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Theresa Cheung

O Além ExisteHistórias verdadeiras de pessoas

que tiveram um vislumbre da vida depois da morte

Mário Dias CorreiaTradução

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Índice

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Introdução: Expor o meu caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Capítulo 1E se…? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Capítulo 2Relatos de testemunhas oculares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Capítulo 3Vida na morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Capítulo 4As aparições, visitas do outro lado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Capítulo 5Chamadas dos mortos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

Capítulo 6Sinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

Capítulo 7O paraíso é real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

Um convite – e mais leituras e pesquisas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213

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Agradecimentos

no áspero clima económico em que hoje vivemos, conseguir publicar um livro – e em particular um livro dedicado aos aspectos espi ri tuais das nossas vidas – é pouco menos que um milagre. Por isso estou tão pro‑fundamente agradecida à minha maravilhosa agente, Clare Hulton, e à minha magnífica editora, Kerri Sharp, por terem feito com que O Além Existe acontecesse. Estou também grata a todos na Simon & Schuster pelo muito que me ajudaram e apoiaram durante o processo de prepa‑rar este livro para publicação – é uma verdadeira alegria ser uma autora da Simon & Schuster.

Como sempre, um sentido obrigado à minha adorada família – Ray, Robert e Ruthie – pelo seu amor, paciência e apoio quando me exilei para completar este projecto.

Deixo aqui um agradecimento muito especial a todos os que contri‑buíram com histórias para este livro. Quero que saibam que é grande o conforto que proporcionam a muitos outros ao partilharem as vossas experiências. Estão a fazer uma verdadeira diferença ao ajudarem a espa‑lhar a mensagem de que o Além existe, é real. Podem não o saber, mas estão a mudar e a salvar vidas com as vossas palavras.

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Introdução

Expor o meu caso

Por vezes, aparece num tribunal um caso que é impossível provar sem a mais pequena sombra de dúvida. Pode haver provas que sugiram o que é ou não verdade, mas talvez não as suficientes para afastar toda a incerteza, e, quando isto acontece, o juiz e o júri têm de basear ‑se nos depoimentos das testemunhas, em provas circunstanciais e no seu pró‑prio instinto para chegarem a uma decisão final – ainda que essa deci‑são seja não decidir coisa alguma e adiar o julgamento ou arquivar o caso. É mais ou menos o que acontece comigo: não posso provar de uma maneira irrefutável que o paraíso é um lugar real porque, no que res‑peita às coisas do espírito, não pode haver provas absolutas e definitivas; mas posso apresentar algumas provas bastante convincentes e conclusi‑vas. Caber ‑lhe ‑á então a si considerar com todo o cuidado essas provas e chegar a uma conclusão.

O objectivo deste livro é apresentar o que julgo serem argumentos muito fortes a favor da existência de um Além. O primeiro capítulo prepara a cena explicando quem sou, de onde venho e por que senti que tinha de escrever este livro. nesta fase introdutória, tudo o que peço é que man‑tenha um espírito aberto, como faria se tivesse de participar num júri.

no capítulo 2 começo de verdade a expor o meu caso, com uma série de testemunhos de pessoas vulgares que afirmam saber de certeza que o paraíso existe porque morreram e estiveram lá. Vamos analisar o espan‑toso fenómeno das experiências de quase ‑morte. O capítulo seguinte tratará o delicado tema das visões no leito de morte, em que a pessoa

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moribunda fala de ver ou ouvir espíritos, ou em que familiares, amigos e prestadores de cuidados testemunham qualquer coisa extraordinária que acontece muito próximo do momento da morte.

O capítulo 4 explora os casos de aparições de entes queridos já falecidos que não ocorrem perto do momento da morte e sim na vida quotidiana, enquanto o fenómeno de espíritos que comunicam através do telefone ou de outros meios tecnológicos será abordado no capítulo 5. no capí‑tulo 6 discutiremos alguns dos sinais e mensagens oriundos do outro lado mais frequentemente referidos, e trataremos também os casos de crian‑ças que vêem espíritos, bem como o dos animais de estimação e o Além.

O último capítulo tentará mostrar que a morte de um ente querido pode levar a um novo relacionamento em espírito com essa pessoa e a um reacender e um reforçar da fé. no mínimo dos mínimos, espero que abra uma janela e deixe entrar um raio de luz que ilumine a escuridão do desgosto.

Os testemunhos que vai ler à medida que exponho o meu caso irão do espantoso ao consolador, passando pelo arrepiante; mas, apesar de muito variados no conteúdo, têm todos uma coisa em comum: baseiam‑‑se em factos, não em fantasias. Como com todos os livros que escrevo, estou muitíssimo agradecida às pessoas que me autorizaram a partilhar as suas experiências e a sua integridade. Algumas, poucas, enviaram ‑me as suas próprias versões das respectivas histórias, mas na maior parte dos casos, escrevi ‑as eu com base no que me foi dito ou transmitido por carta ou qualquer outro meio, e, sempre que me foi pedido, alterei nomes e pormenores pessoais para proteger a identidade. Todos os que contribuí‑ram me tocaram no fundo do coração com a sua verdade e a sua hones‑tidade e me pediram para incluir as suas histórias não por pro curarem uma qualquer espécie de ganho material mas por quererem mostrar aos outros que – ainda que nem sempre possamos vê ‑lo, senti ‑lo ou acredi‑tar nele – o paraíso é real.

