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Vanessa Alves Rodrigues TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO PINEAAPLE STORM TV: A FUSÃO DE ARTISTA E MARCA NOS VIDEOCLIPES DO CANAL Santa Maria, RS 2018

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Page 1: TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · Trabalho Final de Graduação II apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda, Área de Ciências Sociais, da Universidade Franciscana – UFN,

Vanessa Alves Rodrigues

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

PINEAAPLE STORM TV: A FUSÃO DE ARTISTA E MARCA NOS VIDEOCLIPES

DO CANAL

Santa Maria, RS

2018

Page 2: TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · Trabalho Final de Graduação II apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda, Área de Ciências Sociais, da Universidade Franciscana – UFN,

Vanessa Alves Rodrigues

PINEAAPLE STORMTV: A FUSÃO DE ARTISTA E MARCA NOS VIDEOCLIPES

DO CANAL

Trabalho Final de Graduação II apresentado ao

Curso de Publicidade e Propaganda, Área de

Ciências Sociais, da Universidade Franciscana

– UFN, como requisito para a obtenção do

grau de Bacharel em Publicidade e

Propaganda.

Orientadora: Profª. Drª. Michele Kapp Trevisan

Santa Maria, RS

2018

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Universidade Franciscana

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia.

PINEAAPLE STORMTV: A FUSÃO DE ARTISTA E MARCA NOS VIDEOCLIPES

DO CANAL

Elaborada por

Vanessa Alves Rodrigues

Como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda

________________________________________

Prof.ª Drª. Michele Kapp Trevisan

(Universidade Franciscana)

_______________________________________

Prof.ª Dr. Fernando Franco Codevilla

(Universidade Franciscana)

________________________________________

Prof.ª Me. Carlos Alberto Badke

(Universidade Franciscana)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço aos meus pais, que são as pessoas que eu mais amo e admiro

nessa vida. Agradeço por toda paciência que sempre tiveram comigo e por estarem ao meu

lado nas principais decisões e por apoiarem em todos os sentidos quando decidi que cursaria

Publicidade e Propaganda. Agradeço por estarem comigo nos momentos de incerteza em

relação ao curso e por reforçarem que eu era capaz. Agradeço por sempre me ensinarem que o

conhecimento é o bem mais precioso que podemos ter e que ele é capaz de mudar o mundo.

Agradeço por vocês sempre se esforçarem para que eu tenha o melhor. Obrigada por serem

simplesmente do jeitinho de vocês. Agradeço por tudo. Eu amo vocês!

Agradeço também às minhas amigas e companheiras de apartamento, Giulia, Gabriele

e Vitória, por me apoiarem durante o período estressante, que é o final da faculdade, e por

sempre me incentivarem a seguir, falando que tudo ficaria bem. Obrigada por me abraçarem,

levarem café, comidinhas e refletirem comigo sobre a vida. Sem dúvidas vocês ajudaram a

tornar possível essa realização.

Agradeço a todos os professores que dividiram comigo os seus conhecimentos durante

esses quatro anos de graduação. Quero que saibam o quanto admiro cada um de vocês e que

levarei para sempre os aprendizados compartilhados.

Agradeço à minha orientadora, Michele Trevisan, professora que admiro desde a

primeira aula, pelo carisma e forma descontraída que ministrava as aulas, com a qual tive o

prazer de me aproximar durante o último ano. Por isso, agradeço imensamente por ter me

auxiliado na produção da pesquisa e por ter aguentado todos os meus surtos de insegurança e

momentos de “eu não vou conseguir escrever”. Obrigada por tudo.

E, por fim, agradeço à música, ao rap e à cultura hip-hop.

Page 5: TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · Trabalho Final de Graduação II apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda, Área de Ciências Sociais, da Universidade Franciscana – UFN,

"Topo pras mina, respeito às mina

Falo por mina, grito pras mina

Entenda, mina, você é linda

Não há quem diga, e deixe quem diga

Por favor, siga sua vida

Por favor, deixa eu seguir a minha

Eu faço por amor e minha trilha vai ser linda"

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Poetisas no Topo - Pineapple StormTV (2017)

PINEAAPLE STORMTV: A FUSÃO DE ARTISTA E MARCA NOS VIDEOCLIPES

DO CANAL1

Vanessa Alves RODRIGUES2

Michele Kapp TREVISAN3

Universidade Franciscana, Santa Maria, RS

RESUMO

O objeto da pesquisa é o canal Pineapple StormTV, criado em 2015 pelo proprietário da marca Pineapple Supply,

para funcionar como uma estratégia de divulgação da marca. Para tal finalidade, a Pineapple patrocinou diversos

rappers que passaram pelo seu canal. É importante destacar que a conexão entre a marca e os artistas foi pensada

de forma tão profissional e criativa, a ponto de ela entrar para a história do rap nacional, tendo em vista que a

marca divulga lançamentos toda semana e possui atualmente mais de três milhões de inscritos no seu canal.

Assim, como objetivos específicos, pretende-se: a) conhecer as características da linguagem de videoclipe e suas

classificações tipológicas; b) identificar técnicas de product placement para inserções de marcas em audiovisuais

e identificar as inserções da marca Pineapple Supply relacionando as categorias de product placement, propostas

por Boaventura (2014), e a tipologia de videoclipes proposta por Trevisan (2011). A pesquisa é qualitativa, de

tipo descritivo, observando a presença da marca Pineapple Supply em três videoclipes postados em seu canal nos

anos de 2017 e 2018. Os resultados demonstram que a marca utilizou, como principal estratégia de divulgação, a

sua inserção de diferentes formas nos videoclipes que produziu. Como conclusão, o estudo apresenta a evolução

da publicidade em formatos audiovisuais, como o videoclipe nas últimas décadas, assim como da cultura hip-

hop.

PALAVRAS-CHAVE: Rap; Street Style; Videoclipe; Youtube; Product Placement.

ABSTRACT

The object of this search is the Pineapple StormTV channel, created in 2015 by the owner of the brand Pineapple

Supply, to function as a brand promotion strategy. To that end, Pineapple sponsored a number of rappers who

passed through its channel. It is important to point out that the connection between the brand and the artists was

thought so professionally and creatively that it entered the history of national rap, given that the brand advertises

launches every week and currently has more than three million subscribers to the channel. Thus, as specific

objectives, it is intended: a) to know the characteristics of the language of music video and its typological

classifications; b) identify product placement techniques for insertions of brands in audiovisuals and identify the

insertions of the Pineapple Supply brand, relating the categories of product placement proposed by Boaventura

(2014) and the typology of video clips proposed by Trevisan (2011). The research is qualitative, descriptive,

observing the presence of the Pineapple Supply brand in three video clips posted on its channel in the years 2017

and 2018. The results demonstrate that the brand used, as its main dissemination strategy, its insertion in

different ways video clips you have produced. In conclusion, the study presents the evolution of advertising in

audiovisual formats, such as video clips in the last decades, as well as hip-hop culture.

KEYWORDS: Rap; Street Style; Video Clip; Youtube; Product Placement.

1 Artigo resultante da disciplina Trabalho Final de Graduação II.

2 Acadêmica do Curso de Publicidade e Propaganda (UFN). E-mail: [email protected]

3Orientadora. Doutora, Professora do Curso de Publicidade e Propaganda (UFN). E-mail:

[email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O consumo musical passou por profundas transformações nas últimas décadas, sendo

que um fator fundamental para esse acontecimento foi a popularização do videoclipe, que

consiste em um formato audiovisual que se propõe a divulgar artistas e, assim, elevar a

música a outro patamar. Desse modo, além de ser conhecido por sua voz, o artista também

passa a ser conhecido pela imagem que transmite ao público não apenas em shows, mas

principalmente através de videoclipes, estes podem que são encontrados em redes sociais

digitais, como o Youtube, uma plataforma de compartilhamento de vídeos que surgiu em

2006, com a proposta de ser um espaço livre e democrático para a divulgação e consumo

audiovisual. O sucesso do Youtube alterou profundamente o consumo musical, já que com

ele, o público que antes dependia de mídias tradicionais como o rádio e a TV, assim como de

gravadoras e produtoras de eventos, passa a consumir músicas de acordo com a sua

preferência e sem precisar sair de casa. Por isso, esse processo pode ser entendido como um

marco, já que hoje em dia é quase impossível pensar em ser reconhecido no meio musical sem

estar presente nessas novas plataformas de divulgação.

