the post especial dez 2015
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Publicação da Escola de Comunicação do Centro Universitário Newton PaivaTRANSCRIPT
The PostEspecial | Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação da Newton
Estamos de luto por essa causa
ESPECIAL
CRIME AMBIENTAL EM MARIANA
N A W E Bnpa.newtonpaiva.br/post
VEJA TAMBÉM
A equipe do The Post foi ao local e pôde acompanhar os relatos de alguns ex-habitantes do distrito de Bento Rodrigues arrasado pela lama
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DO
2Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
opinião
CHARGE especial
CLICK especial
editorial
The PostESPECIAL | Dezembro de 2015Publicação realizada pela Escola de Comunicação
EDITORAIzamara Arcanjo
ESTAGIÁRIOS DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃOMONITORES: Daniel Silva e Eurico Souza | EQUIPE: Amanda Siqueira, Bruno Silva, Elias Costa, Fernanda Ferreira, Fernando Bezerra, Michele Ribeiro, Natália Prado e Ycaro Rodarte.APOIO
NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES ACADÊMICAS - NPAEDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICO: Helô Costa DIAGRAMAÇÃO: Ariane Lopes e Marina Pacheco - Estagiárias do curso de Jornalismo
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npa.newtonpaiva.br/post
TRAGÉDIA REFLETIDA
PELAS LENTESA estagiária da CPJ Natália Prado esteve em Bento Gonçalves, distrito de Mariana e registrou a tragédia.
As fotos também contaram com a
colaboração especial de Pedro Amoni.
IZAMARA ARCANJOEDITORA
Não podemos nos esquecer de Mariana. Não podemos nos esquecer que o dia 5 de novembro de 2015 entrou para história do Brasil por causa do maior desastre ambiental da história. 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de ferro da mineradora Samarco, em Mariana (MG), foram lançados com o rompimento das barragens do Fundão e Santarém. A cidade de Bento Rodrigues foi arrasada, e o Rio Doce foi quase que soterrado. Até o momento são 18 mortos e um desaparecido.
Como se não bastasse a agonia lenta do Rio Doce, depois de 17 dias, os resíduos alcançaram o oceano, deixando rastro de quase 400km de destruição, em 15 cidades de Minas e três do Espírito Santo. Na bacia do Rio Doce, os resíduos mataram algas, invertebra-dos, répteis, anfíbios e nascentes, locais de desova e de reprodução de pelo menos 80 espécies de peixes. Os pescadores perderam a fonte de sustento da família e milhares moradores do entorno do Rio Doce ficaram sem abastecimento de água. A lama seca e infértil não permite que os agricultores da região plantem nem um grão.
Lamentável é pensar que a tragédia de Mariana não aconteceu devido a um problema de climático ou natural, mas, cai na conta, somente, do comportamento negligente do poder público, da Samarco, da Vale e a australiana BHP, controladoras da mineradora que opera em Minas. O Brasil ainda acolhe modelo de mineração típico do século 18. Tanto a legislação ambiental quanto a de explo-ração das riquezas do subsolo está subordinada a interesses que, nem de longe, leva em conta o patrimônio natural, menos ainda direitos das populações afetadas. Assim, ora a lama invade o mar, ora navegamos no mar de lama.
N A W E Bnpa.newtonpaiva.br/post
VEJA TAMBÉM
3Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
CRIME AMBIENTAL EM MARIANA
especial
O Tsunami de Lama
NATÁLIA PRADO2º PERÍODO
No dia 5 de novembro,
uma tragédia assustou o país.
Por volta das 16 horas, rom-
peu-se uma barragem de
re je i tos da m ine radora
Samarco em Minas Gerais.
Uma enxurrada de lama des-
ceu destruindo tudo o que
encontrava pela frente. Bento
Rodrigues, pacato vilarejo
localizado em Marina, região
central foi a primeira comuni-
dade atingida. O subdistrito
do século XVIII tinha valioso
patrimônio histórico, parte se
foi de baixo de 35 milhões de
metros cúbicos de rejeito de
minério e água.
