the post especial dez 2015

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The Post Especial | Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação da Newton Estamos de luto por essa causa ESPECIAL CRIME AMBIENTAL EM MARIANA NA WEB npa.newtonpaiva.br/post VEJA TAMBÉM A equipe do The Post foi ao local e pôde acompanhar os relatos de alguns ex-habitantes do distrito de Bento Rodrigues arrasado pela lama NATÁLIA PRADO

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Publicação da Escola de Comunicação do Centro Universitário Newton Paiva

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Page 1: The post especial dez 2015

The PostEspecial | Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação da Newton

Estamos de luto por essa causa

ESPECIAL

CRIME AMBIENTAL EM MARIANA

N A W E Bnpa.newtonpaiva.br/post

VEJA TAMBÉM

A equipe do The Post foi ao local e pôde acompanhar os relatos de alguns ex-habitantes do distrito de Bento Rodrigues arrasado pela lama

NAT

ÁLI

A P

RA

DO

Page 2: The post especial dez 2015

2Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

opinião

CHARGE especial

CLICK especial

editorial

The PostESPECIAL | Dezembro de 2015Publicação realizada pela Escola de Comunicação

EDITORAIzamara Arcanjo

ESTAGIÁRIOS DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃOMONITORES: Daniel Silva e Eurico Souza | EQUIPE: Amanda Siqueira, Bruno Silva, Elias Costa, Fernanda Ferreira, Fernando Bezerra, Michele Ribeiro, Natália Prado e Ycaro Rodarte.APOIO

NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES ACADÊMICAS - NPAEDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICO: Helô Costa DIAGRAMAÇÃO: Ariane Lopes e Marina Pacheco - Estagiárias do curso de Jornalismo

Facebook | Instagram | Youtube | Flickr | Sound Cloud | Twitter

npa.newtonpaiva.br/post

TRAGÉDIA REFLETIDA

PELAS LENTESA estagiária da CPJ Natália Prado esteve em Bento Gonçalves, distrito de Mariana e registrou a tragédia.

As fotos também contaram com a

colaboração especial de Pedro Amoni.

IZAMARA ARCANJOEDITORA

Não podemos nos esquecer de Mariana. Não podemos nos esquecer que o dia 5 de novembro de 2015 entrou para história do Brasil por causa do maior desastre ambiental da história. 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de ferro da mineradora Samarco, em Mariana (MG), foram lançados com o rompimento das barragens do Fundão e Santarém. A cidade de Bento Rodrigues foi arrasada, e o Rio Doce foi quase que soterrado. Até o momento são 18 mortos e um desaparecido.

Como se não bastasse a agonia lenta do Rio Doce, depois de 17 dias, os resíduos alcançaram o oceano, deixando rastro de quase 400km de destruição, em 15 cidades de Minas e três do Espírito Santo. Na bacia do Rio Doce, os resíduos mataram algas, invertebra-dos, répteis, anfíbios e nascentes, locais de desova e de reprodução de pelo menos 80 espécies de peixes. Os pescadores perderam a fonte de sustento da família e milhares moradores do entorno do Rio Doce ficaram sem abastecimento de água. A lama seca e infértil não permite que os agricultores da região plantem nem um grão.

Lamentável é pensar que a tragédia de Mariana não aconteceu devido a um problema de climático ou natural, mas, cai na conta, somente, do comportamento negligente do poder público, da Samarco, da Vale e a australiana BHP, controladoras da mineradora que opera em Minas. O Brasil ainda acolhe modelo de mineração típico do século 18. Tanto a legislação ambiental quanto a de explo-ração das riquezas do subsolo está subordinada a interesses que, nem de longe, leva em conta o patrimônio natural, menos ainda direitos das populações afetadas. Assim, ora a lama invade o mar, ora navegamos no mar de lama.

N A W E Bnpa.newtonpaiva.br/post

VEJA TAMBÉM

Page 3: The post especial dez 2015

3Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

CRIME AMBIENTAL EM MARIANA

especial

O Tsunami de Lama

NATÁLIA PRADO2º PERÍODO

No dia 5 de novembro,

uma tragédia assustou o país.

Por volta das 16 horas, rom-

peu-se uma barragem de

re je i tos da m ine radora

Samarco em Minas Gerais.