Comecemos então, se estão todos prontos para ler as provas e decidir de uma vez por todas se há ou não uma vida para lá da morte.

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Capítulo 1

E se…?

E se dormisse? E se, no seu sono, sonhasse? E se, no seu sonho, fosse para o céu e lá apanhasse uma bonita flor?

E se, quando acordasse, tivesse a flor na mão? Ah, que diria então?

Samuel Taylor Coleridge

Dediquei as duas últimas décadas da minha vida a espalhar a notí‑cia de que o Além existe. não lamento um segundo que seja desses anos e, apesar de ter havido muitos pontos de crise e muitos momentos de grande medo e dúvida pelo caminho, no fundo de mim mesma sempre acreditei na existência do paraíso. Acredito que os nossos entes queridos nos observam do outro lado. Podem enviar ‑nos mensagens e usar gentis sinais para nos tranquilizar e guiar. Também acredito que esta vida não acaba de certeza com a nossa morte física. Continuamos a viver. A ver‑dade é que não morremos, porque o cerne da nossa existência é espiri‑tual e não físico.

As recordações mais antigas que tenho de começar a interessar ‑me por este tema e estabelecer uma forte ligação com o Além remontam há mais de quarenta anos, ao tempo da minha tia ‑avó Rose, uma senhora de aspecto imponente mas comedida nos gestos e nas palavras que tinha uns olhos azuis muito brilhantes. Rose era médium. Via e ouvia os espí‑ritos. Eu era muito nova – devia ter seis ou sete anos – quando comecei a ir às demonstrações semanais. na altura, gostava porque significava que podia deitar ‑me mais tarde do que o habitual, mas também me fas‑cinava ficar sentada num canto a observar os adultos. Andavam de um lado para o outro com um ar distante, sérios e formais, mas então a minha tia ‑avó começava a falar e eu via ‑os transformarem ‑se por momentos em pessoas de quem sentia que podia gostar mais. Os rostos suavizavam ‑se. Começavam a falar uns com os outros, a sorrir ou até a chorar, e toda esta

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espontaneidade fazia ‑os parecer mais bondosos e menos duros. Outra coisa que também recordo com perfeita nitidez é que, quando os adul‑tos entravam na sala no início da sessão, pareciam nunca reparar em mim, mas no fim, quando iam a sair, era como se de repente me tives‑sem descoberto. Eu tornava ‑me importante. Sorriam, ou piscavam ‑me um olho, e alguns até me dirigiam a palavra. Como se antes fosse invi‑sível e me tivesse tornado visível. Era alguém que merecia atenção, e eu gostava da sensação.

Infelizmente, não recordo grande coisa do que a minha tia ‑avó dizia durante os encontros. O que sobretudo me impressionava era o impacte das suas palavras nos presentes. Há, no entanto, algumas recordações muito fortes – ou talvez deva dizer instantâneos mais brilhantes? – que persistiram e me ficaram gravadas no coração e na mente. Mais uma vez, na altura não faziam qualquer espécie de sentido para mim e levavam‑‑me a pensar que ser adulto era uma coisa muito complicada; mas agora, olhando para trás com a vantagem da retrospectiva e das minhas pró‑prias experiências de vida, compreendo como podia um homem adulto desfazer ‑se em lágrimas quando Rose lhe dizia que o espírito do pai estava orgulhoso dele ou uma mulher sorrir e chorar ao mesmo tempo ao ouvir dizer que o seu bebé estava no paraíso e a dormir sossegado.

Rose não era a única médium da minha família. A minha avó e a minha mãe também tinham nascido com o dom, e eu cresci a ouvir conversas a respeito de sentir a presença dos espíritos e comunicar com eles. Houve, é claro, momentos desconfortáveis – como daquela vez que a minha mãe disse a um dos meus professores que a falecida mãe sabia que ele era gay e que por ela tudo bem –, mas foram muitos mais os momentos maravilhosos.