Antes do fenômeno Youtube, podemos citar o fenômeno MTV ou, melhor, a Era MTV

(TREVISAN, 2011), já que a emissora é considerada a mãe do videoclipe, pois foi através da

sua programação descontraída e focada nos jovens que o formato se espalhou pelo mundo,

conquistando um público cada vez maior. Assim, a imagem dos artistas passou a ser

potencializada numa fusão de sonoridade e cenário imagético, em que a sequência de imagens

e ritmo é capaz de sintetizar um pouco do universo que determinado artista deseja transmitir,

bem como a subjetividade que o representa. O caráter democrático difundido pela MTV, de

ser a porta voz de artistas e gêneros musicais que até então careciam de espaço na mídia, foi

um fator decisivo para a consagração de estilos musicais até então marginalizados, como é o

caso do rap, uma das expressões que representa o movimento sociocultural hip-hop, sendo

este apresentado pela MTV americana nos anos 1980 no programa “Yo MTV Raps!”, e no

Brasil em 1990 através do “Yo!”. Apesar do sucesso, a emissora foi perdendo espaço para a

ascensão da internet, que tornou possível a Era Youtube, já que a plataforma se mostrou um

espaço ainda mais democrático. Com o crescimento do Youtube a partir de 2006 e da

facilidade de acesso à tecnologia, foram surgindo diversas produtoras independentes que

fazem seus trabalhos à margem de grandes gravadoras, como é o caso dos home studios, que

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surgem da parceria entre produtores musicais, beatmakers, cantores, videomakers e

fotógrafos, ambos fomentando o crescimento do cenário independente.

O rapper Mv Bill 4 comenta, em uma de suas músicas, que “troféu abacaxi é só pra

quem é convocado a vestir a camisa, depende do empenho”5. Esse trecho refere-se à sua

parceria com a marca de streetstyle6 Pineapple Supply, que tem promovido grandes

lançamentos do hip hop nacional através do seu canal oficial no Youtube, o Pineapple

StormTV. A marca foi criada em 2015 pelo carioca Paulo Alvarez, que em entrevista ao site

Vice Brasil (plataforma de conteúdo digital focada nos jovens) explicou que as primeiras

camisetas da marca foram produzidas com o dinheiro da rescisão do seu último emprego e

lançadas em um show de rap, o qual foi convidado a organizar, onde todas as camisetas foram

vendidas. Por motivos pessoais, Alvarez ficou um ano e meio sem lançar mais camisetas, até

conhecer o trabalho do rapper Froid e ver nele uma grande oportunidade para retomar a

marca, já que encontrou nas músicas do artista muito do que a Pineapple buscava sintetizar.

Diante disso o empresário passou a patrocinar a carreira do rapper, visto que “a Pineapple

surgiu como uma marca de roupa, mas a intenção dela desde o começo foi funcionar sempre

na vertente do rap” (ALVAREZ apud MADORMO, 2017).

O primeiro projeto de rap patrocinado pela Pineapple Supply foi o cypher,7

denominado Favela Vive (2016), que contou com a participação dos rappers ADL, Sant,

Raillow e Froid e atualmente possui mais de 18 milhões de visualizações. Porém, o vídeo de

divulgação foi veiculado no canal de outra produtora devido a isso Alvarez decidiu criar um

canal próprio para a Pineapple no Youtube.

A gente acabou ficando de fora do Favela Vive 2, e aí que eu resolvi criar meu

próprio canal no YouTube e armar meu projeto de cypher. Chamei o Lucas Malak,

do estúdio e produtora BrainStorm, que já era meu parceiro com os trampos do

Froid, montamos a PineappleStorm TV, um canal no YouTube pra gente upar os

nossos cyphers (ALVAREZ apud MADORMO, 2017).

Foi nesse contexto que surgiu o projeto Poetas no Topo, o primeiro cypher a ser

lançado no canal Pineapple StormTV, que foi ao ar em dezembro de 2016, sendo que um mês

após o seu lançamento já contava com mais de 2,2 milhões de visualizações (atualmente

4 Um dos mais famosos rappers do Brasil, conhecido por suas letras fortes, representadas até pelos nomes de

seus discos, como Traficando Informação (2000) e Declaração de Guerra (2002). 5 Trata-se da música Trap de Favela, 2018.

6 Estilo de rua.

7 Quando MCs se juntam em um estúdio e escrevem suas rimas ou rimam livremente sobre um tema, cada um

faz a sua contribuição. Os cyphers tem ficado cada vez mais complexos e bem produzidos, principalmente com

relação ao audiovisual.

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possui mais de 16 milhões). Devido ao sucesso, já foram lançados mais 4 cyphers do projeto,

sendo um deles composto apenas por MCs8 mulheres, denominado Poetisas no Topo (2017).

O canal também possui outros projetos já renomados, como o “Perfil”, em que o/a MC se

apresenta e em seguida mostra a sua rima, e “Poesia Acústica”, em que os artistas rimam

acompanhados de acordes orgânicos, como o som do violão. Atualmente, o canal da

Pineapple conta com mais de 2 milhões de inscritos e foi destacado várias vezes na sessão de

vídeos em alta do Youtube, o que comprova a sua influência, por isso “hoje pode-se falar que,

de fato, todo esse esforço em alimentar o RAP Nacional de conteúdos novos e ser o microfone

aberto para vários MCs do Brasil tem levado o símbolo do abacaxi cada vez mais ao peito de

diferentes pessoas” (MADORMO, 2017).

O mais interessante da proposta é que mesmo que haja um interesse comercial por

trás, a ideia principal é a de valorizar a parte lírica do rap e faz isso justamente

juntando alguns dos MCs mais promissores dos últimos anos. Como o compromisso

daqueles que estão ali é mostrar que são os melhores no quesito lírica, a maioria

chega muito bem nas rimas e na entrega, isso porque estão à vontade e fazem isso de

uma forma descontraída (KLEBERBRIZ apud MADORMO, 2017).

Atualmente, a principal plataforma em que os videoclipes são veiculados é o Youtube,

um site de compartilhamento de vídeos que cresce mais a cada ano, visto que possibilita a

interação dos fãs com os seus artistas preferidos. Nesse contexto, Araújo e Oliveira (2014, p.

130) ressaltam que as possibilidades de interação e consumo musical aumentaram

significativamente nos últimos anos, o que favoreceu a criação de um mercado grande e

diversificado, onde em poucos cliques é possível encontrar discografias inteiras através das

plataformas musicais ou digitais. Diante desse quadro, é possível observar como o

crescimento da internet transformou as formas de comunicação, visto que fomentou o

surgimento de novas plataformas de comunicação, como as redes sociais digitais, que são

identificadas como sistemas que permitem a construção de uma persona através de um perfil

ou página pessoal, a interação através dos comentários e a exposição pública da rede social de

cada usuário (BOYD; ELLISON apud RECUERO, 2009, p. 102). A diferença entre esses

sites e outros meios de comunicação através do computador consiste no “modo como

permitem a visibilidade e a articulação das redes sociais, a manutenção dos laços sociais

8 O termo tem origem na sigla MC de Mestre de Cerimônias.

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estabelecidos no espaço off-line” (RECUERO, 2009, p. 102-103). Instagram, Facebook,

Twitter e Youtube são alguns exemplos que se enquadram na categoria de sites de redes

sociais, já que através dessas plataformas é possível compartilhar conteúdos, obter

informações, estabelecer vínculos e fortalecer laços sociais.

Mediada pelos meios digitais, a sociedade vive uma amplificação de vozes, onde as

pessoas estão aprendendo a compartilhar pensamentos, ideias e experiências através

de novos modos de produzir e consumir conteúdos. A realidade se confunde com o

virtual e vice-versa e o comportamento social se altera, perdendo suas amarras e

abrindo espaço para a fluidez de informações, comportamentos e relacionamentos

(ROCHA; ALVES, 2010, p. 222).

Assim, é possível perceber que as mídias digitais são influenciadas pelo contexto em

que estão inseridas e vice-versa. Como exemplo do impacto do meio digital nos meios

tradicionais, pode-se citar a indústria fonográfica, que teve a sua estrutura abalada com o

desenvolvimento da internet, pois as músicas antes consumidas apenas em shows, rádios, CDs

ou canais televisivos, passaram a estar disponíveis na internet e sem custo algum. Como a

indústria musical entrou em declínio com essas novas formas de consumo, o mesmo

aconteceu com os videoclipes, que desde os anos 90 vinham sendo a principal aposta para a

divulgação dos artistas e suas bandas. Com isso, a MTV também foi perdendo audiência, já

que a base da sua programação era conteúdo musical, o que levou a emissora a investir cada

vez menos no formato em que foi pioneira.

O começo do novo milênio foi difícil para o videoclipe. Entre 2000 e 2005 não havia

um lugar onde se pudesse encontrar vários vídeos disponíveis. Nessa época, a única

forma era comprar DVDs ou fazer downloads online de playlists como “os 50

melhores videoclipes de todos os tempos” o que levou o videoclipe a ser

considerado uma forma de arte em extinção (VIDYARTHI apud BOAVENTURA,

2014, p. 22).

No entanto, em novembro de 2005, esse cenário começou a passar por grandes

transformações, uma vez que foi criado o Youtube. Boaventura (2014, p. 22) comenta que o

site “ficou tão popular que em pouco tempo tinha quantidades enormes de vídeos que

incluíam praticamente todos os videoclipes já feitos”.

