... 46

    4.3 Associao entre hipertenso arterial e indicadores de sade....................... 48

    4.4 Associaes entre hipertenso arterial, estado nutricional e indicador de

    risco coronariano............................................................................................ 49

    4.5 Associao entre hipertenso arterial e indicadores de sade segundo nveis

    de atividade fsica............................................................................................ 51

    4.6 Associao entre hipertenso arterial e histrico familiar............................... 53

    4.7 Associao entre hipertenso arterial e consumo de medicamentos

    segundo nveis de atividade fsica................................................................... 54

    4.8 Associao entre hipertenso arterial e tracking da atividade fsica............... 55

    5 DISCUSSO...................................................................................................... 59

    6 CONCLUSES................................................................................................... 69

    7 REFERNCIAS.................................................................................................. 70

    8 ANEXOS............................................................................................................ 84

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Localizao das Unidades Bsicas de Sade envolvidas no estudo..... 35

    Figura 2. Sequncia das etapas de trabalho realizadas durante a pesquisa........ 43

    Figura 3. Distribuio de freqncia relativa (%) da ocorrncia de hipertenso

    arterial segundo estado nutricional com respectivos valores de significncia

    para o teste qui quadrado...................................................................................... 50

    Figura 4. Distribuio de freqncia relativa (%) de ocorrncia de hipertenso

    arterial segundo circunferncia de cintura (CC) com respectivos valores de

    significncia para o teste qui quadrado.................................................................. 51

    Figura 5. Distribuio de freqncia relativa (%) de ocorrncia de hipertenso

    arterial segundo perodos do tracking de atividades fsicas com respectivos

    valores de significncia para o teste qui quadrado................................................ 57

    Figura 6. Distribuio de freqncia relativa (%) de ocorrncia de hipertenso

    arterial segundo perodos do tracking de atividades fsicas com respectivos

    valores de significncia para o teste qui quadrado................................................ 58

  • LISTA DE TABELAS E QUADROS

    Quadro 1. Valores de Presso Arterial Sistlica (PAS) e Diastlica (PAD):

    Classificao para maiores de 18 anos.................................................................... 17

    Quadro 2. Classificao econmica de classes por renda e pontuao................. 39

    Tabela 1. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) dos profissionais

    alocados nas Unidades Bsicas de Sade e respectivos ndices de servidores

    por nmero de pronturios ativos............................................................................. 46

    Tabela 2. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) das variveis

    descritivas segundo Unidade Bsica de Sade........................................................ 48

    Tabela 3. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) das variveis

    descritivas estudadas, segundo ausncia ou presena de hipertenso arterial,

    com respectivos valores de significncia do teste qui quadrado.............................. 49

    Tabela 4. Distribuio de frequncia absoluta e relativa (%) das variveis

    descritivas estudadas, segundo ausncia ou presena de hipertenso arterial,

    com respectivos valores de significncia do teste qui quadrado.............................. 52

    Tabela 5. Associao entre hipertenso arterial, nveis de atividade fsica e

    indicadores de sade................................................................................................ 53

    Tabela 6. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) de ocorrncia de

    hipertenso arterial, segundo histrico familiar, com respectivos valores de

    significncia do teste de qui quadrado................................................................................... 53

    Tabela 7. Associao entre ocorrncia de hipertenso arterial e histrico familiar. 54

    Tabela 8. Associao entre consumo de medicao por hipertensos e nveis de

    atividade fsica.......................................................................................................... 55

    Tabela 9. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) dos nveis de

    atividade fsica em diferentes perodos da vida segundo ausncia ou presena de

    hipertenso arterial, com respectivos valores de significncia do teste de qui

    quadrado................................................................................................................... 56

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    ACSM American College of Sports Medicine

    CC Circunferncia de Cintura

    DBHA Diretriz Brasileira de Hipertenso Arterial

    FCT Faculdade de Cincias e Tecnologia

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    IC Intervalo de Confiana

    IMC ndice de Massa Corporal

    LAPE Laboratrio de Avaliao e Prescrio de Exerccio

    LDL Lipoprotena de Baixa Densidade

    OR Odds Ratio

    PA Presso Arterial

    PAD Presso Arterial Diastlica

    PAS Presso Arterial Sistlica

    SP So Paulo

    SUS Sistema nico de Sade

    UBS Unidades Bsicas de Sade ou Unidade Bsica de Sade

    UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho

    VO2 mx. Volume Mximo de Oxignio

  • RESUMO

    Introduo: A hiptese de trabalho, conforme indicativo da literatura tcnica

    pertinente que a prtica regular de atividades fsicas realizadas durante a infncia,

    adolescncia e idade adulta pode contribuir para reduzir a ocorrncia de hipertenso

    arterial, trazendo, com isso, inmeros benefcios para a sade e a qualidade de vida

    dos mais ativos. Objetivo: Analisar a associao entre prtica de atividade fsica

    prvia sobre a ocorrncia de hipertenso arterial na populao adulta que utiliza os

    servios pblicos de ateno bsica sade. Materiais e mtodo: A investigao

    foi realizada junto a cinco Unidades Bsicas de Sade, na cidade de Bauru/SP e foi

    composta, conforme desenho amostral adotado, por 964 pacientes em tratamento

    ambulatorial. Foram levantadas, por meio de entrevistas dirigidas, as prticas de

    atividades esportivas prvias (infncia e adolescncia), atividades fsicas habituais

    atuais, poder aquisitivo e risco coronariano. As variveis: peso, estatura, ndice de

    massa corporal (IMC), circunferncia de cintura (CC) e presso arterial foram

    aferidas durante a consulta. Histrico de doenas, presena de hipertenso arterial e

    consumo de medicamentos foram obtidos dos pronturios clnicos dos pacientes.

    Resultados: Na amostra houve predominncia do sexo feminino (73,4%) e a mdia

    de idade foi de 659 anos. A ocorrncia de HAS foi de 76,8%. Foram encontradas

    associaes significativas entre ocorrncia de HAS e idade (p=0,006), maiores

    valores de IMC (p=0,001), CC alterada (p=0,001), sedentarismo (p=0,009) e histrico

    familiar positivo para a doena (p=0,002). Concluses: Idade, IMC e CC alterados e

    histrico familiar positivo para HAS se associaram significativamente com maior

    ocorrncia da doena. Por outro lado, a prtica de atividades fsicas atuais mostrou

    ser fator de proteo para HAS, porm no houve associao entre o tracking de

    atividades fsica e ocorrncia de HAS em adultos.

  • ABSTRACT

    Introduction: The work hypothesis, as indicative in the relevant technical literature,

    is that the regular practice of physical activities during childhood, adolescence and

    adulthood may contribute to lower incidence of hypertension, bringing many health

    benefits and quality of life for the most active ones. Objective: To analyze the

    association of physical activity prior on the occurrence of hypertension in the adult

    population that uses the public services in primary care. Material and method: The

    investigation was realized in five Basic Health Units (BHU), in Bauru, SP, and was

    composed, according the design adopted, for 964 patients in ambulatory treatment.

    Were evaluated, through interviews, practices of previous sports activities (childhood

    and adolescence), usual physical activities, economic status and coronary risk. The

    variables: weight, height, body mass index (BMI), waist circumference (WC) and

    pressure were measured during the consultation. History of disease, presence of

    hypertension and use of medication were obtained from clinical records of

    patients. Results: The sample was predominantly female (73,4%) and the mean age

    was 659 years. The prevalence of hypertension was 76,8%. Significant associations

    were found between the occurrence of hypertension and age (p=0,006), higher BMI

    (p=0,001), waist circumference altered (p=0,001), sedentary lifestyle (p=0,009) and

    family history positive for the disease (p=0,002). Conclusions: Age, indicators of

    nutritional status and coronary risk changed and positive family history of

    hypertension were significantly associated with higher incidence of the disease. On

    the other hand, the current physical activity proved to be a protective factor for

    hypertension, but there was no association between tracking of physical activity and

    occurrence of hypertension in adults.

  • 14

    1 INTRODUO

    A hipertenso arterial sistmica (HAS) uma doena crnica reconhecida

    como principal fator de risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares.

    considerada a doena mais prevalente na populao adulta, bem como a que gera

    maior demanda nos servios de emergncia no Brasil. Em todo o mundo este um

    dos principais problemas de sade pblica (1,2).

    Segundo a VI Diretriz Brasileira de Hipertenso Arterial (3), a doena definida

    como uma condio clnica multifatorial caracterizada por nveis elevados e

    sustentados de presso arterial (PA) e associa-se, freqentemente, a alteraes

    funcionais e/ou estruturais dos rgos-alvo, como corao, encfalo, rins e vasos

    sanguneos, e a alteraes metablicas, com consequente aumento do risco de

    eventos cardiovasculares fatais e no-fatais.

    No entanto, apesar de sua causa etiolgica geralmente ser desconhecida por

    se dar ao longo da vida, hbitos de vida mantidos por perodos extensos tm

    influncia direta sobre a ocorrncia e gravidade da doena, bem como os desfechos

    causados por sua manifestao (3).

    Favorecendo sua ocorrncia, modificaes frequentes no perfil da populao

    brasileira, com relao aos hbitos alimentares e de vida, tm resultado em aumento

    do risco de doenas cardiovasculares. Alteraes na quantidade de alimentos

    consumidos e na prpria composio da dieta so responsveis por provocar

    aumentos significativos do peso corporal e distribuio da gordura, ocasionando

    maiores taxas de sobrepeso ou obesidade. Completando o quadro, hbitos de vida

    no saudveis, como sedentarismo, consumo abusivo de lcool, estresse e

    tabagismo, contribuem para a instalao da HAS e suas possveis complicaes (4-6).

  • 15

    Como medidas de tratamento da HAS podem ser adotadas tanto o uso de

    medicamentos antihipertensivos como medidas no-farmacolgicas (prtica regular

    de exerccios fsicos e controle alimentar), as quais so indicadas por profissionais

    da sade como estratgias para reduzir nveis de PA em pacientes nos estgios

    iniciais da doena (3,7).

    Entre estas, a prtica de atividades fsicas regulares tem impacto direto sobre

    o controle e tratamento da HAS (8,9). Quanto aos principais mecanismos pelos quais

    os exerccios fsicos podem agir atenuando os nveis de PA esto os: i)

    hemodinmicos, com reduo do dbito cardaco associado bradicardia de

    repouso e reduo do tnus simptico cardaco; e ii) fisiopatolgicos, auxiliando na

    manuteno da sensibilidade dos reflexos cardiovasculares que so responsveis

    pela regulao momento a momento da PA (10).

