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THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL E FATORES ASSOCIADOS Itajaí (SC) 2019

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Page 1: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA

PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO

BRASIL E FATORES ASSOCIADOS

Itajaí (SC)

2019

Page 2: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM

SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA

PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO

BRASIL E FATORES ASSOCIADOS

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título

de Mestre no Programa de Mestrado em Saúde e Gestão do

Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências da Saúde – CCS.

Orientador: Profa. Dra. Luciane Peter Grillo

Co-Orientador: Prof. Dr. Leo Lynce Valle de Lacerda

Itajaí (SC)

Julho de 2019

Page 3: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO

BRASIL E FATORES ASSOCIADOS

THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Saúde e

Gestão do Trabalho, Área de Concentração Saúde da Família e aprovada em sua forma

final pelo Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do

Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí.

______________________________________

Professora Stella Maris Brum Lopes, Doutora

Coordenadora do Programa Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos professores:

____________________________________

Profa. Dra. Luciane Peter Grillo

(UNIVALI)

Presidente Orientador

____________________________________

Dra. Tatiana Mezadri (UNIVALI)

Membro interno

_____________________________________

Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena (FURB)

Membro externo

Itajaí (SC), 02 de julho de 2019

Page 4: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

Dedico este trabalho à minha mãe-avó Terezinha Lopes (in memoriam) que nunca

mediu esforços e sempre torceu para que eu continuasse a estudar.

Page 5: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade de estar aqui hoje concluindo o maior sonho da

minha vida.

Sou grato ao universo por ter conspirado ao meu favor para que tudo se encaixasse de

maneira correta e por ter me colocado no lugar certo na hora certa, hoje entendo a

expressão ―tudo tem sua hora‖.

Agradeço a todos os meus familiares pelo incentivo e palavras de carinho nos

momentos em que a vontade de desistir foi maior do que seguir.

Ao Amauri pela paciência e por entender a minha ausência nos momentos em que

precisei faltar ao trabalho para que esse sonho se tornasse realidade.

Agradeço ao meu orientador Leo Lynce Valle de Lacerda pela paciência, firmeza,

ensinamentos e por me fazer acreditar que sou capaz.

À Luciane Peter Grillo por aceitar o desafio de continuar a me orientar com clareza,

doçura e paciência.

Agradeço a todos os professores do Programa de Mestrado profissional em Saúde e

Gestão do Trabalho por transmitir verdade e amor, em especial à Rita de Cássia

Gabrielli Souza Lima que com seu abraço materno e os olhos cheios de esperança,

sempre me ouviu e me encorajou a seguir, acredito que nosso encontro foi um encontro

de almas, vou te guardar por toda minha vida. Ao Juliano e Helenize pela eficiência,

paciência e carinho com que me ajudaram.

Aos colegas da Turma XV pelo companheirismo, pela parceria e pelas risadas nos

intervalos e na hora do café.

Page 6: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

Os rios não bebem sua própria água, as árvores não comem seus próprios frutos, o

sol não brilha para si mesmo e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver

para os outros é uma regra da natureza. (...). A vida é boa quando você está feliz,

mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa.

(PAPA FRANCISCO)

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PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO

BRASIL E FATORES ASSOCIADOS

THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA

Julho/2019

Orientador: Luciane Peter Grillo, Doutora

Área de Concentração: Saúde da Família

Número de Páginas: 69

RESUMO:

Objetivo: Determinar a prevalência de automedicação e seus fatores associados na

população adulta do município de Navegantes-SC. Método: Trata-se de um estudo

transversal, descritivo e analítico de base populacional do tipo survey. A coleta de dados

se deu por abordagens domiciliares e foi realizada entre os meses de maio a outubro de

2018, a população foi composta por adultos de 20 a 59 anos. O instrumento de coleta de

dados utilizado foi um questionário estruturado contendo vinte e seis perguntas

agrupadas em cinco blocos sobre perfil sociodemográfico, hábitos sociais, utilização de

serviços de saúde, autoavaliação em saúde e utilização de medicamentos nos últimos 90

dias que antecederam a aplicação do questionário. Todos os medicamentos referidos

pelos participantes foram classificados de acordo com a Classificação Anatômica

Terapêutico Química. Foi considerada prática de automedicação o uso de ao menos um

medicamento sem prescrição médico/odontológica, excluindo, portanto, os

medicamentos isentos de prescrição. Resultados: Participaram da pesquisa 1120

indivíduos. A prevalência geral de automedicação no município foi de 35,1%. Na

análise univariada as variáveis sociais e de saúde associadas a automedicação foram

faixa etária de 40 a 49 anos (p=0,037), atividade física maior ou igual a 150

minutos/semana (p=0,040), tabagismo (p=0,015), consultas regulares (p=0,007) e

autoavaliação boa da saúde (p=0,025). Após o ajuste das razões de prevalência por

regressão de Poisson, os fatores associados à automedicação foram: indivíduos com

faixa etária entre 30-39 anos (p=0,027) e 40 a 49 anos (p=0,028), realização de

consultas nos últimos três meses (p=0,008), presença de doença crônica (p=0,020) e

apresentar uma autoavaliação boa de sua saúde (p=0,048). A classe dos anti-

inflamatórios (sistema músculo-esquelético) foi a mais utilizada pelos participantes

(28,9%), seguida dos anti-hipertensivos (aparelho cardiovascular) (15,2%) e aparelho

gênito-urinário e hormônios sexuais (12,7%). Conclusão: O estudo apresentou uma

elevada prevalência de automedicação entre a população adulta do município.

Aconselha-se às autoridades sanitárias locais a ampliação de estratégias que esclareçam

ao público os riscos que a automedicação pode causar levando à conscientização quanto

ao uso racional de medicamentos.

Palavras-chave: Automedicação. Inquéritos Epidemiológicos. Uso de Medicamentos.

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THE PREVALENCE OF SELF-MEDICATION IN A MUNICIPALITY IN THE

SOUTH OF BRAZIL AND ASSOCIATED FACTORS

Advisor: Luciane Peter Grillo

Area of Concentration: family health

Number of pages: 69

ABSTRACT

Objective: To determine the prevalence of self-medication and its associated factors in

the adult population of the city of Navegantes-Santa Catarina. Method: This is a cross-

sectional, descriptive and analytical survey-based population study. Data collection was

carried out through household surveys, conducted between May and October 2018; the

population was composed of adults aged 20 to 59 years. The data collection instrument

used was a structured questionnaire containing twenty-six questions grouped into five

blocks: sociodemographic profile, social habits, use of health services, self-assessment

in health and use of medications in the last 90 days prior to answering the questionnaire.

All medications reported by the participants were classified according to the Anatomical

Therapeutic Chemical Classification. The use of at least one medication without a

medical/odontological prescription was considered self-medication. This therefore

excludes over-the-counter medications. Results: 1120 individuals participated in the

study. The overall prevalence of self-medication in the city was 35.1%. In the univariate

analysis, the social and health variables associated with self-medication were 40 to 49

years old (p=0.037), physical activity greater than or equal to 150 minutes/week

(p=0.040), smoking (p=0.015), regular consultations (p=0.007) and good self-evaluation

of health (p=0.025). After adjusting the prevalence ratios by Poisson regression, the

factors associated with self-medication were: individuals aged between 30-39 years

(p=0.027) and 40 to 49 years (p=0.028), having had consultations in the last three

months (p=0.008), presence of chronic disease (p=0.020) and presenting a good self-

evaluation of their health (p=0.048). Anti-inflammatory drugs (musculoskeletal system)

represented the class of drugs most used by the participants (28.9%), followed by

antihypertensive drugs (cardiovascular system) (15.2%), and genitourinary drugs or sex

hormones (12.7%). Conclusion: The study showed a high prevalence of self-

medication among the adult population of the city. Local health authorities are advised

to carry out strategies to clarify to the public the risks that self-medication can cause,

leading to awareness of the rational use of medicines.

Keywords: Self-medication. Epidemiological Surveys. Use of Medications.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População estimada de acordo com o bairro, Navegantes - SC, 2017 ....................... 23

Tabela 2 - Caracterização social e de saúde de 1.120 indivíduos adultos, residentes na cidade de

Navegantes, SC, 2018 ................................................................................................................. 26

Tabela 3 - Análise univariada da automedicação com relação às variáveis sociais e de saúde, de

394 adultos residentes na cidade de Navegantes, SC, 2018 ........................................................ 28

Tabela 4 - Análise multivariada dos fatores associados à automedicação de 394 adultos

residentes na cidade de Navegantes, SC, 2018 ........................................................................... 29

Tabela 5 - Caracterização dos 394 participantes que se automedicaram na cidade de Navegantes,

SC, 2018 ...................................................................................................................................... 31

Tabela 6 - Prevalência de automedicação nos bairros. Navegantes, SC, 2018 ........................... 32

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LISTA DE ABREVIATURAS

AAS – Ácido Acetilsalicílico

AINES – Anti-inflamatórios Não –Esteroidais

AINH - Anti-inflamatórios Não Hormonais

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ATC - Anatomical Therapeutic Chemical Code

CFF – Conselho Federal de Farmácia

HIV – Human Immunodeficiency Virus

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MIP – Medicamento Isento de Prescrição

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNAUM – Pesquisa Nacional de Utilização de Medicamentos

P&D – Pesquisa de Desenvolvimento

RAM – Reações Adversas a Medicamentos

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

RP – Razão de Prevalência

SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas

SVS/MS – Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí

VISA – Vigilância Sanitária

WHO - World Health Organization

Page 11: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5

1.1 Objetivos ............................................................................................................................ 7

1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................................ 7

1.1.2 Objetivos Específicos...................................................................................................... 7

2 DESENVOLVIMENTO .......................................................................................................... 8

2.1 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 8

2.1.1 Definição de medicamento ......................................................................................... 8

2.1.2 Aspectos históricos do uso de medicamentos ........................................................... 8

2.1.3 Conceitos associados à automedicação ................................................................... 10

2.1.4 Reações adversas a medicamentos (RAM) ............................................................. 12

2.1.5 Importância da determinação da prevalência e fatores para as políticas de saúde

publica ................................................................................................................................ 15

2.1.6 Estimativas de prevalência da automedicação e fatores associados .................... 16

2.1.7 Prevalências mundiais .............................................................................................. 17

2.1.8 Prevalência no Brasil ............................................................................................... 18

2.1.9 Prevalência em Santa Catarina ............................................................................... 20

2.2 METODOLOGIA ........................................................................................................... 22

2.2.1 Desenho de estudo .................................................................................................... 22

2.2.2 Local do estudo ......................................................................................................... 22

2.2.3 População do estudo ................................................................................................. 22

2.2.4 Critérios de inclusão/exclusão ................................................................................. 22

2.2.5 Seleção da amostra ................................................................................................... 22

2.2.6 Instrumento da pesquisa .......................................................................................... 23

2.2.7 Coleta de dados ......................................................................................................... 24

2.2.8 Aspectos Éticos ......................................................................................................... 24

2.2.9 Análise dos dados ..................................................................................................... 24

2.3 RESULTADOS ................................................................................................................ 24

2.3.1 Caracterização da amostra ...................................................................................... 24

2.3.2 Fatores associados à automedicação ....................................................................... 27

2.3.3 Prevalência de medicamentos associados à automedicação ................................. 29

2.3.4 Perfil dos praticantes de automedicação ................................................................ 30

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2.3.5 Distribuição espacial da prevalência de automedicação ....................................... 32

2.4 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 32

3 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 38

4 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 40

5 APÊNDICES ........................................................................................................................... 49

Page 13: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

5

1 INTRODUÇÃO

Os medicamentos são um conjunto de substâncias químicas que apresentam na sua

composição excipientes e fármacos com a finalidade curativa, profilática e paliativa.

Perante aos órgãos competentes de fiscalização, essas substâncias devem apresentar

eficácia e efetividade, garantindo assim a qualidade do produto e segurança do paciente

(SANTOS, 2012). Do ponto de vista econômico, os medicamentos são produtos de

grande valor, fato este que pode ser justificado pelo grande número de farmácias e

drogarias espalhadas por todo país. Vale salientar que o acesso aos medicamentos

essenciais é um direito do cidadão, porém, mais da metade da população mundial não

tem acesso a tratamentos medicamentosos (SANTOS, 2013).

A automedicação é definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) como o uso de medicamento sem a prescrição, orientação e/ou o

acompanhamento do médico ou dentista (BRASIL, 2001).

O alto consumo de medicamentos pela população é induzido por inúmeros

fatores, dentre eles a busca pelo aumento da expectativa de vida. Outros fatores

decorrentes da sociedade contemporânea como predomínio dos transtornos de humor,

doenças climáticas devido à degradação do meio ambiente, surgimento de novas

doenças sexualmente transmissíveis e aumento das doenças crônicas devido ao

constante crescimento da população idosa fizeram com que crescesse

consideravelmente a prática da automedicação (ARRAIS, 2016).

A automedicação também pode ser induzida pela política governamental local,

fatores socioeconômicos, índice de escolaridade, dentre outros. Estudos afirmam que

condutas relacionadas à saúde como a quantidade de horas de sono, o consumo de

álcool e a ausência à visita ao médico estão diretamente ligadas à prática da

automedicação principalmente em pacientes do sexo masculino (PRADO et al., 2016).

A falta de tempo, o uso dos mesmos medicamentos quando apresentam

diagnósticos semelhantes a anteriores, a facilidade de acesso às drogas e o fato de

possuir em casa armazenados são algumas das inúmeras justificativas usadas pelos

pacientes que praticam este uso indiscriminadamente (SILVA, 2014).

Pacientes com doenças crônicas têm o hábito de armazenar medicamentos em

casa, dessa forma, ocorre o compartilhamento dessas drogas com amigos e familiares,

ora por sobras devido ao tratamento incorreto e doses administradas de forma errada,

ora pelo fato de que alguns membros das famílias se sentem competentes o suficiente

para indicar medicamentos aos demais. É sabido que famílias onde possuam integrantes

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6

profissionais de saúde aumentam duas vezes mais a probabilidade do uso de

medicamentos, por entenderem mais sobre medicação e se sentirem aptos a indicar

(TENI et al., 2017).

As queixas mais comuns entre pacientes que praticam a automedicação são:

dificuldade de acesso aos serviços de saúde e não sentir necessidade de ir ao médico por

relatar ―conhecer as patologias‖. Além disso, pacientes relatam que obtém informações

claras e precisas quando leem a bula, obtendo segurança e autonomia na hora de se

automedicar (GAMA, 2017).

Aproximadamente um terço da população na fase adulta pratica a automedicação

(DOMINGUES et al.; 2015). Por mais que pareça um ato sem importância, a

automedicação pode oferecer danos irreversíveis pois, uma indicação terapêutica

enganada, uma dose administrada por via inapropriada pode agravar ou até mesmo

desenvolver uma situação transformando-se num um risco para o paciente (SILVA et

al.; 2016).

