trabalho, educação e luta de classes na américa latina

Upload: lassoares78

Post on 14-Jan-2016

223 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Trabalho, Educação e Luta de Classes naAmérica Latina

TRANSCRIPT

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    1

    Trabalho, Educao e Luta de Classes na

    Amrica Latina

    Gaudncio Frigotto UERJ

    Eu comearia salientando duas passagens: uma do historiador Eric Hobsbawm, e

    outra, de um filsofo brasileiro, Leandro Konder. O Eric Hobsbawm diz o seguinte: Os

    socialistas esto aqui para lembrar ao mundo que em primeiro lugar devem vir as pessoas e

    no a produo. As pessoas no podem ser sacrificadas. Esta passagem tem um sentido

    radical nestes tempos em que Istvan Mszros, nos mostra que o capitalismo real esgotou

    sua parca capacidade civilizatria. Ento, nunca se sacrificou tanto as pessoas em nome da

    concentrao de capital, de cincia tcnica e de extrao de mais-valia, nas mos de cada

    vez menos gente. Concentram-se em corporaes hoje, em poucas corporaes, a maior

    parte da riqueza do mundo. Corporaes que so muito mais poderosas que dezenas de

    naes juntas no mundo. A segunda passagem que destaco, de Leandro Konder, diz que:

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    2

    Toda sociedade vive por que consome; e para consumir, depende da produo. Isto , do

    trabalho. Toda a sociedade vive porque cada gerao nela cuida da formao da gerao

    seguinte e lhe transmite algo da sua experincia, educa-a. No h sociedade sem trabalho e

    sem educao.

    Talvez pudssemos introduzir o tema que me foi solicitado nesta abertura, tema do

    livro Educao Para Alm do Capital, pequeno livro, pequeno grande livro, contracenando

    com o grande livro, do ponto de vista do tamanho, Alm do capital de Istvan Mszros. O

    Mszros nos diz: A educao tem duas funes principais em uma sociedade capitalista:

    a produo das qualificaes necessrias ao funcionamento da economia e a formao de

    quadros e a revelao de mtodos para o controle poltico.

    Entretanto este mesmo autor mostra que porque vivemos em uma sociedade

    de classes e, portanto, em uma sociedade de antagonismos de classes e de luta de classes.

    No h apenas reproduo de quadros para alimentar a extrao da mais valia e meios para

    o controle poltico. H tambm a perspectiva da construo de relaes sociais e educativas

    de produo de sujeitos emancipados, ou seja, onde o livre desenvolvimento de cada um

    seja o livre desenvolvimento do gnero humano.

    Creio ento que, para mim, a diferena deste seminrio o V Seminrio do

    Trabalho, organizado pela RET (Rede de Estudos do Trabalho), se demarca neste ponto. E

    por isso, que o seminrio tambm no o lugar para agente pontificar, de vir com muita

    certeza. o lugar de problematizar, o lugar de fazer o pensamento pensar, o lugar de

    desafiar. H pouco tempo eu estava lendo uma crnica de um dos poucos autores que eu

    consigo ler com tranqilidade nos jornais. Lamentavelmente escreve pouco atualmente e se

    chama Luiz Fernando Verssimo. Para mim a pessoa que consegue em uma pgina

    problematizar a realidade brasileira. Em uma crnica, de no muito tempo, depois de

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    3

    participar do Festival de Literatura de Parati, ele escreveu uma crnica sobre ler a realidade.

    E essa crnica motivada por uma pergunta de um aluno em uma exposio que ele fez

    para alunos do nvel mdio neste congresso internacional de literatura de Parati. Aps a

    conferncia, obviamente os alunos de nvel mdio so curiosos, perguntam o seguinte:

    como que voc faz para escrever? Como que voc escreve tanto? Qual seu time de

    futebol? Ao lado destas, vieram tambm as perguntas que preocupam os jovens, mas uma

    das perguntas lhe causou estranhamento. O jovem lhe perguntou: Verssimo, voc tem

    certeza que sabe ler? Uma pessoa que l tanto, que devora livros, que escreve tanto, achou,

    de incio, aquela pergunta uma provocao. Mas depois disse: olha, se ler juntar as

    letrinhas, disse, eu leio muito e junto muito bem. Agora, se por ler voc entende ler a

    realidade e interpretar a realidade, a eu tenho dvidas.

    Eis a questo: parece-me que vivemos em um tempo em que, como diz Galeano,

    quando ns pensvamos que tnhamos quase todas as respostas, mudaram as perguntas. E

    por isso que eu pretendo aqui trazer para vocs, mais perguntas do que respostas. No me

    nego a ter uma posio sobre as questes que esto aqui, mas esta , talvez, secundria.

    Eu vou abordar quatro pontos sinteticamente. Um primeiro ponto diz respeito a trs

    dimenses que afetam esta relao trabalho, educao e luta de classes na Amrica Latina,

    que o determinismo tecnolgico.