O caráter democrático é um dos pontos que explica a rápida popularização do

Youtube, já que desde o início, a sua proposta era ser um site “destinado exclusivamente a

conteúdos produzidos pelo usuário, formatado como uma ferramenta de broadcasting que

permitiria o acesso livre à distribuição de conteúdo audiovisual por indivíduos não associados

ao mainstream midiático” (MEILI, 2011, p. 53). Isso explica porque muitos artistas e

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gravadoras independentes encontraram no Youtube uma poderosa ferramenta de divulgação

para os seus trabalhos, já que a plataforma se configura como uma nova mídia que

disponibiliza um espaço até então inexistente nos meios tradicionais (TV e rádio), onde a

liberdade é restringida ao interesse de uma minoria dominante, que escolhe quais conteúdos

serão veiculados para o consumo massivo.

Boaventura (2014, p. 44) destaca que como as tecnologias de registro de som e

imagem tornaram-se cada vez mais acessíveis, passou a ser possível produzir videoclipes

mesmo que com poucos recursos e sem o auxílio de uma gravadora. É nesse contexto em que

surgem os homestudios, um ambiente de produção musical que utilizam diferentes tecnologias

para criar um determinado produto musical. A união dos produtores musicais com film

makers, também independentes, foi de fundamental importância para o surgimento de

diversos canais musicais no Youtube, como o canal Pineapple StormTV, que consiste em um

espaço exclusivo para a divulgação de artistas do cenário de rap nacional. Nos videoclipes

divulgados no canal, os rappers sempre aparecem vestindo a camiseta da marca, que

atualmente possui diferentes estampas, além de shoulderbags, meias, calças, moletons e

jaquetas, cuja tendência é que se expanda cada vez mais, já que a estratégia da marca tem se

mostrado eficiente.

O videoclipe ao longo da sua evolução construiu e fortaleceu uma linguagem

específica. Nesse sentido, várias pesquisas tentaram identificar características peculiares pelas

mais variadas perspectivas, uma delas (TREVISAN, 2011) propõe a questão da participação

do artista (cantor, cantora ou banda) na narrativa videoclíptica, uma vez que o formato

promove um trabalho musical. Ao se pensar que o videoclipe também pode servir como uma

forma de publicidade para marcas e produtos, logo se remete às estratégias de product

placement, que se refere a produtos ou serviços inseridos em meios de entretenimento

(BOAVENTURA, 2014), como é o caso da marca Pineapple Supply, que divulga os seus

produtos através da sua inserção em videoclipes musicais veiculados no seu canal.

Diante do exposto, propõe-se o seguinte problema de pesquisa “Como se mostram as

inserções da marca Pineapple Supply nos videoclipes do canal Pineapple StormTV?”. Sendo

assim, o objetivo do trabalho é identificar as estratégias de inserção da marca Pineapple

Supply nos seguintes videoclipes: Não Chore (DJONGA, JUYE, 2017), Capricorniana

(CHOICE, LORD, MARIA, SANT, TIAGO MAC, 2017) e Inimigos (CHOICE, CLARA

LIMA, KAYUÁ, TIAGO MAC, 2018), buscando entendê-las à luz das categorias de

videoclipes e product placement. Já quanto aos objetivos específicos, propõe-se a conhecer as

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características da linguagem de videoclipe e suas classificações tipológicas, identificar

técnicas de product placement para inserções de marcas em audiovisuais e identificar as

inserções da marca Pineapple Supply, relacionando as categorias de product placement

propostas por Boaventura (2014) e a tipologia de videoclipes proposta por Trevisan (2011).

Pode-se notar que o rap vem conquistando um espaço cada vez maior no Brasil, já que

o seu crescimento está contribuindo para que ele se destaque na grande mídia e, assim, ganhe

novas influências através da mescla com estilos musicais já consagrados. Pedro Fávero

(2014), diretor do documentário O Rap Pelo Rap (2014), comenta que “A geração mais antiga

construiu uma base para que esses rappers atuais pudessem partir de pontos diferentes. Os

Racionais9 prepararam o público para a chegada de um Emicida”

10 e complementa que a

aceitação desse gênero na grande massa está relacionado à sua fusão com outros ritmos. “Essa

mistura de estilo só tem a contribuir. Mas, por mais que agora o rap tenha presença maior na

música, sempre acompanhado de um violão ou outros instrumentos, e com temas não tão

pesados, o preconceito ainda existe” (FÁVERO, 2014).

Embora em parte esse cenário ainda se faça presente, é nítido que a aceitação do rap

por parte do público aumenta a cada dia, sendo esse um dos motivos para que diversas marcas

busquem formas de relacionarem-se ao gênero, como é o caso da marca de roupas Pineapple

Supply, que encontrou, na criação de um canal no Youtube, uma eficiente estratégia para

atrelar o seu nome ao rap, através da sua inserção em vídeos musicais. Além de ser percebida

como uma marca que representa o gênero, passou a fazer parte da história do rap nacional,

visto que o seu canal hoje conta com a participação de rappers consagrados na cena, como Mv

Bill e também de mais 50 MC’s renomados da nova geração. Está aí a grande contribuição de

uma marca de roupas para consagrar um gênero musical, o que pode ser sintetizado na frase

de BK, um dos rappers que a representa “marcas querem me vestir porque as rimas tem

estilo”.

Nesse contexto, é interessante entender como as marcas podem ser divulgadas

utilizando diferentes formatos e linguagens, como é o caso do videoclipe, um formato enxuto

e concentrado que está ganhando destaque por se mostrar uma estratégia eficiente para essa

9 Os Racionais MC’s são, indubitavelmente, o mais importante grupo de rap do Brasil. Estão na ativa desde

1988, acumulam seis discos lançados entre estúdio e ao vivo, e figuram entre os principais responsáveis por

colocar o rap nacional numa posição de honra diante de toda a variedade da música brasileira (RIBEIRO, 2012).

Disponível em: <https://www.ceert.org.br/noticias/historia-cultura-arte/2714/de-1988-a-2012-conheca-a-historia-

do-racionais-mcs>. Acesso em: 5 jun. 18. 10

Emicida é um rapper e produtor musical brasileiro. É considerado uma das maiores revelações do hip-hop do

Brasil nos últimos anos. (LETRAS) Disponível em: < https://www.letras.com.br/biografia/emicida>. Acesso em:

5 jun. 18

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finalidade. Nesse contexto está a Pineapple, uma marca que torna-se tão importante quanto o

artista, assumindo um caráter de personificação. Por conta disso, essa pesquisa mostra-se

importante para o campo da Publicidade e Propaganda.

2 BREVE HISTÓRIA DO VIDEOCLIPE

O início dos anos 1980 foi um marco no cenário musical. A popularização do

videoclipe revolucionou a forma de consumir música e de se relacionar com os artistas.

Segundo Serva (2006), o videoclipe ampliou a experiência musical, tendo em vista que a

música deixou de ser um apelo apenas sonoro e passou a estimular todos os sentidos a partir

da visão. Desde então, tornou-se suporte fundamental para o lançamento de trabalhos desse

campo artístico.

Rodrigo Barreto (2005, p. 22) afirma que a junção do plano criativo e do plano

econômico trazido pelo vídeo impulsionou a entrada do videoclipe na televisão. No Brasil, em

1979, o programa Fantástico, da Rede Globo, incluiu na sua programação um bloco especial

para a veiculação de videoclipes nacionais, partindo de experimentos. Nesse contexto, foi

lançado o videoclipe da música Gita, de Raul Seixas, sendo um dos primeiros videoclipes em

cores a fazer sucesso no Brasil.

No final dos anos 1970, os vídeos promocionais conquistaram um espaço cada vez

maior no mercado e com isso passaram a ser mais procurados. Segundo Trevisan (2011, p.

97)

A partir da metade da década de 70, os grupos de rock procuraram atrelar ainda mais

a música aos vídeos. Além de servir como instrumento promocional e cumprir

algumas aparições das bandas nas quais elas não conseguiam estar presentes, os

videoclipes davam a oportunidade aos artistas de mostrar outros talentos que não só

a performance no palco. Aliás, os intérpretes nunca se limitaram a música somente,

como significado de expressão. Capas de discos, fotos para revistas, cartazes, roupas

e acessórios, entrevistas e a própria performance no palco, inclusive o cenário dos

concertos, contribuem para desenhar sua persona, seu look, seu estilo.

A MTV surgiu em 1980 nos Estados Unidos, com o propósito de trazer um canal

televisivo direcionado especialmente ao público jovem, tendo em vista a existência de poucos

programas que tinham a música como conteúdo principal. A chegada da Music Television e a

sua popularização fez com que o formato principal da sua programação, os videoclipes,

passassem a ser cada vez mais consumidos, servindo como uma poderosa estratégia de

divulgação dos artistas e suas músicas. O estilo MTV inspirou uma geração e aproximou

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muitos fãs de seus artistas preferidos, tudo através da arte de sincronizar imagens e música,

aliada a uma linguagem jovem de se comunicar. O surgimento da MTV, segundo Brandini

(2006, p. 2), “significava um novo horizonte a ser explorado por selos e gravadoras, a

possibilidade de uma TV voltada não apenas à música, mas também ao público jovem”.

