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  • Licenciatura em Espanhol

    Forma e Contedo na Poesia I:A herana clssica

    Aula 09

    Teoria da Literatura IAna Santana SouzaIlane Ferreira Cavalcante

  • TEORIA DA LITERATURA IAula 09Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    Professor Pesquisador/conteudistaANA SANTANA SOUZA ILANE FERREIRA CAVALCANTE

    Direo da Produo de Material DidticoARTEMILSON LIMA

    Coordenadora da Produo de Material DidticoSIMONE COSTA ANDRADE DOS SANTOS

    Reviso LingusticaELIZETH HERLEIN

    Coordenao de Design GrficoROSEMARY PESSOA BORGES

    DiagramaoHERBART MUNIZ DE AZEVEDO JUNIOR

    IlustraoMATEUS PINHEIRO DE LIMA

    EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA

    Campus EaDRIO GRANDE DO NORTE

    INSTITUTO FEDERAL DE

    GOVERNO DO BRASIL

    Presidente da RepblicaDILMA VANA ROUSSEFF

    Ministro da EducaoFERNANDO HADDAD

    Diretor de Ensino a Distncia da CAPESJOO CARLOS TEATINI

    Reitor do IFRNBELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA

    Diretor do Cmpus EaD/IFRNERIVALDO CABRAL

    Diretora Acadmica do Cmpus EaD/IFRNANA LCIA SARMENTO HENRIQUE

    Coordenadora Geral da UAB /IFRNILANE FERREIRA CAVALCANTE

    Coordenador Adjunto da UAB/IFRNJSSIO PEREIRA

    Coordenador do Curso a Distnciade Licenciatura em Letras-Espanhol

    CARLA AGUIAR FALCO

    C837i Souza, Ana Santana. Teoria da literatura I / Ana Santana Souza, Ilane Ferreira Cavalcante. Natal : IFRN, 2012. Vrias paginaes : il. color.

    ISBN

    1. Teoria da literatura. 2. Literatura Estudo e ensino. 3. Literatura Conceito. I. Cavalcante, Ilane Ferreira. II. Ttulo.

    CDU 82.0

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Joel de Albuquerque Melo Neto CRB 15/320

    charlesbamamTypewritten Text978-85-8333-032-5

  • Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    p03 Aula 09

    Ol, estamos comeando uma nova fase em nossa disciplina. A partir de agora, e pelas prximas 05 aulas, vamos aprender alguns detalhes dos gneros poticos, sua histria, seus principais aspectos formais e temticos. Nesta aula, voc vai conhecer a origem dos gneros literrios, comeando pela distino entre poesia e poema, alm de algumas das formas clssicas mais importantes.

    Ao final desta aula, voc dever:

    diferenciar poesia e poema;

    compreender a origem da diviso entre os gneros literrios;

    conhecer os aspectos gerais da poesia pica.

    Apresentao e Objetivos

    Aula 09Forma e Contedo na Poesia I:

    A herana clssica

  • Teoria da Literatura I p04

    Aula 09

    A poesia conhecimento, salvao, poder, abandono. Operao capaz de transformar o mundo, a atividade potica revolucionria por natureza; exerccio espiritual, um mtodo de libertao interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Po dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite viagem; regresso

    terra natal. Inspirao, respirao, exerccio muscular. Splica ao vazio, dilogo com a ausncia, alimentada pelo tdio, pela angstia e pelo desespero. Orao, litania, epifania, presena. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimao, compensao, condensao do inconsciente. Expresso histrica de raas, naes, classes. Nega a histria, em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a conscincia de ser algo mais que passagem.

    Otvio paz, O Arco e a lira.

    O poeta chileno Otvio Paz, em seu ensaio sobre poesia, O arco e a lira (1982), enumera, de forma transbordante, como a poesia vem sendo descrita ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, liberdade e abandono, submisso e revoluo, a poesia suscita as paixes humanas e, como tal, pode ser tratada de forma bastante contraditria. Ao longo desta aula, vamos tratar um pouco sobre a poesia, mas principalmente sobre poemas, sobre os gneros poticos e sua gnese. Mas, qual a diferena entre poesia e poema, voc sabe?

