trabalho guilherme - produção do espaço (espaço como produto)

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1 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo GUILHERME DE ABREU BASTO LIMA RODRIGUES PARA ENTENDER O ESPAÇO COMO PRODUTO 1

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Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo

GUILHERME DE ABREU BASTO LIMA RODRIGUES

PARA ENTENDER O ESPAO COMO PRODUTO

(Belo Horizonte, 2014)

GUILHERME DE ABREU BASTO LIMA RODRIGUES

PARA ENTENDER O ESPAO COMO PRODUTO

Trabalho apresentado disciplina A produo contempornea do espao urbano do Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais

Docente: Professora Denise Morado

(Belo Horizonte, 2014)

SUMRIO

1 INTRODUO.............................................................................................................. 4

2 O ESPAO.................................................................................................................... 6 2.1. Entre a paisagem, o lugar e o territrio................................................................... 62.2. Valor de uso e valor de troca do espao ................................................................82.3 A subdiviso do espao em categorias....................................................................9

3 O URBANO..................................................................................................................103.1 - O urbano como capital fixo..................................................................................11

4 A PRODUO............................................................................................................ 12

5. CONCLUSO: ESPECULAR UMA FORMA DE PRODUZIR ESPAO..................137 REFERNCIAS............................................................................................................15

1. IntroduoNo campo das Cincias que se dedicam a problemtica espacial levando em considerao suas implicaes sociais e principalmente dentre aquelas em que a reflexo sobre o espao adquire significativa centralidade[footnoteRef:2] - observa-se uma multiplicidade de significados atribudos ao conceito de espao. A amplitude desse campo conceitual fez com que alguns autores elaborassem subdivises do conceito. Se por um lado, espao geogrfico (CARLOS, 1994: 35) espao mercadoria (CARLOS, 1994: 87) e espao mundial (CARLOS, 1994: 98) so operaes metodolgicas positivas pois reduzem a abrangncia do conceito e permitem tratar de uma especificidade, por outro, tal manobra pode dificultar a compreenso da questo espacial na perspectiva de sua totalidade. [2: Aqui, faz-se referncia, ao Urbanismo e a Geografia.]

Por mais que no chegue a um acordo em relao ao que significa o conceito de espao, a literatura influenciada pela crtica da economia poltica e fundamentada no mtodo materialista dialtico estabeleceu o consenso de que o espao produzido. Nesse sentido, pode-se recortar o campo dos estudos espaciais e promover seu entendimento a partir da articulao com a compreenso das condies sob as quais ele produzido.Se o espao produzido, ento ns estamos lidando com a histria (LEFEBVRE, 1974:46). Alm de ser um fenmeno histrico, a ideia de espao com a qual trabalharemos no pode ser desvinculada de seu aspecto social, como um produto da sociedade, imerso e constitutivo no emaranhado de relaes que a codificam e configurado sob os desgnios de determinado modo de produzir materialmente estruturado.Para pensarmos o espao, precisamos, ento, pensar a sua produo; e pensar essa produo implica em pensar tambm a sua reproduo. Estes processos, no contexto contemporneo da maior parte do Brasil e do mundo, se do sob a direo de foras contraditrias, ativadas por interesses distintos que situam a sociedade de um lado e o capital do outro. (CARLOS, 1992: 26)Os palcos privilegiados desse embate so as cidades contemporneas. Compondo o cenrio das lutas entre classes que, por condicionantes estruturais econmicos, possuem objetivos distintos, os citadinos produzem o espao ao mesmo tempo em que tm as condies materiais da reproduo de sua existncia definidas em meio e com base nele. (CARLOS, 1992: 27)A ideia de produo do espao aparece como condio fundamental para compreender a realidade urbana, sendo que para captar seus vrios desdobramentos faz-se necessrio aprofundar a compreenso dos conceitos de espao, produo e urbano. O presente trabalho transcorrer-se- fundamentado na articulao dessas trs categorias e tendo como prisma a crtica da economia poltica mediada pelo mtodo materialista dialtico.Esse trabalho possui o vis introdutrio da apresentao de conceitos e possui o objetivo de promover uma sistematizao da ideia de espao articulado a interpretao da produo no seu sentido imaterial.Na primeira parte ser apresentado o conceito de espao e algumas de suas subcategorias. Acreditamos que uma boa definio do que o espao parte da diferenciao entre ele e outros conceitos que possuem significados similares, como lugar, territrio e paisagem. A partir da teoria do valor, complementamos alguns apontamentos sobre este vasto universo constitudo pela ideia de espao. Dedicamos um pedao dessa parte para a diferenciao entre as formar como o espao valorado e para a apresentao de algumas de suas subcategorias.Na segunda parte, tratamos do conceito de urbano e de sua expresso mais concreta, a cidade. Buscamos mostrar o urbano entendido como capital fixo e seu papel na dinmica da produo do espao mediada pela mercantilizao feita pelo capitalismo de todas as instancias materiais e imateriais. .-Por fim, apresentamos o conceito de produo em sua interpretao para alm da ideia da produtividade material para em seguida conclumos com o exemplo da especulao imobiliria para enquanto elemento ilustrativo de uma forma de produzir a espacialidade.2. O EspaoDeixe que as pessoas olhem o espao ao seu redor. O que elas veem? Elas veem o tempo? Elas experimentam o tempo (...); elas esto no tempo(LEFEBVRE, 1974: 95)As limitaes deste trabalho inviabilizam uma explorao mais aprofundada das concepes de outros autores sobre o tema. Dada essa necessidade do recorte, sero privilegiadas as elaboraes de CARLOS (1992; 1994). Para facilitar a penetrao nas dimenses do conceito de espao, escolhemos comear por diferenci-lo de outros conceitos que, embora detenham certa proximidade de significados no uso cotidiano feito pelo senso comum, muitas vezes buscam captar distintas expresses do universo do real.Nesse sentido, diferenciar espao de paisagem, lugar e territrio passa a ser o caminho mais exitoso para impedir futuras confuses na acepo do termo. Definindo o que o espao no pode auxiliar para que entendamos os mltiplos significados que lhe so atribudos.

