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Globalização e crise do trabalho: Desenvolvimento técnico e desumanização na sociedade capitalista pós-moderna Introdução Nestas últimas décadas, o mundo defronta-se com uma série de transformações econômicas, políticas, culturais e tecnológicas. A ciência introduziu inovações que alteraram profundamente alguns aspectos do modelo de sociedade de alguns anos atrás. Adicionalmente as modificações realizadas a nível internacional (a desagregação dos países do bloco socialista) mudaram a fisionomia político- ideológica do planeta, levando a maioria das pessoas a enxergar no novo milênio, uma nova ordem mundial, um sistema político pacífico e economicamente mais rico Um espírito moderno domina quase inteiramente a mentalidade do homem contemporâneo e traduz a maneira de pensar e agir dos indivíduos das sociedades atuais. Assim a comunidade universal une-se a uma economia globalizada, tornando o mundo unificado e homogêneo sob o império de uma única ideologia – a do mercado. Esse processo não possui uma única denominação e nem está estruturado em aspectos básicos, sua ideologia está em formação e seus alicerces são ainda frágeis. Contudo a anatomia pretensamente irrepreensível desse modelo não consegue ocultar as imperfeições submersas em suas próprias bases. Economia, ciência e progresso Existe um conceito pouco explícito, ora aponta para um modelo econômico inteiramente diferente daquele que vigorou até o final dos anos 70, ora denota um regime social que se distancia do anterior pela forma descentralizada de fazer política e pela sua multiplicidade cultural.

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Globalização e crise do trabalho: Desenvolvimento técnico e desumanização na sociedade capitalista pós-moderna

Introdução

Nestas últimas décadas, o mundo defronta-se com uma série de transformações econômicas, políticas, culturais e tecnológicas. A ciência introduziu inovações que alteraram profundamente alguns aspectos do modelo de sociedade de alguns anos atrás. Adicionalmente as modificações realizadas a nível internacional (a desagregação dos países do bloco socialista) mudaram a fisionomia político-ideológica do planeta, levando a maioria das pessoas a enxergar no novo milênio, uma nova ordem mundial, um sistema político pacífico e economicamente mais ricoUm espírito moderno domina quase inteiramente a mentalidade do homem contemporâneo e traduz a maneira de pensar e agir dos indivíduos das sociedades atuais. Assim a comunidade universal une-se a uma economia globalizada, tornando o mundo unificado e homogêneo sob o império de uma única ideologia – a do mercado. Esse processo não possui uma única denominação e nem está estruturado em aspectos básicos, sua ideologia está em formação e seus alicerces são ainda frágeis. Contudo a anatomia pretensamente irrepreensível desse modelo não consegue ocultar as imperfeições submersas em suas próprias bases.

Economia, ciência e progresso

Existe um conceito pouco explícito, ora aponta para um modelo econômico inteiramente diferente daquele que vigorou até o final dos anos 70, ora denota um regime social que se distancia do anterior pela forma descentralizada de fazer política e pela sua multiplicidade cultural.Essa visão de futuro como uma nova Idade de Ouro do capitalismo é chamada de Globalização e sustenta-se na vitória do liberalismo em escala planetária. A restauração do pensamento liberal em proporção gigantesca, o fracasso do sistema econômico dos países do Leste Europeu e a aparente prosperidade do países do Ocidente fizeram com que as sociedades deixassem de acreditar num projeto de economia coletivizada e passassem a crer que a única alternativa para promover o desenvolvimento social é o mercado.No contexto histórico essa ânsia por mercado se dava por conta da economia soviética que era bastante debilitada quando comparado ao comércio dinâmico norte-americano que usava da tecnologia e deixava certo nível de riqueza, o bastante para atender a demanda consumista, e também pelo intervencionismo soviético na economia. Mas mesmo com todos esses contras para o sistema socialista, resta ainda a indagação se o sistema capitalista tinha como sobreviver às suas crises, ou se iria sobrar para os países

