trabalho economia

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1 Análise da Demanda e Oferta de Fertilizantes no Brasil (1978 a 2010). Resumo: Por ser de fundamental importância para o desenvolvimento da agricultura, os fertilizantes são o foco deste trabalho que procura especificar a demanda e oferta deste insumo, bem como estimar as equações correspondentes, de modo a possibilitar a identificação dos determinantes da oferta e da demanda de fertilizantes no Brasil para o período de 1978 a 2010 e estimar as elasticidades-preço da oferta e da demanda e das demais variáveis consideradas na análise. Palavras-chave: fertilizantes, demanda, oferta, determinantes. Abstract: Because it is of fundamental importance for the development of agriculture, fertilizers are the focus of this work aims at specifying the demand and supply of this raw material, and to estimate the corresponding equations in order to facilitate the identification of the determinants of supply and demand of fertilizers in Brazil for the period 1978-2010 and to estimate the supply price elasticities and demand and other variables under study. Key words: fertilizers, demand, supply, determinants.

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Determinantes demanda de fertilizantes.

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    Anlise da Demanda e Oferta de Fertilizantes no Brasil (1978 a 2010).

    Resumo: Por ser de fundamental importncia para o desenvolvimento da agricultura, os fertilizantes so o foco deste trabalho que procura especificar a demanda e oferta deste insumo, bem como estimar as equaes correspondentes, de modo a possibilitar a identificao dos determinantes da oferta e da demanda de fertilizantes no Brasil para o perodo de 1978 a 2010 e estimar as elasticidades-preo da oferta e da demanda e das demais variveis consideradas na anlise. Palavras-chave: fertilizantes, demanda, oferta, determinantes. Abstract: Because it is of fundamental importance for the development of agriculture, fertilizers are the focus of this work aims at specifying the demand and supply of this raw material, and to estimate the corresponding equations in order to facilitate the identification of the determinants of supply and demand of fertilizers in Brazil for the period 1978-2010 and to estimate the supply price elasticities and demand and other variables under study. Key words: fertilizers, demand, supply, determinants.

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    1. Introduo Nas ltimas dcadas o mundo vem passando por grandes transformaes tecnolgicas que permitiram que vrios pases considerados subdesenvolvidos experimentassem um ritmo de crescimento acelerado, tanto de suas riquezas quanto da prpria populao, aumentando seu nvel de consumo consideravelmente. O Brasil um desses pases e no bojo de tantas vicissitudes a questo dos alimentos viceja como uma preocupao necessria. Um dos pontos determinantes para a produo de alimentos em larga escala o uso de fertilizantes qumicos, j que outras fontes de nutrientes no possibilitam o atendimento da demanda por parte dos agricultores. Alm dos alimentos o Brasil ainda tem a demanda por biocombustveis, que instiga o aumento da produo agrcola e consequentemente o consumo de fertilizantes. Apesar de o Brasil ser um grande produtor de diversas commodities agrcolas, somos totalmente dependentes da importao de fertilizantes. Cella e Rossi (2010) constataram em seu estudo sobre o mercado de fertilizantes no Brasil que a produo nacional atende aproximadamente a 30% da demanda total do setor e demonstraram o quo preocupante essa situao levando-se em conta as projees feitas de que o agronegcio brasileiro deve crescer ainda mais nos prximos anos, aumentando ainda mais nossa dependncia das importaes, caso no sejam feitos investimentos para aumentar a capacidade de extrao mineral e produo de fertilizantes. Em se tratando de estudos sobre demanda e oferta necessrio invocar as teorias econmicas que respaldam o assunto, sendo assim temos a Lei da Demanda que diz que com tudo o mais mantido constante, quando o preo de um bem aumenta, sua quantidade demandada diminui; quando o preo diminui, a quantidade demandada aumenta. So muitas as variveis que podem deslocar a curva de demanda, sendo que as mais importantes so: renda, preos dos bens relacionados, gostos, expectativas e o nmero de compradores (Mankiw, 2005). A quantidade ofertada de um bem ou servio a quantidade que os vendedores querem e podem vender. H muitos determinantes da quantidade ofertada, mas assim como na demanda, o preo tem um papel central nessa anlise. A Lei da Oferta diz que com tudo mais mantido constante, quando o preo de um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem tambm aumenta e, quando o preo de um bem cai, a quantidade ofertada desse bem tambm cai. Alm do preo do bem, o preo dos insumos, a tecnologia, as expectativas e o nmero de vendedores deslocam a curva de oferta (Mankiw, 2005). Este trabalho ter por objetivos especificar a oferta e a demanda de fertilizantes no Brasil e estimar suas respectivas equaes; avaliar a qualidade das equaes estimadas por meio dos testes economtricos; identificar os determinantes da oferta e da demanda e estimar as elasticidades-preo da oferta, da demanda e as demais relacionadas ao modelo. 2. Metodologia

