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» Breves Password - Fevereiro 2014 - Pág. 01 Índice Timor-Leste na abertura de um período com novas possibilidades Página 01-03 O ninho de vespas centro-africano Página 01-06 A ameaça dos jihadistas europeus na Síria Página 04 Sara Ocidental: Entre a legitimidade e a confortável ilegitimidade Página 08 Cooperação incentiva relacionamento entre Lusofonia e tecido empresarial concelhio Página 11 Fevereiro 2014 Série: V Número: 46 Exclusivo para assinantes Familia Rodrigues pede prova de vida a líderes do Mujao Numa carta enviada à imprensa arabófona e francófona, a família de Gilberto Rodrigues, franco português raptado pelo Movimento pela Unidade da Jihad na África Ocidental (Mujao) no Mali a 21 de Novembro de 2012, lembra que desde a reivindicação da acção pelo Mujao, através de Walid Abou Adnan Sahraoui e M Ahmed Ould Amer, vulgo Ahmed Tilemsi, e desde que se manifestou a 26 de Janeiro de 2013 disponível para nego- ciar, a família Rodrigues, nunca mais teve noticias de Gilberto Rodrigues. Na mesma carta a família Rodrigues afirma estar «muito preocupada» e pede aos responsáveis do Mujao que forneçam informações sobre a situ- ação de Gilberto Rodrigues Leal. Tensões diplomáticas entre Marrocos e França Depois a polícia francesa ter entregado uma convocatória emitida por um juiz de instrução e dirigida ao director geral da DGST (serviços de informações marroquinos) a notificar o ex encarregado de negócios na embaixada de Marrocos em Paris, o controverso Riad Ramzi acusado de implicação em vários «dossiers criminais», as relações entre Rabat e Paris deterioraram-se significativamente. É contudo uma tensão efémera que provoca sorrisos e observações irónicas nos corpos diplomáticos estrangeiros em Paris. Timor-Leste na abertura de um período com novas possibilidades O ninho de vespas centro-africano A renúncia de Xanana Gusmão ao cargo de Primeiro-ministro e a posse da Presidência rotativa da CPLP são eventos simultâneos em 2014 que podem revolucionar as possibilidades de um país emancipado há apenas 12 anos. Poderá a posição privile- giada de Timor-Leste na comunidade lusó- fona auxiliar o próprio processo de tran- sição governativa? A gestão das mudanças que Timor-Leste vai sofrer em 2014 irá ditar o percurso evolutivo do país. À primeira vista, as alterações no Governo poderão sugerir um certo medo de retrocesso, mas a verdade é que estas altera- ções tão profundas, que vão conferir ao país possibilidades que nunca antes teve, poderão mesmo servir para dar uma volta definitiva no seu destino. Neste ano de «términus» e «começos», Timor vai experienciar significa- tivas transformações políticas que acabarão também por influenciar a sua realidade social. Trata-se de um Estado recente com uma história em que figuraram poucos actores na cena política e da Independência. Sendo Xanana Gusmão uma das figuras mais emblemáticas e controversas da resistência à ocupação indonésia, a sua renúncia está natu- ralmente envolta de uma grande expectativa dado que Timor-Leste atravessa ainda as suas primeiras experiências como Estado. Chefe da Resistência Nacional, primeiro Presidente pós-Independência e actual titular da pasta da Defesa, Xanana Gusmão tem tam- bém parte do crédito pela estabilidade de que goza o país nos últimos anos. Naturalmente que a hesitação que contorna a saída de «Kay Rala» é imensa, apesar de este garantir que irá apoiar a nova gestão. O ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros de Timor-Leste, Agio Pereira, descortinou à PNN as expectativas que pairam em relação à estabilidade do país, depois desta alteração na liderança do Executivo. Do ponto de vista percebido inter- namente, Kay Rala Xanana Gusmão terá tomado todas as precauções para assegurar a situação de equilíbrio do país: «Estou certo de que o Primeiro-ministro pesou em todos os problemas potenciais antes tomar a decisão de anunciar a renúncia ao cargo. (continua página 03) Na República Centro-Africana a França, para além da acção militar humanitária, pretende exorcizar os fantasmas do Ruanda, mas também impor-se como o Gendarme da África francófona. Para os centro-africanos, Paris parece que esquece a complexidade étnico-religiosa, multicul- tural, plurinacional que hoje compõe o ninho de vespas centro-africano. Após o Mali, com a operação Serval, a França decidiu intervir na República Centro-Africana (RCA) onde todos os sinais apontavam para a iminência de acções que poderiam resultar num massacre ou genocídio étnico-religioso em moldes semelhantes ao genocídio ruandês em 1994 onde a França foi acusada de ter optado por uma sangrenta postura devido à sua recusa de agir de forma a impedir o mas- sacre, assim como ter demorado a aceitar em qualificar o massacre de 800 mil pessoas no Ruanda (1994) como um genocídio. Apesar da tendência de alguns analistas insis- tirem nas configurações semelhantes entre o drama ruandês e a progressão da crise na RCA que poderá resultar num genocídio semelhante, no continente africano é perigosamente arriscado tipificar uma crise ou conflito baseando-se em amostras políticas e antropológicas de outro Estado. É neste ponto que a França erra com frequência nas suas intervenções humanitárias em África. A RCA está a ser o exemplo desse erro de avaliação. Tal como foi relatado, a França está a intervir na RCA para impedir o caos instalado pelos Selekas (milícias muçulmanas). (continua página 6)

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Password - Fevereiro 2014 - Pág. 01

ÍndiceTimor-Leste na abertura de um períodocom novas possibilidades

Página 01-03

O ninho de vespas centro-africano

Página 01-06

A ameaça dos jihadistas europeus na Síria

Página 04

Sara Ocidental: Entre a legitimidadee a confortável ilegitimidade

Página 08

Cooperação incentiva relacionamento entreLusofonia e tecido empresarial concelhio

Página 11

Fevereiro 2014Série: V

Número: 46Exclusivo para assinantes

Familia Rodrigues pede prova de vida alíderes do MujaoNuma carta enviada à imprensa arabófona efrancófona, a família de Gilberto Rodrigues,franco português raptado pelo Movimentopela Unidade da Jihad na África Ocidental(Mujao) no Mali a 21 de Novembro de 2012,lembra que desde a reivindicação da acçãopelo Mujao, através de Walid Abou AdnanSahraoui e M Ahmed Ould Amer, vulgoAhmed Tilemsi, e desde que se manifestou a26 de Janeiro de 2013 disponível para nego-ciar, a família Rodrigues, nunca mais tevenoticias de Gilberto Rodrigues. Na mesmacarta a família Rodrigues afirma estar «muitopreocupada» e pede aos responsáveis doMujao que forneçam informações sobre a situ-ação de Gilberto Rodrigues Leal.

Tensões diplomáticasentre Marrocos e FrançaDepois a polícia francesa ter entregado umaconvocatória emitida por um juiz de instruçãoe dirigida ao director geral da DGST (serviçosde informações marroquinos) a notificar o exencarregado de negócios na embai xada deMarrocos em Paris, o controverso Riad Ramziacusado de implicação em vários «dossierscriminais», as relações entre Rabat e Parisdeterioraram-se significativamente. É contudouma tensão efémera que provoca sorrisos eobservações irónicas nos corpos diplomáticosestrangeiros em Paris.

Timor-Leste na aberturade um período com novas possibilidades

O ninho de vespas centro-africano

A renúncia de Xanana Gusmão ao cargo dePrimeiro-ministro e a posse da Presidênciarotativa da CPLP são eventos simultâneosem 2014 que podem revolucionar aspossibilidades de um país emancipado háapenas 12 anos. Poderá a posição privile-giada de Timor-Leste na comunidade lusó-fona auxiliar o próprio processo de tran-sição governativa?

A gestão das mudanças que Timor-Leste vaisofrer em 2014 irá ditar o percurso evolutivodo país. À primeira vista, as alterações noGoverno poderão sugerir um certo medo deretrocesso, mas a verdade é que estas altera-ções tão profundas, que vão conferir ao paíspossibilidades que nunca antes teve, poderãomesmo servir para dar uma volta definitiva noseu destino. Neste ano de «términus» e«começos», Timor vai experienciar significa-tivas transformações políticas que acabarãotambém por influenciar a sua realidade social.Trata-se de um Estado recente com umahistória em que figuraram poucos actores nacena política e da Independência. SendoXanana Gusmão uma das figuras mais

emblemáticas e controversas da resistência àocupação indonésia, a sua renúncia está natu-ralmente envolta de uma grande expectativadado que Timor-Leste atravessa ainda as suasprimeiras experiências como Estado.Chefe da Resistência Nacional, primeiroPresidente pós-Independência e actual titularda pasta da Defesa, Xanana Gusmão tem tam-bém parte do crédito pela estabilidade de quegoza o país nos últimos anos. Naturalmenteque a hesitação que contorna a saída de «KayRala» é imensa, apesar de este garantir que iráapoiar a nova gestão.O ministro de Estado e da Presidência doConselho de Ministros de Timor-Leste, AgioPereira, descortinou à PNN as expectativasque pairam em relação à estabilidade do país,depois desta alteração na liderança doExecutivo. Do ponto de vista percebido inter-namente, Kay Rala Xanana Gusmão terátomado todas as precauções para assegurar asituação de equilíbrio do país: «Estou certo deque o Primeiro-ministro pesou em todos osproblemas potenciais antes tomar a decisão deanunciar a renúncia ao cargo.

