trabalho escrito

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CÉLESTIN FREINET (1896 1966) Escola Superior de Educação de Lisboa Licenciatura em Educação Básica Unidade Curricular: Fundamentos da Pedagogia Docente: Ana Simões 2º Ano, Turma G Andreia Fernandes, 2008244 Catarina Farelo, 2008253 Mafalda Costa, 2008412 Patrícia Teixeira, 2008286 Sara Olímpia, 2007185 2.Dezembro.2009

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Page 1: Trabalho Escrito

CÉLESTIN FREINET (1896 – 1966)

Escola Superior de Educação de Lisboa

Licenciatura em Educação Básica

Unidade Curricular: Fundamentos da Pedagogia

Docente: Ana Simões

2º Ano, Turma G

Andreia Fernandes, 2008244

Catarina Farelo, 2008253

Mafalda Costa, 2008412

Patrícia Teixeira, 2008286

Sara Olímpia, 2007185

2.Dezembro.2009

Page 2: Trabalho Escrito

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ÍNDICE

Tema Página

1. Introdução 3

2. Biografia de Célestin Freinet 4

3. Princípios Pedagógicos 5

4. Pedagogia 7

5. Organização da sala 10

6. Técnicas Freinet 13

7. Conclusão 18

8. Referências Bibliográficas 19

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1. INTRODUÇÃO

No âmbito da unidade curricular Fundamentos da Pedagogia, leccionada pela

docente Ana Simões, o grupo foi encarregue de realizar uma pesquisa aprofundada

sobre a vida pessoal e profissional de Célestin Freinet.

Após expormos alguns acontecimentos importantes da sua vida, apresentare-

mos os princípios pedagógicos em que baseia toda a sua pedagogia, e que estão

resumidos nos trinta pressupostos pedagógicos que formulou.

Revolucionário para a época, Freinet desenvolveu um vasto leque de estraté-

gias de organização da sala de aula, de métodos de trabalho e técnicas que poten-

ciam o desenvolvimento da criança. A organização da sala, que defendia dever ser por

“cantinhos” (actuais centros de interesse), devia sempre centrar-se nos alunos e no

respeito que o professor deve nutrir por eles. O autor segue métodos de trabalho

baseados na autonomia das crianças, através de técnicas que propiciem um processo

de conhecimento espontâneo e eficaz. De entre as técnicas Freinet mais conhecidas,

destacam-se o texto livre, a conferência de alunos, livro de vida e os jornais de parede

e escolar.

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2. BIOGRAFIA DE CÉLESTIN FREINET

• 1896 (15 de Outubro) – Nasce e Gars, no Sul de França, na região de Provença;

• 1914 – Enquanto estava na faculdade, dá-se a 1ª Guerra Mundial;

• 1915 – Interrompe os seus estudos e é recrutado para o Exército;

• 1915 – Recrutado pelo exército francês, sofre uma grande lesão nos pulmões.

Recebe baixa e deambula por vários hospitais à procura de cura;

• 1920 – Inicia o seu trabalho como professor-adjunto do 1º ciclo, sem ter concluí-

do o Curso Normal;

• 1924 – Criação do Movimento da Escola Moderna;

• 1924 – Primeiras correspondências escolares;

• 1925 – Conhece Élise, artista plástica, que trabalha como sua colaboradora;

• 1926 – Casa-se com Élise e, juntos, editam o livro A Imprensa na Escola.

• 1926 – Cria a revista La Gerbe (O Ramalhete), uma revista consistente em poe-

sia infantil;

• 1927 – Funda a Cooperativa do Ensino Leigo (CEL);

• 1935 – Freinet é exonerado do cargo de professor, em Saint Paul de Vence;

• 1935 – Cria a Escola Freinet (privada e laica);

• 1940 – Freinet é preso e enviado para o campo de concentração de Var, onde

dá aulas aos seus companheiros;

• 1947 / 1948 – Criação do Instituto Cooperativa da Escola Moderna (ICEM);

• 1956 – Campanha Nacional para reduzir para 25 o número de alunos por sala de

aula;

• 1966 - Morre na cidade de Vence, em França.

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3. PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS

«Todos os dias a experiência conduz Freinet à mesma conclusão: o ensino ministrado

à maneira tradicional, que exige da criança uma atitude passiva e amorfa, não tem o

menor resultado.»