    1. Poesia e poema

    Reforando a pergunta: o que poema? O que poesia? Voc diria que o texto de Otvio Paz, acima, potico? Mas um poema? Bem, na escola aprendemos que a diferena entre o poema e a prosa que esta escrita em frases, que se organizam em enunciados, pargrafos, perodos; enquanto aquele (o poema) se organiza em versos que se dividem em versos e estrofes. Pensando nessa diferena, o que voc acha que definiria o texto de Otvio Paz? difcil, no mesmo? Porque, do ponto de vista da forma, ele se divide em frases e pargrafos, mas, ao mesmo tempo, a fluncia do texto extremamente potica.

    Para Comear

    Assim

    Fig. 01 - mo escrevendo

  • Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    p05 Aula 09

    Massaud Moises (1987) nos lembra que o termo poiesis, de poien grego, tinha o sentido de criar, imaginar. Em latim, a poesia era chamada de oratio vincta, isto , linguagem travada, regrada, que se opunha a oratio prorsa, linguagem direta, livre. Prorsa transformou-se em prosa, em nossa lngua. A etimologia das duas palavras j coloca a poesiaem uma posio mais elevada, mais filosfica.

    A palavra poema vem da mesma origem do termo poesia poien e significa fazer. Tradicionalmente, o termo utilizado para designar o texto em que o fenmeno potico se manifesta. Assim, tendemos sempre a confundir, chamando os textos de poemas ou de poesia.

    De qualquer forma, o poema sempre, a partir da definio que demos acima, um texto dividido em versos e/ou estrofes. O poema , portanto, um texto. Um objeto concreto. A poesia, por outro lado, no tem essa concretude. Poderia ser considerada uma substncia imaterial que d vida ao poema, mas que tambm pode estar presente em outros elementos: uma paisagem, um quadro, um momento.

    O fato que no so as coisas, em si, que so poticas, mas a provocao que essas coisas, em determinados momentos/situaes provocam nos sentidos humanos. So assim, poticos, os aspectos transitivos das coisas, que afetam nossos sentidos e nossa conscincia.

    Para Lyra, as coisas podem nos afetar a partir de trs categorias que ele organiza da seguinte forma:

    Essas trs categorias podem nos afetar de diferentes formas e cada aspecto tem diferentes nuances de forma a constituir o potico a partir de uma situao de vida ou de linguagem. Assim que algo pode nos chamar a ateno por sua novidade (uma paisagem que subitamente surge nossa frente em uma viagem) ou pode tambm adquirir carter potico por sua antiguidade, (seja uma runa ou o retorno cidade da infncia). Para Lyra (1986, p. 18) toda essa carga de vida acumulada que o objeto antigo transmite ao sujeito que entra em contato com ele, e por isso se configura como potico.

    Fig. 02 - Poesia

    Fonte: Lyra (1986, p.10)

    Categoria Aspectos

    Durao Novidade Antiguidade

    Magnitude Grandeza Pequenez

    Aparncia Beleza Feira

  • Teoria da Literatura I p06

    Aula 09

    A grandeza, em geral, pode ser definida como o atributo daquilo que ultrapassa as medidas, a mdia. Para existir, no entanto, ela depende da pequenez, porque justamente a medida da pequenez que determina o seu parmetro oposto. Essas medidas e todas as suas nuances intermedirias, tambm causam efeito potico, como nos demonstra o soneto de Augusto dos Anjos, a seguir:

    Quando, noite, o infinito se levanta

    luz do luar, pelos caminhos quedos

    Minha tctil intensidade tanta

    Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

    A grandeza do infinito, do Cosmos, encanta o poeta que a transforma em poema. J dizia Aristteles, em sua Potica, que o contedo do pico de vasto assunto, ou seja, tudo o que vasto, grande, assunto para os poemas picos. J a pequenez, seja pela sua fragilidade ou fora, seja pela sua beleza ou por algum atributo negativo a ela atribudo, tambm pode adquirir uma tonalidade potica.

