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    OIM-IPOR-MA ORE-REK

    FERNANDO STANKUNS DE PAULA FIGUEIREDOORIENTADOR PROFo. DR. REGINALDO LUIZ NUNES RONCONI

    FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA USPFEVEREIRO DE 2005

    TRABALHO FINAL DE GRADUAO: REGISTRO E PROJETO GRFICOEXPERINCIA DE ESTUDANTES UNIVERSITRIOS E OS GUARANI

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    SUMRIOO que esse livro contm

    [COMEANDO]

    APRENDERAM QUE PRIMEIRO DEVIA-SE APRENDER 03

    NDIO, EM SO PAULO?! 05

    A VIDA DOS GUARANI NOS TEKO YTU E PYA E SUA RELAO COM SO PAULO 07

    [EXTENSO]

    O QUE EXTENSO UNIVERSITRIA? 15

    [ARQUITETURA]

    O 29

    NHA NHEMBOEA 33

    OPY 45

    AGUAPE 53SANEAMENTO 59

    QUAL FOI O PARTIDO ADOTADO? 63

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    [APRENDIZAGEM]

    PEGADAS NO BARRO, TRAOS NO CADERNO 77

    PROJETO KURINGU MAITY 85

    CONHECI ALGUMAS ALDEIAS, NOVA CULTURA, NOVAS IDIAS 93

    [IMAGEM]

    REXAPA 97

    [FINALIZANDO]

    DE TUDO FICARAM TRS COISAS 109

    DEPOIMENTOS 112

    AEVETE 123

    NHANDEPY 125

    O QUE LI, PESQUISEI E RECOMENDO 126CRDITOS 132

    CONTATO 133

    TCNICA 133

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    prefervel ter o esprito ardente, por mais que tenhamos que cometer mais erros, do que ser mesqui-nho e demasiado prudente. bom amar tanto quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira fora,e aquele que ama muito realiza grandes coisas e capaz, e o que se faz por amor est bem feito.(VAN GOGH)

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    [COMEANDO] 3

    Traduzir OIM-IPOR-MA ORE-REK para o portugus faz parte de um amplo processo deaprendizado, do qual um grupo de estudantes de Arquitetura, Cincias Sociais, Economia,Educao, Letras e Psicologia, da Universidade de So Paulo faz parte desde 1999, atravsde uma parceria com a comunidade indgena Guarani do Jaragu, constituda pelos TekoYtu e Teko Pya, localizada na regio noroeste do municpio de So Paulo.

    Estudantes de arquitetura, inclusive eu, iniciaram esse relacionamento que j dura seisanos, perodo que puderam realizar alguns projetos. Gradualmente, adquirida a fundamentalconfiana dessa comunidade, importantes lies foram recebidas sobre a arquitetura, acultura e o modo de vida Guarani.

    Desde ento o aprendizado tem sido grande e as indagaes idem. Contatos com conhece-dores de temas afins foram feitos, e mais alunos, de diversas reas do conhecimento, fo-ram se juntando num processo que teve como prioridade antes de qualquer execuo oconhecimento dessa comunidade.

    Tanto dentro do grupo de extenso, como principalmente a partir da comunidade, muitas

    idias e projetos nasceram: acompanhar de perto as atividades da Escola recm inaugurada,cuja construo estivemos diretamente envolvidos; realizar um vdeo documentrio; apren-der com a Educao Tradicional Guarani; observar a construo de habitaes por rgospblicos; aprender com a Construo Tradicional e trabalhar em alguns projetos ligadas Cultura, alm da discusso de diversas temticas que afloraram nesse tempo, tais como ouso da nova Escola; formas de auto-sustentabilidade; as polticas pblicas para as populaesindgenas; as polticas culturais; as educacionais e habitacionais entre outras.

    Confesso que nessa histria como certa vez escreveu muito bem nosso amigo Amilton um intercmbio de saberes construdo de forma respeitosa entre uma comunidade indgena

    Guarani e um grupo interdisciplinar de estudantes universitrios, caminhamos muito maisque poderia imaginar l no incio. Fruto da amizade que se formou, imprescindvel paraesse resultado, levamos adiante muitos sonhos, os quais ainda nos fazem caminhar e ter avontade de seguir mais longe.

    APRENDERAM QUEPRIMEIRO DEVIA-SEAPRENDER

    Grupo interdisciplinar deextenso universitriaOim-ipor-ma Ore-reke comunidade indgenaGuarani do Jaragu

    um intercmbio de saberesconstrudo de forma respeitosa

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    O passado reconstrudo no refgio, mas uma fonte, um manancial de razes para lutar. Amemria deixa de ter um carter de restaurao e passa a ser memria geradora do futuro. bomlembrar com Merleau-Ponty que o tempo da lembrana no o passado mas o futuro do passado.(ECLA BOSI)

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    [COMEANDO] 5

    NDIO,EM SO PAULO?!Trabalho final de

    graduao: Registroe projeto grfico daexperincia

    No foi s uma vez que me deparei com essa espantada pergunta ao iniciar a explicaodo que se trata esse tal de grupo ou projeto interdisciplinar de extenso universitriaOIM-IPOR-MA ORE-REK.

    Acreditando na qualidade das discusses acontecidas, da riqueza do conhecimentoadquirido, da relao que o projeto tem com a Universidade, alm da importncia para a

    formao do estudante universitrio assim como foi para mim, proponho como trabalho finalde graduao um registro e um projeto grfico que busque organizar o material produzido,relate o processo de trabalho, apresente os projetos realizados, debata e reflita um pouco detoda essa experincia.

    a memria de um trabalho envolvente e apaixonante, no de uma s voz, mas querepresenta diversos estudantes que fazem ou j fizeram parte dessa processo.

    Afastado de qualquer pretenso de elaborar um texto com o nvel literrio que a histriamerece j que no sou escritor, propus e aceitei esse desafio justamente por muitas vezes mever envolvido com perguntas incrdulas como a do incio, por perceber como a maioria dos

    estudantes universitrios no vislumbra um outro caminho, complementar nesse ciclo de suaformao e ainda, acredito eu representando o inconsciente coletivo de meus companheiros,pela vontade de desvendar essa histria aos olhos de muitas outras pessoas.

    Nunca tive caderno de campo, ou seja, nunca foi minha nem dos demais participantesa inteno de constituir ao longo do tempo uma pesquisa etnogrfica. O relato a seguir gerado pela memria desses atores envolvidos, auxiliado por eventuais materiais deapresentao preparados para aulas nas faculdades, congressos, seminrios e algunsrelatrios, e pelas atas de reunies, e tem o desejo de ser pelo menos uma amostra de todaessa aprendizagem.

    memria de um trabalhoenvolvente e apaixonante

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    Se tiver que passar de, mais ou menos, 20 m de largura de um rio, a gente passa nadando, no preci-sa de fazer ponte para voc poder passar. Se for para um ndio ele no faz isso. Se para o juru ele vaiquebrando tudo, derrubando madeira, derrubando morro, pedra... isso a uma agresso.(TUP MIRIM)

    Ao lado, exemplo de contruoresidencial no Teko Pya. Area desse setor da aldeia,embora contenha muito verde,praticamente dominado poreucaliptos, rvore no nativaque prejudica o solo para plan-tio, em rea j extremamentedimunta (a reserva demarcadatotal conta com apenas 1,75 hapara cerca de 50 famlias).

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    [COMEANDO] 7

    A VIDA DOS GUARANINOS TEKO YTU EPYA E SUA RELAOCOM SO PAULOContexto das aldeias TekoYtu e Teko Pyau na cidadede So Paulo. Dificuldadee resistncia dos Guaranique ali vivem.

    Contextualizao

    Como forma de contextualizar o trabalho e dar sentido s aes do Oim-ipor-ma Ore-rek, dedico esse espao aos Teko Ytu e Pya1. A primeira idia era que este poderia serum espao onde os Guarani pudessem contar sua histria, a histria das aldeias e comovivem nelas. Um espao que seria deles, de suas vozes. Conversamos com Ver Mirim,

    Tup Mirim, Tup, Kara Tataendy e Xerami, pessoas que, de perto, acompanharam nossosaprendizados nas aldeias, que nos receberam e se dedicaram a nos ensinar, testemunhandonosso percurso. No entanto, quando eu e outros estudantes do grupo, em especial DanielaMorita Nobre, a Lela, propomos isso, eles nos sugeriram a elaborao de um texto com oque aprendemos tambm, considerando o quanto ns conhecemos a vida da comunidade.Essa confiana com as nossas palavras fez com que eles no sentissem a importncia, nessemomento, de trazer o olhar deles. Este texto, portanto, o resultado de conversas e reflexesdo grupo realizadas em momentos e formas diferentes.

    As aldeias - Ytu e Pya - esto localizadas na regio noroeste da cidade de So Paulo,

    prximas ao Pico do Jaragu. Segundo dados fornecidos pelo Centro de Trabalho Indigenista CTI, a terra indgena que compreende estas aldeias tem aproximadamente 1,75 ha. O TekoYtu foi demarcado em 1987, porm a Pya ainda est em processo de homologao sendoque sua demarcao estava prevista para 2004, o que no ocorreu, esperando-se que aindaacontea em 2005. O tamanho extremamente pequeno provoca grandes dificuldades paraa vida dos Guarani que l residem, como foi por eles colocado a ns tantas vezes. A Prof a.Maria Ins Ladeira2 ressalta a singularidade destas aldeias: ela apresenta uma complexidadesignificativa, no s pela sua organizao social, como tambm pela sua insero no contextourbano. A relao dessas aldeias com a cidade de So Paulo intensificada a cada ano. Ocrescimento acelerado da cidade resultou na ocupao dos espaos ao redor das aldeias,

    transformando significativamente o ambiente desta regio. Se antes eram relativamenteafastadas do meio urbano, hoje podemos consider-las inseridas nele. As transformaesda cidade de So Paulo foram acompanhadas pelos olhares e experincias dos Guarani queh muitos anos vivem nesta regio, transformaes estas que apresentaram tambm umgrande reflexo no seu modo de viver.

    1 provavelmente a menor reserva indgena domundo, com menos de dois hectares e umapopulao de cerca de 50 famlias, circundada poruma rea metropolitana de quase 20 milhes de

    habitantes.2 Profa. Dra. Maria Ins Ladeira, antroploga e

    integrante do CTI, trabalha com os Guarani hmuitos anos. H uma relao de publicaes com oseu trabalho em O que li, pesquisei e recomendo,pgina 126.

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    Cada visita realizada uma grande aula. Como se nos afas-tssemos momentaneamente de uma das maiores metr-poles do mundo e o tempo da cidade que no pra desselugar ao tempo da conversa pausada e respeitosa, o tempoda transmisso oral de aprendizado. Sentados sobre umapedra ao lado de alguma das cerca de trinta casas, sob umasombra verde, ou em um banquinho de madeira dentro dacasa de reza, ao lado da fogueira, tomando mate e envol-tos pela fumaa de seus cachimbos, podemos observaras crianas brincarem tranqilamente e simultaneamenteconversar sobre algum projeto em andamento, sobre maisalguma etapa de trabalho, mas principalmente sobre a vida,reflexes do modo de serjuru*e Guarani.