2.1. Entre a paisagem, o lugar e o territrioSe fssemos traar um paralelo, a representao mais fidedigna da paisagem sairia no formato de um retrato, justamente por ela constituir-se como a dimenso imediata da materialidade do real observado. Sendo o aparente perceptvel, a paisagem reflete o momento, a imagem captada do agora. (CARLOS, 1992: 35)

Ponto de partida para tornar inteligvel o real no observvel, a aparncia um elemento constitutivo da essncia desse real. Dessa forma, a paisagem da cidade, humana e social, erguida sobre o que antes era a natureza intocada pelo homem, de onde se parte para descortinar a realidade. (CARLOS, 1992: 36)Um pequeno exerccio imaginativo pode ser til para pensar como a espacialidade se manifesta na realidade social. Tanto o lugar quanto o territrio so elementos objetivos e tangveis: o indivduo, em sua existncia fsica corprea, pode capta-los com a experincia sensitiva, pois ambos so matria. Enquanto a Fsica decreta que dois corpos no podem ocupar o mesmo lugar, o territrio sempre calculvel em pores; podemos pisar em lugares e territrios, j no espao entendido aqui como espao social - no. nesse sentido que lugar e territrio diferem do espao: assim como o tempo, no preciso ver nem senti-lo para que se esteja nele. O universo perceptvel que lida com esses fenmenos est no campo subjetivo; enquanto algum pode estar sobre um lugar ou estar em um territrio, tempo e espao so experimentadas como manifestaes no campo mais abstrato.Diante dos conceitos de paisagem, lugar e territrio, podemos lidar com mais tranquilidade com a ideia de espao. CARLOS (1992: 28) apresenta a seguinte definio para o conceito:(...) em ltima instncia, [o espao] uma relao social que se materializa formalmente em algo passvel de ser apreendido, entendido e aprofundado. Um produto concreto [que] expressa as contradies que esto na base de uma sociedade de classes(CARLOS, 1992: 28)O espao entendido, pois, como a condio para a produo da cidade e o produto que dela resulta. Dialeticamente apresentado como meio e fim, ele a engrenagem laboral da mesma forma que tambm o prprio trabalho materializado. (CARLOS, 1992: 24)Visto que sua produo desigual e contraditria, a paisagem que dele resulta heterognea. Basta observar os chocantes contrastes entre os bairros ricos e pobres de uma grande cidade para perceber como ela passa longe de ser apropriada[footnoteRef:3] de forma igualitria. (CARLOS, 1992: 23) [3: A ideia de que a cidade apropriada ser melhor desenvolvida ao longo do trabalho]

Dois tipos distintos de valorao do espao constituem essa forma contraditria de produo social. Faz-se necessrio aprofundar o contraste entre a ideia de valor uso e valor de troca, mecanismo importante para entender como tudo que socialmente produzido em mediao com o capital adquire categorias valorativas totalmente opostas.

