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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Despenalização do Aborto Trabalho realizado por: Liliana Machado Gonçalves Coimbra, Janeiro de 2005

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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Despenalização do Aborto

Trabalho realizado por: Liliana Machado Gonçalves

Coimbra, Janeiro de 2005

Índice

Introdução ……………………………………………………. 1

Descrição detalhada da pesquisa ……………………………… 3

Desenvolvimento

• Breve história do Aborto ………………………………. 4

• Como vê Portugal a questão do Aborto ……………….. 6

• A lei do Aborto no Mundo …………………………….. 9

• Posição da Igreja em relação ao Aborto ……………….. 12

Avaliação de um site da Internet ……………………………… 14

Ficha de leitura ……………………………………………….. 15

Conclusão .................................................................................. 17

Referencias bibliográficas ……………………………………. 18

Anexo I

• Texto de suporte da ficha de leitura

Anexo II

• Página do site avaliado

Fontes de Informação Sociológica

1

Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Fontes de

Informação Sociológica. Tem como objectivo a pesquisa de informação,

através dos mecanismos leccionados nas aulas, acerca do tema escolhido.

O tema que escolhi foi o aborto, mais propriamente a despenalização do

mesmo. De entre todos os temas, este foi o que me suscitou mais interesse,

talvez por ser mulher e este ser um tema que embora diga respeito a todos,

é sem dúvida, mais sensível às mulheres.

Eu particularmente, não tinha uma opinião muito formada sobre o

assunto, nunca tinha reflectido sobre tal. Isto porque nunca passei por tal

situação e também nunca tive nenhum caso próximo (talvez por isso nunca

tenha pensado muito sobre isso!!).

Para realizar o meu trabalho baseei-me principalmente em pesquisa na

Internet. Apesar de também ter recorrido a alguns livros, cheguei à

conclusão que o material encontrado na Internet era mais diversificado

específico para o que eu precisava.

Neste trabalho irei abordar vários aspectos sobre o assunto, dividindo o

tema por partes. Em primeiro, começo por traçar uma pequena história do

aborto, o que me permite perceber que as leis contra o aborto não vêm de

um passado muito distante, mas sim de tempos mais próximos. Para

exemplificar o argumento acho interessante um excerto de um caso passado

nos E.U.A, proferido por um juiz pró-aborto – “Nem sempre se tem em

conta que as leis que proíbem o aborto na maioria dos Estados são

relativamente recentes. Essas leis, que em geral proíbem o aborto

consumado ou tentado em qualquer altura da gravidez salvo quando é

necessário para salvar a vida da grávida, não têm origem em tempos

Fontes de Informação Sociológica

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remotos. Antes, essas leis foram aprovadas, na maior parte dos casos, nos

finais do século XIX…”. (Geraldo, 2001)

Outro aspecto que me parece interessante referir, é o estado em que

Portugal se encontra no que diz respeito ao aborto. Como todos sabemos,

Portugal é um dos países da Europa que condena o aborto, salvo em

algumas excepções. É consequência não só deste facto, mas principalmente

deste, que muitas mulheres recorrem ao aborto ilegal, pondo em risco a

suas próprias vidas.

Fiz uma abordagem geral da situação do aborto no mundo, verificando

quais os países onde esta prática é proibida e permitida, chegando à

conclusão que quase todos os países são a favor desta prática.

Por fim achei interessante falar da posição da Igreja no que toca ao

aborto. Para esta instituição, que sempre condenou o aborto, a prática do

aborto é considerada um crime.

Fontes de Informação Sociológica

3

Descrição detalhada da pesquisa

Para realizar o meu trabalho comecei por recorrer à Biblioteca da Casa

da Cultura de Coimbra, onde encontrei alguns livros. Mas estes só

poderiam ser consultados no próprio local, o que não me trazia vantagens,

pois teria pouco tempo para lê-los e retirar informação. Então consultei o

catálogo, mas desta vez da Biblioteca da Faculdade de Economia da

Universidade de Coimbra, colocando a palavra aborto, através do qual pude

aceder a vários livros.

Em seguida, achando que as fontes bibliográficas não eram suficientes

para realizar o meu trabalho, fui à Internet, pesquisando através dos

motores de busca. Como o que eu pretendia era informação muito

específica utilizei o Google (indexante), pois se eu recorresse aos

directórios obtinha a informação classificada por assuntos ou seja temas

muito gerais, o que iria assim prejudicar a minha pesquisa.

