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Universidade da Beira Interior Anatomia e Fisiologia Ocular Acomodação

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Page 1: Trabalho

Universidade da Beira Interior

Anatomia e Fisiologia Ocular

Acomodação

Marco António Paulino dos Santos Gonçalves de Sousa

nº. 21617

Page 2: Trabalho

Maio de 2008

Índice:

1 - Introdução 3

2 – Acomodação 4

2.1 – O mecanismo 6

2.2 – Medida da acomodação 7

2.3 – Alterações da acomodação 8

Presbiopia 9

Espasmos de acomodação 9

3 – Conclusão 11

4 – Bibliografia 12

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1 – Introdução

O olho normal jovem pode facilmente focar objectos ao perto e ao longe,

isto é, ele pode alterar o foco ou acomodar. Segundo o dicionário de

optometria1, a acomodação é o ajuste do poder dióptrico do olho. Geralmente

este é involuntário, tendo como propósito obtermos uma visão nítida e clara

dos objectos a qualquer distância. Para que isto seja possível, é necessário o

ajuste do cristalino e convergência dos olhos. Assim sendo, a acomodação

resulta da mudança na forma do cristalino, através da alteração da sua

curvatura e espessura central, modificando o poder dióptrico do olho. A teoria

clássica de Helmholtz, propõe que o músculo ciliar ao contrair, produz um

relaxamento das fibras zonulares, aumentando a espessura e a curvatura do

cristalino e por consequência, aumentando o seu poder dióptrico.

A palavra "acomodação" tem uma origem relativamente recente e foi

definitivamente introduzida por Burow em 18412. Alguns livros antes desta data

usavam o termo "adaptação", hoje aceite como relativo às variações da

sensibilidade retiniana, devido às mudanças da intensidade luminosa.

Explicações de como a acomodação ocorre, têm sido propostas desde longa

data. Numa revisão de literatura sobre acomodação e presbiopia veremos que

muito do que se assume ser conhecido é ainda controverso.

Uma vez que este trabalho escrito se encontra inserido na disciplina de

“Anatomia e Fisiologia Ocular”, integrante no primeiro ano da licenciatura de

Optometria – Ciências da Visão, este irá abordar o conceito de acomodação,

mas segundo uma perspectiva anatómica.

1 MILLODOT, Michel – Dictionary of Optometry, 2ª edição, Butterworths, 1990.2 Michaels DD – Accommodation, Vergences, and Heterophorias, eds. Visual Optics and

Refraction, 3rd ed. St. Louis: C.V. Mosby, 1985.

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Page 4: Trabalho

2 – Acomodação:

De uma forma mais abrangente, podemos considerar que a acomodação

visual, é o ajustamento do cristalino às necessidades da visão. Este

mecanismo, encontra-se intimamente ligado ao ajustamento do foco de um

olho emétrope, aumentando o poder dióptrico do olho, para a observação de

objectos próximos ou distantes com uma boa nitidez.

Como mera curiosidade3, a acomodação visual encontra-se em todos os

animais, diferindo apenas no mecanismo. A título de exemplo, as cobras e rãs

movem a sua lente para a frente a fim de focar os objectos próximos.

Figura 1 – Imagens que comparam a formas de acomodação dos pássaros, rã e peixes

Cortesia:

A acomodação visual em seres humanos, foi estudada durante séculos e

à cerca de 160 anos atrás, Helmoltz (1821-1894), escreveu sobre o mecanismo

3 SAUDE, Trygve – Ocular Anatomy and Physiology , Blackwell Scientific Publications, Oxford, 1993.

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subjacente a tal acto visual, tomado como muitas vezes por mero reflexo. Os

seus estudos ainda são válidos, tendo proposto que existem três elementos

que interferem no mecanismo, ver figura 2:

O músculo ciliar;

A cápsula da lente;

A zónula ciliar.

