thiago de azevedo gomes - unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/thiago de azevedo...

88
UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO “Prof. José de Souza Herdy” UNIGRANRIO Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PROPEP Mestrado Profissional no Ensino das Ciências na Educação Básica THIAGO DE AZEVEDO GOMES LADRILHAMENTO NO PLANO COM USO DO SOFTWARE GEOGEBRA Duque de Caxias RJ 2017

Upload: others

Post on 29-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO “Prof. José de Souza Herdy”

UNIGRANRIO

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PROPEP

Mestrado Profissional no Ensino das Ciências na Educação Básica

THIAGO DE AZEVEDO GOMES

LADRILHAMENTO NO PLANO COM USO DO SOFTWARE

GEOGEBRA

Duque de Caxias – RJ

2017

Page 2: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

THIAGO DE AZEVEDO GOMES

LADRILHAMENTO NO PLANO COM USO DO SOFTWARE

GEOGEBRA

Dissertação apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre, do curso de

Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e

Matemática do Programa de Pós-Graduação em

Ensino das Ciências da Universidade do

Grande Rio “Professor José de Souza Herdy”.

Área de Concentração: Matemática

Orientador: Prof. Dr. Abel Rodolfo Garcia

Lozano

Orientador: Prof. Dr. Agnaldo da Conceição

Esquincalha

Duque de Caxias – RJ

2017

Page 3: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Unigranrio

Bibliotecária:

G633l Gomes, Thiago de Azevedo.

Ladrilhamento no plano com uso de software Geogebra / Thiago de

Azevedo Gomes. - Duque de Caxias, 2017.

86 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (mestrado em Ensino das Ciências na Educação Básica) – Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, 2017.

“Orientador: Prof. Dr. Abel Rodolfo Garcia Lozano”.

“Orientador: Prof. Dr. Agnaldo da Conceição Esquincalha”.

Bibliografia: f. 77-78.

1. Educação. 2. Matemática - Estudo e ensino. 3. Ensino de geometria. 4. Interdisciplinaridade. 5. Geogebra (Programa de computador). I. Lozano, Abel Rodolfo Garcia. II. Esquincalha, Agnaldo da Conceição. III. Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”. IV. Título. CDD – 370

Page 4: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em
Page 5: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

“Toda minha Física não passa de uma

Geometria”.

René Descartes

Page 6: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

RESUMO

O presente trabalho é definido a partir de uma investigação sobre a aprendizagem de conceitos

geométricos por meio do trabalho com o tema ladrilhamento no plano e uso do software

GeoGebra no celular, com o intuito de entender melhor como o aluno da Educação Básica está

aprendendo tais conceitos, cuja compreensão pode estar relacionada ao modo de trabalho do

professor de Matemática. Tendo em vista esse argumento, pretendemos responder à seguinte

pergunta: “Como favorecer o ensino de Geometria utilizando dispositivos touchscreen?” Aqui

tratamos de considerações sobre a ideia de ladrilhamento no plano e apresentamos opções para

que o trabalho do professor seja acrescido de estratégias e ferramentas que objetivem o efetivo

ensino da Matemática. Como referencial teórico utilizado para o desenvolvimento do estudo,

citamos obras sobre uso da tecnologia em sala de aula e, como metodologia de pesquisa, a

escolha foi pela Engenharia Didática. Os sujeitos de pesquisa foram quarenta alunos do oitavo

ano de uma escola pública do município de Duque de Caxias. Nesse processo, o uso da

tecnologia pode oferecer uma importante contribuição, pois se constatou que o trabalho com

esse enfoque é rico na abordagem de conceitos matemáticos e atividades que contribuem para

que ocorra a formação de um sujeito historicamente situado, firmando, assim, o

comprometimento com a aprendizagem do educando. Finalizamos esta pesquisa com a

elaboração de um Produto Educacional, um GeoGebra Book, o qual contém vídeos produzidos

para o desenvolvimento das atividades da pesquisa, a serem utilizados por qualquer interessado.

Palavras-chave: Ladrilhamento no plano. Ensino de Geometria. GeoGebra.

Interdisciplinaridade. Engenharia didática.

Page 7: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

ABSTRACT

This work is set from an investigation into the learning of geometrical concepts by working

with the tiling theme in the plan and use of the GeoGebra software on the phone, in order to

better understand how a student of Basic Education is absorbing these concepts whose

understanding may be related to mathematics teacher work mode. Once we have this assertion,

we intend to answer the following question: "How to promote the Geometry teaching using

touchscreen devices? '' Here we deal with considerations about the idea of tiling the plane, as

well as suggestions so that the teacher's work is to implement strategies and tools which aim to

an effective Mathematics teaching. In this work, there is the choice of a starting point and a

research that will deal with the tiling plan theme. As a theoretical framework used to develop

the study, we quoted works on the use of technology in the classroom and, as a research

methodology, the choice was the Didactic Engineering. The research subjects were students in

the eighth grade in a public school in Duque de Caxias city, totaling 40 students. In this process,

the use of technology may offer an important support, because it has been observed that such

work may provide useful approach on Maths concepts and assignments which colaborates for

a better formation of a historically situated learner, thus reinforcing an educator's commitment

with students' learning. The research is finished with the development of an educational

product, which is a GeoGebra Book, containing videos designed for the development of

researching activities, to be used by any interested party.

Keywords: Piling the plan. Geometry teaching. GeoGebra. Interdisciplinarity. Didactic

Engineering.

Page 8: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

LISTA DE FIGURAS

Figura Página

Figura 1: Exemplos de ladrilhamentos na natureza 20

Figura 2: Alguns ladrilhamentos 20

Figura 3: Configurações 21

Figura 4: Ladrilhamentos com polígonos regulares congruentes 22

Figura 5: Configurações que ladrilham o plano. 24

Figura 6: Ladrilhamentos do mesmo tipo 25

Figura 7: Ladrilhamentos do mesmo tipo 26

Figura 8: Ladrilhamentos do mesmo tipo 26

Figura 9: Ladrilhamentos do mesmo tipo 27

Figura 10: Ladrilhamento com um quadrilátero qualquer 27

Figura 11: Ladrilhamento com um quadrilátero qualquer 28

Figura 12: Tesselação T e sua dual T* 28

Figura 13: O ladrilhamento T e o dual T* 29

Figura 14: O ladrilhamento T e seu dual T* 30

Figura 15: Ladrilhamento T e o dual T* 30

Figura 16: Ladrilhamento obtido do (4,4,4,4) 31

Figura 17: Ladrilhamento obtido da configuração (6,6,6) 31

Figura 18: Ladrilhamento obtido da configuração (3,3,3,3,3,3) 32

Figura 19: Papagaio e flecha criados a partir do pentágono regular 32

Figura 20: Pavimentação aperiódica 33

Figura 21: Exemplos de base nas figuras de Escher 33

Figura 22: Xilogravura de Escher : “Borboletas”- 1948 34

Figura 23: Interface do GeoGebra para smartphone com sistema operacional Android 40

Figura 24: Ladrilhamento construído pelo aluno 3 57

Figura 25: Ladrilhamento construído pelo aluno 5 58

Figura 26: Ladrilhamento com quadrados e retângulos, construído pelo aluno 4 59

Figura 27: Grupo secreto na rede social Facebook 62

Figura 28: Ladrilhamentos produzidos pelos alunos e postados no grupo secreto do

Facebook

63

Figura 29: Ladrilhamento construído por aluno 63

Figura 30: Introduzindo conceitos geométricos com o software Geogebra, por

meio de vídeos tutoriais

68

Page 9: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

Figura 31: Alunos fazendo ladrilhamentos no software Geogebra 69

Figura 32: Construção feita por um aluno, após a apresentação do sexto vídeo 72

Page 10: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

LISTA DE TABELAS

Tabela

Página

Tabela 1: m = 4 e 𝑛1 = 3 23

Tabela 2: m = 5 e 𝑛1 = 3 24

Tabela 3: m = 6 e 𝑛1 = 3 24

Page 11: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

LISTA DE SIGLAS

PCN – PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

CAPES – COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL

SUPERIOR

UNICAMP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

USP- UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ANPEd – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

EDUCAÇÃO

C.a.R – SOFTWARE RÉGUA E COMPASSO

AGD – AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

UFRJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

STEM – CIÊNCIA, TECNOLOGIA, ENGENHARIA E MATEMÁTICA

Page 12: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 12

2 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .......................................................................................... 16

3.1 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 16

3.2 PROBLEMÁTICA DA INVESTIGAÇÃO: LADRILHAMENTO NO PLANO .............. 19

3.2.1 LADRILHAMENTOS NO PLANO EUCLIDIANO...................................................... 20

3.2.2 LADRILHAMENTOS NO PLANO COM POLÍGONOS REGULARES

CONGRUENTES ..................................................................................................................... 21

3.2.3 PAVIMENTAÇÕES COM POLÍGONOS REGULARES NÃO CONGRUENTES ..... 22

3.2.4 OUTROS LADRILHAMENTOS COM POLÍGONOS REGULARES ......................... 25

3.3 PAVIMENTAÇÕES COM POLÍGONOS NÃO REGULARES ...................................... 27

3.3.1 PAVIMENTAÇÕES COM QUADRILÁTEROS NÃO REGULARES ........................ 27

3.3.2 PAVIMENTAÇÃO COM PENTÁGONOS ................................................................... 28

3.3.3 OUTRAS PAVIMENTAÇÕES COM PENTÁGONOS NÃO REGULARES .............. 30

3.4 PAVIMENTAÇÕES DE PENROSE ................................................................................. 32

3.5 PAVIMENTAÇÕES DE ESCHER .................................................................................... 33

3.6 LADRILHAMENTO COMO POSSIBILIDADE DE INTEGRAÇÃO: TECNOLOGIA,

ARTE E GEOMETRIA ............................................................................................................ 34

4 O USO DAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA ..................................................... 36

4.1 TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: PRIMEIROS PASSOS E PROJETOS ..................... 36

4.2 DOS COMPUTADORES À TECNOLOGIA TOUCHSCREEN ....................................... 37

4.3 SMARTPHONES: UMA BOA POSSIBILIDADE PARA A SALA DE AULA ............... 38

4.4 O USO DO GEOGEBRA EM DISPOSITIVOS TOUCHSCREEN ................................... 39

4.5 CONTRIBUIÇÕES DOS AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA ....................... 40

5 PERCURSOS METODOLÓGICOS ................................................................................. 42

5.1 METODOLOGIA DA PESQUISA: ENGENHARIA DIDÁTICA ................................... 42

5.2 TEMA E CAMPO DE AÇÃO............................................................................................ 44

5.3 ANÁLISES PRÉVIAS ....................................................................................................... 45

5.4 DIMENSÕES EPISTEMOLÓGICAS SOBRE O CAMPO DE AÇÃO ............................ 45

5.5 DIMENSÕES DIDÁTICAS SOBRE O CAMPO DE AÇÃO ........................................... 46

Page 13: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

5.6 DIMENSÕES COGNITIVAS: QUESTÕES ENVOLVENDO O ENSINO DE

GEOMETRIA. .......................................................................................................................... 47

5.7 O AMBIENTE DA PESQUISA ......................................................................................... 48

5.8 CONCEPÇÕES E ANÁLISE A PRIORI ........................................................................... 49

5.9 O PRIMEIRO CONTATO ................................................................................................. 51

5.10 HIPÓTESES ..................................................................................................................... 53

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................ 54

6.1 O ENCONTRO INICIAL ................................................................................................... 55

6.1.1 DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2016 ................................................................................ 55

6.1.2 DIA 1º DE MARÇO DE 2016 ........................................................................................ 56

6.1.3 DIA 08 DE MARÇO DE 2016 ........................................................................................ 56

6.1.4 DIA 15 DE MARÇO DE 2016 ........................................................................................ 57

6.1.5 DIA 22 DE MARÇO DE 2016 ........................................................................................ 59

6.2 ANÁLISE A POSTERIORI ................................................................................................ 60

6.3 AVALIAÇÃO DOS ALUNOS/PARTICIPANTES .......................................................... 61

6.4 VALIDAÇÃO DA ENGENHARIA E CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA

REPRODUTIVIDADE ............................................................................................................ 64

6.5 PONDERAÇÕES SOBRE A REPRODUTIVIDADE DA ENGENHARIA DIDÁTICA 65

7 O PRODUTO EDUCACIONAL ........................................................................................ 66

7.1 PASSO A PASSO DO PRODUTO EDUCACIONAL ...................................................... 67

7.2 TECENDO COMENTÁRIOS ............................................................................................ 69

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 72

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 76

ANEXOS..................................................................................................................................79

Page 14: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

12

1 APRESENTAÇÃO

Como professor de Matemática, em duas escolas públicas no Estado do Rio de Janeiro,

percebo que o desinteresse por parte dos alunos em aprender os conceitos referentes à disciplina

de Matemática tem aumentado, porém a possibilidade de um trabalho com o uso de tecnologia,

em que se possa motivar o educando para a aprendizagem, torna-se um grande estímulo para a

realização deste trabalho.

É notório que os educandos não veem o espaço escolar como um elemento de conexão

com o que é vivido em sociedade, portanto não percebem relação entre a Matemática e o mundo

científico, o mundo do trabalho e da construção do conhecimento. O professor tem a missão de

mostrar para o aluno que a Matemática tem suma importância no desenvolvimento da sociedade

e que, nesse sentido, é fundamental que não sejamos pessoas leigas em relação ao saber

matemático.

Tenho observado que, quando os alunos conseguem conectar o que aprendem com

objetos ou situações que conhecem ou já vivenciaram, os conceitos a serem ensinados se tornam

mais compreensíveis e mais significativos para os alunos, porém o professor pode mostrar-lhes

a Matemática como uma ciência que se antecipa no tempo e que, por vezes, trabalha com

conceitos abstratos ou com ferramentas os quais, momentaneamente, parecem abstratos, mas

que vão proporcionar a construção de algo mais concreto, posteriormente. Dessa forma, tenho

questionado muito o papel dessa disciplina na formação dos alunos.

Decidi ingressar no curso de Mestrado Profissional em Ensino das Ciências na

Educação Básica e investigar de que modo poderia contribuir para melhor formar o aluno que,

por vezes, não aprende todos os conceitos que poderiam proporcionar-lhe um olhar mais

consistente sobre essa área.

Com este estudo, objetivo apresentar a Informática Educativa como uma possibilidade

de educar matematicamente e superar algumas barreiras encontradas no ensino da disciplina

em questão, em especial na escola onde será realizada a pesquisa.

Page 15: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

13

2 INTRODUÇÃO

Nossa pesquisa inicia-se com a realização de atividades que possibilitem a utilização do

software GeoGebra em um smartphone, como ferramenta mediadora do estudo do tema

Ladrilhamento no Plano, em uma turma de oitavo ano. Nesse sentido, nosso objetivo geral é

favorecer o pensamento de que o uso da tecnologia pode ser positivo, por ser uma abordagem

diferente no ensino da Geometria, através do tema Ladrilhamento no Plano.

Pavimentar ou ladrilhar é uma forma de cobrir superfícies planas com figuras, regulares

ou irregulares, colocando-as uma ao lado da outra, sem deixar regiões descobertas. De modo

geral, o tema ladrilhamento incita o estudo de Geometria. Espera-se que o aluno, ao final do

Ensino Fundamental, seja capaz de compreender conceitos geométricos básicos.

Consideramos, em nossa pesquisa, que tecnologias como o GeoGebra podem favorecer

o trabalho do professor de Matemática, ao ilustrar e permitir levantamentos de conjecturas sobre

conceitos matemáticos. Partimos do pressuposto de que o tema Ladrilhamento no Plano não

precisa seguir uma ordem rigorosa, de forma que se pode orientar uma sequência de

ladrilhamentos mais simples, a fim de tornar o estudo flexível.

Acreditamos que o GeoGebra se apresenta como uma ferramenta a qual, quando bem

utilizada, pode fomentar a construção de conceitos. Nessa perspectiva, entendemos que é

possível explorar ladrilhamentos no plano por meio do GeoGebra, como um facilitador para a

aprendizagem de conceitos geométricos e algébricos, constituindo-se uma abordagem

diferenciada, no campo da Geometria Euclidiana.

Segundo Cataneo (2011, p. 27), “a inserção da tecnologia nas aulas se faz necessária

para que ocorra a formação de um sujeito historicamente situado”. Portanto o professor de

Matemática não pode ficar à parte dessa realidade que a sociedade atual requer.

O software GeoGebra pode ser uma boa ferramenta para que o estudo de Ladrilhamento

no Plano seja realizado utilizando dispositivos móveis touchscreen em sala de aula. Com ele, o

aluno poderá aprender conceitos geométricos que, por vezes, são trabalhados em sala de aula

sem uma construção prática. Nesse sentido, será por meio do estudo desse tema e da sua

manipulação no software, que o educando poderá fazer um paralelo com conhecimentos já

trabalhados em sala de aula.

Neste estudo, consideramos as construções dos alunos a partir das habilidades

matemáticas que já possuem, ou seja, serão valorizados seus conhecimentos prévios.

