tjsp des moura ribeiro 11ª câmara - 7
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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ACÓRDÃO ^
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
*02261666*
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. Vistos> relatados e discutidos estes autos, de Apelação n° 1158609-3, da Comarca de São Paulo, em que é Apelante Paulo Roberto de Bello, sendo Apelado Unibanco União de Bancos Brasileiros S/a:,
, ACORDAM, em 11* Câmara Direito - Privado ', do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: " Negaram provimento ao recurso, com rejeição da preliminar, v.u.", de .conformidade com o relatório e voto do Relator, que integram este acórdão.
- Participaram do julgamento os(as) Desembargadores(as) Moura Ribeiro, Soares Levada ,e Gil Coelho. Presidência do(a) Desembargador(a) Vieira de Moraes.
São Paulo, 2 de abril de 2009.
Moura Ribeiro Relator(a)
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO . .
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APELAÇÃO COM REVISÃO N° 1.158.609-3
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,COMARCA: SAOTAULO - 1a Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros /
J
APELANTE(S): PAULO ROBERTO DE BELLO
APELADO/A(S): UNIBANCO - UNIÃO DE, BANCOS BRASILEIROS
S..A.
VOTO N° 13.780
EMENTA: Ação de rescisão contratual c.c. restituição das parcelas pagas julgada improcedente - Apelação do mutuário firme nas teses de. que (1) houve cerceamento de defesa diante do julgamento antecipado da lide; (2) ocorreu confusão entre o contrato de compra imobiliária e o de mútuo financeiro, tendo em vista que permitida a cumulação dos pedidos de rescisão com o de revisão contratual e, (3) ocorreu
1 anatocismo - Não acolhimento - Feito maduro para julgamento - Atualização'do saldo devedor pelos mesmos índices aplicados nas contas das cadernetas de poupança e, por conseqüência, pela
, variação da TR (Taxa Referencial) - Forma de amortização com precedência da atualização do saldo devedor (Tabela Price) admissível sob pena de gerar corrosão inflacionária da moeda e amortização além do devido - Ausência de anatocismo - Ou o mutuário quer a rescisão do cojitrato ou ele quer sua revisão - Aplicação ao art. 586, do CC/02 (correspondente ao art. 1.256, do CC/16) -
' Preliminar rejeitada - Recurso não provido. /
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Da sentença que julgou improcedente a. ação. de
rescisão contratual c.c. restituição dás parcelas pagas ajuizada pelo
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APELAÇÃO COM REVISÃO N° 1.158.609-3
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mutuário contra o banco -mutuante, sobreveio "apelação daquele firme
nas teses de. que (1)N houve cerceamento de defesa diante do
julgamento antecipado da lide; (2) ocorreu confusão entre o contrato de
compra imobiliária e o de mútuo financeiro, tendo em vista que poderia
ter cumulado os pedidos de rescisão com o de revisão contratual e, (3)
ocorreu anatocismo.
Recurso preparado, recebido, processado e respondido.
O segundo volume foi formado a partir de fl. 20T.
É o relatório. )
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O recurso não merece provimento, rejeitada a matéria
preliminar. , . '
No que se refere ao cerceamento de defesa destaca-se que
a sentença fundamentou o julgamento do feito entendendo pela não
necessidade da produção de outras provas.
Não se perca de vista que-as provas se destinarn ao livre
convencimento do juiz e se este as considera eficientes para tanto, não
há necessidade de se produzir outras.
1 Não se pode esquecer que já decidiu o Col STF que a
.necessidade da produção de prova há de ficar evidenciada para que o
julgamento antecipado da lide implique cerceamento de defesa. A
antecipação é legítima se os aspectos decisivos estão suficientemente
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líquidos para embasar o convencimento do.Magistrado (RE 101.171-,
8/SP).
No mérito, melhor sorte não lhe assiste..
O mutuário firmou o Instrumento-Particular de Venda e
Compra, Mútuo, Confissão de Dívida, Pacto Adjeto de Hipoteca e
Outras Avenças com o banco mutuante aos 11/10/93 para a aquisição
de uma casa residencial e seu respectivo terreno designado como
sendo o lote n° 6, da quadra H, situado na Rua José Antônio Silva,
Bairro do Carmo, Comarca de São Roque-SP (fls;. 13/26).
( Em setembro de 2001 moveu a presente ação a fim.de
rescindir a compra do imóvel mediante restituição total dos valores
pagos e/ou~-revisar o financiamento sob alegação de ilegalidade na
cobrança dos juros e abusividade das cláusulas contratuais.
Determinada a emenda da inicial, o mutuário optou pela
rescisão ao invés da revisão contratual. '
j A ação foi julgada improcedente, _razão, de seu
inconformismo. • •
Apesar de as alegações ' do mutuário estarem
alicerçadas no CDC, o fato é que sua aplicação não implica reconhecer
que todas as cláusulas que não interessam ao consumidor devam ser
afastadas desde logo.
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É que para os fins legais, o/ contrato de adesão tem o
mesmo valor do consentimento expressado em qualquer outro negócio
jurídico., = y.
Dessa forma, ressalta-sé que não está em furo a
_ incidência dcCDC às instituições financeiras, como já assentado na
Súmula n° 297r do Col. STJ1.
"Mas tal incidência em nada altera o resultado da
demanda, até porque o CDC não é um código de benesses.
No que se refere à atualização monetária do saldo
devedor, a cláusula oitava assentou que seria adotado coeficiente
idêntico ao utilizado para os reajustes dos depósitos de poupança livre-'
pessoa física, com data de aniversário no dia da assinatura deste
contrato (fl. 19). ^ " , (
Por conseguinte,,o mutuário tinha plenov conhecimento de
que seriam aplicados os índices das cadernetas de poupança para a
correção do saldo devedor residual.
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A Lei n? 8.177/91 determinou que os depósitos em
cadernetas de poupança passassem a ser remunerados, pela Taxa
Referencial (TR). Assim, o saldo devedor do contrato de financiamento,
' • • • . . ' • th • 1 "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras "
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por força de sua cláusula oitava, passou a ser atualizado -por índice -
correspondente à TR. x
* . Isso porque não; pode haver modificação unilateral do "
fator de correção do saldo devedor, mas, tão-somente, cumprimento-
daquilóque restou validamente ajustado entre as partes, ou seja, que a'
atualização do saldo fosse feita pelo mesmo índice utilizado nas,
cadernetas de poupança. - -, ' ' ' ' /
Os recursos dos financiamentos do Sistema Financeiro
da Habitação são provenientes dos .-depósitos em caderneta de
poupança/os quais são remunerados pela variação da TR. Por isso, os
reajustes dosi saldos devedores, dos financiamentos imobiliários devem
ser feitos pelo mesmo índice, sob pena de grave .desequilíbrio do
sistema. „ , ^ -' • ' .
i No pertinente á amortização, vale a pena destacar que
foi eleito o sistema da Tabela Price (fl. 14, item 10), o que, por si só,
não gera anatocismo2.
: A propósito, cumpre esclarecer que não se pode falar
èm ilegalidade do sistema adotado, a Tabela Price, pois por este
método cada prestação possui _ uma parte de juros e outra.de ;
amortização do capital principal. Úm plano de pagamento idealme
"Ora, com é sabido, a Tabela-Price, concebida pelo matemático, inglês Richard.Price, no
século passado, importa em estabelecer prestações que levam às amortizações crescentes
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realizado é- aquele em que o valor da prestação (constante) é sempre
maior do que o valor dós juros sobre todo o saldo devedor. Assim, cada
período (mês) considerado, parte de cada prestação, já pagos os juros
do saldo devedor, "zeràndo-o" e a parte restante é responsável pela
"amortização" do saldo devedor. No período subsequente os juros são
novamente contados, mas somente sobre o "capital amortizado",
diminuindo-os, portanto, e assim sucessivamente. i
Não bastasse, a jurisprudência oriunda do Gol..STJ já
pacificou o tema, entendendo pela legalidade da aplicação da Tabela
Pricev
Por outro lado, sem respaldo legal o pedido de rescisão
contratual pjorque o contrato de mútuo é aquele em que o mutuário é
obrigado a restituir ao mutuante o que- dele recebeu em coisa do
mesmo gênero, qualidade e quantidade e, por conseguinte, ,é
considerado como uma forma de empréstimo e tem como objeto coisas
fungíveis, ou seja, substituíveis por.outras da mesma espécie (art. 586,
do CC/02, correspondente aõ art. 1.256, do CC/16). V
1
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com valor dos juros decrescentes', não caracterizando, pois anatocismo" (Apelação com .
Revisão n° 561 622-00/0, extinto 2o TAC, Rei RELIPE FERREIRA) 3 "SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO
ADOÇÃO DO SISTEMA FRANCÊS DE AMORTIZAÇÃO ' (TABELA PRICE)
CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS IMPOSSIBILIDADE
Legalidade da adoção do Sistema Francês de'Amortização nos contratos de mútuo para
aquisição de imóvel pelo SFH Precedentes RESP 643 933/PR, 1a T , Rei Min LUIZ FUX,
DJ 6/6/05, RESP 600 497/SR, 3a T., Rei Min CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ
21/2/05, AgRg 523 632/MT, 3a T , Rei Min ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, DJ 29/11/04,
RESP 427 329/SC, 3a T , Rei Min NANCY ANDRIGUI, DJ 09/6/03
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APELAÇÃO COM REVISÃO N° 1.158,609-3
.Segundo lecionam ROBERTO ARRUDA,DE SOUZA
LIMAe ADOLFO MAMORU NISHIYAMA: , '
"Independentemente da designação conferida
pela doutrina, utilizaremos a expressão mútuo bancário
para nos referirmos ao empréstimo de coisa fungível
(dinheiro) feito pelo credor (instituição,-financeira) ao
devedor (cliente), o qual se obrigara restituí-la, no prazo
-previamente avençado, no mesmo gênero, quantidade e
qualidade, com o acréscimo dos encargos financeiros
(correção monetária e juros ou comissões) estabelecidos
no contrato escrito, celebrado por instrumento particular
ou público'4.
Finalmente, fica mantida a sucumbência como fixada
pela r. sentença. • ' '
Nestas condições, pelo meu voto, REJEITO a
PRELIMINAR e NEGO PROVIMENTO ao recurso.
Moura Ribeiro
Relator
4 "Contratos Bancários - Aspectos Jurídicos e Técnicos da Matemática Financeira para
Advogados", Editora Atlas, 2007, p 193 •
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