torre negra mais ambiciosa e p

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Page 1: Torre Negra Mais Ambiciosa e p

A TORRE NEGRA | a mais

ambiciosa e primorosa jornada de

Stephen King

“Embora eu tenha gasto uma excessiva

quantidade de tempo escrevendo os livros da

série nos 33 anos entre 1970 e 2003,

relativamente poucas pessoas os leram.

Aqueles que o fizeram, no entanto, ficaram

consideravelmente apaixonados, e eu mesmo

me senti consideravelmente assim (…) Escrevi

uma quantidade de romances e contos

suficiente para preencher um sistema solar

da imaginação, mas a história de Roland é

meu Júpiter — um planeta que transforma

todos os outros em anões (pelo menos de

minha própria perspectiva), um lugar de

atmosfera estranha, paisagem louca e

selvagem força gravitacional”.  É dessa forma

que Stephen King define a relação entre a criação e a repercussão de A Torre Negra, sua obra mais

longa e ambiciosa.

Mas afinal, o que é A Torre Negra, essa saga que o próprio mestre do terror considera sua obra-prima?

É o tipo de história que talvez não seja tão conhecida por não ter ganhado nenhuma adaptação. Em

tempos em que quase todos os livros de fantasia acabam no cinema ou na TV, a Torre Negra

permaneceu apenas em suas páginas. Projetos televisivos já foram anunciados e abandonados pela

Universal, Warner Bros., Media Rights Capital e HBO. Atualmente a Netflix parece ter interesse na

adaptação, mas nada foi anunciado oficialmente.

Sempre que surgem notícias desses projetos, a reação dos leitores é a mesma: de que uma adaptação

seria um caminho árduo demais, praticamente impossível. Por quê? Porque A Torre Negra é uma saga

difícil de ser explicada (ouvi isso quando me indicaram os livros, e devo ter dito algo parecido nas

vezes em que repassei a indicação), o que não quer dizer que seja difícil de ser lida e amada.

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A Torre Negra é uma série de fantasia inspirada no poema épico de Robert Browning “Childe Roland a

Torre Negra chegou” e composta por sete volumes: O pistoleiro (1982), A escolha dos três (1987), As

terras devastadas (1991), Mago e vidro (1997), Lobos de Calla (2003), Canção de Susanna (2004) e A Torre

Negra (2004). A saga segue os moldes tolkianos, no sentido de relatar uma busca, nesse caso, a busca

do pistoleiro Roland Deschain pela torre do título, o centro de todo nexo e espaço.

Entre as inspirações e referências da série estão as lendas arturianas. Os pistoleiros, dos quais Roland

de Gilead é o último remanescente, são uma espécie de Cavaleiros da Távola Redonda. Trocando, é

claro, as espadas e escudos por dois revólveres de cabos de sândalo, passados de pai para filho.

Os filmes de faroeste também inspiraram Stephen King na criação de sua história. Roland Deschain é o

tipo de cara durão, absurdamente durão, que poderia ter saído de um típico western americano (onde

certamente seria interpretado por Clint Eastwood). Só que não é pelo Velho Oeste que o pistoleiro

caminha. Último de sua linhagem e de seu tempo, Roland está condenado a vagar por um mundo pós-

apocalíptico, o Mundo Médio, onde as noções de tempo e de espaço já não fazem mais sentido, um

mundo que seguiu adiante.

“O Homem de Preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás”.

No caminho do pistoleiro, somos apresentados a termos como o Ka, algo parecido com destino, talvez

um pouco mais forte e implacável. A missão de Roland, o seu Ka, é encontrar a Torre Negra, a última

esperança de reconstrução desse universo despedaçado.

A tal torre parece ser uma coisa abstrata, difícil de ser imaginada ou compreendida. Será que ela

existe? É uma estrutura física ou elemento metafórico? Dúvidas que persistem ao longo dos livros, mas

que Stephen King, através da determinação de Roland, faz com que o leitor, apesar das incertezas,

passe a acreditar que tudo depende da Torre Negra, e que ela precisa manter-se em pé.

A realidade é tênue no universo do pistoleiro de Gilead, muitas portas se abrem do Mundo Médio para

outros mundos, inclusive para o nosso. E é a partir dessas viagens entre diferentes realidades que a

saga se torna ainda mais complexa e cheia de referências à cultura contemporânea. Referências que

vão desde robôs e aparelhos eletrônicos a músicas do Elton John (!). E é também a partir das

passagens entre mundos que Roland encontra seu Ka-tet (aqueles unidos pelo destino). Companheiros

de viagem saídos de diferentes versões de Nova York: um viciado em heroína, uma negra paraplégica

e esquizofrênica e um garoto com sérios problemas familiares. Além de um bicho que é uma mistura

de cachorro e guaxinim… (ok, eu avisei que a coisa era complexa).