Uma enxurrada de lama des-

ceu destruindo tudo o que

encontrava pela frente. Bento

Rodrigues, pacato vilarejo

localizado em Marina, região

central foi a primeira comuni-

dade atingida. O subdistrito

do século XVIII tinha valioso

patrimônio histórico, parte se

foi de baixo de 35 milhões de

metros cúbicos de rejeito de

minério e água.

Mas não foi só a nossa

história que se perdeu, a

identidade, os costumes,

animais e a moradia da popu-

lação também. Ao todo, 600

pessoas foram desabriga-

das só no subdistrito. Consi-

derando todas as comunida-

des atingidas, o número sobe

para 1.256. Segundo infor-

mações das autoridades, 16

mortes foram confirmadas e

há mais 3 na lista de desapa-

recidos. A avalanche tam-

bém afetou Águas Claras,

Ponte do Gama, Paracatu,

Pedras e as cidades de Barra

Longa e Rio Doce.

As razões que levaram

ao rompimento da barragem

de Fundão a inda estão

s e n d o i n v e s t i g a d a s . A

Samarco informou ter regis-

trado dois pequenos tremo-

res na área duas horas

antes. No entanto, o obser-

vatório Sismológico da Uni-

versidade de Brasília ressal-

tou que, segundo seus

registros, os tremores foram

inexpressivos.

Para o promotor Carlos

Eduardo Ferreira Pinto “Não

foi acidente. Não foi fatali-

dade. O que houve foi um

erro na operação e negligên-

cia no monitoramento”, afir-

mou. Segundo documentos

do Ministério Público “o con-

tato entre a pilha de rejeitos e

a barragem não é recomen-

dado por causa do risco de

desestabilização do maciço

da pilha e da potencialização

de processos erosivos”.

Curiosamente, a barra-

gem que se rompeu era a

única com licença para ope-

rar. A validade concedida pela

Secretaria do Meio Ambiente

de Minas Gerais era para até

2019. Mas, os dados sobre a

altura e o volume de rejeitos

es tavam de fasados no

cadastro de estruturas de

represamento da Fundação

Estadual do Meio Ambiente

(FEAM) desde 2013. No regis-

tro, constava que a barragem

comportava 2, 65 milhões de

metro cúbicos de rejeitos,

mas a própria empresa admi-

tiu que havia 55 milhões, um

volume 20 vezes maior.

Os moradores da região

reclamam que não havia sis-

tema de alarme e a empresa

não avisou sobre o rompi-

mento. “O povo avisou ao

povo, um saiu avisando o

outro naquela correria”, disse

Vaninha, dona de um restau-

rante em Camargos. “Um

caminhão saiu buzinando e o

pessoal correu para subir, ele

salvou muita gente”. Ela ainda

destacou a sorte do rompi-

mento ter ocorrido durante o

dia. “A tragédia poderia ter

sido muito pior,” afirma.

A Samarco é uma joint

venture entre as gigantes

Vale e a anglo-australiana

BHP Billiton e lucrava em

torno de R$ 20,5 milhões por

dia. Dinheiro, portanto, não

foi uma das razões para que

não houvesse um plano de

emergência e evacuação.

Providências foram tomadas

somente após o desastre.

Até o momento, os danos

ambientais ainda são incal-

culáveis. Além de devastar

1,5 mil hectares de vegeta-

ção, o tsunami de lama desa-

bou sobre a bacia do Rio

Doce por meio de afluentes

matando sua biodiversidade.

Mais de 80 espécies foram

atingidas, 11 estavam amea-

çadas de extinção e 12 são

exclusivas do rio.

FOTOS NATÁLIA PRADO

Page 4: The post especial dez 2015

4Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

Prisão sem Muros

especial

CRIME AMBIENTAL EM MARIANA

PEDRO HENRIQUE1º PERÍODO

Brasil colônia, desfecho

do século XVII, a bandeira de

Borba Gato encontrava os

primeiros vestígios de pedras

preciosas em nossas terras,

antiga capitania das Minas

Gerais, hoje um importante

estado da nossa República.

Portugal passou a enxergar

com outros olhos sua colô-

nia. A corrida do ouro ajudou

a povoar aquela região, antes

não muito atrativa. Mariana já

foi capital dessa capitania

nos tempos da exploração

aurífera. O ouro foi para Ingla-

terra, a escravidão abolida, a

r e p ú b l i c a d e c l a r a d a e

Mariana continua importante,

imponente em nossa nação,

por suas riquezas naturais.

