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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO C. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL “Impõe-se repelir, por inaceitáveis, discursos judiciais consubstanciados em tópicos sentenciais meramente retóricos, eivados de generalidade, destituídos de fundamentação substancial e reveladores, muitas vezes, de linguagem típica dos partidários do “direito penal simbólico” ou, até mesmo, do “direito penal do inimigo”, e que, manifestados com o intuito de decretar indevidas prisões cautelares ou de proceder a inadequadas exacerbações punitivas, culminam por vulnerar, gravemente, os grandes princípios liberais consagrados pela ordem democrática na qual se estrutura o Estado de Direito, expondo, com esse comportamento, uma inadmissível visão autoritária e nulificadora do regime das liberdades fundamentais em nosso País.” (STF – HC 132.615/SP, Relator Min. Celso de Mello) Distribuição por Prevenção ao Exmo. Sr. Dr. Ministro Teori Zavascki - Operação Lava Jato Os impetrantes MARIA FRANCISCA ACCIOLY e DANIEL LAUFER, brasileiros, casados, advogados 1 devidamente inscritos na 1 PROCURAÇÃO – DOC. 01 ANEXO Impresso por: 032.156.371-97 HC 138207 Em: 25/04/2017 - 17:53:09

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO C.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

“Impõe-se repelir, por inaceitáveis, discursos judiciais consubstanciados em tópicos sentenciais meramente retóricos, eivados de generalidade, destituídos de fundamentação substancial e reveladores, muitas vezes, de linguagem típica dos partidários do “direito penal simbólico” ou, ate mesmo, do “direito penal do inimigo”, e que, manifestados com o intuito de decretar indevidas prisões cautelares ou de proceder a inadequadas exacerbações punitivas, culminam por vulnerar, gravemente, os grandes princípios liberais consagrados pela ordem democrática na qual se estrutura o Estado de Direito, expondo, com esse comportamento, uma inadmissível visão autoritária e nulificadora do regime das liberdades fundamentais em nosso País.” (STF – HC 132.615/SP, Relator Min. Celso de Mello)

Distribuição por Prevenção ao

Exmo. Sr. Dr. Ministro Teori Zavascki - Operação Lava Jato

Os impetrantes MARIA FRANCISCA ACCIOLY e

DANIEL LAUFER, brasileiros, casados, advogados1 devidamente inscritos na

1 PROCURAÇÃO – DOC. 01 ANEXO

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Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Paraná, sob os números 44.119 e

32.484 respectivamente, ambos com escritório profissional na cidade de

Curitiba/PR, vêm respeitosamente à presença de Vossa Excelência impetrar

a presente

ordem de HABEAS CORPUS com pedido liminar

em favor de FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX

DE MOURA, brasileiro, portador da CIRG nº 4277934/SP, inscrito no CPF

sob o nº 000.621.148-83, atualmente recolhido no Complexo Médico Penal

em Curitiba/PR, em razão de constrangimento ilegal oriundo de decisão

exarada pela 5ª Turma do E. Superior Tribunal de Justiça que entendeu,

após voto do relator, o Exmo. Ministro Félix Fischer, por unanimidade, por

não conceder o recurso Ordinário em Habeas Corpus n. 76026/PR, com o

que foi ratificado o decreto ilegal de prisão preventiva do paciente havido

nos autos da ação penal sob n. 5045241-84.2015.4.04.7000, da 13a Vara

Federal de Curitiba/PR, sem motivos fáticos ou jurídicos que autorizem a

segregação cautelar.

Os impetrantes se fundamentam no artigo 5º, inciso

LXVIII, da Constituição Federal bem como nos artigos 647 e 648, inciso I e

III, do Código de Processo Penal.

Nestes termos, pedem deferimento. De Curitiba/PR para Brasília/DF, 26 de outubro de 2016.

DANIEL LAUFER MARIA FRANCISCA ACCIOLY OAB/PR 32.484 OAB/PR 44.119

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EXCELSO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

EXMO. SR. DOUTOR MINISTRO RELATOR

DOUTA PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA

Ementa do pedido: 1. Prisão preventiva decretada em sentença condenatória que não atende aos requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal bem como agride garantias constitucionais. 2. Quebra de acordo de colaboração premiada como fundamento do decreto prisional. 3. Possibilidade de substituição da prisão por medidas alternativas previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.

1. SÍNTESE DOS FATOS

1.1. Como já é de largo conhecimento de Vossas

Excelências, perante o d. Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR está em

curso a denominada operação “Lava Jato”.

1.2. No que toca ao paciente, a pedido da autoridade

policial e do Ministério Público, foi decretada a sua prisão preventiva em

27/07/20152 ao seguinte argumento:

2 Ev. 10 do processo 5031859-24.2015.4.04.7000 – DOC. 02 ANEXO

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“RECEBERIAM PROPINAS DIRIGENTES DA DIRETORIA DE ABASTECIMENTO, DA DIRETORIA DE ENGENHARIA OU SERVIÇOS E DA DIRETORIA INTERNACIONAL, ESPECIALMENTE PAULO ROBERTO COSTA, RENATO DE SOUZA DUQUE E NESTOR CUÑAT CERVERÓ. SURGIRAM, PORÉM, ELEMENTOS PROBATÓRIOS DE QUE O CASO TRANSCENDE A CORRUPÇÃO - E LAVAGEM DECORRENTE - DE AGENTES DA PETROBRÁS, SERVINDO O ESQUEMA CRIMINOSO

PARA TAMBÉM CORROMPER AGENTES POLÍTICOS E FINANCIAR, COM RECURSOS PROVENIENTES DO CRIME, PARTIDOS POLÍTICOS. (...) MILTON PASCOWITCH REVELOU EM SEUS DEPOIMENTOS QUE INTERMEDIAVA O PAGAMENTO DE PROPINAS DA EMPRESA ENGEVIX ENGENHARIA À DIRETORIA DE SERVIÇOS E ENGENHARIA DA PETROBRÁS, COMANDADA POR RENATO DUQUE. UTILIZAVA, PARA TANTO, PRINCIPALMENTE A EMPRESA JAMP ENGENHEIROS ASSOCIADOS LTDA., DE SUA TITULARIDADE (DE MILTON) E DE SEU IRMÃO JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, OBTENDO OS REPASSES DA ENGEVIX MEDIANTE CONTRATOS SIMULADOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE CONSULTORIA E ASSESSORIA. OS PAGAMENTOS ERAM DIRECIONADOS A PEDRO BARUSCO, RENATO DUQUE E AO GRUPO POLÍTICO RESPONSÁVEL PELA NOMEAÇÃO E SUSTENTAÇÃO DELE, ENTRE ELES JOSÉ DIRCEU E PESSOAS A ESTE ASSOCIADAS, COMO FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA, ROBERTO MARQUES E LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA. (...) RELATIVAMENTE AOS REFERIDOS PAGAMENTOS DE PROPINA A FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA, ASSOCIADO DE JOSÉ DIRCEU, MILTON PASCOWITCH DECLAROU QUE FEZ OS REPASSES EM PARTE POR MEIO DE TRANSFERÊNCIAS A CONTA DE FAMILIARES, SIMULANDO TRATAREM-SE DE DOAÇÕES. O IRMÃO DE MILTON, JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, ASSOCIADO NO EMPREENDIMENTO DELITUOSO, DECLAROU AS DOAÇÕES EM SUAS DECLARAÇÕES DE RENDIMENTO À RECEITA FEDERAL (FLS. 63-64 DA REPRESENTAÇÃO). SEGUNDO CONSTA NA DECLARAÇÃO DE RENDIMENTO APRESENTADA POR JOSÉ ADOLFO, NO ANO DE 2009, CONSTAM DOAÇÕES DE R$ 232.000,00 A LIVIA HOURNEAU MOURA (FILHA), DE R$ 600.400,00 A ANITA ERBELLA HOURNEAUX DE MOURA, DE R$ 241.500,00 A LEONARDO ERBELLA HOURNEAUX DE MOURA E DE R$ 115.000,00 A THIAGO COTROFE HOURNEAUX DE MOURA. CONSTAM DOAÇÕES, EM 2010, DE R$ 439.296,55 A LIVIA ERBELLA HOURNEAU MOURA (FILHA), DE R$ 127.380,16 A ANITA ERBELLA HOURNEAUX DE MOURA, DE R$ 292.497,70 A OLAVO HOURNEAUX MOURA FILHO (IRMÃO), DE R$ 477.503,27 A LEONARDO ERBELLA HOURNEAUX DE MOURA E DE R$ 129.880,63 A THIAGO COTROFE HOURNEAUX DE MOURA. TAIS DOCUMENTOS ENCONTRAM-SE NO EVENTO 1, OUT37, P. 3-4). TAMBÉM

APRESENTADOS OS COMPROVANTES DE RECOLHIMENTOS DE TRIBUTOS ESTADUAIS SOBRE AS DOAÇÕES. TAMBÉM COMPROVADA A LIGAÇÃO DE MILTON A FERNANDO MOURA POR DIVERSOS REGISTROS DE LIGAÇÕES TELEFÔNICAS ENTRE AMBOS E AINDA ENTRE MILTON E OLAVO MOURA (FLS. 64-69 DA REPRESENTAÇÃO). (...) TODOS ESSES ELEMENTOS PROBATÓRIOS QUE INCLUEM OS DEPOIMENTOS DE MILTON PASCOWITCH, OS DIVERSOS DOCUMENTOS POR ELE APRESENTADOS, E OS CONTRATOS E PAGAMENTOS DAS EMPREITEIRAS À EMPRESA DE CONSULTORIA DE JOSÉ DIRCEU, SÃO SUFICIENTES, NESSA FASE, PARA CONCLUIR PELA PRESENÇA DE BOA PROVA DA MATERIALIDADE DE CRIMES DE CORRUPÇÃO E DE LAVAGEM DE DINHEIRO, ESPECIFICAMENTE QUE JOSÉ DIRCEU

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DE OLIVEIRA E SILVA FOI BENEFICIÁRIO DE PARTE DAS PROPINAS PAGAS POR EMPREITEIRAS À DIRETORIA DE SERVIÇOS E ENGENHARIA DA PETROBRÁS, TENDO AINDA UTILIZADO CONTRATOS SIMULADOS DE CONSULTORIA PARA ACOBERTAR PARTE DOS PAGAMENTOS, ALÉM DE OUTROS EXPEDIENTES SUBREPTÍTICIOS. TAMBÉM PRESENTE SUFICIENTE PROVA DE AUTORIA EM RELAÇÃO AO ASSOCIADO DELE, FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA, CONSIDERANDO OS REPASSES DOCUMENTADOS FEITOS A ELE POR MILTON PASCOWITCH E SEU IRMÃO. (...) RESTA ANALISAR A PRESENÇA DOS FUNDAMENTOS. NA ASSIM DENOMINADA OPERAÇÃO LAVAJATO, ESTE JUÍZO TEM COTIDIAMENTE SE DEPARADO COM UM QUADRO, EM COGNIÇÃO SUMÁRIA, DE CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO SISTÊMICAS. EM SÍNTESE, NA OPERAÇÃO LAVAJATO, HÁ INDÍCIOS DA PRÁTICA SISTEMÁTICA E HABITUAL DE CRIMES DE CARTEL, DE FRAUDE À LICITAÇÃO, DE CORRUPÇÃO E DE LAVAGEM DE DINHEIRO. GRANDES EMPREITEIRAS DO PAÍS SE REUNIAM, ACERTAVAM ENTRE ELAS OS RESULTADOS DAS LICITAÇÕES DA PETROBRAS, FRAUDAVAM AS LICITAÇÕES PARA QUE A EMPRESA PREVIAMENTE DEFINIDA GANHASSE O CERTAME E IMPUSESSE O SEU PREÇO NAS OBRAS, PAGAVAM, EM CADA GRANDE CONTRATO DA PETROBRÁS, PROPINAS DIRIGIDAS A DIRETORES E EMPREGADOS DA PETROBRAS E A AGENTES PÚBLICOS, COMO PARLAMENTARES OU, COMO NO CASO, EX-PARLAMENTAR. O ESQUEMA CRIMINOSO FOI REVELADO, EM DETALHES, EM DEPOIMENTOS PRESTADOS POR DIVERSOS CRIMINOSOS COLABORADORES, COMO PAULO ROBERTO COSTA, PEDRO BARUSCO, ALBERTO YOUSSEF, AUGUSTO RIBEIRO, JULIO GERIN CAMARGO E DALTON AVANCINI, ALÉM DE ENCONTRAR APOIO EM SIGNIFICATIVA PROVA DOCUMENTAL E NO DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS. HÁ, AINDA, FUNDADA SUSPEITA DE QUE O ESQUEMA CRIMINOSO VAI MUITO ALÉM DA PETROBRÁS. PEDRO BARUSCO, EX-GERENTE EXECUTIVO DA ÁREA DE ENGENHARIA DA PETROBRÁS E TAMBÉM COLABORADOR, JÁ DECLAROU QUE O ESQUEMA CRIMINOSO FOI REPRODUZIDO NA SETEBRASIL E JÁ HÁ ALGUMA PROVA DE CORROBORAÇÃO NESSE SENTIDO. RECENTEMENTE, O PRÓPRIO EX-PRESIDENTE DA EMPRESA, JOÃO CARLOS FERRAZ, ADMITIU PUBLICAMENTE TER RECEBIDO PROPINA MILIONÁRIA EM CONTRATOS DA SETEBRASIL (HTTP://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/PODER/2015/07/1657828-EM-CARTA-EX-PRESIDENTE-DA-SETE-BRASIL-ADMITE-TER-RECEBIDO-PROPINA.SHTML) PAULO ROBERTO COSTA DECLAROU EM JUÍZO QUE A MESMA CARTELIZAÇÃO DA GRANDES