Somente em 1990, a MTV veio para o Brasil e em pouco tempo conquistou uma

grande parcela da população e impulsionou a cultura videoclíptica. Nesse contexto, Serva

(2006, p. 4) afirma que quando a MTV foi lançada no Brasil, conquistou corações, mentes,

horas e olhos de uma geração de jovens e que ocorreu no Brasil um fenômeno semelhante ao

do resto do mundo: a revolução MTV. Sendo assim:

A MTV agiu como um catalisador de todo universo simbólico da música jovem e

como um instrumento de identificação e representação dos grupos de estilo (tribos)

juvenis do Brasil. Ela atuou como um divisor de águas que passou a definir “a cara”

dos movimentos e estilos musicais, além das cenas emergentes em todo o país.

Assim, a MTV Brasil trouxe, em termos de produção musical e cultura juvenil, uma

nova forma de olhar para si mesmo e de reconhecer tanto a sua formação

sociomusical quanto o que define e diferencia o universo musical brasileiro

contemporâneo e outros países e culturas (BRANDINI, 2006, p. 3).

Devido à popularização da internet nos anos 90, com o tempo a MTV foi perdendo

força, considerando que houve uma modificação na forma de consumir videoclipes, pois o

que antes era privilégio apenas de quem tinha acesso à TV a cabo e em um horário

determinado, passou a estar disponível para um público que crescia cada vez mais através da

World Wide Web e a qualquer hora. Em função disso, 2001 ficou marcado como o ano em que

a Internet finalmente virou a mais importante mídia de promoção da indústria da música.

Passada a polêmica da distribuição digital de música, a presença de videoclipes na rede

transformou-se no padrão para artistas do mainstream e, para os pequenos selos, em uma

revolução no mercado de produção internacional. O setor, que andava em crise desde o início

do processo de "desmusicalização" da MTV, passa a viver sua fase mais criativa desde a

popularização do formato, no início dos anos 80 (ESTADÃO, 2001). De acordo com Oliveira:

Nos últimos anos, a produção e a distribuição de imagens têm passado por

consideráveis transformações tecnológicas, favorecendo o acesso a uma gama

amplificada de dispositivos multimídia, como celulares, MP4, sites de

compartilhamento de vídeo, câmeras fotográficas, filmadoras digitais, etc.

Consequentemente, instaurou-se certa “democratização” do uso da imagem, que até

então era praticamente restrita a pequenas camadas sociais (OLIVEIRA, 2007, p. 7).

Em função do boom da internet e dos avanços tecnológicos, as possibilidades de se

criar e divulgar videoclipes aumentaram significativamente, levando a uma renovação do

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formato que vem proporcionando experiências cada vez mais inovadoras aos espectadores

através de diferentes técnicas audiovisuais.

É importante destacar que, longe de um declínio da produção, nos anos 2000

acontece uma mutação estética dos videoclipes e do seu circuito de divulgação. [...]

Grupos musicais e as próprias gravadoras estão cada vez mais usando a internet para

veicular videoclipes, não somente através de sites oficiais, que hoje são

onipresentes, mas sobretudo por meio de portais de divulgação audiovisual, como o

Youtube e o Daily Motion (TREVISAN, p. 52, 2011).

Com essa valorização, o videoclipe passou a ser observado como um fenômeno com

características expressivas próprias, fazendo de seu caráter híbrido, a principal delas. De

acordo com Correa (2006, p.2), a ideia do videoclipe vem de clipping, recorte (de jornal ou

revista), pinça ou grampo, que possivelmente se refere à técnica midiática de recortar imagens

e fazer colagens em forma de narrativa em vídeo. É difícil encontrar uma definição exata para

o que de fato seja um videoclipe, visto que o formato pode ser analisado por diferentes

perspectivas. Sendo assim, para facilitar a compreensão dos elementos constituintes dessa

linguagem, se faz necessário entender o contexto em que surgiu a videomúsica. Para Machado

(2000, p. 157), é importante considerar que o cinema foi o primeiro meio a materializar a

ideia de uma música produzida inteiramente com imagens, e que somente a partir das técnicas

de sincronização por ele adotadas que houve uma mudança de comportamento em relação aos

aspectos visuais da música. Segundo Soares (2007, p. 1):

Quando nos remetemos ao videoclipe, estamos tratando de um conjunto de

fenômenos de criação nos meios de comunicação de massa angariados na ideia do

hibridismo. Como gênero televisual pós-moderno que é, o videoclipe agrega

conceitos que regem a teoria do cinema, abordagens da própria natureza televisiva,

ecos da retórica publicitária e dos sistemas de consumo da música popular massiva.

Dessa forma, pode-se compreender o videoclipe como uma fusão de diferentes

linguagens (sonora, cinematográfica, televisiva, videográfica, publicitária, artística), sendo

justamente esse hibridismo uma das suas características mais marcantes. De acordo com

Machado (2000, p. 173), se observado do ponto de vista prático, conclui-se que o videoclipe é

um formato simples e concentrado, de pouca duração e de custos modestos se comparados

com os de uma obra cinematográfica ou programa televisivo, além de possuir um vasto

potencial de distribuição.

Em “O Elogio da Desarmonia”, Soares (2004, p.2), aponta a noção do ritmo das

imagens como uma das características da vídeomúsica e destaca que o que é percebido no

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videoclipe pode não corresponder exatamente à sua natureza imagética, mas sim a uma

relação de grafismo visual e rítmico.

Podemos dizer que a estética de videoclipe [...] permite tanto a utilização de ritmos

frenéticos, descontrolados, como elementos clássicos da narrativa linear, numa

mistura que não empobrece a produção audiovisual, mas, pelo contrário, adiciona

novos sentidos. Isso não é observado apenas na forma, mas também no conteúdo.

Por esse motivo não se deve pensar que a linguagem do videoclipe é vazia, sem

objetivo, construída apenas na imagem ou no conceito (TREVISAN, 2011, p. 18).

A partir de estudos sobre autores especializados na análise de videoclipes das décadas

de 1980 e 1990, como Trevisan (2011), fez-se um levantamento em relação à forma

(elementos da linguagem audiovisual) e conteúdo (o que dizem as letras e imagens mostradas)

e buscou-se identificar padrões característicos de cada gênero de videoclipe. Contudo, o

resultado dos objetos analisados, a saber, os principais videoclipes premiados no VMA (Video

Music Awards) de 1993 a 2011, mostraram que os padrões podem ser definidos como: o

artista em evidência (consiste na performance do artista em diversos cenários), história em

evidência (mostra o intérprete como personagem, narrador ou em inserções ao longo da

trama), videoclipes atípicos (não possuem relação direta com a letra ou artista) e conceito em

evidência (dá ênfase em recursos estilísticos que são associados aos artistas ou em efeitos

especiais).

Através desse processo, o videoclipe atua como um meio de visualizar e identificar os

diferentes gêneros musicais.

Os gêneros não são demarcados somente pela forma ou “estilo” de um texto musical

em sentido estrito e, sim, pela percepção de suas “formas” e “estilos” pela audiência

através das performances pressupostas pelos gêneros (...) para se mapear um gênero

musical deve-se estar atento para o seguinte percurso: convenções sonoras (o que se

ouve), convenções de performance (o que se vê), convenções de mercado (como

uma música é embalada) e convenções sociais (quais valores e ideologias são

incorporadas em determinadas expressões musicais) (JANOTTI, 2003, p. 37).

Dessa forma, podemos perceber como o videoclipe ganhou destaque nos últimos

tempos, tornando-se uma das principais manifestações culturais da pós-modernidade.

Machado (2000, p. 173) ressalta que os últimos videoclipes demonstraram que o gênero, até

então televisual, se expandiu e está se mostrando rapidamente como “uma das formas de

expressão artística de maior vitalidade em nosso tempo”, o autor ainda complementa que:

O videoclipe aparece como um dos raros espaços decididamente abertos a

mentalidades inventivas, capaz ainda de dar continuidade ou novas consequências a

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atitudes experimentais inauguradas com o cinema de vanguarda dos anos 20, o

cinema experimental dos anos 50-60 e a videoarte dos anos 60-70 (MACHADO,

2000, p. 173).

Nesse contexto, Trevisan (2011) atenta que se deve reavaliar o papel estrutural do

videoclipe, tendo em vista que o avanço tecnológico proporcionou liberdade de produção,

emissão e recepção de peças audiovisuais. Na era do YouTube, com câmeras digitais

fotográficas e celulares equipados com câmeras de vídeo e gravador de áudio, as pessoas

podem produzir, mesmo que de forma amadora, seus materiais audiovisuais e compartilhá-

los.