Portanto, tendo em conta que nasci no seio de uma família de espi‑ritualistas, a minha inabalável convicção de que o Além é um lugar real não constituirá grande surpresa. na realidade, dirão quase de certeza que sou parcial e subjectiva nesta convicção. Estou de acordo, mas o facto de eu acreditar que continuamos a viver depois da morte não significa que todos tenham de acreditar. O meu objectivo não é convencer ninguém de que o outro lado existe, mas apenas apresentar as provas que reuni ao longo dos vinte e cinco anos passados desde que comecei a escrever e a

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pesquisar sobre o mundo psíquico, para que cada um possa decidir por si mesmo. A mim parecem ‑me provas bastante convincentes, mas a ver‑dade é que pouco importa aquilo em que eu acredito ou deixo de acre‑ditar. O que importa é o que você pensa.

no entanto, uma vez que este capítulo de abertura é sobretudo a res‑peito da minha própria experiência com o Além – das provas que eu posso apresentar em primeira mão –, talvez seja útil, nesta fase, saber que, a despeito de ter sido criada numa família de espiritualistas, demo‑rei quase quatro longas décadas a ter o meu primeiro contacto pessoal com o mundo do espírito e a receber a primeira prova inquestionável de que há vida depois da morte.

bem gostaria de poder dizer que fui uma dessas crianças que vêem os mortos, como o rapazinho desse fabuloso filme de 1999, com bruce Willis, O Sexto Sentido. Mas não fui. Podia assistir às sessões espíritas e ver a minha tia ‑avó e a minha mãe estabelecerem contacto com o mundo do espírito e transmitir mensagens pungentes a um público expectante, mas não conseguia vê ‑los, ouvi ‑los ou senti ‑los. nem sequer sonhava com espíritos. na realidade, era normal… se tal coisa existe. Tinha montes de provas em segunda mão de pessoas que amava e em quem confiava, mas nenhuma que fosse minha. Em todo o caso, para dizer a verdade, aquelas provas em segunda mão eram mais do que suficientes para mim. não era capaz de ver, ouvir ou sentir os espíritos, de modo que me limi‑tava a admitir que não tinha o «dom». não estava destinado a aconte‑cer. Aceitava que o Além tinha optado por não comunicar comigo, mas isso em nada afectava a minha crença na existência de uma vida para lá da morte. Continuava a acreditar que o mundo do espírito me rodeava. Ao fim e ao cabo, tinham ‑me ensinado desde muito nova que a verda‑deira fé consiste em acreditar sem necessidade de provas. Por isso, na minha mente, não precisava de provas. Achava que sabia, e pronto. É até possível que, a nível do subconsciente, estivesse um tudo ‑nada aliviada por não poder estabelecer um contacto directo, isto porque, apesar de o mundo do espírito me fascinar profunda e intensamente e ser a força que orientava a minha vida, uma parte de mim tinha medo e não estava cem por cento certa de poder lidar com ele. Como muitas outras pes‑soas atraídas pelo lado espiritual das coisas, resignava ‑me ao papel de

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crente e observadora. não ia poder ter a experiência em primeira mão, e por mim tudo bem.

Mal imaginava que, quando chegasse aos trinta e um anos, o meu mundo de confiança e aceitação seria estilhaçado. nunca mais nada vol‑taria a ser o mesmo. Já contei muitas vezes esta história, mas sempre que volto a ela há qualquer coisa nova para me inspirar e me guiar. Aconte‑ceu há anos, mas a mim parece ‑me sempre recente e nova, como uma realidade omnipresente e um ponto de referência para toda a minha vida antes e depois. Os acontecimentos muito espirituais são sempre difíceis de traduzir em palavras porque não há neste mundo um vocabulário capaz de descrever o que, na sua essência, não é deste mundo, mas fiz o melhor que podia para transmitir os pormenores essenciais. Espero que falem consigo.

Sou eu

Em meados dos anos de 1990, quando vivia e trabalhava nos Estados Unidos, estive a um passo da morte. Atrasada para uma reunião, seguia no meu carro em direcção a um movimentado cruzamento com a inten‑ção de virar à esquerda. Sentia ‑me frustrada porque tinha ficado encurra‑lada atrás de dois enormes camiões de entregas, pintados de amarelo ‑sujo, que avançavam muito mais devagar do que eu queria. Para meu deses‑pero, vi que ambos faziam sinal à esquerda, o que me condenava a conti‑nuar a passo de caracol. Foi nesse instante que ouvi muito nitidamente a voz da minha mãe dizer ‑me que virasse à direita. A voz vinha do interior da minha cabeça, mas parecia real. A minha mãe tinha falecido vários anos antes. A voz dela soou tão firme e clara que era impossível ignorá‑‑la, e, contra toda a razoabilidade – uma vez que virar à direita desviar‑‑me ‑ia do lugar para onde queria ir –, virei à direita. Mal sabia, na altura, que se tivesse virado à esquerda, como era minha intenção, teria encon‑trado uma morte certa num choque em cadeia que envolveu um cão, um camião e vários automóveis. O acidente matou três pessoas – uma das quais teria sido eu, pois foi o condutor do carro que seguia atrás de mim quando virei no cruzamento.

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na altura não podia, como é evidente, fazer ideia do que estava para acontecer, e a minha decisão irracional de virar à direita intrigou ‑me e deixou ‑me furiosa, pois significava que teria de fazer um grande rodeio para chegar ao meu destino. Para tornar tudo ainda pior, não conse‑gui chegar a tempo e acabei por perder uma reunião importante. Mas mais tarde, quando regressava a casa, a minha confusão e a minha fúria transformaram ‑se em choque quando o trânsito começou a abrandar e me fui aproximando pouco a pouco do local de um terrível acidente.