EMPREITEIRAS, COM A MANIPULAÇÃO DE LICITAÇÕES, OCORRERIA NO PAÍS INTEIRO. DALTON DOS SANTOS AVANCINI, EX-PRESIDENTE DA CAMARGO CORREA, DECLAROU QUE O MESMO ESQUEMA CRIMINOSO FOI REPRODUZIDO NA ELETROBRAS TERMONUCLEAR - ELETRONUCLEAR, INCLUSIVE RELATANDO ACORDOS PARA PAGAMENTOS DE PROPINA NO SEGUNDO SEMESTRE DE 2014, QUANDO AS INVESTIGAÇÕES DA ASSIM DENOMINADA OPERAÇÃO LAVAJATO JÁ HAVIAM SE TORNADO NOTÓRIAS (TERMO DE DEPOIMENTO Nº 06, PROCESSO 5013949-81.2015.404.7000). O MESMO DALTON AVANCINI, EM SEU ACORDO DE COLABORAÇÃO, TAMBÉM REVELOU ACORDOS DE PAGAMENTOS DE PROPINA ENVOLVENDO A CAMARGO CORREA, A ANDRADE GUTIERREZ E A ODEBRECHT NOS CONTRATOS DE CONSTRUÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE BELO

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MONTE (PROCESSO 5013949-81.2015.404.7000, TERMO DE DEPOIMENTO Nº 09, CÓPIA NO EVENTO 25, OUT33). HÁ, PORTANTO, VÁRIOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS QUE APONTAM PARA UM QUADRO DE CORRUPÇÃO SISTÊMICA, NOS QUAIS AJUSTES FRAUDULENTOS PARA OBTENÇÃO DE CONTRATOS PÚBLICOS E O PAGAMENTO DE PROPINAS A AGENTES PÚBLICOS, BEM COMO O RECEBIMENTO

DELAS POR ESTES, PASSARAM A SER PAGAS COMO ROTINA E ENCARADAS PELOS PARTICIPANTES COMO A REGRA DO JOGO, ALGO NATURAL E NÃO ANORMAL. NEM MESMO A NOTORIEDADE DAS INVESTIGAÇÕES DA OPERAÇÃO LAVAJATO, COM PRISÕES CAUTELARES DE DIRIGENTES DA PETROBRÁS E DAS EMPREITEIRAS ENVOLVIDAS, PARECE TER SIDO SUFICIENTE PARA FREAR O IMPULSO CRIMINOSO, CONSIDERANDO OS RELATOS DE DALTON AVANCINI ACIMA REFERIDOS, BEM COMO O PAGAMENTO POR EMPREITEIRAS ENVOLVIDAS NO ESQUEMA CRIMINOSO DE VALORES A JD ASSESSORIA AINDA DURANTE 2013 E 2012, ENTRE ELAS A UTC ENGENHARIA ATÉ OUTUBRO DE 2014. EM UM CONTEXTO DE CRIMINALIDADE DESENVOLVIDA DE FORMA HABITUAL, PROFISSIONAL E SOFISTICADA, NÃO HÁ COMO NÃO RECONHECER A PRESENÇA DE RISCO À ORDEM PÚBLICA, A JUSTIFICAR A PRISÃO PREVENTIVA PARA INTERROMPER O CICLO DELITIVO. EMBORA AS PRISÕES CAUTELARES DECRETADAS NO ÂMBITO DA OPERAÇÃO LAVAJATO RECEBAM PONTUALMENTE CRÍTICAS, O FATO É QUE, SE A CORRUPÇÃO É SISTÊMICA E PROFUNDA, IMPÕE-SE A PRISÃO PREVENTIVA PARA DEBELÁ-LA, SOB PENA DE AGRAVAMENTO PROGRESSIVO DO QUADRO CRIMINOSO. SE OS CUSTOS DO ENFRENTAMENTO HOJE SÃO GRANDES, CERTAMENTE SERÃO MAIORES NO FUTURO. IMPOR A PRISÃO PREVENTIVA EM UM QUADRO DE FRAUDES A LICITAÇÕES, CORRUPÇÃO E LAVAGEM SISTÊMICA É APLICAÇÃO ORTODOXA DA LEI PROCESSUAL PENAL (ART. 312 DO CPP). EXCEPCIONAL NO PRESENTE CASO NÃO É A PRISÃO CAUTELAR, MAS O GRAU DE DETERIORAÇÃO DA COISA PÚBLICA REVELADA PELO PROCESSO, COM PREJUÍZOS JÁ ASSUMIDOS DE CERCA DE SEIS BILHÕES DE REAIS SOMENTE PELA PETROBRÁS E A POSSIBILIDADE, SEGUNDO INVESTIGAÇÕES EM CURSO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DE QUE OS DESVIOS TENHAM SIDO UTILIZADOS PARA PAGAMENTO DE PROPINA A DEZENAS DE PARLAMENTARES. TUDO ISSO A RECLAMAR, INFELIZMENTE, UM REMÉDIO AMARGO, COMO BEM PONTUOU O EMINENTE MINISTRO NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO) NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: "NOS ÚLTIMOS 20 (VINTE) ANOS, NENHUM FATO RELACIONADO À CORRUPÇÃO E À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, NEM MESMO O FAMIGERADO “MENSALÃO”, CAUSOU TANTA INDIGNAÇÃO, TANTA “REPERCUSSÃO DANOSA E PREJUDICIAL AO MEIO SOCIAL ”, QUANTO ESTES

SOB INVESTIGAÇÃO NA OPERAÇÃO “LAVA JATO” – INVESTIGAÇÃO QUE A CADA DIA REVELA NOVOS ESCÂNDALOS." (HC 315.158/PR) A DIMENSÃO EM CONCRETA DOS FATOS DELITIVOS - JAMAIS A GRAVIDADE EM ABSTRATO - TAMBÉM PODE SER INVOCADA COMO FUNDAMENTO PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. NÃO SE TRATA DE ANTECIPAÇÃO DE PENA, NEM MEDIDA DA ESPÉCIE É INCOMPATÍVEL COM UM PROCESSO PENAL ORIENTADO PELA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. (...) A ESSE RESPEITO, MERECE IGUALMENTE LEMBRANÇA O CONHECIDO PRECEDENTE DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL NO HC 80.717-8/SP, QUANDO MANTIDA A PRISÃO CAUTELAR DO ENTÃO JUIZ TRABALHISTA NICOLAU DOS SANTOS NETO, EM ACÓRDÃO DA LAVRA DA EMINENTE MINISTRA ELLE GRACIE NORTHFLEET. (...)

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EMBORA AQUELE CASO SE REVESTISSE DE CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS, O MESMO PODE SER DITO PARA O PRESENTE, SENDO, ALIÁS, OS DANOS DECORRENTES DOS CRIMES EM APURAÇÃO MUITO SUPERIORES AQUELES VERIFICADOS NO PRECEDENTE CITADO. NECESSÁRIA, PORTANTO, A PRISÃO PREVENTIVA PARA PROTEÇÃO DA ORDEM PÚBLICA, EM VISTA DA GRAVIDADE EM CONCRETO DOS CRIMES EM APURAÇÃO E DA NECESSIDADE DE

PREVENIR A SUA REITERAÇÃO, JÁ QUE O ESQUEMA CRIMINOSO SEQUER SE RESTRINGIU À PETROBRÁS. TAL RISCO NÃO FOI ELIMINADO PELO FATO DO INVESTIGADO JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA TER, NO DECORRER DO PRESENTE ANO E APÓS À DIVULGAÇÃO DA NOTÍCIA DE QUE ESTARIA SENDO INVESTIGADO NA OPERAÇÃO LAVAJATO, ENCERRADO AS ATIVIDADES DA JD ASSESSORIA E CONSULTORIA LTDA., JÁ QUE AS PROVAS SÃO NO SENTIDO DE QUE ELE TERIA RECEBIDO APENAS PARTE DA PROPINA POR INTERMÉDIO DE SIMULAÇÃO DE CONTRATOS DE CONSULTORIA DA REFERIDA EMPRESA, ENQUANTO OUTRA PARTE FOI RECEBIDA SUBREPTICIAMENTE CONFORME DESCRIÇÕES DETALHADAS E, NO QUE FOI POSSÍVEL DOCUMENTADAS, DE MILTON PASCOWITCH. TRATANDO-SE AINDA, DE PROPINAS MILIONÁRIAS E NÃO TENDO HAVIDO AINDA A IDENTIFICAÇÃO COMPLETA DE SEU DESTINO FINAL, PERSISTE O RISCO DE QUE OS GANHOS SEJAM LAVADOS OU DISSIPADOS NO CURSO DAS INVESTIGAÇÕES OU DA AÇÃO PENAL, AFETANDO AS CHANCES DE SEQUESTRO E CONFISCO. O APELO À ORDEM PÚBLICA, SEJA PARA PREVENIR NOVOS CRIMES, SEJA EM DECORRÊNCIA DE GRAVIDADE EM CONCRETA DOS CRIMES PRATICADOS, JÁ BASTARIA À MANUTENÇÃO DA PREVENTIVA. (...) 3. ANTE O EXPOSTO, DEFIRO PARCIALMENTE O REQUERIDO E DECRETO, COM BASE NO ARTIGO 312 DO CPP E EM VISTA DOS RISCOS À ORDEM PÚBLICA, A PRISÃO PREVENTIVA DE: 1) JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA; 2) FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA.”

1.3. Como fruto da investigação levada a efeito pela

Polícia Federal e Ministério Público Federal o paciente acabou denunciado3

criminalmente nos autos de ação penal n. 5045241-84.2015.4.04.7000,

sendo-lhe imputada a prática dos delitos de corrupção ativa, lavagem de

dinheiro e pertencimento a organização criminosa. Tão logo iniciada a

instrução processual o paciente celebrou acordo de colaboração premiada

3 DENÚNCIA – DOC. 03 ANEXO.

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com o Ministério Público Federal (processo 5045962-36.2015.4.04.70004) e

foi colocado em liberdade na data de 02/11/2015.

