trabalhando os contos de monteiro lobato urupÊs-

3
TRABALHANDO OS CONTOS DE MONTEIRO LOBATO CONTOS: Urupês e Negrinha Publicado em 1918, livro de 14 contos. Apresenta a vida quotidiana e mundana do caboclo, seus costumes, crenças e tradições. Região do Vale do Paraíba. Urupês não contém uma única história, mas vários contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com várias histórias, geralmente de final trágico e algum elemento cômico. O último conto, Urupês, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo típico e preguiçoso, no seu comportamento típico. No mais, as histórias contam de pessoas típicas da região, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes. Atenção : com o centenário de Mazzaropi é interessante fazer um paralelo da figura do Jeca Tatu apresentada na obra Urupês e o personagem de Mazzaropi: O Caipira. Monteiro Lobato apresenta traço e expressionistas quando descreve seus personagens-outro ponto relevante para ser apontado.O que é traço expressionista na descrição?é a deformação da realidade ao descrever (na descrição das personagens Lobato utiliza técnicas expressionistas que as deformam, quando se dedica a caracterizar a natureza passa a vazar metáforas de bela plasticidade que em vários pontos lembra a idealização romântica. Afasta-se, no entanto, dessa escola literária por utilizar uma linguagem mais simples, arejada, moderna). Lobato utiliza constantemente a ironia, o que revela uma emotividade extremamente carregada, fruto de um misto de indignação, impaciência e até intolerância ao enxergar os problemas brasileiros e como eles são provocados pela lassidão, fraqueza e indolência do caráter de nosso povo. A linguagem lobateana antecipa o Modernismo, já que não apresenta a elaboração rebuscada então vigente em sua época (Monteiro Lobato criticou ferozmente a moda parnasianista de elaboração preciosista e purista da linguagem. = exemplo : apresentação do personagem de caráter preguiçoso ,indolente que quer se dar bem pode ser colocado em paralelo com Macunaíma a obra modernista de Mario de Andrade. Suas idéias combativas aparecem até mesmo em trechos que podem ser entendidos como pequenas digressões dentro das narrativas de diversos contos deUrupês). um estilo mais simples, prático, direto, sem elucubrações lingüísticas, chega até mesmo a aproveitar o andamento coloquial brasileiro dentro de sua narrativa, o que o torna embrião de feitos vistos em obras importantíssimas do Primeiro Tempo Modernista. Em Urupês faz uma crítica das mais ferozes que já se fez sobre qualquer tipo nacional até o seu tempo. O alvo de seu ataque é o caboclo. Derrubando uma tradição cara, inaugurada por José de Alencar, que apontava como a mestiçagem do índio com o branco como geradora de uma nação forte, Lobato crê no contrário. Sua

Upload: anna-vaz-boechat

Post on 26-Jul-2015

212 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

ANÁLISE DOS CONTOS DE MONTEIRO LOBATO URUPÊS E NEGRINHA

TRANSCRIPT

Page 1: Trabalhando Os Contos de Monteiro Lobato URUPÊS-

TRABALHANDO OS CONTOS DE MONTEIRO LOBATOCONTOS: Urupês e Negrinha

Publicado em 1918, livro de 14 contos. Apresenta a vida quotidiana e mundana do caboclo, seus costumes, crenças e tradições. Região do Vale do Paraíba. Urupês não contém uma única história, mas vários contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha

de Itaoca, no interior de SP, com várias histórias, geralmente de final trágico e algum elemento cômico. O último conto, Urupês, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo típico e preguiçoso, no seu

comportamento típico. No mais, as histórias contam de pessoas típicas da região, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes.  

Atenção : com o centenário de Mazzaropi é interessante fazer um paralelo da figura do Jeca Tatu apresentada na obra Urupês e o personagem de Mazzaropi: O Caipira.

Monteiro Lobato apresenta traço e expressionistas quando descreve seus personagens-outro ponto relevante para ser apontado.O que é traço expressionista na descrição?é a deformação da realidade ao descrever (na descrição das personagens Lobato utiliza técnicas expressionistas que as deformam, quando se dedica a caracterizar a natureza passa a vazar metáforas de bela plasticidade que em vários pontos lembra a idealização romântica. Afasta-se, no entanto, dessa escola literária por utilizar uma linguagem mais simples, arejada, moderna).

Lobato utiliza constantemente a ironia, o que revela uma emotividade extremamente carregada, fruto de um misto de indignação, impaciência e até intolerância ao enxergar os problemas brasileiros e como eles são provocados pela lassidão, fraqueza e indolência do caráter de nosso povo.