    Como forma de permitir a melhor compreenso da influncia dos hbitos de

    vida sobre a ocorrncia de doenas crnicas, o tracking de atividades fsicas um

    recurso que vem sendo utilizado em estudos epidemiolgicos recentes (11,12).

    Em estudo feito por Yang et al. (14) observaram que o histrico de atividade

    fsica se associou ocorrncia de obesidade abdominal em homens e mulheres, e

    sugerem que mudanas nos hbitos de vida executados ao longo da vida podem ser

    uma importante via para a preveno da obesidade quando adultos.

    Dessa maneira, questiona-se: a prtica de atividades fsicas, mantida ao

    longo da vida, pode contribuir para evitar a ocorrncia da HAS? Sobre a hipertenso

    e sua associao com a prtica de exerccios fsicos, pesquisas divergem sobre

    volume, frequncia e intensidade de atividades fsicas que so necessrios para o

    controle da doena (15-17), principalmente em situao onde estilo de vida ativo foi

    referido ao longo da vida.

  • 16

    Sendo assim, a presente pesquisa tem a finalidade de reunir informaes que

    permitam elucidar melhor a questo, ou seja, se a prtica de atividades fsicas

    realizada na infncia e adolescncia tem influncia sobre a ocorrncia de HAS na

    vida adulta, podendo resultar em fator de proteo para a doena.

    Para responder a essa hiptese, os objetivos da presente pesquisa foram:

    Geral

    i) analisar a associao entre prtica de atividades fsicas realizadas durante

    a infncia, adolescncia e idade adulta e ocorrncia de hipertenso arterial na

    populao > 50 anos que utiliza dos servios pblicos de ateno bsica sade.

    Especficos

    i) caracterizar as Unidades Bsicas de Sade da cidade de Bauru/SP quanto

    ao corpo de funcionrios e distribuio de pronturios;

    ii) caracterizar a populao pertencente a cada uma das Unidades Bsicas de

    Sade quanto a sexo, idade, poder aquisitivo, escolaridade, tabagismo, estado

    nutricional, risco coronariano e ocorrncia de hipertenso arterial.

    iii) avaliar a associao da hipertenso arterial e seus determinantes (sexo,

    poder aquisitivo, idade, sedentarismo, entre outros);

    iv) observar se a possvel associao da prtica de atividades fsicas ao longo

    da vida sobre a hipertenso arterial mediada por modificaes no estado

    nutricional e independente do histrico familiar de doenas; e,

    v) verificar se a atividade fsica regular pode influenciar na quantidade de

    medicamentos utilizada para controle da PA.

  • 17

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Hipertenso Arterial Sistmica

    2.1.1 Conceitos bsicos e panorama da doena

    De acordo com a VI Diretriz Brasileira de Hipertenso Arterial (3), a doena

    caracteriza-se como uma condio clnica multifatorial caracterizada por nveis

    elevados e sustentados de presso arterial. Associa-se frequentemente a alteraes

    funcionais e/ou estruturais dos rgos-alvo (corao, encfalo, rins e vasos

    sanguneos) e disfunes metablicas, com consequente aumento do risco de

    eventos cardiovasculares fatais e no fatais. Ainda de acordo com o documento,

    considera-se hipertenso aquelas pessoas que apresentam valores de PA sistlica >

    140 mmHg e/ou de PA diastlica > 90 mmHg em medidas de consultrio (Quadro 1).

    Quadro 1. Valores de Presso Arterial Sistlica (PAS) e Diastlica (PAD): Classificao para maiores

    de 18 anos.

    Classificao PAS (mmHg) PAD (mmHg)

    tima < 120 < 80

    Normal

  • 18

    prevalncias de hipertenso arterial sistmica (HAS) em adultos variando em torno

    20% (19). Schmidt et al. (20), em estudo que estimou a prevalncia de diabetes e HAS

    em adultos de todo o pas pelo Sistema de Vigilncia de Fatores de Risco e

    Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico (VIGITEL) encontraram

    que 21,6% dos brasileiros so portadores de HAS. No diferente, o Guia Latino

    Americano de Hipertenso (21) aponta prevalncias que oscilam de 25% a 35% para

    a mesma faixa etria.

    Ocupando a primeira posio entre as doenas cardiovasculares (DCV), a

    HAS responde por cerca de 300 mil mortes/ano e, juntamente com o tabagismo, a

    principal causa de mortalidade da populao mundial, tornando-se um dos agravos

    crnicos mais prevalentes (22,23).

    Estudos epidemiolgicos demonstram relao entre alteraes nos nveis

    pressricos e agravos cardiovasculares em grupos de indivduos com caractersticas

    distintas (24,25). Confirmando essa informao, Greenberg (26) demonstrou que PAS

    aumentada um potente fator de risco para DCV em homens saudveis

    diagnosticados como pr-hipertensos, sendo que aumento de 10 mmHg na PA

    representou o incremento do risco relativo para DCV. Corroborando com esses

    dados, Brown, Giles e Greelund (27) tambm observaram aumento significante no

    risco relativo de morte sbita entre homens (RR= 1,19) e mulheres (RR= 1,15),

    associadas com PAS elevada.

    Demonstrando mesma tendncia Weycker et al. (28), verificaram que o risco

    relativo de hipertensos desenvolverem DCV foi de 2,07 quando os doentes eram

    tambm diabticos. Associando as duas patologias ao IMC e hiperlipidemia, o

    risco aumenta para 2,8. A esse respeito, o estudo de Framigham j demonstrava

  • 19

    que havia menos de 20% dos hipertensos com apenas um nico fator de risco para

    DCV (29).

    Esses dados tambm indicam que o descontrole da PA tem impacto direto

    sobre a longevidade, provocando o acometimento por agravos cardiovasculares

    diversos e acentuando risco de morbi mortalidade da populao hipertensa, fatos

    estes que podem gerar altos custos aos cofres pblicos.

    Avaliando o impacto econmico de doenas cardiovasculares graves no

    Brasil, Azambuja et al. (30) verificaram que aproximadamente dois milhes de casos

    foram relatados em 2004, representando 5,2% da populao acima de 35 anos de

    idade, cujo custo anual foi de R$ 30,8 bilhes (sendo 36,4% para a sade, 8,4%

    para o seguro social e reembolso por empregadores e 55,2% por perda de

    produtividade). Este resultado corresponde a R$ 500,00 per capita para a populao

    > 35 anos e custo total dos servios de sade de R$ 9.640,00 por paciente.

    Buscando identificar potenciais fatores de risco para a HAS, estudos (2,23,31)

    tm apontado que ser mulher, negro ou asitico, possuir histria familiar positiva

    para um dos progenitores, falta de conhecimento sobre prtica de atividades fsicas

    e ex-fumantes apresentaram maiores probabilidades de serem acometidos pela

    doena. Alm desses fatores, est bem esclarecido na literatura que o consumo

    abusivo de lcool, inatividade fsica, idade, alimentao inadequada e excesso de

    peso podem estar associados elevao dos nveis pressricos, e com base nesse

    conhecimento, alteraes no estilo de vida tm sido recomendadas para preveno

    e tratamento da HAS.

    Apesar dos avanos do conhecimento sobre o assunto, a HAS uma doena

    endmica ascendente, tanto no Brasil quanto no mundo. Por esta razo importante

  • 20

    envidar esforos em novas investigaes, visando identificar os determinantes para

    a ocorrncia da patologia, bem como seus desdobramentos.

    2.2 Estratgias de tratamento da hipertenso arterial

    Ensaios clnicos demonstram que deteco, tratamento e controle da HAS

    so primordiais para reduo de possveis eventos cardiovasculares (3,32,33). Apesar

    do alto acometimento da populao brasileira pela doena, pesquisa recente (34)

    indica que os nveis de conhecimento e tratamento ainda so insatisfatrios. Entre

    os hipertensos, apenas 64,3% declararam ter conhecimento de sua condio, 42,4%

    aderem ao tratamento e somente 12,9% conseguem manter os nveis pressricos

    controlados.

    O objetivo do tratamento para a hipertenso reduzir o risco cardiovascular e,

    consequentemente, as taxas de morbidade e mortalidade. O procedimento frente

    doena prev a utilizao, tanto de medidas no-farmacolgicas isoladas, como

    associadas a medicamentos antihipertensivos, os quais, quando adotados, devem

    permitir a reduo de eventos cardiovasculares fatais e no fatais bem como reduzir

    significativamente os nveis pressricos (3).

    Entretanto, um dos grandes entraves para tratar a HAS na atualidade a

    aderncia dos doentes ao tratamento. Pierin et al. (23) investigaram o controle da

    HAS por pacientes atendidos em Unidade Bsica de Sade e concluram que est

    associado ao sexo, menor interrupo do tratamento da doena e ao

    conhecimento sobre a importncia dos exerccios fsicos. No que diz respeito

    terapia no farmacolgica, determinantes pessoais (gnero, idade, escolaridade,

    nvel econmico), assim como hbitos e estilos de vida (abolio do tabagismo,

    restrio de ingesto de bebidas alcolicas e planejamento alimentar) esto

    fortemente relacionados com a adeso ao tratamento (35).

  • 21

    Para tanto, Coelho e Burini (36) afirmam que adoo de estilo de vida saudvel

    importante para prevenir inmeras doenas crnicas (dentre elas a HAS) e

    preservar a capacidade funcional, alm de ser indispensvel para obter sucesso

    teraputico no tratamento da doena.

    Desde que submetidos avaliao mdica prvia e atestarem condies

    clnicas, o American College of Sports Medicine (ACSM) (37) recomenda que

    indivduos hipertensos iniciem programas de exerccios fsicos regulares de

    intensidade moderada, trs a seis vezes por semana, em sesses de 30 a 60

    minutos de durao, realizadas com frequncia cardaca entre 60% e 80% da

    mxima ou entre 50% e 70% do consumo mximo de oxignio (VO2 mximo).

    A prescrio de exerccios fsicos para hipertensos , em geral, semelhante

    ao que se recomenda para desenvolver e manter aptido cardiorrespiratria de

    adultos normotensos, porm, com intensidade reduzida (7). Neste sentido, h

    pesquisadores que tm se preocupado em avaliar programas de exerccios fsicos

    para hipertensos, e destacam que imprescindvel um trabalho preventivo frente

    doena, uma vez que tambm os normotensos so candidatos a se tornarem

    doentes no futuro (38,39).