1.4. Uma vez finda a instrução processual e passados

06 meses em liberdade, sem causar quaisquer transtornos à Justiça ou

mesmo cometer novos delitos, o d. Magistrado de primeiro grau, em sede

de sentença condenatória 5 , entendeu por bem decretar nova prisão

preventiva do paciente, pois TERIA QUEBRADO O ACORDO DE DELAÇÃO

PREMIADA e, por isso, deveria ter sua liberdade cerceada:

“(...) 922. EXAMINO A SITUAÇÃO DE FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA. A PEDIDO DA AUTORIDADE POLICIAL E DO MINISTÉRIO PÚBLICO, FOI DECRETADA A PRISÃO PREVENTIVA DELE TAMBÉM NA DECISÃO DE 27/07/2015, EVENTO 10, DO PROCESSO 5031859-24.2015.4.04.7000 EM VISTA DOS RISCOS DA ORDEM PÚBLICA. A PEDIDO DO MPF E EM DECORRÊNCIA DO ACORDO DE COLABORAÇÃO, A PRISÃO PREVENTIVA FOI REVOGADA EM 02/11/2015. 923. HÁ QUEM, EQUIVOCADAMENTE, INTERPRETE A DECRETAÇÃO DA PREVENTIVA SEGUIDA DA REVOGAÇÃO APÓS O ACORDO UM INDICATIVO DE QUE PRISÃO CAUTELAR ESTARIA SENDO

UTILIZADA PARA FORÇAR CONFISSÃO E COLABORAÇÃO. NADA MAIS ERRADO. DECRETA-SE A PRISÃO PREVENTIVA, A PEDIDO, QUANDO PRESENTES OS REQUISITOS LEGAIS DO ART. 312 DO CPP, BOA PROVA DE AUTORIA E MATERIALIDADE CONJUGADA COM ALGUM RISCO, COMO DE REITERAÇÃO DELITIVA EM UM CONTEXTO DE CORRUPÇÃO SISTÊMICA. NÃO OBSTANTE, A CELEBRAÇÃO, DEPOIS DA PRISÃO CAUTELAR, TEM O EFEITO PRÁTICO DE USUALMENTE ESVAZIAR OS RISCOS QUE LEVARAM À DECRETAÇÃO DA MEDIDA. COM EFEITO, POR EXEMPLO, SE A PRISÃO CAUTELAR É DECRETADA PARA EVITAR A RISCO À INSTRUÇÃO, É DIFÍCIL MANTÊ-LA APÓS CONFISSÃO E COLABORAÇÃO. MESMO SE DECRETADA APÓS RISCO À ORDEM PÚBLICA, A COLABORAÇÃO PODE EVENTUALMENTE ESVAZIAR O RISCO, JÁ QUE REPRESENTA O ROMPIMENTO PELO PRESO DE SEU PACTO COM A ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA, ESVAZIANDO OU DIMINUINDO AS CHANCES DE REITERAÇÃO. (...).

4 Autos que tramitam em sigilo e que, por este motivo, não são apresentados integralmente em anexo a esta ordem de Habeas Corpus. Apenas os anexos tornados públicos pela d. Autoridade Coatora (ev. 74 dos autos de ação penal n. 5045241-84.2015.404.7000) são aqui apresentados em anexo. 5 SENTENÇA CONDENATÓRIA DE 1º GRAU – DOC. 04 ANEXO

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924. NO CASO PRESENTE, TENDO SIDO SOLTO FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX PELO ESVAZIAMENTO DO RISCO À ORDEM PÚBLICA EM DECORRÊNCIA DA COLABORAÇÃO, COM O RECONHECIMENTO, PELO MPF E NA SENTENÇA, DA VIOLAÇÃO, POR ELE, DO ACORDO, DEVE SER RESTABELECIDO O STATUS QUO ANTE, OU SEJA RENOVADA A PRISÃO. 925. NESSA FASE, PELA CONDENAÇÃO POR CRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA, LAVAGEM E

PERTINÊNCIA A GRUPO CRIMINOSO, HÁ CERTEZA DA PRÁTICA DOS CRIMES, AINDA QUE A SENTENÇA ESTEJA SUJEITA A RECURSOS, NÃO SE TRATANDO MAIS DE CONCLUSÃO COM BASE EM COGNIÇÃO SUMÁRIA. 926. ADEMAIS, ALÉM DO RISCO À ORDEM PÚBLICA, VISLUMBRA-SE RISCO À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. HOUVE NO ACORDO PROMESSA DE DEVOLUÇÃO DO PRODUTO DO CRIME, DE CERCA DE CINCO MILHÕES DE REAIS, O QUE ATÉ O MOMENTO, APESAR DOS ALEGADOS ESFORÇOS, NÃO OCORREU. MAS, PRINCIPALMENTE, O PRÓPRIO CONDENADO, EM SEU INTERROGATÓRIO JUDICIAL, REVELOU QUE, EM MOMENTO ANTERIOR, DIANTE DE SEU RECEIO EM SER IMPLICADO NO ASSIM DENOMINADO ESCANDÂLO DO MENSALÃO, DEIXOU O BRASIL, FORAGINDO-SE NO EXTERIOR ENTRE 2005 E 2013, CONFORME CONFESSADO NOS ITENS 776 E 790, RETRO. 927. CONSIDERANDO O COMPORTAMENTO PROCESSUAL PRETÉRITO, HÁ UM RISCO CONCRETO DE QUE, DIANTE DA VIOLAÇÃO DO ACORDO E PELA NEGATIVA DE BENEFÍCIOS, VENHA NOVAMENTE REFUGIAR-SE NO EXTERIOR, JÁ QUE AGORA A PERSPECTIVA DE SOFRER SANÇÃO PENAL É MUITO MAIS CONCRETA DO QUE ANTERIORMENTE. PARA TANTO, DISPÕE O CONDENADO DOS MEIOS NECESSÁRIOS, POIS O PRODUTO DO CRIME SEQUER FOI DEVOLVIDO, ALÉM DAS CONEXÕES INTERNACIONAIS JÁ ESTABELECIDAS NA FUGA ANTERIOR. 928. ASSIM SENDO, FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA DEVERÁ RESPONDER PRESO CAUTELARMENTE EM EVENTUAL FASE RECURSAL, MOTIVO PELO QUAL COM BASE NOS ARTS. 312 E 387, §1, DO CPP, RESTABELEÇO E DECRETO A PRISÃO PREVENTIVA DELE. EXPEÇA-SE MANDADO PARA CUMPRIMENTO, CONSIGNANDO QUE A PRISÃO CAUTELAR FOI RESTABELECIDA E DECRETADA NA SENTENÇA, APONTANDO AINDA OS CRIMES DO ART. 317 DO CP, DO ART. 1O, DA LEI NO 9.613/1998 E DO ART. 2.O DA LEI N.O 12.850/2013. 929. TANTO NO CASO DE JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA COMO DE FERNANDO ANTÔNIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA NÃO VISLUMBRO MEDIDA CAUTELAR APTA A SUBSTITUIR DE FORMA EFICAZ A PRISÃO CAUTELAR, CONSIDERANDO SEU HISTÓRICO CRIMINAL, O FATO DE SER AINDA DESCONHECIDA A EXTENSÃO DE TODAS AS SUAS ATIVIDADES CRIMINAIS E O FATO DO PRODUTO DO CRIME NÃO TER SIDO AINDA RECUPERADO. QUANTO À FERNANDO, AGREGO QUE A MERA ENTREGA DO PASSAPORTE, NÃO PREVINE DE MANEIRA EFICAZ A FUGA, CONSIDERANDO A POROSIDADE DE NOSSAS FRONTEIRAS.

1.5. Ora, com todo o respeito, Eminentes Ministros,

no artigo 312 do Código de Processo Penal nem tampouco em qualquer

outra disposição normativa há a previsão legal de que eventual violação de

acordo de delação premiada seja motivo suficiente e automático para a

decretação de prisão preventiva.

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1010

1.6. Da decisão guerreada, pode-se extrair 3

conclusões: (i) o paciente foi preso por quebrar o acordo de delação

premiada (o que a defesa não admite e já interpôs o recurso correto para

ver restabelecer tal pacto), (ii) o paciente foi preso porque SUPOSTAMENTE

não teria pago a multa imposta no acordo e (iii) porque teria dito que teria

fugido do Brasil por conta do processo do mensalão que sequer ele fora

investigado. Em outras palavras, o paciente está com a sua liberdade

segregada como uma vingança do Estado, eis que teria ele mentido e

descumprido um pacto premiado. Assim, claramente se verificou que a

segregação cautelar era indevida, ilegal e desproporcional e que merecia

ser revista.

1.7. Desta determinação foi impetrado Habeas

Corpus perante o Tribunal Regional Federal da 4a Região e lá distribuído sob

n. 5029593-78.2016.4.04.0000. O E. Desembargador Relator, Dr. João

Pedro Gebran Neto, no que foi acompanhado pela unanimidade de seus

eminentes pares, entendeu que o decreto prisional aqui combatido

ostentaria fundamentação idônea e, por isso, além de outros motivos,

deveria ser mantido. O julgado foi assim ementado:

“'OPERAÇÃO LAVA-JATO'. HABEAS CORPUS. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. MOMENTO. ART. 387, § 1º DO CPP. PROVA DA MATERIALIDADE E DE AUTORIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS. CORRUPÇÃO. CARTEL DE LICITAÇÕES. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. LAVAGEM DE DINHEIRO. COMPLEXO ENVOLVIMENTO DO CRIMINOSO. ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA. REVOGAÇÃO. RESTAURAÇÃO DO STATUS QUO ANTE. 1. A PRISÃO PROVISÓRIA É MEDIDA RIGOROSA QUE, NO ENTANTO, SE JUSTIFICA NAS HIPÓTESES EM QUE PRESENTE A NECESSIDADE, REAL E CONCRETA, PARA TANTO. 2. PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA É IMPRESCINDÍVEL A PRESENÇA DO FUMUS

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1111

COMMISSI DELICTI, OU SEJA, PROVA DA EXISTÊNCIA DO CRIME E INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA, BEM COMO DO PERICULUM LIBERTATIS, RISCO À ORDEM PÚBLICA, À INSTRUÇÃO OU À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. 3. A COMPLEXIDADE E AS DIMENSÕES DAS INVESTIGAÇÕES RELACIONADAS COM A DENOMINADA 'OPERAÇÃO LAVA-JATO', OS REFLEXOS EXTREMAMENTE NOCIVOS

DECORRENTES DA INFILTRAÇÃO DE GRANDE GRUPO CRIMINOSO EM SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA FEDERAL, BEM COMO O DESVIO DE QUANTIAS NUNCA ANTES PERCEBIDAS, REVELA A NECESSIDADE DE RELEITURA DA JURISPRUDÊNCIA ATÉ ENTÃO INTOCADA, DE MODO A ESTABELECER NOVOS PARÂMETROS INTERPRETATIVOS PARA A PRISÃO PREVENTIVA, ADEQUADOS ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO E AO MEIO SOCIAL CONTEMPORÂNEO AOS FATOS. 4. HAVENDO PROVA DA PARTICIPAÇÃO DO PACIENTE EM CRIMES DE 'CORRUPÇÃO' E DE 'LAVAGEM DE CAPITAIS', TODOS RELACIONADOS COM FRAUDES EM CONTRATOS PÚBLICOS DOS QUAIS RESULTARAM VULTOSOS PREJUÍZOS A SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA E, NA MESMA PROPORÇÃO, EM SEU ENRIQUECIMENTO ILÍCITO E DE TERCEIROS, JUSTIFICA-SE A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, PARA A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA (STJ/HC Nº 302.604/RP, REL. MINISTRO NEWTON TRISOTTO, QUINTA TURMA, JULG. 24/11/2014). 5. AS PRISÕES PREVENTIVAS PODEM SER DECRETADAS EM QUALQUER MOMENTO, NA FASE DE INQUÉRITO, NO CURSO AÇÃO PENAL OU, AINDA, QUANDO PROFERIDA SENTENÇA, A TEOR DO ART. 387, § 1º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. 6. A LIBERDADE CONCEDIDA EM RAZÃO DE ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA NÃO ESVAZIA OS REQUISITOS E FUNDAMENTOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, MAS APENAS OS MINIMIZA, DIANTE DA CONCORDÂNCIA EXPRESSA DO COLABORADOR DE AUXILIAR NA APURAÇÃO DOS ILÍCITOS E DE SE SUBMETER À JURISDIÇÃO CRIMINAL. 7. REVOGADO O ACORDO DE COLABORAÇÃO, EXTINGUEM-SE OS BENEFÍCIOS E AS OBRIGAÇÕES AJUSTADAS ENTRE AS PARTES, PODENDO A PRISÃO PREVENTIVA SER RESTABELECIDA QUANDO AINDA PRESENTES OS REQUISITOS E PRESSUPOSTOS PARA TANTO. 8. A TEOR DO ART. 282, § 6º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, É INDEVIDA A APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS, QUANDO A SEGREGAÇÃO ENCONTRA-SE JUSTIFICADA NA PERICULOSIDADE SOCIAL DO DENUNCIADO, DADA A PROBABILIDADE EFETIVA DE CONTINUIDADE NO COMETIMENTO DA GRAVE INFRAÇÃO DENUNCIADA (RHC 50.924/SP, REL. MINISTRO JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJE 23/10/2014). 9. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA.”6

1.8. Com todo respeito, em razão de a decisão de

prisão preventiva do paciente ter sido decretada sem a existência dos

pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal, com

6 INTEIRO TEOR DO ACÓRDÃO PROFERIDO PELO TRF4 NOS AUTOS DE HABEAS CORPUS 5029593-78.2016.4.04.0000 - DOC. 05 ANEXO

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1212

fundamentação em argumentos retóricos, que afrontam a lei e a

jurisprudência brasileira, os impetrantes manejaram Recurso Ordinário em

Habeas Corpus perante o E. Superior Tribunal de Justiça.