Logo a seguir ao cruzamento, o camião que eu estivera a seguir saíra da faixa de rodagem. Vários carros – era difícil dizer quantos, no meio daquele caos – tinham ‑se enfeixado no camião e uns nos outros. O carro atrás estava reduzido a um monte de chapa retorcida, e os dois seguin‑tes muito danificados.

Durante anos, tinha ansiado um sinal ou um contacto da minha mãe, mas sempre o imaginara em condições belas e exaltantes, nunca naquele cenário de tragédia e horror. Claro que a minha reacção instintiva foi de exultação. Ao dizer ‑me que virasse à direita, a voz da minha mãe salvara‑‑me a vida. nunca esperara experimentar aquele género de prova da rea‑lidade do Além, mas ali estava. Mais tarde, no entanto, quando liguei a televisão para ver o noticiário da noite e as imagens do acidente passa‑ram pelo ecrã, a exultação foi ‑se transformando em dúvida, confusão e culpa. Ao que parecia, um cão vadio tinha atravessado a rua entre o pri‑meiro e o segundo camiões. O condutor do segundo pisara o travão e provocara o acidente. O condutor do camião e o cão tinham escapado ilesos, mas os dois ocupantes ainda não identificados do primeiro carro e um do segundo tinham tido morte imediata.

Foi quando soube que tinham morrido três pessoas – e uma podia ter sido eu – que comecei a desconfiar da minha própria experiência. Vozes racionais e cheias de dúvidas começaram a sobrepor ‑se a tudo. Teria de verdade ouvido a voz da minha mãe ou estaria apenas a recor‑dar as muitas vezes que ela me dissera que confiasse no coração para encontrar o rumo certo na vida? Teria sido apenas uma recordação muito vívida? Ou, sendo uma condutora impulsiva, ter ‑me ‑ia fartado de me sentir encurralada atrás de dois lentos camiões que não podia ultrapassar?

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E então vozes de desespero e confusão face ao aparente aleatório do acidente encheram ‑me a cabeça. Um cão vadio atravessara uma rua e provocara tanta dor. O cão não sabia o que fazia. O motorista do camião causara o acidente, mas não era culpado. O seu instinto para poupar a vida do cão era compreensível. Devia ser um homem decente e bom, que ouvia mais o coração do que a cabeça. E isso era crime? Podia não ter morrido no acidente, mas uma parte dele ia ter de viver até ao fim dos seus dias com o conhecimento de que era responsável pela morte de três pessoas inocentes. E aquelas pessoas? Que tinham elas feito para atrair uma tal tragédia? nada, tinham apenas estado no sítio errado à hora errada, sem culpa da sua parte. não havia ali qualquer padrão ou propó‑sito mais elevado. Todo o incidente – como tantas vezes acontece com as tragédias e acidentes – podia ter sido evitado, não fazia a mínima espécie de sentido, fora aleatório e injusto. Sempre senti isto em relação a todos os acidentes, mas ainda mais daquela vez, sabendo que uma das vítimas podia, por uma unha negra, ter sido eu.

Enquanto via as notícias naquela noite – apesar de a identidade das vítimas não ter ainda sido revelada – pensei nos seus entes queridos, e a intensidade da dor que deviam estar a sentir encheu ‑me de desgosto o coração e a cabeça. não conseguia parar de chorar e de perguntar a mim mesma por que tinham eles tido de morrer de uma maneira tão estúpida, como não conseguia parar de perguntar ‑me por que teriam sido eles e não eu. Havia tantas emoções a agitarem ‑se dentro de mim: alegria por estar viva, dor pelas pessoas que tinham morrido no meu lugar, fúria contra a estupidez de tudo aquilo, mas, acima de tudo, culpa – culpa por estar viva enquanto três outras pessoas tinham morrido.

Emocionalmente exausta, fui para a cama e caí num sono inquieto, para acordar às primeiras horas da madrugada. Estava coberta de suor e as minhas duas almofadas tinham caído no chão. As roupas tinham sido atiradas para trás e pendiam dos pés da cama. Lágrimas de dor e confusão voltaram a inundar ‑me os olhos Pensei naquelas três pessoas e perguntei ‑me onde estariam. Estariam bem? Sim, sempre tinha acredi‑tado na vida depois da morte, mas acreditaria naquele instante? A afiada e implacável espada da dúvida cortava ‑me o coração aos pedaços e ras‑gava uma vida inteira de convicção. Talvez os ateus tivessem razão e a

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vida seja apenas uma série de combinações aleatórias de coisa nenhuma. Talvez quando morremos a morte seja o fim, e os nossos corpos voltem a fazer parte da Terra, não do céu.