Élise Freinet, in http://tinyurl.com/yjq34dq, consultado a 8 de Novembro de 2009

Freinet dirige pesadas críticas à escola tradicional, considera-a inimiga do

“tatear experimental”, fechada, contrária à descoberta e longe de se preocupar com o

interesse e o prazer das crianças. Crítica, também, o autoritarismo expresso nas

regras rígidas da organização do trabalho. Não concorda com a atribuição de notas

quantitativa nem com os castigos ou sanções. Apela, sempre, ao respeito mútuo entre

professor e aluno.

« (…) readaptação da nossa escola pública a fim de oferecer às crianças do século XX

uma educação que responda às necessidades individuais (…) »

(Freinet, C.:1969:23)

A seu ver, a educação deve contribuir para que o ser humano aprenda a

conhecer-se, respeitar-se e desenvolver a sua personalidade e individualidade. Defen-

de uma pedagogia do bom senso, do trabalho e do êxito. A escola deve ter como cen-

tro de ensino-aprendizagem, o aluno, tendo em conta as suas necessidades, interes-

ses, despertando nele a sede de saber, a paixão pela descoberta e pela aquisição e

construção da cultura. Refere muitas vezes a experiência (situações ricas em estímu-

los) como a possibilidade que a criança tem para chegar ao conhecimento resultando

em aprendizagem e desenvolvimento do espírito crítico e de curiosidade.

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Autonomia

Expressão Livre

Comunica-ção

Cooperação

Espírito Democrático

Educação pelo

Trabalho

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4. PEDAGOGIA

A. Concepções da criança e do professor

«A criança é como uma semente: em solo com luz e nutrientes, busca a luz, a água e

tudo o que precisa para germinar e frutificar.»

(Freinet, C.:1976:)

Para Freinet todas as crianças querem conhecer objectos e fenómenos, tocar,

experimentar e criar. Elas, em ambientes propícios, crescem e desenvolvem-se muito

bem. Então, a escola, deve corresponder a este terreno fértil que, recolhendo os com-

portamentos naturais e espontâneos das crianças, estimula e desenvolve os sentidos,

a percepção e a consciência de agir no meio e na interacção com os outros.

«O professor deixa de ser o oficial de dia para se tornar o conselheiro e o assistente

permanente.»

(Freinet, C.:1973:72)

O professor deve permitir que os alunos tomem as suas próprias decisões e

que assumam as suas atitudes. A transmissão de conhecimentos é uma relação da

livre expressão bastante valorizada. Freinet acreditava que o fracasso desmotiva o

aluno, por isso, o professor deve colaborar ao máximo para o êxito de todos os alunos

ajudando-os a recuperar o erro. Para Freinet, o professor precisa de constantes estu-

dos, intercâmbios e troca de experiências. Para essa formação fundou a CEL (Coope-

rativa do Ensino Leigo). Nessas reuniões de formação avaliavam-se as práticas

docentes; cada professor, perante 30 pressupostos (que resumiam os princípios fun-

damentais da proposta de Freinet) avaliava-se a si próprio.

« (…) o defeito principal da lição é ser dada pelo professor que sabe, ou pretende

saber, a alunos que se supõe que nada sabem. Não entra na cabeça de ninguém a

ideia de que a criança, com as suas próprias experiências e os seus conhecimentos

diversos e difusos, tem também alguma coisa para ensinar ao professor. Verifica-se

aqui um erro pedagógico (…)»

(Freinet, C.:1976:53)

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B. Pressupostos Pedagógicos

Natureza da Criança

1. A criança é da mesma natureza que o adulto;

A criança sente, sofre, procura e defende-se tal como nós, somente a ritmos

diferentes que provêm da sua ignorância e inexperiência. Quando castigamos uma

criança podemos pensar como nos sentiríamos se tivéssemos no seu lugar, e como

agíamos quando éramos como ela.

3. O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico,

orgânico e constitucional.

Existe a tendência de considerar que, uma criança que trabalha mal ou tem um

mau comportamento, o faz de forma intencional. Quando temos dores de cabeça, ou

de dentes ou quando temos fome, também não trabalhamos bem. Por isso, quando

uma criança tiver este tipo de comportamentos, temos de nos interrogar se não existi-

rão motivos de saúde ou outros que o justifiquem.

