timor-leste: consolidação da paz e...

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Página 1 de 12 2013/10/16 Timor-Leste: Consolidação da Paz e Desenvolvimento 1 José Neto Simões 2 “A Nação exige de nós, a consciência laboral de desenvolver a Pátria (Taur Matan Ruak, Presidente da República) “A verdadeira riqueza de qualquer Nação é a Força do seu Povo” (Xanana Gusmão, Primeiro-ministro) Timor-Leste é um país do Sudeste Asiático 3 entre as regiões Ásia-Pacifico, posicionado no triângulo estratégico entre os dois Oceanos - Indico e o Pacifico -, que corresponde à confluência de importantes rotas marítimas. A sua localização geográfica, caracterização marítima 4, e os importantes recursos, aumentam o seu interesse político e o potencial estratégico a nível regional e internacional, partilhando fronteiras 5 territoriais e marítimas com a Indonésia e Austrália, que têm grande importância geopolítica. A resistência corajosa e determinada do povo timorense e das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL) abriu a esperança da Independência 1 O presente artigo é a versão completa do publicado no Jornal “Público”, n.º 8564, de 21 de Setembro de 2013. 2 Capitão-de-Fragata SEF (Reserva). 3 Timor-Leste oficialmente designado por República Democrática de Timor-Leste tem como capital a cidade de Díli na costa Norte e dista 15315 Km de Portugal e 430 Km da Austrália a Sul e 1000 Km da Ilha de Java (Indonésia) a Oeste. 4 O território constituído pela metade oriental da ilha de Timor (14 874 km²), semelhante à do distrito de Beja e Faro, a ilha de Ataúro (144 Km 2 ) a norte, o ilhéu de Jaco (5Km 2 ), a Este, e o enclave de Oecussi-Ambeno (850 km 2 ), na parte indonésia da Ilha de Timor. É banhado pelo mar de SAVU (estreitos de Ombai e Wetter) a Norte, e pelo mar de TIMOR a Sul. A sua extensão longitudinal é cerca de 265 Km e a sua maior largura de 92 Km. A ilha de Timor tem cerca de 480 Km de extensão por 105 Km de largura, com uma superfície total de 32 350 Km 2 . É a maior das Ilhas Pequenas de Sonda, um dos arquipélagos da Indonésia, é também uma das mais orientais e a que está mais perto da Austrália. Aqueles arquipélagos e as Filipinas constituem a Insulíndia, parte da Oceânia, que frequentemente é considerada como pertencente à Ásia, em alguns mapas políticos de relações internacionais. Mas Timor- Leste pela sua posição geográfica não deixa de ser um dos Estados (Estados arquipelágicos) da Oceânia espalhados pelo Pacífico. 5 Em termos de fronteiras, a única que está definida é a fronteira terrestre que existe apenas com a Indonésia. A fronteira com Timor Ocidental totaliza 202 Km e a linha de costa 638 Km. De acordo com especialistas em Direito Internacional Marítimo se a Lei do Mar (CNUDM) fosse aplicada colocaria sob o domínio exclusivo de Timor-Leste a maioria da riqueza petrolífera do Mar de Timor. As negociações formais para a demarcação da fronteira marítima iniciaram-se em Abril de 2004, em Díli, mas o impasse que persistiu ao longo de duas rondas levou os responsáveis dos dois países a procurarem a chamada “solução criativa”. Em 2007 ao assinar o “Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor” (CMATS, sigla em inglês) para facilitar a exploração de gás e petróleo no Mar de Timor, Timor-Leste aceitou protelar a definição de fronteiras marítimas com a Austrália durante um período de 50 anos. Em contrapartida, cada um dos países recebe metade das receitas de exploração do Greater Sunrise, o maior campo petrolífero da região.

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2013/10/16

Timor-Leste: Consolidação da Paz e Desenvolvimento1

José Neto Simões2

“A Nação exige de nós, a consciência

laboral de desenvolver a Pátria (Taur Matan

Ruak, Presidente da República)

“A verdadeira riqueza de qualquer Nação é

a Força do seu Povo” (Xanana Gusmão,

Primeiro-ministro)

Timor-Leste é um país do Sudeste Asiático3 entre as regiões Ásia-Pacifico, posicionado no triângulo estratégico entre os dois Oceanos - Indico e o Pacifico -, que corresponde à confluência de importantes rotas marítimas. A sua localização geográfica,

caracterização marítima4, e os importantes recursos, aumentam o seu interesse político e o potencial estratégico a nível regional e internacional, partilhando fronteiras5 territoriais e marítimas com a Indonésia e Austrália, que têm grande importância geopolítica.

A resistência corajosa e determinada do povo timorense e das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL) abriu a esperança da Independência

1 O presente artigo é a versão completa do publicado no Jornal “Público”, n.º 8564, de 21 de Setembro de 2013. 2 Capitão-de-Fragata SEF (Reserva).