Temos como objetivos específicos:

Page 16: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

14

Investigar o modo como os alunos estão aprendendo conceitos referentes ao

campo geométrico, no Ensino Fundamental, em uma unidade escolar do município

de Duque de Caxias (RJ);

Avaliar se esse modelo de ensino, utilizando recursos tecnológicos, pode trazer

resultados positivos;

Descobrir os fatores que influenciaram no sucesso, ou não, dos alunos, no que se

refere à aprendizagem de conceitos matemáticos, na turma pesquisada;

Desenvolver e analisar uma intervenção didática que favoreça a construção de

alguns conceitos associados ao campo geométrico, como: polígonos, polígonos

regulares, ângulos, ângulo interno e externo, medida da soma dos ângulos internos,

nomenclatura de polígonos.

Como metodologia de pesquisa, a opção foi pela Engenharia Didática (Artigue, 1994),

que busca fazer relações entre o teórico e o prático. Essa teoria origina-se da preocupação com

certa inovação presente no campo da Educação, que abre caminho para diversos tipos de

experiências na sala de aula, advindas de fundamentação científica. Também está relacionada

ao movimento da valorização do saber prático do professor, com a consciência de que as teorias

que não se desenvolvem com o trabalho em sala de aula são insuficientes para perceber a

complexidade do sistema, e para, de alguma forma, ter influência na transformação das

tradições do ensino. A organização do trabalho se dá em quatro fases: análises preliminares,

concepções e análise a priori, experimentação e validação e análise a posteriori.

Nas análises preliminares, apresentamos o tema da pesquisa, em seguida, a revisão da

literatura, realizada para se aprofundar o tema dessa investigação e a Engenharia Didática como

método de pesquisa. É nessa fase, também, que destacamos a pergunta de partida, apresentando

o que vamos investigar, como será essa investigação e o que já foi feito sobre esse tema.

Na primeira fase, das concepções e análise a priori, é apresentado o ambiente onde

foram realizadas as investigações, uma escola pública situada no município de Duque de

Caxias, na Baixada Fluminense. Além disso, apresentamos os sujeitos da pesquisa, alunos do

8° ano do Ensino Fundamental.

A experimentação é marcada pela intervenção do pesquisador, análises de relatórios e

organização de dados. Nessa fase, relatamos o processo de desenvolvimento da pesquisa,

quando os alunos levantaram problemas, fizeram conjecturas, saindo em busca de soluções e

criando modelos matemáticos.

Page 17: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

15

A fase de validação e análise a posteriori é marcada pelo confronto da pergunta de

partida com o processo desenvolvido pelos educandos, em torno do tema Ladrilhamento no

Plano; nesse momento, verifica-se a hipótese da pesquisa.

Como produto educacional, haja visto que o estudo se trata de uma pesquisa de um curso

de Mestrado Profissional, foi produzido um GeoGebra Book, contendo atividades que permitam

ao aluno desenvolver conhecimentos no campo da Geometria Euclidiana Plana, utilizando o

software GeoGebra, numa perspectiva que alcance os objetivos presentes nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino da Geometria nos anos finais do Ensino

Fundamental.

Page 18: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

16

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Este estudo propõe a Engenharia Didática como metodologia de pesquisa referente ao

ensino de conhecimentos matemáticos para alunos do 8° ano do Ensino Fundamental,

abordando o tema Ladrilhamento no Plano. Houve a colaboração de alunos do Ensino

Fundamental, no desenvolvimento do trabalho, caracterizados como sujeitos da pesquisa e,

também, autores, em busca da compreensão dos conhecimentos matemáticos.

3.1 REVISÃO DE LITERATURA

Ao efetuar uma busca por artigos e dissertações sobre Ladrilhamentos nos últimos cinco

anos, encontramos quarenta e quatro registros no Banco de Teses e Dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Tal número é

significativo, todavia buscamos por mais registros na Biblioteca Digital da Unicamp

(Universidade Estadual de Campinas) e na Biblioteca Digital da USP (Universidade de São

Paulo).

Diante dos resultados, optamos pela seleção de alguns textos, como dissertações e

artigos. Elegemos cinco para exposição, pois são os que mais se aproximam dos objetivos

trabalhados nesta pesquisa.

O primeiro trabalho foi apresentado por José Francisco Mota Oliveira, em 2015, ao

Programa de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de

Campinas, em Campinas, sob a orientação da professora doutora Anamaria Gomide, cujo título

é Pavimentações do Plano Euclidiano. Tem como objetivo mostrar o que são as pavimentações

no plano, bem como a possibilidade de trabalho desse tema com os alunos em sala de aula.

Tal obra busca fazer, logo de início, um estudo axiomático que embasa todo o restante

do trabalho. Algumas sugestões no capítulo final mostram ser possível o ensino de conceitos

geométricos a partir do tema pavimentações no plano euclidiano. O autor do texto não realizou

nenhuma experiência em sala de aula, porém, direciona o leitor para que possa ter o

entendimento do que é ladrilhamento de uma maneira bem rigorosa.

Essa obra foi de suma importância para o desenvolvimento desta pesquisa, pois favorece

a compreensão do conceito de ladrilhamento, com demonstrações matemáticas dessa teoria, ao

mesmo tempo em que o autor mostra, por meio das imagens, o resultado dos cálculos realizados.

A segunda literatura considerada nesta revisão é um artigo de autoria de Elvia Mureb

Sallum, de 2015, da Universidade de São Paulo, cujo título é “Ladrilhamentos”. Tal obra fala

Page 19: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

17

sobre a arte do ladrilhamento, bem como do desenvolvimento desse conhecimento, ou seja,

apresenta alguns tipos de ladrilhamento possíveis de construir e utiliza um grande rigor

matemático, para poder demonstrar sua construção.

Referente a seu trabalho, Sallum (2015, p. 1) diz que “o estudo geométrico que

apresentamos neste trabalho explica porque ladrilhamentos com motivos semelhantes

apareceram em lugares distantes no tempo e no espaço”.

Nessa obra é possível observar a teoria matemática que existe na arte do ladrilhamento,

ou seja, o teor matemático e as demonstrações necessárias para que se entenda as diversas

possibilidades de configurações possíveis nos ladrilhamentos. Nesse sentido, a autora leva o

leitor a entender que construir ladrilhamentos por tentativa e erro não é uma boa opção.

Tal artigo foi de grande valia para o desenvolvimento da pesquisa, devido ao fato de ser

o complemento da primeira obra citada, pois mostra o rigor da arte de ladrilhar, levando a

reflexões sobre a grande quantidade de conhecimento matemático que é necessário ter um

indivíduo, para fazer ladrilhamentos mais complexos.

A terceira literatura considerada é um artigo de autoria de Vera Clotilde Garcia Carneiro,

de 2005, publicado na Revista Zetetiké, pela Universidade Estadual de Campinas. O título da

obra é “Engenharia Didática: um referencial para ação investigativa e formação de professores

de Matemática”.

Nessa obra, a autora se dispõe a discutir como a Engenharia Didática pode ser aplicada,

por meio de atividades, em sala de aula. A autora propõe atividades referentes ao campo

geométrico, mais especificamente referentes ao estudo dos quadriláteros e suas propriedades,

por meio de um software de Geometria.

A autora se baseia nas obras de Michele Artigue (1994, 1996), importante pesquisadora

no campo da chamada Didática da Matemática Francesa, a qual relaciona o desenvolvimento

dos alunos/participantes segundo a escala de desenvolvimento de Van Hiele. A teoria de Van

Hiele serve de base para a compreensão do desenvolvimento do pensamento geométrico dos

alunos e, segundo ela, aprendizes de Geometria se movem através de níveis de compreensão,

numerados de 0 a 4.

Carneiro (2005) deixa clara a possibilidade de um trabalho em sala de aula utilizando a

Engenharia Didática como metodologia, para organizar as ações em sala de aula, de maneira

que haja, no fim, uma verificação das hipóteses e dos objetivos levantados. Nesse sentido, tal

produção escrita foi de extrema importância, pois a clareza no trabalho com a Engenharia

Didática foi norteadora das ações para a pesquisa e favoreceu um melhor entendimento dos

aspectos positivos desse trabalho em sala de aula.

Page 20: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

18

A quarta obra utilizada no desenvolvimento desta pesquisa é o livro “Mania de

Matemática”, de Ian Stewart, da editora Zahar, publicado no Brasil, em 2003. Tal livro mostra,

por meio de situações práticas, por vezes intrigantes e desafiadoras, diversos conceitos

matemáticos que estão ao nosso redor no dia a dia.

Stewart (2003) apresenta dezenove situações em que usamos diferentes conceitos

matemáticos, colocados de maneira a provocar o leitor, uma vez que tais situações aparecem

como desafios, de forma a causar uma reflexão por parte de quem lê seu livro.

Em seu segundo capítulo, “Teorias do Dominó”, é retratada uma situação em que a ideia

de ladrilhamento é exposta de forma diferenciada, no sentido de que se aplica a uma situação

problema, pois relata-se um problema referente ao ladrilhamento de uma região quadrada que,

antes, fora ladrilhada com quadrados menores, e é necessário que esse ladrilhamento seja

refeito, porém com retângulos iguais. Busca-se, então, a possibilidade de que o uso do tabuleiro

de xadrez seja útil para uma melhor visualização da possibilidade ou impossibilidade de

ladrilhar a região.

Tal obra trouxe grande contribuição, por mostrar a prática da arte do Ladrilhamento; o

problema exposto pelo autor leva à reflexão de que, para ladrilhar certas regiões com figuras

diferentes de quadrados, é necessário um conhecimento matemático. Tal conhecimento é

ensinado nas escolas, porém muitos educandos não conseguem ver a prática; nesse sentido, a

sequência de fatos que ocorre com os personagens expostos nesse problema faz com que o leitor

vá desenvolvendo o pensamento matemático que resolverá a situação.

A quinta obra é “Engenharia Didática: características e seus usos em trabalhos

apresentados no GT-19 da ANPEd”, do ano de 2008, cujo autores são Saddo Ag Almouloud e

Cileda de Queiroz e Silva Coutinho .

Esse artigo discorre sobre alguns conceitos relacionados à Engenharia Didática,

definições importantes para que o leitor compreenda o que é essa metodologia e qual é o seu

objetivo. Os autores introduzem o assunto de maneira bem simples, para deixar claros os passos

da Engenharia. Posteriormente, são descritas as etapas que caracterizam a Engenharia Didática

e discorre-se sobre o que se deve fazer em cada etapa, de modo que qualquer pessoa possa

utilizar a Engenharia Didática como metodologia de pesquisa.

Por fim, são feitas análises a respeito de trabalhos que fizeram uso da Engenharia

Didática como metodologia de pesquisa, com diversas observações sobre o conteúdo e

objetivos desses trabalhos.

Tal artigo foi de grande valia para o desenvolvimento desta pesquisa, pois apresenta, de

maneira precisa, a metodologia de pesquisa que é a Engenharia Didática. O autor traz um

Page 21: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

19

histórico do desenvolvimento dessa metodologia, bem como relata as possibilidades que a

mesma dá para um trabalho bem organizado em sala de aula. O autor é bem fiel às ideias da

criadora da Engenharia Didática e mostra, de forma bem definida, como se deve seguir as etapas

desse modelo de trabalho.

A seguir, veremos a problemática de investigação que é o nosso tema: Ladrilhamento

no plano.

3.2 PROBLEMÁTICA DA INVESTIGAÇÃO: LADRILHAMENTO NO PLANO

Para o desenvolvimento da teoria que envolve a arte do ladrilhamento, baseamo-nos na

obra de Oliveira (2015).

A arte de ladrilhar consiste em preencher um plano, por moldes, sem que haja

superposição ou buracos. Desde que o homem começa a usar pedras para cobrir o chão e as

paredes de sua casa, pode-se observar a ideia de ladrilhamento. As mais antigas peças de

ladrilhos são encontradas no Egito, com data aproximada de 5000 a.C.

Pavimentar ou ladrilhar é uma forma de cobrir superfícies planas com figuras, sejam

regulares ou irregulares, colocando-as uma ao lado da outra, sem deixar regiões descobertas.

Os pitagóricos já eram conhecedores do valor da soma dos ângulos internos de um polígono

regular, sendo assim, perceberam que só era possível ladrilhar o plano com três polígonos

regulares: o triângulo equilátero, o quadrado e o hexágono regular. Embora a técnica do

ladrilhamento já fosse conhecida, é atribuída a Johannes Kepler, matemático e físico alemão.

No século XX, foram feitas muitas publicações a respeito e, assim, aumentou-se a investigação

e divulgação da importância do ladrilhamento, inclusive no ensino. Quando observamos

elementos da natureza, podemos associar à ideia de pavimentação a colmeia de abelhas, por

exemplo.

Figura 1: Exemplos de ladrilhamentos na natureza

Page 22: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

20

Disponível em: <http://www.comofazer.org/ambiente/como-se-iniciar-apicultura-como-manter-uma-colmeia-

abelhas/>. Acesso em: 22 abr. 2016.

A beleza dessa regularidade já encantava e despertava o ser humano desde os tempos

mais primórdios, na decoração de objetos como tecidos, cerâmicas e vitrais. Nos dias atuais,

observamos o ladrilhamento em pisos, azulejos, decorações em paredes e fachadas de prédios.

3.2.1 LADRILHAMENTOS NO PLANO EUCLIDIANO

Segundo Oliveira (2015, p. 28), denomina-se ladrilhamento no plano euclidiano “a

divisão do plano em uma quantidade relacionável de polígonos de tal modo que quando se unem

todos os polígonos tem-se o plano”, lembrando que a interseção de dois desses polígonos é

vazia ou é um vértice, ou está contida em linha poligonal. Segue, abaixo, exemplos de

ladrilhamentos, na figura 2:

Figura 2: Alguns ladrilhamentos

Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/wiki/File:PentagonTilings.svg>.

Acesso em: 22 abr. 2016.

O grande desafio, neste trabalho, é abordar e desenvolver alguns simples ladrilhamentos

com os alunos, utilizando polígonos regulares, por meio do software GeoGebra. Se o

Page 23: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

21

ladrilhamento utiliza polígonos regulares congruentes, ou seja, polígonos todos iguais, temos

um ladrilhamento regular, contudo, se os polígonos regulares não são todos congruentes,

dizemos que há um ladrilhamento quase regular, ou arquimediano.

Conceituamos uma configuração como uma sequência do tipo (l1, l2,..., lm), para indicar

uma pavimentação em que cada vértice possui m polígonos e, cada um, com li lados, sendo li ≥

3 e m ≥ i ≥ 1. Por exemplo, se tivermos uma sequência do tipo (6,6,6), temos 3 polígonos em

torno de um vértice, cada um com 6 lados. Pode-se haver, também, uma configuração com

polígonos regulares, nem sempre congruentes, por exemplo, (3,6,3,6) indica dois polígonos de

3 lados e dois polígonos de 6 lados em torno de um vértice. Cabe salientar que (3,6,3,6) =

(6,3,6,3), pois permutações cíclicas não alteram, mas (4,4,3,6) ≠ (4,4,6,3). A figura 3, abaixo,

mostra as configurações.

Figura 3: Configurações

Disponível em: <http://homes.dcc.ufba.br/~frieda/pedagogiadeprojetos>. Acesso em: 22 abr. 2016.

3.2.2 LADRILHAMENTOS NO PLANO COM POLÍGONOS REGULARES

CONGRUENTES

É possível pavimentar um plano utilizando apenas polígonos regulares congruentes de

n lados? Será que, além de quadrados, é possível que utilizemos outros polígonos regulares

congruentes para cobrir todo o plano? Se sim, quais são?

Em volta de um vértice, a soma dos ângulos dos polígonos posicionados um ao lado do

outro deve ser de 360°. A medida do ângulo interno de um polígono regular de n lados é dada

por:

180( 2)n

n

Suponha que sejam posicionados m, m ≥ 3, polígonos regulares de n lados, n ≥ 3, ao

redor de um vértice. Logo,

Page 24: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

22

180 2360

nm

n

Ao simplificar a equação, temos:

2

2

nm

n

Se m ≥ 3, tem-se a desigualdade:

23

2

n

n

que tem resultado em n ≤ 6. Como n ≥ 3, temos 3 ≤ n ≤ 6. Sendo assim, concluímos que os

possíveis polígonos regulares são: triângulo equilátero, quadrado, pentágono regular e

hexágono regular.

Quando substituímos n por 3, 4, 5 e 6 na equação 2

2

nm

n

, obtemos, respectivamente,

m = 6, 4, 10

3e 3 polígonos em cada vértice. Então, percebe-se que não é possível ladrilhar

utilizando pentágono regular, porque ele é o único polígono regular, entre os destacados, que

não utiliza uma quantidade inteira em volta de um vértice.

Figura 4: Ladrilhamentos com polígonos regulares congruentes

Disponível em: <http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=33486>.

Acesso em: 22 abr. 2016.

3.2.3 PAVIMENTAÇÕES COM POLÍGONOS REGULARES NÃO CONGRUENTES

Nesta seção, relataremos, de maneira breve, algumas possibilidades de ladrilhamentos

com polígonos regulares não congruentes, o que permite que façamos ladrilhamentos de

Page 25: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

23

maneira mais prática, pois, assim, evitamos a utilização de método de tentativa e erro.