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“Somos ka-tet, somos um feito de muitos”

Mas não nos esqueçamos da segunda parte da afirmação inicial de King.  A série é apaixonante e

envolvente, e a espera daqueles que a acompanharam desde o início foi tensa. Passavam-se anos

entre a publicação de um livro e outro. Enquanto isso, choviam cartas dos leitores e nem todas eram

apenas fruto da impaciência. Em 1992, o escritor recebeu uma carta de uma senhora de 76 anos com

um diagnóstico de tumor no cérebro, que lhe pedia: “poderia me dizer como a história da Torre Negra

termina, pelo menos se Roland e seu ‘Ka-tet’ chegam realmente à Torre Negra? Prometo não dizer uma

palavra a uma alma e o senhor estará tornando uma moribunda muito feliz”. King diz que não soube o

que responder, pois não sabia ainda qual rumo sua história iria tomar.

“Assim eles se uniram e assim se condenaram. Ka.”

No fim das contas, quem quase morreu nesse meio tempo foi o próprio Stephen King. No dia 19 de

junho de 1999 o escritor foi atropelado por uma van enquanto caminhava nos arredores de sua casa,

no Maine.  O escritor por pouco não chegou à “clareira no fim do caminho” e a Torre Negra quase

permaneceu inacabada.

King, que chegou a ser dado como morto por alguns jornais locais, teve danos pulmonares, fraturas

múltiplas na perna direita, fratura no quadril, lacerações na cabeça e uma firme convicção: era preciso

terminar a historia de Roland e sua torre. Os três últimos volumes da saga foram escritos e publicados

num intervalo de tempo de apenas três anos. E a experiência do acidente de King está presente de

maneira bastante contundente e literal neles.  Sim, Stephen King aparece – como Stephen King – na

história.

Outro elemento que torna evidente a importância da Torre Negra para o escritor é a relação com suas

outras obras. Ao longo da saga é possível encontrar referências e elementos de outros livros do autor.

Um personagem de a Hora do Vampiro, por exemplo, participa ativamente da história nos últimos três

volumes da saga.

O retorno ao Mundo Médio

Embora a história da Torre Negra tenha encontrado seu desfecho no volume sete, restaram muitas

pontas soltas, principalmente no que diz respeito ao passado do pistoleiro. Algumas dessas lacunas

foram preenchidas por HQs lançadas pela Marvel a partir de 2007. E mais recentemente por um novo

livro da série. O Vento pela Fechadura foi lançado no Brasil em junho desse ano e é classificado por

Stephen king como “a Torre Negra 4,5”, já que se encaixa entre Mago e Vidro e Lobos de Calla.

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“O vento está do outro lado da fechadura. E aqui, de onde ele vem? De toda a eternidade. E da Torre Negra”.

Trata-se de uma obra adicional, que interfere muito pouco no caminho em busca da Torre, mas que é

tão interessante quanto as outras.  É um livro sobre contar histórias, e “uma pessoa jamais fica velha

demais para ouvir histórias. Homem e menino, menina e mulher. Jamais …”, como nos diz o próprio

Roland.

Também é um livro sobre lembranças. As lembranças da juventude de Roland, contadas pelo

pistoleiro ao Ka-tet durante uma tempestade. Recordações do seu doloroso passado e da infância em

Gilead, ouvindo as histórias que sua mãe contava. Além disso, O Vento pela Fechadura mexe com as

lembranças dos leitores d’A Torre Negra, que têm a chance de matar a saudade de seus personagens e

de seus mundos, já que sensação de nostalgia ao encontrar o “Ka-tet do 19” é palpável.

O que fica ainda mais claro com a publicação de o Vento pela Fechadura é que Stephen King vive

tentado a escrever mais sobre o Mundo Médio. Peças soltas não faltam nesse quebra-cabeça, e eu não

duvido que ele paneja escrever novos relatos do misterioso passado de Roland, por exemplo. Porque

mesmo que o mundo tenha seguido adiante, os leitores da Torre Negra sabem (e os novos leitores vão

descobrir) que muitas coisas são cíclicas, afinal, “o Ka é uma roda” e está sempre girando.

“Vá então. Há muitos mundos além deste”.

Sobre o autor

Merlim Malacoski Estudante de jornalismo. Teimosa por natureza e insone por

opção. É viciada em literatura fantástica e apaixonada por Gabriel García Márquez.

Não promoveu 32 revoluções armadas, mas perdeu todas.

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