Dentre as várias formas que a automedicação pode apresentar a obtenção de

medicamentos sem receituário, o compartilhamento destes com amigos, vizinhos e

membros familiares, a utilização de sobras de tratamentos anteriores, bem como os

aproveitamentos de prescrições antigas ou de terceiros apontam importantes riscos à

saúde e segurança do paciente. Além disso, o excesso do uso de injetáveis quando o

problema poderia ter sido resolvido com formulações orais, aumentando o risco de erro

para o paciente, uma vez que um injetável foi feito, além do seu efeito ser mais rápido, a

chance de reverter seus efeitos é bem menor, uso indiscriminado e inadequado de

antibióticos para infecções não bacterianas, a quantidade de medicamentos usada pelos

próprios pacientes, conhecida como polifarmácia (ABRAHÃO, 2013).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) mais da metade

de todos os fármacos são comercializados de forma incorreta, além disso, 50% dos

pacientes não fazem o uso corretamente ou não levam o tratamento até o final.

Enquanto isso a falta ao acesso a medicamentos essenciais pode chegar a 1/3 da

população mundial.

Um ponto chave desse problema mundial é a perda da confiança do paciente no

sistema de saúde, fazendo com que os mesmos se automediquem e procurem ajuda de

pessoas não profissionalizadas ou inadequadas (OMS, 2002).

Os números mostram que o Brasil é um dos países que mais consome, produz e

gasta com medicamentos, atingindo 22,1 bilhões de dólares anualmente (SANTOS,

Page 15: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

7

2012). De acordo com a Federação Brasileira de Farmácia (2017) o principal ponto de

vendas de medicamentos no Brasil são as farmácias e drogarias. A OMS (2010)

recomenda uma farmácia para cada 10 mil habitantes, porém, atualmente no Brasil há

quase três vezes mais o número de farmácias exigido (FEBRAFAR, 2017).

Em 2015, o Sistema Nacional de Informações Toxi-Farmacológicas

(SINITOX/FIOCRUZ) apontou 28.778 casos registrados de intoxicação humana devido

ao uso indiscriminado e irresponsável de medicamentos causando nesse mesmo período

81 óbitos (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).

Diante desse cenário, identificar o perfil de adultos que consomem

medicamentos sem prescrição é de grande importância para a população do município

de Navegantes, pois dessa forma pode-se atentar quanto aos riscos que essa prática

oferece. A análise dos possíveis fatores que influenciam a automedicação fornecerá para

o serviço público subsídios para esclarecimento à população, oportunizando um uso de

medicamentos com maior responsabilidade e, idealmente, com o acompanhamento de

um profissional habilitado.

O tema da automedicação foi escolhido pelo fato de minha formação ser em

Farmácia, residir no município de Navegantes e ser proprietário de uma drogaria

comercial em um bairro populoso, onde observava o uso exagerado e irresponsável de

medicamentos pelos clientes.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

Investigar a prevalência da automedicação e seus fatores associados na

população adulta de Navegantes.

1.1.2 Objetivos Específicos

• Determinar a prevalência da automedicação e dos medicamentos associados a

esta;

• Verificar a prevalência de automedicação segundo os bairros do município;

• Descrever fatores ligados à automedicação;

• Identificar o perfil dos adultos que consomem medicamentos sem prescrição

médica ou odontológica;

• Descrever a ocorrência de eventos adversos aos medicamentos, suas

características e a conduta adotada pelos indivíduos.

Page 16: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

8

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 REVISÃO DA LITERATURA

Os medicamentos são bens de saúde que, quando garantem eficácia e segurança,

auxiliam na recuperação e sustentação da saúde do usuário. Dessa forma, os

medicamentos são essenciais no tratamento de doenças e na busca por qualidade de

vida, no entanto, quando utilizados de maneira irresponsável podem causar sérios danos

à saúde de quem utiliza. A automedicação é um problema de saúde pública mundial e

deve ser combatida com a conscientização do uso indevido de medicamentos e este

deve ser visto pela população como instrumento terapêutico e não como bem de

consumo.

2.1.1 Definição de medicamento

Conceitua-se medicamento todo preparo que contenha fármaco ou princípio-

ativo, além de veículos e adjuvantes sem qualquer atividade biológica. Os

medicamentos devem apresentar efeito paliativo, curativo ou para fins de diagnóstico,

além do mais precisam ter finalidade terapêutica e devem apresentar efeitos benéficos,

para tanto, devem seguir exigências dos órgãos reguladores, que no caso do Brasil é

fiscalizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, conferindo segurança e

eficácia a quem faz uso (LOPES, 2001).

2.1.2 Aspectos históricos do uso de medicamentos

Mesmo que os medicamentos alopáticos tenham tido seus primeiros registros na

cultura grega (BARBERATO FILHO, 2006), o uso da medicina natural foi bastante

difundida em várias partes do mundo e há milhares de anos atrás apenas as plantas eram

utilizadas como recursos terapêuticos, no entanto, somente no século XIX foram criados

os primeiros medicamentos, através da extração do princípio ativo presente nas plantas

derivando os medicamentos atuais (CALIXTO, 2008). Então, a partir da década de

1940, com o uso de recursos sintéticos e com o intuito de aumentar a variedade de

medicamentos, começaram a aparecer em diversos países da Europa e dos Estados

Unidos, as indústrias farmacêuticas, que, em conjunto com as universidades fizeram

surgir o P&D que é o setor responsável pela descoberta de novos alvos terapêuticos,

Page 17: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

9

desenho, seleção, otimização da molécula líder para o alvo pretendido, desenvolvimento

do candidato a fármaco e, finalmente, descoberta do medicamento (PALMEIRA

FILHO, 2003).

Segundo Nascimento (2002), a partir da década de 1940, devido à produção em

massa de novos fármacos, inclusive em grande escala, a população teve acesso à

possibilidade de cura de diversas enfermidades, como doenças infecciosas que por

muitos anos foram fatais e assustavam grande parte da população. À medida que a

pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos foi avançando, juntamente com a

ascensão comercial, a sociedade foi adquirindo certa convicção de que os medicamentos

seriam um bem poderoso e nele depositaram toda esperança. Neste contexto, o

medicamento se tornaria um grande aliado nas consultas médicas e um forte

personagem na terapêutica, desta forma, a prescrição passava a ser motivo de ―consulta

bem feita‖, ou seja, quanto mais medicamentos era prescrito, melhor seria o médico. A

atração por inúmeras formas e fórmulas farmacêuticas, o poder que o marketing exercia

sobre o público e, sobretudo a quantidade ofertada se tornaram importantes

incentivadores do uso desenfreado e irresponsável dos medicamentos (CASTRO, 2000).

O medicamento adquire, desde então, poder de alterar o curso de uma doença, além de

ser utilizado como resultado final e/ou decisão de técnica de diagnóstico (LAPORTE,

1989).

O fato de existir várias opções de fórmulas para uma mesma patologia acaba

influenciando muito as prescrições e o consumo de medicamentos. A propaganda

comercial desde a década de 1970 é bastante trabalhada encima da indústria

farmacêutica com a finalidade de influenciar escolhas, opiniões e hábitos, tanto de

prescrições como de uso. Nesta época, já se investia duas vezes mais em publicidade do

que em pesquisa de medicamentos (LAPORTE, 1989).

A partir da década de 1980 os medicamentos sofreram forte influência do

marketing, o que facilitou o aumento da medicalização e seu comércio sob a perspectiva

de bem de consumo, fazendo com que, dessa forma, deixasse de ser utilizado como

instrumento terapêutico. A sociedade contemporânea, cada vez mais insatisfeita e em

busca do bem-estar emocional, social, intelectual, sexual e financeiro, estão a todo o

momento na busca por recursos para driblar situações como medo, angústia, estresse,

luto e solidão. Dessa forma, o medicamento deixa de ser utilizado como instrumento

terapêutico e passa então, a ser procurado como bem de consumo (SANTOS, 2010).

Page 18: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

10

Em uma outra perspectiva, a decisão sobre o que produzir esteve ao alcance

apenas da indústria farmacêutica que, de certa forma, introduziu na sociedade uma ideia

de que a população precisa a qualquer custo consumir medicamento, dessa forma, a

farmácia passa então de estabelecimento de saúde a estabelecimento comercial e

automaticamente o farmacêutico perde sua principal característica que seria exercer com

excelência e responsabilidade a atenção farmacêutica, deixando claro que o

medicamento tem o objetivo principal de lucratividade e não de poder terapêutico

(PINHEIRO, 1999).

2.1.3 Conceitos associados à automedicação

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define automedicação como sendo a

prática de utilizar medicamentos para o alívio de sintomas e tratamento de doenças

autoconhecidas compreendendo uma técnica de autocuidado (OMS, 1998). No Brasil, a

ANVISA é o órgão que regulamenta e aprova a fabricação e os testes feitos nos

medicamentos e define automedicação como a prática irresponsável do uso de

medicamentos sem prescrição médica/odontológica. Desta forma o uso de

medicamentos autorizados para venda sem prescrição precisa apresentar eficácia e

qualidade comprovadas, além de doses apropriadas para o tratamento de sinais e

sintomas, podendo assim ser definida como automedicação responsável (BRASIL,

2001).

AUTOMEDICAÇÃO: Uso de medicamento sem a prescrição, orientação e

ou o acompanhamento do médico ou dentista (Port. n.º 3916/98 - Política

Nacional de Medicamentos).

AUTOMEDICAÇÃO RESPONSÁVEL: Pratica pela qual os indivíduos

tratam doenças, sinais e sintomas utilizando medicamentos aprovados para

venda sem prescrição médica, sendo estes de eficácia e segurança

comprovadas quando utilizados racionalmente. São requisitos para

automedicação responsável: que os Medicamentos a serem utilizados tenham

segurança, qualidade e eficácia comprovadas; serem medicamentos utilizados

em algumas doenças crônicas ou recorrentes (seguidos de um diagnóstico

médico inicial). Tais medicamentos, em todos os casos, devem ser

especificamente destinados ao uso proposto, requerendo doses apropriadas.

Devem conter as seguintes informações: modo de usar; efeitos e possíveis

efeitos colaterais; como os efeitos do medicamento podem ser monitorados;

possíveis interações medicamentosas; precauções e advertências; duração do

tratamento e quando o profissional de saúde deverá ser procurado.

Existem, portanto, divergências no que se refere a este conceito. Ainda no

âmbito da utilização de medicamentos sem receita médica, Britten (1996) amplia ainda

mais esse conceito e considera também como automedicação a reutilização de sobras de

Page 19: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

11

medicamentos e o aproveitamento de prescrições anteriores que, em determinada

situação foram adquiridos com receita médica, porém estão sendo utilizados em ocasião

similar pelo paciente, englobando os medicamentos isentos de prescrição. O autor ainda

considera como automedicação as tomadas de decisões de pessoas leigas quanto aos

medicamentos, incluindo a escolha de fórmulas e posologia ou suas alterações de

responsabilidade própria.

Se por um lado utilizar medicamentos por influência de pessoas não habilitadas

para tal função ou o consumo por conta própria caracteriza automedicação, a busca pelo

bem-estar e pela promoção da saúde por meio exclusivo de medicamentos caracteriza o

uso indiscriminado, porém as duas condutas podem levar ao consumo excessivo,

trazendo todos os riscos e problemas pertinentes a essa prática. Isso apenas fortalece o

fato de que o Brasil tem sido um dos países que mais consomem medicamentos em todo

o mundo, atentando para o grave problema de saúde pública que essa prática se tornou

(SANTOS, 2012).

A portaria nº3916 de 30 de outubro de 1998 tem como prática de automedicação

o uso de medicamento sem prescrição do médico ou dentista. Ainda assim, conceitua

prescrição como sendo a determinação (por profissionais credenciados) do

medicamento a ser utilizado pelo paciente incluindo sua posologia, perante a elaboração

de uma receita médica (Brasil 1998).

A lei que regulamenta a atividade da Odontologia no Brasil Lei nº 5.081/1966

determina que o cirurgião-dentista pode aplicar e prescrever algumas fórmulas

farmacêuticas, incluindo medicamentos de urgência em casos em que a vida do paciente

esteja em risco (Brasil, 1966). Ainda assim, a Portaria SVS/MS nº 344/1998 dispõe da

autorização para o cirurgião-dentista prescrever medicamentos de controle especial para

o uso na Odontologia (Brasil, 1998).

A Lei nº 7.498/1986 dá plenos direitos ao profissional enfermeiro que, quando

integrar uma equipe de saúde, poderá prescrever medicamentos que estejam previstos

em protocolos de rotinas dos estabelecimentos de saúde (Brasil, 1986).

A RDC nº 586/2013 do Conselho Federal de Farmácia (CFF) regulamenta a

prescrição farmacêutica frente a algumas situações. Desta forma o farmacêutico,

visando recuperar a saúde e prevenir outros problemas pertinentes ao bem-estar do

paciente poderá praticar a prescrição de medicamentos, incluindo outros produtos que

exerçam finalidade terapêutica, dos quais não tenha exigência e prescrição médica. O

contrário pode ser realizado quando houver a existência de um diagnóstico previamente

Page 20: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

12

determinado por um prescritor credenciado que atue em equipe de instituições de saúde,

que possuam normas técnicas e protocolos previamente aprovados nessas instituições

(Brasil, 2013).

A Portaria nº 3916/1998 dispõe dos medicamentos de venda livre, que são

aqueles que não necessitam de receita médica para sua dispensação. Esse conceito deve

ser levado em consideração no que se refere à prática da automedicação, uma vez que

são responsáveis por boa parte de prevalência em estudos sobre tal prática (Brasil,

1998).

Nesse contexto, o cenário da prescrição no Brasil não beneficia, nem tão pouco

considera a prescrição do profissional de enfermagem que, mesmo amparado pela lei

não tem validade. O mesmo acontece com o profissional farmacêutico que, tento vasto

conhecimento acerca de medicamentos, interações medicamentosas/alimentares, efeitos

adversos, posologia e formas farmacêuticas adequadas, tem o seu direto negado até

mesmo quando ocorrem situações em que ao indicar algum medicamento considerado

isento de prescrição, que não esteja acompanhado por autorização médico-odontológica

é considerado automedicação. Desta forma, a prescrição no Brasil contempla apenas o

médico e o dentista.

2.1.4 Reações adversas a medicamentos (RAM)

Influenciada por amigos, parentes e pela mídia, a prática de automedicação

oferece risco à população quanto à interação medicamentosa, intoxicação

medicamentosa, resistência bacteriana, alergias, dependência farmacológica além de

mascarar possíveis patologias.

A Organização Mundial de Saúde define Reações Adversas a Medicamentos

(RAM) como sendo:

―Qualquer resposta a um fármaco que é nociva e não intencionada e que se

produz a doses utilizadas normalmente nos seres humanos para a profilaxia,

diagnóstico ou tratamento de uma enfermidade ou para a modificação das

funções fisiológicas‖ (WHO, 1972). (p.1)

Diversas condições podem desencadear as reações adversas aos medicamentos

como dosagem do medicamento, hábitos sociais, estado nutricional, extremos de idade,

fatores hereditários e polifarmácia. As RAM’s podem ser originadas por dependência

farmacológica, reações de toxicidade, reações alérgicas, teratogênese e reações

Page 21: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

13

farmacodinâmicas. O Programa de Farmacovigilância foi criado com o intuito de

acompanhar e controlar as reações adversas de forma a evitar também possíveis

interações medicamentosas e mensurar o risco do uso irracional de medicamentos, desta

forma, transmitindo informações corretas e seguras quanto ao uso correto de

medicamentos entre a população, com o auxílio dos profissionais de saúde habilitados

(ZANINI, 2001).