Reacções da Criança

8. Ninguém gosta de trabalhar sem objectivo, actuar como robot; quer dizer,

actuar, sujeitar-se a pensamentos inscritos em rotinas nas quais não participa.

Quando fazemos algo sem uma finalidade concreta, a realização dessa tarefa

torna-se muito mais fatigante. O mesmo se passa com as crianças, por exemplo: se

uma criança pedalar numa bicicleta estática, vai-se cansar depressa; no entanto, pode

ir até ao fim do mundo se for uma bicicleta que tenha rodas.

Técnicas Educativas

11. A via normal de aquisição não é unicamente a observação, a explicação e a

demonstração, processos essenciais da escola, mas a experiência tacteante, conduta

natural e universal.

A escola tradicional actua, exclusivamente, por meio de explicação; as expe-

riências, quando são realizadas, servem apenas como complemento da demonstra-

ção. Freinet defende sempre a grande importância das experiências tacteantes.

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19. As notas e as classificações constituem sempre um erro.

As notas são apreciações feitas por um adulto do trabalho da criança. Pode ser

válida quando se trata de avaliar um cálculo ou um problema, mas quando se trata de

compreensão, da criação ou do sentido artístico, todas as avaliações são subjectivas

pois depende de professor para professor.

23. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes para todos e não condu-

zem nunca ao fim desejado. Para além do mais não passam de um paliativo.

As crianças castigadas têm sempre um sentimento de oposição, de vingança

ou até mesmo de ódio. Quando éramos castigados, quais eram as nossas reacções?

É sempre importante colocarmo-nos na situação da criança e pensar como nos senti-

ríamos nessas circunstâncias.

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5. ORGANIZAÇÃO DA SALA

A. Abolição do estrado

Para uma nova visão da escola, é necessário que o professor demonstre

empenho e respeito para com as crianças. Neste sentido, para quê ter uma secretária

mais alta, num método de ensino baseado nas crianças? Se são as crianças que

orientam a aula, o estrado é apenas um obstáculo.

Para Freinet, a mesa do professor é uma mesa como outra qualquer: «Então,

muito simplesmente, para estar ao próprio nível da criança, para viver o seu pensa-

mento e vibrar com as suas emoções, Freinet tem um gesto que permanecerá um

símbolo: arranca o estrado que lhe conferia um prestígio inútil e coloca a sua escriva-

ninha sobre o soalho encostada às mesas dos pequenos.» (Freinet, C.:1976:69)

Segundo esta perspectiva, os alunos olharão o professor de forma mais perfei-

ta, na medida da sua humanidade.

A mesa do professor é colocada a um canto e utilizada como mesa de apoio,

em muitas salas Freinet, e, o estrado, depois de recuperado, é utilizado como banca-

da, mesa de exposição ou mesmo mesa de impressão.

B. Biblioteca de Trabalho

Freinet critica os manuais: oferecem matéria retomada e comentada pelo pro-

fessor, que depois faz com que os alunos apliquem esse conhecimento nos típicos

exercícios que confirmam as regras explicadas. Em vez disso, o aluno deveria ter à

sua disposição o material e a documentação necessários que lhe permitisse chegar

por si mesmo ao conhecimento, sem qualquer «conversa fiada» (Freinet, C.:1976:32).

Os manuais podem e devem ser utilizados nas salas de aula, no entanto não

devem ser a base de aprendizagem dos alunos, uma vez que «a lição do manual

substitui a experiência da criança, a sua visão das coisas.» (Freinet, C. :1976:32)

Seguindo esta concepção, Freinet recomenda a criação de uma Biblioteca de

Leitura, constituída por romances, álbuns, histórias para crianças e uma Biblioteca de

Trabalho, «verdadeira enciclopédia infantil, de carácter científico e cultural, que per-

manece um dos elementos mais demonstrativos de um espírito novo nas perspectivas

de um modernismo que se impõe com ritmo acelerado.» (Freinet, C.:1976:72), composta

por todos os livros que o professor considere capazes de ajudar os alunos no seu tra-

balho (manuais escolares, dicionários, colecções, livros documentais, etc.).