    Da mesma forma, a beleza e a feiura. O belo e o feio podem ser explorados poeticamente de diversas formas, podem ser tratados, vistos, sentidos poeticamente em vrios matizes. evidente que h uma opo clssica pela beleza perfeita, pela simetria. Mas a modernidade, seja no gtico romntico, seja no simbolismo decadente tambm explora a feiura, caso do soneto Remorso Pstumo, do poeta francs Charles Baudelaire, em que o poeta representa a morte e um cadver:

    Quando fores dormir, bela tenebrosa

    Em fundo de uma cripta em mrmore lavrada

    Quando tiveres s por alcova e morada

    O vazio abismal de carneira chuvosa;

    Quando a pedra, a oprimir tua fronte medrosa

    E teus flancos a arfar de exausto encantada,

    Mudar teu corao numa furna calada

    Amarrando-te os ps na rota aventurosa,

    A tumba, confidente do sonho infinito

    (Pois toda a vida a tumba h de entender o poeta),

    Pela noite imortal de que o sono prescrito,

    Fig. 03 - tmulo

  • Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    p07 Aula 09

    Te dir: De que serve, hetaira incompleta,

    No teres conhecido o que choram os mortos?

    E os vermes te roero assim como os remorsos.

    Por todos esses aspectos, que podemos perceber que mais simples definir o poema que a poesia. O poema o objeto em si, concreto, o texto. Poesia algo mais fluido e indefinvel, uma qualidade que, muitas vezes, carece de concretizao dada pelos sentidos e pelo leitor, para existir no poema.

    Mas, voltando ao poema, saber o que ele nos ajuda a compreender sua forma? Ou seja, quando poema? O poema , j sabemos, escrito em versos. Pode ou no ser dividido em estrofes. Mas h tantas formas poticas diversas que, para compreendermos, precisamos retomar um pouco da histria dos gneros literrios. Para fazermos isso, retomamos Aristteles. Antes de iniciarmos esse passeio histrico, no entanto, que tal dar uma paradinha e fazer um breve exerccio?

    1. Descreva um momento, um quadro, um texto que, para voc, tenha carga potica.

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    2. Relembre um poema de que goste e defina, em poucas palavras, porque ele tem carga potica para voc.

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    3. Indique o que voc compreendeu acerca das categorias apresentadas por Pedro Lyra no quadro que compe esta aula e como essas categorias interferem na natureza potica com que dotamos as coisas.

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    Mos obra

  • Teoria da Literatura I p08

    Aula 09

    Aristteles, como j mencionamos em aulas anteriores, foi o primeiro terico a sistematizar o estudo sobre a literatura. Em seu livro Potica, ele inicia seu estudo j definindo dois aspectos muito importantes: a literatura imitao (mimesis) e existe concretizada em trs gneros principais: a poesia pica, a tragdia e a comdia.

    Nosso propsito abordar a produo potica em si mesma e em seus diversos gneros, dizer qual a funo de cada um deles, e como se deve construir a fbula visando conquista do belo potico; qual o nmero e natureza de suas (da fbula) diversas partes, e tambm abordar os demais assuntos relativos a esta produo. Seguindo a ordem natural, comearemos pelos pontos mais importantes.

    A epopia e a poesia trgica, assim como a comdia, a poesia ditirm-bica, a maior parte da aultica e da citarstica, consideradas em geral, todas se enquadram nas artes de imitao.

    Contudo, h, entre estes gneros, trs diferenas: seus meios no so os mesmos, nem os objetos que imitam, nem a maneira de os imitar.

    [...]

    tambm essa diferena o que distingue a tragdia da comdia: uma se prope imitar os homens, representando-os piores; a outra os torna mel-hores do que so na realidade.