1.9. Nada obstante, infelizmente o Tribunal da

Cidadania decidiu, em sessão realizada no dia 06 de outubro do corrente

ano, por denegar o recurso ordinário em Habeas Corpus7. O julgado foi

publicado no DJe no dia 11 de outubro do corrente ano.

1.10. A verdade é que não há outro remédio ao

paciente senão rogar e suplicar a este E. Supremo Tribunal Federal para que

analise, em caráter urgente, o flagrante e injusto constrangimento ilegal a

que está submetido. Trata-se de absurda prisão, decretada ao arrepio da

realidade dos fatos e por meio de argumentos fantasiosos, verdadeiras

ilações lançadas em detrimento do paciente, seja em relação ao falacioso

argumento da garantia da ordem pública, seja ainda pelo inexistente risco

quanto à aplicação da lei penal. É o que se passa a demonstrar.

2. DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS OU, AO

MENOS, A POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE ORDEM DE OFÍCIO EM

FAVOR DO PACIENTE.

2.1. Diante do acórdão proferido pelo E. Superior

Tribunal de Justiça, os impetrantes possuem o direito – e farão uso dele –

7 DOC. 07 ANEXO.

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de interpor Recurso Extraordinário a ser julgado por este Pretório Excelso.

O fundamento é de todos conhecido e está estampado no artigo 102, III,

alínea “a”, da Constituição Federal de 1988.

2.2. Nada obstante, em sendo flagrante o

constrangimento ilegal a que está submetido o paciente, não há óbice em

ser manejado o instrumento do Habeas Corpus. De acordo com o que já

reconheceu este E. Supremo Tribunal Federal no julgamento da

paradigmática Questão de Ordem no Habeas Corpus n. 78.897/RJ, “caberá

Habeas Corpus perante esta Corte para assegurar o direito constitucional

de ir e vir”.

2.3. Ademais, o próprio Código de Processo Penal

determina que “dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer (...)

violência ou coação ilegal na sua liberdade”, sendo que a coação se

considera ilegal “quando não houver justa causa” e também quando

“houver cessado o motivo que autorizou a coação”.

2.4. Por fim, na remota hipótese de Vossas

Excelências não conhecerem do Habeas Corpus, requer-se a concessão de

ofício do quanto aqui é requerido, na exata forma e conteúdo de outras

decisões já exaradas no âmbito deste E. Supremo Tribunal Federal.8

8 V.g. Habeas Corpus n. 108715/RJ – Rel. Exmo. Sr. Min. Marco Aurelio – 1ª Turma – DJE 28.05.2014.

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3. DOS ARGUMENTOS FÁTICOS E JURÍDICOS QUE

FUNDAMENTAM A IMEDIATA SOLTURA DO PACIENTE FERNANDO

MOURA.

3.1. Inicialmente cabe demonstrar a situação fática e

jurídica do paciente.

3.2. Fernando Moura, ora paciente, foi processado

unicamente nos autos de Ação Penal n. 5045241-84.2015.4.04.7000, cuja

sentença foi proferida no último dia 17 de maio de p.p., com recurso de

apelação já interposto9.

3.3. Toda a prova, portanto, atinente à ação penal

encontra-se devidamente colhida, já encartada aos autos, de modo que

não há risco, de qualquer espécie, à instrução probatória. Qualquer

conclusão diversa desta é derivada, concessa venia, de ilações e conjecturas

dissonantes da realidade extraída dos autos.

3.4. O paciente não responde a nenhuma outra

investigação criminal e, ainda, nos 6 meses em que permaneceu solto não

cometeu qualquer ato ou fato que possa indicar ser a prisão preventiva

medida cautelar apta a ser imposta ao paciente.

9 Evento 1035 dos autos de ação penal n. 5045241-84.2015.4.04.7000.

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3.5. De outro canto, de maneira a melhor infirmar as

r. decisões ora guerreadas, olhos postos na decisão que decretou a prisão

preventiva do paciente verificam-se os seguintes pretensos fundamentos:

a) existência de risco à ordem pública caso mantida

a liberdade de Fernando Moura, eis que se houve o esvaziamento de tal

fundamento com a colaboração, com a sua violação “deve ser

restabelecido o status quo ante” (item 924 da sentença);

b) “Nessa fase, pela condenacao por crimes de

corrupcao passiva, lavagem e pertinencia a grupo criminoso, ha certeza da

pratica dos crimes, ainda que a sentenca esteja sujeita a recursos, nao se

tratando mais de conclusao com base em cognicao sumaria” (item 925 da

sentença);

c) “Ademais, além do risco à ordem pública,

vislumbra-se risco à aplicação da lei penal. Houve no acordo promessa de

devolução do produto do crime, de cerca de cinco milhões de reais, o que

até o momento, apesar dos alegados esforços, não ocorreu. Mas,

principalmente, o próprio condenado, em seu interrogatório judicial,

revelou que, em momento anterior, diante de seu receio em ser implicado

no assim denominado escandâlo do Mensalão, deixou o Brasil, foragindo-

se no exterior entre 2005 e 2013, conforme confessado nos itens 776 e 790,

retro.”

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3.6. É surpreendente como ilações e convicções

pessoais, desde que habilmente colocadas no papel, podem – caso não se

tome o devido cuidado – suplantar a realidade dos fatos e as garantias

processuais penais ainda vigentes no direito brasileiro.

3.7. Ora, os requisitos para a prisão preventiva ainda

estão devidamente expostos no artigo 312 do Código de Processo Penal.

Pelo visto é o caso de recordá-los:

“Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.”

3.8. Se os indícios de autoria e materialidade agora

se viram confirmados provisoriamente pela r. sentença já recorrida,

valendo lembrar que as conclusões provisórias constantes da r. decisão

condenatória estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição10, permanece a

exigência de demonstração de efetivo perigo à ordem pública, à ordem

econômica, à aplicação da lei penal e à instrução processual.

3.9. E é justamente esta demonstração que não foi

feita à justa medida na decisão que, ao decretar nova prisão cautelar em

desfavor do paciente, acabou impedindo-o de recorrer em liberdade,

10 Recurso de Apelação autuado perante o E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região sob n. 5045241-84.2015.4.04.7000 e sem previsão para julgamento. Na verdade, na data de hoje, 01 de setembro, a maioria dos recorrentes ainda não foi intimado a apresentar suas razões recursais. Vide DOC. 06 ANEXO.

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muito embora no Brasil a regra ainda seja a liberdade 11 e a prisão,

felizmente, a sua exceção. Ao menos esta é a conclusão derivada do

arcabouço de princípios e normas estampados na Constituição da

República.

3.10. Os argumentos pretensamente hábeis a

decretar a prisão do paciente foram, como visto, expostos de maneira nada

cartesiana, quanto mais se comparados aos requisitos do artigo 312 do

Código de Processo Penal. Todavia, é o caso de relacioná-los novamente

para demonstrar a efetiva ausência de fundamentação da prisão aqui

combatida e sua flagrante ilegalidade.

- da violação do acordo surgiria a necessidade de

restabelecimento do “status quo ante”, ou seja, a necessidade de

renovação a prisão ao argumento de suposto risco à ordem pública (item

924 da sentença);

3.11. É flagrante o imediatismo do argumento

judicial aqui combatido. A quebra do acordo de colaboração premiada

firmado entre o paciente e o Ministério Público Federal não pode conduzir

automaticamente ao restabelecimento de prisão preventiva que, diga-se

de passagem, sequer detinha argumentos para sua decretação em julho de

2015.

11 “A regra é a liberdade e a exceção, a prisão, que somente pode ocorrer nos caso expressamente previstos em lei.” BADARÓ, Gustao Henrique. Processo Penal. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 920.

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3.12. Deixando-se de lado os argumentos utilizados

naquela primeira decisão12, há de ser analisada a situação concreta dos

fatos que circundam o paciente. Quer fazer crer o Magistrado de primeiro

grau que as prisões preventivas decretadas ao longo da operação Lava Jato

não são uma forma de se obter à força os acordos de colaboração. Tanto é

assim que fez menção na sentença condenatória, ocasião em que

redecretou13 a prisão do paciente, de que são necessários bons indícios de

autoria e materialidade, devidamente associados a algum risco de

reiteração delitiva.

3.13. Esta última assertiva trazida pelo d. Juízo

singular é realmente inegável, ou seja, indícios de autoria e materialidade

associados ao risco de reiteração delitiva revelam os critérios para a

admissibilidade da prisão preventiva desde que analisadas as situações do

caso concreto. Nada obstante, e com o devido respeito, tais critérios com

os quais disse o d. Juízo monocrático concordar não foram aplicados por

ela na decisão aqui combatida.

3.14. O paciente durante todo o período em que

permaneceu solto (novembro de 2015 a maio de 2016) não realizou

qualquer ato contra o processo, contra as provas, contra a instrução do

12 Evento 10 dos autos 5031859-24.2015.404.7000 – Vide DOC. 02 ANEXO 13 “Decreta-se a prisão preventiva, a pedido, quando presentes os requisitos legais do art. 312 do CPP, boa prova de autoria e materialidade conjugada com algum risco, como de reiteração delitiva em um contexto de corrupção sistêmica.”

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processo, contra a aplicação da lei penal, não realizou nada, absolutamente

nada que demonstrasse não ser ele detentor da confiança do Poder

Judiciário em responder o processo em liberdade.

3.15. Cumpriu, na verdade, de maneira integral a

decisão judicial que lhe devolveu a liberdade. Por mais que sejam

colocados outros argumentos igualmente combatidos abaixo, não há como

deixar de asseverar que a prisão aqui combatida decorre de um

automatismo da quebra do acordo, ou seja, decorre da mais clara e

absoluta presunção de que, quebrado o acordo, os pressupostos do artigo

312 do Código de Processo Penal voltam, com carga ainda maior, a pesar

contra o paciente.

3.16. De maneira bem objetiva, a decretação da

prisão preventiva ao argumento do risco à ordem pública é vazia de

conteúdo. Para além do automatismo entre a quebra de acordo e o

restabelecimento da prisão preventiva, a r. decisão judicial em nada

destaca quais os fatos concretos passíveis de se aferir a necessidade de

segregação da liberdade do paciente ao argumento do risco à ordem

pública.

3.17. Por fim, verdadeiro incauto aquele que acredita

ser o Processo Penal o remédio único para o combate da corrupção. Há sim

um papel a ser desenvolvido pelo Direito Penal, mas este não passa pela

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decretação de prisões preventivas sob o manto de uma “vingança ao

colaborador que viola acordo”.

- Após a condenação do acusado em 1ª instância

existiria a certeza da prática dos crimes imputados ao paciente, não se

tratando mais de conclusão com base em cognição sumária. (item 925 da

sentença de primeiro grau);

3.18. Ora, tal como afirmado acima, a verdade dos

fatos reconstruída pelo processo penal contaria com apenas uma fase, ou

seja, apenas com a 1ª instância. Todavia, deve o Magistrado singular

respeitar com mais vagar as conclusões a serem retiradas pela 8ª Turma do

E. Tribunal Regional Federal, até mesmo relembrando-se dos efeitos

sobejamente conhecidos e derivados do recurso de apelação, ou seja, os

efeitos devolutivo e suspensivo.

3.19. Pensar o contrário seria desprezar o árduo e

profícuo trabalho realizado diariamente pelas instâncias recursais. Ou seja,

a reconstrução dos fatos ainda é precária e a conclusão jurídica há de ser

levada ao conhecimento de um colegiado. Trata-se de direito fundamental

assim reconhecido dentro e fora do Brasil.

3.20. Ao contrário do que afirma o Magistrado

singular e a d. Autoridade Coatora, a grande e boa novidade em favor do

paciente, ao menos no que diz respeito à pretensa garantia da instrução

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processual, é a sentença condenatória. Como visto, com a prolação da

sentença condenatória, muito embora se disponha sobre a

responsabilidade do paciente acerca dos crimes pelos quais foi processado,

se vê encerrada ainda mais a instrução processual, sendo flagrante a

impossibilidade de o paciente sobre ela intervir.

3.21. Portanto, se desfavorável o mérito da decisão

condenatória, cujo recurso de apelação inclusive já foi manejado, a

prolação da sentença escancara o óbvio, qual seja o direito de o

paciente aguardar em liberdade a decisão final sobre processo cuja

prova está integralmente colhida e cuja reiteração delitiva deriva apenas

de ilações e pré-compreensões não alicerçadas em provas ou indicativos

claros.

