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1 As imagens da cura no mundo português do século XVII Bernardo Manoel Monteiro Constant 1 [email protected] Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal Fluminense Introdução Nas últimas décadas do século XVII, foram produzidos os primeiros tratados médicos sobre a América portuguesa em língua vernácula. Simão Pinheiro Morão, médico licenciado pela universidade de Coimbra e cristão-novo perseguido pela inquisição, fez de suas observações durante estada em Pernambuco a matéria da primeira obra escrita em português sobre medicina na América. Finalizada em 1677 e intitulada Queixas repetidas em ecos dos arrecifes de Pernambuco contra os abusos médicos que nas suas capitanias se observam tanto em dano das vidas de seus habitadores, a obra trata em primeiro lugar das tais queixas – lançadas, afirmou o autor, pelo povo pernambucano contra os “empíricos”, ou seja, os leigos que aprendiam a arte de curar por meio da prática. Ao criticar como tal abordagem poderia agravar a saúde dos já enfermos, Morão se ocupou também de justificar as prerrogativas dos médicos licenciados, afirmando serem eles os que eram plenamente capacitados a diagnosticar e tratar os males. Discurso similar consta na obra de João Ferreira da Rosa, o Trattado unico da constituiçam pestilencial de Pernambuco..., publicado em Lisboa em 1694. Outro ponto que as obras de Morão e Rosa têm em comum é a abordagem de fenômenos próprios da colônia, tais como o trato de doenças tropicais e o uso de técnicas e substâncias nativas nos processos curativos. Os dois autores fazem de suas obras, assim, veículos de transmissão de conhecimentos sobre a arte de curar no contexto do mundo português. Morão e Rosa podem ter sido os primeiros a produzir tratados médicos em português sobre a América, mas não são os únicos a observar e medicar nos territórios coloniais de 1 Trabalho financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Agradeço também o apoio financeiro concedido pelo PPGH-UFF/Proex/Capes.

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As imagens da cura no mundo português do século XVII

Bernardo Manoel Monteiro Constant1 [email protected]

Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal Fluminense

Introdução Nas últimas décadas do século XVII, foram produzidos os primeiros tratados médicos

sobre a América portuguesa em língua vernácula. Simão Pinheiro Morão, médico licenciado

pela universidade de Coimbra e cristão-novo perseguido pela inquisição, fez de suas

observações durante estada em Pernambuco a matéria da primeira obra escrita em português

sobre medicina na América.

Finalizada em 1677 e intitulada Queixas repetidas em ecos dos arrecifes de

Pernambuco contra os abusos médicos que nas suas capitanias se observam tanto em dano

das vidas de seus habitadores, a obra trata em primeiro lugar das tais queixas – lançadas,

afirmou o autor, pelo povo pernambucano contra os “empíricos”, ou seja, os leigos que

aprendiam a arte de curar por meio da prática. Ao criticar como tal abordagem poderia

agravar a saúde dos já enfermos, Morão se ocupou também de justificar as prerrogativas dos

médicos licenciados, afirmando serem eles os que eram plenamente capacitados a

diagnosticar e tratar os males.

Discurso similar consta na obra de João Ferreira da Rosa, o Trattado unico da

constituiçam pestilencial de Pernambuco..., publicado em Lisboa em 1694. Outro ponto que

as obras de Morão e Rosa têm em comum é a abordagem de fenômenos próprios da colônia,

tais como o trato de doenças tropicais e o uso de técnicas e substâncias nativas nos processos

curativos. Os dois autores fazem de suas obras, assim, veículos de transmissão de

conhecimentos sobre a arte de curar no contexto do mundo português.

Morão e Rosa podem ter sido os primeiros a produzir tratados médicos em português

sobre a América, mas não são os únicos a observar e medicar nos territórios coloniais de

1 Trabalho financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Agradeço também o apoio financeiro concedido pelo PPGH-UFF/Proex/Capes.

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Portugal. O mesmo é feito por outros médicos licenciados e também por leigos praticantes da

cura, comerciantes, viajantes, jesuítas, sujeitos cujas atividades os punham em contato com

seres, substâncias e modos de fazer próprios das regiões nas quais transitavam. Múltiplos

eram os fluxos nos quais se inseriam, e disso resulta que se estabeleciam rotas não só de

pessoas e bens, mas também de conhecimentos e práticas, que eram levadas de um território a

outro do império português.