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C. 25 alunos por sala

Em 1956, Freinet inicia uma campanha nacional para reduzir o número de alu-

nos por sala para 25: «O único obstáculo verdadeiro à modernização da escola no que

se refere à sua aparelhagem, à sua prática pedagógica e ao seu espírito, é incontesta-

velmente o aumento dos efectivos escolares. Que fazer numa classe de 35, 40, 50

alunos?» (Freinet, C.:1976:73).

Nenhum professor, independentemente do bom equipamento das salas e das

suas boas intenções e pedagogias, poderia trabalhar atenciosa e individualmente com

todos os alunos, em turma que chegavam a atingir os 80 alunos.

D. Organização da sala

Freinet defendia a organização da sala segundo “cantinhos”, os actuais centros

de interesse. Segue-se um exemplo de uma sala de aula adaptada às técnicas Frei-

net, de onde se destaca:

• A localização da secretária do professor, limitada a um canto, para se arranjar

espaço para o trabalho das crianças, e sobre a qual se encontra um vaso de

flores, lápis, esferográficas, tesouras e capas para receberem os trabalhos dos

alunos;

• Os fios de nylon, ao longo de todas as paredes da sala, que serviam para afixar

os trabalhos produzidos pelas crianças;

• Uma zona central de mesas de trabalho individual, pequenos e grandes grupos;

• Várias mesas laterais, cada uma dirigida a um “cantinho” específico.

(Freinet, C.:1976:85)

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CCuurriioossiiddaaddee Numa sala de 1º ciclo, um professor testemunha que, adaptando a sua sala às técnicas

Freinet, e dando maior autonomia às crianças, o quadro passou a servir como meio de

comunicação com os alunos («Tragam os vossos livros de vida.», «Brigitte trouxeste o

anuário?», «A caixa não está em ordem.») e vice-versa («Quem perdeu um lápis? Pedi-lo

à Solange.», «É preciso comprar um sabonete.»).

Citações retiradas de Freinet, C.:1976:86

Segue-se um outro exemplo, mas de uma sala de aula «adaptada cem por cen-

to ao renovamento pedagógico conseguido com o emprego das Técnicas Freinet.»

(Freinet, C.:1976:97-101), destacando-se:

• Divisão física entre a oficina e a sala de aula. Na oficina encontram-se todos os

materiais-extra para a aprendizagem das crianças;

• Neste caso, o estrado mantém-se na sala, mas a secretária do professor foi des-

locada para um canto. No seu espaço, “dá-se vida” às reuniões da cooperativa,

ao cenário do teatro livre e à “barraca” do teatro de marionetas.

(Freinet, C.:1976:98)

Oficina

1. Sala de impressão e policópia

2. Sala de meios audiovisuais

3. Oficina eléctrica

4. Salas de arte

5. Salas de ciências

6. Oficina de marcenaria-serralharia

Sala de aula

1. Estrado

2. Quadros de parede

3. Secretária do professor

4. Mesas individuais

5. Quadros de afixação especializados

6. Mesa para ficheiros de autocorrecção

7. Mesa de experiências de cálculo e de

observações

8. Mesa de exposição de trabalhos da

aula

9. Mesa de exposição de remessas do

correspondente

10. Ficheiro documental

11. Biblioteca

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6. TÉCNICAS FREINET

A. Imprensa Escolar

«Eis a primeira descoberta de base que ia permitir que fosse reconsiderado progressi-

vamente todo o nosso ensino.»

(Freinet, C.:1976:25)

Freinet adquiriu uma pequena imprensa pertencente a um artesão e, desde

então, os textos livres começaram a ser impressos. A imprensa é considerada o prin-

cipal utensílio pedagógico e o mais importante meio de ensino. Algumas vantagens

que este método propícia: agilidade manual e coordenação de gestos, acabamentos

mais perfeitos do trabalho, exercício progressivo da memória visual, aprendizagem

natural da leitura e da escrita, sentido permanente da construção de frases correctas,

aprendizagem da ortografia, sentido de responsabilidade pessoal e colectiva, clima

novo de uma comunidade fraterna e dinâmica.

A criança produz o texto que é posteriormente lido aos outros, em grupo aper-

feiçoam-no e por fim é impresso.