O músculo ciliar ocupa a região anteroexterna do corpo ciliar. Aparece

na área frontal da corióide na ora serrata, percorrendo a totalidade do corpo

ciliar. Apresenta uma forma triangular de vértice posterior, aplicando-se a face

anteroexterna à esclerótica. A face posterior relaciona-se com o orbículo ciliar e

a face interna ou axial orienta-se segundo o eixo do olho e está em

continuidade com os processos ciliares.

Este é composto por fibras musculares lisas, compreendendo três

componentes:

1. a longitudinal;

2. a radial ou obliqua;

3. a circular.

O músculo ciliar tem a capacidade de se contrair, originando um movimento

centrípeto do corpo ciliar, em cerca de 0,5 mm para a frente, em relação ao

plano equatorial da lente.

A cápsula da lente é uma protecção elástica que envolve o cristalino.

Esta elasticidade exerce uma pressão interna, que tende a alterar a forma da

superfície anterior da lente, diminuindo no centro o seu raio de curvatura e

aumentando o poder dióptrico. Tal aumento é contrariado por uma tensão

centrifuga das fibras zonulares. As alterações na superfície frontal da lente são

acompanhadas por um avanço de cerca de 0,25 mm, enquanto o seu raio se

aproxima do valor do raio da superfície posterior.

A zónula ciliar é um elemento suspensor do cristalino. Estende-se desde o

corpo ciliar até à região equatorial do cristalino. São compostas por finas

fibrilhas de colagénio com cerca de 10 nm de diâmetro e estão dispostas

segundo uma forma anelar, fazendo fronteira entre o humor vítreo e a câmara

posterior. O arranjo preciso das fibras é controverso, verificando-se algumas

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variações de individuais. Segundo Saude (1993), podemos identificar quatro

tipos de fibras:

Fibras capsulares do orbículo – posterior – estendem-se desde a ora

serrata até à região posterior do plano equatorial da lente.

Fibras capsulares do orbículo – anterior – projecta-se desde a ora serrata

até à região anterior do equador da lente.

Fibras cílio – equatoriais – estão fortemente presentes nas crianças. Elas

emergem dos espaços existentes entre os processos ciliares até se fixarem

no equador.

O quarto arranjo foi proposto por Rohen e Rentsch (1969). Estes descrevem

um outro arranjo do sistema zonular. Existe um tecido elástico na região da

“raiz” da íris e perto da ora serrata. Tal tecido puxa a zónula, mantendo-a

esticada, de modo a que somente a tensão zonular no equador da lente

contrarie a elasticidade da cápsula. Esta relaxação da acomodação permite

ao olho focar objectos distantes.

Figura 2 – Diagrama do olho humano

Cortesia: Wikipedia

2.1 – O mecanismo

Nos anos 90 o mecanismo da acomodação foi questionado por

Schachar, que sugeriu que o aumento da tensão zonular aumentaria o poder

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dióptrico do cristalino, em vez de diminuir, o que não foi confirmado

posteriormente. Quando o músculo ciliar está completamente relaxado, o poder

dióptrico do cristalino é o menor possível. Pelo contrário, quando o músculo se

contrai de forma máxima, obtém-se o maior poder dióptrico.