Por meio de Oliveira (2015), percebe-se que podemos observar quantos e quais

polígonos são necessários ao redor de cada vértice, no caso do ladrilhamento com polígonos

regulares não congruentes.

1° caso: m = 3, isto é, três polígonos regulares por vértice. Seja 𝑛𝑖 o número de lados de

cada um dos polígonos em cada vértice, para i = 1,2,3. A soma das medidas dos ângulos internos

desses polígonos em torno de um vértice satisfaz a equação:

180°(n1 – 2)

n1+

180°(n2 − 2)

n2+

180°(n3 − 2)

n3= 360°

Sendo assim os possíveis valore para 𝑛1, 𝑛2 e 𝑛3 são:

3,12 e 12.

4, 6 e 12.

4, 8 e 8.

6, 6 e 6.

2° caso: m = 4, isto é, quatro polígonos regulares em cada vértice. Sendo 𝑛1,

𝑛2, 𝑛3 e 𝑛4 os polígonos que serão combinados num vértice; temos:

Tabela 1: m = 4 e 𝑛1 = 3

𝑚 = 4 𝑛1 𝑛2 𝑛3 𝑛4

3 3 4 12

3 3 6 6

* 3 6 3 6

3 4 3 12

* 3 4 6 4

3 4 4 6

* 4 4 4 4

Fonte: Oliveira, 2015, p. 37.

Apenas os indicados com * definem ladrilhamentos com polígonos regulares não

congruentes.

3° caso: m = 5, isto é, cinco polígonos regulares por vértice. Seja 𝑛𝑖 o número de cada

um dos polígonos em cada vértice, para i = 1, 2, 3, 4, 5. Temos a configuração dos cinco

polígonos, de acordo com a tabela abaixo:

Tabela 2: m = 5 e 𝑛1 = 3

Page 26: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

24

𝑚 = 5 𝑛1 𝑛2 𝑛3 𝑛4 𝑛5

* 3 3 3 3 6

* 3 3 3 4 4

* 3 3 4 3 4

Fonte: Oliveira, 2015, p. 39.

Os indicados com * são os que definem ladrilhamentos com polígonos regulares não

congruentes. A configuração (3, 3, 4, 3,4) não foi encontrada nos cálculos realizados, porém ao

fazer a permutação da configuração (3,3, 3, 4, 4) encontra-se outra configuração que representa

pavimentação.

4° caso: m = 6, isto é, seis polígonos em cada vértice. Seja

𝑛𝑖 o número de cada um dos polígonos em cada vértice, para i = 1, 2, 3, 4, 5, 6. Temos a

configuração dos seis polígonos, a qual ficará de acordo com a tabela abaixo:

Tabela 3: m = 6 e 𝑛1 = 3

𝑚 = 6 𝑛1 𝑛2 𝑛3 𝑛4 𝑛5 𝑛6

* 3 3 3 3 3 3

Fonte: Oliveira, 2015, p. 40.

Figura 5: Configurações que ladrilham o plano

Fonte: Sallum, 2015, p. 8-9.

Page 27: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

25

3.2.4 OUTROS LADRILHAMENTOS COM POLÍGONOS REGULARES

Nesta seção, serão apresentados alguns outros tipos de ladrilhamentos com polígonos

regulares, mas antes de explicitar propriamente esses ladrilhamentos, precisamos comentar a

respeito da definição de ladrilhamentos do mesmo tipo.

Oliveira (2015, p. 42) define que dois ladrilhamentos “são do mesmo tipo quando

coincidem por um movimento rígido do plano somado a uma mudança de escala”. Dessa

maneira, chamaremos de iguais dois ladrilhamentos do mesmo tipo.

Uma condição é que, ao redor de cada vértice, haja sempre os mesmos polígonos, porém

não é necessário que seja na mesma ordem. Sendo assim, alguns ladrilhamentos podem mudar,

por exemplo:

(3,4,3,3,4) cortando um zig-zag e juntando as metades, como na Figura 6:

Figura 6: Ladrilhamentos do mesmo tipo

Fonte: Oliveira, 2015, p. 42.

(3,6,3,6) ao fazer uma translação em uma faixa horizontal independente das outras,

conforme a Figura 7:

Page 28: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

26

Figura 7: Ladrilhamentos do mesmo tipo

Fonte: Oliveira, 2015, p. 42.

(3,4,6,4) fazendo uma rotação de 30° em um disco formado por um hexágono e

polígonos vizinhos a ele, os discos podem girar independentemente, como mostra a Figura 8:

Figura 8: Ladrilhamentos do mesmo tipo

Fonte: Oliveira, 2015, p. 43.

Assim, é possível observar que, com essa condição, podemos ter uma infinidade de

ladrilhamentos. Se levarmos em consideração duas imagens por reflexão, somente a

configuração (3,3,3,3,6) é chamada de igual. Tal ladrilhamento é mostrado na Figura 9:

Page 29: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

27

Figura 9: Ladrilhamentos do mesmo tipo

Fonte: Oliveira, 2015, p. 43.

3.3 PAVIMENTAÇÕES COM POLÍGONOS NÃO REGULARES

Nesta seção, discutiremos, ainda baseados em Oliveira (2015), a respeito de alguns

ladrilhamentos não regulares. Iniciaremos pelos quadriláteros não regulares.

3.3.1 PAVIMENTAÇÕES COM QUADRILÁTEROS NÃO REGULARES

Consideremos o quadrilátero ABCD, na figura abaixo. É possível fazer o ladrilhamento

seguindo o seguinte procedimento: primeiro, elaborando uma reflexão em torno de BC; em

seguida, pode-se fazer uma reflexão em torno da mediatriz m desse lado. Realizando esse

processo, temos a pavimentação, conforme as Figuras 10 e 11, abaixo:

Figura 10: Ladrilhamento com quadrilátero qualquer

Fonte: Oliveira, 2015, p. 44.

Page 30: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

28

Figura 11: Ladrilhamento com um quadrilátero qualquer

Fonte: Oliveira, 2015, p. 45.

3.3.2 PAVIMENTAÇÃO COM PENTÁGONOS

Antes de falar da pavimentação com pentágonos, será apresentado o conceito de

ladrilhamentos duais, necessário para o ladrilhamento com pentágonos.

Seja T um ladrilhamento. Segundo Oliveira (2015, p. 49), define-se que:

A tesselação dual T* de T é obtida da seguinte maneira: o centro de cada polígono em

T corresponde a um vértice de um polígono em T*; cada lado de um polígono de T

corresponde a um lado do polígono T*, e dois vértices são ligados em T* se, e somente

se, são os centros de dois polígonos em T que tem um lado comum.

A Figura 12, abaixo, mostra uma tesselação T e dual T*. Note que a configuração

(3,3,3,3,3,3,3) é a tesselação T e a sua dual é a configuração (6,6,6).

Figura 12: Tesselação T e sua dual T*

Fonte: Oliveira, 2015, p. 49.

Page 31: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

29

A tesselação dual é obtida por meio de uma tesselação dada. As tesselações duais são as

que têm por nós os centros dos polígonos formados de outra tesselação, por exemplo: na

tesselação hexagonal, unindo os centros dos hexágonos adjacentes, é possível ter uma nova

tesselação triangular, dual da hexagonal, em que os vértices dos triângulos são centros dos

hexágonos.

As tesselações regulares são duais de si mesmas, sendo assim, a triangular é dual da

hexagonal e a quadrada, dual dela mesma. Algumas outras tesselações têm suas próprias duais

com características específicas.

A partir dessas tesselações duais, podemos fazer ladrilhamentos com pentágonos não-

regulares, pois, como já foi visto, não é possível fazer ladrilhamentos com pentágonos regulares

ou com pentágonos quase-regulares. A seguir, serão apresentados alguns ladrilhamentos com

pentágonos não regulares, feitos a partir de duais de pavimentações.

O primeiro é o dual da configuração (3,3,3,3,6), mostrado na Figura 13. O ladrilhamento

com pentágonos não regulares é o dual da configuração (3,3,3,3,6), cujos ângulos internos são

(60°, 120°, 120°,120°, 120°).

Figura 13: O ladrilhamento T e o dual T*

Fonte: Oliveira, 2015, p. 50.

No dual da configuração (3,3,3,4,4), encontramos um ladrilhamento com pentágonos

não regulares, cujos ângulos internos são (90°,90°,120°,120,120°). É possível observar esse

ladrilhamento na Figura abaixo.

Page 32: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

30

Figura 14: O ladrilhamento T e seu dual T*

Fonte: Oliveira, 2015, p. 50.

No dual para a configuração (3,3,4,3,4), encontramos o ladrilhamento dual cujos

ângulos internos são (90°, 120°,90º,120°,120°). A seguir, tem-se a ilustração desse

ladrilhamento:

Figura 15: Ladrilhamento T e o dual T*

Fonte: Oliveira, 2015, p. 51.

3.3.3 OUTRAS PAVIMENTAÇÕES COM PENTÁGONOS NÃO REGULARES

Para Oliveira (2015, p. 51), “algumas pavimentações com polígonos que são regulares

podem ser modificadas por transformações geométricas para se ter ladrilhamentos com

pentágonos não regulares”.

Podemos fazer a transformação da configuração (4,4,4,4), assim a escolha se deu por

quadrados, mantendo uma distância, entre eles, de quatro quadrados, na linha e na coluna. Além

disso, de uma linha para a outra e entre uma coluna e outra. Ao escolher o quadrado, foi

obedecido o movimento do cavalo do jogo de xadrez. Nos quadrados escolhidos, traçam-se

diagonais. Dessa maneira, encontra-se um padrão com pentágonos irregulares, cujos ângulos

Page 33: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

31

internos são (90°, 135°, 90°, 90°, 135°), conforme a Figura abaixo:

Figura 16: Ladrilhamento obtido do (4,4,4,4)

Fonte: Oliveira, 2015, p. 51.

Na transformação da configuração (6,6,6), podemos construir a reta mediatriz de dois

lados opostos, encontrando-se o que é um padrão com pentágonos irregulares, cujos ângulos

são (90°, 90°, 120°,120°,120°). A seguir, é possível ver essa construção (Figura 17).

Figura 17: Ladrilhamento obtido da configuração (6,6,6)

Fonte: Oliveira, 2015, p. 52.

Como mais uma possibilidade, tem-se a transformação da configuração (3,3,3,3,3).

Criando segmentos, conforme a figura abaixo, consegue-se um padrão com pentágono não

regular, cujos ângulos internos são (90°, 90°, 120°, 120°, 120°).

Page 34: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

32

Figura 18: Ladrilhamento obtido da configuração (3,3,3,3,3,3)

Fonte: Oliveira, 2015, p. 53.

3.4 PAVIMENTAÇÕES DE PENROSE

Segundo Oliveira (2015, p. 53), “o físico e matemático inglês Roger Penrose tinha

fixação por jogos e desafios matemáticos e descobriu que era possível ladrilhar o plano de

maneira não periódica usando apenas dois quadriláteros denominados papagaio e flecha,

respectivamente”.

Observe, a seguir, como esses quadriláteros podem ser construídos tendo como base um

pentágono regular (Figura 19).

Figura 19: Papagaio e flecha criados a partir do pentágono regular

Fonte: Oliveira, 2015, p. 53.

Essas pavimentações de Penrose não podem ser obtidas por meio de translação de um

padrão de movimentação. Ou seja, se tivéssemos uma transparência de uma pavimentação de

Penrose, não seria possível movê-la numa direção e fazê-la coincidir com a pavimentação que

é a original. É possível observar isso na imagem a seguir (Figura 20).

Page 35: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

33

Figura 20: Pavimentação aperiódica

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-636X2015000301329>.

Acesso em: 29 ago. 2016.

3.5 PAVIMENTAÇÕES DE ESCHER

As obras do artista holandês Mauritis Cornrlius Escher (1898-1972), com suas estruturas

geométricas, atraíram e atraem o interesse de muitas pessoas, das mais diversas áreas. Em tais

obras, são notórios os ladrilhamentos feitos com peixes, pássaros, entre outros. De início,

Escher ladrilhava com polígonos e, depois, preenchia os polígonos com linhas, formando

figuras. Abaixo, Figuras 21 e 22, podemos ver alguns desses ladrilhamentos feitos por Escher.

Figura 21: Exemplos de base nas figuras de Escher

Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/47850814769210113/>. Acesso em : 25 set. 2016.

Figura 22: Xilogravura de Escher : “Borboletas”- 1948

Page 36: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

34

Disponível em: <http://mitolivros.blogspot.com.br/2013/12/a-perspectiva-de-escher_1.html>.

Acesso em: 25 set. 2016.

3.6 LADRILHAMENTO COMO POSSIBILIDADE DE INTEGRAÇÃO: TECNOLOGIA,

ARTE E GEOMETRIA

A utilização do ladrilhamento no ensino da Geometria é uma possibilidade para superar

as dificuldades dos alunos, no que tange à compreensão de conceitos geométricos. Nesse

sentido, é possível, também, favorecer a integração entre diferentes áreas, como as Artes, a

Geometria e o uso da tecnologia por meio das atividades ligadas ao tema ladrilhamento, em

especial, quando esses ladrilhamentos são construídos com o uso de tecnologias como o

smartphone.

Este capítulo buscou mostrar que há Matemática envolvida na ideia de ladrilhar e que

tal ação pode ser feita por meio de tentativas e erros, porém, é muito mais eficaz quando se

pode usar o conhecimento matemático para, antecipadamente, determinar os ladrilhamentos

possíveis. Nessa perspectiva, a Matemática se mostra especialmente importante, por antecipar

os fatos e favorecer ao aluno um pensamento mais preciso formal e crítico sobre os objetos e

formas que o cercam.

Entendemos que pensar em novas possibilidades para o ensino da Matemática é

necessário, haja vista as mudanças nas relações sociais, especialmente as causadas pela

constante inovação das tecnologias já inseridas, em sala de aula, pelos alunos. Entendemos que

a escola não pode ficar fora dessas inovações e que ela pode contribuir para que o educando

entenda que há integração entre diferentes campos do conhecimento.

Por diversas vezes, os alunos não conseguem visualizar a ligação da Matemática com

os diferentes campos do conhecimento, sendo assim há essa preocupação por mostrar que a

Page 37: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

35

Matemática é uma ciência construída histórica e socialmente e necessária para o

desenvolvimento de outras áreas do conhecimento; há a pretensão de mostrar ao aluno que

pensar matematicamente é positivo e a falta desse conhecimento, por vezes, é prejudicial, pois

é empecilho para o estudo de algumas outras ciências.

Page 38: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

36

4 O USO DAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

Nesta seção, discorremos sobre a possibilidade do trabalho com dispositivos

touchscreen, pois entendemos que as tecnologias digitais com os dispositivos móveis e

touchscreen (celulares, tablets) trazem questionamentos sobre diferentes formas de realizar

uma atualização, no que se refere ao espaço da sala de aula, frente ao processo de ensino-

aprendizagem.

Para Borba (2014, p. 42), “as tecnologias digitais móveis – internet, celular, tablets –

estão modificando as normas que vivemos, os valores associados a determinadas ações”.

Perante isso, dispositivos móveis e touchscreen (smartphone) serão utilizados para a realização

das atividades desta pesquisa, por entendermos que estudantes e professores já dispõem desses

dispositivos e que o uso de ferramentas com um cunho didático-pedagógico possa contribuir

para o ensino da Matemática.

Percebemos que o professor precisa de um direcionamento adequado, no trabalho com

as ferramentas digitais; nesse sentido, o papel do educador é importante, na medida em que

agrega valor ao que o educando, por si, consegue fazer com a ajuda da tecnologia, mostrando-

lhe ser possível aprender mais na interlocução com seus colegas e seu professor.

Segundo Silva (2015, p. 3), “cabe ao professor a difícil tarefa de orientar os estudantes

sobre este uso de forma consciente”. O uso das tecnologias já modela a sala de aula, criando

diferentes dinâmicas e transformando a inteligência, no que se refere ao coletivo.

4.1 TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO: PRIMEIROS PASSOS E PROJETOS

Com o constante avanço no que diz respeito a tecnologias, é possível perceber que o seu

uso, em sala de aula, torna-se cada vez mais necessário, especialmente no que tange à busca por

tornar a escola cada vez mais próxima da realidade do educando. Porém o uso das tecnologias

na educação ainda não traz, até o presente momento, uma resposta tão positiva quanto esperam

os entusiastas de seu uso.

Pela década de 1970, há relatos de que algumas universidades, como a Universidade

Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade

Estadual de Campinas fazem as primeiras experiências com o uso do computador na educação,

conforme indicam Almeida e Valente (1997). Segundo Henrique (2017), os primeiros

programas governamentais referentes ao apoio da difusão e utilização da tecnologia na

educação surgiram a partir de 1981 e o acúmulo de experiências deram base ao PROINFO,

Page 39: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

37

Programa Nacional de Informática na Educação. Tal projeto tinha o objetivo de apoiar e

estimular a aplicação da informática nas escolas de nível fundamental e médio.