É sobre este tema que o presente artigo se debruça: a produção e circulação de

conhecimento médico e curativo no mundo português na segunda metade do século XVII.

Especificamente, interessa observar o uso dos conhecimentos produzidos e apreendidos para a

construção de imagens da cura.

Explica-se: em sua obra O Nascimento da Ciência Moderna na Europa, Paolo Rossi

propõe como perspectiva metodológica norteadora de seu trabalho o estudo das imagens da

ciência. O historiador italiano define-as como aquilo que se entende culturalmente que é e

deve ser a ciência, enquanto conjunto de conhecimento, técnicas e práticas (ROSSI, 2001: 19-

20). Aplicando esta orientação metodológica geral à investigação específica do campo da arte

da cura tal como se constituiu, era praticada e vista no XVII em territórios portugueses, é

possível observar a construção de imagens da cura que se desenvolviam no contexto.

Esta expressão não é utilizada aqui, portanto, para tratar da produção iconográfica

sobre a cura, mas sim em referência aos esforços individuais e coletivos para definir aquilo

que era reconhecido como a legítima arte de curar. Assim, a análise focará não em observar os

processos de produção de conhecimento, mas sim no uso desses conhecimentos na defesa de

imagens da cura próprias de cada grupo que as busca delinear, bem como na identificação

destes.

Para tanto, parte-se da hipótese de que sujeitos ao redor do mundo português

mobilizavam conjuntos distintos de conhecimentos, discursos e técnicas para mostrarem-se

aptos não somente a restaurar a saúde, mas também a responder questões tidas como

relevantes naquele contexto, tais como: o que causa a doença? Como se manifesta? Do que

dispomos para curar? Quem está apto a diagnosticar e prevenir os males?

Disso decorre da primeira a percepção de que os sujeitos e grupos envolvidos na

produção de imagens da cura não podem ser analisados somente pela ótica das instituições

formais. Considerando que a legitimação de saberes envolvia também fatores como a

mobilização de conhecimento prático, a medição de relações de força estabelecidas e a

capacidade de difusão dos discursos, propõe-se que as dinâmicas das imagens da cura

desenvolvem-se em um universo mais amplo que o das ideias intelectuais ou científicas

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(motivo pelo qual não se tratam exclusivamente de imagens da medicina); e que, mesmo que

não consciente ou deliberadamente, os diversos agentes da cura que atuavam no mundo

português agiam, por força mesmo de sua prática, em favor da construção de imagens da cura.

Explorando as imagens da cura

Seguindo a já citada premissa metodológica lançada por Paolo Rossi, entende-se aqui

que não são os contextos históricos ou sociais nos quais o saber curativo se desenvolve que

determinam como este será percebido socialmente; mas é a ação discursiva e política dos

sujeitos e grupos que se envolvem na disputa pelos modos de fazer e pensar que determina as

imagens da cura. É este esforço, por sua vez, que informa as escolhas dos produtores de

conhecimento, bem como orienta também a percepção da sociedade sobre as artes do curar.

Ao longo da condução da pesquisa, foi possível identificar algumas linhas de força a

explorar nos processos de construção das imagens da cura. Uma delas diz respeito às

dinâmicas que se estabeleciam entre médicos acadêmicos e curadores leigos. Embora as

práticas e conhecimentos próprios da filosofia natural e das tradições populares (com seu

arcabouço de práticas empíricas e de crenças mágicas) fossem universos em maior parte

intelectualmente distintos, que se desenvolviam em função de elaborações e preocupações

diversas, é cabível observar seus contrastes e aproximações.

Isto porque se entende aqui que nenhuma dessas correntes de pensamento e prática se

desenvolve isolada das demais2; e mais que isso, todas são maneiras de orientar e de

apresentar ao público a busca por soluções para alguns dos problemas mais básicos da

existência humana, o combate aos males do corpo e a tentativa da manutenção da saúde.

Ademais, tendo em conta a carência de médicos profissionais para atender às necessidades de

saúde do mundo português, fica claro que não basta considerar o conhecimento médico

acadêmico – pois neste contexto, boa parte dos sujeitos que faziam do curar sua profissão

eram leigos que mobilizavam técnicas e saberes distintos daqueles da filosofia natural

Condição propiciada, entre outros fatores, pela extensão territorial do mundo português; pela

baixa oferta de licenciados em relação à demanda; e pela ausência de instituições acadêmicas

de ensino de medicina nas colônias3.