(continua página 03)

Na República Centro-Africana a França,para além da acção militar humanitária,pretende exorcizar os fantasmas doRuanda, mas também impor-se como oGendarme da África francófona. Para oscentro-africanos, Paris parece que esquecea complexidade étnico-religiosa, multicul-tural, plurinacional que hoje compõe oninho de vespas centro-africano.

Após o Mali, com a operação Serval, a Françadecidiu intervir na República Centro-Africana(RCA) onde todos os sinais apontavam para aiminência de acções que poderiam resultarnum massacre ou genocídio étnico-religiosoem moldes semelhantes ao genocídio ruandêsem 1994 onde a França foi acusada de teroptado por uma sangrenta postura devido àsua recusa de agir de forma a impedir o mas-

sacre, assim como ter demorado a aceitar emqualificar o massacre de 800 mil pessoas noRuanda (1994) como um genocídio.Apesar da tendência de alguns analistas insis-tirem nas configurações semelhantes entre odrama ruandês e a progressão da crise naRCA que poderá resultar num genocídiosemelhante, no continente africano éperigosamente arriscado tipificar uma crise ouconflito baseando-se em amostras políticas eantropológicas de outro Estado. É neste pontoque a França erra com frequência nas suasintervenções humanitárias em África. A RCAestá a ser o exemplo desse erro de avaliação.Tal como foi relatado, a França está a intervirna RCA para impedir o caos instalado pelosSelekas (milícias muçulmanas).

(continua página 6)

A 18 de Setembro a Escócia vai decidir se quer ou não ser indepen-dente e consequentemente desligar-se do Reino Unido.Sem qualquer surpresa, Durão Barroso, presidente da ComissãoEuropeia, advertiu a terra dos kilts e do whisky que se a independênciafor a via escolhida, tal não implicará uma adesão automática daEscócia à União Europeia. Uma posição que foi interpretada naEscócia como uma aviso ameaçador que suscita ingerência e que pre-tende influenciar o resultado do referendo.A advertência de Durão Barroso foi precipitada. Vale apenas por elamesma e implica apenas o seu autor. Curiosamente quando a crisebelga se arrastava, e a ameaça da divisão do país em dois estados,Barroso reagira também indicando que era um problema interno belgae por esse motivo não se pronunciava sobre o assunto.Esta posição marcadamente favorável à Inglaterra, o Estado menosexemplar na construção Europeia, pode estar a abrir um precedente nasrelações externas da UE mas também nas relações inter-Estados naUnião, e atinge directamente a teoria da indivisibilidade territorial dosEstados assim como o idílico direito à autodeterminação dos povos,por todos defendido e por nenhum aplicado.Mergulhando na teoria das probabilidades, sem ter em conta fórmulasmatemáticas, se a Escócia opta pela independência e se, após os proce-dimentos obrigatórios, for reconhecida pelo Tribunal Internacional deJustiça, a ameaça de Durão Barroso entrará nos anais do esquecimento.Por exemplo, a declaração unilateral da independência do Kosovo em2008 é um caso que deve ser considerado, pois este recém-recriadoEstado europeu, contra ventos e marés, obteve imediatamente o reco-nhecimento pelos Estados Unidos, França, Alemanha e… Inglaterra.Contrariamente aos tramites escolhidos pelos escoceses, a independên-cia do Kosovo não passou por um referendo, limitou-se a uma decisãotomada durante uma reunião extraordinária do parlamento provincial.Certamente que cada caso é um caso, e vários factores estão inerentesaos supostos direitos de independência sem que estes tenham de passarpor um referendo.Se o pior dos cenários ocorrer na Ucrânia, com a sua divisão em doisestados, um pró-europeu e outro pró-russo, paralelos com os historiaisseccionistas na Europa serão certamente citados internamente na União.No entanto algo já se tornou claro. A União Europeia é prudentementefavorável a independentismos e autodeterminações, mesmo que estesresultem de um processo separatista ou seccionista, desde que ocorramfora do espaço da União, e particularmente quando no VelhoContinente estes processos fragilizem eixos de influências «hostis» àUnião, por exemplo o eixo russo.No interior da União a história é outra. O «separatismo» é inconcebí-vel e inaceitável, mesmo que este tenha um percurso político pacífico.Em causa estariam territórios como o País Basco Espanhol e Francês,Córsega, Irlanda do Norte, que já viveram lutas separatistas terroristasextremamente violentas. Mas também a Catalunha, Flandres, Bretanha,Baviera, Sardenha e Sicília. Uma lista que seria longa se fossem incluí-das regiões que vão progredindo nas suas ambições através dos meioslegais alcançados por intermédio de um estatuto autonómico.Assim, o artigo referente à autodeterminação patente na Carta dasNações Unidas, que defende o «respeito do princípio da igualdade dedireitos e autodeterminação dos povos», na UE é apenas um parágrafoque deve se considerado para os outros. Mesmo a sua aplicação no

exterior da União Europeia deve ser prudente para nunca ferir a suscep-tibilidade do país amputado caso este tenha um interesse estratégicoeconómico para a União.A ameaça de Durão Barroso é todavia provida de uma certa razão ecoerência.Apesar de o Tratado de Lisboa ter dado as bases para uma nova dinâmi-ca europeia, a União continua a ser patologicamente um monumentalGolem burocrático onde as questões económico-financeiras são Rei.A violenta crise económica revelou que o termo «União» é muito rela-tivo e não menos subjectivo. Reflexo disso foi o acrónimo que signifi-ca «Porcos», PIGS (Portugal, Itália, Grécia, Espanha – Spain), popu-larizado pelo prestigiado Financial Times para definir os Estados emdificuldades económicas na UE. Esta descriminação insultuosa entreuns e outros é reveladora da frágil união no interior da União.

As discordâncias que bloqueiam a criação de um corpo militar da UEé talvez o mais revelador da falta de consenso e União, e esta lacuna,que colmatada refortaleceria a UE, incita a privilegiar alianças mil-itares bilaterais em detrimento de uma força multilateral europeia. Umarealidade que é apenas um dos sintomas da falta de concordância quan-to a uma política externa comum em questões específicas.Muitos outros exemplos poderiam ser citados numa Europa que seafunda em burocracias e afasta-se dos seus cidadãos. É esta distânciaque tem alimentado hoje alguns separatismos que são alicerçados porhipotéticas razões históricas, linguísticas e culturais. Uma doençarenascida numa nova Europa onde a imposição aos cidadãos da igual-dade burocrática alimentou a aclamação do direito à diferença quepoliticamente se traduz em separatismo e nacionalismos regionais.A eventual independência da Escócia será mais uma prova que a UniãoEuropeia está longe dos seus cidadãos. Será também o exemplo de queexiste uma União Europeia e os europeus, os quais não comunicam defacto e desconhecem-se reciprocamente. Daí a necessidade de se afir-marem no seu canto através de nacionalismos, separatismos e sec-cionismos.A ameaça subliminal de Durão Barroso foi correcta, mas precipitada eimprudente. Como falar de coesão numa Europa desunida? Porquêaceitar cenários externos inaceitáveis internamente? A ameaça poderáter o efeito contrário ao pretendido, e tornar-se em mais uma acha paraa fogueira independentista escocesa.Afinal, ao longo de vários séculos integrados no Reino Unido, os esco-ceses tiveram tempo suficiente para aprenderem com a Inglaterra a artede contrariar quase tudo que viesse da outra margem da Mancha.

Rui Neumann

Password - Fevereiro 2014 - Pág. 02

PasswordEditorial

Ficha Técnica

Director: Rui NeumannDifusão:Correio electrónico, via www.pnn.ptGrafismo e paginação: PNNPeriodicidade: MensalRegisto ERC: 125792

PNN – Portuguese News NetworkRua Maria Luísa Holstein, nº15, s/151300-388 Lisboa - Portugal

Tel: (00351) 21 400 6469E-mail: [email protected]

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Separatismos da União

Riscos ou ameaças à estabilidade de Timor-Leste são certamente os primeiros aspectosem que terá pensado. Tendo anunciado quevai abandonar o cargo, não acredito que essadecisão vá afectar a estabilidade nacional».De acordo com Agio Pereira, «o país está con-trolado há mais de cinco anos, desde 2008,quando ocorreu o último grave acontecimentoque causou a morte do Major Alfredo Reinadoe a tentativa de homicídio do Presidente JoséRamos-Horta e do Primeiro-ministro XananaGusmão. Essa crise extremamente grave, quepoderia ter ameaçado a estabilidade do país,foi conduzido com uma liderança extrema eacabou por reforçar as políticas estratégicasadoptadas pelo Governo e pelos partidospolíticos, resultando no reforço da estabili-dade nacional. Dado que Xanana Gusmão éum líder-chave símbolo da libertação, estaquestão é legítima e poderá levantar algumascontrovérsias mas a resposta é não, o seu afas-tamento não vai abrir espaço à instabilidade»,garantiu.