3 Timor-Leste oficialmente designado por República Democrática de Timor-Leste tem como capital a cidade de Díli na costa Norte e dista 15315 Km de Portugal e 430 Km da Austrália a Sul e 1000 Km da Ilha de Java (Indonésia) a Oeste. 4 O território constituído pela metade oriental da ilha de Timor (14 874 km²), semelhante à do distrito de Beja e Faro, a ilha de Ataúro (144 Km2) a norte, o ilhéu de Jaco (5Km2), a Este, e o enclave de Oecussi-Ambeno (850 km2), na parte indonésia da Ilha de Timor. É banhado pelo mar de SAVU (estreitos de Ombai e Wetter) a Norte, e pelo mar de TIMOR a Sul. A sua extensão longitudinal é cerca de 265 Km e a sua maior largura de 92 Km. A ilha de Timor tem cerca de 480 Km de extensão por 105 Km de largura, com uma superfície total de 32 350 Km2. É a maior das Ilhas Pequenas de Sonda, um dos arquipélagos da Indonésia, é também uma das mais orientais e a que está mais perto da Austrália. Aqueles arquipélagos e as Filipinas constituem a Insulíndia, parte da Oceânia, que frequentemente é considerada como pertencente à Ásia, em alguns mapas políticos de relações internacionais. Mas Timor-Leste pela sua posição geográfica não deixa de ser um dos Estados (Estados arquipelágicos) da Oceânia espalhados pelo Pacífico. 5 Em termos de fronteiras, a única que está definida é a fronteira terrestre que existe apenas com a Indonésia. A fronteira com Timor Ocidental totaliza 202 Km e a linha de costa 638 Km. De acordo com especialistas em Direito Internacional Marítimo se a Lei do Mar (CNUDM) fosse aplicada colocaria sob o domínio exclusivo de Timor-Leste a maioria da riqueza petrolífera do Mar de Timor. As negociações formais para a demarcação da fronteira marítima iniciaram-se em Abril de 2004, em Díli, mas o impasse que persistiu ao longo de duas rondas levou os responsáveis dos dois países a procurarem a chamada “solução criativa”. Em 2007 ao assinar o “Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor” (CMATS, sigla em inglês) para facilitar a exploração de gás e petróleo no Mar de Timor, Timor-Leste aceitou protelar a definição de fronteiras marítimas com a Austrália durante um período de 50 anos. Em contrapartida, cada um dos países recebe metade das receitas de exploração do Greater Sunrise, o maior campo petrolífero da região.

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de Timor-Leste que terminou com 24 anos de ocupação Indonésia6. Manter a sua existência como país independente constitui objectivo fundamental do Estado timorense na defesa e garantia da soberania do país. Por esta via se rende homenagem a todos aqueles que tombaram na luta pela independência.

O domínio Indonésio e a violência, após o referendo de 1999, tiveram um enorme impacto na sociedade e no desaparecimento do seu capital humano (cerca de 200 mil pessoas) com a destruição de cerca de 30% das infraestruturas. Como consequência 70% da população vive ainda em áreas rurais, em economia de subsistência.

A maioria da população timorense é de descendência malaia, polinésia e papua e com cruzamento de chineses e portugueses. Existem cerca de 1120000 habitantes em Timor-Leste sendo um dos países com população mais jovem (41% tem menos de 15 anos)7 e somente um terço vive em cidades.

As fronteiras das divisões administrativas8 são quase idênticas às dos onze distritos da administração portuguesa, com três diferenças: o concelho de Aileu foi, nos últimos anos da administração portuguesa desmembrado de Díli; e, sob a administração indonésia, o subdistrito de Turiscai passou do distrito de Ainaro para o de Manufahi, em troca do de Hato Udo, que passou a pertencer a Ainaro. De entre todos os distritos de Timor-Leste, é Viqueque que apresenta uma área maior (884 km²) e Díli dimensões menores (364 km²).

A Organização da Nações Unidas (ONU) apoiou durante 14 anos a reconstrução do novo Estado (“Peacebuilding”) numa relação, por vezes, desajustada e de sobranceria no exercício das competências e respeito pela soberania. Das cinco missões da ONU, a UNTAET, que assegurou o período de transição até à restauração da independência9 (20 de Maio de 2002) foi determinante na estabilização e administração do território.

A UNTAET foi responsável pela administração geral, incluindo poderes ao nível legislativo, executivo e judicial, sendo constituída também por uma componente militar, “Peace Keeping Force” (PKF), que garantia a manutenção da segurança no território.