Deste modo, a seguir, serão descritos com mais clareza cada um desses fatores.

a) Interação Medicamentosa

A interação medicamentosa é o resultado farmacológico advindo da união de

dois medicamentos que são prescritos separadamente, promovendo o aumento, a

diminuição e até mesmo o aparecimento de um novo efeito que não ocorreria se um dos

medicamentos tivesse sido administrado em outro momento (BRASIL, 2003).

Há uma grande probabilidade de ocorrer interação medicamentosa quando há

prescrição com até dois medicamentos com fórmulas diferentes e essa possibilidade

pode ser de 100% quando a prescrição com seis princípios-ativos ou mais, ou seja,

quanto mais medicamentos possui uma receita, maior a possibilidade de ocorrer Aa

interação. Sabe-se que interações medicamentosas intencionais podem ser utilizadas a

fim de potencializar o efeito de alguns medicamentos especialmente aqueles para tratar

a depressão (BALEN et al., 2017).

O fato de que alguns medicamentos sejam isentos de prescrição não exime que

esses tragam riscos a seus usuários (ARRAIS et al., 2016).

b) Intoxicação Medicamentosa

Define-se intoxicação medicamentosa a sequência ou conjunto de reações que

aparecem em forma de sintomas originados do uso incorreto ou da estrapolação da dose

terapêutica de um medicamento.

No ano de 1980, foi criado pelo Ministério da Saúde, o Sistema Nacional de

Informações Toxicológicas que, vinculado à Fiocruz, prestaria informações à

profissionais de saúde e à população acerca de medicamentos e assuntos relacionados.

Desta forma, a partir de 1985, o SINITOX/FIOCRUZ passou a divulgar balanços anuais

contendo informações sobre casos de intoxicação humana. O sistema recebe

informações voluntárias de intoxicações por medicamentos, envenenamentos,

Page 22: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

14

intoxicações por produtos domissanitários, produtos químicos industriais, animais

peçonhentos, drogas de abuso dentre outros (FIOCRUZ, 2005).

De acordo com a Fiocruz, as classes medicamentosas dos antigripais,

benzodiazepínicos, antidepressivos e anti-inflamatórios são as campeãs de relatos de

casos de intoxicação no Brasil. Em 2015 foram registrados 28.778 casos de intoxicação

humana devido ao uso irresponsável de medicamentos, causando a morte de 81 pessoas

(FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ, 2016).

c) Resistência Bacteriana

A resistência aos antibióticos ocorre quando uma cepa microbiana sofre mutação

genética diante de doses superiores as recomendadas a humanos. Dessa forma, as

bactérias se multiplicam ficando assim, protegidas dos efeitos dos antimicrobianos

acarretando sua multiplicação, dificultando o tratamento e consequentemente a cura de

determinada doença (WHO, 2009).

A OMS afirma que metade das prescrições de antibióticos são indevidas (WHO,

2006). Em trabalho realizado por Nicolini (2008) dados preocupantes mostram que dois

terços dos antibióticos são consumidos sem prescrição, além de causar diversas reações

adversas e interações medicamentosas pelo não conhecimento dos seus efeitos. Corrêa

(1998) afirma que alguns antibióticos podem diminuir os efeitos de anticoncepcionais

orais.

Nesse contexto repetir prescrições antigas de forma a utilizar o mesmo

antibiótico quando apresentar os mesmos sintomas, administração errada da dose ou

concentração e/ ou interrupção do tratamento com o desaparecimento dos sintomas,

podem desencadear uma série de problemas quanto ao efeito dos antibióticos fazendo

com que os pacientes recorram a antibióticos mais potentes por não conseguirem

eficácia em tratamentos futuros (TELLES FILHO et al., 2013).

No Brasil, está em vigor a RDC 20/2011 da ANVISA que dispõe da prescrição,

dispensação e controle de antimicrobianos perante retenção de receituário de controle

especial em duas vias válida para farmácias comerciais, farmácias de manipulação e

também farmácias públicas municipais, estaduais e federais. As embalagens primárias,

secundárias e a bula dos medicamentos contendo antimicrobianos devem conter em

caixa alta e negrito a frase “VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SÓ PODE SER

VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA” (BRASIL, 2011).

Page 23: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

15

d) Reações Alérgicas

Estima-se que um terço das reações adversas sejam as reações alérgicas

(DEMOLY, 2001). As alergias aos medicamentos podem ser apresentadas por diversas

vias, porém sua manifestação mais comum é pela pele. Medicamentos como o ácido

acetilsalicílico (AAS), anti-inflamatórios não hormonais (AINH), alguns antibióticos e

relaxantes musculares podem causar angioedemas, urticária, anafilaxia dentre outros

tipos de alergia (BERND, 2005). Grande parte das reações alérgicas não é notificada,

dificultando uma maior precisão da sua incidência, uma vez que boa parte dos pacientes

que sofrem alergias a medicamentos não está hospitalizada. A frequência das reações

alérgicas é aumentada quando o paciente apresenta alguma infeção viral, como é o caso

dos pacientes infectados pelo Human Immunodeficiency Virus (HIV) que aumenta em

10 vezes em relação àqueles que são HIV negativo (SCHNYDER, 1997).

2.1.5 Importância da determinação da prevalência e fatores para as políticas de

saúde publica

A determinação da prevalência de automedicação e seus fatores associados é um

fator de grande importância, tanto para a população quanto para o poder público e

autoridades sanitárias locais, pois, além de poder desenvolver ações de sensibilização e

conscientização quanto ao uso irracional de medicamento, visa também diminuir gastos

na área da saúde, pois, se por um lado, a automedicação responsável desafoga hospitais

e postos de saúde, por outro existe a economia no que tange aos efeitos indesejados que

o uso indiscriminado de medicamentos pode causar.

O programa Farmácia Popular, o QualifarSUS e a lei de regulamentação dos

genéricos foram algumas das estratégias usadas pelo governo federal para melhorar o

acesso aos medicamentos, importante investir em assistência farmacêutica para que

assim a população possa usufruir de forma racional desses benefícios (BERTOLDI et

al., 2016).

Criado pelo Ministério da Saúde no ano de 2007, o Comitê Nacional Para

Promoção do Uso Racional de Medicamentos (URM) sugere ações e estratégias a fim

de formular, avaliar e fiscalizar competências que estejam relacionadas ao uso racional

de medicamentos em todo o país, em conformidade com as políticas nacionais de

medicamentos e assistência farmacêutica, de forma que se amplie a capacitação de

Page 24: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

16

profissionais e em conjunto aumente o acesso a medicamentos eficazes, assegurando a

qualidade e segurança dos usuários (BRASIL, 2007).

Em setembro de 2012, a ANVISA realizou uma audiência pública com

finalidade de discutir a obrigatoriedade da apresentação de receita médica para

medicamentos com tarja vermelha com a finalidade de controlar seu uso indiscriminado

(BRASIL, 2012). Os medicamentos de tarja vermelha correspondem a 65% do

mercado, porém pelo fato de exigirem apenas a apresentação da receita e não a retenção

da mesma surge a dificuldade de fiscalização e controle, pois, isso induziria o uso de

receituário antigo e até mesmo receitas de outros pacientes, uma vez que não é

necessária a presença do paciente na hora da compra da medicação (SANTOS, 2012).

2.1.6 Estimativas de prevalência da automedicação e fatores associados

Na década de 1970 se iniciaram no Brasil estudos de utilização de

medicamentos, determinando, além do consumo, índices de automedicação (LAPORTE

1989).

A partir da década de 1990 três estudos sobre automedicação contemplaram o

país como um todo (ARRAIS, 1997; CARVALHO, 2005; ARRAIS, 2016). Porém

existem diversos estudos de base populacional que abrangem municípios, instituições de

saúde e de ensino.

Diversos fatores dificultam as estimativas de automedicação, tais como estudos

que contemplam populações restritas como estudantes da área da saúde, gestantes,

idosos, adolescentes ou quando estabelecem apenas a uma classe medicamentosa como:

prevalência da automedicação em antibióticos, ou automedicação de descongestionantes

nasais. Além disso, há um viés no campo da individualidade e particularidade,

participantes de pesquisas se veem sujeitos a relatar situações onde a vergonha ou o

julgamento alheio podem estar em jogo fazendo com que haja uma rejeição ou omissão

de dados no momento da coleta de dados (LOPES, 2003). Outro fator importante é a

qualidade metodológica, que está intimamente ligada à resposta que propõe cada

objetivo além da escolha adequada da técnica estatística. A variação do período

recordatório, a heterogeneidade da faixa etária e também as características individuais

dos sujeitos são fatores que podem elucidar a variação da prevalência de automedicação

em diversos estudos, onde se deve considerar diferenças culturais e socioeconômicas de

cada, região, estado ou país (DOMINGUES, 2015).

Page 25: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

17

Outra questão a ser considerada refere-se aos medicamentos isentos de

prescrição (MIP) que, por diversos autores, são considerados automedicação. Os MIPs

estão disponíveis nas farmácias e drogarias na forma de autosserviço, estes, por não

necessitarem de receita médica são sinalizados por não apresentarem tarjas em sua

embalagem secundária, o que facilita sua identificação e automaticamente o diferencia

dos demais. Os MIPs devem apresentar segurança e eficácia ao cumprirem exigências

legais e rígido controle de qualidade determinados pelos órgãos de saúde competentes.

A RDC nº 98 de 1º de agosto de 2016 dispõe de normas a serem cumpridas e, para que

um medicamento seja enquadrado como MIP alguns quesitos devem ser cumpridos, tais

como: possuir um baixo poder de toxicidade e de interação medicamentosa, quando

possuir reações adversas que estas sejam conhecidas, os MIPs devem ser utilizados para

doenças que não tenham alta gravidade ou evolução e que contemplem um período

curto, ou seja, não podem ser utilizado de forma contínua, assim não podem causar

dependência química ou psíquica oferecendo baixo risco ao paciente (BRASIL, 2016).

A auto percepção da própria saúde é um fator importante a ser considerado em

estudos sobre automedicação, pois, indica o nível do uso irracional ou o uso

indiscriminado de medicamentos, uma vez que o paciente que tem a convicção que o

seu estado de saúde não é bom vai à busca de medicalizar-se com a intenção de

solucionar problemas sem a convicção de que pode estar entrando em um ciclo vicioso

julgando não necessário à procura de um profissional habilitado, principalmente em

casos onde os resultados esperados são positivos, isso faz com que utilizem novamente

desse recurso (SANTOS et al., 2013).

2.1.7 Prevalências mundiais

O consumo é uma prática intrínseca do ser humano. O direito de decisão, a

busca por qualidade de vida, alívio de sintomas e a possível cura de enfermidades dentre

outros fatores pode ter sido o ponto chave para que a automedicação se tornasse um

problema de saúde mundial.

Foram encontradas diversas pesquisas mostrando alta variação da prevalência de

automedicação: desde 7,3% a 97,8% (GARCIA-MILIÁN, 2009; AL-HUSSAINI,

2014).

Page 26: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

18

Estudos internacionais mostram que a prevalência da automedicação é

dependente de diversos fatores populacionais. Um estudo cubano mostrou prevalência

geral de automedicação de 7,3% e que a prevalência foi maior em pacientes do sexo

feminino com idade superior a 30 anos (GARCÍA MILIÁN, 2009). Na Espanha a

prevalência foi de 53% e esteve associada a pessoas que vivem sozinhas residentes de

grandes cidades, com mais de 40 anos de idade (FIGUEIRAS, 2000). Na Grécia notou-

se a prevalência da automedicação em 23,37% dos participantes acima de 65 anos de

idade e com mínimo grau de instrução concluído (ATHANASOPOULOS, 2013). Na

Índia a prevalência geral da automedicação foi de 11,4% sendo mais prevalente em

pacientes do sexo masculino 58,6% maiores de 40 anos (SELVARAJ, 2014). Em

Portugal a prevalência da automedicação foi de 26,2% sendo mais elevada no sexo

masculino com idade até 49 anos e em pacientes com nível superior. Quase metade dos

participantes que procuram um farmacêutico quando apresentaram um problema de

saúde praticavam automedicação (MENDES, 2004). Estudo realizado na Colômbia

mostra prevalência de automedicação de 77,5%, sendo que destes 1/4 recomendaria

medicamentos a outras pessoas (MACHADO-ALBA, 2014). Na França, 67,3%

referiram automedicação em estudo realizado em 11 prontos-socorros, e afirmaram que

maior parte dos medicamentos foi adquirida em drogarias comerciais (ASSERAY

2013). Um estudo Polonês mostrou que um terço dos indivíduos vai regularmente às

farmácias para comprarem medicamentos isentos de prescrição (WOZNIAK-

HOLECKA, 2014). Na Alemanha, a prevalência de automedicação foi de 27,7% onde a

automedicação está ligado ao alto status social (KNOPF, 2013).

2.1.8 Prevalência no Brasil

Nas últimas décadas, três pesquisas com o objetivo de investigar a prevalência

de automedicação foram realizadas ao nível nacional.

Arrais, et. al (1997) traçou o perfil da automedicação no país em estudo

realizado em três grandes capitais brasileiras, São Paulo, Fortaleza e Belo Horizonte,

onde analisou a venda de medicamentos sem prescrição ou com prescrições anteriores,

os resultados encontrados pelo pesquisador afirmam que a automedicação no Brasil teve

prevalência geral de 44,10%, sendo que 59% eram do sexo feminino, 40% dos

participantes afirmaram reutilizar prescrições anteriores e 30% dos medicamentos foram

comprados para uso familiar.

Page 27: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

19

Em estudo realizado por Carvalho et al. 2005, 24,6% dos entrevistados

afirmaram praticar automedicação. Pacientes com grau de instrução mais alto tinham

hábito de manter medicamentos guardados em casa, a prevalência também se mostrou

maior no sexo feminino. A presença de ao menos uma doença crônica esteve associada

à prática de automedicação.

A Pesquisa Nacional de Utilização de Medicamentos (PNAUM) realizada no

Brasil em 2014 é a primeira pesquisa no país de representatividade nacional. O estudo

foi realizado em diferentes regiões do Brasil com 41.433 pessoas entrevistadas. Essa

pesquisa permitiu investigar e avaliar o impacto das políticas públicas sobre o uso dos

medicamentos no Brasil. Com prevalência geral de automedicação de 16,1% no Brasil a

pesquisa mostra que pacientes do sexo feminino e com faixa etária entre 20-39 anos que

possuem uma ou mais doenças crônicas são as que mais se automedicam. A prevalência

da automedicação foi maior nas regiões nordeste e centro-oeste do país (ARRAIS,

2016).

Nota-se que nos três estudos sobre automedicação realizados no país a

prevalência de automedicação foi maior em pacientes do sexo feminino. Assim como

pesquisa realizada na Colômbia (MEÍJA, 2017) é sabido que as mulheres ao longo da

vida estão mais propensas ao uso de medicamentos pelo fato de que desde cedo, por

fatores pertinentes do sexo feminino, utilizam mais medicamentos para cólicas

menstruais, dores de cabeça, dores musculares e anticoncepcionais (ARRAIS, 2016).

Quanto aos fatores associados, em concordância com pesquisa francesa

(ASSERAY, et Al. 2013) participantes afirmam reutilizar prescrições antigas, utilizar

medicamentos por indicação de parentes e amigos ou pessoas não habilitadas, o hábito

de manter medicamentos guardados em casa está de acordo com achados em estudo

realizado na colômbia (MACHADO-ALBA et. Al., 2014), e a presença de uma ou mais

doenças crônicas foram os fatores associados citados nesses três estudos.