    O segundo ponto perguntar-se que tipo de sujeito de classes foram se

    conformando ao longo do sculo XX na Amrica Latina (partidos polticos, sindicatos,

    movimentos sociais) e que vnculos eles tm com as classes fundamentais, e como este

    prprio conceito de classes um conceito que , do ponto de vista do sistema capital,

    levado ao esquecimento como luta ideolgica; mas tambm a prpria dificuldade no campo

    marxista em enfrentar este conceito historicamente.

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    4

    O terceiro ponto nos perguntarmos porque os avanos que ns conseguimos, nesta

    relao trabalho e educao na dcada de 1980 tiveram refluxo radical profundo na dcada

    de 1990. Afinal de contas, o que significa a vitria, entre aspas, das polticas de Paulo

    Renato no Brasil e na Amrica Latina, as polticas neoliberais? s fora da direita ou

    tambm limite nosso da esquerda?

    O quarto ponto trata do ponto de vista do pensamento, isto , como desafiar o

    pensamento no campo da teoria e no campo da poltica. Seria este o esquema que eu

    gostaria de trazer aqui para conversar com vocs.

    Em relao ao primeiro ponto, importante dizer que, paradoxalmente, quanto mais

    violenta a relao de classe, mais invisvel ela tem se constitudo no campo fenomnico.

    Ento, quem transita alm do campo fenomnico e tenta analisar a expresso de mutilao

    de milhes e milhes de seres humanos at do direito do trabalho explorado, do trabalho

    alienado, a precarizao do trabalho, nunca a violncia de classes foi to patente e nunca se

    negou tanto a existncia de classes.

    O ponto de vista do determinismo tecnolgico no campo dominante a prpria idia

    de apagar a dimenso e a perspectiva de classes. Alis, esta no uma novidade.

    Historicamente no se reconhece a existncia da prpria sociedade de classes. Nos tempos

    em que ns vivemos se fala da sociedade do conhecimento, na sociedade ps-classista, na

    sociedade ps-industrial, na sociedade do cio produtivo e do desenvolvimento sem

    trabalho que a tese do Domenico De Masi, revisitada por vrios autores e bem revisitada

    criticamente.

    Esse iderio, aparentemente incuo, na verdade penetra de forma bastante forte nas

    conscincias mdias. Mesmo no debate na graduao e na ps-graduao muito freqente

    encontrar estudantes dizendo: evidentemente agora estamos na sociedade do conhecimento.

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    5

    Todo mundo pode conhecer, a Internet est a, os conhecimentos podem ser acessados no

    botequim, no aeroporto, na rodoviria.

    Entretanto, primeiro: no se d ao trabalho de fazer um levantamento histrico e

    emprico para ver quantos acessam, por exemplo, em um pas em que ns vivemos em que

    os maiores Programas so de fome zero, dentadura para trinta milhes de pessoas e

    documentos para quarenta milhes de pessoas, deixando magnitudes que a ideologia

    consegue borrar na conscincia at mediana do ponto de vista do efeito letal destas

    perspectivas.

    De outro ponto de vista, eu verifico que, como diz historiador Eric Hobsbawm,

    nunca se industriou tanto; s se industriou de modo diferente, mas nunca a humanidade

    industriou tanto e desenvolveu a capacidade de industriar. E como que algumas pessoas

    dizem que ns vivemos em uma sociedade ps-industrial? Confundindo a forma de

    industriar com o prprio fato de industriar. Ento este um aspecto que me parece que ns

    no podemos subestimar. Ele atinge uma marca no desprezvel do pensamento na Amrica

    Latina.

    Qual a contrapartida disto para o campo da educao? A pedagogia das

    competncias para empregabilidade no uma formulao inocente e nem os vrios

    seminrios da Unesco so inocentes. No so maquiavlicos, mas como diria o prprio

    Marx. O problema da burguesia no ser maquiavlica, ser burguesa, porque presos s

    suas representaes burguesas, os economistas, os socilogos, os polticos, os filsofos

    burgueses, vem de dentro como funciona o sistema capitalista, mas no vem seus

    fundamentos. Ento, este um aspecto que me parece importante debater e analisar. O

    determinismo cientfico que inibe as relaes sociais, que inibe que a cincia e a tcnica

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    6

    uma relao social, fruto na sua deciso, no seu desenvolvimento e na sua aplicao de

    luta, de divises e de disputa.

    Esse determinismo ento gera este patamar de uma relao mecnica entre o mundo

    do trabalho e a educao. Mas este determinismo atinge um campo que podemos chamar de

    esquerda, o campo da teoria mais crtica que mescla, como diz Chico de Oliveira, uma

    viso escatolgica de Marx, ou uma viso idealista de Marx, aos parmetros ou aos

    elementos bsicos do que se chama a cultura ps-moderna, que Jameson define como a

    cultura do capitalismo tardio.