nunca me tinha sentido tão vazia, oca e só em toda a minha vida. Tinha os olhos pesados e inflamados e doía ‑me o corpo todo. Contem‑plar a possibilidade de viver o resto da minha vida sem a espiritualidade que me tinha inspirado e apoiado até àquele dia era dilacerante e esgo‑tante, tanto física como emocionalmente. Tinha batido no fundo. Per‑dido as minhas certezas. Já não acreditava que o acidente acontecera por uma razão. Já não aceitava que houvesse um propósito mais alto e mais vasto. Com pensamentos de vazio, escuridão e nada a rodopiarem ‑me na cabeça, voltei a sucumbir a um sono agitado e doloroso.

não sei dizer se foi o feixe de luz do Sol ou a voz que me acordou, mas quando abri os olhos vi e ouvi ambos ao mesmo tempo. A voz era tão real que me sentei na cama e acendi o candeeiro. Olhei em redor, mas não estava mais ninguém no quarto. Então voltei a ouvir a voz. Agarrei nas roupas da cama e embrulhei ‑me nelas. Talvez estivesse a enlouquecer. Ao fim e ao cabo, ouvir vozes não era o primeiro sinal? Tinha ‑as ouvido duas vezes no espaço de vinte e quatro horas – primeiro a da minha mãe, agora aquela. no entanto, embora talvez pudesse explicar a voz da minha mãe como qualquer coisa vinda do interior da minha cabeça, aquela era impossível de racionalizar ou explicar, uma vez que não era a da minha mãe nem a minha. Além disso, não vinha de dentro da minha cabeça, soava como se alguém estivesse de facto ali no quarto. Era a voz de uma mulher jovem. Era melodiosa, e tive a certeza de detectar um ligeiro sota‑que britânico, mas ao mesmo tempo também parecia americana. Ao prin‑cípio, não percebi o que dizia. Só sabia que estava a falar comigo, a falar à minha volta e dentro de mim, mas então comecei a conseguir distin‑guir as palavras. Disse: «Sou eu. A Jane.» E então continuou, dizendo ‑me que não tinha nada de que ter medo. Disse que estava bem e que estava tudo bem com ela e com o marido, e que ia estar bem também comigo. Ia ficar tudo bem.

E então calou ‑se. Chamei ‑a, mas tinha desaparecido. bati com a mão na cara e doeu. Estava acordada. A voz fora real. Saí da cama e come‑cei a andar de um lado para o outro. Por qualquer bizarra razão, abri

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portas de armários e janelas, à procura de uma explicação. nem eu sei o que procurava. Agora bem desperta, desci até à sala e liguei a televisão para ver o noticiário, na esperança de que me acalmasse os nervos. não fazia ideia das horas e fiquei espantada quando descobri que eram quase nove, de uma manhã de sábado. Fiquei ali sentada durante algum tempo a olhar para as imagens no ecrã, e então uma esmagadora onda de can‑saço apoderou ‑se de mim. Devia ser uma reacção à noite mal dormida, e nem tentei resistir. Adormeci sentada no sofá.

Eram quase horas do almoço quando acordei, e a imagem que vi na televisão mal abri os olhos foi a do local do acidente a que tinha esca‑pado. Foi como esfregar sal numa ferida aberta ou bater com um martelo numa nódoa negra. Incapaz de suportá ‑la, procurei o controlo remoto para apagar a televisão, mas não o encontrei e pus ‑me de pé para o fazer à mão. Enquanto avançava, ainda meio tonta, para o aparelho, foi impos‑sível não ouvir o que estava a ser dito, e o que ouvi deu ‑me o maior cho‑que de toda a minha vida.

As vítimas do acidente tinham sido formalmente identificadas: um fun‑cionário dos Correios reformado chamado Sam e dois cidadãos britânicos recém ‑casados, a viver na Florida, chamados Jane e Harry. no mesmo ins‑tante, soube sem a mais pequena sombra de dúvida que a voz que ouvira de manhã era a de Jane – a mulher que morrera no acidente. Tinha a cer‑teza de tê ‑la ouvido falar ‑me com um sotaque britânico americanizado. Dissera ‑me que ia ficar tudo bem. Como era possível?

Seria difícil subestimar o impacte que aquilo teve em mim. Era uma coisa do outro mundo. Acho que devo ter ficado parada diante da televisão uns bons vinte minutos, aturdida por sentimentos de cho‑que e estupefacção. O que me acontecera era algo que a minha mente racional nunca conseguiria explicar. não havia medo, incerteza ou dúvida capazes de alterar o que tinha sucedido. Aquilo era a sério, e para toda a vida. Sentia ‑me privilegiada e humilde por saber que o espírito de Jane tinha tido o cuidado de me visitar e tranquilizar. não conhecia ninguém chamado Jane e não havia qualquer outra explica‑ção para o nome se me revelar daquela maneira. não a pedira, mas fora ‑me de todos os modos dada uma prova da existência de uma vida para lá da morte.

