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TRABALHO

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  • CURSO DE PEDAGOGIA

    Daiane Oliveira

    INFORMTICA APLICADA EDUCAO

    Belo Horizonte

    2015

  • Daiane Oliveira

    INFORMTICA APLICADA EDUCAO

    Projeto do Trabalho de Concluso de Curso apresentado disciplina de Informtica Aplicada Educao como requisito parcial obteno do ttulo de Pedagogo(a). Professor(a): Ana Paula

    Belo Horizonte

    2015

  • 3

    A ARTE DE SER CRIANA

    No Jardim de Infncia, em Belo Horizonte, nossas tarefas consistiam em

    sonhar, imaginar, colorir, desenhar, moldar em argila estranhas figuras, empilhar

    cubos de madeira que, sobrepostos, se transformavam em casas, pontes, prdios e

    castelos. Dispostos em linha reta, viravam ferrovias, carruagens, estradas. Em

    crculos, arenas circenses, represas ou lagos. Esse entrelaar de tato, viso e

    imaginao organizava meu mundo interior. Bastavam poucos apetrechos para

    meus sentimentos encontrarem expresso nos objetos manipulados ou nas linhas

    de meus desenhos. Ao faz-lo, adquiria uma certa distncia relacional: os pssaros

    falam linguagens que s eles entendem; drages, bruxas e duendes, que povoavam

    o meu imaginrio, no eram pessoas como meus pais, nem coisas como os

    paraleleppedos que calavam as ruas, e sim entidades espirituais, como Deus e

    anjos, com as quais mantinha relaes de temor, reverncia e fascnio.

    O melhor da infncia o mistrio. Povoa a criana com uma fora

    impondervel, superior a todas as realidades sensveis. O mistrio seduz e, tecido

    em encantos, assusta ou atrai ao no mostrar o rosto nem pronunciar o prprio

    nome. Habita aquela zona da imaginao infantil to indevassvel quanto

    impronuncivel. Nela, as conexes rompem limites e barreiras, o inconsciente

    transborda sobre o consciente, o sobrenatural confunde-se com o natural, o divino

    permeia o humano, e o inslito, como drages e piratas, de uma concretude que

    s a cegueira dos adultos incapaz de enxergar.

    Os adultos devem manter-se distncia quando a criana se encontra

    mergulhada em seu universo onrico. Ela sabe que carrega em si um tesouro de

    percepes que os olhos alheios no podem perscrutar. Recolhida a um canto,

    deitada em sua cama ou brincando em companhia de seus pares, deixa fluir os

    seres virtuais que habitam o seu esprito e com quem estabelece um dilogo ntimo,

    livre das amarras de tempo e espao. Tudo flutua dentro dela, graas ausncia de

    gravidade que a caracteriza. Se um adulto interfere, quebra-se o encanto. Tudo se

    torna pesadamente aritmtico, como se a ave, aprisionada no cho, ficasse

  • 4

    impedida at mesmo de sonhar com o voo, reduzida aos movimentos contidos de

    seus passos. Por tanta familiaridade com o mistrio, as crianas so naturalmente

    religiosas, como se a natureza suprisse quem se encontra biologicamente mais

    prximo da fonte da vida de percepes holsticas contidas na vitalidade das clulas,

    na mecnica das molculas, na identidade quntica dos tomos, onde matria e

    energia so apenas faces de uma mesma realidade.

    Privar a criana do mergulho no mistrio amput-la da infncia. mutilar

    o ser, abortando a criana para apressar, de modo cruel, a irrupo irreversvel do

    adulto. Ao sorriso sucede o travo amargo de quem j no logra mirar a vida como

    maravilha - dentro e fora de si. A insegurana aflora, denunciando carncias e

    tornando-as vulnerveis aos sonhos qumicos das drogas, j que o melhor da

    infncia foi sonegado sentir-se um ser amado.

    Autor: Frei Betto