O tempo passou e o Bra-

sil República avançou em sua

economia. Mui to desse

sucesso se deve ao estado

de Minas Gerais e suas rique-

zas naturais. Mariana e adja-

cências têm um papel impor-

tante na economia brasileira e

seu minério é explorado por

uma empresa privada. A eco-

nomia daquela região é

baseada nos impostos pagos

por es ta empresa , que

durante toda sua história de

exploração, sempre se preo-

cupou em ajudar a comuni-

dade, segundo moradores

da região. Bento Rodrigues,

Camargos, Paracatu e a pró-

pria Mariana são dependen-

tes do dinheiro oriundo dessa

exploração uma vez que

cerca de 80% da economia

dessa vem do minério. Além

disso, a empresa financiava

concertos, reformas em pra-

cinhas e festivais para a

população, segundo o relato

dos moradores.

A l u a d e m e l e n t r e

empresa e população ficaria

abalada no dia 5 de novem-

bro desse ano, quando uma

das barragens de contenção

de minério se rompeu, des-

truindo as cidades em volta e

chegando ao Rio Doce.

Porém, o sentimento dos

moradores, garimpado pela

equipe do The Post mostra

total dependência do capital

da Samarco. “A presidenta

Dilma esteve aqui e sobre-

voou a cidade apenas, nem

desceu para ver a situação, o

governo cobra da Samarco

uma ajuda aos atingidos pela

lama, mas ao mesmo tempo

b loque ia o d inhe i ro da

empresa, como ela poderá

n o s a j u d a r s e m s e u

dinheiro?” questiona uma

moradora de Camargos, que

preferiu não se identificar.

Durante toda a passa-

gem de nossa equipe no

coração da “tragédia”, cons-

tatamos que Mariana e região

são feudos da Samarco, um

pedaço de terra “pertencente

à empresa” dentro da nossa

república . Mesmo tendo

suas casas destruídas e seus

sonhos aniquilados, a popu-

lação daquela região segue

em silêncio diante desse

crime. Eles ainda defendem a

empresa, pois sabem que

s ã o d e p e n d e n t e s d o s

empregos e da receita gera-

dos por ela, mas como diria o

poeta Falcão: “paz sem voz,

não é paz, é medo”.

A realidade dos morado-

res locais seria um roteiro de

cinema, se não fosse trágico.

O mesmo ferro do minério que

“sustenta” a região é o mesmo

encontrado nas celas das pri-

sões, o mesmo ferro que

trouxe a liberdade financeira,

também priva os infratores de

estarem presos. Essa reali-

dade paradoxal acompanha

toda a história de Mariana e do

ouro ao ferro, a dependência

continua a fazer parte do povo

desta região.

NATÁLIA PRADO

Page 5: The post especial dez 2015

5Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

CRIME AMBIENTAL EM MARIANA

especial

Mineiros sem águaBRUNO DANIEL E AMANDA VITÓRIA

2º PERÍODO

O rompimento das bar-

ragens em Mariana fez com

que diversas cidades de

Minas Gerais e do Espirito

S a n t o a i n d a e s t e j a m

sofrendo com a falta de água

por consequência da lama

que atingiu no Rio Doce.

Umas das cidades mais afe-

tadas é Governador Valada-

res, localizada a 330 km da

reg ião da t ragéd ia . Na

cidade, foi decretado estado

de calamidade pública. De

acordo com o portal G1,

além de Valadares, os muni-

cípios de Periquito, Galileia,

Tumiritinga e Alpercata tam-

bém estão com o abasteci-

mento comprometido.

Lois laynne Si lva, 18

anos, moradora do bairro

Jardim em Governador Vala-

dares relata que, com o rom-

pimento das barragens em

Mariana, o cotidiano dos

moradores da cidade foi alte-

rado. “Afetou bastante pelo

fato da lama e de rejeitos ter

devastado o Rio Doce. Fica-

m o s e m t o r n o d e u m a

semana e meia sem água,

pois a empresa do Serviço

Autônomo de Água e Esgoto

(SAAE) que faz a capitação

das águas desligou as bom-

bas para não pegar a lama

com rejeitos. Tivemos que

guardar água para utilizar

nesses dias e também con-

seguimos ajudas de pes-

soas que tinham poços arte-

sianos em casa ou tinhamos

que comprar água mineral”,

diz a moradora.

Segundo Loislaynne,

outro problema enfrentado foi

o aumento no valor da água

mineral vendida na cidade.