O Contingente Português era constituído, inicialmente, por cerca de 1000 militares dos três Ramos das Forças Armadas (FA). Durante algum tempo pelo navio da Marinha portuguesa (NRP “Hermenegildo Capelo”) e por um Destacamento de C-130 da Força Aérea, a operar a partir da Austrália. O Exército, para além da chefia do Estado-maior da PKF tinha à sua responsabilidade o Comando de um dos Sectores (Central) com uma Força Conjunta (Batalhão) e uma companhia de

6 A ocupação militar fez com que o território se tornasse a 27.ª província indonésia, designada "Timor Timur”. 7 Pela análise da estrutura etária: 41% tem menos de 15 anos, 53% estão na faixa etária dos 15 a 60 anos e somente 6% tem mais de 60 anos. Quase metades da população (49%) são mulheres. 8 O território está dividido em 13 distritos: Bobonaro, Liquiçá, Díli, Baucau, Manatuto e Lautém na costa Norte; Cova-Lima, Ainaro, Manufahi e Viqueque na costa Sul; Ermera e Aileu, situados no interior montanhoso; e Oecussi-Ambeno, enclave no território indonésio. 67 Subdistritos e 498 sucos (menor divisão administrativa). Principais cidades: Díli (capital), Baucau, Manatuto, Viqueque, Ermera. Terreno montanhoso com altitudes inferiores a 3 000 m, sendo o pico mais elevado o Ramelau, com 2 972 m. 9 Timor-Leste tornou-se o 191º membro da ONU, depois da formalização da restauração (20 de Maio de 2002) da sua independência que é comemorada a 28 de Novembro de 1975.

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Fuzileiros. Esteve ainda atribuído um Destacamento de Helicópteros Ligeiros da Força Aérea e um Destacamento de Operações Especiais do Exército. O contingente português, em termos de efectivos era o 2º, logo a seguir ao australiano.

O Conselho de Segurança da ONU estabeleceu ainda uma importante missão: a UNMISET (United Nations Mission in Support of East Timor) com a finalidade de apoiar a estabilização do novo país, providenciando o apoio à segurança externa e à integridade do território, até as Forças de Defesa e Segurança estarem em condições de assumirem essas responsabilidades.

As Forças Armadas portuguesas, GNR e PSP participaram nas diversas missões da ONU com 8085 militares e cerca de 120 agentes reforçando, de forma indelével, as relações históricas e culturais com Timor-Leste, que se deviam consolidar também na dimensão económica.

Com a saída da última missão (UNMIT), em final de 2012, sem efeitos negativos na segurança, foi iniciado um novo ciclo para o desenvolvimento de um País - com território pequeno e população reduzida -, onde existem estruturas políticas estáveis com recursos significativos e interesses convergentes. Os objectivos a serem alcançados são de natureza socioeconómica e institucional.

Depois de estabilizada a situação de segurança foram introduzidas políticas sociais inovadoras. Estima-se que cerca de 90 mil pessoas deixaram a pobreza (9%). A política orçamental do Governo, liderado por Xanana Gusmão, tem sido o motor do crescimento económico (10%, o 2º maior da Ásia)10, com uma agenda reformista e alinhado com politicas fiscais expansionistas numa economia emergente11.

Timor-Leste registou uma taxa de crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) de 17,2% entre 2003 e 2010, ficando à frente de Angola (13,3%), Moçambique, (7,4%) e São Tomé e Príncipe, que cresceu a uma média anual de 5,6% no período. Se a CPLP fosse um país, tendo em conta dados apresentado pelo Banco Mundial, em 2010 seria a 6ª economia do mundo. Ficaria à frente do Reino Unido, atrás da França, e apenas dois lugares acima da posição ocupada pelo Brasil, país que tem uma contribuição esmagadora para a riqueza total da comunidade (86%). Quanto ao PIB por habitante, o INE afirma que a média na CPLP em 2010 era de 10 105,7 dólares12.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou ser necessário melhorar a competitividade do custo do trabalho e reduzir a inflação (8,9%) – que dificulta a capacidade de diversificar e gerar o crescimento do mercado de emprego -, nivelando os salários com os seus parceiros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

10 Nas previsões do Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB, na sigla em inglês), Timor-Leste tem uma taxa de crescimento de 10,0% em 2013 e em 2014, quando a média para a Ásia é de 6,6% em 2013 e 6,7% em 2014. O país com maiores perspectivas na região, é a Mongólia, cujo PIB deverá crescer 16,5% em 2013 e 14,0% em 2014. Timor-Leste surge em segundo lugar, seguido do Turquemenistão, com 9,0% em 2013 e 8,0% em 2014. 11 A economia de Timor-Leste apresenta um conjunto de características que se enquadram com uma economia emergente (IDH, crescimento de infraestruturas, atracção de investimento produtivo e desenvolvimento do sector industrial). Porém, em 2013, a taxa de inflação média terá de ser controlada, pois manteve-se alta (8,9%).

12 Estudo “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: breve retrato estatístico”: http://www.cplp.org/Default.aspx?ID=316&Action=1&NewsId=2888&M=NewsV2&PID=304

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O crescimento económico registado em Timor-Leste está em grande parte ligado ao grande crescimento anual das exportações (32,7%), impulsionadas pelo petróleo e pelo gás natural. O Rendimento Nacional Bruto (RNB) aumentou 228% entre 2005 e 2010. O RNB13 é de 3 366 milhões USD e o PIB 1 235 milhões USD. O Fundo Petrolífero criado em 2005, semelhante ao da Noruega, é um dos melhores do mundo. O capital desse fundo no início de 2013 era cerca de 14 mil milhões USD (10 mil milhões de euros).