- existência de risco à aplicação da lei penal, porque

a devolução do produto do crime, cerca de 5 milhões de reais, ainda não

teria ocorrido.

3.22. Tal opinião jurídica é defendida há tempos pelo

d. Juízo Federal responsável pelo caso. Contudo, impor a prisão preventiva

ao paciente com este argumento é prática ilegal, porquanto em nada

amparada nos requisitos previstos no artigo 312 do Código de Processo

Penal.

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3.23. Aliás, o paciente relatou nos autos as tentativas

de internalizar no Brasil, tal como retratado em seu acordo de colaboração,

os valores advindos da venda de um apartamento e de um veículo, ambos

então existentes nos Estados Unidos da América. Em outras palavras, sofreu

com os trâmites burocráticos, sendo que a não devolução dos valores não

decorreu de sua vontade. A propósito, isso não foi reclamado à época pelo

d. Juízo singular nem tampouco pelos representantes do Ministério Público

Federal.

3.24. Ora, o contexto fático há de ser ponderado em

favor do paciente. Não se trata de acusado que nada colaborou nem se

dispôs a localizar e devolver o produto do crime. Pelo contrário, fez constar

em seu acordo de colaboração a localização de tais valores, sendo que

estes estão em conta bancária nos Estados Unidos da América em vias de

ser enviados ao Brasil. Desta forma, tergiversar tais fatos para impor a

prisão preventiva ao paciente com fulcro em critério inovador e não

condizente com o artigo 312 do Código de Processo Penal é prática a ser

considerada por este Pretório Excelso para, associada aos demais

argumentos ventilados neste writ, restabelecer a sua merecida liberdade.

- existência de risco à aplicação da lei penal porque

o paciente teria confessado em Juízo o fato de ter residido fora do Brasil

no período de 2005 a 2013 por ocasião do processo denominado de

“Mensalão”.

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3.25. Para bem demonstrar este subtítulo a Vossas

Excelências vem a calhar a transcrição de trecho específico da r. sentença

condenatória / decreto de prisão:

“Mas, principalmente, o próprio condenado, em seu interrogatório judicial, revelou que, em momento anterior, diante de seu receio em ser implicado no assim denominado escândalo do Mensalão, deixou o Brasil, foragindo-se no exterior entre 2005 e 2013, conforme confessado nos itens 776 e 790, retro.”

3.26. Basta reler a própria sentença condenatória

para averiguar que a confissão do paciente neste aspecto destoa, permissa

venia, do trazido do excerto da decisão acima transcrito. O paciente não foi

acusado nem tampouco indiciado no processo denominado Mensalão, de

modo que a palavra “foragindo-se” a ele não se aplica. O paciente nunca

possuiu o status de foragido do Poder Judiciário e isso há de ser evidenciado

a todo momento, até porque a pecha de foragido fatalmente prejudica o

mérito desta própria ação constitucional e, no futuro, o mérito da própria

apelação criminal.

3.27. Consoante bem pontuou em seu interrogatório

judicial, o paciente resolveu morar fora do Brasil por indicação – e não por

determinação ou imposição – de José Dirceu, justamente por estar

implicado no processo cujos fatos estão em julgamento perante a 13ª Vara

Federal de Curitiba/PR (Lava Jato) e não por estar implicado no processo

alcunhado por “Mensalão”.

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3.28. Tomar esta realidade confessada pelo paciente

como a probabilidade de que venha a se furtar à aplicação da lei penal é,

com o devido respeito, um verdadeiro atropelo de ideias e conjecturas

tomadas totalmente em detrimento de direito fundamental que é a

liberdade.

3.29. Aposta ainda a decisão guerreada que “há risco

concreto de que, diante da violação do acordo e pela negativa de benefícios,

venha novamente refugiar-se no exterior, já que agora a perspectiva de

sofrer sanção penal é muito mais concreta do que anteriormente.” (item

927 da r. sentença/decreto de prisão).

3.30. Trata-se, como dito antes, de conjectura. Do

contrário, estando em curso a operação “Lava Jato” desde o dia 17 de

março de 2014, teria o paciente sido encontrado no dia de sua prisão (27

de julho de 2015) no exterior e não no Estado de São Paulo, mais

precisamente na cidade de São Paulo/SP14. Ademais, também por ocasião

de sua “re-prisão”, ocorrida no dia 17 de maio de corrente ano, o paciente

não estava foragido, muito embora tivesse o conhecimento de que o

Ministério Público Federal tinha peticionado opinando pela quebra do

acordo de colaboração anteriormente firmado. Tanto é assim que foi

encontrado em sua residência na cidade de Vinhedo/SP, na Rua

Itaperuna, 500, Condomínio Santa Fé.

14 Rua Oscar Freire, n. 1234, São Paulo/SP.

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3.31. Tudo isso demonstra que o receio de se furtar

à aplicação da lei penal é inexistente e decorre do automatismo empregado

na sentença e não de fatos concretos imputáveis ao paciente.

3.32. A seu tempo, assevere-se a prisão preventiva

possuir claro intento cautelar. Tutela-se o regular processamento do caso

penal mediante a segregação de determinado cidadão, sendo inviável a

prisão preventiva pelo fato de o agente ter praticado certo delito. Não há

de se confundir, e este E. Supremo Tribunal Federal combate felizmente

esta prática, prisão preventiva com prisão decorrente de sentença

condenatória definitiva. A existência de um fato típico indica a necessidade

de um processo penal. E a liberdade, inclusive a do paciente, apenas é

limitada se necessária à tutela do processo penal.

3.33. Neste contexto, é absolutamente

inconstitucional a decisão que se vale desse tipo de premissa para castigar

o delator que por momento de receio (ameaça familiar) mudou a sua

versão, mas, após cair em si, retornou a falar a verdade. Não se pode,

portanto, punir antecipadamente o paciente que ajudou a Justiça e vem

colaborando desde sempre, apenas para se tornar exemplo aos demais

envolvidos.

3.34. A respeito da colaboração efetiva há de ser

feita menção aos anexos já tornados públicos por determinação do d.

Magistrado de primeiro grau (mov. 74 dos autos de ação penal n. 5045241-

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84.2015.404.7000). Por óbvio que não se trata aqui de requerer o

restabelecimento do acordo firmado, mas sim de ponderar a respeito dos

diversos fatos valiosos levados a conhecimento do Ministério Público

Federal e que não foram desditos pelo paciente. Ou seja, a colaboração do

paciente foi sim efetiva, fato que deve ser levado em consideração para o

fim de, ao menos, restabelecer sua liberdade.

Ausência de proporcionalidade – novamente o rigor

automático decorrente da quebra do acordo de colaboração

3.35. Outra circunstância a ser levada ao

conhecimento de Vossas Excelências diz respeito ao excessivo rigor do

julgador da causa em desfavor do paciente se comparado a outros

acusados, igualmente condenados, nos autos de ação penal n. 5045241-

84.2015.404.7000.

3.36. Na ação penal n. 5045241-84.2015.404.7000

foram igualmente condenadas outras pessoas de acordo com o quadro

abaixo:

Nome Natureza dos crimes Quantidade total de pena

Gerson de Mello Almada

Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

15 anos e 06 meses de reclusão

Renato de Souza Duque

Corrupção passiva 10 anos de reclusão

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Pedro José Barusco Filho

Corrupção passiva 09 anos de reclusão (suspensa a condenação por ocasião de acordo de colaboração)

João Vaccari Neto Corrupção passiva 09 anos de reclusão Milton Pascowicht Corrupção ativa,

lavagem de dinheiro e organização criminosa

20 anos e 10 meses de reclusão (beneficiado por acordo de colaboração)

José Adolfo Pascowicht

Corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa

19 anos de reclusão (beneficiado por acordo de colaboração)

José Dirceu de Oliveira e Silva

Corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa

23 anos e 03 meses de reclusão

Luiz Eduardo de Oliveira e Silva

Lavagem de dinheiro e organização criminosa

08 anos e 09 meses de reclusão

Julio Cesar dos Santos Lavagem de dinheiro e organização criminosa

08 anos de reclusão

Roberto Marques Organização criminosa 03 anos e 06 meses de reclusão

3.37. Não é o caso de comparar a situação do

paciente com as pessoas de José Dirceu ou ainda com Renato Duque e João

Vaccari, estes réus em inúmeras ações penais no âmbito da operação Lava

Jato. É sim, por outro lado, o caso de comparar a situação do acusado com

pessoas que receberam penas igualmente altas e graves, a saber: Gerson

Almada, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e Julio Cesar dos Santos. Ora, tais

pessoas foram condenadas, ainda que provisoriamente, a sanções penais

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que somam, respectivamente, 15 anos e 06 meses, 08 anos e 09 meses e

08 anos de reclusão.

3.38. Nada obstante, a estas pessoas (Gerson

Almada, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e Julio Cesar dos Santos) o rigor

preventivo do d. Juízo monocrático foi menor, a bem dizer inexistente, a

ponto de a eles não ser imposta a restrição de liberdade como condição

para a apelação, mesmo não tendo tais coacusados devolvido valores aos

cofres públicos.

3.39. É o caso de relembrar que as instituições

cumprem o seu papel ao não desbordar os seus limites. E o limite da prisão

preventiva em seu requisito de garantir a ordem pública é evitar a

reiteração de crimes e não antecipar qualquer espécie de reprimenda ou

sanção penal a depender da gravidade dos fatos levados a julgamento. Não

se desconhece que muitas vezes a situação concreta do delito indica com

grande grau de verossimilhança a tese de reiteração criminosa, o que há

de chancelar a decretação da prisão preventiva. Contudo, NÃO É ESTA A

SITUAÇÃO VERTENTE SOBRE O PACIENTE.

3.40. Do contrário, ou seja, fundamentar a prisão

preventiva na gravidade concreta (o que se dizer da abstrata, portanto) do

delito enseja incontornável menosprezo ao princípio de presunção de não

culpabilidade. Dada a atualidade da questão, note-se que esta E. Corte de

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Constitucional cuidou de restabelecer a normalidade ao julgar o Habeas

Corpus n. 127.186/PR, de relatoria do Exmo. Min. Teori Zavascki:

“(...) 5. A jurisprudência desta Corte, em reiterados pronunciamentos, tem afirmado que, por mais graves e reprováveis que sejam as condutas supostamente perpetradas, isso não justifica, por si só, a decretação da prisão cautelar. De igual modo, o Supremo Tribunal Federal tem orientação segura de que, em princípio, não se pode legitimar a decretação da prisão preventiva unicamente com o argumento da credibilidade das instituições públicas, “nem a repercussão nacional de certo episódio, nem o sentimento de indignação da sociedade” (HC 101537, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, DJe de 14-11-2011). 6. Não se nega que a sociedade tem justificadas e sobradas razões para se indignar com notícias de cometimento de crimes como os aqui indicados e de esperar uma adequada resposta do Estado, no sentido de identificar e punir os responsáveis. Todavia, a sociedade saberá também compreender que a credibilidade das instituições, especialmente do Poder Judiciário, somente se fortalecerá na exata medida em que for capaz de manter o regime de estrito cumprimento da lei, seja na apuração e no julgamento desses graves delitos, seja na preservação dos princípios constitucionais da presunção de inocência, do direito a ampla defesa e do devido processo legal, no âmbito dos quais se insere também o da vedação de prisões provisórias fora dos estritos casos autorizados pelo legislador. (...).”

3.41. Na mesma linha de argumentação, este E.

Pretório Excelso decidiu em recentíssimo julgado (HC 132615/SP – Rel. Min.