“Houve um aumento absurdo.

O valor que antes era de R$

9,00 o garrafão de 20 litros,

agora custa R$ 30,00 em

alguns lugares da cidade”.

Ainda segundo o portal

G1, no dia 12 de novembro, a

prefeita de Governador Vala-

dares, Elisa Costa, encami-

nhou ao Ministério Público e à

direção da Samarco um pré

-projeto para captação de

águ a dos r i os Suassu í

Pequeno e Suassuí Grande.

Os custos do projeto, que

giram em torno de 25 milhões

de reais, devem ser bancados

pela Samarco Mineradora.

Mariana não sofreu com

o problema de falta de água,

já que a cidade não faz cap-

tação do Rio Doce para a

comunidade. De acordo

c o m a a s s e s s o r i a d e

imprensa da prefeitura da

cidade, o município está

doando água para as cida-

des afetadas. Até o momento,

cerca de 300 mil litros de

água já foram doados.

NATÁLIA PRADO

Page 6: The post especial dez 2015

6Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

Há vida pós-catástrofe?

especial

CRIME AMBIENTAL EM MARIANA

RESSUREIÇÃO

No dia 26 de dezembro,

um terremoto de magnitude

9,1 na escala Richter (terceiro

mais forte do mundo) atingiu o

Oceano Índico formando um

Tsunami devastador que arra-

sou principalmente a Indoné-

sia. Apenas na província de

Aceh foram 221 mil pessoas

mortas, mas a Índia e outros

países da costa leste africana

também foram duramente

afetados. Um desastre natural

que causou danos de aproxi-

madamente 10 bilhões de

dólares, uma catástrofe lem-

brada por cenas de morte e

destruição.

Banda Aceh, região de

muitas belezas naturais,

dezenas de praias desertas e

meio ambiente selvagem vivia

isolada do mundo; engajada

em uma guerra civil que bus-

cava a independência da

Indonésia.

Organizações humanitá-

rias do mundo inteiro se com-

prometeram a ajudar com

todos os recursos possíveis.

Contudo, se depararam com

total desordem, encontraram

uma população de “mãos

atadas” reféns de um governo

tacanho e do trágico acidente.

Famílias e grupos de ajuda se

organizaram, reconstruíram

estradas, casas, criaram

empregos. E a guerrilha,

depois de trinta anos, assinou

um acordo de paz.

Quase apagada do

mapa a cidade de Aceh, hoje

está melhor que antes do inci-

dente, reconstruída por um

povo otimista e com a ajuda

de outros países, incluindo o

Brasil. Hoje Aceh é a província

mais famosa da Indonésia.

VALE PRESERVAR

B e n t o R o d r i g u e s ,

Camargos e Paracatu foram

os distritos mais afetados

pelo “tsunami de lama”. A

cidade de Bento Rodrigues

tinha sua economia susten-

tada pela extração mineral,

apenas 20% da economia

local não dependia das mine-

radoras e ao contrário do que

aconteceu na província de

Aceh, o futuro é incerto para

esta pessoas. Os moradores

ainda não sabem em quanto

tempo ou mesmo se o municí-

pio será reconstruído.

TRAGÉDIA AINDA SEM

RESPOSTAS

A Samarco se dispôs a

arcar com as consequências

primarias, socorrendo os

moradores que perderam

suas casas, alugando peque-

nas casas da região proviso-

riamente para eles, porém,

sobre as soluções definitivas,

pouco se fala. Há quase dois

meses do acidente nenhuma

proposta foi apresentada pelo

governo ou pela empresa. No

entanto, o IBAMA aplicou uma

multa para a mineradora de

R$ 250 milhões, o que corres-

ponde a 9% do lucro anual da

Samarco. A justiça também

bloqueou R$ 300 milhões (R$

292 milhões desapareceram,

após a decisão do Juiz Frede-

rico Gonçalves, apenas 8

milhões foram encontrados

nas contas da Samarco), já o

Ministério Público aplicou

uma multa de R$ 1 bilhão . Na

somatória, a quantia não

chega nem a metade do lucro

anual da empresa. Até o

momento, apenas R$ 250

milhões foram pagos.

MARCO TÚLIO1º PERÍODO

INDONÉSIA (26/12/2004)

26 de dezembro de 2015 marca os 11 anos do trágico

acidente, de causas naturais do continente Asiático.