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Ouvir vozes é muitas vezes considerado o primeiro sinal de loucura – e, nos anos que se seguiram, tive de início uma grande relutância em discutir ou partilhar a minha história com outras pessoas –, mas deixem‑‑me garantir ‑lhes que não estou louca. Posso ter as minhas excentricida‑des e parecer por vezes um pouco sonhadora e distraída, mas sou tão sã de espírito como a maior parte das pessoas. não pedi nem desejei este género de experiência e nunca mais nada parecido voltou a acontecer‑‑me, mas aconteceu. Aconteceu de verdade.

Só ouvi a voz durante alguns instantes, mas foi o suficiente para transformar o resto da minha vida. Fui invadida por uma sensação de paz e conforto, uma sensação que nunca tinha experimentado mas que, não sei explicar como, me era familiar. A única maneira de a descre‑ver é como flutuar numa banheira cheia de água depois de um longo dia de trabalho ou beber chocolate quente numa fria noite de Inverno. Pus ‑me de pé para ir arranjar qualquer coisa que beber e a sensação de paz e conforto por saber que ia tudo ficar bem continuou a envolver‑‑me como uma manta. E quando comecei a tratar dos meus assuntos quotidianos, outras sensações começaram também a envolver ‑me: de responsabilidade, propósito, determinação e objectivo. A partir daquele dia, ia viver uma vida que tornaria orgulhosos os que tinham morrido no meu lugar no fatal acidente.

Continuava a não fazer ideia de por que motivo a minha vida fora poupada naquele dia nem de por que motivo Jane morrera em vez de mim, mas sabia no fundo do coração que ela e os outros que tinham morrido estavam bem. Encontravam ‑se na fase seguinte da sua viagem ou destino espiritual. E apesar de, ao princípio, me sentir muito nervosa e insegura quando pensava em falar da minha experiência com tercei‑ros, por medo do ridículo, à medida que os anos passavam começou a crescer dentro de mim uma nova determinação e uma paixão por con‑tar a minha história – a minha prova pessoal de que o Além existe – ao maior número possível de pessoas que quisessem ouvir o que tenho para dizer. E foi por isso que escrevi este livro, e todos os meus outros livros a respeito do paranormal. Comecei por escrever obras de referên‑cia e por participar em enciclopédias a respeito do mundo do espírito, e então, em 2007, saí da minha concha e publiquei a primeira de várias

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colectâneas de histórias sobre anjos e experiências espirituais. Este livro difere, no entanto, dessas primeiras publicações na medida em que se concentra em experiências pós ‑vida.

Estabelecer contacto

Hoje, a minha paixão por espalhar a notícia de que o Além existe arde com o mesmo brilho que naquele dia de revelação. Este livro segue ‑se a muitos outros que escrevi a respeito do mundo espiritual e todos eles transmitem a mesma mensagem: somos seres espirituais a ter uma expe‑riência humana e não seres humanos a ter uma experiência espiritual. E o facto de muitos desses livros se terem tornado best-sellers prova que não estou sozinha. Há por aí muita gente que acredita no mundo do espí‑rito ou que se sente fascinada ou atraída pela ideia de uma vida depois da morte. na realidade, a dar crédito aos mais recentes inquéritos e son‑dagens, uns impressionantes 60 por cento da população mundial acre‑ditam na existência do Além.

Talvez tenha a sua própria prova de uma vida depois da morte e esteja a ler isto porque é como voltar a casa. Ou talvez queira acreditar mas hesite porque nunca lhe aconteceu a si ou nunca teve qualquer sinal ou esta‑beleceu contacto. Se é este o caso, o meu conselho é que não se esforce demasiado. Foram muitas as vezes ao longo da vida em que tentei estabe‑lecer contacto só para ficar desapontada. É muito melhor esperar de cora‑ção e mente abertos, e então um dia, regra geral quando menos esperar, pode ser que ouça um espírito chamar o seu nome. Pode ser um adulto quando isso acontecer, como foi o meu caso, ou pode ser muito mais novo ou muito mais velho. Já recebi histórias de primeiros contactos que me foram enviadas por pais de bebés ou de crianças muito novas e também por pessoas com mais de noventa e quatro anos! E algumas dessas his‑tórias pertencem à categoria comummente designada por visões no leito de morte (voltaremos a este assunto mais adiante).

O que estou a tentar dizer com isto é que alguns de nós podem espe‑rar uma vida inteira para ver espíritos, ou até nem sequer os ver até ao último instante ou para lá do último instante, mas, mesmo que seja esse

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o caso, não é na verdade importante. Sim, tive a sorte de, ao longo da vida, entrever vislumbres do Além, e sim, muitas das histórias que vai ler neste livro vão parecer ‑lhe espantosas ou até pôr ‑lhe um calafrio na espinha. Mas o meu objectivo ao escrevê ‑lo nunca foi procurar o sensa‑cionalismo e sim dar ‑lhe a certeza e o conforto de saber que não está só; mostrar ‑lhe que, mesmo que não tenha provas suas, há provas mais do que suficientes de pessoas normais para lhe dar tranquilidade e confiança e lhe alimentar a esperança; para lhe mostrar que não são as experiên‑cias extraordinárias que podem proporcionar conforto ou até a crença na vida depois da morte, e sim a fé no eterno e indestrutível poder do amor; para lhe mostrar que, embora possa por vezes sentir ‑se muito só, o mundo do espírito já tentou talvez chegar até si de maneiras em que ainda não reparou ou reconheceu.