Com prevalência variando entre 16,1% a 44,10% o Brasil apresentou valores

inferiores aos encontrados em estudo realizado na Argentina 77% (STOLBIZER, 2018).

Observa-se, portanto, que, com o passar do tempo à prevalência de

automedicação no Brasil diminuiu consideravelmente, podendo ser resultados dos

Page 28: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

20

programas criados pelo governo, juntamente com os profissionais de saúde com o

intuito de orientar e alertar a população quantos aos riscos causados por tal prática.

2.1.9 Prevalência em Santa Catarina

A região Sul do Brasil se destaca pela quantidade de publicações sobre o tema

em questão em relação ao restante do país. Estudos de base populacional em Santa

Catarina intensificaram-se a partir de 2010 e chamam atenção pela alta prevalência de

automedicação. As prevalências encontradas nos estudos em Santa Catarina

apresentaram variações entre 35,71% (DA SILVA, 2013) e 96,0% (GALATO, 2012) e

estão acima da média de pesquisas ao nível nacional.

Estudo realizado entre estudantes de medicina e direito de uma Universidade

privada de Tubarão – SC mostra que a prevalência da automedicação foi 72,5%, vários

fatores como a renda familiar acima de 9 salários mínimos, ser estudante de medicina e

ter familiares profissionais de saúde fizeram com que esse índice fosse alto

(SCHUELTER-TREVISOL, 2011).

Outro estudo com alunos de diferentes áreas de uma Universidade do sul de

Santa Catarina encontrou um elevado índice de estudantes que praticam automedicação

(96%). Diversos fatores estiveram associados a esta prática como: sexo feminino,

possuir plano de saúde, influência da mídia, utilização de prescrições antigas, a

influência de farmacêuticos, atendentes de farmácia, familiares e amigos foram

significativas para os participantes que não eram dos cursos da área da saúde, já aqueles

que eram da área da saúde o conhecimento próprio se mostrou significativo em relação

à prática da automedicação (GALATO, 2012).

Em pesquisa realizada em uma Estratégia da Saúde da Família (ESF) em

Campos Novos, situado no meio oeste de Santa Catarina, Ascari (2018) constatou que a

prevalência da automedicação foi de 71%, destes, 66% eram do sexo feminino, 92% dos

participantes afirmaram ter feito uso de prescrições anteriores ao menos uma vez. 51%

disseram guardar medicamentos em casa para uma eventual necessidade. Entre os

principais motivos que levaram os indivíduos a se automedicar estão à facilidade de

obtenção dos medicamentos sem receituário, a segurança de utilizar medicamentos sem

orientação de um profissional de saúde e a falta de tempo para procurarem os serviços

de saúde.

Page 29: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

21

Em Laguna-SC foi realizado um estudo para determinar a prevalência da

automedicação para a dor. 78,3% dos participantes afirmaram fazer uso desse tipo de

medicamento. A intensidade da dor foi o fator relatado pela maioria dos participantes. A

auto-percepção da saúde e a presença de doenças crônicas tiveram associação negativa à

prática de automedicação (DEMÉTRIO, 2012).

Fontanella (2013) determinou em pesquisa realizada entre estudantes de em uma

Universidade privada de Palhoça-SC que a prevalência da automedicação foi de 51,5%.

Neste estudo, indivíduos mais jovens foram os que mais se automedicaram.

Outra pesquisa realizada com professores do 1º ao 5º ano de 5 Escolas

Municipais de Educação Básica de Tubarão-SC, a prevalência de automedicação foi de

35,71%. O principal fator que esteve associado à prática de automedicação foi a

reutilização de prescrições antigas (DA SILVA, 2012).

Em relação ao período recordatório, os estudos encontrados em Santa Catarina

tiveram uma variação de 7 (FONTANELA, 2013) a 90 dias (SCHUELTER-

TREVISOL, 2011) o que pode ter sido um fator impactante na determinação da

prevalência, diferindo dos estudos nacionais onde os períodos recordatórios foram de 15

dias.

Quanto aos fatores associados, os mais prevalentes em estudos de Santa Catarina

foram o alto poder aquisitivo, nível de escolaridade superior e facilidade de obtenção de

medicamentos, diferindo dos resultados encontrados em estudos ao nível nacional.

Até o presente momento não foi encontrado nenhum estudo sobre

automedicação no município de Navegantes-SC, desta forma, a presente pesquisa é de

grande importância para a população e para as autoridades de saúde afim de que se

tomem providências quanto ao uso indiscriminado de medicamentos.

Page 30: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

22

2.2 METODOLOGIA

2.2.1 Desenho de estudo

Tratou-se de um estudo transversal descritivo e analítico de base populacional,

caracterizado como um levantamento de dados.

2.2.2 Local do estudo

A pesquisa foi realizada no município de Navegantes, localizado no litoral Norte

do Estado de Santa Catarina, Brasil, distante a 92 quilômetros da capital Florianópolis.

(PREFEITURA DE NAVEGANTES, 2017). Possui uma área de 112,029 km². Este

município apresenta quatorze bairros e uma população de 77.137 habitantes (IBGE

2017).

2.2.3 População do estudo

A população de estudo foi composta por adultos residentes e domiciliada no

município, de 20 a 59 anos (BRASIL, 2009), estratificada proporcionalmente pelos

bairros.

2.2.4 Critérios de inclusão/exclusão

Foram considerados critérios de inclusão: adultos de 20 a 59 anos de idade,

residentes e domiciliados no município de Navegantes. Os critérios de exclusão foram:

turistas, pessoas interditadas, indivíduos de nacionalidade estrangeira que não

conheciam a língua portuguesa e pessoas que não estavam em estado de sobriedade.

2.2.5 Seleção da amostra

A amostra mínima foi calculada com base em proporções desconhecidas de

respostas (p=q=0,5), nível de confiabilidade de estimativas de 95% e erro amostral

máximo de 5%, estratificada pelo número populacional de cada bairro (TABELA 1).

Page 31: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

23

Tabela 1 - População estimada de acordo com o bairro, Navegantes - SC, 2017

Bairro Número

habitantes

Amostra

estratificada

n

atingido

Centro 18.463 122 276

São Domingos 11.850 79 157

Machados 9.237 61 124

Gravatá 7.137 47 110

São Paulo 7.091 47 106

Nossa Senhora das Graças 5.813 38 84

Meia Praia 4.863 32 67

São Pedro 3.252 21 43

Escalvados 2.925 19 46

Volta Grande 1.675 12 21

Pedreiras 1.455 10 33

Porto Escalvado 1.368 10 15

Escalvadinho 1.309 6 16

Hugo de Almeida 1.029 6 22

TOTAL 77.467 407 1.120

Fonte: http://populacao.net.br/os-maiores-bairros-navegantes_sc.html.

Nota: modificado pelo autor para contemplar a totalidade dos bairros do município.

2.2.6 Instrumento da pesquisa

O instrumento de coleta de dados foi um questionário contendo cinco blocos

com 26 perguntas adaptado de Arrais (2004) (Apêndice I).

Um estudo piloto foi realizado para testar o instrumento de pesquisa.

BLOCO 1: Perfil Socioeconômico: Sexo, idade, número de pessoas por

domicílio e nível de escolaridade.

BLOCO 2: Hábitos Sociais: Identificação de bebidas alcoólicas, fumo

(tabagismo) e prática de atividade física.

BLOCO 3: Utilização dos Serviços de Saúde: Número de internações

hospitalares nos últimos 12 meses, número de consultas médicas nos últimos 3 meses,

cobertura por plano de saúde.

BLOCO 4: Auto Avaliação em Saúde: Reconhecimento de doenças, noção do

estado de saúde no momento da entrevista.

BLOCO 5: Medicamentos: Realização de perguntas sobre o uso de

medicamentos sem receita médica/dentista, armazenamento de medicamentos em casa,

Page 32: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

24

acesso a medicamentos nas farmácias, influências no momento da compra dos

medicamentos, reações adversas à medicamentos e providências tomadas.

2.2.7 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio a outubro de 2018,

estratificada pelos bairros a partir de visitas domiciliares e no balcão de uma drogaria

comercial no centro do município de Navegantes/SC. Nesta pesquisa foi considerada a

prática de automedicação para aqueles participantes que consumiram ao menos um

medicamento sem receituário médico/odontológico ou utilizaram prescrições antigas

nos noventa dias que antecederam à coleta, excluindo, portanto, os Medicamentos

Isentos de Prescrição (MIP) que, foi calculada apenas para comparação com a literatura.

Os medicamentos declarados pelos participantes foram classificados de acordo

com o Sistema Anatômico e Terapêutico Químico (ATC) (WHO, 2010).

2.2.8 Aspectos Éticos

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

do Vale do Itajaí (UNIVALI) sob o número 2.577.497.

2.2.9 Análise dos dados

Os dados foram tabulados e consolidados em planilha Excel e importados para o

aplicativo Stata 13.

Para a análise descritiva as prevalências foram calculadas em percentuais e seus

respectivos intervalos de confiança de 95%. Para investigar os fatores associados à

automedicação foi utilizada regressão de Poisson robusta, previamente por meio de

análise univariada com retenção das variáveis com p<0,20. Após realizou-se análise

multivariada e foram retidas as variáveis com p<0,05 e apresentadas as razões de

prevalência e respectivos intervalos de confiança de 95%.

2.3 RESULTADOS

2.3.1 Caracterização da amostra

Um total de 1.120 questionários foram aplicados em indivíduos de 20 a 59 anos.

A maioria dos participantes era do sexo feminino (58,7%). Os níveis de faixa etária se

distribuíram uniformemente. A maior parte dos respondentes afirmou morar com mais

Page 33: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

25

pessoas e possuir ensino fundamental ou médio, além de não praticarem exercícios

físicos regularmente, não consumirem acima de quatro ou cinco doses de bebida

alcóolica e não fazerem uso de cigarros. Nos últimos três meses que antecederam à

pesquisa mais da metade dos participantes referiu não ter se consultado com um médico

e quase metade dos participantes afirmou possuir ao menos uma doença crônica não

transmissível.

Quando perguntado sobre a auto percepção da própria saúde quase a totalidade

dos participantes afirmou ter uma boa saúde, 92,7% afirmaram ter utilizado ao menos

um medicamento nos noventa dias que antecederam a aplicação do questionário.

Considerando-se os medicamentos aos quais é obrigatória a prescrição médica, a taxa de

automedicação foi de 35,1%. O percentual de consumo de Medicamentos Isentos de

Prescrição foi de 30,1% (Tabela 2).

Page 34: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

26

Tabela 2 - Caracterização social e de saúde de 1.120 indivíduos adultos, residentes

na cidade de Navegantes, SC, 2018

Variável n % Intervalo de confiança 95%

Sexo

Feminino 657 58,7 54,9-62,5

Masculino 463 41,3 36,8-45,8

Faixa Etária

20-29 269 24,0 18,9-29,1

30-39 301 26,9 21,9-31,9

40-49 268 23,9 18,8-29,0

50-59 282 25,2 20,1-30,3

Grupo familiar

Sozinho 267 23,8 18,7-28,9

Mais pessoas 853 76,2 73,3-79,1

Escolaridade

Fundamental 491 43,8 39,4-48,2

Médio 459 41,0 36,5-45,5

Superior 170 15,2 9,80-20,6

Álcool

Não 786 70,2 67,0-73,4

Sim 334 29,8 24,9-34,7

Atividade Física

Não pratica 583 52,1 48,0-56,2

<150 minutos por semana 307 27,4 22,4-32,4

≥150 minutos por semana 230 20,5 15,3-25,7

Tabagismo

Não 817 72,9 69,8-76,0

Sim 303 27,1 22,1-32,1

Consultas regulares

Não 624 55,7 51,8-59,6

Sim 496 44,3 39,9-48,7

DCNT

Não 619 55,3 51,4-59,2

Sim 501 44,7 40,3-49,1

Saúde

Ruim 120 10,7 5,1-16,3

Boa 1000 89,3 87,4-91,2

Medicamento

Não 82 7,3 1,6-13,0

Sim 1038 92,7 91,1-94,3

Automedicação

Não 730 64,9 61,5-68,3

Sim 394 35,1 30,2-40,0 DCNT= Doença Crônica Não Transmissível

Page 35: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

27

2.3.2 Fatores associados à automedicação

Na avaliação dos fatores associados à automedicação (Tabela 3), a análise

univariada mostrou relação significativa com faixa etária, atividade física, tabagismo,

consultas e autoavaliação da saúde, excluindo-se as variáveis sexo e presença de

doenças crônicas, com valor de p abaixo de 20%. As maiores razões de prevalência

foram encontradas para autoavaliação da saúde e faixa etária.

Page 36: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

28

Tabela 3 - Análise univariada da automedicação com relação às variáveis sociais e

de saúde, de 394 adultos residentes na cidade de Navegantes, SC, 2018

Variável

Automedicação

Não Sim

RP bruta

(IC95%)

p*

% IC95% % IC95%

Sexo

Masculino 62,0 58,3-65,7 38,0 34,3-41,7 1

Feminino 66,8 62,5-71,1 33,2 28,9-37,5 0,87 (0,76-1,06) 0,180

Faixa Etária

20-29 71,0 65,6-76,4 29,0 23,6-34,4 1

30-39 61,5 56,0-67,0 38,5 33,0-44,0 1,33 (1,00,-1,77) 0,052

40-49 60,4 54,5-66,3 39,6 33,7-45,5 1,36 (1,02-1,83) 0,037

50-59 66,7 61,2-72,2 33,3 27,8-38,9 1,15 (0,85-1,55) 0,363

Grupo familiar

Sozinho 61,4 55,5-67,3 38,6 32,7-44,5 1

Mais pessoas 65,9 62,7-69,1 34,1 30,9-37,3 0,88 (0,71-1,11) 0,284

Escolaridade

Fundamental 64,8 60,6-69,0 35,2 31,0-39,4 1

Médio 65,1 60,7-69,5 34,9 30,5-39,3 0,99 (0,80-1,23) 0,922

Superior 64,1 56,8-71,4 35,9 28,6-43,2 1,01 (0,76-1,36) 0,903

Álcool

Não 66,2 62,9-69-5 33,8 30,5-37,1 1

Sim 61,7 56,5-66,9 38,3 33,1-43,5 1,13 (0,92-1,40) 0,248

Atividade Física

Não 61,7 57,7-65,7 34,2 28,9-39,5 1

<150 min/semana 65,8 60,5-71,1 28,7 22,8-34,6 0,89 (0,71-1,13) 0,345

≥150min/semana 71,3 65,7-77,2 38,3 34,3-42,3 0,75 (0,57-0,99) 0,040

Tabagismo

Não 67,4 64,2-70,6 32,6 29,4-35,8 1

Sim 57,8 52,2-63,4 42,2 36,6-47,8 1,29 (1,05-1,60) 0,015

Consultas regulares

Não 60,6 56,8-64,4 39,4 35,6-43,2 1

Sim 70,2 67,8-75,8 29,8 25,8-33,8 0,75 (0,62-0,93) 0,007

DCNT

Não 62,0 58,2-65,8 38,0 34,2-41,8 1

Sim 68,3 64,2-72,4 31,7 27,6-35,8 0,83 (0,68-1,02) 0,081

Saúde

Ruim 53,3 44,3-62,3 33,8 30,9-36,7 1

Boa 66,2 63,3-69,1 46,7 37,7-55,7 0,72 (0,55-0,96) 0,025

*relativo à razão de prevalência bruta na regressão de Poisson; RP: razão de prevalência

DCNT= Doença Crônica Não Transmissível

Após ajustadas as razões de prevalências (Tabela 4), a faixa etária entre 30 e 49

anos se mostrou como fator de risco e a autoavaliação da saúde como fator de proteção.