    (ARISTTELES, 2012, p.1)

    O pensador grego deixa bem claro que as artes humanas so sempre imitao, que utilizam, para imitar, diversos instrumentos/linguagens: podem imitar a partir do gesto, do som, da palavra. Essa distino do instrumento a primeira que ele faz. A segunda seriam os objetos que imitam. H, para ele, gneros que imitam seres superiores e outros que imitam os inferiores. E ele os valoriza de acordo com esse parmetro. Ou seja, trata sobre a pica e sobre o trgico, mas deixa o cmico para outro livro que, ou no escreveu ou no chegou at ns.

    O gnero potico se dividiu em diferentes espcies, consoante o carter moral de cada sujeito imitador. Os espritos mais propensos gravidade re-produziram as belas aes e seus realizadores; os espritos de menor valor voltaram-se para as pessoas ordinrias a fim de as censurar, do mesmo modo que os primeiros compunham hinos de elogio em louvor de seus heris.

    (ARISTOTELES, 2012, p. 5)

    Aristteles, portanto, no valoriza, a comdia, por reproduzir os indivduos de menor valor. Mas tambm no valoriza o poema lrico, feito para ser acompanhado por um instrumento musical e cuja temtica estaria mais voltada para a expresso de sentimentos individuais. Justamente esse o gnero que iria alcanar maior expressividade a partir da Idade Mdia e at a modernidade. Vamos falar mais sobre esse gnero na prxima aula. Por agora, vamos nos debruar sobre o gnero potico mais nobre, de acordo com as categorias aristotlicas: o pico.

    Fig. 04

  • Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    p09 Aula 09

    Quanto epopia, por seu estilo corre a par com a tragdia na imitao dos assuntos srios, mas sem empregar um s metro simples ou forma negativa. Nisto a epopia difere da tragdia.

    E tambm nas dimenses. A tragdia empenha-se, na medida do possvel, em no exceder o tempo de uma revoluo solar, ou pouco mais. A epopia no to limitada em sua durao; e esta outra diferena. (ARISTOTELES, 2012, p. 8)

    A poesia pica, para ele, equivalente tragdia, ao texto de teatro, quanto imitao de homens nobres. Mas, diferente do teatro, no precisa se preocupar com o tempo, j que o teatro feito para ser representado e no pode ser muito longo. O poema pico feito para ser lido ou recitado, e no precisa se preocupar com o tempo de durao. Bem, para comear, a palavra pico vem do Latim epicus que se origina, por sua vez, do grego epikos, cuja raiz epos, esta significava, a princpio, palabra, depois passa a significar verso, recitao. Ento, a natureza potica da pica est na sua prpria etimologia, certo?

    Mas, o que seria o poema pico? Voc j leu algum? J ouviu falar? Vamos nos debruar um pouquinho sobre ele? Leia o trecho a seguir:

    (CAMES, 2012, disponvel em:http://www.oslusiadas.com/content/view/18/41/. Acesso: 03 de fev.2012).

    O fragmento acima compreende as trs primeiras estrofes de Os Lusadas, poema pico escrito pelo escritor portugus Lus de Cames, publicado, pela primeira vez, em

    As armas e os bares assinalados,

    Que da ocidental praia Lusitana,

    Por mares nunca de antes navegados,

    Passaram ainda alm da Taprobana,

    Em perigos e guerras esforados,

    Mais do que prometia a fora humana,

    E entre gente remota edificaram

    Novo Reino, que tanto sublimaram;

    E tambm as memrias gloriosas

    Daqueles Reis, que foram dilatando

    A F, o Imprio, e as terras viciosas

    De frica e de sia andaram devastando;

    E aqueles, que por obras valerosas

    Se vo da lei da morte libertando;

    Cantando espalharei por toda parte,

    Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

    Cessem do sbio Grego e do Troiano

    As navegaes grandes que fizeram;

    Cale-se de Alexandro e de Trajano

    A fama das vitrias que tiveram;

    Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

    A quem Neptuno e Marte obedeceram:

    Cesse tudo o que a Musa antgua canta,

    Que outro valor mais alto se alevanta.