    Corroborando com essas afirmaes, existem estudos com base cientfica

    suficiente para sustentar que treinamento fsico dinmico seja recomendado como

    conduta no-farmacolgica para a preveno e tratamento da hipertenso arterial.

    Mencionam, ainda, que se prescritos de forma adequada, capaz de provocar

    redues pressricas na faixa de 5 a 20 mmHg em indivduos hipertensos, o que,

    em muitos casos pode resultar na reduo ou eliminao da medicao

    antihipertensiva (39,40).

  • 22

    Dessa maneira, os benefcios produzidos pela prtica de exerccios fsicos

    devem ser aproveitados para prevenir o aparecimento da HAS em indivduos

    normotensos e no tratamento e controle dos pacientes hipertensos.

    2.3 Atuao dos profissionais da sade no tratamento da doena

    A dificuldade em convencer indivduos hipertensos de que so portadores de

    agravo crnico e necessitam de cuidados constantes, um problema que contribui

    para diminuir a adeso ao tratamento da doena, tanto no que se refere

    modificao de hbitos dirios, como para uso correto da medicao. O

    comprometimento do paciente com o tratamento da HAS uma questo complexa e

    multifatorial, que pode obter resultados mais favorveis com a sua conscientizao

    atravs de aes de educao em sade desenvolvidas paralelamente pelos

    diferentes profissionais envolvidos no processo (41).

    medida que aumenta o conhecimento do indivduo sobre a doena,

    independente de idade ou risco, maior o seu comprometimento com o auto

    cuidado e, portanto, maiores so as chances de sucesso teraputico.

    Dias da Costa et al.(42), em estudo que avaliou a utilizao de servios

    ambulatoriais na cidade de Pelotas/RS, constataram alta demanda dos servios

    pblicos de sade pela populao hipertensa, e salientam que esse achado no

    sinnimo de trabalho inadequado. Na realidade, o aumento do nmero de consultas

    por paciente pode ser reflexo da falta de qualificao do corpo de profissionais que

    compe uma unidade de sade, ressaltando a importncia de cada uma das

    diversas reas profissionais em atuao, seja na preveno, diagnstico e/ou

    tratamento de doenas. Neste caso, vale dizer tambm que a situao se agrava por

    conta da falta de outras competncias profissionais que ainda hoje se encontram

  • 23

    ausentes nas equipes que compem os servios de ateno bsica sade da

    populao.

    A abordagem multiprofissional com participao de mdicos, enfermeiros,

    tcnicos e auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psiclogos, assistentes sociais,

    fisioterapeutas, educadores fsicos, farmacuticos, educadores, comunicadores,

    funcionrios administrativos e agentes comunitrios de sade a situao entendida

    como adequada para o acompanhamento da populao hipertensa, de forma a

    possibilitar maior eficcia do tratamento e produtividade da equipe de sade (3,43,44).

    Silva et al. (45) relatam que o profissional de enfermagem desempenha papel

    importante ao possibilitar maiores ndices de adeso s prticas de sade

    estabelecidas para os hipertensos, por agir diretamente na promoo da sade,

    atuando no diagnstico precoce da doena, por meio da medida rotineira da presso

    arterial e orientao da equipe sob sua responsabilidade. Uma vez instalada a

    doena, sua atuao consiste na orientao sobre benefcios do tratamento

    medicamentoso e no medicamentoso, controle da patologia e suas complicaes,

    bem como sugestes de incorporao de estilos de vida saudveis (46).

    O educador fsico tem como papel principal a implantao da prtica regular

    de atividades fsicas entre os pacientes, determinando a frequncia, durao e

    intensidade de cada sesso de exerccios. A implantao de um programa de

    treinamento especfico resulta aos hipertensos inmeros benefcios como reduo

    da gordura total, melhora do perfil lipdico e aumento da capacidade respiratria e,

    consequentemente, reduo da presso arterial sistlica e diastlica (47-51).

    Assim como a educao fsica, a fisioterapia tambm tem participao

    concreta e efetiva no combate doena em questo. Como ressalta Borges et al.

    (52), o fisioterapeuta um membro da equipe de sade com slida formao

  • 24

    cientfica, que atua desenvolvendo aes de preveno, avaliao, tratamento e

    reabilitao de complicaes crnicas. Utilizando de programas de orientaes e

    promoo da sade, alm de agentes fsicos como o movimento, gua, calor, frio e

    eletricidade, a fisioterapia no possui apenas funo reparadora, mas tambm pode

    contribuir de maneira resolutiva na sade funcional de cada paciente.

    Dentre os benefcios propiciados por esse profissional aos hipertensos esto

    o incentivo prtica orientada de atividades fsicas, com consequente reduo dos

    nveis pressricos, atenuao de queixas de dores msculo articulares, melhor

    esclarecimento sobre a patologia, suas consequncias e riscos, alm de reduo

    e/ou minimizao dos efeitos deletrios causados pela hipertenso (53).

    Assim como se faz eficaz a incluso e integrao de educadores fsicos e

    fisioterapeutas ao corpo de profissionais que atuam no tratamento do paciente

    hipertenso, a incorporao do nutricionista tambm relevante. Mudanas nos

    hbitos alimentares e manuteno da composio corporal dentro dos parmetros

    de normalidade so essenciais para controlar e/ou reduzir os nveis pressricos.

    Estudos recentes tm mostrado que indicadores de estado nutricional elevados,

    como ndice de massa corporal (IMC), so positivamente associados ocorrncia de

    HAS, assim como valores elevados de colesterol total, glicemia de jejum e as altas

    prevalncias de hipercolesterolemia e hiperglicemia caracterizam uma populao de

    risco cardiovascular aumentado (54,55).

    No entanto, como afirma Cardoso (56), a conquista da maior adeso ao

    tratamento da HAS, e consequente atenuao de suas complicaes, depende do

    trabalho de pessoas capacitadas que conheam os fatores condicionantes e

    determinantes do processo sade/doena, resultando assim a compreenso de que

    a promoo de sade resultante da articulao de profissionais conhecedores da

  • 25

    realidade do sistema de sade vigente e suas necessidades. Complementarmente

    preciso ter clareza de que apenas a insero destes profissionais nos servios de

    ateno bsica sade ainda no suficiente. Faz-se necessrio, tambm, que

    exista integrao concreta dos profissionais, para que se possa realizar uma

    interveno articulada onde as competncias individuais sejam colocadas servio

    de um mesmo objetivo teraputico.

    2.4 Atividade fsica e hipertenso arterial

    De acordo com o Physical Activity Guidelines for Americans (57) um adulto

    ativo deve acumular pelo menos 150 minutos de atividade fsica aerbia por

    semana, em intensidade moderada, para obter benefcios substanciais sade. De

    acordo com o referido documento para ganhos adicionais, preconiza-se que esse

    montante alcance os 300 minutos semanais.

    Entretanto, para uma populao de risco, como os hipertensos, existem

    alguns cuidados a serem considerados na prescrio e execuo dos exerccios. O

    ACSM (36) recomenda que esto aptos a iniciar programas de exerccios fsicos

    regulares somente aqueles que foram previamente submetidos avaliao mdica.

    Aps esta etapa, so indicados exerccios de intensidade leve a moderada, de trs a

    seis vezes por semana, e com durao de 30 a 60 minutos, realizados entre 60% e

    80% da frequncia cardaca mxima ou 50% e 70% do consumo mximo de

    oxignio.

    Para avaliar os efeitos do exerccio fsico sobre o controle e tratamento da

    doena, alm de verificar a efetividade dos diferentes tipos de treinamento (aerbio,

    resistido ou a combinao de ambos), as duraes dos programas e o impacto da

  • 26

    prtica regular de atividades fsicas nas populaes acometidas pela HAS, vrios

    ensaios clnicos tm sido publicados (58-63).

    Nesta direo, pesquisas epidemiolgicas tm encontrado menor prevalncia

    e incidncia de HAS e demais morbidades ligadas ao aparelho cardiovascular entre

    indivduos com maiores nveis de atividade fsica diria (64-65).

    Como efeito agudo aps uma sesso de exerccios fsicos aerbios,

    significantemente observado o fenmeno da hipotenso ps exerccio em indivduos

    hipertensos durante os perodos de viglia, que geralmente so associados a altos

    nveis de estresse e PA aumentada. Diferentes investigaes acusam redues na

    PA que variaram de 2 a 12 mmHg e duraram de quatro a dezesseis horas, de

    acordo com caractersticas do exerccio ou da populao (66-72). Concomitantemente,

    estudos longitudinais tambm tm reportado diminuio dos ndices da PA

    ambulatorial aps o treinamento aerbio, ou seja, seus efeitos crnicos (57,64).

    Sobre este assunto, Fagard (73) encontrou associao do treinamento com

    redues de 3,3 e 3,5 mmHg nas presses sistlica e diastlica, respectivamente.

    Estudo longitudinal realizado no Japo analisou a relao entre o tempo gasto com

    locomoo para o trabalho e incidncia de HAS. Os resultados da pesquisa

    realizada com 6104 homens com idade superior a 35 anos encontraram relao

    inversa entre atividade fsica de lazer e hipertenso e, efeito protetor da caminhada

    com durao acima de 21 minutos. Os dados apontaram reduo de 12% no risco

    para HAS com o acrscimo de 10 minutos no tempo da caminhada diria ao trabalho

    (74).

    Associando prtica de exerccios e estado nutricional, Schwartz et al. (75)

    afirmam que indivduos classificados como fisicamente ativos pela quantidade de

    passos dirios e com IMC normal, comparados com obesos inativos, tm valores

  • 27

    estatisticamente menores de PAS (138,8 vs 123,9 mmHg) e PAD (81,5 vs 75,7

    mmHg). No Brasil, Amer, Marcon e Santana (76) observaram que indivduos com

    sobrepeso ou obesidade, inativos, do sexo feminino, e com relao cintura quadril

    alterada portavam, geralmente, algum problema de sade crnico, sendo o mais

    frequente a HAS.

    Molmen-Hansen et al. (77) compararam duas intensidades de treinamento

    entre hipertensos e observaram maiores redues na PAS e PAD, assim como

    maior incremento no consumo mximo de oxignio, aumento de dilatao mediada

    pelo fluxo sanguneo e reduo da resistncia perifrica total no grupo que treinou a

    85-90% do VO2 mximo, quando comparados ao de 60% VO2 mximo.