Celso de Mello – julgamento dia 08 de julho de 2016) pela concessão do

Habeas Corpus a um paciente que, uma vez condenado, teve denegado seu

direito de recorrer em liberdade, em razão da ausência de “razões

justificadoras da imprescindibilidade dessa extraordinária medida cautelar

de privação da liberdade”. Confira-se trecho do voto condutor do acórdão:

“TODOS SABEMOS QUE A PRIVACAO CAUTELAR DA LIBERDADE INDIVIDUAL E SEMPRE QUALIFICADA PELA NOTA DA EXCEPCIONALIDADE (HC 93.883/SP, REL. MIN. CELSO DE

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MELLO – HC 96.219-MC/SP, REL. MIN. CELSO DE MELLO, V.G.), SENDO DE REPELIR, POR INACEITAVEIS, DISCURSOS JUDICIAIS CONSUBSTANCIADOS EM TOPICOS SENTENCIAIS MERAMENTE RETORICOS, EIVADOS DE GENERALIDADE, DESTITUIDOS DE FUNDAMENTACAO SUBSTANCIAL E REVELADORES, MUITAS VEZES, DE LINGUAGEM TIPICA DOS PARTIDARIOS DO “DIREITO PENAL SIMBOLICO” OU, ATE MESMO, DO “DIREITO PENAL

DO INIMIGO”, E QUE, MANIFESTADOS COM O INTUITO DE IMPOR INDEVIDAS PRISOES CAUTELARES OU DE PROCEDER A INADEQUADAS EXACERBACOES PUNITIVAS, CULMINAM POR VULNERAR, GRAVEMENTE, OS GRANDES PRINCIPIOS LIBERAIS CONSAGRADOS PELA ORDEM DEMOCRATICA NA QUAL SE ESTRUTURA O ESTADO DE DIREITO, EXPONDO, COM ESSE COMPORTAMENTO, UMA INADMISSIVEL VISAO AUTORITARIA E NULIFICADORA DO REGIME DAS LIBERDADES FUNDAMENTAIS EM NOSSO PAIS (HC 85.531/SP, REL. MIN. CELSO DE MELLO). E POR ISSO QUE ESTA SUPREMA CORTE TEM CENSURADO DECISOES QUE FUNDAMENTAM A PRIVACAO CAUTELAR DA LIBERDADE NO RECONHECIMENTO DE FATOS QUE SE SUBSUMEM A PROPRIA DESCRICAO ABSTRATA DOS ELEMENTOS QUE COMPOEM A ESTRUTURA JURIDICA DO TIPO PENAL: (...) IMPENDE ASSINALAR, POR ISSO MESMO, QUE A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME, QUALQUER QUE SEJA, NAO BASTA PARA JUSTIFICAR, SO POR SI, A PRIVACAO CAUTELAR DA LIBERDADE INDIVIDUAL DE QUALQUER PACIENTE. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL TEM ADVERTIDO QUE A NATUREZA DA INFRACAO PENAL NAO SE REVELA CIRCUNSTANCIA APTA, “PER SE”, A JUSTIFICAR A PRIVACAO CAUTELAR DO “STATUS LIBERTATIS” DAQUELE QUE SOFRE A PERSECUCAO CRIMINAL INSTAURADA PELO ESTADO. ESSE ENTENDIMENTO VEM SENDO OBSERVADO EM SUCESSIVOS JULGAMENTOS PROFERIDOS NO AMBITO DESTA CORTE, AINDA QUE O DELITO IMPUTADO AO REU SEJA CLASSIFICADO COMO CRIME HEDIONDO OU CONSTITUA ESPECIE DELITUOSA A ESTE LEGALMENTE EQUIPARADA (RTJ 172/184, REL. MIN. SEPU LVEDA PERTENCE – RTJ 182/601-602, RED. P/ O ACORDAO MIN. SEPU LVEDA PERTENCE – RHC 71.954/PA, REL. MIN. SEPU LVEDA PERTENCE, V.G.): (...) DESSE MODO, A PRISAO CAUTELAR, PARA LEGITIMAR-SE EM FACE DE NOSSO SISTEMA JURIDICO, IMPOE – ALEM DA SATISFACAO DOS PRESSUPOSTOS A QUE SE REFERE O ART. 312 DO CPP (PROVA DA EXISTENCIA MATERIAL DO CRIME E PRESENCA DE INDICIOS SUFICIENTES DE AUTORIA) – QUE SE EVIDENCIEM, COM FUNDAMENTO EM BASE EMPIRICA IDONEA, RAZOES JUSTIFICADORAS DA IMPRESCINDIBILIDADE DESSA EXTRAORDINARIA MEDIDA

CAUTELAR DE PRIVACAO DA LIBERDADE DO INDICIADO OU DO REU, COMO ASSINALOU A COLENDA SEGUNDA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: (...)”

3.42. Não são poucas as decisões desta E. Corte

Constitucional pela ilegalidade da prisão preventiva (i) sem sentença

condenatória transitada em julgada, (ii) fundamentada na gravidade

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concreta dos crimes e (iii) na suposição de fuga, daí porque de extrema

importância citar mais um julgado desta C. Corte. Na Reclamação RCL 24506

MC/SP, o Exmo. Sr. Min. Dias Toffoli concedeu a liberdade ao ex-Ministro

Paulo Bernardo, preso em uma operação policial desmembrada da “Lava

Jato”, tendo em vista o decreto prisional estar fundamentado em ilações e

suposições sem qualquer base concreta. Vale reproduzir trechos da decisão

monocrática:

“COMO SE OBSERVA, O JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU JUSTIFICOU A NECESSIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA NO FATO DE NÃO TER SIDO LOCALIZADA “EXPRESSIVA QUANTIA EM DINHEIRO DESVIADA DOS COFRES PÚBLICOS”, O QUE REPRESENTARIA “RISCO EVIDENTE ÀS PRÓPRIAS CONTAS DO PAÍS, QUE ENFRENTA GRAVE CRISE FINANCEIRA, A QUAL CERTAMENTE É AGRAVADA PELOS DESVIOS DECORRENTES DE CUMULADOS CASOS DE CORRUPÇÃO”. (...) ASSENTADAS ESSAS PREMISSAS, O FATO, ISOLADAMENTE CONSIDERADO, DE NÃO HAVER SIDO LOCALIZADO O PRODUTO DO CRIME NÃO CONSTITUI FUNDAMENTO IDÔNEO PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, HAJA VISTA QUE SE RELACIONA AO JUÍZO DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA, PRÓPRIO DO MÉRITO DA AÇÃO PENAL. O MESMO SE DIGA QUANTO AO ALEGADO “RISCO EVIDENTE ÀS PRÓPRIAS CONTAS DO PAÍS, QUE ENFRENTA GRAVE CRISE FINANCEIRA”, POR SE TRATAR DE MERA AFIRMAÇÃO DE ESTILO, HIPERBÓLICA E SEM BASE EMPÍRICA IDÔNEA. A PRISÃO PREVENTIVA NÃO PODE SER UTILIZADA COMO INSTRUMENTO PARA COMPELIR O IMPUTADO A RESTITUIR VALORES ILICITAMENTE AUFERIDOS OU A REPARAR O DANO, O QUE DEVE SER OBJETO DE OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES DE NATUREZA REAL, COMO O SEQUESTRO OU ARRESTO DE BENS E VALORES QUE CONSTITUAM PRODUTO DO CRIME OU PROVEITO AUFERIDO COM SUA PRÁTICA. A PRISÃO PREVENTIVA PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA SERIA CABÍVEL, EM TESE, CASO HOUVESSE DEMONSTRAÇÃO DE QUE O RECLAMANTE ESTARIA TRANSFERINDO RECURSOS PARA O EXTERIOR, CONDUTA QUE IMPLICARIA EM RISCO CONCRETO DA PRÁTICA DE NOVOS CRIMES DE LAVAGEM DE ATIVOS. DISSO, TODAVIA, POR ORA, NÃO HÁ NOTÍCIA. TAMBÉM NÃO FORAM APONTADOS ELEMENTOS CONCRETOS DE QUE O RECLAMANTE, EM LIBERDADE, ORA CONTINUARÁ A DELINQUIR. NEM SE INVOQUE A GRAVIDADE EM ABSTRATO DOS CRIMES IMPUTADOS AO RECLAMANTE E A NECESSIDADE DE SE ACAUTELAR A CREDIBILIDADE DA JUSTIÇA. COMO DESTACADO NO JULGAMENTO DO HC NO 127.186/PR, SEGUNDA TURMA, RELATOR O MINISTRO TEORI ZAVASCKI, DJE DE 3/8/15, “(...) A JURISPRUDÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE, EM REITERADOS PRONUNCIAMENTOS, TEM AFIRMADO QUE, POR MAIS GRAVES E REPROVÁVEIS QUE SEJAM AS CONDUTAS SUPOSTAMENTE PERPETRADAS, ISSO NÃO

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JUSTIFICA, POR SI SÓ, A DECRETAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR (HC 94468, RELATOR(A): MIN. CARLOS BRITTO, PRIMEIRA TURMA, DJE DE 03-04-2009; RHC 123871, RELATOR(A): MIN. ROSA WEBER, PRIMEIRA TURMA, DJE DE 05-03-2015; HC 121006, RELATOR(A): MIN. DIAS TOFFOLI, PRIMEIRA TURMA, DJE DE 21-10-2014; HC 121286, RELATOR(A): MIN. RICARDO LEWANDOWSKI, SEGUNDA TURMA, DJE

DE 30-05-2014; HC 113945, RELATOR(A): MIN. TEORI ZAVASCKI, SEGUNDA TURMA, DJE DE 12-11-2013; HC 115613, RELATOR(A): MIN. CELSO DE MELLO, SEGUNDA TURMA, DJE DE 13-08-2014). DE IGUAL MODO, A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL TEM ORIENTAÇÃO SEGURA DE QUE, EM PRINCÍPIO, NÃO SE PODE LEGITIMAR A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA UNICAMENTE COM O ARGUMENTO DA CREDIBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS, “NEM A REPERCUSSÃO NACIONAL DE CERTO EPISÓDIO, NEM O SENTIMENTO DE INDIGNAÇÃO DA SOCIEDADE” (HC 101537, RELATOR(A): MIN. MARCO AURÉLIO, PRIMEIRA TURMA, DJE DE 14-11-2011). NO MESMO SENTIDO: HC 95358, RELATOR(A): MIN. GILMAR MENDES, SEGUNDA TURMA, DJE DE 06-08-2010; HC 84662, RELATOR(A): MIN. EROS GRAU, PRIMEIRA TURMA, DJE DE 22-10-2004). NÃO SE NEGA QUE A SOCIEDADE TEM JUSTIFICADAS E SOBRADAS RAZÕES PARA SE INDIGNAR COM NOTÍCIAS DE COMETIMENTO DE CRIMES COMO OS AQUI INDICADOS E DE ESPERAR UMA ADEQUADA RESPOSTA DO ESTADO, NO SENTIDO DE IDENTIFICAR E PUNIR OS RESPONSÁVEIS. TODAVIA, A SOCIEDADE SABERÁ TAMBÉM COMPREENDER QUE A CREDIBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES, ESPECIALMENTE DO PODER JUDICIÁRIO, SOMENTE SE FORTALECERÁ NA EXATA MEDIDA EM QUE FOR CAPAZ DE MANTER O REGIME DE ESTRITO CUMPRIMENTO DA LEI, SEJA NA APURAÇÃO E NO JULGAMENTO DESSES GRAVES DELITOS, SEJA NA PRESERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, DO DIREITO A AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, NO ÂMBITO DOS QUAIS SE INSERE TAMBÉM O DA VEDAÇÃO DE PRISÕES PROVISÓRIAS FORA DOS ESTRITOS CASOS AUTORIZADOS PELO LEGISLADOR” (GRIFEI). A DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU INVOCOU AINDA A EXISTÊNCIA DE RISCO À APLICAÇÃO DA LEI PENAL, PELO FATO DE SETE MILHÕES DE REAIS NÃO TEREM SIDO LOCALIZADOS. OCORRE QUE A NECESSIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA PARA APLICAÇÃO DA LEI PENAL VISA TUTELAR, ESSENCIALMENTE, O PERIGO DE FUGA DO IMPUTADO, QUE, COM O SEU COMPORTAMENTO, FRUSTRARIA A PROVÁVEL EXECUÇÃO DA PENA. ORA, A NÃO LOCALIZAÇÃO DO PRODUTO DO CRIME NÃO GUARDA CORRELAÇÃO LÓGICA COM O PERIGO DE FUGA DO IMPUTADO. ALIÁS, NEM SEQUER BASTA A MERA POSSIBILIDADE DE FUGA, POIS DEVE HAVER INDÍCIOS DE QUE O AGENTE, CONCRETAMENTE, VÁ FAZER USO DESSA POSSIBILIDADE, SOB PENA DE ABRIR-SE MARGEM PARA A PRISÃO DE QUALQUER IMPUTADO. NO MOVEDIÇO CAMPO DAS POSSIBILIDADES, TANTO CABE CONJECTURAR QUE O AGENTE VÁ

FUGIR QUANTO QUE IRÁ PERMANECER, O QUE DEMONSTRA A SUA FRAGILIDADE.(...) EM SUMA, DESCABE A UTILIZAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA COMO ANTECIPAÇÃO DE UMA PENA QUE NÃO SE SABE SE VIRÁ A SER IMPOSTA. ALIÁS, NEM MESMO NO CURSO DA AP NO 470, VULGARMENTE CONHECIDA COMO O CASO “MENSALÃO”, CONDUZIDA COM EXAÇÃO PELO ENTÃO MINISTRO JOAQUIM BARBOSA,

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3333

HOUVE A DECRETAÇÃO DE PRISÕES PROVISÓRIAS, E TODOS OS RÉUS AO FINAL CONDENADOS ESTÃO CUMPRINDO OU JÁ CUMPRIRAM AS PENAS FIXADAS. MAIS NÃO É PRECISO ACRESCENTAR PARA SE CONCLUIR QUE A DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA DO ORA RECLAMANTE CONTRASTA FRONTALMENTE COM O ENTENDIMENTO CONSOLIDADO PELA SUPREMA CORTE A RESPEITO DOS REQUISITOS DA PRISÃO CAUTELAR, E NÃO PODE SUBSISTIR.”