«Podemos afundar-nos sea liderança não for bem preparada»Ainda antes do anúncio oficial do afastamento,a justificação que foi dada para esta decisãoestá ligada à passagem do testemunho a gera-ções mais jovens, que se acredita estarem, hámuito, a ser preparadas. Esta seria uma dasmais claras e lógicas medidas a serem tomadaspelo Governo de Xanana, ou seja, a cuidada esevera preparação de quem irá assumir a lide-rança do país. Contudo, «até agora não foramavançados nomes» possíveis para ocupar ocargo e «não existe a necessidade de tomarmedidas extraordinárias» para o sucesso destatransição, revelou Agio Pereira à PNN, elemesmo indicado como um possível sucessorpelo antigo vice-Primeiro-ministro MárioViegas Carrascalão, em declarações à impren-sa. No entanto, Xanana Gusmão revelou que anova liderança é, efectivamente, uma preocu-pação. Na conferência onde apresentou o seulivro sobre «os primeiros dez anos da cons-trução do Estado timorense», na qual a PNNparticipou no início de Fevereiro, Xanana sub-linhou a importância da «preparação deeleições e de uma liderança forte e credívelpara comandar», dando como exemplo a nãoseguir o caso da Tailândia e de outros paísesonde ocorrem constantemente revoltas eprotestos. «Podemos afundar-nos se a lide-rança não for bem preparada. Estramos rodea-dos de ameaças latentes à soberania» reforçouo Primeiro-ministro timorense, acrescentandoque «preparar a nova geração é um devernosso». Estas palavras reforçaram o discursodo Bispo emérito de Díli, Dom Ximenes Belo

que, durante a sua intervenção na mesma con-ferência apelou a Xanana Gusmão que «recon-sidere a decisão de renunciar ao cargo», umavez que «o povo precisa de liderança».De facto, ainda não foram avançados nomesconcretos para a sucessão na Chefia doGoverno mas, segundo Agio Pereira, trata-seainda de um extenso processo: «É altamenteprovável que o novo Primeiro-ministro surjade um conjunto de decisões políticas tomadaspelo próprio Xanana Gusmão, que compreen-derão a aprovação do CNRT e a aceitaçãopelo Presidente da República», referiu o mi-nistro à PNN, acrescentando que «este é umprocesso político e, por isso, tem a sua própriadinâmica e as suas restrições. Estou certo deque Xanana Gusmão, como líder incansável,fará tudo para garantir a estabilidade na go-vernação dos anos que ainda faltam para aconclusão do seu mandato de cinco anos»,sublinhou Agio Pereira.

Desta forma, estando directamente implicadono processo de escolha de um novo comando,afasta-se a questão de ter ou não «autoridade»para continuar a influenciar o trabalho desen-volvido no país, intenção que Xanana mani-festou já por várias vezes. «Em termos desaída do Governo, vou continuar a trabalhar»,referiu o Primeiro-ministro na conferência emLisboa. É legítima a surpresa que contornaeste «timing» escolhido, antes do final domandato, apesar de Xanana Gusmão garantirque irá apoiar a nova liderança. Há mesmoquem defenda um «abandono estratégico» porparte do actual Chefe do Governo, para umregresso em força depois de um ou dois anosde afastamento. É o caso do antigo vice-Primeiro-ministro de Timor-Leste, que reve-lou à imprensa a opinião de este abandonopoder estar relacionado com a aplicação doPlano Estratégico de DesenvolvimentoNacional.Na verdade, apesar da aprovação unânime doOrçamento de Estado para 2014, há outros

aspectos que tornam difícil gerir um Governocoligado entre cinco partidos. Apesar de ter jágarantido que não pretende vir a desempenharqualquer cargo de responsabilidade no futuro,esta decisão de renúncia poderá mesmo abrira porta a uma remodelação muito ambiciona-da. De fora do Executivo mas ao lado do novocomando, Xanana Gusmão poderá mexernum delicado processo de reestruturação sem,no entanto, ter que o assinar. De resto, outrascircunstâncias que um possível regresso exijapoderão então vir a reunir-se.

Cimeira da CPLP vai marcar saída oficialOutro evento decisivo para Timor-Leste em2014 é a Presidência rotativa da Comunidadedos Países de Língua Portuguesa (CPLP), queo país assume pela primeira vez durante ospróximos dois anos. A Cimeira da CPLP emDíli, que decorre em Julho, vai marcar a saídaoficial do Primeiro-ministro do Governotimo rense. O próprio Xanana Gusmão afir-mou que «teria saído mais cedo se não fosse aresponsabilidade de organizar a Cimeira», naconferência de imprensa onde esteve a PNN.«Bye bye» foi mesmo o termo utilizado paradescrever aquilo que irá acontecer logo depoisdo encontro em Díli. No entanto, «Kay Rala»tem planos para o desempenho de Timor-Leste na liderança desta comunidade lusó-fona, e que foram já revelados por váriasvezes. Em Lisboa, a PNN ouviu o ainda Chefedo Governo timorense referir que o país tem àsua frente desafios que passam por «procurarum novo caminho» para a organização. «Daro nosso contributo para que os povos sintambenefícios» foi uma das aspirações reveladasna altura, o que sugere que a direcção tomadaaté aqui não deverá ter continuidade. De factonão é de estranhar. Noutras ocasiões, XananaGusmão teceu duras críticas à CPLP e, em2013, afirmou a intenção de conferir um carizmais económico à comunidade que, na suaperspectiva, passa ainda apenas por uma insti-tuição de carácter histórico e cultural cujoslaços entre os povos são superficiais e repor-tam ao passado.Talvez Timor-Leste tenha já sentido a neces-sidade legítima de elos de cooperação maisreforçados entre os Estados-membros da lín-gua portuguesa, de mais apoio para o desen-volvimento das políticas nacionais em áreasestratégicas. De facto, passado dois anos deter liderado o curso evolutivo da CPLP, edepois de um Governo já provavelmenteremodelado, as aspirações para o desenvolvi-mento do «sonho timorense» irão reunircondições de que o país nunca antes dispôs.Aí, poderá talvez surgir o apelo a um possí velregresso.

Password - Fevereiro 2014 - Pág. 03

PasswordTimor-Leste

Timor-Leste na abertura de um período com novas possibilidades

Nos últimos meses têm-se vindo a verificarum aumento significativo no número de oci-dentais que rumam à Síria para se juntarem àsforças hostis ao regime de Damasco. Estima-se que desde o início do conflito, em Marçode 2011, milhares de europeus tenham entra-do neste país do Médio Oriente com opropósito de integrarem as milícias que com-batem o Presidente Bashar al-Assad e os seusaliados xiitas do Hezbollah. O número exactodaqueles que partiram é uma incógnita. O jor-nal belga La Libre Belgique avançara, emDezembro, com base em informações dosserviços de segurança, que entre quatro acinco mil pessoas com passaporte do espaçoSchengen tinham ido para a zona de conflito.Dados do Centro Internacional de Estudossobre Radicalização, com sede em Londres,apontam para mais de 11 mil combatentes de74 países, dos quais cerca de 2500 são prove-nientes da Europa.Embora alguns destes jovens optem porapoiar grupos de resistência sunita com umavisão mais moderada e secular, como oExército Livre da Síria, outros tantos inte-gram os batalhões da Frente al-Nusra (comligações à Al-Qaeda), Estado Islâmico doIraque e do Levante (ISIS) e Frente Islâmicade Libertação da Síria, que pretendem insti-tuir um Estado islâmico no país, com base naSharia, e cuja ideologia é orientada para ofundamentalismo religioso, e ainda da Jaishal-Muhajireen wal-Ansar (Exército dosEmigrantes e Apoiantes). Em quase três anosde guerra civil, a Síria acolhe o maior contin-gente estrangeiro de jihadistas de que hámemória.Em termos europeus, a maioria destescidadãos é proveniente da França, Bélgica,Inglaterra, Alemanha, Holanda ou Dinamarca,países que a partir da década de 1960/1970começaram a receber emigrantes muçul-manos, sobretudo oriundos do Norte deÁfrica na sequência dos processos de inde-pendência, que lançaram as «sementes» doIslamismo na Europa. Por enquanto, aindanão existem relatos de portugueses que se ten-ham juntado aos combates, embora o númerode jovens recrutados na vizinha Espanha con-tinue a aumentar.No entanto, é necessário notar que o fluxo decombatentes em causas no Médio Oriente nãoé um «fenómeno» recente, tendo-se já verifi-cado nas guerras do Afeganistão durante aintervenção soviética (1979-1989) e, maisrecentemente, no Iraque. Aliás, muitos dosque combateram no Afeganistão seguirampara outras zonas de conflito, como a guerrada Bósnia (1992-1995).

A crescente participação de jihadistaseuropeus no conflito sírio está a preocupar aUnião Europeia (UE), que teme as conse-quências do eventual retorno destes comba-tentes, transformados pela guerra e radicaliza-ção. «Tememos que com o passar do tempoesses cidadãos se tornem muito maisperigosos do que são actualmente», afirmou oministro do Interior francês, Manuel Valls, emmeados de Dezembro, sublinhando que aindanão foram detectadas «quaisquer ameaçasdirectas ou fundamentadas contra o nossopaís, os nossos cidadãos ou os interesses dospaíses aliados».As hipóteses de espalharem o radicalismo deinspiração islâmica nos países de origem sãoelevadas, uma vez que estes «recrutas», orien-tados para uma ideologia extremista e anti-ocidental, possuem as ferramentas para cons-truir bombas, fazer detonar veículos armadi-lhados ou participar em acções suicidas. Nahistória contemporânea existem vários exem-plos de ataques em cidades europeias levadosa cabo por grupos islâmicos, com registo devítimas mortais. Os atentados de 11 de Marçode 2004 em Madrid e de 7 de Julho de 2005em Londres, reivindicados por células islâmi-cas radicais em nome da Al-Qaeda, são ape-nas alguns dos exemplos. A estes juntam-se osataques à bomba em França no Verão de 1995,cuja autoria foi atribuída ao Grupo IslâmicoArmado, organização islâmica que combateuo Governo da Argélia durante a guerra civil.Nos últimos anos, os partidos de extrema-direita europeus, como o francês Frente

Nacional (FN), o suíço União Democrática deCentro (UDC), o holandês Partido daLiberdade (PVV), o britânico Partido daIndependência (UKIP) ou o austríaco Partidoda Liberdade (FPO) têm vindo a impor-secada vez mais no cenário político, por defend-erem medidas anti-imigração e anti-Islãoprovocando a amalgama Islão/Terrorismo.Em declarações à PCN, Edwin Bakker, direc-tor do Centro de Terrorismo e Contra terroris-mo da Universidade de Leiden e investigadorno Centro Internacional de Combate aoTerrorismo (ambos na Holanda), garantiu queas ameaças para a Europa do retorno destesjovens são variadas. «Varia entre os riscos depessoas que regressam com um trauma ecausam problemas às suas famílias, a pessoasque foram radicalizadas e começam a apoiar ajihad violenta nos seus países de origem. Opior cenário são aqueles que voltam pararealizar ataques nos seus países de origem(alguns dos grupos a que se juntaram não têmapenas princípios anti-Assad mas anti-ociden-tais)», afirmou o especialista em terrorismojihadista.No entanto, Bernardo Pires de Lima, investi-gador no Instituto Português de RelaçõesInternacionais da Universidade Nova deLisboa (IPRI), desdramatiza esta situação.«Há um perigo evidente no regresso que é aexperiência adquirida no terreno. Mas algunsestudos dizem-nos que só uma percentagem arondar os 10% regressam à origem. A maiorparte tende a deslocar-se numa geografiavariá vel onde o apelo jihadista é mais sonoro.

Password - Fevereiro 2014 - Pág. 04

PasswordTerrorismo

A ameaça dos jihadistas europeus na Síria

Arqu

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Jihadista francês, Jean-Daniel, 22 anos, morto na Síria.

Arrisco a previsão do Egipto, Líbano e Líbia.No caso europeu, o perigo terrorista existiriasempre com ou sem a guerra síria e com ousem esta deslocação de europeus para lá. Hámuito que células e lobos solitários circulam ese estabeleceram na Europa, um pouco portodo o lado», referiu o especialista em assun-tos internacionais, em declarações à PCN.Para além disso, persiste ainda o risco de trau-mas e/ou ferimentos de guerra, sem contarcom a quantidade de combatentes que jáperderam a vida nos confrontos entre gruposarmados rivais. É necessário ainda notar queos europeus que rumam à Síria ou que têmintenção de se juntar ao conflito são cada vezmais jovens, existindo até mesmo relatos demenores de idade. Os jornais franceses noti-ciaram no início do ano o caso de dois adoles-centes de 15 e 16 anos, oriundos de Toulouse,que partiram para a Turquia com a intenção deentrar no país vizinho e fazer parte do confli-to.Paralelamente, a participação destes jovens najihad acaba também por ter repercussões nacomunidade muçulmana na Europa. Questio-nado sobre os impactos que poderá ter paraesta comunidade, Bernardo Pires de Lima éda opinião de que existirá um maior controlopor parte dos serviços de inteligência e naspolíticas de imigração. «Vão ser mais moni-torizados pelos serviços de inteligência e poli-ciais, eventualmente, alguns países adoptarãopolíticas de imigração mais restritivas. Masjulgo que as próprias comunidades muçul-manas serão as primeiras interessadas emalertar as autoridades para os casos de radi-calização. O problema é que alguns destescasos já se fazem fora do círculo dessascomunidades e alguns até são feitos poreuropeus sem qualquer ascendência islâmica.Há quem lhe chame a “blue-eyed jihad”»,afirmou o investigador do IPRI.As autoridades europeias têm vindo a alertarpara os perigos deste «fenómeno», reforçandoas medidas de intervenção, com vista aimpedir o recrutamento e treino dos seuscidadãos, assim como a busca de acções aimplementar após o seu possível regresso. OReino Unido, França, Holanda, Espanha ouBélgica já procederam à detenção de váriaspessoas por alegado envolvimento em redesterroristas que recrutavam jovens para com-bater na guerra civil síria. Em Janeiro, aComissária Europeia para Assuntos Internos,Cecília Malmstrom, solicitou aos Estados-membros para intensificarem os esforços naluta contra a radicalização e extremismo, demodo a evitar eventuais ataques.Face à ameaça representada pelos comba-

tentes radicais, e numa altura em que surgemcada vez mais milícias no conflito, o ReinoUnido decidiu em meados de Dezembro sus-pender a ajuda não letal aos rebeldes no nortedo país, depois de uma facção islâmica tertomado o controlo de depósitos de armas doExército Livre da Síria.Questionado pela PCN sobre as medidas quedevem ser tomadas pela UE para evitar a par-ticipação destes cidadãos europeus na guerracivil, Edwin Bakker, especialista em terroris-mo jihadista, considera que é necessário pro-mover o debate entre os Estados-membros,reforçar a segurança na fronteira turca eapoiar as negociações em Genebra. No anopassado, a Turquia impediu a entrada de maisde mil europeus na Síria.

Recrutados nas redes sociaisAs razões que levam estes cidadãos a aderirao conflito são variadas. «Os estudos sobreradicalização apontam para vários motivos.Frustração social fruto de deficiente inte-gração; procura de um ideal revolucionário;

exposição aos apelos islamistas nas redessociais; doutrinação em círculos pequenosmuitas vezes por clérigos locais; sentido depertença a uma irmandade (sunita no casosírio) que procuram defender e apoiar»,referiu Bernardo Pires de Lima, em decla-rações à PCN.A grande maioria destes cidadãos temascendência árabe (descendentes de segundaou terceira geração de emigrantes muçul-manos) ou converteu-se ao Islão. Revoltadoscom os princípios ocidentais, a crise finan-ceira na UE, os elevados níveis de desem-prego, problemas de discriminação ou inte-gração na sociedade, entre tantos outros fac-tores, procuram um novo objectivo de vida, a

busca pela aventura, em nome de uma causadiferente, da «guerra santa». Porém, analisan-do o perfil dos voluntários para a jihad ficapatente que o factor económico (pobreza,desemprego, etc.) não é determinante na radi-calização dos jihadistas europeus.A Síria, assim como o Iraque, tem a seu favora localização geográfica privilegiada, umavez que faz fronteira com a Turquia, ondequalquer cidadão europeu consegue chegarfacilmente. Mesma «sorte» não possui oAfeganistão, Somália ou Mali, onde o númerode combatentes na jihad foi bastante inferior.«O facto é que é relativamente fácil chegar àSíria (em comparação com o Afeganistão eSomália) e relativamente fácil participar numgrupo de combate (ao contrário da Somália,por exemplo)», garantiu Edwin Bakker.Recrutados em mesquitas ou na Internet pororganizações clandestinas sunitas e extremis-tas (financiadas por países do Golfo Pérsio),os futuros combatentes seguem muitas vezespara os Balcãs, Turquia e Marrocos, onderecebem treino militar e absorvem o espíritoda jihad, sendo sujeitos a uma verdadeira«lavagem cerebral». As redes sociais, sobre-tudo o Facebook, servem de instrumentos depromoção do conflito, onde alegados jihadis-tas publicam mensagens contra gruposrebeldes moderados ou as forças de Assad,partilhando fotos no terreno ou em mansõesque foram expatriadas pelos habitantes maisabastados.No entanto, existem ainda casos de cidadãoseuropeus, que horrorizados com as imagensvinculadas na comunicação social e face aosconstantes apelos de ajuda humanitária pelasNações Unidas ou denúncias de violações dosdireitos humanos pela Amnistia Internacional,rumam à Síria para defender o povo, os«irmãos muçulmanos», as vítimas inocentesda guerra civil. Para além disso, os quepartem em missões humanitárias correm orisco de se juntar aos jihadistas, visto que nor-malmente abraçam as causas da oposição.O número de voluntários europeus querumam à Síria para combater o PresidenteBashar al-Assad provavelmente vai continuara aumentar nos próximos tempos, uma vezque prossegue o impasse entre Governo eoposição, com vista a alcançar uma soluçãopolítica para o conflito, que já provocou maisde 130 mil mortos, segundo as últimas esti-mativas da ONU. As negociações entre oregime de Damasco e a Coligação NacionalSíria (principal força da oposição)prosseguem em Genebra (Suíça), marcadaspor divergências e incertezas, sem uma «luzao fundo do túnel».

Terrorismo

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A ameaça dos jihadistas europeus na Síria

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No local as tropas francesas, no quadro damissão Sangaris (nome de uma borboletacomum na RCA – tradicionalmente a Françaescolhe nomes de animais comuns no terrenoonde vai actuar para baptizar as suas opera-ções e missões), pretendiam defender as pop-ulações cristãs de um eventual massacre per-petrado pelas minorias muçulmanas afectas àsmilícias Seleka.Hoje os “sangaris”, como são conhecidoslocalmente os militares franceses, que inicial-mente combatiam os Selekas, combatem tam-bém os descontrolados Anti-Balakas (Anti-Catanas), milícias cristãs organizadas para sedefenderem dos Selekas, para proteger aspopulações muçulmanas que maioritaria-mente apoiam os Selekas. Uma complexaviragem que demonstra a má avaliação préviado terreno pela França.Porém ficou incrustado nas mentes locais quea missão dos “sangaris” seria atacar e desar-mar os muçulmanos Selekas, o que levou aAl-Qaeda do Magrebe islâmico (AQMI), quea França combate no Mali, a manifestar soli-dariedade com as populações muçulmanas daRCA, e consequentemente, os Selekas. Nãoquerendo isso dizer, para já, que os Selekas setornaram num aliado da AQMI. Mas foi,todavia, uma estratégia semelhante que aAQMI utilizou para ter como aliado a seitaanti-Ocidente Boko Haram.No entanto os conflitos inter-religiosos naRCA não são fenómenos novos, tal como éhabi tualmente apresentado na imprensa, eestão absolutamente enraizados na sociedadecentro-africana.Apesar de uma certa tolerância religiosa dosgovernos e regimes precedentes, junto dapopulação a tensão inter-religiosa esteve sem-pre patente e as populações muçulmanasforam desde sempre consideradas como«estrangeiros» na RCA.A RCA é apresentada como «maioritaria-mente» cristã com 25% protestantes, 25%católicos, 25% animistas e 15% muçulmanos,dado considerado aleatório dado que nuncafoi efectuado de facto um levantamento rigo-roso dos credos da sua população. Por outrolado, estas percentagens, consideradas como“oficiais”, não têm em conta a real paisagemreligiosa na RCA porque, sejam católicos,protestantes ou muçulmanos estão muito«impregnados» de crenças e ritos animistas, àimagem de todos os países da África subsaa-riana.Com o intuito de controlar o seu mosaico reli-gioso, a Constituição centro-africana instituiua liberdade religiosa mas proíbe o radicalismoreligioso sem contudo o definir ou enquadrar.

A mesma Constituição indica também quequalquer grupo religioso (com mais de miladeptos) é livre de existir desde que «se apre-sente oficialmente», ou seja, tem de serinscrito legalmente como tal, e consequente-mente reconhecido como religião. Umaexigência que desde a sua promulgação temsido utilizada como mecanismo de discrimi-nação provocando consequentemente oaparecimento de seitas religiosas que não semanifesta abertamente.A coexistência pacífica entre os vários gruposreligiosos começou a ser abalada há cerca deum quarto de século sem que o Estado sepreo cupasse verdadeiramente com esses

sinais. Nesta vaga a religião que sofreu maiormutação na RCA foi o Islão. Uma mutaçãoque começou há cerca de 25 anos quando,com o patrocínio da Arábia Saudita e doSudão, foi iniciado um processo de politiza-ção do Islão. Este processo coincidiu tambémcom a estratégia de sedução pelo Islão devários chefes de Estado africanos. Uma acçãoproselitista que não foi difícil, pois asreligiões cristãs desde sempre estiveram asso-ciadas ao ex-«colono». A adesão ao Islão eraentão interpretada como um divórcio definiti-vo com a antiga potência colonizadora, umfenómeno que se reflectiu na RCA com a fol-clórica conversão ao Islão do não menos fol-clórico e autoproclamado imperador Bokassa,assim como do seu primeiro-ministro Patassé.No entanto sempre existiram populaçõesmuçulmanas na RCA que praticavam umIslão local que por sua vez muito se diferen-ciava do Islão tradicional. Este processo de«islamização do Islão doméstico», tal como éreferido na RCA, notou-se particularmentecom a transformação de um Islão nacional ecaracterístico à RCA, imbuído no animismolocal, num Islão transnacional com uma fortecomponente política.Consequentemente a paisagem do Islão naRCA mudou nos últimos anos e tornou-selocalmente num instrumento político paraacolher «estrangeiros» (as comunidadesmuçulmanas na RCA, para além dosnacionais, são compostas por 20 milcamaroneses, entre 18 mil e 12 mil chadianos,quatro mil nigerianos e um número desco-nhecido de sudaneses e senegaleses, segundoos dados oficiais). Cada um destes grupos nãonacionais tem a sua comunidade própria e asua própria mesquita porque consideram osmuçulmanos centro-africanos como «falsosmuçulmanos» dado que estes adoptarammuitas práticas animistas.Apercebendo-se do fenómeno da progressãode um Islão «não doméstico», Bangui tentoureagir criando a Comunidade IslâmicaCentro-africana (CICA), que pretendia privi-legiar um islão reformista e moderno emoposição ao islão radical e conservador cadavez mais implantado no país, e o qualdefendia a aplicação estrita da Charia.A CICA pretendia também defender um Islãonacional contra um Islão importado pelaspopulações imigrantes já referidas, mas tam-bém travar a influência das comunidadesarabófonas cada vez mais presentes no país emanifestamente contra o poder. Por esse moti-vo o risco de «purga» religiosa estará semprepresente na sociedade centro-africana, sejajunto das populações cristãs e animistas con-

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tra as populações muçulmanas, mas tambémtraduzindo-se num fenómeno interétnico nointerior das comunidades muçulmanas, aslocais podem reagir contra as comunidadesestrangeiras.Mas a CICA foi um projecto efémero e rapi-damente os seus poderes foram limitadosfacilitando a proliferação de seitas islamistastransnacionais com fortes característicaspolíticas e combativas.Segundo analistas centro-africanos, a inten-cional fragilização da CICA que, apesar dassuas deficiências de funcionamento regulavaos extremismos, aconteceu na sequência depressões e promessas financeiras proferidaspela Arábia Saudita, Líbia de Kaddafi, eKoweit e que abriu as portas para a islamiza-ção da RCA e particularmente facilitou odesenvolvimento das correntes radicais,muito politizadas, alimentadas por ONGIslâmicas que subitamente chegaram ao país ecomo primeira medida ofereceram massiva-mente bolsas a estudantes centro-africanosmuçulmanos para a Arábia Saudita e Sudão.Esta estratégia gerou uma nova vaga de predi-cadores radicais que, para além de seremfinanciados e apoiados através das embai-xadas da Arábia Saudita, Sudão, Qatar eKoweit, passaram a receber apoios directosdo Egipto (Irmandade Muçulmana) e deMarrocos.Progressivamente as recém-instaladas organi-zações islâmicas começaram a substituir opapel social do Estado, oferecendo aos seusfieis ensino gratuito, apoio sanitário e ajudashumanitárias. Para além dos aspectosfilantrópicos desta acção, a componente clara-mente proselitista esteve sempre patente.Desenvolveu-se particularmente no norte dopaís mas nunca beneficiou de grande adesãoem Bangui. Daí o desenho na actual crise naRCA onde os Selekas beneficiam de maioradesão no norte, uma região onde estão areorganizar-se militarmente, segundo osrumores na capital.A criação dos Selekas (que contam entre 25 a20 mil homens), muito incitada e reforçadamilitarmente pelas milícias árabes janjawis,do Chade e Norte do Sudão que patrocinavamestas forças, visava a passagem para umasegunda etapa na islamização do país.A ofensiva conhecida dos Selekas sobreBangui, assim como a pilhagens e violênciaspor estes cometidas levou a população cristãlocal a organizar as milícias Anti-Balakas(«anti-catanas» na língua songo, que foramimediatamente encaradas como milícias quepretendiam restabelecer a ordem e assim

bene ficiaram e beneficiam de algum apoionos meios políticos e militares da RCA). Comessa legitimidade «não afirmada», passaram aatacar violentamente todas as populaçõesmuçulmanas assim como destruíremmesquitas como sinal «de fim do reino muçul-mano em Bangui».O confronto étnico-religioso não se limita àspopulações na RCA, mas estende-se tambémàs forças estrangeiras em campo. Os Sangaris,ora adulados ora odiados, são vistos como oregresso dos colonialistas mas também como«uma força cristã». As Forças ArmadasCentro Africanas (FACA) e a polícia, com

uniformes novos Made in France e reequipa-dos, são encarados como uma força para pro-teger as populações cristãs contra os muçul-manos. As atrocidades cometidas por estescontra populares muçulmanos suspeitos deapoiarem os Selekas reforçaram esta ideia.Assim a concertação entre as forçasestrangeiras no terreno é algo de perigosa-mente dúbia.Por fim surge a complexa e heterogéneaMissão Internacional de Apoio à RepúblicaCentro-Africana (Misca) liderada pela UniãoAfricana (UA) maioritariamente compostapor chadianos que não são discretos quanto aoseu apoio às populações muçulmanas e parti-cularmente aos Selekas, pondo claramente emcausa a independência desta força militarhumanitária.Paris já compreendeu, após incessantes aler-tas por peritos militares, que se precipitara naavaliação da crise centro-africana. Apesar dosmesmos peritos terem declarado que umaoperação das características daquela que éincumbida à Sangaris seria necessário, nomínimo, um efectivo de cinco mil homens,foram enviados inicialmente 1.400 e recente-mente mais 600 que vão chegar para reforçaro efectivo. Segundo as estimativas da ONUsão necessários mais três mil homens na RCApara garantir o mínimo de segurança aoscivis. A estes números juntam-se os seis milhomens que compõem a Misca.

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Patrulha conjunta, Sangaris/Misca

Durante a apresentação em Paris do documen-tário espanhol “Hijos de las nubes” produzidopelo actor Javier Bardem e realizado porÁlvaro Longoria, Bardem contou o «percursodo combatente» que teve, assim como ÁlvaroLongoria, para que o seu documentário sobrea questão do Sara Ocidental fosse lançado emFrança. Na mesma ocasião Kerry Kennedy,do Centro Robert Kennedy, referiu também asfortes pressões francesas para impedir olançamento do documentário em França.Por quatro vezes, o contrato para a difusão dodocumentário esteve para ser assinado, ecompulsivamente foi anulado à última da horadevido a pressões políticas francesas e a umaforte pressão da comunidade marroquina«extremamente influente em França» disseJavier Bardem.O conflito no Sara Ocidental, que dura hámais de quatro décadas, é apontado como o«conflito invisível». Poucos órgãos de comu-nicação social falam dele e limitam-se areferir a questão quando há um incidente ouuma acção que inevitavelmente tenha de terum espaço na imprensa tal como a greve dafome de Aminatu Haidar ou a violentarepressão a todas as manifestações nacionalis-tas sarauis no Sara Ocidental ocupado porMarrocos, tal como aconteceu em 2010 emGdim Izik perto da cidade de Laâyoune.O lançamento do documentário espanhol“Hijos de las nubes” em Fevereiro poderia serinterpretado como uma simples oportunidadede calendário após os múltiplos entraves parao seu lançamento. Mas não. Obedece acritérios estratégicos que anun ciam a proxim-idade de momentos cruciais tais como umnovo “round” negocial entre Marrocos e aFrente Polisário, a elaboração do relatóriosobre o Sara Ocidental pelo en viado especialda ONU Christopher Ross, debate a 30 deAbril sobre o prolongamento do mandato daeterna Missão da ONU para o Referendo noSara Ocidental (Minurso) e possibilidade deestender as suas competências à observaçãodo cumprimento ou violação dos DireitosHumanos por Marrocos e Frente Polisário.As eleições na Argélia, principal suportehumanitário e financeiro da Frente Polisário edos milhares de refugiados sarauís instaladosna região argelina de Tinduf, tambémpesaram fortemente na necessidade de se falarna questão do Sara Ocidental e particular-mente de sensibilizar todas as populaçõespara a questão Sarauí.Estes mecanismos de comunicação tornaram-seem verdadeiros clássicos. É expectável quesempre que está em preparação um novo“round” negocial entre Marrocos e a FrentePolisário disparem ma nifestações e repressões.

Marrocos tenta todas as vias para descredibi-lizar o movimento sarauí. No entanto aPolisário foi reconhecida pela ONU como oúnico e legitimo representante do povo sarauíe, por esse motivo, é a Polisário que está pre-sente nas negociações com Marrocos sob osauspícios da ONU. Por esse motivo, a criaçãode movimentos paralelos ou alternativossarauís que provoquem divisões na Polisário éuma verdadeira obsessão marroquina.Rabat não conseguiu obter reconhecimentojunto da ONU da legitimidade do ConseilRoyal Consultatif pour les AffairesSahariennes (CORCAS) como representantedo povo sarauí e chefiado por um dos múlti-plos fundadores da Polisário que tinha aban-donado o movimento. Depois disso Rabatesteve nos bastidores no apoio ao dissidenteda Polisário, Mahjjoub Salek, para a criaçãodo Khat Achahid, movimento que tinha comoobjectivo intervir no XII Congresso daPolisário e criar uma frente de oposição ao clãAbdelaziz.Foi uma tentativa sem sucesso, o KhatAchahid perdeu a sua dinâmica pouco após oseu nascimento e hoje sobrevive virtualmenteem Espanha e Marrocos. Marrocos terá tam-bém promovido a criação do RassemblementSahraoui Démocratique (RSD) que aspiravaser a oposição organizada contra MohamedAbdelaziz e tornar-se numa corrente alternati-va que chefiaria a Frente Polisário, mas tam-bém não durou.

O périplo do enviado especial das NaçõesUnidas para a questão do Sara Ocidental, oamericano Christopher Ross, assim como apreparação para negociações directas entreMarrocos e a Frente Polisário, que estiveraprevisto para meados de Março, inflamaraminevitavelmente o Sara Ocidental e a máquinamarroquina de «intoxicação dos média»começou a funcionar a todo vapor.Qualquer demonstração nacionalista sarauíem Marrocos ou apoio público ao referendono Sara Ocidental é apresentado como acçõesinsurreccionais promovidas por «terroristas»e violentamente reprimidas, daí que são fre-quentes as denúncias da AmnistiaInternacional e Human Rights Watch (HRW)das detenções arbitrárias de vários nacionalis-tas sarauís acusados de afinidades com aFrente Polisário.Aos mais incrédulos quanto à violência eclima de repressão de Rabat no SaraOcidental ocupado por Marrocos, a FrentePolisário responde incitando qualquer jorna-lista ou deputado a visitar o Sara Ocidentalmarroquino estando certa que este será detidoou expulso do país, tornando-se assim numatestemunha directa do clima vivido nessaregião.Da mesma forma que a Frente Polisário tentadestabilizar o Sara Ocidental marroquino, ani-mando as vozes independentistas, Marrocostenta destabilizar os Campos de Refugiadossarauís incitando à revolta ou divulgandoinformações de supostos climas insurrec-cionais.Os 160 mil refugiados sarauís, segundo aFrente Polisário, e 80 mil segundo a ONU,distribuídos nos acampamentos perto dacidade de Tinduf, tornaram-se noutro argu-mento de peso de Marrocos e da FrentePolisário. Para Rabat não são refugiados, massim reféns da Polisário que vivem sentandonum barril de pólvora prestes a explodiratravés da insurreição. Enquanto para aPolisário são um resultado da guerra e daopressão marroquina, mas também um volu-me significativo de eleitores em caso de umreferendo pela autodeterminação. E, paraalém de serem uma massa humana bemdoutrinada da Frente Polisário, são também asua força militar.Os acampamentos de refugiados são cartão-de-visita da sociedade e modelo de país que aFrente Polisário propõe. Uma sociedade comum Islão moderado, onde os direitos e eman-cipação da mulher são «mais evoluídos» queem qualquer outro país árabe, e onde uma dasprioridades é o ensino e a formação profis-sional. Mas nestes acampamentos são cadavez mais visíveis construções sólidas que

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subs tituem as clássicas “haimas” (tendas),pronúncio que o regresso dos refugiados aoSara Ocidental não será para breve, umasitua ção que anima a juventude sarauí adefender a via armada contra Marrocos emdetrimento das alternativas diplomáticas quesomam fracassos.Os recentes acontecimentos difundidos naimprensa marroquina, que relatam acçõesinsurreccionais nos acampamentos de refu-giados sarauís em Tinduf, não são uma sur-presa. Independentemente da veracidade totalou parcial destas informações, dado que adirecção da Frente Polisário desmente eMarrocos confirma, elas ocorreram quandoChristopher Ross efectuava consultas naregião para a preparação do novo “round”negocial.Neste contexto um dos episódios relatados foio ataque «à pedrada» por sarauís no acampa-mento de Smara contra o veículo deMohamed Sidati, representante da FrentePolisário em Bruxelas e coordenador domovimento na Europa. Uma informação con-firmada pela Frente Polisário que negatodavia o local do acontecimento assim comoos autores do «ataque».Segundo a versão da Frente Polisário,Mohamed Sidati encontrava-se, por motivospessoais, no centro da cidade de Tinduf quan-do estava a decorrer uma manifestação dejovens argelinos que foram violentamentereprimidos pelas forças de segurança argelina,nessa ocasião o seu veículo terá sido apedre-jado.Outro episódio muito mediatizado porMarrocos, e suportado com uma fotografia,foi dos protestos de um grupo de refugiadosem frente à representação do AltoComissariado da ONU para os Refugiados(ACNUR) em Rabuni. Segundo a interpre-tação marroquina, esta acção é um pedido desocorro dos refugiados contra a «tirania» daFrente Polisário.«A manifestação aconteceu de facto e afotografia é real», confirmou a Polisário. Masmais uma vez os factos foram apresentadosnoutros moldes. Os manifestantes são mem-bros da família de dois jovens contrabandistasde gasóleo que foram mortos no início deJaneiro pela polícia das fronteiras argelinaquando tentavam furar o forte dispositivo desegurança que a Argélia instalou na fronteiracom a Mauritânia. Assim, os manifestantesprotestavam contra a desproporcionalidade daacção das forças de segurança argelinas.Depois de terem sido recebidos pelo respon-sável do ACNUR, os manifestantes regres-saram aos seus acampamentos. Excepto ummanifestante, proprietário de um camião, con-

fiscado pelas autoridades argelinas, que osjovens contrabandistas utilizaram para trans-portar 100 bidões de gasóleo. Este terá per-manecido dois dias em frente à sede doACNUR na tentativa de recuperar o camião.Com frequência, segundo a Polisário, aconte-cem manifestações neste local em sinal deprotesto contra o ACNUR que disponibilizaajudas humanitárias apenas para 80 mil refu-giados quando, segundo a Polisário, são 160mil.A manipulação e filtragem das informações,seja por Marrocos, Polisário ou Argélia,impede a verificação dos acontecimentos edas versões avançadas.No entanto, os melhores argumentos daFrente Polisário são oferecidos por Marrocos.O forte estado de policiamento e dispositivosecuritário no Sara Ocidental marroquino dáum ambiente de opressão permanente quevários jornalistas e observadores, entre osquais deputados do Parlamento Europeu, játestemunharam.Outra estratégia utilizada por Marrocos paradescredibilizar o movimento sarauí é de tentarassociar a Frente Polisário ao terrorismo.Com esse propósito insiste que existemrelações entre a Frente Polisário e Al-Qaedado Magrebe Islâmico (AQMI) quando foidetido no Mali um sarauí, Didi OuldMohamed, que supostamente vivia nos cam-pos de refugiados em Tinduf e onde aindateria família.Didi Ould Mohamed, que se expressa correc-

tamente em espanhol, foi acusado de ser ointermediário entre os narcotraficantes latino-americanos e a AQMI. Apesar das supostasligações Polisário/AQMI serem rejeitadaspela Frente Polisário e desmentidas pelosEUA, têm sido amplamente difundidas pelaimprensa e correntes pró-marroquinas quepretendem que a Polisário integre, sem suces-so, as listas das organizações terroristas.Apesar de a Polisário continuar a lutar pelautópica adesão da RASD na ONU, comoforma de legitimação diplomática interna-cional, o conflito do Sara Ocidental éassimétrico, situação que beneficia aPolisário. A Polisário permanece um movi-mento de resistência e guerrilha, neste quadropoderá efectuar operações, por intermédio decélulas clandestinas, de destabilização noSara Ocidental marroquino e em Marrocos.Acções que não podem ser respondidas porMarrocos que poderia ser acusado de intervirnum espaço sob protecção da ONU (atravésda Minurso), Sara Ocidental controlado pelaPolisário, ou de operar directamente naArgélia, caso as acções ocorressem nos acam-pamentos de refugiados onde está o ver-dadeiro centro nervoso da Polisário. Umaoperação destas características seria conside-rada pela Argélia como uma agressão directae poderia resultar num indesejado confrontobélico entre os dois países, tal como já acon-teceu no passado.A França, fiel aliado de Marrocos, e conse-quentemente oposta à Frente Polisário, está atentar convencer a Comunidade Internacionalque com um Magrebe perigosamente caótico,uma Guerra no Mali, uma migração do eixodo terrorismo do Médio Oriente para o Sahele quando se avizinha uma intervenção militarinternacional no Sul da Líbia liderada pelaprópria França, a questão do Sara Ocidental éum mal menor sendo preferível manter oimpasse actual que alterar a morfologia políti-ca deste sensível espaço, mesmo que para issoseja necessário continuar a arrastar o sofri-mento dos refugiados sarauís em Tinduf.O direito à autodeterminação dos povos tãodefendido por todos os Estados democráticose paradoxalmente tão aclamado pela França,pode esperar.Tal como deixaram patente nas entrelinhasJavier Bardem e Kerry Kennedy, o povosarauí não tem só Marrocos como inimigo.Tem também a França, apesar de se declararcomo o porta-estandarte dos DireitosHumanos, mas também a ComunidadeInternacional constituída por Estados indiscu-tivelmente democráticos que optaram pelosilêncio ignorando aquilo que se passa juntoàs suas portas, no Sara Ocidental.

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A cerimónia de assinatura do contrato, queteve lugar no passado dia 30 de Janeiro, con-tou com a presença da presidente da CâmaraMunicipal, Susana de Carvalho Amador; dopresidente e do secretário-geral da CE-CPLP,Salimo Abdula e José Lobato, respetiva-mente; e do secretário-executivo da CPLP,Murade Murargy.Refira-se que a Confederação Empresarial éuma organização que tem como objetivo prin-cipal a promoção e dinamização das relaçõesempresariais entre associações e entidadesempresariais integradas no âmbito daComunidade de Países de Língua Portuguesae que tem por missão a criação de uma rota deinvestimentos nos países membros daComunidade e outros países inseridos nasrespetivas Comunidades Económicas Regio-nais, estimulando a cooperação e parceriaentre diversas instituições. Por seu lado, aMunicipália, enquanto entidade dedicada àpromoção do serviço de interesse público –com destaque para os assuntos ligados à arte eà cultura –, visa também o desenvolvimentodo relacionamento que potencie os laços entrepessoas e comunidades de expressão por-tuguesa.Desta forma, com a celebração do presenteProtocolo, ambos os parceiros irão cooperar anível do desenvolvimento, promoção, divul-gação e participação nas respetivas atividadese eventos, tendo em consideração a con-cretização em simultâneo dos seus objetivos einteresses estratégicos. Por outro lado, adifusão da Lusofonia, bem como da cidadaniade Língua Portuguesa e dos seus valores epotencial económico, serão fatores essenciaisneste processo de cooperação.Para a realização da programação comum pre-vista, a CE-CPLP agendará com a Munici-pália a cedência de espaços, nomeadamente,no Centro Cultural Malaposta, assim como noPavilhão Multiusos.

Municipália congratula-se pela criação desinergias favoráveis aos empresáriosEm declarações à PNN, Mário Máximo, pres-idente do Conselho de Administração daMunicipália, referiu que “este Protocolo con-siste na criação de uma parceria ativa, cujoobjetivo principal é o de criar sinergias eoportunidades para o debate esclarecido acer-

ca dos temas estratégicos que dizem respeitoaos empresários do mundo da Lusofonia”.Temas como o «Potencial e Valor Económicoda Língua Portuguesa», o «Empreende-dorismo na Programação Cultural Lusófona»ou questões relacionadas com os «DireitosAutorais no Mundo Lusófono» serão assuntosa abordar, através da prestação de protago-nistas e gestores qualificados em cada área.No entanto, o presidente sublinhou ainda “queexistem muitas outras áreas a abordar e a CE-

CPLP tem uma intenção estratégica muitovasta a bem dos empresários e do lema «FazerNegócios na Língua Portuguesa»”.Em suma, para o presidente da Municipália,“este Protocolo será um passo importante parao reforço da cidadania lusófona em Portugal epara a definição de uma política de progressi-va proximidade entre os empresários de todosos países de expressão portuguesa”. Na assi-natura do acordo, o responsável argumentou,junto do presidente da ConfederaçãoEmpresarial, que “é preciso apostar no poten-cial económico da língua portuguesa, noempreendedorismo ligado à programação decariz cultural e artística e é preciso que osempresários de Odivelas se envolvam ativa-mente neste processo e que saibamos des-bravar os rumos que levem, no mundo globa-lizado de hoje, as comunidades de língua por-tuguesa ao topo da agenda internacional”.Mário Máximo falou ainda sobre a coerênciadeste acordo ter surgido em Odivelas, ummunicípio que é conhecido como «Capital daLusofonia», em parte devido a 13% dos seushabitantes serem oriundos dos diferentes paí-ses da CPLP, num universo com cerca de 145mil residentes concelhios: “A Câmara e aempresa municipal têm dedicado muita da sua

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Municipália assina Protocolo com a CE-CPLP

Cooperação incentiva relacionamentoentre Lusofonia e tecido empresarial concelhio

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José Lobato, secretário-geral da CE-CPLP

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Municipália assina Protocolo com a CE-CPLP

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atenção estratégica à cidadania de língua por-tuguesa. Aliás, em meados de 2013 apresentei– enquanto vereador – e foi aprovado, umdocumento, que julgo único no país, que é aCarta Municipal de Odivelas para os Assuntosda Lusofonia, que configura os termosestratégicos da intervenção autárquica desteconcelho ao nível dos vastos assuntos dacidadania lusófona”, destacou o presidente daMunicipália.O representante defendeu também queOdivelas tem uma comunidade empresarialintensa e com muito sucesso: “Mau grado asdificuldades sentidas nos tempos que vamosvivendo, temos uma comunidade empresarialem que muitos dos seus protagonistas já hámuito estabelecem negócios com agentes dosdiferentes países lusófonos”. “A crise exis-tente na União Europeia deu um empurrãoforte para que muitos empresários tentassemencontrar alternativas, não nas capitaiseuropeias mas sim nas capitais dos países daCPLP. No entanto, há que referir que outroshá que trilham esses caminhos desde hámuito!”, acrescentou.Para o presidente, esta Carta demonstra queem Odivelas há coisas essenciais como aBienal de Culturas Lusófonas, que em 2015terá a sua V edição com o Alto Patrocínio daCPLP. “Este é bem o exemplo de uma açãoque rasgou fronteiras, abraçou todo o conce-lho de Odivelas, a Área Metropolitana deLisboa, o país, estendendo-se até a nível inter-nacional, com os Protocolos de geminação ecooperação assinados com a Cidade Velha emCabo Verde, com o Paúl na ilha de SantoAntão (Cabo Verde) e com a Ilha do Príncipeem São Tomé e Príncipe”, sublinhou.

CE-CPLP aponta Odivelas comorepresentante do mundo empresarialda LusofoniaAquando da assinatura do Protocolo, e numdia em que considerou que “Odivelas repre-sentou o mundo empresarial da Lusofonia”, opresidente da CE-CPLP, Salimo Abdula, fezvotos para que “a Municipália sirva de exem-plo para os outros municípios e que este acor-do de cooperação encoraje os empresários doconcelho a afiliarem-se na ConfederaçãoEmpresarial, o que poderá resultar em oportu-nidades de negócio”.A CPLP é formada por oito Estados soberanosque estão espalhados pelos cinco continentes,

uma vez que há um na América, um naEuropa, cinco na África e um transcontinentalentre a Ásia e a Oceânia. São eles: aRepública de Angola, a República Federativado Brasil, a República de Cabo Verde, aRepública da Guiné-Bissau, a República deMoçambique, a República Portuguesa, aRepública Democrática de São Tomé ePríncipe e a República Democrática deTimor-Leste.

Para o representante, “a posição geoestratégi-ca dos países de língua portuguesa é umadádiva de Deus e se ela for bem exploradapassamos pelo resgate da nossa autoestima,de sermos verdadeiramente lusófonos”.Recentes dados estatísticos mostram queatualmente a Lusofonia representa cerca de4.6% do PIB, com 250 milhões de cidadãosde expressão portuguesa. Para SalimoAbdula, esta realidade faz com que a comu-nidade lusófona tenha “condições de usar um'chapéu' que cubra a todos, não só a língua

como também a cultura empresarial”. Noentanto, ressalva que “para que se conseguirusufruir desses valores, há que desenvolvertodo um trabalho no sentido de eliminaralguns tabus”.Em jeito de conclusão, o presidente daConfederação Empresarial defendeu a criaçãoda livre circulação de pessoas e de bens den-tro da comunidade lusófona: “Se con-seguirmos circular facilmente dentro da nossaprópria comunidade, também será mais fácilcapitalizar o intercâmbio e o negócio dentrodo nosso espaço”. Confiantes que este“sonho” se concretizará, Salimo Abdula con-sidera que “um cidadão lusófono deve movi-mentar-se – ou deveria movimentar-se – den-tro da comunidade de forma a ter acesso aemprego, a fazer negócios e a residir tão facil-mente como se estivesse dentro do seu país.Mas para que isso aconteça temos que forti-ficar mais a economia lusófona”.

Semana dedicada à LusofoniaempreendedoraÀ margem da assinatura do Protocolo, é dereferir que a semana que antecedeu este acon-tecimento foi dedicada, em boa parte, àLusofonia empreendedora, mais precisamenteno que diz respeito à Confederação Empre-sarial, que a 27 de inaugurou em Lisboa o seuescritório, na Av. Almirante Reis, onde todosos empresários do mundo lusófono se poderãodirigir futuramente.Também no dia 29 ocorreu na cidade alfaci-nha o lançamento do livro “Vida e VisãoEmpresarial de Salimo Abdula”, da autoria dojornalista moçambicano André Matola. Estaobra acompanha o trajeto do presidente daCE-CPLP rumo ao mundo global dos negó-cios da Lusofonia.

Municipália-CPLPCooperação Cultural já tinha sido alvo de parceriaEm Junho de 2008, a Municipália estabeleceu o seu primeiro Protocolo de CooperaçãoCultural com os países lusófonos, mas desta feita com o Secretariado Executivo da CPLP-Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, através do qual a empresa municipal tevecomo objetivo aprofundar o conhecimento de algumas das suas atribuições principais,nomeadamente a prestação de serviços de arte, cultura e espetáculo a todos os munícipes doconcelho de Odivelas e Área Metropolitana de Lisboa.Com este acordo, a Municipália comprometeu-se a divulgar todas as suas iniciativas à CPLP,que, por seu lado, passou então a comunicar toda a programação municipal junto dos seuscolaboradores e parceiros privilegiados, bem como também se comprometeu a dar provimen-to às ações, para que todas as realizações comuns tivessem uma boa execução.

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» BrevesFesta milionária para celebraraniversário de Robert MugabeA festa dos 90 anos do controverso presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, terá custado aopaís mais de um milhão de dólares. Há 34 anos no poder, Robert Mugabe, é apontado como umdos líderes há mais tempo no poder e enquadrado por um “regime” acusado de múltiplasfraudes, eleições controversas e faustosas festas privadas. Perante a frágil situação económicaque vive o Zimbábue a despesa de mais de um milhão de dólares com o aniversário de Mugabetornou-se e mais um argumento da oposição zimbabuena sobre a indiferença do presidente quan-to às privações da população. Apesar de muito criticado Robert Mugabe é visto internamentecomo um «mal necessário» e, segundo Dewa Mavhinga, investigador do Observatório dosDireitos Humanos, no caso da morte de Mugabe e na ausência de um mecanismo claro para atransição, o Zimbabué pode mergulhar completamente no caos.

Brasil é um dos países emergentes mais afectadospela criseSegundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) o Brasil é um dos países emergentes mais afe-tados pela crise e também onde se regista uma das maiores inflacções e maior déficite nas con-tas correntes. Na mesma situação económica o FMI cita também Indonésia, Turquia e África doSul. O mesmo organismo refere que a actividade económica brasileira desacelarou no primeirotrimestre de 2013 resultado de uma quebra do investimento e deterioração no índice de con-fiança das empresas. O FMI alerta que o Brasil necessita de credibilizar as suas politicaseconómicas assim como reservar fundos para evitarem os piores cenários.

Argélia: Um sírio e um palestiniano detidospor financiamento de grupos terroristasOs serviços de segurança argelinos desmantelaram na wilaya (região) de Blida uma rede definanciamento de grupos terroristas a operarem na Argélia. A rede composta por onze elemen-tos, dos quais um sírio e um palestiniano que confirmou-se ser o cérebro da rede após terem sidointerceptadas várias chamadas telefónicas do suspeito com grupos terroristas no exterior do país.Durante as investigações foi apreendido no domicilio dos suspeitos material informático quepermitia emitir documentos oficiais falsos a fim de a rede obter de operadora telefónicasnúmeros de telefone para telemóveis que seriam utilizados por terroristas durante as suas ope-rações.

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Nigéria fecha fronteirapara combater Boko Haram

As Forças Armadas (FA) nigerianas anuncia-ram o encerramento de várias centenas dequilometros na região de Adanawa ao longoda fronteira com os Camarões, a qual totalizacerca de dois mil quilometros, a fim deimpedir as movimentações e trânsito de«insurgentes», «bandos criminosos» e princi-palmente dos islamistas da seita Boko Haram.Uma operação, que conta também com oapoio da polícia e outros serviços de segu-rança nigerianos. Após violentos confrontoscom os radicais da Boko Haram quecomeçaram no inicio de 2014 e já causarammais de 300 mortos as FA nigerianas decidi-ram declarar Estado de Urgencia na região deAdanawa. Porém, segundo fontes militares«os terroristas da Boko Haram» depois deoperarem na Nigéria recuam para bases insta-ladas nos Camarões, Chade e Níger.

RCA: Misca em confrontodirecto com Anti-Balakas

Segundo responsáveis da missão da UniãoAfricana (UA) para a República CentroAfricana (Misca) violentos confrontos ocor-reram entre militares da Misca e milíciasAnti-Balakas quando a força da UA acompan-hava a evacuação de refugiados muçulmanosjunto à fronteira com os Camarões. O con-fronto terá inciado após a Misca ter recusadode submeter-se a um controlo numa das múlti-plas barragens das milícias cristãs Anti-ba-lakas. Este episódio, que provocou mais deuma dezena de mortos, reflecte o estadoexplosivo em que se encontra a RCA.

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