trabalhosalvador12423.pdf

8
 RUA 10 CONFORT CONFORT CONFORT CONFORT CONFORT O TÉRMICO EM O TÉRMICO EM O TÉRMICO EM O TÉRMICO EM O TÉRMICO EM SAL SAL SAL SAL SAL  V  V  V  V  V  ADOR  ADOR  ADOR  ADOR  ADOR: O ÍNDICE PET E SUA  ABORDAGEM PROJETUAL  Juss ana Nery (1) Telma Andrade (1,2) T ereza Moura (1) Para estudar essas condições em Salvador foi selecionado o índice de conforto térmico PET – Temperatura Fisiológica Equivalente (ºC), que descreve as condições térmicas do ambiente externo, sendo obtido a partir da equação de balanço térmico do corpo humano em condições de estabilidade. Foi utilizado o ano TRY – Ano Climátic o de Referê ncia , que dispõe de dados climáticos horários provenientes da estação meteorológica do aeroporto da cidade  para o cálculo do índice PET e para as 8.760 horas do ano. Elegeu-se os dias com as médias mais altas e mais baixas de cada mês, comparando-se essas curvas com os limites de conforto estabelecidos deste índice. Constatou-se que existem variações  per cept ívei s da sens ação de conf orto térmico entr e as estações do ano, com picos acentuados no verão e estresse térmico positivo aproximadamente das 10:00 às 16:00 horas durante o ano. INTRODUÇÃO O ser humano sempre procurou adaptar o meio ambiente às suas necessidades. Por outro o lado a diversidade climática existente no planeta não oferece as condições ideais. Conhecer o grau de afastamento dessas condições climáticas em relação ao conforto térmico, permite ao projetista e planejador criar ambiente s urbanos e edificados mais favoráveis à saúde, ao bem-estar e ao desenvolvimento das atividades humanas, buscando uma melhor qualidade de vida. Os meios para condicionar o clima são a própria arquitetura e o desenho das cidades. Nos países de climas mais rigorosos, o condicionam ento climático, sendo uma questão de sobrevivência, é bastante estudado e desenvolvido. Em climas tropicais, o condicionamento climático é, aparentemente menos importante,  justif icando -se pelo menor estre sse térmico. Entretanto questiona-se a vinculação da percepção térmica com o grau de desenvolvime nto econômico, o qual implica em outras prioridades. Apesar desta precariedade, estudos na área da medicina do trabalho mostram que trabalhadores de ambientes com estresse térmico positivo, como operários da indústria siderúrgica, cozinheiros, motoristas e vendedores ambulantes, apresentam um índice nove vezes maior de contrair pedra nos rins. Sabe-se que mesmo as condições menos extremas de desconforto térmico também interferem na saúde, bem-estar e produtividade dos indivíduos. Assim como nos trópicos, o menor estresse térmico referido é bastante significativo, principalmente para os pedestres, cujos deslocamentos correspondem a 30 % do número de viagens realizadas em grandes cidades, nos horários de pic o (V ASCONCELOS apud ROCHA, 2003). (1) Laboratório de Conforto Ambiental da Universidade Federal da Bahia  (2) Laboratório de Energia e Gás da Universidade Federal da Bahia

Upload: ednaldo-tavares

Post on 08-Oct-2015

222 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Clima

TRANSCRIPT

  • RUA 10

    CONFORTCONFORTCONFORTCONFORTCONFORTO TRMICO EMO TRMICO EMO TRMICO EMO TRMICO EMO TRMICO EMSALSALSALSALSALVVVVVADORADORADORADORADOR: O NDICE PET E SUA

    ABORDAGEM PROJETUALJussana Nery(1)

    Telma Andrade(1,2)

    Tereza Moura(1)

    Para estudar essas condies em Salvador foiselecionado o ndice de conforto trmico PET Temperatura Fisiolgica Equivalente (C), quedescreve as condies trmicas do ambiente externo,sendo obtido a partir da equao de balano trmicodo corpo humano em condies de estabilidade. Foiutilizado o ano TRY Ano Climtico de Referncia,que dispe de dados climticos horrios provenientesda estao meteorolgica do aeroporto da cidadepara o clculo do ndice PET e para as 8.760 horasdo ano. Elegeu-se os dias com as mdias mais altas emais baixas de cada ms, comparando-se essascurvas com os limites de conforto estabelecidos destendice. Constatou-se que existem variaesperceptveis da sensao de conforto trmico entre asestaes do ano, com picos acentuados no vero eestresse trmico positivo aproximadamente das 10:00s 16:00 horas durante o ano.