Em primeiro fiz uma pesquisa simples com a expressão “despenalização

do aborto”, obtendo um resultado de 5830 registos. Em seguida fiz com a

mesma expressão mas utilizando uma pesquisa avançada e no título da

página o que me deu o “fantástico” resultado de 0 registos. Para saber a

posição da Igreja, numa pesquisa avançada coloquei na opção com as

palavras “aborto and igreja”, o que me resultou um total de 51700 registos.

Em continuação da minha pesquisa, novamente em pesquisa avançada

coloquei “aborto e Portugal”, o que me deu um resultado excessivamente

grande, 75200 registos. Não satisfeita com os resultados procurei com as

palavras “aborto and legislação and Portugal”, obtendo assim 16700

registos. Para concluir a minha pesquisa, e querendo saber mais sobre este

assunto no mundo, coloquei “aborto and legislação and mundo” obtendo

25400 registos.

Fontes de Informação Sociológica

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Breve história do aborto

“Nem sempre se tem em conta que as leis que proíbem o aborto na maioria dos estados são relativamente recentes. Essas leis, que em geral proíbem o aborto consumado ou tentado em qualquer altura da gravidez salvo quando é necessário para salvar a vida da grávida, não têm origem em tempos remotos. Antes, essas leis foram aprovadas na maior parte dos casos, nos finais do século XIX…”

(Roe vs Wade. Supremo Tribunal de Justiça dos E.U.A. 1973)

O aborto foi sempre muito perigoso, pelo que a sua prática era rara e,

quando se fazia ou falhava ou matava mãe e filho.

Por volta de 1750 encontrou-se uma técnica de aborto que, embora

continuasse a matar muitas mães, constituiu um enorme progresso na

história da ciência.

A consequência imediata desta descoberta foi que, depois da revolução

francesa, muitos países legalizaram o aborto. Esta técnica, embora pouca,

trazia alguma segurança.

No século XIX esta questão já era vista como uma prática vulgar, quer

fosse legal, quer não.

Esta legalização teve por base os conhecimentos científicos da época –

pensavam que cada espermatozóide era um homem que se limitava a

crescer dentro do útero da mulher.

O processo de concepção foi descrito pela primeira vez em 1827 por

Karl Emst Von Boar e, em meados do século XIX, já convencidos da

existência desse processo muitos médicos e cientistas iniciaram uma

campanha para proibir o aborto.

Na sequência destes acontecimentos a Inglaterra, em 1869, foi a primeira

a banir o aborto, aprovando o “Offences Against the Person Act”. Em dois

Fontes de Informação Sociológica

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relatórios feitos pela American Medical Association, não houve margem

para dúvidas de que o aborto era totalmente inaceitável. O primeiro

relatório, realizado em 1851 dizia que o aborto é “o massacre de um

número sem fim de crianças”. O segundo, realizado em 1871 era um pouco

mais “forte”, em que o aborto era considerado “uma destruição massiva de

crianças por nascer. (…) A proibição de matar aplica-se a todos sem

excepção, independentemente do ponto de desenvolvimento em que a

vítima está. (…) Os médicos que o fazem desonram a medicina, são falsos

profissionais, assassinos cultos e carrascos”. (Geraldo, 2001)

Em consequência destes dois relatórios, o aborto foi proibido em quase

toda a parte.

Fontes de Informação Sociológica

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Como vê Portugal a Questão do Aborto

No que toca ao aborto, Portugal tem uma lei muito restritiva. Poderemos

dizer que no nosso país a prática do aborto é condenável, excepto nas

seguintes condições:

“Quando constituir o único meio de remover perigo de morte ou

de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou

psíquica da mulher grávida;

Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de

grave e duradoura lesão para o corpo ou para a saúde física ou

psíquica da mulher grávida e for realizada nas primeiras 12

semanas de gravidez;

Se houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a

sofrer, de forma incurável, de grave doença ou mal formação

congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas de gravidez,

comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de

acordo com as leges artis, excepcionando-se as situações de fetos

inviáveis, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o

tempo;

Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e

autodeterminação sexual e a interrupção for realizada nas

primeiras 16 semanas.” (Correia, s.d.)

Mas mesmo nestes casos raros, nem sempre há possibilidade de recorrer

ao aborto. Porque os hospitais ou os médicos se recusam a prestar ajuda

nos casos em que estão presentes as principais razões pelas quais as

mulheres recorrem ao aborto. Ou seja, razões sociais, económicas e

psicológicas são excluídas segundo a lei portuguesa.