Mas não foi só a nossa
história que se perdeu, a
identidade, os costumes,
animais e a moradia da popu-
lação também. Ao todo, 600
pessoas foram desabriga-
das só no subdistrito. Consi-
derando todas as comunida-
des atingidas, o número sobe
para 1.256. Segundo infor-
mações das autoridades, 16
mortes foram confirmadas e
há mais 3 na lista de desapa-
recidos. A avalanche tam-
bém afetou Águas Claras,
Ponte do Gama, Paracatu,
Pedras e as cidades de Barra
Longa e Rio Doce.
As razões que levaram
ao rompimento da barragem
de Fundão a inda estão
s e n d o i n v e s t i g a d a s . A
Samarco informou ter regis-
trado dois pequenos tremo-
res na área duas horas
antes. No entanto, o obser-
vatório Sismológico da Uni-
versidade de Brasília ressal-
tou que, segundo seus
registros, os tremores foram
inexpressivos.
Para o promotor Carlos
Eduardo Ferreira Pinto “Não
foi acidente. Não foi fatali-
dade. O que houve foi um
erro na operação e negligên-
cia no monitoramento”, afir-
mou. Segundo documentos
do Ministério Público “o con-
tato entre a pilha de rejeitos e
a barragem não é recomen-
dado por causa do risco de
desestabilização do maciço
da pilha e da potencialização
de processos erosivos”.
Curiosamente, a barra-
gem que se rompeu era a
única com licença para ope-
rar. A validade concedida pela
Secretaria do Meio Ambiente
de Minas Gerais era para até
2019. Mas, os dados sobre a
altura e o volume de rejeitos
es tavam de fasados no
cadastro de estruturas de
represamento da Fundação
Estadual do Meio Ambiente
(FEAM) desde 2013. No regis-
tro, constava que a barragem
comportava 2, 65 milhões de
metro cúbicos de rejeitos,
mas a própria empresa admi-
tiu que havia 55 milhões, um
volume 20 vezes maior.
Os moradores da região
reclamam que não havia sis-
tema de alarme e a empresa
não avisou sobre o rompi-
mento. “O povo avisou ao
povo, um saiu avisando o
outro naquela correria”, disse
Vaninha, dona de um restau-
rante em Camargos. “Um
caminhão saiu buzinando e o
pessoal correu para subir, ele
salvou muita gente”. Ela ainda
destacou a sorte do rompi-
mento ter ocorrido durante o
dia. “A tragédia poderia ter
sido muito pior,” afirma.
A Samarco é uma joint
venture entre as gigantes
Vale e a anglo-australiana
BHP Billiton e lucrava em
torno de R$ 20,5 milhões por
dia. Dinheiro, portanto, não
foi uma das razões para que
não houvesse um plano de
emergência e evacuação.
Providências foram tomadas
somente após o desastre.
Até o momento, os danos
ambientais ainda são incal-
culáveis. Além de devastar
1,5 mil hectares de vegeta-
ção, o tsunami de lama desa-
bou sobre a bacia do Rio
Doce por meio de afluentes
matando sua biodiversidade.
Mais de 80 espécies foram
atingidas, 11 estavam amea-
çadas de extinção e 12 são
exclusivas do rio.
FOTOS NATÁLIA PRADO
4Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
Prisão sem Muros
especial
CRIME AMBIENTAL EM MARIANA
PEDRO HENRIQUE1º PERÍODO
Brasil colônia, desfecho
do século XVII, a bandeira de
Borba Gato encontrava os
primeiros vestígios de pedras
preciosas em nossas terras,
antiga capitania das Minas
Gerais, hoje um importante
estado da nossa República.
Portugal passou a enxergar
com outros olhos sua colô-
nia. A corrida do ouro ajudou
a povoar aquela região, antes
não muito atrativa. Mariana já
foi capital dessa capitania
nos tempos da exploração
aurífera. O ouro foi para Ingla-
terra, a escravidão abolida, a
r e p ú b l i c a d e c l a r a d a e
Mariana continua importante,
imponente em nossa nação,
por suas riquezas naturais.
O tempo passou e o Bra-
sil República avançou em sua
economia. Mui to desse
sucesso se deve ao estado
de Minas Gerais e suas rique-
zas naturais. Mariana e adja-
cências têm um papel impor-
tante na economia brasileira e
seu minério é explorado por
uma empresa privada. A eco-
nomia daquela região é
baseada nos impostos pagos
por es ta empresa , que
durante toda sua história de
exploração, sempre se preo-
cupou em ajudar a comuni-
dade, segundo moradores
da região. Bento Rodrigues,
Camargos, Paracatu e a pró-
pria Mariana são dependen-
tes do dinheiro oriundo dessa
exploração uma vez que
cerca de 80% da economia
dessa vem do minério. Além
disso, a empresa financiava
concertos, reformas em pra-
cinhas e festivais para a
população, segundo o relato
dos moradores.