Cresce em média 324 milhões USD/mês.

Timor-Leste denunciou o “Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor” (CMATS, sigla em inglês), assinado em 2007, e notificou o governo australiano considerando o tratado inválido, porque a Austrália tinha feito espionagem durante as negociações que levaram à sua assinatura. Embora a legislação internacional possa estar do lado de Timor-Leste, uma eventual negociação das fronteiras com a Austrália poderá arrastar-se durante anos, uma vez que este país se retirou da jurisdição do Tribunal Internacional de Justiça para as fronteiras marítimas nas vésperas da independência timorense (2002). Estima-se que o prejuízo para os timorenses seja cerca de 1,5 milhões de dólares/dia

Timor-Leste tem, pois, e no que respeita à riqueza petrolífera14 do Mar de Timor, direito a: 90% das receitas fiscais, de royalties e similares do poço de Bayu Undan (em exploração desde 2004); 50% das receitas do Greater Sunrise; e a totalidade das receitas fiscais e de royalties da sua zona económica não sujeita a diferendo internacional e que, como acredita o governo Timorense, serão bem maiores do que as que poderão ser recebidas ao abrigo dos acordos com a Austrália por nela existirem mais recursos petrolíferos que nos poços já referidos.

Salienta-se também que os recursos actualmente disponíveis são muito maiores do que se estimava inicialmente devido ao aumento significativo dos preços do petróleo no mercado internacional. Estes recursos podem ser ainda muito aumentados se, como se acredita, se confirmar a existência de petróleo quer onshore quer offshore mas na zona em que a soberania total e completa de Timor-Leste é inequivocamente reconhecida. Além do petróleo e gás natural existem reservas de ouro, manganês, cobre, crómio e mármore.

O relatório sobre a competitividade global (Fórum Económico Mundial) considera Timor-Leste como o país com a melhor situação financeira15 do mundo por não ter dívida externa e possuir o superavit orçamental mais elevado (em 2012, 38,8% do PIB, à frente do Kuwait com 30,6%), numa lista de 148 países. 13 O PIB não é o indicador de referência pela diferença significativa entre os dois agregados económicos. O PIB não inclui as receitas relativas ao rendimento do fundo petrolífero. 14 Basicamente constituída por crude e de gás natural. Em Bayu Undan haverá, segundo as estimativas existentes, cerca de 175 milhões de barris de LPG (Liquified Petroleum Gas), 229 milhões de barris de crude e 66 milhões de toneladas de LNG (Liquified Natural Gas) , tudo no equivalente a 1,05 mil milhões de barris de petróleo. No Greater Sunrise haverá 300 milhões de barris de condensado e 177 milhões de toneladas de LNG, num total equivalente a cerca de 2,05 mil milhões de barris de petróleo. Segundo estimativas efectuadas em 2002 (primeiro acordo), as regras então estabelecidas significavam que Timor- Leste “perderia” para a Austrália cerca de 55% da riqueza que lhe caberia se as fronteiras marítimas fossem definidas de acordo com os princípios defendidos por Timor-Leste e que não são, afinal, mais do que o que prevê a lei internacional aplicável.

15 A moeda oficial é o dólar americano.

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No entanto, a liderança timorense quer combater a excessiva dependência externa provocada pela exploração petrolífera (sector representa 76%) diversificando a economia (24% outros sectores) e incrementando a formação de quadros, designadamente o sector da Justiça, Saúde, Educação e formação especializada em geologia e petróleo.

Por sectores, na economia não petrolífera, a industria representa 18%, a agricultura 27% (café, sândalo, arroz, milho e mandioca) e os serviços 55%. O Governo pretende melhorar a segurança alimentar nacional, reduzir a pobreza rural, apoiando a transição da agricultura de subsistência (63% das famílias timorenses) para a produção empresarial de produtos agrícolas, gado e pescas.

Timor-Leste conservou a posição de 2011 (134ª) no Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) – subiu 11 lugares desde 2005 - e manteve-se no grupo de desenvolvimento médio16, estando no grupo dos que mais progrediram na região da Ásia Oriental e Pacífico. Os números do IDH demonstram que apesar dos alarmantes índices de pobreza o país tem conseguido avanços importantes em termos de frequência escolar, expectativa de vida e aumento do rendimento per capita17 . A despesa com a saúde representa 9% do PIB e os gastos com a educação rondam os 12%.

No âmbito institucional, o Governo orientou os seus esforços para a criação de mecanismos de defesa dos direitos humanos, de programas de combate à corrupção com uma justiça mais eficaz (processos judiciais a ministros com prisão de um deles) e de promoção da transparência com a criação de um “portal da transparência” (ministério das finanças), que permite conhecer as despesas e receitas. São sinais da consolidação da democracia.