É possível notar que já faz bastante tempo que existe a tentativa de inserir a tecnologia

na educação, por observar-se que grande parte das pessoas utilizam, cada vez mais, essas

tecnologias em afazeres diários, consequentemente, os alunos também estão em contato com

esses aparatos tecnológicos, pelo menos fora da escola. Portanto tablets e smartphones

passaram a ser ferramentas promissoras para o processo educacional.

Antes de se discorrer a respeito das possibilidades de implementar atividades com o uso

das tecnologias, será visto como se desenvolveu o cenário dos ambientes informatizados com

grande possibilidade de contribuição ao processo de aprendizagem, sendo específico a

aprendizagem da Geometria por meio dinâmico, chegando aos dispositivos touchscreen.

4.2 DOS COMPUTADORES À TECNOLOGIA TOUCHSCREEN

Segundo Henrique (2017, p. 24), “as construções realizadas através dos softwares

Cabri-Géometre e o Sketchpad, e de outros que vieram depois como, por exemplo, o Régua e

Compasso (C.a.R), possibilitaram ao usuário modificações através da manipulação, mantendo

suas propriedades”. O termo Geometria Dinâmica não está exclusivamente ligado aos

ambientes informatizados, mas ao uso de materiais manipuláveis, de forma geral, para o

aprendizado geométrico (mais conhecido como geometria não estática).

Com o avanço da informática e a ampliação das possibilidades para o uso da Geometria

Dinâmica na educação, em ambientes informatizados, é possível encontrar, em algumas

literaturas, as primeiras aparições do termo Ambientes de Geometria Dinâmica (AGD); alguns

autores se referem a softwares de Geometria Dinâmica ou, simplesmente, Geometria Dinâmica.

Gravina (2001, p. 82) mostra que “os ambientes de geometria dinâmica são ferramentas

informáticas que oferecem régua e compasso virtuais, permitindo a construção de objetos

geométricos a partir das propriedades que os definem”. Segundo Henrique (2017, p. 24), “nessa

mesma época houve uma grande disseminação da utilização da Internet no campo educacional,

o que ampliou as possibilidades da geometria dinâmica. Como exemplo, o software Tabulae

desenvolvido pela UFRJ”.

Nos dias atuais, o termo AGD refere-se a uma nova possibilidade para o ensino da

Geometria frente a ambientes ainda pouco explorados, que são a construção e a manipulação

de objetos geométricos por meio dos dispositivos touchscreen.

Bairral (2013) diz que a construção por meio de toques na tela (touchscreen) é diferente

Page 40: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

38

de uma construção feita por meio do clicar (computador). Para o autor, a interação com o

software se dá por toque direto na tela “tapa (pancadinha, batida, golpe leve), duplo tapa, longo

tapa, arrastar, mudança de tela e múltiplos toques (girar, rotacionar)” (p. 3).

O uso de um AGD em dispositivos touchscreen pode ser positivo por meio da utilização

dos dispositivos móveis, e se apresenta como uma possibilidade recente para se pensar no

ensino da Geometria, a partir das tecnologias da informação e comunicação. Quando se faz um

paralelo ao trabalho que poderia ser feito com os computadores, é fato que esses se tornaram

de uso limitado pelo custo e pela mobilidade, essencialmente.

Em relação à contribuição do uso dos dispositivos com tecnologia touchscreen, como

tablets e smartphones, Henrique (2017, p. 25) diz que pode ser positivo, “facilitando o

planejamento, o tipo de atividade a ser implementada, a organização da turma, além de ser algo

que faz parte do uso diário dos estudantes, agregando o interesse na participação em atividades

em que estes recursos sejam utilizados como fio condutor”.

Foi dada ênfase ao fato de que uma nova nomenclatura constituiu passos da evolução

da forma de pensar e propor atividades, no que tange ao campo da Geometria Dinâmica.

Obviamente que o computador não substituiu os materiais manipuláveis, como o geoplano, por

exemplo, assim como os dispositivos touchscreen não substituíram o trabalho com os

computadores, porém pensar em novas formas de ensinar Geometria exige investigações a

respeito de suas contribuições e desafios para a inserção em sala de aula.

4.3 SMARTPHONES: UMA BOA POSSIBILIDADE PARA A SALA DE AULA

O avanço tecnológico que está infiltrado em nossa vida cotidiana gera uma grande

inquietação relacionada à dissociação entre esse avanço e a falta de inserção da tecnologia em

sala de aula. Grande parte das escolas brasileiras apresentam um modelo tradicional que se

assemelha a um modelo anterior ao aparecimento das tecnologias como computadores,

smartphones e tablets. Não é o objetivo da pesquisa responder o que pode ser feito para

contornar ou resolver tal situação, muito embora seja bastante tentador se debruçar sobre isso.

O intuito desta pesquisa é mostrar uma possibilidade associada à prática docente, com

boas chances de favorecimento à aprendizagem, em especial no que se refere ao aprendizado

da Matemática no campo geométrico. Essa possibilidade, que é apresentada nesta pesquisa, está

na inserção do smartphone como recurso educacional em sala de aula, pois já está presente

nesse espaço, mas não costuma ser explorado por professores como um instrumento para a

construção do conhecimento, em particular, matemático.

Page 41: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

39

Para que se possa inserir um dispositivo móvel em sala de aula, é preciso que se

identifique o que há de positivo e negativo em seu uso, com o intuito de extrair o melhor de sua

funcionalidade, para que, assim, possa haver um ambiente motivador e desafiador, muito

positivo para que ocorra a aprendizagem.

Segundo Henrique (2017, p. 26), há algumas características do smartphone que

contribuem para a realização de atividades em sala:

- Devido à mobilidade pode ser incorporado mais facilmente às práticas de sala de

aula;

- Pode estimular a curiosidade e a motivação na realização das atividades;

- É um repositório das mais variadas ferramentas para o ensino de matemática;

- Pode ser utilizado pelo seu próprio dono, o que dispensa o laboratório de informática

e não precisa de conexão à Internet.

Todavia essas características não permitem ao professor a possibilidade de deixar de

elaborar um trabalho que seja similar ao perfil dos alunos participantes e desenvolvedores das

atividades. Quando há uma proposta que não tenha compatibilidade com o que se estuda, pode

haver um desestímulo da curiosidade e estímulo dos discentes. É importante mencionar que o

trabalho proposto pelo professor precisa ter objetivos bem desenhados, pois o smartphone, por

ser de uso cotidiano de grande parte dos alunos, traz a possibilidade de se perder o foco na

atividade desenvolvida.

4.4 O USO DO GEOGEBRA EM DISPOSITIVOS TOUCHSCREEN

Já existem alguns softwares de Geometria Dinâmica para o uso com telas sensíveis ao

toque, touchscreen, como, por exemplo, o GeoGebra. Segundo a apresentação do site oficial do

aplicativo, o “GeoGebra é um software de Matemática dinâmica para todos os níveis de

educação que reúne Geometria, álgebra, planilhas, gráficos, estatísticas e cálculo em um pacote

fácil para uso”.

Também encontramos, no site, que o “GeoGebra tornou-se líder no fornecimento de

software de Matemática dinâmica, apoio à educação e inovações da Ciência, Tecnologia,

Engenharia e Matemática (STEM) no ensino e aprendizagem em todo o mundo”.

O GeoGebra para celulares e tablets apresenta, basicamente, a mesma estrutura para a

versão em computador convencional, tanto em relação às funcionalidades, como no que diz

respeito à interação. Ele apresenta, na sua interface, uma grande quantidade de ícones, os quais

o usuário seleciona, para escolher a função desejada, da mesma maneira como se manuseasse

um mouse e, assim, é possível executar a construção na área de desenho, não havendo diferença

Page 42: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

40

aplicável para a versão dispositivo móvel.

Figura 23: Interface do GeoGebra para smartphone com sistema operacional Android

Fonte: impressão de tela.

Por meio da visualização da interface do programa, é possível notar que o trabalho com

esse software pode se dar no campo geométrico, mas também em outros campos da Matemática,

como, por exemplo, no ensino das funções. Nesse sentido, é preciso apresentar algumas

contribuições e reflexões a respeito de um Ambiente de Geometria Dinâmica, no que tange ao

ensino da Geometria.

4.5 CONTRIBUIÇÕES DOS AMBIENTES DE GEOMETRIA DINÂMICA

As mudanças na nossa sociedade, influenciadas pelas tecnologias da informação,

provocam a busca por novas maneiras de produção do conhecimento. Tal fato vai ao encontro

do grande desafio da educação, que é a busca por minimizar os problemas relacionados à

aprendizagem. Uma opção para esse desafio é a utilização dos Ambientes de Geometria

Dinâmica (AGD).

Referente à definição de AGD, Henrique (2017, p. 29) afirma que:

Como destacamos anteriormente, o termo utilizado não contempla somente o uso do

software através da tela do computador. Nesse caso, entendemos por AGD uma

plataforma com possibilidades de construção e manuseio de objetos geométricos

(mantendo-se suas propriedades ou não, dependendo do tipo de construção), na tela

do computador (via mouse) ou diretamente no toque na tela em dispositivos com a

tecnologia touchscreen.

Page 43: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

41

Em relação aos pontos positivos de um AGD, Bairral (2009, p. 26) menciona que há um

favorecimento da interação do sujeito com as Tecnologias da Informação e Comunicação, há a

descoberta mediante a tentativa e o erro, a observação, o levantamento e a verificação de

conjecturas, bem como a representação do objeto de estudo, de diferentes formas. O autor

menciona pontos positivos em relação à aprendizagem com o uso da tecnologia, como, por

exemplo, a facilidade nas construções geométricas, a construção de uma possível atividade

investigativa e a descoberta referente a um determinado conceito.

As atividades implementadas por meio de um AGD podem favorecer a manipulação e

a construção de objetos geométricos, além de serem positivas para a exploração de conjecturas

e a investigação do que procede ao raciocínio formal.

Segundo Henrique (2017, p. 29), “Uma investigação matemática acontece a partir de

um problema proposto, com possibilidades de construções de conjecturas e descobertas”. Nesse

sentido, as atividades propostas neste trabalho se destacam como propícias para a investigação,

no que tange ao conhecimento matemático, que pode ser desenvolvido com o ladrilhamento no

plano, por meio do GeoGebra, em dispositivos touchscreen.

Nessa seção, foram discutidas potencialidades do trabalho com a tecnologia, por meio

de um AGD; houve o pensamento de favorecer o processo ensino-aprendizagem dos

conhecimentos matemáticos, em especial, no campo da Geometria. A seguir, será relatada a

metodologia desta pesquisa.

Page 44: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

42

5 PERCURSOS METODOLÓGICOS

Nesta seção, teremos uma parte descritiva e uma parte preditiva da pesquisa. É

necessária uma descrição a respeito das escolhas efetuadas, definindo, além da metodologia, as

variáveis de comando, de maneira mais global, e, na perspectiva local, descrevendo cada

atividade proposta.

5.1 METODOLOGIA DA PESQUISA: ENGENHARIA DIDÁTICA

Para contribuir com a formação inicial e continuada do professor, nesta pesquisa,

trazemos um estudo de caso, com o intuito de apresentar e detalhar uma metodologia, servindo

de referência para as pesquisas de sala de aula: a Engenharia Didática.

A descrição de ação pedagógica/investigativa: planejamento e implementação de

atividades para o ensino de conteúdos específicos de Geometria, no Ensino Fundamental, que

se torna uma ação investigativa, com metodologia de trabalho inspirada nos princípios da

Engenharia Didática.

O termo Engenharia Didática (Artigue, 1994, 1996) foi de construção da área de

Didática da Matemática, na França, por volta da década de 1980, com inspiração no trabalho

do engenheiro, cujo trabalho apresenta características de produção, com sólido conhecimento

científico, básico e essencial, mas que, em contrapartida, exige que haja um enfrentamento de

problemas cotidianos para os quais não existe, momentaneamente, solução prévia, ou seja, o

trabalho constitui-se de momentos em que é preciso construir soluções.

Essa teoria origina-se da preocupação com certa inovação presente no campo da

Educação, que abre caminho para diversos tipos de experiências na sala de aula, advindas da

fundamentação científica. Também está relacionada ao movimento da valorização do saber

prático do professor, com a consciência de que as teorias que não se desenvolvem com o

trabalho em sala de aula são insuficientes para perceber a complexidade do sistema e para, de

alguma forma, ter influência na transformação das tradições do ensino. Nesse sentido, a questão

é afirmar a possibilidade de agir num sentido racional, com referência nos conhecimentos

matemáticos e didáticos, dando destaque à importância da “realização didática” na sala de aula,

como prática de investigação.

A Engenharia Didática foi elaborada para atender a dois questionamentos: o primeiro

são as relações entre pesquisa e ação, no que se refere ao sistema de ensino; o segundo é a

questão do lugar particular para as realizações didáticas, quanto às metodologias de pesquisa.

Page 45: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

43

A Engenharia Didática é uma expressão com duplo sentido. Faz referência às produções de

ensino, frutos de resultados de pesquisa, e também é uma metodologia específica de pesquisa

que se baseia em experiências de sala de aula. Segundo Almoloud e Coutinho (2008, p. 66):

A Engenharia Didática, vista como metodologia de pesquisa, caracteriza-se, em

primeiro lugar, por um esquema experimental baseado em "realizações didáticas" em

sala de aula, isto é, na concepção, realização, observação e análise de sessões de

ensino. Caracteriza-se também como pesquisa experimental pelo registro em que se

situa e modo de validação que lhe são associados: a comparação entre análise a priori

e análise a posteriori.

Nesse tipo de linha, a prática de ensino está vinculada à prática de investigação. A

Engenharia Didática pode ser entendida como uma referência para o desenvolvimento de

produtos para o ensino, produzidos pela junção do conhecimento que vem da prática e pelo

conhecimento referente à Ciência.

A ideia deste texto é mostrar um trabalho de Engenharia Didática, em que se teve a

atenção de fazer uma seleção significativa dos objetos do conhecimento, diminuindo o foco da

investigação/ação, com a ideia principal de mostrar formas concretas de acomodar e aplicar, de

maneira simples, os princípios dessa metodologia. Nesse sentido, a maior ênfase não está na

experiência realizada, mas nas características do funcionamento da Engenharia Didática. É

preciso observar que essa metodologia tem fundamentos em uma teoria extremamente ampla,

que envolve a Teoria das Situações Didáticas, dos jogos de quadros e dos obstáculos

epistemológicos, criados, respectivamente, pelos autores da Didática Francesa, Brosseau,

Douady e Chevallard.

Uma Engenharia Didática, segundo Artigue (1996), inclui quatro fases: a primeira se

refere às análises prévias; a segunda, à concepção e análise a priori de experiências didático-

pedagógicas a serem desenvolvidas na sala de aula de Matemática; a terceira, à implementação

da experiência; e a quarta, à análise a posteriori e à validação da experiência. Todavia para o

desenvolvimento deste trabalho, vamos, de maneira lenta, delineando os passos, para uma

reflexão que vai além dessa simples divisão.

Nas análises preliminares, destacamos a pergunta de partida, enfatizando o que vamos

investigar, como será essa investigação e o que já foi feito sobre esse tema.

Na primeira fase, das concepções e análise a priori, é apresentado o ambiente onde

foram realizadas as investigações: uma escola situada em Duque de Caxias. Além disso,

apresentamos os sujeitos da pesquisa – alunos do 8° ano do ensino fundamental.

A experimentação é marcada pela intervenção do pesquisador, análises de relatórios e

organização de dados. Nessa fase, relatamos o processo de desenvolvimento da pesquisa,

quando os alunos levantam problemas, fazem conjecturas, saem em busca de soluções e criam

Page 46: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

44

modelos matemáticos.

A fase de validação e análise a posteriori é marcada pelo confronto da pergunta de

partida com o processo desenvolvido pelos educandos, em torno do tema Ladrilhamento no

Plano; nesse momento, será verificada a hipótese da pesquisa.

5.2 TEMA E CAMPO DE AÇÃO

As leituras se iniciaram com os textos de Michele Artigue (1994, 1996), mas, na medida

em que o estudo se desenvolveu, fez-se necessário partir para outras. Após um primeiro contato

com os alunos e a análise de questionário respondido por eles sobre os conhecimentos

matemáticos e a importância da disciplina, buscou-se um campo de ação e um tema de estudo.

Na chegada à escola, foi escolhida uma turma de oitavo ano, por apresentar características mais

favoráveis, tais como: horários de aula da turma, disponibilidade do pesquisador e

comportamento dos alunos, para um trabalho de cunho diferenciado, em relação ao ensino da

Matemática.

Diversas questões se impuseram: com quais conhecimentos vamos trabalhar? O que

podemos trabalhar como um conjunto de conhecimentos que possam oferecer um recorte com

coerência, no que diz respeito à Matemática escolar, com importância e autossuficiência, em si

mesmo, coerente para um trabalho com a Engenharia Didática?

Então optou-se pelo trabalho com o tema Ladrilhamento no plano, na Geometria

Euclidiana, motivado pela possibilidade de um trabalho mais concreto, no que diz respeito ao

conhecimento aprendido através da prática e da visualização, com os alunos/participantes.