A l u a d e m e l e n t r e
empresa e população ficaria
abalada no dia 5 de novem-
bro desse ano, quando uma
das barragens de contenção
de minério se rompeu, des-
truindo as cidades em volta e
chegando ao Rio Doce.
Porém, o sentimento dos
moradores, garimpado pela
equipe do The Post mostra
total dependência do capital
da Samarco. “A presidenta
Dilma esteve aqui e sobre-
voou a cidade apenas, nem
desceu para ver a situação, o
governo cobra da Samarco
uma ajuda aos atingidos pela
lama, mas ao mesmo tempo
b loque ia o d inhe i ro da
empresa, como ela poderá
n o s a j u d a r s e m s e u
dinheiro?” questiona uma
moradora de Camargos, que
preferiu não se identificar.
Durante toda a passa-
gem de nossa equipe no
coração da “tragédia”, cons-
tatamos que Mariana e região
são feudos da Samarco, um
pedaço de terra “pertencente
à empresa” dentro da nossa
república . Mesmo tendo
suas casas destruídas e seus
sonhos aniquilados, a popu-
lação daquela região segue
em silêncio diante desse
crime. Eles ainda defendem a
empresa, pois sabem que
s ã o d e p e n d e n t e s d o s
empregos e da receita gera-
dos por ela, mas como diria o
poeta Falcão: “paz sem voz,
não é paz, é medo”.
A realidade dos morado-
res locais seria um roteiro de
cinema, se não fosse trágico.
O mesmo ferro do minério que
“sustenta” a região é o mesmo
encontrado nas celas das pri-
sões, o mesmo ferro que
trouxe a liberdade financeira,
também priva os infratores de
estarem presos. Essa reali-
dade paradoxal acompanha
toda a história de Mariana e do
ouro ao ferro, a dependência
continua a fazer parte do povo
desta região.
NATÁLIA PRADO
5Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
CRIME AMBIENTAL EM MARIANA
especial
Mineiros sem águaBRUNO DANIEL E AMANDA VITÓRIA
2º PERÍODO
O rompimento das bar-
ragens em Mariana fez com
que diversas cidades de
Minas Gerais e do Espirito
S a n t o a i n d a e s t e j a m
sofrendo com a falta de água
por consequência da lama
que atingiu no Rio Doce.
Umas das cidades mais afe-
tadas é Governador Valada-
res, localizada a 330 km da
reg ião da t ragéd ia . Na
cidade, foi decretado estado
de calamidade pública. De
acordo com o portal G1,
além de Valadares, os muni-
cípios de Periquito, Galileia,
Tumiritinga e Alpercata tam-
bém estão com o abasteci-
mento comprometido.
Lois laynne Si lva, 18
anos, moradora do bairro
Jardim em Governador Vala-
dares relata que, com o rom-
pimento das barragens em
Mariana, o cotidiano dos
moradores da cidade foi alte-
rado. “Afetou bastante pelo
fato da lama e de rejeitos ter
devastado o Rio Doce. Fica-
m o s e m t o r n o d e u m a
semana e meia sem água,
pois a empresa do Serviço
Autônomo de Água e Esgoto
(SAAE) que faz a capitação
das águas desligou as bom-
bas para não pegar a lama
com rejeitos. Tivemos que
guardar água para utilizar
nesses dias e também con-
seguimos ajudas de pes-
soas que tinham poços arte-
sianos em casa ou tinhamos
que comprar água mineral”,
diz a moradora.
Segundo Loislaynne,
outro problema enfrentado foi
o aumento no valor da água
mineral vendida na cidade.
“Houve um aumento absurdo.
O valor que antes era de R$
9,00 o garrafão de 20 litros,
agora custa R$ 30,00 em
alguns lugares da cidade”.