    Como se manifesta isso? Manifesta-se, primeiramente, nas teses do fim do trabalho,

    confundindo a forma que assume o trabalho com o fim do trabalho na sua dimenso onto-

    gentica. Ou ento, abstrair da relao de trabalho, como faz, por exemplo, o filsofo

    importantssimo (talvez o maior filsofo do sculo XX), pelo menos na apreenso que faz

    Perry Anderson, se chama Habermas, muito conhecido e tem que ser discutido, lido. Mas

    porque Habermas tem que abrir mo do conceito de trabalho e de classe? Por que se no ele

    no consegue construir a sua teoria da ao comunicativa e de uma ao dialgica baseada

    especialmente da tese de que a verdade est no melhor argumento e ao prescindir do

    embate de classes ns vamos ver tambm que os melhores argumentos so aqueles que

    tambm tm os melhores instrumentos de dominao ideolgica, poltica, cultural, psico-

    social, etc.

    E onde se manifesta, de outra forma, o determinismo tecnolgico? As teses, por

    exemplo, do grupo Crisis, as teses do Robert Kurz, que so teses que tem elementos que

    podem ser incorporados na anlise crtica, mas por sua viso escatolgica, como diria

    Chico de Oliveira, acabam tambm substituindo o embate de classes por mais invisveis

    que sejam por uma espcie de juzo final, de uma razo sensvel. Seria a razo sensvel

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    7

    que, de repente, multides entram em alfa e resolvem fazer a revoluo. Para mim uma

    literatura sobre a qual ns somos desafiados a dialogar criticamente e superar, se for o caso,

    como diz o Gramsci, incorporando, de forma subordinada, elementos que trazem estas

    anlises.

    Uma literatura tambm fortemente divulgada, hoje so as obras do Negri, que

    tambm inibem o conceito de classe e substitui pela multido. E a, onde est o ponto desta

    sntese que quero fazer destes dois mbitos do determinismo tecnolgico? Aonde que

    est, para mim, a questo sobre a qual podemos e devemos avanar? Estes autores at

    mesmo postulam o fim do trabalho abstrato sem o fim do capitalismo. Porque separa aquilo

    que no separvel. Trabalho objetivado trabalho. Trabalho objetivado em cincia

    tcnica, trabalho. expresso do trabalho subjetivo, isto , expresso de mais valia

    explorada. Ento, se ns temos hoje uma diminuio do trabalho subjetivo, isto , de

    trabalhadores engajados no processo produtivo e temos uma hipertrofia do trabalho

    objetivado, isto , trabalho morto, trabalho em forma de cincia e tcnica sob comando do

    capital, isto no significa nem que desapareceram as classes, nem que o fim do trabalho e

    nem que desapareceu o trabalho abstrato. Apenas uma composio de forma diferenciada

    de como o capital subsume o trabalho. Trabalho morto objetivado e trabalho vivo, os dois

    so trabalho, frutos do trabalho humano. Eu acho que este ponto o que est desafiando o

    nosso pensamento a no cair nessa dicotomia de separar o trabalho morto que trabalho

    subjetivo, mas objetivado e um quantum de trabalho necessrio.

    Finalmente, neste primeiro ponto, relativo ao que denomino aqui os diferentes

    determinismos tecnolgicos, tem um ponto que vale a pena talvez revisitar exatamente a

    dificuldade que ns temos de trabalhar ento dentro deste contexto e dentro do campo

    marxista o prprio conceito de classe e classe social. No livro democracia contra o

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    8

    capitalismo, a reinveno do materialismo histrico, Ellen Meiksins Wood traz uma

    problematizao importante, e ela traz essa problematizao exatamente no dilogo crtico

    entre marxistas de um pensamento robusto: Perry Anderson e Thompson. E qual a

    questo que est posta? Se ns entendemos a classe como um local ou como uma forma,

    uma estrutura, ou a classe enquanto uma relao social.

    A classe enquanto um local, enquanto uma estrutura, toma um elemento amplo

    desde os funcionalistas que a ns definimos classe alta, classe baixa e classe mdia. E a

    onde que fica o corte de antagonismo. Ento por a, na viso estruturalista, na viso

    funcionalista, esta viso utpica, geogrfica, estruturalista de classe, no nos ajuda a ver o

    antagonismo de classe. Mas ns tambm podemos ter no prprio terreno de determinados

    marxismos, um reducionismo de classe a sua estrutura.