3 VIDEOCLIPE COMO FERRAMENTA PUBLICITÁRIA

Segundo Brandini (2006, p. 4), devido ao desenvolvimento das tecnologias de

comunicação, a associação de um universo imagético tornou-se fundamental para a produção

musical. Por esse motivo, o videoclipe passou a ser uma das formas mais eficientes de se

divulgar uma música para o consumo de massas.

Os videoclipes tornaram-se um novo referencial para a apreciação estética da música

associada a uma forma de oferecer um produto ao consumo. Inegavelmente, pela

indústria fonográfica, vídeos musicais são formas de exposição de um produto que

está à venda, um apelo ao consumo. Sua estética une técnicas apuradas do cinema e

da publicidade, a liberdade de criação de film makers e um universo simbólico que

visa à expressão do sentido da canção e da personalidade do artista (BRANDINI,

2006, p. 4).

Aquino (2006, p. 31) aponta que junto ao estilo musical que interpreta, o artista torna-

se uma espécie de símbolo, em que o sentido ultrapassa o significado de algumas letras

cantadas. E é nesse contexto que o videoclipe passa a ser uma poderosa ferramenta de

divulgação não só da música, mas também de todo o universo que está atrelado a determinado

artista. Dessa forma, pode-se entender o videoclipe como uma vitrine, onde os produtos

mostrados em cena influenciam diretamente os espectadores ao se levar em consideração o

grau de influência do artista.

O grau de influência das músicas e das imagens sobre os espectadores justifica a

crescente inserção de produtos comerciais em videoclipes. Gênero musical,

ambiente audiovisual e imagem do artista, são elementos adorados e seguidos pelo

público, e ao relacioná-los a um bem comercial, eles ajudam a divulgar uma moda,

propagar um pensamento, um modo de viver social. São reproduções que propagam

uma concepção do produto e conduzem o espectador a um determinado

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comportamento (real), neste caso específico, orientam o indivíduo à compra.

(ROTTA et al., 2011, p. 137).

Dessa forma, Boaventura (2014, p. 21) ressalta que com o videoclipe os artistas

passaram a ser julgados não somente pelo seu som, mas também pela sua aparência, estilo e

interpretação da música. Sendo assim, tornou-se fundamental que artistas e produtores

passassem a ter um cuidado ainda maior com todos os elementos mostrados em cena. Foi

nesse contexto que as marcas encontraram uma oportunidade de aumentar a sua influência.

O acelerado processo da tecnologia permitiu que os videoclipes possuíssem cada vez

mais apreço, alcance, modernidade, influência e poder de divulgação, conseguindo

dessa maneira, chamar a atenção de grandes empresas e marcas, que perceberam

uma lacuna de oportunidades para seus produtos e serviços (SOUZA, 2016, p. 2).

O autor complementa que atualmente os videoclipes alcançam milhões de

visualizações através de sites como o Youtube, e em consequência disso as marcas também

passam a ter um alcance de mídia e divulgação antes nunca imaginados nesse segmento. Um

exemplo bem comum de marcas inseridas em clipes musicais é através da presença no

figurino dos intérpretes. Assim Aquino (2006, p. 30) comenta que:

A música popular é vendida indiretamente na roupa, ou vice-versa, sempre

sugerindo o fato que originou o estilo correspondente. No mesmo sentido, a roupa

também é colocada à venda diretamente, sugerindo todo um conjunto de valores

que, em algum ponto, estão associados ao que o gênero da música representa.

Dessa forma, quando o espectador adapta ao seu estilo elementos que o identifica ou o

aproxima de determinado artista, ele está acrescentando um conteúdo material (a roupa) ao

estilo musical que ouve. Quanto mais ocorre esse processo, mais os produtos de algumas

marcas passam a ser vistos como referência a um gênero musical, atribuindo a si

características pertencentes a esse gênero, ou seja, a marca atua reforçando elementos que

constituem o universo que deseja transmitir e estar relacionada. Assim podemos citar a

merchanmusic que:

Se baseia na inserção de produtos ou serviços dentro de videoclipes de artistas

famosos e de alta relevância, como ação de merchandising, de maneira discreta. O

produto não pode ser oferecido como mercadoria, mas sim, tornar-se parte da

narrativa que o videoclipe está contando, tendo o apoio do artista como foco

principal da sua divulgação (CHARLIE apud SOUZA, 2016, p. 7).

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Para Souza (2016, p. 2), o mercado publicitário tem encontrado nos videoclipes uma

forma de fazer anúncios mais originais e impactantes, em razão de que o formato possui

tecnologia avançada e direções criativas, o que contribui para que a interação da publicidade

aconteça de forma espontânea. Outro fato importante que explica as marcas terem encontrado

nesse meio artístico uma abertura positiva é que o público alvo dos videoclipes é altamente

influenciado e ativo na questão de divulgação de artistas, sendo assim, as marcas podem se

beneficiar com essa visibilidade, da mesma forma como os artistas também se beneficiam

quando são associados a marcas de forte influência.

Em geral esse é um formato utilizado para divulgar produtos que têm como target

(público alvo) os descendentes da era MTV, já que estão bem adaptados a narrativas

fragmentadas e velozes, onde o sentimento é mais importante que a história contada,

e o que se pretende vender (e comprar) não é a funcionalidade do produto, mas um

estilo de vida (status social) (CORREIA; MORAIS, 2008, p. 43-44).

Nesse sentido, o videoclipe pode ser entendido no contexto do Branded Content, que é

a denominação para a integração da publicidade com o entretenimento, que tem como

objetivo representar os valores intangíveis de uma marca. Boaventura (2014, p. 33) ressalta

que essa é uma abordagem mais amigável, pois o espectador não se sente usado, já que o

Branded Content é uma troca: “O consumidor dá a sua atenção enquanto a marca lhe oferece

momentos agradáveis. Dessa forma, é mais fácil também conquistar o cliente. Não só você lhe

dá entretenimento, mas está atrelado a algo a que ele estima, no caso sendo o cantor ou

banda”.

As marcas podem estar inseridas nos videoclipes de diferentes formas, Boaventura

(2014, p. 31) aponta algumas dessas estratégias: o Product Placement Visual, Verbal e

Integrado. Product Placement Visual é quando “uma marca paga para ter seu produto exibido

numa ação”, podendo ser considerada a estratégia mais discreta, já que mostra o produto

sendo usado no cotidiano, mostrando como as pessoas interagem com ele, qual é o perfil de

usuário e reforçando a ideia de que é socialmente desejado. Product Placement Verbal é

quando uma marca é citada no conteúdo da música.

Muitos artistas usam nomes de marcas em suas músicas como rappers para fazer uso

dos valores ligados à marca. Em geral isso se dá de maneira espontânea, o artista

cita a marca sem receber dinheiro, mas, apesar de raro, é possível que sejam feitos

acordos para que se insira uma marca em uma música (BOAVENTURA, 2014, p.

32).

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Product Placement Integrado difere-se do visual pelo fato de que a marca tem um

papel no roteiro, ela faz parte da história, por isso o clipe inteiro é produzido levando em

consideração a cena, sendo que a publicidade está integrada ao conteúdo. Nessa técnica: “Não

há uma interrupção da história, pelo contrário, se a marca ou produto for retirado, o enredo

ficará desfalcado. A marca anunciante tem que estar envolvida do começo ao fim do processo

de desenvolvimento do vídeo” (BOAVENTURA, 2014, p. 33).

De forma geral, segundo Ogden e Crescitelli (2007, p. 45) o product placement

compreende a inserção de um produto ou serviço na TV ou nos filmes como forma de

pagamento pelo anunciante, podendo ser: inserção (quando o produto ou serviço é inserido no

contexto), aparição (produto ou serviço é exibido e acompanhado de uma demonstração de

uso), testemunhal (produto ou serviço é exibido acompanhado de uma demonstração de uso

junto a um depoimento favorável ao produto). Nesse contexto Lehu (2007, p. 84) também

caracteriza alguns tipos de product placement: clássico (mais tático e estratégico, objetiva que

a marca apareça no ecrã durante o filme), corporativo (dá preferência à marca acima do

produto), encoberto (a inserção é discreta e torna-se tão integrada a cena e natural que eleva o

impacto da marca).

4 RAP E CULTURA HIP-HOP

Conforme a série documental Hip-Hop Evolution da Netflix (2016), o rap é um dos

elementos do movimento sociocultural denominado hip-hop que surgiu no Bronx11

, um bairro

da periferia de Nova York nos anos 70. As ruas do Bronx eram marcadas por constantes

guerras e disputas entre gangues, e foi nesse cenário que o hip-hop surgiu como uma forma de

conter a violência através da arte. Aos poucos a violência passou a ser substituída por batalhas

que tinham como base expressões artísticas como a dança (break), a poesia (rima dos MC’s),

a pintura (grafite) e a música (DJ). Por isso, de acordo com Fochi (2007, p. 63), o hip-hop

passou a ser uma forma de “conscientizar, educar, humanizar, promover, instruir e divertir os

moradores da periferia, além de reivindicar direitos e o respeito a esse povo”.