    INTRODUOO ser humano sempre procurou

    adaptar o meio ambiente s suasnecessidades. Por outro o lado adiversidade climtica existente noplaneta no oferece as condies ideais.Conhecer o grau de afastamento dessascondies climticas em relao aoconforto trmico, permite ao projetistae planejador criar ambientes urbanos eedificados mais favorveis sade, ao

    bem-estar e ao desenvolvimento dasatividades humanas, buscando umamelhor qualidade de vida. Os meios paracondicionar o clima so a prpriaarquitetura e o desenho das cidades. Nospases de climas mais rigorosos, ocondicionamento climtico, sendo umaquesto de sobrevivncia, bastanteestudado e desenvolvido. Em climastropicais, o condicionamento climtico, aparentemente menos importante,justificando-se pelo menor estressetrmico. Entretanto questiona-se avinculao da percepo trmica como grau de desenvolvimento econmico,o qual implica em outras prioridades.

    Apesar desta precariedade, estudosna rea da medicina do trabalho mostramque trabalhadores de ambientes comestresse trmico positivo, como operriosda indstria siderrgica, cozinheiros,motoristas e vendedores ambulantes,apresentam um ndice nove vezes maiorde contrair pedra nos rins. Sabe-se quemesmo as condies menos extremas dedesconforto trmico tambm interferemna sade, bem-estar e produtividade dosindivduos. Assim como nos trpicos, omenor estresse trmico referido bastante significativo, principalmente paraos pedestres, cujos deslocamentoscorrespondem a 30 % do nmero deviagens realizadas em grandes cidades,nos horrios de pico (VASCONCELOSapud ROCHA, 2003).

    (1) Laboratrio de Conforto Ambiental daUniversidade Federal da Bahia

    (2) Laboratrio de Energia e Gs daUniversidade Federal da Bahia

  • RUA 9 71

    A sensao de conforto trmico no ser humano resultante da percepo combinada das variveis(1) queconcorrem para as trocas de calor com o meio(2) , e podeser estimada atravs de ndices de conforto trmico. Dentreestes, o Voto Mdio Estimado - PMV, adotado pelas normasinternacionais ISO 7730 e a ASHRAE 55, descreve asensao fisiolgica de um indivduo de -3 (frio) a +3(quente), passando por zero (neutro), desenvolvida paraauxlio no projeto de instalaes de ar condicionado, noapresenta escala adequada para descrever o clima. A CartaBioclimtica de Givoni, adotada pela NBR 15220-3, analisao clima local localizando os valores de temperatura e umidadedo ar no diagrama psicromtico contendo sete reasclimticas. Tem a vantagem de apresentar as diretrizes aserem adotadas no projeto visando a obteno do confortotrmico, porm no leva em conta a radiao solar e avelocidade do vento, alm de no ter seus resultadosexpressos em um nico parmetro que facilite uma anlisemais detalhada em relao ao grau de afastamento dascondies de conforto e variao temporal. O ndice PET- Temperatura Fisiolgica Equivalente (HPPE, 1999) dadoem graus centgrados, traduz a sensao trmica resultanteda interao das quatro variveis ambientais, o que facilitasua apreenso, embora deixe ao projetista a traduo dosresultados em projeto. Este ndice pode ser utilizado paraambientes externos ou internos e vem sendo aplicado porpesquisadores para estudos de clima urbano. O ndice PETfoi adotado em diversos trabalhos sobre o clima urbano deSalvador (ANDRADE e outros, 2002, 2004; FREIRE;SHIMMELPFENG, 2002). Sua aplicabilidade foi avaliadaatravs de um estudo de caso nesta mesma cidade(3) , tendosido selecionado para analisar as condies de confortotrmico em Salvador nesta pesquisa.