    Neste aspecto, Ellen Meiksins Wood chama ateno para o conceito de experincia

    em Thompson, como uma mediao entre o ser social e a conscincia social. Formulando

    de outra forma: milhares e milhares de trabalhadores so classe trabalhadora sem ter

    conscincia de classe. Ento a questo que Thompson se coloca como no processo

    histrico as pessoas no tendo conscincia de classe estabelecem experincias que so

    importantes na luta de classe e como elas vo constituindo a conscincia de classe. Eu vou

    dar um exemplo: se vocs tomarem o MST. um movimento de classe? um movimento

    de classe. Os 20 milhes de participantes do MST, tm conscincia de classe? No

    necessariamente. Os lderes sim. Pois Thompson trabalha com este tipo de universo,

    trabalha com educao popular e vai estar interessado ento em ver como a classe um

    processo histrico e a classe se define no antagonismo capital e trabalho, mas isto no nos

    define como em sociedades diversas, em tempos histricos diversos, se constitui

    movimentos de classe e lutas de classe e conscincia de pertencimento de classe.

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    9

    Como se constituem ento efetivamente uma conscincia de classe no omitindo o

    processo histrico de entender que a classe fruto de uma realidade em que se constituem

    proprietrios de meios e instrumentos de produo e exploradores e aqueles que vm sua

    fora de trabalho manual, intelectual, afetiva, emocional, em fim, vendem o seu corpo e sua

    mente. Este seria um primeiro aspecto que eu gostaria de trazer. Eu articulo a idia do

    determinismo tecnolgico. O determinismo tecnolgico tambm afeta o mecanicismo no

    campo crtico.

    O segundo ponto pensar nos sujeitos polticos e, portanto, sujeitos de classe.

    Porque no Brasil comea a adquirir novos significados o movimento negro e porque se

    critica tanto o MST? Nada mais do que um novo sujeito de luta e de interesses de classe na

    sociedade brasileira. At que o movimento negro era um movimento cultural de uma

    pequena elite, ele era muito bem absorvido e at muito bem mercantilizado. Quando ele se

    torna um movimento de massa, e ai at o prprio debate das cotas um debate

    absolutamente mal focado, porque contra ou a favor, mesmo entre a nossa

    intelectualidade de esquerda. Muitas vezes ns no nos damos conta do que significa uma

    luta poltica. Obviamente ns temos que questionar o movimento negro que o problema no

    um movimento de pele, ainda que um movimento de pele tenha sentido no Brasil. Mas

    esta uma questo poltica. Ele tem que ir alm, porque a classe no tem pele, ainda que no

    Brasil a classe explorada tenha mais cor.

    O que significa o desencanto da esquerda com o governo Lula? Eu acho que a

    histria nos ajuda a refletir. O historiador Eric Hobsbawm tem vrios textos e dois deles me

    impressiona muito. Um deles faz um balano sobre o que que foi a derrota do socialismo

    realmente existente. Derrota (eu sublinho) no significa fracasso. O sculo XX foi marcado

    pelo socialismo e ainda o socialismo do sculo XX continua demarcando. Ento derrota

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    10

    uma coisa, fracasso outra coisa. E em um texto seguinte que diz: renascendo das cinzas.

    Talvez esta analogia valesse, e ele mesmo nos ajuda para entender a nossa realidade latino-

    americana. E talvez o que ns o que precisamos mais aqui no Brasil, a realidade

    brasileira. No primeiro texto traduzido (foi uma entrevista que ele deu na Espanha) ele se

    pergunta: adios movimento obrero? Ou seja, adeus movimento trabalhador? Adeus classe

    trabalhadora? O texto responde negativamente: no. Entretanto, eles nos desafia a entender

    que tipo de classe trabalhadora foi se conformando e que tipo de sujeito poltico foram se

    formando especificamente na Amrica Latina.

    Aps colocar cinco pontos do que considerava os partidos de classe comunista e

    socialista constitudos antes da Primeira Guerra Mundial, ele vai dizer que depois da

    Primeira Guerra Mundial, praticamente no surgiu nenhum partido de classe, salvo a China

    (em certo sentido), o Ir (em um certo sentido). Ela vai dizer que surgiram partidos de

    massa. E cita trs: Solidariedade na Polnia, Peronismo na Argentina e PT no Brasil. Para

    mim uma assimilao muito interessante, tambm (e aqui eu tenho especialistas no campo

    do sindicalismo vejo aqui vrias pessoas que defenderam tese sobre isso) do tipo de

    sindicalismo que foi se configurando, se um sindicalismo de sujeitos e partidos que tenham

    uma perspectiva de classe, mas no enquanto perspectiva hegemnica enquanto a luta das

    classes fundamentais.