Ainda segundo o portal
G1, no dia 12 de novembro, a
prefeita de Governador Vala-
dares, Elisa Costa, encami-
nhou ao Ministério Público e à
direção da Samarco um pré
-projeto para captação de
águ a dos r i os Suassu í
Pequeno e Suassuí Grande.
Os custos do projeto, que
giram em torno de 25 milhões
de reais, devem ser bancados
pela Samarco Mineradora.
Mariana não sofreu com
o problema de falta de água,
já que a cidade não faz cap-
tação do Rio Doce para a
comunidade. De acordo
c o m a a s s e s s o r i a d e
imprensa da prefeitura da
cidade, o município está
doando água para as cida-
des afetadas. Até o momento,
cerca de 300 mil litros de
água já foram doados.
NATÁLIA PRADO
6Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
Há vida pós-catástrofe?
especial
CRIME AMBIENTAL EM MARIANA
RESSUREIÇÃO
No dia 26 de dezembro,
um terremoto de magnitude
9,1 na escala Richter (terceiro
mais forte do mundo) atingiu o
Oceano Índico formando um
Tsunami devastador que arra-
sou principalmente a Indoné-
sia. Apenas na província de
Aceh foram 221 mil pessoas
mortas, mas a Índia e outros
países da costa leste africana
também foram duramente
afetados. Um desastre natural
que causou danos de aproxi-
madamente 10 bilhões de
dólares, uma catástrofe lem-
brada por cenas de morte e
destruição.
Banda Aceh, região de
muitas belezas naturais,
dezenas de praias desertas e
meio ambiente selvagem vivia
isolada do mundo; engajada
em uma guerra civil que bus-
cava a independência da
Indonésia.
Organizações humanitá-
rias do mundo inteiro se com-
prometeram a ajudar com
todos os recursos possíveis.
Contudo, se depararam com
total desordem, encontraram
uma população de “mãos
atadas” reféns de um governo
tacanho e do trágico acidente.
Famílias e grupos de ajuda se
organizaram, reconstruíram
estradas, casas, criaram
empregos. E a guerrilha,
depois de trinta anos, assinou
um acordo de paz.
Quase apagada do
mapa a cidade de Aceh, hoje
está melhor que antes do inci-
dente, reconstruída por um
povo otimista e com a ajuda
de outros países, incluindo o
Brasil. Hoje Aceh é a província
mais famosa da Indonésia.
VALE PRESERVAR
B e n t o R o d r i g u e s ,
Camargos e Paracatu foram
os distritos mais afetados
pelo “tsunami de lama”. A
cidade de Bento Rodrigues
tinha sua economia susten-
tada pela extração mineral,
apenas 20% da economia
local não dependia das mine-
radoras e ao contrário do que
aconteceu na província de
Aceh, o futuro é incerto para
esta pessoas. Os moradores
ainda não sabem em quanto
tempo ou mesmo se o municí-
pio será reconstruído.
TRAGÉDIA AINDA SEM
RESPOSTAS
A Samarco se dispôs a
arcar com as consequências
primarias, socorrendo os
moradores que perderam
suas casas, alugando peque-
nas casas da região proviso-
riamente para eles, porém,
sobre as soluções definitivas,
pouco se fala. Há quase dois
meses do acidente nenhuma
proposta foi apresentada pelo
governo ou pela empresa. No
entanto, o IBAMA aplicou uma
multa para a mineradora de
R$ 250 milhões, o que corres-
ponde a 9% do lucro anual da
Samarco. A justiça também
bloqueou R$ 300 milhões (R$
292 milhões desapareceram,
após a decisão do Juiz Frede-
rico Gonçalves, apenas 8
milhões foram encontrados
nas contas da Samarco), já o
Ministério Público aplicou
uma multa de R$ 1 bilhão . Na
somatória, a quantia não
chega nem a metade do lucro
anual da empresa. Até o
momento, apenas R$ 250
milhões foram pagos.
MARCO TÚLIO1º PERÍODO
INDONÉSIA (26/12/2004)
26 de dezembro de 2015 marca os 11 anos do trágico
acidente, de causas naturais do continente Asiático.
Um Tsunami arrasador deixou 286 mil pessoas mortas
em países nos arredores do Oceano Índico.
BRASIL (05/11/2015)
No dia 05 de novembro de 2015, às 16 horas,
as barragens da empresa Samarco se romperam,
devastando distritos de Mariana, deixando
14 mortos e mais de 20 desaparecidos.