Houve um reconhecimento, por parte do professor/pesquisador, de que há uma grande

dificuldade no trabalho com os conhecimentos geométricos, especialmente pelo fato serem

expostos sempre no final do bimestre (entretanto, apesar de os alunos terem aprendido pouco

da Geometria Euclidiana, a utilização de softwares ajudou bastante na aprendizagem). Então

como justificar a importância desse tema para os alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental?

Iniciamos a justificativa, pensando nos motivos para o ensino da Geometria. Acredita-

se que um adulto alfabetizado mostre competências básicas no campo da Geometria, entre

essas, uma linguagem específica e habilidades, no que tange à visualização e representação,

como a denominação dos polígonos, de acordo com a quantidade de lados, sua identificação e

construção. Conhecer e aprender Geometria também é estabelecer relação entre os diferentes

conceitos, diversos deles presentes em nosso cotidiano; por exemplo, as noções de reta,

segmentos de reta, ângulos, interseção, retas perpendiculares, paralelismo e congruência. A

Page 47: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

45

Geometria também se articula com o trabalho com os números e medidas, semelhança e

proporção. Nesse sentido, o ensino da Geometria também propicia o desenvolvimento do

pensamento lógico, organizado, estruturado e sistematizado, que proporciona um melhor

rendimento na resolução de problemas dos mais diversos tipos. De acordo com os Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (Brasil, 1998, p. 39), “o trabalho com

noções geométricas contribui para aprendizagem de números e medidas”.

5.3 ANÁLISES PRÉVIAS

A primeira etapa da Engenharia, a etapa de análises prévias, é construída objetivando

analisar como funciona o ensino habitual de conceitos, para propor uma intervenção que

transforme, de forma positiva, a aula usual. Tal análise tem o intuito de clarear os efeitos do

ensino tradicional, as concepções dos educandos e as dificuldades e percalços que marcam as

evoluções das concepções. A reflexão sobre falhas é o ponto de partida para determinar

condições possíveis para um funcionamento que traga satisfação.

Carneiro (2005) diz que Artigue sugere uma análise em três dimensões: 1) dimensão

epistemológica, que se relaciona com as características do saber em jogo; 2) dimensão didática,

ligada às características do funcionamento do sistema de ensino; 3) dimensão cognitiva, ligada

às particularidades do público ao qual se dirige o ensino.

5.4 DIMENSÕES EPISTEMOLÓGICAS SOBRE O CAMPO DE AÇÃO

Parcialmente, é possível falar da Geometria, salientando sua natureza mutável, com

diferentes sentidos, no passar dos séculos: Geometria intuitiva, Geometria científica, Geometria

dedutiva, Geometria das transformações e Geometria avançada.

Geometria intuitiva é aquela que se origina das observações do espaço físico real. A

Geometria científica surge do trabalho da mente humana, a partir das noções primitivas,

consolidando essas noções, conscientemente, por meio de regras e leis mais gerais. A Geometria

dedutiva se refere ao uso do pensamento lógico-dedutivo, para aumentar o conjunto de leis e

regras iniciais, constituindo a Geometria Euclidiana. A Geometria das transformações tem

origem na percepção de que existem muitas Geometrias, a Euclidiana e as não Euclidianas.

Geometria avançada designa uma concepção mais nova e mais geral, como uma teoria que tem

espaço definido e que possui um corpo de relações entre objetos.

A respeito do ensino da Geometria no Brasil, Soares (2001, p. 11) diz que:

Page 48: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

46

A falta de preparo dos professores e a liberdade que a lei de diretrizes de bases da

educação de 1971 dava às escolas quanto à decisão sobre os programas das diferentes

disciplinas, fez com que muitos professores de Matemática, sentindo-se inseguros

para trabalhar com a Geometria, deixassem de incluí-la em sua programação. Os que

continuaram a ensina-la o faziam de modo precário. Os próprios livros didáticos

passaram a parte de Geometria para o final, o que fez com que durante o Movimento

da Matemática Moderna a Álgebra tivesse um lugar de destaque.

Atualmente, ainda podemos observar esse tipo de comportamento por grande parte dos

professores de Matemática, que ensinam de maneira precária a Geometria ou a relegam para o

final do programa. Tais fatos fazem com que os educandos não aprendam, de maneira

satisfatória, os conhecimentos geométricos, ou seja, o saber se torna não só fragmentado, mas

se torna, por vezes, não relacionado a um significado bem construído pelo aluno.

O ensino de Geometria, no Brasil, começa nos anos iniciais do Ensino Fundamental e

está concentrado na Geometria intuitiva, com algumas passagens pela Geometria científica.

Nesse sentido, temos um ensino da Geometria Euclidiana muito estanque, ou seja, sem rigor e,

por diversas vezes, encontramos turmas com alunos que não são capazes de compreender

nenhuma demonstração matemática usada na Geometria.

A respeito do ensino da Geometria no Brasil, Ferreira (2005, p. 10) diz que:

É possível que esse rigor e ênfase nos postulados e axiomas tenha produzido um efeito

prolongado, afastando os professores de ensinar Geometria. Nos dias de hoje, ainda

encontramos livros didáticos com capítulos destinados à Geometria no final do livro.

Muitos professores, a secundarizam ao dizerem: “não deu tempo de trabalhar os

conteúdos de Geometria”. É preciso reverter esse quadro, pois acredita-se que a partir

dos entes geométricos é possível ensinar todos os outros conceitos matemáticos.

Sendo a Geometria um ente que se relaciona diretamente com a prática, torna-se fácil

a sua compreensão.

5.5 DIMENSÕES DIDÁTICAS SOBRE O CAMPO DE AÇÃO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) enfatizam a importância do

ensino da Geometria para, por exemplo, favorecer a percepção espacial. Os livros, de forma

geral, apresentam os conhecimentos de Geometria numa forma clássica, que começa com

conceitos primitivos para a chegada aos conceitos mais complexos; nesse sentido, foram

analisados os livros de Dante (Projeto Teláris, da Editora Ática, do ano de 2014) e “Matemática

e Realidade”, de Iezzi, Dolce e Machado, da Editora Atual, do ano de 2009. Em ambos, os

textos iniciam-se com passagens rápidas pelo mundo real – Geometria intuitiva – e daí

apresenta-se a Geometria científica, trabalhando as noções geométricas e consolidando-as.

O advento das tecnologias, em particular dos softwares de Geometria Dinâmica,

Page 49: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

47

trouxeram uma possibilidade de construir e explorar os conceitos geométricos, a partir de

softwares poderosos, como o GeoGebra.

Com relação ao ensino de Geometria tradicional, é fato que são necessários métodos

aproximadores mais aceitáveis. Nesse sentido, o trabalho com o software pode ser importante,

e com a possibilidade ocorrer em um smartphone, inclusive permitindo ao aluno retomar seus

estudos quando não está na escola.

No Ensino Fundamental usual, o ensino de Geometria não é considerado problemático,

pois, para muitos educadores, parece que apresenta somente dois objetivos: identificar figuras

e denominá-las, o que desmerece o conteúdo e leva alunos e professores a considerarem esses

conhecimentos sem importância, por remeterem à memorização.

5.6 DIMENSÕES COGNITIVAS: QUESTÕES ENVOLVENDO O ENSINO DE

GEOMETRIA

No primeiro encontro com os alunos da escola participante da pesquisa, antes de

começar a ação, buscamos atualizar o tema em questão e perceber se seria interessante trabalhar

com ele. Para isso, elaboramos um questionário (Anexo 4), a fim de se ter noção das opiniões

e interesses dos alunos, bem como de seus conhecimentos prévios. Ele nos permitiu entender

melhor algumas indagações e questionamentos referentes ao ensino da Matemática, de uma

maneira mais geral.

A análise das respostas, exposta no capítulo 5, permitiu concluir sobre a importância da

intervenção e de desenhar objetivos cognitivos claros, sendo assim, houve uma maior busca por

bibliografia referente ao tema.

Os estudantes envolvidos com o a pesquisa, em grande parte, reconheceram que a

Matemática é importante e salientaram que consideram importantes, também, alguns conceitos

geométricos.

Para compreender o estágio cognitivo dos alunos, fizemos o uso da Teoria de Van Hiele.

O modelo de aprendizagem elaborado pelo casal holandês Dina e Pierre Van Hiele salienta que

aprendizes da Geometria se movem por níveis de compreensão, numerados de 0 a 4. O nível

zero é o nível de visualização. Os educandos reconhecem as formas geométricas e as nomeiam,

mas não conhecem suas propriedades. No nível 1, os estudantes têm capacidade de analisar e

fazer relações com as propriedades básicas das figuras, mas não fazem relações com figuras

diferentes. O nível 2 é o da dedução informal, em que os estudantes relacionam propriedades

de uma mesma figura e fazem relações com figuras diferentes. No nível 3, os estudantes

Page 50: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

48

conseguem justificar suas afirmações, por meio da coerência lógica. O último nível é aquele

denominado “nível do rigor”. É o momento em que a Geometria passa a ser vista como abstrata,

independente de exemplos concretos.

No caso desta pesquisa, alguns alunos foram diagnosticados ainda no nível básico, ou

seja, nível zero, na aprendizagem de Geometria. Eles reconheceram alguns conceitos básicos,

algumas figuras, mas pouco sabiam sobre suas propriedades e não relacionaram figuras entre

si. Não fizemos a utilização de um teste específico, para verificar em que nível estavam os

estudantes, porém essa conclusão se deu por meio da observação dos conhecimentos

geométricos apresentados por eles, durante a realização da sequência das atividades e pelos

relatos escritos a respeito das perguntas feitas para os mesmos.

Abaixo seguem as características que nos levaram a concluir que os sujeitos da pesquisa

se encontravam no nível zero, segundo a escala de Van Hiele:

Não sabiam diferenciar quadrados de retângulos;

Não conheciam propriedades de quadriláteros;

Não conheciam diferentes tipos de ângulos;

Não conheciam polígonos como octógonos e dodecágonos;

Desconheciam construções geométricas simples, como as de um quadrado e do

retângulo.

Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho foi construir um modelo de ensino

epistemologicamente mais favorável, especialmente por abrir caminho para ampliar as

concepções dos alunos, no que se refere à Geometria.

5.7 O AMBIENTE DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada em uma escola – Colégio Estadual Santo Antônio –, no

município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Vale salientar que as menções a essa escola

estão devidamente autorizadas, Anexo 2 e Anexo 3, conforme preconizam as normas do Comitê

de Ética em Pesquisa da UNIGRANRIO, por cujo crivo a presente investigação passou,

cumprindo suas exigências, além de estar munida da carta de aceite de tal comitê, Anexo 1.

Para o desenvolvimento da pesquisa, foi escolhida uma turma do 8° ano do Ensino

Fundamental dessa escola, onde o pesquisador atua como professor de Matemática. A escolha

pela turma 802 se deu pelo fato de ser composta por alunos agitados, mas, também,

participativos, que aceitam desafios e que se mostram interessados em desenvolver trabalhos

Page 51: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

49

diferentes daquilo que é tradicional, no ensino da Matemática. Como as atividades de cunho

interdisciplinar compõem uma proposta inovadora para o pesquisador e tal pesquisa deve ser

realizada com o desejo do educando em participar das atividades, a escolha se deu pela turma

802.

Inicialmente nomeado como Escola Estadual Santo Antônio, o local onde se deu a

pesquisa foi fundado no início da década de 1950 e era mantido pela Fábrica Nacional de

Motores. A princípio, oferecia o curso primário para os filhos dos empregados da fábrica.

Em 1º de março de 1982, mudou para a atual sede, passando a funcionar em um prédio

maior, para atender à demanda dos membros da comunidade. Novamente, em 1º de março, mas

de 1996, a unidade escolar passou a denominar-se Colégio Estadual Santo Antônio.

Sua estrutura física é composta por dois andares e garante o acesso aos alunos a todos

os ambientes. Para os alunos com deficiência, a escola possui uma rampa de acesso até o

segundo andar. Possui quinze salas de aula, uma sala de leitura (dividida em dois ambientes),

um laboratório de informática, um auditório, quadra de esportes, laboratório de Ciências, uma

sala para os professores, uma sala de arquivo, uma secretaria, uma sala de artes, refeitório, dois

banheiros para os funcionários e dois banheiros para os alunos. Funciona em três turnos: o

primeiro, de 7h às 12h20min, o segundo, das 12h30min às 17h50min e o terceiro turno, das 18h

às 23h20min.

A escola foi muito receptiva e a direção se mostrou bastante favorável à pesquisa, porém

foram encontradas dificuldades para o trabalho com a tecnologia, pois o laboratório de

informática encontra-se completamente sucateado, com cerca de cinco computadores, apenas,

funcionando.

Devido a essa observação e por meio da leitura de alguns trabalhos a respeito do uso

dos smartphones em sala de aula, levantou-se a possibilidade deste trabalho com a turma em

questão.

Após uma conversa informal com os alunos, foi observado que 85% deles possuíam

smartphones e que os que não possuíam um, poderiam consegui-lo, para que o trabalho fosse

realizado em sala de aula. Nessa perspectiva, entendemos que as atividades propostas não

seriam comprometidas e que haveria a possibilidade da participação total dos alunos.

5.8 CONCEPÇÕES E ANÁLISE A PRIORI

Descreveremos as escolhas efetuadas, definindo, assim, as variáveis de comando, de

Page 52: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

50

maneira mais global, e, na perspectiva local, descrevendo cada atividade proposta.

As primeiras escolhas se referem a variáveis globais, aquelas que dizem respeito à

organização global da engenharia. Nesse caso, são:

1. Deixar clara a mudança de conceitos empíricos sobre a Geometria e a Álgebra para

conhecimentos formais e científicos;

2. Utilizar smartphones e um software de Geometria Dinâmica, fazendo opção pelo

GeoGebra, por ser gratuito, disponível e multiplataforma;

3. Introduzir o estudo de conceitos geométricos e algébricos, por meio da noção de

ladrilhamento no plano;

4. Definir alguns ladrilhamentos com certas características pela ação de movimentos no

software;

5. Situar os alunos sobre a possibilidade de um trabalho interdisciplinar envolvendo a

Matemática, as Artes e a tecnologia;

6. Trabalhar, em sala de aula, sempre conectando as duas possibilidades – a tela e o

papel –, propondo questões e tendo como referência conceitos formais presentes em livros do

Ensino Fundamental.

Levando em consideração essas escolhas globais, partimos para um Plano de Ações em

que há uma intervenção nas escolhas locais. O plano se apresenta numa sequência de ações, em

seis encontros de 1 hora e 40 minutos, cada. Essas ações têm partida em questões de controle,

pensadas a partir do texto de Artigue (1996, p. 206), as quais facilitam prever o comportamento

dos alunos, mostrando como a forma de análise efetuada permite o controle das relações entre

o sentido do seu desenvolvimento e das análises propostas.

As variáveis microdidáticas se caracterizam por possibilitarem a intervenção do

pesquisador/professor, como, por exemplo, buscar a proposta didática como método de ensino

e de aprendizagem, os instrumentos utilizados para avaliação da aprendizagem, a quantidade

de atividades, o planejamento dos conteúdos a serem trabalhados, as atividades propostas, a

organização da turma, entre outros. Nessa perspectiva, como variável microdidática,

apresentamos a Engenharia Didática como metodologia de ensino, com uma breve definição e

apresentação aos alunos, a escolha do tema Ladrilhamento no Plano com o uso do software

GeoGebra, quando o professor/pesquisador promoveu um debate inicial com os alunos, visando

despertar a percepção da relevância do tema, para o ensino da Matemática. Apresentamos aos

sujeitos, alunos do 8° ano, sua organização em grupos, os diversos encontros que seriam

realizados, os questionários construídos para a realização das investigações sobre o tema, a

Page 53: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

51

coleta e interpretação dos dados, os relatórios apresentados após alguns debates, os cálculos, a

formulação de modelos matemáticos e a análise dos resultados.

Convém salientar que as atividades selecionadas, de cunho interdisciplinar, se voltavam

para conhecimentos específicos, referentes ao programa da disciplina. Durante as aulas, era

destinado um tempo para orientações das atividades, variando entre cinquenta a sessenta

minutos semanais.

5.9 O PRIMEIRO CONTATO

O início da pesquisa surgiu com uma conversa informal com os alunos, na turma em

que o pesquisador é o professor. O objetivo dos encontros foi de familiarizar os discentes com

a interdisciplinaridade e, assim, se deu a escolha pelo tema Ladrilhamento no Plano,

especialmente por sua característica prática e real.

Achamos coerente, também, aplicar um questionário (Anexo 4), para verificar a opinião

dos educandos sobre a importância da Geometria e da ideia de ladrilhamento, sobre as aulas de

Matemática e a relação entre o que se aprende e o que é visto no cotidiano e a importância dos

conceitos matemáticos. Além disso, foi solicitado que descrevessem alguns conceitos

matemáticos que julgassem mais importantes.

A pergunta 1 questionou o seguinte: Você acha que é necessário aprender Matemática?

Por quê? As respostas de alguns alunos foram transcritas abaixo:

Aluno 1: Sim, a Matemática é importante para a compreensão melhor do mundo.