    Eu acho que esta dica do Hobsbawm nos permite entender o Partido dos

    Trabalhadores sem moralismo condenatrio e sem ufanismo bajulatrio, no prprio terreno

    que nos compete. Como diria Antonio Cndido: tentar colar nas idias. Por mais doloroso

    que seja descobrir que ns fomos inocentes. Eu me coloco dentro disso. O que significa que

    ns no temos criado alternativas alm do operrio Lula, hoje presidente da Repblica, que

    diz: eu nunca fui socialista, eu fui sindicalista. Que significa isto? E porque ns no

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    11

    vamos isto? Ou quem via, no escrevia isto naquela poca. Foi escrever agora, o que

    tambm, mais cmodo, no mesmo? Vlido se fosse escrito naquela poca, porque se

    no chamar que tinha oniscincia naquela poca e no ter escrito, no mnimo, ter

    sonegado uma anlise em um tempo em que se poderiam prever coisas.

    Ento, na verdade o que o Hobsbawm est dizendo que os partidos polticos:

    Peronismo, Solidariedade, o PT e o prprio sindicalismo que a decorreu tinha pouco

    vnculo com uma viso radical de classe, no sentido de classe revolucionria. Eu acho que

    isso no significa que muitos componentes do sindicalismo argentino, brasileiro e polons e

    dos partidos que se constituram a partir da, no tivessem como perspectiva a luta de

    classes. Mas do ponto de vista da fora que pode mover a mudana na sociedade, creio que

    isto uma sinalizao importante.

    Do ponto de vista do sindicalismo, a provocao do Chico de Oliveira mais dura

    ainda, quando ele diz: do ponto de vista programtico, no h diferena entre os

    economistas, clones de banqueiros da PUC do Rio de Janeiro e os sindicalistas que so os

    coordenadores dos fundos de penso ou aquilo que se chama a nova classe. A nova classe

    formada por clone de banqueiros e por sindicalistas que so os gestores dos fundos de

    penso (Poulantzas, em um texto chama ateno exatamente para este tipo de classe que se

    constitui uma classe dentro do Estado, que toma o poder do Estado e que faz do Estado o

    seu patamar de poder e, no caso, de enriquecimento).

    Ento me parece que este um aspecto de pensar: quem so os sujeitos? Por outro

    lado, os movimentos sociais, e com ele o movimento negro, tampouco (e a voltando

    Thompson) tampouco a experincia de classe significa que h dentro deles, enquanto

    movimento uma conscincia de classe vinculada uma luta revolucionria e etc.

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    12

    6:41

    H muito tempo em um seminrio sobre educao popular em Passo Fundo, Rio

    Grande do Sul, eu estava com Joo Pedro Stedille, que foi meu colega de internato. O Joo

    Pedro provoca muito a academia. No Frum Mundial de Educao eu vi muitos colegas

    revoltados porque fez crticas duras universidade e ele at contou uma piada de que um

    consultor veterinrio foi tentar tratar as ovelhas de um fazendeiro e o cara trouxe cachorros

    e ele vacinou os cachorros e a fizeram uma aposta para mostrar que o consultor no

    distinguia cachorro de ovelha. Ele fez esta analogia para dizer que muitas vezes a viso que

    ns temos do movimento do MST uma viso da universidade que, tanto do ponto de vista

    de diabolizao deste movimento, quanto endeuzao, no conhece este movimento. E

    neste debate em Passo Fundo ele colocou que o MST tem trs cerca: a cerca do latifndio

    que eles aprenderam a romper e tem estratgia militar para isto, e o faz; a cerca do capital

    que nem o MST e nem os trabalhadores do mundo todo tinham conseguido romper; e a

    cerca da ignorncia que fazia daquele militante do MST quase um animal.

    Essa a expresso pessoal dele. Ento ele diz: no h como sublimar e, portanto,

    poderamos tambm dizer que o MST um movimento sem dvida de classe, o que mais

    explicita e faz aes de classe. E sua liderana tem uma viso muito clara disso, mas estes

    20 milhes de sem terra, a sua grande maioria, no tm conscincia de classe. E a o papel

    da educao, da cultura, da militncia, do dilogo ou daquilo que Gramsci chamava ateno

    de que repetir para o elemento popular verdades historicamente sedimentadas

    fundamental. A primeira a Igreja Catlica que repete sempre a mesma coisa, ou da Igreja

    Protestante ou da Igreja Universal, a religio mercadoria que anda por a. Repete, repete,

    repete e se no d cinco pratas, Deus mata. No tem cu. Tem a poupana celestial.

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    13

    Tambm se repete muito que trabalhador produtivo, neste ponto de vista, aquele

    que faz bem feito que, de preferncia no pensa, delega funo os outros pensar. aquele

    que aceita a tese da separao do Banco Central da poltica como a grande poltica, ou

    talvez a nica poltica, ou a poltica fundamental da nossa sociedade que no pode ser

    aquela feita pelo Banco Central. Como disse Chico de Oliveira, a moeda, nesse sentido, a

    poltica.