Os entes queridos que já partiram usam com frequência sinais e coin‑cidências subtis quando tentam dizer ‑nos que vieram visitar ‑nos, e por vezes esses sinais são tão pessoais e discretos que os descartamos como coincidências sem significado, ou pensamos que estamos a inventar. Foi com toda a certeza o que aconteceu comigo, e quanto mais velha fico mais capaz me torno de olhar para trás com a vantagem da experiência acumulada e ver ligações entre o mundo do espírito e a minha vida na Terra que, na altura, me passaram despercebidas. Espero com toda a sin‑ceridade que, depois de ler este livro, possa olhar para a sua própria vida passada e começar a recordar e a reparar nesses sinais e ligações. Talvez, nos meses e anos seguintes à morte de um ente querido, tenha conhecido alguém ou acontecido qualquer coisa mágica que o haja feito sentir ‑se mais forte e melhor. Talvez tenha acordado uma manhã e o peso do des‑gosto não lhe tenha parecido tão opressivo. Talvez um belo pôr do Sol ou uma música lhe tenham falado ao coração e a sua vida tenha deixado de parecer tão vazia e escura. Talvez, ao olhar para trás, comece a pensar que o que quer que lhe deu ânimo foi enviado do paraíso.

Depois de ter lido, ao longo dos anos, centenas de histórias sobre o pós ‑vida, aprendi que não só não há uma idade ou fase da existência em que o contacto com o mundo do espírito seja mais ou menos provável mas também que os espíritos comunicam connosco de um sem ‑número de maneiras diferentes – basta que comecemos a estar atentos e a acreditar

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nelas quando acontecem. E não caia na armadilha de acreditar que é pre‑ciso ser médium, psíquico, vidente, espiritualista, pessoa angelical ou muito religiosa para ver espíritos. Os média descrevem ‑me muitas vezes como «psíquica», ou «espiritualista», ou até «especialista em anjos», e quase sempre não me incomoda que as revistas e jornais usem esses títu‑los porque são fáceis de compreender e prendem a atenção do leitor. Mas se leu os meus livros, sabe que nunca afirmei ser nenhuma dessas coisas. na realidade, por vezes provoca ‑me algum desconforto ver ‑me assim rotulada, porque ainda hoje não acredito que tenha aquilo que é tantas vezes referido como «o dom» – a capacidade de ver ouvir espíritos. Para mim, sou apenas uma mulher normal. Sim, é verdade que tive experiên‑cias sobrenaturais, mas apenas aconteceram, sem motivo nem explica‑ção, nunca por eu ter tentado fazê ‑las acontecer. não consigo prevê ‑las nem controlá ‑las e há muito que deixei de o tentar. Correndo o risco de me repetir, não me considero uma «psíquica», nem coisa nenhuma que se pareça, e não acredito que tenha quaisquer capacidades psíquicas úni‑cas ou especiais. Considero ‑me um ser humano vulgar com um coração e uma mente abertos à possibilidade do contacto com o mundo do espí‑rito. na realidade, como este livro deixará bem claro, o único requisito para ver espíritos é um coração aberto e confiante. Demorei quase qua‑tro décadas a compreender esta verdade essencial.

Uma coisa que aprendi ao longo dos anos é que quanto mais me esforço mais longe do mundo do espírito pareço ficar e mais sozinha me sinto. Aprendi que as dúvidas, os medos e as ideias preconcebidas a res‑peito do Além matam qualquer possibilidade de contacto, e não quero que cometa os mesmos erros que eu cometi. Por isso, se a única coisa que tirar da leitura deste livro for a capacidade de abrir a sua mente ao mundo espiritual que já vive dentro de si e à sua volta, à espera de revelar ‑se ‑lhe quando estiver pronto para isso, terei feito o meu «trabalho». Como verá nas páginas que se seguem, o mundo do espírito pode falar ‑nos de mui‑tas maneiras visíveis e invisíveis. Sim, algumas pessoas podem ter sido abençoadas com a rara capacidade de ver ou ouvir espíritos, e há aqueles casos extremos de pessoas que morreram, foram para o paraíso e volta‑ram à vida para contar a história, mas é muito mais comum cheirar um perfume, sentir uma presença ou captar uma alteração na energia ou ter

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um sonho tão vívido que parece real a respeito de um ente querido que já partiu. Mais comuns ainda são os subtis e discretos sinais e coincidên‑cias que passam com tanta facilidade despercebidos se tivermos o cora‑ção e a mente fechados – uma pena branca, um arco ‑íris, uma borboleta, para referir apenas estes.