2 Pelo contrário, como afirma Carlos Ziller Camenietzki, “Frequentemente, o ‘cientista’ desse período [o meio do século XVII] incorporava elementos de várias fontes em seu trabalho, formatando suas teses, proposições e metafísica a partir de ingredientes diversos. Hoje, sabemos bem que o trabalho da maioria dos homens da ciência desse período foi mais próximo de uma colagem heterogênea de programas de pesquisa e procedimentos metodológicos do que uma marcha coerente e unificada em direção ao conhecimento do mundo.” (CAMENIETZKI, 2004: 311). Tradução nossa. 3 Cf. VIOTTI, 2012.

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Diante disso, vale questionar-se sobre como eles influenciavam a formação de

conhecimento e de imagens da cura. A historiografia sobre o tema demonstra como os

saludadores, curandeiros e curadores4 orientavam-se ora por conhecimentos baseados na

tradição popular, ora pelo arcabouço das práticas mágico-religiosas ou espirituais – cujas

elaborações sofrem modificações e sincretismos na América portuguesa, circunstância que

deve ser levada em conta5. Havia ainda os agentes da cura caracterizados pelos intelectuais

como empíricos, os sangradores, barbeiros, cirurgiões leigos, entre outros6.

Para distinguir-se dos leigos, os médicos acadêmicos faziam uso da autoridade

conferida por sua educação, que por um lado lhes dava acesso ao discurso calcado nos

ditames da filosofia natural; por outro, lhes concedia também distinção social: o status de

licenciados, que os marcava como praticantes de uma arte liberal tida por superior ao ofício

mecânico de cirurgião, por exemplo. Essa combinação informa sua inserção nos debates sobre

as imagens da cura, nos quais mobilizavam as ferramentas dos letrados para fazer valer suas

posições.

Assim, escrever era, para estes sujeitos, tomar parte em debates que se desenrolavam

no âmbito mais amplo do império7, nos quais podiam promover-se e executar suas estratégias

para angariar prestígio e patronagem8. Ao fazê-lo a partir de suas experiências vividas na

América, faziam dessa região, de seus fenômenos e povos parte ativa nos círculos intelectuais

do império, ainda que por meio de sua mediação.

Ao observar a produção tratadística médica sob o aporte metodológico oferecido por

Cyril Lemieux para a análise de controvérsias e processos de disputa9, pode-se inquirir, por

exemplo, se Morão, ao redigir o Queixas..., agiu, com suas críticas aos empíricos e defesa das

prerrogativas dos licenciados, por um lado para fortalecer a imagem exclusivista de

autoridade pretendida pelos acadêmicos, e por outro para, dirigindo-se aos leigos, pautar-lhes

4 Embora não houvesse rigor terminológico, José Pedro Paiva aponta o uso da designação “curador” como termo genérico para os indivíduos que realizavam práticas populares e tradicionais de cura em Portugal, com variações como “saludador” e “curandeiro” associadas a práticas mágico-religiosas. Todos estes eram termos geralmente utilizados para se referir a indivíduos das classes populares. Cf. PAIVA, 1997. 5 Sobre as práticas mágicas realizadas em Portugal no século XVI, cf. BETHENCOURT, 2004. Para os séculos XVII-XVIII, cf. PAIVA, 1997. E para análise dos processos de sincretismo que tais práticas portuguesas passam a compor, em conjunto com as de origem indígena e africana na América portuguesa, cf. SOUZA, 2009. 6 Tanto Fabiano Bracht quanto Georgina Santos apontam a importância dos leigos para a construção do conhecimento médico no império português. Cf. BRACHT, 2015; SANTOS, 2005. 7 Cf GRUZINSKI, 2014. 8 Embora seu estudo seja focado na trajetória de Garcia da Orta, portanto concernente ao século XVI, as observações de Teresa De Carvalho sobre a questão são em geral aplicáveis também ao contexto do XVII. Cf. DE CARVALHO, 2015. 9 A abordagem que interessa a este trabalho propõe analisar uma controvérsia como meio para visualizar um conjunto de relações que se desenvolvem em uma dada sociedade, viabilizando traçar a trajetória dos sujeitos envolvidos na disputa e os quadros institucionais nas quais ela se insere. Cf. LEMIEIUX, 2017.

