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  • 8/19/2019 TJSP AP 0011168 60 2010 8-26-0224 (Fev 11) Guarulhos Usucapiao Nao e via Adequada Regularizacao Lot Cland

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    PODER JUDICIÁRIO

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

    ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA

    REGISTRADO A) SOB N°

    Ó R D Ã O   n u m u m u u m u m u m m u m m m

    *C ^Ã.nf

    :

    \RR~7*

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de

    Apelação n° 0011168-60.2010.8.26.0224, da Comarca de

    Guarulhos,  em que é apelante GERSON DE OLIVEIRA

    MENDES (JUSTIÇA GRATUITA) sendo apelado JOAQUIM

    MARQUES SALGUEIRO E OUTRO.

    ACORDAM em I

    a

      Câmara de Direito Privado do

    Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte

    decisão:  NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U. de

    conformidade com o voto do(a)  Relator(a), que integra

    este acórdão.

    O julgamento teve a participação dos

    Desembargadores DE SANTI RIBEIRO (Presidente) e RUI

    CASCALDI.

    São Paulo, 01 de fevereiro de 2011.

    PAULO EDUARDO RAZUK

    RELATOR

  • 8/19/2019 TJSP AP 0011168 60 2010 8-26-0224 (Fev 11) Guarulhos Usucapiao Nao e via Adequada Regularizacao Lot Cland

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    PODER JUDICIÁRIO

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

    1

    a

      CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

    990.10.378810-9

    Guarulhos

    3

    a

     Vara Cível

    Adriana Porto Mendes

    355/2010

    Gerson de Oliveira Mendes  AJ)

    Joaquim Marques Salgueiro e outro

    USUCAPIÃO ESPECIAL  Imóvel urbano  - O

    apelante pretende usucapir lote

      de

      terreno

      em

    loteamento clandestino -  Lote situado em área que não

    foi objeto de regular parcelamento de solo - O  lote tem

    112,97 m

    2

    ,  área inferior ao do  módulo urbano  - O art.

    183  da  Constituição Federal, prevê  o  usucapião

    especial urbano de  imóvel urbano com área de até 250

    m

    2

    , àquele que o possuir de  maneira ininterrupta e sem

    oposição,  por  cinco anos, desde  que não  seja

    proprietário de outro imóvel urbano ou rural - O art. 182

    da  Lei Maior estatui que o pa rcelamento do solo urbano

    deve atender as exigências do  plano diretor, tendo em

    vista

      a

      ordenação

      da

      cidade, como política

      de

    desenvolvimento  e de  expansão urbana  - O art. 4

    a

     da

    Lei 6.766/79 impõe requisitos mínimos para  o

    parcelamento  do  solo urbano, entre  os  quais área

    mínima  de 125 m

    2

     -  Interpretação sistemática  - Não

    pode ser  admitido usucapião especial urbano de  modo

    contrário  ao  regramento  do  parcelamento  do  solo,

    previsto  na  própria Constituição,  na lei  federal  que

    regula  o  tema  e na lei  municipal  que  estabelece  o

    módulo urbano  - O  usucapião não é via  adequada à

    regularização  de  loteamento clandestino  - À  falta  de

    matrícula,  não é  possível  o  registro  de  sentença  que

    concedesse

     o

      usucapião

     -

      Configurada

     a

      inutilidade

     do

    provimento jurisdicional pleiteado -  Sentença mantida  -

    Recurso im provido.

    VOTO N°223 6

    A sentença  de fls.  35/38, cujo relatório  é

    adotado, indeferiu a petição inicial de ação de usucapião especial urbano.

    Apela

      o

      autor,

      a fim de que o

      feito tenha

    Apelação

     n°

    990.10.378810-9

    P/l

    fls.  1 7

    Apelação:

    Comarca:

    Juízo

      e

      origem:

    Juiz

      prolator:

    Processo:

    Apelante:

    Apelado:

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    1

    a

     CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

    prosseguimento.

    O apelo foi recebido.

    O Ministério Público opinou, em primeiro

    grau, pelo desprovimento do recurso, em segundo grau, pelo seu provimento.

    r

    E o relatório.

    O apelante pretende usucapir lote de terreno

    em loteamento clandestino. O lote situa-se em área que não foi objeto de

    regular parcelamento de solo, inexistindo matrícula. Além disso, o lote tem

    112,97 m

    2

    , área inferior

     ao

     do módulo urbano.

    De um lado, o art. 183 da Constituição

    Federal, prevê o usucapião especial urbano de imóvel urbano com área de

    até 250 m

    2

    , àquele que o possuir de maneira ininterrupta e sem oposição, por

    cinco anos, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

    De outro lado, o art. 182 da Lei Maior estatui

    que o parcelamento do solo urbano deve atender as exigências do plano

    diretor, tendo em vista a ordenação da cidade, como política de

    desenvolvimento e de expansão urbana.