A linguagem lobateana antecipa o Modernismo, já que não apresenta a elaboração rebuscada então vigente em sua época (Monteiro Lobato criticou ferozmente a moda parnasianista de elaboração preciosista e purista da linguagem. = exemplo : apresentação do personagem de caráter preguiçoso ,indolente que quer se dar bem pode ser colocado em paralelo com Macunaíma a obra modernista de Mario de Andrade.

Suas idéias combativas aparecem até mesmo em trechos que podem ser entendidos como pequenas digressões dentro das narrativas de diversos contos deUrupês).

um estilo mais simples, prático, direto, sem elucubrações lingüísticas, chega até mesmo a aproveitar o andamento coloquial brasileiro dentro de sua narrativa, o que o torna embrião de feitos vistos em obras importantíssimas do Primeiro Tempo Modernista.

Em Urupês faz uma crítica das mais ferozes que já se fez sobre qualquer tipo nacional até o seu tempo. O alvo de seu ataque é o caboclo. Derrubando uma tradição cara, inaugurada por José de Alencar, que apontava como a mestiçagem do índio com o branco como geradora de uma nação forte, Lobato crê no contrário. Sua teoria institui a tese do caboclismo, ou seja, a mistura de raças gera um tipo fraco, indolente, preguiçoso, passivo.

Aponta a superstição do povo simples brasileiro que mostra costumes medicinais incoerentes deformado pela crença mágica e superticiosa.

O personagem vota sem consciência, conduzido pelo maioral das terras em que mora.(caráter interessante em um período em que estamos vivendo! Fazer uma comparação deste traço é importante!

Seu mobiliário é o mais escasso possível, havendo, no máximo, apenas um banquinho (de três pernas, o que poupa o trabalho de nivelamento) para as visitas. Não tem sequer senso estético, coisa que até o homem das cavernas possuía. E quanto à produção, dedica-se apenas a colher o que a natureza oferece. É, portanto, o protótipo de tudo quanto há de atrasado no país.

Em Neginha = os personagens são apresentados sob o olhar do narrador;por isso há poucos trechos com a fala dos personagens;

Em Negrinha: Lobato preocupa-se em começar descrevendo personagem negrinha e Dona Inácia.ATENÇÃO: é importante ficar atento para estas características!Lobato usa a característica das duas personagens para fazer uma comparação, como uma estratégia: fazer com que o leitor desaprove as atitudes de Dona Inácia e se penalize com a Negrinha.

A Negrinha:magra , faminta e castigada/ Dona Inácia: gorda , rica e “dona do mundo”

Page 2: Trabalhando Os Contos de Monteiro Lobato URUPÊS-

O conto Negrinha, escrito em 1920, durante a transição do Pré-Modernismo para o Modernismo, relata a história de uma pobre órfã negra, filha de escrava, que é criada por Dona Inácia, uma senhora da aristocrata dona de uma fazenda viúva e sem filhos, inconformada com a abolição da escravatura, conservando a menina unicamente para extravasar à sua crueldade, aplicando na criança os mais severos maus tratos, tantos verbais (xingamentos, ordens duras e palavras rudes) por como físicos (beliscões, tapas e “crocres”, etc), sendo seu “brinquedinho”..

É importante: fazer um paralelo da condição dos negros no período; a questão da escravidão no Brasil. Em 1920, Monteiro Lobato (1882-1948) publicava o conto Negrinha no livro do mesmo nome. Embora distante três décadas da proclamação da República e da extinção da escravidão, o Brasil ainda vivia efeitos da transição da Monarquia para a República e do trabalho escravo para o trabalho livre.O país, que até então tinha sua estrutura social baseada no meio rural e a estrutura econômica dependente da mão de obra escrava, passava por inúmeras transformações. A indústria começava a se desenvolver e o processo de urbanização avançava. O Brasil modernizava-se, mas o preconceito racial contra aqueles que tinham a pele negra ou parda, antigos escravos e seus descendentes, permanecia o mesmo.

Sensível observador, Lobato denunciou, em momentos de suas obras, a desigualdade entre brancos e negros, herança do escravismo. O conto Negrinha é um desses momentos. Com personagens que representam a população brasileira das décadas iniciais do século XX, Lobato expõe a mentalidade escravocrata que ainda persiste tempos depois da abolição. O uso da metáforização nos contos, por exemplo: O Cuco: metáfora do tempo, que aparece no conto como um elemento que traz fantasia para Negrinha, quando ele apitava as horas. No final, o cuco aparece mais uma vez, alertando que o tempo de Negrinha na terra estava se esvaindo.