    O ndice PET (C) baseia-se na equao de balanotrmico do corpo humano em condies de estabilidade(4).Seu valor igual ao da temperatura do ar de um ambienteinterno de referncia no qual a temperatura interna corporale a da pele so iguais quelas sob as condies do ambienteconsiderado. No ambiente de referncia esto estabelecidosos seguintes parmetros: atividade moderada (80W),resistncia da roupa 0,9 clo(5) , velocidade do ar 0,1 m/s,temperatura radiante mdia igual a temperatura do ar,presso de vapor de 12 hPa, correspondenteaproximadamente a 50% de umidade relativa 20 C. Oslimites de conforto estabelecidos para esse ndice situam-se entre 22 e 24 C.

    O CLIMA DA CIDADE DE SALVADOR

    Analisando o clima de Salvador pelas informaescontidas nas Normais Climatolgicas do perodo de 1961 a1990, observa-se que as mdias das temperaturas do arno apresentam grandes variaes dirias e anuais. A mdiadas mximas alcanam os 30C em fevereiro e maro, eatinge o valor mnimo de 26,2C em julho. A mdia dasmnimas ocorre dentro do intervalo de 21,3 C em agosto a24,1 C em maro. A condio peninsular confere cidadeuma umidade relativa alta durante todo ano, com mdia anualde 80% e desvio padro de 1,7. A amplitude anual da mdiamensal vai de 79% em fevereiro a 83,1% em maio. O padromdio mensal de ventilao caracterizado pelapredominncia da direo sudeste e secundariamente peladireo leste, com os valores mdios mensais de velocidadevariando de 2,6 m/s, em maro e junho, a 3,3 m/s, em outubroe novembro. Durante todo o ano Salvador recebe umasignificativa quantidade de horas de insolao, que variaentre 167,2 horas (junho, ms com menor insolao) e 245,6horas (janeiro, ms com maior insolao). A mdia diriade insolao na cidade apresenta algumas diferenciaes,tendo maio e junho como meses de menor insolao totaldiria (5,6 horas) e fevereiro como ms mais ensolarado(8,1 horas dirias).

    Nery e outros (1997) afirmaram que a "condioclimtica da cidade de Salvador promove a sensao deestresse trmico positivo durante todo o ano, amenizada nosmeses junho, julho e agosto". Isto foi confirmado pelosvalores obtidos aplicando-se o ndice PET aos dadosclimticos medidos na cidade em Andrade e outros (2002),os quais mostraram estresse trmico positivo no vero emesmo nas tardes de inverno. Andrade e outros (2005)analisando o microclima do exterior do edifcio do CentroFederal de Educao Tecnolgica da Bahia (CEFET-BA)(6),situado em local aberto e elevado, na regio central doterritrio da cidade de Salvador, observaram que no vero,os valores do ndice PET ficaram significativamente acimado limite superior de conforto trmico, corroborando comas queixas dos usurios. Com base nesses trabalhos, estima-se que o clima da cidade de Salvador oferea,predominantemente, uma condio acima do limite deconforto trmico ao longo do ano.

    GOULART e outros (1998), lanando os dados do AnoClimtico de Referncia (TRY)(7) para Salvador na CartaBioclimtica de Givoni concluiu que em 58 por cento das horasdo ano a condio climtica est acima do limite de conforto.

  • RUA 972

    PROCEDIMENTOS DO TRABALHO

    As condies de conforto trmico em Salvador foraminterpretadas pelo ndice de conforto trmico PET (C),utilizando-se os dados climticos horrios do aeroportodisponibilizado no formato Ano Climtico de Referncia(LAMBERTS, 2002). Por estar situado na periferia dacidade foi necessrio verificar a pertinncia da utilizaodos dados do aeroporto como referncia climtica para aCidade de Salvador atravs da comparao dos dados com

    as Normais Climatolgicas (BRASIL, 1992), cuja estao,pertencente ao IV Distrito do Instituto Nacional deMeteorologia est inserida na malha urbana, em reacosteira, Apenas recentemente, os dados climticos horriosvm sendo coletados em estaes informatizadas e essassries climticas histricas de 50 anos apresentam lacunase inconsistncias. Alm disso, visando referendar a validadedos resultados obtidos com o ndice PET para a malhaurbana, foram feitas comparaes com algumas mediesin loco no ms de janeiro (Figura 1).