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da periferia; um teórico afirma que se todas as nações tivessem a mesma quantidade de bens que a América do Norte e a Europa o mundo seria inabitável.Mas a ideologia é mais forte do que a própria realidade. A ideologia no caso é a vitalidade do sistema, porque a força dos estratos eleitoralmente satisfeitos demonstra que uma sociedade tecnologicamente desenvolvida pode oferecer um padrão de vida aos seus cidadãos que nenhuma outra é capaz. Infere-se daí que a condição para se obter prosperidade ocorre de forma empírica, a capacidade de produzir riquezas, a competição forjada pelo mercado e pelo desenvolvimento técnico-científico

Racionalidade Pós-Moderna: O Continuum da Dominação

A rapidez com que se deu o desenvolvimento da micro-eletrônica e da informática modificou, consideravelmente, as formas pelas quais se processava o movimento do dinheiro. A produção começou a ceder, cada vez mais, lugar para as áreas de serviço e de conhecimento, internacionalizado não só o próprio capital, que passou a se locomover em ritmo alucinante, como também, globalizou a informação.

Marcuse já havia percebido, por volta dos anos 60, que o trabalho se tornara menos penoso, “a fadiga muscular é substituída pela tensão e pelo esforço mental”.

Assim, a mesma tecnologia que traz afluência às sociedades industriais torna-se responsável não apenas pela alienação do trabalhador mas também pela sua desumanização. As sociedades contemporâneas giram em torno da técnica; e “onde quer que o fator técnico exista, resulta, quase sempre, em mecanização. A técnica transforma tudo que toca em máquina.” E a maquina é anti-social, nas palavras de Lewis Mumford, pois ela tende, em razão de seu caráter progressivo, a forma mais aguda de exploração humana.

Marcuse compreendeu muito a direção que tomava o mundo contemporâneo ao afirmar que “a sociedade que projeta e empreende a transformação tecnológica e da natureza altera a base de dominação pela substituição gradativa da dependência pessoal (...) pela dependência da ordem objetiva das coisas (das leis econômicas, do mercado)”. Em resumo: a tecnologia transforma-se no grande veículo de expoliação em sua gforma mais madura e eficiente. O avanço da ciência, especialmente da informática, proporcionou um revolução na estrutura do conhecimento que ampliou o caráter da dominação, tanto técnico quanto econômico.

Em conseqüência dessa mudança tecnológica, alterou-se, igualmente, a estrutura do poder, passando este a ser exercido, agora, transnacionalmente, através da economia golbal.

A vida torna-se técnica, mecanizando o trabalho humano e o próprio homem. O mais grave em tudo isso, porém, é que, em paralelo ao desenvolvimento técnico, ocorreu uma espécie de involução nas estruturas políticas econômicas das sociedades ocidentais. Às ultramodernas sociedades da era da informática não acompanharam a forma de Estado predominante nos últimos vinte ou trinta anos. O Estado do Bem-Estar Social cedeu lugar ao mesmo tipo de relação vigente na antigo liberalismo, em que a questão social é abandonada em função do produtivismo e do livre mercado.

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O trabalhador perde progressivamente o amparo da legislação que durante boa parte deste século protegeu sua atividade profissional e se sente ameaçado, cada vez mais, pela técnica que antes parecia ser colocada a seu serviço.

Do ponto de vista internacional, é ainda menos provável qualquer tipo de agrupamento mais coeso, uma vez que o capital viaja, agora, pela rede de computadores, deslocando-se velozmente através de seu próprio equivalente eletrônico, enquanto os movimentos sociais ou organizações sindicais encontram obstáculos nas fronteiras nacionais. Ao contrario, do que muitos acreditam, o avanço técnico tem sido responsável por grande parte do desemprego em todo o planeta, e por uma razão bastante compreensível.

Diferentemente da maquinaria da Primeira Revolução Industrial, o individuo pós-moderno não se resume a alimentar a maquina ou vigiá-la passivamente; passa a controla-la, prevenir seus defeitos, otimizar seu funcionamento, enfim, realizar um serie de atividades intelectuais, o que implica, cada vez menos, trabalho manual. Mas é exatamente esse novo modelo de produção que incentiva o desemprego ao exigir sempre mais trabalho especializado. Os trabalhadores menos qualificados permanecem fora do processo produtivo. José Queiroz exprime o processo de exclusão originado do avanço técnico:

“No sistema pós-moderno de produção, computadores e robês estabelecem um circuito rapidíssimo de informações [...] encurtam a distância entre a direção das empresas e o produto final e diminuem os custos operacionais”.