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    Os dados utilizados na anlise foram dados em sala de aula e posteriormente acrescidos do preo do barril de petrleo. Esses dados foram retirados de fontes como a ANDA (Associao Nacional para Difuso de Adubos), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), BACEN (Banco Central), FGV (Fundao Getlio Vargas), IEA/SAA/SP (Instituto de Economia Agrcola do Estado de So Paulo) e BP Statistical Review of World Energy. A Tabela 1 apresenta os dados utilizados nas regresses, devidamente deflacionados pelo IGP-DI (ndice Geral de Preos-Disponibilidade Interna) da FGV. Tabela 1 Evoluo do consumo de fertilizante em toneladas, do ndice de preo em R$ e do crdito custeio em milho de R$ para o Brasil, 1978 a 2010.

    Ano Consumo/

    Oferta em t Preo da

    tonelada de fertilizante em

    R$

    Crdito Rural em milho

    R$

    rea Colhida das principais culturas

    em ha

    ndice de preos

    recebidos

    Preo do barril de petrleo

    (U$)

    1978 998.566 2.777 10.307 31.739.861 165,978 49.370 1979 1.165.034 2.738 11.569 37.624.692 172,356 99.965 1980 1.746.773 3.159 13.686 38.524.322 184,498 102.621 1981 1.679.146 3.266 19.720 37.075.571 251,403 90.752 1982 1.824.636 6.448 25.792 40.508.176 255,809 78.443 1983 1.894.206 6.244 32.799 42.231.589 271,059 68.117 1984 2.464.884 4.739 35.653 43.510.242 319,914 63.597 1985 3.185.716 4.076 36.277 46.051.443 322,152 58.807 1986 3.222.386 3.901 36.393 45.753.252 309,868 30.228 1987 3.567.039 4.047 48.753 46.949.990 316,189 37.259 1988 4.200.619 5.119 54.659 48.592.943 325,967 28.964 1989 2.753.729 4.792 49.483 47.758.784 289,351 33.747 1990 2.718.470 4.459 52.512 50.194.927 256,422 41.678 1991 2.272.033 4.097 38.167 44.362.827 307,968 33.720 1992 3.454.508 4.213 27.394 48.785.554 318,364 31.618 1993 3.198.055 4.236 39.539 50.763.969 325,006 26.966 1994 3.953.397 2.832 44.815 52.537.025 361,182 24.504 1995 4.049.645 3.087 44.333 52.490.292 255,615 25.636 1996 3.743.748 3.229 31.529 54.400.086 266,021 30.244 1997 3.269.730 2.531 34.498 54.214.999 208,564 27.312 1998 3.326.275 2.603 18.000 49.563.023 228,032 17.911 1999 3.508.722 2.475 20.425 49.664.116 243,616 24.765 2000 3.674.530 2.531 17.239 49.712.828 250,298 37.993 2001 4.588.997 2.145 12.805 45.667.113 264,986 31.689 2002 5.080.208 2.035 17.700 50.351.971 286,406 31.935 2003 4.603.812 1.878 8.205 49.763.960 257,512 35.975 2004 5.090.885 2.019 8.535 44.646.669 275,002 46.508 2005 6.034.573 2.143 11.350 46.525.580 284,275 64.095 2006 6.039.886 2.003 12.063 45.760.747 300,647 74.190 2007 5.999.957 2.374 11.726 47.942.896 284,251 80.158 2008 7.569.857 2.302 11.197 49.088.829 260,054 103.711 2009 7.205.000 2.403 11.715 49.231.694 300,083 66.000 2010 7.773.000 2.432 13.444 52.078.577 349,169 83.702

    Na pesquisa terica encontrou-se em Nicolella et al. (2010) consideraes sobre a dinmica entre a rea plantada e o consumo de fertilizantes, que apresentou declnio a partir da dcada de 90, pelo aumento da produtividade da terra com menor uso de reas, pelo emprego de novas tecnologias de produo, em parte tambm devido ao maior uso de fertilizantes. Essa mudana comportamental entre rea e consumo de

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    fertilizantes no perodo analisado contraindica o uso da rea como varivel determinante da demanda de fertilizantes e sugere a incluso de uma varivel Dummy para captar melhor a mudana na evoluo do consumo de fertilizantes a partir da dcada de 90. Para a anlise de regresso fez-se a transformao das variveis em logaritmos naturais de modo que os ndices encontrados representam as elasticidades Marshalianas. 3. Resultados e Discusso Apesar de estarmos regredindo os dados linearmente, foi elaborado um grfico de disperso entre o consumo de fertilizantes e o preo da tonelada, que mostra que a relao entre estas variveis se ajusta melhor a uma curva polinomial de 4 ordem, pela variao apresentada no preo da tonelada de fertilizantes e alguns outliers possivelmente provocados pela variao cambial e outros fatores derivados da situao poltica e econmica do pas no perodo estudado. Grfico 1. Relao entre o consumo de fertilizantes e o preo da tonelada.