2.2. Valor de uso e valor de troca do espao Pelo fato do acesso a terra ser condicionado ao pagamento de um valor, o uso do espao (materializado enquanto solo) vai depender de como dele se apropriam aqueles que esto utilizando. Dessa forma, necessrio analisar o espao a partir da unidade entre seu valor de uso e seu valor de troca. (CARLOS, 1992: 47)A teoria do valor[footnoteRef:4] o melhor caminho para achar as respostas relacionadas s formas de se utilizar e valorizar o espao. Ela a chave para compreender como determinadas pores territoriais adquirem distintos tipos de uso, e, a partir dessa lgica, entender as dinmicas da segregao scioespacial e da especulao imobiliria do solo. (CARLOS, 1992: 47) [4: Como se estabelece o valor atribudo ao trabalho e aos produtos fonte de inesgotveis debates na teoria econmica. Aqui, trabalhamos com a categoria de valor tal qual definida em MARX (1987)]

O valor diferente das inmeras parcelas da cidade e a forma como elas so utilizadas dependem das relaes sociais de produo que nela so construdas e estabelecidas. Atravs da anlise das movimentaes do mercado elo unificante da produo e do consumo - em conluio com os poderes constitudos que dirigem o estado, possvel compreender de que maneira se fixam os preos dessas pores territoriais. (CARLOS, 1992: 48)A explicao desse mecanismo desenvolvida em CARLOS (1992: 48) de acordo com o seguinte processo:Os fatores que determinaro a formao do preo vinculam-se principalmente insero de determinada parcela no espao urbano global, tendo como ponto de partida a localizao do terreno (por exemplo, no bairro), o acesso aos lugares ditos privilegiados (escolas, shoppings, centros de sade, de servios, lazer, reas verdes, etc.), infraestrutura (gua, luz, esgoto, asfalto, telefone, vias de circulao, transporte), privacidade; e, secundariamente, os fatores vinculados ao relevo que se refletem nas possibilidades e custos da construo. Finalmente, um fator importante: o processo de valorizao espacial. (CARLOS, 1992: 48)Essa evoluo dos preos, conforme complementa CARLOS (1992:48)(...) todavia, inter-relaciona-se com as condies de reproduo do espao urbano, decorrentes da produo das condies gerais da reproduo do sistema e dos custos gerados pela aglomerao, pelo grau de crescimento demogrfico, pela utilizao do solo, pelas polticas de zoneamento ou reserva territorial e pelas modificaes do poder aquisitivo dos habitantes. (CARLOS, 1992: 48)Alm de possuir diferentes formas de obter sua valorao, o espao aparece tambm caracterizado em algumas subcategorias as quais vamos nos ater agora.2.3 A subdiviso do espao em categorias Pelo fato de haver uma infinidade de significados atribudos ao conceito de espao[footnoteRef:5], a frmula encontrada por CARLOS (1992;1994) para se referir a um tipo especfico de espao foi subdividi-lo. Comearemos a tratar pela que aparece com mais frequncia em seu texto, o espao geogrfico. [5: O prprio Lefebvre subdividiu o espao em diversas subcategorias, mas sempre ressaltando que ele deve ser entendido em sua totalidade.]

Apresentado como um produto histrico que surge a partir do trabalho humano sobre a natureza - matria-prima alvo da interveno do homem o espao geogrfico entendido como(...) um produto de relaes concretas que o homem cria na sociedade e atravs dela, ao longo de seu processo de hominizao; processo esse que se cria como atividade prtica dos homens (em suas relaes materiais) e que reproduz o processo de desenvolvimento da humanidade. (CARLOS, 1994: 34)