3.43. O precedente lavrado pelo Exmo. Min. Dias

Toffoli cai como uma luva para o presente writ, eis que delimita como

ilegais e insustentáveis determinados argumentos para decretação de

prisão preventiva que inclusive são os mesmos postos nas decisões ora

combatidas. Visualize-se em um quadro demonstrativo:

Reclamação 24506/SP Decreto de prisão do paciente O fato, isoladamente considerado, de não haver sido localizado o produto do crime não constitui fundamento idôneo para a decretação da prisão preventiva para garantia da ordem pública, haja vista que se relaciona ao juízo de reprovabilidade da conduta, próprio do mérito da ação penal.

Ademais, alem do risco a ordem publica, vislumbra-se risco a aplicacao da lei penal. Houve no acordo promessa de devolucao do produto do crime, de cerca de cinco milhoes de reais, o que ate o momento, apesar dos alegados esforcos, nao ocorreu.

Nem se invoque a gravidade em abstrato dos crimes imputados ao reclamante e a necessidade de se acautelar a credibilidade da justiça.

Nessa fase, pela condenacao por crimes de corrupcao passiva, lavagem e pertinencia a grupo criminoso, ha certeza da pratica dos crimes, ainda que a sentenca esteja sujeita a recursos, nao se tratando mais de conclusao com base em cognicao sumaria.

Aliás, nem sequer basta a mera possibilidade de fuga, pois deve haver indícios de que o agente, concretamente, vá fazer uso dessa

Ademais, alem do risco a ordem publica, vislumbra-se risco a aplicacao da lei penal. (...) o proprio condenado, em seu interrogatorio

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possibilidade, sob pena de abrir-se margem para a prisão de qualquer imputado. No movediço campo das possibilidades, tanto cabe conjecturar que o agente vá fugir quanto que irá permanecer, o que demonstra a sua fragilidade.(...) Em suma, descabe a utilização da prisão preventiva como antecipação de uma pena que não se sabe se virá a ser imposta.

judicial, revelou que, em momento anterior, diante de seu receio em ser implicado no assim denominado escandalo do Mensalao, deixou o Brasil, foragindo se no exterior entre 2005 e 2013, conforme confessado nos itens 776 e 790, retro.

3.44. Portanto, – mediante firme orientação da

jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal – há de se privilegiar a

estrita observação da necessidade e proporcionalidade da prisão

preventiva. Em se apresentando desnecessária ou desproporcional

poderão ter incidência as inserções trazidas com a Lei 12.403/2011, tais

como a proibição de frequentar determinados lugares, de manter contato

com determinadas pessoas, recolhimento domiciliar, fiança,

monitoramento eletrônico e acautelamento de passaporte, as quais em

alguns momentos ou processos particulares parecem ter sido revogadas

do ordenamento jurídico pátrio.

3.45. O Estado precisa respeitar os limites de seu

próprio poder, inclusive para tornar legítimo o exercício do jus puniendi por

meio de interpretações restritivas e proporcionais das medidas que

acautelam o processo penal como meio legítimo de imposição daquele. É

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exatamente esta interpretação, nos exatos termos da lei e dos princípios

que norteiam o processo penal brasileiro, que se requer desta Colenda

Corte Superior.

4. CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS EM RELAÇÃO AO

ACÓRDÃO PROFERIDO PELO D. AUTORIDADE APONTADA COMO

COATORA (EXMO. SR. MIN. FÉLIX FISCHER - E. SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA).

4.1. Não há como deixar de tecer algumas

considerações específicas em relação ao voto proferido pela d. Autoridade

Coatora no âmbito no E. Superior Tribunal de Justiça.

4.2. Basicamente a d. Autoridade Coatora chancelou

por completo o decreto prisional adotado pelo d. Juízo de piso em

Curitiba/PR. Adotou, contudo, um discurso sedimentado em três

argumentos, quais sejam: a) o risco de aplicação da lei penal, ao

fundamento de que o paciente teria se refugiado no exterior

anteriormente; b) o descumprimento do acordo de colaboração e a

retomada da segregação cautelar do paciente e, c) a impossibilidade de

aplicação das medidas cautelares diversas da prisão.

4.3. Pois bem. Sobre o risco de aplicação da lei penal

acima já está retratada a realidade dos fatos, de modo que é desnecessária

a reiteração nesta sede. Basta apenas reiterar que, para além das

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conjecturas tecidas em desfavor do paciente, a realidade concreta é a

seguinte: FERNANDO MOURA, NAS DUAS OPORTUNIDADES EM QUE FOI

DETIDO, FOI ENCONTRADO SEMPRE EM SUA RESIDÊNCIA. NA ÚLTIMA

OPORTUNIDADE (MAIO DE 2016), O PACIENTE INCLUSIVE JÁ TINHA

CONHECIMENTO DE QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL TERIA OPINADO

PELA QUEBRA DO ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA E, MESMO

ASSIM, FOI ENCONTRADO EM SUA RESIDÊNCIA PELA EQUIPE DA POLÍCIA

FEDERAL.

4.4. Já para a plena possibilidade de serem aplicadas

medidas diversas da prisão está resguardado o item 5 infra.

4.5. O absurdo, contudo, a ser melhor enfrentado diz

respeito ao tema da quebra da colaboração premiada como substrato

fático-jurídico para a adoção da prisão preventiva.

4.6. Para melhor compreender os argumentos

deitados na r. decisão recorrida é o caso de transcrever parte do acórdão

prolatado pelo Superior Tribunal de Justiça:

“NA ESPÉCIE, APÓS A HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO DE COLABORAÇÃO HAVIDO ENTRE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E O RECORRENTE, HOUVE, DE PARTE DO PRIMEIRO, ISTO É, DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, REQUERIMENTO AUTÔNOMO, EM FAVOR DA CONCESSÃO DA LIBERDADE PROVISÓRIA AO RECORRENTE, O QUAL FOI ACATADO PELO MAGISTRADO SINGULAR. A RAZÃO EXPRESSA FOI A DE QUE, EM VIRTUDE DO ACORDO, ESVAZIAR-SE-IAM OS REQUISITOS, NO CASO, ATÉ ENTÃO TIDOS COMO HÁBEIS PARA FUNDAMENTAR A SEGREGAÇÃO CAUTELAR.

(...) “A CELEBRAÇÃO DO ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA, NAS PARTICULARIDADES DA SITUAÇÃO DO RECORRENTE, HOUVE DE ENSEJAR, SEJA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, QUE FORMULOU

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O PEDIDO, SEJA PELO MAGISTRADO SINGULAR, QUE O DEFERIU, A CONCESSÃO DA LIBERDADE PROVISÓRIA FUNDADA NUMA INEQUÍVOCA EXPECTATIVA DE QUE SE DARIA POR ESCORREITO O CUMPRIMENTO DO ACORDADO. A FRUSTAÇÃO DA EXPECTATIVA, COMO É EVIDENTE, DECORREU DA CONDUTA ESPECÍFICA DO RECORRENTE, BEM ENUNCIADA NO V. ACÓRDÃO RECORRIDO, (...) SEJA COMO FOR, NOS CASOS EM QUE A LIBERAÇÃO DO ACUSADO DERIVOU DA EXPECTATIVA

FUNDADA DE QUE, COM O ACORDO, HAVERIA DE PRESTAR A COLABORAÇÃO A QUE SE INCUMBIU, NÃO SE EXCLUI, VERIFICADAS AS PARTICULARIDADES DA SITUAÇÃO, POSSA-SE RESTABELECER A SEGREGAÇÃO CAUTELAR, MÁXIMO PORQUE A ASSUNÇÃO DE OBRIGAÇÕES PELO RÉU, NO ACORDO, ESTÁ A INDICAR QUE DEPOIS DE TER ADOTADO UMA CONDUTA REPROVÁVEL, PROPENDERÁ A UMA CONDUTA CONFORME AO DIREITO, (...) SERÁ DE COGITAR-SE, EM CADA CASO, A EXTENSÃO DO OLVIDO COM QUE HOUVE O COLABORADOR, FRENTE AOS TERMOS DO ACORDO, EM ORDEM A AFIRMAR-SE QUE NÃO É APENAS A CIRCUNSTÂNCIA DE SEU DESCUMPRIMENTO QUE DETERMINARÁ A RETOMADA DA PRISÃO PREVENTIVA, QUANDO ESSA FOI AFASTADA À CONTA DE SUA CELEBRAÇÃO. NOS CASOS, PORÉM, EM QUE A INTENSIDADE DO DESCUMPRIMENTO MOSTRAR-SE RELEVANTE, COMO SUCEDEU NA ESPÉCIE, A FRUSTRAÇÃO DA EXPECTATIVA GERADA COM O COMPORTAMENTO TÍBIO DO COLABORADOR PERMITE O REVIGORAMENTO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR, MORMENTE QUANDO SEU PRECEDENTE AFASTAMENTO DEU-SE PELO SÓ FATO DA PROMESSA HOMOLOGADA DE COLABORAÇÃO. EM CONCLUSÃO, MOSTRANDO-SE IDÔNEOS, NO CASO, OS DOIS FUNDAMENTOS ERIGIDOS COMO TENDENTES À DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, QUAIS SEJA, O ASSEGURAMENTO DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL E A REVITALIZAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, À GUISA DO DESCUMPRIMENTO DOS TERMOS DO ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA, NÃO SE HÁ DE COGITAR DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL OU ABUSIVIDADE NA DECRETAÇÃO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR.”

4.7. A situação vertente nos autos é realmente

singular. Isso porque, a fim de confirmar a ilegalidade cometida em

detrimento do paciente, a d. Autoridade Coatora buscou construir

raciocínio derivado a partir da decisão que colocou o paciente em liberdade

e no acordo de colaboração firmado entre paciente e órgão acusatório.

4.8. Nada obstante, e com a devida e máxima vênia,

o raciocínio é tortuoso e destoa daquilo pactuado nos autos. Tanto que

pode-se reiterar, já de pronto, a conclusão exposto ao longo desta ordem

de Habeas Corpus: o paciente está preso preventivamente tão somente por

ter sido quebrado o acordo de colaboração premiada e serve, infelizmente,

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como odiosa medida exemplar a outros colaboradores que ousem desafiar

(!!!) os comandantes da operação Lava-Jato em Curitiba/PR.

4.9. Ora, no acordo15 firmado entre o paciente e o

Ministério Público Federal assim consta:

4.10. Já na decisão que concedeu a liberdade ao

paciente em 02 de novembro de 2015 assim disse o d. Juízo de piso:

“Consta da cláusula 5ª, II, do acordo que Fernando Hourneaux deve ficar preso em regime fechado (out2, evento6).

15 Acordo associado no evento 06, OUT2, dos autos de colaboração n. 5045962-36.2015.404.7000, cuja integralidade não é juntada aos autos em razão do sigilo imposto judicialmente.

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A partir de então ficará em prisão domiciliar no período noturno e nos finais de semana. A prisão domiciliar, porém, depende da prolação da sentença, ainda inexistente. Então por ora apenas expeça-se alvará de soltura em favor do acusado a ser cumprido no dia 02/11/2015.

(...)”16

4.11. E, expressamente no alvará de soltura 17

expedido em favor do paciente – cumprido no dia 02 de novembro de

2015, assim constou:

16 Evento 22, DESPADEC1, dos autos de colaboração n. 5045962-36.2015.404.7000, cuja integralidade não é juntada aos autos em razão do sigilo imposto judicialmente. 17 Evento 24, ALVSOLTURA1, dos autos de colaboração n. 5045962-36.2015.404.7000, cuja integralidade não é juntada aos autos em razão do sigilo imposto judicialmente.