O Presidente da República Taur Matan Ruak18 considera prioritário o combate à pobreza, a segurança e o bem-estar dos timorenses, tendo definido, na sua articulação institucional com o governo, as seguintes áreas: resiliência económica, descentralização e boa governação ao nível do Estado, coesão social e continuação de apoio social aos veteranos.

Além da pobreza (49,9%), constitui motivo de preocupação os altos índices de desemprego entre os jovens (acima dos 40%) e uma população que cresce

16 Timor-Leste foi eleito recentemente para presidir à Comissão Económica e Social para a Ásia-Pacífico da ONU (UNESCAP), o que constitui um reconhecimento internacional do seu desenvolvimento económico e social. 17 Nem sempre os dados são coincidentes com as diversas agências, pois as estatísticas em 2002 eram muito incipientes e mal aferidas, mas o valor será muito aproximado: de 472 USD (2002) para 9 500 USD (2012). 18 O General Taur Matan Ruak (significa em tétum “dois olhos muito atentos”) em1999 assume o comando das FALINTIL em 2001 passa a ser Comandante das FALINTIL-FDTL (CEMGFA das F-FDTL) até 2011, quando se candidata à Presidência da República por insistência e apoio dos seus “irmãos” Xanana e Ramos Horta.

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rapidamente (mais de 2%/ano), o que é considerado um factor de insegurança. O Presidente Ruak referiu: “Com pobreza não há arma que garanta segurança”.

Esta situação é insustentável quer numa perspectiva de emprego (16 000 mil empregos/ano) quer no âmbito da educação e sistema de ensino, sujeito a uma enorme pressão para absorver os jovens timorenses.

Existe um modelo de desenvolvimento – discutido e consensualizado durante cerca de um ano por todos os distritos -no qual a formação de recursos humanos e a construção das infraestruturas são vectores prioritários para o crescimento económico, com objectivos, indicadores e metas estabelecidas no Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED 2011-2030).

O PED tem como principal objectivo construir uma Nação sustentável, alicerçada num quadro institucional de segurança com cooperação internacional e nacional, apostando num sector privado mais consistente e um sector terciário em crescimento, com três pilares estratégicos: o capital social (educação e formação, saúde, inclusão social, ambiente, cultura e património), as infraestruturas que são uma das maiores prioridades de investimento (estradas e pontes, água e saneamento, electricidade, portos marítimos, aeroportos e telecomunicações e o desenvolvimento económico (agricultura, petróleo, turismo e investimento do sector privado).

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Parte das receitas petrolíferas estão a ser investidas, com mecanismos de controlo rigorosos e transparentes, no desenvolvimento do país e da actual geração. Mas para potenciar o crescimento económico e diminuir a dependência do petróleo o Governo deu prioridade ao forte investimento já iniciado no desenvolvimento das infraestruturas básicas e definiu os sectores da agricultura, turismo e recursos naturais como aqueles que precisam de ser dinamizados com investimento privado, captado através de uma diplomacia económica mais activa.

Os recursos petrolíferos conferem ainda uma grande oportunidade para desenvolver uma indústria nacional petrolífera, tendo para o efeito sido desenhado um programa para formação especializada de recursos humanos e a criação de uma Companhia Nacional de Petróleo (TIMOR GAP E.P.), que assegura a intervenção directa na expansão do sector. As infraestruturas de apoio serão desenvolvidas na costa sul no âmbito de um projecto plurianual (Projecto Tasi Mane), que inclui a refinaria (Suai) e um grupo de indústria petroquímica (Betano) e exploração de gás (gasoduto a partir do Greater Sunrise para Beasu).

De uma maneira geral as entidades externas internacionais consideram que tem havido boa gestão económica por parte do Governo de Timor-Leste. Um dos relatórios do Banco Mundial (“Relatório Doing Business” reconhece positivamente as reformas ao sistema de tributação através da subida da posição do País na classificação geral de 75.º para 19.º; A classificação também subiu sete posições em relação às tributações e às receitas provenientes de impostos, que aumentaram 41% desde 2006.

O número de empresas registadas aumentou de 1695 em 2007 para 2118 em 2008 e 3781 em 2009. O número de microempresas registadas aumentou de 505 em 2007 para 849 em 2008 e 1262 em 2009. Todavia, a capacidade empresarial existente é insuficiente para satisfazer as necessidades relacionadas com todos os ambiciosos investimentos. Constitui assim, uma das principais prioridades, recorrer ao mercado internacional para fornecer aos bens e serviços - que são tão necessários ao desenvolvimento económico de Timor-Leste - criando condições para captar investimento. Nesse sentido, foi revista a legislação, tendo em vista criar um quadro jurídico simplificado, unificando num único diploma os regimes aplicáveis ao investimento nacional e estrangeiro.