    Dificuldade e resistncia

    Aprendemos com a emocionada Dona Jandira, cacique doTeko Ytu e matriarca da famlia, que com seu falecido ma-rido Joaquim chegara a essa rea cerca de 50 anos atrsa dificuldade que seus filhos e netos, alguns casados comno indgenas, tm em falarem Guarani, e a fora ao afir-mar que independentemente da lngua so e sempre seroGuarani.

    Com Sebastio Kara Tataendy, lder espiritual que veiodo Paran para c h oito anos, nosso grande professor,

    aprendemos a importncia da f, de ter e carregar sempreconsigo Nhanderu*no corao e de se trabalhar muito. Im-portante parceiro e orientador em diversos projetos realiza-dos, relatados mais adiante, recentemente partiu de volta sua aldeia natal, no Paran. Em visita por ocasio do avaxi

    *juru: termo para designar no indgenas

    *Nhanderu: nosso pai primeiro, o criador

    *Avaxi Nheemogara: batismo do milho

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    Nesta pgina, fotografia de satli-te mostrando a Grande So Paulo(em roxo). Na pgina anterior, maparepresentando a mesma Grande SoPaulo, com principais vias de acesso.

    Em destaque (crculos mais claros)a localizao da aldeia do Jaragu(Teko Ytu e Pya), j praticamenteparte da grande mancha urbana.Sem escala

    nheemogara*, em janeiro de 2005, conversamos bastante:L onde a gente t morando, como eu falei, a gente viveno muito longe, uma parte, e na minha opinio, importantea pessoa ter boa sade. Pra minha famlia, pra mim, pramim o que mais vale. No s pra mim, pra voc tambm.Voc pode ter tudo na vida, no faltar nada, mas t ruim desade... no adianta nada. Importante ser humilde e voc terbom sade. Isso sim! Isso que eu falava. Pessoa vai pensarassim, saiu daqui, deixou a casa bonita, tudo, alimentao,todas coisas, mas mesmo assim, prefiriu assim... ter bomsade, sade. Pra minha famlia. L planta coisinha. Guara-ni, ns Guarani Deus fez assim, plantar. Tem parte, cuidar dafamlia. Espao pra crianada...Se ele achava que o jurudeveria cuidar melhor do mundo: Acho que sim, mas nodo mundo, de alguma parte n... como Guarani, cuidar mais

    da terra, porque acontece a muita judiao na mata, rio, nagua... ento vai ser bem castigado, t acontecendo em al-guns lugares, as pessoas no sabem porque t acontecendomas Graas a Deus pra ns no, onde vive ndio, Guarani,no acontece essas coisa... Mas tem que ter f... Agora porcausa de umas pessoas, destri a mata, a mata tambm temdono... Deus castiga, ento chove, cai casa, morre afogado,chove demais, gua pra todo lado, as pessoas no sabemporqu, Ele que fez, Deus no escolhe, o branco, ento...Isso que eu falo... A juruazada pensa mais em dinheiro, v

    a mata, v madeira, a terra, s pensa em dinheiro. A mataderruba, faz lenha, gua, ento... mata... por que que l naminha aldeia no tem quase mata assim fechada? 40 anos,50 anos tem, mas mata mesmo... Tem mas longe... tira-ram tudo os pinheiros, por que tiraram tudo? Mais de cem

    importante a pessoa ter boa sade. Praminha famlia, pramim, pra mim o

    que mais vale. Nos pra mim, pra voctambm

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    anos. Tiraram quando no era marcada, no era reserva. Jvou fazer 56 anos agora, desde criana, no tinha marca-o ainda, j estava desmatado. A marcao deve ter uns40 anos, no sei, era criana... To dificil pra marcar terra,tinha muito fazendeiro, lavradores... ns perdemos naquelaaldeia quatro pessoas, que os fazendeiros mataram, qua-tro... aconteceu muito em outras aldeias...

    J o Teko Pya foi formado recentemente, h aproximada-mente 6 anos3 quando outro grande lder espiritual Guarani,o xerami Jos Fernandes, veio morar no espao adjacenteao Teko Ytu, separado apenas por uma rua. Esta diviso primeira vista marcada pela configurao espacial, umavez que uma via separa o espao em dois. No entanto,uma anlise mais cuidadosa nos traz uma complexidadede elementos, principalmente relacionados histriadessas aldeias que se apresentam de forma diferentes, e organizao social dos Guarani. Nos coube desde o incio,respeitar essa forma de organizao.

    Com a chegada de Jos Fernandes, muitas famlias Guaranide outras aldeias vieram morar perto do Parque do Jaragu,trazendo consigo uma nova casa de reza, muita sabedoria emuitos projetos em vista.

    Alsio Gabriel Tup Mirim falou sobre o viver Guarani des-sa comunidade, nestas duas aldeias, e sobre as dificulda-des que enfrentam, sobre as dificuldades em viver em umaaldeia to pequena e inserida em um contexto urbano, semespao para plantarem, sem rio para pescarem ou rea para

    3 Existem estudos em andamento demonstrando sera rea um stio sagrado, ocupado h muito tempopelos Guarani.

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    [COMEANDO] 11

    caarem: s vezes eu fico pensando na minha vida prpria. A eu vejo que estou com osolhos vedados, com o brao amarrado. Porque ns temos o trabalho de artesanato, que produo de arco e flecha, de leque, de colar, essas coisas assim. Mas a gente vende muitopouco, no d para a gente sobreviver. Cada vez, cada ano que passa, menos que a gentevende. Ento o que a gente tem que fazer: ns temos uma cultura diferente. Ns temos umtrabalho de artesanato, que sempre a gente fez. Ento j que no tem aquela venda que vempara a comunidade, ento ns temos que partir para outra.

    Neste trabalho, aprendemos tambm que ao mesmo tempo em que eles vivenciam tantasdificuldades, tm uma grande capacidade de resistncia e criao. Em um final de tardena casa de reza, ouvindo as crianas cantarem em Guarani, que todo dia se repete, TupMirim nos disse: Ns estamos vivendo hoje porque ns acredita em Deus. Ns, acomunidade indgena, ela, ela tem proteo do nosso Deus. Eu acredito assim. por issoque ns estamos vivendo at hoje, por isso que ns estamos vivendo at hoje, desde odescobrimento do Brasil, at hoje ns temos nossa comunidade. Algumas comunidades jperdeu. Mas perdeu porque, porque espao no teve mais para a comunidade. A maioriateve, o no-indgena dominou tudo ento no teve mais espao para a comunidade indgena.Ento perdeu a cultura, costumes e a lngua. E a nossa cultura Guarani, ns acredita emDeus e por causa disso que nos vivemos at hoje. Mas muitas, muitas e muitas coisas agente no pratica mais, como caar de arco e flecha, natao, e outros tipos de costumesno temos mais como praticar, por causa de espao, por causa do... por causa que o brancotomou tudo o que era nosso. Ento hoje em dia a gente vive assim, nessa situao. Em umespao pequeno, em uma comunidade que no tem como fazer artesanato, no tem comofazer outros tipos de trabalhos para sobreviver.

    Prof

    a

    . Maria Ins Ladeira escreve em sua dissertao de mestrado sobre a resistncia dosGuarani: A partir da convivncia com os Guarani Mbya pudemos perceber uma valorizaocrescente dos preceitos religiosos. Entendemos que a religio Guarani significa para essesndios a prpria condio de sobrevivncia num mundo super povoado pelo brancos, umavez que ela contm os ensinamentos sobre convivncia, tolerncia e estratgia. Por outro

    s vezes eu fico pensando naminha vida prpria. A eu vejo queestou com os olhos vedados, como brao amarrado

    a religio Guarani significa paraesses ndios a prpria condio desobrevivncia num mundo superpovoado pelo brancos

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    Na pgina ao lado, a partir do Pico doJaragu, em primeiro plano (a manchaescura) se v a rea do Parque Es-tadual do Jaragu. Em laranja, indi-cada pela seta vermelha, a aldeia doJaragu, vizinha da Rodovia dos Ban-

    deirantes. Ao fundo, a grande manchaurbana (cinza), So Paulo.

    lado, essa forma de sobrevivncia encontrada pelos Guarani se apia no fato de que areligio se constitui no fator decisivo de diferenciao tnica e se refora, cada vez mais, namedida em que se diluem, ao nvel do cotidiano, as diferenas de hbitos, especialmente osque se referem dieta alimentar4.

    Futuro

    Tup Mirim quando falava sobre as dificuldades, apontou tambm alguns caminhos a seguir:Ento a idia nossa que ns teve, de fazer uma associao indgena, e tambm de fazer umtipo de trabalho comunitrio para que a gente possa vender na sociedade no-indgena, aquem interessa, para a gente conseguir, para a gente trazer um pouco de renda para a comu-nidade indgena. Ento por isso que a gente tem que fazer um trabalho, um projeto, comoo projeto Kuringu Maity5, para ver se a gente possa fazer alguma coisa. Ns vamos fazeruma horta, como fala... uma horta tradicional, uma plantao assim de rvores, de rvoresfrutferas e tambm de medicamentos. E em uma outra parte vai ser de hortalias.

    Assim, acompanhamos as diferentes formas de organizao destas comunidades para me-lhoria da qualidade de vida segundo seus valores e concepes. A fora com a qual eles sededicam a essa busca, que podemos vivenciar quando Ver Mirim passa uma tarde inteiranos mostrando a importncia de cada planta ainda to pequena e de aparncia frgil, na hortaespalhada pela aldeia, pelas palavras cheias de sabedoria do Pedro ou ainda acompanhandoEvandro em alguma viagem a outra aldeia Guarani, fonte de grande aprendizado para ns.

    4 (LADEIRA, Maria Ins, dissertao de Mestrado,

    1992. Pgina 12)5 Um dos projetos idealizados pela comunidade e que

    tivemos a felicidade de acompanhar desde o incio,em 2002, sendo parceiros em sua elaborao,obteno de recursos junto ao Poder Pblico eexecuo, particularmente explicado mais adiante.

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    Para mim, desde o 2o, 3oano de escola foi um grande, enorme constraste ver como era produzidaa arquitetura: o nosso desenho, teoricamente quase sempre carregado com as melhores intenes,intenes sociais abertas e muito bonitas, chegando do outro lado, era realizado nas piores condiesque se possa imaginar. A explorao do trabalho, a misria dos trabalhadores era gigantesca, escan-dolasa como at hoje, alis. Isso quebrava um pouco o nosso sonho de arquiteto, a nossa esperanade arquiteto, o arquiteto transformando a sociedade, a viso social do arquiteto que, naquele perodoagitado dos anos 60, eram constantemente debatidos aqui na escola, ou melhor, na rua Maranho.(SRGIO FERRO)

    Ao lado, capa do portiflio doLabHab gfau, ncleo de exten-so universitria dos alunos daFAU USP, feito em 2000, que

    mostrava alguns projetos reali-zados pelos estudantes, dentreos quais o projeto dos ndiosque tornaria-se mais tarde oOim-ipor-ma Ore-rek

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    [EXTENSO] 15

    O QUE EXTENSOUNIVERSITRIA?1999, estudantes da FAUUSPiniciam relacionamentocom os Guarani.

    2001, um novo grupo surge,interdisciplinar: oOim-ipor-ma Ore-rek

    LabHab gfau

    Este relacionamento com os Guarani e a execuo desse projeto teve incio em maro de1999, como parte das atividades do LabHab gfau. O LabHab gfau Laboratrio de Habitaodos estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP reiniciado em 1997e atuando dessa forma por alguns anos, partiu de uma vontade dos alunos de completar

    sua formao acadmica atravs da extenso universitria. Acreditava-se que o ensino dearquitetura no podia estar afastado do processo de construo do ideal desenhado e nopodia ignorar a existncia do canteiro de obras nem as relaes sociais que o compem1.