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4.12. Portanto, com a máxima vênia a d. Autoridade

Coatora, em nenhum local dos autos de colaboração premiada ou mesmo

de ação penal consta que o descumprimento do acordo levaria o acusado

ao cárcere e mais, em nenhuma linha dos autos de colaboração premiada

ou mesmo de ação penal consta que o Ministério Público deduziu pedido

autônomo em favor da liberdade do paciente sob a razão expressa “de que,

em virtude do acordo, esvaziar-se-iam os requisitos, no caso, até então tidos

como hábeis para fundamentar a segregação cautelar.” Por fim, mas em

tempo: EM NENHUM MOMENTO FERNANDO MOURA DESCUMPRIU AS

CONDIÇÕES IMPOSTAS A ELE NO ALVARÁ DE SOLTURA ACIMA DESCRITO.

4.13. As conclusões, portanto, foram adotadas – com

o máximo respeito – por livre deliberação, convencimento e risco da d.

Autoridade Coatora, sem qualquer amparo nos autos.

4.14. De outro canto, não se pode perder de vista

que o grande e maior prejuízo ao paciente – a partir da quebra do acordo –

foi a fixação de pena privativa de liberdade no patamar dos 16 anos de

reclusão. Nada obstante, de acordo com o d. Juízo de piso e também com a

d. Autoridade Coatora, a imposição de 16 anos de pena não serve sozinha

como “sanção” pela quebra do acordo, mas precisa vir acompanhada desta

odiosa e ilegal prisão preventiva aqui combatida.

4.15. Como se não bastasse, na singularidade do

caso também está a decretação de ofício da prisão preventiva do

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paciente!!! O Ministério Público Federal requereu, seja nos autos 5005513-

02.2016.404.7000, seja na própria ação penal 5045241-84.2015.404.7000,

apenas a quebra do acordo, mas deixou de requerer a prisão preventiva do

paciente, certamente por enxergar a sua desnecessidade e

imprestabilidade. Como visto, de nada adiantou, pois entendeu o d. Juízo

de piso, indevidamente chancelado agora pela r. decisão advinda da d.

Autoridade Coatora, pela decretação ex officio18 da segregação cautelar do

paciente.

4.16. De mais a mais, já a título de remate, as

premissas adotadas pela d. Autoridade Coatora, em especial aquela de que

a liberdade do paciente teria sido restituída a partir de uma expectativa do

cumprimento do acordo de colaboração não pode ensejar a manutenção

do decreto ilegal de prisão hoje em vigor. A um, porque a decisão que

colocou o requerente em liberdade não foi motivada por este argumento

(na verdade, silenciaram Ministério Público Federal e o d. Juízo de piso a

respeito). A dois, porque o descumprimento de expectativa de acordo de

colaboração não está dentre os requisitos descritos no artigo 312 do Código

de Processo Penal e que possibilitam a segregação provisória da liberdade

18 Sabiamente vaticinou Aury LOPES JR.: “A imparcialidade do juiz fica evidentemente comprometida quando estamos diante de um juiz-instrutor (poderes investigatórios) ou, pior, quando ele assume uma postura inquisitória decretando- de ofício – a prisão preventiva. É um contraste que se estabelece entre a posição totalmente ativa e atuante do inquisidor, contrastando com a inércia que caracteriza o julgador. Um é sinônimo de atividade e o outro de inércia. Assim, ao decretar uma prisão preventiva de ofício, assume o juiz uma postura incompatível com aquela exigida pelo sistema acusatório e, principalmente, com a estética de afastamento que garante a imparcialidade.” LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 633.

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do processado. A três, mas não menos importante, a quebra do acordo de

colaboração já traz (e de fato trouxe) prejuízos ao acusado-colaborador,

redundando em pena fixada no estratosférico patamar de 16 anos.

5. DAS MEDIDAS ALTERNATIVAS À PRISÃO

PREVENTIVA

5.1. As medidas alternativas previstas no artigo 319

são, a sua vez, absolutamente suficientes a tutelar a Apelação Criminal e os

demais procedimentos em curso ainda na 13ª Vara Federal de Curitiba/PR,

por mais que o d. Juízo de primeiro grau tenha entendido como não eficazes

por conta da “porosidade” das fronteiras.

5.2. Para a surpresa dos impetrantes, a d. Autoridade

Coatora reserva 01 (“um”) único parágrafo para tratar deste importante

tema, tendo dito que “mostram-se insuficientes as medidas cautelares

diversas, previstas no art. 319 do Código de Processo, seja pelas razões

evidenciadas no v. acórdão combatido, seja em razão da particular

peculiaridade de que, no caso, contra o recorrente já foi proferida sentença

condenatória.”

5.3. Com o advento das alterações trazidas pela Lei

12.403/11, a prisão reafirmou o seu caráter subsidiário, sendo que

somente “será determinada quando não for cabível a sua substituição por

outra medida cautelar” (art. 282, § 6º, do CPP):

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“Essas medidas visam garantir a eficiência da atividade persecutória estatal, a aplicação da lei penal, ou a garantia da ordem pública ou econômica. Conforme frisamos acima, até a presente alteração legislativa as únicas medidas cautelares aplicadas no processo penal para o cumprimento de tais finalidades eram as prisões cautelares (e, em bem menor escala, a fiança). Com a criação das medidas cautelares diversas da prisão, a ordem de preferência deverá ser alterada: a prisão cautelar será, dentro de um juízo de proporcionalidade, a última medida cautelar a ser decretada.”19

5.4. Com isso, pretendeu o legislador que a prisão

preventiva seja decretada somente quando as disposições do artigo 319 do

Código de Processo Penal se mostrem notoriamente insatisfatórias ou

insuficientes. Assim, para fugir à regra, que é a aplicação das cautelares do

artigo 319 do Código de Processo Penal, deveria a d. autoridade judicial

monocrática ter exposto de modo individualizado as razões pelas quais o

paciente, QUE NUNCA TURBOU A INVESTIGAÇÃO E NUNCA ATRAPALHOU A

APLICAÇÃO DA LEI PENAL, não merecia a aplicação das medidas cautelares

diversas da prisão e não meras ilações gerais cabíveis a qualquer caso.

5.5. O comparecimento periódico ao d. Juízo de

primeiro grau, a proibição de se ausentar da Comarca, a proibição de

manter contato com determinadas pessoas, o pagamento de fiança, o

recolhimento domiciliar e o monitoramento eletrônico poderiam, neste

caso concreto, atingir finalidade idêntica à da prisão preventiva, qual seja,

acautelar o processo. Neste sentido, esta E. Corte Constitucional nos autos

19 BIANCHINI, Alice, et al. Prisões e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. 2ª ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

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do Habeas Corpus 130.636/PR – também oriundos desta mesma operação

Lava Jato –, assim determinou:

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5.6. Se o Direito fosse entendido tão somente como

garantia da ordem, da segurança, da paz pública, como pacificadora da

hostilidade humana, a função estabilizadora de expectativas de conduta já

seria suficiente. No entanto, tanto não o é, que são empregados meios

restritivos de liberdade pelo Estado para tal fim. Assim, a segurança no

Estado de Direito deve ser assegurada por meios legítimos e a segurança

jurídica no Estado Constitucional é garantida pelos próprios direitos

fundamentais, sendo também direito fundamental a segurança dos

direitos.

5.7. Longe de considerações de vertente ideológica,

mister destacar que a segurança jurídica aqui a ser enfrentada é a da

previsibilidade das decisões judiciais, já que o órgão que julga casos iguais

de forma desigual, ao invés de distribuir justiça, prolifera insegurança.

5.8. O constitucionalista Ingo SARLET 20 sustenta

inclusive que a segurança jurídica está intimamente ligada à noção de

dignidade da pessoa humana:

“Considerando que também a segurança jurídica coincide com uma das mais profundas aspirações do ser humano, viabilizando, mediante a garantia de uma certa estabilidade das relações jurídicas e da própria ordem jurídica como tal, tanto a elaboração de projetos de vida, bem como a sua realização, desde logo é perceptível o quanto a ideia de segurança jurídica encontra-se umbilicalmente vinculada a própria noção de dignidade da pessoa humana. (...) a dignidade não restará

20 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia do direito fundamental à segurança jurídica: dignidade da pessoa humana, direitos fundamentais e proibição de retrocesso social no direito constitucional brasileiro. In: Revista Brasileira de Direito Público - RBDP, Belo Horizonte, ano 3, n. 11, out/dez 2005, p. 119.

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suficientemente respeitada e protegida em todo o lugar onde as pessoas estejam sendo atingidas por um tal nível de instabilidade jurídica que não estejam mais em condições de, com um mínimo de segurança e tranquilidade confiar nas instituições sociais e estatais (incluindo o Direito) e numa certa estabilidade das suas próprias posições jurídicas”.

5.9. Nesse diapasão, é que se socorre a esta Colenda

Corte Superior para o fim de corrigir a ilegalidade a que o paciente está

submetido, lhe devolvendo a dignidade humana ao determinar a aplicação

dos precedentes da Corte Constitucional (Habeas Corpus n. 127.186/PR e

n. 130.636/PR) e, por conseguinte, a substituição da prisão pelas medidas

cautelares alternativas plenamente passíveis de aplicação ao caso concreto

e descritas no artigo 319 do Código de Processo Penal.

6. PEDIDO LIMINAR.

6.1. Esta ordem de Habeas Corpus possibilita a

prestação preliminar, o que desde já se requer, eis que presentes todos os

pressupostos necessários para o seu deferimento.

6.2. Os argumentos fáticos e jurídicos, in casu, o

fumus boni iuris, estão devidamente demonstrados.

6.3. Já o “perigo da demora” é mais do que

flagrante, isto porque se trata de paciente preso e submetido às agruras do

cárcere cuja descrição é aqui desnecessária. Ademais, é primário, com bons

antecedentes e endereço fixo, circunstâncias estas que associadas a tudo o

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mais aqui disposto, tornam possível e adequada a concessão do pedido

liminar.

7. REQUERIMENTOS

7.1. Frente ao exposto e ao mais alto conhecimento

jurídico de Vossas Excelências, requer-se:

(a) o deferimento da liminar para o fim de

determinar a imediata soltura do paciente ante

as ilegalidades acima demonstradas, em

especial a impropriedade da prisão preventiva a

que está submetido;

(b) a notificação da autoridade coatora para,

querendo, prestar as informações que entender

pertinentes;

(c) a notificação da Procuradoria Geral da

República para, querendo, emita parecer a

respeito;

(d) no mérito, em face do claro

descumprimento da legislação aplicável ao caso

e à inexistência de motivos que demonstrem ser

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necessária a manutenção do paciente preso,

requer-se a concessão da presente ordem de

HABEAS CORPUS para o fim de ser devolvida a

liberdade ao paciente, com ou sem a imposição

das medidas alternativas previstas no artigo 319

do Código de Processo Penal.

Nestes termos, pedem deferimento. De Curitiba/PR para Brasília/DF, 26 de outubro de 2016.

DANIEL LAUFER MARIA FRANCISCA ACCIOLY OAB/PR 32.484 OAB/PR 44.119

ROL DE DOCUMENTOS ANEXOS A ESTA ORDEM DE HABEAS CORPUS

DOC. 01 – PROCURAÇÃO DOC. 02 – DECRETO DE PRISÃO ORIGINAL EXARADO NOS

AUTOS DE REPRESENTAÇÃO CRIMINAL N. 5031859-24.2015.4.04.7000 DOC. 03 – DENÚNCIA OFERECIDA CONTRA O PACIENTE NOS

AUTOS DE AÇÃO PENAL N. 5045241-84.2015.4.04.7000 DOC. 04 – SENTENÇA PROFERIDA NOS AUTOS DE AÇÃO PENAL

N. 5045241-84.2015.4.04.7000 – ATUAL DECRETO DE PRISÃO EM DESFAVOR DO PACIENTE

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Page 49: tópicos sentenciais meramente retóricos, 032.156.371-97 HC ... · 1. Prisão preventiva decretada em sentença condenatória que não atende aos requisitos do artigo 312 do Código

4949

DOC. 05 – INTEIRO TEOR ACÓRDÃO DO HABEAS CORPUS N. 5029593-78.2016.4.04.0000 JULGADO PELO E. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

DOC. 06 – PRINT DA TELA DO SISTEMA E-PROC DO TRIBUNAL

REGIONAL DA 4ª REGIÃO QUE CONFIRMA A ATUAL FASE (EM 02 DE SETEMBRO DE 2016) DA APELAÇÃO CRIMINAL N. 5045241-84.2015.4.04.7000

DOC. 07 – INTEIRO TEOR DO ACÓRDÃO PROFERIDO NOS

AUTOS DE RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS N. 76026/PR PELO E. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

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