Page 37: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

29

Mostraram-se próximas à significância o tabagismo como fator de risco e a prática de

150 minutos ou mais de atividade física semanal como fator de proteção. A presença de

doenças crônicas não transmissíveis e consultas regulares influenciaram na prática de

automedicação.

Tabela 4 - Análise multivariada dos fatores associados à automedicação de 394

adultos residentes na cidade de Navegantes, SC, 2018

Variável RP ajustada Intervalo de confiança 95% valor-p

Sexo

Masculino 1

Feminino 0,94 0,77-1,16 0,583

Faixa etária

20-29 1

30-39 1,39 1,04-1,86 0,027

40-49 1,42 1,04-1,94 0,028

50-59 1,32 0,92-1,89 0,131

Atividade física semanal

Não 1

< 150 minutos/semana 0,88 0,69-1,11 0,288

≥150 minutos/semana 0,76 0,56-1,02 0,068

Tabagismo

Não 1

Sim 1,23 0,99-1,53 0,060

Consultas regulares

Não 1

Sim 0,75 0,60-0,93 0,008

DCNT

Não 1

Sim 0,76 0,60-0,96 0,020

Autoavaliação da saúde

Ruim 1

Boa 0,75 0,32-0,71 0,048 DCNT= Doença Crônica Não Transmissível

2.3.3 Prevalência de medicamentos associados à automedicação

Dentre os 394 participantes que realizaram automedicação no período, a classe

de medicamento mais prevalente foi a dos anti-inflamatórios (28,9% de um total de 574

citações de medicamentos), com destaque para a composição de princípios ativos

paracetamol, carisoprodol, diclofenaco sódico e cafeína (10,5%) com ênfase para a ação

anti-inflamatória do diclofenaco sódico. A segunda classe mais prevalente foram os

antihipertensivos (15,2%), com 3,5% de citações para losartana potássica, medicamento

de uso contínuo e a terceira foi a dos medicamentos para sistema genito-urinário e

Page 38: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

30

hormônios sexuais (12,7%) onde o acetato de ciproterona+etinilestradiol e o

levonorgestrel+etinilestradiol tiveram 3,2% de citações cada.

Entre os MIPs, a classe mais utilizada foi a dos analgésicos (44,2% de 172

medicamentos citados), com destaque para o paracetamol e dipirona sódica.

2.3.4 Perfil dos praticantes de automedicação

De um total de 394 indivíduos que se automedicaram a maioria não fez uso de

prescrição antiga. Com relação à obtenção dos medicamentos grande parte dos

respondentes referiu obtê-los em farmácia comercial. Quase a metade dos participantes

afirmou que os medicamentos utilizados foram indicados por amigos e quase a

totalidade referiu que reutilizam os mesmos medicamentos quando apresentam sintomas

semelhantes, além de deixar o medicamento disponível em casa para uma eventual

necessidade.

Quando questionados se solicitaram ou obtiveram alguma orientação do

farmacêutico ou balconista no momento da compra do medicamento, mais da metade

dos participantes relatou que sim, porém pouco mais da metade comentou que essa

orientação não fez com que sua escolha fosse modificada, desta forma, não deixando se

influenciar no momento da compra. Boa parte dos indivíduos comentou utilizar o

medicamento devido à sua eficácia e quase todos os participantes afirmaram que

obtiveram o resultado esperado, dessa forma, mais da metade referiu ter indicado o

medicamento em questão para outras pessoas.

Com relação aos efeitos indesejados causados pelos medicamentos, quase todos

os participantes disseram não sentir nenhum desconforto causado pelo seu uso.

Contudo, as providências tomadas por aqueles participantes que declararam sentir

efeitos colaterais causados pelos medicamentos foram: esperar passar o desconforto,

deitar, tomar água ou não fazer nada.

Page 39: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

31

Tabela 5 - Caracterização dos 394 participantes que se automedicaram na cidade

de Navegantes, SC, 2018

Variável Número % Intervalo de confiança 95%

Prescrição antiga

Não 260 67,2 61,5-72,9

Sim 107 32,8 23,8-41,8

Forma de obtenção

Amigos 53 14,9 5,1-24,7

Farmácia 312 85,1 81,1-89,1

Quem indicou

Amigos 144 41,1 33-49,2

Familiares 7 1,4 9,5-12,3

Farmácia 99 22,3 14-30,6

Médico 89 28,5 19-38

Mídia 26 6,7 3,4-16,8

Reutilização

Não 31 7,9 -2-17,8

Sim 332 92,1 89,2-95

Disponível em casa

Não, procuro unidade de saúde 6 1,9 12,4-16,2

Não, compro quando preciso 145 37,2 29,3-45,1

Sim 214 60,9 54,3-67,5

Obteve orientação

Não 39 10,6 0,6-20,6

Às vezes 54 15,1 5,3-24,9

Sim 270 74,3 69,1-79,5

Mudança na escolha

Não 179 58,0 50,7-65,3

Sim 147 42,0 34-50

Fator influente

Atendente 23 4,4 4,5-13,3

Dentista 1 0,3 -

Farmacêutico 77 17,6 9-26,2

Médico 82 26,4 16,7-36,1

Eficácia 123 34,9 26,4-43,4

Praticidade 59 16,4 6,8-26

Obteve resultado

Não 3 0,9 22,6-24,4

Sim 362 99,1 98,1-100,1

Indicou a terceiros

Não 144 42,1 34-50,2

Sim 221 57,9 51,4-64,4

Efeito Colateral

Não 326 90,6 87,4-93,8

Sim 37 9,1 0,5-18,7

Page 40: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

32

2.3.5 Distribuição espacial da prevalência de automedicação

O município de Navegantes-SC possui 14 bairros. As maiores prevalências de

automedicação foram nos bairros Centro, São Domingos, São Paulo e Machados

(Tabela 6).

Tabela 6 - Prevalência de automedicação nos bairros. Navegantes, SC, 2018

Bairro Número Percentual

Centro 111 28,2

São Domingos 49 12,5

São Paulo 48 12,2

Machados 41 10,4

Nossa Senhora das Graças 33 8,4

Gravatá 30 7,6

Meia Praia 26 6,6

São Pedro 16 4,1

Escalvados 10 2,5

Hugo de Almeida 10 2,5

Pedreiras 6 1,5

Porto Escalvado 6 1,5

Volta Grande 5 1,3

Escalvadinho 2 0,7

Total 393 100,0

2.4 DISCUSSÃO

Notou-se, em diversos trabalhos analisados, a diversidade de metodologias e as

variações de prevalência de automedicação. Foram encontrados altos índices de

prevalência em trabalhos publicados no Brasil (CARVALHO, 2005; SCHUELTER-

TREVISOL, 2011; DA SILVA, 2013;) e no mundo (FIGUEIRAS, 2000; GARCÍA

MILIÁN, 2009), fato esse que pode ser justificado por alguns fatores como: período

recordatório e a abrangência do conceito de automedicação. O período recordatório é

um fator influente na estimativa de prevalência (ALHOMOUD et al., 2017), pois

estudos com períodos mais longos, como o da presente pesquisa, podem levar ao

acúmulo de lembranças e consequentemente aumento da estimativa (SELVARAJ,

2014). Pesquisa na Índia que utilizou período recordatório de noventa dias sem

considerar MIPs resultou em prevalência de 11,9% (SELVARAJ, 2014). Em

contrapartida, a OMS afirma que, para este tipo de estudo um período recordatório de

sete dias facilitaria a compreensão do entrevistado, diminuindo o viés existente em

Page 41: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

33

relação à memória no momento da aplicação do questionário, desta forma, a diversidade

de metodologias explica essa variação (OMS, 2004).

Quanto à abrangência do conceito de automedicação, algumas pesquisas

nacionais e internacionais consideraram os medicamentos isentos de prescrição como

sendo prática de automedicação (MATOS, 2018; STOLBIZER, 2018). No presente

estudo, o uso de medicamentos isentos de prescrição não foi considerado como prática

de automedicação onde, 35,1% praticou automedicação, valor próximo ao de 37%

encontrado em uma pesquisa realizada em São Paulo (SCHIMID, 2010), a qual também

não considerou MIP.

O presente estudo apresentou prevalência de automedicação maior em

indivíduos do sexo masculino, resultado similar a estudo nacional (LOYOLA FILHO,

2002) e internacional (WIJESINGHE, 2012; SELVARAJ, 2014), porém sem diferença

estatística significativa. Nestes estudos a maior prevalência entre homens pode ser

justificada pelo fato destes não se preocuparem tanto com a própria saúde, deixando de

procurar os serviços de saúde em busca de suporte adequado quando necessário e por

não poder se ausentar do trabalho por períodos mais longos, desta forma, não têm

disponibilidade de buscar ajuda quando necessário.

Com relação à faixa etária, os indivíduos entre 40-49 anos foram os que mais se

automedicaram, assim como na pesquisa realizada por Da Silva et al. (2013),

considerando-se que indivíduos de todas as faixas etárias adquirem, ao longo da vida,

algumas doenças autolimitadas que são caracterizadas por terem um período limitado e

determinado, ou seja, são doenças que acometem o ser humano e são praticamente

impossíveis de evitar (ARRAIS, 2016).

Quanto aos indivíduos que moram com mais pessoas, os resultados mostraram

que não houve diferença significativa, desta forma, observa-se que os participantes que

praticaram automedicação e que não moram sozinhos não sofreram influência de

familiares e possivelmente não utilizaram sobra de medicamentos anteriores, resultado

diferente do encontrado por Abrahão (2013) que encontrou diferença significativa duas

vezes maior em escolares pertencentes às famílias com hábito de utilizar medicamentos,

do que os escolares de famílias que não tinham esse costume.

Nesta pesquisa, a maior parte dos participantes referiu ter ensino fundamental

completo, diferindo dos resultados encontrados em outros estudos, onde os indivíduos

com menor grau de escolaridade e menor conhecimento acerca dos danos causados pela

Page 42: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

34

prática da automedicação tendem a maior prevalência (FIGUEIRAS, 2000; MENDES,

2004; CARVALHO, 2005; ATHANASOPOULOS, 2013).

Em relação aos hábitos sociais, os indivíduos com hábito de fumar, praticaram

1,2 mais vezes automedicação do que aqueles que não fumam, este resultado também

foi encontrado nas pesquisas de Abrahão (2013) e Matos (2018). Sabe-se que o tabaco

oferece inúmeros prejuízos à saúde, além de causar interações com diversos

medicamentos de forma a induzir o aumento das enzimas do citocromo P450 no fígado

e, desta forma, alterando a eficácia dos medicamentos (TATRO, 2007). Contudo, a

quantidade de cigarros fumados por dia está proporcionalmente ligada a alterações

metabólicas de diversos fármacos (KROON, 2007).

O consumo de álcool também está associado à prática de automedicação,

participantes de uma pesquisa informaram utilizar medicamentos para amenizar os

sintomas da ressaca e afirmaram ainda que o único risco que tinham conhecimento eram

de que o álcool poderia diminuir/excluir o efeito dos medicamentos. No que diz respeito

à atividade física, esse trabalho se mostrou como fator de proteção, uma vez que a

prevalência foi menor em indivíduos que praticavam atividade física semanal. Os

indivíduos que tem o hábito de se exercitarem regularmente além de promover a saúde

do corpo e da mente também evitam o envelhecimento precoce, as doenças

cardiovasculares, aumentando a qualidade de vida na fase adulta e, consequentemente

consumindo menos medicamentos (BORBA, 2018).

A presente pesquisa mostra que os indivíduos que realizaram consultas médicas

e referiram doença crônica apresentaram uma menor prevalência de automedicação. De

acordo com Schimid (2010) esse resultado pode ser explicado pelo fato de que, ao

passar por consulta médica e adquirir receituário o indivíduo não está praticando

automedicação, além de que para o fornecimento de qualquer medicação na rede

pública é necessário à apresentação da receita e em casos mais específicos sua retenção,

o mesmo ocorre para doenças crônicas, pois, uma vez que o paciente consulta o

profissional de saúde, com o intuito de renovar a receita, ele é retirado da estatística

daqueles que praticam automedicação.

Os indivíduos que referiram ter uma boa saúde se automedicaram menos, e

concordando com os resultados encontrados por De Santa Helena (2018) e diferindo dos

relatados por Bertoldi (2016) em estudo realizado em Pelotas-RS, onde os participantes

afirmaram ter uma percepção ruim ou muito ruim da própria saúde. A auto-avaliação da

saúde é um dado utilizado em diversos estudos sobre automedicação, pois possibilita

Page 43: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

35

conhecer a qualidade de vida do paciente, obter informações quanto à sua saúde e seus

hábitos de vida, informações estas que irão influenciar nas escolhas e decisões, desta

forma, os indivíduos que se automedicam mais tem uma percepção ruim da própria

saúde (PAGOTTO, 2011).

Dentre aqueles que utilizaram algum tipo de medicamento, 35,1% praticaram

automedicação pelo fato de utilizarem medicamentos sem receituário e 337 ou 30,1%

dos indivíduos se automedicaram fazendo uso de medicamentos isentos de prescrição.

Estudos nacionais (DOMINGUES, 2015; SOUZA, 2017; FREITAS, 2018; MATOS,

2018) e internacionais (MEIJA, 2017; STOLBIZER, 2018; AZIZ, 2018; ROJAS-

ADRIANZÉN, 2018) consideraram como automedicação o uso de medicamentos

isentos de prescrição, dessa forma, obtendo também altas prevalências.

Em concordância com os trabalhos de Prado (2016), Gama (2017), Lima (2018)

e Matos (2018) a classe medicamentosa mais utilizada foram os anti-inflamatórios não-

esteroidiais (AINES), devido à sua eficácia e ao seu potente efeito anti-inflamatório,

analgésico e antitérmico. Os anti-inflamatórios são facilmente adquiridos e são

utilizados por todas as idades, isso faz com que seu consumo seja elevado, porém sua

eficácia não isenta os diversos efeitos colaterais que podem ser causados pelo seu uso

indiscriminado, como distúrbios renais e hepáticos, dores abdominais, desconforto

gastro intestinal, entre outros (KARYNA, 2016). Nesta classe medicamentosa destaca-

se o maior uso do paracetamol mais carisoprodol mais diclofenaco sódico mais cafeína,

em seguida a nimesulida e o diclofenaco. A segunda classe medicamentosa mais

utilizada foram os anti-hipertensivos, com destaque para a losartana, atenolol e

captopril, resultados semelhantes foram encontrados em pesquisa realizada no interior

de São Paulo (FLEITH, 2008).