Fontes de Informação Sociológica

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A legislação portuguesa prevê a educação sexual, no entanto verificamos

que a educação sexual nas escolas continua a ser prática quase inexistente.

Em Portugal os serviços de planeamento familiar são prestados de forma

gratuita, mas ainda assim o acesso ao planeamento familiar continua

desadequado. Em consequência desta situação, a gravidez na adolescência

em Portugal atinge valores dos mais elevados na Europa (25 em cada 1000

adolescentes). (WOW, s.d.)

Devido ao facto de Portugal ser contra a despenalização do aborto muitas

mulheres recorrem à prática do aborto ilegal.

Por ano, são praticados em Portugal, pelo menos 20.000 abortos ilegais.

Em resultado de complicações resultantes desses abortos ilegais, todos os

anos cerca de 5.000 mulheres são atendidas em hospitais e, nos últimos 20

anos, morreram cerca de 100 mulheres desnecessariamente (APF apud

WOW, s.d.). Isto significa que em Portugal uma mulher tem um risco de

morrer em resultado de um aborto 150 vezes superior ao de uma mulher

que viva nos Países Baixos. (idem, s.d.)

O aborto provocado em situação ilegal é considerado um acto criminoso

punível segundo o código penal, com uma pena de até 3 anos de prisão,

tanto para quem o efectua como para quem recorre para fazê-lo.

Apesar de ser um crime continuam a ser muitas as mulheres que a ele

recorrem. Em 2001, dezassete mulheres foram levadas a julgamento por

terem recorrido a um aborto ilegal e uma enfermeira foi condenada a 7 anos

de prisão por realizar abortos ilegais.

Será que se Portugal fosse a favor da despenalização do aborto haveria

menos mortes?!!

Como resultado das leis restritivas acerca do aborto em Portugal muitas

mulheres viajam para Espanha. Mas um elevado número de mulheres não

pode suportar as despesas de uma ida a Espanha ou a realização de um

aborto ilegal em Portugal. São essencialmente as mulheres que não têm

Fontes de Informação Sociológica

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meios para um aborto medicamente assistido e seguro que irão recorrer a

práticas abortivas não seguras com pouco apoio emocional – mulheres

pobres, menores de idade, com menos acesso à informação e residentes em

áreas rurais. (WOW, s.d.)

Em 1984, o Dec. Lei nº6/84 de 11 de Maio, despenaliza a interrupção

voluntária da gravidez, em algumas excepções muito particulares,

nomeadamente as que reconhecidamente oferecem perigo para a vida ou

saúde da mãe ou da criança, desde que solicitado pela própria ou seu

representante legal, nas primeiras 12 ou 16 semanas de gravidez, segundo a

situação, e desde que realizado em estabelecimento de saúde oficial ou

oficialmente reconhecido (Lei nº6/84 de 11 de Maio, publicada no DR, 1ª

Série, nº109).

Em 1997, uma lei que previa a realização do aborto a pedido das

mulheres até às 10 semanas de gravidez passou no Parlamento, mas o

Primeiro-Ministro decidiu levar a cabo um referendo. O referendo realizou-

se em Junho de 1998, apenas 31.8% dos eleitores foram votar e 50.5%

destes votou contra o aborto. Apesar do referendo ser apenas válido com

uma participação de mais de 50% dos eleitores, o Parlamento decidiu não

avançar com a lei que tinha sido aprovada anteriormente.

Em Janeiro de 2004, grupos pró-escolha recolheram 120.000 assinaturas

pedindo a realização de um novo referendo com vista à legalização do

aborto. Mas o então Primeiro-Ministro José Manuel Durão Barroso referiu

que este assunto não voltaria a ser tratado até ao final do mandato do XV

governo, cujo fim do mandato está previsto para 2006.

Com a dissolução do Parlamento, este é um assunto que ficará pendente,

podendo vir a ser realizado um novo referendo dependendo da opinião do

partido que sair vencedor das novas eleições realizadas em Fevereiro de

2005.

Fontes de Informação Sociológica

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A lei do Aborto no Mundo

Nas sociedades ocidentais industrializadas, os legisladores são sempre

homens, que dizendo trabalhar no interesse da maioria, de facto sempre

protegeram uma minoria todo-poderosa (os grandes industriais, a alta

fiança). Nesta minoria nunca houve, entre os seus membros uma forte

proporção de mulheres, a não ser a título de esposas, de filhas e de amantes.