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a ação segundo os entendimentos dos acadêmicos; ou se a escolha feita por Rosa de escrever

seu Trattado unico... em português ao invés de latim – a língua franca da circulação de ideias

intelectuais na Europa da época – indicaria o surgimento de uma preocupação com o dar

acesso mais amplo de sua obra ao público do mundo português.

As disputas pelas imagens da cura não se realizavam somente no âmbito das

produções intelectuais, no entanto. Timothy D. Walker corrobora este entendimento ao

salientar a importância dos saberes dos nativos da América portuguesa no processo de

incorporação de conhecimentos sobre produtos medicinais (e dos próprios produtos) no

“sistema independente e compreensivo” 10 que constituía o Império português entre os séculos

XVI-XVIII.

Segundo o historiador norte-americano, aplicações de ervas curativas e técnicas de

tratamento de doenças próprias da terra foram assimilados por sujeitos como jesuítas,

comandantes marítimos, administradores coloniais, agentes da cura e mercadores. A partir dos

movimentos destes, também os saberes e produtos teriam sido postos a circular no âmbito do

Império português, salientando-se assim os fluxos de produção e comunicação de

conhecimento que conectam as áreas coloniais à Europa e afirmando-se o papel das

populações locais nesses processos de “interações interculturais” (WALKER, 2013: 404,

427).

Em análise sobre o tema, Walker identifica uma tendência à valorização da

experiência direta por parte dos portugueses no processo de produção de conhecimento

médico-curativo durante o século XVI, e afirma o caráter utilitário deste. Segundo o autor,

isso seria em boa parte motivado por pressões demográficas geradas pelos esforços de

colonização. Assim como Walker, Serge Gruzinski e Germano de Souza chamam atenção

para as exigências de manutenção de pessoal qualificado para as empreitadas marítimas

portuguesas, que se traduziam nas demandas por tratar e prevenir doenças, reduzir

complicações ou mortes por ferimentos nos quadros administrativos, militares e de mão-de-

obra essencial (GRUZINSKI, 2014: 213-218; SOUZA, 2013: 111-116).

Estes fatores levam os envolvidos nas operações dos primeiros séculos de colonização

da América a demonstrar interesse nas práticas terapêuticas dos indígenas, voltada não só para

o tratamento de ferimentos, mas também para o combate às doenças tropicais com que os

europeus tinham seus primeiros contatos. No desenrolar destas interações, em meados do

10 Noção que deve ser temperada pelas observações de Gruzinski relativas à integração entre Espanha, Portugal e seus territórios coloniais durante o período da União Ibérica (WALKER, 2013: 404).

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Seiscentos, o uso de plantas locais estava disseminado nas zonas de ocupação colonial

permanente.

Para ter em conta como o dinamismo – e as demandas – que se faziam presentes nos

territórios coloniais tinham efeito sobre a produção de saber curativo, cabe observar a

afirmativa de Walker de que nos territórios coloniais portugueses se observa um ambiente

mais propício para a produção de novos saberes curativos do que no próprio Reino:

Graças aos recursos médicos tradicionais europeus serem severamente limitados no Brasil e à continuada exposição aos métodos indígenas, a prática médica nas colônias era menos rígida do que aquela ensinada de acordo com o currículo inflexível da Universidade de Coimbra, lar da única faculdade acadêmica de medicina de Portugal durante a primeira época moderna. Até as reformas, tardiamente introduzidas por compulsão real em 1772, racionalizarem e revitalizarem a instrução médica em Coimbra, a administração da universidade, rigidamente conservadora, dominada pelos Jesuítas, reduzia os professores a entoar comentários estagnados e desprovidos de imaginação sobre os escritos das autoridades antigas e medievais [...]11 (WALKER, 2013: 409).

Se em Portugal se entravava a recepção de novos saberes por imposição institucional,

na América, por outro lado,

[...] a necessidade premente sobrepujava o preconceito e o conservadorismo religioso; longe da vigilância institucional restritiva, a experimentação médica floresceu em Goa, Macau e no Brasil. Por meio do fluxo colonial normal de comércio e de pessoal, tais práticas inovadoras gradualmente fizeram seu caminho à metrópole.12 (WALKER, 2013: 409).

Assim, Walker apresenta a noção de "empirismo colonial" que Júnia Ferreira Furtado

propõe que surge por meio das trocas intelectuais e materiais entre cirurgiões e boticários

luso-brasileiros, nativos indígenas e escravos africanos (WALKER, 2013: 409). Essa seria a

marca do processo de produção de saber medicinal na América portuguesa, caracterizado pelo

aprendizado gerado pelo contato direto com o novo e pelo experimentalismo que disso surge.

11 No original: “Due to severely limited conventional European medical resources in Brazil and sustained exposure to indigenous methods, Portuguese medical practice in the colonies was less rigid than that taught according to the inflexible curriculum of Coimbra University, home to Portugal's sole academic faculty of medicine during the early modern period. Until long-overdue reforms, introduced by royal compulsion in 1772, rationalized and revitalized medical instruction at Coimbra, the university's rigidly conservative, Jesuit-dominated administration reduced professors to intoning stagnant, unimaginative commentary on the writings of the ancient and medieval authorities [...]”. Tradução nossa. 12 No original: “[…] pressing need overcame prejudice and religious conservatism; far from restrictive institutional oversight, medical experimentation flourished in Goa, Macau and Brazil. Through the normal flow of colonial commerce and personnel, such innovative practices gradually made their way to the metropôle”. Tradução nossa.

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O resultado desses contatos é a formação de um saber híbrido13, combinando elementos e

referências originários das culturas envolvidas. Para melhor observar tal processo, a seguir

será feita análise de fonte de modo a abordar de modo empírico as discussões até aqui

realizadas.

As imagens da cura no tratado de Morão

A leitura da obra de Morão permite obter indícios sobre os saberes e práticas de cura

difundidos na sociedade urbana de Pernambuco no final do século XVII. Em contrapartida, é

possível perceber também o emprego do discurso intelectual como estratégia, parte da reação

de Morão contra uma circunstância social que ele percebe como indesejada – do ponto de

vista profissional, epistemológico e prático.

Uma análise do Queixas... com foco nestas questões é capaz de oferecer alguns

apontamentos necessários para o estudo que pretende-se realizar neste trabalho. Observando

as evidências que Morão traz da existência de duas vertentes de produção de conhecimento

médico-curativo no Pernambuco do Seiscentos – uma ligada às bases epistemológicas da

filosofia natural, outra voltada ao aprendizado prático -, pode-se começar a delinear um

quadro das imagens da cura que se desenvolviam no contexto analisado.

Como se viu, nele as tensões se estabeleciam entre os licenciados, estrangeiros que

mobilizavam o conhecimento acadêmico, e curadores locais, munidos de seu saber híbrido

composto a partir do encontro de agentes e saberes europeus e nativos da América. A disputa

não é somente epistemológica, mas também de espaço de inserção social: se dá pelas

possibilidades de fazer-se autoridade, de projetar-se socialmente como competente para curar

e pautar a ação dos concorrentes, pela atenção da clientela.

Morão inicia sua obra com uma lista de ampla gama do que percebe como

procedimentos médicos impróprios, erros procedimentais, prescrições de produtos curativos

ineficazes, tratamentos prejudiciais e falhas de entendimento que teria observado entre os

empíricos que atuavam na Capitania de Pernambuco de fins do Seiscentos. Estes e outros são

os “abusos médicos” denunciados pelo licenciado já a partir do título de sua obra devido ao

alegado potencial danoso que teriam à saúde e às vidas dos pacientes.

No entanto, como já foi estabelecido, na época a maior parte das novas informações e

saberes sobre as curas eram obtidas e postas a circular pelos leigos14. Do mesmo modo, eram

13 Tanto por parte dos europeus quanto dos indígenas, como observa Gruzinski. Cf. GRUZINSKI, 2014: 216-217. 14 Tanto no contexto da América em específico quanto nos circuitos imperiais mais amplos.

8

estes que realizavam a maioria dos diagnósticos, prescrições e tratamentos para as

enfermidades que acometiam a população da América portuguesa, não os licenciados. Esta

circunstância não escapa a Morão. Em dada altura de sua obra, ele diz que teve acesso a

“cartas de alguns magnates destas capitanias, que escreviam a seus amigos, em que os

acautelavam, que nas tábuas e nos pains15 se não curassem com médicos nem cirurgiões,

senão com as curandeiras porque aqueles o ignoravam e estas só o entendiam”, com o que

completa: “quebrantando com isto as leis da razão” (MORÃO, 1965: 10).

Se a consciência da prevalência numérica dos empíricos e a rejeição aos licenciados

são motivos de indignação (e pressão econômica) para Morão, também são as próprias razões

para a elaboração de seu tratado. Ele o fez plenamente ciente da futilidade de tentar

desacreditar por completo a atuação dos empíricos: não era ingênuo o suficiente para esperar

que simplesmente decretá-los inaptos a curar em seu tratado seria o suficiente para diminuir

seu espaço de atuação social. Recorreu, então, à tentativa de deslegitimá-los, e no mesmo

golpe de pena, afirmar a superioridade de sua razão diante da empiria pura.

Sob esta ótica, o tratado pode ser visto como instrumento de disputa cultural. Ao

desacreditar a ação dos empíricos por um lado, mas por outro oferecer-lhes subsídios para

retificar sua atuação, ele reafirma a primazia tanto de seu saber quanto da sua prática e

oferece suas críticas como o primeiro passo para a correção dos erros que identifica. Mais que

isso, as apresenta como demonstração de generosidade, pois se dispõe a dividir seus

conhecimentos de bom grado em benefício tanto dos empíricos quanto de seus pacientes,

ainda que preveja punições e reprovações por parte de seus pares acadêmicos. Mostra-se

disposto “ainda à custa da repreensão dos doutos e do castigo que espera [a] dar algumas

regras gerais [para a cura das doenças] a estas capitanias de que me não poderão escapar os

empíricos” (MORÃO, 1965: 18).

O próprio termo que Morão usa para se referir aos agentes da cura leigos é um indício

significativo da posição que o licenciado atribuía em sua hierarquia do saber à experiência

empírica, resumida na afirmativa de que “a experiência sem ciência é errada, incerta e cheia

de perigos.” (MORÃO, 1965: 7). Mais que um elemento inútil para a construção do saber

legítimo, esta seria deletéria, à medida que levaria a um conhecimento infundado, incorreto e,

portanto, prejudicial ao paciente. Por outro lado, o valor que Morão dá à educação formal

pode ser percebido em sua defesa dos licenciados, categoria que não incluía somente médicos,

mas também boticários, por exemplo.

15 Nomes locais para o que Morão identifica como a formação de tumores estomacais e cirrose hepática, respectivamente.

9

Está aí estabelecido como Morão concebe a medicina em seu tratado: ela teria suas

bases alicerçadas no conhecimento dos Antigos, preconizando a rejeição da empiria e a

observância do método apropriado, do que decorre a adoção da experiência corrigida pela

razão como critério da verdade. Era somente com tal filtro que a filosofia natural abria espaço

para a vivência, através do experimentalismo16.

Considerações finais

Vale dizer que as críticas aos empíricos não eram uma exclusividade da obra de

Morão. Encontram-se críticas em tom mais contundente no Trattado único..., por exemplo, e

não somente advindas de Rosa – também por parte do censor responsável pela autorização da

impressão da obra se vê discurso similar (ROSA, 1694: imprimatur).

Ainda que os leigos tivessem um maior espaço de atuação dentro das sociedades do

império português (até por questões numéricas) durante o século XVII, tendo em conta as

possibilidades comunicativas representadas pelo impresso, percebe-se que há uma relação de

forças intelectuais desbalanceada em favor dos acadêmicos. Isto dito, embora os leigos, por

força da natureza de sua formação, não tivessem incentivos ou condições comparáveis às dos

acadêmicos para deixarem manuais ou outros registros escritos sobre seu aprendizado ou

prática, os próprios livros médicos trazem informações sobre sua atuação.

O tratado de Rosa fornece exemplo disto, com a narrativa do testemunho dado pelo

cirurgião francês Antônio Brebon, em que se descreve a autópsia do corpo de um acometido

pela epidemia de febre amarela que assolava a costa da América portuguesa entre as décadas

de 1680-90. Após concluir sua operação, realizada a bordo do navio em que operava

profissionalmente, Brebon credita a pestilência às lombrigas que encontra infestando o corpo

dissecado. Diante de seus achados, o cirurgião se declarou o descobridor da causa da doença e

propôs também o que considerava ser o tratamento adequado, o uso de emplastros e

preparados vermífugos para contra-atacar a ação e o estabelecimento dos parasitas no corpo17.

Ao comparar essa narrativa às críticas de Morão aos leigos e às tentativas de Rosa de

produzir uma patologia sobre a epidemia, por um lado percebe-se que há uma variedade de

noções circulantes na sociedade pernambucana do século XVII sobre o que são as doenças,

quais suas causas e como deve ser o tratamento adequado. Por outro, a existência de múltiplas

chaves de explicação sobre a saúde e a doença em circulação na sociedade pernambucana do

16 Noções condizentes com as levantadas por Gruzinski e Viotti. Cf. GRUZINSKI, 2014: 238; VIOTTI, 2012: 34-37, 133. 17 Cf. ROSA, 1694. Juramento do Cirurgião Antonio Berbon.

10

Seiscentos não é por si só indício de que todas eram igualmente tidas por legítimas em

qualquer ambiente. É preciso considerar que a argumentação política fazia uso principalmente

da filosofia natural como elemento de elaboração de suas ações e legitimação das mesmas. E

que, ao fim e ao cabo, não foi o saber dos empíricos que conseguiu se impor e oferecer a

patologia que se estabeleceu à época sobre a febre amarela, por exemplo.

Nesse contexto cultural, as obras de Morão e Rosa exibem tendências de uma

produção intelectual que se confirma e consolida ao longo do tempo com um número

crescente de produções posteriores sobre a medicina nos territórios portugueses na América18.

Obras caracterizadas pela preocupação com a comunicação, evidenciada pela escolha do

português como idioma de escrita; dotadas de fins informativos e instrutivos concernentes a

questões próprias da colônia; pautadas pela filosofia natural, mas voltados também aos

saberes da experiência, selecionados ou “revistos pela razão” para encaixar-se nos parâmetros

acadêmicos do contexto em questão; e interessadas na formatação da atuação dos empíricos,

portanto motivadoras de disputas culturais.

As ideias contidas nessas obras influem na construção do saber médico e curativo que

se desenvolve na América portuguesa, como parte do saber mestiço que se desenvolvia no

local. Informam, em certa medida, a ação dos demais agentes da cura: segundo Bruno Boto

Leite, a patologia proposta por Rosa sobre a peste se consolidou entre os curadores da época.

Conseguiu pautar com sucesso a atuação dos empíricos e dos licenciados no que tange o trato

com a peste (LEITE, 2011: 16).

Não somente no âmbito das práticas individuais se percebe a ação dos licenciados.

Rosa, comissionado pelo Marquês de Montebelo, governador de Pernambuco entre 1690-

1693, orientou a bem-sucedida campanha sanitária contra a febre amarela (ANDRADE, 1969:

57). Fez-se referência para iniciativas de saúde de outros administradores coloniais 19 ,

demonstrando sua capacidade de influenciar as políticas da governança20 - e deixando claro o

potencial dos médicos acadêmicos de pautar imagens da cura.

Mas também a prática dos leigos levava à resposta institucional e à disputa entre

imagens da cura concorrentes. A “anatomia” de Brebon inspirou ordem régia para a realização

de novas autópsias com fins de descobrir mais informações sobre a epidemia, bem como

inspirou a resposta de Rosa no Trattado unico.... A ação de ambos levou à ampliação do

debate, como se pode ver pelo fato de as notícias se espalharem ao longo dos territórios

18 Como pode ser visto também nas obras médicas escritas no século XVIII trabalhadas por Viotti. 19 Cf. COUTINHO, 1693. 20 Cf. ANDRADE, 1969.

11

afetados pelo contágio, além de suscitar comentários e respostas de autoridades governativas,

como se pode ver na Carta de 19 de julho de 1693 a Mendo de Foyos Pereira, Secretário de

Estado, sobre a informação que fez um estrangeiro sobre o contágio, redigida pelo

governador geral do Brasil à época, Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho

(COUTINHO, 1693: 108).