Quanto aos medicamentos isentos de prescrição, a classe medicamentosa mais

utilizada foram os analgésicos, com destaque para o paracetamol e a dipirona, resultados

semelhantes ao encontrados por Arrais (2016). Os analgésicos são a classe

medicamentosa mais utilizada no Brasil e no mundo, eles agem promovendo o bloqueio

dos estímulos que causam a dor, inibindo tanto no local quanto no sistema nervoso

central (MIYAKE et al., 1998). Outra classe muito utilizada pelos praticantes de

automedicação foram os relaxantes musculares. Estes medicamentos são muito

utilizados em associação com os anti-inflamatórios, eles possuem amplo expectro no

combate da dor crônica e também cefaleia tensional, estando entre os cinco

medicamentos mais vendidos no país (DUNCAN, 2013). Nesta pesquisa o relaxante

Page 44: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

36

muscular mais utilizado foi a dipirona mais citrato de orfenadrina mais cafeína,

resultados semelhantes foram encontrados por De Oliveira Rocha (2017).

A análise multivariada dos fatores associadas à automedicação mostrou que os

participantes da pesquisa entre 30 e 49 anos apresentaram razão de prevalência

significativamente superior à faixa de referência (20 a 29 anos), resultado semelhante ao

encontrado em estudo realizado no município de Tubarão-SC (DA SILVA, 2013).

Como fator de proteção observou-se que aqueles participantes que referiram ter

uma percepção boa da própria saúde se automedicaram menos, resultado também

encontrado por Bertoldi (2014). Para aqueles indivíduos com hábito de fumar houve

uma tendência de maior prática de automedicação, assim como resultados encontrados

por Abrahão (2013) e Matos (2018). Atividade física mostrou uma tendência (p

próximo a 0,05) de prevalência menor de automedicação em indivíduos com 150 ou

mais minutos de atividade semanal, resultado este que pode ser visto em pesquisa

realizada por Sá (2007), onde indivíduos que não praticaram atividade física se

automedicaram mais.

Os participantes que realizaram consultas nos últimos três meses que

antecederam à aplicação do questionário e referiram alguma doença crônica não

transmissível mostraram menor prevalência de automedicação em concordância com a

pesquisa de Loyolla Filho (2002), porém um estudo realizado no Canadá mostrou

associação negativa quanto ao uso de serviços públicos de saúde e a prática de

automedicação (SEGALL, 1990). Estudo conduzido por Vilarino (1998) ressalta que

doenças crônicas mais graves necessitam de tratamento com medicamentos que exigem

receita médica, em contrapartida, as doenças autorreferidas, que são aquelas conhecidas

por terem início e fim, apresentando sintomas conhecidos pelos pacientes podem

induzir a prática de automedicação pelo fato destes não ter que procurar ajuda médica.

De acordo com a Lei 13.021/2014, o profissional farmacêutico tem como

responsabilidade prestar assistência farmacêutica ao público de forma a esclarecer

dúvidas e aconselhar quanto ao uso racional e responsável de medicamentos a fim de

promover saúde e conscientizar a população quanto aos riscos causados pela prática da

automedicação (FERREIRA, 2018). Nesta pesquisa, mais da metade dos participantes

referiu obter ou solicitar orientação do farmacêutico ou atendente no momento da

compra do medicamento, resultado também encontrado em trabalho realizado por Dos

Santos (2018).

Page 45: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

37

Quanto aos efeitos colaterais, a presente pesquisa mostrou que a grande maioria

dos participantes não teve nenhum problema causado pelo uso de medicamentos, esse

resultado está de acordo com os resultados apresentados em estudo realizado por Furlan

(2016) onde a maioria dos respondentes relatou não ter sentido efeitos colaterais

causados por medicamentos utilizados. O fato dos indivíduos buscarem informações a

respeito dos medicamentos e seus efeitos antes mesmo da compra e a omissão de

informações acerca dos efeitos colaterais no momento da aplicação do questionário

podem ter relação com as baixas reclamações a respeito de efeitos colaterais percebidos.

Com relação à distribuição espacial da prevalência de automedicação nos

bairros, o Centro, São Domingos, São Paulo e Machados tiveram as maiores

prevalências, tal fato pode ser justificado por se tratar de bairros com grande número de

drogarias e farmácias e maior circulação de pessoas devido ao comércio. Os bairros

Escalvadinhos, Pedreiras, Porto Escalvado e Volta Grande foram os que apresentaram

as menores prevalências, fato este que pode ser justificado pela localização na zona

rural, população reduzida e por não haver farmácias e drogarias nesses bairros.

Page 46: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

38

3 CONCLUSÃO

A prevalência de automedicação na população adulta do município de

Navegantes-SC foi de 35,1%, somando a este valor aqueles que praticaram

automedicação com medicamentos isentos de prescrição, a prevalência chegou a 65,2%,

semelhante às estimativas estaduais e elevado em relação à literatura nacional e

internacional.

O perfil dos adultos que consomem medicamentos sem prescrição médica ou

odontológica no município estudado representa a faixa etária entre 30 a 49 anos, ter o

hábito de fumar, pouca ou nenhuma atividade física, não possuir doença crônica não

transmissível e ter uma percepção ruim da própria saúde.

As principais classes medicamentosas utilizadas foram os anti-inflamatórios e os

anti-hipertensivos. Em relação aos medicamentos isentos de prescrição foram os

analgésicos e relaxantes musculares os mais citados pelos participantes. Os fatores

como faixa etária e o hábito de fumar foram significativos mostrando maior tendência à

prática de automedicação, enquanto a prática de 150 minutos ou mais de atividade física

semanal, aqueles que referiram doença crônica não transmissível e consultou um

médico nos últimos três meses mostraram menor prevalência de automedicação. Os

indivíduos que referiram uma percepção positiva da própria saúde também mostraram

menor prevalência. A maioria dos participantes solicitou ou obteve orientação do

farmacêutico ou atendente no momento da compra do medicamento, desta forma,

entende-se que mesmo com as dificuldades enfrentadas na busca por utilização de

serviços públicos de saúde, a população procura e considera válidas as orientações do

farmacêutico no balcão da farmácia. E, por fim, a maioria dos participantes não

apresentou nenhum problema causado pelo uso de medicamentos.

A partir dos resultados encontrados conclui-se que a população adulta de

Navegantes necessita de informações acerca dos perigos e efeitos adversos causados

pelo uso indiscriminado de medicamentos. Sugere-se ao poder público e às autoridades

de saúde local o desenvolvimento de campanhas e estratégias de forma a esclarecer ao

público a maneira mais segura e eficaz na utilização de medicamentos. Estimular a

população à promoção de saúde também é uma importante ação, uma vez que, a prática

de atividade física foi um fator significante no sentido de diminuir a prevalência de

automedicação. À vigilância sanitária aconselha-se o cuidado e o aumento na

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39

fiscalização de farmácias e drogarias quanto à retenção de receituários para aqueles

medicamentos que são exigidos pela legislação.

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em<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs241/en>. Acesso em: 1 nov. 2017.

WOŹNIAK-HOLECKA, Joanna et al. Consumer behavior in OTC medicines market.

Przegl Epidemiol, v. 66, n. 1, p. 157-160, 2012.

Page 56: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

48

ZANINI, A. C.; CARVALHO, M. F. Definições, conceitos e aspectos operacionais

utilizados em farmacovigilância. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, v.

37, n. 3, p. 215-224, 2001.

Page 57: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

49

5 APÊNDICES

5.1 Apêndice l

PESQUISA “USO DE MEDICAMENTOS EM NAVEGANTES”

QUESTIONÁRIO

BLOCO 1 – PERFIL SOCIOECONÔMICO

1.1. Sexo □masculino □feminino

1.2. Idade (em anos completos): _____________

1.3.O (a) Sr. (a) mora: □sozinho □ com mais pessoas

1.4 Qual o bairro de Navegantes? ___________________________

1.5. Até que nível completo o (a) Sr. (a) estudou?

□sem instrução □Fundamental □Médio □ Superior

BLOCO 2 – HÁBITOS SOCIAIS

2.1a (homens). Nos últimos 30 dias, o Sr. chegou a consumir 5 ou mais doses de bebida

alcoólica em uma única ocasião? (5 latas de cerveja, 5 taças de vinho ou 5 doses de

destilado)

□não □sim

2.1b (mulheres) Nos últimos 30 dias, a Sra. chegou a consumir 4 ou mais doses de

bebida alcoólica em uma única ocasião? (4 latas de cerveja, 4 taças de vinho ou 4 doses

de destilado)

□não □sim

2.2. Quanto tempo você pratica atividade física ou esporte na semana?

□150 minutos ou mais (ou seja, mais que 30 minutos/dia)

□menos que 150 minutos (ou seja, menos que 30 minutos/dia)

□ não pratico atividade física

2.3.O(a) Sr.(a) fuma? □não □sim

BLOCO 3 – UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

3.1. Quantas vezes esteve internado nos últimos 12 meses? _____

3.2. Quantas vezes se consultou com o médico nos últimos 3 meses? _______

3.3. Possui algum plano de saúde? □não □sim

BLOCO 4 – AUTOAVALIAÇÃO DA SAÚDE

4.1. Possui algumas destas doenças crônicas?

□diabetes Utiliza algum medicamento? □não □sim

□hipertensão Utiliza algum medicamento? □não □sim 2 □doenças do coração (infarto,

angina, insuficiência cardíaca, arritmia) Utiliza algum medicamento? □não □sim

□artrite ou reumatismo (artrite reumatoide, osteoporose)

Utiliza algum medicamento? □não □sim

□Doença Pulmonar Crônica (asma, bronquite crônica, enfisema)

Utiliza algum medicamento? □não □sim

□ AVC (Acidente Vascular Cerebral)

Page 58: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

50

Utiliza algum medicamento? □não □sim

□doenças da coluna Utiliza algum medicamento? □não □sim

□câncer (neoplasias) Utiliza algum medicamento? □não □sim

□Colesterol alto Utiliza algum medicamento? □não □sim

□depressão Utiliza algum medicamento? □não □sim

Alguma outra doença? □não □sim Qual?__________

Utiliza algum medicamento? □não □sim

4.2. Em geral, o (a) Sr. (a) diria que a sua saúde é:

□excelente □muito boa □boa □ruim □muito ruim

BLOCO 5- MEDICAMENTOS

5.1.O (a) sr (a) lembra de algum medicamento que utilizou nos últimos três meses?

{repetir o bloco para cada medicamento com prescrição lembrado pelo respondente;

não induzir o paciente a lembrança}

Qual: ____________________________

Para que? _____________________

a□ não tomei nenhum medicamento nestes três meses

b□ tomei mas não precisa de receita médica

c□ tomei com a receita médica

d□ tomei sem a receita médica

Caso marque a letra d responder as próximas perguntas

5.2. Alguma vez teve esta prescrição?

□não □sim, por meio de consulta: □particular □SUS □plano de saúde

5.3. Onde o Sr(a) obteve esse medicamento?

□farmácia comercial □instituição de caridade/igreja

□amigos, parentes ou vizinhos □compra online □outro:

5.4. Quem indicou?

□médico □amigos, vizinhos □farmacêutico/atendente □familiares

□ninguém, vi na mídia (revista, internet, TV, etc)

5.5. Você utiliza sempre este medicamento quando apresenta o mesmo problema?

□sim □não/as vezes. Porque? ________________________

5.6. Este medicamento está disponível em sua casa?

□Sim, procuro sempre tê-lo em casa □Não, mas compro quando preciso

□Não, procuro uma unidade de saúde para pegar uma receita e comprar.

5.7. No ato da compra deste medicamento você pediu ou teve a orientação do

farmacêutico/atendente?

□sim □às vezes □não (pular para a 5,9)

5.8. Essa orientação modificou sua escolha inicial?

□sim, pois não sabia o que comprar □sim, mudou minha opinião

□não

5.9.O que você levou em conta na hora de utilizar este medicamento?

□praticidade/comodidade/preço

□orientação de profissional: □médico □dentista □farmacêutico □atendente

□eficácia do medicamento

5.10. Você obteve o resultado esperado?

□sim □não

5.11. Você já indicou este medicamento para outras pessoas?

Page 59: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

51

□sim □não

5.12. No período em que o Sr. (a) utilizou o (s) medicamento (s) relatado (s), apresentou

algum tipo de problema causado pelo medicamento?