  • Teoria da Literatura I p10

    Aula 09

    1556. Se voc observar, Cames fala, no poema, sobre nobres que alcanaram mares nunca dantes navegados enfrentaram muitos perigos e lutaram muitas guerras para aumentar a extenso de um imprio, o lusitano. Por isso, ele se prope a, cantando, espalhar por toda a parte (se a tanto o ajudar seu prprio engenho, ou seja, seu dom e sua arte), as faanhas dos nobres portugueses. A grandeza dessas faanhas so tantas que, para o poeta, ultrapassam as dos gregos e troianos, as de Alexandre o Grande e Trajano.

    Observe tambm, que Cames insiste em afirmar que ele canta o peito ilustre lusitano que conseguiu dobrar at deuses como Netuno e Marte, por isso, as faanhas desse povo so o mais alto valor que ele poderia cantar.

    O poema de Cames, se desdobra em dez cantos organizados em estrofes de oito versos cada uma. So, ao todo, 1102 estrofes que descrevem vrios episdios da histria do povo portugus, com nfase s aventuras do navegante Vasco da Gama em sua viagem para a ndia.

    Os lusadas, portanto, podem ser considerados um poema pico, se pensarmos na magnitude de seu contedo, toda a histria do povo portugus, no mesmo? Mas, na verdade, j se considera esse poema como um texto hbrido, com alguns aspectos do pico e variaes mais pessoais, ou lricas. H poemas picos muito mais antigos que ele, caso dos

    de Homero, por exemplo, que discorrem sobre as aventuras dos heris que lutaram na guerra de Troia. A Odisseia um poema que narra as aventuras de Ulisses (Odisseus, em grego) em sua viagem de volta sua casa, aps lutar em Troia. uma longa viagem, cheia de aventuras em que Ulisses demonstra todos os valores positivos que compem a figura de um heri grego: inteligncia, fora, beleza, altivez.

    O poema pico , na verdade, como voc pode ver, uma grande narrrativa. Para Aristteles, como vimos, uma narrativa em

    que o tempo no tem uma importncia significativa, em que se narram eventos do passado de um povo, em que essa narrao conta a histria de um heri, de uma busca.

    Para Massaud Moiss, o pico seria uma categoria potica assinaladora do momento em que o poeta alcana a maturidade interior, pois, para ele, todo poeta tende para o pico.(MOISS, 1987, p. 238). Essa seria uma viso bem abrangente do pico, pois rompe as barreiras de tempo e espao que, em geral, situam o pico como grandes momentos da literatura do passado. Ao mesmo tempo, essa viso abre perspectivas para

    Fig. 05

    Fig. 06

    Fig. 07

  • Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    p11 Aula 09

    se conhecer poemas que, embora no tenham um formato do pico tradicional, pelo tema ou por algum aspecto formal, apresentam aspectos do pico.

    Bem, mas o que caracterizaria, ento, o pico? Em primeiro lugar, um poema em que no importa a individualidade do poeta. Ou seja, apaga-se o mximo possvel o eue amplia-se a viso para o todo, para o mundo, para a terra inteira. O poeta tambm, ao voltar-se para o mundo, no s amplia sua viso, mas ingressa numa dimenso herica, positiva, ativa,

    Moiss (1987, p. 239), citando Bonnet, afirma que o pico exprimeas aes s quais atribumos o carter de grandeza. Isso leva o poeta a tambm ingressar num mundo mtico, em que se apelam a deuses, ninfas, seres de toda a ordem que deixam ainda mais evidente a fragilidade da condio humana. Por isso, o ser humano, do poema pico, um ser superior, cheio de virtudes, capaz de alcanar todos os seus objetivos, contando, inclusive, com a ajuda dos deuses.