Um Tsunami arrasador deixou 286 mil pessoas mortas

em países nos arredores do Oceano Índico.

BRASIL (05/11/2015)

No dia 05 de novembro de 2015, às 16 horas,

as barragens da empresa Samarco se romperam,

devastando distritos de Mariana, deixando

14 mortos e mais de 20 desaparecidos.

AP PHOTO/EUGENE HOSHIKO E WWW.IDEALISTA.PT NATÁLIA PRADO

Page 7: The post especial dez 2015

7Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

CRIME AMBIENTAL EM MARIANA

especial

Mineradoras e políticos: aliança duvidosaDANIEL SILVA

4° PERÍODO

O cientista político Agnez

Saraiva é especialista em

Gestão Pública e professor

da Fundação João Pinheiro.

Em entrevista ao The Post, ele

explica os motivos que atre-

lam mineradoras a partidos

políticos e as consequências

dessa aliança.

THE POST: Quais são os

partidos que mais receberam

doações das mineradoras?

Agnez Saraiva: Posso

dizer que PSDB, PMDB, PSB,

PV, PT, PROS, PSD, PCdoB,

DEM, PP, PPS, SD, PR, PRB,

PSL, PTB, PHS receberam de

mineradoras algum recurso,

direta ou indiretamente. Mas,

acredito que vários outros

partidos também receberam.

Porém, para responder com

precisão será necessário

mais tempo para que eu con-

siga fazer esta consulta ao

site do TRE.

THE POST: E as empresas

que mais doaram?

AS: Parece que a Vale foi

a maior doadora. Outras

m i n e r a d o r a s c o m o a

Samarco, a MBR, CBMM,

Mineração Esperança, Phoe-

nix Mineração e Mineração

Corumabaense também

fizeram generosas doações

para partidos e candidatos.

THE POST: O relator da PL

5807/13 também recebeu?

A S : S i m , r e c e b e u .

Segundo o Jornal Estado de

Minas (15/11/15), o relator da

referida PL, o deputado do

PMDB, Leonardo Quintão,

teve 42% de seus recursos de

campanha vindo de empre-

sas mineradoras. Segundo o

jornal, as doações ficaram

perto de R$ 2 milhões.

THE POST: E os responsá-

veis por aprovar o novo código

da mineração? E o governador?

AS: Segundo o jornal

Estado de Minas, a Comis-

s ã o P a r l a m e n t a r q u e

estuda e propõe o novo

código da mineração no

Brasil é composta por 27

m e m b r o s . D e s t e s , 2 0

deputados foram financia-

dos por mineradoras. Este

fato compromete o novo

código e o deixa capturado

por quem deve ser contro-

lado por ele. Em relação ao

G o v e r n a d o r Fe r n a n d o

Pimentel, não tenho infor-

mação de que ele tenha

recebido doação direta de

mineradora. Os dados que

acessei não falam que ele

tenha recebido. Mas, acho

que é imprudente afirmar

que sim ou não.

THE POST: Por que as doa-

ções mesmo legais se tornam

um problema para a população?

AS: Porque as doações

fazem com que os parlamen-

tares, que são os responsá-

veis em produzir o marco

legal da mineração, não

equilibrem os interesses e

pendam a defender as mine-

radoras e a deixar a popula-

ção sem proteção. Regula-

mentar e criar mecanismos

de controle e de punição para

as empresas de mineração

são alguns dos objetivos do

código, contudo os parla-

mentares ao estarem com-

prometidos com elas tendem

a fazer de maneira frouxa,

dúbia e com muitas brechas

que protegem a mineração

em detrimento dos interes-

ses públicos.

THE POST: Como as doa-

ções às campanhas eleitorais

interferem no real interesse

público?