O País tem também feito progressos assinaláveis no que se refere aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. A taxa de mortalidade infantil decaiu de 92 por cada 1000 nados vivos em 2007 para 64 por cada 1 000 nados vivos em 2009; a taxa de incidência da malária baixou de 203 por cada 1000 em 2007 para 113 por cada 1000 em 2009; e a taxa de incidência da tuberculose decresceu de 250 por cada 100000 em 2007 para 145 por cada 100000 em 2009. A taxa líquida de matrícula de crianças no ensino primário aumentou dos 65,6% em 2007 para os 82,7% em 2009.

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As invulgares qualidades do Presidente Matan Ruak, a idoneidade do Primeiro-ministro Xanana Gusmão e o prestígio do Nobel da Paz Ramos Horta têm estado ao serviço da construção da paz, como se constata pelos objectivos alcançados na reconstrução do País e reconciliação da sociedade timorense. Consideram fundamental para a Segurança Nacional que o país possa contar, além do reforço das suas capacidades militares, com uma diplomacia de defesa, na construção de alianças suportadas numa rede de relações bilaterais e alinhamentos multilaterais, que permitam uma maior autonomia estratégica.

As relações de amizade e de cooperação com todos os países vizinhos, em especial, com a Indonésia e a Austrália são consideradas de importância crucial – para uma adequada integração na região - face ao novos desafios internacionais e regionais. Com a Indonésia têm sido incentivadas e não são previsíveis factores de perturbação. Porém, com a Austrália poderá haver alguma atrição, pela interferência na esfera dos interesses económicos.

As características arquipelágicas do território e os recursos existentes determinam que o Mar seja o principal vector da Estratégia de Segurança Nacional. Por outro lado, a segurança e desenvolvimento foi considerado, um binómio decisivo que permite o emprego da cooperação civil-militar como instrumento gerador de segurança e desenvolvimento do país que se reforçam mutuamente.

Nesse sentido, foi adoptada uma abordagem inovadora com a Lei de Segurança Nacional – identifica os princípios e densifica os conceitos articulando com melhor eficácia a Lei de Defesa Nacional e Lei de Segurança Interna -, que garante a actuação conjunta, assegurando a subsidiariedade e a complementaridade da intervenção das Forças e Serviços de Segurança, Forças de Defesa e Protecção Civil, através de um Sistema Integrado de Segurança Nacional.

O Presidente General Ruak, enquanto foi Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA)19 conseguiu, com grande mérito seu e sabedoria, a transição bem sucedida conduzida nas F-FDTL transformando uma força de guerrilha numa força militar convencional ao serviço da sociedade, que assegura a identidade e coesão nacional. Foi decisiva a sua visão estratégica para a implementação do novo paradigma, através do Plano de Desenvolvimento das F-FDTL (PDF 2011-2017). Este importante instrumento de gestão estratégica encontra-se homologado ao nível político e reconhecido positivamente pela missão da ONU (UNMIT), estando alinhado com os objectivos do Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED 2011-2030).

As F-FDTL já atingiram níveis de credibilidade que lhe permitem participar em missões de cooperação civil-militar, de interesse público e forças multinacionais no âmbito das operações de apoio à paz e humanitárias sob a égide da ONU. Recentemente, um Pelotão de Engenharia integrou a Força Nacional Destacada portuguesa no Líbano (UNIFIL).

19 Entre 1999 e 2011. Em 1999 assume o comando das FALINTIL (Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste); em 2001 passa a ser o Chefe do Estado-Maior das FALINTIL-Forças de Defesa de Timor-Leste (CEMGFA das F-FDTL) até 2011, quando se candidata à Presidência da República por insistência e com apoio dos seus “irmãos” Xanana e Ramos Horta.

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Para melhor se entender a dimensão do Homem e do político, relevam-se alguns dos aspectos daquele que é considerado um herói do passado e um líder do futuro. De origens humildes, Taur Matan Ruak abdicou dos seus anos de juventude e viveu no mato, em grutas. “Esteve de pé no topo da montanha, carregando a bandeira da liberdade” (Ramos Horta, 2012), enfrentando inúmeros riscos. É um homem inteligente, com apurada visão estratégica dos problemas internos e externos, com espírito de lealdade, sentido de justiça e capacidade de liderança, respeitado pela hierarquia da luta armada e das demais frentes de luta (diplomática e clandestina), bem como da comunidade internacional.

É de uma integridade irrepreensível e um grande pilar da jovem democracia timorense, conhecendo o seu país e o seu povo como ninguém. Dificilmente se deixa enganar. A imagem que se recorda e permanecerá para sempre é a autenticidade e simplicidade do General Taur Matan Ruak. Apelou sempre à união do povo timorense para que lutassem pelo desenvolvimento e segurança do país e esteve sempre com o povo timorense, defendendo os mais desfavorecidos sem dúvidas ou hesitações. Soube acreditar, decidir e lutar pela solidariedade sempre com um grande sentimento de ternura e amor pelo povo timorense, acreditando na capacidade do povo poder decidir e fazer escolhas, criando alternativas. A palavra desistir não faz parte do seu vocabulário.