    A pergunta que poderamos colocar o seguinte: devemos colocar o debate na rea

    de trabalho e educao na perspectiva de educao politcnica ou de uma educao

    tecnolgica no sentido de tecnologia entendida como valor de uso e extenso de sentidos e

    membros humanos? E, portanto, socialismo por excelncia sociedade tecnolgica. Qual

    era o fundamento que se tinha no debate trabalho e educao para se pensar o trabalho

    como princpio, o elo, o trabalho na sua dimenso onto-gentica ou ontolgica como

    mediao para pensar a relao trabalho e educao?

    Primeiramente, sem dvida nenhuma, havia uma demanda e h demanda, ainda que

    pequena, da prpria formao de uma sociedade urbana e industrial no Brasil que exige um

    patamar de pequenos grupos de trabalhadores com um nvel de formao qualitativamente

    diverso. Ento, isto expresso pelos intelectuais do capital como uma educao

    polivalente. Vrios textos saem dizendo que o Brasil est precisando de trabalhadores

    polivalentes.

    Uma segunda dimenso era a prpria movimentao dos movimentos sociais, do

    sindicalismo de classe e das fraes de partido de classe na luta contra ditadura. Ento

    houve um alento para colocar a tese da educao politcnica no Brasil. Ora, como explicar

    o refluxo, ou como explicar praticamente a ausncia deste debate e especialmente a

    ausncia de experincias que fossem nesta direo na dcada de 1990? Todas as

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    14

    experincias populares foram muito mais que um elemento cultural, sem desprezar isto, do

    que do elemento da formao de classe: Escola Cidad de Porto Alegre, Escola Plural em

    Belo Horizonte, Escola Candango em Braslia, Escola Indgena do Zeca no Mato Grosso.

    Todas as experincias de educao na dcada de 1980 para 1990 dos governos populares,

    no colocam nem o problema de classe, nem o problema de trabalho como elemento

    organizador curricular, ou um dos elementos sequer. Colocam a dimenso cultural ou a

    dimenso da cidadania. A prpria noo de cidadania pode ser o mascaramento da

    violncia de classe porque ao dizer que todos somos cidados eu no estou dizendo que

    somos todos iguais. Ento, para entender este refluxo, os ponto que eu coloco so,

    primeiramente, a pouca densidade das nossas categorias analticas para entender a prpria

    formao capitalista brasileira, para ver que a realidade que est a muito mais opaca, e

    que portanto, uma experincia mais generalizada, de uma escola que, dentro das

    contradies do capitalismo aponta para uma nova sociedade, era mais dura do que

    pensvamos.

    Talvez ns no prestamos ateno aos clssicos das cincias sociais no Brasil, tipo

    Caio Prado, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Chico de Oliveira, Werneck, para citar

    alguns, que mostraram que aqui no Brasil, no sculo XX, ouve uma disputa de trs projetos,

    todos eles dentro da ordem capitalista, ainda que um deles detivesse uma perspectiva de

    classe. Um projeto que foi o dominante, que o projeto monetarista e de ajuste fiscal, que

    vai desde Prudente de Moraes at Guido Mantega, para sermos justos. Um outro, nacional-

    desenvolvimentista, que passa por Getlio, por setores militares, por algumas franjas do

    Juscelino, etc. e um projeto de uma economia, e de um projeto de desenvolvimento de

    massa, de desenvolvimento de uma economia nacional, incorporando grandes massas de

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    15

    trabalhadores e, portanto, tambm dentro deste projeto, a luta de socialistas e comunistas e,

    portanto, daqueles que querem ir alm do capitalismo.

    A dcada de 1990, como anunciou Octvio Ianni no livro Desenvolvimento social

    no Brasil de 1930 a 1966, se no me engano, o pndulo, ora pendia para o nacionalismo,

    ora pendia para uma dependncia subordinada. O pndulo na dcada de 1990 pendeu para

    uma dependncia subordinada, ou seja, a burguesia brasileira optou por um

    desenvolvimento dependente e associado, onde pequenos setores se integram economia

    mundial, especialmente no capital financeiro e a grande massa fica para gambiarra, isto ,

    as polticas focadas. E, portanto, h uma definio estrutural na sociedade brasileira na

    diviso internacional do trabalho, para um trabalho simples e no um trabalho complexo. O

    trabalho complexo, as fatecs, o Senai, as engenharias, as universidades, vo formando

    estes quadros. Boa parte da fora de trabalho qualificada, no Brasil, vai se empregar em

    empregos desqualificados no exterior porque no encontra mercado, ou seja, na metfora de

    Chico de Oliveira, o ornitorrinco se consolidou. Ema economia e uma sociedade que se

    produz pela desigualdade e se alimenta da desigualdade.