    Apesar das evidncias, esforos tm sido envidados no sentido de encontrar

    quantidade adequada de atividades fsicas necessrias para que diferentes

    populaes hipertensas possam se manter longe do acometimento por patologias

    associadas doena, bem como propiciar-lhes melhor qualidade de vida.

    2.5 Mecanismos fisiolgicos de controle da PA pelo exerccio fsico

    A busca por uma explicao para o efeito hipotensor do exerccio sobre a PA

    de indivduos hipertensos tem motivado inmeras pesquisas nas ltimas dcadas

    (59,63,67,69), e os mecanismos que norteiam a queda pressrica ps treinamento fsico

    esto relacionados a fatores hemodinmicos, humorais e neurais (10,39,40).

    A manuteno dos nveis pressricos dentro de uma faixa de normalidade

    deriva de variaes do dbito cardaco ou da resistncia perifrica ou de ambos os

    fatores. Diferentes mecanismos de controle esto envolvidos, no s na

    manuteno, como tambm na variao momento a momento da presso arterial,

  • 28

    regulando o calibre e a reatividade vascular, a distribuio de fluido dentro e fora dos

    vasos e o dbito cardaco (78).

    Em hipertensos idosos, Brando et al. (79) mostraram que a reduo da PA

    aps o exerccio fsico pode ocorrer a partir da diminuio do dbito cardaco, j que

    a resistncia vascular perifrica no era modificada nesses pacientes. Alm disso,

    observaram que a diminuio no dbito cardaco foi provocada pela reduo no

    volume sistlico em funo do menor enchimento ventricular, pois tanto a funo

    sistlica quanto a diastlica no estavam alteradas no momento ps exerccio se

    comparado ao inicial.

    Entretanto, em adultos hipertensos o mecanismo responsvel pela reduo

    da PA ps exerccio parece se associar menor resistncia vascular perifrica (80).

    Rueckert et al. (81) observaram que, logo aps a interrupo do exerccio ocorreu

    diminuio da resistncia vascular perifrica e, posteriormente, aps 50 minutos do

    fim do exerccio, ainda registraram dbito cardaco diminudo. Esses dados nos

    permitem inferir que existem diferenas entre os mecanismos responsveis pela

    hipotenso aguda ps exerccio para hipertensos adultos e idosos.

    Por outro lado, no se pode deixar de citar a influncia de fatores neurais,

    humorais e endoteliais nas alteraes dos nveis pressricos em indivduos

    hipertensos aps uma nica sesso de exerccio fsico aerbio (82-86).

    Embora a fisiopatologia da HAS no seja totalmente esclarecida, evidncias

    afirmam que a hiperativao do sistema nervoso simptico contribui efetivamente

    com a instalao e progresso da doena (87). Com a atividade nervosa simptica e

    a liberao de noradrenalina h aumento no dbito cardaco e aumento na

    resistncia vascular perifrica. Dessa maneira, uma possvel diminuio do tnus

  • 29

    simptico para o corao e os vasos poderia estar associada reduo dos nveis

    de PA (88).

    Reforando esta assertiva, Gava et al. (89) em estudo realizado com ratos

    espontaneamente hipertensos mostraram que a reduo da PA, aps um perodo de

    exerccio fsico aerbio, era devida reduo no dbito cardaco. Esta, por sua vez,

    estava relacionada menor freqncia cardaca, juntamente com a diminuio no

    tnus simptico sobre o corao.

    Com relao a hiperatividade simptica, estudo recente realizado por Laterza

    et al. (90) demonstrou que esse fator foi normalizado em pacientes hipertensos aps

    quatro meses de treinamento fsico aerbio, sendo que essa reduo da atividade

    nervosa simptica muscular no foi observada nos pacientes hipertensos que

    permaneceram sedentrios pelo mesmo perodo.

    Entretanto, o mecanismo responsvel pela diminuio da atividade nervosa

    simptica aps o treinamento fsico em hipertensos no inteiramente esclarecido.

    Estudo experimental desenvolvido por Liu et al. (91), utilizando coelhos com

    insuficincia cardaca, demonstrou que aps um perodo de treinamento fsico havia

    melhora na sensibilidade quimiorreflexa perifrica, associada reduo da atividade

    nervosa simptica. Em humanos, alguns autores demonstraram que a sensibilidade

    dos quimiorreceptores perifricos est aumentada em pacientes com HAS (92-94).

    Essa alterao representa um estmulo excitatrio crnico ao sistema nervoso

    simptico de pacientes hipertensos (93), alm de que, durante uma situao de

    hiperxia, quando os quimiorreceptores perifricos so desativados, ocorre

    acentuada reduo da PA desses pacientes, sugerindo que a sensibilidade

    quimiorreflexa aumentada pode, tambm, ser um dos mecanismos fisiopatolgicos

    da HAS.

  • 30

    Outras evidncias sugerem ainda que a diminuio nos nveis centrais de

    angiotensina II (mediador excitatrio simptico) e o aumento central da expresso da

    isoforma neuronal de xido ntrico (mediador inibitrio simptico) promovem a

    reduo da atividade nervosa simptica renal observada aps o treinamento fsico

    em modelos experimentais (91).

    Com relao ao xido ntrico, Zago e Zanesco (95) afirmam que a ao

    benfica do xido ntrico sobre a PA marcante, visto que o exerccio fsico

    ferramenta importante para manter e/ou restaurar a integridade endotelial que

    crucial para a produo dessa substncia. Dessa maneira, com o treinamento fsico

    pode haver reduo da resistncia vascular perifrica, diminuio dos nveis de

    colesterol LDL e inibio da agregao plaquetria, podendo gerar melhora nos

    nveis pressricos e, consequentemente, menor ocorrncia de HAS.

    Outra importante adaptao provocada pelo treinamento fsico a melhora da

    sensibilidade barorreflexa arterial nos indivduos hipertensos (90,96). Laterza et al. (90)

    demonstraram que o controle barorreflexo da atividade nervosa simptica muscular

    e da freqncia cardaca diminuiu nos pacientes hipertensos aps um perodo de 4

    meses de treinamento fsico aerbio. Observaram que o controle barorreflexo foi

    restaurado tanto na ativao quanto na desativao dos pressorreceptores arteriais.

    Constataram, ainda, que a melhora da sensibilidade barorreflexa da atividade

    nervosa simptica muscular apresenta correlao positiva com a diminuio dos

    nveis pressricos nos hipertensos treinados aps o exerccio fsico.

    Com isso, pode-se inferir que a prtica regular de exerccio fsico provoca

    inmeras adaptaes que melhoram, de forma significativa, o funcionamento do

    sistema cardiovascular e, adicionalmente, apresenta implicaes clnicas

    importantes, uma vez que pode prevenir ou at mesmo tratar a HAS (90).

  • 31

    2.6 Tracking de atividades fsicas

    O tracking de atividades fsicas uma expresso que reflete a tendncia dos

    indivduos em manter sua posio dentro de um grupo por um longo perodo,

    utilizando-se de dados longitudinais de pelo menos dois pontos da vida e, com isso,

    estabelece inmeras correlaes (11,12).

    O tracking surgiu porque vem crescendo o interesse sobre a prtica de

    atividades fsicas na infncia, adolescncia e idade adulta para se avaliar os

    benefcios agudos e crnicos para cada um desses perodos, tais como sade

    msculo esqueltica, controle pressrico e glicmico, diminuio de sintomas

    depressivos e mortalidade global (97,98).

    Em contrapartida, atualmente os baixos nveis de atividade fsica so alvo de

    grande preocupao em mbito global, particularmente porque estudos recentes

    revelam que a prtica de exerccios entre crianas e adolescentes est em

    constante declnio, os quais tendem a se tornar mais sedentrios com o avano da

    idade, passando a ocupar mais tempo com comportamentos hipocinticos (99-102).

    Na maioria dos pases, a classe econmica influencia diretamente a prtica

    de exerccios, sendo os adolescentes de famlias mais pobres menos ativos

    (103,104). Na Inglaterra, por exemplo, no h diferena social nos nveis de atividade

    fsica entre crianas mais jovens, excluindo a faixa etria dos 11 12 anos, onde

    esta associao se manifesta (105).

    Kjnniksen, Torshein e Wold (106), ao demonstrarem que as trajetrias da

    prtica de atividades fsicas no lazer variam consideravelmente dos 15 aos 23 anos,

    revelaram que ser ativo na idade adulta mais constante entre aqueles que tiveram

    prtica variada e simultnea de exerccios na adolescncia, independente de seu

  • 32

    tipo especfico, sugerindo que adolescentes inativos, especialmente meninos,

    continuam a ser inativos na idade adulta.

    Basterfield et al. (107), em estudo longitudinal, avaliaram o declnio nos nveis

    de atividade fsica de crianas, assim como sua natureza, tempo e extenso das

    mudanas de comportamento antes da adolescncia. Encontraram reduo

    significante no volume dirio de atividade fsica e aumento expressivo no tempo

    gasto com comportamento sedentrio, principalmente entre as meninas. Ainda,

    Gordon-Larsen, Nelson e Popkin (13) verificaram que a maioria dos adolescentes no

    acumula cinco ou mais sesses de atividade fsica moderada ou vigorosa por

    semana, e concluem que isso continuar a acontecer na vida adulta.

    Confirmando essa tendncia, Yang et al. (14) observaram que histrico de

    atividades fsicas significantemente relacionado obesidade abdominal em

    homens e mulheres, e sugerem que mudanas nos padres de exerccios fsicos

    executados no decorrer dos anos podem ser uma importante via para preveno da

    obesidade na vida adulta.

    Desse modo, como consequncia de inmeros fatores de risco, entre eles o

    acmulo de anos com condutas comportamentais no saudveis, aumenta a

    suscetibilidade do indivduo a ser acometido por doenas crnicas, principalmente

    cardiovasculares.

    Reichert et al. (108), ao associarem prtica de atividades fsicas na

    adolescncia com incidncia de doenas na fase adulta, no encontraram

    evidncias para assegurar a existncia de associao entre a prtica de atividades

    fsicas ao longo da vida com a ocorrncia de HAS na idade adulta. Entretanto,

    Fernandes, Sponton e Zanesco (109), em pesquisa que envolveu a populao de trs

    cidades paulistas observaram que atividades fsicas realizadas na infncia e

  • 33

    adolescncia esto diretamente associadas com menor ocorrncia de dislipidemia

    na idade adulta, independente da composio corporal.