    FIGURA 1 - Localizao das estaes meteorolgicas e dos pontos de medio

    O ndice de conforto PET para os dados horrios doAno de Referncia Climtica foi calculado utilizando-se oaplicativo computacional RayMan 1.2, desenvolvido porRutz e outros (2000). Os dados climticos de entrada foram:TBS (C), velocidade de vento (m/s), presso de vapor (hPa)e TRM (C). A radiao global - R (W/m2) estdisponibilizada no banco de dados do ano climtico dereferncia e se constitui em um valor calculado a partir daconstante solar (CARLO; LAMBERTS, 2001), noconsiderando, portanto, as emisses de ondas longasprovenientes do entorno. Como os dados deste ano noincluem a temperatura de globo (TG) que permitiria calcular

    a TRM, a mesma foi obtida atravs da Equao de Stefan(Equao 1) a partir dos dados de radiao globaldisponibilizados.

    Equao 1

    onde, R foi assumida como radiao global (W/m2); =5,67X10-8 W/m2K4, constante de Stefan-Boltzman; TRM a temperatura radiante mdia em Kelvin e a emissividade.Do perodo da manh at as 16:00 horas, considerou-se =

  • RUA 9 73

    23,0

    23,5

    24,0

    24,5

    25,0

    25,5

    26,0

    26,5

    27,0

    Janeiro

    Fevereiro

    Maro Ab

    rilMaio

    Junho

    Julho

    Agosto

    Stembro

    Outubro

    Novembro

    Dezembro

    Meses do Ano

    TemperaturadoAr(C)

    Ano TRYNormais Climatolgicas

    1, pois a radiao solar predominante. Aps as 16:00 horas,adotou-se = 0,9, emissividade estimada dos materiais deconstruo para comprimentos de onda longos(SANTAMOURIS e outros, 1996). Na ausncia deradiao solar, considerou-se a TRM igual TBS, j que aexpectativa era de equilbrio de temperaturas.

    Alm das variveis climticas, o aplicativo requer dadosde vestimenta (clo), atividade (W) e referncias do indivduomdio (idade, sexo, altura e massa corporal), tendo sidoconsiderado os seguintes valores: 0,5 clo, 80 W, 35 anos,sexo masculino, 1.75m e 75 kg que corresponde a umindivduo padro.

    Aps a gerao dos dados horrios da PET, foramcalculadas as mdias dirias a partir das quais se elegeu osdias com as mdias mais altas e mais baixas de cada ms.Esses dias foram plotados em um grfico para comparaocom os limites de conforto estabelecidos para o ndice PET,respectivamente, 22 e 24 C, para identificar os perodos deestresse trmico positivo, negativo ou neutro, durante o diae durante o ano.

    Os resultados obtidos com os dados do Aeroporto foramcomparados com dados medidos em dois pontos na malhaurbana para se conhecer as semelhanas ou diferenasexistentes. Foram medidos a temperatura do ar, umidaderelativa, velocidade do ar e temperatura de globo usando asestaes meteorolgicas Smetek Meteorological StationSystem. O perodo medido foi de 7:00 s 23:00 horas, em um

    dia de vero (janeiro de 2003). A TRM foi calculada a partirda temperatura de globo utilizando-se a equao 2, segundoa equao de Belding apresentada por Givoni (1981).

    Equao 2 TRM = [TG + 0,24(v)1\2 (TG TRS)] (C)

    Onde TRM a temperatura radiante mdia (oC), TG atemperatura de globo (oC), v a velocidade do ar (m/s) e TBSa temperatura do bulbo seco ou temperatura do ar (oC).