    A equao adotada para explicar a demanda de fertilizantes considerou as variveis: Preo do Fertilizante (PFert), Crdito Rural (Cred), ndice de Preos Recebidos (IPR) logaritmizadas e a varivel Dummy.

    Ln Consumo = 0 + 1 ln PFert + 2 ln Cred + 3 ln IPR + 4 Dummy

    Para efeitos comparativos e de aprendizado tambm aplicou-se a regresso em quatro equaes diferentes, seja com os dados sem aplicao de logaritmos ou com a incluso/excluso de algumas variveis. Esses modelos e seus resultados esto dispostos na Tabela 2 e demonstram como a simples incluso da varivel Dummy pode alterar totalmente a previso do modelo.

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    0 5000000 10000000

    Pre

    o t

    f

    ert

    iliz

    an

    te (

    R$

    )

    Consumo de fertilizante (t)

    Preo t fertilizante (R$)

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    Tabela 2 Comparao entre os resultados da regresso de quatro equaes de demanda para fertilizantes.

    Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

    F 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000

    R2 76.59% 89.55% 76.01% 82.07%

    R2 ajustado 73.24% 88.05% 73.53% 79.51%

    P PFert 23.50% 25.93% 0.01% 0.41%

    P Cred 0.09% 0.09% 99.38% 8.00%

    P Area 0.15% 0.00%

    P IPR 0.01% 0.00% 0.00% 0.02%

    P Dummy 0.47%

    Coef. PFert -267.892 -0.21608 -0.97649 -0.65513

    Coef. Cred -68.1195 -0.40023 -0.00099 0.24973

    Coef. Area 0.15609 1.29994

    Coef. IPR 18599.8 2.52122 1.95283 1.33485

    Coef. Dummy -0.54177

    Modelo 1: Qd= f(PFert + Cred + rea +IPR ) Modelo 2: Qd =f(ln PFert +ln Cred + ln rea + ln IPR) Modelo 3: Qd =f(ln PFert +ln Cred + ln IPR) Modelo 4: Qd =f(ln PFert +ln Cred + ln IPR+Dummy)

    Em todos os modelos o teste F tem resultado menor que 5% (nvel de significncia escolhido), indicando que h evidncias estatsticas de que pelo menos uma das variveis do modelo est relacionada ao consumo de fertilizantes. O R2 de todos os modelos maior que 70%, sendo que no modelo 2 ele apresentou o valor mais alto (89,5%). Esse o percentual de explicao que as variveis empregadas na equao tm sobre a relao de consumo de fertilizantes. Verifica-se pelo teste de significncia individual que nos modelos 1 e 2 h evidncias estatsticas de que o preo do fertilizante no est relacionado ao seu consumo, pois o valor-P de ambos foi muito maior que o nvel de significncia (5%), o que contraria a teoria. J nos modelos 3 e 4, o preo significativo. O mesmo no se pode dizer do Crdito, que nessas no apresenta evidncias estatsticas de que esteja relacionado com o consumo de fertilizantes. Sendo que no modelo 3 o valor-P dessa varivel foi muito alto (99,38%) e cai bastante no modelo em que a varivel rea foi retirada e foi includa a dummy. Considerando a equao 4 como a mais ajustada ao modelo de demanda, seguem abaixo os dados da regresso.

    Estatstica de regresso

    R mltiplo 0.905927891

    R-Quadrado 0.820705344

    R-quadrado ajustado 0.795091822

    Erro padro 0.228943835

    Observaes 33

  • 6

    ANOVA

    gl SQ MQ F F de significao Regresso 4 6.717935905 1.679484 32.04187752 0.0000% Resduo 28 1.467627835 0.052415