    Reconhecendo a funo social da arquitetura, o LabHab atuava de forma mediada com asociedade civil organizada de modo que estudantes e professores podiam atravs da extensouniversitria aplicar e enriquecer o conhecimento da atual produo da universidade pblica.A importncia dessa atuao reforada pelo conhecimento da atual situao de nossascidades, onde a carncia de arquitetura e a precariedade habitacional decorrem da existnciade um mercado formal restrito.

    Portanto, era propondo uma discusso de questes no tratadas em sala de aula que noscolocava diante de problemas concretos advindos de situaes reais. Era a chance deexperimentar, acertar e errar durante a formao; construa-se o conhecimento apoiadono ensino, pesquisa e extenso, onde cada pensar leva a um fazer e cada fazer a um novopensar.

    O caminho seguido foi sempre o mais sonhador possvel, e se a falta de experincia ouexcesso de teimosia dos alunos principalmente enfrentando problemas organizacionaisou mesmo burocrticos, por um lado pode ter sido um empecilho para a continuidade ouavano de alguns projetos, sempre houve um equilbrio e isonomia entre os participantes,

    j que no havia papis atribudos de coordenao, chefia ou algo parecido, mesmo quandoda participao de professores orientadores, que ocorria informalmente, e nos princpiosde projeto que era justamente ser capaz de contribuir para a formao e dar viso prtica amuitas teorias sempre de forma crtica. Era um desejo que a discusso sobre a extenso,dessa forma como atuvamos, fizesse parte sim da Universidade, do ensino formal, no s

    1 Como podemos relembrar ao visualizar o portifliofeito da poca, ao ler livro de atas e graas srecordaes de participantes do perodo, tais comoAlladim, Andrei, Camila, Carol, Chico, Dbora,Denise, Fernando, Isadora, Fernanda, Lucimeire,Luis, Pablo, Tarsila, William entre outros.

    a chance de experimentar, acer-tar e errar durante a formao

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    do curso de Arquitetura, como dos demais cursos da USP, seja contandocrditos para alunos, pontos para os professores ou verba que viabilizas-se a realizao dos projetos entre outros. Apesar da maior parte do tempoesses alunos no receberem salrios nem bolsas pelos projetos realizadospelo LabHab, jamais poderia ser considerado como trabalho voluntrio,termo muito em moda nesses ltimo anos, j que essa atuao gratuita(seja em termos financeiros seja em crditos universitrios) no era umaopo dos estudantes. Lutava-se justamente para que ocorresse de for-ma inversa. Nem to pouco deveria ser chamado de assistencialista, poiso objetivo era e a troca de conhecimentos, uma via de mo dupla entreo que ocorre do lado de c do muro e com o do lado de l2.

    Inicialmente as reunies entre os cerca de trinta estudante participan-tes do LabHab e algumas vezes convidados que quase sempre eramprofessores3 ocorriam s 3a e 5a feiras, na hora do almoo, quando sediscutiam os projetos em andamento. Aconteciam nessa poca projetos

    como o da Creche Oeste, o Parabolide Hiperblico, So Remo, entreoutros. Durante o ano de 1999, conforme foi se intensificando o projetodos ndios, como este era conhecido, criou-se um grupo de trabalhoextra, que se reunia mais uma vez semanalmente e que tambm realiza-va visitas peridicas. Com o final do ano letivo e a execuo do projetoexecutivo da escola, que tratarei mais adiante, houve uma sensvel di-minuio do nmero de integrantes do grupo responsvel pelo projetodos ndios. Mesmo o LabHab gfau, a partir de 2000, com seus diversosgrupos de trabalho e atuando de forma um pouco mais fragmentada,passou a discutir a relao entre os diversos projetos, seu papel real paraos estudantes e mesmo a atuao do laboratrio em si. Discutia-se entreoutros temas a possibilidade, nunca efetivada, de sua institucionalizaoperante a Universidade, j que se constitua informalmente, ao contrriodos chamados escritrios modelos de outras faculdades de arquitetura

    2 H alguns anos a Cidade Universitria de SoPaulo, principal campus da USP, onde se encontraa FAU e a maioria das unidades desta universidadeencontra-se murada, com acesso parcial e restrito,sendo inclusive fechada para extra-comunitriosaos finais de semana. Poderamos fazer umaanalogia do que s vezes pode ocorrer entre o

    conhecimento aqui produzido (na academia) e asociedade na qual se insere (ou deveria).

    3 Alguns nomes estiveram sempre presentes nasdiscusses do LabHab gfau, sendo de fundamentalimportncia e referncia nomes como o dos profes-sores Reginaldo Ronconi e Jorge Oseki.

    jamais poderia ser considerado comotrabalho voluntrio, nem assistencialista

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    [EXTENSO] 17

    Brasil afora ou mesmo do Escritrio Piloto da Escola Politcnica, com o qual os integrantesdo laboratrio possuam relacionamento, principalmente por este contar em seus quadroscom muitos estudantes de arquitetura.

    Oim-ipor-ma Ore-rek

    Com a diminuio do nmero de integrantes a partir de 2000, a fase final da concluso

    da construo da escola e os novos rumos do laboratrio, praticamente restavam eu, oChico Barros e o William Itokazu como responsveis por esse trabalho. Ns trs estva-mos satisfeitos com a participao no projeto e com a contribuio para nossa formao esabamos que logo buscaramos outros caminhos, tanto acadmicos quanto profissionais.Alm disso a vivncia na aldeia, o projeto da Escola e sua inaugurao que se aproximavaalm da participao em outros projetos mais uma ampla discusso acontecida at entomostrava que estudantes de outras reas eram necessrios. Pensamos ento em divulgar oque havia sido feito. A idia seria a partir do incio do ano letivo de 2001 apresentar o projetoa esses futuros provveis integrantes, deix-los a par dos passos dados e apresent-los comunidade, para que a confiana depositada em ns, devido aos projetos anteriores,fosse transmitida a esse novo grupo, ela prpria responsvel em batiz-lo de Oim-ipor-maOre-rek.

    Espalhamos cartazes pela Cidade Universitria, nas Faculdades e paradas de nibus, epedimos que alm de enviarem currculo simples, respondessem a duas questes o que extenso universitria? e por que trabalhar com populao indgena?. Houve mais retornoque espervamos. Durante algumas semanas recebemos via emaile em mos atravs dogfau e DCE - Diretrio Central dos Estudantes, os textos de dezenas de estudantes, de gra-duao e ps da Universidade de So Paulo que estavam interessados em receber maisinformaes. A partir do ms de abril de 2001 iniciamos as reunies de capacitao do

    novo grupo. A primeira reunio foi realizada no Salo Caramelo da FAU, onde apresentamosalgumas projees contendo fotos e desenhos e contamos sinteticamente um pouco dahistria, de 1999 at ento. A partir da, semanalmente nos reunimos. Nesse caminho,estudantes tomaram conhecimento por outros do processo e entraram na discusso, e igual-mente alguns nos deixaram.

    Cartaz de divulgao distribudo pelaCidade Universitria de So Pauloem fevereiro de 2001 para o incio doProjeto Oim-ipor Ore-rek de formainterdisciplinar, que at aquele mo-mento contava somente com alunosda FAU USP.

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    comunidade do Jaragu: Escola de Educao Indgena Guarani, Casa Guarani, banheiros fei-tos pela FUNASA6. Porm, conforme prpria avaliao do grupo ao trmino da vigncia dasbolsas (mas no do trabalho), (...) [as] atividades que se desenrolaram desde o momentoem que escrevemos o projeto at o dia de hoje se distanciaram um pouco dos objetivosapresentados inicialmente, mas por outro lado de fato condizem com o trabalho de ExtensoUniversitria desenvolvido com a comunidade Guarani Teko Ytu. Aps aproximadamenteum ano de trabalho desde que foi escrito o primeiro projeto enviado ao Fundo consolidamosuma viso de Extenso Universitria que tem nos guiado para atuar com ampla aceitao eparticipao da comunidade7salientando sempre dois carteres importantes do trabalho,ser participativo e aproveitar o momento que a comunidade se aproxima e se interessa porcerto tema, o que levou o grupo a seguir trs linha principais poca: educao; construotradicional da nova opy*e; da produo de um vdeo documentrio, que podero ser melhorentendidas no decorrer do texto.

    O Oim-ipor-ma tambm fez parte do NAC

    8

    a partir de 2001, contando com alguns inte-gran-tes em comum. A partir de 2002, o labhab gfau9, j bem mais fragmentado, mas contandocom a nova fora de estudantes com muita vontade de trabalhar ingressantes na Faculdadenos anos subseqentes reativao do laboratrio, pretendeu revolucionar-se. Essa diviso,que tinha como frutos diversos subgrupos, tais como Anita Garibaldi, Cohab Raposo Tava-res, Presidente Wilson e o Oim-ipor-ma Ore-rek, quis de novo uma unidade, ao menospara discusso. Organizou-se uma publicao, criou-se um website10, fez-se uma exposio,foram promovidas visitas dos alunos interessados aos respectivos locais dos projetos ealguns debates na FAU, que abordavam a temtica de cada ncleo. Alunos da FAU, no sdo LabHab, visitaram a aldeia e tiveram um pequeno contato com a comunidade. Depois

    na FAU foi realizado um debate11 do qual fui mediador, com a presena de membros doOim-ipor-ma, representado pelo Amilton Pelegrino, da aldeia (a professora Poty Poran eSebastio Kara Tataendy) e da antroploga Profa. Dra. Maria Ins Ladeira. Ainda laboratriode extenso, havia contribuio recproca entre o Laboratrio e o Oim-ipor-ma Ore-rek.

    *opy: Casa de Reza

    6 Consta no Projeto enviado pelo grupo ao FCEx emsetembro de 2001 e reapresentado pouco depois.

    7 Est presente no Relatrio Final entegue a FCEx,entregue no incio de 2003.

    8 O Ncleo de Ao pela Cidadania (NAC) umncleo que rene diversos projetos de extensouniversitria realizados por alunos do Instituto dePsicologia da USP. Essa articulao feita atravsda troca de experincias e aprendizados entreestudantes de psicologia que apresentam atuaesdiversificadas. Essa troca tem contribudo aointercmbio de informaes, ao questionamento

    dos avanos e dificuldades presentes em cadaprojeto, bem como reflexo do compromissosocial da psicologia.

    9 Alguns participantes desse perodo: Alexandre, AnaCarolina, Ana Clara, Camila Saraiva, Carol Ja, CarolZul, Daniel, Daniel Nobre, Daniel Sene, Dbora,Diogo, Fernando Figueiredo, Gabriela, Gil, Isadora,Joca, Jlio, Leonardo, Leslie Loreto, Letcia, Llian,Luiz, Marcela, Marcella, Maria, Mariana, Michel,Myriam Francisco, Paloma, Paulinha, Rafael,Renata, Renata Carla, Renata Gonalves, Rodrigo,Tarsila, Tatiana Nobre, Vanessa, Wagner.

    10 http://br.geocities.com/labhabgfau111 Debate est registado em vdeo e tambm com

    fotografias. O vdeo, disponvel em VHS, fazparte do acervo do Oim-ipor-ma assim como apublicao do LabHab, desse perodo. Ambos soacessveis.

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    O LabHab tinha uma pequena verba por ser um ncleo do gfau, grmio dos alunos da Fac-uldade, que por sua vez recebe dinheiro proveniente principalmente do aluguel do espaodenominado museu, um pavimento no prdio da FAU na Cidade Universitria ao servio defotocpias, lanchonete, papelaria e banca de livros. Quando precisvamos recebamos umapequena verba que era utilizada principalmente para o combustvel, e posteriormente quandoos alunos do Oim-ipor-ma receberam bolsas do FCEx, estes contriburam para compra de

    impressora e scanner, localizados no espao do gfau disponvel a outros alunos.Com o projeto aprovado pelo FCEx em 2002, o Oim-ipor-ma Ore-rek ganhou de certaforma maior liberdade para sonhar e tambm uma autonomia j que contava pela primeiravez com pequena verba prpria. Depois de muita dicusso, foi criado um fundo comum, apartir das bolsas individuais de cada estudante bolsista, gerenciado por todo o grupo.Fundoque pretendia dar fora ao grupo, mas no esquecer o carter pblico do trabalho. Haviamreunies semanais, as chamadas gerais, mais as extras devido ao trabalho que surgia frutodos projetos e discusses de educao, de fotografia, de vdeo, alm das conversas e doscontatos que fizemos com o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), com o Instituto Scio

    Ambiental (ISA), com pessoas ligadas ao Ministrio da Educao (MEC) etc. Conversamostambm com professores de outras unidades da USP, como o Marcos Ferreira12 e fizemosatendimentos com a psicloga Adriana Marcondes13 e com o Profo. Carlos Zibel, orientadordo grupo.

    Em 2003 novo projeto14 foi enviado para o FCEx para continuidade do trabalho, tendo sidovigente no segundo semestre daquele ano (agosto a dezembro de 2003). Seguimos essecaminho relativamente burocrtico por acreditarmos na Universidade Pblica, ou melhor, emseu carter essencialmente pblico.

    A discusso sobre extenso universitria nunca cessou, mas a partir de 2003 o laboratrio

    de habitao dos alunos da FAU passou a se denominar de militncia, com considervelmudana em suas aes. A integrao entre LabHab gfau e Oim-ipor-ma passou a ser maispelo fato de existirem alguns estudantes comum entre os dois grupos do que pela forma quecada um se constituia. A partir de 2004, mesmo um acompanhando a discusso do outro edos laos de amizade entre os grupos, essa relao formal praticamente no mais existia.

    12 Marcos Ferreira Santos trouxe questionamentosimportantes sobre diversas formas de educao.O professor falou sobre os limites da educaoformal no contexto indgena. Dessa forma estaserviria mais para a instrumentalizao daorganizao poltica dessas comunidades do quecomo um sistema de educao diferenciado em queestes grupos poderiam veicular sua cultura. Issodemonstraria os limites da penetrao da educaoformal na cultura Guarani. Em 2003, MarcosFerreira Santos foi professor visitante e fez seu Ps-Doutorado na Universidade de Deusto na Espanha.O tema de sua pesquisa foi sobre a educao dospovos amerndios e seu universo simblico.

    13 Adriana Marcondes Machado, Psicloga doServio de Psicologia Escolar do Instituto dePsicologia USP, acompanhou o desenvolver donosso trabalho, atravs de encontros peridicos.Adriana apresentou-nos uma perspectivaimportante do nosso trabalho por partir de umolhar diferente do nosso (envolvidos no cotidianodas atividades). Ela trouxe questionamentosimportantes sobre o sentido do nosso trabalho, osobjetivos que estabelecemos e os caminhos quepercorremos. Contribuiu reflexo da relao do

    grupo com a aldeia, bem como dos conceitos queatravessam nossas perguntas e relatos, muitosdeles, encobertos at ento.

    14 Responsveis: Amilton Pelegrino de Mattos,Daniel Ramos La Laina Sene, Daniela Morita Nobre,Luiz Gustavo Gonalves, Eloisa da Riva MouraColpas, Maurcio Pimentel Homem de Bittencourt.Colaboradores: Francisco Toledo Barros, WilliamEiji Itokazu, Fernando Stankuns de Paula Figueiredo,Adriana Queiroz Testa, Alda Regina Bueno Minioli,Adriana Marcondes, Profa. Ana Vera Lopes Macedo,Prof. Dr. Marcos Ferreira dos Santos, Profa. Dr.Maria Ins Ladeira.Orientador: Profo. Dr. Carlos Zibel Costa.

    Parcerias: Centro MARI de Educao Indgena daUSP; Centro de Trabalho Indigenista; Ncleo deHistria Indgena e Indigenista da USP; Pastoral In-digenista da Arquidiocese de So Paulo; Secretariade Assistncia Social do Municpio de So Paulo;VDEO FAU.

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    Divulgao

    Houve uma preocupao por parte do Oim-ipor-ma, talvez sem a intensidade que mereces-se, da divulgao desse projeto e a participao na discusso com o objetivo de enriquec-lacom outros projetos de extenso dentro da universidade. Embora, com tantas atividadesacontecendo, essa divulgao tenha acontecido praticamente quando a necessidade exigia,

    caso de apresentao em congressos por exemplo. Podemos citar como divulgao nossaparticipao em alguns eventos e realizao de alguns projetos listados a seguir.

    Semexa I e II

    Como parte do LabHab gfau, que foram as semanas de extenso universitria.Segundo Fran-cisco Barros, o Chico, a primeira Semexa, organizada pelo LabHab gfau no primeiro semes-tre de 2000, de 3 a 7 de abril, tinha como idia inicial ser um momento da FAU, convidandogrupos de fora da unidade para abrir uma discusso sobre a extenso universitria. Acaboutendo participao alm do esperado, com mais de cem participantes da FAU, incluindo,alm de professores e estudantes de outras unidades da USP, tomando propores maiores

    e nos anos subseqentes organizado por outros grupos de extenso da Universidade.Semexa III

    Em 2004, alguns grupos de estudantes que praticam a extenso dentro da USP atualmente,resolveram se conhecer e fazerem-se mais conhecidos pela comunidade universitria. Gru-pos como Alfa, Escritrio Piloto, ITCP, NAC, Saju e o Oim-ipor-ma Ore-rek realizaram al-gumas reunies durante o ano, quando cada um teve a oportunidade de mostrar seu projetoe conversar sobre aspectos desenvolvidos nos respectivos trabalhos.

    Assim, foi programado para o ms de setembro (dias 21 a 24) daquele ano, uma semanadedicada extenso, a terceira realizada at hoje pelos alunos, com oficinas ( Alteridade,

    Sade, Trabalho, Habitaoe Educao) realizadas por cada projeto e mesas de debates (AUniversidade e o espao do pblicocom Reginaldo Ronconi, professor FAU USP e Cido, daAssociao Chico Mendes; O Financiamento da Extenso Universitria: Histria e Perspecti-vascom a professora Maria Lucia Refinetti, da FAU, Scott Du Pree, Conectas Direitos Huma-

    Acima, fotografia feita no Teko Pya,em dia de visita de alunos de outrosprojetos do LabHab e estudantes daFAU USP, 2002.

    Abaixo, exemplo de um dos eventos(Semexa) onde o Oim-ipor-ma Ore-rek esteve presente divulgando ediscutindo seu trabalho.

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    nos e do arquiteto Guilherme Vieira, da ITCP; USP Leste: extenso e formao universitriacom Snia Castellar e Silvia Leser, do IP USP e; O lugar institucional da Extensocom FlviaSchilling, da FE e a professora Maria Ceclia Frana Loureno, da FAU USP).

    Ao trmino do evento foi criado um frum permanente de discusso da extenso. O primeiropasso foi a realizao de um foldere alguns textos que foram entregues no Seminrio de

    Extenso oficial da USP, ocorrido no Anfiteatro Camargo Guarnieri dias 20 e 21 de outubrode 2004 e a transcrio das falas ocorridas nessa III semexa. Atualmente, representantesdesses grupos renem-se mensalmente e pretende-se um dia publicar na ntegra o contedoapresentado e discutido naquela semana.

    Semana dos Calouros da USP 2002

    Evento ocorrido no incio de 2002 onde atividades de recepo aos calouros, como festase brincadeiras promovidas pelos Centros Acadmcios e o Diretrio Central dos Estudantestiveram em paralelo debates e discusses sobre a universidade. Participamos no dia da ex-tenso universitria. Infelizmente, como no raro, a maioria dos estudantes no debate era

    participante de outros projetos de extenso e poucos alunos novos estiveram presentes.I Congresso Brasileiro de Psicologia

    O Projeto Oim-ipora-ma Ore-rek foi apresentado, na forma de painel, no I Congresso Bra-sileiro de Psicologia: Cincia e Profisso, realizado no perodo do dia 1 a 5 de setembro, emSo Paulo, na Cidade Universitria.

    O congresso foi uma iniciativa do Frum deEntidades Nacionais da Psicologia Brasileiracomo objetivo de discutir as principais questes relacionadas psicologia, como cincia e comoprofisso.

    Considerando o papel da extenso universitria na produo de conhecimentos, essa apre-sentao teve como objetivo divulgar os aprendizados que obtivemos durante esse perodo.O ponto central desta apresentao foi relao entre a comunidade Guarani Teko Ytu e a ci-dade de So Paulo. Procuramos contribuir para a desconstruo de preconceitos e estere-tipos sociais relacionados questo indgena.

    Mesa de debate composta porSebastio, lder espiritual Guaranida aldeia do Jaragu, Maria InsLadeira, antroploga, eu - Fernando,no papel de mediador, Amilton,

    representando o Oim-ipor-ma Ore-rek e mais direita Poty Poran,professora da Escola Djekup AmbaArandu, representante de educaoda comunidade e importanteliderana Guarani. Ocorrido na FAUUSP em outubro de 2002.

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    A participao no congresso, alm de divulgar questes trazidas neste trabalho, possibilitoua troca de informaes entre os participantes deste congresso vindo de diversas regies doBrasil e, portanto, com experincias diversificadas. Alm disso, integrantes do grupo pude-ram participar de mesas, simpsios e eventos relacionados psicologia, questo indgena edireitos humanos, o que contribuiu a nossas discusses e elaboraes tericas.

    Web sitee lista de discusso eletrnicaUm dos meios de divulgao do conhecimento que surgiu nos ltimos anos e que tambmteve o maior crescimento em nossa sociedade aquela chamada de virtual. A hoje conhecidainternet, que utiliza microcomputadores ligados em uma rede mundial, a world wide web,ainda est longe de levar o acesso de informaes a tanta gente quanto se poderia, mas decerta forma democratizou esse conhecimento, pois o usurio conectado a um computadorna biblioteca de uma universidade europia, em uma residncia na periferia de So Paulo,ou numa escola pblica no interior do Brasil pode acessar o mesmo contedo. Os nmerosda internet no mundo impressionam e no Brasil no diferente, so milhes de usurios.Dentro da universidade ela bastante presente, praticamente foi da que ela surgiu, e por

    isso desde o incio o grupo Oim-ipor-ma Ore-rek se preocupou em ter uma pgina queajudasse a cumprir um de seus objetivos, que o de divulgao de conhecimento.

    Mas certamente que esse conhecimento no deve ficar restrito somente Universidade, epor isso mais uma vez a pgina na internet15 vem facilitar essa tarefa, que o de intercmbiode saberes. Estudiosos e pesquisadores ou simplesmente curiosos ligados ao tema podemacessar a pgina de qualquer computador ligado rede, no Brasil e no mundo, acessar seucontedo e manter contato com o grupo atravs de mensagens eletrnicas. No incomumrecebermos emailde pesquisadores, interessados ou estudiosos que desejam saber maissobre o trabalho com os Guarani.

    Primeiramente ele funcionou como auxiliador e organizador do trabalho, com dadosimportantes e calendrio de atividades, e aos poucos seu carter de divulgao foi aumen-tando, e assim esperamos que continue, com a divulgao de textos dos estudantes doprojeto e bibliografia de referncia. O siteserve ainda de auxlio para aqueles estudantes que

    O Oim-ipor-matambm estevepresente emexposies ar-tsticas, como aExpoFAU 2001,onde aprensen-

    tou algumasfotos.

    15 http://br.geocities.com/aldeiajaragua

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    OPrimeiro projeto dearquitetura: casa do lderespiritual Jos Fernandes

    Primeiros passosA relao da academia com a aldeia do Jaragu, onde reside a comunidade Guarani parceiradeste projeto, j existia h alguns anos. Insere-se no contexto de uma linha de pesquisa ecooperao entre a Universidade de So Paulo e comunidades indgenas Guarani, iniciadadesde os estudos do arquiteto e professor da FAU USP Dr. Carlos Roberto Zibel Costa em1985 com levantamentos em aldeias Guarani da cidade de So Paulo para elaborao de sua

    tese de doutorado Habitao Guarani - tradio construtiva e mitologia, defendida em 1989na FAU USP.

    Em 1990 inicia-se um primeiro trabalho de extenso sediado na FAU USP, por solicitao daAldeia do Jaragu s antroplogas Kilza Setti e Maria Ins Ladeira, coordenado pelo ProfessorZibel1. O projeto intitulou-se Projeto de Arquitetura e Seleo de Tecnologia Adequada uma Construo na Aldeia Guarani do Jaragu, em So Paulo2 e props-se definir para ocontexto prprio do grupo guarani da Aldeia do Jaragu, um projeto arquitetnico completoque responda a um programa projetual especfico e chegar determinao de uma tecnologiaconstrutiva apropriada para a construo de um edifcio. Essa pesquisa resultou, ao seu finalem 1992, na publicao Projeto de Arquitetura e Seleo de Tecnologia Adequada editadapela FAU USP, no Vdeo Jandira3 contendo o histrico da Aldeia, editado pelo VIDEOFAUe na Exposio Multimdia Habitao Guarani no Salo caramelo da FAU USP.No ano de 1996, o ento estudante de graduao da FAU USP, Frederico Ming, o Fred, convidado a participar da elaborao de um projeto para desenvolvimento de Centro Culturaldessa comunidade indgena, interveno externa solicitada pela prpria comunidade.

    Surge ento uma primeira inteno de projeto arquitetnico, que servisse tanto pararequalificar o espao da aldeia quanto para abrigar as novas atividades culturais que aaldeia se propunha a realizar. Um tratamento do saneamento bsico, um planejamento paraconstruo de residncias que previsse um centro de visitao, uma escola bilnge e ocercamento da aldeia. Esse projeto inclua ainda um estudo paisagstico, com tratamento dagua e a recomposio de parte da vegetao.

    Tal planejamento ficou dividido em trs fases: a primeira trataria de obter recursos junto Associao Comercial de Pirituba para a reconstruo da Casa de Reza tradicional quehavia sido erguida pelos prprios membros da comunidade, em 1996, sob orientao deSebastio Kara, recentemente chegado na aldeia.

    1 Esse trabalho sob a coordenao do Profo. Dr.Carlos Zibel contou com dois arquitetos recmformados pela FAU, Wilson Marchi e Eli Hayasaki,os pesquisadores em Iniciao Cientfica Duk JunLee, Silvio de Almeida e Marcos Hoshino e a asses-soria cientfica da Profa. Dra. Marlene Picarelli e doProf. Robinson Salata. Embora toda a comunidadetenha participado efetivamente, ela designou JoelKara Mirim Augusto Martins como seu informanteoficial para fins de contatos e remunerao da verbade pesquisa alocada para tal funo. Contou como Auxlio FAPESP 91/ 3052 - 0 e trs bolsas de IC- FAPESP

    2 O estudo analisa os perfis poltico, econmico ecultural da aldeia, na poca (final da dcada de 80,incio da dcada de 90). L esto registradas sriasdificuldades de comando, desunio do grupo einfluncias de outras religies, como do candombl.Suas concluses foram de que o grupo no agiacom uma identidade definida e suas relaes como restante da comunidade guarani eram precrias.O grupo estava ameaado de diviso. Faltava opaj, fonte de equilbrio natural entre os guaranis.A Associao Indgena Guarany da Aldeia do Picodo Jaragu, integrada pelos representantes datribo, decidiu dar prioridade s seguintes melho-rias: Edificaes novas (casa de reza, banheiro,museu, escola), outros (horta, caixa dgua, cercas,lixeiras). Os antroplogos avaliaram os riscos dedesestruturao do grupo e concluram que a si-tuao se constitua em caso raro em comunidadeGuarany-Mby.

    3 Disponvel na bib lioteca da FAUUSP.

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    Seqncia de construo (no termi-

    nada) da casa do lder espiritual JosFernandes, com participao dosalunos do LabHab gFAU, em 1999.

    A etapa seguinte seria a viabilizao do Centro de Visitao, junto com a Escola bilnge(portugus/Guarani) e um banheiro coletivo, deixando mais para frente numa ltima fasea captao de recursos e gente para a rea de habitao, tratamento do ambiente e planosocial.

    Nesse mesmo ano, 1996, o projeto de arquitetura teve incio: Helena, assessora de imprensado hospital de Pirituba prontificou-se a facilitar os contatos com grupos ou instituies queestariam dispostas a bancar as propostas. O primeiro interessado a financiar a obra foi aAssociao Comercial de Pirituba, incumbindo-se da terraplenagem, da doao de materiaise eventualmente at mo-de-obra. No entanto, a Associao Comercial apenas proporcionou

    o terrapleno de algumas reas, ajustando o terreno do ptio e a rea destinada ao banheirocomunitrio e doando o madeiramento destinado construo da opy, a Casa de Reza, queos prprios Guarani ergueram.

    Casa de Jos Fernandes

    No final de 1998 Fred4

    procurou o Laboratrio de Habitao dos alunos da FAU USP que aospoucos passou a ter um maior contato com a comunidade. No incio de 1999 o empresrioFrancisco, dono da empresa de equipamentos SAHARA forneceu aldeia mquinas de suafabricao destinadas a prensar tijolos de solo-cimento. Esse fabricante pretendia aproveitaros recursos e a imagem da aldeia para um efeito-demonstrao dessas mquinas. Os tijolos

    4 Frederico Mingfez um trabalhofinal de graduao TFG, deno-minado Dossi

    Jaragu, em 2000,onde relata partedessa experincia.Disponvel nabiblioteca da FAUUSP.

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    que seriam produzidos por essas mquinas seriam depois utilizados na construo da casade outro lder espiritual que acabara de chegar, Jos Fernandes.

    O empresrio ainda sugeria que poderia-se obter uma renda razovel com essas mquinas,mas a prtica mostrou que o esquema no funcionava, em parte por deficincia das prpriasmquinas e, em outra, pela falta de conhecimento especifico na elaborao da mistura e nocontrole da cura. Alm disso, os grupos de trabalho no funcionavam como previsto, pois

    nem sempre os Guarani se dispunham a trabalhar durante o perodo combinado. Era visvela falta de adaptao daquela mo-de-obra aos padres industriais que previam jornadasintensas de trabalho e o mximo rendimento tanto de equipamento quanto da mo de obra.A produo dos blocos no atingiu sequer a metade do previsto e o ritmo da construoem regime de mutiro foi insatisfatrio. Em geral, eram mais as crianas que trabalhavame, ainda assim, levando tudo aquilo mais como uma brincadeira do que um servio a srio.Ainda assim, os estudantes5 do LabHab gfau, inclusive eu, dedicaram-se na orientao doassentamento dos tijolos.

    O empresrio entendeu que os Guarani estavam desperdiando a chance dada e, alm disso,comprometiam seu objetivo, que era demonstrar rapidez no avano de obra que, segundo

    ele, poderia ser feita em duas semanas e estava semi-paralisada. O prprio terreno ondeestava sendo erguida a casa passou a ser objeto de disputa com um grileiro 6 que ameaouos moradores da comunidade. Foi o suficiente para afastar de uma vez o empresrio. Eleabandonou as mquinas no local e no mais apareceu. A casa de Jos Fernandes ficouparada altura das janelas, e os tijolos ficaram amontoados no ptio ou chegaram a servendidos por alguns membros da comunidade.

    Foi um incio duro e equivocado para mim e aqueles demais estudantes recm ingressadosna faculdade, pertencentes ao LabHab gfau. Simplesmente havia total falta de conhecimentoda cultura e do modo de viver Guarani, alm de termos aceitado um projeto prontoproveniente do empresrio, totalmente externo s vontades daquela comunidade, que

    sabiamente pde recus-lo. Professores, como o Reginaldo, sugeriram desenhar os espaoscom a participao da comunidade, e alguns alunos, apesar da decepo e dificuldade inicialcontinuaram na aldeia durante os meses seguintes, tempo enfim necessrio para o incio deuma relao de confiana e conseqentemente conhecimento.

    5 Mais precisamente Carol, Camila, Chico, Endyra,Fernando, Luis, Rodrigo (Alladim), Tarsila, Thomaz,e William.

    6 Conhecido na regio como Pereira Leite. poca,mesmo comprovada como sendo da Unio, elecontratou homens para erguer um muro cercando olote, como em outros terrenos vizinhos. Com a aju-da do Ministrio Pblico os Guarani conseguirambarrar sua ao. Em 2003 seu neto e um advogado,aps algumas ameaas, invadiram a aldeia dentro

    de um carro. A situao s foi contornada com achegada da imprensa, da polcia e do MinistrioPblico, durante um dia inteiro de negociaes. Foilevado preso por invadir terra federal protegida porlei reserva indgena em processo de demarcao.

    estudantes do LabHab gfaudedicaram-se na orientao doassentamento dos tijolos

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    Viso de passarinho da novaEscola (nha nhemboea) da aldeia doJaragu, Djekup Amb Arandu,projeto conjunto dos estudantesde arquitetura e da comunidadeGuarani, e que foi construda pelopoder pblico estadual.Alm do projeto participativo, temcomo caractersticas importantes o

    intercmbio entre as culturas, comelementos da tradicional arquiteturaGuarani e da tecnologia juru.Foi inaugurada em 2001.

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    NHA NHEMBOEAProjeto participativoentre os estudantes e acomunidade: Escola pblica

    diferenciada

    Projeto preliminar

    Depois da metade de 1999, a professora Poty Poran, representante Guarani de educaoda aldeia, e membro do NEI - Ncleo de Educao Indgena da Secretaria de Educao doEstado de So Paulo, revelou a esse grupo e demonstrou muita fora de vontade, o desejoda comunidade em construir uma escola, e a possibilidade disso acontecer via FDE1 caso umprojeto preliminar fosse feito at a prxima reunio desse Ncleo, algumas semanas depoisdessa conversa inicial.

    Aceitamos o desafio de colaborar na realizao desse sonho, com a certeza que seria umgrande aprendizado para todos. Mas ao invs de simplesmente desenharmos o projeto,adotamos a postura do projeto participativo. Um novo, prazeroso e longo caminho narelao com os Guarani e em nossas vidas tinha incio.

    Em uma noite, um grupo de estudantes de arquitetura desembarca diretamente da loucuraque uma cidade como So Paulo para dentro da Casa de Reza - opy, do Jaragu, com

    um maquetomvel nos braos2. Um momento mgico, que

    Chico, um dos presentes quele dia descreveu assim: Con-versam em guarani, sentamos, ouvimos, aguardamos. TioKamb fala, ensina, chama a ateno. Fala em portugus:tem gente que vem, diz, e vai. Vem, diz, e vai. Diz da impor-tncia da reza, daquele local. De que no adianta l fora terde mal e depois vir, buscar o bem. Fala, chama ateno, das

    chuvas que enchem os rios, como deve ser, mas brancos fazem estradas em suas margens,fazem casas nas montanhas, que no gostam e os expulsam, como a tapear um mosquito:desmoronamentos e morte nos morros. Temos de respeitar, entender como .

    No sabemos bem como foi, mesmo, mas estvamos cheios de desenhos, de idias, de propostas,

    de caminhos. Tnhamos j pronta, cada um do labhab, a escola dos guaranis em papel e caneta.Tio Kamb pede que apresentemos as propostas.

    No sei bem como foi, mas no mostramos nada, guardamos nossas folhas.

    1 FDE: Fundao para o Desenvolvimento da Edu-cao, rgo da Secretaria Estadual de Educaoresponsvel pela edificao das escolas.

    2 Idia trazida a ns pelo Profo. Reginaldo, adotadaanteriormente na elaborao do projeto com muti-ro na cidade de So Paulo com a prefeitura. Trata-se de uma base de madeira segmentanda em escala(no nosso caso 1:50) com peas de madeiras quese encaixam, fcil de manusear, quase como umbrinquedo.

    No projeto da Escola Guarani, o maquetomvelfoi utilizado dentro da casa de reza, com muitosmembros da comunidade participando. Discutiamem Guarani ao mesmo tempo que desenhavam aescola com as peas e depois nos explicavam, oumelhor, davam uma aula, em portugus.

    Na foto ao lado, inserida no texto, William e Rodrigoobservam, sentados frente do computador, omaquetomvel com as primeiras idias do projetoda Escola.

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    Colocamos ao cho instrumento simples, mas rico, um maquetomvel, como antes usadopor Reginaldo. Um tabuleiro com plaquetas, que permite projetar em trs dimenses.Pedimos que fizessem eles mesmos a escola. Como seria para eles a escola.

    Em quinze minutos, rodeiam maquete, debatem, vo todos, ter com as peas. Palpitam,apontam, mudam, concordam, fazem cara feia, sorriem. Dizem tudo, discordam, derrubam,refazem. Usam por vezes palavras por ns conhecidas: computador. Olham, de perto, delonge, rodeiam, vem todos, ter com as peas, e apresentam o projeto(...)Levamos o maquetomvel, participamos da reza, fizemos visitas noite, de dia, havendovrias conversas. Novidade para ambos. Em um processo com um ritmo especial, diferentedas relaes normalmente encontradas entre arquitetos e outros grupos que buscam arealizao de um projeto, nesse a transformao e o aprendizado foram mais intensos, ques a ao participativa, analogamente um mo dupla do conhecimento, poderia oferecer.

    A comunidade no esperava ser ouvida, pois uma prtica incomum quando da realizaode projetos pelo Poder Pblico, pelo menos ouvida dessa maneira, por pessoas despidas depreconceitos, e nos retribuiucom as primeiras aulas de arquitetura (e vida) Guarani.

    Transformamos aquele desejo em riscos feitos sobre uma folha de papel. O projeto foiapresentado e aprovado pela cacique Jandira, pelos lderes espirituais Sebastio e JosFernandes e outras lideranas da comunidade. Poty, como esperado, levou-o at a reuniodo NEI, onde foi elogiado e aceito. Pouco depois e para nossa surpresa, o FDE nos procuroupara fazer o projeto executivo3.

    Projeto executivo

    Ao mesmo tempo que no nos sentamos preparados para detalhar to importante projeto,no gostaramos deixar essa oportunidade escapar, equivalente a muitas lies e trabalhos,

    queramos garantir que o projeto continuasse segundo o desejado pelos Guarani. Da queesse processo de conversas, descobertas e troca de conhecimento seguiu durante os mesesseguintes. Faltava experincia para execuo de uma tarefa como essa, por isso muitosintegrantes do laboratrio no puderam contribuir, alm de ter sido necessria a ajuda de for-

    Na pgina anterior, detalhe construtivo daescola - pilar central na sala de aula, compequena abertura na cobertura destinada ailuminao.Acima, aspecto do Museu ou Casa deCultura poca da inaugurao da Escola,na metade de 2001. Projetado como anexodessa ltima, previa ainda fechamento detaipa e piso de solo cimento, que nunca foirealizado. Recebeu diversos usos duranteesse perodo, e hoje abriga cultos religiososno Guarani.

    Levamos o maquetomvel,participamos da reza...

    3 Projeto executivo: Srie de desenhos e especificaesde toda a obra, incluindo os detalhes construtivos, quepermitem a quantificao dos materiais, levantamento daquantidade de mo-de-obra necessria e a execuo corretada edificao.

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    mandos e recm formados, que rapidamente compreenderam o significado e a importnciado projeto. Fizemos tambm uma parceria com o Escritrio Piloto da Escola Politcnica a fimde utilizao da infra-estrutura (microcomputadores, impressoras, plotter, espao com me-sas e cadeiras) e assessoria na parte estrutural da construo. Recebemos tambm algumaorientao por parte de professores como os j citados Reginaldo Ronconi e Carlos Zibel.

    Foram idas e vindas sede do FDE, com muitas conversas com os tcnicos, engenheiros earquitetos da instituio, para adequao do projeto s normas rgidas da Fundao. O queera diferente - entende-se por qualquer elemento no existente nas volumosas publicaescontendo todas as suas normas para construo, deveria ser explicado, justificado e deta-lhadamente desenhado. Com tantas especificidades e dificuldades, somadas ao fato deno sermos um escritrio profissional (no sentido de ainda sermos estudantes e portantodedicados a todas as tarefas de graduao dentro da faculdade) houve um atraso na entregado projeto, inicialmente previsto para final de novembro. Aps quatro revises a ltima s

    foi finalmente entregue em maio de 2000.

    Na seqncia de fotografias, pra-ticamente o mesmo ngulo de cons-truo da Escola, a fachada posteriorface oeste. No desenho da pginaseguinte, parte do Projeto Executivo,justamente desta parte.A parede curva nesta face, as cos-tas quando se olha para onde oSol nasce est presente em outrasconstrues Guarani tradicionais,como em algumas opy.

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    Construo

    A construo iniciou-se oficialmente em 19 de abril de 2000, ou seja, antes mesmo da entregada ltima reviso do projeto. Foi contratada uma empresa terceirizada para a realizao daobra, com mo-de-obra totalmente no indgena, apesar da inteno de que a comunidadepudesse trabalhar, mas que problemas burocrticos impediram. O Poder Pblico no estavapreparado para essa solicitao. Acompanhamos um pouco a construo, com algumasvisitas semanais, que serviu tambm para registro e esclarecimento de alguns pontosduvidosos junto aos executores.

    Basicamente, o desenho era composto por uma planta retangular, com a face oeste circular,assim como na opy a sagrada casa de reza, telhado de duas guas, estrutura de madeira ebloco estrutural cermico aparente, piso de solo-cimento (que no foi realizado). Separadointernamente em uma sala para administrao, um banheiro que pretendamos fosse usadopor toda comunidade (por isso a incluso de um chuveiro, carncia da aldeia na poca),ptio interno com cozinha integrada e uma grande sala de aula, divisvel por trs atravs deparedes mveis (atendendo assim solicitao da comunidade que se depara muitas vezes

    com o grave problema da escassez de espao ao receber visitas de parentes provenientesde outras aldeias por alguns dias, alm de diversificar e flexibilizar o uso da sala para asatividades educacionais).

    Alm da escola, previu-se dois espaos anexos. Um, banheiro localizado no ptio, destinadoaos visitantes e prpria comunidade. Outro, a Casa de Cultura ou Museu, para atividadesescolares complementares e tambm para apresentao de danas, exibio e vendade artesanato, comum aos visitantes que chegam aldeia periodicamente. Essa, umaconstruo circular, no muito comum para os Guarani, com cobertura de madeira e palha(piaava), localizada na divisa da aldeia com a Estrada Turstica do Jaragu permitiria ao

    juru, atravs do esteretipo presente na sociedade, a visibilidade e o conhecimento de queali existe uma aldeia. Ao longo dos anos essa construo teve diversos usos, sendo que hojeela bastante utilizada pelo seu vizinho mais prximo, Mario, filho mais velho da caciqueJandira como espao de prtica religiosa no Guarani.

    Nas duas pginas seguintes, fotogra-fias que mostram o interior da Escola- as salas de aulas, durante fase finalda construo.

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    da comunidade organizaram uma confraternizao de inaugurao com direito a

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    4 Ler mais sobre o FCEx Fundo de Cultura eExtenso em O que Extenso? pgina 15.

    da comunidade organizaram uma confraternizao de inaugurao com direito amuitas frutas, milho, mandioca e outros pratos tpicos e convidaram colegas, amigose professores da faculdade que acompanhavam o projeto. As aulas comearam emcarter experimental, e no incio do ano letivo seguinte definitivamente.Do dinheiro recebido pelo FDE pela execuo do projeto, cerca de 4 mil reais na poca(incio de 2001), atravs do arquiteto recm formado Roberto Montenegro, o Beto, quecolaborou no Projeto Executivo, uma parte - cerca de 1/3, foi para o Escritrio Piloto referente a infraestrutura de informtica. O projeto do sistema estrutural umaestrutura de madeira muito particular, que ficaria a cargo deles, restou praticamenteem nossas mos, principalmente nas do Fred, que recebeu alguns antendimentos deprofessores da Escola Politcnica e realizou visitas ao IPT. Outra parte foi divididaproporcionalmente entre os participantes do Executivo, com pesos de 1 a 4 conformea participao de cada um (Pablo e Letcia 1, Fernando, Chico, Beto, 2, William 3 eFred 4), sendo que cada peso correspondia aproximadamente a 60 reais, para a ajudade custo com alimentao e transporte, praticamente um valor simblico. Uma parteainda, cerca de 800 reais, foi doada para compra de um computador disponvel aoutros estudantes do LabHab gfau.

    Em 2002, por ocasio do estudo da apropriao do espao pela comunidade, pode-se retirar o seguinte testemunho do Relatrio entregue ao FCEx 4: De acordo com aprofessora entrevistada, o espao fsico da escola satisfatrio, ele proporcionalao nmero de alunos e permite certa flexibilidade na sua organizao, j que possuialgumas paredes mveis. H espaos mais ntimos e aconchegantes, como a bibliotecae tambm ambientes amplos e abertos, como o refeitrio e a Casa de Cultura Guarani. H duas salas de aula que dividem uma parede que pode ser retirada, transformandoo espao. As salas so rodeadas por janelas, permitindo que qualquer membro dacomunidade observe s aulas, ao passear pela aldeia. Ela admirada por muitos,Guarani e juru, por representar uma tradicional casa Guarani e combinar algunselementos bastante modernos de construo. Sua estrutura apresenta bastante

    segurana para os usurios de todas as faixas etrias e acessvel a portadoresde deficincia fsica. A escola possui poucos ambientes especficos: a cozinha que separada do refeitrio por um balco; banheiro que possui chuveiro mas no tempias; uma sala para a administrao; duas salas de aula e uma biblioteca. Quanto smesas do refeitrio, so amplas e convidam alimentao coletiva.

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    OP Y Ainda em 2001 iniciamos discusso sobre a (re)construo da opy. A opy casa de reza, um

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    OP YConstruo TradicionalGuarani: Casa de Reza

    b ( ) py py ,dos elementos mais importantes da cultura Guarani. Serve de referncia para a comunidadee cria um elo entre as famlias. Neste local, ao contrrio do que o nome em portugus indica,no s assuntos religiosos so tratados. Os moradores a procuram diariamente em busca deconforto pessoal e espiritual. O dia-a-dia da comunidade discutido e com muita conversase buscam as solues dos problemas, desde os cotidianos at os polticos de mbito maior.

    na opytambm que se desenrola os principais momentos de confraternizao e festas queocorrem ao longo do ano, tradicionais da cultura Guarani. Ali se aprende muito 1. pocade sua construo a comunidade se rene, seguindo o lder espiritual, e todos contribuempara erguer o novo espao, inclusive as crianas. A opydo Jaragu, do Teko Ytu, haviasido construda h 6 anos, e necessitava ser reconstruda, mesmo aps os anuais reparos.Porm, como j foi dito, a reserva onde se encontra a aldeia muito pequena e no contacom os recursos para coleta dos materiais necessrios construo tradicional.

    Seus materiais construtivos constituintes so basicamente trs: a madeira, elementohabilmente trabalhado pelos Guarani h sculos, que serve tanto de estrutura principal,como fechamento - paredes (normalmente um tranado que chamamos de pau-a-pique)quanto para a estrutura que suporta a cobertura; palha, vegetao, como a folha da sagradapalmeira, ou mais recentemente utilizado, o sap, que funciona como cobertura, fazendocom que a gua da chuva escorra por sobre ela, mantendo o interior seco e ao mesmo tempopermitindo que a fumaa dos cachimbos e da fogueira suba e saia e; a terra, ou o barro,como vedao e que conhecemos normalmente por taipa de mo, presente em algumasaldeias (em algumas aldeias a vedao feita somente em madeira, sem o barro).

    Esses elementos, como todo material de construo, so perecveis e sujeitos a ao dotempo e s intempries, desgastam-se, gerando a necessidade de constante manuteno(recolocao do barro e fixao do sap, principalmente) e peridicas reconstrues, devido

    ao apodrecimento da madeira, devido ao contacto com o solo que traz umidade. Estesmomentos, que no tm data fixa, mas geralmente ocorrem a cada cinco anos, so especiaisna vida da comunidade que se junta e, unida, trabalha na construo de uma nova opy, maisforte.

    1 Embora no seja o centro geomtrico, ela se cons-titui no centro efetivo da aldeia, inclusive ressaltadapelas dimenses e do espao em torno, maioresque as demais casas da comunidade.

    opy, um dos elementos maisimportantes da cultura Guarani. poca de sua construo a co-munidade se reune e todos contri-buem para erguer o novo espao

    Em 2002 surgiu a possibilidade de obter verba para realizao desse projeto na aldeia: A

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    g p p p jcomunidade reunida decidiu pela reconstruo da opy. Com o crescimento da aldeia, da viaque divide as duas partes, optou-se tambm pela construo de uma opynova no TekoPya. A demanda, portanto, que j era clara e demonstrada h tempos pela comunidade,representada por suas lideranas principalmente, como a anteriormente citada cacique Jan-dira, os lderes espirituais Sebastio e Jos Fernandes, alm de Joel, Poty, Jaciara, Joab,

    Ver Mirim, Maurcio, Tup Mirim entre outros, tornou-se prxima de uma soluo. A cam-panha da fraternidade, promovida anualmente pela CNBB (Igreja Catlica) teve como temaem 2002 a Terra sem Males, numa espcie de busca pelo esclarecimento de erros cometidoscom as comunidades indgenas h sculos. Dentro dessa campanha, a Pastoral Indigenistada Arquidiocese de So Paulo surgiu com a possibilidade de financiamento da construodas opy. Explica-se a necessidade do financiamento por estarem dentro do municpio deSo Paulo,como j mencionado, em uma pequena rea nos limites do Parque Estadual doJaragu, e no contarem mais com os recursos naturais necessrios para a concretizaodesse desejo.

    A partir do ms de julho de 2002 fizemos diversas reunies na aldeia, tanto na Pya (em

    uma opyimprovisada), quanto na de baixo, Ytu, na opyque foi construda em 1996 (e queestava em estado precrio).Dessas inmeras conversas precisvamos chegar a um mnimode entendimento do que era a opy, sua importncia e sua tecnologia construtiva, umgrande intercmbio de conhecimentos, para que, em troca desse conhecimento adquirido,pudssemos auxili-los junto com a Pastoral Indigenista na qualificao, quantificao ecompra dos materiais.Tendo como premissa bsica o projeto participativo, no nos cabialhes impor um desenho nosso, mas constru-lo juntos. Utilizando um pouco da experinciano projeto da Escola, com a confiana obtida depois de um certo tempo freqentando acomunidade, mais a utilizao de elementos como o maquetomvel j usado no projetoda Escola, e com a contribuio dos estudantes de todas as reas participantes do grupo,tais como os de cincias sociais, educao e psicologia, chegamos a um entendimento doque queriam.Coube ento, na universidade, com pesquisas na biblioteca e atendimentoscom professores, a realizao de desenhos tcnicos mais precisos e a quantificao dos

    materiais, realizado em muitas vias.Embora, nunca demais relembrar,conforme pudemosSeqncia de fotos: uma das reu-

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    observar atravs de nossa experincia e de outros estudiosos, a construo desse elementoimportante, a opy, no condicionada pelo desenho feito no papel.

    Tudo foi entregue comunidade, nas mos de Sebastio e de Jos Fernandes e PastoralIndigenista, que enviou o projeto para a Critas Brasileira. Felizmente, no ms de agosto oprojeto foi aprovado e tinha-se a expectativa que a partir do ms de setembro, o dinheiro

    para a compra dos materiais seria liberado, com a inteno que se conclusse a construo

    at o final daquele ano (2002), sendo que nesse perodo acompanharamos e auxiliaramosa compra desse material, para que finalmente a comunidade pudesse construir suas novaopy, e neste momento, somente neste, durante a construo, seus traos finais e definitivosdecididos, e o aprendizado concludo.

    Superados alguns obstculos, no final de outubro de 2002 as atividades foram adiante,tendo frente pela Pastoral seu coordenador em So Paulo, o Benedito, alm do Salvador

    e do Francisco, que ficaram ento responsveis por acompanhar o trabalho, que o fizeramcom muito empenho, pois a inteno era o trmino ainda naquele ano. Aps mais algumasreunies com a comunidade, ora s com a comunidade moradora do terreno de cima (TekoPyau) ora com a de baixo (Teko Ytu), mas principalmente com as duas juntas, decidiu-se

    nies entre o Oim-ipor-ma Ore-reke a comunidade Guarani do Jaragu,representada por suas lideranas, naopyque viria dar lugar a uma nova emaior casa de reza, motivo da con-versa. Processo que levou meses, do

    incio de 2002 at o incio de 2003,com sua inaugurao.

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    finalmente quais seriam os materiais de cada e pde-se fazer a quantificao dos materiais.Ess s ni s nid d f d f nd nt l i tn i d ndi d

    Nas pginas anteriores, a antiga opycasa de reza do Jaragu momentos

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    Essas reunies com a comunidade foram de fundamental importncia como de aprendizado,no s do modo de construir Guarani sua arquitetura, mas de toda sua cultura e seu modode viver (nhande rek).

    Em novembro de 2002 puderam ser feitas as primeiras visitas aos locais de compra. A fimde se evitar mais burocracia e agilizar o processo, pois o fim do ano se aproximava, essa

    parte do processo ocorreu de forma simultnea entre as duas aldeias, ou seja, sempre haviaum representante do Teko Pya, um do Teko Ytu e um da Pastoral. Sempre que possvelacompanhvamos tambm. Detentores de grande conhecimento sobre a madeira, porexemplo, era mais do que bvio que eles deveriam poder escolher de perto o material, emdiversos locais, antes da compra, e assim foi feito. A mesma coisa ocorreu com os outrosmateriais, como a telha cermica e o sap (ambos provenientes do interior do Estado de SoPaulo).

    Em dezembro de 2002 finalmente comearam a chegar os primeiros materiais. Algunsvieram de longe, como alguns tipos de madeira e o prprio sap, e por isso a entrega no

    era imediata. Com esse fato, teve incio a desconstruo das antigas opy, tambm ummomento muito importante para a comunidade. Tivemos a felicidade de poder acompanharessa etapa e as subseqentes, e registr-la em vdeo2. A desconstruo foi um processorpido, de cerca de uma semana. Mas mais uma vez novos obstculos surgiram. Sendo anova opydo Teko Ytu um pouco maior que a anterior, foi preciso fazer algumas adequaesno terreno programado para tal, e por isso uma grande rvore precisou ser retirada. Commuitos galhos, demoraram alguns dias para conseguir retir-la do espao da nova opy, sejapara subir nos mais altos, seja para tirar a profunda raiz que tinha. Vencido mais essa etapa,o terreno estava limpo e quase pronto para o incio das obras. Ainda faltava a chegada demembros de outra comunidade Guarani, no caso o Teko Aguape, de Mongagu, litoral de

    So Paulo, que viriam para contribuir na construo da nova opy. Ainda no ms de dezembroeles chegaram e agora sim pde se dar o incio da construo.