Tive outros encontros com o mundo do espírito – e se quiser saber mais poderá ler a respeito deles em alguns dos meus outros livros –, mas, para mim, a minha experiência no cruzamento foi a mais monumen‑tal e convincente, e foi por isso que a escolhi para iniciar este livro. É o meu próprio depoimento como testemunha. É a melhor prova que posso oferecer ‑lhe da existência do paraíso, porque, acredite ou não, sei que o que me aconteceu foi real.

Mas o Além é real?É uma questão que todos temos de considerar. Quando chega a nossa

vez, acabou ‑se tudo? Há uma vida para lá da morte? E, se há, como é? O que se segue à morte, o céu ou o inferno? Tornamo ‑nos fantasmas? Ou Platão tinha razão e o nosso corpo morre mas a alma fica?

Espero que as histórias que vai ler nas páginas que se seguem o levem no mínimo a pensar que talvez a vida seja mais qualquer coisa do que parece à primeira vista. nas palavras do grande filósofo nietzsche: «Até um pensamento, até uma possibilidade pode estilhaçar ‑nos e transformar‑‑nos.» Cabe ‑lhe a si escolher entre acreditar e não acreditar – a escolha é sempre sua. Tudo o que lhe peço que faça nesta fase é que não feche a sua mente, e em vez disso comece a perguntar ‑se: «E se…?»

É um sinal encorajador o facto de, no que respeita às experiências sobrenaturais, muitos cientistas dos nossos dias começarem a perguntar «E se…?» e manterem uma mente aberta à possibilidade da vida para lá da morte. Uma das coisas fascinantes que descobri quando fiz a pes‑quisa para este livro foi que, longe de negar a existência do Além, a ciên‑cia moderna tem optado por explorar, e em alguns casos até aceitar, a possibilidade. na primeira linha desta pesquisa situa ‑se a exploração do fascinante fenómeno conhecido como experiências de quase ‑morte, que abordaremos mais a fundo no próximo capítulo. Ao estudarem milhares de relatos pormenorizados de pessoas que estiveram à beira da morte, um número cada vez maior de cientistas e médicos deu por si a chegar à

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surpreendente conclusão de que experiências de quase ‑morte (ou EQM) fornecem provas científicas tão fortes que é razoável aceitar a existên‑cia de um Além. E – pondo de lado as EQM e a procura de provas sóli‑das – a própria ciência está também a descobrir muitas coisas que não pode provar fisicamente mas que acredita serem verdadeiras – matéria efémera, espaço curvo, tempo líquido, para referir só estas três – e que não há qualquer razão para que a existência de um Além seja encarada de uma maneira diferente. na realidade, da perspectiva da ciência quân‑tica, os visitantes do mundo do espírito são apenas coisas que os seres humanos ainda não compreendem bem.

A ciência quântica e o testemunho de respeitados investigadores e médicos no que respeita às EQM constituem provas convincentes, mas estou bem consciente de que há e sempre há ‑de haver cépticos que tenta‑rão encontrar explicações alternativas e, no ver deles, mais racionais para as histórias que parecem confirmar a existência de uma vida para lá da morte. no entanto, para aqueles que acreditam, para aqueles que crêem na existência do paraíso, nenhuma explicação poderá alguma vez trans‑formar e inspirar as suas vidas como a força da fé que têm. Mais uma vez, a fé está aqui no cerne da questão – e quem somos nós para questionar ou explicar o poder da fé para transformar as nossas vidas?

beleza, mistério, cura e uma profunda reverência pelo sagrado mis‑tério da vida caracterizam todas as histórias deste livro. Cada uma delas é potencialmente uma porta, uma passagem para uma outra com‑ preensão da realidade, e, se deixar o que lê fluir sem julgamento, talvez fique surpreendido pela sua própria capacidade para despertar a sua alma e abraçar níveis de consciência espiritual de que nunca se tinha apercebido. Mas, seja como for que este livro o afecte, não duvido de que se sentirá inspirado e estimulado – como eu nunca deixei de ficar – pelas histórias verdadeiras de pessoas que fazem vidas ordinárias e cap‑taram vislumbres de qualquer coisa extraordinária. E quer tenha ou não visto espíritos, quer escolha acreditar ou não acreditar, espero que ler a respeito de pessoas cujas vidas foram transformadas se revelará para si uma experiência exaltante e comovedora. Pelo meu lado, tra‑balhar neste livro abriu ‑me os olhos para novas possibilidades e deu‑‑me uma fé renovada.

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Sim, na minha opinião e – como veremos nas páginas que se seguem – na opinião de inúmeras outras pessoas de todos os estratos socais, o Além existe. Os nossos entes queridos que já partiram estão lá à nossa espera. nunca estão longe de nós e querem comunicar connosco. Tudo o que temos de fazer é escutá ‑los. Tudo o que temos de fazer é perguntarmo‑‑nos: «E se…?»

E se… não morrermos?E se… há uma vida para lá da morte?E se… o Além existe?

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