Tem igualmente revelado grande tolerância e capacidade de gerar consensos. Sabe defender as suas ideias com convicção, sendo reconhecido por ser conciso e firme na decisão. A seguinte frase do General Taur Matan Ruak proferida em Junho de 2006, no âmbito da análise da crise, é ilustrativa do que atrás foi descrito: “Não vale a pena afrontar nem confrontar. Temos que contornar para não nos desviarmos dos nossos objectivos. Temos que ser inteligentes e fazer a estratégia de aproximação sem deixar de influenciar as nossas decisões.”

Nos momentos difíceis com que se viu confrontado - desde os tempos da guerrilha até à resolução da crise político-militar de 2006 e à construção do regime democrático -, demonstrou sempre grande sentido de Estado colocando os interesses nacionais acima de tudo, sendo um defensor intransigente da independência e soberania nacionais.

O General Ruak demonstrou por factos fundamentados -aos órgãos de soberania e Comissão Especial de Inquérito da ONU -, que a crise de 2006 teve origem numa estratégia cuidadosamente arquitectada e multifacetada. O objectivo principal seria a divisão da sociedade timorense - através do pretexto “Loromonu Vs Lorosae” com a promoção de conflitos entre as forças de segurança e defesa -, impedindo o normal funcionamento das instituições para descredibilizar o Estado de direito, interrompendo o processo político em curso. Só assim foi possível materializar a desestabilização política, militar, social e cultural, através de acções de carácter subversivo identificadas a partir do final de 2004 pelos serviços de informações timorenses.

Nos confrontos armados que ocorreram durante a crise de 2006 -as forças rebeldes atacaram as posições das FALINTIL-FDTL, incluindo o seu Quartel-general (QG) em Taci-Tolu-, foi possível registar a forma serena e firme como o General Taur Matan Ruak conduziu as operações, com inequívoca coragem e liderança revelando grande capacidade de decisão e coordenação, apesar das grandes limitações na capacidade

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de comando e controlo, só possível pela forma como conhece as suas mulheres e os seus homens. A título de exemplo, lembra-se a forma expedita como mandou avançar as unidades navais da Componente Naval das F-FDTL, cuja actuação eficaz foi decisiva para libertar o cerco que estava a ser alvo o QG com fogo directo de armas automáticas.

Nos planos geopolítico e geoestratégico, a ausência de uma organização de segurança colectiva na região obriga a aproximação de Timor-Leste aos blocos regionais sua área de influência, designadamente, o Fórum regional da ASEAN (membro activo) e o Fórum das Ilhas do Pacifico Sul (estatuto de observador). Esperando aderir em breve à ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático)20.

Timor-Leste também é membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)21, que sendo uma organização intercontinental confere projecção estratégica – pela língua e maritimidade dos seus países - ainda não explorada, designadamente, na Ásia onde se encontra o centro da economia mundial. Os chineses revelam interesse crescente pela língua portuguesa (potencial de Angola e Brasil). Por outro lado, uma estratégia marítima comum à CPLP contribuiria para a revalorização geoestratégica dos seus Estados membros no sistema internacional.

O Chefe de Estado timorense tem demonstrado ser um dos líderes com especial apreço pelo fortalecimento das relações de amizade com Portugal e uma participação mais activa da CPLP aproveitando a língua para fortalecer relações económicas, conferindo maior profundidade à organização que poderá alargar o seu raio de influência ao Sudeste Asiático e à Oceânia. Será que os seus Estados membros estão a saber aproveitar a oportunidade?

Por outro lado, na consolidação da identidade nacional timorense é determinante a ancoragem interna nos traços com um passado comum, a história e os valores da resistência, a língua tétum, a cultura, onde o tempo integrou a religião católica22, a língua portuguesa e a etnicidade (doze grupos étnicos) – devem ser aprofundados e enraizados -, que são essenciais ao reforço da coesão nacional. Nesse contexto, urge identificar a tradução de tradições como elemento central da construção da Nação.

20 ASEAN, é a única organização da região, constituída em 1967, na Tailândia, com o objetivo de assegurar a estabilidade política e de acelerar o processo de desenvolvimento da região. Fundada inicialmente pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia (1967); Brunei (1984); Vietnam (1995); Mianmar e Laos (1997); Camboja (1999). Os objectivos da ASEAN, expressos na sua declaração, são acelerar o crescimento económico e promover a paz e a estabilidade na região do sudeste asiático. Porém, não é uma organização de segurança colectiva. Desde 2003, foi intuída uma zona de comércio livre Free Trade Área (AFTA) e foi aberto um diálogo sobre as questões de segurança no quadro do ARF (ASEAN Regional Fórum). 21 CPLP foi criada em 1996. Recentemente pediram a adesão a Guiné Equatorial, Indonésia e Austrália. A CPLP (organização intercontinental) integra uma população cerca de 250 milhões de habitantes (3,8 por cento da população mundial), e os seus países tem uma área total de 10.742.000 km² (cerca de 8 % do mundo habitado). O PIB somado dos oito Estados membros ultrapassa os 900 mil M$US (2005).