AS: Es te é um tema

importante que deveria ser

debatido em uma reforma

polít ica séria, ou seja, o

financiamento de campa-

nha. Há estudos que mos-

tram a clara correlação entre

doação de pessoa jurídica

com campanhas eleitorais e

o favorecimento em relação

a comissões especiais de

investigações, marco regu-

latório frouxo para as ativida-

des econômicas específicas

e outros problemas. Mesmo

em relação a reformas mais

profundas como a tributária,

educacional e da saúde, por

exemplo, elas não aconte-

cem porque grande parte

dos parlamentares são com-

prometidos com os financia-

dores de campanha. É notó-

rio no legislativo brasileiro a

fidelidade de muitos parla-

mentares aos interesses

corporativos das empresas

que financiaram as suas

campanhas. É comum na

imprensa ou mesmo entre os

parlamentares a identifica-

ção dos políticos que atuam

segundo o seu interesse

corporativo e fica claro este

interesse nas votações. É

comum vermos referência

às bancadas do agronegó-

cio, das escolas privadas,

dos planos de saúde, das

empreiteiras, dos bancos,

da bala e outros. Como já

disse, há estudos em alguns

centros de pesquisas sobre

o comportamento dos parla-

mentares f rente a estes

temas relevantes e penden-

tes para a sociedade brasi-

le i ra . Este estudos têm

apontado para uma correla-

ção entre financiamento pri-

vado e atuação do parla-

mentar em defesa de inte-

resses co rpo ra t i vos , o

Departamento Intersindical

de Assessoria Parlamentar

(DIAP) é um destes centros

que têm estudos que com-

provam este cenário no par-

lamento brasileiro.

Page 8: The post especial dez 2015

8Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação

YCARO RODARTE4O PERÍODO

Diante da catástrofe

ocorrida em Bento Rodri-

gues, distrito de Mariana, e

que atingiu várias cidades da

região, muitos donativos são

recebidos pelas pessoas que

foram vítimas pela tragédia.

Celebridades, autoridades, e

pessoas comuns dispostas a

ajudar, contribuíram com os

atingidos. Bernardo Guima-

rães, 32 anos, não fez dife-

rente. O professor de Direito

da Newton Paiva se dispôs a

doar todo o dinheiro das ven-

das do seu novo livro aos

marianenses . Em contato

com moradores da cidade, o

professor busca ajudar não

só a cidade mais atingida,

como também lugares que

vão além dela.

Bernardo lançou o livro

Direito e Cinema – Por que

devemos filmar narrativas? O

livro enfatiza que é preciso

que estejamos conectados

ao direito de todas as manei-

ras, assim defende que é

preciso , ler o direito, construir

o direito, e, sobretudo, ques-

tionar o direito a partir do

cinema. Mas, segundo Ber-

nardo, o livro não é voltado

apenas para interessados

nessa área, mas sim para o

coração das pessoas.

Identificação e misturas

de sentimentos foram as

grandes razões para Ber-

nardo resolver ajudar o povo

de Mariana e sua região.

Suas raízes vão de encontro

com o ocorrido. Então, nada

mais justo e bonito do que

fazer sua parte. “Eu conheço

de perto pessoas que viviam

do rio, minha poesia nasceu

nele também, nada mais

natural. O rio corre para o

mar. Minha poesia nesse

caso está voltando para o

seio de onde ela brotou. Foi

natural. Esse livro não nasceu

de mim” conta.

Para Bernardo, fazer jus-

tiça, neste caso, é uma “mis-

são impossível”, uma vez

que multas, indenizações ou

qualquer outra sansão não

c o m p e n s a r á u m a á r e a

devastada ou uma vida per-

dida, como é expressado em

seu poema. A resposta para

se fazer justiça à tragédia só

poderia ser dada a quem foi

a t i ng ido , segundo e le .

“Deveríamos consultar as

árvores, os peixes, as mar-

gens. Deveríamos perguntar

a todos que não têm voz,

nunca tiveram, e que agora

se misturam ao rejeito da

barragem. Aos pássaros que

faziam ali morada. Como

fazer justiça a eles? E aos

que se inspiram no Rio, o

pescador e o poeta: um que-

rendo o peixe, o outro, o

sonho, como fazer justiça a

e les? Qual indenização

cobre a história que agora se

perde na memória? E ainda,

qual o valor da indenização

para a inscrição violenta da

lama da Samarco na história

do Rio Doce?

Na opinião de Bernardo,

a culpa pelo crime ambiental

de Bento Rodrigues está em

n o s s o m o d o d e v i v e r.

Segundo ele, é a única expli-

cação por estarmos nessa

situação: “Estamos sujeitos a

esse molde de existência,

mas ele não é o único. Isso

precisa ser dito. As empresas

envolvidas geram bilhões de

lucros, exploram os locais até

o limite, depois se vão. Me

parece que as regiões que

são exploradas não mudam

para melhor”, declara.

“Estamos sujeitos a este modo de existência”

especial

CRIME AMBIENTAL EM MARIANAFOTOS ARQUIVO PESSOAL