Mesmo as leis que afectam o corpo das mulheres, como a do aborto, foram

feitas por homens e para servir interesses masculinos. Estas leis reflectem

uma visão “restritiva” da mulher, reduzindo o seu papel na sociedade e

dando-lhes uma única função, a de objecto sexual.

Actualmente, o aborto ainda é ilegal na América do Norte e do Sul, e

numa boa parte da Europa e da Ásia. Alguns países toleram o aborto

quando a continuação da gravidez põe em perigo a vida da mulher. No

Canadá pode praticar-se legalmente o aborto para salvar a vida da mãe ou

preservar a sua saúde. A nova lei canadiana, assim como a francesa, não

parece poder modificar realmente a situação, a menos que os próprios

médicos construam hospitais especializados e constituam comissões de

controlo sobre o aborto. (Duarte, 2004)

As comissões para o controlo sobre o aborto, que presentemente existem

nos hospitais, são formadas apenas por homens e não permitem o aborto

senão em casos excepcionais. Estes mesmos médicos que deliberam nestas

comissões, todas as semanas devem fazer face a uma dezena, por vezes

mais, de casos muito graves provocados por abortos praticados em

condições não convenientes.

Os hospitais católicos, ao recusarem quase sistematicamente abortos

terapêuticos, impõem assim, às suas pacientes, a sua moral católica,

enquanto que só uma dezena de abortos são autorizados legalmente,

Fontes de Informação Sociológica

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praticam-se em França mais de 500 000 abortos clandestinos (segundo as

estatísticas oficiais).

Nos E.U.A, os poucos abortos legais são feitos em mulheres brancas, e

na maior parte dos casos em mulheres com muito dinheiro e que podem

obter os cuidados e a influência de médicos com prestigio.

Entre os países ocidentais, só a Inglaterra possui uma lei que torna o

aborto legal acessível às mulheres desde que estas possuam o dinheiro

suficiente para a operação. Várias centenas de francesas dirigem-se todos

os anos a clínicas especializadas em Inglaterra para fazerem abortos. O

Estado de Israel e o Japão permitem o aborto “pedido”, e muitas mulheres

se dirigem ai com esse fim. A Suécia, embora tenha fama de país liberal, só

permite 60% dos abortos pedidos e é muito difícil para uma estrangeira

fazer aí um aborto legal. Em todos os países comunistas, o aborto é legal e

pratica-se a “pedido”.

A Polónia, a Hungria, a antiga Checoslováquia, a Alemanha de Leste e a

Roménia permitem o aborto a “pedido”. A China e Cuba também permitem

a livre escolha da mulher nesta questão do aborto.

Consenso Internacional

Em Junho de 2002 o parlamento Europeu aplicou o relatório “Lancker”

(Relatório Van Lancker A5-00223/2002), que aconselhava a tornar o

aborto legal, seguro e acessível, apelando aos países para que não

perseguissem as mulheres que tivessem feito um aborto ilegal.

As Nações Unidas durante as suas conferências “A Conferência

Internacional sobre População e Desenvolvimento” no Cairo (1994) e a

“Quarta Conferência Mundial da Mulher” em Pequim (1995), defenderam

que “Os governos e as organizações deverão fortalecer o seu compromisso

com a saúde das mulheres, e deverão lidar com os impactos na saúde

Fontes de Informação Sociológica

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provocados pela realização de abortos inseguros como uma prioridade da

Saúde Pública”. (WOW, s.d.)

A Organização Mundial de Saúde defende que: “Os governos têm de

avaliar o impacto dos abortos inseguros, reduzir a necessidade de abortar e

proporcionar serviços de planeamento familiar alargados e de qualidade,

deverão enquadrar as leis e políticas sobre o aborto tendo por base um

compromisso com a saúde das mulheres e com o seu bem-estar e não com

base nos códigos criminais e em medidas punitivas. (…) As mulheres que

desejam por termo à gravidez deverão ter um pronto acesso a informação

fidedigna, aconselhamento não-directivo e em paralelo, devem ser

prestados serviços para a prevenção de uma gravidez indesejada assim

como a resolução e resposta face a possíveis complicações.” (idem, s.d.)