Leal (2007, p. 20) ressalta que a juventude negra deu movimento ao hip-hop através

desses novos estilos de dança, artes plásticas e no ritmo da música de DJs como Afrika

Bambaataa. Este, ex-líder de uma das gangues do Bronx e que "baseado na memória da luta

11

Essa área era habitada majoritariamente por uma população negra, e ficou conhecida pela extrema pobreza e

violência em que viviam seus moradores, já que não possuíam saneamento básico, segurança, educação e lazer,

sendo o caos das ruas a única realidade vivida por eles. (Hip-Hop Evolution, 2016).

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política de grandes líderes afro-americanos dos anos 60 como Louis Farrakhan, Malcolm X,

Panteras Negras e Martin Luther King” fundou a Zulu Nation: “uma organização Não-

Governamental que reuniria DJs, dançarinos, MCs e grafiteiros” e que tinha como lema "Paz,

Amor, União e Diversão"” (LEAL, 2007, p. 25). A criação dessa entidade foi de fundamental

importância para a história do hip-hop, já que devido a ela milhares de jovens conseguiram

compreender e mudar a sua realidade através da arte. Assim, a cultura dos guetos foi se

espalhando e ganhou destaque em mais regiões de Nova York, até chegar aos grandes centros

urbanos e despertar a atenção da mídia mundial. Foi nesse contexto que surgiu o Yo! MTV

Raps, um programa da Music Television que possuía uma comunicação jovem e era destinado

inteiramente a assuntos relacionados à cultura hip-hop. Por isso, em pouco tempo tornou-se

referência para jovens de diferentes idades e classes sociais, ganhando novas interpretações e

influências.

O hip-hop cresce, expande-se, sai da periferia e conquista outros bairros da cidade.

Com isso, ganha novos adeptos, novos simpatizantes [...] a conscientização

proporciona a percepção de um sentido aos elementos do hip-hop. Todavia, isso vem

posteriormente a uma identificação com a arte e com o entretenimento. Assim, as

artes, o entretenimento, podem valer-se por si só, sem a obrigação de associá-los a

uma realidade vivida. É o que acontece quando o hip-hop sai do gueto, sendo

absorvido por jovens de classe média (FOCHI, 2007, p. 68).

Segundo o documentário Fresh Dressed da Netflix (JENKIS, 2015) a expansão do hip-

hop possibilitou a percepção de uma estética das ruas, o que serviu de inspiração para

algumas marcas que enxergaram nessa cultura um estilo autêntico e digno de espaço na moda.

Nesse contexto, pode-se citar a Cross Colours, pioneira nesse segmento, que mais tarde ficou

conhecido por street style ou moda urbana. Assim, roupas largas, correntes, cores vibrantes

(que eram as mesmas que coloriam pixos e grafites), bonés, tênis grandes e peças

customizadas passaram a tomar conta das ruas que serviam como vitrine para a circulação de

diferentes marcas. Dessa forma, através do break, do rap, do grafite e do estilo ousado de se

vestir, o hip-hop conquistou multidões e inspirou o comportamento de milhares de jovens que

o adotaram como um estilo de ser e de se expressar no mundo. Conforme Martins (2006,

p.41), toda essa influência fez com que em 1990 o Yo MTV Raps! passasse a ser transmitido

na MTV brasileira como Yo!, um programa destinado a trazer informações sobre o movimento

em outros lugares do mundo e principalmente sobre o que estava acontecendo em território

nacional. Seu conteúdo se dava através de matérias exclusivas apresentando grupos nacionais

e contava com a participação de dançarinos, grafiteiros, DJs e rappers.

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Dessa forma, a cultura hip-hop foi ganhando mais espaço no Brasil e como afirma

Bentes (2006, p. 178) “da moda ao ativismo, da atitude à música e ao discurso político, vemos

emergir esses novos sujeitos do discurso que saem dos territórios reais, morros, periferias,

guetos e ascendem à esfera midiática”. Esse cenário possibilitou a visibilidade de diversos

grupos de rap no Brasil, considerando que esses artistas não tinham condições de produzir um

videoclipe para divulgação do seu trabalho. Em razão disso, Primo Preto (ex-VJ do Yo!)

relembra que o programa produziu dezesseis videoclipes com imagens captadas em um

evento realizado pela emissora, para que alguns rappers tivessem material para serem

veiculados na programação, “a gente reuniu mais de quarenta mil pessoas ao ar livre.

Colocamos lá a bandeira do Yo!, tinha grafiteiro grafitando ao vivo, os b-boys dançando”, e

assim, segundo Bentes (2006, p.177), a MTV brasileira deu visibilidade a rappers, skatistas,

grafiteiros, MC’s e simpatizantes do hip-hop nacional, tornando-se precursora da cultura hip-

hop no Brasil.

Contudo, o momento que o rap ganhou maior visibilidade foi após a ascensão de

mídias digitais como o Youtube, sendo este de fundamental importância para o crescimento do

cenário de rap independente, pois deu oportunidade para que rappers, DJ’s e produtores

pudessem divulgar os seus trabalhos gratuitamente e não apenas para o Brasil, mas também

para o mundo inteiro. Nesse quadro, surge o canal Pineapple StormTV, da marca de roupas e

streetstyle Pineaapple Supply, que atualmente pode ser considerado o espaço de maior

influência no que diz respeito a conteúdos relacionados ao hip-hop nacional.

Se em outros tempos, marcas de roupas pioneiras do hip-hop nacional, como

1DASUL e 4P, viviam uma Era onde os clipes chegavam a um público muito mais

segmentado por meio de programas como Yo! MTV e Manos e Minas, hoje as

opções se democratizaram. Foi no Youtube que a Pineapple lançou seu projeto que

ecoou em toda cena. O "Poetas no Topo" (MADORMO, 2017).

A moda de personalizar roupas com o nome do grupo ao qual pertence veio dos guetos

e foi um acontecimento que ajudou a materializar a cultura hip-hop que estava se espalhando

pelo mundo, o que foi adotado por marcas como a Pineapple. Nesse contexto, é interessante

observar que a sua estratégia para ser percebida como uma marca de streetstyle relacionada ao

rap foi tão eficiente que acabou contribuindo não apenas para a consolidação do seu nome,

mas também para elevar o rap nacional a outro nível, já que a influência do seu canal passou a

ser tanta que até o rapper Mv Bill, um dos precursores do rap no Brasil, também passou a

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integrar o time da Pineapple, fortalecendo a cena junto a nomes da nova geração do rap

nacional.

Após o Poetas no Topo, outras produções se tornaram constantes no canal da

Pineapple. O segundo projeto grande foi o “Perfil”, onde MCs convidados

escolhiam beats enviados para uma caixa de email aberta e destilavam suas rimas,

tudo isso com uma identidade visual forte e a frequência que fez o público esperar o

lançamento semanal dos conteúdos. Mais do que movimentar constantemente o

cenário, a Pineapple possibilita a novos nomes, sejam eles MCs ou beat makers,

aparecerem para uma audiência que em alguns casos não alcançariam de outras

formas. Pouco mais de 7 meses do primeiro Perfil se passaram e 43 MCs já

cravaram suas rimas com o tradicional take do céu do RJ como fundo do set.

(MADORMO, 2017).

De acordo com o documentário Fresh Dressed da Netflix (JENKINS, 2015) "a cultura

hip-hop não é só sobre música, é também um estilo de vida. São pessoas livres, explorando

sua criatividade por um tipo de formato livre, de palavras, rimas, língua, música ou estilo

visual." Esse também foi um comportamento difundido pela MTV e os videoclipes. Nessa

perspectiva, as mídias digitais trouxeram liberdade para produtores de conteúdo

compartilharem suas criações e para os usuários de escolherem os canais que mais tenham a

ver com as suas preferências, e é nesse contexto que está inserido o canal da marca Pineapple

Supply, objeto de estudo desse trabalho.

5 METODOLOGIA

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, pois “se propõe a colher e analisar dados

descritivos, obtidos diretamente da situação estudada” (MICHEL, 2015, p. 40). A proposta

aqui é interpretar os fenômenos sociais à luz do seu contexto e ciente das interferências que o

atravessam. Isso reforça o que Michel (2015, p.42) afirma ao dizer que o “pesquisador

participa, compreende e interpreta” quando se trata de uma pesquisa qualitativa. A pesquisa

também é descritiva já que procura conhecer e comparar fatos ou fenômenos à luz do seu

contexto, e, como afirma Malhotra (2012), é um tipo de pesquisa conclusiva e que tem como

principal objetivo a descrição de algo.