    CONDIES CRTICAS DE CONFORTO TRMICO EMSALVADOR

    As curvas apresentadas na figura 2 para os valoresmdios da temperatura do ar (oC) do Ano Climtico deReferncia, a partir dos dados do Aeroporto medidos a 10m) e das Normais Climatolgicas de Salvador, medidos naEstao Meteorolgica de Ondina (cerca de 53 m de altitude)se mostram muito semelhantes. No perodo de inverno, noAeroporto, observam-se temperaturas mdias ligeiramentemais baixas devido, provavelmente, refletividade das areiasmonazticas predominantes no local, e a baixa densidade deocupao do solo da regio. A Estao de Ondina, poroutro lado, localiza-se na malha urbana da cidade, o queimplica em uma maior capacidade de armazenamento decalor, embora esteja situada em cota elevada e inserida emrea com vegetao de porte.

    FIGURA 2 - Temperatura mdia do ar do Ano Climtico de Referncia e das Normais Climatolgicas de Salvador

  • RUA 974

    Os resultados horrios do ndice PET, mostradosgraficamente na Figura 3, representam os dias de maiorese menores mdias dos valores do ndice PET de cada ms,calculados a partir do Ano Climtico de Referncia. Nestes

    grficos tambm esto indicados os limites de confortosuperior e inferior para este ndice. Para as 8.760 horas doAno Climtico de Referncia observou-se que 50% dashoras esto acima do limite superior de conforto.

    FIGURA 3 - Dias de maiores e menores valores mdios do ndice PET calculados a partir do Ano Climtico de Referncia (Aeroporto de Salvador)

    JANEIRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    1:00 6:00 11:00 16:00 21:00

    Dia deMaior Mdia Horria = 27C(19/01)Dia deMenor Mdia Horria = 23C(19/01)

    limite inferiorlimite superior

    46 C

    17 C

    MARO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    DiadeMaiorMdiaHorria=28C (09/03)DiadeMenorMdiaHorria=20C (29/03)

    limite inferiorlimitesuperior

    18C

    40C

    MAIO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 25 C(12/05)Dia de Menor Mdia Horria = 21 C(31/05)

    15C

    limite inferiorlimite superior

    27 C

    Os resultados horrios do ndice PET para os dias commaiores e menores mdias apresentam variaesperceptveis entre as estaes do ano, com picos acentuadosnas curvas de vero, diferentemente das curvas do perodode inverno. De outubro a maro a faixa dos valores mximosdo ndice PET est em torno de 40 C, alcanando 46 C emjaneiro, enquanto de maio a agosto o valor mximo de 27C. As curvas de abril e setembro apresentam umcomportamento similar com valores mximos de 35 e 34C, respectivamente. Entre maio e agosto, ocorrem valoresdo ndice PET abaixo do limite inferior de conforto, atingindo14C em junho, s 4:00 horas da manh.

    O valor mximo da PET de 46 C ocorreu s 13:00h dodia, o que corresponde temperatura do ar de 32,2 C,temperatura radiante mdia de 71,6 C, umidade relativado ar de 56 % (equivalente a 27 hPa) e velocidade do ar

    3,1 m/s. Observa-se que alm do valor relativamente elevadoda temperatura do ar, significativa a contribuio datemperatura radiante mdia, reforando a necessidade decriao de microclimas a partir do sombreamento,preferencialmente por vegetao.

    As curvas dos dias mais quentes, independentemente dasvariaes sazonais, apresentam perodos do dia acima dolimite superior de conforto (24 C), aproximadamente entre10:00 horas e 16:00 horas. Em outros horrios, ocorremperodos ligeiramente abaixo do limite inferior de conforto(22 C), porm com maior predominncia na faixa de conforto.Os menores valores do ndice PET para as curvas de maiorese menores mdias, ocorrem antes do nascer do sol.

    Estes resultados demonstram a necessidade de seobjetivar a reduo da carga trmica, tanto no projeto deedificaes como no desenho urbano durante todo o ano,

    FEVEREIRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 27C(25/02)Dia de Menor Mdia Horria = 24C(02/02)

    limite inferiorlimite superior

    16 C

    43 C

    ABRIL

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Diria = 27 CDia de Menor Mdia Diria = 23 C

    limite inferiorlimite superior

    34 C

    19 C

    JUNHO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 04:00 07:00 10:00 13:00 16:00 19:00 22:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 24 C(12/06)Dia de Menor Mdia Horria = 19 C(19/06)

    limite superiorlimite inferior

    14 C

    29 C

    JULHO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 22 C(08/07)Dia de Menor Mdia Horria = 18 C(11/07)

    limite inferiorlimite superior

    16 C

    27 C

    SETEMBRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 24 C(29/09)Dia de Menor Mdia Horria = 20 C(02/09)

    limite inferiorlimite superior

    35 C

    18 C

    NOVEMBRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 27 C(21/11)Dia de Menor Mdia Horria=23 C(12/11)

    limite inferiorlimite superior

    42 C

    18 C

    AGOSTO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    Dia de Maior Mdia Horria = 22 C(26/08)Dia de Menor Mdia Horria = 18 C(13/08)

    limite inferiorlimite superior

    16 C

    28 C

    OUTUBRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    DiadeMaiorMdia Horria= 25 C(25/10)DiadeMenor MdiaHorria = 20 C(04/10)

    limite inferiorlimitesuperior

    17 C

    38C

    DEZEMBRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    01:00 05:00 09:00 13:00 17:00 21:00Horas

    PEToC

    Dia de Maior Mdia Horria = 27 C(05/12)Dia de Menor Mdia Horria = 23 oC(26/12)

    limite inferiorlimite superior

    16 C

    45 C

  • RUA 9 75

    principalmente no perodo das 10:00 s 16:00 horas, na cidadede Salvador. Isso enfatizar ainda mais a necessidade do usode dispositivos de sombra nas aberturas e sombreamentonas vias de circulao de pedestres. Outras estratgiasigualmente importantes dizem respeito ventilao e aoisolamento trmico, principalmente das coberturas, auxiliadopelo uso de materiais de acabamento refletores e de baixacapacidade trmica.

    Embora esta avaliao do clima de Salvador tenhaconfirmado sua condio de estresse trmico positivo durantetodo o ano, possvel ocorrer estresse trmico negativo

    mesmo no perodo de vero, dado o comportamento dinmicodo clima. Frentes frias podem chegar mesmo no vero,gerando dias considerados climaticamente atpicos e issoimplica a necessidade de considerar o controle da ventilaopelas esquadrias, regulando a sua direo ou a intensidadedo vento no interior das edificaes.

    As curvas resultantes, obtidas a partir dos dados do AnoClimtico de Referncia, foram comparadas s curvasgeradas atravs de medies in loco, realizadas nestetrabalho, em pontos selecionados na malha urbana (Figura1) para a mesma poca do ano, ms de janeiro (Figura 4).

    JANEIRO

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    1:00 6:00 8:18 9:32 10:48 12:00 13:18 14:33 15:48 17:00 18:18 21:00 0:00

    Dia de Maior Mdia Horria = 27C (19/01)

    Dia de Menor Mdia Horria = 23C (19/01)

    Ponto 3: Rua Amazonas (19/01/2003)

    Ponto 4: Av. O.Mangabeira (19/01/2003)

    limite inferiorlimite superior

    FIGURA 4: ndice PET (C) calculado a partir de medies em dois pontos na malha urbana no vero (janeiro)

    Esta comparao mostra a diferena entre as condiesclimticas dentro da malha urbana e aquelas da periferia,onde se situa o aeroporto (rea aberta e sem obstculos). Acurva do dia de maior mdia para o aeroporto apresentauma amplitude acentuada de 25 oC, com pico mximo de46 C ocorrendo s 13:00 horas, quando ultrapassa em 22oC o limite superior de conforto. As curvas obtidas na malhaurbana, a partir das medies realizadas, apresentamcomportamento mais uniforme com amplitude menor de 14oC, porm com a mdia de 32 oC, superior mdia de 27C obtida para o Aeroporto. Estes resultados podem seratribudos a um maior acmulo de calor na rea urbanadecorrente das caractersticas termofsicas dos materiais

    de construo e revestimento presentes, alm da reduoda velocidade do vento pela rugosidade decorrente daurbanizao. As diferenas encontradas entre as curvas querepresentam microclimas dentro da malha urbana nos testesde campo realizados pelos autores, e aquelas do aeroportoindicam que as condies de conforto trmico podem sersubestimadas na cidade. Entretanto, dada a inexistncia deuma rede de estaes meteorolgicas, distribudas na malhaurbana como ocorre em outros pases, alm de dadosmeteorolgicos precrios e de difcil acesso (especialmenteno Nordeste), isto implicou na utilizao dos dados doaeroporto para a avaliao do conforto trmico de Salvador.A utilizao destas informaes no desenho da cidade ou