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Posição da Igreja em relação ao Aborto

Para muitos pró-aborto a legitimidade do aborto é absolutamente óbvia e

as pessoas que se opõem ao aborto, os pró-vida, fazem-no por razões

religiosas. Assim, discutir com os pró-vida é pura perda de tempo uma vez

que na base da sua posição está a questão da existência de Deus ou a

observância de umas regras morais da Idade Média.

O grande problema que levava à controvérsia entre teólogos dava-se em

torno do momento em que o feto passaria a ser uma pessoa, porque só a

partir desse momento haveria crime, logo havia o pecado. Na perspectiva

de muitos teólogos da época não havia pecado se o aborto fosse provocado

no início da gravidez. Mas esta discussão prolongou-se durante todo o

período medieval, predominando a teoria de Tomás de Aquino –

considerado um dos maiores teólogos do Cristianismo – segundo o qual só

haveria aborto quando o feto estivesse totalmente formado. Esta ideia foi

predominante até ao século XIX.

No século XX, esta questão voltou a ser discutida de uma forma

indirecta. A sexualidade e a contracepção eram os temas de divergência

que surgiram dentro da Igreja Católica. Para esta instituição usar qualquer

tipo de contracepção durante uma relação sexual é pecado, pois está a

impedir o nascimento de uma nova vida, estando assim a realizar um

aborto.

No livro de António Carvalho Martins (1985) “O aborto e o problema

criminal”, e no livro de Manuela Tavares (2003) “Aborto e Contracepção

em Portugal” encontramos a opinião do Pio XII e do Episcopado

Português, respectivamente, que não nos deixa margem para dúvidas acerca

da posição da Igreja nesta questão:

Fontes de Informação Sociológica

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“ (…) cada ser humano, e também a criança no seio materno, recebe o direito à vida imediatamente de Deus, e não dos pais, nem de qualquer sociedade ou autoridade humana. Portanto, não há nenhum homem, nenhuma autoridade humana, nenhuma ciência, nenhuma ´indicação` médica, eugénica, social, económica ou moral que possa apresentar ou dar título valido para a disposição directa e deliberada de uma vida inocente, quer como fim, quer como meio para outro fim, que, de si, talvez não seja ilícito”.

(Pio XII apud Martins, 1985: 41)

“A Igreja ergue-se com toda a firmeza denunciando e condenando qualquer medida legislativa que autorize o aborto. Espera-se que os legisladores recusem vincular-se a soluções tão degradantes como as que são propostas e que todos os responsáveis se comprometam a um trabalho sério a favor do bem comum, proporcionando às famílias os meios e condições indispensáveis para que possam realizar plenamente a sua vocação.”

(Episcopado apud Tavares, 2003: 28-29)

Fontes de Informação Sociológica

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Avaliação do site da Internet

O site que escolhi para avaliar foi www.womenonwaves.pt.html.

Este é um site que se encontra à disponibilidade de todos, é de fácil

acesso e totalmente gratuito. Podemos encontrar informação variada sobre

este tema, nomeadamente sobre a situação de Portugal no que toca ao

aborto. Fala do referendo realizado em Portugal, do qual menos de metade

da população foi votar.

Tenta transmitir às pessoas que, sendo a prática do aborto um acto

condenável pode trazer algumas consequências nada positivas, como o

recurso ao aborto ilegal. Consequência esta que tem levado à morte de

muitas mulheres em Portugal.

Fala-nos particularmente do chamado “barco do aborto”, que há uns

meses atracou nas águas portuguesas, dando oportunidade às pessoas para

verem que o aborto pode não ser uma prática perigosa. Existe o item “quem

somos”, onde se pode ficar a conhecer melhor esta fundação.

O que me despertou mais atenção neste site, foi sem dúvida a existência

de várias linhas directas de acesso a esta fundação, women on waves, a

qual diz pretender ajudar as mulheres. Acho também que a imagem

principal deste site é bastante sugestiva.

Fontes de Informação Sociológica

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Ficha de Leitura

O livro que serviu de base para a minha ficha de leitura é da autoria de

Manuela Tavares, licenciada em Economia pala Universidade Aberta.

Os capítulos de que vou abordar referem-se a um período de três

décadas: 70, 80 e 90 do século XX.