AP PHOTO/EUGENE HOSHIKO E WWW.IDEALISTA.PT NATÁLIA PRADO
7Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
CRIME AMBIENTAL EM MARIANA
especial
Mineradoras e políticos: aliança duvidosaDANIEL SILVA
4° PERÍODO
O cientista político Agnez
Saraiva é especialista em
Gestão Pública e professor
da Fundação João Pinheiro.
Em entrevista ao The Post, ele
explica os motivos que atre-
lam mineradoras a partidos
políticos e as consequências
dessa aliança.
THE POST: Quais são os
partidos que mais receberam
doações das mineradoras?
Agnez Saraiva: Posso
dizer que PSDB, PMDB, PSB,
PV, PT, PROS, PSD, PCdoB,
DEM, PP, PPS, SD, PR, PRB,
PSL, PTB, PHS receberam de
mineradoras algum recurso,
direta ou indiretamente. Mas,
acredito que vários outros
partidos também receberam.
Porém, para responder com
precisão será necessário
mais tempo para que eu con-
siga fazer esta consulta ao
site do TRE.
THE POST: E as empresas
que mais doaram?
AS: Parece que a Vale foi
a maior doadora. Outras
m i n e r a d o r a s c o m o a
Samarco, a MBR, CBMM,
Mineração Esperança, Phoe-
nix Mineração e Mineração
Corumabaense também
fizeram generosas doações
para partidos e candidatos.
THE POST: O relator da PL
5807/13 também recebeu?
A S : S i m , r e c e b e u .
Segundo o Jornal Estado de
Minas (15/11/15), o relator da
referida PL, o deputado do
PMDB, Leonardo Quintão,
teve 42% de seus recursos de
campanha vindo de empre-
sas mineradoras. Segundo o
jornal, as doações ficaram
perto de R$ 2 milhões.
THE POST: E os responsá-
veis por aprovar o novo código
da mineração? E o governador?
AS: Segundo o jornal
Estado de Minas, a Comis-
s ã o P a r l a m e n t a r q u e
estuda e propõe o novo
código da mineração no
Brasil é composta por 27
m e m b r o s . D e s t e s , 2 0
deputados foram financia-
dos por mineradoras. Este
fato compromete o novo
código e o deixa capturado
por quem deve ser contro-
lado por ele. Em relação ao
G o v e r n a d o r Fe r n a n d o
Pimentel, não tenho infor-
mação de que ele tenha
recebido doação direta de
mineradora. Os dados que
acessei não falam que ele
tenha recebido. Mas, acho
que é imprudente afirmar
que sim ou não.
THE POST: Por que as doa-
ções mesmo legais se tornam
um problema para a população?
AS: Porque as doações
fazem com que os parlamen-
tares, que são os responsá-
veis em produzir o marco
legal da mineração, não
equilibrem os interesses e
pendam a defender as mine-
radoras e a deixar a popula-
ção sem proteção. Regula-
mentar e criar mecanismos
de controle e de punição para
as empresas de mineração
são alguns dos objetivos do
código, contudo os parla-
mentares ao estarem com-
prometidos com elas tendem
a fazer de maneira frouxa,
dúbia e com muitas brechas
que protegem a mineração
em detrimento dos interes-
ses públicos.
THE POST: Como as doa-
ções às campanhas eleitorais
interferem no real interesse
público?
AS: Es te é um tema
importante que deveria ser
debatido em uma reforma
polít ica séria, ou seja, o
financiamento de campa-
nha. Há estudos que mos-
tram a clara correlação entre
doação de pessoa jurídica
com campanhas eleitorais e
o favorecimento em relação
a comissões especiais de
investigações, marco regu-
latório frouxo para as ativida-
des econômicas específicas
e outros problemas. Mesmo
em relação a reformas mais
profundas como a tributária,
educacional e da saúde, por
exemplo, elas não aconte-
cem porque grande parte
dos parlamentares são com-
prometidos com os financia-
dores de campanha. É notó-
rio no legislativo brasileiro a
fidelidade de muitos parla-
mentares aos interesses
corporativos das empresas
que financiaram as suas
campanhas. É comum na
imprensa ou mesmo entre os
parlamentares a identifica-
ção dos políticos que atuam
segundo o seu interesse
corporativo e fica claro este
interesse nas votações. É
comum vermos referência
às bancadas do agronegó-
cio, das escolas privadas,
dos planos de saúde, das
empreiteiras, dos bancos,
da bala e outros. Como já
disse, há estudos em alguns
centros de pesquisas sobre
o comportamento dos parla-
mentares f rente a estes
temas relevantes e penden-
tes para a sociedade brasi-
le i ra . Este estudos têm
apontado para uma correla-
ção entre financiamento pri-
vado e atuação do parla-
mentar em defesa de inte-
resses co rpo ra t i vos , o
Departamento Intersindical
de Assessoria Parlamentar
(DIAP) é um destes centros
que têm estudos que com-
provam este cenário no par-
lamento brasileiro.