    Tratando-se agora da HAS, pesquisas sobre o curso da presso arterial da

    infncia para a idade adulta encontraram que nveis pressricos alterados em

    crianas tendem a permanecer em adultos, salientando a importncia de

    intervenes precoces (110-115).

    Observando associao entre os diferentes tipos de atividade fsica e risco

    cardiovascular em indivduos hipertensos por 19,9 anos, Hu et al. (116) verificaram

    que indivduos que mantiveram nveis moderados ou intensos de atividade fsica

    ocupacional ou de lazer tiveram menores taxas de mortalidade por doenas

    cardiovasculares (independente do sexo), e concluram, adicionalmente, que

    caminhar ou andar de bicicleta para ir ao trabalho tambm diminuiu a mortalidade

    entre as mulheres.

    De acordo com essas evidncias, realizar mudanas apropriadas no estilo de

    vida e seguir corretamente prescries medicamentosas, quando necessrio,

    possibilita ganhar anos extras de vida, como mostraram Grover et al. (115). Nesse

    estudo, parar de fumar aumentou a expectativa de vida em 2,2 a 4,7 anos, praticar

    exerccios regularmente, 0,7 a 1,1 anos, assim como acresceram os anos de vida

    livre de doenas cardiovasculares, como HAS e dislipidemia.

  • 34

    3 MATERIAIS E MTODO

    3.1 Natureza do estudo, populao e amostra

    Os pacientes tiveram seus pronturios clnicos analisados, retroagindo um

    ano a partir da data em que os dados foram coletados. Tratou-se, portanto, de um

    estudo transversal com componente retro-analtico (117).

    Segundo Kilsztajn et al. (118) 40% da populao do Estado de So Paulo

    usuria de algum plano de sade, enquanto os demais (60%) esto cobertos apenas

    pelo SUS. Assim, considerando esses 60% da populao, um erro amostral de 3,8%

    (arbitrrio, pois, no h outros estudos similares), significncia de 5% (z=1,96 por

    utilizar um IC95%) e um efeito de design tambm de 50%, a amostra total a ser

    avaliada foi estimada em 960 sujeitos (mnimo de 192 em cada posto de sade).

    Como critrios bsicos de incluso no estudo foram adotados: i) cadastro de

    no mnimo um ano na UBS; ii) no possuir restrio mdica prtica de atividades

    fsicas; iii) idade igual ou superior a 50 anos; e, iv) ter assinado o termo de

    consentimento livre e esclarecido.

    A partir das consideraes anteriores, o trabalho foi realizado junto s cinco

    maiores Unidades Bsicas de Sade de cada regio da cidade de Bauru/SP, como

    indicado na figura 1.

  • 35

    Fonte: http://maps.google.com.br/maps

    Figura 1. Localizao das Unidades Bsicas de Sade envolvidas no estudo.

    Notas: (A) Regio Oeste: Ncleo de Sade Geisel - Newton Bohin Ribeiro; (B)

    Regio Central: Ncleo de Sade Cardia - Dr. Antnio Azevedo; (C) Regio Sul:

    Ncleo de Sade Europa - Dr. Jernimo Decunto Jnior; (D) Regio Norte: Ncleo

    de Sade Gasparini - Dra. Vila de Arajo Leo; (E) Regio Leste: Ncleo de Sade

    Nova Esperana - Dr. Luiz Castilho.

    3.2 Aspectos ticos da pesquisa

    Antes da aplicao dos questionrios e inquritos (Atividade Fsica Prvia,

    Atividade Fsica Habitual e Presena de Doenas / Histrico Familiar) cada paciente

    recebeu informaes detalhadas sobre a pesquisa e foi convidado a assinar o termo

    de consentimento livre e esclarecido, autorizando a utilizao das informaes dos

    questionrios e de seu pronturio clnico para fins cientficos, assegurando-lhes o

    sigilo e a preservao da identidade (ANEXO A).

    http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl
  • 36

    O presente projeto foi submetido e aprovado pelo Comit de tica em

    Pesquisa da Faculdade de Cincias da UNESP Campus de Bauru (Processo n.

    1047/46/01/10 ANEXO B), e pela Comisso de tica da Secretaria Municipal de

    Sade de Bauru/SP (ANEXO C), sendo este um procedimento padro j adotado em

    inmeras outras pesquisas realizadas pelo Laboratrio de Avaliao e Prescrio de

    Exerccios (LAPE), UNESP Campus de Bauru.

    3.3 Variveis do estudo

    - Determinao da doena hipertensiva

    Para considerar um paciente hipertenso foram adotados dois procedimentos

    saber: i) ter informado ser portador da doena no momento de responder ao

    questionrio de histrico de doenas; ii) confirmao da informao referida junto ao

    pronturio clnico. Foram considerados hipertensos somente aqueles cujo

    diagnstico da doena tenha sido registrado pelo mdico.

    - Prtica de Atividades Esportivas Prvias (Infncia e Adolescncia)

    Para efeito de estudo, considerou-se fisicamente ativo durante a infncia (7-

    10 anos) e a adolescncia (11-17 anos) o indivduo que respondeu positivamente a

    duas perguntas:

    1- Entre os 7 e 10 anos, fora da escola, voc esteve engajado em alguma

    atividade esportiva supervisionada, por no mnimo um ano ininterrupto? e,

    2- Entre os 11 e 17 anos, fora da escola, voc esteve engajado em alguma

    atividade esportiva supervisionada, por no mnimo um ano ininterrupto? (ANEXO

    D).

  • 37

    Com base nessas informaes, criou-se uma varivel com trs categorias: (i)

    resposta no para ambas as perguntas; (ii) resposta sim para apenas umas das

    duas perguntas; (iii) resposta sim para ambas as perguntas (109).

    Em seguida, a amostra foi subdividida em quatro grupos de acordo com os

    perodos da vida em que reportaram a prtica de atividades fsicas, como segue:

    1. Nenhum perodo (persistentemente sedentrio);

    2. Apenas um perodo;

    3. Apenas dois perodos; e,

    4. Infncia, adolescncia e idade adulta (persistentemente ativo - presena do

    tracking da atividade fsica).

    - Atividade Fsica Atual

    Por meio de entrevista dirigida, as informaes referentes prtica habitual

    de atividades fsicas (AF) foram levantadas com a utilizao do questionrio de

    Baecke et al. (119), o qual subdividido em trs domnios diferentes de atividade

    fsica, como segue: i) ocupacionais; ii) esportivas e de lazer; e iii) locomoo. O

    instrumento em questo foi validado para a populao brasileira por Florindo e

    Latorre (120) (ANEXO E).

    Atravs da aplicao do questionrio foi possvel identificar o nvel de cada

    domnio da atividade fsica, e a soma dos escores de cada seo representa o

    escore total, ou seja, atividade fsica habitual (AFH). Para classificao da AFH

    utilizou-se o clculo proposto no questionrio original (119).

    Em seguida, a amostra foi subdividida em quartis de acordo com o escore

    total fornecido pelo instrumento (121), sendo os indivduos que possuram escores

    situados no quartil inferior (1) classificados como sedentrios; nos quartis

  • 38

    intermedirios (2 e 3) como moderadamente ativo e no quartil superior (4) como

    ativo.

    - Presena de doenas e histrico familiar

    Para detectar a presena de doenas e o histrico familiar foram feitas

    entrevistas utilizado um inqurito de morbidades referidas, baseado no questionrio

    original do Standard Health Questionnaire for Washington State (12). Trata-se de

    inqurito fechado, auto-explicativo, que aborda a presena/ausncia de doenas

    crnicas.

    O questionrio contm informaes sobre: i) h quanto tempo a doena foi

    diagnosticada; ii) se o indivduo j foi operado; iii) se faz uso de medicamentos; iv)

    se os familiares de primeiro grau (pai, me e irmos) dos entrevistados tambm

    foram acometidos por essas doenas. Informaes adicionais sobre a presena ou

    no de doena, bem como a ocorrncia da mesma em qualquer membro de primeiro

    grau da famlia tambm foram registradas.

    - Estado Nutricional

    Aferido a partir do ndice de massa corprea (IMC), foi calculado atravs da

    utilizao dos valores de massa corporal e estatura (Kg/m2) de acordo protocolo

    proposto por Lohman et al. (123). A presena de sobrepeso foi diagnosticada quando

    o IMC apresentou valor igual ou superior a 25Kg/m2 e 30Kg/m2 para obesidade (124).

    - Risco Coronariano

    O risco coronariano foi obtido por meio de questionrio desenvolvido pela

    American Heart Association (125) (ANEXO F). Os valores de circunferncia de cintura

    (CC) tambm foram utilizados como indicador de risco coronariano e foram

  • 39

    coletados seguindo o protocolo proposto por Lohman et al. (123). Os pontos de corte

    1,20m para homens e 0,88m para mulheres foram utilizados para determinar CC

    elevada (126).

    - Poder Aquisitivo

    Para determinao do poder aquisitivo utilizou-se um questionrio (ANEXO G)

    desenvolvido pela Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa (127), no qual a

    subdiviso se d de A (mais alto) at E (mais baixo) (Quadro 2). Para classificao

    dos pacientes em grupos por poder aquisitivo adotou-se: classes A1, A2, B1 e B2

    como classe alta, C1 e C2 como classe mdia e classes D e E como classe baixa.

    Quadro 2. Classificao econmica de classes por renda e pontuao

    Classe Pontuao Renda mdia familiar (R$)

    A1 42 46 14.366

    A2 35 41 8.099

    B1 29 34 4.558

    B2 23 28 2.327

    C1 18 22 1.391

    C2 14 17 933

    D 8 13 618

    E 0 7 403

    Fonte: Associao Brasileira de Empresas e Pesquisa, 2010.

    - Tabagismo

    Foi avaliado por meio do questionrio de risco coronariano desenvolvido pela

    American Heart Association (125). Dentro do presente questionrio encontra-se uma

    questo que aborda a presena do hbito de fumar e a quantidade de cigarros

    consumida por dia (ANEXO F).

  • 40

    - Escolaridade

    Foi avaliado por meio do questionrio de Critrio de Classificao Econmica

    desenvolvido pela Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa (127). No presente

    instrumento encontra-se uma questo que aborda o nvel de instruo do chefe da

    famlia. Caso o paciente no se enquadrasse nessa condio, complementarmente

    era formulada uma pergunta referente ao seu grau de instruo.