22 Em Timor-Leste 90% da população é católica e comunidades de protestantes e muçulmanos.

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A modernização do Estado está a ser acompanhada de uma política cultural como forma mais eficaz de neutralizar os elementos de conflito, onde a unidade constrói uma sociedade de partilha que propicia a criação de um sentimento comum.

Conforme o Censo de 2010, o tétum é utilizado por cerca de 90% da população, 35% falam indonésio (bahasa), o inglês é entendido por 31, 4% e 23,5% falam e escrevem em português. Este dado é irrealista, pois apenas cerca de 12 a 15% falarão português. A Constituição determina que o tétum e português como línguas oficiais e o bahasa e inglês, línguas de trabalho. A língua tétum constitui inequivocamente para Timor-Leste, a par dos símbolos nacionais, o valor singular e a diferenciação para a delimitação política da sua soberania. E o indicativo determinante da sua fronteira na caracterização da sua cidadania e do seu espaço geográfico, garante fundamental para o equilíbrio geopolítico na região, procurando de forma concertada a defesa dos seus interesses nacionais.

Apesar da pressão da comunidade anglófona – que tem vindo a aumentar - a liderança timorense sabe da importância estratégica da língua portuguesa pelas raízes históricas e culturais pela sua ligação ao tétum (contém inúmeros vocábulos do português). Contudo, a consolidação do tétum exige uma estratégia adequada para a implementação do português até hoje não devidamente concertada. Para isso, é necessário reformular os métodos da promoção da língua portuguesa, aproveitando melhor os meios de comunicação para a difusão da língua que não pode ser ensinada como “…língua materna” como afirmou o Presidente Matan Ruak.

Com este novo ciclo – parece existir algum esbatimento de interesses comuns - a cooperação portuguesa devia evoluir para parcerias estratégicas, evitando o “afastamento” da distância com projectos atractivos de interesse mútuo (mar, turismo, infraestruturas e industria de defesa), que reforcem as relações bilaterais.

Concluído, a qualidade insuperável do desempenho dos militares portugueses na segurança, estabilidade e melhoria do nível de vida das populações timorenses continuam a prestigiar a afirmação de Portugal no sistema internacional, constituindo as FA um instrumento essencial da nossa Diplomacia na afirmação e credibilidade externa do Estado Português.

Em Timor-Leste as lideranças políticas reconheceram as fragilidades e erros, analisaram e ultrapassaram as próprias divergências e identificaram os obstáculos respeitando compromissos. E, conseguem manter-se unidos, pelo patriotismo na vontade insuperável de se distanciarem do conflito, acolhendo o desenvolvimento orientado por uma visão estratégica coerente, que fornece o rumo ao País. Neste âmbito, o novo Presidente Taur Matan Ruak é um homem de convicções, princípios e valores, cuja liderança e compreensão têm contribuído, inegavelmente, para superar divisões ideológicas internas, ambições, estratégias, consolidando o processo de reconciliação e coesão nacional.

O heroísmo dos timorenses é inolvidável e têm motivos para se orgulhar do exemplo da jovem democracia e da trajectória vitoriosa, possível pela capacidade de liderança e mobilização. Ainda haverá um longo caminho a percorrer, na realização dos sonhos de um Povo, que merece admiração pela coragem e determinação.

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Referência Bibliográficas: Almeida Serra, António M., Timor-Leste: os caminhos do desenvolvimento e a cooperação lusófona (Julho de 2004); Atlas de Timor-Leste, UTL/GERTIL (2002) Atlas Geográficon Dorling Kinderley 2004, Civilização Editores; Branco, Carlos Martins – A Participação de Portugal e Operações de Paz (2010); Exército Português em Timor-leste 2000-2004, Exército Português (Outubro de 2004); Participação portuguesa em OAP - Projecto de Investigação, Fundação Mário Soares (Dezembro de 2006); State of World Population 2006, ONU; Timor-Leste, Síntese País e relacionamento bilateral (AICEP, 2013). Relatórios e documentos oficiais Austrália – Estratégia para Timor-Leste 2009-2014 (Australian Government -AusAID); Dados básicos e principais Indicadores, do Ministério das Relações Exteriores BR (2013); Estatísticas da CPLP 2003-2010, INE (Julho de 2013); Estudo de Mercado sobre Timor-Leste-AIP FCE (Fevereiro de 2013); Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste (PED 2011-2030); Plano de Desenvolvimento das FALINTIL-FDTL (PDF 2011-2017); Relatório do FMI, 25 de Setembro de 2013; Relatório da Reunião de Timor-Leste com os Parceiros de Desenvolvimento (Junho de 2013); Sítios Internet http://unic.un.org/ http://www.momentum.tl/pt/cronologia.html http://www.missionofportugal.org/mop/ http://www.un.org/en/peacekeeping/ http://www.undp.org/content/undp/en/home.html http://www.imf.org/external/country/tls/index.htm?pn=0 http://www.worldbank.org/pt/country/brazil http://timor-leste.gov.tl/