  • RUA 976

    no projeto arquitetnico, sem considerar as diferenasmicroclimticas, pode resultar em ambientes com estressetrmico positivo na maior parte do ano, implicando em usode energia operante nos sistemas artificiais de climatizao.Ademais, os valores do ndice PET calculados a partir dosdados de radiao global apresentados no Ano Climtico deReferncia podem estar tambm subestimados, uma vezque, no se dispunha de dados da contribuio da radiaode ondas longas proveniente do entorno.

    CONCLUSO

    O conforto trmico em Salvador, analisado pelo ndicePET utilizando o Ano Climtico de Referncia para oaeroporto, deve ser interpretado levando-se em conta ascaractersticas do stio que favorecem o aporte e emissoda radiao. A partir da comparao dos resultados para oaeroporto, situado na periferia da cidade, os dados na malhaurbana - Normais Climatolgicas (BRASIL, 1992) e os dadosmicroclimticos medidos pelos autores, evidencia-se o efeitodo armazenamento de calor na estrutura urbana indicandoa tendncia ao estresse trmico positivo na maior parte doano em Salvador. Foi constatado para o aeroporto umpercentual de 50% das horas dentro da zona de conforto(PET de 22 a 24C) ou ligeiramente abaixo do limite mnimode conforto, enquanto que na malha urbana esse percentual certamente menor.

    Pela anlise das curvas dirias, observa-se que emSalvador o estresse trmico positivo acontece no mesmointervalo das 10:00 s 16:00 horas durante todo o ano. Asvariaes perceptveis no aeroporto entre as estaes doano, com picos acentuados no vero e curvas amenizadosno perodo de inverno, devem ocorrer de forma mais discretana malha urbana devido ao armazenamento de calor,responsvel pela reduo do percentual das horas de

    estresse trmico negativo ou de neutralidade trmica. Asdiferenas encontradas entre as curvas que representammicroclimas dentro da malha urbana nos testes de camporealizados pelos autores, e aquelas do aeroporto indicamque as condies de conforto trmico podem sersubestimadas na cidade. A utilizao destas informaes nodesenho da cidade ou no projeto arquitetnico, sem consideraras diferenas microclimticas, pode resultar em ambientescom estresse trmico positivo na maior parte do ano,implicando em uso de energia operante nos sistemas artificiaisde climatizao. A aplicao nesta pesquisa do ndice PET -Temperatura Fisiolgica Equivalente (C), que definido peloautor como um ndice universal para avaliaobiometeorolgica do ambiente trmico (HPPE, 1999) norevela nenhuma discrepncia aparente com a percepotrmica do clima de Salvador relatada em Nery e outros(1997) e Goulart e outros (1998), ambas citadas acima. Parapropiciar uma melhor qualidade de vida para os habitantes dacidade, deve-se otimizar as condies climticas, minimizandoo impacto das desfavorveis e tirando partido das favorveis,atravs da incorporao das condies de conforto trmicoao desenho das cidades. A condio de estresse trmicopositivo de Salvador para a maior parte do ano, quantificadanesse trabalho, deveria, assim, se constituir em condicionantedo desenho da cidade e do projeto arquitetnico. Minimizar oestresse trmico positivo para Salvador pode ser traduzidoem parmetros urbansticos que visem a ampliao de reasverdes, espaos abertos, a preservao dos corredores deventos e a incluso de vegetao de porte para proteo daradiao solar. Na escala da edificao, em termos geraisisso significa sombrear e ventilar. Essas medidas bioclimticasque beneficiam a condio do conforto trmico do habitanteurbano contribuem para a reduo do aquecimento global,uma vez que as cidades so hoje responsveis por uma grandeparcela da gerao de calor.

  • RUA 9 77

    Notas1 Temperatura (oC) e velocidade do ar (m/s), umidade relativa (%) ou pressode vapor (hPa), e radiao (W).