Aluno 2: Sim, porque em todas as áreas da vida nós precisamos para contar,

administrar o dinheiro ou até mesmo saber o tempo para ir a algum lugar, por exemplo.

Aluno 3: Sim, porque vamos precisar em qualquer profissão que a gente for seguir.

Aluno 4: Sim, pois a maioria das coisas que a gente faz tem Matemática auxiliando.

É possível perceber que os alunos/participantes reconhecem a importância de sabermos

Matemática, porém os mesmos têm dificuldades em salientar os motivos pelos quais essa

ciência é importante. A noção que os alunos têm sobre a Matemática é bem superficial,

associam a aplicabilidade do conhecimento matemático à contagem e à prática do trabalho.

Essa noção pode ser confirmada pelas respostas fornecidas à segunda pergunta, quando se

verificou a relação entre os conhecimentos trabalhados em Matemática e os conhecimentos

trabalhados em outras disciplinas.

A pergunta 2 dizia: Você acha que os conhecimentos trabalhados em Matemática estão

Page 54: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

52

relacionados com os conhecimentos de outras disciplinas? Por quê?

Aluno 1: Sim, pois quase todas as disciplinas têm a Matemática as auxiliando.

Aluno 2: Sim, porque aparece praticamente em todas as matérias. Exemplos: Química,

Física, Resolução de Problemas.

Aluno 3: Sim, porque em todas as áreas a Matemática se faz presente como, por

exemplo, na Física, Geografia e Química.

Aluno 4: Não, porque não usamos Matemática nas outras disciplinas.

É possível confirmar que a maior parte dos estudantes observa uma relação das outras

disciplinas com o conhecimento matemático. Mesmo ainda não cursando as disciplinas de

Química e Física, fazem uma relação dos conhecimentos matemáticos com os conhecimentos

dessas disciplinas.

A terceira pergunta se relacionava com as aulas de Matemática: Na sua opinião, as aulas

de Matemática despertam o interesse e a curiosidade? Por quê?

Aluno 1: Sim, porque quando você aprende algo que lhe é útil e que você vai ver que é

uma grande “jornada”, isso faz com que você queira aprender mais.

Aluno 2: Em minha opinião sim, porque além de ser minha matéria favorita ela

desperta o interesse e aprendizado pelas coisas novas.

Aluno 3: Sim, pois se as pessoas pensarem bem, Matemática está em tudo hoje em dia

e tudo foi descoberto com um pouco da ajuda da Matemática.

Aluno 4: Desperta, pois entendemos coisas que sem a Matemática seria impossível

entendermos.

É notório que os alunos consideram as aulas de Matemática motivadoras e relacionam

a disciplina ao desafio e à descoberta. Com a ajuda das perguntas anteriores, fica claro que os

educandos reconhecem a importância da Matemática para o futuro e isso, para grande parte

deles, é motivador.

A quarta pergunta referia-se aos conhecimentos matemáticos já interiorizados pelo

educando: Para você quais conceitos matemáticos são importantes?

Aluno 1: Eu acho fundamental saber as 4 operações.

Aluno 2: Para mim alguns conceitos principais são: raiz quadrada, equações,

expressões.

Aluno 3: As quatro operações básicas são fundamentais, pois permitem que você

aprenda equações, por exemplo.

Aluno 4: As contas de +, - ,× , ÷ , pois são as mais usadas no cotidiano das pessoas.

De acordo com as respostas do questionário, o qual se encontra na íntegra, no Anexo 4,

Page 55: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

53

foi possível perceber que, para grande parte dos alunos, a Matemática é importante, motiva-os,

mas está ligada a números e cálculos que fazemos no cotidiano, ou seja, o seu uso é bem restrito

à necessidade de algumas outras ciências ou à própria Matemática. Somente alguns conceitos

aprendidos durante vários anos de escolaridade foram citados. Apesar de os alunos entenderem

que a Matemática é importante para o futuro, boa parte indicou que acha somente as operações

de soma, subtração, multiplicação e divisão como importantes.

Ao analisar o questionário, percebeu-se que as atividades propostas a partir do Plano de

Ações propiciavam que os alunos pudessem passar, em termos dos níveis de Van Hiele, do

nível básico para o nível 2, em que, segundo Rodrigues (2007, p. 3), “o aluno já é capaz de

fazer a inclusão de classes, acompanhar uma prova informal, porém não é capaz de construir

uma outra”. Tais atividades podem contribuir para tornar o ensino da Matemática mais

interessante ao aluno, que terá a oportunidade de ser desafiado, com atividades que favoreçam

o pensamento matemático.

Diante disso, foi dado prosseguimento aos encontros, iniciando com uma breve

explicação a respeito da pesquisa, além de sua justificativa para toda a comunidade escolar.

5.10 HIPÓTESES

As escolhas locais articulam-se com as previsões a respeito do comportamento dos

alunos. Concomitantemente, explicamos como se desenvolveria o controle das relações entre

os comportamentos dos educandos e as atividades propostas, e formulamos hipóteses que

seriam comparadas com os resultados finais, contribuindo para a validação da Engenharia.

Entendemos que tomar decisões e formular hipóteses são ações simultâneas. Anterior ao Plano,

as hipóteses estão implícitas. Tornam-se, então, explícitas e verbalizadas, posteriormente ao

desenvolvimento do Plano de Ação, quando se tem ideia do todo.

Para os efeitos da validação, as hipóteses não devem ser muito amplas, à medida que

podem comprometer processos de aprendizagem, a longo prazo. Ao apresentá-las, é necessário

ter consciência de que voltaremos a elas, durante a experimentação, verificando-as: Será que o

Plano funciona? Será que há a validade das hipóteses?

Dessa forma, as hipóteses foram formuladas da seguinte maneira:

1- Com a coleção de ações propostas, os educandos vão adquirir conhecimentos sobre

Geometria, interiorizando conceitos formais.

2- A passagem de conhecimentos em meio informatizado para a folha de papel é natural.

Por meio do software, o educando terá oportunidade de se apropriar mais rapidamente de uma

Page 56: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

54

maior quantidade de conceitos, tornando-se apto a resolver diversos problemas práticos, os

quais podem servir como situações motivadoras para o trabalho com o software.

3- A falta de familiaridade dos alunos com o software pode ser superada com o uso de

vídeos, para o conhecimento do menu. O GeoGebra é de fácil utilização.

6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Durante o período de cinco semanas, foram desenvolvidos seis encontros, nos quais

Page 57: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

55

coletamos dados que serão analisados neste capítulo. A turma participante da pesquisa tem

quatro tempos semanais de aulas de Matemática, dos quais dois foram dedicados à investigação.

As aulas escolhidas foram às terças, pela manhã.

Muito cedo, de forma concomitante com a experimentação, foram iniciadas a Análise a

posteriori e a validação das hipóteses. O professor/pesquisador não tinha o intuito de analisar

o trabalho após a conclusão. Para nós, a fase da experimentação, acompanhada pelas análises

em grupo (professor/pesquisador e orientadores), já constitui a própria análise a posteriori, e

teve como resultado algumas modificações, que direcionaram a validação.

Durante a experimentação, coletamos e foram organizados uma quantidade de dados

variados, formados pela produção dos educandos, registro de suas perguntas, dúvidas e erros

verificados durante o acompanhamento de suas ações. A análise desse material é fundamental

para a etapa de validação.

A seguir, serão apresentados materiais coletados e a análise de dados, em cada dia de

atividades realizadas.

6.1 O ENCONTRO INICIAL

No primeiro encontro, como já mencionado, foi entregue um questionário aos alunos,

que o preencheram, relatando suas impressões sobre algumas perguntas realizadas pelo

professor/questionador. Também foi feito um levantamento, para saber se todos os alunos

possuíam smartphone e se tinham a possibilidade de baixar o software GeoGebra.

Após uma conversa prévia com a direção, para se chegar a um comum acordo a respeito

de qual turma de oitavo ano participaria do trabalho, chegou-se a um consenso e, assim, foram

definidas datas e explicados os conceitos que seriam trabalhados com a turma; também foi

explicitado o trabalho, pioneiro na escola, pois trata-se da utilização do celular para o

aprendizado de conceitos de Matemática. Combinou-se de fazer dez tempos de aula, com cinco

atividades a respeito do tema Ladrilhamento no Plano.

Para não haver exposição dos alunos, eles foram numerados de 1 a 28, para que se

pudesse relatar a respeito de sua participação no desenvolvimento das atividades propostas.

6.1.1 DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2016

Após o primeiro encontro, começam efetivamente as aulas com atividades relacionadas

à investigação. Nesse encontro, foi possível observar que os participantes baixaram (no celular)

Page 58: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

56

o GeoGebra, como combinado, então, apresentamos didaticamente o software. Entretanto,

somente com a exposição oral, a apresentação poderia ficaria comprometida, então foram

produzidos vídeos no smartphone, a fim de que os alunos/participantes pudessem se inserir na

pesquisa. Com o auxílio dos vídeos, foram apresentadas as principais ferramentas do software

e os alunos puderam, com seus smartphones, testar a função de cada ferramenta. Nesse

momento, é bastante interessante o trabalho com alguns termos matemáticos, como: paralelos,

congruentes, reflexão, entre outros.

Foi proposta aos alunos/participantes a construção de segmentos de reta, retas, retas

paralelas, perpendiculares e de alguns polígonos simples. Os participantes puderam explorar

algumas simples construções que, geralmente, são feitas com régua e compasso na escola.

Notamos que muitos não conheciam polígonos com mais de quatro lados e não sabiam como

construí-los; quando falamos de polígonos regulares, nenhum aluno/participante soube definir

o que era.

6.1.2 DIA 1º DE MARÇO DE 2016

No dia 1º de março de 2016, o encontro foi iniciado com uma explanação a respeito do

que seria o Ladrilhamento no Plano. Foi apresentado, por meio de uma televisão, um vídeo

produzido pelo professor/pesquisador, com algumas imagens em que é possível observar a ideia

de ladrilhamento no cotidiano de grande parte das pessoas. Alguns alunos se questionaram a

respeito do fato de o tema ladrilhamento ter relação com o que se aprende sobre a Matemática.

Posteriormente, foi lançada uma proposta que, na verdade, era a primeira atividade: será

possível ladrilhar o plano com retângulos e quadrados?

Os participantes tiveram grande dificuldade para diferenciar quadrados e retângulos, e

muitos não souberam construir retângulos, por esse desconhecimento. Foi ensinada, então, a

diferença entre eles e como construir um retângulo, mas ainda apresentaram bastante

dificuldade. Sendo assim, foi proposto que baixassem a atividade, por transferência Bluetooth,

a partir do celular do professor. Assim foi feito, e só precisaram tentar ladrilhar com os

retângulos e quadrados já construídos. Os alunos disseram que seria facilmente possível

ladrilhar com os retângulos e quadrados, pois a medida dos ângulos internos de ambos era igual.

6.1.3 DIA 08 DE MARÇO DE 2016

No quinto e sexto tempos de aula, no dia 8 de março, foi proposta a realização da

Page 59: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

57

segunda atividade, após um debate sobre alguns polígonos regulares e seus nomes. A atividade

foi introduzida com a seguinte pergunta: o que é a área de um polígono? Nenhum aluno soube

responder, então foi feita mais uma pergunta: quando vão ladrilhar um cômodo da casa, o que

é necessário calcular?

Eis a resposta de um dos alunos/participantes:

Aluno 1: É preciso saber a área e a área é o valor necessário para cobrir o polígono.

A partir dessa resposta, foi definida a ideia de área e propôs-se que os alunos baixassem

a atividade 2, que consistia em perceber se era possível revestir um hexágono regular com

triângulos equiláteros. Em seguida, foi apresentado o vídeo solicitando a realização da atividade

com o auxílio do software GeoGebra, no smartphone.

Os participantes movimentaram os triângulos e perceberam que se encaixavam

perfeitamente. Em seguida, foi feita a seguinte pergunta: o que podemos concluir com isso?

Uma das respostas encontra-se abaixo:

Aluno 2: Os seis triângulos equiláteros podem cobrir um hexágono regular e isso deve

acontecer porque as áreas são iguais.

Em seguida, foi formalizada uma possibilidade para o cálculo da área do hexágono

regular, a partir da área dos triângulos equiláteros. Observe uma das construções realizadas por

um aluno:

Figura 24: Ladrilhamento construído pelo aluno 3.

Fonte: Dados da pesquisa.

6.1.4 DIA 15 DE MARÇO DE 2016

No encontro do dia 15 de março, apresentamos a terceira e a quarta atividades. A terceira

atividade foi introduzida com um vídeo produzido pelo professor/pesquisador, solicitando que

fossem feitos ladrilhamentos com hexágonos regulares; houve o questionamento sobre o fato

de ser possível, ou não, ladrilhar com esses hexágonos. Abaixo destacamos o ladrilhamento

Page 60: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

58

construído pelo aluno 5.

Figura 25: Ladrilhamento construído pelo aluno 5.

Fonte: Dados da pesquisa.

Alguns alunos/participantes atentaram para a semelhança com a forma geométrica das

colmeias, quando puderam fazer relação com algo que é visto no cotidiano por grande parte das

pessoas; tal fato evidencia a presença da Matemática em nossas atividades mais comuns.

A quarta atividade teve início com um debate sobre produtos notáveis, especificamente

sobre o quadrado da soma. Seria possível tornar mais concreto que (a + b)² = a² + 2.a.b + b²?

Foi sugerido que baixassem a atividade 4, a fim de tentarem ladrilhar uma região quadrada com

quadrados menores e retângulos. Foi pedido que considerassem os lados do primeiro quadrado

com medida a, as medidas dos lados do segundo quadrado com medida b e os retângulos com

lados de medida a e b, sendo a e b quaisquer números pertencentes ao conjunto dos números

naturais, exceto zero. A seguir, está a construção feita por um aluno:

Figura 26: Ladrilhamento com quadrados e retângulos, construído pelo aluno 4.

Page 61: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

59

Fonte: Dados da pesquisa.

Nessa atividade, a construção do ladrilhamento proporcionou comentários dos alunos a

respeito do conceito de equivalência de áreas.

6.1.5 DIA 22 DE MARÇO DE 2016

Nesse dia, foi proposto aos alunos que, com o uso do software GeoGebra, fizessem

ladrilhamentos com polígonos regulares, podendo usar os polígonos regulares que quisessem.

Os alunos/participantes não se opuseram a realizar a atividade, porém tiveram algumas

dificuldades, já que a maior parte daqueles que realizaram a atividade começaram

experimentando o encaixe dos polígonos e perceberam que, dessa forma, seria mais trabalhoso.

A respeito disso, o aluno 7 fez as seguintes ponderações:

Aluno 7: Professor, eu vou utilizar a medida do ângulo interno. Aqueles polígonos em

que eu tiver a soma de seus ângulos internos igual a 360° eu vou conseguir ladrilhar. Por

exemplo, o polígono de 12 lados que eu já descobri quem tem ângulo interno de 150°. Então

se eu ladrilhar com dois polígonos de doze lados e um triângulo a soma dá igual a 360°.

Foi possível perceber que o aluno entendeu perfeitamente a ideia e o conceito de

Page 62: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

60

ladrilhamento e que já consegue utilizar, em sua prática, o cálculo, para descobrir o valor dos

ângulos internos de um polígono.

Por fim, foi realizada uma coletânea de construções dos alunos, a qual lhes foi

apresentada por meio do Datashow. Foram feitos debates sobre o tema ladrilhamento e

comentaram-se os conceitos que foram aprendidos durante os dez tempos de aula. Os alunos

tiveram a oportunidade de preencher um questionário, com suas impressões sobre as aulas, e

puderam deixar suas impressões e questionamentos, além da opinião sobre o fato de ser

positivo, ou não, esse modelo de aulas.

6.2 ANÁLISE A POSTERIORI

As investigações que fazem uso da experimentação em sala de aula, muitas vezes,

incluem a avaliação de grupos externos, ou seja, de testemunhos diferentes, para verificar sua

validade em ambientes em que a metodologia adotada seja, por exemplo, a tradicional. No caso

da Engenharia Didática, segundo Carneiro (2005), a validação é por essência interna, fundada

no confronto entre a análise a priori e a posteriori. Segundo Artigue (1996), o confronto entre

a análise a priori e a análise a posteriori consiste na investigação daquilo que foi considerado

nas hipóteses e que, quando posto em prática, sofreu distorções, deixando de ser válido.

A ideia desse trabalho foi discutir o quanto o processo proposto pela Engenharia

Didática pode contribuir para a formação do educando e para o educador e, consequentemente,

gerar conhecimentos, principalmente pela reflexão e pelo enfrentamento das dificuldades e

impasses.

Nessa perspectiva, relatamos impasses ocorridos desde o segundo encontro. Cabe,

ainda, destacar que, no quarto encontro, buscando fazer ladrilhamentos com hexágonos, os

alunos tiveram grandes dificuldades, pois, por vezes, seus hexágonos eram sobrepostos e então

não acontecia o ladrilhamento. Então, optamos por utilizar a ferramenta reflexão em relação a

uma reta, porém os alunos/participantes ainda sentiram bastante dificuldade. Ouvimos

comentários como os seguintes: eu não sabia o que era um hexágono regular, descobri que

esse hexágono tem seis lados iguais, a medida do ângulo interno de um hexágono é igual a

120°, um ângulo de 360º completa o círculo.