B. Texto Livre

«Para que o aluno se eduque não precisa engolir todas as matérias que lhe são apre-

sentadas mais ou menos atraentes: precisa agir por si mesmo; precisa criar»

in http://tinyurl.com/yg7etyo

A pedagogia de Freinet fundamenta-se em quatro eixos: a cooperação (para

construir o conhecimento em comunidade), a comunicação (para formalizá-lo, transmi-

ti-lo e divulgá-lo), a documentação, com o chamado livro da vida (para registos diário

dos fatos históricos), e a afectividade (como vínculo entre as pessoas e delas com o

conhecimento). O texto livre nasceu destes quatro eixos, quando os alunos sentiam

necessidade de expressar as suas vivências, quando queriam partilhar e comunicar

algo seu.

O objectivo é favorecer o desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem

(desenho, escrita, gramática). Esta técnica não é um fim em si mesmo, mas sim um

momento do processo de aprendizagem que parte dos interesses mais profundos da

criança que irá ser propício à apropriação do conhecimento, ou seja, através de algo

agradável para a criança conseguir chegar ao conhecimento. «Para que o aluno se

eduque não precisa engolir todas as matérias que lhe são apresentadas mais ou

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menos atraentes: precisa agir por si mesma; precisa criar». (Freinet apud Freinet,

É.:1978:103). Nasce naturalmente a partir das impressões de cada criança, tanto depois

de um passeio, uma visita a uma quinta, uma história contada pela avó e era escrito

no momento em que a criança sentia a inspiração e necessidade para o fazer.

O texto livre partia muitas vezes de outras técnicas de Freinet, como as saídas

ao ar livre e os passeios pelo campo onde havia uma recolha de espécies animais e

vegetais e a partir daí surgiam ideias para a contruição do texto livre.

Freinet quis substituir os manuais escolares pelas produções das crianças: o

texto livre era lido à turma, votado, copiado no quadro e enviado aos correspondentes.

Inicialmente, fazia-se tudo à mão, mas com o passar do tempo, Freinet conseguiu

encontrar uma imprensa e deu assim inicio ao texto impresso que revolucionou os

métodos de aprendizagem da leitura e da escrita. Durante todo o processo, antes do

texto ser enviado era corrigido e aperfeiçoado colectivamente o que dava às crianças

um grande sentido de responsabilidade.

C. Desenho Livre

«Nas aulas pequenas – por exemplo, infantis, jardins-escola – se a leitura individual

não é ainda possível, daremos em compensação, um lugar primordial ao desenho, que

constitui um desinibidor psíquico, e uma forma de expressão.»

(Freinet, C.:1976:59)

O desenho livre tem o mesmo objectivo que o texto livre, mas é usado, maiori-

tariamente, pelas crianças mais pequenas que ainda não sabem ou têm muitas dificul-

dades em expressar-se. Ainda assim, crianças que já sabem escrever bem também o

utilizam.

D. Jornal de Parede

«Eu critico, Eu felicito, Eu queria, Eu realizei.»

(Freinet, É.:1979:98)

O jornal de parede é usado com o intuito da criança abstrair conceitos e valo-

res. As crianças participam com um grande à vontade, prontas para resolver os pro-

blemas da semana. São situações evidenciadas e problematizadas para que não con-

tinuem a perturbar a sala.

O jornal de parede também promove felicitações e propostas.

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E. Jornal Escolar

«A criança sente a necessidade de escrever, exactamente porque sabe que o seu

texto, se for escolhido, será publicado no jornal escolar e lido, portanto, pelos seus

pais e pelos correspondentes.»

(Freinet, C.:1976:81)

O jornal escolar é uma recolha de textos livres realizados e impressos diaria-

mente e agrupados, mês a mês, numa encadernação especial, para os assinantes e

os correspondentes.

O jornal escolar é o arquivo da aula.

F. Correspondência Interescolar

«As crianças queriam e mereciam uma mais larga assistência.»

(Freinet, C.:1976:28)

A correspondência interescolar surgiu antes do jornal escolar. Era um método

associado aos textos livres, que pretendia que a escrita tivesse um propósito (o facto

de ser enviado, pelo que se tornava motivado e evitava a falta de textos).