Nisso, tanto Rosa quanto Brebon agiram de modo a afirmar a validade e relevância

dos conhecimentos que lograram produzir, cada qual segundo os procedimentos próprios das

bases epistêmicas em que se apoiavam. Ademais, disputaram - ou foram chamados a isso por

Rosa, que tornou público o debate com sua resposta ao depoimento de Brebon - pelo estatuto

de verdade sobre a epidemia, suas causas, evolução e tratamento adequados. Que as

prescrições de ambos fossem ineficazes no tratamento da doença21, apesar de ter sido notado

pelos contemporâneos, como deixa entrever o comentário de Câmara Coutinho, é de menor

interesse a este trabalho. O que importa é observar o desenrolar de uma disputa envolvendo

imagens da cura conflitantes.

Mas é possível também observar situações de coexistência pacífica entre imagens da

cura distintas - como se observa na corte de D. João IV, que sem maiores conflitos mantinha

os serviços de seus médicos da corte ao mesmo tempo em que recorria aos serviços de

Domingos da Madre de Deus, beato que se dizia dotado de dons divinatórios e curativos de

natureza mágico-religiosa (PAIVA, 1997: 11).

Outro exemplo pode ser visto no caso da explicação adotada pelo Marquês de

Montebelo para as causas da epidemia. Esta conciliava a influência dos “astros e elementos”

da filosofia natural – o governador creditava a epidemia à acumulação de dejetos nas ruas da

cidade e aos vapores necróticos vindos de covas mal cobertas - a uma causa moral de natureza

religiosa, dando à doença ares de punição divina a uma coletividade marcada pelo pecado. Tal

noção inspirou os bandos relativos ao controle estrito da prostituição e da vadiagem na

cidade, limitando inclusive o trânsito de quaisquer mulheres desacompanhadas durante a noite

(ANDRADE, 1969: 156-159).

Esta é uma primeira abordagem do problema, parte de um projeto ainda em

desenvolvimento. Com as aproximações até aqui oferecidas, buscou-se iniciar a discussão

sobre o tema, embora seja inviável no momento, e mesmo indesejável, esgotá-la. Há ainda

21 Embora Coutinho afirme que “[...] o tratado que fizera o medico de Pernambuco, ainda que parecera bem aos dessa côrte, nenhuma utilidade recebiam os doentes de se curarem por ele, porque morriam da mesma maneira que os outros;” (COUTINHO, 1693: 108), vale ressaltar que a política sanitária elaborada por Rosa e Montebelo foi bem sucedida em controlar a epidemia no Recife, o que se tornou um dos elementos para o eventual sucesso de Rosa em pautar as abordagens acadêmicas da febre amarela à época.

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análises por fazer que podem esclarecer certas dinâmicas. É possível questionar, por exemplo,

se um indivíduo como Domingos da Madre de Deus, que adquiriu fama pública por suas

práticas mágico-religiosas, e por força desta reputação, foi capaz de transitar na corte de D.

João IV, fortalece a percepção de que os praticantes da magia eram sujeitos competentes para

curar.

Pode-se também observar que a hipótese moral-religiosa de Montebelo para o

contágio tem certo eco no Discurso II da obra Economia Cristã dos Senhores no Governo dos

Escravos, de Jorge Benci – no qual o jesuíta credita as epidemias que assolavam a costa da

América portuguesa nas últimas décadas do XVII às deficiências no ensino religioso

oferecido aos principais da terra, e à consequente inobservância da doutrina cristã por parte

desses (BENCI, 1705).

Aparecem aqui pistas que apontam para a necessidade de exploração futura de

possíveis imagens da cura relacionadas à religiosidade cristã e às crenças mágicas – esforços

que devem ser perseguidos sem descuidar das análises relativas à atuação dos médicos

licenciados e curadores leigos. Observar tais acepções de cura adotadas pelos sujeitos de

finais do Seiscentos revela não só a multiplicidade possível para o que se entendia como

possibilidades legítimas de manutenção e restauração da saúde, mas também serve como

indícios para a melhor compreensão dos processos sociais, relações de força, disputas e

conformações desenvolvidas ao redor de e em função dessas acepções. Estudar imagens da

cura é, portanto, contribuir para elucidar dinâmicas relevantes ao estudo do século XVII.

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