    Total 32 8.18556374

    Coeficientes Erro padro Stat t valor-P

    Interseo 10.68274933 1.541585852 6.929714 0.0000

    Preo fertilizante -0.65513035 0.209629998 -3.12517 0.0041

    Crdito 0.249737001 0.137476089 1.816585 0.0800

    IPR 1.33485825 0.312025711 4.278039 0.0002

    Dummy -0.541768987 0.176152826 -3.07556 0.0047

    A expectativa para os coeficientes que representam as elasticidades so as seguintes: ; ; pois, aumentando-se o preo do fertilizante a demanda diminui; aumentando-se o crdito rural e o IPR a tendncia de que a demanda aumente e a varivel dummy, espera-se que seja negativa. Nesse modelo todas as expectativas foram atendidas, porm a varivel Crdito no foi estatisticamente significativa, oque pode representar que nem sempre o Crdito funciona como propulsor do consumo, at porque o mesmo pode ser orientado para a compra de produtos especficos, como mquinas agrcolas. Segundo Friedrich (2012) o ndice de Preos Recebidos pelo Produtor Rural (IPR), calculado mensalmente pela FGV, mede os preos praticados pelos agricultores na venda de 38 produtos a granel na porteira, ou seja, um ndice que captura a renda do produtor rural no incio da cadeia de criao de valor. Assim, espera-se uma relao diretamente proporcional para com o consumo de fertilizantes, uma vez que maiores ganhos ao produtor proporcionam maior poder de compra e, consequentemente, maior disponibilidade para investimentos em insumos. Para o modelo essa foi a varivel com maior elasticidade e relao direta com o consumo. Exemplificando, um aumento de 10% no IPR se traduz em um aumento de 13,3% no consumo de fertilizantes. A equao da demanda :

    Para a anlise da oferta de fertilizantes, que considerando um mercado em equilbrio igual ao consumo, utilizou-se como variveis dependes preo do fertilizante, preo do barril de petrleo por ser um insumo do processo produtivo de fertilizantes e a varivel composta por uma sequncia numrica (T), para tentar captar a tendncia da srie. A equao da oferta dada por:

    ln Oferta = 0 + 1 ln PFert + 2 ln PPetr + T

  • 7

    Os resultados da regresso para a oferta de fertilizantes so:

    Estatstica de regresso

    R mltiplo 0.933458712

    R-Quadrado 0.871345167

    R-quadrado ajustado

    0.858036047

    Erro padro 0.190562899

    Observaes 33

    ANOVA

    gl SQ MQ F F de significao

    Regresso 3 7.132451406 2.377483802 65.46977761 0.00000%

    Resduo 29 1.053112333 0.036314218

    Total 32 8.18556374

    Coeficientes Erro padro Stat t valor-P

    Interseo 10.95867461 1.240429123 8.834583458 0.00000%

    Ln PFert 0.393272976 0.139349166 2.82221262 0.85252%

    Ln PPetr -0.001642713 0.068180208 -0.024093688 98.09429%

    T 0.0577336 0.004987459 11.57575556 0.00000%

    No caso da oferta, um fator que dificultou a anlise foi a escassez de variveis independentes que pudessem representar o modelo. Para tanto, utilizou-se o preo do barril de petrleo, j que este um dos principais insumos na produo de fertilizantes. Como tal, se h um aumento no seu preo, a oferta tende a diminuir. A equao atendeu a teoria, porm para essa varivel o valor-P foi muito alto (98%), o que invalida sua expresso no modelo. J o preo do fertilizante, como esperado na teoria, apresentou elasticidade de 0,39, influenciando diretamente na oferta. A varivel tendncia apresentou coeficiente de 0,057 evidenciando que a oferta apresenta a tendncia de crescimento de 5,7% ao ano. A equao de oferta dada por:

    4. Concluses Conforme as anlises realizadas, os determinantes da demanda de fertilizantes para o modelo so o preo do fertilizante (0,65) e o IPR (1,33). O Crdito no foi estatisticamente significativo e a varivel rea foi excluda do modelo por ter apresentado estabilidade nos ltimos anos frente ao aumento do consumo de fertilizantes. Para a oferta, o nico determinante estatisticamente significativo foi o preo (0,39) apresentando tendncia de crescimento de 5% ao ano.

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    5. Bibliografia BP Statistical Review of World Energy June 2013. Disponvel em http://www.bp.com/statisticalreview, acesso em 1 abr. 2015. CELLA, D.; ROSSI M. C. de L. Anlise do Mercado de Fertilizantes no Brasil. Interface Tecnolgica, v.7, n.1, 2010. FRIEDRICH, M. Uma anlise da demanda por fertilizantes no Brasil no perodo de 1970 a 2010. Dissertao de Mestrado. PUCRS, Porto Alegre, 2012. . MANKIW, N. G. Princpios de Macroeconomia. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. NICOLELLA, A.C.; DRAGONE, D. S.; BACHA. C. J. C. Determinantes da Demanda de Fertilizantes no Brasil no perodo de 1970 a 2002. Revista de Economia e Sociologia Rural (Impresso), v. 43, n. 1, p. 81-100, 2005.