    - Consumo de medicamentos

    O consumo de medicamentos foi avaliado por meio do questionrio de

    morbidades auto-referidas e pronturio clnico. No questionrio encontra-se uma

    pergunta que verifica se o paciente hipertenso faz ou no uso de medicao

    antihipertensiva e no pronturio h informaes sobre o tipo e a quantidade de

    frmacos utilizada nos ltimos doze meses data da entrevista.

    - Medida da Presso Arterial

    Aps responder os questionrios o paciente se encaminhou para a avaliao

    fsica onde teve sua PA aferida de acordo com os procedimentos recomendados

    pela VI DBHA (3).

  • 41

    3.4 Procedimentos de Campo

    Inicialmente foi realizada uma reunio com os responsveis de vrios

    departamentos da secretaria de sade, onde o projeto foi apresentado, todas as

    dvidas respondidas e cpias entregues, tanto do projeto como do comit de tica

    em pesquisa para que os responsveis realizassem reunio de rotina onde o

    processo foi avaliado pelo comit de tica interno da referida secretaria. Somente

    aps receber o parecer favorvel da instituio que se iniciaram os contatos em

    cada uma das unidades bsicas selecionadas, em comum acordo, pelos

    coordenadores do projeto e da secretaria de sade.

    Aps contato com responsvel pela UBS para esclarecimento dos

    procedimentos, foram analisadas agendas de consultas mdicas para identificar

    pacientes que realizaram pelo menos um atendimento nos ltimos seis meses e que

    atendessem aos critrios de incluso descritos neste captulo.

    Confirmados os dados nos respectivos pronturios clnicos, foi elaborada

    listagem, atravs do software estatstico SPSS verso 13.0, contendo os respectivos

    nmeros de pronturio de cada paciente e aps esse procedimento, foi ento

    realizado sorteio aleatrio dos pronturios contidos na planilha, onde se procurou

    obter aproximadamente 400 nomes.

    Posteriormente ao sorteio dos pronturios, foram realizadas as ligaes para

    cada um dos pacientes selecionados, ocasio em que foram realizados os

    esclarecimentos sobre a pesquisa e formulado o convite para participao no

    estudo. Se aceito, o indivduo era agendado para uma consulta.

    Durante contato com o paciente na consulta, foram efetuadas entrevistas

    sobre: a) anamnese - com informaes de carter geral e sobre prescrio de

    tratamento; b) risco coronariano; c) poder aquisitivo; d) atividade fsica habitual e

  • 42

    prvia; e) histrico de doenas; e, f) presena de leses msculo esquelticas.

    Concluda a entrevista foram realizadas as medidas de peso, estatura,

    circunferncia de cintura, circunferncia de quadril e presso arterial.

    Encerrada a consulta, o passo subseqente foi levantar as informaes

    contidas nos pronturios clnicos. Os dados foram inseridos em planilhas

    computacionais.

    Para computar os dados foi utilizado um formulrio para registro de

    ocorrncias dos doze meses que antecederam a referida consulta. Foram

    registrados os dados de: i) nmero de consultas mdicas e de enfermagem,

    nutricional, entre outras; ii) exames laboratoriais solicitados durante as consultas

    mdicas, visando conhecer a demanda, bem como a condio clnica dos pacientes

    avaliados; iii) medicamentos distribudos pela UBS registrados atravs das consultas

    de enfermagem, tanto para o tratamento da HAS como de outras molstias; iv)

    ocorrncias de comorbidades registradas pelos mdicos; v) outros procedimentos

    que resultaram em agendamento do paciente pela UBS (consultas com nutricionista,

    enfermagem, dentista, ginecologista e encaminhamento para especialidades)

    (Figura 2).

    A forma de obteno de informaes a partir de pronturios clnicos j foi

    objeto de outras pesquisas realizadas pelo Laboratrio de Avaliao e Prescrio de

    Exerccio (LAPE) (6,121,128-130). Vale mencionar que, para a execuo do trabalho,

    contou-se com a colaborao do corpo mdico e de enfermagem das UBS para

    disponibilizao dos pronturios e esclarecimento de possveis dvidas sobre os

    procedimentos de rotina, leitura e interpretao das informaes contidas nos

    pronturios clnicos.

  • 43

    Figura 2. Sequncia das etapas de trabalho realizadas durante a pesquisa.

    3.5 Anlise estatstica

    Os dados foram organizados de forma e permitir o tratamento de dados

    categricos, de tal forma que os resultados so apresentados sob a forma de

    freqncia relativa (%). O teste qui quadrado (com correo de Yates para tabelas

    2x2, quando necessrio) e a regresso logstica foram empregados para indicar a

    presena e a magnitude das associaes, respectivamente. Um modelo multivariado

    foi criado para a regresso logstica, onde as variveis independentes que

    apresentaram valores de significncia de at 20% no modelo univariado (teste qui

    quadrado) com a varivel dependente foram inseridas como fatores de confuso na

    anlise principal (atividade fsica atual/ tracking da atividade fsica/ histrico familiar

  • 44

    e presena de HAS). Este modelo multivariado produziu valores ajustados de odds

    ratio (OR), bem como intervalos de confiana de 95% (IC95%). O software

    estatstico SPSS verso 13.0 foi utilizado para efetuar a anlise dos dados e a

    significncia estatstica foi fixada em p

  • 45

    4 RESULTADOS

    4.1 Caracterizao das Unidades Bsicas de Sade

    A cidade de Bauru possui 343.937 habitantes, densidade demogrfica de

    515,12 habitantes/Km2 e para atender essa populao conta com dezessete

    Unidades Bsicas de Sade distribudas pela cidade (131).

    A caracterizao de cada uma das cinco UBS selecionadas para a pesquisa

    encontra-se descrita na Tabela 1.

    Observou-se grande disparidade entre o nmero de pronturios por

    profissionais de sade entre as UBS, sendo a razo pronturio/profissional da UBS

    da regio leste (1.363 pronturios/profissional) o dobro da observada na UBS da

    regio sul (651 pronturios/profissional).

    Constatou-se, tambm, heterogeneidade na quantidade de pronturios por

    mdico. Mais uma vez a UBS da regio leste apresentou maior valor de razo

    pronturios/mdico (4771 pronturios/mdico), havendo 1,9 vezes mais pronturios

    por mdico se comparado UBS da regio oeste (2528 pronturios/mdico).

    Outro aspecto a se destacar quando considerado o corpo de servidores das

    cinco UBS envolvidas na pesquisa que em nenhuma delas h profissionais de

    educao fsica e/ou de fisioterapia. Esta situao particularmente preocupante

    porque a presena destes profissionais nas UBS poderia contribuir

    significativamente para o sucesso do processo teraputico da populao hipertensa,

    de forma a possibilitar maior eficcia do tratamento da doena e produtividade da

    equipe de sade.

  • 46

    Tabela 1. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) dos profissionais alocados nas Unidades

    Bsicas de Sade e respectivos ndices de servidores por nmero de pronturios ativos.

    Profissional Unidade Bsica de Sade

    A B C D E

    Administrao 2 (8,3) 1 (4,8) 1 (4,8) 2 (10) 3 (8,3)

    Assistente Social 1 (4,2) 1 (4,8) 1 (4,8) 1 (5) 1 (2,8)

    Auxiliar de Dentista 1 (4,2) 1 (4,8) 1 (4,8) 1 (5) 2 (5,6)

    Auxiliar de Enfermagem 6 (25) 6 (28,6) 7 (33,3) 5 (25) 8 (22,2)

    Dentista 2 (8,3) 2 (9,5) 2 (9,5) 2 (10) 4 (11,1)

    Educador Fsico - - - - -

    Enfermeiro (a) 1 (4,2) 1 (4,8) 1 (4,8) 2 (10) 2 (5,6)

    Fisioterapeuta - - - - -

    Limpeza 2 (8,3) 2 (9,5) 1 (4,8) 2 (10) 2 (5,6)

    Mdico 7 (29,2) 6 (28,5) 6 (28,5) 4 (20) 12 (33,3)

    Clnico Geral 3 (12,5) 2 (9,5) 3 (14,3) 2 (10) 4 (11,1)

    Ginecologista 2 (8,3) 2 (9,5) 2 (9,5) 1 (5) 4 (11,1)

    Homeopata 1 (4,2) - - - -

    Pediatra 1 (4,2) 2 (9,5) 1 (4,8) 1 (5) 4 (11,1)

    Nutricionista 1 (4,2) 1 (4,8) 1 (4,8) 1 (5) 1 (8,3)

    Tcnico de Enfermagem 1 (4,2) - - - 1 (8,3)

    Total 24 21 21 20 36

    Pronturios 22.475 19.915 28.628 13.030 30.336

    Razo Pronturios/Servidores 936 948 1363 651 842

    Razo Pronturios/Mdico 3211 3319 4771 3257 2528

    Notas: A: Regio Central (Vila Cardia); B: Regio Norte (Gasparini); C: Regio Leste (Nova

    Esperana; D: Regio Sul (Europa); E: Regio Oeste (Geisel).

    4.2 Descrio da Amostra

    Participaram do estudo 963 pacientes selecionados aleatoriamente de cinco

    unidades bsicas de sade (UBS) da cidade de Bauru/SP, sendo 26,6% do sexo

    masculino (n = 256) e 73,4% do feminino (n = 707). A mdia de idade foi de 659

    anos (50 e 96 anos, limite inferior e superior, respectivamente), o peso mdio de

    7315 Kg e a estatura de 157,48 cm.

  • 47

    No que se refere aos valores de presso arterial sistlica (PAS) e diastlica

    (PAD), as medianas foram de 130 e 80 mmHg, com variaes interquartis de 30 e

    10 mmHg, respectivamente.

    A apresentao dos valores de freqncia absoluta e relativa das variveis

    estudadas segundo UBS de origem encontra-se na Tabela 2.

    Independente da regio de coleta, a classe econmica predominante na

    amostra foi a mdia (classe C), abrangendo 61,8% do total de pacientes avaliados (n

    = 595).

    Considerando a prtica de atividades fsicas ao longo da vida (tracking),

    observou-se que somente 12 indivduos (1,2%) apresentaram comportamento ativo

    na infncia, adolescncia e idade adulta. Ativos em dois perodos da vida somaram

    52 indivduos (5,4%), em apenas um perodo 281 indivduos (29,2%) e sedentrios

    durante toda a vida foram 618 (64,2%).