Esse processo de desemprego e exclusão decorrente do desenvolvimento tecnológico é quase que universalmente aceito. O equivoco maior é imaginar que o problema gira apenas em torno da tecnologia, quando a questão principal situa-se, prioritariamente, na esfera econômico-política.A rigor, o próprio setor de computação e telecomunicações tem reduzido seu contingente de pessoal tanto nos períodos recessivos quanto nos de prosperidade. Não é a tecnologia, portanto, que devera, no futuro ser a responsável pela retomada dos níveis de emprego. É verdade que a informática é o principal instrumento que tem acelerado as modificações,e por isso é identificada como a grande causadora do desemprego. Contrariamente ao que ocorre nos setores tradicionais da indústria, a crise sobreutiliza-se da informática nas operações financeiras, porque não existe limite, no mundo das finanças, para o uso da automação.Assim, quando o mercado é abalado por uma crise econômica, como vem acontecendo frequentemente , não se deve exclusivamente à tecnologia. Entretanto, a explicação para o aumento dessa crise encontra-se na base econômica das sociedades pós-industriais. Naturalmente, a tecnologia “aniquila postos de trabalho”, mas o crescimento do desemprego é, sobretudo, um processo social.O mecanismo do capitalismo pós-moderno age, dessa maneira, de modo semelhante ao de seu congênere do passado, reestruturado pela tecnologia avançada do nosso tempo. Para manter os trabalhadores em permanente concorrência e incentivar a diminuição dos salários, era necessário “cultivar”, de forma duradoura, um “exército industrial reserva”,

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sempre pronto a entrar em ação ao mínimo sinal de alarme na produção. A sociedade contemporânea produz, hoje, uma espécie de exercito tecno-informacional de reserva que aguarda o momento preciso de ingressar nas tropas efetivas. O problema é que a qualificação exigida impede, da saída, o acesso ao trabalho de boa parte desse contingente ocioso de mão-de-obra.

O Dilema dos Sobreviventes

Não significa que os sobreviventes sejam mais afortunados do que aqueles que foram excluídos pela globalização. Obviamente todo aquele que acha predestinado a ocupar uma vaga uma vaga no processo de produção encontra-se mais a vontade em sua condição de incluído, ainda sim não se pode considerar seguro na totalidade. O Individualismo excessivo nessa guerra de “todos contra todos” já lhe tirou a humanidade. E mesmo com sua aparente segurança o indivíduo das sociedades pós-modernas não pode se afirmar livre em seu cotidiano.Nos dias presentes vivemos uma alienação (comentada por Marx) em alto grau. Afinal, vivemos no mundo das imagens e do imaginário. A técnica transformou um homem numa máquina, fragmentando seu espírito de reflexão, impondo-lhe o ritmo produzido pela padronização. Assim o homem esquece de que, ontologicamente, é um ser social.Mas teria como essa sociedade sofrer mudanças, onde o indivíduo possa receber condições de desenvolver seu potencial humano sem a submissão da técnica? De forma absoluta fica inviável pois a tecnologia e a ciência já estão incrustadas na vida da sociedade pós modernas, um exemplo bem simples é o da internet, que conecta e liga pessoas distantes de forma rápida e precisa, aproxima e aliena os indivíduos. Mas mesmo assim a rede mundial de computadores é insuficiente para democratizar toda a informação por meios tradicionais. A exploração(em todos os sentidos) e a desumanização do trabalho tenderão a permanecer latentes nas sociedades pós industriais enquanto perdurar aquilo que subordina o homem ao processo produtivo do sistema de mercado.