Alm de receber a alcunha de geogrfico, o espao tambm adquire em CARLOS (1994) a forma descritiva de uma mercadoria. As reflexes que desguam na ideia do espao-mercadoria (CARLOS, 1994: 87) so uma consequncia da leitura que CARLOS (1994) faz de HARVEY (1980) e a ideia da mercantilizao do espao, presente no debate sobre as mediaes entre a teoria do valor e a teoria do uso do solo urbano.O espao tambm se vincula ao capital que, no transcurso de seu processo de internacionalizao, fabrica novas espacialidades. Historicamente situada, surge a categoria de espao mundial (CARLOS, 1994: 98). Se possvel falar de um mercado global em termos de profundas conectividades entre os estados-nao, pode-se falar tambm que em seu processo de construo e expanso verifica-se a produo de um tipo de espao.Com a diviso internacional do trabalho, a espacializao produzida pelo sistema capitalista tambm mundializada. O espao mundial encontra-se dividido de acordo com essa universalizao, que contrape os pases ricos do centro periferia pobre e dependente no sistema internacional ( CARLOS, 1994: 181).As crescentes taxas de urbanizao verificadas nas periferias (e principalmente nos pases semi-perifricos) globais a partir do final da dcada de 1970 so reflexo dessa mundializao, que promove o desenvolvimento desigual e combinado das formaes scio-econmicas. Urbanizados de forma dependente, no era de se esperar outra coisa seno as constantes exploses das crises urbanas que marcam as dcadas posteriores (CARLOS, 1994: 182).As especificidades dos fenmenos social e materialmente produzidos no que diz respeito a suas espacialidades, passaram, com o advento da chamada modernizao capitalista a ter sua explicao alinhada a urbanizao. Mas por que no urbano se produz um novo tipo de espao? Essa a questo que delineia o raciocnio a seguir. 3 - O UrbanoO fenmeno urbano deve ser entendido dentro da relao que a sociedade estabelece com o espao em meio ao desenvolvimento das foras produtivas. Entretanto, no devemos trat-lo apenas como uma nova forma de produzir, mas tambm enquanto recriao do sentir, pensar e estar no mundo. Nesse sentido o urbano, alm de ser um processo que institui uma reconfigurao especfica das feies espaciais produto histrico, ao mesmo tempo que realidade imediata. (CARLOS, 1994: 85)Contudo, devemos ter em mente que o urbano representa tambm uma pluralidade de elementos que se expressam em formatos distintos a depender da localidade. Diferentes urbanidades emergem na interseo dos graus de desenvolvimento das formaes econmico-sociais com a regio onde elas se exprimem. Faz mais sentido, pois, que tratemo-lo no plural, enquanto fenmeno que adquire variados contornos. Espaos urbanos coexistem no mesmo momento histrico, at mesmo em locais que guardam entre si conexes ntimas e grande proximidade.Para entender o urbano devemos olhar a mais concreta forma atravs da qual ele se manifesta: a cidade. Alm de ser a justaposio de unidades produtivas (CARLOS, 1994: 98), a cidade o locus da aglomerao populacional, cuja totalizao se d a partir da diviso espacial e social do trabalho em meio a articulao entre produo, distribuio e consumo, unificados em um s lugar (CARLOS, 1994: 84).Alm de ser uma forma do processo de produo ela tambm os contornos que as formas de apropriao do espao adquirem no contexto urbano. Assim, a cidade se desenha como uma mercadoria, a ser consumida de acordo com as leis gerais do desenvolvimento do sistema capitalista de produo.Sob o prisma da teoria do valor, os dois aspectos contraditrios da cidade, quais sejam, produto e meio de produo, permitem que ela seja caracterizada como mercadoria e capital fixo, ao mesmo tempo. Trata-se de um condicionante produtivo que se auto (re)produz, no de forma isolada, mas conectada as outras formas de espaos presentes no mundo capitalista. (CARLOS, 1994: 85)