Junto a essas descobertas, surgiram outras, não tão boas.

Na atividade 3, ao tentar movimentar o retângulo, é perceptível que ele se deforma,

perdendo sua propriedade (tal figura pode se transformar em figuras que não são consideradas

quadriláteros, na Geometria Euclidiana). Dolce e Pompeo (2005) definem quadrilátero da

Page 63: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

61

seguinte forma: “sejam A, B, C e D quatro pontos de um mesmo plano, todos distintos e três

não-colineares. Se os segmentos AB, BC, CD e DA interceptam-se apenas nas extremidades, a

reunião desses quatro segmentos é um quadrilátero”.

Ou seja, ao manipular o software, o aluno/participante pode transformar quadriláteros

em figuras que não os são. Refletindo sobre esse problema, pôde-se perceber que, sem a

orientação do professor/pesquisador, o participante pode ser induzido ao erro e, nesse sentido,

o mesmo pode considerar que o software não seja de tão fácil utilização.

Com a orientação do professor/pesquisador, os alunos conseguiram realizar facilmente

a atividade, indicando que o problema inicial relacionava-se à construção com o software e não

à sua utilização.

6.3 A AVALIAÇÃO DOS ALUNOS/PARTICIPANTES

Durante o primeiro encontro, conversamos com os alunos/participantes a respeito da

existência de um grupo secreto na rede social Facebook, ao qual poderiam ser inseridas suas

construções, realizadas durante as aulas, e também no qual poderiam relatar suas impressões,

ou seja, eles poderiam compartilhar com os demais membros se achavam importante e coerente

o que estavam aprendendo. Esse seria o espaço para os nossos debates fora da sala de aula, no

qual eles poderiam elogiar ou criticar, de maneira construtiva, pois o grupo seria secreto

(somente os convidados pelo professor/pesquisador teriam acesso a ele).

Abaixo, segue uma imagem de como ficou esse grupo secreto, chamado de “Matemática

e R.P.M. (Resolução de Problemas Matemáticos) com o professor Thiago de Azevedo”.

Figura 27: Grupo secreto, na rede social Facebook.

Page 64: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

62

Fonte: Dados da pesquisa.

Esse grupo contou com vinte e oito participantes, ou seja, 70% da turma em estudo.

Nesse espaço, a maior parte dos alunos expuseram suas construções e, também, suas habilidades

com o GeoGebra. Abaixo, é possível ver algumas dessas construções.

Page 65: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

63

Figura 28: Ladrilhamentos produzidos pelos alunos e postados no grupo secreto do Facebook.

Fonte: Dados pesquisa.

Alguns alunos produziram, inclusive, um vídeo, mostrando o passo a passo de sua ação,

quando apresentaram uma grande habilidade, ao manipular o smartphone e, consequentemente,

como podem fazer um bom trabalho, utilizando o software GeoGebra. Foi perceptível que

estiveram motivados para o trabalho que foi apresentado no grupo do Facebook.

Um fato a ser destacado é o reconhecimento de alguns ladrilhamentos trabalhados em

sala de aula; um aluno, inclusive, postou sua construção na hora de seu lanche, a mesma

realizada no software, mas com biscoitos. É possível ver a situação, na imagem abaixo:

Figura 29: Ladrilhamento construído por aluno.

Fonte: Dados da pesquisa.

Por meio dessa imagem, é possível ter a noção de que os conhecimentos matemáticos

aprendidos na escola podem ser entendidos pelos alunos de uma maneira ampla, ou seja, eles

Page 66: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

64

podem perceber o quão abrangente é o conhecimento matemático e que o mesmo está presente

nas nossas vidas, mesmo nos momentos mais informais. Nessa perspectiva, é possível superar

aquela pergunta que tanto incomoda não apenas o professor de Matemática, que é: Por que

temos que aprender isso?

Partimos do pressuposto de que o aluno deve fazer a seguinte pergunta: Por que não

aprender Matemática? Essa pesquisa tem o intuito de mostrar a complexidade da arte de

ladrilhar, mas, ao mesmo tempo, sua importância, seu sentido e as dificuldades que podem ser

criadas pelo fato de não haver uma aprendizagem completa, no que se refere à Geometria.

6.4 VALIDAÇÃO DA ENGENHARIA E CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA

REPRODUTIVIDADE

Consideramos válida a hipótese que trata do desempenho dos alunos, em relação aos

seus conhecimentos. Eles começaram a reconhecer diferentes polígonos regulares e a nomeá-

los corretamente, justificando sua escolha, numa linguagem Matemática coerente, embora não

seja uma totalidade os participantes que utilizam esse linguajar matemático corretamente.

Todos foram capazes de executar as atividades propostas. Foi possível observar que os

alunos/participantes foram evoluindo nos conhecimentos geométricos, principalmente sobre as

propriedades de determinados polígonos como triângulos, quadriláteros e hexágonos. Na

exposição oral, os estudantes mostraram noções intuitivas, adquiridas durante os encontros, a

respeito de propriedades de polígonos.

Ainda referente à hipótese 1, que consideramos válida, foi possível observar que os

alunos passaram para o nível da dedução, em que são capazes de relacionar propriedades de

uma mesma figura e de figuras diferentes; por exemplo, os participantes conseguiram entender

que a área de um hexágono regular é equivalente à área de seis triângulos equiláteros. Nesse

sentido, consideramos que foi positiva a realização das atividades para essa mudança de nível,

a partir da Teoria de Van Hiele que, ratificamos, foi utilizada apenas como inspiração, contudo

nenhum de seus testes foi efetivamente realizado nesta pesquisa.

Entre as características que levaram à percepção do avanço, no que tange à escala de

Van Hiele, podemos citar:

Os alunos passaram a reconhecer as propriedades de quadriláteros;

Os alunos passaram a nomear corretamente os polígonos;

Os alunos entenderam e utilizaram o cálculo das medidas de ângulos internos

de polígonos;

Page 67: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

65

Os alunos começaram a fazer uso de termos próprios da Geometria, tais como:

reflexão, simetria, bissetriz, mediana, entre outros, encontrados no software

utilizado;

Os alunos passaram a fazer ladrilhamentos sem a utilização de tentativa e erro,

mas por intermédio do cálculo das medidas de ângulos internos e estudando as

possibilidades de encaixe dos polígonos.

A hipótese 2, nesse caso, também é válida. As atividades foram do alcance de todos os

participantes, que puderam apreender diversos conceitos geométricos e traduzir seus

conhecimentos aprendidos para o papel, por meio de textos e observações.

A hipótese 3 é válida também, pois os vídeos foram de grande utilidade para orientar e

direcionar o trabalho dos alunos/participantes e, com a correta orientação, o aluno constrói

quadriláteros, que, mesmo após movimentos, não se deformam e mantém as propriedades de

quadriláteros. Então acreditamos que a hipótese é válida e que uma possível inviabilidade de

trabalho com o software nas atividades está ligada à falta de conhecimentos.

Nessa perspectiva, tornou-se possível perceber que as hipóteses foram válidas, o que

levou à conclusão de que o trabalho realizado foi positivo, principalmente por trazer uma

possibilidade mais concreta de aprendizado, por parte dos alunos que utilizam o smartphone e

o software, para construir os conhecimentos no campo geométrico. A possibilidade da retomada

das atividades e da exploração das propriedades observadas em sala de aula facilitou a passagem

de fases, no que se refere à Teoria de Van Hiele.

6.5 PONDERAÇÕES SOBRE A REPRODUTIVIDADE DA ENGENHARIA DIDÁTICA

Pensando na reprodutividade dessa experiência, podemos analisar as vantagens de se

utilizar tanto o smartphone quanto o software GeoGebra, para o estudo da Geometria Euclidiana

Plana.

Para quem desejar reproduzir as atividades propostas nesta pesquisa, é preciso assumir

a posição de um constante pesquisador, uma vez que as atividades propostas podem receber

incrementos, por parte do educador que as utilize. Além disso, é conveniente que o educador

tenha bastante noção da vivência dos alunos, no sentido de avaliar a real possibilidade do

trabalho com a tecnologia. Se os alunos não dispuserem dos smartphones, ou se a escola não

tiver condições de dar suporte tecnológico, o trabalho pode ser prejudicado.

Page 68: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

66

O uso do GeoGebra no smartphone, para atividades como as propostas, pode levar os

alunos à construção de importantes conceitos, principalmente pela movimentação dos

polígonos que facilitam a visualização e a exploração das propriedades dos objetos de estudo.

Quando as atividades são bem orientadas pelo professor, principalmente com o auxílio

dos vídeos, os quais podem ilustrar algumas dificuldades que os alunos possam enfrentar, eles

tendem a compreender tranquilamente as propriedades dos polígonos, bem como suas

características. Nesse sentido, conceitos como o de ângulos internos, externos, unidades de

medida de comprimento, vértices, entre outros, podem ser trabalhados de maneira mais

significativa em sala de aula, pois, dessa forma, a necessidades de construir os ladrilhamentos

leva o aluno a ter que utilizar conhecimentos que, por diversas vezes, só é apresentado de

maneira descontextualizada e sem aplicação.

O trabalho com o smartphone pode levar o professor a superar uma difícil questão: o

combate ao seu uso em sala de aula, pois muitos educadores ainda defendem que tal utilização

é prejudicial, por atrapalhar a concentração dos educandos para a realização das atividades em

sala de aula. Na contramão dessa ideia, foram propostas atividades que têm o intuito de utilizar

positivamente um recurso que já faz parte do cotidiano de boa parte dos estudantes brasileiros.

7 O PRODUTO EDUCACIONAL

Page 69: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

67

A oportunidade de se construir vídeos e tê-los organizados numa espécie de livro na

internet é uma possibilidade viável, por meio do GeoGebra Book. Neste capítulo, discorreremos

a respeito da construção de um GeoGebra Book, contendo os vídeos utilizados na execução das

atividades propostas nesta pesquisa.

Como produto educacional, propomos um Geogebra Book, um livro digital, conforme

mencionado, que está disponível, em rede, por meio do seguinte link:

https://www.geogebra.org/book/title/id/Msxy4yf5.

7.1 PASSO A PASSO DO PRODUTO EDUCACIONAL

Segundo Abar (2015, p. 1), “nos últimos anos, o software GeoGebra tem significado

uma importante revolução, especialmente para professores de matemática, interessados na

incorporação das TIC em sala de aula”. Nesse sentido, como fruto desta pesquisa, decidimos

pela elaboração de um GeoGebra Book, contendo os vídeos utilizados no desenvolvimento das

atividades propostas.

Como sujeitos deste estudo, tivemos vinte e oito alunos de uma turma do oitavo ano, de

uma escola estadual situada no município de Duque de Caxias (RJ). Como identificação dos

participantes da pesquisa, visando a preservar sua identidade, utilizaram-se numerações de 1 a

28, antecedidas da palavra “aluno” (Ex.: Aluno 1-28).

Os vídeos foram desenvolvidos como uma possibilidade para facilitar o ensino dos

conceitos geométricos no software GeoGebra, no smartphone. Tais vídeos foram pensados a

partir da leitura e análise, com os professores orientadores do trabalho, das respostas a um

questionário inicial, apresentado aos alunos. Em seguida, pensou-se em um Plano de ações, o

qual se apresenta como uma sequência de ações, desenvolvidas em seis encontros de 1h e 40

min, cada. Organizamos essas ações tendo como ponto de partida questões de controle,

adaptadas de Artigue (1996), que facilitam prever o comportamento matemático dos alunos.

No primeiro encontro com a turma, foi apresentado o tema Ladrilhamento e explicado

que as atividades com esse tema seriam desenvolvidas com a ajuda do software GeoGebra, no

smartphone, porém constatou-se uma dificuldade bem grande para que os alunos entendessem

suas ferramentas. Nesse sentido, tivemos a ideia de desenvolver vídeos tutoriais, a fim de

melhor as compreenderem, bem como as atividades propostas pelo professor/pesquisador.

No segundo encontro, foi apresentado um vídeo elaborado com o uso do smartphone,

mostrando as ferramentas principais do software GeoGebra para telefones celulares, quando o

Page 70: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

68

professor/pesquisador teve a oportunidade de apresentar o software para os alunos, pois os

mesmos não haviam, ainda, conseguido explorar suas ferramentas (sem a observação dos

vídeos).

Nesse primeiro vídeo, eram expostas atividades para a construção de alguns conceitos

geométricos como reta, segmento de reta, semirreta, ângulos e polígonos. Esses conceitos ainda

não eram de conhecimento por parte de alguns alunos.

Figura 30: Introduzindo conceitos geométricos com o software GeoGebra, por meio de vídeos tutoriais.

Fonte: Dados da pesquisa.

No segundo vídeo, foi apresentada a ideia de Ladrilhamento e propôs-se que os alunos

fizessem alguns ladrilhamentos simples, com retângulos e quadrados. Porém alguns alunos não

sabiam construir retângulos e não conheciam suas propriedades, então foi elaborado mais um

vídeo tutorial, ensinando a construir um retângulo no GeoGebra e, em seguida, o vídeo

mostrava como ladrilhar com retângulos e quadrados.

Page 71: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

69

No terceiro vídeo, houve a proposta de que os alunos tentassem fazer ladrilhamentos

com polígonos regulares; nesse caso, com hexágonos, momento em que os mesmos puderam

visualizá-los e compreender não só sua construção, mas algumas de suas propriedades.

No quarto vídeo, foi proposto que ladrilhassem uma região de forma quadrangular, com

retângulos e quadrados menores. Tal vídeo ajudava o aluno a entender como movimentar os

polígonos, e os mesmos puderam entender como rotacioná-los e arrastá-los.

No quinto vídeo, houve a proposta de que os alunos tentassem ladrilhar um hexágono

regular com triângulos equiláteros, de forma que percebessem que a área dos seis triângulos

equiláteros era equivalente à área do hexágono regular.

No sexto vídeo, foi proposto que os alunos fizessem ladrilhamentos com polígonos

regulares, podendo usar os polígonos regulares que quisessem, porém não deveriam contrariar

a ideia de ladrilhar, ou seja, as figuras não poderiam se sobrepor e não poderiam sobrar espaços

entre elas.

Figura 31: Alunos fazendo ladrilhamentos no software Geogebra

Fonte: Dados da pesquisa.

7.2 TECENDO COMENTÁRIOS

Page 72: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

70

No decorrer do desenvolvimento das atividades, os participantes se mostraram bem

ativos e interessados pelas atividades e, mesmo com dificuldade, procuraram compreender os

conceitos geométricos propostos no Plano de Ações.

Quando o primeiro vídeo foi apresentado, os alunos mostraram poucas dificuldades para

entender a função das ferramentas apresentadas no software GeoGebra; a maior parte dos

alunos foi “passeando” pelas ferramentas e já “experimentando-as”, para saber o que poderia

ser construído com elas. Ao mesmo tempo, já foram se apropriando de termos matemáticos,

como semirretas, polígonos, ângulo interno, polígono regular, congruência, reflexão, paralelos.

Os educandos fizeram diversas perguntas, para saber qual era o significado de termos

matemáticos utilizados pelo aplicativo.

Com a ajuda do segundo vídeo, foi possível apresentar alguns conceitos sobre os

quadriláteros, pois os alunos ainda desconheciam diversas propriedades. Alguns deles ainda

apresentavam dificuldades em reconhecer os diferentes quadriláteros, tanto que, após a

apresentação do segundo vídeo, o qual retratava a construção de um retângulo no software, o

Aluno 6 fez a seguinte pergunta:

Aluno 6: Professor, por que é tão difícil construir aquele quadrado ali?

Após essa pergunta, o professor/pesquisador fez outros questionamentos: Tem certeza

de que a figura é um quadrado? O que caracteriza um polígono, para que o possamos chamá-lo

de quadrado?

O aluno constatou:

Aluno 6: Verdade. Para ser quadrado, tem que ter quatro lados iguais e quatro ângulos

retos. Então, essa figura não é quadrado, você disse que era um retângulo.

Nesse momento, alguns alunos comentaram que, no vídeo, já havia sido dito o nome da

figura, porém o Aluno 6 disse que, antes, não entendera a diferença entre retângulo e quadrado

e que confundira o termo “quadrilátero” com “quadrado”.

O terceiro vídeo tornou possível levar os alunos a não só conhecerem o que é um

polígono regular, mas a compreenderem-no e entenderem como calcular a medida de seu ângulo

interno (os mesmos desconheciam o conceito de ângulo interno e externo); também tiveram

grandes dificuldades em saber se era possível fazer ladrilhamentos com os hexágonos regulares.

O professor/pesquisador fez, em seguida, as seguintes perguntas: será possível ladrilhar

com hexágonos regulares? Por quê?

Alguns alunos responderam:

Aluno 10: Pelo que vi no vídeo, é possível, mas eu não sei por qual motivo é possível.

Acho que é só porque dá para encaixar as figuras.