    A Lei n° 6.766 de 19.12.79, que dispõe sobre

    0 parcelamento do solo urbano, integra a eficácia do dispositivo

    constitucional suso. O art. 4

    o

     impõe requisitos mínimos para o parcelamento

    do solo urbano, entre os quais área mínima de

      25

     m

    2

    .

    Tais normas devem ser objeto de

    interpretação sistemática, isto é, a descoberta da mens legislatoris da norma

    jurídica em conexão com as demais do estatuto onde se encontra

    1

    . É contra o

    1

     Rubens Limongi França, Formas e Aplicação do Direito Positivo, p.

     48,

     RT, S. Paulo, 1969.

    Apelação n° 990.10.378810-9

    P/l

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    a

     CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

    Direito julgar ou emitir parecer, tendo diante dos olhos, ao invés da lei em

    conjunto, só uma parte da mesma

    2

    . Com efeito, a norma jurídica não existe

    isoladamente, estando ligada por íntimo nexo a outras normas e princípios

    que integram o sistema jurídico do ordenamento. A interpretação sistemática

    serve a enfrentar as questões de compatibilidade do todo estrutural

    3

    .

    Assim sendo, não pode ser admitido

    usucapião especial urbano de modo contrário ao regramento do

    parcelamento do solo, previsto na própria Constituição, na lei federal que

    regula o tema e na lei municipal que estabelece o módulo urbano. O

    contrário seria legitimar, via usucapião, o loteamento clandestino, levando

    ao caos na ocupação do solo.

    No sentido:

    CIVIL - RECURSO ESPECIAL - USUCAPIÃO

    EXTRAORDINÁRIO - ÁREA INFERIOR AO

    MÓDULO URBANO - LEI MUNICIPAL -

    VEDAÇÃO - ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS

    ARTS. 550 e 552 DO CC/16 - INOCO RRÊN CIA. 1 -

    In casu, como bem ressaltado no acórdão impugnado,

    o imóvel que se pretende usucapir não atende às

    normas municipais que estabelecem o módulo

    mínimo local, para parcelamento do solo urbano.

    (fls.

      168/169), não constituindo o referido imóvel,

    portanto, objeto legalizável, nos termos da lei

    municipal. Conforme evidenciado pela Prefeitura

    Municipal de Socorro, no Oficio de fls. 135, o

    módulo mínimo para o parcelamento do solo urbano

    daquele município é de 250m2, e o imóvel em

    questão possui apenas 126m2. Ora, caso se admitisse

    o usucapião de tal área, estar-se-ia viabilizando, de

    forma direta, o registro de área inferior àquela

    permitida pela lei daquele município. Há, portanto,

    2

     Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do D ireito, 9

    a

     ed.,

     p. 129, Forense, Rio, 1979.

    3

      Hamilton Elliot

      Akel,

      O Poder Judicial e a Criação da Norma Individual, p. 41, saraiva, S.

    Paulo, 1995.

    Apelação n° 990.10.378810-9 P/l

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    a

     CÂM ARA DE DIREITO PRIVADO

    vício na própria relação jurídica que se pretende

    modificar com a aquisição definitiva do imóvel. 2 -

    Destarte, incensurável o v. acórdão recorrido (fls.

    169) quando afirmou que o entendimento do pedido

    implicaria em ofensa a norma municipal relativa ao

    parcelamento do solo urbano, pela via reflexa do

    usucapião. Seria, com isso, legalizado o que a Lei não

    permite. Anotou, a propósito, o DD. Promotor de

    Justiça que, na Comarca de Socorro, isso vem

    ocorrendo como meio de buscar a legitimação de

    parcelamento de imóveis realizados irregularmente e

    clandestinamente. 3 - Recurso não conhecido (STJ -

    Quarta Turma - Resp. n° 402.792-SP - Rei. Min.

    Jorge Scartezzini -   j 26.10.2004)

    Posto que assim não fora, o usucapião não é

    via adequada à regularização de loteamento clandestino, consoante os

    seguintes precedentes:

    USUCAPIÃO - Indeferimento da inicial -

    Impossibilidade jurídica do pedido e ilegitimidade de

    parte - Condomínio que não está devidamente

    averbado junto ao registro im obiliário - Irregularidade

    que não pode ser suprida por meio de prescrição

    aquisitiva - O condomínio não tem capacidade

    aquisitiva para exercer direito de propriedade -

    Inexistência jurídica que impede a aquisição por

    usucapião - Sentença mantida - Recurso improvido.

    (TJSP - Apelação Cível n. 311.947-4/9 - Campinas -

    4

    a

      Câmara de Direito Privado - Relator: Carlos

    Stroppa-12.02.04-V.U.).

    USUCAPIÃO - O usucapião não é o meio

    apropriado para regularização de loteamento

    clandestino e sim modo de aquisição de propriedade

    pela posse

      animus domini.

      Recurso provido para

    julgar improcedente a ação. (TJSP - Apelação Cível

    n° 84.792-4 -  Rei. Ênio Zulianni - 27.07.99 - V.U.).

    USUCAPIÃO - Indeferimento da inicial -

    Impossibilidade jurídica de ação em face de o imóvel

    usucapiendo se encontrar em loteamento irregular ou

    Ap elação n° 990.10.378810-9

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      CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

    clandestino - Apelo provido - Inexistência de

    fundamento legal de proibição à ação - Sentença

    anulada. (TJSP - Apelação n° 443.618-4/6-00 - Rei.

    Edmundo Lellis Filho - 7

    a

     Câmara de Direito Privado

    B - j .  17.12.08).

    USUCAPIÃO DE LOTE DE TERRENO DE

    DESMEMBRAMENTO CLANDESTINO, EM

    DESACORDO COM OS REQUISITOS DO

    ARTIGO 18 DA LEI 6.766/79 - Impossibilidade de

    registro, a inviabilizar o pedido d e reconhecimento da

    prescrição aquisitiva - Apelo do Ministério Público

    provido, para julga r improcedente a ação -

    Comunicada a Corregedoria Geral da Justiça das

    irregularidades apuradas no Registro Imobiliário

    local. (TJSP - Apelação n° 157.508-4/4-00 - Rei.

    Luiz Ambra - 8

    a

      Câmara de Direito Privado - j .

    27.03.09).

    Sem parcelamento regular, não é possível

    abrir a matrícula. Sem a m atrícula, a sentença que deferisse o usucapião não

    poderia ser registrada.

    A jurisprudência do Conselho Superior da

    Magistratura recusa o registro de título de aquisição de lote de terreno , sem a

    prévia regularização do loteamento:

    REGISTRO DE IMÓVEIS - Escritura de venda e

    compra - Loteamento não registrado - Abertura de

    matrícula - Impossibilidade - Imóvel com descrição

    precária e, sua área maior, vendido em parte

    segregada - Necessidade de apuração do

    remanescente - Ausência de controle da

    disponibilidade e da especialidade - Identificação do

    proprietário e de sua mulher - Necessidade de

    adequação dos dados qualificativos do título com os

    do registro - Averbação que se faz necessária -

    Recurso não provido (Conselho Superior da

    Magistratura, Apelação n.° 118-6/0, Rei. Des. Luiz

    Tâm baraJ. 25.11.2003).

    Apelação n° 990.10.378810-9

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     CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

    REGISTRO DE IMÓVEIS. Recusa de registro de

    escritura pública de compra e venda de lotes que

    integram loteamento não inscrito, mantida na

    sentença de procedência da dúvida suscitada pelo

    Oficial. Lotes destacados de área maior, que

    apresentam descrição precária. Necessidade de

    apuração da área e devida delimitação e

    caracterização dos lotes, de modo a permitir o

    ingresso seguro, no registro imobiliário, evitar

    sobreposição de área e possibilitar o controle da

    disponibilidade. Recurso não provido (Conselho

    Superior da Magistratura, Apelação n.° 651-6/2, Rei.

    Des.

     Gilberto Passos d e Freitas,

      j

    22.2.2007).

    REGISTRO DE IMÓVEIS - Dúvida julgada

    procedente - Negado registro de escritura de venda e

    compra de lote destacado de área ma ior - Loteamento

    clandestino - Indispensável a prévia regularização do

    parcelamento - Ocorrência de destaques anteriores -

    Inviabilizado o controle de disponibilidade e

    especialidade - Necessidade de apuração do

    remanescente e da correta localização do lote na área

    de que foi destacado - Recurso não provido

    (Conselho Superior da Magistratura, Apelação n.°

    810-6/9,

     Rei. Des. Ruy Cam ilo,

      j

    27.5.2008)

    REGISTRO DE IMÓVEIS - Dúvida - Fração ideal

    de imóvel a que atribuída área certa - Elementos

    registrários que demonstram a implantação de

    parcelamento irregular do solo urbano - Registro

    inviável - Recurso não provido (Conselho Superior

    da Magistratura, Apelação n.° 857-6/2, Rei. Des. Ruy

    Camilo,  j 3.6.2008).

    Sem possibilidade de registro, por falta de

    matrícula, que não poderia ser aberta, sem a regularização do loteamento, a

    sentença concessiva do usucapião seria um título inútil. Não se concebe que

    se possa acionar o aparato judiciário, sem que dessa atividade se possa

    extrair algum resultado útil (Cintra, Grinover e Dinamarco,

     Teoria eral

     do

    Apelação n° 990.10.378810-9 P/l

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    PODER JUDICIÁRIO

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

    1

    a

     CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

    Processo ed.

    p. 230, RT, S. Paulo, 1990).

    Destarte,

      a

      sentença deve

      ser

      mantida,

      tal

    como lançada.

    Posto

     isso,

     nego provimento ao recurso.

    São Paulo, I

    o

     de fevereiro de

     2011.

    P A U L O E D U A R D O R A ^ U K

    Relator