    Analisando o estado nutricional da populao atravs do IMC constatou-se

    que 37% dos pacientes se encontraram dentro de limites desejveis de peso

    corporal, enquanto os demais eram portadores de sobrepeso (22,4%) ou obesidade

    (40,6%).

    Foi observado predomnio de risco coronariano moderado entre os pacientes

    (53,6%), 42% apresentaram risco baixo e somente 4,4% so ausentes de fatores de

    risco para DCV. No houve pacientes com risco coronariano elevado na amostra.

    Analisando valores de circunferncia de cintura, potencial fator de risco

    coronariano quando alterado, foi encontrado que 70% da amostra apresentaram

    valores de CC fora dos limites desejveis.

  • 48

    Tabela 2. Distribuio de frequncia absoluta e relativa (%) das variveis descritivas segundo

    Unidade Bsica de Sade.

    Variveis Unidade Bsica de Sade

    A B C D E

    N de pacientes 193 (100) 193 (100) 189 (100) 193 (100) 195 (100)

    Poder Aquisitivo

    Baixo 14 (7,3) 50 (25,9) 61 (32,3) 39 (20,2) 42 (21,5)

    Mdio 134 (69,4) 112 (58) 114 (60,3) 114 (59,1) 121 (62,1)

    Alto 45 (23,3) 31 (16,1) 14 (7,4) 40 (20,7) 32 (16,4)

    Atividade Fsica Atual

    Sedentrio 54 (28) 39 (20,2) 45 (23,8) 37 (19,2) 62 (31,8)

    Mod. Ativo 89 (46,1) 106 (54,9) 101 (53,4) 103 (53,3) 87 (44,6)

    Ativo 50 (25,9) 48 (24,9) 43 (22,8) 53 (27,5) 46 (23,6)

    AF na infncia

    Sedentrio 178 (92,2) 177 (91,7) 189 (100) 179 (92,7) 188 (96,4)

    Ativo 15 (7,8) 16 (8,3) - 14 (7,2) 7 (3,6)

    AF na adolescncia

    Sedentrio 165 (85,5) 167 (86,5) 177 (93,7) 157 (81,3) 168 (86,2)

    Ativo 28 (14,5) 26 (13,5) 12 (6,3) 36 (18,7) 27 (13,8)

    Tracking

    Sedentrio 119 (61,7) 127 (65,8) 135 (71,4) 110 (57) 127 (65,1)

    Ativo 1 perodo 58 (30,1) 48 (24,9) 53 (28,1) 65 (33,7) 57 (29,3)

    Ativo 2 perodos 13 (6,7) 12 (6,2) 1 (0,5) 16 (8,3) 10 (5,1)

    Ativo sempre 3 (1,5) 6 (3,1) - 2 (1) 1 (0,5)

    IMC

    Abaixo do peso 3 (1,6) 2 (1) 5 (2,6) 3 (1,6) 3 (1,5)

    Normal 76 (39,4) 63 (32,6) 69 (36,5) 72 (37,3) 60 (30,8)

    Sobrepeso 47 (24,3) 36 (18,7) 50 (26,5) 43 (22,3) 40 (20,5)

    Obesidade 67 (34,7) 92 (47,7) 65 (34,4) 75 (38,8) 92 (47,2)

    Risco Coronariano

    Sem Risco 12 (6,2) 7 (3,6) 7 (3,7) 8 (4,1) 8 (4,1)

    Risco Baixo 79 (40,9) 67 (34,7) 88 (46,6) 82 (42,5) 88 (45,1)

    Risco Moderado 102 (52,9) 119 (61,7) 94 (49,7) 103 (53,4) 99 (50,8)

    Circunferncia de cintura

    Normal 62 (32,1) 51 (26,6) 58 (30,9) 64 (33,2) 52 (26,7)

    Alterada 131 (67,9) 141 (73,4) 130 (69,1) 129 (66,8) 143 (73,3)

    Notas: A: Regio central (Vila Cardia); B: Regio Norte (Gasparini); C: Regio Leste (Nova

    Esperana; D: Regio Sul (Europa); E: Regio Oeste (Geisel); IMC: ndice de Massa Corporal; AF:

    Atividade Fsica.

    4.3 Associao entre hipertenso arterial e indicadores de sade

    A ocorrncia de hipertenso arterial foi observada em 76,8% (n = 740) dos

    pacientes, sendo 80% entre os homens e 75,7% entre as mulheres.

  • 49

    A varivel que apresentou diferena estatstica para o acometimento pela

    HAS foi faixa etria, onde houve maior proporo de indivduos com idade > 65 anos

    (81,1%) comparando-se aos de 50-65 anos (73,4%) (p=0,006). Sexo, tabagismo,

    escolaridade e classe econmica no apresentaram diferenas significativas (Tabela

    3).

    Tabela 3. Distribuio de frequncia absoluta e relativa (%) das variveis descritivas estudadas,

    segundo ausncia ou presena de hipertenso arterial, com respectivos valores de

    significncia do teste de qui quadrado.

    Variveis Hipertenso Arterial

    Ausncia Presena p

    Sexo

    Feminino 51 (19,9) 205 (80,1) 0,152

    Masculino 172 (24,3) 535 (75,7)

    Idade

    50-65 anos 141 (26,6) 390 (73,4) 0,006

    > 65 anos 82 (18,9) 350 (81,1)

    Tabagismo

    Nunca fumou 119 (23,3) 392 (76,7)

    Fumou no passado 67 (20,6) 258 (79,4) 0,456

    Fumante 37 (29,1) 90 (70,9)

    Escolaridade

    At Ensino Fundamental 184 (22,4) 636 (77,6) 0,206

    > Ensino Mdio 39 (27,3) 104 (72,7)

    Poder Aquisitivo

    Baixo 40 (19,4) 166 (80,6)

    Mdio 140 (23,5) 455 (76,5) 0,102

    Alto 43 (26,5) 119 (73,5)

    4.4 Associaes entre hipertenso arterial, estado nutricional e indicador de

    risco coronariano

    As informaes descritivas do estado nutricional da casustica apontaram que

    19,8% dos pacientes so eutrficos, 39,5% tm sobrepeso e 40,6% so obesos.

    Considerando agora um indicador de risco coronariano (circunferncia de cintura),

    70,2% dos pacientes apresentaram valores de CC fora dos padres de normalidade.

  • 50

    As figuras 3 e 4 apresentam as taxas de HAS estratificadas segundo o estado

    nutricional e fator de risco cardiovascular.

    Pode-se observar na Figura 3 aumento significativo do nmero de hipertensos

    em razo direta ao incremento dos valores de IMC (p = 0,001). Em relao aos

    normotensos, a razo observada foi de trs eutrficos para cada obeso.

    Figura 3. Distribuio de freqncia relativa (%) da ocorrncia de hipertenso arterial segundo estado

    nutricional com respectivos valores de significncia para o teste qui quadrado.

    Na Figura 4 observa-se aumento significativo do nmero de hipertensos para

    valores alterados de circunferncia de cintura (p = 0,001).

  • 51

    Figura 4. Distribuio de freqncia relativa (%) da ocorrncia de hipertenso arterial segundo

    circunferncia de cintura (CC) com respectivo valor de significncia para o teste qui quadrado.

    4.5 Associao entre hipertenso arterial e indicadores de sade segundo

    nveis de atividade fsica

    Os dados referentes associao da hipertenso arterial com diferentes

    indicadores de sade segundo nveis de atividade fsica esto descritos na tabela 4.

    Observou-se associao significativa entre ocorrncia de hipertenso arterial e

    sedentarismo, embora no se observe essa mesma diferena estatstica entre

    melhor indicador de estado nutricional (IMC) e indicador de risco coronariano (CC)

    com maior prtica de atividades fsicas e ausncia de hipertenso arterial.

  • 52

    Tabela 4. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) das variveis estudadas segundo

    ausncia ou presena de hipertenso arterial, com respectivos valores de significncia do

    teste de qui quadrado.

    Variveis Hipertenso Arterial

    Ausncia Presena p

    Atividade Fsica e Estado nutricional (IMC)

    Sedentrio Eutrfico 26 (29,5) 62 (70,5)

    Sobrepeso 4 (6,5) 58 (93,5)

    Obeso 10 (11,5) 77 (88,5)

    Mod. Ativo Eutrfico 58 (33,5) 115 (66,5) 0,769

    Sobrepeso 26 (25,2) 77 (74,8)

    Obeso 30 (14,3) 180 (85,7)

    Ativo Eutrfico 38 (40) 57 (60)

    Sobrepeso 17 (33,3) 34 (66,7)

    Obeso 14 (14,9) 80 (85,1)

    Atividade Fsica e Risco Coronariano (CC)

    Sedentrio Normal 23 (26,7) 63 (73,3)

    Alterada 17 (11,3) 134 (88,7)

    Mod. Ativo Normal 39 (33,1) 79 (66,9) 0,008

    Alterada 75 (20,4) 293 (79,6)

    Ativo Normal 32 (38,1) 52 (61,9)

    Alterada 37 (23,7) 119 (76,3)

    Notas: IMC: ndice de Massa Corprea; CC: Circunferncia de Cintura; Mod. Ativo:

    Moderadamente Ativo. Valores de significncia para o teste qui quadrado.

    Para verificar a associao entre hipertenso arterial em diferentes nveis de

    atividade fsica atual foi utilizado o modelo de regresso logstica binria. Os

    resultados apontam que a prtica de atividades fsicas fator de proteo para a

    ocorrncia de hipertenso arterial, mesmo quando os resultados so corrigidos por

    condio nutricional e indicadores de risco coronariano (IMC e CC). Neste caso,

    indivduos ativos apresentaram 52% menos chances de apresentar essa patologia,

    quando comparados aos sedentrios (tabela 5).

  • 53

    Tabela 5. Associao entre hipertenso arterial, nveis de atividade fsica e indicadores de sade

    Nveis de atividade fsica OR (IC95%) p

    Sedentrio 1.00 - -

    Moderadamente Ativo 0.60 0.39-0.90 0,015

    Ativo 0.48 0.30-0.76 0,002

    Notas: Regresso Logstica binria. OR = Odds Ratio; IC95% = Intervalo de Confiana de 95%.

    Dados corrigidos por ndice de massa corporal e circunferncia de cintura. Valores de significncia

    para o teste qui quadrado.