Page 73: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

71

Aluno 12: Eu sei que dá. Mas acho que deve ter alguma coisa a ver com o ângulo da

figura.

Aluno 7: É possível ladrilhar, mas não sei por qual motivo isso é possível.

Nesse momento, alguns já foram fazendo experiências no smartphone e percebendo que

era possível, sim, fazer o ladrilhamento com os hexágonos regulares, porém nenhum aluno

soube explicar o motivo de isso ser possível.

Foi sugerido aos alunos que pensassem nos ângulos internos e externos dos polígonos,

para que pudessem compreender os motivos pelos quais o ladrilhamento era possível.

No quarto vídeo, foi proposto aos alunos que tentassem ladrilhar uma região quadrada

com dois retângulos menores e dois quadrados menores, objetivando que os alunos pudessem

compreender a ideia de equivalência de áreas. Eles deveriam movimentar e rotacionar as figuras

menores, a fim de experimentar se era possível ladrilhar a região maior, de formato quadrado.

Após a exibição do vídeo, houve os seguintes comentários:

Aluno 6: Eu consegui! As figuras menores cabem dentro do quadrado grande. As quatro

figuras juntas dão igual à maior.

Aluno 7: Eu acho que uma cabe dentro da outra porque as áreas devem ser iguais.

Porque área é a medida de dentro da figura.

Nesse momento, o professor/pesquisador perguntou à turma se concordava com o Aluno

7, e houve unanimidade, em relação ao fato de ele estar correto.

No quinto vídeo, fez-se a proposta de elaboração do ladrilhamento de uma região com

formato de hexágono regular. Tal vídeo mostrava o hexágono regular e seis triângulos

equiláteros de lado com mesma medida que o lado do hexágono regular. Os alunos deveriam

movimentar e rotacionar os triângulos, com o intuito de perceberem se era possível fazer o

ladrilhamento.

Os alunos, rapidamente, perceberam que o ladrilhamento era possível e, sobre isso, o

professor/pesquisador fez a seguinte pergunta: Que conclusão vocês tiram desse ladrilhamento?

Abaixo seguem algumas respostas:

Aluno 8: Já sei. As áreas são equivalentes.

Aluno 20: Eu sei que as áreas são equivalentes. Mas acho que só dá para ladrilhar

porque os triângulos têm os lados de medida igual ao hexágono. Se fosse diferente, não dava.

No último vídeo, foi proposto aos alunos/participantes que construíssem, no

smartphone, com ajuda do software GeoGebra, qualquer possível ladrilhamento com polígonos

regulares. No vídeo, foi mostrado um ladrilhamento feito com dodecágonos e triângulos

equiláteros, para que pudessem entender bem a atividade proposta.

Page 74: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

72

Sobre essa atividade, destacamos uma construção, em especial, apresentada na Figura

32, logo abaixo.

Figura 32: Construção feita por um aluno, após a apresentação do sexto vídeo

Fonte: Dados da pesquisa.

Nessa construção, o aluno mostra que não conseguiu fazer o ladrilhamento com as

figuras regulares, ou por não ter entendido que o ladrilhamento era com polígonos regulares,

ou por não conseguir fazer o encaixe das figuras, já que usou um triângulo não equilátero,

aparentemente, para preencher o espaço vazio. Tal construção pode evidenciar, também, uma

não compreensão sobre as medidas dos ângulos internos dos polígonos utilizados pelo

educando.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo principal propor o trabalho com a Engenharia

Didática, por meio do uso de atividades desenvolvidas pelos participantes com o smartphone,

Page 75: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

73

enfocando o assunto Ladrilhamento no Plano. As atividades foram desenvolvidas com os alunos

do oitavo ano do Ensino Fundamental e buscaram mostrar a eficácia da Engenharia Didática e

a possibilidade de se fazer um trabalho diferente, por meio da tecnologia, e, ao mesmo tempo,

utilizando um tema que forneça ferramentas para a exploração ampla de conceitos matemáticos

que são trabalhados durante o ano escolhido, da Educação Básica.

Revelamos uma preocupação com o fato de os alunos não se interessarem pela disciplina

escolar Matemática, muito menos pelo conteúdo Geometria, o qual, por vezes, é mal trabalhado

pelos docentes, gerando diversas outras dificuldades aos alunos e, consequentemente,

desconhecimento de propriedades geométricas importantes.

Pretendíamos verificar se era possível favorecer o ensino da Geometria através da união

entre a Matemática e a tecnologia e, para isso, sugerimos como tema o Ladrilhamento no Plano.

A partir desse tema, surgiram a problematização e a investigação dos alunos, estudantes de uma

escola pública, da rede estadual de ensino, localizada no município de Duque de Caxias (RJ).

Apresentamos a Engenharia Didática como metodologia de pesquisa. Sua utilização se

deu por quatro fases: as análises preliminares; concepção e análise a priori; experimentação; e

validação e análise a posteriori.

Na fase das análises preliminares, apresentamos a fundamentação teórica da pesquisa e

sua importância como uma possível forma de ensino da Matemática, o que significou mostrar

a importância da Matemática aos alunos e a necessidade de aprendizagem dessa disciplina, para

que os mesmos pudessem avançar em relação à aprendizagem de conceitos mais complexos e,

então, compreender seu uso nas mais diversas profissões e situações presentes em nossa

sociedade. Nesse momento, o aluno pôde ter uma melhor compreensão da realidade, o que lhe

possibilitou uma visão mais crítica. A partir dessa visão, o indivíduo é capaz de tomar decisões

com maior responsabilidade e autonomia. Ainda na fase das análises preliminares,

apresentamos, também, uma revisão de literatura, envolvendo o que consideramos como maior

contribuição a este trabalho.

Na fase de concepção e análise a priori, definimos quais seriam as variáveis (as quais

foram determinantes para que se concretizasse essa investigação), divididas em globais e

microdidáticas, sendo que a primeira definiu a escola na qual se realizou a pesquisa, a turma –

de oitavo ano –, o tema – Ladrilhamento no Plano –, as primeiras atividades realizadas pelos

alunos e o resultado do questionário aplicado na turma.

Hipóteses foram levantadas para que, posteriormente, confrontássemo-las, com o intuito

de saber o quanto foi positiva a realização do trabalho. Nesse momento, estabeleceram-se

alguns pontos importantes para a análise de resultados e foi criado um marco, para levar os

Page 76: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

74

alunos a um avanço, no campo do conhecimento geométrico.

A escolha do tema Ladrilhamento no Plano com o uso do software GeoGebra surgiu a

partir de um debate inicial com os alunos, quando foi percebida a necessidade do trabalho com

a Geometria Euclidiana Plana. Após o preenchimento dos questionários, pelos alunos,

percebemos que o trabalho no campo da Geometria e com o uso do smartphone seria possível,

então, no primeiro contato, além da apresentação do tema, expôs-se a possibilidade do trabalho

com o smartphone, que rapidamente foi aceita por todos. Os alunos se propuseram a baixar o

software GeoGebra, para que fosse realizado o trabalho.

Por meio do questionário, os alunos puderam mostrar alguns de seus conhecimentos

matemáticos, através da exposição escrita, e suas opiniões sobre o trabalho com a Matemática,

em sala de aula. Alguns relataram seus gostos e suas dificuldades em aprender determinados

conceitos. Tendo essa noção, foi muito mais proveitoso preparar as atividades envolvendo o

tema Ladrilhamento, pois foram elaboradas com ênfase nas dificuldades e nos questionamentos

mostrados pelos alunos/participantes desta pesquisa.

Foram preparadas cinco atividades que exploram o conhecimento geométrico no oitavo

ano de escolaridade; elas deveriam ser desenvolvidas com o uso do software GeoGebra, no

smartphone, sendo assim, o aluno deveria relacionar os conhecimentos já trazidos e os

conhecimentos aprendidos na aula, traduzindo-os para a tela do smartphone.

A fase de experimentação foi marcada pelo momento em que os alunos/participantes

levantaram os problemas, apresentaram suas dúvidas, elaboraram algumas hipóteses, pensaram

além do ambiente escolar, em busca de soluções para os problemas propostos; fizeram

perguntas, utilizaram a linguagem Matemática e formalizaram conceitos a partir da prática. A

troca entre pesquisador/professor e alunos foi constante e, assim, diversos conhecimentos

matemáticos referentes à Geometria foram trabalhados e colocados em prática pelos alunos,

que puderam explorar e perceber que a Geometria é viva e presente no nosso cotidiano.

Em seguida, apresentamos a fase de análise a posteriori. Nesse momento da pesquisa,

foi realizado o tratamento das informações conseguidas na fase de experimentação.

Verificaram-se algumas informações importantes do trabalho, então esse foi um momento de

confronto de informações, na medida em que também observamos as falhas obtidas no processo

proposto pela Engenharia Didática.

Verificamos que os educandos foram capazes de realizar as atividades propostas.

Começaram a utilizar a linguagem matemática, para fazer perguntas e elaborar questionamentos

com os demais participantes. O software é de fácil utilização, mas, quando os alunos

começavam a mover vértices de certos polígonos, as figuras, por vezes, perdiam suas

Page 77: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

75

propriedades, portanto é importante um direcionamento nas atividades e atenção, por parte do

professor/pesquisador, para que não haja erro nas propriedades de determinados polígonos.

Na fase de validação, há o confronto entre os dados da análise a priori, por meio da

observação direta das atividades apresentadas pelos alunos; nesse momento, verifica-se se

foram válidas as hipóteses levantadas.

Também foi discutido sobre a reprodutividade da Engenharia Didática em sala de aula,

momento em que foram elencados alguns pontos que deram certo ou errado nesta pesquisa,

principalmente no que tange ao uso do software como uma possibilidade para o trabalho com a

Matemática, durante as aulas.

Posteriormente, tivemos a preocupação de fazer ponderações a respeito da Engenharia

Didática, para que os leitores pudessem ter noção do que pode dar certo ou errado, quando se

trabalha com essa metodologia. É possível que esse momento seja entendido como uma espécie

de relato de experiência a respeito da utilização dessa metodologia em pesquisas e atividades

didáticas.

Após a realização das atividades e das análises feitas à luz da Engenharia Didática,

buscamos fazer uma coletânea dos vídeos utilizados para realizar a explicação das atividades

propostas aos alunos. Nosso produto educacional, portanto, caracteriza-se como um GeoGebra

Book, contendo os vídeos mencionados, os quais podem ser acessados por qualquer aluno ou

professor que queira entender as atividades e os conceitos geométricos trabalhados. A

possibilidade de reprodução dessa sequência didática, bem como um possível aprimoramento

e aprofundamento, no que tange à Geometria, e o trabalho com os softwares de Matemática são

elementos motivadores para a criação do GeoGebra Book.

Entendemos que esta pesquisa pode ser continuada, de forma a mostrar a possibilidade

do trabalho mais amplo, com as tecnologias em sala de aula; nesse sentido, tal pesquisa se

constitui numa contribuição para os educadores que almejam novas possibilidades em sala de

aula.

Pretendemos ampliar o trabalho, em novas escolas, com o uso de diferentes tecnologias,

e desejamos que seja possível analisar esses novos resultados à luz de diferentes metodologias

de pesquisa.

Esperamos que esta pesquisa possa levantar a potencialidade de se trabalhar com

smartphones em sala de aula, por ser um elemento facilitador do entendimento e, ao mesmo

tempo, motivador, haja vista que o mesmo apresenta grandes possibilidades para o trabalho,

por meio de aplicativos matemáticos para celulares. Acreditamos que a Matemática pode ser

trabalhada de maneira mais significativa e que a tecnologia pode ser utilizada, mas que somente

Page 78: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

76

o aprendizado dos conhecimentos pode levar os educandos a compreenderem a produção de

tecnologias que são tão importantes para as mais diversas áreas de atuação, na sociedade.

REFERÊNCIAS

ABAR, C. A. A. P. Como criar ou utilizar um GeoGebra Book. Disponível em:

<http://semur.edu.uy/curem5/actas/pdf/141.pdf>. Curem 5 – Congreso Uruguayo de

Educación Matemática. Pontifícia Universidade Católica. São Paulo. 2015. Acesso em: 10

ago. 2016.

ALMOULOUD, S. A.; COUTINHO, C. D. Q. E. S. Engenharia Didática: características e

seus usos em trabalhos apresentados no GT-19/ANPEd. REVEMAT: Revista Eletrônica de

Educação Matemática, Florianópolis, SC, v. 3, p. 62-77, 2008.

Page 79: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

77

ARTIGUE, M. Engenharia Didática. In: BRUN, Jean. Didáctica das Matemáticas. Lisboa:

Instituto Piaget. Horizontes Pedagógicos, 1996. p. 193-217.

ARTIGUE, M. Didactical Engineering as a framework for the conception of teaching

products. In:BIEHLER, Rolf; SCHOLZ, Roland; STRÄSSER, Rudolf; WINKLEMANN,

Bernard. Didactics of Mathematics as a Scientific Discipline.Dordrecht: Kluwer Academic

Publishers, 1994, 470 p.

BAIRRAL, M. Do clique ao touchscreen: Novas formas de interação e de aprendizado

matemático. In: Reunião anual da anped, Goiânia, 2013.

BORBA, M. C.; SCUCUGLIA, R. R. S.; GADANIDIS, G. Fases das Tecnologias Digitais

em Educação Matemática: sala de aula e internet em movimento. 1. ed. Belo Horizonte:

Autêntica, 2014.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CARNEIRO, V. C. G. Engenharia Didática: um referencial ara ação investigativa e para

formação de professores de Matemática. Zetetike, Campinas – UNICAMP, v. 13, n.23, 2005,

p. 85-118.

CATANEO, V. I. O ensino da multiplicação de números relativos numa perspectiva

histórico-cultural. Orleans, SC, 2009.

FERREIRA, A. C. da C. F. Ensino da Geometria no Brasil: enfatizando o período do

Movimento da Matemática Moderna. 2005. In: Educere – III Congresso Nacional da Área

de Educação, p.93-101. Pontifícia Universidade Católica- PR. Disponível em:

<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2005/anaisEvento/documentos/painel/TCCI13

6.pdf>. Acesso em 21 mar. 2017.

GRAVINA, M. A. Geometria Dinâmica uma Nova Abordagem para o Aprendizado da

Geometria. In: VII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, p. 1-13. Anais... Belo

Horizonte, 1996.

HENRIQUE, M. P. GeoGebra no Clique e na palma das mãos: Contribuições de uma

dinâmica de aula para Construção de Conceitos Geométricos com Alunos do Ensino

Fundamental . Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro:

Instituto Multidisciplinar Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática.

2017.

HOHENWARTER, M. Programa GeoGebra- Chrome App, 2015. Disponível em:

<https://www.GeoGebra.org/download>, software. Acesso em: 08 nov. 2015.

OLIVEIRA, J. F. M. Pavimentações no Plano Euclidiano. Dissertação de Mestrado.

UNICAMP, Campinas, 2015.

POMPEO, J. N; DOLCE, O. Fundamentos de Matemática Elementar, Geometria Plana.

Editora atual, 2005.

Page 80: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

78

RODRIGUES, A. C. O modelo de Van Hiele do desenvolvimento do pensamento

geométrico. Universidade Católica de Brasília, 2007. Trabalho de conclusão de curso

(monografia). Disponível em:

<https://www.ucb.br/sites/100/103/TCC/22007/AlessandraCoelhoRodrigues.pdf>. Acesso em:

05 jul. 2016.

SALLUM, E. M. ,Ladrilhamentos. Matemateca. Instituto de Matemática e Estatística.

Universidade de São Paulo, p. 1-15, 2015 Disponível em:

<http://www.ime.usp.br/~matemateca/textos/ladrilhamentos.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2015.

SANTOS, S. M. N. D. Interdisciplinaridade: Uma possibilidade de superação da

fragmentação do saber. Universidade Estadual de Maringá. 2008.

SILVA, M. E. R. D., Potencialidades do uso de dispositivos touchscreen em atividades

investigativas. Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática do

Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). GD n.° 06 – Educação Matemática, Tecnologias

Informáticas e Educação à Distância.

SOARES, F. Movimento da matemática moderna no Brasil: avanço ou retrocesso.

Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica- RJ. 2001.

STEWART, I. Mania de Matemática – Diversão e jogos de Lógica e Matemática. Rio de

Janeiro: Zahar, 2005.

VALENTE, J. A; ALMEIDA, J. F. Visão analítica da informática na Educação no Brasil: a questão

da formação do professor. Revista Brasileira de Informática na Educação, número 1, p. 45-60,

1997.

ANEXO 1: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

Page 81: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

79

Page 82: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

80

Page 83: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

81

Page 84: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

82

ANEXO 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Page 85: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

83

Page 86: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

84

ANEXO 3: CARTA DE ANUÊNCIA DA INSTITUIÇÃO SEDIADORA

Page 87: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

85

Page 88: THIAGO DE AZEVEDO GOMES - Unigranriotede.unigranrio.edu.br/bitstream/tede/301/5/Thiago de Azevedo Gomes.pdfpara obtenção do título de Mestre, do curso de Mestrado Profissional em

86

ANEXO 4: QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS