tjmg-1002403184870800120109270

Upload: israel-padrini-costa-alves

Post on 07-Jan-2016

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

EMENTA: AÇÃO REVISIONAL – CONTRATO DE FINANCIAMENTO – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – APLICABILIDADE – CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS – ILEGALIDADE – SÚMULA 121 DO STF – REPETIÇÃO DO INDÉBITO – FORMA SIMPLES – COMPENSAÇÃO DA VERBA HONORÁRA – POSSIBILIDADE.

TRANSCRIPT

MODELO DE ACRDO

TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelao Cvel N 10024031848708001

EMENTA: AO REVISIONAL CONTRATO DE FINANCIAMENTO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR APLICABILIDADE CAPITALIZAO MENSAL DE JUROS ILEGALIDADE SMULA 121 DO STF REPETIO DO INDBITO FORMA SIMPLES COMPENSAO DA VERBA HONORRA POSSIBILIDADE.

- Enquanto no decidida definitivamente pelo Supremo Tribunal Federal a constitucionalidade do art. 5, caput e pargrafo nico, da Medida Provisria 1.963-22/2000 (atual 2.170-36/2001), objeto da ADI 2.316/DF, prevalece a Smula 121 do STF, segundo a qual nenhuma forma de capitalizao se mostra devida.- No havendo demonstrao de dolo ou m-f do banco, no h que se falar em repetio em dobro dos valores cobrados a maior.- Havendo sucumbncia recproca, dar-se- a compensao imediata dos honorrios advocatcios, mesmo quando um dos litigantes for beneficirio da assistncia judiciria gratuita.

Apelao CvelN 10024031848708001

COMARCABelo Horizonte

BANCO CREDIBANCO S.A.

Apelante(s)

VALRIA ALVES FERREIRA

Apelado(a)(s)

A C R D O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11 CMARA CVEL do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, unanimidade, em DAR PARCIAL PROVIMENTO.Belo Horizonte, 21 de julho de 2010.DES. DUARTE DE PAULA,

Relator.

Des. Duarte de Paula (RELATOR)

V O T OIrresignada com a r. sentena que julgou parcialmente procedentes os pedidos constantes dos autos da ao revisional de contrato aviada por VALRIA ALVES FERREIRA em face do BANCO CREDIBANCO S.A., insurge-se o ru, pelas razes expendidas s f. 336/348.

Conheo do recurso, presentes seus pressupostos de admissibilidade.

Trata-se de ao ordinria de repetio de indbito, por meio da qual a autora pretende ver declarada a nulidade das clusulas abusivas, como a condenao da instituio financeira na devoluo, em dobro, do valor referente cobrana indevida de juros acima de 1% ao ms e 12 % ao ano, bem como da quantia referente aos juros capitalizados, acrescidos de juros e correo monetria, devidos desde o pagamento indevido.

Contra a r. sentena que julgou parcialmente procedentes os pedidos, condenando o ru devoluo, em dobro, dos valores pagos indevidamente, referente a prtica de capitalizao mensal de juros, valor este que dever ser apurado em liquidao de sentena, por arbitramento, recorreu o ru, sob a alegao de ser permitida a capitalizao mensal nos contratos, afirmando que a partir de 30 de maro de 2000 atravs da Medida Provisria 1.963-17, tornou-se permitido que as instituies financeiras pactuassem juros capitalizados com periodicidade inferior a um ano. Afiana ser inaplicvel ao caso o art. 42 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Requer, por fim, a compensao dos honorrios advocatcios.

No que se refere capitalizao de juros, mister que se fixe inicialmente a conceituao de tal instituto, at porque vrias das decises judiciais proferidas a esse respeito muitas vezes ignoram a sua verdadeira identidade.

A capitalizao de juros, tambm conhecida na linguagem tcnica como anatocismo, em linhas gerais significa a contagem de juros sobre juros, isto , a incorporao ao principal dos juros remuneratrios incidentes sobre o total do capital contratado, gerando um acrscimo excessivo no valor do crdito, de vez que sobre o montante do mtuo passa a incidir uma nova remunerao global do capital, mostrando-se, assim, indevida, nos termos da Smula 121 do excelso SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:

vedada a capitalizao de juros, ainda que expressamente convencionada.

Importante notar que intentada perante o excelso STF, pelo Partido Liberal, em 19/09/00, a Ao Direta de Inconstitucionalidade 2316/DF, argindo a inconstitucionalidade do art. 5, caput, e pargrafo nico, da Medida Provisria 1.963-22/2000, reeditada sob o nmero 2.170-36/01, a qual permite expressamente a capitalizao de juros com periodicidade inferior a um ano, encontra-se pendente o julgamento da liminar visando suspenso do dispositivo questionado, sendo este o resumo do julgamento at o momento:

Deciso Plenria da Liminar:

Aps o voto do Senhor Ministro Sydney Sanches, Relator, suspendendo a eficcia do artigo 005 , cabea e pargrafo nico da Medida Provisria n 2170 - 36 , de 23 de agosto de 2001, pediu vista o Senhor Ministro Carlos Velloso . Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Maurcio Corra. Presidncia do Senhor Ministro Marco Aurlio. - Plenrio , 03.04.2002 . Renovado o pedido de vista, justificadamente, pelo Senhor Ministro Carlos Velloso, que no devolveu mesa para prosseguimento, tendo em vista estar aguardando a concluso do julgamento da Ao Direta de Inconstitucionalidade n 2.591, j iniciado, envolvendo tema a ele relacionado. Presidncia do Senhor Ministro Maurcio Corra. - Plenrio, 28.04.2004. Prosseguindo no julgamento, aps o voto do Senhor Ministro Carlos Velloso, que acompanhava o relator para deferir a cautelar, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Nelson Jobim (Presidente). - Plenrio, 15.12.2005.

Aps os votos da Senhora Ministra Carmem Lcia e do Senhor Ministro Menezes Direito, indeferindo a medida cautelar, e os votos dos Senhores Ministros Marco Aurlio e Carlos Britto, deferindo-a, o julgamento foi suspenso para retomada com quorum completo. Ausentes, justificadamente, porque em representao do Tribunal Superior Eleitoral no exterior, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa e, neste julgamento, o Senhor Ministro Eros Grau. No participam da votao os Senhores Ministros Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski, por sucederem, respectivamente, aos Senhores Ministros Sydney Sanches (Relator) e Carlos Velloso, com votos proferidos anteriormente. Presidncia do Senhor Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente) em face do impedimento do Senhor Ministro Gilmar Mendes (Presidente). - Plenrio, 05.11.2008. (Dados extrados do stio eletrnico www.stf.jus.br).

E, assim, enquanto no decidida definitivamente a questo objeto da ADI 2316/DF, a meu ver, nenhuma forma de capitalizao se mostra devida, pelo que, in casu, devendo ser mantida a r. sentena hostilizada que determinou fosse excluda a capitalizao de juros.

Cumpre ressaltar que apurada a existncia do saldo remanescente a ser devolvido autora, entendo, todavia, que a restituio destes valores no deve ser feita em dobro, como pretendeu a apelada, pois haja o pargrafo nico do art. 42 do Cdigo do Consumidor disposto que o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito repetio do indbito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correo monetria e juros legais, salvo hipteses de engano justificvel. Considera-se que o engano justificvel quando revelar boa-f do credor ao efetuar a cobrana, afastando a configurao do dolo ou da culpa em sua ao.

Trata-se, portanto, a meu ver, a presente hiptese de engano justificvel, posto que o banco efetuou a cobrana dos encargos embasado no contrato de financiamento, que lhe d respaldo para forma que foram efetuados seus clculos, no havendo, portanto, motivo para conden-lo a devoluo em dobro.

Coadunando a tal posicionamento o colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, j teve oportunidade de decidir:

AGRAVO REGIMENTAL AO REVISIONAL CONTRATO BANCRIO POSSIBILIDADE DE REPETIO DO INDBITO APENAS DA FORMA SIMPLES. Para que ocorra em dobro, necessrio prova inequvoca da m-f do credor. Nesse sentido, configuram-se os seguintes precedentes: AgRg no Resp. 734.111/PR, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, DJ 14/12/07; AgRg no Ag 875.974/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma , Dje 11.09/08 e AgRg no Ag 921.983/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 15/04/08. (AgRg no Ag 862001/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe. 23/10/08).

Nesse mesmo sentido j teve oportunidade de decidir este egrgio TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS:REVISIONAL DE CONTRATO - CAPITALIZAO MENSAL - RESTITUIO SIMPLES - COMPENSAO - POSSIBILIDADE - INSCRIO DE NOME - CADASTRO DE INADIMPLENTES - POSSIBILIDADE. (...) Diante da ausncia de m-f da instituio financeira que efetuou cobranas a maior, no h como aplicar o art. 42 do CDC para determinar a devoluo em dobro dos valores indevidamente pagos, sendo devida a restituio simples. (...). (Apelao Cvel 1.0024.04.370501-1/001, Rel. Des. Lucas Pereira, j. 13/03/08).

Por fim, no que se refere requerida compensao de honorrios advocatcios, preceitua o art. 21 do Cdigo de Processo Civil que se cada litigante for em parte vencedor e vencido, sero proporcionalmente distribudos e compensados entre eles os honorrios e as despesas.

J a Lei 8.906/94 dispe que a verba honorria um direito autnomo do Advogado, no vinculado ao direito de quem estiver representando, restando expresso em seu artigo 23 que os honorrios de sucumbncia ao advogado pertencem, independentemente de ajuste contratual, podendo por ser eles exigidos at mesmo em execuo.

Esclarea-se, ainda, que o fato de litigar uma das partes sob os auspcios da gratuidade judiciria no isenta o beneficirio da condenao aos nus sucumbenciais, apenas suspendendo a exigibilidade do pagamento pelo prazo mximo de cinco anos (art. 12 da Lei 1060/1950).

Assim, da anlise sistemtica de tais normas, h muito o excelso SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL vem entendendo no existir incompatibilidade entre tais dispositivos legais, continuando possvel a compensao, conforme ilustra o seguinte julgado:

No obstante a disposio do art. 23 do EA, pela qual os honorrios includos na condenao, por arbitramento ou sucumbncia, pertencem ao advogado, admite-se, no caso de sucumbncia recproca, a compensao dos honorrios. (AI 343.841-2-DF, Rel. Min. Maurcio Corra, DJ 05/04/02).

E, a fim de pacificar a questo, em 22/11/04 foi publicada a Smula 306 do colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, cujo texto expressamente dispe:

Os honorrios advocatcios devem ser compensados quando houver sucumbncia recproca, assegurado o direito autnomo do advogado execuo do saldo sem excluir a legitimidade da prpria parte.

Portanto, havendo sucumbncia recproca, dar-se- a compensao imediata dos honorrios advocatcios, mesmo quando um dos litigantes for beneficirio da assistncia judiciria gratuita, ficando suspensa a exigibilidade apenas em relao a eventual saldo remanescente.

Pelo exposto, dou parcial provimento ao recurso, para determinar que as quantias indevidamente cobradas, tanto das prestaes vencidas como vincendas, pela instituio financeira r sejam restitudas ao autor de forma simples e permitir a compensao das custas processuais e honorrios advocatcios, mantendo no mais, a r. sentena por seus prprios e jurdicos fundamentos.

Custas ex lege.Des. Selma Marques (PRESIDENTE E REVISORA)

V O T O

Como Revisora acompanho integralmente o judicioso voto proferido pelo Excelentssimo Desembargador Relator.

Todavia no que tange capitalizao dos juros faz-se mister ressalvar meu entendimento.

Muito embora em algumas situaes anteriores tenha me manifestado em sentido contrrio, reposicionei-me e entendo no ser ilegal, haja vista encontrar respaldo no art. 5 da Medida Provisria n. 1.963-17, de 30 de maro de 2000, (hoje em tramitao no Congresso com o nmero 2.170-36), que permite nos contratos firmados com instituies financeiras integrantes do Sistema Financeiro nacional a capitalizao em perodo inferior a um ano, verbis:

Art. 5o Nas operaes realizadas pelas instituies integrantes do Sistema Financeiro Nacional, admissvel a capitalizao de juros com periodicidade inferior a um ano.O STJ firmou entendimento no sentido de ser possvel a capitalizao mensal de juros, nos contratos firmados na vigncia da referida MP:

Direito processual civil. Agravo no recurso especial. Ao revisional. Taxa de juros remuneratrios. Limitao. Impossibilidade. Capitalizao mensal. Comisso de permanncia. Possibilidade. - Nos termos da jurisprudncia do STJ, no se aplica a limitao da taxa de juros remuneratrios em 12% ao ano aos contratos bancrios no abrangidos por legislao especfica quanto ao ponto. - Por fora do art. 5. da MP 2.170-36, possvel a capitalizao mensal dos juros nas operaes realizadas por instituies integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que pactuada nos contratos bancrios celebrados aps 31 de maro de 2000, data da publicao da primeira medida provisria com previso dessa clusula (art. 5. da MP 1.963/2000). Precedentes. Agravo no provido. AgRg no REsp 908583/MS; AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2006/0265104-5Ministra NANCY ANDRIGHI

CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. AO DE COBRANA. CONTRATOS DE ABERTURA DE CRDITO ROTATIVO E DE ADESO A PRODUTOS E SERVIOS. INOVAO. IMPOSSIBILIDADE. CAPITALIZAO MENSAL DOS JUROS. VEDAO. MEDIDA PROVISRIA N. 1.963-17/2000. CONTRATO ANTERIOR. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. MULTA, ART. 557, 2, DO CPC. I. Em sede de agravo regimental no se permite adicionar fundamento s razes do recurso especial. II. "O artigo 5 da Medida Provisria 2.170-36 permite a capitalizao dos juros remuneratrios, com periodicidade inferior a um ano, nos contratos bancrios celebrados aps 31-03-2000, data em que o dispositivo foi introduzido na MP 1963-17" (2 Seo, REsp n. 602.068/RS, Rel. Min. Antnio de Pdua Ribeiro, DJU de 21.03.2005).AgRg no REsp 897234 / RS; AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2006/0234984-1Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR.Ainda, impende anotar que os efeitos da MP 2.170-36 que autoriza a capitalizao mensal de juros, no se encontram suspensos pelo STF.

Note-se que a ADI 2316 qual faz referncia o voto de relatoria foi distribuda em 21/09/2000. Na Sesso Plenria de 03/04/2002 o ento Relator, Ministro Sydney Sanches suspendeu a eficcia da cabea do art. 5, pargrafo nico, da MP 2.170-36, dispositivo que justamente aquele que autoriza a capitalizao de juros pelas instituies financeiras.

Em 15/12/2005 o Ministro Carlos Velloso acompanhou o Relator, para tambm deferir a medida cautelar. No entanto, observe-se que somente em 05/11/2008 a Medida Cautelar foi reincluda em pauta para julgamento. Nesta oportunidade a Ministra Crmen Lcia e o Ministro Menezes Direito votaram indeferindo a medida cautelar, enquanto os Ministros Marco Aurlio e Carlos Britto votaram no sentido de deferi-la. Aps o julgamento foi suspenso para sua retomada com quorum completo, sendo que ainda no houve nova reincluso em pauta.

Por isso no h falar na concesso da medida cautelar para suspender os efeitos do art. 5, Caput, da MP 2.170-36. Note-se que cristalina a redao do art. 10 da Lei 9868/99 ao dispor que Salvo no perodo de recesso, a medida cautelar na ao direta ser concedida por deciso da maioria absoluta dos membros do Tribunal.... Ora, apenas quatro Ministros j votaram no sentido da concesso da medida, faltando, pois, para tal desiderato, no mnimo o voto favorvel de mais dois ministros do STF. Demais disso, uma vez concedida a medida cautelar, o STF far publicar a parte dispositiva da deciso em seo especial do Dirio Oficial da Unio e do Dirio da Justia da Unio, situao que, por bvio, no tendo encerrado-se o julgamento, ainda no ocorreu.

Deste modo, no h falar, forte no devido processo legal para concesso de medidas cautelares em aes diretas de constitucionalidade, em suspenso dos efeitos do art. 5 da MP 2.170-36.

Importante destacar tambm que, ainda que de forma incidental, no pode qualquer turma ou cmara deste Tribunal, diante da clusula constitucional da Reserva de Plenrio, declarar a inconstitucionalidade do dispositivo, ainda que em sede de controle difuso.

Feitas estas consideraes sobre a capitalizao, passo anlise do contrato quanto a esta matria.

Nesse passo, observo que a cobrana capitalizada dos juros no foi expressamente prevista, e, em tendo sido evidenciada sua cobrana fl. 296 da percia, correta sua excluso.

Com tais consideraes, acompanho o judicioso voto proferido pelo Ilustre Relator.

como voto.

Des. Fernando Caldeira Brant - De acordo com o Relator.DES. SELMA MARQUES - Presidente - Apelao Cvel n 10024031848708001, Belo Horizonte: "DAR PARCIAL PROVIMENTO."

Fl. 1/12