Com a ajuda do seu amigo Daniel, de Saint-Philibert-de-Trégunc, em 1926,

iniciou-se a correspondência interescolar. Com esta pedagogia, obtinha-se dos cole-

gas de Trégunc notícias de pescarias, caçadas, tempestades, etc… Para esta locali-

dade, era enviada pela Escola de Freinet, informações sobre a colheita da flor de

laranjeira, apanha da azeitona, festas de Carnaval, fabrico de perfumes, entre outras.

G. Livro de Vida

«Os Livros de Vida continham (…) repositório de informações utilizado pedagogica-

mente como recurso de aprendizagem.»

in http://tinyurl.com/ydwzq5t

Contêm os textos livres das crianças, as suas produções, escritas, desenha-

das, e organizadas por elas. Reunia documentação sobre a natureza, a comunidade

local, a sociedade e a história envolvente da localidade da escola.

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H. Aula-Passeio

«[As classes Freinet] são como belos jardins cujas plantas extraem, num solo rico, a

sua natureza e as sua utilidade, os legumes úteis, as árvores generosas e as flores da

poesia e da beleza, tão necessárias por vezes como os alimentos fundamentais.»

(Freinet, C.:1976:50)

Freinet apercebeu-se, através dos seus alunos, que havia uma grande diferen-

ça de humor apenas pelo simples facto de onde se encontravam – sala ou recreio.

Este contraste era visível ao ponto de se sentirem mais à vontade no exterior e em

contacto com a realidade em vez de fechados em aula.

Surgiu a ideia de que não seria necessário estar no interior da sala para que

adquirissem certos conhecimentos, muito pelo contrário… a área que os envolvia ofe-

recia muitos meios de aprendizagem. A partilha de experiências e oportunidade de

interacção fez com que Freinet não hesitasse em „passear‟ com os seus discentes de

modo a contactar com as teorias que teria que apresentar. Além de inovadora, esta

técnica proporcionava momentos de procura, auto-questionamento e tentativa de

arranjar respostas por eles mesmos, fomentando, portanto, o desenvolvimento da

autonomia. Por outro lado, a sociedade era incentivada a participar na vida esco-

lar/educativa da sua zona, ou seja, o meio envolvente era activo na vida das crianças

que Freinet orientava.

I. Plano de Trabalho

«Sem plano de trabalho, o aluno encontra-se completamente à mercê. (…) Daqui

resulta a desordem, a preguiça, o enervamento.»

(Freinet, C.:1973:60)

O plano de trabalho só é possível com o desenvolvimento da capacidade de

escolha. Sem motivação, as tarefas são executadas com menos qualidade. Com uma

mais vasta variedade de trabalhos, é necessário que a divisão de tarefas seja feita

com antecedência – as crianças sentirão prazer em assumir a responsabilidade de

uma tal tarefa.

Não é o abuso da autoridade, mas sim a colaboração com as crianças, durante

o processo de atribuição das mesmas e execução, que se pretende, de acordo com

esta pedagogia.

É importante que o próprio educando evolua de acordo com o seu próprio rit-

mo, nas actividades que lhe são propostas.

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J. Fichas de Auto-Avaliação e de Auto-Correcção

« (…) os ficheiros de autocorrecção trazem um instrumento novo, tornando possível

que a criança adquira mecanismos de base mercê de uma progressão natural e gra-

ças a um treino sistemático.»

(Freinet, C.:1976:72)

Auto-Avaliação - São fichas feitas pelo próprio educador; o aluno deve registar

tudo o que aprende sempre que um tema é concluído. Assim, o educador tem a opor-

tunidade de acompanhar o progresso do seu aluno e o aluno não se sente avaliado, o

que muitas vezes prejudica.

Correcção - Antes do texto ser enviado para a Impressa Escolar, é necessário

que o texto seja corrigido. A correcção pode ser feita pelo educador colectiva ou indi-

vidualmente ou então, através da auto-correcção, o que faz com que o aluno perceba

o erro e aprenda com ele, tornando-o significativo.

K. Trabalho-jogo e Jogo-trabalho

«O jogo e o trabalho, longe de se oporem um ao outro, são ambos as grandes fun-

ções por assim dizer sincrónicas na aprendizagem.»