A contracção do músculo ciliar representa o mecanismo periférico da

acomodação, secundário a um mecanismo central. Este mecanismo central é

activado por um estímulo visual, através das vias ópticas. Este atinge as áreas

17 de Broadman e continua até a área 19 de Broadman onde se inicia a alça

eferente da resposta. O músculo ciliar é inervado pelo III par craniano, com a

maioria das fibras provenientes do núcleo de Edinger-Westphal, do complexo

óculo-motor, através do gânglio ciliar. Embora os impulsos parassimpáticos

sejam os mais importantes na origem da acomodação, o sistema simpático

também actua de uma forma secundária. Este efeito secundário pode ser

resultado da vasoconstrição e redução na massa do corpo ciliar, aumentando a

tensão das fibras zonulares, produzindo um achatamento do cristalino. Assim,

o músculo ciliar está sob o controlo do sistema nervoso parassimpático,

levando a estimulação do sistema nervoso periférico, à contracção do músculo,

logo, ao relaxamento dos ligamentos suspensores e ao aumento da

convergência dos raios luminosos. Por isso, quando observamos um objecto

que se aproxima de nós, aumentam os impulsos nervosos parassimpáticos,

que ao atingir o músculo ciliar vão aumentando progressivamente o poder

dióptrico do cristalino, mantendo-se assim o objecto continuamente focado e

nítido.

É devido a este mecanismo que o poder refractivo do cristalino pode ser

aumentado, voluntariamente, desde as 18 dioptrias até aproximadamente 32

dioptrias4, originando um incremento de 14 dioptrias de acomodação.

2.2 – Medida da acomodação

Acomodação é medida em dioptrias (D) e representa o inverso da

distância de fixação do optótipo em metros. Por outras palavras, para uma

distância de fixação de um metro, a acomodação é de 1 D, para meio metro a

acomodação é de 2 D e assim sucessivamente. Podemos designar a amplitude

4 Nas crianças pequenas.

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de acomodação como o valor máximo do aumento de poder dióptrico, devendo

ser medida para cada olho separadamente, já que binocularmente a amplitude

de acomodação é geralmente maior (0,5 a 1,0 D).

A medida da amplitude de acomodação, deve ser realizada no olho

emétrope, ou caso contrário, deve estar a usar a sua compensação óptica.

Segundo Plutt (2001), raramente a amplitude de acomodação é diferente entre

os dois olhos, podendo ser contrariada esta noção por traumatismos ou por

erros refractivos do olho. A amplitude de acomodação pode ser medida

segundo duas formas: utilizando a régua de acomodação, ou pelo método das

lentes negativas.

A régua de acomodação, denominada por régua de Prince, está

marcada com uma escala em centímetros e em dioptrias, tem uma tabela com

uma escala de optótipos, de acuidade visual de 1 D, móvel. O indivíduo segura

a régua com uma das mãos e com a outra aproxima lentamente a escala dos

seus olhos. Quando deixar de ver nitidamente a escala será medida a distância

em centímetros e a respectiva amplitude de acomodação. Para medir a

amplitude de acomodação para cada olho em separado, podemos utilizar os

óculos de prova e um oclusor, ou então o foroptero com o oclusor.

No método de lentes negativas, colocam-se os óculos de prova ou o

foroptero no indivíduo, devidamente ajustados, e a escala de optótipos para a

visão ao perto a 33 cm deste. A acomodação é induzida através de lentes

negativas sucessivas, até que este deixe de ver a imagem nítida. A amplitude

de acomodação, é então determinada através do valor da última lente colocada

no paciente.

2.3 – Alterações da acomodação

As principais alterações da acomodação são a presbiopia e os

espasmos de acomodação.

Presbiopia

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A perda gradual e fisiológica da capacidade do olho acomodar, é

denominada presbiopia. A acomodação diminui progressivamente com a idade,

embora os sintomas tenham início por volta dos quarenta anos de idade. No

entanto, se esta se verificar antes dos 35 anos, designando-se então por

presbiopia precoce. Esta perda gradual e fisiológica da capacidade do olho

acomodar, é denominada presbiopia.

O mecanismo da presbiopia é estudado à muito tempo, existindo

diversas teorias explicativas da presbiopia. No entanto não se deve pensar que

a idade seja apenas a responsável pela presbiopia. Provavelmente, a etiologia

da presbiopia é multifactorial. Com o avançar da idade, o cristalino sofre

diversas transformações, sendo a perda de elasticidade da cápsula, da

substância do cristalino, da diminuição do volume e da sua espessura, são os

principais factores responsáveis pelo aparecimento da presbiopia.