A pesquisa descritiva é normalmente usada para descrever características de grupos

relevantes, funções de produtos e características de mercado, e pressupõe que o pesquisador

tenha conhecimento prévio a respeito da situação-problema, o que a configura como uma

pesquisa empírica (MALHOTRA, 2012). Esse conhecimento foi construído e sistematizado

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no referencial teórico. A partir da descrição serão observadas as aparições da marca para

identificar a quais tipos de product placement que elas aparecem relacionando com os tipos de

aparição do artista no videoclipe. A observação do corpus e sua interpretação terá como base

as categorias de importância do artista no videoclipe proposta por Trevisan (2011) e as

categorias de product placement proposta por Boaventura (2014).

Pensando que o videoclipe é um meio de divulgação de artistas, Trevisan (2011)

aponta como forma de inserção destes nos videoclipes: o artista em evidência, história em

evidência e conceito em evidência. Também podemos utilizar o videoclipe como um meio de

divulgação para marcas, o que nos leva a uma ideia de product placement. Boaventura (2014)

propõe as seguintes categorias de inserção de marcas em narrativas audiovisuais: verbal

(quando uma marca é citada na narrativa), visual (quando uma marca paga para ter seu

conteúdo exibido na ação) e integrado (quando a marca tem um papel no roteiro, ela faz parte

da história). Diante do exposto, é possível entender que a marca pode ser vista como

protagonista do videoclipe tal qual um artista, sendo assim a descrição e a interpretação se

darão da seguinte forma: primeiramente, será feita a descrição dos vídeos para compreender o

conteúdo; posteriormente, serão observadas nas cenas a aparição da marca para identificar a

técnica de product placement (BOAVENTURA, 2014), utilizada relacionando com a proposta

de importância do artista (TREVISAN, 2011). A partir do que já foi previamente observado,

pode-se encaixar os videoclipes nas seguintes categorias hipotéticas: marca em evidência,

marca em uma história, marca em um conceito. Ao final, partindo da interpretação dessa

relação, pretende-se concluir a qual categoria criada o exemplo observado pertence.

5.1 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO

O tópico está estruturado na seguinte ordem: 1 - Descrição dos vídeos: Dados de

identificação, Sinopse, Identificação das cenas em que a marca aparece; 2 – Interpretação:

qual técnica de product placement foi utilizada - visual, verbal ou integrado, relação da

aparição da marca x artista; 3 - Conclusão: a qual categoria criada pertence: Marca em

evidência, Marca em uma história, Marca em um conceito?

5.1.1 Vídeo 1 – Não Chore (2017)

a. Dados de identificação

Realização: Pineapple Supply e Brainstorm Estúdio

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Artistas: DJONGA, JUYE

Duração: 4 minutos

Direção de fotografia: Guilherme Ferreira

Produção: Renato Marinho e Lucas Malak

Edição e finalização: Guilherme Ferreira

b. Sinopse

O videoclipe se passa em um quarto iluminado com a luz de abajures e uma cama de

casal, as cenas foram gravadas em plano fechado. A sequência de cenas mostra a relação de

um casal e dá a entender que houve um desentendimento entre eles, por isso enquanto ele

(Djonga) dorme, ela (Juyé) o observa reflexiva até decidir ir embora, a mesma deixa a taça de

vinho que estava bebendo na cômoda ao lado da cama. Djonga acorda e percebe que ela foi

embora, triste ele abraça o casaco dela e bebe um gole do vinho deixado por ela e nesse

momento tem flashbacks dos momentos bons que passaram juntos e novamente abraça o

casaco lembrando-se do dia em que ela estava usando-o. As cenas mostram que o casaco

representa a falta que ela faz e o forte sentimento que ele tem por ela, por isso após muito

refletir sobre a relação dos dois, ele decide deixar o orgulho de lado e procurá-la, fato que é

representado por ele entregando o casaco para ela, em seguida fazem as pazes e voltam.

c. Identificação das cenas em que a marca aparece

Conforme é possível verificar no Anexo A, primeiramente a marca aparece na

camiseta da Juye e em seguida ela vestindo um casaco até então desconhecido. Com a

sequência das cenas, pode-se perceber que o casaco, que antes estava com ela, agora está nos

braços de Djonga, em seguida pode-se visualizar que o casaco em questão é da Pineapple

Supply, já que nas cenas seguintes a marca é evidenciada. Pode-se visualizar novamente a

marca na camiseta que Djonga está vestindo. O videoclipe é finalizado quando Djonga decide

procurar Juye para entregar o casaco dela, após isso os dois ficam juntos novamente. Nesse

caso, o casaco simboliza a falta que ela fez na vida dele no momento em que partiu.

d. Interpretação

A técnica utilizada nesse videoclipe foi o product placement integrado, que segundo

Boaventura (2014), refere-se a quando a marca faz parte do roteiro do videoclipe, ou seja,

assume tanta importância quanto os artistas em cena. Nesse caso, é interessante observar que

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o casaco é um elemento importantíssimo para a compreensão da narrativa, mesmo que

pudesse ter sido um casaco qualquer, nesse caso é justamente o casaco da marca Pineapple

Supply que é evidenciado em vários momentos, e este pode ser encontrado na loja online da

marca que está indicada na descrição do videoclipe.

e. Conclusão

O videoclipe “Não Chore” pode ser enquadrado na categoria marca em uma história,

pois ao observar percebe-se que a marca teve um papel importantíssimo na construção do

roteiro, e sem ela a história perderia parte do seu sentido, pelo menos no canal em que está

inserida. Partindo da teoria proposta por Trevisan (2011) sobre o artista em uma história e

adaptando à categoria de marca em uma história, conclui-se que o clipe apresenta uma

sugestão de narrativa que é demonstrada pela sequência de acontecimentos que dão ao casaco

da artista Juyé o foco principal da história, pois nas cenas que Djonga lamenta a sua partida, o

mesmo simboliza a falta que ela deixa ao ir embora, o que torna o casaco da Pineapple, um

elemento fundamental para a compreensão da narrativa.

5.1.2 VÍDEO 2 – Poesia Acústica 3 – Capricorniana (2017)

a. Dados de identificação

Ficha Técnica: Realização Pineapple Supply e Brainstorm Estúdio

Artistas: CHOICE, LORD, SANT, MARIA e TIAGO

Duração: 7:21 minutos

Direção e fotografia: Uriel Calomeni

Produção: Renato Marinho

Edição e finalização: Luís Luix

b. Sinopse

O videoclipe inteiro acontece em um ambiente produzido para simular um bar, o que

pode ser percebido através do fundo do cenário, que é composto por engradados de cerveja e

luzes coloridas e, na frente, mesas e cadeiras que transmitem a ideia de um ambiente

descontraído, onde amigos (os artistas) bebem e cantam sobre amor. A marca é inserida em

diversos momentos da narrativa, seja nas roupas dos artistas (moletom e camisetas de

modelos diferentes), em adesivos colados nos instrumentos musicais ou no rótulo das garrafas

de cerveja.

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c. Descrição das cenas em que a marca aparece

O videoclipe começa com takes em plano conjunto focando nos artistas que

"interpretam" amigos em um momento descontraído na mesa de bar, como é possível conferir

no Anexo B. Poucos objetos compõem o cenário, porém o fundo se destaca pelos engradados

de cerveja coloridos que estão empilhados. A iluminação com luz quente junto à fumaça

também contribui para transmitir o clima de um bar à noite. A sequência de cenas se dá com

os artistas cantando em tom de conversa sobre suas histórias de amor, enquanto bebem a

cerveja que está com a logo da Pineapple no rótulo. Em determinado momento (1min46s), os

artistas (Thiago Mac e Choice) fazem referência ao cenário do clipe: "Quem é que tem

coragem pra falar de amor? Quem é que tem coragem de ser o que não é? Fiz essa aqui na

laje, esse fundo é montagem, me diz o que cê quer pra aliviar essa dor". A marca da

Pineapple está visível discretamente em todos os takes do videoclipe, pois além dos rótulos

das cervejas, ela também pode ser vista nas camisetas e moletons de diferentes modelos que

os artistas estão usando. Todos os modelos são disponíveis no link da descrição do vídeo que

direciona o espectador à loja virtual da Pineapple Supply.

d. Identificação

Pode-se identificar no videoclipe que foi utilizada a técnica do Product Placement

Visual, pois a marca é vista no rótulo das garrafas de cerveja que estão distribuídas pela mesa,

assim como na roupa dos artistas e no adesivo colado no violão. Essa técnica é considerada a

mais discreta, já que mostra a marca inserida no cotidiano e indica qual é o perfil do usuário,

além de reforçar a ideia de que ele é socialmente desejado. O videoclipe também utiliza a

técnica do Product Placement Verbal, que é quando uma marca é citada no conteúdo da

música e, segundo Boaventura (2014), “em geral isso se dá de maneira espontânea, o artista

cita a marca sem receber dinheiro”. Em Capricorniana, os proprietários da marca são citados

no trecho de um dos artistas (Choice), logo no início da música: “Salve Malak” (produtor

musical da Pineapple), “Salve Slim” (beatmaker da Pineapple), “Salve Paulo”

(fundador/produtor executivo da Pineapple), e por fim “Salve a verdadeira música popular

brasileira”.

e. Conclusão

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No videoclipe de Poesia Acústica 3, pode-se concluir que a marca está em evidência,

pois a mesma é mostrada praticamente o tempo inteiro durante as sequências do videoclipe.