□não □sim. Qual problema específico? ________________________

5.13. Que providência tomou para resolver o problema?

_________________________________

5.2 Apêndice Il

MEDICAMENTOS COM PRESCRIÇÃO OBRIGATÓRIA

Medicamento Número Percentual

M- SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO 28,9

M01- Produtos anti-inflamatórios e antirreumáticos 4,5

ácido mefenâmico 8 1,4

Meloxicam 16 2,8

naproxeno+esomeprazol sódico tri hidratado 2 0,3

M02- Produtos para dores articulares e musculares 12,4

Cetoprofeno 7 1,2

diclofenaco de sódio 26 4,5

Etodolaco 1 0,2

naproxeno sódico 4 0,7

Nimesulida 27 4,7

Piroxicam 5 0,9

Tenoxican 1 0,2

M03-Relaxantes musculares 12,0

Ciclobenzaprina 2 0,3

clonixinato de lisina+cloridrato de ciclobenzaprina 1 0,2

paracetamol+carisoprodol+diclofenaco sódico+cafeína 66 11,5

C- SISTEMA CARDIOVASCULAR 15,2

C01- Terapêutica cardíaca 0,7

hemifumarato de bisoprolol 1 0,2

Propatilnitrato 3 0,5

C02-Anti-hipertensores 9,5

Atenolol 11 1,9

atenolol+clortalidona 3 0,5

besilato de anlodipino 1 0,2

Captopril 11 1,9

Carvedilol 2 0,3

cloridrato de hidralazina 1 0,2

Doxazosina 1 0,2

Enalapril 2 0,3

Losartana 20 3,5

losartana+hidroclorotiazida 3 0,5

C03-Diuréticos 1,4

Espironolactona 1 0,2

Hidroclorotiazida 3 0,5

Page 60: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

52

Medicamento Número Percentual

hidroclorotiazida+cloridrato de amilorida 4 0,7

C10-Hipolipemiantes 3,5

Atorvastatina 4 0,7

Sinvastatina 16 2,8

G-SISTEMAS GENITO-URINÁRIOS E HORMÔNIOS

SEXUAIS

12,7

G01-Anti-infecciosos e anti-sépticos ginecológicos 1,2

Nistatina 7 1,2

G03-Hormônios sexuais e moduladores do sistema genital 11,1

acetato de ciproterona+etinilestradiol 13 2,3

algestona acetofenida+enantato de estradiol 8 1,4

Ciprofloxacino 2 0,3

Desogestrel 2 0,3

drospirenona+etinilestradiol 3 0,5

enantato de noretisterona+valerato de estradiol 8 1,4

etinilestradiol+acetato de ciproterona 5 0,9

gestodeno+etinilestradiol 4 0,7

Levonorgestrel 2 0,3

levonorgestrel+etinilestradiol 13 2,3

Noretisterona 1 0,2

Norfloxacino 2 0,3

valerato de estradiol+dienogeste 1 0,2

G04-Medicamentos urológicos 0,3

Sildenafila 2 0,3

J-ANTI-INFECCIOSOS GERAIS PARA USO SISTÊMICO 10,5

J01-Antibacterianos para uso sistêmico 9,2

Amoxicilina 30 5,2

amoxicilina+clavulanato de potássio 4 0,7

Azitromicina 17 3,0

Levofloxacino 2 0,3

J02-Antimicóticos para uso sistêmico 1,0

Secnidazol 6 1,0

J04-Antimicobacterianos 0,2

rifamicina sódica 1 0,2

R-APARELHO RESPIRATÓRIO 10,5

R01-Preparados para uso nasal 3,8

Budesonida 2 0,3

cloridrato de nafazolina 16 2,8

cloridrato de nafazolina+maleato de

mepiramina+dexpantenol

3 0,5

Oximetazolina 1 0,2

R03-Antiasmáticos 0,7

bromidrato de fenoterol 3 0,5

fumarato de formoterol di -hidratado+budesonida 1 0,2

R05-Preparados contra a tosse e resfriados 1,7

Page 61: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

53

Medicamento Número Percentual

Acebrofilina 6 1,0

Acetilcisteina 4 0,7

R06-Anti-histamínicos para uso sistêmico 4,2

Desloratadina 1 0,2

Dexametasona 5 0,9

Fexofenadina 1 0,2

loratadina+sulfato de pseudoefedrina 2 0,3

maleato de dexclorfeniramina 1 0,2

maleato de dexclorfeniramina+betametasona 10 1,7

Prednisolona 4 0,7

A-TRATO ALIMENTAR E METABOLISMO 7,1

A02-Medicamentos para desordem ácido-relacionadas 3,4

Omeprazol 9 1,6

Pantoprazol 5 0,9

Ranitidina 5 0,9

A04-Antieméticos e antinauseantes 0,6

Bromoprida 2 0,3

cloridrato de ondansetrona 2 0,3

A07-Antidiarréicos, agentes anti-inflamatórios e anti-

infecciosos intestinais

1,5

Metronidazol 3 0,5

sulfametoxazol+trimetoprima 6 1,0

A10-Medicamentos usados na diabetes 1,6

Glibenclamida 4 0,7

Metformina 5 0,9

N-SISTEMA NERVOSO 5,6

N02-Analgésicos 4,1

cianocobalamina+piridoxina+nitrato de

tiamina+diclofenaco sódico

2 0,3

cloridrato de naratriptana 5 0,9

cloridrato de tramadol 2 0,3

mesilato de di-hidroergotamina+dipirona

monoidratada+cafeina

12 2,1

paracetamol+codeína 2 0,3

succinato de sumatriptana 1 0,2

N05-Psicolépticos 0,9

Alprazolam 1 0,2

Bromazepam 1 0,2

Clonazepam 3 0,5

N06-Psicoanalépticos 0,3

Amitriptilina 2 0,3

N07-Outros medicamentos do sistema nervoso 0,2

dicloridrato de bataistina 1 0,2

H-PREPARAÇÕES HORMONAIS SISTÊMICOS

EXCLUINDO HORMÔNIOS SEXUAIS E INSULINA

4,4

H02-Corticosteróides para uso sistêmico 3,1

Page 62: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

54

Medicamento Número Percentual

dipropionato de betametasona+fosfato dissódico de

betametasona

7 1,2

fosfato dissódico de dexametasona+cloridrato de

tiamina+cloridrato de piridoxina+cianocobalamina

2 0,3

Prednisona 9 1,6

H03-Terapêutica tireóidea 1,2

levotiroxina sódica 7 1,2

P-PRODUTOS ANTIPARASITÁRIOS, INSETICIDAS E

REPELENTES

4,0

P01-Antiprotozoários 3,1

Aciclovir 2 0,3

Albendazol 7 1,2

Clotrimazol 1 0,2

Fluconazol 8 1,4

P02-Anti-helmínticos 0,9

Ivermectina 5 0,9

D-MEDICAMENTOS DERMATOLÓGICOS 1,2

D01-Antifúngicos para o uso dermatológico 1,0

Cetoconazol 2 0,3

valerato de betametasona+sulfato de

gentamicina+tolnaftato+clioquinol

4 0,7

D06-Antibióticos e quimioterapêuticos para o uso

dermatológico

0,2

cetoconazol+dipropionato de betametasona+sulfato de

neomicina

1 0,2

Total Geral 574 100,0

5.3 Apêndice lll

MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO

Medicamento Número Percentual

N-SISTEMA NERVOSO 44,4

N02-Analgésicos 44,5

ácido acetilsalicilico 1 0,6

dipirona 12 7,0

dipirona sódica 22 12,9

dipirona+mucato de isometepteno+cafeina 12 7,0

paracetamol 29 17,0

M-SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO 23,4

M01-Anti-inflamatórios e anti-reumáticos 6,5

ibuprofeno 9 5,3

ibuprofeno +arginina 2 1,2

M03-Relaxantes musculares 17,0

cafeína+dipirona+orfenadrina 29 17,0

R-APARELHO RESPIRATÓRIO 18,7

Page 63: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

55

Medicamento Número Percentual

R01-Preparados para uso nasal 0,6

furoato de fluticasona 1 0,6

R02-Preparados para uso faríngeo 0,6

flurbiprofeno 1 0,6

R05-Preparados contra a tosse e resfriados 15,3

ácido acetilsalicilico+maleato de

dexclorfeniramina+cloridrato de

fenilefrina+cafeína

1 0,6

carbocisteina 1 0,6

cloridrato de oxomemazina+iodeto de

potássio+benzoato de sodio+guaifanesina

2 1,2

dipirona monoidratada+maleato de

clorfeniramina+cafeína

4 2,3

maleato de clofeniramina+acido

ascorbico+dipirona monoidratada

2 1,2

paracetamol+maleato de

clorfeniramina+cloridrato de fenilefrina

16 9,4

R06-Anti-histamínicos para uso sistêmico 2,3

loratadina 4 2,3

A-TRATO ALIMENTAR E METABOLISMO 13,5

A02-Antiácidos, medicamentos para

tratamento da úlcera péptica e da flatulência

1,2

bicarbonado de sodio+carbonato de

sódio+ácido acetilsalicilico+ácido cítrico

1 0,6

bicarbonato de sódio+carbonato de

sódio+ácido cítrico

1 0,6

A03-Agentes antiespasmódicos,

anticolinérgicos e antipropulsivos

5,9

cloreto de potássio+citrato de sódio di

hidratado+cloreto de sódio

1 0,6

escopolamina 7 4,1

escopolamina+dipirona sódica 2 1,2

A06-Laxativos 1,8

lactulose 1 0,6

picossulfato de sódio 2 1,2

A07-Antidiarréicos, agentes anti-inflamatórios

e anti-infecciosos intestinais

1,8

saccharomyces boulardii 3 1,8

A11-Vitaminas 2,3

vitamina 4 2,3

A13-Tônicos 0,6

cloreto de potássio+citrato de sódio di

hidratado+cloreto de sódio

1 0,6

Total Geral 171 100,0

Page 64: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

56

5.4 Apêndice lV

ARTIGO

Fatores associados à automedicação: estudo populacional no sul do Brasil

RESUMO

Objetivo: Investigar a prevalência da automedicação na população adulta de

Navegantes, Santa Catarina. Método: Estudo transversal descritivo e analítico de base

populacional do tipo survey. A população foi composta por adultos de 20 a 59 anos. O

instrumento de coleta foi um questionário estruturado contendo cinco blocos com

variáveis de perfil socioeconômico, hábitos sociais, utilização dos serviços de saúde,

autoavaliação em saúde e utilização de medicamentos. Os medicamentos declarados

pelos participantes foram classificados de acordo com o Sistema Anatômico

Terapêutico Químico. Resultados: Com base na amostra de 1.120 indivíduos, a

prevalência da automedicação foi de 35,1%. A faixa etária mostrou-se como fator de

risco, com maior prevalência entre 30 a 49 anos e a autoavaliação da saúde como fator

de proteção. Tabagismo e prática de 150 minutos ou mais de atividade física semanal

mostraram-se próximas a significância como fator de risco e proteção, respectivamente.

Apresença de doenças crônicas e consultas regulares influenciaram na prática de

automedicação. A classe medicamentosa mais utilizada pelos participantes foi a dos

anti-inflamatórios. Conclusão: A pesquisa apontou alta prevalência de automedicação

no município de Navegantes. Indica-se a necessidade de estratégias de sensibilização e

conscientização desta prática.

DESCRITORES: Automedicação. Inquéritos Epidemiológicos. Uso de Medicamentos.

ABSTRACT

Objective: To investigate the prevalence of self-medication in the adult population of

Navegantes, Santa Catarina. Method: Descriptive and analytical cross-sectional

population-based survey. The population consisted of adults from 20 to 59 years. The

collection instrument was a structured questionnaire containing five blocks with

variables of socioeconomic profile, social habits, health service utilization, health self-

assessment and medication use. The drugs declared by the participants were classified

according to the Chemical Therapeutic Anatomical System. Results: Based on a sample

of 1,120 individuals, the prevalence of self-medication was 35.1%. Age was a risk

factor, with a higher prevalence between 30 and 49 years and self-rated health as a

protective factor. Smoking and practicing 150 minutes or more of weekly physical

activity were close to significance as a risk and protective factor, respectively. Presence

of chronic diseases and regular consultations influenced the practice of self-medication.

The most used drug class by participants was anti-inflammatory drugs. Conclusion: The

research showed a high prevalence of self-medication in the municipality of

Navegantes. The need for awareness raising strategies and awareness of this practice is

indicated.

KEYWORDS: Self-medication. Epidemiological Surveys. Use of Medications.

Page 65: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

57

INTRODUÇÃO

O medicamento é uma associação de substâncias que apresenta em sua composição

excipientes e fármacos que devem mostrar eficácia e segurança garantidas através de

testes clínicos, uma exigência dos órgãos competentes no âmbito técnico e legal. Esses

têm finalidade profilática, paliativa e curativa, sendo ainda utilizados para fins de

diagnóstico1.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define automedicação como

a prática do uso de medicamentos sem prescrição ou orientação de um profissional de

saúde qualificado2. Esta prática oferece diversos riscos à saúde humana, incluindo

reações adversas, intoxicações, resistência às bactérias e o mascaramento de doenças,

além de dependência química e psicológica3.

Ao longo do tempo, diversos fatores contribuíram para o uso de medicamentos sem

prescrição: a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, a propaganda comercial, o

grande número de fármacos existentes para uma mesma patologia e a facilidade de

acesso4.

A partir da década de 1980 os medicamentos sofreram forte influência do

marketing, o que facilitou o aumento da medicalização e seu comércio sob a perspectiva

de bem de consumo, fazendo com que, dessa forma, deixasse de ser utilizado como

instrumento terapêutico. A sociedade contemporânea, cada vez mais insatisfeita e em

busca do bem-estar emocional, social, intelectual, sexual e financeiro, estão a todo o

momento na busca por recursos para driblar situações como medo, angústia, estresse,

luto e solidão. Dessa forma, o medicamento deixa de ser utilizado como instrumento

terapêutico e passa então, a ser procurado como bem de consumo5.

Dentre os vários riscos que a prática de automedicação pode oferecer se destaca

a intoxicação, as alergias, intoxicação medicamentosa, dependência farmacológica,

resistência bacteriana e até a morte6.

Em 2015, o Sistema Nacional de Informações Toxi-Farmacológicas da Fundação

Oswaldo Cruz apontou 28.778 casos registrados de intoxicação humana devido ao uso

indiscriminado e irresponsável de medicamentos, causando nesse mesmo período 81

óbitos7.

Page 66: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

58

Os números mostram que o Brasil é um dos países que mais consome, produz e

gasta com medicamentos, atingindo 22,1 bilhões de dólares anualmente8.

Os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) são medicamentos utilizados para

doenças que apresentam baixa gravidade e alta ocorrência, são sinalizados por não

apresentarem tarja em sua embalagem, porém devem apresentar segurança e eficácia e

baixo poder de toxicidade, oferecendo assim baixo risco ao paciente9. De acordo com a

literatura, alguns autores consideram os MIPs como prática de automedicação, dessa

forma, estudos acerca do tema apresentam prevalências elevadas6.

A pesquisa acerca da automedicação é de grande importância tanto para a população

quanto para as autoridades sanitárias, visto que oferecem subsídios para a tomada de

decisão quanto ao esclarecimento dos perigos e prejuízos causados pela sua prática.

Dessa forma, propôs-se um estudo sobre automedicação no município de

Navegantes/SC, com o intuito de determinar a prevalência dessa prática na população e

seus fatores associados.

MÉTODOS

Desenho de estudo

Trata-se de um estudo transversal descritivo e analítico de base populacional,

caracterizado como um levantamento de dados.

Local do estudo

A pesquisa foi realizada no município de Navegantes, localizado no litoral Norte

do Estado de Santa Catarina, Brasil, distante a 92 quilômetros da capital Florianópolis.

Possui uma área de 112,029 km². A cidade apresenta uma população de 77.137

habitantes10

, distribuída em quatorze bairros.

População do estudo

Foi composta por adultos residentes e domiciliados no município, de 20 a 59

anos. A amostra foi calculada com base em proporções desconhecidas de respostas

(p=q=0,5), nível de confiança de 95% e erro amostral máximo de 0,05, estratificada

proporcionalmente pelos bairros do município.

Instrumento de estudo

Page 67: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

59

O instrumento de coleta foi um questionário contendo cinco blocos com vinte e

seis perguntas, das quais foram analisadas: perfil sociodemográfico (sexo, faixa etária,

grupo familiar e escolaridade), hábitos sociais (consumo de bebidas alcoólicas acima de

quatro doses para mulheres ou cinco doses para homens em uma única ocasião,

tabagismo e prática de atividade física), utilização dos serviços de saúde (número de

consultas médicas nos últimos três meses e plano de saúde), autoavaliação da saúde

(presença de doenças crônicas não transmissíveis e autopercepção do estado de saúde) e

número de medicamentos utilizados sem receita médica ou odontológica nos últimos 90

dias que antecederam a aplicação do questionário.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio a outubro de 2018, a

partir de visitas domiciliares e no balcão de uma drogaria comercial no centro da cidade

de Navegantes/SC, cada participante foi contabilizado no bairro em que reside. A

escolha dos participantes foi aleatória nos domicílios visitados quando se encontrava

alguém em casa e quando o indivíduo aceitava participar da pesquisa, aqueles

participantes que foram abordados do balcão da drogaria foram escolhidos por

conveniência considerando o tempo que o indivíduo tinha disponível para participar da

pesquisa. Foi considerada a prática da automedicação para aqueles participantes que

consumiram ao menos um medicamento tarjado sem a prescrição médica, excluindo,

portanto, os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP).

Os medicamentos declarados pelos participantes foram classificados de acordo

com o Sistema Anatômico Terapêutico Químico (ATC) nas categorias grupo e

subgrupo11

.

Aspectos éticos

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

do Vale do Itajaí sob o número 2.577.497. Os indivíduos foram convidados a participar

da pesquisa após serem esclarecidas todas as informações pertinentes a esse estudo

incluindo os objetivos. Aqueles que aceitaram participar assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Foram considerados critérios de inclusão: adultos

de 20 a 59 anos de idade, residentes e domiciliados na cidade de Navegantes. Os

critérios de exclusão foram: turistas, pessoas interditadas, indivíduos de nacionalidade

Page 68: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

60

estrangeira que não conheciam a língua portuguesa e pessoas que não estavam em

estado de sobriedade.