    O que se diz do pico, portanto, que um poema que funda uma nao, pois traz um heri positivo, que apresenta os valores fundadores daquela identidade nacional e, em geral, narra um importante feito da histria daquela nao. Na Espanha, por exemplo, La cancin de mio Cid considerado o texto pico fundador da nao espanhola datado de 1207. Ele narra as aventuras de El Cid, um cavaleiro medieval baseado na histria de Rodrigo Dias de Vivar (1043 a 1099), nobre guerreiro espanhol que viveu no sculo XI, poca em que a Hispnia se dividia em reinos rivais e em

    que mouros e cristos se diagladiavam. El Cid descrito como um heri pico: nobre, valoroso, leal, justo, valoroso.

    A poesia pica, diz Walter Benjamin(1980), a me do romance, pois nela que se concentram as grandes narrativas protagonizadas por um heri, embora haja muitas diferenas entre esses dois gneros, at porque, o romance escrito em prosa, no mesmo? Mas essa uma outra histria, que no nos cabe desenvolver aqui. Bem, mas podemos dizer que entre as heranas clssicas que herdamos na literatura, o pico uma das mais importantes.

    Fig. 08 - El Cid

  • Teoria da Literatura I p12

    Aula 09

    1. Indique quatro caractersticas que definem a poesia pica.

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    2. Cite exemplos de outros textos que voc acredite conter elementos picos e justifique sua escolha.

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    Mos obra

    Nesta aula voc aprendeu a diferenciar poesia e poema, conheceu a origem dos gneros literrios e aprendeu o que caracteriza a poesia pica em relao a outros gneros. Tomou contato, tambm, com dois importantes poemas picos da Literatura Ocidental: Os Lusadas e A Odisseia e com um poema pico absolutamente relevante para o mundo hispnico: La cancin de mio Cid.

    J sei!

    Pesquise um pouco mais sobre Aristteles, e leia A sua potica. Voc pode encontrar o livro completo no site http://www.dominiopublico.gov.br, assim como diversas obras clssicas. Leia e resuma o que ele fala sobre: pico e trgico.

    Autoavaliao

  • Forma e Contedo na Poesia I: A herana clssica

    p13 Aula 09

    Tome contato com um dicionrio de termos poticos. Adquira um. Aqui, indico um que voc pode encontrar em sebos reais ou virtuais e que pode ser muito til em seus estudos sobre poesia.

    CAMPOS, Geir. Pequeno dicionrio de arte potica. So Paulo: Cultrix, 1978.

    Um passo a mais

    Referncias

    ARISTTELES. Arte Potica. Disponvel em:

    http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000005.pdf . Acesso: 03 de fev. 2012.

    BENJAMIN, Walter. O narrador. In: BENJAMIN, Walter et al. Pensadores. So Paulo: Abril Cultural, 1980.

    (CAMES, Luis Vaz de. Os Lusadas. Disponvel em: http://www.oslusiadas.com/content/view/18/41/ . Acesso: 03 de fev.2012).

    LYRA, Pedro. Conceito de poesia. So Paulo: tica, 1986.

    MOISS. Massaud. A criao literria: poesia. So Paulo: Cultrix, 1987.

  • Teoria da Literatura I p14

    Aula 09

    Fonte das figuras

    Fig. 01 - http://trotedacidadania.wordpress.com/tag/poesia/

    Fig. 02 - http://artequeepoesia.blogspot.com/2011/07/poesia-arte-do-encontro.html

    Fig. 03 - http://historiasoutrosmisterios.blogspot.com/2010/10/o-fantasma-de-ariella_22.html

    Fig. 04 - http://www.editora.ufop.br/?pagina=livraria&prod=dp&list=td&pg=1

    Fig. 05 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Lus%C3%ADadas

    Fig. 06 - http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-425640300-livro-odisseia-homero-frete-gratis-_JM?redirectedFromParent=MLB229358284

    Fig. 07 - http://valiteratura.blogspot.com/2011/04/iliada-homero-epopeia-classica.html

    Fig. 08 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:El_Cid_em_sua_ltima_Batalha.jpg