8Dezembro de 2015 | Publicação realizada pela Escola de Comunicação
YCARO RODARTE4O PERÍODO
Diante da catástrofe
ocorrida em Bento Rodri-
gues, distrito de Mariana, e
que atingiu várias cidades da
região, muitos donativos são
recebidos pelas pessoas que
foram vítimas pela tragédia.
Celebridades, autoridades, e
pessoas comuns dispostas a
ajudar, contribuíram com os
atingidos. Bernardo Guima-
rães, 32 anos, não fez dife-
rente. O professor de Direito
da Newton Paiva se dispôs a
doar todo o dinheiro das ven-
das do seu novo livro aos
marianenses . Em contato
com moradores da cidade, o
professor busca ajudar não
só a cidade mais atingida,
como também lugares que
vão além dela.
Bernardo lançou o livro
Direito e Cinema – Por que
devemos filmar narrativas? O
livro enfatiza que é preciso
que estejamos conectados
ao direito de todas as manei-
ras, assim defende que é
preciso , ler o direito, construir
o direito, e, sobretudo, ques-
tionar o direito a partir do
cinema. Mas, segundo Ber-
nardo, o livro não é voltado
apenas para interessados
nessa área, mas sim para o
coração das pessoas.
Identificação e misturas
de sentimentos foram as
grandes razões para Ber-
nardo resolver ajudar o povo
de Mariana e sua região.
Suas raízes vão de encontro
com o ocorrido. Então, nada
mais justo e bonito do que
fazer sua parte. “Eu conheço
de perto pessoas que viviam
do rio, minha poesia nasceu
nele também, nada mais
natural. O rio corre para o
mar. Minha poesia nesse
caso está voltando para o
seio de onde ela brotou. Foi
natural. Esse livro não nasceu
de mim” conta.
Para Bernardo, fazer jus-
tiça, neste caso, é uma “mis-
são impossível”, uma vez
que multas, indenizações ou
qualquer outra sansão não
c o m p e n s a r á u m a á r e a
devastada ou uma vida per-
dida, como é expressado em
seu poema. A resposta para
se fazer justiça à tragédia só
poderia ser dada a quem foi
a t i ng ido , segundo e le .
“Deveríamos consultar as
árvores, os peixes, as mar-
gens. Deveríamos perguntar
a todos que não têm voz,
nunca tiveram, e que agora
se misturam ao rejeito da
barragem. Aos pássaros que
faziam ali morada. Como
fazer justiça a eles? E aos
que se inspiram no Rio, o
pescador e o poeta: um que-
rendo o peixe, o outro, o
sonho, como fazer justiça a
e les? Qual indenização
cobre a história que agora se
perde na memória? E ainda,
qual o valor da indenização
para a inscrição violenta da
lama da Samarco na história
do Rio Doce?
Na opinião de Bernardo,
a culpa pelo crime ambiental
de Bento Rodrigues está em
n o s s o m o d o d e v i v e r.
Segundo ele, é a única expli-
cação por estarmos nessa
situação: “Estamos sujeitos a
esse molde de existência,
mas ele não é o único. Isso
precisa ser dito. As empresas
envolvidas geram bilhões de
lucros, exploram os locais até
o limite, depois se vão. Me
parece que as regiões que
são exploradas não mudam
para melhor”, declara.
“Estamos sujeitos a este modo de existência”
especial
CRIME AMBIENTAL EM MARIANAFOTOS ARQUIVO PESSOAL