Análise estatística

Os dados foram tabulados e consolidados em planilha Excel e importados para o

aplicativo Stata 13. Para a análise descritiva as prevalências foram calculadas em

percentuais e seus respectivos intervalos de confiança de 95%. Para investigar os fatores

associados à automedicação, foi utilizada regressão de Poisson robusta, previamente por

meio de análise univariada com retenção das variáveis com p<0,20. Após, na análise

multivariada, foram retidas as variáveis que apresentaram p<0,05 e apresentadas as

razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança de 95%.

RESULTADOS

Participaram do estudo um total de 1.120 indivíduos com idade entre 20 e 59

anos. Os participantes do sexo feminino corresponderam à maioria dos respondentes

(58,7%). Com relação à faixa etária o número de participantes distribuiu-se

uniformemente. A maior parte afirmou morar com mais pessoas (76,2%), possuir ensino

fundamental (43,8%), não praticar exercícios regularmente (52,1%), não consumir

álcool acima de quatro ou cinco doses (70,2%) e não fumar (72,9%). Mais da metade

dos indivíduos não se consultou com um médico nos últimos três meses que

antecederam a pesquisa (55,7%) e quase metade dos respondentes referiu possuir pelo

menos uma doença crônica não transmissível (44,7%). Quando indagados quanto à auto

percepção da saúde quase a totalidade dos indivíduos disseram ter uma boa saúde

(89,3%). A maioria dos participantes (92,7%) afirmou ter utilizado pelo menos um

medicamento nos três meses que antecederam a aplicação do questionário. A

prevalência de automedicação, considerando-se os medicamentos nos quais é

obrigatória a prescrição médica foi de 35,1%. (Tabela 1). O percentual de consumo de

MIP foi de 30,2%.

Page 69: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

61

Tabela1. Caracterização sociodemográfica e de saúde da amostra de 1.120 indivíduos,

Navegantes, SC, 2018

Variável n % Intervalo de confiança 95%

Sexo

Feminino 657 58,7 54,9-62,5

Masculino 463 41,3 36,8-45,8

Faixa Etária (anos)

20-29 269 24,0 18,9-29,1

30-39 301 26,9 21,9-31,9

40-49 268 23,9 18,8-29,0

50-59 282 25,2 20,1-30,3

Grupo familiar

Sozinho 267 23,8 18,7-28,9

Mais pessoas 853 76,2 73,3-79,1

Escolaridade

Fundamental 491 43,8 39,4-48,2

Médio 459 41,0 36,5-45,5

Superior 170 15,2 9,80-20,6

Consumo excessivo de álcool

Não 786 70,2 67,0-73,4

Sim 334 29,8 24,9-34,7

Atividade física semanal

Não 583 52,1 48,0-56,2

<150 minutos 307 27,4 22,4-32,4

≥150 minutos 230 20,5 15,3-25,7

Tabagismo

Não 817 72,9 69,8-76,0

Sim 303 27,1 22,1-32,1

Consulta médica

Não 624 55,7 51,8-59,6

Sim 496 44,3 39,9-48,7

Doença crônica não transmissível

Não 619 55,3 51,4-59,2

Sim 501 44,7 40,3-49,1

Saúde

Ruim 120 10,7 5,1-16,3

Boa 1000 89,3 87,4-91,2

Uso de medicamento

Não 82 7,3 1,6-13,0

Sim 1038 92,7 91,1-94,3

Automedicação

Não 727 64,9 61,5-68,3

Sim 394 35,1 30,2-40,0

Page 70: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

62

Com relação aos fatores associados à automedicação, a análise univariada

mostrou relação significativa com a faixa etária, atividade física, tabagismo, consultas e

autoavaliação da saúde. Ainda foram retidas para a análise multivariada as variáveis

sexo e presença de doenças crônicas, com valor de p abaixo de 20%. As maiores razões

de prevalência foram encontradas para autoavaliação da saúde e faixa etária (Tabela 2).

Tabela 2. Análise univariada da automedicação com relação às variáveis sociais e de

saúde, Navegantes, SC, 2018

Variável

Automedicação

Não Sim RP bruta (IC95%) p*

% IC95% % IC95%

Sexo

Masculino 62,0 58,3-65,7 38,0 34,3-41,7 1

Feminino 66,8 62,5-71,1 33,2 28,9-37,5 0,87 (0,76-1,06) 0,180

Faixa Etária (anos)

20-29 71,0 65,6-76,4 29,0 23,6-34,4 1

30-39 61,5 56,0-67,0 38,5 33,0-44,0 1,33 (1,00,-1,77) 0,052

40-49 60,4 54,5-66,3 39,6 33,7-45,5 1,36 (1,02-1,83) 0,037

50-59 66,7 61,2-72,2 33,3 27,8-38,9 1,15 (0,85-1,55) 0,363

Grupo familiar

Sozinho 61,4 55,5-67,3 38,6 32,7-44,5 1

Mais pessoas 65,9 62,7-69,1 34,1 30,9-37,3 0,88 (0,71-1,11) 0,284

Escolaridade

Fundamental 64,8 60,6-69,0 35,2 31,0-39,4 1

Médio 65,1 60,7-69,5 34,9 30,5-39,3 0,99 (0,80-1,23) 0,922

Superior 64,1 56,8-71,4 35,9 28,6-43,2 1,01 (0,76-1,36) 0,903

Consumo excessivo

de álcool

Não 66,2 62,9-69-5 33,8 30,5-37,1 1

Sim 61,7 56,5-66,9 38,3 33,1-43,5 1,13 (0,92-1,40) 0,248

Atividade física

semanal

Não 61,7 57,7-65,7 34,2 28,9-39,5 1

<150 minutos 65,8 60,5-71,1 28,7 22,8-34,6 0,89 (0,71-1,13) 0,345

≥150 minutos 71,3 65,7-77,2 38,3 34,3-42,3 0,75 (0,57-0,99) 0,040

Tabagismo

Não 67,4 64,2-70,6 32,6 29,4-35,8 1

Sim 57,8 52,2-63,4 42,2 36,6-47,8 1,29 (1,05-1,60) 0,015

Consulta médica

Não 60,6 56,8-64,4 39,4 35,6-43,2 1

Sim 70,2 67,8-75,8 29,8 25,8-33,8 0,75 (0,62-0,93) 0,007

Doença crônica não

transmissível

Não 62,0 58,2-65,8 38,0 34,2-41,8 1

Page 71: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

63

Variável

Automedicação

Não Sim RP bruta (IC95%) p*

% IC95% % IC95%

Sim 68,3 64,2-72,4 31,7 27,6-35,8 0,83 (0,68-1,02) 0,081

Saúde

Ruim 53,3 44,3-62,3 33,7 30,9-36,7 1

Boa 66,2 63,3-69,1 46,7 37,7-55,7 0,72 (0,55-0,96) 0,025

*relativo a razão de prevalência bruta na regressão de Poisson; RP: razão de prevalência

Após o ajuste das razões de prevalências, a faixa etária mostrou-se como fator de

risco, com maior prevalência entre 30 a 49 anos e a autoavaliação da saúde como fator

de proteção. Tabagismo e prática de 150 minutos ou mais de atividade física semanal

mostraram-se próximas a significância como fator de risco e proteção, respectivamente.

Como esperado, a presença de doenças crônicas e consultas regulares influenciaram na

prática de automedicação (Tabela 3).

Tabela 3 – Análise multivariada dos fatores associados à automedicação, Navegantes,

SC, 2018

Variável RP ajustada Intervalo de confiança

95% valor-p

Sexo

Masculino 1

Feminino 0,94 0,77-1,16 0,583

Faixa etária (anos)

20-29 1

30-39 1,39 1,04-1,86 0,027

40-49 1,42 1,04-1,94 0,028

50-49 1,32 0,92-1,89 0,131

Atividade física semanal

Não 1

<150 minutos 0,88 0,69-1,11 0,288

≥150 minutos 0,76 0,56-1,02 0,068

Tabagismo

Não 1

Sim 1,23 0,99-1,53 0,060

Consulta médica

Não 1

Sim 0,75 0,60-0,93 0,008

Doença crônica não

transmissível

Não 1

Sim 0,76 0,60-0,96 0,020

Autoavaliação da saúde

Ruim 1

Page 72: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

64

Variável RP ajustada Intervalo de confiança

95% valor-p

Boa 0,75 0,32-0,71 0,048

Dentre os 394 participantes que realizaram automedicação no período, a classe

de medicamento mais prevalente foi a dos antiinflamatórios (28,9% de um total de 574

citações de medicamentos), com destaque para a composição de princípios ativos

paracetamol, carisoprodol, diclofenaco sódico e cafeína (10,5%), com ênfase para a

ação anti-inflamatória do diclofenaco sódico. A segunda classe mais prevalente foram

os antihipertensivos (15,2%), com 3,5% de citações para losartana potássica e a terceira

classe foi a dos medicamentos para sistemas genito-urinários e hormônios sexuais

(12,7%) onde o acetato de ciproterona+etinilestradiol e o levonorgestrel+etinilestradiol

tiveram 3,2% de citações cada.

Entre os MIPs, a classe mais utilizada foi a dos analgésicos (44,2% de 172

medicamentos citados), com destaque para o paracetamol e dipirona sódica.

DISCUSSÃO

As estimativas de prevalência de automedição apresentam alta heterogeneidade

entre as pesquisas publicadas. Altos índices da prevalência de automedicação em

trabalhos publicados12,13

podem ter associação com o fato de que medicamentos isentos

de prescrição (MIPs) foram considerados pelos pesquisadores como sendo prática de

automedicação. Nesta pesquisa, a qual não considerou os MIPs na estimativa, 35,1%

praticaram automedicação, valor próximo ao de 32% encontrado em uma pesquisa

realizada em São Paulo, a qual também não considerou MIPs14

.

Outro fator influente na estimativa de prevalência refere-se ao período

recordatório que, mais longos podem levar a acúmulo de lembranças e consequente

aumento da estimativa15

. Estudo realizado na Índia com período recordatório de noventa

dias resultou em prevalência de 11,9%16

. Em contrapartida, a Organização Mundial de

Saúde afirma que, para este tipo de estudo um período recordatório de sete dias

facilitaria a compreensão do entrevistado, diminuindo o viés existente em relação à

memória no momento da aplicação do questionário, desta forma, a diversidade de

metodologias explica essa variação17

.

Page 73: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

65

Com relação ao sexo, estudo nacional18

e internacionais16,19

encontraram maior

prevalência no sexo masculino, tendência similar a presente pesquisa, que, no entanto,

não apresentou diferença significativa. Este dado por ser justificado pelo fato destes

tenderem a maior displicência quanto à sua saúde, não procurarem os serviços de saúde

em busca de suporte adequado e por não poderem se ausentar do trabalho por períodos

longos.

Na presente pesquisa, indivíduos com faixa etária entre 40-49 anos foram os que

mais se automedicaram, fato este que pode ser justificado pela frequência de doenças

agudas autolimitadas que são caracterizadas por possuírem um período limitado e

determinado, decorrentes a todas as faixas etárias20

.

Houve diferença significativa da prática de automedicação entre os indivíduos

que moram sozinhos e os que residem com mais pessoas, o que leva a crer que dos

entrevistados que praticaram automedicação e que moram com mais pessoas não

sofreram influência de familiares e possivelmente não utilizaram sobras de

medicamentos, distinto do resultado de Abrahão et al.21

, no qual foi observada uma

diferença significativa duas vezes maior em escolares pertencentes às famílias com

hábito de utilizar medicação, do que nos escolares de famílias que não tinham esse

costume.

Com relação à escolaridade o estudo de Domingues et al.22

mostraram que

indivíduos com menor grau de escolaridade e menor conhecimento acerca dos prejuízos

causados pela automedicação tendem a maior prevalência, resultado de acordo com o

encontrado nesta pesquisa, onde a maioria dos participantes referiram ter ensino

fundamental completo.

Quanto aos hábitos sociais, fumantes praticaram 1,2 vezes mais automedicação

que não fumantes, resultado encontrado em outras pesquisas6,21

. Estudos internacionais

revelam que além de todos os prejuízos que o tabaco oferece para saúde dos fumantes

ativos e passivos, pode ainda causar interações com medicamentos de diversas classes

farmacológicas de forma a induzir o aumento de enzimas hepáticas alterando a eficácia

dos medicamentos, afetando com mais precisão indivíduos fumantes mais jovens23

.

Kroon24

afirma que a quantidade de cigarros fumados por dia está proporcionalmente

ligada a alterações metabólicas de diversos fármacos. No presente estudo, o consumo de

álcool tem sido associado com a prática de automedicação. Na pesquisa de Mezarobba

Page 74: THIAGO FARIAS DE QUEIROZ E SILVA - Univali

66

et al.25

um terço dos participantes informou usar medicamentos para amenizar sintomas

de ressaca e afirmou ainda que o único risco que tinham conhecimento seria de que o

consumo de álcool poderia anular o efeito dos medicamentos. Com relação a atividade

física, com prevalências significativamente menores para aqueles que praticam

exercícios, um estudo mostrou que indivíduos que tem o hábito de se exercitarem

regularmente promovem a saúde do corpo e da mente, além de evitar diversas doenças

cardiovasculares, envelhecimento precoce, aumentando a qualidade de vida na fase

adulta e consequentemente consumindo menos medicamento26

.

A realização de consultas médicas e presença de doenças crônicas mostraram

menor prevalência de automedicação. O indivíduo possuir receituário médico sempre

que passar por uma consulta, não caracterizando a prática de automedicação, além de

que para dispensar qualquer medicamento na rede pública é necessária a apresentação e

em alguns casos a retenção do receituário, o que diminui as chances de tal prática pela

população14

.

Neste trabalho, indivíduos com uma percepção positiva de saúde se

automedicaram menos. De acordo com Pagotto et al.27

esse dado possibilita conhecer

subjetivamente a saúde do indivíduo, dessa forma, obter informações da sua qualidade

de vida poderão influenciar nas suas escolhas e decisões, assim, conclui-se que

indivíduos que se automedicam mais tem uma percepção de saúde negativa.

A classe de medicamentos mais utilizada por aqueles que praticam a

automedicação foi a mesma de outros trabalhos21,28,29,30,31

. A classe dos anti-

inflamatórios não esteroidais apresenta diversas indicações devido ao seu potente efeito

anti-inflamatório, analgésico e antitérmico, além da facilidade de acesso provocando seu

alto consumo, porém isso não isenta seus inúmeros efeitos colaterais como dores

abdominais, desconforto gastro intestinal e possíveis distúrbios renais e hepáticos32

.

CONCLUSÃO

A pesquisa apontou prevalência de automedicação na população adulta do

município de Navegantes/SC de 35,1%. Considerando-se o percentual de utilização de

MIPs, 65,3% fizeram uso de medicamentos sem prescrição, valores que podem ser

considerados elevados, tendo em vista as estimativas já realizadas a nível nacional e

estadual. A faixa etária e a autoavaliação da saúde foram fatores significativos para a

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67

prática de automedicação, enquanto o tabagismo e a prática de 150 minutos ou mais de

atividade física semanal mostraram-se próximos a significância. A presença de doenças

crônicas e consultas regulares também influenciaram a automedicação. As classes

medicamentosas mais utilizadas pelos participantes foram os anti-inflamatórios, os anti-

hipertensivos seguidos dos hormônios sexuais. Com base nos resultados indica-se

estratégias que possam sensibilizar e conscientizar a população do município acerca dos

riscos casados por esta prática.

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