Renovar a política – uma nova ética social

Existem em certa medida, dois caminhos viáveis para a transformação do pensamento social que domina a grande maioria das populações de nosso tempo, um deles que se poderia chamar de via política, possui uma dupla dimensão sendo que a primeira dimensão faz parte de um processo que irá aliar a luta parlamentar e conscientização da sociedade civil, utilizando-se de um movimento capaz de aliar as classes eleitoralmente contrariadas, mas que de certa forma se encontram associadas ao processo de globalização, isso vem ocorrendo em países onde há certo adiantamento econômico.A segunda dimensão é a mais complexa, embora mais importante. Trata-se de absorver o potencial “revolucionário” dos excluídos para então canalizá-lo em direção a transformações mais profundas e eficazes. Isso não significa dizer que irão ocorrer revoluções à moda antiga. O que se quer dizer é que a quantidade de “deserdados

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sociais” é suficientemente numerosa a ponto de que se exerça uma pressão organizada e não-institucionalizada contra os poderes constituídos.O outro caminho eticamente falando é bem mais complicado, porém não menos importante. Mais complicado por que a ética e a política não conseguem se separar facilmente sem que haja certo embaraço. Se de um lado poderíamos correr o risco de situarmos numa esfera estritamente abstrata, de outro lado podemos chegar ao perigo de incidimos num grande cinismo político. Diante disso conclui-se que só a prática diária possui a capacidade de responder às questões que são colocadas diante de nós, porém o grande problema é descobrir como a normatização do mundo se adequará à realidade sem que haja uma dependência da política a ética. Até que ponto certas atitudes poderão ser consideradas ilegais ou entrarem em conflito com o conceito de moral. Quando se fala em democratização da informação, somos induzidos a pensar na quantidade de usuários a transmitir um determinado volume de dados que chega a toda parte do mundo em questão de segundos, e essa perspectiva preocupa muitos dos estudiosos das sociedades informatizadas. Acredita-se que a informática abre novas perspectivas para a democracia direta, ou seja, não há mais nenhum empecilho para que a democracia direta como instituição permanente possa atingir seus objetivos, mas a democracia informacional não é o bastante, pois se observa que nos meios de comunicação há uma predominância de uma espécie de informação voltada ao comércio, o mercado tem sido a prioridade dos usuários do sistema de computação, e o produto, sua principal religião. Apenas com mecanismos mais ousados tem-se a possibilidade de se romper com essa rede especificadamente produtivista, e agregá-la num processo democrático e social.Graças à descoberta de novos mecanismos para democratização da tecnologia apresentará um vasto campo de aplicação para a democratização da ciência e como conseqüência disso, da sociedade, pois as informações e o conhecimento poderão chegar a uma série de povos e nações em um tempo reduzido. Essa nova forma de informação é apenas um complemento da quantificação da democracia no espaço político, ou seja, levar o processo de decisões ao maior número de instâncias disponíveis numa sociedade, porém a realização de uma nova ética dificilmente se dará no atual sistema de valores, ainda que seus pressupostos devam ser constituídos ainda em seu interior.A globalização neoliberal já mostrou que não é o modelo ideal em que o mundo possa se espelhar, a comprovação óbvia do fracasso foi o abandono do projeto por alguns de seus mais legítimos representantes, houve o reconhecimento de que os mercados podem até ser eficazes na produção de riquezas, mas não são capazes de atenderem as necessidades sociais, facilitam a livre troca de bens e serviços entre voluntários, mas não são suficientemente competentes para garantir a justiça social, além de que o meio ambiente sai prejudicado pela busca desenfreada de obtenção de lucros.A depredação ambiental e a desigualdade social não são apenas as únicas conseqüências da devastação praticada pelo atual processo de globalização, no caso a devastação é tão grande que invade todas as esferas do conhecimento, principalmente os setores da cultura e da filosofia, terrenos de extrema importância para a sedimentação da ideologia

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liberalizante. Não é então uma mera coincidência que a ênfase no mercado que incentiva e intensifica o desenvolvimento da liberdade individual até o limite, penetre os valores culturais por meio da “sociabilidade associal”. A recomposição da sociedade torna-se verdadeiramente inviável sem que haja a transformação dos valores dominantes em definitivamente políticos.A reconstrução ética exige o esforço de todas as esferas da sociedade e a utilização de todos os meios disponíveis ao alcance das forcas sociais. Um passo importante para a o desenvolvimento do processo de mudança pode ser o dialogo, mas sem a ação política integrada por partidos e movimentos sociais, que não se encontram integrados, ao espírito da globalização capitalista, se torna insuficiente.

A única coisa que se pode exigir é que política, ética e tecnologia formem uma aliança para o esforço de superação da sociedade pós-moderna.