Este livro retrata-nos a forma como ao longo dos anos, as mulheres

portuguesas foram lutando para serem “ouvidas”. As várias organizações

que formaram, os debates e conferências que fizeram, a pressão que

fizeram sentirem no governo. Tudo isto, para poderem ter o direito e

liberdade de optar, no que toca ao aborto. Mas, apesar de tanta luta este

objectivo ainda não foi conseguido.

A década de 70 foi marcada pelo aparecimento do Movimento para a

Contracepção e Aborto Livre e Gratuito (MCALG), movimento este que

exigia a legalização do aborto, assim como a sua realização em instalações

adequadas. Os momentos mais “quentes” surgem a partir da segunda

metade desta década, os quais dão origem à Campanha Nacional pelo

Aborto e Contracepção (CNAC). Estes factos ocorridos (divulgações na

televisão e em revistas sobre o aborto, debates, 1ª Conferencia Sindical

Nacional das Mulheres Trabalhadoras, criação de associações em defesa

das mulheres – MLM, IDM, UMAR, GAMP-, recolha de assinaturas) têm

o objectivo de fazer pressão sobre os partidos políticos para que estes

apresentem propostas de despenalização do aborto.

A década de 80 é uma sequência da anterior, uma vez que a luta

continua. Os movimentos ocorridos na década de 70 avivaram o interesse

dos partidos políticos sobre este assunto. No início desta década é aprovada

pelo Movimento Democrático das Mulheres (MDM) a legalização do

aborto na Carta dos Direitos da Mulher. Esta foi uma década em que foram

Fontes de Informação Sociológica

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apresentados vários projectos, desde as várias instituições criadas a favor

do aborto, à Assembleia da República, dos quais nem todos foram

aprovados. Isto quer dizer que, apesar de se verificar um enorme progresso,

ainda não foi reconhecido o direito à mulher de optar.

A década de 90 ficou assinalada pelo referendo do dia 28 de Junho de

1998, realizado em Portugal, do qual o resultado foi pouco claro, uma vez

que apenas 32% da população votou, sendo 49% dos votos a favor e 51%

dos votos contra a despenalização do aborto.

Na minha opinião, este livro está bastante expressivo. Consegue

transmitir-nos bem o sofrimento pelo qual estas mulheres passaram. Talvez

se nos dias de hoje as mulheres se unissem, como se uniram durante estas

décadas a trás, poderiam ter liberdade de escolha nesta questão do aborto.

Fontes de Informação Sociológica

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Conclusão

Ao concluir o meu trabalho, cheguei à conclusão que este tema já vem a

ser debatido há muito tempo. Muitas mulheres têm vindo a tentar manter

uma posição, lutando pelos seus direitos. É muito difícil ter uma opinião

concreta sobre o assunto, pois este é um tema que envolve questões não só

sociais mas também políticas e religiosas.

Falar sobre este assunto demonstra alguns obstáculos, uma vez que se

torna um tema um pouco generalista devido à polémica que sempre surgiu

em torno deste, dificultando assim a selecção de informação.

Tive mais dificuldade na organização da informação, mas acho que é um

tema bastante apelativo de debater e sobre o qual eu gostei de trabalhar.

Se mais tarde voltasse a trabalhar sobre este tema, gostaria de incluir

Portugal no grupo de países em que esta prática é permitida. Se isto

acontecesse era sinal que o país tinha evoluído e deixado para trás todos os

preconceitos.

Fontes de Informação Sociológica

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Referências Bibliográficas

Correia, Margarida Brito (s.d.), “O aborto na lei penal portuguesa

actual”. Página consultada a 20 de Dezembro de 2004, disponível

em

< www.terravista.pt/enseada/1881/lei-penal.html>

Duarte, Miguel (2004), “Algumas informações sobre o aborto”.

Página consultada a 5 de Janeiro de 2005, disponível em

< http://www.algumas-informaçoes-sobre-o-aborto.html-18k>

Geraldo, Paulo Jorge (2001), “Breve história do aborto”. Página

consultada a 20 de Dezembro de 2004, disponível em

< http://paginasvida.no.sapo.pt/brevehistoria.htm>

Martins, António Carvalho (1985), O aborto e o problema

criminal. Coimbra: Coimbra Editora.

Tavares, Manuela (2003), Aborto e contracepção em Portugal.

Lisboa: Livros Horizonte.

WOW (s.d.), “women on waves”. Página consultada a 27 de

Dezembro de 2004, disponível em

< www.womenonwaves.pt.html>

Anexo I Texto de suporte da ficha de leitura

Anexo II

Página do site avaliado