    4.6 Associao entre hipertenso arterial e histrico familiar

    A tabela 6 apresenta associao entre ocorrncia de hipertenso arterial e

    histrico positivo da doena na famlia. Foi constatada forte associao dos fatores

    hereditrios na presena da hipertenso arterial, havendo diferena significativa

    entre hipertensos com pai, me ou ambos progenitores tambm portadores da

    patologia.

    Tabela 6. Distribuio de frequncia absoluta e relativa (%) da ocorrncia de hipertenso arterial,

    segundo histrico familiar, com respectivos valores de significncia do teste de qui

    quadrado.

    Histrico familiar Hipertenso Arterial

    Ausncia Presena p

    Pai

    Normotenso 125 (29,2) 303 (70,8) 0,004

    Hipertenso 59 (19,7) 240 (80,3)

    Me

    Normotensa 111 (29,4) 267 (70,6) 0,001

    Hipertensa 79 (19,3) 330 (80,7)

    Associaes

    Pai e Me normotensos 81 (31,6) 175 (68,4)

    Pai ou Me hipertenso 64 (25,7) 185 (74,3) 0,001

    Pai e Me hipertensos 32 (17) 156 (83)

    Analisando, ainda, a associao entre ocorrncia de hipertenso arterial e

    histrico familiar, os resultados da regresso logstica demonstraram que, quando os

    dados so ajustados por sexo, idade, nveis de atividade fsica, estado nutricional

  • 54

    (IMC) e indicador de risco coronariano (CC), indivduos que possuem pai e me

    hipertensos tm 2,51 (IC: 1,53-4,10) vezes mais chance de desenvolverem a doena

    se comparados indivduos sem histrico de hipertenso na famlia (tabela 7).

    Tabela 7. Associao entre ocorrncia de hipertenso arterial e histrico familiar

    Hipertenso Arterial OR (IC95%) p

    Sem histrico 1.00 - -

    Pai ou Me 1.32 0.87-2.00 0,184

    Pai e Me 2.51 1.53-4.10 0,001

    Notas: Regresso logstica binria. OR = Odds Ratio; IC95% = Intervalo de Confiana de 95%;

    Dados corrigidos por sexo, idade, nveis de atividade fsica, estado nutricional (ndice de massa

    corporal) e indicador de risco coronariano (circunferncia de cintura). Valores de significncia para o

    teste qui quadrado.

    4.7 Associao entre hipertenso arterial e consumo de medicamentos

    segundo nveis de atividade fsica

    Analisando consumo de medicamentos pelos pacientes segundo nveis de

    atividade fsica encontramos diferenas significativas entre os grupos (p = 0,02),

    onde 82,7% dos sedentrios, 75,9% dos moderadamente ativos e 70,8% dos ativos

    esto em tratamento farmacolgico regular para HAS.

    Na tabela 8 so apresentados resultados sobre a associao entre consumo de

    medicamentos para hipertenso arterial e respectivos nveis de atividade fsica. Os

    dados apontam que, independente de histrico familiar, sexo e estado nutricional do

    paciente hipertenso, a maior prtica de atividades fsicas est associada

    significativamente com o menor consumo de medicamentos para hipertenso.

  • 55

    Tabela 8. Associao entre consumo de medicao por hipertensos e nveis de atividade fsica

    Nveis de Atividade Fsica OR (IC95%) p

    Sedentrio 1.00 - -

    Moderadamente ativo 0.76 0.48-1.19 0,243

    Ativo 0.61 0.38-0.98 0,045

    Notas: Regresso logstica binria. OR = Odds Ratio; IC95% = Intervalo de Confiana de 95%.

    Dados corrigidos por histrico familiar, sexo e estado nutricional. Valores de significncia para o teste

    qui quadrado.

    4.8 Associao entre hipertenso arterial e tracking da atividade fsica

    Na tabela 9 apresentada distribuio das frequncias dos nveis de

    atividade fsica em diferentes perodos da vida de acordo com a ocorrncia de

    hipertenso arterial. Foram encontrados baixos ndices de pacientes ativos na

    infncia (5,4%) e adolescncia (13,4%) e no se encontrou diferena estatstica

    significante para a ocorrncia de HAS nesses perodos. Como observado

    anteriormente, para a prtica de atividades fsicas atual houve associao entre

    sedentarismo e ocorrncia HAS (p = 0,002). Considerando o tracking de atividades

    fsicas e hipertenso, no houve associao significativa entre ser ativo em

    algum(ns) perodo(s) da vida e ausncia da doena.

  • 56

    Tabela 9. Distribuio de freqncia absoluta e relativa (%) dos nveis de atividade fsica em

    diferentes perodos da vida segundo ausncia ou presena de hipertenso arterial, com

    respectivos valores de significncia do teste de qui quadrado.

    Nveis de Atividade Fsica Hipertenso Arterial

    Ausncia (%) Presena (%) p

    Atividade Fsica na Infncia

    Sedentrio 215 (23,6) 696 (76,4) 0,172

    Ativo 8 (15,4) 44 (84,6)

    Atividade Fsica na Adolescncia

    Sedentrio 201 (24,1) 633 (75,9) 0,092

    Ativo 22 (17,1) 107 (82,9)

    Atividade Fsica Atual

    Sedentrio 40 (16,9) 197 (83,1)

    Moderadamente Ativo 114 (23,5) 372 (76,5) 0,002

    Ativo 69 (28,7) 171 (71,3)

    Tracking de atividade fsica

    Sedentrio Sempre 134 (21,7) 484 (78,3)

    Ativo 1 perodo 80 (28,5) 201 (71.5) 0,860

    Ativo 2 perodos 8 (15,4) 44 (84,6)

    Ativo Sempre 1 (8,3) 11 (91,7)

    A figura 5 apresenta os valores de freqncia relativa (%) dos hipertensos

    segundo perodos de prtica esportiva prvia (tracking). No foram encontradas

    diferenas estatsticas entre a ocorrncia de hipertenso e sedentarismo no tracking,

    a prtica de atividades fsicas na infncia ou adolescncia ou em ambos os

    perodos.

  • 57

    Figura 5. Distribuio de freqncia relativa (%) da ocorrncia de hipertenso arterial segundo

    perodos do tracking de atividades fsicas com respectivo valor de significncia para o teste

    qui quadrado.

    Ainda analisando tracking de atividade fsica e hipertenso arterial, tambm

    no se observou diferenas estatisticamente significantes entre hipertensos que

    foram sedentrios durante toda a vida ou que praticaram alguma atividade esportiva

    na infncia, adolescncia e/ou idade adulta (Figura 6).

  • 58

    Figura 6. Distribuio de frequncia relativa (%) da ocorrncia de hipertenso arterial segundo

    perodos do tracking de atividades fsicas com respectivo valor de significncia para o

    teste qui quadrado.

  • 59

    5 DISCUSSO

    No presente estudo, observou-se desequilbrio entre nmero de pacientes por

    servidores e mdicos nas UBS avaliadas. A heterogeneidade entre distribuio de

    profissionais da sade por regies presente em todo o pas. NA UBS das regies

    leste e oeste (a pior e a melhor), a proporo de mdicos por pronturio ativo foi de

    0,22/1000 e 0,39/1000, respectivamente. Dados da Pesquisa de Assistncia Mdico

    Sanitria do IBGE (132) mostraram que o nmero de mdicos da regio sudeste o

    dobro da regio norte, mesmo quando os dados so corrigidos pelo nmero de

    habitantes de cada localidade. No sudeste havia 4,3 postos de trabalhos mdicos

    por mil habitantes em 2009 contra 1,9 na regio norte no mesmo ano. Ainda de

    acordo com a pesquisa, a proporo de postos de trabalho mdico no acompanha

    a distribuio populacional. Em 2009, enquanto 23,7% dos brasileiros viviam nas

    capitais, 40,2% dos postos mdicos se localizavam nestes municpios, com uma

    taxa de 5,6 mdicos/1000 habitantes. No interior a proporo diminui para 2,6/1000

    habitantes, confirmando o quadro de desigualdade encontrado em nosso estudo.

    Tambm entre as UBS encontramos diferenas entre os perfis dos pacientes

    de acordo com as variveis estudadas. Essas variaes so provavelmente devidas

    s localizaes dos centros de sade, o que faz com que a populao avaliada

    tenha caractersticas distintas de acordo com a regio geogrfica em que se

    encontra. Por exemplo: a UBS central foi a que apresentou maior predominncia de

    indivduos de classe mdia e alta, enquanto a UBS da regio leste registrou o maior

    nmero de pacientes com poder aquisitivo baixo.

    Para nveis de atividade fsica habitual, a UBS da regio oeste teve maior

    concentrao de indivduos sedentrios ao passo que a UBS da regio sul foi a mais

    ativa. Para o tracking de atividades fsicas, a UBS leste foi a que apresentou maior

  • 60

    porcentagem de indivduos persistentemente sedentrios e a UBS norte foi a que

    agregou maior quantidade de indivduos ativos ao longo da vida.

    Considerando o estado nutricional e o risco coronariano dos pacientes, a UBS

    central apresentou maior nmero de usurios com peso normal e sem risco de

    desenvolver doenas cardiovasculares, enquanto a UBS norte a maior concentrao

    de obesos com risco cardiovascular moderado.

    Um dos principais achados deste estudo foi a elevada taxa de hipertenso

    arterial referida e confirmada nos pronturios clnicos (76,8%).

    Em pesquisa epidemiolgica realizada por inqurito telefnico em 2006, que

    levantou a prevalncia de HAS e diabetes mellitus em todo o pas, obteve resultados

    apontando que o acometimento da populao brasileira com idade igual ou superior

    a 45 anos pela HAS variou de 31% a 52% conforme aumento da idade (20). Na

    mesma tendncia, estudo de prevalncia da doena feito no Rio Grande do Sul

    revelou que 42,2% dos adultos na faixa etria de 50 a 59 anos e de 49,8% naqueles

    com idade entre 60 e 69 anos so hipertensos (2). Em ambos os casos as taxas

    foram inferiores s observadas em nosso estudo.

    As propores que mais se aproximaram s encontradas na presente

    investigao foram as de Cipullo et al. (133), que avaliaram a prevalncia da doena

    e seus fatores de risco em amostra representativa da populao urbana brasileira.

    Em seu estudo, eram hipertensos 45,2% dos adultos de 50 a 59 anos, 65,9%

    daqueles com idade entre 60 e 69 anos e 69,8% dos idosos