    Ento, este terreno estrutural que, por um lado, se tornou opaco a necessidade do

    desenvolvimento de escolas at mesmo tipo as escolas tcnicas federais. Paulo Renato, no

    decreto 2.208 desestruturou o pouco nvel mdio que ns tnhamos. No ltimo censo, 48%

    dos municpios brasileiros diminuram a quantidade de matrculas no ensino mdio,

    contrariando exatamente as tendncias dos pases do capitalismo central em que h um

    prolongamento do nvel mdio.

    Portanto, o que eu estou dizendo que a nossa teoria social com a teoria

    educacional foi pouco potente para captar este movimento cada vez mais opaco da prpria

    deciso, digamos, das classes dominantes, da burguesia brasileira ao configurar este

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    16

    capitalismo que um capitalismo desenvolvido e subdesenvolvido de forma combinada.

    Pequenos setores integrados e a grande massa tratada com polticas sociais.

    Ento o que eu quero trazer que talvez o que nos questione o prprio campo da

    realidade terica. E ai o velho Lenin dizia: sem teoria revolucionria no h possibilidade

    de revoluo. O diagnstico fcil. Nossa potncia terica precisa ser desafiada, precisa ser

    mais radical e, portanto, discernir o processo histrico no qual estamos metidos no Brasil e

    na Amrica Latina.

    Como renascer das cinzas, para usar a metfora do historiador Eric Hobsbawm ?

    Eu acho que ns temos um duplo desafio: um terico, este que aponto. E a, sem dvida

    nenhuma, ns temos que encontrar caminhos de ampliar o campo de pessoas que tem uma

    viso histrica da realidade, ou, se queira, materialismo histrico. Se histrica

    materialista, seno no histrica. Uma anlise histrica, no necessariamente

    histrica. Pode ser linear, pode ser metafsica, pode ser determinista, no mesmo? Ento o

    que uma anlise histrica? Aquela que capaz de transcender o fetiche ou o

    mascaramento ideolgico. aquela que capaz de desvendar como os fenmenos se

    produzem. Quando dizemos que a pessoa foi empregada porque ele competente ou outro

    porque no foi competente, esta no uma anlise histrica. uma anlise fenomnica. Eu

    tenho que me perguntar: quais so as mediaes que tornaram aquela pessoa competente ou

    apetecvel ao mercado, porque na realidade o que a pedagogia das competncias, se no

    desenvolva aquele conjunto, que agente j sabe de cor, de habilidades, de conhecimentos,

    de atitudes, de valores que o mercado reconhece. Pergunta-se: porque ns abandonamos to

    rapidamente formar para o emprego e das pedagogias que esto nas Secretarias, 99%

    formam para empregabilidade? O que significa isto seno um poderoso instrumento de

    dominao ideolgica e de classe, de pastiche e de fetiche?

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    17

    A pedagogia das competncias tem um outro interesse: o empregado. O empregado

    um elemento sem sujeito de classe por trs. aquilo que Margaret Thatcher vaticinou:

    eu no vejo a sociedade, eu vejo o indivduo Certa vez, ao viajar de avio, vi numa

    revista de bordo chamada caro, a figura de uma mulher belssima. Nunca tinha visto, que

    me perdoem as mulheres, to perfeita. Me chamou ateno. No umbigo da mulher estava

    escrito: empregabilidade o nome da segurana. Mas eu estava, me perdoem, de saco cheio

    de empregabilidade...eu no quero ler este texto, mas depois eu vou ler...tive que ler...eu

    preciso desta droga. Demorou, mas caiu a ficha. Primeiro que a mulher era uma mulher

    produto de computador. Esta mulher no existe, fico. Sem ruga, sem nada. Segundo, eu

    no precisei ler o texto. Empregado, ele uma pessoa que tem o corao, a mente, as

    vsceras, a emoo do mercado. E o texto diz: olha, o problema de ser empregado... ser

    desempregado melhor que ser empregado...comea assim...de resto...porque o empregado

    um anacrnico, uma pessoa estacionria e se voc um desempregado no culpa da

    nao e nem da empresa. uma situao em que patro e empregado chegaram a uma

    concluso que melhor para os dois. Este o poder da ideologia.

    Em um livro chamado Sementes do Tempo, Frederic Jameson diz que at os

    marxistas, nos ltimos tempos, caram na tentao de trabalhar a antinomia e no a

    contradio. E em poltica, a antinomia certo ou errado. Preto e branco. No existe o

    processo e no existe a mediao. E a volta com a idia do Thompson, da importncia de

    pensar a classe no como uma coisa, mas como um processo, como uma relao. Se ns

    tratamos teoricamente a compreenso de como transformar esta potncia terica em aes

    poltica, em uma perspectiva no de remediar o capitalismo, mas de superar o capitalismo.