3.1 - O urbano como capital fixoTendo seu surgimento no transcurso do crescimento das foras produtivas, o urbano, devido aglomerao e a alta rotao que promove, alm de configurar um tipo de produo espacial especfico, tambm figura como um fator de reproduo do capital. (CARLOS, 1994:98).O tipo clssico de capital fixo uma mquina em uma fbrica, por exemplo comparvel ao urbano na perspectiva de que ambos so uma condio material do processo produtivo. Fatores como impulsionar e garantir uma produo em grande escala e a eficincia tambm acentuam as semelhanas. (CARLOS, 1994: 97)A comparao entre o urbano - expresso concretamente na sua manifestao organizacional mais clara, qual seja, a cidade - e a fbrica tambm pode ser enxergada a partir de suas diferenas. Se, por um lado, a mercadoria produzida numa fbrica (uma camisa, por exemplo) adquire uma existncia independente dela, a cidade, sendo o produto de si mesma, a princpio, no geraria nada com vida prpria. Para aprofundar essa linha de pensamento, analisaremos o conceito de produo, na linha do raciocnio desenvolvido por LEFEBVRE (1974)4 - A Produo Desde a poca em que o sistema capitalista se tornou a forma de organizao da vida social das partes centrais do mundo, a mercadoria aparece como eixo central de regulao da existncia humana. Produzir mercadorias o imperativo central do sistema capitalista, pois dessa produo extrado o lucro, motor de toda a engrenagem financeira e condio da reproduo do mundo da mercadoria. Infraestruturas logsticas de alta complexidade e eficincia so criadas para que a mercadoria possa navegar o mais rpido possvel pelos oceanos enquanto instancias jurdicas so desenhadas para que esses produtos tenham livre acesso atravs das fronteiras. Na acepo do materialismo dialtico, o conceito de produo transcende a mera oposio sujeito x objeto. Como poderamos, ento, chegar a outro modo de pensar a racionalidade produtiva? O que pode surgir de novidade conceitual da superao da contradio desse binmio? (LEFEBVRE, 1974: 72)A sugesto de LEFEBVRE (1974) a de separar a ideia de produo da ideologia do produtivismo. Um produto no precisa ser entendido apenas como o resultado final do trabalho numa concretude material palpvel; ele pode simplesmente no adquirir o formato de uma coisa. nesse sentido que se pode pensar o espao como um produto. Enquanto realidade social, permite-se imaginar outras categorias de produtividade. Como ,por exemplo, quando se coloca a especulao imobiliria como um forma de produzir espao. Mas como a especulao pode produzir espao?5. Concluso: especular uma forma de produzir espaoProduzir espao: essa combinao de palavras no teria significado algum na poca em que os filsofos exerciam poder sobre todos os conceitos. O espao dos filsofos poderia ser criado apenas por deus.(LEFEBVRE, 1974,73)O materialismo dialtico abre caminhos para analisar a produo do espao urbano a partir da crtica da economia poltica. Nesse sentido, ele coloca que preciso entender a dinmica produtiva para alm da elaborao de coisas ou artefatos e trazer para a explicao da realidade urbana as relaes sociais que compem-na. (CARLOS, 1994:14)O sistema capitalista produz um espao, tal qual produzem todos os outros que o precederam. A diferena que essa produtividade s pode ser feita junto valorizao do capital; se ela no estiver inserida no seu circuito de realizao, no vai se concretizar (CARLOS, 1992: 76)Por produo no entendemos apenas a atividade laboral com o fim de produzir uma coisa. O produto social imaterial elemento chave na composio da realidade. Tomemos o exemplo da atividade especulativa no campo imobilirio:Em realidade, a chamara especulao imobiliria encobre os mecanismos de apropriao privada do processo de valorizao de reas, em funo da incorporao do trabalho social terra-matria (concretamente e/ou em potencial), vinculado ao processo de reproduo espacial, num novo patamar (CARLOS, 1994: 179)Entendendo produo para alm do aspecto da materialidade da mercadoria possvel desvendar o mecanismo da especulao como fora produtora de espao, j que ocupa um posto central na dinmica da reproduo espacial ampliada. Inserido nesse circuito produtivo, o fenmeno da especulao uma das chaves para compreender a urbanidade em suas complexas manifestaes sob a gide do capital em conluio com o estado.

Referncias bibliogrficas

CARLOS, Ana Fani A. A (re)produo do espao urbano So Paulo: EDUSP, 1994

CARLOS, Ana Fani A. A Cidade. So Paulo: contexto , 1982.

HARVEY, David. A produo capitalista do espao. So Paulo:Annablume, 2005

LEFEBVRE, Henri. O Direito cidade. So Paulo: Editora Moraes, 1991

LEFEBVRE, Henri. The production of space. Oxford: Blackwell, 1974 (e-book)

MARICATO, Erminia. A produo capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial So Paulo: Editora Alfa-Omega, 1982

MARX, Karl. Teorias da Mais-Valia in O Capital. Livro 4 Volume 1. So Paulo: Bertrand Brasil, 198715