Ao relacionar a teoria de Trevisan (2011) sobre a presença do artista em cena às categorias

propostas nesse artigo que tratam da presença da marca em cena, conclui-se que nessa

categoria o foco do clipe é a imagem dos artistas, logo também é da marca, pois o tempo

inteiro os artistas aparecem interpretando a canção enquanto vestem roupas da Pineapple.

Além disso, pode-se perceber a ausência de uma narrativa, sendo o videoclipe constituído pela

edição de imagens com movimentos de câmera, ângulos diferenciados e mudança de planos e,

por fim, o ritmo do vídeo se dá pela velocidade das imagens que contribuem para o clima da

canção.

5.1.3 Vídeo 3 – Inimigos (2018)

a. Dados de identificação

Ficha Técnica: Realização Pineapple Supply e Brainstorm Estúdio

Artistas: CHOICE, CLARA LIMA, TIAGO MAC E KAYÁ

Duração: 05:31 minutos

Produção: Gabriel Solano

Direção de fotografia: Philipe Rios

Edição e finalização: Misael Mululo

b. Sinopse

O videoclipe se passa em um cenário conceitual que transmite caos e conta com jogo

de luz e sombras. A narrativa foi dividida em 4 partes, sendo um cenário para cada artista, no

entanto, ambos se assemelham pela distribuição dos elementos em cena. A edição de

“Inimigos” se caracteriza por mudanças de plano rápidas e efeitos especiais que contribuem

para transmitir a agressividade com que os artistas cantam sobre injustiças e críticas sociais.

c. Descrição das cenas em que a marca aparece

O videoclipe é dividido em 4 cenários (um para cada artista) e inicia mostrando uma

televisão em plano fechado e depois um taco com o adesivo da Pineapple em cima de um

espelho (plano detalhe). A seguir a sequência de imagens permite ao espectador observar o

cenário por inteiro, este contando com a presença de manequins, TVs, mala, tonéis, luzes,

espelhos e revistas que foram distribuídos de forma caótica, conforme Anexo C. A

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interpretação do conteúdo musical junto aos elementos mostrados em cena dão a entender que

cada item serve como referência a pontos negativos da sociedade contemporânea, onde se

tem: mala e manequim de terno e máscara com dinheiro caindo dos bolsos (representa a

corrupção das pessoas que estão no poder, principalmente dos políticos); revistas, manequins

e espelhos (representam os padrões que a mídia impõe à sociedade); TVs (representa a

alienação por meio da mídia tradicional). Em determinado momento (0min38s), o artista

(Choice) pega o taco (com o adesivo da Pineapple) e bate na máscara do manequim que está

de terno, essa imagem acompanha o seguinte trecho “Sociedade hipócrita maldita, se tu for

você ela te inveja e te maltrata e te critica, te coloca no padrão, sufoca e aí te mata e depois

anuncia a morte de um pacato cidadão. Cada lei que eu desacato e cada ato de protesto é um

manifesto incentivando a revolução. F*da-se a televisão”, essa parte da música sintetiza o

slogan da Pineapple que é “F*da-se a mídia. Somos o poder.”. Tem-se aqui em vista que a

marca representa o hip-hop, um movimento que tem como uma das principais características a

crítica ao sistema capitalista que se perpetua principalmente através das mídias tradicionais,

que em sua maioria manipulam massas reforçando padrões sociais e culturais. Os cenários

seguintes também possuem elementos distribuídos de forma caótica, seguindo a mesma linha

de interpretação.

d. Identificação

A técnica utilizada foi o Product Placement Visual, pois a marca é mostrada em todos

os momentos, seja no figurino dos intérpretes ou nos objetos em cena, mesmo que

discretamente e todas aparições são contextualizadas em momentos que reforçam

posicionamentos da Pineapple.

e. Conclusão

Observando as cenas é possível concluir que nesse caso tem-se a marca em um

conceito, já que ela foi representada de diferentes formas como uma marca que critica um

sistema existente e conceitualmente foi mostrada sempre como antagonista a padrões que são

consequência desse sistema. O conceito fica evidente sempre que a Pineapple é mostrada em

objetos e roupas que se contradizem ao sentido real. Exemplo: logo da Pineapple na TV

(marca contra a alienação), logo da Pineapple no taco que é usado para bater do manequim de

terno (marca contra a corrupção), e assim por diante. Sempre que a marca é mostrada, ela é

enfatizada por recursos estilísticos, assim a sua presença fica ainda mais visível para o

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espectador e torna o clipe mais conceitual. Segundo Trevisan (2011), a diferença dessa para as

outras categorias reside na evidência em recursos e elementos estéticos que acabam se

sobressaindo em relação à imagem do artista, modificando o foco do videoclipe, mas como

esses efeitos estão juntos à imagem da marca, a mesma se evidencia sobre os demais

elementos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como objetivo estudar de que forma as marcas podem ser

inseridas em videoclipes, e para compreender essa relação, foram cruzadas as teorias de

videoclipe propostas por Trevisan (2011) com as categorias de product placement propostas

por Boaventura (2014), tendo em vista que a inserção de marcas em videoclipes é uma

estratégia que vem crescendo significantemente nos últimos anos, pois acredita-se que quando

uma marca se apresenta através do entretenimento, seu alcance pode ser maior, uma vez que,

além de vender um produto/serviço, também está vendendo um estilo de vida relacionado a

ele. Identificando os momentos em que a logo da Pineapple foi inserida nas cenas dos

videoclipes selecionados, foi possível compreender como os mínimos detalhes fazem a

diferença em uma narrativa dinâmica como o videoclipe, em que tanto recursos visuais ou

sonoros podem ser explorados com infinitas possibilidades. O tema da pesquisa partiu do

interesse da autora por música, artistas, videoclipes e cultura hip-hop, surgindo desses gostos

a escolha do objeto que motivou o artigo: o canal Pineapple StormTV da marca Pineapple

Supply, que busca representar a cultura hip-hop a medida que produz semanalmente

videoclipes divulgando novos MC’s do cenário, e como consequência de ser uma vertente do

rap que busca sempre a inovação, a marca já conquistou 3 milhões de inscritos no seu canal, o

que deixa claro o poder que uma boa estratégia de divulgação tem para a consolidação de uma

marca. É importante destacar que a metodologia utilizada para abordar o tema da pesquisa, é

apenas uma das inúmeras formas de interpretá-lo, visto que existem outros tipos de

abordagens que fomentariam mais trabalhos a respeito. É interessante observar como estilos e

gêneros musicais até então marginalizados ganharam espaço com o crescimento das mídias

digitais. Por isso nota-se que os artistas e profissionais da área que se destacaram na última

década, foram justamente os que incluíram como ponto importantíssimo na divulgação dos

seus trabalhos a produção de videoclipes para as músicas lançadas, tornando nítida a

influência da construção de um cenário imagético para que o público além de ouvir, também

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possa visualizar o mundo do artista para escolher o que mais se encaixa com as suas

preferências. Nesse cenário podemos citar o hip-hop e a sua expressão sonora rap que

cresceram paralelos a ascensão dessas mídias, à medida que nelas ganharam um espaço de

representatividade até então restrita às favelas e periferias. No entanto, assim como outros

gêneros musicais hoje consagrados na indústria cultural, o rap também se expandiu e uniu-se

a outros gêneros e estilos musicais. O que deve ser encarado pelo lado positivo, já que quanto

mais popular se tornar o rap, maior será o investimento nesse gênero, e assim ele poderá se

desenvolver tanto quanto o rap nos Estados Unidos, onde rappers fazem parte do grupo de

artistas mais bem pagos, sendo esse um dos principais motivos do interesse de marcas

renomadas em patrocinarem rappers. Entretanto é de extrema importância que a sua história

seja respeitada e jamais seja esquecida, pois nas palavras do rapper Sabotage “o rap é

compromisso, não é viagem”. Por fim, foi possível observar como plataformas de

comunicação mais democráticas como o Youtube influenciaram a dinâmica de consumo

musical em todos os cantos do mundo, bem como o a percepção de publicitários e outros

profissionais da área de que a ferramenta podia ser uma grande oportunidade para inserirem

suas marcas e apresentarem seus serviços/produtos com uma abordagem mais amigável aos

consumidores.

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ANEXO A - Frames do videoclipe Não chore

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(Fonte: Canal da Pineapple StormTV no Youtube)

ANEXO B - Frames do videoclipe Poesia Acústica 3 – Capricorniana

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(Fonte: Canal da Pineapple StormTV no Youtube)

ANEXO C - Frames do videoclipe Inimigos

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(Fonte: Canal da Pineapple StormTV no Youtube)