    O Chico de Oliveira diz: olha, preciso chegar a um consenso mnimo na sociedade

    brasileira e latino-americana. O primeiro consenso que os marxistas e aqueles que lutam

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    18

    pela classe trabalhadora tem que, contraditoriamente, reconstruir o Estado, mas no este

    Estado. Um outro Estado. O historiador Hobsbawm em um livro O Novo Sculo, chama

    ateno que este novo Estado tem que buscar um desenvolvimento no para o mercado,

    contra o mercado. O que significa isto? Isto , hoje um Estado que lute para superar o

    capitalismo como mediao histrica de luta, tem que ser um Estado exatamente

    antagnico ao mercado, porque exatamente o mercado tomou o Estado. O que o Estado

    neoliberal, seno o mercado dentro do Estado ou os poderes do Estado em funo do

    capital. Ou seja, o Estado aumentou brutalmente. Havia uma estatstica de seis, sete anos

    atrs, por exemplo, o fundo pblico que chamado custo Brasil de dez anos atrs era de

    28%. Hoje 35%, mas na Inglaterra era 36%. Nos Estados Unidos mais ou menos isso.

    Na Alemanha 54%, na Itlia 54, 55%. Na Sucia, 61%, ou seja, o tamanho do Estado

    medido pelo PIB, 61% do PIB controlado pelo Estado.

    A Hobsbawm diz: o problema a quem pensa uma mudana hoje, no vai ser nem

    uma ONG e nem o movimento social s. Ter que passar pela mediao do Estado.

    Ento Chico diz: ns temos que recuperar o Estado porque o Estado est destruindo

    a nao. O que significa uma pauta no campo da educao, no campo das lutas sociais, no

    campo dos movimentos sociais de reconstruir o Estado? No Brasil isto uma avenida

    enorme.

    Eu no vim aqui para dizer a verdade daquilo. Este seminrio, eu sei, tem um

    compromisso histrico de vnculo das pessoas, das suas graduaes, etc. Por ordem dessas

    idias um desafio mais do que uma fala, no mesmo? Ento, do ponto de vista poltico,

    as amarras, a estrada est a encolher. Sim, fazer reforma agrria, no uma reforma

    revolucionria por culpa. A reforma agrria uma reforma dentro do capitalismo, no

    mesmo? Mas ele pode ser uma reforma daquilo que o Kosik diz: que no est a para

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    19

    manter a ordem capitalista, mas est a para mud-la, ento, se ns esperamos (no estou

    procurando aqui o reformismo), mas como que se constri um processo histrico na

    contradio? Fazendo mudanas que no reivindiquem em a ordem capitalista, mas

    mudanas que a enfraquecem. Quais so essas mudanas? Quais so essas mudanas na

    poltica? Quais so essas mudanas na educao? Quais so essas mudanas na cultura?

    Quais so essas mudanas na mdia? Qual a importncia de se discutir um vdeo, um

    cinema, etc., com enfim, para a cultura? este o embate que estamos ns permitidos.

    Eu concluiria com a provocao de Carlos Nelson Coutinho que diz o seguinte:

    talvez ns temos hoje que no trabalhar, alis na mesma direo que aponta Hobsbawm

    naquele texto que aqui citei. A classe trabalhadora no aquela do sculo XIX, fim do

    sculo XIX, sculo XX. Ande est a classe trabalhadora? Ento o vis multiculturalista o

    estilhaamento da classe, a pedagogia da diferena, mesmo que a diferena seja a

    desigualdade e dane-se a anlise histrica. Uma diferena que fruto da desigualdade no

    diferena, desigualdade. Ento, o multiculturalismo que se afirma sobre a diferena

    desigual um retrocesso. Ento, mas de outro lado, a classe trabalhadora est estilhaada.

    Est em trabalhadores empregados, precarizados, trabalhadores... pequenos negcios hoje,

    as vrias economias que tem a, economia de sobrevivncia, etc., etc. Ento qual a luta

    poltica disso? Na verdade trabalhar o sujeito de classe, na direo desse sujeito de classe,

    enquanto classe fundamental, mas buscando, por mediaes na educao, da cultura, da luta

    poltica, dos movimentos sociais, trabalhar esta intersubjetividade, do movimento negro, do

    movimento sem terra, do movimento das mulheres, no na tica multiculturalista, mas na

    tica de classe. esta uma pista? Fica a pergunta.

    O certo que, como chama ateno Mirian Limoeiro, ns temos o papel do

    conhecimento e o conhecimento crtico indispensvel para poder fazer a contra-ideologia,

  • Estudos do Trabalho Ano II Nmero 3 - 2008

    Revista da RET Rede de Estudos do Trabalho www.estudosdotrabalho.org

    20

    no mnimo. E indispensvel para se ter uma perspectiva propositiva. Como diz Cabral de

    Melo Neto, se ns entrarmos neste embate de terno branco e sairmos de terno branco, a

    poesia perdeu a graa, ou seja, estamos na antinomia e no na contradio.

    (palestra de abertura do V Seminrio do Trabalho transcrita por Arakim Monteiro)