    2 Estas trocas de calor ocorrem atravs dos processos de conduo, conveco,radiao e evaporao.

    3 Dissertao apresentada ao Mestrado de Engenharia Ambiental Urbana,Escola Politcnica, Universidade Federal da Bahia, pela arquiteta DboraSanta F, ainda no defendida.

    4 M+W+R+C+ED+ERe+ESw+S=0, onde M a taxa metablica do corpo, W aenergia utilizada pelo corpo para realizar trabalho, R a radiao lquida docorpo, C a troca de calor por conveco, ED a troca de calor latente porevaporao, Ere a energia utilizada para aquecer e umidificar o ar inspirado,ESw a energia utilizada para evaporao do suor, e S a energia armazenadapara aquecer ou resfriar a massa corporal (HPPE, 1999).

    5 Unidade de medida da resistncia trmica oferecida pelo vesturio troca decalor.

    6 Centro Federal de Educao Tecnolgica da Bahia (CEFET-BA).

    7 O Ano Climtico de Referncia consiste em um conjunto de informaes paraas 8.760 horas do Ano Climtico de Referncia, das variveis climticas e selecionado atravs da eliminao sucessiva dos anos que contm as temperaturasmdias mensais extremas, altas ou baixas (GOULART e outros, 1998).

    Referncias

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 15220-3: normasbrasileiras de desempenho trmico de edificaes. Rio de Janeiro, 2005.ANDRADE, T. et al. Thermal Comfort and Urban Climate in a Tropical City- Salvador/Brazil. TECBAHIA: Revista Baiana de Tecnologia, Salvador, v.17,n.3, p. 34-45, set./dez. 2002.___________. Thermal Comfort Conditions for a Tropical City, Salvador -Brazil. Proceedings V. 1, PLEA 2004, NL, Technische Universitt, pg 53-57, 2004.

    ANDRADE, T. et al. Conforto Trmico em Biblioteca no Trpico mido.ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUDO,8.; ENCONTRO LATINO AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTECONSTRUDO, 4., 2005. Macei. Anais... Macei, 2005.BRASIL. Ministrio da Agricultura e Reforma Agrria. Normais Climatolgicas(1961- 1990). Braslia: DNM, 1992.CARLO, J.; LAMBERTS, R. Urban climate and its influence on energyconsumption; a case study in two Brazilian cities. In: BUILDINGSIMULATION - INTERNATIONAL IBPSA CONFERENCE, 17., 2001, Riode Janeiro. Anais Rio de Janeiro: IBPSA, 2001. v. 1, p. 167-175.FREIRE, T.; SHIMMELPFENG, W. Elementos climticos - Salvador. Relat-rio PIBIC-UFBA, 2002.GIVONI, B. 1981. Man, Climate and Architecture. London: Applied SciencePublishers, p. 24.GOULART, S.; LAMBERTS, R.; FIRMINO, S. Dados Climticos para Projetoe Avaliao Energtica de Edificaes para 14 Cidades Brasileiras. Florianpolis:PROCEL, 1998HPPE, Peter. The physiological equivalent temperature: a universal indexfor the biometeorological assessment of the thermal environment.International Journal of Biometeorology, n. 43, p. 71-75, 1999.INTERNACIONAL ORGANIZATION FOR STARDARDIZATION. ISO7730: moderate thermal environments - determination of the PMV and PDDindices and specification of the condicions for thermal comfort, Genebra,1994.LAMBERTS, R. Dados cedidos pelo Prof. Dr. Roberto Lamberts da UFSC.Florianpolis, 2002.NERY, J. et al. Primeira aproximao para estudo de clima urbano em Salvador. InENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUDO,4., 1997. Salvador. Anais... FAUFBA / LACAM; ANTAC, 1997.ROCHA, F. A mobilidade a p em Salvador. Cadernos PPG-AU/FAUFBA,Salvador, v. 1, n. 2, p. 41-60, 2003.RUTZ e et al. Aplicativo computacional. Ray Man 1.2 (www.mif.unifreiburg.de/rayman/, 2000).SANTAMOURIS, M.; ASIMAKOPOULOS, D. Design Source on Passive So-lar Architecture. Energy Conservation in Buildings, CIENE, Athens, 1996.