    A opydo Teko Pya, menor (com dimenses de cerca de 6 x 6 metros) e um pouco maissimples, foi parcialmente construda ainda em dezembro, de modo que j naquele ano podia

    2 Ler mais sobre esse tpico sua importncia emtodo de trabalho, em Rexapa, pgina 97.

    - casa de reza do Jaragu, momentosantes de sua desconstruo, proces-so que levou poucos dias, no finalde dezembro de 2002, liberando oterreno assim para a construo danova, que teve participao de toda

    a comunidade, tendo frente o lderespiritual Sebastio Kara Tataendy.

    direita, a nova opydurante a cons-truo, que durou algumas semanas.Vista de dentro, vemos sua frente, oua face leste. Detalhe da armao demadeira (pau-a-pique) que rece-beria alguns dias depois o barro (co-mumente chamado de taipa demo), e tambm do fechamento de

    madeira (estaqueado), mais acima.Na cobertura, ainda alguns vosaguardam a colocao de feixes desap.

    ser utilizada, e aos poucos foi recebendo melhoramentos e acabamentos. Inspirados na opyem construo de outra aldeia a da Barragem Zona Sul de So Paulo fizeram uma base

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    em construo de outra aldeia, a da Barragem, Zona Sul de So Paulo, fizeram uma basecom blocos de cimento para evitar a chegada de muita umidade s paredes de madeira,que s recentemente recebeu uma cobertura com barro, reforando o carter de adaptaocontnua da construo. A opyde baixo, com mais de 100 metros quadrados, uma parteretangular e outra circular, envolveu muito mais trabalho, principalmente na hora de cortara madeira nos tamanhos adequados e nos detalhes de encaixes, tpicos da construoGuarani. A construo foi se desenvolvendo no final de dezembro e praticamente no parounas pocas de Natal e Ano Novo, a no ser quando a chuva no permitia. A previso deque fosse terminada ainda em 2002 no se concretizou, no incio de 2003 alguns materiaisfaltaram o que criou mais um pequeno atraso, mas o ritmo das obras se acelerou a tempode terminar antes de um evento muito importante ocorrido no primeiro ms do ano, obatismo do milho (avaxi nheemogara).

    Com a estrutura de madeira pronta e simultaneamente colocao da cobertura de sap,alguns dias antes do batizado se iniciou a colocao de barro na parede (taipa de mo, notranado de madeira chamado de pau-a-pique), outro momento mgico da construo da

    opy. Muitos membros da comunidade participaram desse momento, contribuindo muitopara a construo. Um dia antes do batismo a opyestava com todas as paredes cobertas debarro, toda a cobertura de sap colocada e o piso interior de terra batida, limpo e nivelado.Alguns detalhes ficaram para ser feitos aps essa poca, tais como uma segunda demo, seassim podemos dizer, de barro na parede, para dar um acabamento melhor e ficar com umatextura ainda mais bonita, algo que s pode ser feito quando a primeira est devidadementeseca.

    No houve atuao do poder pblico, tanto que para sua execuo foi necessria verba daPastoral Indigenista, facilitada pela Campanha da Fraternidade daquele ano. Apesar disso,

    acreditvamos ser papel do Estado prover condies dignas de vida a comunidade, estandoincluso a a casa de reza tambm. A Pastoral proporcionou a comunidade uma soluoa curto prazo, porm a comunidade no possui garantia de nenhum meio que continueviabilizando esta construo do mais alto significado para os Guarani.

    vedao de pau-a-pique e taipade mo. Cobertura de sap

    aluno de arquitetura terceiro ano, e cacique de aldeiaGuarani conversam sobre projeto de casa de barcos

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    Guarani conversam sobre projeto de casa de barcos

    E: Oi Davi, tudo bom?vamos ver como pode ser o projeto da casa?(fala pouco e bem devagar) aqui, n?

    estvamos pensando, l (aponta para o ar indicandofigurativamente So Paulo) sobre a casa, aqui (apontapara o cho, ou: a situao)o barco tem quatro metros, n?mas a casa poderia ter uns cinco metros, por qu ad para ter um espao aqui na frente, para... (gesticulaalgum uso, movimento de fazendo algo)um espao para... (gesticula novamente), n?

    D: (depois de algum tempo, cabea baixa, mo no queixo,raciocina com cuidado, face de pouca expresso)espao?

    mas a vai ter que cavar mais terra,ali. (aponta para o local, e caminha at ele)pra aterr.e tem a pedra,que ns vai ter que quebrar.(silncio)c que vai carregar?(silncio)espao?tem de monte aqui fora.(silncio)

    ns faz com quatro metro,t mais bom.

    E: (silncio, cara de vazio).(CHICO BARROS)

    Abaixo: Estudantes integrantes doOim-ipor-ma Ore-rek visitam a Ca-sa de Barcos na aldeia Guarani deAguape, projetado em conjunto comaquela comunidade, assim comoposteriormente a Casa de Cultura,dentro de um Projeto Turstico/Am-biental para recebimento de estudan-tes visitantes de escolas da regio.

    AGUAPE Imagine-se em um automvel, dirigindo de Santos a Perube: esquerda vemos o OceanoAtlntico e direita a Serra do Mar formando uma grande muralha verde Em Mongagu

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    Projeto conjunto: Casa deBarcos e Casa de Cultura naaldeia de Aguape, litoral

    de So Paulo

    Atlntico, e direita a Serra do Mar, formando uma grande muralha verde. Em Mongagu,saindo dessa ligao, tomando um rumo perpendicular direita, como se quisssemospenetrar na Serra, toma-se uma via de terra por alguns poucos quilmetros. A Serra vai seaproximando e a praia se tornando cada vez mais longe. As casas dos moradores vo dandolugar a terrenos amplos e vazios at que de repente se chega a um pequeno rio e o carro nopode mais seguir. Olhando para trs vemos uma grande estrada reta, quase infinita rumo aomar, e frente a exuberante Mata Atlntica.

    Na primeira visita a Aldeia Aguape, chegamos no momento que alguns materiais deconstruo como sacos de cimento e areia eram transportados em pequenos barcos aremo de uma margem a outra pelos Guarani, material destinado a concluso de uma obrade saneamento na parte mais alta da aldeia. Fomos1 apresentados ao cacique Davi, queesperava nossa chegada, mas a conversa no se iniciou naquele momento. A comunidadeagora estava empenhada em carregar aqueles sacos da margem oposta por uma trilhangreme at o interior da aldeia. Tentamos colaborar um pouco, mas nosso estilo de vidajuru no permitiu grande eficcia no deslocamento escorregadio dentro da mata. L de

    cima, entre aquelas casas, que estavam sob as rvores e no eram visveis da estrada, tudose avistava. Da aldeia podamos observar perfeitamente o mar, a praia, os prdios na orla, ascasas mais simples e a estrada, com o carro l estacionado, os barquinhos e o movimentode chegada e sada na aldeia.

    A conversa comeou e logo fomos conhecer o terreno destinado a futura Casa de Barcos, margem do mesmo rio, algumas curvas montante. Com o apoio de uma ONG norueguesa,o CTI - Centro de Trabalho Indigenistae a comunidade elaboraram um projeto aprovado peloMinistrio do Meio Ambiente, que visa receber turistas e principalmente crianas das escolasda regio, que visitaro a aldeia e recebero informaes sobre sua cultura e modo de vida,

    sobre a natureza etc. Na verba estavam previstos a aquisio de quatro barcos com motor, aconstruo para abrig-los (Casa de Barcos) e a construo de um local para recebimento econversa com os visitantes (Casa de Cultura).

    Uma Casa de Barcos bem simples, essa era a concluso que chegamos aps algumas

    1 Na primeira visita do grupo estavam eu, o Chico ea Roseli. Quem nos apresentou foi o bilogo Fbiodo CTI. Nas demais visitas, outros integrantes dogrupo foram, sendo que todos estiveram l pelomenos uma vez.

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    conversas. Material escolhido: madeira aparelhada, cobertura de fibro-cimento, cho deterra batida. Bem ventilada. Mas ao mesmo tempo segura, pois h o medo dos posseiros daregio. Fizeram um porto muito bonito de madeira. No tnhamos a relao com eles comoera no Jaragu, nem a disponibilidade de criar essa relao em to pouco tempo, j quemorvamos (e estudvamos e trabalhvamos) em outra cidade, mas eles nos conheciamjustamente por causa da rede de comunicao existente entre os Guarani. Diria que o projetoda Escola ainda gerava frutos pela forma como fora feito. Esse respeito fez com que o CTI e a

    comunidade nos convidassem a participar deste projeto. Embora houvesse essa precariedadeno tempo, decidimos que tentaramos da melhor forma possvel, indo l o mximo de vezese realizando algumas reunies na aldeia com toda a comunidade, por visualizarmos umapossibilidade, uma porta que se abria, tambm para outros projetos no futuro.

    O CTI deu uma ajuda de custo financeira suficiente para o combustvel da viagem de um carroe para o lanche dos participantes, embora na maioria das vezes seguintes primeira visitatermos ido em dois carros, com at oito participantes do grupo em cada vez. Achvamos queno era s os estudantes de Arquitetura e Urbanismo deveriam estar presentes. Desenho equantificao feitos, logo o material foi comprado, e assim rapidamente construram, elesprprios, a Casa de Barcos.

    Ento, o convite se extendeu tambm Casa de Cultura, local onde os visitantes, depoisde percorrida trilha no meio da mata dentro da reserva2, mas sem passar pelo ncleo daaldeia, teriam conversas e ensinamentos sobre a vida e a cultura Guarani, assistiriam

    2Terra Indgena Guarani do Aguape. Localiza-se noMunicpio de Mongagu e foi criada pela PortariaDeclaratria no. 411, de 22 de junho de 1994, comrea de 4.398 hectares. Em 1994, o Ministrio daJustia emitiu portaria reconhecendo os limites da

    Terra Indgena Guarani do Aguape, identificadaem 1993. Entretanto no foram realizados osprocedimentos necessrios a sua regularizaofundiria, que implica pagamentos de indenizaese reassentamentos de ocupantes no indgenas.

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    SANEAMENTOC d b h i

    A Funasa Fundao Nacional de Sade, responsvel h alguns anos pela sade em mbitofederal, de algumas populaes mais carentes e das populaes indgenas, substituindo

    i ib i d F i 2000 J d li d

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    [ARQUITETURA] 59

    Construo de banheiroscomunitrios e rede desaneamento bsico

    antigas atribuies da Funai, e apareceu em 2000 no Jaragu, durante a paralisao daconstruo da escola para tentar solucionar o problema de saneamento precrio da aldeia,que poca contava com rede clandestina de gua e energia na parte de cima (Pya), ligaesprecrias de gua na parte de baixo (Ytu), sem coleta de esgoto sanitrio, poucas casascom fossas improvisadas, outras casas sequer com banheiro. Eles tm um projeto padro

    de banheiro coletivo, com pia, vaso, tanque e chuveiro sem levar em conta necessidadesespeciais, quantidade de pessoas que usaro nem como a comunidade.

    Tnhamos feito um projeto de banheiro anexo escola, pensando justamente nessapossibilidade de uso pela comunidade, mas o FDE poca no quis construir. Entregamoso projeto Funasa: disseram que no tinham verba, que era complicado, fazer um projetodiferenciado, histria parecida com a da Escola, mas depois de algumas conversasconseguimos que aceitassem o projeto e o executassem com uma verba especial. Assim,logo um banheiro coletivo, com alvenaria estrutural, madeira, cobertura de telhas cermicas,equipado com um lavatrio, dois vasos sanitrios, chuveiro e pequeno depsito de materiais,

    seguindo um padro da Escola, foi construdo para uso da comunidade.Isso no resolvia os problemas de saneamento e sade da aldeia como um todo, portantoas conversas nessa direo prosseguiram. Um projeto completo que contemplasse todasas residncias do Teko Ytu, com banheiros e rede coletora e de tratamento era necessrio.Para o Teko Pya, ainda com residncias muito precrias, estavam previstos banheiroscoletivos e tambm uma rede coletora e de tratamento. Devido ao bom resultado com oprojeto do banheiro anexo escola, da vontade da aldeia e a nossa em realizar um projeto dequalidade que ainda por cima rendesse bom aprendizado, nos dedicamos nessa tarefa.

    Aproveitamos j que alguns estudantes da FAU faziam uma d