Entre outros factores podemos referir a alteração na composição

proteica do cristalino, a formação de agregados de alto peso molecular, a

mudança no ponto de inserção da zónula, a diminuição do raio de curvatura da

superfície anterior do cristalino, a diminuição na capacidade de transmissão da

luz5, a alteração na capacidade de contracção e o relaxamento do músculo

ciliar, também estão relacionados com o desenvolvimento da presbiopia.

O tratamento da presbiopia é sintomático e deve ser feito com correcção

óptica adequada, permitindo a visão ao perto sem sintomas. As principais

formas de correcção óptica são através de óculos, sejam eles com lentes

multifocais, bifocais, trifocais, ou separados para visão de perto e longe.

Espasmos de acomodação

Tendo como objectivo a focagem de uma imagem nítida na retina, a

acomodação é activada ou então relaxada, de acordo com a distância ao

objecto e o erro refractivo de cada indivíduo. Os espasmos de acomodação

podem ocorrer devido a efeitos farmacológicos, pós-traumas, ou ainda

associados a distúrbios neurológicos ou psíquicos. De salientar que alguns

5 Com o aumento da constituição proteica do cristalino, há um aumento do peso molecular e consequentemente um aumento do índice de refracção do cristalino.

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pacientes, após o uso por longos períodos de tempo da visão ao perto, sem

respeitar as regras de ergonomia, não conseguem relaxar o músculo ciliar e

consequentemente a acomodação completamente. Com o passar dos anos,

este efeito pode tornar-se crónico causando o que se designa por

pseudomiopia.

O tratamento passa pela compensação óptica do paciente com lentes

positivas, bem como pela alteração das condições de trabalho.

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3 – Conclusão

Com este trabalho foi possível perceber todo o mecanismo que se

encontra subjacente ao processo de acomodação ocular. Apesar de, por vezes,

ser um acto involuntário, tem um funcionamento bastante complexo. Este

depende de três mecanismos anatómicos bastante diferentes, mas que em

conjunto permitem a acomodação visual, e assim, ver nitidamente os objectos

a variadas distâncias. Como foi visto neste trabalho, a acomodação visual

depende do músculo ciliar, da cápsula da lente e da zónula ciliar.

Com o passar dos anos, as nossas células e por conseguinte os nossos

órgãos e músculos vão envelhecendo, influenciando o perfeito funcionamento

do nosso corpo. O processo acomodativo também não fica indiferente com o

avançar da idade, segundo os estudos, a partir dos 40 anos de idade a

acomodação visual fica alterada, sendo necessário recorrer a correcção óptica

para a melhorar, sendo esta alteração da acomodação denominada por

presbiopia. Os nossos erros ergonómicos também influenciam o acto de

acomodar, originando os espasmos de acomodação.

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Page 12: Trabalho

4 – Bibliografia

Livros consultados:

MILLODOT, Michel – Dictionary of Optometry, 2ª edição, Butterworths,

1990.

Michaels DD – Accommodation, Vergences, and Heterophorias,

eds. Visual Optics and Refraction, 3rd ed. St. Louis: C.V. Mosby, 1985.

SAUDE, Trygve – Ocular Anatomy and Physiology , Blackwell Scientific

Publications, Oxford, 1993.

SÁ, Luís, PLUTT, Mauro – Acomodação, Sociedade brasileira de

oftalmologia Pediátrica, edição 64, páginas 481-3, 2001.

CLARA, Maria de Jesus – Anatomia e Fisiologia Ocular, Sebenta da

disciplina, Universidade da Beira Interior, 2005/2006.

Páginas da Internet consultadas

www.encyklopedia.inaczej.info/pt/wiki/

Imagem:Schematic_diagram_of_the_human_eye_pt.svg.html – último acesso

no dia 21 de Abril de 2008.

www.hsw.com.br/visao.htm – último acesso no dia 21 de Abril de 2008.

www.wikipedia.org – último acesso no dia 21 de Abril de 2008.

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