(Freinet, C.:1979:103)

A escola, segundo esta pedagogia, é encarada como um elemento activo de

mudança, que não pretende fazer da sociedade uma caricatura, nem marginalizar as

crianças de classes menos favorecidas.

A pedagogia de Freinet assenta na experimentação (conhecimento empírico) e

na documentação. Estas metodologias têm ainda como objectivo favorecer o desen-

volvimento dos métodos naturais da linguagem, matemática, ciências naturais e ciên-

cias sociais.

L. Conferência de Alunos

Momento de reflexão e debate sobre a semana de trabalho.

Os alunos reúnem-se com o professor para debater todos os assuntos: avalia-

ção, algo que gostaram muito no dia e na semana ou algo que, pelo contrário, não

gostaram. Pretende-se que todos em conjunto arranjem soluções para os problemas e

ao fazer-se o balanço da semana e das coisas é que se consegue caminhar. É uma

forma de, afectivamente, o professor conseguir chegar aos alunos. Para Freinet a

afectividade era fundamental para a sua relação com os alunos.

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7. CONCLUSÃO

Antes de começarmos a pesquisar pensámos que iríamos aprofundar um tema

completamente desconhecido para o grupo. No entanto, com o avançar do trabalho,

verificámos que, reconhecíamos muitas das técnicas que Freinet sistematizou e, inclu-

sivamente, enquanto alunas primárias, já as tínhamos utilizado, nomeadamente os

jornais de parede e escolar, a conferência de alunos, o texto e desenho livres, as

aulas-passeio e o livro de vida. Na realidade, o que nos aconteceu foi aquilo que cons-

tatámos ser comum entre alguns profissionais da educação: aplicam as técnicas Frei-

net, mas, passamos a redundância, não sabem que são “de Freinet”.

Com a realização deste trabalho pudemos apreender novos conhecimentos

que nos serão extremamente úteis aquando do exercício da nossa profissão enquanto

educadoras de infância e / ou professoras de 1º ciclo.

Numa breve síntese, concluímos que Freinet, preocupado com o rumo que as

escolas estavam a seguir, nos anos 20, procurou responder àquilo que realmente

podia melhorar o mundo escolar: as necessidades das crianças. Desenvolveu uma

pedagogia centrada na autonomia, cooperação, expressão livre, espírito democrático,

educação pelo trabalho e comunicação, que permitisse uma sala de aula liderada pela

curiosidade e vontade de conhecer das crianças.

Para muitos, Freinet ficará conhecido com alguém que ousou ir mais além, que

eliminou a separação existente entre alunos e professor e transformou a sala de aula

numa extensão da vida das crianças.

Page 19: Trabalho Escrito

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros:

• Freinet, C. (1976). As técnicas Freinet da Escola Moderna (4ª ed.). Lisboa: Edi-

torial Estampa

• Freinet, C. (1976). O Jornal Escolar. Lisboa: Editorial Estampa

• Freinet, C. (1976). O Texto Livre. Lisboa: Dinalivros

• Freinet, C. (1973). Para uma escola do povo. Lisboa: Editorial Presença

• Freinet, É. (1979). Itinerário de Célestin Freinet: A expressão livre na pedagogia

de Freinet. Lisboa: Livros Horizonte

Internet:

• Bello, J. L. de P. (1999). A Pedagogia de Célestin Freinet. Pedagogia em Foco.

Consultado a 26 de Novembro de 2009, no site http://tinyurl.com/yetmzy7.

• Cruz, M. G. (2007). Freinet. A Página da Educação, nº 170, p. 40. Consultado a

8 de Novembro de 2009, no site http://tinyurl.com/yljgh28.

• Ferrari, M. (2008). Célestin Freinet. Revista Educar para Crescer. Consultado a

8 de Novembro de 2009, no site http://tinyurl.com/ydhrany.

• Marques, R. (s.d.). Célestin Freinet. Consultado a 8 de Novembro de 2009, no

site http://tinyurl.com/ydwzq5t.

• http://www.abec.ch/Portugues/subsidios-educadores/biografias/CELESTIN_

FREINET.pdf, consultado a 2009.11.26

• http://tinyurl.com/yg7etyo, consultado a 2009.11.14